Da Casa Ao Museu: Adaptações Arquitectónicas Nas Casas-Museu em Portugal
Da Casa Ao Museu: Adaptações Arquitectónicas Nas Casas-Museu em Portugal
Da Casa Ao Museu: Adaptações Arquitectónicas Nas Casas-Museu em Portugal
A história do museu coincide com o relato entusiasta da sua lenta, progressiva e dupla
transformação em construção autónoma e instituição pública, independente do espaço e
propriedade privados. Se o conceito de casa-museu surgiu apenas no momento de
separação oficial e formal dos dois lugares, como continuidade de uma história comum
que seguiu rumos diferentes, é possível identificar momentos, factos, colecções, espaços e
edifícios em que casa e museu se cruzam, confundem e auto alimentam.
A partir do reconhecimento da casa-museu como objecto arquitectónico de valor
patrimonial, no qual se cruza um olhar sobre os espaços de vida quotidiana de um
personagem e de uma época, com funções de conservação, pesquisa e comunicação
próprias dos museus, a nossa investigação concentrou-se na transformação de espaços
domésticos privados em espaços museológicos públicos, em que os primeiros são motivo ou
pretexto dos segundos.
Com o objectivo de conhecer as metodologias de intervenção no património
arquitectónico utilizadas nesses processos de transformação, elaboramos um panorama da
evolução dos edifícios de trinta e quatro casas-museu biográficas ou documentais
portuguesas, entre 1915 e 2005.
Após a realização do levantamento foi possível estabelecer uma visão de conjunto e
uma análise interpretativa e comparativa dos vários casos de estudo, através da
identificação de similitudes e diferenças, sequências e rupturas, que definem etapas
consecutivas de construção do lugar casa-museu.
Abstract
The story of the museum coincides with the enthusiastic account of its slow, progressive
and double transformation into an autonomous construction and public institution,
independent of the private space and property. Although the concept house-museum has
appeared only in the moment of the official and formal separation of the two places, it is
possible to identify moments, facts, collections, spaces and buildings in which house and
museum link together and breath from each other.
From the recognition of the house-museum as an architectural object of patrimonial
valour, which embraces both the everyday spaces of a certain character and time and the
museum function of conservation, research and communication, our investigation focused
in the transformation of private domestic places into public museum spaces, being the first
ones the motive or pretext to the second ones.
Aiming to know the intervention methodologies in the architectural patrimony used in
such transformation processes, we have constructed a panorama of thirty-four Portuguese
house-museum biographic and documental evolution from 1915 to 2005.
After this it was possible to establish a general view and a comparative and interpretive
analysis of several study-cases by identifying similarities and differences, sequences and
ruptures, which mark consecutive steps of the growth of the house-museum space.
Resumé
conceito . 2 .33
recepções, tertúlias e festas 37
as colecções de elites 39
as artes decorativas 43
o culto da domesticidade 46
lugares de inspiração 49
a casa como universo 52
o mote: 1915-1949 61
casa de Camilo . 001 63
casa-museu Teixeira Lopes . 002 71
casa-museu Guerra Junqueiro . 003 81
casa-museu Leal da Câmara . 004 89
casa-museu Afonso Lopes Vieira . 005 95
casa-museu Abel Salazar . 006 101
referências . 6 347
anexos . 7 361
tema . 1
tema 1.1
definição
tema 15
A lista de palavras e expressões, que isoladas ou recombinadas entre si ilustram um
conjunto alargado de conceitos e ideias associados à casa-museu, demonstra a amplitude
e a diversidade, ou incerteza, do significado do binómio.
O peso de cada um dos dois termos é dificilmente determinável e admitir que a casa-
museu representa algo que é cinquenta por cento casa e cinquenta por cento museu seria
tão redutor como incorrecto. Na ausência de uma definição assaz abrangente e difundida
por organismos nacionais ou internacionais, uma enorme variedade de situações parece
ter como ponto de convergência a ambígua designação, atribuída com toda a liberdade
e, não raras vezes, sem quaisquer escrúpulos, dentro e fora do âmbito museológico.
Para alguns a casa-museu é uma preciosidade cuja raridade justifica a devoção, a
exposição e o investimento, para outros é um museu menor de futuro duvidoso que reúne
peças desiguais de forma incoerente e, ainda, para outros, não menos raros, é um mero
capricho que não deve ser apreciado enquanto museu. Entre estes e aqueles, a efectiva e
crescente existência destas entidades tem orientado e fomentado o debate sob a essência
da casa-museu junto de técnicos e investigadores que recorrem a classificações,
descrições, sínteses e inventários, provisórios e parciais, para condensar, esquematizar,
estudar e gerir algumas das variantes mais correntes, tendo em consideração o tipo de
casa, de habitante, de colecção e/ou de museu, sobrepondo-os, sem, no entanto,
conseguirem evitar o recurso a pormenores e exemplos concretos para melhor as distinguir.
No entanto, o carácter enigmático e impreciso da designação não impediu que, em
1998, o Conselho Internacional de Museus ▪ ICOM instituísse o Comité Internacional para as
Casas Históricas – Museus ▪ DEMHIST 1 , reconhecendo uma categoria particular de museus 2
1 Até agora o Comité Internacional para as Casas Históricas – Museus ▪ DEMHIST realizou seis reuniões
científicas anuais: 1. Conferência de Génova, Novembro 2000 – "Historic House Museums Speak to the Public:
Spectacular Exhibits vs. a Philological Interpretation of History."; 2. Conferência de Barcelona, Julho 2001 – "New
Forms of Management for Historic House Museums?" e "Security, Old Buildings, New Buildings, and Architects."; 3.
Conferência de Amsterdão, 2002 – "The Historic House Museum as an Important Witness of National and Local
Identities."; 4. Conferência de Lenzburg, Outubro 2003 - "Facing and Solving the Challenges of historic house
museums: Examples and Models."; 5. Conferência de Berlim, Setembro 2004 – "Rooms with a view – Historic
Houses Museums and their surroundings"; 6. Conferência de Lisboa, Outubro 2005 – "Guardiães da memória: a
conservação de edifícios e das suas colecções"
2 Nos anos 70, o ICOM, distinguindo diferentes categorias de museus em função da natureza das colecções,
incluiu a casa-museu, ou museu biográfico (de personagem), no grupo dos museus históricos. (As outras
categorias definidas foram: museus de arte, de história natural, de etnografia e folclore, de ciências e técnicas,
de ciências sociais e serviços sociais, de comércio e de comunicações, e de agricultura e de produtos do solo)
[ICOM: Programme 1975-77, Paris: Maison de l’Unesco, p. 6-7 in 68 ▪ Francisco Carreño, 2004, p. 42-43]
16 da casa ao museu
das casas históricas, tal como um inventário e uma classificação das tipologias existentes."
[24.1 ▪ Giovanni Pinna, 2001, p. 7-8] A clarificação das características de cada uma dessas
tipologias é de extrema importância não só na partilha de experiências, mas também na
construção de discursos que contribuam para esclarecer de forma correcta os técnicos e o
público, investigadores e visitantes.
Como os critérios de classificação das casas históricas – museu não se encontram
definidos com suficiente precisão e lógica, sobretudo devido à sua origem marcadamente
privada, ao seu funcionamento individualizado e distante de outros casos do mesmo tipo e
à diversidade de situações que representam, as acções de investigação e de elaboração
de sínteses válidas para o conjunto encontram-se, muitas vezes, condicionadas à partida.
Ainda assim, na ausência de uma definição oficial, foi-nos possível reunir um conjunto de
contributos que ao longo do último século ajudaram a delimitar a casa-museu.
1 Em 1934, a revista Museion do Office International des Musées publicou um artigo com o
título "Les Maisons Historiques et leur Utilisation comme Musées", encarando-as como um
novo campo de actividade museográfica e indicando três grupos a partir da colecção:
▪ casa de interesse biográfico cuja "colecção pode conter manuscritos, correspondência,
escritos, biografias, desenhos, recortes de publicações, objectos pessoais, espécimes de
trabalhos, medalhas, diplomas, lembranças de viagem, etc.";
▪ casa de interesse social cuja "colecção conterá provavelmente objectos reveladores da
vida quotidiana dos ocupantes. Haverá cartas, quadros, objectos pessoais, bibelots,
vestuário, jogos, brinquedos, etc."; e
▪ casa de interesse histórico local cuja colecção "compreende objectos de diversos
períodos e destinados a numerosos usos, como armas, uniformes, utensílios agrícolas,
arquivos municipais e rurais, jornais, etc. Em casos mais restritos, certos museus
especializaram-se num domínio [...]: a navegação, a pesca da Baleia, […], as armas de
fogo, o vestuário, as bonecas." [14 ▪ "Les Maisons Historiques et leur Utilisation comme Musées", 1934, p. 283]
2 Um outro contributo surge na compilação das aulas de Georges Henri Rivière publicada
em 1985. Na lição Conservação, em co-autoria com Gilbert Delcroix, o ilustre museólogo
apresentou uma classificação provisória dos bens musealizados 3 demorando-se na
descrição da casa histórica e da casa rural. [39 ▪ Georges Henri Rivière, 1985, p. 240-243]
Por um lado, integrou-as no conjunto dos monumentos/edifícios civis como bem
museológico imóvel cultural ecológico 4 , ou seja, aquele que vive da relação com o meio
original da sua produção e/ou utilização, e cujo tratamento museológico é praticado em
função da existência anterior do edifício. Por outro, destacando o carácter etnográfico da
casa rural, distinguiu-as:
▪ a casa histórica poderia ser dividida em três categorias em função do tipo de habitante:
a. museus-palácios e castelos de soberanos;
b. palácios, castelos e casas privadas;
c. casas notáveis, incluindo casas de pessoas célebres: escritores, artistas e sábios;
▪ a casa rural seria caracterizada de acordo com a natureza dos seus edifícios de produção
e equipamentos tradicionais, de preferência em funcionamento.
5 Ainda em 1998, Jesús Pedro Lorente escreve "Qué es una casa-museo?" na Revista de
Museologia, apreciando a casa-museu enquanto "espaço doméstico aberto ao público
como testemunho exemplar da decoração de interiores de uma época ou como
homenagem a alguém que por alguma razão está relacionado com ela. [Sendo]
importante destacar que há nesta noção uma inerente contradição, ou pelo menos uma
forte tensão conceptual, pois trata-se de um sítio aberto ao público mas cujo objectivo é a
conservação de uma privacidade individual. [...] O mérito de uma casa-museu não radica
tanto no carácter histórico do edifício ou dos seus conteúdos como no seu valor
sentimental. [...] Raramente estes museus individuais são casas-museu, apenas aqueles em
que ao visitá-los, independentemente do carácter do edifício, nos dá a sensação de entrar
num habitat privado feito museu, onde ainda parece presente o fantasma do ilustre
epónimo. [...] Na realidade, as casas-museu multiplicaram-se desde o século XIX como
monumentos à memória de personagens ilustres de uma nação ou cidade, uma espécie
de versão museológica das esculturas de mármore e bronze que povoam desde então as
nossas praças e parques. [...] É curioso o fascínio que o final do século XIX exerce no bem
avançado século XX. Quando esse mundo, acusado de académico e periclitado em plena
época do triunfo dos vanguardistas, estava a ser relegado às reservas dos grandes museus
e esquecido totalmente dos manuais de arte, reviveu em novas fundações de museus
retrospectivos e casas-museu. […] Está claro pois, que o factor nostalgia é consubstancial a
estas instituições, que funcionam como uma imersão na vida quotidiana de tempos
pretéritos terminados. Na realidade este é parte do seu atractivo, pois diferentes do
empenho constante de renovação e actualização das instalações museológicas dos
grandes museus, cujo resultado são modernas vitrinas intemporais e corredores impessoais,
as casas-museu parecem lugares encantados onde o tempo parou, retendo uma
colecção pessoal e uma museografia histórica, um troço de vida e o gosto privado de uma
época passada." [20 ▪ Jesús Pedro Lorente, 1998, p. 30]
5 As origens do DEMHIST remontam à realização desta conferência durante a qual o ICOM Itália propôs a
criação de um comité específico para esta categoria de museus.
18 da casa ao museu
Um segundo subconjunto, mais recente mas paralelo, parte do museu e reflecte sobre a
essência, concepção e evolução da instituição, distinguindo diversos tipos de
relacionamento entre contentor, conteúdo e discurso museológico capazes de caracterizar
o conjunto patrimonial da casa-museu.
▪ casa-museu estética: que expõe colecções privadas de artes decorativas, mobiliário e/ou
antiguidades de várias épocas; a casa apenas serve de contentor de exposição de
colecções cujos objectos possuem um valor próprio sem relação directa com a história do
6 Esta classificação foi certamente inspirada pela proposta de William T. Anderson em "Les objectifs de la
préservation des sites historiques", Museum, n.º 3, vol. XXVII, Paris, 1975, pp.100-104: "No seguimento da reunião
conjunta destes organismos (ICOM e ICOMOS) em Polónia (1974), William T. Anderson defendia que na hora de
escolher um antigo edifício para a sua reabilitação deveria ter-se em conta certas prioridades, como:
▪ o valor documental do lugar quando associado a uma personalidade célebre ou a um facto histórico;
▪ o seu valor representativo relativamente a uma época ou sociedade determinada;
▪ o seu valor estético, não só em si mesmo, mas também enquanto possibilidade de apresentar num ambiente
atractivo as colecções de um museu." [in 68 ▪ de Francisco Carreño, 2004, pp. 101-102]
7 As casas-museu representativas baseadas em reconstruções de ambientes colocam problemas de
autenticidade pois permitem manipulações da história e dos factos concretos através da exposição de
espaços e objectos verosimilhantes.
tema 19
edifício ou dos seus habitantes, podendo também ser casas com características
arquitectónicas particulares que merecem ser visitadas. 8
Qualquer destes contributos delimita e explica o que é, o que faz e o que representa
uma casa-museu, organizando alguma da desordem da extensa lista de palavras e
expressões, conceitos e ideias, associáveis ao binómio casa-museu.
No entanto, até agora, nenhuma pareceu suficientemente abrangente para reunir o
consenso dos diferentes técnicos e investigadores envolvidos com este tipo de entidades,
embora uma vez reunidas possam demarcar um campo de actuação da casa-museu.
Se o primeiro grupo de contributos parte de exemplos concretos e o segundo, mais
recente, procura alguma abstracção, uma certa indefinição geral permite maior liberdade
no desenvolvimento das situações existentes e na criação de novas propostas. Deste modo,
definir o carácter fundamental da casa-museu e descrever simultaneamente as suas
variáveis com rigor científico, considerando a estrutura arquitectónica, o tipo de colecções,
as opções museológicas e museográficas, e o carácter das actividades da instituição, tem
sido entendido sobretudo como uma ferramenta de trabalho e não como procura de uma
definição exclusiva e universal, no tempo e no espaço.
8 As casas-museu representativas ou estéticas possuem por vezes o nome de um personagem, muitas vezes
doador do edifício e/ou colecção, mas esse não é o objecto principal do discurso museológico da instituição.
9 DEMHIST, Conferência de Barcelona: "The Sedond Phase of the Categorization Project: Sub-Categories".
20 da casa ao museu
tema 1.2
objecto e objectivos
22 da casa ao museu
tema 1.3
casos de estudo
Sendo que, o primeiro subgrupo se poderia estender a um conjunto muito mais vasto de
espaços museológicos de carácter etnográfico, optámos por limitar o estudo às casas-
-museu do segundo subgrupo, obtendo uma listagem provisória com cerca de sessenta
10 Quase sempre pertença de Juntas de Freguesia e identificadas pelo nome da aldeia em que se localizam.
11 De uma forma geral, os museus portugueses que poderíamos incluir no subgrupo das casas-museus estéticas
não apresentam a designação de casa-museu e, ainda que a sua designação inclua o nome do antigo
proprietário do edifício e/ou da colecção principal, são considerados pelos seus responsáveis apenas como
museus de artes decorativas, como por exemplo o Museu Nogueira da Silva em Braga.
tema 23
casas-museu não podendo ainda garantir com certeza absoluta a existência efectiva
desses e doutros casos de estudo possivelmente ainda não identificados. 12
Por outro lado, não era razoável imaginar que teríamos capacidade de investigar e
analisar sessenta casas-museu espalhadas por todo o território nacional num tão curto
espaço de tempo. Ainda assim, avançámos, iniciando as visitas e a recolha de elementos
mais aprofundada sobre cada um desses sessenta casos. Nesse novo ciclo de contactos
compreendemos, sobretudo pela dificuldade de marcação das visitas, mas também pelo
aprofundar do conhecimento sobre a organização e funcionamento de cada um, que
nem todas essas casas-museu eram efectivamente museus, que outras nunca tinham
aberto ao público, que não tinham funcionários ou que a pessoa responsável detentora da
única chave vivia noutra região do país, que por essas e outras razões algumas casas-
-museu não eram sequer reconhecidas pelas entidades administrativas ou de turismo, que
em certas circunstâncias a própria designação de casa-museu não fazia qualquer sentido
e que essa designação não podia por si só caracterizar esses espaços.
12 Algumas das casas-museu representativas identificadas incluem o nome do dador do edifício e/ou de
parte significativa do espólio. No entanto, o seu objectivo principal é darem a conhecer o património
etnográfico de uma aldeia ou região. Nesse sentido não podem ser incluídas na categoria de casas-museu
documentais pois embora evoquem um personagem não estabelecem uma crónica da sua vida. Apesar disso,
durante algum tempo, por falta de informação detalhada, incluímos algumas destas casas-museu no segundo
subgrupo excluindo-as numa fase posterior.
13 Evidentemente, fossem outros os objectivos desta investigação e outros os critérios definidos, a lista final
poderia ser ligeiramente, ou extremamente, diferente. Por outro lado, estes critérios não procuraram definir uma
possível subcategoria de casas-museu, mas antes, e apenas, limitar um conjunto válido de análise.
24 da casa ao museu
2 Depois, a instituição devia assumir-se e designar-se como casa-museu ou casa.
6 E, por fim, o museu estar efectivamente aberto ao público foi determinante para o
apuramento final, uma vez que durante as primeiras fases da pesquisa conducentes à
obtenção de um conjunto final de casos de estudo pudemos constatar que inúmeras
entidades funcionavam de forma sazonal, esporádica ou apenas mediante marcação
prévia e outras nunca chegaram a abrir ao público, encontram-se em fase de projecto ou,
ainda, não passam de intenções 14 .
14 "Particular relevo têm vindo a adquirir os dados respeitantes a Projectos (entidades auto-designadas como
museu já formalmente criadas; com um espaço físico destinado formalmente a uma entidade museológica;
que pode ter ou não uma colecção; que não está a funcionar; com documentos de fase preparatória,
responsável identificado, e tendo sido realizados estudos e projectos, designadamente de arquitectura) […] e
às Intenções de criação de museu – ou seja, vontade publicamente expressa de constituir um (projecto de)
museu por uma qualquer entidade pública ou privada; com existência, ou não, de um espaço físico destinado
a uma entidade museológica, ainda sem colecção, mas com estudos preparatórios realizados […]." [73 ▪ "O
Panorama Museológico em Portugal [2000-2003]", 2005, p. 33]
tema 25
. a Casa Colombo foi excluída, não pela inexistência de elementos que provem ter sido
habitada por Colombo, mas porque uma redefinição recente dos seus conteúdos
programáticos e expositivos reorienta a sua vocação para o conhecimento da história e da
posição estratégica do Porto Santo.
A lista final de trinta e quatro casos de estudo distribuídos por Portugal Continental e
Madeira (Casa-Museu Frederico de Freitas) é válida para o ano de 2005 e como tal
permanece aberta a futuros desenvolvimentos.
15 7 critérios do modelo Minimal: "ter um funcionamento ao longo do ano permanente ou sazonal; possuir pelo
menos um conservador ou técnico superior (incluindo pessoal dirigente), dispor de pelo menos uma
sala/espaço de exposição, possuir salas para outras funções (incluindo espaços destinados ao público ou
serviços técnicos); possuir pelo menos inventário sumário ou indicar o número de peças inventariadas sumária
ou desenvolvidamente; possuir orçamento anual próprio ou apresentar valores nos recursos financeiros (receitas
ou despesas); e ter realizado uma das actividades orientadas para os visitantes (renovação da exposição
permanente, exposição temporária, acções dirigidas ao público escolar, conferência/seminário, espectáculos,
visitas guiadas ou outras)." [73 ▪ "O Panorama Museológico em Portugal [2000-2003]", 2005, p. 22]
16 14 critérios do modelo Desenvolvimento: os sete critérios do modelo Minimal e ainda " possuir ambos os
sistemas de segurança (anti-roubo e anti-incêndio); possuir pelo menos um dos serviços de acolhimento ao
público – cafetaria/restaurante, loja ou bilblioteca/centro de documentação; as instalações quanto à
permanência são definitivas; estabelece pelos menos uma das relações com o exterior – parcerias ou
publicidade; ter disponível como publicação/edição o folheto/desdobrável; o endereço constar da
informação sobre itinerários culturais da área; e possuir serviços educativos." [73 ▪ "O Panorama Museológico em
Portugal [2000-2003]", 2005, p. 22-23]
26 da casa ao museu
tema 1.4
fontes e apresentação
tema 27
Por vezes, intervenções muito documentadas não chegaram a ser realizadas, outras
prolongadas no tempo não ficaram registadas e outras foram realizadas sem
acompanhamento de técnicos e apoiadas em juízos práticos dos conservadores que, mais
ou menos informados, dependendo da sua formação e da época, se viram certamente
confrontados e limitados por razões económicas e de recursos humanos, actuando de
acordo com os meios disponíveis e quase nunca registando as alterações efectuadas.
Obras de reparação, manutenção e beneficiação, que registamos sempre que possível,
foram pouco documentadas, mas representam sem qualquer dúvida momentos muito
significativos no conjunto das transformações físicas da casa-museu.
Normalmente, não existem desenhos dos projectos originais dos edifícios e nem sempre
foram realizados levantamentos arquitectónicos na altura das primeiras adaptações. Em
raras ocasiões, apenas existiam elementos dos projectos originais e as alterações foram
registadas durante a visita aos edifícios.
Não foi possível encontrar qualquer informação gráfica sobre as Casas-Museu Solheiro
Madureira, Aquilino Ribeiro e Amália Rodrigues. Devido ao seu número reduzido, tal facto
não foi motivo de exclusão.
Em qualquer situação, os próprios edifícios revelaram a sua condição fundamental de
documentos materiais. Todas as visitas permitiram interrogar directamente a arquitectura.
Tais averiguações levantaram muitas vezes dúvidas inexistentes em presença de outros
documentos, mas simultaneamente o seu testemunho esclareceu o que nenhuma outra
fonte podia explicar.
28 da casa ao museu
reflecte também o carácter de muitas das intervenções que, procurando manter a
imagem exterior dos edifícios, procederam sobretudo a modificações dos interiores.
O [re]desenho foi realizado em diferentes níveis dependendo da informação disponível.
Nas situações mais simples e imediatas, a reprodução foi suficiente, noutras foi necessário
efectuar rectificações pontuais após a visita do edifício. No campo oposto, foi inevitável
produzir sínteses válidas para um determinado momento a partir de desenhos parciais e/ou
de diversas épocas.
A cada fase da transformação corresponde uma legenda indicando a data, o autor do
projecto e a designação de cada divisão sempre que encontrámos essa informação nos
respectivos desenhos, mantendo-se sempre a terminologia original. As plantas do estado
actual [2005], incluindo projectos em fase de concretização em obra, distinguem-se das
outras pelo uso de mancha na representação das paredes.
As páginas de desenhos incluem ainda dois diagramas de análise. No primeiro, três
tramas, representam a nossa avaliação do grau de transformação de cada espaço desde
que a casa pensou ser museu: conservado, modificado, novo. No segundo, cinco manchas
de tons diferentes e uma linha explicam a organização funcional: exposição,
administração, serviços ao público, serviços internos, circulação e percurso de visita.
Os projectos não realizados, mas documentados aparecem após os diagramas.
tema 29
tema 1.5
metodologia e estrutura
"Ora bem. Como contar uma história, tão complexa, tão mutável e, sobretudo, tão mal
conhecida? Como dar conta de tantos problemas e planos de análise – mentais, artísticos,
financeiros, sociológicos, políticos, disciplinares –, de tantas mudanças experimentadas, de
tantas novas tipologias, tantos inventos e alternativas, tantos logros como os que o
sustentaram durante estes cem anos? Como recuperar a visualização de tantos
acontecimentos perdidos? Como abraçar tanta dispersão geográfica e raridade, tantos
contextos diferentes e intenções contrárias, conservando ao mesmo tempo as devidas
proporções? Como distinguir a substância da anedota? Como tornar compatível o episódio
imediato com as ideias que atravessam todo o século? Como pôr ordem nas gramáticas
de instituições, decretos e experiências que se produzem de um lado ao outro da Terra?"
[61 ▪ María Bolaños, 2002, p. 12]
30 da casa ao museu
O terceiro descreve os trinta e quatro casos de estudo organizados por data de
abertura ao público, precedendo-os uma pequena introdução que os insere em três grupos
distintos: o mote: 1915-1949 – as primeiras casas-museu, a maturidade: 1950-1987 – casas-
-museu de grandes coleccionadores e a experimentação: 1988-2005 – novas perspectivas
nas casas-museu. Neste capítulo a importância dada ao desenho das diferentes etapas de
adaptação da casa a museu permitiu sintetizar e materializar as alterações, facilitando a
sua observação e compreensão.
O quarto capítulo corresponde à convicção de que uma visão de conjunto é
necessária e possível, e dedica-se à análise interpretativa e comparativa das várias casas-
-museu analisadas, através da desmontagem de lógicas comuns que definem etapas
consecutivas de construção do lugar casa-museu, identificando similitudes e diferenças,
rupturas e sequências.
E por fim, os anexos I a IV relacionam-se com a selecção dos objectos de estudo e os
anexos V a X, incorporados sob o título A bola de cristal das estatísticas, foram formulados
como primeira abordagem comparativa do conjunto dos casos de estudo através de um
método quase exclusivamente quantitativo 17 , capaz de actuar como instrumento de
medida e de cruzamento de informações. Deste modo, foi possível agrupar uma série de
dados recolhidos, organizando-os de modo a proporcionar informações sobre o conjunto
dos casos de estudo sugerindo demonstrações, reflexões e interpretações que serviram de
suporte à redacção do quarto capítulo.
17 "A abordagem da realidade museológica nacional através de métodos quantitativos registou nos últimos
anos avanços significativos que vieram colmatar lacunas importantes no seu conhecimento. Acompanhando a
evolução das políticas culturais para o sector, esta abordagem permite uma visão de conjunto que métodos
qualitativos, embora igualmente indispensáveis, não facultam." [73 ▪ "O Panorama Museológico em Portugal
[2000-2003]", 2005, p. 19]
tema 31
conceito . 2
A história do museu coincide com o relato entusiasta da sua lenta, progressiva e dupla
transformação em construção autónoma e instituição pública, independente do espaço e
propriedade privados.
A evolução da arquitectura do museu assenta, aliás, nos méritos dessa emancipação:
"O início e a evolução dos museus ao longo da história definem a sua própria essência: a
diversidade. Diversidade de origens, diversidade crescente com a passagem do tempo. […]
No final do século XVIII, início do século XIX, todos os espaços experimentados ao longo dos
séculos e relacionados com o corpo do coleccionador e com os objectos da sua
colecção, articularam-se num modelo unitário […]. As partes – galerias, salões, salas
sucessivas, rotundas, cúpulas, pátios, pórticos e escadarias pomposas provenientes dos
espaços das villas e palácios […] dos coleccionadores – precedem o todo, articulando-se
por fim numa tipologia arquitectónica coerente." [49 ▪ Josep Maria Montaner, 1995, p. 6-7]
E as origens do museu revelam uma gradual transição das colecções da esfera privada
para a esfera pública, como demonstra Krzysztof Pomian ao identificar quatro modelos de
formação do museu:
. o modelo tradicional "é representado por toda a instituição que, exercendo as suas
funções habituais, cria uma colecção acessível ao público […]. Encontramo-las com
frequência nos palácios dos príncipes e dos reis obrigados a envolverem-se de coisas raras
e belas, de as recolher em quantidade e de as exibir […] mesmo quando não lhes atribuíam
pessoalmente qualquer interesse." [41 ▪ Krzysztof Pomian, 1987, p. 296-297];
. o modelo revolucionário, descendente da Revolução Francesa e da convicção da
importância da educação do povo, corresponde à criação de museus por decreto,
confiscando obras de arte e propriedades junto dos seus ricos proprietários;
. o modelo do benfeitor que oferece as suas colecções ao poder público ou institucional,
floresceu a partir do século XIX fomentado pela liberdade democrática. "Na maior parte
dos casos, estes museus são criações de industriais, comerciantes e banqueiros,
enriquecidos pela expansão económica da época, que consagraram uma parte do seu
tempo e do seu dinheiro a constituir colecções e a assegurar a sua preservação após a sua
morte. Na Europa, os museus de benfeitores têm, no entanto, um papel secundário em
relação aos grandes museus nacionais representantes do modelo tradicional ou
revolucionário. Nos Estados Unidos, ao contrário, não têm qualquer concorrência.
Encontram-se a todos os níveis desde o pequeno museu de importância puramente local
aos museus mundialmente conhecidos […]." [41 ▪ Krzysztof Pomian, 1987, p. 301]
. e o modelo comercial quando uma instituição adquire a terceiros, privados ou públicos, a
totalidade das peças das suas colecções.
Assim, no âmbito museológico alargado, casa e museu nem sempre foram
obrigatoriamente lugares radicalmente incompatíveis.
Ainda que o conceito de casa-museu pareça ter surgido apenas no momento de
separação oficial e formal dos dois lugares, como continuidade de uma história comum
que seguiu rumos diferentes a partir do final do século XVIII, início do século XIX, é possível,
avançando contracorrente, ou não, identificar momentos, factos, colecções, espaços e
edifícios em que casa e museu se cruzam, confundem e auto alimentam.
o conceito 35
No entanto, essa mútua contaminação não se limitará à evolução das colecções
privadas e dos espaços domésticos que as acolhem, inspiradores do museu moderno.
Na sequência das grandes transformações provocadas pela Revolução Industrial e da
evolução de todas as áreas do conhecimento, o Homem, a casa e os modos de habitar
tornam-se objecto de estudos históricos, sociológicos, arqueológicos, antropológicos,
etnográficos, filosóficos, arquitectónicos e outros, muitas vezes enquadrados pela
emergência de uma nova e variada sensibilidade patrimonial.
A casa-museu (documental, representativa ou estética) não podia deixar de espelhar as
reflexões, dúvidas e certezas, que desde o romantismo até aos nossos dias influenciaram a
concepção da habitação das diferentes classes sociais, desde a alta burguesia
recentemente enriquecida ao humilde operário ou camponês que luta por melhores
condições de vida.
O mito da cabana primitiva e da casa ideal, a nostalgia de uma vida elementar perto
da natureza, a procura de harmonia com as exigências da nova vida urbana, a
multiplicação dos rituais familiares e dos códigos da vida social, a valorização da
intimidade, o desejo de personalização do interior doméstico com o recurso a inúmeras
modas decorativas mais ou menos luxuosas feitas de sínteses das artes, o crescimento da
classe média, a sedimentação das democracias, o exponencial crescimento da vida
cultural e artística, a reflexão sobre a essência da casa e do habitar, o novo entendimento
da noção de conforto, a reorganização funcional e técnica da habitação com a
introdução de sistemas de distribuição de água, gás, electricidade e a utilização de novos
materiais e técnicas construtivas, entre outros, que caracterizaram a casa ao longo dos
últimos dois séculos, também contribuíram para que o habitat humano fosse, e seja, matéria
de inúmeras experiências e interpretações artísticas e museológicas, entre as quais as
diferentes categorias de casas-museu.
Ao longo das próximas páginas procurámos esclarecer diversos aspectos das origens da
casa-museu documental abordando a importância de alguns espaços domésticos para a
formação do conceito.
36 da casa ao museu
conceito 2.1
recepções, tertúlias e festas
Pausânias, Estrabão e Vitrúvio evocam três exemplos históricos que associam a casa ao
museu na sua dimensão de lugar de recepções, tertúlias e festas.
O primeiro, conta-nos que entre o século III e o século I a.C., os habitantes da Beócia na
Grécia reservaram um cantão em volta da floresta sagrada do monte Hélicon para
morada das Musas a quem faziam oferendas e às quais dedicavam, de cinco em cinco
anos, uma grandiosa festa, famosa em todo o mundo Helenístico pelos seus extraordinários
concursos de música e poesia. As nove Musas, filhas de Zeus e de Mnemosine, inspiradoras
dos poetas e dos sábios dedicavam-se às artes: Calíope à poesia épica e à eloquência,
Clio à história, Euterpe à poesia lírica, Polimínia ao cântico religioso, Erato à poesia amorosa,
Tália à comédia e ao teatro, Melpómene à tragédia, Urânia à astronomia e Terpsícore à
dança. 18
A sala de jantar é outra divisão privilegiada nas casas-museu porque transmite uma
sensação de habitabilidade imediata e porque "é simultaneamente lugar familiar e lugar
de recepção e, segundo a importância de cada um, tende a tornar-se rival do salão, ao
qual está ligada. Com frequência, na habitação burguesa, a sua dimensão ultrapassa a do
salão principal e a sua posição é mais valorizada […]. Nas habitações mais modestas, o
espaço onde se recebe é muitas vezes a sala de jantar. As visitas instalam-se em volta da
mesa, as crianças utilizam-na para brincar e trabalhar, a mulher que não trabalha no
exterior usa-a durante as suas tardes. Por isso, a sala de jantar é uma divisão com funções
múltiplas, porque é ao mesmo tempo íntima e lugar de sociabilidade."
[8 ▪ Monique Eleb e Anne Debarre, 1995, p. 106]
21 CLEMENT, M.C. e D.; LUBIN, G.; MARTIN, A. e SAND, C., "À la table de George Sand ", Paris: Éditions Flammarion
38 da casa ao museu
conceito 2.2
as colecções das elites
A casa do arquitecto John Soane (1753-1837) ocupa três edifícios em Licoln's Inn Fields
adquiridos sucessivamente. No n.º 12, instala os primeiros moldes de elementos
arquitectónicos no pequeno corredor que liga a habitação ao escritório.
Instrumento de trabalho e suporte pedagógico, a sua colecção desenvolve-se a partir
de 1806 quando integra o corpo docente da Royal Academy e decide abrir o seu atelier
de trabalho aos alunos uma vez por semana.
Entre 1792 e 1837, investe sucessivamente os três lotes 26 , instalando em todas as divisões
inúmeras peças da sua colecção que invadem a totalidade dos espaços domésticos:
fragmentos de arquitectura, maquetes dos seus projectos, antiguidades egípcias, clássicas,
medievais e renascentistas, escultura dos séculos XVII e XVIII e neoclássica, moldes
fabricados no século XIX, objectos orientais, relógios e outros objectos relacionados com o
tempo, mobiliário doméstico do século XIX entre outro, vitrais oriundos de mosteiros e
conventos franceses destruídos durante a Revolução Francesa, pintura de Canalettos e
Hogarth, pintura do início do século XIX, uma vasta biblioteca e arquivos com milhares de
obras, manuscritos, desenhos, cadernos, próprios e de outros arquitectos.
"Ao longo das modificações a que submete as suas casas, Soane vai sempre no sentido
do encaixe de espaços, da erosão das paredes, da abertura de novas vistas. À proliferação
dos objectos responde com a desmultiplicação dos espaços, sempre relacionada com o
movimento do visitante. Fragmentação, movimento: as categorias estéticas do século XVIII
reúnem-se ali com uma sensibilidade contemporânea, explicando o interesse crescente
pela casa nos últimos anos." [259 ▪ Béatrice Jullien, 2001, p. 41]
O ambiente fantástico e pitoresco de gabinete de curiosidades que se estende por
toda a casa conjuga-se no entanto com o complexo tratamento, em planta e em corte,
de cada divisão criando um trama de espaços, com formas e tamanhos muito diversos,
enriquecidos pelas alternativas dos percursos e pelos inúmeros jogos de sombra e luz. 27
25 Ao longo da análise dos casos de estudo encontramos uma única referência a uma casa-museu
estrangeira. No testamento de Anastácio Gonçalves este exprimia o desejo de que a sua casa em Lisboa fosse
transformada numa casa-museu semelhante à de Sir John Soane.
26 As transformações decorreram em três fases principais: 1ª. O n.º 12 foi adaptado a casa e escritório entre
1792 e 1794; 2ª O n.º 13, adquirido em 1807, acolheu a extensão do atelier de trabalho e a colecção de gessos
após obras realizadas entre 1808 e 1812; 3ª O n.º 14, adquirido em 1823, permitiu receber novos objectos da
colecção e instalar o Picture Room.
27 Durante a sua vida, Soane aceitava visitas apenas em dias solarengos entre as 12 e as 16 horas quando
estavam reunidas as condições ideais para admirar a luminosidade interior obtida através das diversas
clarabóias coloridas.
o conceito 41
enterradas que acabamos de descobrir no centro de Londres. A construção, que parece
ter sido feita em várias etapas destinava-se a ser um templo de Vesta? Um convento de
monges? Um lugar funerário sagrado? Ou um palácio de um encantador? O antiquário
discute as hipóteses, todas parecem conter um pouco de verdade." [259 ▪ Béatrice Jullien, 2001,
p. 42]
Em 1833, desapontado com a conduta dos seus dois filhos indiferentes à arquitectura,
negoceia um Acto Parlamentar para transformar a casa em museu, prevendo o acesso
exclusivo a amadores e estudantes de arquitectura, pintura e escultura pois entendia que a
sua casa concebida como um auto-retrato, resumo do mundo e da história da arquitectura
devia ser reservada a um grupo restrito de conhecedores. Mas, perante a raridade de tal
tesouro e a evolução da museologia, a Casa-Museu Sir John Soane, tornou-se rapidamente
acessível a um vasto e variado público internacional.
A maioria das villas-museu provenientes da tradição dos gabinetes de curiosidades e
das galerias não teve o mesmo destino da casa de Licoln's Inn Fields. Muitas das colecções
dos grandes coleccionadores dos séculos XVIII e XIX foram adquiridas por outros dos seus
pares, dispersas em sucessivas heranças, doadas ou adquiridas por museus públicos 28 .
O prestígio das colecções privadas de história natural e arte antiga decresce abafado
pelo empenho científico, histórico e artístico dos museus públicos. Novas noções de
património e sucessivas alterações de gosto também modificaram os interesses dos
coleccionadores que reorientaram os seus investimentos para outros objectos e obras de
arte, revelando um espírito criativo na instalação das colecções no interior dos espaços
domésticos que ora se aproximou, ora se afastou, das principais linhas de experimentação
museográfica.
No entanto, um dos aspectos mais importantes da formação e evolução do conceito
de casa-museu tem sido a valorização da casa como espaço de acolhimento da
colecção privada.
"Uma direcção diferente, porventura mais importante, do estudo das colecções conduz
à reconstrução do gosto dos seus proprietários, legível na escolha dos objectos que
desejaram possuir. Este gosto, as colecções não são as únicas a revelar. Dele testemunham
as encomendas feitas aos artistas. E também a decoração interna e externa: elementos de
arquitectura, quadros, frescos, estuques, esculturas, móveis, tecidos, cerâmicas, etc. Por isso,
quando nos colocamos na perspectiva da reconstrução do gosto, a fronteira entre
colecção e decoração esbate-se." [41 ▪ Krzysztof Pomian, 1987, p. 10]
A decoração da casa é, nesse caso, entendida como reflexo da personalidade do seu
proprietário que acumula todo o tipo de relíquias do passado, construindo uma
interpretação pessoal da história, no interior da sua habitação, através da reprodução, livre
e inspirada, de vários estilos de época. O efectivo interesse histórico do século XVIII pela
Antiguidade Clássica desapareceria e o século XIX, viciado na já longa aventura de
exploração de velhos e novos mundos, utilizaria a história como pretexto para a mistura
extravagante e compulsiva de objectos, dando origem a todo o tipo de revivalismos que
atulhavam as habitações de tesouros, reunidos com um empenho obsessivo.
A Casa de Pierre Loti (1850-1923) aberta ao público em 1969 é uma dessas originais
casas do fim do século XIX que ilustra esta faceta da casa-museu.
Oficial de marinha e escritor, Pierre Loti era um viajante apaixonado. "Da Índia a Tahiti,
da Turquia ao Senegal, as obras, os desenhos, os artigos, as fotografias, mas também a sua
casa, testemunham a vida e as descobertas deste explorador dos oceanos. Mas a Turquia
é o país que o marca mais profundamente. […] Apaixonado, transforma-a na sua segunda
pátria! Sonha ser um autóctone, fundir-se na decoração, viver à turca, ser turco!" [256 ▪
http://www.terredecrivains.com]
De regresso das suas viagens passa grande parte da sua vida a transformar a sua casa
natal em Rochefort-sur-Mer num universo mágico, místico, exótico e excêntrico que servia
de palco a festas memoráveis. Inspirada nas suas inúmeras viagens, a decoração eclética
revestiu trinta divisões de uma mistura de história ocidental e oriental onde a sala gótica e
sala renascença coexistem com a mesquita otomana, o salão turco, o pagode japonês, o
quarto árabe e a sala chinesa.
Na Europa oitocentista, a variedade e simultaneidade de referências estilísticas
ultrapassaram todos os limites da interpretação racional da história. À moda do neoclássico
seguiram-se o neogótico, neorococo, neogrego, neo qualquer coisa, "que os puristas
lamentavam, mas que deixava aos arquitectos e decoradores de interiores imaginativos [...]
muita margem para idealizar, interpretar e inclusive combinar diversos estilos." [6 ▪ Witold
Rybczynski, 1997 (1986), p. 179]
o conceito 43
Numa sociedade onde as aparências determinavam fortemente as relações sociais, a
obsessão decorativa era nitidamente colectiva e obrigatória. Todos deveriam possuir o
grande salão Luís XIV, o quarto de dormir Luís XVI, a saleta Luís XV, a biblioteca Luís XIII, a
sala de jantar Henrique II, o hall Luís XII, a sala de bilhar japonesa, a sala de fumo mourisca,
a sala de banho pompeia! 29 e 30 E eram frequentes as viagens para encomendar uma sala
de jantar, uma saleta, um gabinete de trabalho ou um quarto.
Estas modas eram, aliás, alimentadas pelas inúmeras exposições nacionais e
internacionais realizadas nas grandes capitais europeias desde finais do século XIX, onde
ilustres arquitectos e decoradores conseguiam encontrar um equilíbrio entre as inovações
tecnológicas no âmbito do conforto doméstico e a evolução das artes decorativas que, na
realidade, seguiam vias teoricamente incompatíveis.
Nem mesmo a consagração da Art Déco na grande Exposição Internacional das Artes
Decorativas e Industriais Modernas realizada em Paris em 1925 31 , onde a imitação de estilos
antigos dos interiores de época pretensiosamente históricos foram proscritos pela
organização, conseguiu evitar as referências à tradição e às colecções, pois a forte
presença dos ensembliers franceses ficou marcada pelo recurso à temática da casa do
rico coleccionador de obras de arte. Foi "o caso do pavilhão construído por Henri Sauvage
e Georges Wybo para a loja Le Printemps, do «Museu de Arte contemporânea»
apresentado pela Companhia das Artes Francesas, do pavilhão de Henri Pacon para o
Grupo dos Artesãos franceses contemporâneos, do Hotel do Coleccionador realizado pelo
grupo Ruhlmann para Pierre Patout." [99 ▪ Gérard Monnier (dir), 1997, p. 230]
No ano seguinte, uma selecção destes pavilhões foi objecto de uma exposição
itinerante que a partir do Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque visitou oito grandes
cidades norte-americanas. 32 As casas dos coleccionadores tiveram naturalmente um forte
impacto e aceitação, sobretudo porque correspondiam a uma concepção museográfica
muito difundida nos museus dos Estados Unidos, os period rooms. Enquanto os
conservadores europeus oscilavam entre a contextualização histórica e artística prudente e
a absoluta neutralidade defendida pelos modernos 33 , os conservadores norte-americanos
apostavam fortemente, até meados do século XX, na reconstituição de ambientes
domésticos combinando pintura, escultura e artes decorativas, em representações de
salas, salas de jantar, quartos e outras divisões,.
o conceito 45
conceito 2.4
o culto da domesticidade
O museu das irmãs Comte remete para uma dimensão da musealização dos espaços e
objectos da casa que daria os primeiros grandes passos do outro lado do Atlântico, onde as
experiências dos period rooms conduziram a novos desenvolvimentos do conceito.
"Quando Mount Vernon [uma das casas de George Washington 34 ] foi transformado em
casa-museu em meados do século XIX, apareceu na paisagem cultural como uma
inovação, mesmo se o conceito oficial de casa-museu norte americana teve origem numa
combinação de consolidados precedentes europeus e americanos: a ideia da colecção
de objectos digna de estudo nasceu nos «gabinetes» das elites, a crença nos benefícios do
acesso popular a exposições inspirou-se nas «Exposições Internacionais» europeias e o
conceito de associação historicamente empenhada surge das Sociedades Americanas de
História.
Mais distintivo, no entanto, era o facto de estes museus serem «homes» preservadas e
que o jovem movimento pró casas-museu fosse dominado por mulheres envolvidas no
«culto da domesticidade»." [21 ▪ Patricia West, 1999, p. 1]
Em 1853, ao abrir ao público a primeira casa-museu norte-americana, a Mount Vernon
Ladies' Association of the Union lançou as bases de um vasto movimento social nos Estados
Unidos que procurou dar voz activa às mulheres na vida pública através da preservação de
casas históricas, seguindo três linhas de orientação principais: exaltação da identidade
nacional através do culto de personalidades políticas; participação activa em lutas e
34 Nos Estados Unidos, as duas primeiras casas-museu – Hasbrouck House em Neyburgh, Nova Iorque, e Mount
Vernon na Virgínia (aberta ao público em 1853) – estão associadas ao primeiro presidente norte-americano.
46 da casa ao museu
reformas sociais 35 ; e educação da população através da transmissão de valores
associados à vida doméstica tradicional norte-americana.
Durante várias décadas, esta actividade teve um carácter quase obsessivo 36 . Como
um jogo ou entretenimento colectivo, as inúmeras associações divertiam-se a adquirir e
decorar casas a que atribuíam valor histórico relacionado com a vida dos seus anteriores
proprietários. No início do século XX, a paixão das associações femininas foi substituída por
um enorme empenho do Estado na preservação das casas históricas. Apoiado por uma
classe masculina com formação na área da museologia, o governo federal interessou-se
pela capacidade de influenciar a opinião pública através de uma certa manipulação do
conteúdo dos discursos transmitidos pelas casas-museu.
A distinção entre a casa-museu norte-americana e a casa-museu europeia torna-se
muito clara, não só pela dimensão colectiva, política e social dos movimentos femininos e
governamentais, mas sobretudo porque a terceira linha de orientação contribuiria para
admitir no seio da casa-museu todo um conjunto de espaços de serviço da casa – cozinha,
copa, lavandaria, alojamentos de funcionários –, num misto de casa-museu documental e
casa-museu representativa, que até então era ignorado pela museologia europeia
concentrada na exibição dos lugares nobres das casas históricas e das importantes
compilações de objectos, artísticos e científicos, dos respectivos proprietários.
Embora cada casa-museu norte-americana fosse entendida como parte essencial da
interpretação da história nacional ou regional, por ter acolhido ou pertencido a um ilustre
conterrâneo, o seu carácter doméstico permitiria introduzir uma outra valência, não menos
importante, de identificação, preservação e prolongamento das tradições e valores
específicos da cultura e sociedade norte-americana, historicamente empenhada na
construção da sua própria história.
Tal como no museu das irmãs Comte, a domesticidade da casa envolvida por vitrinas,
também inerente aos period rooms, contribuiria para a apresentação e apreensão dessa
dupla narrativa – histórica e tradicional – no interior das casas transformadas em museus.
Através deste tipo de composição museográfica, alargado a um conjunto de espaços
da casa ainda mais domésticos, os conservadores norte-americanos encontrariam pretexto
para, através de uma decoração muito simples, estabelecer um certo modo de olhar o
passado, encontrando equilíbrios entre vida tradicional e vida moderna para inspirar e
educar os seus concidadãos na concepção da sua própria American Home; cada norte-
americano poderia assim contribuir para a conservação e divulgação da história comum.
Paralelamente, pressionados pelas problemáticas sociais e raciais com grande impacto
político, os mesmos conservadores afastam progressivamente o discurso museológico da
casa-museu da simples apresentação da vida dos ricos e famosos e da ênfase excessiva de
factos históricos e objectos de arte ou de artes decorativas.
"Embora a sociedade continuasse a valorizar grandes homens e mulheres, também
valorizaria tudo o resto que participou no passado. Mais do que nunca era necessário falar
de um grande personagem associando-o a uma estrutura. Não esquecendo o proprietário,
a casa histórica foi desafiada pelo público e pela comunidade museológica para situar as
casas no contexto da sua época. A família, tal como os empregados ou os escravos,
tornaram-se parte importante de um bom plano interpretativo." [25 ▪ Patrick H. Butler, 2002]
35 Patricia West no seu livro "Domesticating History: The Political Origins of America's House Museums" utiliza
quatro casas-museu norte-americanas – Mount Vernon, Orchand House Museum, Monticello e Booker T.
Washington's Birthplace – para descrever e demonstrar as estreitas relações entre o vasto movimento de
preservação de casas históricas e a evolução política e social da sociedade norte-americana.
36 Nos anos 60 do século XX, foram identificadas cerca de 6000 casas-museu nos Estados Unidos,
comprovando o interesse por esta categoria de museus.
o conceito 47
A sensação de que as visitas transmitiam ao visitante a ideia de que o ilustre proprietário
viveu sozinho, isolado e fechado no interior da casa, rodeado de objectos de uso extra
quotidiano, conduziu à valorização de outros habitantes da casa, de todos os espaços por
eles utilizados e de inúmeros objectos de uso quotidiano, criando novos pontos de partida
para o desenvolvimento de estratégias de interpretação do património disponível e de
concretização de visitas guiadas.
Como explica Jessica Foy Donnelly, "uma residência histórica proporciona um ambiente
compacto e completo para oferecer lições de história. Não interessa a sua idade,
tamanho, ou estilo, ou como era a vida no seu interior e exterior; uma habitação é um lugar
universalmente compreendido. Cada visitante [como o vizinho das irmãs Comte] tem a
capacidade de entender as relações essenciais existentes na casa, sendo essa a grande
vantagem de interpretar o passado através das casas históricas.
Uma boa interpretação constrói muitas conexões. […] No interior da casa, alguém
come, joga, trabalha, dorme, entretém-se, limpa, cozinha, e desempenha muitas das
actividades que os habitantes fizeram anteriormente. […] Copiar ambientes, tão
autenticamente e apropriadamente quanto possível, e conduzir os visitantes a participar
em actividades do passado permite extrair emoções e sentimentos. Utilizando esta
aproximação para participar no passado, em vez de apenas falar dele, cria-se um caminho
adequado para enriquecer a compreensão da vida doméstica em épocas passadas. […]
A vida doméstica é rica em histórias, e elas, e não apenas as suas partes (os factos), devem
formar o centro da interpretação da casa histórica." [25 ▪ Jessica Foy Donnelly, 2002, p. 3]
Partindo de uma estratégia próxima da utilizada pelas irmãs Comte, os conservadores
das casas-museu norte-americanas encontrariam alternativas ao congelamento do espaço
doméstico colocado atrás de vitrinas. Os discursos interpretativos seriam reforçados,
primeiro pela moda da organização de visitas acompanhadas de encenações da vida
quotidiana no interior da casa e depois pelo envolvimento do público nessas mesmas
encenações.
Ao providenciar um contexto de estudo e interpretação para o ensino da história e a
compreensão do passado, os norte-americanos utilizariam a casa-museu sobretudo como
lugar de observação e aprendizagem do viver quotidiano.
48 da casa ao museu
conceito 2.5
lugares de inspiração
Nos séculos XIX e XX, o interesse crescente pela globalidade da obra dos artistas deu
origem a imensas exposições retrospectivas, a salas de museus dedicadas a um só artista e
à criação de vários museus monográficos, mas a ânsia de entender a estreita relação do
autor com os objectos que produz investiu o seu espaço de trabalho, a sua casa, os seus
pertences, os seus lugares de vida e de inspiração, constituindo um novo e excelente
desafio para a museologia e a museografia que aí experimentam diversas aproximações à
obra de arte e ao contexto da sua criação.
"O desejo do artista de atingir a imortalidade abrindo o seu ambiente de vida e de
trabalho ao público coincide com a curiosidade deste último, e muitos museus foram
criados sobre esta base. Não alterando nada ou quase nada deste ambiente de vida,
suscita-se a presença do criador. A ideia bem estabelecida que os artistas são génios
conferiu aos espaços de criatividade um halo de misticismo, e o ar impregna-se do mistério
que é a essência desse génio. Um tal sentimento propaga-se e alimenta-se pela existência
de museus deste tipo e pelos objectos que aí estão expostos. O artista é substituído pelos
utensílios ou pelos moldes em gesso que utilizava; a bata, especialmente evocadora da sua
intimidade, é muitas vezes suspendida num canto ou negligentemente deixada sobre um
cavalete vazio. Ninguém escapará ao sentimento de presença emblemática, de
continuidade, de eternidade, que transmite o conjunto." [17 ▪ Imke K. Valentien, 1996, p.33]
À abertura ao público dos ateliers dos pintores e das oficinas dos escultores, por vezes
em vida dos mesmos, seguir-se-ia a exibição da sala de música do compositor, o escritório e
a biblioteca do escritor, o gabinete do médico, o laboratório do cientista, etc., todos
espaços cuja relação íntima entre processo criativo e domesticidade contribuiu para a
fantástica propagação europeia do conceito de casa-museu, entendida como fonte de
informação adicional sobre determinados personagens.
A Casa Buonarroti em Florença, pertença da família de Miguel Ângelo (1465-1564) é
talvez o testemunho mais antigo do desejo de conhecer e perpetuar a vida e obra de um
o conceito 49
artista através da musealização de um conjunto de espaços domésticos que o acolheram
numa determinada época. Entre 1612 e 1638, um sobrinho do famoso pintor decidiu
encomendar a vários artistas florentinos a decoração de paredes e tectos das salas nobres
da habitação familiar que foram revestidas com cenas da vida de Miguel Ângelo, criando
o primeiro museu monográfico instalado numa residência de artista que permanece aberto
ao público actualmente.
A Casa de Rubens (1577-1640), um dos museus mais visitados de Antuérpia, ganha
estatuto de monumento no final do século XIX mesmo depois de ter conhecido vários
proprietários e alterações físicas. Expropriados em 1937 e abertos ao público desde 1946,
casa e atelier, habitação e local de produção e venda de obras de arte, foram recriados,
apresentando um interior rico e luxuoso que permite descobrir para lá do grande pintor
barroco, o arquitecto e o diplomata, o coleccionador e o cientista, ou seja, o homem por
detrás do artista.
Na rua de Furstenberg, o último apartamento e atelier de Delacroix (1798-1863),
adquirido pelo estado francês em 1954, foi transformado em museu nacional em 1971. A
colecção é constituída por pinturas de pequeno formato, desenhos e correspondência
pessoal, instaladas no atelier e no quarto, descrevendo a vida e obra do artista através de
estudos e ensaios que antecederam a concepção de algumas das suas obras-primas
visitáveis noutros locais.
37 "No campo ou na cidade, muitas artistas procuraram inspiração na sua envolvente. O ambiente rural ou
urbano no qual se encontram os museus que lhe são consagrados é então um elemento de compreensão, é
parte integrante da exposição. […] Quando a paisagem vizinha exerce uma influência sobre o artista ou
quando é para ele uma fonte de inspiração, quando a envolvente natural se reflecte nos seus actos criativos, o
paralelo entre arte e natureza pode rapidamente afirmar-se como uma espécie de divinização do artista. […]
A apropriação da natureza e a sua subordinação à criatividade do artista conferem um significado
suplementar à história e à geografia do lugar." [17 ▪ Imke K. Valentien, 1996, p. 33]
50 da casa ao museu
No final dos anos 60, Claude Arthaud, fotógrafa e editora francesa, lança-se numa
dessas aventuras de descoberta de casas onde viveram ilustres personagens, publicando
"Les Maisons du Génie" em 1967.
"Na Europa, interessou-se pelas casas daqueles que tiveram um papel importante na
arte e na civilização do Ocidente e pelas suas relações com o seu ambiente e as suas
aspirações [...]. Consultando numerosos arquivos, [...] soube encontrar em vinte e nove
casas de pintores, de músicos ou de escritores cuja obra marcou particularmente o génio
europeu, do século XVI ao início do século XX, o que caracteriza cada uma delas
descobrindo a vida que aí foi criada.
Ao longo de dois anos de viagem, fotografou nas casas desses homens ou dessas
mulheres célebres as particularidades reveladoras dos seus gostos, da sua maneira de viver
e enriqueceu a sua biografia." [15 ▪ badana da capa do livro]
Em Odense encontrou a modesta casa da família Andersen inspiradora dos seus contos;
entre Capponcina e Vittoriale descobriu a dupla personalidade de Gabriele d'Annunzio,
político e poeta; em Eisenach imaginou a infância de um Bach numa cidade onde quase
todos eram músicos; entre Passy e o Castelo de Saché revelou Balzac coleccionador falido;
entre o Hotel Lauzun e o Hotel do Grand Miroir desvendou a condição humana de
Baudelaire; em Gneixendorf reviveu as horas mais patéticas da vida de Beethoven; em
Montbard visitou o gabinete de curiosidades do famoso naturalista Buffon; no castelo de
Bussy-Rabutin encontrou o excêntrico Bussy num exílio forçado durante o qual revestiu as
paredes e tectos da sua casa com caricaturas e alegorias da corte de Luis XIV que o
rejeitou; em Londres descobre Carlyle e Hogarth; em Valladolid, Cervantes; entre
Combourg e Vallée aus Loups, Chateaubriand; entre Paris e Varsóvia, Chopin; em
Béchellerie, Anatole France; em Frankfurt descobre as salas de música, de pintura, de
leitura, de teatro, usadas na educação do jovem Goethe; em Toledo encontra El Greco;
em Einsenstadt encontra Hadyn no Castelo do Príncipe Esterhazy; em Guernesey, Hauteville-
-House revela-lhe um Victor Hugo romântico, escultor de móveis insólitos, em vez do político
desesperado no exílio; em Saint-Point descobre Lamartine que trocou a poesia pela política;
em Chamblac, Jean de La Varende; Clos Lucé revela um Leonardo da Vinci mestre de
festas em Amboise que passa os últimos anos de vida a imaginar máquinas militares e
científicas; no Castelo de La Brède descobre Montesquieu; nas Charmettes, lugar de
peregrinação dos amantes do romantismo literário, descobre o jovem Jean-Jacques
Rousseau que Madame de Warens acolheu; em Antuérpia visita a casa de Rubens; em
Nohant encontra o quarto de Chopin transformado por George Sand, amante desiludida,
em gabinete de mineralogia; no castelo de Abbotsford observa o passado aos olhos do
escocês Walter Scott; no castelo de Coppet descobre Madame de Staël; em Iasnaïa-
-Poliana, a grande casa de proprietário fundiário de Tolstoï contrasta com os seus ideais
socialistas; e em Ferney, descobre o empreendedor Voltaire.
A viagem de Claude Arthaud antecipa a transformação de muitas destas casas em
museus e precede a organização de circuitos mais oficiais de descoberta da vida e obra
dos artistas, como os actualmente propostos, por exemplo, pelas inúmeras associações de
casas de escritores. A dimensão do seu livro, imediatamente traduzido em cinco línguas, é
no entanto reveladora da consagração definitiva da casa-museu na Europa e demonstra a
enorme variedade de personagens e edifícios domésticos que podem ser objecto de
aproveitamento museológico.
As casas dos artistas, testemunho de uma personalidade e de um contexto, revelaram a
casa como exposição da intimidade – do salão à cama do quarto, do atelier à banheira.
o conceito 51
conceito 2.6
a casa como universo
Quando toda a intimidade é revelada, quando o museu não encontra mais matéria a
expor, toda a casa é exposta. O modo de a construir, habitar, pensar 38 é o último patamar
de exploração das capacidades expositivas da casa, conciliando cada uma das vertentes
anteriormente descritas.
"Cada um de nós traz consigo, reconhecido ou não, uma busca da casa ideal. […]
A «virtualidade» da casa que nos construiu o arquitecto mais dotado deve ser depois
«habitada» e, para isso, «construída» por nós ao longo dos anos reunindo e preservando o
que nos faz viver, ou seja, revestindo, apenas aí, de formas e cores, de usos e ritos, de
hábitos e crenças, a nossa essencial nudez. Porque a nossa casa deve ser narcisista [...]. É
necessário que entrar [na casa] seja um mergulho [...] Habitar é fazer a casa à nossa
medida, vesti-la à volta de si mesmo, e, informando-a, dar-lhe a nossa forma exacta [...].
Concebemos desde logo que a forma em si mesma não tenha importância exagerada:
que o lugar eleito seja uma tenda ou um palácio, um T1 ou uma villa, um Kiosque ou um
abrigo na rocha, ele é apenas, concha vazia e passiva, uma possibilidade de casa. Basta
«construí-lo» [ou «pensá-lo»], fazer desse lugar eleito guarda dos nossos eu […]. " [7 ▪ Jacques
Pezeu-Massabuau, 1993, p. 7, 16-17]
"Os homens construíram templos para os seus deuses, fortalezas para os seus soldados,
palácios para os seus reis, desenharam parques para as suas estátuas, dedicaram praças às
suas vitórias, fabricaram abrigos para as suas famílias, jardins zoológicos para os seus animais
raros, museus para o seu património cultural." [36 ▪ Danièle Giraudy e Henri Bouilhet, 1977, p.10]
E casas-universo para si próprios.
No final da vida o medo da perda desse universo, povoado de objectos e recordações
pessoais, provoca a necessidade da sua exibição pública, inserindo-a nas tramas
museológicas próprias da cultura ocidental que partindo de espaços e colecções privados
constroem e enriquecem o museu público.
Se a ingenuidade astuciosa e o egocentrismo do habitante-construtor dá lugar a casas
inesperadas, a museologia não perde oportunidade de ampliar a sua colecção de
espaços privados e íntimos.
A evolução dos métodos de construir, habitar e pensar a casa afastou-a do museu que,
pouco a pouco, disfarçadamente, subjugou e integrou cada um dos seus aspectos
materiais e simbólicos.
A casa-museu como revelação de um universo pessoal revelou-se uma das principais
formas de utilização do conceito.
casas-museu em portugal 55
colecções e edifícios privados. No entanto, em nenhuma ocasião o termo casa-museu, a
ter sido utilizado na esfera privada ou pública, perdurou.
o mote: 1915-1949
A associação definitiva do binómio a entidades museológicas portuguesas aconteceria
na primeira metade do século XX com a abertura ao público de sete casas-museu.
Uma sequência de fatalidades – adultério, prisão, exílio no campo, desgraças familiares
recorrentes, cegueira, suicídio, incêndio – foi o antecedente directo da primeira operação
de salvamento de uma casa portuguesa.
Ardida e em ruínas, vinte e cinco anos após o suicídio daquele que é considerado o
primeiro escritor profissional português, a Casa de Camilo em S. Miguel de Seide, verdadeiro
lugar de inspiração do próprio escritor e dos seus admiradores que a adquiriram, inaugurou
em 1915 a história da salvaguarda de casas documentais em Portugal com a encomenda
do projecto de reconstrução do edifício ao Arquitecto Carlos Leiturga, que uma vez
executado permitiu abrir a casa-museu ao público em 1922.
Segue-se, em 1932, a Casa-Museu Teixeira Lopes, escultor prestigiado instalado em Vila
Nova de Gaia, que, na ausência de descendência directa, decide transformar a sua casa
e atelier em museu doando edifício e recheio à autarquia local. Embora não tenhamos
encontrado provas, esta primeira exibição voluntária de uma casa de artista e casa-
-universo não será certamente dissociável das estadias de Teixeira Lopes em Paris, onde
terá visitado, ou mesmo frequentado com uma certa regularidade, a Villa des Brillants ou o
Hotel Biron, casas onde Auguste Rodin (1840-1917) concebeu e produziu, entre 1893 e 1917,
grande parte da sua emblemática obra, e que foram transformadas em museus, após a
morte do escultor por sua vontade. 39
39 http://www.musee_rodin.fr
40 Almeida Moreira (1873-1939) foi nomeado 1º director do Museu de Grão Vasco em Viseu no ano de 1916,
ocupando o cargo até à sua morte em 1939.
Em testamento, doou a sua casa e colecções pessoais à Câmara Municipal de Viseu que entre 1940 e 1962
assegurou o funcionamento da instituição como casa-museu. No início dos anos 60, o edifício encontrava-se
muito degradado. Face às dificuldades financeiras da autarquia, a gestão da casa-museu passou a estar
dependente da Direcção-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes e foi anexada ao Museu de Grão Vasco.
Entre 1962 e 1965, as obras de recuperação do edifício, financiadas pela Fundação Calouste Gulbenkian, e
realizadas segundo projecto do Arquitecto Manuel Rodrigues, alteraram a aparência exterior do edifício, mas
sobretudo a sua organização interior, eliminando-lhe o carácter de habitação pela supressão de espaços
domésticos como a cozinha e os quartos, substituindo-os por espaços necessários ao funcionamento do museu
como sala de conferências, serviços educativos e instalações sanitárias.
Em Abril de 1965, aquando da reabertura ao público a designação de Museu Almeida Moreira reflectia,
bem, as profundas alterações na estrutura do edifício e na organização das colecções.
Durante a recente recuperação do edifício do Museu de Grão Vasco da autoria do Arquitecto Eduardo
Souto Moura, todos os serviços administrativos e algumas reservas foram transferidos para a antiga residência
de Almeida Moreira. Na visita que realizamos ao local durante o ano de 2005, constatamos o abandono do
edifício e a transferência da totalidade das colecções para as reservas do renovado museu.
Na dissertação de mestrado de Odete Maria de Matos Paiva, apresentada na Universidade de Letras da
Universidade de Coimbra, em 2001, com o título "Museu e dinâmicas de inovação. A exposição temporária
como proposta de turismo cultural" é possível encontrar uma descrição detalhada da evolução da Casa-
-Museu/Museu Almeida Moreira, tal como uma proposta para a dinamização dos seus espaços.
56 da casa ao museu
de artes decorativas foi transferida da casa alugada pelo escritor para um novo edifício na
cidade. 41
41 Neste caso, a designação de casa-museu não pode ser consensual porque, ao contrário da maioria das
situações, não é possível estabelecer qualquer relação entre o personagem e o edifício. O termo ilustra aqui a
técnica utilizada para concepção da exposição permanente: recriação de ambientes domésticos através de
uma colecção de artes decorativas.
42 Nos últimos meses do regime monárquico, o Decreto de 16 de Junho de 1910 (Diário do Governo, n.º 136,
23 de Junho de 1910) publicava uma lista de classificação dos Monumentos Nacionais organizada de forma
sistemática segundo tipologias: 1. Monumentos pré-históricos: antas, outros monumentos e castros; 2.
Monumentos lusitanos e lusitano-romanos: entricheiramento, povoações, castelos, marcos milenários, templos,
arcos, fontes, estátuas, inscrições e ruínas; 3. Monumentos medievais, do renascimento e modernos: catedrais,
mosteiros, basílicas, igrejas, capelas, cruzeiros, túmulos e sepulturas; 4. Monumentos militares: castelos, torres e
padrões; 5 Monumentos civis: paços reais, paços municipais, paços episcopais, paços de universidades,
palácios particulares e casas memoráveis, misericórdias e hospitais, aquedutos, chafarizes e fontes, pontes,
pelourinhos e trechos arquitectónicos.
43 A Casa-Museu Teixeira Lopes é ainda hoje o único museu da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.
casas-museu em portugal 57
O desenvolvimento de cada uma das instituições ao longo do século XX determinou a
sua divisão em três grupos distintos: as Casas-Museu de Camilo, Teixeira Lopes e Guerra
Junqueiro evoluíram para uma posição significativa no cenário museológico nacional; as
de Leal da Câmara, Afonso Lopes Vieira e Abel Salazar mantiveram um carácter local; e a
Casa-Museu Almeida Moreira foi absorvida pelo Museu de Grão Vasco.
a maturidade: 1950-1989
A segunda fase de criação de casas-museu correspondeu ao desenvolvimento
exponencial deste tipo de instituições. Ao longo de quatro décadas, abriram ao público
catorze novas casas-museu que partilham uma certa afinidade entre características dos
personagens, das colecções, das casas e das estratégias da sua transformação em museus,
e que deram origem a casas-museu descritivas concentradas na exposição de objectos.
Os personagens, independentemente da sua profissão, eram quase todos
coleccionadores que se enquadram num cenário "que, aqui e ali, [como] em Londres,
Barcelona ou Copenhaga, mantêm com os museus, simultaneamente, relações amistosas e
rivais. E ainda que se trate de uma figura quase milenária e omnipresente neste século, é a
partir da década de 1930 que adquire uma relevância primordial no mundo público,
quando se efectuam as grandes doações, quando as suas colecções se consolidam, se
convertem em museus ou se transformam em fundações, universidades e centros de
estudo." [61 ▪ María Bolaños, 2002, p. 17]
As colecções reflectem principalmente a valorização das artes decorativas e a longa
persistência dos valores culturais oitocentistas num eclético equilíbrio entre tradicionalismos
e estrangeirismos. Tal como na Europa, "as exposições de artes decorativas dos anos 1880 e
os apelos de Ramalho Ortigão e de Joaquim de Vasconcelos, menos do que criarem um
apetite cultural estruturado, degeneraram […] numa valorização mundana do antiquariato
e do coleccionismo. Relançava-se em força a acumulação de objectos heteróclitos […],
verdadeiro bricabraque que nos interiores decorados em estilos defuntos encontrava o
cenário adequado. Tal como sucedera durante o nosso romantismo, Paris permanecia o
farol orientador das artes da decoração. Os luxos franceses do Segundo Império
continuavam a dominar a moda e o gosto, servidos já desde 1840 pela vinda de
decoradores daquelas paragens e, agora, pela importação maciça de decorações e
ornamentos, ou dos seus modelos: aos revivalismos «renascença» sobrepunha-se, então, a
preferência pelos «estilos» Luís XIV, Luís XV, Luís XVI e Império, também ele de herança
romântica." [99 ▪ Rui Afonso Santos, 1999, p. 439]
No conjunto, algumas colecções afastam-se do espírito das artes decorativas: as Casas
de José Régio acolhem colecções de arte popular e arte sacra; a Casa-Museu Carlos
Relvas está estritamente relacionada com a fotografia e as Casas-Museu Ferreira de Castro
e Aquilino Ribeiro têm como principal trunfo as bibliotecas pessoais dos dois escritores.
As casas, mais ou menos envolvidos pelo espírito da casa portuguesa – movimento que,
à semelhança do que aconteceu noutros países, reflectiu sobre as características e
concepção de um tipo de habitação especificamente nacional não limitando as suas
reflexões ao campo exclusivo da arquitectura – acolhem as colecções, que ocupam
grande parte dos espaços domésticos, e os conjuntos remetem para o conceito de casa-
-universo ou museu de autor.
As casas-museu deste período, cuja distribuição geográfica continua determinada pelas
origens de cada personagem, revelam a sua relação, mais ou menos forte, com uma
cultura elitista, longamente fechada sobre si mesma, que a par da quase ausência de
políticas do poder público para o sector museológico, em certas circunstâncias parece ter
58 da casa ao museu
querido participar na evolução cultural e pedagógica de um país rural, interiorizado e
pouco desenvolvido.
Por isso, as casas são transformadas em museus a partir da iniciativa dos seus próprios
proprietários 44 que as doam ao poder local ou central, ou criam fundações para a gestão
da futura instituição museológica; e as estratégias de criação e desenvolvimento destas
casas-museu, muitas vezes condicionadas por disposições testamentárias, privilegiariam,
como veremos, a conservação/manutenção do edifício e da colecção, procurando
manter intacto o ambiente criado pelo seu anterior proprietário.
"Subjacente a esta vontade que lega ao poder público o que em vida foi mais querido,
está uma outra vontade – a que define a atitude coleccionista. Andam frequentemente
associadas estas duas vontades – a da colecção e a da doação (e consequente fruição
pública da primeira), pois considera-se um dado estabelecido que uma colecção privada
contém todos os ingredientes para se tornar uma atracção pública, reunindo, num acto
que não está ao alcance de todos e que implica poder económico, objectos dificilmente
detectáveis num vulgar espaço particular. Devemos lembrar, neste sentido, que as noções
de arte/valor/museu são indistintas, pelo menos em relação à realidade artística até ao
início do nosso século. As formas de arte que a partir de então surgiram – em conivência
com as expressões típicas dos mass media, da banda desenhada e da publicidade,
abalaram aquele trinómio. Mas, para uma experiência oitocentista, o objecto de arte
distinguia-se pelo seu valor e pela capacidade de sobreviver num museu, opondo-se aos
objectos que não supõem qualquer veneração possível. Não se estranhe, portanto, que à
ideia de colecção de arte se sobreponha sistematicamente a ideia de museu,
exactamente o lugar destinado à veneração. […]
A curiosidade gerada em torno destes coleccionadores acompanha-os desde o início
da formação da colecção, acentuando-se fortemente depois da sua morte, quando
chega ao conhecimento público o conteúdo daquela e o espanto do esforço económico
geralmente envolvido.
O gesto invulgar de coleccionar (!) soma-se à raridade dos objectos coleccionados
gerando a ideia […] de que o justo destino a dar ao coleccionado é torná-lo objecto de
pública apreciação. Associado a este fenómeno está uma consciência de excepção, por
parte dos doadores, uma forte auto-estima que não cabe aqui analisar mas que daria, sem
dúvida, algumas pistas para entender o gesto explícito de doar." [230 ▪ Laura Castro, 1996, p. 15]
Paralelamente, "um conjunto muito significativo de factos manifestam uma profunda
alteração da situação museológica portuguesa no decurso da década de 60, aliás em
consonância com outras áreas das práticas culturais, sendo difícil hierarquizar a sua
importância relativa. No entanto, [cremos] que, entre todos, sobreleva, pela sua forte
visibilidade e capacidade de influência positiva, a elaboração, desde 1959, do projecto do
Museu Calouste Gulbenkian, num contexto geral da enorme esperança que a recém
fundada Fundação com o mesmo nome (1956) abria à cultura portuguesa, pela sua
capacidade económica, a diversidade das suas iniciativas desenvolvimentistas, a clara
opção pela modernidade e a sua independência em relação à ideologia do regime." [62 ▪
Raquel Henriques da Silva, 2002, p. 86]
44 A ausência de descendentes directos é uma característica comum a quase todos os coleccionadores que
determinaram a transformação da sua casa e colecção em casa-museu. Este facto, determinante na opção
de dar um certo destino ao conjunto dos bens adquiridos e acumulados durante uma vida, levanta a questão
da existência de outros coleccionadores privados que tomaram outras decisões. Apenas o desenvolvimento de
um maior número de estudos sobre o coleccionismo privado em Portugal poderá determinar a real importância
destes personagens no âmbito da história das colecções portuguesas.
casas-museu em portugal 59
É difícil determinar em que medida Calouste Gulbenkian terá influenciado outros
coleccionadores a doarem as suas colecções e/ou casas. No entanto, a participação da
Fundação Calouste Gulbenkian na adaptação e gestão de várias casas-museu é evidente.
a experimentação: 1990-2005
A década de 90 representa uma nova mudança de direcção e um novo aumento
exponencial: catorze casas em catorze anos.
Três casas de artistas, Maurício Penha, José Cercas e Amália Rodrigues; quatro casas de
coleccionadores, Marta Ortigão Sampaio, Medeiros e Almeida, Soledade Malvar e Padre
Belo, que por diversas razões poderiam integrar a anterior geração de casas-museu; cinco
casas de escritores, Fernando Namora, Fernando Pessoa, Júlio Dinis, João de Deus (II) e Eça
de Queiroz, que há muito tinham deixado as respectivas casas; e, pela primeira vez, duas
casas com o objectivo de destacar a acção política de dois personagens, Humberto
Delgado e João Soares.
A experimentação, favorecida pelas condições proporcionadas pela ainda jovem
democracia portuguesa, sente-se sobretudo nos dois últimos grupos que, fruto directo de
iniciativas do poder local (excepto a Casa de Tormes – Museu Queiroziano), lançam um
novo olhar sobre as casas-museu biográficas ou documentais, privilegiando a compreensão
da vida e obra dos personagens, mais do que a exposição permanente de um conjunto de
objectos, criando casas-museu fortemente interpretativas.
O crescente alargamento do conceito de património e das categorias do objecto
museológico, associado ao lema o "museu está na moda", formam a chave de criação de
novas casas-museu e de desenvolvimento das já existentes.
As colecções tornam-se mais abstractas e conceptuais. Os edifícios são mais
testemunhos que documentos. E experimentando a conjugação de diversos conteúdos
programáticos as novas instituições museológicas ganham carácter de pequenos centros
culturais onde é possível realizar um conjunto alargado de actividades.
Definem-se novas estratégias de conservação das colecções e os critérios de exposição
tornam-se mais rigorosos; o investimento na concepção de exposições temporárias e de
catálogos aumenta; é dada particular atenção às condições espaciais e arquitectónicas,
projectando-se ampliações de edifícios preexistentes ou novos edifícios que permitem
aumentar a capacidade de prestação de serviços ao melhorarem o nível de conforto de
serviços internos e de atendimento ao público; o desenvolvimento de novos meios de
comunicação permite estabelecer parcerias e cativar novos públicos, estabelecendo uma
nova dinâmica de funcionamento que exige novas ideias, modelos de gestão e
interpretação.
Pouco a pouco, cada uma das trinta e quatro casas-museu coloca em causa o seu
papel tradicional, mostrando sinais de adaptação às mais recentes directivas do ICOM que
a cada nova conferência internacional acentua a importância dos museus para o
desenvolvimento da sociedade, da educação e da cultura.
"É agora que o chamado museu das massas adquire plena e efectiva realidade,
associado à universalização educativa, ao desenvolvimento das sociedades de consumo e
da implantação de novas formas de vida urbana, e introduz, pela mediação do dinheiro,
uma segunda e muito controversa natureza que mantém relações tensas com o modelo
tradicional, ainda vigente e muito combativo, determinando alterações não só
organizativas, mas também mentais, cujo alcance estamos longe de compreender e
avaliar, pois está em plena evolução e o seu vigor é cada vez mais apelativo e contagioso."
[61 ▪ María Bolaños, 2002, p. 18]
60 da casa ao museu
o mote : 1915-1949
2 fachada posterior – após o incêndio de 1915 6 São Miguel de Seide – vista aérea
casas-museu em portugal 63
01
casa de Camilo . 1825 – 1890
localização
Lugar da Igreja, 4770-663 São Miguel de Seide
ocupação da casa
27 anos, desde 1863 a 1890
abertura ao público
1922
tutela
Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
director/técnico responsável
Aníbal Pinto de Castro/José Manuel de Oliveira
colecções
utensílios de uso pessoal de Camilo Castelo Branco, mobiliário da família de Camilo, iconografia diversa:
escultura e pintura, 787 obras da biblioteca particular do escritor, correspondência, bibliografia activa e
passiva (mais de 3500 volumes)
serviços disponibilizados ao público
recepção, sala de exposição temporária, espaços exteriores, biblioteca 1 , loja, auditório 1, cafetaria 1,
anfiteatro ao ar livre 1, Centro de Estudos Camilianos 1
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições temporárias, visitas a locais da memória camiliana, congressos
intervenções no edifício
1. 1850 ampliação de 2 pisos
1. 1915/22 reconstrução/adaptação a museu ▪ Arq. Carlos Fernando Leiturga
2. 1947 remodelação ▪ Arq. Rogério de Azevedo (não executado)
3. 1953/56 reconstrução/reposição ▪ Arq. Rogério de Azevedo
4. 1974/76 beneficiação ▪ Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
5. 1994/96 beneficiação ▪ Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
6. 1998/05 Centro de Estudos Camilianos ▪ Arq. Álvaro Siza Vieira
7. 2005 beneficiação ▪ Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
documentação gráfica
Casa de Camilo – Centro de Estudos Camilianos [intervenção 1, 3 e 7]
Arquivo do Arquitecto Álvaro Siza [intervenção 6]
documentação fotográfica
Casa de Camilo – Centro de Estudos Camilianos [imagens 1, 2, 3, 4, 5]
64 da casa ao museu
o personagem. 1
Camilo Castelo Branco nasceu em 1825 em Lisboa.
"Em 1845, estreia-se na poesia e no ano seguinte no teatro e no jornalismo – actividade
que nunca abandonará. […] De 1849 a 1851 consolida a sua actividade jornalística, retoma
o teatro, estreia-se no romance com Anátema (1851), conhece a alta-roda portuense bem
como os meios boémios e é protagonista de aventuras romanescas. […]
Mas é a partir de 1856 que atinge a maturidade literária […] com o romance (ou
novela?) Onde Está a Felicidade?. É neste ano que inicia o relacionamento amoroso com
Ana Plácido, casada desde 1850 com Manuel Pinheiro Alves. […]
Em 1860, Manuel Pinheiro Alves desencadeia o processo de adultério: em Junho é presa
a mulher e a 1 de Outubro Camilo entrega-se na cadeia da Relação do Porto. […]
É intensa a actividade literária de Camilo (não sendo a esse facto de todo alheias as
dificuldades económicas): entre 1862 e 1863, o escritor publica onze novelas e romances
atingindo uma notoriedade dificilmente igualável. Em 1864, fixa-se na quinta de S. Miguel
de Seide (propriedade de Manuel Pinheiro Alves, que, entretanto, já faleceu, em 1863) e
nasce-lhe o terceiro filho, Nuno […]; em 1876, toma consciência da loucura do segundo
filho, Jorge. No ano seguinte morre Manuel Plácido. A partir de 1881, agravam-se os
padecimentos, incluindo a doença dos olhos. Em 1889, por ocasião do seu aniversário (6 de
Março), é objecto de calorosa homenagem de escritores, artistas e estudantes, promovida
por João de Deus. No ano seguinte, já cego, impossibilitado de escrever […], suicida-se com
um tiro de revólver." [100 ▪ Diciopédia 2004]
a casa . 2
A casa e quinta de S. Miguel de Seide pertenciam aos pais de Manuel Pinheiro Alves.
Este partiu muito novo para o Brasil. Quando regressou a Portugal, instalou-se no Porto, mas
investiu parte da sua fortuna na casa familiar transformando-a em casa de férias. Em 1863,
deixou a casa e a propriedade em herança a Manuel Plácido, que pensava ser seu filho.
"Por finais desse ano e inícios de 1864, os amantes Camilo e Ana instalaram-se na casa
do capitalista falecido. Acompanhava-os o filho adulterino, rebento da relação ilegítima.
[…] A casa e a região seriam uma magnífica tela de dramas. […] O homem e o escritor
detestavam Ceide em geral e o Minho em particular. […] Contudo, a região fornecer-lhe-ia
matéria-prima quanto baste para compor dezenas dos seus livros. […] Frequentemente
apareciam visitas. Os amigos vinham partilhar com o casal, a solidão e o sossego da
pacata aldeia." [107 ▪ José Manuel de Oliveira, 1999, p. 137]
da casa ao museu . 3
a compra
Em 1915, a casa abandonada e quase vazia ardeu.
"O misterioso incêndio […] deixara em ruínas a casa que Camilo habitara, ficando
apenas de pé, as paredes chamuscadas. Logo se organizou a «Comissão de Homenagem
a Camilo», presidida por José de Azevedo e Meneses para proceder à reconstrução, com o
fim de nela instalar um Museu Camiliano. Nesse sentido trataram de comprar aos herdeiros,
as ruínas da casa, alguns móveis e o que existia da biblioteca do escritor. Para obterem um
subsídio do Estado, tiveram de destinar as lojas da casa à escola da freguesia." [102 ▪ 1958, p.4]
A Comissão doou depois a casa à Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.
19 37
36
18
15 17 33 35
34
16
P 2. 1915 P 2. 1953 …
31
13 14
30
5
12 29
11 28 32
11 27
8 24
10 9 26 25
P 1. 1915 P 1. 1953 …
4 5 7 21 22
6 23
2 1 20 22
P 0. 1915 P 0. 1953 … E1 E2
1915. Arq. Carlos Leiturga: 1 vestiário. 2 vestíbulo. 3 salão de aula. 4 biblioteca e gabinete professor. 5 i.s. 6 escada professor. 7 recreio
coberto. 8 vestíbulo museu. 9 escritório do museu. 10 Museu de Camilo. 11 quarto. 12 despensa. 13 cozinha do professor. 14 sala de jantar do
professor. 15 escritório de Camilo. 16 quarto de Camilo. 17 quarto de Ana Plácido. 18 casa de banho. 19. saleta
1953. Arq. Rogério de Azevedo: 20 sala de exposições. 21 loja. 22 i.s. 23 alpendre. 24. vestíbulo. 25. sala de jantar. 26 sala do bilhar. 27
quarto do Jorge. 28 quarto de hóspedes. 29 despensa. 30 cozinha. 31 área administrativa. 32 saleta. 33 escritório de Camilo. 34 quarto de 1:500
Camilo. 35 quarto de Ana Plácido. 36 casa de banho. 37 i.s.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
66 da casa ao museu
14
17
16
18
14 14
15 19
13
10
12
11
P 0. 2005
7 8
8 9
4 3
5 2
1997/2005 Arq. Álvaro Siza Vieira: 1 pátio dos artistas. 2 camarins. 3 arrumos. 4 sala dos artistas. 5 palco. 6 cisterna. 7 reservas. 8 átrio de serviço.
9 pátio de serviço. 10 auditório. 11 palco exterior. 12 plateia exterior. 13 átrio. 14 sala de exposição temporária. 15 atendimento. 16 sala de
leitura. 17 administração. 18 cozinha. 19. cafetaria.
intervenção em curso Arq. Álvaro Siza Vieira: 20 Casa de Camilo. 21 Largo Ana Plácido. 22 Centro de Estudos Camilianos. 23 Casa do Nuno.
24 Igreja. 25 Centro Paroquial. 26 Largo do Cruzeiro. 27 Extensão Centro de Saúde.
casas-museu em portugal 67
mas têm valor incalculável para os admiradores de Camilo […]. E reuni-los, expondo-os
como eles os tinha, nas diferentes divisões da casa, nos lugares que ocupavam em sua vida
para se erguer aos olhos dos visitantes, o ambiente em que ele se moveu durante cerca de
três dezenas de anos." [António Pinheiro Torres in 104 ▪ Amândio César, 1964, p. 39-40]
Existindo apenas uma fotografia parcial da Sala do Bilhar (sala de visitas) anterior a 1915
que Emílio Biel fez aquando da morte de Camilo, António Pinheiro Torres desenvolveu, no
final dos anos 40, uma investigação na procura de informações que pudessem orientar a
reconstituição do edifício e do ambiente desaparecido.
Apoiando-se nos testemunhos de Ana Correia, nora de Camilo, que viveu na casa
quando este ainda era vivo, e de alguns admiradores e amigos do escritor, procurou ainda
elementos adicionais em correspondência, livros e outros documentos escritos. Assim, foi
possível, por exemplo, localizar a sala de jantar e aclarar a localização de alguns móveis,
quadros e outros objectos pertencentes a Camilo, à família e à casa entretanto restituídos
ou adquiridos.
O espólio é completado pela biblioteca particular do escritor, correspondência,
bibliografia activa e passiva.
O conhecimento do interior do edifício revela do mesmo processo de constituição do
espólio. No que diz respeito ao exterior, existem fotografias antigas das fachadas da casa
anteriores a 1915, de 1915, 1920 e 1956, que permitem observar as diferenças após cada
intervenção de reconstrução.
o programa
Em 1915, o programa incluía museu, escola primária e casa do professor.
Nos anos 40, previa a instalação da casa de Camilo nos dois pisos superiores e de
serviços de apoio ao público no rés-do-chão.
A partir de 1987, o programa cresceu significativamente. No sentido de ampliar a acção
cultural da Casa de Camilo, alargando as suas actividades sobretudo de investigação
sobre o escritor, a autarquia cria o Centro de Estudos Camilianos que à falta de espaço em
S. Miguel de Seide se instalou na Biblioteca de Vila Nova de Famalicão, aguardando a
construção de um novo edifício próximo da casa.
A amplitude do programa, analisado a seguir, atinge agora públicos muito diversos,
permitindo acolher tanto visitantes, como investigadores.
68 da casa ao museu
O apartamento do professor ocupava quartos, cozinha e uma sala no primeiro piso.
Esta intervenção permitiu salvar o edifício do desaparecimento e salvaguardar um
espaço de memória camiliano. Do ponto de vista arquitectónico, a introdução de outras
funções obrigou a modificações profundas. Do ponto de vista museológico, o
funcionamento do museu ficou muito condicionado.
O Museu Camiliano abriu ao público a 15 de Outubro de 1922.
1947-56
No final dos anos 30, edifício e espólio encontravam-se muito degradados, mas foi
apenas uma década depois que surgiu um novo projecto de reabilitação do conjunto.
"A mudança de rumo dos acontecimentos funestos que molestavam a casa, dividiria
novamente os camilianistas. A discussão sobre o restauro, reedificação, remodelação, ou o
que se lhe queira chamar, voltava a estalar o verniz.
Aquilino Ribeiro encabeçou um dos grupos. Advogava uma solução categórica:
«transformem aquele edifício numa boa escola primária; […] arrebanhem as velharias, que
estão em cima e deitem-lhes fogo num bom e purificador auto-de-fé; levem as cartas de
Camilo e livros para a Biblioteca do Porto, que é digna disso». O seu remédio era tão
somente o de elevar em Lisboa a Casa de Camilo […].
A outra facção (Hugo Rocha, José Casimiro da Silva…) não estava pelos ajustes. A ideia
de Aquilino era bastante «extravagante». […] Para eles, a «casa consagradora» de Camilo
não podia «ter outra localização senão em S. Miguel de Seide»." [107 ▪ José Manuel de Oliveira,
1999, p. 149]
Em 1947, a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão pede ao Secretariado
Nacional de Informação, no Porto, apoio para a recuperação do edifício. As dificuldades
de supressão da escola determinaram a reabilitação da casa construída em 1915, embora
se tivesse preferido reconstruir a casa anterior ao incêndio.
No entanto, começadas as obras em 1950 a casa ruiu mantendo-se apenas as paredes
principais. Aproveitando a oportunidade, reuniram-se esforços para libertar a casa da
escola e foi executado um novo projecto da autoria do Arquitecto Rogério de Azevedo.
Nesta altura foram realizados levantamentos, estudos comparativos entre fotografias
antigas anteriores e posteriores ao incêndio, a que se juntou a investigação de António
Pinheiro Torres. As obras contemplaram a reposição da organização interior do rés-do-chão,
suprimindo a escada do professor e repondo a parede mestra central; o entaipamento das
janelas da fachada norte repondo as anteriores frestas; a correcção da escada exterior; a
organização de instalações sanitárias no rés-do-chão; e a redefinição das dimensões das
águas furtadas e das fachadas.
A casa-museu ficaria dividia-se em dois núcleos: as divisões da casa utilizadas pelo
escritor e família no seu dia a dia foram transformadas em exposição; as lojas do rés-do-
-chão acolheram duas salas para acolhimento do público. No primeiro piso, a sala contígua
à cozinha foi transformada em gabinete administrativo.
No livro A Reconstituição da Casa de Camilo: relatório [102] ficaria registada, com
pormenor, toda a intervenção arquitectónica e museográfica.
Após a conclusão das obras de restituição à traça original, realizadas com o maior
cuidado para obtenção da verosimilhança desejada, a instituição reabriu a 18 de Junho
de 1956 com a designação Casa-Museu de Camilo.
1974-96
Entre 1974 e 1996, o edifício e o espólio foram objecto de duas grandes campanhas de
reabilitação, reflexo de ciclos de degradação/recuperação com a duração de duas
décadas.
Em 1994, o avançado estado de degradação do edifício exigiu a realização de uma
intervenção significativa que incluiu a substituição total das carpintarias – soalhos, portas e
caixilharias, e estrutura da cobertura –, reparação e substituição de rebocos e telhas.
No entanto, manteve-se até hoje a aparência interior e exterior criadas nos anos 50.
casas-museu em portugal 69
1998/2005
No sentido de construir um edifício para instalação do Centro de Estudos Camilianos, foi
elaborado um programa preliminar, concebido por José Manuel de Oliveira, que definia de
forma clara a independência entre a casa e o novo edifício e estabelecia as principais
linhas orientadoras e exigências técnicas da intervenção.
Na segunda metade de 1998, o Arquitecto Siza Vieira foi convidado para a realização
do projecto. O edifício, implantado num terreno a norte da Casa de Camilo, foi inaugurado
aquando das comemorações dos 180 anos da morte de Camilo, a 1 de Junho de 2005.
A entrada situa-se num pátio posterior a que se chega percorrendo um caminho
paralelo a toda a fachada poente e que afasta progressivamente os visitantes da Casa de
Camilo. Ao entrar no átrio principal a visão volta a abrir-se sobre a casa.
Concentrando espaços de recepção do público e técnicos, o novo edifício é um ponto
privilegiado de observação e análise da Casa de Camilo.
O átrio amplo e luminoso dá aceso aos novos serviços de apoio ao visitante: recepção,
sala de exposições temporárias, auditório, cafetaria e sala de leitura. A recepção serve
também como pequena loja. A cafetaria poderá também funcionar como loja.
A sala de exposições temporárias permite diversificar actividades, atrair de forma regular
o público, reforçar ou renovar a visão sobre a casa e o escritor, e outros. O auditório com
capacidade para cerca de 150 pessoas é o local privilegiado para a realização de
conferências, encontros, debates, projecção de suportes audiovisuais, representações, etc.
A sala de leitura/biblioteca é o local de aprofundamento de conhecimentos, das longas
pesquisas e investigações sobre o universo camiliano.
Os serviços administrativos ocupam quatro gabinetes no primeiro piso e todos os serviços
técnicos – reservas, espaços de apoio a funcionários, locais técnicos, salas e camarins de
apoio ao auditório – foram instalados no piso inferior.
No exterior, organiza-se um auditório ao ar livre, pátios e o jardim.
As obras foram financiadas pelos programas de Modernização e Dinamização dos
Museus Nacionais do Programa Operacional da Cultura e do Programa Integrado Turístico
de Natureza Estruturante e Base Regional ▪ PITER I.
Acompanhando a construção do Centro de Estudos Camilianos a Casa de Camilo foi
submetida a nova campanha de obras de beneficiação que incluíram pinturas de paredes,
carpintarias e caixilharias, mas sobretudo uma reorganização do espólio exposto –
redistribuição do mobiliário e outros objectos, redefinição do percurso de visita e
reformulação do discurso que a acompanha.
Estava ainda previsto, para o rés-do-chão da casa, a concepção de novo sistema de
exposição e iluminação, e a instalação de uma loja no alpendre exterior.
a casa-museu . 4
Demonstrando a forte e duradoura influência da vida e obra do escritor, a Casa de
Camilo soube acompanhar a evolução das exigências museológicas e culturais durante
todo o século XX. O conjunto de intervenções realizadas desde a década de 1910,
sobretudo a construção do novo Centro de Estudos Camilianos e a elaboração do recente
programa de intervenção global na aldeia, constituem uma referência no panorama
museológico português.
70 da casa ao museu
02
1932 . casa-museu Teixeira Lopes
casas-museu em portugal 71
02
casa-museu Teixeira Lopes . 1866-1942
localização
Rua Teixeira Lopes 32, 4400- 320 Vila Nova de Gaia
www.gaianima.pt/cmteixeiralopes
ocupação da casa
48 anos, desde 1894 a 1942
abertura ao público
1932
tutela
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
director/técnico responsável
Delfim Sousa
colecções
obra e colecção do escultor António Teixeira Lopes: escultura, pintura, faiança, mobiliário e arte
loja
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições temporárias, serviços educativos, concertos e ensaios musicais
intervenções no edifício
1. 1903 construção de casa e atelier
1. 1906 construção de casa de habitação e oficinas (futura casa de Camilo José de Macedo)
2. 1940 adaptação da casa dos pais a Biblioteca Municipal ▪ CM de Vila Nova de Gaia
5. - remodelação: casa dos pais ▪ CM de Vila Nova de Gaia: Arq. Leal Machado
7. - remodelação: ateliers, salão, quarto, sala de jantar ▪ CMVNG: Arq. António Martins
8. 2004 remodelação: Galerias Diogo de Macedo ▪ CMVNG: Arq. António Martins, Arq. João Ramos
documentação gráfica
Arquivo da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia [1903, 1906, 1927, e intervenções 2, 3, 5 e 6]
72 da casa ao museu
o personagem. 1
António Teixeira Lopes nasceu a 27 de Outubro de 1866 em Vila Nova de Gaia.
"Considerado o melhor discípulo de Soares dos Reis, o escultor […] estudou em Paris e foi
durante muitos anos professor na Escola de Belas-Artes do Porto.
Foi atraído por temas históricos e religiosos, retratando igualmente velhos e crianças.
Dono de um virtuosismo ímpar, trabalhou o barro, o mármore e o bronze. Realizou as
estátuas de vários homens públicos, entre as quais a de Eça de Queirós (patente em Lisboa)
e a de Bento Gonçalves (no estado brasileiro de Rio Grande do Sul), e os bustos de Teófilo
Braga, Ramalho Ortigão, Viana da Mota e da rainha D. Amélia.
A estátua do mestre Soares dos Reis, retratado em pleno desencanto, no último período
da sua existência, é sem dúvida a obra-prima de Teixeira Lopes. O gosto pelo conteúdo
dramático e pelo sentimentalismo emocional encontra ainda expressão em A Infância de
Caim (Museu Soares dos Reis), A Viúva (Museu do Chiado) e A História (túmulo de Oliveira
Martins)." [100 ▪ Diciopédia 2004]
Faleceu a 21 de Junho de 1942 em Ribatua, terra natal de seus pais.
a casa . 2
A casa da família Teixeira Lopes na Rua Marquez Sá da Bandeira em Vila Nova de Gaia
foi adquirida/construída entre 1894 e 1906 em seis parcelas de terreno.
José Joaquim Teixeira Lopes, escultor e pai de Teixeira Lopes, parece ter adquirido as
primeiras casas térreas com quintal em 1894, seguindo-se nova aquisição, em 1897, de
outras três casas térreas com quintal. [Pensamos que estas cinco casas possam corresponder aos lotes
1, 3, 4, 5, 6 indicados no esquema da próxima página]
Em 1903, requer uma licença para construir uma casa num, ou mais, destes lotes,
adquirindo, no mesmo ano, ao município uma viela que separava duas das suas casas, que
desde então corresponde à entrada do logradouro. [Lote 2]
Três anos depois, em 1906, é o próprio António Teixeira Lopes que requer licença para
construção de casa de habitação e oficinas nas duas parcelas mais próximas da Rua
Conselheiro Veloso da Cruz, que venderia passado uns anos a Camilo
É durante este período de dez anos que o irmão do escultor, o Arquitecto José Teixeira
Lopes terá desenhado o eclético edifício que ocupa os lotes 1 a 4, cujo projecto não foi
possível encontrar.
Na casa, os espaços domésticos relacionavam-se com os espaços de trabalho
mantendo uma certa independência. Mas como demonstra a fachada da Rua Marquês Sá
da Bandeira, esta casa era sobretudo o atelier dos dois escultores, pai e filho, que ali
produziam e vendiam as suas obras, acolhendo inúmeros familiares, amigos, admiradores e
clientes.
A concepção do atelier de Teixeira Lopes, dividido em três espaços paralelos e
interligados, reflecte, provavelmente, a sua estadia, e a do seu irmão, em Paris no final do
século XIX; época em que a moda do amplo atelier de pé-direito muito alto se difundiu,
não só como lugar profissional, mas também doméstico, onde se organizavam recepções e
tertúlias frequentes. Aliás as fotografias antigas do atelier de Teixeira Lopes revelam o
ambiente e conforto de uma sala de estar mais do que os de um atelier de trabalho.
da casa ao museu . 3
a doação
Após a morte da mãe, em 1911, Teixeira Lopes herdou parte da casa e adquiriu a
restante aos outros herdeiros.
No final dos anos 20, sem descendentes e após a morte do pai e do irmão, o escultor
preocupa-se com o futuro da casa familiar, dos ateliers e da sua obra, prevendo a sua
dispersão por uma multiplicidade de proprietários. Para salvar o conjunto desse destino,
decidiu, em 1932, doá-lo à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia para que fosse
transformado numa casa-museu com o seu nome.
casas-museu em portugal 73
02
casa-museu Teixeira Lopes
L1 C.1940
2 2
L2 D.1967
L3
5 6
L4 D.1967
L5
L6 A.1906 B.1927
P 1.
Esquema cronológico de reconstituição
de plantas e alçados desta página
3 3
3 3
7 7
A 1. 1903 A 1. 1906 P 0.
7 7
Os desenhos desta página correspondem a uma tentativa de aproximação à configuração da casa no momento da doação, feita a partir
de diversos desenhos encontrados no Arquivo da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.
1:500
1 entrada. 2 casa dos pais de Teixeira Lopes. 3 ateliers de Teixeira Lopes. 4 oficinas. 5 salão. 6 casa de Camilo José de Macedo (cujo primeiro
volume tinha sido construído em 1906 para casa de habitação de Teixeira Lopes que a vendeu mais tarde) 0 5 10
74 da casa ao museu
8 5
6 6
8
16 15
17
29
20
19 18 21
14
P 1. 1967
8
4
5
3 6
2
1
5 7 7
9 10
11
C 1. 1967
12
13
14
A 1. 1967 P 0. 1967
14
1967 CMVNG: Arq. Lobato Guimarães: 1 entrada. 2 vestíbulo. 3 recepção. 4 sala dos mármores. 5 sala de exposição. 6 reservas. 7 oficinas.
8 possível configuração do espaço aquando da ocupação pela Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia. 9 i.s. 10 jardim. 11 atelier n.º1. 12
atelier central. 13 atelier n.º 2. 14 Galerias Diogo de Macedo. 15 galeria. 16 auditório. 17 quarto de Teixeira Lopes. 18 copa. 19 sala de jantar. 20
arrumos. 21 cozinha.
casas-museu em portugal 75
02
casa-museu Teixeira Lopes
17 18 19
7
23
20
22 21
24
29
25 29
27 26 28 29
14
P 1. 2005
4
2 3
7
5 6 6
9 8
10
13
11
12 7
14
P 0. 2005
15 16 14
2005: 1 entrada. 2 recepção/loja. 3 sala José Joaquim Teixeira Lopes. 4 sala de exposição. 5 serviços educativos. 6 oficinas. 7 reservas.
8 jardim. 9 i.s. 10 atelier n.º1. 11 atelier central. 12 atelier n.º2. 13 alpendre. 14 Galerias Diogo de Macedo. 15 sala de exposição temporária.
16 entrada alternativa. 17 gabinete técnico e administrativo. 18 gabinete da direcção. 19 sala de exposição. 20 atelier de restauro. 21 galeria. 1:500
22 auditório. 23 palco. 24 quarto de Teixeira Lopes. 25 escritório. 26 sala. 27 sala de jantar. 28 acesso Galerias Diogo de Macedo. 29 serviços
internos. 0 5 10
76 da casa ao museu
a
b c
E1 E2
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
casas-museu em portugal 77
A Casa-Museu Teixeira Lopes abriria ao público um ano depois, a 18 de Março de 1933,
sendo o próprio escultor o primeiro conservador, usufruindo de todos os espaços até à data
da sua morte, em 1942.
o conhecimento do edifício
No Arquivo da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia existem vários processos
arquivados relacionados com o edifício da Casa-Museu Teixeira Lopes, referentes ao
período entre 1894 e 1988. Alguns contêm desenhos parciais do edifício, mas não existe
qualquer referência ao projecto do Arquitecto José Teixeira Lopes.
Reunindo vários desenhos de diferentes épocas ensaiámos a reconstituição em desenho
do possível estado de partes do edifício no momento da doação [página 74].
Desde esse momento até 1967 não ficou arquivado qualquer registo gráfico ou escrito
sobre o processo de adaptação da casa a museu.
A partir de 1967, existe documentação gráfica dispersa, que isolada de outros
elementos, não permite conhecer a verdadeira natureza das intervenções realizadas. Por
outro lado, essas intervenções foram definidas e/ou orientadas por diferentes técnicos e
serviços da autarquia, e os vários documentos não foram arquivados em conjunto, tendo
desaparecido grande parte da informação produzida.
o programa
A Casa-Museu Teixeira Lopes é o único museu de Vila Nova de Gaia. Durante muitos
anos foi o único espaço cultural da autarquia. Assim, paralelamente à casa-museu, o
edifício acolheu a Biblioteca Municipal entre 1940 e 1972. E a partir de 1967, a instituição
museológica foi ampliada com a construção das Galerias Diogo de Macedo no lote 6,
comprado a Camilo José de Macedo (familiar de Diogo de Macedo).
Actualmente a casa-museu possui recepção/loja, sala de exposição temporária,
espaços exteriores, espaços do serviço educativo; alguns espaços da exposição
permanente acolhem pontualmente outras actividades: o salão com palco serve de
auditório; os ateliers acolhem diversas iniciativas como por exemplo concertos e recitais.
78 da casa ao museu
Outra possível alteração, que nos parece evidente, embora possa ter acontecido em
dois momentos completamente distintos, é a localização dos aposentos de Teixeira Lopes
no andar superior do volume que acolhe os ateliers, sobretudo porque a localização,
dimensão e organização do seu quarto não parecem compatíveis com a função que lhes
é atribuída.
Assim, ponderamos duas hipóteses, partindo do pressuposto de que os três lotes centrais
se destinavam inicialmente ao desenvolvimento e exposição da obra de Teixeira Lopes: a
primeira, o escultor instalou os seus aposentos na localização actual quando vendeu a casa
da esquina a Camilo José de Macedo; a segunda, é que o fez após transformação da
casa dos pais em espaços de apoio ao funcionamento da instituição.
Mas não existindo qualquer referência a esta alteração é impossível esclarecê-la,
tornando-a mera hipótese.
Em 1967, a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia adquire as duas casas contíguas de
Camilo José de Macedo para ali instalar a colecção de Diogo de Macedo.
O projecto da autoria do Arquitecto Lobato Guimarães substituiu as casas existentes por
um novo edifício de três amplos pisos que estranhamente manteve o ritmo de vãos
exteriores dos edifícios destruídos.
Nesta época foram também construídas instalações sanitárias por baixo da galeria do
primeiro piso. E após a transferência da Biblioteca Municipal para outro edifício, a recepção
foi instalada junto ao acesso principal e os serviços do museu ocuparam o piso superior da
antiga casa dos pais, com acesso directo ao palco do salão/auditório.
A configuração actual da Casa-Museu Teixeira Lopes mantém a distribuição de funções
obtida no final dos anos 60.
A casa dos pais de Teixeira Lopes acolhe recepção, loja, serviços técnicos,
administrativos e educativos, reservas, salas de exposição dedicadas à obra de José
Joaquim Teixeira Lopes. A visita à exposição permanente começa pela galeria e salão,
seguindo depois pelos aposentos do escultor, a partir dos quais se visitam as Galerias Diogo
de Macedo que no piso inferior permitem aceder novamente à propriedade de Teixeira
Lopes, concluindo a visita nos ateliers.
O percurso dificulta a compreensão dos discursos museológicos associados a cada um
dos personagens, mas no interior do edifício não existe outra alternativa.
As intervenções realizadas desde os anos 80 pelos Arquitectos Leal Machado, António
Martins e João Ramos caracterizam-se por obras de beneficiação. No entanto, o recurso a
sistema de reforço estrutural, a eliminação e substituição de certos elementos construtivos e
materiais parece ter produzido alterações pontuais mas significativas.
Em 1988, foi ainda realizado e concretizado o projecto de remodelação do jardim da
autoria do Arquitecto Moreira da Silva.
a casa-museu . 4
A recente reorganização dos serviços internos da Casa-Museu Teixeira Lopes permitiu
impulsionar o estudo e a conservação do espólio; reinstalar a colecção das Galerias Diogo
de Macedo, reabrindo-a à fruição pública, e dinamizar os serviços educativos.
casas-museu em portugal 79
03
1942 . casa-museu Guerra Junqueiro
casas-museu em portugal 81
03
casa-museu Guerra Junqueiro . 1850-1923
localização
Rua D. Hugo, 32, 4050–305 Porto
ocupação da casa
nunca
abertura ao público
1942
tutela
Câmara Municipal do Porto
director/técnico responsável
Maria da Luz Paula Marques
colecções
colecções de Guerra Junqueiro: cerâmica, mobiliário, pratas, metais, vidros e cristais, tecidos e
tapeçarias
serviços disponibilizados ao público
recepção, sala de exposição temporária, espaços exteriores, loja, auditório, espaços do serviço
educativo
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições temporárias, edição
intervenções no edifício
1730/46 construção da casa para Domingos Barbosa, Cónego Magistral da Sé do Porto
1. 1940/42 adaptação a museu ▪ Eng. Correia de Araújo
2. 1949 ampliação e valorização do pátio e jardim ▪ CM Porto ▪ Arq. Maniva
3. 1955 adaptação de duas salas do rés-do-chão ▪ CM Porto ▪ Arq. Camilo Soares
4. 1963 instalação do gabinete de Guerra Junqueiro ▪ CM Porto ▪ Arq. Bernardino Fabião
5. 1966 transformação da sala de visitas em sala dos antepassados ▪CMP▪Arq. Bernardino Fabião
6. 1975-81 beneficiação e alteração da disposição das colecções ▪ Câmara Municipal do Porto
7. 1991/92 remodelação e ampliação ▪ Arq. Alcino Soutinho
documentação gráfica
Casa-Museu Guerra Junqueiro [intervenção 2]
Arquivo Histórico do Porto [intervenção 1]
Arquivo do Arquitecto Alcino Soutinho [intervenções 1 e 2]
documentação fotográfica
Casa-Museu Guerra Junqueiro [imagens 20, 21, 23, 24]
82 da casa ao museu
o personagem. 1
Abílio Manuel Guerra Junqueiro nasceu a 15 de Setembro de 1850 em Freixo de Espada
à Cinta.
Licenciou-se em Direito em Coimbra. Foi amigo de Bernardino Machado, Antero de
Quental, Camilo, Oliveira Martins, Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão e Raúl Brandão.
Na política destaca-se como membro do Partido Republicano e como diplomata na Suíça.
Poeta panfletário, satírico, republicano e anticlerical ficou conhecido pelo seu poema A
Velhice do Padre Eterno. No final da vida, desiludido com o regime que ajudara a
implantar, dedica-se a textos sobre ciência e filosofia envolvidos por um certo misticismo.
Foi também coleccionador, reunindo um vasto espólio artístico e arqueológico
comprado sobretudo em Espanha, embora não exista registo da história da sua aquisição.
Faleceu em Lisboa em 1923.
a casa . 2
A casa nunca foi habitada por Guerra Junqueiro.
No Porto, o poeta e a família viveram em quatro casas alugadas, duas na Rua da
Boavista, uma na Rua da Alegria e, a última, no n.º 1018 da Rua de Santa Catarina.
da casa ao museu . 3
o conhecimento do edifício
A casa foi construída atrás da Sé do Porto na segunda metade do século XVIII pelo Dr.
Domingos Barbosa, cónego do cabido desde 1773.
O edifício é marcado, no exterior, pela imponência das duas fachadas, uma virada
para a estreita Rua D. Hugo, e outra, principal, relacionada com o pátio de acesso
ajardinado e, no interior, pela escada central que se desenvolve em quatro lanços.
"Formam o edifício quatro pavimentos: o rés-do-chão, com a porta de entrada, que dá
para o átrio […]; a sobreloja, com quatro janelas de guilhotina; o andar nobre, com cinco
portas que abrem para varandas resguardadas por grades de ferro batido; finalmente,
como remate original de toda a massa arquitectónica, as duas torres que se elevam sobre
o telhado, com os ângulos chanfrados […].
Em toda a construção não se acumulam os ornamentos: estes com o seu desenho, não
encobrem as linhas estruturais da arquitectura." [200 ▪ António Cruz, 1955, 15-16]
Da ocupação inicial do espaço e da sua decoração pouco se sabe.
Em 1773, a casa foi herdada pelo irmão do Dr. Domingos Barbosa permanecendo na
posse da família até 1934.
Entre 1911 e 1940, o edifício foi ocupado pela Escola Primária Masculina n.º 63, dispondo
de cinco salas de aula, biblioteca pública, cantina, gabinete da direcção, arrumos e casa
da família do director. 45
45 Descrição pormenorizada dos espaços da escola em 202 ▪ CRUZ, António; FERREIRA, J. A. Pinto e ANTUNES,
Manuel, "Casa-Museu Guerra Junqueiro", Porto: Câmara Municipal do Porto, 1997, p. 12.
casas-museu em portugal 83
03
casa-museu Guerra Junqueiro
8 9
5
11
4 4 4 7 6 10 12
1 2
3 14 14 13
P 0. 1940/42 P 1. 1940/42
28 29 31 31
25 26 23
24
27 30 32
P 0. 1991/92 P 1. 1991/92
23
P -1. 1991/92 E1
E2
1940/42. Eng. Correia de Araújo: 1 pátio ajardinado. 2 átrio. 3 sala de conferências. 4 salas destinadas a acolher o escritório e a biblioteca
do escritor. 5 sentinas da escola primária demolidas. RESIDÊNCIA DAS DOADORAS: 6 vestíbulo. 7 sala de jantar. 8 sala de fumo. 9 cozinha. 10 arrumo.
11 i.s. 12 área demolida. 13 sala de visitas. 14 quarto. PISO DE EXPOSIÇÃO: 15: sala D. Maria. 16 sala de jantar. 17 sala de fumo. 18 sala D. João V. 1:500
19 sala Catedral. 20 saleta. 21alojamento de funcionários das doadoras. 22 salas das doadoras.
0 5 10
84 da casa ao museu
17
22
16 15 12 21 12
18
19 20 22
34 33 38
35
23
36 37 32 39
1991/92. Arq. Alcino Soutinho: 23 reservas e serviços internos. 24 casa das máquinas. 25 pátio de acesso. 26 recepção. 27 serviços
educativos (previsto para cafetaria). 28 loja. 29 i.s. 30 auditório. 31 sala das pratas portuguesas. 32 sala de exposição temporária. 33 sala da
família. 34 sala de jantar. 35 sala D. João V. 36 sala Catedral. 37 saleta. 38 administração. 39 gabinete da direcção.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
casas-museu em portugal 85
03
casa-museu Guerra Junqueiro
A 1. 1940/42 A 2. 1940/42
C 1. 1991/92 A 2. 1991/92
C 2. 1991/92 A 3. 1991/92
P -1, P 0 e P 1. 1991/92
Arq. Alcino Soutinho ▪ edifício dos serviços educativos (não executado) (substituído pela casa das máquinas)
1:500
0 5 10
86 da casa ao museu
seriam ouvidas as suas opiniões sobre a distribuição das colecções no novo edifício.
A Casa-Museu Guerra Junqueiro foi criada a 8 de Fevereiro de 1940 com o objectivo de
nela expor as colecções de arte doadas pela filha e a esposa do escritor e abriu pela
primeira vez ao público no dia 19 de Junho de 1942.
o património móvel
O acervo reúne objectos de diferentes épocas, do século XV ao século XIX,
pertencentes às colecções de arte nacional e estrangeira do escritor, e divide-se em quatro
núcleos patrimoniais: as colecções doadas pelas filha e esposa de Guerra Junqueiro à
casa-museu (623 peças), um depósito do legado do escritor ao Museu Nacional de Arte
Antiga em 1921, um depósito da Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro e Luís Pinto de
Mesquita Carvalho, e um conjunto de aquisições e outras doações.
O espólio está dividido em nove núcleos: cerâmica, vidros e cristais, pratas, armas
antigas, arte de metal, mobiliário, tecidos e tapeçarias, pintura e escultura antiga (legado
de 1921).
Desde os anos 40, o estudo das colecções é uma das principais actividades da Casa-
-Museu Guerra Junqueiro demonstrando claramente o seu carácter de museu de artes
decorativas. A primeira investigação concentrou-se nos pratos de Nuremberg e foi
publicada em 1965. Seguiram-se a ourivesaria (1986), a cerâmica do Extremo-Oriente, a
escultura flamenga, a cerâmica hispano-árabe, as tapeçarias flamengas, a cerâmica de
Delft, a cerâmica alemã do Reno e os têxteis. As investigações realizadas conduziram à
concepção de várias exposições temporárias e respectivos catálogos.
o programa
Nos anos 40, o programa previa a instalação da casa-museu e da residência das
doadoras, e a demolição de acrescentos no pátio posterior.
Uma vez liberto o edifício da função residencial, o programa, definido no início dos anos
90, procurou adaptar a casa-museu às novas exigências museológicas de acolhimento e
recepção do público, segurança, conservação e interpretação, introduzindo loja,
cafetaria, auditório, sala de exposição temporária, reservas, e espaços para os serviços
educativos e administrativos.
casas-museu em portugal 87
sras. donas Filomena e Maria Isabel e uma sala. Ao serviço das doadoras estavam
igualmente os mirantes, e uma zona numa altura intermédia entre o andar-nobre e os
mirantes, com arrumos e aposentos de pessoal doméstico. Três salas no rés-do-chão
estavam previstas para a instalação do gabinete do poeta e da sua biblioteca.
Os espaços de utilização mista eram a sala de conferências no rés-do-chão do lado
direito. As áreas de serventia comum, o átrio e a escadaria.
No âmbito deste projecto, foram demolidas a sala de jantar e a cozinha, num piso
intermédio entre a sobre-loja e o andar-nobre do lado das traseiras, e no exterior, o tanque
e as sentinas das crianças junto à fachada principal, bem como uma fonte situada a meio
do museu do claustro." [202 ▪ Manuel Engrácia Antunes, 1997, p. 22]
II a VI
Entre 1949 e 1988, foram realizados diversos projectos por diversos arquitectos para os
espaços exteriores e salas da casa-museu. Através da expropriação de alguns terrenos e
construções foi possível ampliar o jardim e libertar o terreno junto da fachada posterior. No
interior, as alterações reflectiram-se na modificação pontual da disposição das colecções. 46
O edifício foi classificado como Imóvel de Interesse Público em 1977 pelo Decreto-Lei n.º
129/77 de 29 de Setembro.
VII
"Em 1988, o mau estado de conservação do edifício, e a detecção de uma infestação
de formiga branca, levou a Divisão de Salubridade e Vistorias da Câmara Municipal do
Porto a declarar o edifício em estado de ruína." [202 ▪ Manuel Engrácia Antunes, 1997, p. 30]
A casa-museu seria encerrada em 1992 para execução do projecto de Remodelação e
Ampliação da autoria do Arquitecto Alcino Soutinho.
No edifício existente, a exposição permanente permaneceu no andar-nobre
desaparecendo apenas a sala de fumo; todas as funções dos outros pisos foram alteradas.
No rés-do-chão, o átrio foi transformado em recepção ladeado à esquerda pela loja e à
direita pela cafetaria, mais tarde adaptada a sala de serviços educativos. No primeiro piso,
a residência das doadoras foi substituída por duas salas de exposição de pratas
portuguesas e pelo auditório. Os pisos intermédios foram demolidos e as duas torres foram
ocupadas pelos serviços administrativos.
O novo edifício, construído adossado à fachada posterior e salvaguardando um estreito
pátio, não altera a leitura dos espaços urbanos envolventes. A disposição de diferentes
núcleos de escadas permitiu estabelecer circulações alternativas à escadaria central do
edifício do século XVIII e criar uma entrada de serviço. Nos novos seis pisos, foram instalados
três pisos de reservas e salas de trabalho, dois de sala de exposições temporárias com
relação directa à Saleta do andar-nobre e o último permite aceder às torres.
No jardim principal, o projecto inicial previa a construção de um edifício para uso
exclusivo dos serviços educativos. Por razões diversas, este não chegou a ser construído
tendo sido substituído pela casa das máquinas cuja volumetria permite conformar o espaço
exterior e enquadrar a estátua de Guerra Junqueiro.
A intervenção tornou-se mais complexa ao integrar no edifício existente, e no novo,
instalações de sistemas de aquecimento, controlo de temperatura e humidade, segurança
contra intrusão e incêndio.
a casa-museu . 4
A Casa-Museu Guerra Junqueiro é a única dos trinta e quatro casos de estudo que não
foi instalada numa casa do personagem. A manutenção da designação casa-museu
coloca certamente muitas dúvidas que nem sempre permitem obter consensos.
No entanto, como experiência, esta casa-museu, amplamente visitada, conquistou uma
posição favorável no panorama museológico português reforçada pela sua admissão na
ainda recente Rede Portuguesa de Museus.
46 Descrição pormenorizada da disposição das colecções em 202 ▪ Manuel Engrácia Antunes, 1997, p. 23-30
88 da casa ao museu
04
1945 . casa-museu Leal da Câmara
casas-museu em portugal 89
04
casa-museu Leal da Câmara . 1 8 7 6 - 1 9 4 8
localização
Calçada da Rinchôa, n.º 67, Rinchôa, 2335-312 Rio de Mouro, Sintra
ocupação da casa
18 anos de 1930 a 1948
tutela
Câmara Municipal de Sintra
director/técnico responsável
Élvio Melim de Sousa
abertura ao público
1945 (1966)
colecções
obra de Leal da Câmara
mobiliário, pintura, desenho, caricatura, tecidos, metais, azulejos, cerâmica, fotografia, correspondência
serviços disponibilizados ao público
espaço polivalente, espaços exteriores, Núcleo dos Saloios
tipo de actividades
visitas guiadas
intervenções no edifício
1. 1923 reabilitação e ampliação ▪ Leal da Câmara
1. 1945 adaptação a museu ▪ Leal da Câmara
2. 1965 adaptação a museu ▪ Câmara Municipal de Sintra
3. 1992 remodelação ▪ Câmara Municipal de Sintra
4. 2003 Núcleo dos Saloios (antiga Escola Primária) ▪ Câmara Municipal de Sintra
documentação gráfica
Câmara Municipal de Sintra [levantamento realizado em 1984 (alçados e cortes)]
Casa-Museu Leal da Câmara: [intervenções 3 e 4]
documentação fotográfica
Casa-Museu Leal da Câmara [imagens 27 e 29]
90 da casa ao museu
o personagem. 1
Tomás Júlio Leal da Câmara nasceu em Paguin, Nova Goa, a 30 de Novembro de 1876.
Em 1895, já em Lisboa, decidiu abandonar o curso de Agronomia e Veterinária para se
dedicar ao jornalismo e ao desenho de caricaturas através das quais se torna rapidamente
conhecido. O humor, crítico e sarcástico, obrigou-o a exilar-se primeiro em Madrid, onde
viveu três anos, e mais tarde em Paris, regressando definitivamente a Portugal em 1915.
Torna-se professor de Desenho e de Desenho Ornamental no Porto e depois em Lisboa.
A partir da década de 30 refugiou-se com a esposa, Júlia de Azevedo, numa casa que
adquiriu na Rinchôa, em Sintra. Faleceu a 21 de Julho de 1948.
Artista multifacetado, para além da sua contínua e intensa presença na imprensa
nacional e estrangeira como caricaturista, Leal da Câmara foi pintor, ilustrador de livros
(nomeadamente infantis), decorador, escritor, conferencista. Na Rinchôa dedicou-se, entre
outros, a desenhar personagens da vida saloia.
a casa . 2
"Em 1923, Mestre Leal da Câmara, […] sob pretexto de não querer viver na extenuante e
buliçosa Lisboa, adquire por compra na Rinchôa, termo de Sintra, a dois passos da feira das
Mercês, um velho casal saloio.
A construção, datável do século XVIII, fora pertença de Sebastião José de Carvalho e
Melo (Marquês de Pombal), que a usara como entreposto de muda de cavalos nas
frequentes viagens entre as Quintas da Granja […] e de Oeiras.
Composto inicialmente por dois corpos distintos – um, de dois pisos, com três quartos,
cozinha, sala de jantar e arrecadação, e outro formado por um barracão destinado ao
arrumo de alfaias agrícolas –, o complexo sofre entre 1923 (data da compra) e 1930 (data
da fixação da residência de Leal da Câmara e de sua mulher), importantes obras de
ampliação, restauro e remodelação interna.
O artista guardará como espaço de habitação o edifício constituído pelos dois pisos e
transformará o barracão agrícola em três […] compartimentos de lazer – actuais Sala de
Jantar, Sala da Lareira e Marquise –, desenhando expressamente para estes a quase
totalidade dos seus recheios, desde os candeeiros, mobiliário e frisos, aguarelas e desenhos
que decoram as paredes." [223 ▪ Élvio Melim de Sousa, 1996, p. 1]
da casa ao museu . 3
No início dos anos 40, Leal da Câmara decide ampliar novamente a casa,
acrescentando-lhe um volume com dois pisos aparentemente projectados pelo Arquitecto
Francisco Castro Rodrigues 47 , com o objectivo de transformar casa e atelier num museu. 48
O piso superior, acessível através da sala de estar, acolhia um salão sem aberturas para
o exterior para exposição da obra do artista. O piso inferior era ocupado pelo atelier de
trabalho em contacto directo com o jardim posterior da propriedade.
O atelier-museu abriria ao público no Outono de 1945, materializando as frequentes
visitas, tertúlias e conferências que desde os anos 30 se realizavam na casa.
a doação
Em 1956, Júlia de Azevedo, esposa de Leal da Câmara, doou o espólio à Câmara
Municipal de Sintra. Até 1965, data em que fez a doação do edifício, dedicou-se a reunir
documentação sobre a vida e obra do marido, aumentando o acervo da casa-museu.
o património móvel
O espólio inclui documentação do e sobre o artista, e recheio da casa: mobiliário,
azulejos, cerâmicas, candeeiros e tecidos da autoria de Leal da Câmara; esquiços,
A1 A2
C1
(6)
(5)
(4)
21
(3)
17
(10)
(1) 13 (11) 14 18
19
20
19
19
12
P0
(7) 22
23
24
25 25 26
27
P -1 E1 E2
1957 Câmara Municipal de Sintra: (1-10) salas de exposição descritas no Guia do Museu de 1957. 11 sala de jantar
1992 Câmara Municipal de Sintra: 12 pátio. 13 sala da Lareira. 14 sala de jantar. 15 marquise 16. sala Grande. 17 i.s. 18 serviço
administrativo. 19 divisões da casa não visitáveis. 20 arrumo. 21 jardim. 22 sala polivalente. 23 atelier. 24 sala de trabalho. 25 reserva. 26 i.s. 27
arrumo do jardim.
2003 Câmara Municipal de Sintra: Núcleo dos Saloios: 28 recepção/loja/sala Rio de Mouro. 29 sala Mercês. 30 sala Rinchôa. 31 gabinete
técnico. 32 gabinete administrativo. 33. i.s. 34 arrumo. 1:500
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
92 da casa ao museu
desenhos, aguarelas, óleos, que ilustram a obra pictórica do artista, incluindo caricaturas
políticas nacionais e internacionais, paisagens e retratos de personagens da vida saloia.
a casa-museu . 4
A dimensão e características da Casa-Museu Leal da Câmara orientam as suas
actividades para a acção cultural junto da população local.
casas-museu em portugal 93
05
1946 . casa-museu Afonso Lopes Vieira
36 varanda 40 escritório
casas-museu em portugal 95
05
casa-museu Afonso Lopes Vieira . 1878-1946
localização
R. Dr. Adolfo Leitão, nº 4, São Pedro de Moel
ocupação da casa
68 anos desde 1878 a 1946
abertura ao público
1946
tutela
Câmara Municipal da Marinha Grande
director/técnico responsável
Catarina Carvalho
colecções
espólio bibliográfico, mobiliário, búzios, armas, tecidos e objectos pessoais de afonso lopes vieira
(existe ainda no edifício um espólio fotográfico e objectos diversos que contam a história da colónia de férias)
serviços disponibilizados ao público
recepção, sala de exposição temporária, espaços exteriores, biblioteca, loja
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições temporárias
intervenções no edifício
1. 1902 obras realizadas por Afonso Lopes Vieira
1. 1929 construção da Capela de Nossa Senhora de Fátima
1. 1946 adaptação a colónia de férias e casa-museu ▪ C. M. da Marinha Grande
2. 1996/2005 Beneficiação global ▪ C. M. da Marinha Grande: Arq. Rui Figueiredo
documentação gráfica
Câmara Municipal da Marinha Grande [intervenção 2]
documentação fotográfica
Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal da Marinha Grande [imagens 36 e 40]
Biblioteca Municipal de Leiria [imagens 33 e 37]
96 da casa ao museu
o personagem. 1
Afonso Lopes Vieira nasceu em Leiria a 26 de Janeiro de 1878.
Em 1900, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra e foi redactor da Câmara
dos Deputados que abandonou para se dedicar à produção literária.
"Simultaneamente, fez várias viagens pelo mundo. Esteve envolvido em campanhas e
projectos pessoais de revalorização do património e da cultura portugueses. Poeta
tradicionalista, esteve ligado ao movimento saudosista, procurando inspiração na literatura
dos romanceiros e cancioneiros tradicionais. Assim, revalorizou temas e formas do repertório
lírico nacional, num estilo simples mas requintado, de sabor popular, por vezes reflectindo
alguma influência simbolista." [145 ▪ www.universal.pt]
Foi colaborador das revistas A Águia e Lusitânia. Escritor neo-romântico, publicou
inúmeras obras poéticas e actualizações de textos da clássica literatura peninsular com o
objectivo de revitalizar a cultura nacional e "reaportuguesar Portugal, tornando-se europeu".
Faleceu em Lisboa a 25 de Janeiro de 1946.
a casa . 2
A casa, construída em frente ao mar junto à praia de S. Pedro Moel, pertencia à família
de Afonso Lopes Vieira que vivia nas Cortes, em Leiria, e a usava durante a época balnear.
Após 1902, a casa-búzio ou casa-nau, "presente de casamento do pai de Afonso Lopes
Vieira, foi o local de criação preferido do escritor. Um número considerável das suas obras
foram concebidas, planeadas, esboçadas e escritas na varanda da casa-nau. Um grande
número de personalidades ilustres da época foram visita desta casa e chegaram mesmo a
refugiar-se nela para as suas criações pessoais. Nomes como os de Leonor e Augusto de
Castro Guedes Rosa, Vírginia Vitorino, Matilde Bensaúde, Aquilino Ribeiro, Vitorino Nemésio,
Viana da Mota, Reinaldo dos Santos, José de Figueiredo, José Maria Rodrigues, Ivo Castro,
entre muitos outros, contam-se entre os que usufruíram da hospitalidade marítima. O poeta
chegou mesmo a comparar a serenidade própria do lugar a um sanatório de almas,
através de uma cura de contemploterapia." [143 ▪ Roteiro da Casa-Museu Afonso Lopes Vieira, 2005]
Embora Afonso Lopes Vieira residisse em Lisboa, ocupava a casa de praia durante vários
meses todos os anos, sobretudo na Primavera e no Verão, convertendo-a numa residência
secundária mais do que simples casa de férias. Era um refúgio, local de inspiração e
também de tertúlias frequentes.
Ao receber a casa, Afonso Lopes Vieira mandou fazer algumas alterações como a
construção da varanda-miradouro e ao longo da sua vida, decorou os pátios exteriores e
as fachadas da casa com azulejos, desenhos e objectos que contêm quadras da sua
autoria e referências a elementos marinhos.
A capela dedicada a Nossa Senhora de Fátima, anexa à casa, foi construída para a sua
mulher, D. Maria Helena de Aboim, sendo inaugurada a 12 de Agosto de 1929. O pequeno
edifício composto por nave, capela-mor e sacristia foi também decorado, no interior e no
exterior, com azulejos e conchas alusivos ao mar.
da casa ao museu . 3
a doação
De acordo com o testamento de Afonso Lopes Vieira, lavrado em 1938 e conhecido a 2
de Fevereiro de 1946 49 , a casa, a capela e anexos da propriedade de S. Pedro Moel foram
doados à Câmara Municipal da Marinha Grande com o objectivo de aí instalar uma
colónia balnear para filhos de operários vidreiros, bombeiros e guardas florestais.
Após algumas obras de adaptação, a colónia de férias foi inaugurada em 1949,
acolhendo desde então vários grupos de crianças todos os verões.
49 Não tivemos acesso ao testamento de Afonso Lopes Vieira, nem a outros documentos sobre o legado.
casas-museu em portugal 97
05
casa-museu Afonso Lopes Vieira
A1 A2 A3
16
18 17
16
P 2. 2005
15 10 9
14 11
14 12
13
P 1. 2005
2 1
8 7 4
3
8 8
P 0. 2005 E1 E2
1 pátio de entrada. 2 colónia balnear. 3 capela. 4 jardim/esplanada. 5 cozinha. 6 copa. 7 refeitório. 8 salas de apoio. 9 i.s. 10 recepção. 11
1:500
sala de estar. 12 escritório. 13 varanda interior. 14 sala de exposição temporária. 15 loja. 16 apoio à colónia. 17 reservas. 18 administração.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
98 da casa ao museu
entre espólio e edifício
o património móvel
O património da casa-museu, de reduzida dimensão, é constituído pelo mobiliário do
escritório e da varanda-miradouro, livros da biblioteca pessoal do escritor, objectos
pessoais, objectos produzidos com conchas e búzios.
Durante muitos anos, a proximidade do edifício em relação ao mar determinou a
recolha da colecção a reservas durante o Inverno por motivos de conservação do espólio.
A recolocação dos móveis e objectos era feita antes de cada Verão pela funcionária
da casa que, abandonando o cargo, a transmitia à sua sucessora e apesar das eventuais
alterações, fotografias antigas confirmam que a disposição da colecção é próxima
daquela que existia na época em que a casa era ocupada pelo escritor.
o programa
A origem da ideia de manter uma parte da casa – sala, escritório e varanda – como
espaço de evocação da memória de Afonso Lopes Vieira não está esclarecida. Poderá ter
partido do próprio escritor, da sua esposa e/ou da Câmara Municipal da Marinha Grande.
No entanto, rapidamente ficou definido um programa para o conjunto: a colónia de
férias ocuparia o edifício anexo com dormitórios, o rés-do-chão e o sótão da casa com
serviços de apoio; o museu ficaria instalado no primeiro piso da casa e a capela manter-se-
-ia. Os pátios e jardins seriam utilizados pelas duas entidades.
Até época recente, as crianças da colónia eram os visitantes privilegiados da casa-
-museu, acedendo livremente aos seus espaços e colecções utilizados em actividades de
lazer, nomeadamente leitura dos livros do escritor. A função museológica do lugar era de
certo modo secundária face à sua forte utilização no âmbito pedagógico.
Nos anos 90, foi elaborado por alguns técnicos da autarquia, um programa de
reconversão do conjunto 50 que propunha iniciar um processo de classificação do edifício e
do espólio, recuperar o edifício adaptando-o a um programa museológico e cultural mais
abrangente, transferir a colónia de férias para outras instalações, elaborar um novo
inventário do património móvel, organizar novos conteúdos museológicos, estabelecer um
programa de restauro de elementos do acervo, reorganizar a colecção permanente,
elaborar uma reportagem fotográfica do conjunto para memória futura, elaborar um
catálogo, criar espaços de reservas e de conservação e restauro, instalar um centro de
estudos sobre Afonso Lopes Vieira na ala das camaratas, criar uma sala de exposições
temporárias, um auditório, um restaurante com esplanada e uma loja do museu.
Este ambicioso programa não foi totalmente concretizado porque colidia com as
obrigações da autarquia de manter uma colónia de férias no local como definido nos
termos da doação do escritor.
No entanto, a sua redefinição permitiu equilibrar a presença da casa-museu em relação
à colónia de férias, determinando a independência dos dois programas com o objectivo
de um melhor aproveitamento cultural da casa-museu, inserindo-a definitivamente na
política museológica do município.
50 Informação recolhida num trabalho de João Parente, Orlando de Carvalho e Maria João Trindade
consultado em 144 ▪ http://pwp.netcabo.pt/ompnc/casa_afonso_lopes_vieira.htm
casas-museu em portugal 99
II
Em 1996 foi efectuado um levantamento arquitectónico que serviu de base ao projecto
de Beneficiação, Recuperação e Restauro elaborado pelo Arquitecto Rui Figueiredo nos
serviços da Câmara Municipal da Marinha Grande. O projecto previa a reparação das
coberturas, das paredes, soalhos e instalação eléctrica, remodelação dos balneários e da
cozinha, e substituição das caixilharias nomeadamente da varanda voltada para o mar.
As obras foram realizadas entre 2002 e 2005 acompanhadas de uma redefinição
ponderada do programa da casa-museu que permitiu reservar o primeiro piso
exclusivamente a esta e valorizá-la com uma recepção/loja e duas salas de exposições
temporárias, instalados em antigos quartos vizinhos das três salas de exposição permanente.
Os espaços administrativos, de preparação das exposições temporárias e de reservas
foram instalados em duas salas no sótão.
a casa-museu . 4
A sua dupla condição – colónia de férias e casa-museu – e a reduzida disponibilidade
de recursos humanos condicionam o funcionamento da pequena instituição que é visitada
por poucas dezenas de pessoas durante o ano, sobretudo veraneantes que passam as
férias na praia de S. Pedro de Moel.
Até aos anos 90, a Casa-Museu Afonso Lopes Vieira foi o único espaço museológico da
Câmara Municipal da Marinha Grande. Actualmente faz parte do conjunto de entidades
museológicas da autarquia, mas as suas actividades museológicas e culturais mantêm-se
concentradas nos meses de Verão, entre Julho e Setembro.
localização
R. Dr. Abel Salazar, 488, 4465-012 São Mamede de Infesta
ocupação da casa
30 anos desde 1916 a 1946
abertura ao público
1947 e 1975
tutela
Associação Divulgadora da Casa-Museu Abel Salazar
Universidade do Porto
director/técnico responsável
Maria Luísa Garcia Fernandes
colecções
espólio artístico, científico e literário de Abel Salazar
serviços disponibilizados ao público
recepção, espaço polivalente, espaços exteriores, centro de documentação, loja
tipo de actividades
visitas guiadas, ateliers infantis e juvenis, edição
intervenções no edifício
1. 1947-1960 adaptação a museu, beneficiação global ▪ muitos técnicos envolvidos
4. 2002-2005 remodelação global ▪ Arq. Pedro Martins e Arq. Ana Alves Costa
documentação gráfica
Casa-Museu Abel Salazar [intervenções 2, 3 e 4]
a casa . 2
Abel Salazar alugou a casa de São Mamede de Infesta à família do Dr. Jaime Ferreira
Alves em 1916. Aí viveu, com a sua mulher, durante três décadas.
da casa ao museu . 3
as instituições intervenientes
Apenas dois dias após a morte de Abel Salazar, um grupo de amigos e admiradores 51 ,
com o objectivo de preservar a sua memória e obra, decide criar a Fundação Abel Salazar,
registando de imediato as suas intenções num texto com carácter de manifesto que desde
logo determinava o carácter a dar à instituição:
"Mas, para um Homem da altura moral e intelectual de Abel Salazar, qual poderia, ou
poderá, ser a homenagem? Qual a consagração mais conforme com o sentido da sua
vida e da sua obra, com o seu carácter e a sua inteligência? – Um monumento?! Uma
estátua?! Um busto?! Não! Tudo seria contrário a Abel Salazar e à sua obra; […] Porque
pensamos assim, viemos lançar a público, a ideia de se organizar, como consagração e
homenagem a Abel Salazar – Cientista, Pensador, Artista, Homem – uma «Fundação» que
teria o seu nome glorioso e honrado. […]
A «Fundação Abel Salazar» deverá financiar, organizar e fomentar o «Instituto Abel
Salazar» que será composto por: um laboratório […], um atelier […], uma biblioteca e um
museu. […] O Instituto […] deverá realizar obra de divulgação científica, artística e literária,
por meio de cursos, palestras e publicações […], atribuirá anualmente prémios a
investigadores, artistas e literatos portugueses […], deverá organizar e fazer publicar a Obra
completa de Abel Salazar […], inventariar a obra plástica de Abel Salazar […], publicará um
ou vários boletins, destinados à divulgação da actividade das suas várias secções." [133 ▪ A
Comissão para a Fundação Abel Salazar, 1947, p. 2]
Uma das primeiras acções da Fundação Abel Salazar, que nunca chegaria a
conseguir legalizar a sua existência devido a pressões das autoridades da época, recairia
51 Entre os quais Egas Moniz, Ferreira de Castro e Aquilino Ribeiro, cujas respectivas casas seriam
transformadas em casas-museu nas décadas seguintes.
casas-museu em portugal 103
06
casa-museu Abel Salazar
6 27
6 28
10 29
9 6 26 30
11 31
6 20
7 21
7 22
23
8 24
9 26
6 25
3 16
4 1
15
12
5
14
13
2
P 0. 1961/75
17 18
19
1947: não foi possível encontrar desenhos anteriores à adaptação a casa-museu. Esta planta do rés-do-chão é deduzida de desenhos da fase
seguinte em que os restantes pisos não apresentavam informação bicolor, deduzindo-se que a compartimentação não tenha sido alterada.
1961/75. Arq. António Lobão Vital: 1 entrada. 2 sala de exposição: obra científica. 3 sala de exposição: gravuras e desenhos. 4 capela. 5
sacristia. 6 sala de exposição. 7 sala de estar. 8 sala de jantar. 9 i.s. 10 patamar. 11 quarto de Abel Salazar.
(1971/75. Fundação Calouste Gulbenkian) 2002/05. Arq. Pedro Martins e Ana Alves Costa: 12 recepção/loja. 13 administração/biblioteca. 14
reserva. 15 capela: cobres. 16 sala do desenho. 17 jardim. 18 sala polivalente. 19 (antiga casa do guarda) reservas e arrumos. 20 atelier:
pintura. 21 sala de estar. 22 sala dos retratos. 23 patamar. 24 sala de jantar. 25 gabinete da direcção. 26 i.s. 27 sala da gravura. 28 sala da 1:500
imprensa. 29 hall científico. 30 atelier de restauro e reserva. 31 quarto de Abel Salazar.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
o conhecimento do edifício
As informações sobre a organização e ocupação da casa no tempo em que nela viveu
Abel Salazar escasseiam. Algumas fotografias do interior com data de 1953 [imagem 42]
revelam um ambiente e decoração muito diferentes dos actuais, mas não foi possível
esclarecer em que momentos se verificaram as alterações mais profundas.
O processo de transformação da casa em museu que decorreu entre 1947 e 1975
encontra-se descrito em inúmeros documentos escritos, nomeadamente correspondência
da Fundação Abel Salazar, da Sociedade Divulgadora e da Fundação Calouste
Gulbenkian, mas a descontinuidade entre documentos, raramente acompanhados de
desenhos e/ou fotografias, não permite clarificar na totalidade as características das
A 3. 1972
intervenções realizadas que foram, aparentemente, acompanhadas por vários arquitectos,
engenheiros e técnicos de museologia.
a casa-museu . 4
A exposição permanente e os serviços da Casa-Museu Abel Salazar desenvolvem-se ao
longo dos três pisos do edifício.
No rés-do-chão, na sala contígua à entrada e à administração/biblioteca expõem-se
desenhos e pinturas a óleo de paisagens; na antiga capela bustos de pessoas amigas e
cobres martelados.
No primeiro piso, encontra-se o gabinete da direcção e quatro salas de exposição –
atelier, sala de estar, sala dos retratos e sala de jantar – simulam um ambiente doméstico,
na realidade muito diferente daquele em que viveu Abel Salazar.
No segundo piso, existe o atelier de restauro e a exposição ocupa outros quatro espaços
que demonstram diversas facetas da personalidade de Abel Salazar: o quarto expõe
mobiliário e objectos de uso pessoal; o hall Científico apresenta material de laboratório e
alguns trabalhos de investigação; a Sala de Imprensa reúne em vitrinas jornais, revistas e
correspondência, e nas paredes caricaturas; e a Sala de Gravura inclui águas fortes e
material de gravura.
A sala polivalente e o jardim são utilizados para actividades dos serviços educativos,
exposições, conferências e encontros. A casa do guarda é utilizada como arrumo.
localização
Rua Costa Cabral, 716 Porto
ocupação da casa
53 anos desde 1894 a 1946
abertura ao público
1952
tutela
Museu Nacional Soares dos Reis – Instituto Português de Museus
director/técnico responsável
Catarina Maia e Castro
colecções
talha, proveniente de igrejas e conventos, que reveste praticamente todo o interior da habitação;
pintura do século XVII ao século XX, com destaque para a pintura naturalista dos séculos XIX-XX;
escultura sobretudo de carácter religioso, do século XVI ao século XIX, cerâmica ,vidro e torêutica
serviços disponibilizados ao público
sala de exposição temporária, espaços exteriores
tipo de actividades
visitas guiadas
documentação gráfica
1. Arquivo Histórico Municipal do Porto: Livro de Plantas de Casas n.º 125, p. 227 a 230 (1893); Livro de
Plantas de Casas n.º 213, p. 99 a 106 (1908); Livro de Plantas de Casas n.º 239, p. 118 a 120 (1936/37)
[construção]
2. Arquivo da Direcção Regional dos Edifícios e Monumentos do Norte: Processo de instalação do
sistema automático de detecção e alarme de incêndio – desenhos de 27/12/1969 (1954/70) e
16/04/1979 (1970-78) [intervenções 1 e 2]
3. Museu Nacional Soares dos Reis: projectos dos arquitectos Humberto Vieira (1986/88 e 1990), Teresa
Marques (1988/89) e Victor Mestre (1996/97) incluindo peças desenhadas, peças escritas e
correspondência relacionada [intervenções 4, 5, 6, 7 e 8]
documentação fotográfica
Museu Nacional Soares dos Reis: fotos de Teófilo Rego e de Catarina Maia e Castro [imagem 53]
a casa . 2
A casa era constituída por três edifícios, implantados em três profundos lotes de terreno
na Rua Costa Cabral, distintos do ponto de vista da função e linguagem.
O edifício principal, construído pelo pai de Fernando de Castro em 1893, foi ampliado
em 1908 através do acrescento de um andar e de uma cozinha nas traseiras. No seu
interior, o coleccionador instalou livre e intensamente as suas colecções de pintura,
escultura, cerâmica e vidro, mas sobretudo a sua colecção de talha dourada e
policromada – eliminada de paredes, tectos e altares de extintos conventos e igrejas em
acções de restauro de reposição da traça original – "com a qual revestiu praticamente
todo o interior da sua habitação. É de resto a talha que em muitas situações serve de fundo
ou de suporte à exposição dos objectos, criando nesta casa um ambiente absolutamente
inesperado, sem espaços vazios, e que pela sua originalidade não pode deixar de nos
surpreender." [184 ▪ Catarina Maia e Castro]
Em consequência do crescimento das suas colecções e do desenvolvimento da sua
actividade artística, em 1936/37, Fernando de Castro ampliou novamente a casa
construindo um edifício térreo, no lote intermédio, destinado a atelier, com acesso a partir
do vestíbulo central do rés-do-chão do edifício inicial, aumentando ainda a área de serviço
com zona de trabalho, despensa e copa. O atelier, iluminado por um janelão na fachada
norte e por duas clarabóias, era amplo, simples, funcional e servia simultaneamente de
galeria de exposições privada.
O terceiro lote era ocupado por uma casa independente de dois pisos que pertencia à
família cuja utilização concreta não conseguimos esclarecer, embora pudesse ter sido
residência da irmã de Fernando de Castro enquanto esteve casada.
No interior do quarteirão, os três edifícios davam acesso a um quintal comum dividido
em pequenas parcelas cultivadas com produtos agrícolas.
da casa ao museu . 3
a doação
A promessa de doação dos edifícios e respectivo espólio feita por Maria da Luz de
Araújo e Castro, apreciadora incansável da obra do seu irmão, foi aceite pelo Estado
Português a 15 de Dezembro de 1951 e a escritura de doação lavrada a 24 de Janeiro de
1952, concretizando o sonho de Fernando de Castro.
A partir dessa data a casa-museu ficaria depende administrativamente do Museu
Nacional de Soares dos Reis que deveria cumprir os desejos da doadora: abrir ao público a
Casa-Museu Fernando de Castro, adaptar a área de serviço do lote intermédio a
residência do director ou conservador, manter a disposição da colecção, sobretudo das
talhas decorativas, organizada pelo personagem reformulando apenas pontualmente o
seu conteúdo para valorização dos objectos, expor em lugar de destaque as caricaturas e
desenhos do coleccionador e também um dos seus bustos e, eventualmente, construir um
pavilhão no jardim que pudesse acolher parte do extenso património artístico da casa-
-museu.
37 38
36
35 35
35
P 2. 1952 P 2. 1970/78…
34
33
31 32
29
30 25
P 1. 1952 P 1. 1970/78…
13 6 7 13 16 17 18
14 8 19
5 20 26
10
4 21
22
1 2 3 11 12 23 24 25
15
L1 L2 L3 L4
P 0. 1952 P 0. 1970/78…
28
27
1952. época da doação (reconstituição): L1 acesso ao quintal. L2 casa: edifício principal. L3 atelier construído em 1936/37. L4 casa anexa
propriedade de Fernando de Castro. 1 pátio. 2 entrada. 3 sala de estar. 4 vestíbulo. 5 sala de jantar. 6 cozinha. 7 sala de trabalho. 8 despensa.
9 copa. 10 arrumo. 11 atelier/galeria. 12 edifício propriedade do personagem. 13 acesso ao quintal. 14 pátio de acesso à cave.
1970/78. DGMEN: 15 entrada museu. 16 acesso ao parque de estacionamento e jardim. 17 (casa do guarda) recepção. 18 e 19 (casa do
1:500
guarda) arrumo. 20 sala de jantar. 21 vestíbulo. 22 corredor. 23 sala regional. 24 sala de exposição. 25 espaço polivalente. 26 i.s. 27 cave-
arrumo. 28 pátio. 29 patamar I. 30 sala amarela. 31 sala azul. 32 sala das caricaturas. 33 gabinete da administração. 34 arquivo. 35 reserva.
0 5 10
36 patamar II. 37 quarto de Fernando de Castro. 38 escritório. 39 estufa.
41 43
44
40 45 45 45
46
E1 E2
1990. DGMEN ▪ Arq. Humberto Vieira (não executado): transformação da casa do guarda: 40 recepção.
1997. DGMEN ▪ Arq. Victor Mestre (não executado): transformação da casa do guarda e ampliação: 41 entrada. 42 cafetaria/loja 43
vestiário. 44 recepção. 45 sala de exposição. 46 alpendre.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
1988/89. Arq. Teresa Marques (não executado): reformulação do jardim - plano geral e plano de plantação de arbustos e herbáceas 0 5 10
Castro]
o conhecimento do edifício
Através do cruzamento de informações entre os arquivos da Câmara Municipal do
Porto, da Direcção Regional de Edifícios e Monumentos do Norte e da Casa-Museu
Fernando de Castro foi possível reconstituir com precisão a transformação progressiva do
edifício desde a construção à actualidade, não só através de desenhos, mas também de
inúmeros documentos escritos, incluindo muita correspondência entre o Museu Soares dos
Reis e as diferentes instituições envolvidas nas acções sobre o conjunto edificado. No
entanto, o período menos documentado, entre 1952 e 1982, corresponde àquele em que
se realizaram maiores modificações. Inversamente, o período entre 1986 e 1997 encontra-se
muito bem documentado no arquivo da casa-museu, mas desafortunadamente não foi
possível realizar as ambiciosas alterações sugeridas nos vários projectos elaborados.
o programa
Na primeira fase, o programa incluiu sucessivamente a manutenção da exposição
permanente na casa principal, a inclusão de uma casa do guarda e a ampliação
progressiva da área de exposição temporária, utilizando os outros dois edifícios.
Na segunda fase, a nova conservadora da Casa-Museu e a directora do Museu Soares
dos Reis iniciaram um novo ciclo de acções no património móvel e imóvel da casa-museu
com o objectivo de corrigir as prolongadas falhas na manutenção do conjunto, melhorar as
condições de preservação, exposição e comunicação do espólio, actualizar a imagem do
museu e diversificar os serviços prestados pela instituição dinamizando a sua acção cultural
na cidade.
O programa que então estabeleceram previa: 1. realizar obras de beneficiação geral
incluindo a pintura das paredes exteriores e a reparação urgente das coberturas, dos
52 O primeiro inventário tinha sido realizado aquando da doação pelo Doutor Vasco Valente, director do
Museu Nacional de Soares dos Reis.
a casa-museu . 4
Apesar das dificuldades foram realizadas várias exposições temporárias, desenvolvidas
acções com a vizinha Escola Secundária de António Nobre, orientadas visitas para outros
grupos escolares e produzido um curso de restauro de talha. No entanto, a dependência
relativamente ao Museu Nacional Soares dos Reis, vantajosa do ponto de vista do estudo
das colecções, é sobretudo bloqueadora do desenvolvimento de actividades, uma vez
que a casa-museu não possui nem orçamento nem recursos humanos próprios.
A entrada faz-se agora pela antiga casa do guarda sem qualquer mobiliário de apoio,
as instalações sanitárias exteriores não são utilizadas, as salas de exposições temporárias
servem de reserva de mobiliário do Museu Nacional Soares dos Reis desde que foi
submetido a obras e os únicos dois funcionários, um vigilante que acompanha as visitas e
uma empregada de limpeza, empenham-se na manutenção do edifício e do acervo.
Apesar da impressionante e perturbadora colecção permanente, dos esforços
desenvolvidos para a valorização do seu património edificado e da capacidade de contar
parte da história de destruição do património religioso nacional, o futuro desta casa-museu
parece ainda incerto.
localização
Quinta dos Patudos, Estrada Nacional n.º 118, 2090 Alpiarça
ocupação
48 anos desde 1882 a 1929 (sobretudo os últimos 16 anos)
abertura ao público
1961
tutela
Câmara Municipal de Alpiarça
director/técnico responsável
José António Falcão
colecções
mobiliário, porcelanas, pintura, tapeçarias, azulejos,
serviços disponibilizados ao público
recepção, sala de exposição temporária, espaços exteriores, loja, cafetaria, Centro Enoturístico
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições temporárias, eventos
intervenções no edifício
1. 1905/09 remodelação/ampliação ▪ Arq. Raul Lino
1. 1959/60 adaptação a museu ▪ arq. Samuel Quininha e Dr.ª Maria de Lurdes Bártholo
2. 1984 alteração : Sala das Aguarelas ▪ DGEMN / Gulbenkian / C. M. Alpiarça
3. 1987/88 beneficiação ▪ DGEMN / IPPC
4. 1999/00 beneficiação das coberturas ▪ DGEMN: Arq. Victor Mestre
5. 2001 centro enoturístico ▪ DGEMN
6. 2005 valorização: loja, cafetaria ▪ DGEMN
documentação gráfica
Fundação Calouste Gulbenkian [projecto do Arquitecto Raul Lino]
Câmara Municipal de Alpiarça e Casa-Museu dos Patudos [intervenções 1]
Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
documentação fotográfica
Fundação Calouste Gulbenkian
Câmara Municipal de Alpiarça
Casa-Museu dos Patudos [imagens 59, 60, 61, 63 e 64]
da casa ao museu . 3
a doação
Face à ausência de descendentes directos, José Relvas doou ao município de Alpiarça
uma grande quantidade de bens, incluindo edifícios e propriedades, que foram divididos
em duas instituições, a Fundação José Relvas – para desenvolvimento de acções sociais de
apoio à população local e a Casa dos Patudos – para criar uma entidade que ilustrasse a
vida social na época de transição da monarquia para a república.
No testamento ou escritura de doação (a que não tivemos acesso) defendia a criação
de um museu que não estivesse exclusivamente vocacionado para a exposição de obras
de arte; proibindo, no entanto, a modificação do espólio e da sua distribuição, e
determinando que os quartos da sua família não fossem integrados na exposição.
1:500
0 5 10
16 8 6
40
15 6
P 3. (2005)
37 36 37 38
14
13
13 36 38 39
13 36 36 39
18 19
13 38 39
8 18 35
1 3 20
4
33 34
7 7 6 5 17 21
P 2. (2005)
31 32
22
8 8 8 30
23 24
8 8
25
10 9 12 29
26
28 27
11 11
11
11
P 0. (2005) P 1. (2005)
(2005): 1 entrada actual. 2 (futura entrada/recepção/loja). 3 vestíbulo. 4 sala Carlos Relvas (pai) ou sala de tauromaquia. 5. sala de arte
sacra. 6 átrio/escadaria. 7 sala de exposição temporária. 8 reservas ou arrumos. 9 i.s. 10 cozinha (futura cafetaria). 11 arrecadação anexa. 12
alpendre. 13 administração. 14 entrada de serviço. 15 Centro Enoturístico / espaço polivalente. 16 cozinha de apoio. 17 átrio. 18 sala da
família I e II. 19 sala Império. 20 sala de D. Eugénia. 21 sala de Música. 22 sala das Colunas. 23 sala de S. Francisco. 24 sala dos Primitivos. 25 sala
romântica. 26 sala Silva Porto. 27 Galeria Verde. 28 sala das Aguarelas. 29 sala de jantar. 30 salão Renascença ou dos Arraiolos. 31 biblioteca.
32 vestíbulo final. 33 antecâmara. 34 quarto de José Relvas. 35 quarto de vestir. 36 antigos quartos – área técnica. 37 i.s. 38 quartos. 39
aposentos de Carlos Relvas (filho). 40 ala dos criados (futura exposição permanente – percurso alternativo e independente)
1:500
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
a casa-museu . 4
A Casa-Museu dos Patudos, casa-museu fortemente descritiva, tem-se concentrado na
conservação dos bens doados pelo seu anterior proprietário. À valorização da instituição
através da adaptação arquitectónica tardia dos espaços existentes deverá corresponder
alguma renovação do discurso museológico que permita atrair novos públicos.
128 da casa ao museu
09
1968 . casa-museu Egas Moniz
localização
Rua Professor Egas Moniz, 3860-078 Avanca
ocupação
férias toda a vida
abertura ao público
1968
tutela
Câmara Municipal de Estarreja
director/técnico responsável
Rosa Maria Rodrigues
colecções
mobiliário, pintura, gravura, escultura, vidro e cristal, ourivesaria e tapeçaria, porcelana da Companhia
das Índias, Cantão, Saxe, Sevres, porcelana e faiança portuguesas antigas; objectos referentes às
descobertas científicas da Angiografia e da Leucotomia;
serviços disponibilizados ao público
recepção, espaço polivalente, espaços exteriores, loja
tipo de actividades
visitas guiadas
intervenções no edifício
1. 1915-18 ampliação ▪ Arq. Ernesto Korrodi
1. 1966 adaptação e ampliação ▪ Eng. Victor Santos de Almeida
2. 1987 reestruturação da quinta ▪ Joaquim Freitas (não executado)
documentação gráfica
Casa-Museu Egas Moniz [intervenção 2]
Arquivo da Câmara Municipal de Estarreja [intervenção 1]
(Processo de Obra n.º 274, L. VII, f. 87, 16-06-1966)
documentação fotográfica
Casa-Museu Egas Moniz [ imagem 69]
a casa . 2
A Casa do Marinheiro, em Avanca, era a casa da família de Egas Moniz, onde este
nasceu e à qual voltava todos os anos durante as férias.
Em 1915, para evitar a degradação do edifício Egas Moniz decidiu recuperá-lo e
ampliá-lo segundo projecto da autoria do Arquitecto Ernesto Korrodi, sob direcção do
Padre António Maria de Pinho e com decoração de Álvaro Miranda.
Três anos depois, na revista A Arquitectura Portuguesa, o edifício e a decoração eram
descritos com pormenores e elogios.
"Logo no hall de entrada do rés-do-chão, se nos depara uma interessantíssima mobília
no estilo D. João V. […] Daqui, passamos à sala de jantar ou sala de mesa, como também
se denomina, em cuja orientação se acentua o cunho holandês. […] É neste salão que se
acha enquadrado o torreão do antigo solar e que o proprietário sabiamente quis conservar
como recordação […]. Também no local desta sala era no antigo solar, o quarto de cama,
onde nasceu o Ex.mo Sr. Dr. Egas Moniz. A seguir entramos no grande salão D. João V, com o
seu aprimorado tecto, em grande caixotão […]. Saindo desta sala, entramos na terceira e
última que se lhe segue, e que forma […] uma agradável perspectiva. É a sala de jogo. […]
À direita da entrada depara-se-nos a biblioteca do proprietário. […]
Passando ao primeiro andar, encontramos o hall e o quarto dos proprietários,
concebido no estilo de D. Maria I. Uma diferença profunda existe entre estes e o andar de
que tratámos, diferença esta bem natural e lógica, atendendo às diversas funções que
ambos representam. Nestes quartos, de maior simplicidade, predominam, talvez como
impressão de higiene e alegria, os tons claros. A decoração é simples; […] influência do
estilo Luis XVI […]. Ainda no mesmo estilo a capela-oratório […] convida à meditação, à
prece." [O Solar do Ex.mo Sr. Dr. Egas Moniz in 168 ▪ 1918, n.º 4, p. 13-14]
da casa ao museu . 3
o testamento
A ausência de descendentes fez com que Egas Moniz e sua esposa reflectissem sobre o
destino a dar à Casa do Marinheiro. Inicialmente pensaram transformá-la em asilo ou casa
de repouso, mas desistiram ao anteverem despesas avultadas para a adaptação do
edifício.
A decisão de transformar a casa num museu ficou definida no testamento de Egas
Moniz datado de 17 de Janeiro de 1951, como homenagem à sua terra, "para que fique,
assim, ligada à sua querida aldeia esta recordação da sua vida, como demonstração do
seu apreço pelos amigos e conterrâneos dos concelhos de Estarreja e de Murtosa".
[Testamento de Egas Moniz, 1951 in 170 ▪ António Madahil, 1966, p. 14]
casas-museu em portugal 131
09
casa-museu Egas Moniz
54
16
55
17 15 45 44
14 22 22 43 53 52
18 46
20 21 50 51
19 47
20 20 48 49
34 35
33
7 29 31 32
11 12 37 38 40
8 6 30 28
1 5 9 10 13 23 27 36 39 42
41
2 3 4 24 25 26
1915. Arq. Ernesto Korrodi (mancha cinzenta = casa inicial) : 1 vestíbulo. 2 sala de jogo. 3 salão. 4 sala de jantar. 5 hall. 6 guarda roupa. 7
sentina. 8 gabinete do dono. 9 copa. 10 despensa. 11 cozinha. 12 área de serviço. 13 alpendre. 14 hall. 15 sentina e banho. 16 sentina e
banho (donos). 17 quarto dos donos. 18 quarto de vestir da dona. 19 quarto de vestir do dono. 20 quarto. 21 rouparia e costura. 22 criados.
1:500
1966. Eng. Victor Santos de Almeida: 23 recepção/loja. 24 sala de jogo. 25 salão. 26 sala de jantar. 27 sala dos retratos. 28 reserva da loja.
0 5 10
29 i.s. 30 biblioteca/escritório de Egas Moniz. 31 pátio. 32 corredor. 33 sala do Prémio Nobel. 34 sala das pratas. 35 sala de exposição.
E1 E2
36 vestíbulo. 37 cozinha. 38 administração. 39 alpendre. 40 arrumos da quinta. 41 vestíbulo. 42 sala polivalente. 43 hall. 44 sala científica. 45
quarto de Egas Moniz e Elvira Moniz. 46 quarto de vestir de Elvira Moniz. 47 quarto de vestir de Egas Moniz. 48. sala Império 49. sala Luís XVI. 50.
sala das gravuras. 51 escritório da casa de Lisboa. 52 capela. 53 oratório. 54 sala de exposição. 55 reservas.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
o programa
No testamento de 1951, Egas Moniz definiu o programa de adaptação da casa,
descrevendo com pormenor as obras a realizar.
"Conta deixar uma verba, suficiente para a instalação do Museu, a que se adicionará a
construção de um espaçoso pavilhão de que conta deixar projecto. Na Casa do
Marinheiro há a fazer pequenas obras, a saber:
a) nova instalação eléctrica, reduzida aos lustres ou lâmpadas centrais, por desaparecerem
os «apliques», com excepção dos dois da escada;
b) das duas salas de banho do primeiro andar, fazer uma única sala de exposição;
c) supressão de todos os lavatórios e banheiros dos antigos quartos e das salas de banho do
primeiro e segundo andares;
d) redução das canalizações de água apenas para a casa de banho do rés-do-chão –
que ficará com todos os seus pertences –, da cozinha e dependências, e outras que forem
julgadas indispensáveis." [Testamento de Egas Moniz, 1951 in 170 ▪ António Madahil, 1966, p. 15]
Define a organização da casa-museu em três secções:
▪ a Secção Artística organizada a partir dos recheios da Casa do Marinheiro e da casa de
Lisboa, na Avenida Cinco de Outubro, – mobiliário, pintura, louça, vidros, pratas cujas peças
descreve pormenorizadamente – ocuparia todo o rés-do-chão, parte do primeiro andar e o
novo edifício a construir;
▪ a Secção Científica, a instalar no espaço das duas casas de banho do primeiro andar,
incluiria objectos referentes às suas descobertas científicas – a Angiografia Cerebral e a
Leucotomia pré-frontal;
▪ a Secção Familiar a localizar no segundo andar acolheria um conjunto de recordações
familiares e pessoais.
Prevê ainda a construção de uma sala de leitura a construir no parque; de uma escola
para ensino primário nocturno e de uma escola de desenho, pintura, gravura e artes
gráficas; a realização de um inventário de todos os bens logo após a formação da
Comissão Dirigente do Museu; a formação de um "Grupo de Amigos da Casa-Museu Egas
Moniz" designando alguns sócios natos; a contratação de um guarda descrevendo
pormenorizadamente as suas funções, direitos e deveres, prevendo que resida no edifício
ocupando a área de serviço anexa à cozinha; o horário de abertura e o preço de entrada
na casa-museu que incluiria a visita do jardim, do parque e do lago.
o conhecimento do edifício
Através dos desenhos e documentos existentes é possível esclarecer a história da
evolução do edifício. No conjunto de informação disponível na Casa-Museu Egas Moniz
destacam-se desenhos de três anteprojectos da autoria do Arquitecto Ernesto Korrodi nos
quais se podem observar diferentes tentativas de relacionamento em planta, alçado e
volume da casa inicial com os novos espaços. O projecto construído corresponde a uma
quarta solução.
a casa-museu . 4
A actividade da Casa-Museu Egas Moniz é reduzida. O isolamento e o número reduzido
de funcionários dificultam o desenvolvimento de actividades complementares à visita.
Em 2004, encontrava-se em estudo a possibilidade de instalação de um Centro de
Ciência com auditório, cafetaria e espaços de exposições temporárias, na Quinta do
Marinheiro.
localização
Rua Escritor José Maria Ferreira de Castro, Lugar de Salgueiros, 3720 Ossela, Oliveira de Azeméis
ocupação da casa
infância
abertura ao público
1968
tutela
Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis
director/técnico responsável
Ricardo Freitas
colecções
mobiliário, objectos pessoais e manuscritos de Ferreira de Castro, biblioteca
serviços disponibilizados ao público
recepção, espaço polivalente, espaços exteriores, biblioteca
tipo de actividades
visitas guiadas, encontros
intervenções no edifício
1. 1967 adaptação a museu ▪ Ferreira de Castro
2. 1971 ampliação: biblioteca ▪ Arq. Gaspar André Domingues
documentação gráfica
Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis [intervenção 2]
documentação fotográfica
Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis [imagem 76]
12
3 4 5
6 13
P 1. 1967 A P 1. 1974 B
7 8
2 1 9 10 11
P 0. 1967 A E1 E2 P 0. 1974 B E1 E2
1967. Ferreira de Castro: A Casa-Museu. 1 sala polivalente. 2 jardim. 3 cozinha. 4 sala. 5 quarto da mãe. 6 quarto de Ferreira de Castro. 1:500
1974. Arq. Gaspar André: B biblioteca. 7 recepção. 8 i.s. 9 arrumo. 10 sala de leitura. 11 reserva. 12 administração. 13 sala de exposição.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
a casa . 2
A modesta casa da Quinta de Janardo, pertencia ao Comendador Artur Gomes
Barbosa e à esposa, patrões da mãe de Ferreira de Castro com quem este viveu até partir
para o Brasil.
Desde essa época, o edifício acolheu pelo menos uma mercearia e a Casa do Povo.
da casa ao museu . 3
a doação
Em 1965, a esposa do comendador terá oferecido a pequena quinta a Ferreira de
Castro, provavelmente em agradecimento dos serviços prestados por sua mãe. Dois anos
depois, o escritor doava a casa e o terreno à Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis
com a condição desta conservar o edifício e todos os objectos nele existentes facultando a
sua visita, de manter a parte rústica, condicionando, estranhamente, o tipo de culturas a
praticar.
Por outro lado, ao ganhar o Prémio Águia de Ouro Internacional em Nice, o escritor
decide investir o dinheiro na aquisição de um terreno em frente à casa, construindo uma
biblioteca pública para a população de Ossela que, mais tarde, seria também doada à
autarquia.
o programa
Assim, o programa definia a recuperação da casa e a construção de uma biblioteca,
instalando em cada um dos edifícios um pequeno núcleo museológico.
localização
Rua José Régio, 7300 Portalegre
ocupação da casa
36 anos, de 1930 a 1966
abertura ao público
1971
tutela
Câmara Municipal de Portalegre
director/técnico responsável
Joana Munõz
colecções
arte popular e sacra, arte pastoril e conventual, ferro forjado, mobiliário e faiança
serviços disponibilizados ao público 53
recepção, sala de exposição temporária, espaço polivalente, espaços exteriores, loja, espaço dos
serviços educativos, cafetaria, Centro de Estudos José Régio
tipo de actividades
visitas guiadas
intervenções no edifício
I. 1964-70 adaptação a museu ▪ José Régio / Câmara Municipal de Portalegre
II. 2003… restauro e ampliação ▪ Arq. Teresa Nunes da Ponte (em curso)
documentação gráfica
Arquivo Municipal de Portalegre (não foi possível aceder à Pasta da Casa-Museu José Régio)
Arquivo da Arquitecta Teresa Nunes da Ponte [intervenção 2]
documentação fotográfica
Câmara Municipal de Portalegre [imagens 80, 81, 82 e 84]
Arquivo da Arquitecta Teresa Nunes da Ponte
a casa. 2
O edifício foi construído no final do século XVII e ampliado sucessivamente, tendo sido
anexo do convento de S. Brás, extinto recentemente, depois quartel general durante as
guerras peninsulares e, desde o início do século XX, dependência da Pensão 21, onde José
Régio alugou um pequeno quarto quando chegou a Portalegre.
No seu texto A minha Casa de Portalegre: como principia uma colecção de velharias,
Régio descreve a sua vivência na casa entre 1929 e 1963.
"Quando pela primeira vez vi, de noite, a casa que se tornaria a minha Casa de
Portalegre, – pareceu-me um casarão sinistro. […] A pensão onde eu ia ter um quarto
ocupava, digamos, um terço desse casarão. Os restantes dois terços, com os quais não
comunicava, eram ocupados por outra gente. O grande portão abria-se para a loja de um
ferrador. […] Mas na casa andei de quarto em quarto, conforme se despedia um hóspede
e eu preferia o quarto que ele desocupara. […] Foi isso o começo de um longo processo de
anexação que só terminará (suponho…) quando todo o casarão estiver preenchido pela
minha colecção de velharias. Parece não tardar muito. […] Além do quarto e do salão
abobadado, tomara todo o primeiro andar e depois o rés-do-chão todo. No fim de contas,
estoirara com a Pensão. […] Assim exigia a quantidade de coisas que eu ia acumulando."
[218 ▪ José Régio, 2001 (1965), p. 183-186]
À medida que cresciam, a colecção e a casa eram muito visitadas por amigos e gente
das antiguidades.
da casa ao museu . 3
a venda
No final dos anos cinquenta, José Régio manifestou as primeiras intenções de manter a
colecção de antiguidades na casa com o objectivo de a transformar em museu e nesse
sentido, fez uma proposta de venda à Câmara Municipal de Portalegre, mas a autarquia
não se mostrava disponível para a adquirir esperando, em vão, uma doação.
Após atingir a idade da reforma, em 1962, José Régio passava cada vez menos tempo
na cidade e na casa, e em 1964, corriam rumores que a Câmara Municipal de Vila do
Conde ponderava a aquisição da colecção; nessa altura, a Câmara Municipal de
Portalegre avançou, chegando a acordo com o escritor. A escritura de aquisição do
recheio da casa de Portalegre foi lavrada a 13 de Agosto de 1964. O edifício foi comprado
aos senhorios de José Régio três anos depois, a 30 de Março de 1967.
casas-museu em portugal 143
11
casa-museu José Régio I
25
23
41
19 22 19
24 41
18 20 18 20
17 16 13 22 17 16 13 42
15 14 21 15 14 21
2 2 40
3
37 3
38
39
1
35
6 5 12 6 5 12
7 7
4 4
8 8
9 10 11 36 9 10 11
32 32
33 34
31
30 29
27
30
28 26
1 entrada/sala de grais e ferros forjados. 2 alpendre. 3 pátio. 4 sala dos cristos. 5 sala antoniana. 6 barros de Portalegre. 7 barros de Estremoz. 8
cozinha. 9 pátio da cozinha. 10 estanhos. 11 sala de visitas. 12 altar de igreja. 13 sala do cristo. 14 sala de leitura. 15 quarto império. 16 salão
nobre. 17 sala de trabalho (primeiro quarto alugado). 18 arte sacra. 19 sala da mesa de dobradiças. 20 cozinha. 21 trabalhos conventuais. 22
reserva. Centro de Estudos de José Régio: 23 sala. 24. gabinete. 25 biblioteca.
1:500
2003. Arq. Teresa Nunes da Ponte (em curso): 26 pátio de entrada 27 recepção/loja. 28 exposição introdutória. 29 sala polivalente. 30
0 5 10
Centro de Estudos de José Régio. 31 serviço educativo. 32 i.s. 33 reserva. 34 pátio. 35 acesso à casa. 36 exposição temporária. 37 cafetaria. 38
pátio. 39 átrio/exposição introdutória. 40 pátio. 41 serviços administrativos. 42 sala de reunião.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
o programa
No final dos anos 60, o programa não previa a instalação de qualquer espaço de apoio
ao funcionamento de um museu, limitando-se à organização e distribuição das colecções
pelos compartimentos do edifício.
Passados trinta anos, as dificuldades de conservação das diferentes peças da colecção
54 determinaram a instalação de equipamentos de medição e controlo das condições
ambientais – temperatura, humidade e poluição –, conduzindo paralelamente à definição
de um novo programa funcional. Este programa procuraria dotar a Casa-Museu José Régio
de um conjunto de espaços essenciais para a conservação do espólio, o acolhimento ao
público e a administração da instituição.
54 As acções de conservação preventiva são dificultadas pela mistura, em cada compartimento, de objectos
com características muito diversas.
55 Um dos quais, fortemente contestado por José Régio, foi a tentativa da Fundação Calouste Gulbenkian de
instalar uma biblioteca pública na sala abobadada do rés-do-chão, que o coleccionador reservara para a
exposição da colecção de Cristos.
146 da casa ao museu
II
O Programa Base do projecto de arquitectura da autoria da Arquitecta Teresa Nunes da
Ponte, entregue em Fevereiro de 2003, foi elaborado em colaboração com a Câmara
Municipal de Portalegre, incluindo os técnicos responsáveis pelos museus da autarquia, o
Instituto Português de Museus e a Rede Portuguesa de Museus.
O Estudo Prévio, realizado em colaboração com uma equipa projectista pluridisciplinar
56 , foi concluído em Julho de 2003 e definiu as características gerais da futura intervenção,
determinando o restauro do edifício da casa-museu, a anexação de um conjunto de
modestas construções contíguas adquiridas pela autarquia e o tratamento dos espaços
exteriores envolventes.
Os projectos de licenciamento e de execução serão executados em breve.
1 "Na construção imediatamente contígua à Casa, que com ela confina através dos dois
pátios, e de uma pequena faixa de construção, funciona actualmente o Clube
Columbófilo «Asas de Portalegre». A fachada do edifício, com dois pisos e já bastante
descaracterizada pela abertura de um grande portão, tem uma expressão da viragem do
século XIX para XX, embora o seu interior apresente características de épocas
possivelmente anteriores, mas sem interesse arquitectónico ou patrimonial. Os outros dois
edifícios que constituem o conjunto e rematam o quarteirão a poente, têm um só piso, e
embora de construção pobre constituem exemplares interessantes da construção rural do
seu tempo, com elementos particulares, como as cantarias dos vãos exteriores, as estruturas
das coberturas, em barrotame de madeira sob baldosas tradicionais de apoio da telha, ou
ainda uma chaminé de cozinha com um delicado trabalho de argamassas de cal." [Memória
Descritiva e Justificativa, Estudo Prévio, Julho 2003]
A avaliação destas particularidades determinou a demolição do edifício intermédio,
substituindo-o por uma nova construção com dois pisos e cobertura plana, e o restauro do
edifício mais afastado da casa. Nos dois concentram-se todos os serviços de atendimento
ao público, ampliando a casa-museu sem interferir na casa de José Régio.
A linguagem contemporânea da nova fachada do edifício intermédio anuncia a
função museológica e orienta para a entrada principal, relocalizada, que ocupa uma
posição central em relação ao conjunto.
No interior, o edifício intermédio acolhe os serviços de atendimento geral: recepção/
loja e exposição introdutória com recurso a meios audiovisuais, no primeiro piso; cafetaria,
esplanada (pátio) e sala de exposições temporárias, no segundo, acessível através de
escadas e elevador.
Os espaços de actividades de apoio foram instalados no terceiro edifício: instalações
sanitárias, sala polivalente (conferências, projecção cinematográfica), serviços educativos
e Centro de Estudos José Régio, tendo os últimos acessos ao exterior independentes,
permitindo uma certa autonomia em relação aos horários de abertura da casa-museu.
2 O acesso à casa de José Régio é feito pelo segundo piso do edifício intermédio que liga
ao pátio da casa, elemento de união entre o edifício existente e o novo edifício.
A antiga sala de entrada, totalmente remodelada, serve de sala de espera pela visita
guiada, que inclui uma exposição sobre a história da casa e a sua apropriação pelo
escritor, e dá acesso, através de escadas e elevador, aos serviços administrativos que
ocupam dois gabinetes na área actualmente afecta ao Centro de Estudos.
Na casa, a disposição da colecção e percurso de visita mantêm-se inalterados.
56 Equipa: "Arquitectura: Arq. Teresa Nunes da Ponte com a colaboração de João Caetano e Anta Miranda;
consultores: Luís Elias Casanovas e José Silva Carvalho; construções: Vasco Moreira Rato; segurança integrada:
António Portugal; arquitectura paisagista: Topiaris, Estudos de arquitectura paisagista ▪ Prof. Arq. Luis Paulo
Ribeiro com a colaboração de Rita Salgado; estruturas: FTD, Consultores de Engenharia ▪ Filipe Feio; águas e
esgotos: Rui Serpa Santos; electricidade e iluminação: Rui Silva Santos; instalações mecânicas: Manuel
Sarmento; medições e orçamentos: Deolinda Cancela e Porfírio Ferreira." [Memória descritiva do Projecto de
Beneficiação Geral e Requalificação da Casa-Museu José Régio – Estudo prévio, Julho 2003]
casas-museu em portugal 147
A intervenção contempla o restauro das peças da colecção e melhoria das condições
de exposição – correcção do sistema de iluminação para valorização dos objectos,
introdução de sistema de controlo das condições de temperatura e humidade,
legendagem discreta –, e o restauro da edificação – identificação e tratamento de
patologias diversas dos elementos construtivos, consolidação estrutural, substituição da
tijoleira de barro vermelha, perturbadora da leitura das peças, por granito no piso térreo e
soalho no piso superior, uso de rebocos e pinturas tradicionais, recuperação das caixilharias,
instalação de sistemas de aquecimento central, ventilação natural, segurança contra
intrusão e contra incêndio.
A sala de reservas e inventariação, transferida para o rés-do-chão do edifício
intermédio, é substituída por uma sala de reuniões.
a casa-museu . 4
O restauro, ampliação e valorização da Casa-Museu José Régio encontra-se inserido
numa nova política de desenvolvimento museológico e cultural da Câmara Municipal de
Portalegre que prevê a gestão concertada de um conjunto de equipamentos culturais no
centro histórico da cidade que inclui, para além da casa-museu, o Museu Municipal, o
Museu da Tapeçaria, o Centro de Artes e Espectáculos (vizinho da casa-museu) e Centro
Científico e Cultural (a instalar no antigo Convento de S. Francisco, actual Fábrica
Robinson).
localização
Rua Tenente Valadim, 325, 4100-479 Porto
ocupação da casa
33 anos desde 1935 a 1968
abertura ao público
1973
tutela
Fundação Eng. António de Almeida
director/técnico responsável
Fernando Aguiar-Branco
colecções
mobiliário, pinturas, tapeçarias, porcelanas - com preferência por peças de origem Francesa
colecções de numismática compostas de moedas de ouro de origem Grega, Romana, Bizantina,
Francesa e Portuguesa
serviços disponibilizados ao público
recepção, sala de exposição temporária, espaços polivalentes, espaços exteriores, loja, auditório
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições temporárias, conferências, congressos, concertos
intervenções no edifício
1. 1933/35 construção ▪ Arq. Carlos Ramos
1. 1948/49 ampliação ▪ Arq. Carlos Ramos
1. 1971/72 adaptação a museu ▪ Arq. Fernando Távora
2. 1974 adaptação: auditório ▪ Arq. Fernando Távora
3. - outros edifícios na propriedade: casa da administração, auditório, casa do jardim
4. 2004/05 beneficiação/reposição ▪ Fundação Eng. António de Almeida
documentação gráfica
Arquivo Histórico do Porto [construção, ampliação]
Arquivo Fernando Távora [intervenções 1 e 2]
documentação fotográfica
Fundação Eng. António de Almeida [imagens 85 e 89]
a casa . 2
"No ano de 1932, António de Almeida adquire a primeira parcela de terreno, na Rua
Tenente Valadim, 231, no Porto, e de seguida começam as afanosas diligências da
construção que viria a chamar-se «Casa Nova». Consultam-se, ao serão, as revistas
nacionais e estrangeiras da especialidade. Perscrutam-se os contornos e os interiores que
preenchem o sonho comum. A «Casa Nova» surge esboçada no esforço conjunto de Olga
e António. Auscultam-se sugestões de vários arquitectos e conclui-se pela escolha do
Mestre Carlos Ramos. Aprovado o projecto da «Casa Nova», inicia-se a construção em
1933. […]
Em 1948, António de Almeida adquire terrenos contíguos à parte traseira do jardim e
procede à ampliação da casa e dos jardins, ampliação que termina em 1949. A «Casa
Nova» adquire, então, a configuração definitiva." [176 ▪ Fernando Aguiar Branco, 2003, p. 68-71]
A habitação, desenhada pelo Arquitecto Carlos Ramos, estava dividida em três pisos:
▪ no piso inferior organizavam-se vários espaços de serviço da casa como rouparia,
despensa, frasqueiro e alojamento para os funcionários e funcionárias;
▪ o piso intermédio acolhia os espaços de vida familiar e social:
▪ e o último piso estava reservado ao casal e hóspedes eventuais.
Na ampliação de 1949, o arquitecto mantém a mesma organização acrescentando um
volume alongado à casa, entre edifício existente e limite da propriedade na época. À nova
construção corresponderia uma passagem coberta para o jardim no piso inferior; uma
ampla sala de recepção no piso intermédio e aposentos adicionais para hóspedes no
último piso.
da casa ao museu . 3
a fundação
António de Almeida instituiu em testamento, datado de 29 de Agosto de 1966, a
Fundação Eng. António de Almeida, doando-lhe todos os seus bens, com o objectivo desta
desenvolver actividades de âmbito artístico, educativo e de caridade, em todo o país,
particularmente no Porto.
A Fundação deveria organizar o Museu Engenheiro António de Almeida, utilizando a sua
casa e respectivo recheio, mantendo a disposição decorativa existente, mas podendo
adquirir outras peças para enriquecimento da colecção; construir, no interior da
propriedade, um pavilhão com salas de exposição e conferências para realização de
manifestações artísticas e culturais de apoio ao museu; e preservar os jardins que envolviam
a casa.
28 50
23 24 44 45
30
25 29 46 49
26 27 28 46 47 48
28 48
P 1. 1933-49 P 1. 1971/74
22 41
18 19 20 41 42 43
21
17 16 15 41 39
38
40
14
P 0. 1933-49 P 0. 1971/74
13
37
9 35 33
8 10 11 12 34 36
7 1 32 31
6 2 33
4 3 33
(1933 - trama cinzenta) e 1949. Arq. Carlos Ramos: 1 entrada de serviço. 2 vestíbulo. 3 quarto de criados. 4 caldeira. 5 casa forte. 6
(arrumo) rouparia. 7 (sport) armazém. 8 (garrafeira) despensa. 9 (arrumo) frasqueiro. 10 quarto de criados. 11 engomados. 12 passagem
coberta. 13 lenha. 14 cozinha. 15 copa. 16 hall. 17 escritório. 18 sala de estar. 19 sala de jantar. 20 louceiro. 21 despensa. 22 sala de estar. 23
quarto de vestir. 24 sala de banho. 25 quarto. 26 quarto de vestir. 27 roupeiro. 28 quarto de hóspedes. 29 arrecadação. 30 rouparia.
1:500
1971 e 1974. Arq. Fernando Távora: 31 foyer. 32 entrada de serviço. 33 quarto de empregados. 34 sala e sala de jantar. 35 despensa. 36
0 5 10
cozinha. 37 auditório. 38 entrada. 39 recepção/loja. 40 arrumo. 41 sala do museu. 42 sala de jantar. 43 gabinete do conservador. 44 gabinete
da secretária. 45 i.s. 46 gabinete da administração. 47 sala de espera 48 secretaria. 49 arquivo. 50 colecção de numismática.
152 da casa ao museu
E
A C
B
75
68 69
70 74
71 72 73
73
P 1. 2004/5
67
64 65 66
63 62
60
61
P 0. 2004/5
59
56
55 57 58
52 51
53
54
P -1. 2004/5 E1 E2
2004/5 FEAA: 51 foyer. 52 entrada de serviço. 53 biblioteca da administração. 54 gabinete da administração. 55 sala polivalente. 56 arrumo.
57 cozinha dos funcionários. 58 sala dos funcionários. 59 sala polivalente. 60 entrada. 61 reserva da loja. 62 recepção/loja. 63 salinha Luis XVI.
64. sala Luis XVI. 65 sala de jantar. 66 sala de exposição. 67 sala de estar. 68 quarto de vestir (Eng). 69 sala de banho. 70 quarto do casal. 71
quarto de vestir. 72 sala de costura. 73 quarto de hóspedes. 74 local técnico. 75 colecção de numismática.
2005. Propriedade da FEAA: A casa-Museu. B edifício administrativo. C auditório. D jardim. E casa do Jardim. F garagem
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
Mais tarde, a Fundação Eng. António de Almeida construiu um outro edifício para a
realização de actividades científicas e culturais – congressos, conferências, exposições,
concertos – que inclui foyer, auditório com trezentos lugares, duas grandes salas
polivalentes; adquiriu a casa e terreno vizinhos para instalação dos serviços administrativos
da fundação e reorganizou o vasto jardim.
Desta forma, o edifício da casa-museu foi sendo libertado das funções adicionais
instaladas em 1971. No último piso, foram reinstalados os móveis e objectos decorativos do
quarto principal, e mais recentemente, o mesmo aconteceu nos outros dois quartos. O piso
inferior deixou de ser residência de funcionários, acolhendo actualmente alguns serviços
internos da casa-museu.
a casa-museu . 4
No conjunto de actividades desenvolvidas pela Fundação Eng. António de Almeida, a
presença da casa-museu é reduzida. O espaço museológico mantém-se como lugar de
homenagem ao fundador, mas o desenvolvimento da instituição não depende da sua
existência.
localização
Vila do Conde
ocupação da casa
férias toda a vida e 3 anos como residência principal de 1966 a 1969
abertura ao público
1975
tutela
Câmara Municipal de Vila do Conde
director/técnico responsável
António Ponte
colecções
arte sacra, pintura, escultura popular, biblioteca de José Régio, faianças, ferros alentejanos…
serviços disponibilizados ao público 1
intervenções no edifício
1. séc. XVIII construção ▪ António Maria Pereira (bisavô de José Régio)
1. 1913 construção do jardim e do mirante ▪ José Maria Pereira Sobrinho (pai de José Régio)
1 . 1974-75 adaptação a museu ▪ Câmara Municipal de Vila do Conde
2. 1989/90 beneficiação: Casa das Alminhas e Mirante ▪ Câmara Municipal de Vila do Conde
3. 1996 beneficiação ▪ Câmara Municipal de Vila do Conde
4. 2001 -03 beneficiação ▪ Câmara Municipal de Vila do Conde
5. 2004/05 restauro e ampliação ▪ Câmara Municipal de Vila do Conde: Arq. Manuel Gomes
documentação gráfica
Câmara Municipal de Vila do Conde [intervenção 5]
(embora não tenhamos tido acesso a documentação gráfica sobre a época de construção dos
edifícios no arquivo da autarquia, não excluímos a hipótese da sua existência, ali ou noutro local)
documentação fotográfica
Câmara Municipal de Vila do Conde: Casa de José Régio [imagens 93, 95, 96, 97, 99 e 100]
a casa . 2
Em Vila do Conde, a família de José Régio possuía três casas muito próximas, onde o
escritor viveu durante a infância e às quais sempre voltava nas férias enquanto estudante
em Coimbra e depois professor em Portalegre.
No livro Confissão dum Homem Religioso, descreve-as: "elas eram três (não contando
com a da tia Micas irmã de minha mãe e minha madrinha) embora para mim fossem uma
só com três secções: a que propriamente pertencia a meus pais, a nossos pais, e que para
eles fora mandada construir pelo «tio brasileiro», o homem rico da família; a da «madrinha
Libânia», que chamávamos «a outra banda», e comunicava com a primeira; e a «do avô»
(nosso avô paterno) que era ali muito perto, e aonde meu irmão Júlio e eu íamos jantar ou
cear em dias certos." [José Régio in 115 ▪ Laura Castro, 2003]
Quando em 1962 José Régio, decidiu abandonar Portalegre e voltar a Vila do Conde,
instalou-se na casa da madrinha Libânia que tinha recebido em herança.
A casa foi construída para António Maria Pereira, bisavô de José Régio, nos finais do
século XVIII. Pertenceu depois a José Maria Pereira, o tio brasileiro; a Libânia, a madrinha; a
José Maria Pereira Sobrinho, o pai, e, desde 1957, a José Régio.
Ao deixar a casa de Portalegre, vendendo grande parte da sua colecção à autarquia
local, José Régio seleccionou inúmeros objectos de origens, épocas e materiais diversos,
que transferiu para a casa de Vila do Conde a partir de meados dos anos 60.
Na "loja" do rés-do-chão, o coleccionador organizou a colecção de almofarizes e de
escultura dos séculos XVI e XVII. No primeiro andar, instalou o seu quarto; o escritório onde
guardou biblioteca e esculturas; e no corredor colocou a colecção de ex-votos. No
segundo andar, na sala de jantar organizou cerâmicas e faiança, pintura e escultura; no
corredor expôs pintura e escultura religiosa; reservou dois quartos para hóspedes, depois
dos quais existia a cozinha.
Os dois pisos superiores dão acesso a diferentes patamares do jardim, construído em
1913 pelo pai de José Régio, cuja gruta artificial, juntamente com o mirante, os percursos e
a vegetação, criam um ambiente romântico.
"Nas traseiras da Casa de José Régio […] situa-se uma zona ligada a esta actividade de
coleccionador de antiguidades. Flávio Gonçalves, historiador de arte, estudou algumas
peças do escritor e escreveu: "O poeta mandou mesmo construir, no fundo do quintal, um
pequeno edifício para nele guardar essa colecção [de painéis de alminhas e caixas de
esmolas]. De brincadeira, chamava a essa dependência, o "Purgatório". No piso inferior
guardava uma colecção de jugos e outra de barros de Barcelos. A essa sala, por se
encontrar sob a outra, nós, do mesmo modo, achámo-nos no direito de a designar de
«Inferno»." [115 ▪ Laura Castro, 2003]
da casa ao museu . 3
a aquisição
A casa foi adquirida pela Câmara Municipal em 1974 aos familiares de José Régio,
tendo como objectivo perpetuar a memória do poeta de Vila do Conde; promover o
estudo da sua vida e obra; evitar a dispersão da colecção existente na casa; e criar a
primeira unidade museológica no concelho que foi inaugurada a 17 de Setembro de 1975.
o património móvel
A colecção da Casa de José Régio inclui escultura religiosa – gótica, maneirista e
barroca, de barro, de pedra e de madeira –, pintura dos séculos XVI e XVII, e obras do
século XX – telas e desenhos de Mário Eloy, Dominguez Alvarez, Diogo de Macedo, de seu
irmão Júlio e dele próprio –, arte sacra, arte popular, cerâmica, gravuras, estanhos, vidros,
rendas, bronzes, ferros, peças lapidares, mobiliário dos séculos XVII e XVIII, biblioteca pessoal
do escritor, incluindo obras do século XVII e XVIII, e inúmeras de escritores portugueses do
20
P 3. 1975…
19
18
16 17
C 1. 1975… 15
14
13
C 2. 1975… 12
11
P 2. 1975…
9 10
5
A 1. 1975… P 1. 1975…
1 2
1975 : 1 entrada. 2 recepção e sala de pintura moderna . 3 "loja". 4 gruta. 5 escritório. 6 alcova 1. 7 quarto de José Régio. 8 corredor. 9 jardim I.
10 mirante. 11 sala de jantar. 12 alcova 2. 13 quarto 1. 14 quarto 2. 15 (antiga cozinha) gabinete administrativo. 16 (antiga despensa) reserva.
17 jardim II. 18 jardim III. 19 casa das almas II. 20 jardim IV. 21 casa das almas I.
1:500
2005. Arq. Manuel Maia Gomes (Câmara Municipal de Vila do Conde): 22 entrada. 23 i.s. 24 sala de exposição. 25 reserva. 26 sala de
0 5 10
leitura. 27 gabinete administrativo. 28 auditório.
21
20
19
18
c
28
31 17
30
14
13
b
12
11
27 27 8
7
26
b
a
6
9 10
5
25
3
24
a
1 29
23
22
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
a casa-museu . 4
A Casa de José Régio, acrescentada do novo Centro de Documentação, reabriu ao
público em Setembro de 2006.
localização
Av. 5 de Outubro n.º 6/8, 1050-055 Lisboa
www.cmag-ipmuseus.pt
ocupação da casa
33 anos desde 1932 a 1965
abertura ao público
1980
tutela
Instituto Português de Museus
director/técnico responsável
Maria Antónia Pinto de Matos
colecções
pintura portuguesa dos séculos XIX e XX, porcelana chinesa e mobiliário português e estrangeiro
ourivesaria civil, pintura europeia, escultura portuguesa, cerâmica europeia e oriental, têxteis,
numismática, medalhística, vidros e relógios de bolso de fabrico suíço e francês
serviços disponibilizados ao público
recepção, sala de exposição temporária, espaços exteriores, biblioteca, serviço educativo, loja
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições temporárias, ateliers infantis e juvenis, edição
intervenções no edifício
1. 1904 construção ▪ Arq. Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962)
1. 1914 alterações
1. 1932-51 beneficiações periódicas
1. 1972-85 remodelações, reparações, demolições ▪ Instituto Português de Museus
2. 1996 remodelação e ampliação ▪ Arq. Frederico M. George e Arq. Pedro M. George
documentação gráfica
Instituto Português de Museus [intervenção 2]
Arquivo Intermédio da Câmara Municipal de Lisboa [construção e alterações]
Arquivo do Arquitecto Carlos Guimarães [intervenção 2]
documentação fotográfica
Instituto Português de Museus: Casa-Museu Anastácio Gonçalves [imagem 105]
a casa . 2
"A actual Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves foi mandada construir pelo pintor José
Malhoa (1855-1933) na então Avenida António Maria d'Avellar, hoje Avenida 5 de Outubro,
para sua residência e seu atelier de trabalho. A obra foi entregue ao construtor Frederico
Ribeiro que executou um projecto do Arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962),
datado de Março de 1904. Criava-se, deste modo, a primeira «casa-de-artista» da capital,
edifício em dois pisos com um espaço privado de habitação e com uma ampla zona de
trabalho constituída pelo atelier e por um pequeno escritório anexo. A casa do pintor Malhoa
surgia edificada num dos pólos de crescimento da «nova cidade de Lisboa» integrada no
gosto vigente da arquitectura da viragem para o século XX, identificando-se estilisticamente
com outras propostas arquitectónicas existentes nessa mesma zona da cidade.
Em 1905, a Casa-Malhoa, assim designada pelo prestígio nacional adquirido pelo pintor
José Branco Malhoa, recebe o Prémio Valmor de arquitectura, distinção anual atribuída
desde 1902 ao edifício de Lisboa que apresentasse, segundo critérios estéticos do seu
fundador, o 2º Visconde de Valmor (1837-1898), um «estilo clássico, grego ou romano,
gótico ou da renascença, ou algum tipo artístico português». […]
O interior do edifício sofreu diversas alterações ao projecto inicial de Norte Júnior. Na
memória descritiva de 1904 o edifício é caracterizado como "uma casa de habitação e
sala de estudo em dois pavimentos" ao qual é acrescentado, ainda em fase de construção,
o piso inferior destinado a arrecadações. Em 1914, ainda na posse de Malhoa, dão-se
remodelações pontuais ao nível da fachada e de algumas paredes interiores. A casa é
vendida pelo pintor em 1919, após a morte de sua mulher, tendo conhecido mais dois
proprietários antes da aquisição pelo Dr. Anastácio Gonçalves, em 1932. De entre a
documentação existente, as diversas licenças de obra requeridas pelo Dr. Anastácio
Gonçalves (1932, 1939-40, 1948) para "reparação e limpeza" do interior e exterior do edifício
não possibilitam a datação exacta das alterações verificadas nos pisos térreo e cave em
1969, data da incorporação deste edifício no património do Estado.
No piso térreo, respondendo a necessidades de ordem prática, o que reforça o interesse
e especificidade deste edifício, procedeu-se à transferência da zona de serviços para a
cave, a cozinha saiu da sua anterior localização do lado esquerdo do corredor da sala de
jantar, e alargou-se a área do quarto principal da casa com a transferência da
casa-de-banho para um anterior quarto.
O atelier, e por conseguinte quase todo o primeiro andar foi a divisão que menos
alterações sofreu ao longo dos anos. Manteve-se intacto o espaço, amplo e acolhedor,
casas-museu em portugal 163
14
casa-museu Anastácio Gonçalves
7
22 13
6 14
21
8
9
12
20 10 5
11
19 3
15
18 17 3 1 2
3 4
17 17 16 3
1996-97. Arq. Frederico M. George e Arq. Pedro M. George: 1 entrada. 2 recepção/loja. 3 sala polivalente/sala de exposição temporária. 1:500
4 i.s. 5 sala das porcelanas. 6 escritório. 7 quarto nobre. 8 casa de banho. 9 sala "wucai". 10 sala de jantar. 11 galeria de desenho. 12 arrumo.
13 atelier Malhoa. 14 atelier Malhoa. 15 terraço. 16 serviço educativo (cafetaria no projecto). 17 reservas. 18 pátio. 19. atelier de trabalho. 20
0 5 10
biblioteca. 21 secretaria. 22 direcção.
C 1. 1996 A 5. 1996
E2
E1
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
da casa ao museu . 3
a doação
Anastácio Gonçalves doou, através de testamento de 31 de Julho de 1964, a sua casa e
respectivo recheio ao Estado com o objectivo de criar "um pequeno Museu no género do
Museu Soane, de Londres, e de tantos outros, [que deveria] com mais ou menos frequência
(conforme os recursos de que se disponha) ficar regularmente patente à visita do público
para seu recrio e instrução." [147 ▪ Anastácio Gonçalves, 1964, p. 2]
Devido a questões processuais, os bens foram entregues ao Estado apenas em 1967.
o património móvel
"É a colecção constituída aproximadamente por 2000 obras de arte, essencialmente
distribuídas por três grandes núcleos: Cerâmica Oriental, Pintura Portuguesa e Mobiliário
Português e Estrangeiro.
Para além destes, destacam-se ainda inúmeras peças de Ourivesaria (pratas, jóias,
relógios), obras de Pintura Estrangeira (ex. Courbet, quadros atribuídos a Hobbema e
Breughel de Veludo), Cerâmica Europeia, Vidros, Tapeçaria (Bruxelas e outras), Tapetes
(Pérsia, China, Portugal), Moedas, Medalhas e Bronzes […].
A notável colecção de Cerâmica Oriental, de projecção internacional, está por
exemplo representada com peças que vão da Dinastia Song (960-1279) até aos finais do
século XIX princípios do XX, da qual se destacam o «Azul e Branco» dos séculos XVI e XVIII, a
«Família Verde», a «Família Rosa» e Companhia das Índias dos séculos XVII e XVIII.
A Pintura Portuguesa oferece […] do melhor que o Naturalismo produziu no nosso país.
O Mobiliário inclui notáveis móveis portugueses, especialmente da época de D. João V,
D. José e D. Maria I, e alguns estrangeiros como as peças assinadas pelos ebanistas
franceses Cosson, Ohnerberg e Laffiteau." [148 ▪ Maria Margarida Matias, 1982, p. 12]
57 No livro "Malhoa e a Casa Malhoa", Maria Margarida Matias [148 ▪ 1983] descreve com mais detalhes a
vivência da casa-atelier enquanto pertenceu ao pintor.
166 da casa ao museu
importância relevante à data (que veio a designar-se por «Sala da Espreguiçadeira»), o
ambiente atrás apontado.
Quanto ao «Atelier Malhoa», no 2.º andar do edifício, e seus acessos (escada e
corredores), houve uma orientação museológica e museográfica no sentido de fixação de
um espírito de «Casa», sem no entanto colocar os objectos nos lugares que ali
habitualmente ocupam […], foi a «Pintura» que conduziu a organização da Sala, por se ter
pensado constituir aquela a vocação maior de um salão que sempre a «respirou»." [148 ▪
Maria Margarida Matias, 1982, p. 12-13]
o programa
Durante a primeira década em que esteve aberta ao público, a Casa-Museu Anastácio
Gonçalves ocupou apenas o edifício existente. A cave acolhia serviços internos do museu e
os dois outros pisos eram ocupados, na totalidade, pela exposição permanente. Não existia
qualquer outro espaço para acolhimento do público ou realização de actividades.
No sentido de dotar a instituição de um novo conjunto de espaços e de serviços, o
Estado adquiriu a casa implantada no terreno vizinho, provavelmente da autoria do
Arquitecto Norte Júnior, onde seriam instalados: recepção, loja, salas de exposições
temporárias, cafetaria e reservas.
localização
Rua D. Manuel I, 2150-101 Golegã
ocupação da casa
22 anos, desde 1873 a 1894 (laboratório fotográfico) (casa . 6 anos)
abertura ao público
1981
tutela
Câmara Municipal da Golegã
director/técnico responsável
…
colecções
espólio fotográfico e bibliográfico de Carlos Relvas, mobiliário
serviços disponibilizados ao público
recepção, sala de exposição temporária, espaços exteriores, loja, cafetaria, laboratório fotográfico
tipo de actividades
…
intervenções no edifício
1. 1872/75 construção da Casa-Estúdio ▪ Arq. Henrique Carlos Afonso
1. 1888 adaptação a habitação ▪ Carlos Relvas
1. 1980 adaptação a museu ▪ Câmara Municipal da Golegã
2. 2000/03 reabilitação e valorização ▪ Arq. Victor Mestre e Arq. Sofia Aleixo
documentação gráfica
Câmara Municipal da Golegã [intervenção 2]
IPM - Divisão de Documentação Fotográfica [projecto do Arquitecto Henrique Carlos Afonso]
Arquivo dos Arquitectos Victor Mestre e Sofia Aleixo [intervenção 2, levantamento arquitectónico,
projecto e projecto de execução ]
IPPAR
documentação fotográfica
Instituto Português de Museus - Divisão de Documentação Fotográfica [imagem 113]
Arquivo dos Arquitectos Victor Mestre e Sofia Aleixo
a casa . 2
A adaptação do estúdio fotográfico a residência permanente dá-se após um incêndio
na casa de Carlos Relvas e coincide com o casamento com Marianna do Carmo Pinto
Correa em 1888. O estúdio fotográfico, no piso superior, é subdividido, as vidraças tornam-se
opacas e os serviços domésticos são instalados num edifício vizinho a que se acede através
de um corredor na sala sul do primeiro piso, mas Carlos Relvas orientou as obras de
reorganização do espaço com uma apurada consciência do conceito de reversibilidade
que muito influenciou a intervenção recentemente realizada no edifício.
"Depois do falecimento de Carlos Relvas, devido a um acidente de cavalo, a Casa
Relvas foi esquecida até ao último quartel do século XX, o mesmo acontecendo a todas as
fotografias e negativos, equipamento fotográfico, mobílias e acessórios do estúdio." [162 ▪
da casa ao museu . 3
a doação
A doação do estúdio fotográfico, adaptado a residência, das dependências anexas,
do jardim com poço e do que restava do espólio de Carlos Relvas à Câmara Municipal da
Golegã foi feita em 1978, 84 anos após a morte do fotógrafo amador, por D. Maria Pimenta
Amália Pinto Correia de Câmara Pina, filha da segunda esposa de Carlos Relvas, com
algumas condições: 1. a doadora receberia da Câmara Municipal da Golegã uma renda;
2. a obrigação "de, no prédio doado, ser instalado um museu ou biblioteca municipal ou
outro fim de natureza cultural, beneficente ou humanitário, conforme a Câmara entenda
mais apropriado ou conveniente para benefício colectivo da população da terra natal da
doadora; e 3. que "o Chalet e o jardim ou parque a ele adjacente deverem ser abertos ao
público e, em homenagem ao seu antigo dono […] deverá o jardim denominar-se Jardim
Carlos Relvas, com a colocação de lápide de pedra." [158 ▪ Escritura de doação, 1978, Golegã]
Não havia qualquer obrigatoriedade de transformar o espaço numa casa-museu.
Quando em 1981, a Câmara Municipal da Golegã abriu finalmente ao público a Casa-
-Museu Carlos Relvas instalou no edifício anexo uma biblioteca pública. Quanto à Casa-
-Estúdio, transformada em espaço museológico, diz-se que se mantinha como Carlos Relvas
a tinha deixado – situação difícil de imaginar 87 anos passados do seu falecimento.
13
3
14
15
5 6
8 4
16 17
1
7 18 20 19
11 12
10
(1888. Carlos Relvas) 1980. Câmara Municipal da Golegã : 1 (área de serviço de apoio à casa) biblioteca pública e administração. 2 corredor
de ligação dos dois edifícios. 3 (estúdio fotográfico adaptado a habitação)
2003. Arq. Victor Mestre e Arq. Sofia Aleixo: 4 recepção/loja/espaço Internet. 5 i.s. 6 cafetaria. 7 circulação. 8 laboratório fotográfico. 9 área
1:500
técnica. 10 sala de exposição temporária. 11 sala 1. 12 sala 2. 13 estúdio fotográfico. 14 escritório. 15 sala sul. 16 atelier 1. 17 atelier 2. 18
0 5 10
câmara escura 1. 19 câmara escura 2. 20 átrio.
c
a
b
a
E1 E2
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
a classificação
Logo após os primeiros contactos entre as diversas instituições ficou clara a necessidade
urgente de classificar como Imóvel de Interesse Público o conjunto arquitectónico e jardim,
assim como a totalidade do recheio. Iniciados os trabalhos do Arquivo Nacional de
Fotografia rapidamente o antigo IPPC através da seu Conselho aprovou a proposta e a 19
de Agosto de 1989 – ano do 150º aniversário da divulgação mundial da fotografia – a
Secretária de Estado da Cultura, Dra. Teresa Patrício Gouveia, deslocou-se à Golegã
homologando a classificação. No entanto, apenas sete anos depois foi publicado o
Decreto de Classificação de Imóveis nº 2/96 DR 56/96 Série I-B de 6 de Março de 1996 pelo
Ministério da Cultura, oficializando a classificação e estabelecendo a Área de Protecção
de cinquenta metros. 59
o património móvel
No final dos anos 70, após a doação, procedeu-se ao levantamento sumário das
condições de conservação do edifício e do espólio de Carlos Relvas que incluía "13 mil
negativos em vidro [...] milhares de provas positivas, material fotográfico histórico, mobiliário
da época – incluindo espécies próprias para uso fotográfico –, panos de cenário,
instrumentos musicais, vidros, cerâmicas, um conjunto de diplomas de prémios obtidos por
Relvas em exposições [nacionais e internacionais], espécies de outro fotógrafo da Golegã,
Bonacho dos Anjos, e uma biblioteca particular de três mil volumes contendo um núcleo de
livros de e sobre fotografia, de grande valor internacional."[159 ▪ António Henriques, 1998]
59 Curiosamente o mesmo decreto classificou simultaneamente a Casa-Museu dos Patudos . José Relvas, em
Alpiarça, pertencente ao filho de Carlos Relvas.
o conhecimento do edifício
Em 1998, para um conhecimento efectivo do edifício existente, o IPPAR elaborou um
documento de consulta a equipas projectistas para a elaboração de um relatório-
-diagnóstico acerca do estado de conservação do edifício; estas deveriam também
avaliar e caracterizar a metodologia de intervenção a adoptar, identificando acções
concretas a realizar. O relatório final permitiria descrever as características dos materiais,
sistemas construtivos e das patologias existentes, identificar as alterações efectuadas no
edifício original, estabelecer linhas orientadoras para a intervenção avaliando as
implicações futuras da restituição da tipologia inicial do Estúdio Fotográfico e enquadrar o
estudo com o objectivo final de musealização do conjunto classificado.
É nesta fase que nos parece existir uma das principais falhas do processo desenvolvido
até agora na Casa-Museu Carlos Relvas. Independentemente do resultado obtido e da sua
legitimidade, a consulta das equipas projectistas faz-se após ter sido decidido o tipo de
intervenção a realizar – restituição à traça original – por fotógrafos e historiadores. Por outro
lado, no final do Programa de Consulta pode ler-se "o levantamento abrange para além da
Casa-Estúdio, o anexo; o relatório-diagnóstico pretendido refere-se apenas à Casa-Estúdio"
o que de certa forma contradiz a classificação do conjunto da casa, anexos e jardins.
Dessa forma, o Relatório/Diagnóstico acerca das condições de conservação da Casa-
-Museu Carlos Relvas adjudicado à empresa A2P Consul com a coordenação do
Engenheiro João Appleton e entregue em Julho de 1999, encontrou-se, do nosso ponto de
vista, condicionado, ainda que as suas conclusões nos pareçam em geral adequadas pois:
"descreve e diagnostica exaustivamente as patologias detectadas no edifício (superficiais,
construtivas e estruturais) concluindo que a causa primordial da degradação é o estado de
abandono a que tem sido votado; aponta claramente para a via do restauro do estúdio
fotográfico, apresentando argumentos que se prendem com a singularidade do objecto
arquitectónico e com o reduzido interesse das alterações introduzidas ainda em vida de
Carlos Relvas; aborda alguns aspectos técnicos que deverão ser tidos em conta no
projecto de intervenção e propõe medidas de intervenção, destacando-se, como mais
urgente, a construção de uma cobertura provisória de protecção." [Relatório/Diagnóstico, A2P
Consul, 1999]
o programa
O programa inicial elaborou-se a partir das reflexões e conclusões do Grupo de Trabalho
e do Relatório-Diagnóstico: 1. na Casa-Estúdio de Carlos Relvas proceder-se-ia à reposição
do estúdio de fotografia e escritório no primeiro andar, das duas câmaras escuras e dos
ateliers de Fototipia e de Impressão Fotográfica no rés-do-chão definindo o núcleo
museológico e restabelecendo o aspecto exterior do estúdio fotográfico de 1872; 2. no
edifício anexo, onde funcionariam serviços de apoio à casa, instalar-se-ia recepção, loja,
cafetaria e instalações sanitárias procedendo-se à remoção do corredor de ligação entre
os dois edifícios para perfeita percepção do perfil do Estúdio Fotográfico; 3. a ligação entre
os dois corpos construídos seria obtida pela construção de um túnel subterrâneo; 4. em
edifício a recuperar ou construído de raiz o programa inicial previa ainda a construção de
outros espaços de apoio à Casa-Museu como centro de documentação, biblioteca e salas
176 da casa ao museu
de consulta, auditório para 50 pessoas, espaços administrativos, salas de trabalho para o
serviço educativo, três câmaras escuras individuais e uma colectiva, sala de foto-
-acabamentos, sala polivalente, sala para o previsto Centro de Incentivo à Conservação
de Colecções de Fotografia, arquivos e reservas, e a instalação de mobiliário,
equipamentos e material fotográfico de apoio a todas as actividades; 5. no entanto, não se
poderia ocupar o jardim com novas construções pelo que teria de ser considerada a
reutilização de outros imóveis na Golegã; 6. o interior da Casa-Estúdio deveria ser mobilado
segundo as fotografias da época; 7. no primeiro andar após a remoção das divisórias
existentes o telhado de vidro reapareceria no seu estado original salvaguardando as
condições de isolamento térmico e luminoso.
a casa-museu . 4
o programa de valorização, reutilização e animação
A Casa-Museu Carlos Relvas encontra-se numa das vilas portuguesas onde, desde o
século XVIII, a introdução de modernos mecanismos e processos industriais na agricultura e
a proximidade das primeiras linhas de caminho de ferro nacionais conduziram a uma
profunda expansão económica. Não tendo a cidade o turismo cultural como seu forte
Por outro lado, a exposição fora de portas tem sido a única forma de reconhecimento
público da existência desta instituição museológica cujo edifício, vazio e provisoriamente
encerrado ao público, continua a atrair visitantes que após a visita da exposição Carlos
Relvas e a Casa da Fotografia insistem em visitar o local, sendo acolhidos por quem na
Câmara Municipal da Golegã estiver disponível, normalmente um administrativo.
Na realidade, se existisse um técnico responsável pela Casa-Museu Carlos Relvas poder-
-se-ia ter evitado a interrupção total das acções de exposição na Golegã, encontrando
soluções intermédias de acompanhamento museológico das intervenções realizadas e de
concretização parcial do programa de valorização, reutilização e animação.
localização
Rua João de Deus, 9, Lisboa
ocupação da casa
10 anos, desde 1886 a 1896
abertura ao público
1982
tutela
Associação de Jardins-Escolas João de Deus
director/técnico responsável
António Ponces de Carvalho
colecções
mobiliário, pintura, antiguidades e objectos pessoais de João de Deus
serviços disponibilizados ao público
nenhum
tipo de actividades
visitas guiadas, lançamentos de livros
intervenções no edifício
-
área terreno -
área bruta 127 m2
área útil exposição 97 m2
documentação gráfica
Arquivo Intermédio da Câmara Municipal de Lisboa [projecto de licenciamento do edifício]
documentação fotográfica
Associação de Jardins-Escolas João de Deus [imagem 118]
5 4
2 1 3
P1 E1 E2
(1896) : 1 entrada. 2 sala de jantar e sala de aulas. 3 sala de estar. 4 vestíbulo. 5 quarto de João de Deus. 1:500
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
Texto Editora]
a casa . 2
João de Deus viveu durante dez anos no apartamento da antiga Calçada Nova da
Estrela com a esposa Guilhermina Bataglia Ramos e os seus quatro filhos. Além de
residência da família, a casa era o local privilegiado de formação dos professores das
Escolas-Móveis organizadas pelo pedagogo que ali recebeu duas grandes manifestações
de homenagem, uma a 8 de Março de 1895 e outra a 11 de Janeiro de 1896, dia do seu
falecimento. O apartamento, alugado ao Patriarcado de Lisboa, manteve-se muitos anos
ocupado pela família, conservando, aparentemente, a configuração e decoração do final
do século XIX, confirmada em algumas fotografias da época.
da casa ao museu . 3
entre espólio e edifício
O aluguer do apartamento é actualmente assegurado pela Associação de Jardins-
-Escolas João de Deus que no início da década de oitenta o dividiu em duas áreas: uma
preserva cinco salas da antiga casa do personagem, tendo sido transformada em espaço
museológico, e outra manteve a função residencial, sendo ocupada por uma funcionária
da casa que se dedica à manutenção do espaço.
O reduzido espólio é constituído por mobiliário, pintura, antiguidades e objectos pessoais
de João de Deus destacando-se um presépio em barro da Escola de Machado de Castro,
um quadro da autoria do pintor flamengo Frans Francken, uma pintura italiana, um
baldaquino com Nossa Senhora da Conceição, um crucifixo em marfim, desenhos de João
de Deus e a sua caixa de material de desenho.
a casa-museu . 4
A Casa-Museu João de Deus é a primeira de duas casas-museu dedicadas a este
personagem. Inaugurada no dia 11 de Janeiro de 1982, quase um século após a morte do
pedagogo e poeta, é a única do conjunto analisado alugada e dependente de outro
museu – o Museu João de Deus, aberto ao público desde 1917, em edifício da autoria do
arquitecto Raul Lino que se situa do outro lado do Jardim da Estrela – e pode ser entendida
como um pequeno espaço-memória da vivência quotidiana de João de Deus e das
origens da Associação das Escolas Móveis pelo Método João de Deus, fundada em 1882.
As suas cinco salas – entrada, sala de jantar, sala de estar, vestíbulo e quarto – são
ocupadas por exposição permanente, cuja acção museológica é desenvolvida pelos
serviços administrativos e de apoio ao público do Museu João de Deus que sugerem a visita
guiada complementar aos seus visitantes.
casas-museu em portugal 181
017
1986 . casa-museu Bissaya Barreto
localização
Rua da Infantaria, n.º 23 (junto aos Arcos do Jardim), 3000-219 Coimbra
www.fbb.pt
ocupação da casa
50 anos desde 1925 a 1974
abertura ao público
1986
tutela
Fundação Bissaya Barreto
director/técnico responsável
Isabel Horta e Vale
colecções
colecção de arte de Bissaya Barreto: pintura e escultura, mobiliário, porcelanas, tapeçarias, azulejos
portugueses do século XVI ao século XX e biblioteca
serviços disponibilizados ao público
recepção, sala de exposição temporária, espaços exteriores,
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições temporárias
intervenções no edifício
1. 1924/25 construção ▪ Arq. Fiel Viterbo
1. 1985/86 adaptação a museu ▪ Fundação Bissaya Barreto
2. 1994 adaptação da garagem a sala de exposição temporária ▪ Fundação Bissaya Barreto
área terreno -
área bruta 856 m2
área útil entrada 24 m2 ▪ exposição 340 m2 ▪ polivalente 57 m2 ▪ administração 46 m2 ▪
reservas 199 m2
documentação gráfica
Casa-Museu Bissaya Barreto [projecto do Arquitecto Fiel Viterbo]
documentação fotográfica
Casa-Museu Bissaya Barreto [imagem 125]
a casa . 2
Em 1924, Bissaya Barreto encomenda ao Arquitecto Fiel Viterbo o projecto para uma
casa a construir perto da Universidade e do Jardim Botânico de Coimbra, num terreno
encostado ao aqueduto quinhentista. Concluída a obra em 1925, o cirurgião, sem família
na cidade, habitaria o edifício durante trinta anos.
A casa desenvolvia-se em L, criando duas zonas distintas em cada um dos dois pisos.
O piso inferior, parcialmente enterrado, acolhia uma zona social com sala, adega e
garrafeira e uma vasta área de arrecadações. O piso superior, organizado em torno de um
átrio octogonal, servido por uma dupla escadaria exterior, dividia espaços de recepção e
serviço, da zona dos quartos e de trabalho de Bissaya Barreto, ligados entre si através de
um estreito corredor interno.
Em volta do edifício, implantado num terreno inclinado, o jardim tem várias plataformas
onde abundam esculturas de pedra e bronze, pequenos lagos e fontes, e, numa
extremidade, foi construída a garagem.
da casa ao museu . 3
a doação
Em testamento o personagem fez sua herdeira universal a Fundação Bissaya Barreto que
em 1984 decidiu adaptar a casa de Coimbra a casa-museu.
10 9 8 33 31 30
11 12 34 32
13
15 14 35 43
16 36 42
17 37
21 41
18 38
19 20 21 21 39 40
P 1. 1924/25 P 1. 1985/86 …
4 24
1 5 22 25
26
2 23
6 27
3 7 28
29
29 29
P 0. 1924/25 P 0. 1985/86 … E1 E2
1924/25. Arq. Fiel Viterbo : 1 casa de entrada. 2 adega. 3 casa-forte. 4 combustíveis. 5 caldeira. 6 garrafeira. 7 entrada para as
arrecadações. 8 despensa. 9 cozinha. 10 copa. 11 casa de jantar. 12 quarto das criadas. 13 costura e engomados. 14 arrecadação de
roupas. 15 sala de visitas. 16 átrio. 17 biblioteca. 18 escritório. 19 quarto principal. 20 quarto de vestir. 21 quarto de hóspedes
1985/86. Fundação Bissaya Barreto (desenhos baseados na visita): 22 entrada/loja. 23 sala de exposições temporárias. 24 i.s. 25 arrumo.
26 recepção. 27 sala de trabalho. 28 arrecadação do jardim. 29 reservas. 30 cozinha dos funcionários. 31 gabinete da direcção. 32 sala de
reunião. 33 copa. 34 sala de jantar. 35 sala de estar. 36 entrada. 37 biblioteca. 38 escritório. 39 quarto de Bissaya Barreto. 40 sala de exposição.
41 sala de exposição. 42 arrumo. 43 sala de exposição. 1:500
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
a casa-museu . 4
Esta casa-museu é apenas um complemento das actividades principais da Fundação
Bissaya Barreto e tem como principal objectivo preservar a casa do seu fundador,
prestando-lhe homenagem.
localização
Calçada de Santa Clara n.º 7, 9000-036 Funchal
ocupação da casa
36 anos, desde 1942 a 1978
abertura ao público
1988
tutela
Direcção Regional dos Assuntos Culturais da Madeira – Região Autónoma da Madeira
director/técnico responsável
Ana Margarida Araújo Camacho
colecções
estampas antigas da madeira, escultura religiosa, mobiliário, cerâmica, canecas e bules, azulejos, vidros,
metais e têxteis
serviços disponibilizados ao público
recepção, sala de exposição temporária, espaço polivalente, espaços exteriores, loja, auditório, espaço
dos serviços educativos, cafetaria
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições temporárias, conferências, acções educativas, edição
intervenções no edifício
1. séc XIX reconstrução ▪ Condes da Calçada
1. 1940 beneficiações ▪ Dr. Frederico Freitas
1. 1984/99 reabilitação e ampliação ▪ Arq. Maria João Cardoso e Arq. Gastão Salgado da Cunha
documentação gráfica
Casa-Museu Frederico de Freitas [intervenção 1]
Arquivo dos Arquitectos Maria João Cardoso e Gastão Salgado da Cunha [intervenção 1]
documentação fotográfica
Casa-Museu Frederico de Freitas [imagem 133]
Arquivo dos Arquitectos Maria João Cardoso e Gastão Salgado da Cunha
Camacho, 2004]
a casa . 2
A Casa da Calçada, vizinha do Convento de Santa Clara, foi reconstruída pelos Condes
da Calçada no século XIX sobre construções anteriores ao século XVIII, num lote de grandes
dimensões no centro do Funchal. O edifício, que se destaca pelo vermelho forte das várias
fachadas, está marcado por sucessivas ampliações e remodelações, articulando vários
corpos de volumetria irregular que se adaptam ao declive do terreno. No pátio interior, a
fachada principal tem um ar oriental, exótico e cenográfico, criado por dois torreões
laterais cobertos por cúpulas e pelo alpendre com três arcos de decoração recortada e
cores contrastantes. Os múltiplos telhados que cobrem cada uma das alas formam uma
quinta fachada visível de pontos mais altos da cidade e os jardins dos terraços filtram a
relação com o exterior.
Frederico de Freitas alugou a grande casa em 1942 e nela viveu durante cerca de três
décadas, rodeado de uma numerosa família - esposa, vários irmãos e respectivas famílias -
e da sua crescente colecção, num ambiente interior labiríntico que concilia decoração
romântica, neoclássica e Arte Nova.
da casa ao museu . 3
a doação
Através do seu testamento, redigido pouco dias antes de perecer, o ilustre advogado
legou à Região Autónoma da Madeira o recheio da sua casa na Calçada de Santa Clara,
desejando que as suas colecções fossem consideradas de utilidade pública.
Na sequência da doação, o Governo Regional adquiriu todo o edifício com o objectivo
de transformar a antiga residência de Frederico de Freitas em casa-museu, preservando o
legado no ambiente quotidiano do coleccionador e integrando-o no percurso
museológico da Calçada de Santa Clara, entre o Museu Municipal e a Igreja de São Pedro,
no início, e o Convento de Santa Clara e a Quinta das Cruzes depois, permitindo ampliar o
núcleo cultural existente.
C1. 1984/99
C 2. 1984/99
A 2. 1940
A 2. 1984/99
A 1. 1940
A 1. 1984/99
o património móvel
O acervo é constituído pelo recheio da casa composto por mobiliário nacional e
estrangeiro, do século XVI ao XIX, peças de artes decorativas, pintura, objectos de uso
pessoal, utensílios de uso quotidiano e biblioteca, destacando-se do conjunto a colecção
de recipientes – bules, canecas, cobres –, a colecção de escultura religiosa, a colecção de
Estampas e Desenhos antigos da Madeira e a vasta colecção de azulejos que "dentro de
uma enorme heterogeneidade, […] é essencialmente constituída por peças portuguesas
(com particular interesse para os espécimes utilizados na Madeira, sobretudo nos séculos
XVI e XVII) e por peças estrangeiras de várias proveniências (com particular relevância para
os núcleos holandês, medievo europeu, oriental e hispano-mourisco)." [193 ▪ Rafael Salinas Calado,
1999, p. 142, 143]
Para tratamento do património móvel foram organizadas várias oficinas de restauro que
funcionaram na casa-museu durante a obra. O restauro do mobiliário foi realizado no local,
por uma equipa coordenada pela Secção de Mobiliário do Departamento de
Conservação do Instituto Português de Conservação e Restauro. O estudo, conservação e
restauro das cerâmicas, azulejos e canecas, foram organizados por uma equipa dirigida por
Dr. Rafael Calado 59 e Dr.ª Ana Calado, com a participação de funcionários do museu e
alunos da Universidade da Madeira das Secções Autónomas de Arte e Design e de
Engenharia de Sistemas. O tratamento das estampas e desenhos, que se encontram
disponíveis para consulta através de meios informáticos, foi desenvolvido pela Dr.ª Trindade
Mexia Alves. Após a abertura da casa-museu, a totalidade do espólio tem sido alvo de
acções regulares de conservação preventiva.
o conhecimento do edifício
Em 1984, quando se iniciam os primeiros estudos conducentes à musealização do
conjunto, o edifício encontrava-se em avançado estado de degradação provocado pelo
confuso sistema construtivo, mas também por falta de manutenção regular. O
conhecimento efectivo do edificado estava condicionado pelas Obras de Prospecção e
Reforço da Estrutura que permitiram realizar progressivamente o levantamento
arquitectónico.
Fotografias antigas do interior da casa dos Condes da Calçada, tiradas em 1941
aquando da realização do leilão de venda do recheio para posterior aluguer, permitem
compreender as alterações realizadas por Frederico de Freitas na decoração de algumas
divisões.
o programa
Reflectindo sobre as características das futuras actividades museológicas o Programa-
-Base foi elaborado a partir das reflexões e conclusões retiradas do cruzamento dos dois
sistemas de análise, definindo a distribuição de funções e seis percursos de visita: 1. na Casa
da Calçada, conservando os ambientes da residência de Frederico de Freitas, manter-se-ia
instalada grande parte da colecção permanente (primeiro percurso); 2. ao logo desta,
seria reservada uma área para a colecção de canecas e recipientes; 3. a colecção de
azulejos, pela dimensão e especificidade daria origem a uma exposição permanente
independente a instalar em novo edifício, ocupando antigas zonas de serviço e parte do
terreiro do Convento de Santa Clara, cedido pela Direcção do Património do Estado
59 Primeiro director do Museu Nacional do Azulejo e na época conservador assessor do Museu Nacional de Arte Antiga.
6
F
7 6
E
4
8
15
8 1
11
12
14
12
12 12
12
13
10
P 0. 1940 P 0. 1984/99
1984/99. Arq. Maria João Cardoso e Gastão Salgado da Cunha: A Casa da Entrada. B Casa da Calçada. C Casinha de Prazer. D Casa 1:500
dos Azulejos. E primeira fase de construção. F segunda fase de construção. 1 sala de exposição temporária. 2 arrecadação. 3 entrada
principal. 4 recepção. 5 entrada serviços educativos. 6 serviços educativos. pátio. 8 i.s. 9 jardim sobre a calçada. 10 casinha de prazer. 11 0 5 10
acesso à torre - sala polivalente. 12 reservas. 13 arrumo do jardim. 14 loja das canecas. 15 cafetaria.
a b
b c
E1 E2
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
38
42
43
38 44
44
43
45 45
11
11
11
19
18
18
11 16
17
40
39
36 20
37
38 35
34
21
33 23
24
38
25 22
32
28 26
31
26
29
30
27
11
P 1. 1940 P 1. 1984/99
1984/99. Arq. Maria João Cardoso e Gastão Salgado da Cunha: 11 acesso à torre – sala polivalente. 16 loja. 17 entrada para o gabinete 1:500
de estampas. 18 gabinete de estampas e serviços educativos (administração). 19 arquivo de estampas. 20 jardim da entrada. 21 sala de
entrada. 22 sala amarela. 23 salão nobre. 24 quarto dos santos. 25 corredor dos marfins. 26 jardim de inverno (acesso jardim da calçada) 27 0 5 10
quarto de dormir. 28 sala de jogo. 29 saleta. 30 casa de jantar. 31 sala de chá. 32 quarto das canecas. 33 cozinha. 34 corredor da biblioteca.
d
e
E1 E2
35 biblioteca. 36 átrio. 37 entrada de serviço. 38 exposição permanente de azulejos. 39 regie. 40 auditório. 41 atelier de restauro. 42 cozinha
dos funcionários. 43 espaços de apoio aos funcionários. 44 gabinetes da administração. 45 gabinetes da direcção.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
60 "Projectos e Construção: Arquitectura: Maria João Almada Cardoso e Gastão Salgado da Cunha;
Estruturas: António da Costa e Duarte Jervis; Instalações Eléctricas e Electromecânicas: Engenheiros
Electrotécnicos; Luminotecnia: Vítor Vajão; Instalações de Águas e Esgotos: José Avelino Nóbrega e Silva;
Equipamento Audiovisual: M. F. Silva Coelho; Construção: (1ª fase: Damásio e Nascimento, Lda) (2ª fase:
Lourenço Simões e Reis); Jardins: Jardim Botânico da Madeira.
Instalação e Montagem: Museologia e Museografia: Rafael Calado; Tratamento, restauro e montagem das
espécies cerâmicas: Ana Porto Calado, com apoio de Richard Fernandez, Francisco do Carmo, Carla Cabral,
Lucilina Gouveia e Freitas e os funcionários da Casa-Museu Frederico de Freitas; Fotografia: Luís Filipe Oliveira;
Fotografia: Luís Filipe Oliveira [publicações e banco de imagens] Colaboração: Luísa Clode [directora do Museu
de Arte Sacra do Funchal] ; Suportes Audiovisuais: Rui Martins – Ruma Vídeo [colecção de azulejos]; Gabinete
de Estampas e Desenhos: Trindade Mexia Alves. Linha gráfica: Manuel Zimbro [roteiro, desdobrável, mapas,
postais, cartazes, convites, bilhetes de entrada, sinalética interior e exterior]; Desenho Gráfico das publicações:
Robin Fior [colecções de cerâmica]; Victor Simões [colecção de estampas] ; Informática: Lino de Nóbrega
Henriques; […] Investigação e Pesquisa: Ana Margarida Araújo Camacho."
[Introdução à Casa-Museu Frederico de Freitas, p. 8-9]
198 da casa ao museu
gráfica, à edição de publicações, à organização de uma base de imagens e à instalação
de equipamentos audiovisuais de apoio à exposição de azulejos.
A Casa-Museu Frederico de Freitas reabriu a 30 de Setembro de 1999 com o programa
inicial totalmente realizado, após aumento de área de pavimento de 1780 m2 para 3125 m2.
1º percurso
A Casa da Calçada apresenta as colecções de artes decorativas dispostas nas divisões
do primeiro piso da casa do coleccionador. Tal como na Casa-Museu Anastácio Gonçalves
sobrepõem-se duas vivências domésticas do espaço, por um lado a dos Condes da
Calçada, desaparecida mas documentada nas fotos dos anos 40, por outro, o ambiente
existente da casa de Frederico de Freitas bastante degradada.
A reabilitação teve em conta as duas vivências, utilizando a primeira na reabilitação do
salão tripartido, a segunda em grande parte dos compartimentos e ainda uma terceira
para outros espaços, com o objectivo de depurar a leitura e compreensão dos espaços
interiores cuja designação evoca a sua anterior função doméstica. Para melhorar as
condições de exposição, foram seleccionadas peças pela sua qualidade, beleza ou tema,
formando conjuntos coerentes, utilizaram-se cores claras nas paredes, caixilharias e tecidos,
e criou-se um ritmo de transparências entre as divisões através de portas interiores com
vidro e da instalação de vitrinas transparentes na espessura de algumas paredes que o
olhar atravessa, melhorando simultaneamente as condições de iluminação e de
segurança.
O percurso inclui: Sala de Entrada – introdução à colecção de mobiliário, Sala Amarela
– destaque para o interesse do coleccionador por temas e objectos relacionados com a
ilha da Madeira, Salão – antiga sala de baile dos condes, com três espaços decorados com
estuques do século XIX, Quarto de Dormir – antiga sala de jogo dos condes, Quarto dos
Santos – colecção de escultura religiosa, Sala de Jogo – ponto de convergência dos outros
espaços da casa dando acesso ao Jardim de Inverno cuja decoração é marcada pelas
caixilharias arte nova e pelas paredes de fajôco, Sala de Estar, Sala de Chá, Sala de Jantar,
Quarto das Canecas, Loja das Canecas, Cozinha e, finalmente, Biblioteca – local de
trabalho e leitura de Frederico de Freitas, onde termina o primeiro percurso.
2º percurso
A Casa dos Azulejos foi construída mantendo a relação volumétrica existente, sem
alterar o tecido urbano, a imagem do edifício e do terreiro do convento, e a cobertura,
perceptível de vários pontos da vizinhança, foi tratada como uma fachada suplementar
fragmentada para melhor integração no emaranhado de telhados do edifício existente.
Quando se entra, a escada e o elevador, permitem aceder à cafetaria, ao auditório e
aos vários pisos da exposição permanente de azulejos, que pela quantidade e variedade
de amostras, exigia uma concepção arquitectónica, museológica e museográfica
específica e distinta da utilizada nas salas da casa-museu. As salas de exposição
organizam-se em dois corpos, de dois e três andares, num sistema de meios pisos criando
relações visuais entre si e o Jardim dos Azulejos cujo terraço abre sobre o jardim do Museu
Municipal prolongando a área verde visível do interior e iluminando a exposição através de
uma grande fachada de vidro complementada por clarabóias.
O programa museológico, da responsabilidade do Dr. Rafael Salinas Calado, definiu
uma apresentação simples, clara e sóbria que permite dar legibilidade ao conjunto e servir
o interesse de um grande número de visitantes, mas também de um amplo grupo de
especialistas em azulejaria nacional. Ao longo de quatro pisos, fragmentos, peças inteiras e
painéis de azulejos organizam-se por ordem cronológica e de origem, explicando a história
da cerâmica de revestimento desde o fabrico à decoração, dos primórdios à actualidade
e do Oriente ao Ocidente, demorando-se na exposição da produção nacional e nos
padrões usuais na Madeira.
3º percurso
A Casa da Entrada acolhe a visita informática da colecção de Estampas e Desenhos da
Madeira e o serviço de educação e animação da casa-museu que assume, desde 2001, "a
a casa-museu . 4
Durante a primeira fase de construção foram realizadas duas exposições, em 1984 e
1985, no Museu de Arte Sacra do Funchal, intituladas Escultura Religiosa da Colecção Dr.
Frederico de Freitas e Azulejos da Colecção Dr. Frederico de Freitas que estabeleceram o
primeiro contacto do público com o património legado e contribuíram para que logo no
primeiro ano de abertura, 1988, a casa-museu recebesse 5500 visitantes, número que atingiu
14700 no ano de 2003.
Sendo uma das casas-museu analisadas que melhor cumpre o estabelecido na
definição de museu, a sua integração na Rede Portuguesa de Museus desde 2002
reconheceu o esforço desenvolvido na investigação, recuperação e organização do
conjunto.
Por outro lado, o cruzamento dos seis percursos, e das actividades desenvolvidas ao
longo de cada um deles, permite que a Casa-Museu Frederico de Freitas renove de forma
dinâmica e periódica a sequência museológica. E o estudo continuado das colecções,
através da informatização do inventário e da procura de informação sobre cada uma das
peças, procura sempre que possível relacioná-las com a história e cultura da ilha da
Madeira, favorecendo estabelecer relações com outras entidades locais.
localização
Rua Prof. Egas Moniz, n.º 300, 3860-387 Estarreja
www.fundacaomadureira.com
ocupação da casa
35 anos, desde 1950 a 1985
abertura ao público
1988
tutela
Fundação Solheiro Madureira
director/técnico responsável
Delfim dos Santos Bismarck Álvares Ferreira
colecções
pintura, arte sacra, mobiliário, cerâmica, pratas
serviços disponibilizados ao público
espaços exteriores
tipo de actividades
visitas guiadas
intervenções no edifício
1. 1947/50 construção ▪ A.R.S., Arquitectura
1. 1988 adaptação a museu: ampliação ▪ Dr. António Madureira
2. 1999 beneficiação global e ampliação ▪ Fundação Solheiro Madureira
área terreno -
área bruta -
área útil -
documentação gráfica
-
documentação fotográfica
Fundação Solheiro Madureira [imagens 137, 138 e 140]
a casa . 2
A casa foi construída para o casal no final da década de quarenta pela A.R.S –
Arquitectura, nos arredores de Estarreja entretanto absorvidos pelo crescimento urbano,
num estilo de pequena casa portuguesa.
O edifício, afastado da rua por um jardim de traçado regular, desenvolve-se em dois
pisos. O primeiro, de vida comum, inclui sala, biblioteca, varanda, sala de jantar, copa,
cozinha e adega. O segundo, mais íntimo, acolhe quartos e escritório do Dr. Madureira.
da casa ao museu . 3
a Fundação Madureira
Após o falecimento de Marieta Solheiro Madureira, o Dr. António Madureira, não tendo
descendestes, decidiu transformar a casa em museu que abriu ao público pela primeira vez
em Maio de 1988.
Mais tarde, preocupado com o destino dos seus restantes bens e com a subsistência da
casa-museu, António Madureira instituiu a Fundação Madureira a 5 de Dezembro de 1992,
tendo como objectivos a conservação da Casa-Museu Solheiro Madureira, a instituição de
um prémio anual para investigação no âmbito da alimentação humana e o
desenvolvimento cultural dos concelhos de Estarreja e Murtosa.
Durante a primeira década, o próprio António Madureira, habitando a casa, acolhia os
visitantes. Em 1997, foi contratado um técnico-superior na área de Museologia que gere a
casa-museu e a fundação. Apoia-o D. Adelaide, empregada interna do casal, usufrutuária
e residente da casa.
o conhecimento do edifício
Não foi possível encontrar documentação gráfica nem na própria Casa-Museu, nem no
Arquivo da Câmara Municipal de Estarreja onde o processo de licenciamento da casa do
Dr. Madureira, que constava do Livro I, n.º 168 de 1947, desapareceu, nem nos arquivos dos
diferentes herdeiros da A.R.S., Arquitectura.
No entanto, as principais alterações são claramente visíveis ou encontram-se registadas.
a casa-museu . 4
No panorama das trinta e quatro casas-museu objecto de estudo, a qualidade da
conservação do espólio e do edifício da Casa-Museu Solheiro Madureira contrasta com a
sua reduzida capacidade de acolhimento dos visitantes, condicionada pela falta de
espaços complementares.
No entanto, existe a intenção de, a médio prazo, construir no quintal um novo edifício
que permita colmatar essas dificuldades.
localização
Soutosa, 3620-443 Peva, Moimenta da Beira
ocupação da casa
desde 1895, casa de férias; entre 1904 e 1906, residência permanente
abertura ao público
1988
tutela
Fundação Aquilino Ribeiro
director/técnico responsável
!
colecções
biblioteca e objectos pessoais de Aquilino Ribeiro, mobiliário, faiança, escultura e pintura
serviços disponibilizados ao público
espaços exteriores, biblioteca
tipo de actividades
visitas guiadas
intervenções no edifício
1. 1986/88 adaptação a museu ▪ Fundação Aquilino Ribeiro
2. - adaptação: casa do caseiro e biblioteca ▪ Fundação Aquilino Ribeiro
área terreno -
área bruta -
área útil -
documentação gráfica
-
documentação fotográfica
Fundação Aquilino Ribeiro [imagem 145]
a casa . 2
A casa de Soutosa, concelho de Moimenta da Beira, pertencia a um avô do escritor e
foi herdada por seu pai, Joaquim Francisco Ribeiro. Em 1895, a família abandona Carregal
da Tabosa e muda-se para Soutosa.
Estudante, Aquilino ali regressava durante as férias. "A casa tinha, então, dois pisos. No
primeiro, ficava a sala de entrada revestida a forro de madeira em forma de abóbada. No
piso de baixo, situava-se a loja, com cinco janelas, onde se deixavam as arcas de cereal, o
feno e a palha, e a cozinha com a lareira típica." [19 ▪ Paula Ribeiro, 1997, p. 13]
Por sua vez, Aquilino herdou a casa em 1918.
"Na efervescência política dos anos 20, na qual Aquilino estará bastante envolvido, a
casa da Beira será sempre um refúgio. E com as idas e vindas de Aquilino ao estrangeiro,
Grete passa grandes temporadas na aldeia. O casarão estava, na altura, completamente
desprovido de conforto: não havia água quente, nem electricidade, os lobos rondavam a
casa e o clima mantinha-se desfavorável." [19 ▪ Paula Ribeiro, 1997, p. 14]
Na década de 1930, regressando definitivamente do exílio, procedeu a grandes obras
de reparação da casa, melhorando as condições de habitabilidade. No interior, modifica
alguns compartimentos demolindo paredes divisórias, no exterior a plantação de um
conjunto de tílias definiria melhor o terreiro posterior criando um pátio agradável.
da casa ao museu . 3
a fundação
Após a morte de Aquilino Ribeiro a casa de Soutosa foi herdada pelo seu filho mais
velho, Aníbal Aquilino Fritz Tiedemann Ribeiro que a habitou, juntamente com a esposa, a
partir de finais dos anos oitenta.
Paralelamente desenvolveram o projecto de criar uma casa-museu e uma biblioteca,
instituindo em Agosto de 1988 a Fundação Aquilino Ribeiro com o objectivo de organizar
exposições permanentes e temporárias de arte, bibliografia e etnografia.
o programa
Pela primeira vez na história das casas-museu portuguesas o desequilíbrio entre espólio e
edifício representa uma verdadeira dificuldade. Talvez por isso, o programa apresentado
em 1990 no primeiro Boletim Trimestral da Fundação fugia ao problema concentrando-se
na ocupação de dois outros edifícios da quinta a que correspondem três casas.
A Casa de S. João acolheria a biblioteca do escritor; a contígua Casa do Aldeão,
antiga residência do caseiro, seria ocupada com um núcleo museológico de carácter
etnográfico evocador do ambiente descrito nas Terras do Demo; e a Casa da Boavista, no
centro da propriedade, receberia as exposições temporárias, solução abandonada
posteriormente.
a casa-museu . 4
"A Casa-Museu Aquilino Ribeiro parece ficar um pouco nos confins do mundo, e fica,
fica nessas Terras do Demo que não foram trazidas de todo, neste findar de século, ao
encontro fácil de todos os caminhos." [153 ▪ Boletim Trimestral n.º 3, Julho-Setembro, 1990]
A longa viagem não é recompensada pela visita à casa-museu. Apenas os
investigadores da obra de Aquilino Ribeiro ali poderão encontrar motivação, consultando a
biblioteca recentemente aberta ao público após um longo trabalho de inventariação e
concepção de catálogo informático.
Apesar das potencialidades, a sobrevivência do conjunto dependerá de uma nova
estratégia de gestão e de acolhimento ao público que seja capaz de explorar a ainda não
descoberta dimensão de centro de estudos e de cultura especializado.
61 A nossa proposta para a realização de um levantamento sucinto foi recusada. Não foi possível aceder a
qualquer documentação sobre o edifício e as intervenções realizadas. O levantamento fotográfico foi limitado
ao exterior.
208 da casa ao museu
a experimentação: 1990-2005
localização
Largo Artur Barreto, n.º 24, Condeixa-a-Nova
ocupação da casa
infância
abertura ao público
1990
tutela
Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova
director/técnico responsável
Presidente da Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova
colecções
intervenções no edifício
1. 1987/88 adaptação ▪ Gabinete Técnico Local da Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova
documentação gráfica
Arquivo da Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova [intervenção 1]
documentação fotográfica
Casa-Museu Fernando Namora [imagem 151]
a casa . 2
A casa, no centro de Condeixa-a-Nova, foi alugada pelos pais de Fernando Namora
que com eles viveu até partir para Coimbra em 1929. A família habitava no andar superior e
vendia fazendas, calçado e miudezas na loja do rés-do-chão.
Mais tarde, a loja seria ocupada por uma agência funerária e a casa por um taxista.
da casa ao museu . 3
No início da década de 1980, o Grupo de Amigos de Fernando Namora e a Câmara
Municipal de Condeixa-a-Nova empenharam-se na classificação da casa como Imóvel de
Interesse Público, atribuída em Novembro de 1982, tendo em vista a criação de uma casa-
-museu dedicada ao seu conterrâneo.
Cinco anos depois, em 1987, a autarquia adquiriu o edifício.
o programa
Consideradas as alterações a que o edifício foi sujeito e ponderada a inviabilidade de
recuperar as características da casa na época em que tinha sido habitada pelo
personagem, o programa antevia a recuperação do edifício para nele instalar um
pequeno conjunto de salas de exposição que funcionariam como espaço-memória, sem
procurar estabelecer uma relação directa com a configuração do espaço existente nas
décadas de 1910/1920.
P 2. 1987
6 5
P 1. 1987 P 1. 1988
1 2
P 0. 1987 P 0. 1988 E1 E2
1988. Gabinete Técnico Local da Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova : 1 pátio de entrada. 2 recepção/loja/sala polivalente. 3
1:500
reserva. 4 sala 1. 5 sala 2 - escritório de Lisboa. 6 sala 3. 7 alpendre. 8 pátio.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
o património móvel
Após a conclusão das obras, o espólio foi organizado a partir de um legado do escritor,
completado pela família após a sua morte, contendo livros, manuscritos, provas
tipográficas, revistas, pinturas de Namora e outros artistas, esculturas, fotografias,
condecorações, diplomas, objectos pessoais – relógio, carteira, cartões de identificação,
cigarreiras, cachimbos, última máquina de escrever, canetas –, e o mobiliário do seu
escritório da casa na Avenida Infante Santo em Lisboa, acrescentado com ofertas e
aquisições da obra completa do escritor e de filmes em vídeo adaptando romances da sua
autoria.
O inventário do acervo foi reunido em cinco volumes: 1. livros (1 a 3686), 2. revistas (3687
a 4471), 3. pintura, escultura, mobiliário e outros objectos (4472 a 5276), 4. livros e outras
publicações recebidos após a inauguração (5277 a 6974) e 5. ofertas e aquisições.
O núcleo de pintura foi instalado na sala polivalente e na primeira sala do primeiro piso,
o escritório de Lisboa ocupou a segunda sala de exposição e os restantes objectos foram
instalados em estantes e vitrinas na terceira.
a casa-museu. 4
A Casa-Museu Fernando Namora foi inaugurada a trinta de Junho de 1990 pelo
Presidente da República Mário Soares e recebe cerca de mil visitantes por ano, quase todos
portugueses.
No conjunto dos casos de estudo, esta casa-museu corresponde à primeira situação em
que não existindo nem colecção nem vestígios da ocupação do edifício se insistiu na
elaboração de um espaço expositivo evocador do personagem no interior da casa onde
nasceu e viveu na infância.
A opção de manter um certo ambiente doméstico, reinstalando o escritório lisboeta do
escritor, sem qualquer referência à ocupação original procurou criar um equilíbrio entre
património edificado e património móvel disponíveis, permitindo à autarquia iniciar um
projecto de dinamização cultural da cidade. No entanto, face à pequena dimensão do
espaço e da exposição, e à reduzida capacidade de acolhimento do público, este espaço
apenas poderá ser entendido como ponto de partida.
Nesse sentido, a autarquia criou, ainda em 1990, a Associação da Casa-Museu
Fernando Namora com o objectivo de promover acções culturais e sociais a partir da nova
entidade museológica, estimular o interesse pela obra do escritor, conceber diversas formas
de comunicação com o público, organizar exposições, colóquios e reuniões sobre
literatura, apoiar estudos e edições que divulguem a casa-museu e cooperar com outras
entidades, nomeadamente com a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova com a qual foi
estabelecido um protocolo de intercâmbio cultural designado Terras de Namora.
localização
Rua Coelho da Rocha, 16, 1250-088 Lisboa
ocupação da casa
15 anos desde 1920 a 1935
abertura ao público
1993
tutela
Câmara Municipal de Lisboa
director/técnico responsável
Clara Ferreira Alves
colecções
biblioteca pessoal de Fernando Pessoa, objectos pessoais, biblioteca especializada em poesia
serviços disponibilizados ao público
recepção, salas de exposição temporária, espaços exteriores, biblioteca, loja, auditório, cafetaria
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições, conferências, leituras, encontros, performances, edição (revista Tabacaria)
intervenções no edifício
1. 1991/93 demolição e reconstrução ▪ Arq. Daniela Ermano
documentação gráfica
Câmara Municipal de Lisboa
(não foi possível obter autorização de acesso a documentação gráfica; as plantas foram redesenhadas
a partir dos desenhos disponibilizados no desdobrável da Casa Fernando Pessoa e da visita ao local)
documentação fotográfica
Câmara Municipal de Lisboa: Casa Fernando Pessoa [imagens 155 e 157]
a casa . 2
"Casas foram mais de vinte, mas teriam de ser centenas para acolher tantos Fernandos.
Na verdade, não viveu em nenhuma, ao passo que nele moraram muitos." 62 [19 ▪ Paula
da casa ao museu . 3
entre espólio e edifício
O edifício, em ruínas, e o espólio foram adquiridos pela Câmara Municipal de Lisboa no
início dos anos 90 do século XX, no âmbito de uma estratégia política e cultural da
presidência da autarquia e do respectivo pelouro da cultura.
O espólio inclui 1200 exemplares da biblioteca pessoal de Fernando Pessoa, anotados,
sobre poesia, hermetismo, matemática, religião e filosofia; bibliografia activa e passiva
sobre a vida e obra do escritor; e, ainda, um núcleo de poesia contemporânea nacional e
internacional.
o programa
O último local de habitação de Fernando Pessoa funcionou como um pretexto para a
criação de um centro cultural dedicado à divulgação da poesia portuguesa.
"Apesar de ocupar o edifício onde Fernando Pessoa viveu os seus últimos 15 anos, [a
Casa Fernando Pessoa] foi criada tomando este facto histórico como ponto de partida e
como base para uma ideia mais alargada de funcionamento. Ainda que se assuma este
espaço como um lugar de memória, com referências à vida e obra do poeta, estas servem
como amplificadores de uma actividade multicultural que pretende, mais do que divulgar
62 Desde que nasceu Fernando Pessoa viveu em inúmeras casas referidas por Paula Ribeiro em Casas
d'Escritas : quarto andar do n.º 4 do Largo de São Carlos em Lisboa (1888), terceiro andar do n.º 104 na Rua de
S. Marçal ao Príncipe Real (1893), cottage em Durban na Africa do Sul (1896), casa da tia-avó em Pedrouços
(1904), casa da tia Anica no segundo esquerdo do n.º 19 da Rua de São Bento (1905), primeiro andar do n.º 100
da Calçada da Estrela (1906), primeiro andar do n.º 17 da Rua da Bela Vista à Lapa (1907), quarto no primeiro
andar do n.º 18 do Largo do Carmo (1908), casa da tia Anica no terceiro esquerdo do n.º 24 da Rua Passos
Manuel (1912), casa da tia Anica no terceiro direito do n.º 119 da Rua Pascoal de Melo (1914), quatro quartos
um na Rua D. Estefânia, outro na Rua Antero de Quental, outro na Rua Almirante Barroso e outro ainda na Rua
Cidade da Horta (1916), Rua Bernardim Ribeiro (1917), Rua de Santo António dos Capuchos (1918), Avenida
Gomes Pereira (1919) e o primeiro direito do n.º 16 da Rua Coelho da Rocha em Campo de Ourique (1920).
[19 ▪ Paula Ribeiro, 1997, p. 76-79]
casas-museu em portugal 219
022
casa-museu Fernando Pessoa
P 3. 1993
P 2. 1993
P 1. 1993
P 0. 1993 E1 E2
P -1. (não foi possível obter ou produzir informação gráfica sobre este piso)
1993. Arq. Daniela Ermano: 1 entrada. 2 recepção/loja. 3 corredor exterior. 4 sala de exposição temporária. 5 espelho de água. 6 pátio. 7
restaurante. 8 elevador. 9 biblioteca. 10 quarto de Fernando Pessoa. 11 administração. 12 auditório. Nota: não foi possível obter a planta do 1:500
piso -1: instalações sanitárias, arrecadações.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
a casa-museu. 4
A Casa Fernando Pessoa abriu ao público a 30 de Novembro de 1993, criando um lugar
de experimentação de fusão da poesia com outras formas de expressão artística: artes
plásticas, teatro, cinema, declamação.
Embora não se tenha pretendido construir um museu, nem sequer um local de culto do
personagem, criando antes um espaço de referência no panorama cultural da capital, as
actividades desenvolvidas por esta instituição – visitas guiadas, congressos e encontros
literários, lançamentos de livros – no âmbito da cultura, da educação e da divulgação,
particularmente interessantes para o desenvolvimento da sociedade, enquadram-na
facilmente na actual definição de museu.
Ao evitar a utilização da palavra museu a Casa Fernando Pessoa procurou demarcar-se
da carga institucional associada aos museus, pretendendo oferecer ao público movimento,
vanguarda e desassossego, dinamismo e contemporaneidade. Estranhamente, no âmbito
museológico o termo casa seria bastante mais limitador.
casas-museu em portugal 221
023
1993 . casa-museu Maurício Penha
localização
Rua Fonte de Baixo, 5, 5070-367 Sanfins do Douro
ocupação da casa
infância, adolescência e últimos 7 anos, férias durante os restantes anos
abertura ao público
1993
tutela
Fundação Casa-Museu Maurício Penha
director/técnico responsável
José Carlos Boura
colecções
escultura, fotografia, pintura, objectos etnográficos e arqueológicos
serviços disponibilizados ao público
sala de exposição temporária, espaços exteriores, biblioteca, sala de conferências, posto Internet
tipo de actividades
ateliers de artistas, visitas guiadas, exposições temporárias
intervenções no edifício
1. 1987/89 adaptação a museu ▪ Arq. Celestino de Castro
2. 1997 arranjo do jardim e anexos ▪ Arq. Celestino de Castro (não executado)
documentação gráfica
Casa-Museu Maurício Penha [intervenções 1 e 2]
Centro de Documentação da FAUP – Espólio do Arquitecto Celestino de Castro [intervenções 1 e 2]
documentação fotográfica
Casa-Museu Maurício Penha
Centro de Documentação da FAUP – Espólio do Arquitecto Celestino de Castro
a casa . 2
A casa, onde nasceu e viveu Maurício Penha, pertencia a seus pais, proprietários rurais,
que hospedavam outros familiares. O edifício unia duas antigas construções
independentes, acolhendo no piso térreo áreas de apoio à agricultura e no piso superior a
habitação com quinze pequenas divisões.
da casa ao museu . 3
a fundação
Maurício Penha institui em vida a Fundação Casa Museu Maurício Penha com o
objectivo de incentivar a população local a participar em actividades culturais, artísticas,
arqueológicas e museológicas.
Os estatutos, publicados a 11 de Fevereiro de 1989, propunham divulgar o património da
fundação vocacionado para o conhecimento paisagístico, histórico, arquitectónico e
arqueológico de Sanfins do Douro, através da realização de conferências e colóquios,
passeios e excursões, cursos e ateliers, promovendo o intercâmbio com instituições locais,
nacionais e estrangeiras, e criando condições de acolhimento em regime de residência
temporária de artistas e investigadores.
19
19
17
16
15
10 8
18 14
13 11 8
13
8
12 8 9 8
P 1. C 1/C 2. 1989
1 7
P 0. A1/A 2. 1989
35
35
33
32
31
34 30
29
28
27 27 27
P 1. 1989
23
24
25
22
20 26
21
P 0. 1989 E1 E2
1 pátio coberto. 2 alfaias. 3 reserva. 4 zona coberta. 5 quintal. 6 despensa. 7 lagares. 8 quarto. 9 sala. 10 varanda. 11 sala de jantar. 12 sala de
visitas. 13 alcova. 14 entrada. 15 cozinha. 16 arrecadação. 17 sala de estar. 18 jardim. 19 lenha.
1989. Arq. Celestino de Castro: 20 átrio. 21 direcção. 22 reserva. 23 atelier de restauro. 24 pátio. 25 arrecadação. 26 sala de conferências.
27 sala de exposição. 28 quarto. 29 arrumo. 30 entrada. 31 cozinha. 32 zona de refeições. 33 atelier/biblioteca. 34 jardim. 35 anexos 1:500
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
a casa-museu . 4
Sendo um dos raros museus da região, a acção museológica e cultural da Casa-Museu
Maurício Penha concentra-se sobretudo no público local, optando por renovar
frequentemente a exposição de peças da colecção através de exposições temporárias
sobre temas directamente relacionados com a população de Sanfins do Douro e
disponibilizar acesso à Internet e apoio bibliográfico aos utilizadores. Por outro lado, a
organização de residências de artistas permite que se produzam instalações efémeras para
os espaços públicos da povoação, aproximando os habitantes da casa-museu.
Paralelamente, procura-se aumentar a inserção em circuitos turísticos da região do
Douro.
localização
Rua do Castelo nº 2, Aljezur
ocupação da casa
15 anos desde 1977 a 1992
abertura ao público
1995
tutela
Câmara Municipal de Aljezur
director/técnico responsável
-
colecções
mobiliário, pintura, antiguidades, tecidos, cerâmicas e objectos vários
serviços disponibilizados ao público
espaços exteriores
tipo de actividades
visitas
intervenções no edifício
1. 1994 adaptação a museu ▪ Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur
documentação gráfica
(desenhos realizados a partir de uma planta de Aljezur à escala 1/1000)-
documentação fotográfica
Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur
10
9 7
8 6 5
2 3 11
1:500
1994 : 1 entrada. 2 sala. 3 quarto. 4 casa de banho. 5 vestíbulo. 6 cozinha. 7 atelier. 8 despensa. 9 arrumo. 10 entrada superior. 11 jardim.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
a casa . 2
No centro histórico de Alzejur, muito perto do castelo, a casa desenvolve-se em
pequenas divisões ligadas entre si por sucessivos degraus que adaptam a construção ao
declive acentuado. Tendo sido adquirida pelo pintor em 1977 para residência de férias, foi
ocupada de forma permanente a partir de 1990, dois anos antes do falecimento do seu
proprietário em 1992.
da casa ao museu . 3
a doação
Através do seu testamento, redigido a 19 de Agosto de 1990, José Cercas doou à
Câmara Municipal de Aljezur a casa com todo o seu recheio, incluindo o espólio artístico do
pintor, com o objectivo de nela instalar uma casa-museu com o seu nome.
a casa-museu . 4
A pequena Casa-Museu José Cercas faz parte do núcleo museológico da Câmara
Municipal de Aljezur estando integrada no circuito histórico-cultural, visitável através da
localização
Rua Nossa Senhora da Gaiola, 2410-513 Cortes, Leiria
www.fmsoares.pt
ocupação da casa
férias e últimos anos de vida
abertura ao público
1996
tutela
Fundação Mário Soares
director/técnico responsável
Ana Mercedes Stoffel Fernandes
colecções
arquivos pessoais de João Soares e de Mário Soares
ofertas ao Dr. Mário Soares enquanto Primeiro Ministro e Presidente da República
obras de arte
serviços disponibilizados ao público
recepção, espaços exteriores, biblioteca, loja, auditório, dois apartamentos, anfiteatro ao ar livre
tipo de actividades
visitas guiadas, serviços educativos, acções de formação diversas, encontros museológicos,
conferências, serões literários, exposições temporárias
intervenções no edifício
1. 1995 adaptação a museu ▪ Arq. Daniela Ermano
documentação gráfica
Fundação Mário Soares e Casa-Museu – Centro Cultural João Soares [intervençãos 1]
documentação fotográfica
Fundação Mário Soares e Casa-Museu – Centro Cultural João Soares
a casa . 2
Da sua posição elevada, junto à Igreja no centro da aldeia das Cortes, a casa de
lavoura, construída no início do século XX, pertencia à irmã mais velha de João Soares que
a visitava frequentemente. A afeição que lhe dedicava, levou-o a adquirir a propriedade
aos herdeiros da irmã, renovando-a no final dos anos cinquenta com a ideia de nela
habitar durante os últimos anos de vida.
Em 1970, os netos, Isabel e João, receberam-na em herança, e desde então, a casa era
ocupada apenas esporadicamente, degradando-se profundamente ao longo dos anos.
da casa ao museu . 3
Para impedir a destruição completa do edifício, a propriedade foi doada à Fundação
Mário Soares com o objectivo de nela instalar uma casa-museu e um centro cultural João
Soares.
21
19
20
18
17
22 E1
15 16
P i. 1: 10000
14
P 2. 1995
11
8 9
12
10 12 12 13
P 1. 1995
8 9
6 5 4 3
P 0. 1995
1 2
P -1. 1995 E2
1995. Arq. Daniela Ermano : 1 sala polivalente. 2 reservas. 3 entrada. 4 recepção/loja. 5 entrada serviço. 6 sala 1: Mário Soares: um Cidadão
em Portugal e no Mundo. 7 sala 2. 8 apartamento T1. 9. apartamento T2. 10 biblioteca. 11 sala João Soares. 12 administração. 13 sala 3: Da
Monarquia à I República. 14 sala 4: Do Estado Novo à Democracia.
1:500
1995. Arq. Ribeiro Teles: 15 terraço. 16 mata. 17 anfiteatro. 18 pomar. 19 pérgola. 20 estacionamento. 21 mata ripícola. 22 tanque.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
o programa
O programa previa a instalação da exposição permanente e de uma biblioteca em
colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian, a criação de uma sala polivalente, a
organização de reservas para armazenamento dos presentes de Mário Soares, a
construção de dois apartamentos, a reorganização dos terrenos da cerca e a construção
de um parque de estacionamento.
O projecto de arranjos exteriores foi desenvolvido pelo Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles
que transformou a propriedade num jardim público. Espaços como o terraço, o anfiteatro
ao ar livre e os socalcos do pomar permitem desenvolver actividades no exterior do edifício
aproveitando a vista sobre a paisagem do vale das Cortes.
a casa-museu . 4
Desde a abertura ao público em Dezembro de 1996, a Casa-Museu/Centro Cultural
João Soares organiza visitas guiadas para escolas e grupos, acções de formação diversas,
encontros museológicos, conferências, serões literários e exposições temporárias, e através
dos seus serviços educativos realiza actividades nas áreas do teatro, cinema e literatura,
abrangendo público desde os 3 anos à terceira idade.
A casa-museu acolhe também a Delegação da Zona Centro da Associação
Portuguesa de Museologia.
localização
Largo General Humberto Delgado, 2350-051 Boquilobo, Brogueira
ocupação da casa
9 anos desde 1906 a 1915
abertura ao público
19 de Maio de 1996
tutela
Associação Casa Memorial
director/técnico responsável
-
colecções
fotografias, imprensa, mobiliário do escritório de Humberto Delgado
serviços disponibilizados ao público
espaços exteriores, centro de documentação, posto Internet
tipo de actividades
visitas guiadas, serviços educativos, comemoração de efemérides
intervenções no edifício
1. 1995 recuperação da casa ▪ Arq. Nuno Sant'ana
2. 1996 adaptação dos palheiros ▪ Escultor José Aurélio
3. 1998 ampliação: auditório ▪ Arq. Nuno Sant'ana (não executado)
documentação gráfica
Arquivo Pessoal do Arq. Nuno Sant'ana [intervenções 1 e 3]
documentação fotográfica
Câmara Municipal de Torres Novas
Arquivo Pessoal do Arq. Nuno Sant'ana
a casa . 2
A modesta casa da aldeia de Boquilobo, onde Humberto Delgado nasceu e viveu até
aos nove anos, pertencia a seus pais e foi construída durante o século XIX.
da casa ao museu . 3
A informação sobre a Casa Memorial Humberto Delgado que conseguimos reunir é
extremamente reduzida. Assim, a caracterização geral do processo de transformação da
casa em espaço museológico que apresentamos resume um conjunto de dados
provenientes de testemunhos orais e, embora não tenha sido possível aceder a
documentação escrita que os comprove, é nossa convicção que noutras circunstâncias
será possível consultar alguns documentos referidos pela Dr.ª Manuela Tolda, directora da
Casa Memorial durante alguns anos.
o programa
A dimensão e características do acervo, do edifício e do terreno, o isolamento da aldeia
de Boquilobo, as verbas disponíveis e os escassos recursos humanos, levaram a Junta de
Freguesia a celebrar um protocolo com a Câmara Municipal de Torres Novas que permitiu
estabelecer as bases da intervenção a realizar. O programa inicial previa a constituição de
um espaço memória, versão simplificada de um programa museológico, através da
preservação dos edifícios existentes e espaços envolventes e da constituição do espólio,
considerando a sua futura conservação, exposição e divulgação.
Mais tarde, esse protocolo conduziu à formação da Associação Casa Memorial
Humberto Delgado, que assumiria a gestão do conjunto, antevendo a construção de um
pequeno auditório, espaços administrativos e reservas.
A 3. 1998
B
A
A 2. 1998
D
11
10
P -1. 1998
3 1 5 B
1995/96. Arq. Nuno Sant'ana / Escultor José Aurélio: A Casa Berço. B Casa Memória. C jardim. 1 cozinha. 2 sala. 3 quarto. 4 sala anexa à
cozinha. 5 entrada e sala de exposição. 6 sala de exposição, espaço administrativo, posto Internet. 7 i.s.
a casa-museu . 4
A acção da Casa Memorial Humberto Delgado concentra-se no acompanhamento de
visitas de estudo, acolhendo cerca de 600 a 700 visitantes por ano, envolvendo sobretudo
população escolar, e na comemoração de efemérides relacionadas com o personagem.
No sentido de ampliar as actividades desenvolvidas, de promover o estudo do espólio e
a investigação sobre a vida e obra do general, foram estabelecidas algumas parcerias e
acordos com instituições como a Fundação Humberto Delgado, a Fundação Mário Soares,
o Estado Maior da Força Aérea Portuguesa e a Amnistia Internacional, entre outras.
localização
Rua Júlio Dinis, n.º 81, 3880-238 Ovar
ocupação da casa
5 meses entre Maio e Setembro de 1863
abertura ao público
1996
tutela
Câmara Municipal de Ovar
director/técnico responsável
António França
colecções
objectos reconstituindo uma casa vareira tradicional retratando a passagem de Júlio Dinis pela casa
serviços disponibilizados ao público
sala de exposição temporária, espaços exteriores, biblioteca
tipo de actividades
visitas guiadas
intervenções no edifício
1. 1989/96 adaptação a museu ▪ Arq. Fernando Távora como elemento da Comissão de Instalação
2. 2003 beneficiação e ampliação ▪ C. M. Ovar ▪ arquitecto estagiário (não executado)
3. 2005 concurso para beneficiação e ampliação
documentação gráfica
Câmara Municipal de Ovar – Divisão da Cultura, Biblioteca e Património Histórico [intervenção 2]
documentação fotográfica
Câmara Municipal de Ovar – Divisão da Cultura, Biblioteca e Património Histórico [imagens 183, 186, 187
e 190]
a casa . 2
Após o aparecimento dos primeiros sintomas de tuberculose, refugia-se em Ovar na
casa de uma tia paterna, D. Rosa Zagato Gomes Coelho, que o acolheu durante cinco
meses de 1863, entre Maio e Setembro.
Na casa térrea comprida com pequenas divisões que se desenvolvem ao longo do
corredor, ficou instalado no quarto principal. A sua estadia e convalescença encontram-se
descritas na vasta correspondência que enviou e recebeu no Largo de Campos.
da casa ao museu . 3
a doação
"Já a 5 de Julho de 1924, o Dr. Egas Moniz propusera à câmara municipal que se criasse
a Casa de Júlio Dinis e que se lhe erigisse um monumento; Adelino Mendes, em 1957, no
Boletim da Casa do Concelho de Ovar, lutou pela fundação em Ovar, do Círculo Júlio Dinis;
Waldemar Gomes de Lima, em 1971, lembrava a instalação na Casa das Sombras duma
casa-museu Júlio Dinis, ou círculo, ou centro Dinisiano." [121 ▪ Alberto Lamy, 2001, p. 333]
Durante os anos 70, a Câmara Municipal de Ovar manifestou as primeiras intenções de
aquisição do edifício, classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto 29/84 de
25 de Junho (Diário da República n.º 145) e que, após uma década de negociações, seria
doado à autarquia pela família Bonifácio, herdeira da tia Rosa, em 1989, ano do 150.º
aniversário do nascimento de Júlio Dinis.
o conhecimento do edifício
O avançado estado de degradação do edifício e as alterações pontuais da sua
configuração estimularam a realização de uma pesquisa sobre a casa que acolheu
A 1. 1989/96… A 2. 1989/96…
A 3. 1989/96… A 4. 1989/96…
12 12
11 11
10 18
9 17
8 16
7 7
6 5 6 15
4 3 4 3
2 2
13 14
1 1
P 0. 1989/96… E1 E2 P 0. 2003
1989/96. "Arq. Fernando Távora": 1 sala. 2 quarto principal. 3 corredor. 4 quarto. 5 montra traje século XIX (antigo arrumo). 6 quarto de
apoio. 7 cozinha. 8 montra actividades tradicionais (antiga despensa). 9 i.s. (antigo arrumo da eira e do quintal) 10 eira. 11 poço. 12 quintal. 13
sala polivalente (antiga garagem)
2003. arquitecto estagiário da CMO: 14 recepção/loja/livraria/espaço administrativo. 15 biblioteca dinisiana. 16 reserva. 17 vestíbulo. 18
sala polivelente. 1:500
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
o programa
A Comissão de Instalação, composta por convite a personagens como o Arquitecto
Fernando Távora, o Dr. Fernando Baptista Pereira, Director do Museu de Setúbal, e a Dr.ª
Ana Duarte, da Câmara Municipal de Setúbal, e por técnicos da autarquia ovarense, ficou
responsável pela concepção do projecto de recuperação e musealização do edifício,
com o objectivo de valorizar a passagem de Júlio Dinis, preservar e divulgar o espólio
relacionado com o escritor, e conservar o ambiente da casa onde esteve instalado, como
memória do modo de vida vareiro, determinando a reposição do seu aspecto original e a
elaboração de uma exposição permanente de carácter etnográfico acompanhada por
elementos de referência ao escritor. O programa previa a reabilitação da casa, eira e
quintal, e a reconversão da antiga garagem em sala polivalente.
Esta simplicidade fez com que em pouco tempo este programa fosse totalmente
reconsiderado. A candidatura do museu à Rede Portuguesa de Museus em 2001 acelerou a
reflexão porque essa candidatura implicava corrigir a falta de condições de acolhimento
dos visitantes como recepção, loja/livraria temática, área de consulta da biblioteca
dinisiana, sala polivalente, e de espaços de apoio como reservas, sala de trabalho e
espaço administrativo.
a casa-museu . 4
A Casa de Júlio Dinis foi inaugurada após a recuperação do edifício a 23 de Julho de
1993 e o Museu Júlio Dinis – Uma Casa Ovarense, nela instalado, abriu ao público em 28
Março de 1996, fixando o momento muito curto da estadia do escritor na casa de sua tia.
Até ao encerramento, a exposição permanente ocupava oito divisões da casa: a sala -
ambiente do século XIX, o quarto principal - espólio original, o quarto secundário - espólio
adquirido, o corredor - objectos relacionados com a passagem de Júlio Dinis por Ovar , o
arrumo - traje vareiro feminino, a cozinha – espólio original, o quarto de apoio – peças de
vestuário e higiene, e a despensa – montra de actividades tradicionais.
A antiga garagem acolhia exposições temporárias de divulgação de outros espólios e
trabalhos de investigação relacionados com o personagem e com o concelho.
Os serviços administrativos e Centro de Documentação Dinisiano continuam em
funcionamento na Biblioteca Municipal.
localização
Rua Nossa Senhora de Fátima, 291, 4050-428 Porto
ocupação da casa
embora previsto nunca chegou a ocupar a casa
tutela
Câmara Municipal do Porto
director/técnico responsável
Maria da Luz Paula Marques
abertura ao público
1996
colecções
mobiliário, artes decorativas, jóias e pintura de autores portuenses
serviços disponibilizados ao público
recepção, espaços exteriores, biblioteca, loja
tipo de actividades
visitas guiadas, ateliers pedagógicos, edição
intervenções no edifício
1. 1955 construção ▪ Arq. José Carlos Loureiro e Arq. Pádua Ramos
1. 1981 programa de adaptação a museu (não executado) ▪ Câmara Municipal do Porto
2. 1983-84 adaptação a museu: ampliação (não executado)▪ Arq. José Carlos Loureiro e Arq.
Pádua Ramos
3. 1995 programa base de adaptação ▪ Dr.ª Laura Castro (não executado)
4. 1996 adaptação a museu ▪ Câmara Municipal do Porto
documentação gráfica
Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio [intervenções 1, 2 e 3]
documentação fotográfica
Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio [imagens 193 e 195]
a casa . 2
Nos anos cinquenta, Marta Ortigão Sampaio encomenda aos Arquitectos José Loureiro
e Pádua Ramos o projecto para um edifício na Rua Nossa Senhora de Fátima, no Porto, que
foi dividido em dois núcleos: um formado por apartamentos, outro destinado a habitação
da proprietária que por motivos de saúde nunca chegou a habitá-lo.
As divisões da casa desenvolvem-se em torno de um hall central de distribuição cujo pé-
-direito liga cinco dos seis pisos do edifício. Os compartimentos principais foram orientados a
sudeste com vista directa sobre o jardim. Os restantes, a noroeste, formam uma zona de
protecção em relação à rua.
O programa habitacional foi distribuído por pisos ligados através de escadas e elevador:
um piso de serviço, em contacto directo com o jardim, com sala de jantar, cozinha e zonas
de serviço; dois pisos de recepção, com salas e quarto de convidados; outro, mais privado,
com dois quartos; um piso para alojamento dos funcionários e lavandaria; e o último com
uma só divisão prevista para acolher uma pequena capela.
da casa ao museu . 3
o testamento
"Uma vontade antiga determinava tornar público um espaço que havia sido privado
(sem que no entanto tivesse existido um uso quotidiano a ele ligado) arrastando para esta
alteração funcional todos os objectos de arte adquiridos ao longo do tempo, todos os
móveis utilizados e, de uma maneira geral, todos os elementos que assistiram ao desenrolar
diário de uma vida. Arrastava-se, do mesmo modo, a disposição ordinária de todo este
manancial de materiais diversificados (o que veio a revelar-se um problema considerável).
Supostamente pretendia transferir-se para o espaço público todo o afecto com que
haviam sido adquiridas e dispostas as várias colecções, de maneira a formar um museu
sentimental num núcleo de artes decorativas." [230 ▪ Laura Castro, 1996, p. 14]
O testamento de D. Marta, de 11 de Setembro de 1974, definia a doação do edifício da
Rua Nossa Senhora de Fátima e os objectos e colecções da casa de S. Mamede à Câmara
Municipal do Porto, prevendo reuni-los para a criação de um museu com a designação de
Casa-Museu de Artes Decorativas S.O.S.S., cujas iniciais representam os nomes de família da
doadora: Sousa, Ortigão, Sampaio, Sequeira, onde seriam expostos os objectos e colecções
da sua casa de S. Mamede mantendo a disposição e relações existentes nesta.
o património móvel
O espólio é constituído por uma enorme diversidade de peças de arte, objectos de uso
quotidiano e recordações de família. Do ponto de vista museológico, empenhado no
estudo de autores, estilos e épocas precisos, a colecção de Marta Ortigão Sampaio parece
corresponder a uma sentimental acumulação de objectos sem critérios predefinidos.
P 4. 1955 P 4. 1996
25 44 44
24 43
26
22 23 42
P 3. 1955 P 3. 1996
20 26 26 41
21
26
18 19 39 40
P 2. 1955 P 2. 1996
17 16 15 26 38 37
13 14 35 36
P 1. 1955 P 1. 1996
12 11 29 34 33
8 30
9 10 31 32
P 0. 1955 P 0. 1996
7 6 5 26 28 28
26
2 26
4 27
3 26
1955 . Arq. José Carlos Loureiro e Arq. Pádua Ramos: 1 vestíbulo de serviço. 2 garrafeira. 3 despensa. 4 cozinha. 5 sala de jantar. 6 sala de
trabalho. 7 aquecimento. 8 vestíbulo. 9 garagem. 10 living. 11 sala de estar. 12 saleta. 13 quarto de hóspedes. 14 biblioteca. 15 sala de visitas.
16 saleta. 17 arrumos. 18 banho. 19 quarto de D. Marta. 20 quarto. 21 casa forte. 22 quarto criadas. 23 secagem. 24 lavandaria. 25 sala.
1996. Câmara Municipal do Porto : 26 reservas. 27 serviços educativos. 28 colecção de jóias. 29 alpendre. 30 entrada. 31 sala Sofia de
Sousa. 32 e 33 sala Aurélia de Sousa. 34 sala dos exercícios de pintura de D. Marta. 35 sala de projecção. 36 escritório. 37 sala de estar.
38 estúdio fotográfico. 39 casa de banho. 40 quarto de D. Marta. 41 serviços educativos. 42 biblioteca. 43 reserva. 44 gabinete administrativo.
1:500
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
C D
30 30
17
30
29
13
25 28 27
15 16 18
26 27
3
P 2. 1995 (não executado)
24 24
23
7 9 10
21
11
6 3 5 12
22 24
1
4 P 0. 1995 (não executado)
10
2
3
19 20
19
19 20
1983 . Arq. José Carlos Loureiro e Arq. Pádua Ramos: 1 vestíbulo de serviço. 2 sala do pessoal. 3 depósito. 4 gabinete técnico. 5 gabinete
do conservador. 6 aquecimento. 7 sala Marta Ortigão Sampaio Sequeira (móveis, salão azul, fotografias) 8 sala de exposições temporárias. 9
arrecadação. 10 jardim. 11 rampas. 12 sala de exposição de objectos (louças, tecidos, pratas). 13 entrada. 14 entrada. 15 secretaria. 16
biblioteca. 17 sala de pintura do século XIX e sala Aurélia de Sousa e Sofia de Sousa. 18 galeria (exposição de pintura).
1995. Dr.ª Laura Castro: 19 áreas de apoio. 20 exposição temporária. 21 entrada. 22 recepção. 23 móveis e peças decorativas. 24
exposição de pintura. 25 gabinete de apoio. 26 casa de banho. 27 exposição de móveis. 28 exposição de jóias. 29 sala de apoio. 30 atelier.
o programa
Na tentativa de conciliar o património disponível com os conhecimentos museológicos
dos técnicos da Divisão de Museus, preocupados com a dificuldade de concepção de
uma exposição baseada em critérios históricos e museológicos determinados pelo estudo
do espólio, estabeleceram-se diversas reflexões/hipóteses para a concretização de um
programa de instalação da colecção no edifício, nem sempre coincidentes com o definido
e eventualmente desejado pela doadora, mas com o objectivo de criar uma entidade
museológica coerente e útil:
1 a recriação dos ambientes da habitação da Quinta de S. Mamede de Infesta – casa
apalaçada do século XIX – no edifício da Rua Nossa Senhora de Fátima – marcado pela
concepção arquitectónica dos anos 50 do século XX – anunciava inúmeros inconvenientes
para conseguir conciliar edifício e espólio sem descaracterizar qualquer um deles;
2 a criação de um museu de artes decorativas que recriasse certos ambientes do século
XIX em espaços de meados do século XX, complicaria a interpretação do conjunto e a
leitura de cada colecção do espólio;
3 a exposição independente de cada colecção facilitaria a apresentação e
compreensão de cada núcleo do espólio, permitindo valorizar, por exemplo, o conjunto de
pinturas com particular destaque para as obras das irmãs Sousa;
4 a organização do acervo como reserva visitável permitiria reunir a totalidade do espólio
no edifício, apresentando todas as peças, da mais à menos valiosa e/ou interessante,
reduzindo o distanciamento entre as peças e revelando a inconstância do método de
formação da colecção e o espírito coleccionador de Marta Ortigão Sampaio.
Em Julho de 1995, a Dr.ª Laura Castro elabora um novo Programa Para a Abertura do
Legado D. Marta definindo a Organização do Espaço, Condições de Exposição e Hipóteses
de Abertura do Núcleo S.O.S.S..
Redigindo uma breve história da doadora, do edifício e da doação, este documento
propunha essencialmente uma nova distribuição da colecção no edifício, restringindo a
exposição às salas existentes, minimizando a intervenção arquitectónica, definindo
percursos de visita contínuos em cada piso através da abertura ou encerramento pontual
de vãos interiores e prevendo a instalação de suportes adaptados às peças expostas e de
dispositivos de iluminação adequados.
Retomando alguns aspectos do programa de 1981, esta proposta, acompanhada de
desenhos, previa a seguinte organização:
▪ piso inferior – exposições temporárias e/ou gabinetes de trabalho prevendo a demolição
das várias divisórias da área de serviços;
▪ rés-do-chão – transformação da garagem em recepção/loja, início da exposição
permanente com colecção de pintura 64 e ocupação da saleta com mobiliário;
▪ primeiro piso – instalação dos restantes núcleos da colecção de pintura;
▪ segundo piso – recriação de ambiente doméstico ocupando quarto principal e sala com
mobiliário e artes decorativas e a casa forte com a colecção de jóias;
▪ terceiro piso – oficinas e ateliers para realização de actividades educativas e oficinas
experimentais destinados a públicos variados.
IV
No ano seguinte, a instalação definitiva da colecção foi realizada sem recurso a uma
intervenção arquitectónica no edifício.
À hipótese de organização da totalidade do acervo como reserva visitável, respondeu-
-se com uma atitude conservadora de recriação de ambientes domésticos inspirados nas
vivências do século XIX, recorrendo apenas à exposição das peças mais valiosas do espólio.
Não tendo sido realizadas quaisquer obras de adaptação, nem sequer demolição pontual
de paredes e abertura de vãos de ligação das divisões, a circulação de visitantes e
funcionários encontra-se muito condicionada, obrigando a constantes avanços e recuos.
A exposição permanente foi organizada da seguinte forma:
▪ piso inferior – colecção de jóias, objecto de concepção museográfica específica;
▪ rés-do-chão – colecção de pintura, com destaque para as irmãs Aurélia e Sofia de Sousa;
▪ primeiro e segundo pisos – colecção de mobiliário, artes decorativas e pintura.
▪ terceiro piso – a biblioteca, com acesso restrito, ocupa o antigo quarto dos funcionários.
Os serviços do museu foram distribuídos pelos vários pisos: recepção e loja no exíguo
vestíbulo de entrada; serviços educativos na cozinha e na divisão contígua ao quarto de
Marta Ortigão Sampaio; serviços administrativos em duas salas do terceiro piso; sala de
projecção no antigo quarto de convidados e reservas em todos os pequenos
compartimentos sobrantes; não existindo sala de exposições temporárias.
a casa-museu . 4
As dificuldades de funcionamento da Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio, também
resultantes do processo aqui descrito, são parcialmente ultrapassadas pelo enorme
empenho dos serviços educativos cujas originais actividades investem frequentemente
casa, jardim e colecção, dinamizando o conjunto.
64 A colecção de pintura era organizada temática e cronologicamente em dez núcleos: 1 figuras da família;
2 Aurélia de Sousa e Sofia de Sousa; 3 pintores com estatuto de mestres; 4 naturezas mortas; 5 marinhas; 6
naturalistas; 7 aguarelistas; 8 artistas de menor reputação; 9 obras de D. Marta; 10 artistas estrangeiros.
258 da casa ao museu
029
1997 . casa-museu João de Deus II
197 fachada principal – 2005 201 São Bartolomeu de Messines – vista aérea
localização
Rua Dr. Francisco Neto Cabrita n.º 1, 8375-124 São Bartolomeu de Messines
http://www.cm-silves.pt/casa.museu.html e http://www.casa-m-joao-deus.rcts.pt
ocupação da casa
infância e adolescência
abertura ao público
1997
tutela
Câmara Municipal de Silves
director/técnico responsável
Maria Gabriela Martins
colecções
biblioteca activa e passiva sobre João de Deus, desenho e pintura
Legados de : Alzira Cabrita - artefactos em cortiça; Arnaldo Xavier Martins – isqueiros;
Maria Antonieta Júdice Barbosa - espólio literário; Augusto Pires Martins - espólio fotográfico
serviços disponibilizados ao público
recepção, espaço polivalente, espaços exteriores, biblioteca e hemeroteca, espaços dos serviços
educativos (ludoteca), cafetaria, espaço multimédia
tipo de actividades
exposições e instalações, conferências, ciclos (teatro, cinema, dança), concertos, mostras de livros,
encontros com poetas e escritores, lançamento de livros, ateliers pedagógicos, workshops, palestras,
fóruns, edição
intervenções no edifício
1. 1993 programa base ▪ GTL da Câmara Municipal de Silves ▪ Arq. Teresa Valente
2. 1994/95 adaptação e ampliação ▪ Arq. Mário Varela Gomes
documentação gráfica
Divisão de Obras Municipais - Câmara Municipal de Silves [intervenção 2]
documentação fotográfica
Casa-Museu João de Deus [imagem 200]
a casa . 2
No edifício do século XVIII, vizinho da Igreja Matriz, os pais de João de Deus instalaram
negócio no piso térreo e residência no piso superior, desconhecendo-se por quanto tempo
e em que condições precisas.
da casa ao museu . 3
o ponto de partida
A casa foi adquirida pela Câmara Municipal de Silves nos anos 80, tendo sido
desocupada em 1992. Ao aproximar-se o primeiro centenário da morte de João de Deus, a
autarquia, através da Associação de Estudos e Defesa do Património Histórico-cultural do
Concelho de Silves, procurou incentivar a população de S. Bartolomeu de Messines a
participar na reflexão inicial sobre a transformação do edifício num espaço dedicado ao
personagem.
Assim, durante 1993, foram realizadas várias reuniões, procurando reflectir sobre a
natureza do projecto e definir, em linhas gerais, os seus conteúdos funcionais. Enquanto a
população desejava criar um espaço museológico de homenagem, os responsáveis pela
Divisão da Cultura da autarquia idealizavam conceber um equipamento mais dinâmico,
capacitado para desenvolver actividades culturais, contribuindo para o desenvolvimento
cultural local e regional.
o programa
No sentido de concretizar as ideias debatidas, a Arquitecta Teresa Valente, no Gabinete
Técnico Local de Silves, elaborou em 1993 o Programa Base, prevendo a recuperação do
edifício para a musealização de um espaço dedicado à vida e obra de João de Deus, a
constituição de uma biblioteca e de um espaço de leitura, a instalação de uma sala
polivalente e a criação de espaços de apoio às actividades pedagógicas, com o objectivo
de criar um equipamento cultural capaz de contribuir para a valorização do património
imóvel, móvel e intangível, para a qualificação do espaço urbano envolvente e para o
incremento do turismo na região.
Entretanto, a dimensão do programa condicionou a sua distribuição por dois edifícios
distintos, a casa onde viveu o personagem e outro, lateral, situada do outro lado da Rua do
Arco.
18
14
17
13
12 11
16 b
15
10
P 2. 1994/95
4 5
3
5 8
2 c
7
b a
P 1. 1994/95
P 0. 1994/95 E1 E2
1994/95. Arq. Mário Varela Gomes : 1 recepção/loja. 2 espaço museológico: sala. 3 espaço museológico: cozinha. 4 espaço museológico:
quarto. 5 pátio. 6 reserva/arquivo. 7 arrumo. 8 entrada. 9 sala polivalente. 10 sala de exposição permanente. 11 biblioteca. 12 hemeroteca e
1:500
mediateca. 13. administração. 14 direcção. 15 ponte. 16 mirante. 17 cafetaria. 18 ludoteca.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
a casa-museu . 4
Inaugurada a 25 de Outubro de 1997, esta casa-museu, particularmente activa,
engloba numa escala adequada muitas das funções actualmente atribuídas ao museu. Se
em São Bartolomeu de Messines, do jardim-escola à mercearia, toda a vida gira em torno
da figura de João de Deus, o carácter de pequeno centro cultural desta instituição,
contribui para o conhecimento e desmistificação do personagem.
O multifacetado sistema de funcionamento tem permitido cativar públicos variados e
desenvolver inúmeras actividades nas quais a visita à exposição permanente representa
apenas uma pequena parte. O frenesi quotidiano concentra-se na biblioteca que regista a
presença de cerca de dez utilizadores diários, na hemeroteca que reúne publicações
periódicas sobre a vila e a região, na mediateca que disponibiliza equipamento informático
e acesso à Internet, funcionando como ponto de encontro de jovens e na ludoteca onde,
todos os dias, depois das aulas, as crianças participam em oficinas de escrita, artesanato,
expressão plástica e dramática. Por outro lado, a casa-museu organiza de forma regular
ciclos de cinema e teatro.
Entre 1998 e 2003, recebeu por ano cerca de 4000 visitantes.
localização
Quinta de Vila Nova - Tormes, 4640-433 Santa Cruz do Douro
www.feq.pt
ocupação da casa
férias em 1892 e outras visitas pontuais
abertura ao público
1997
tutela
Fundação Eça de Queiroz
director/técnico responsável
Maria da Graça Salema de Castro
colecções
espólio de José Maria Eça de Queiroz, abarcando várias colecções: pintura, mobiliário, loiça, fotografia,
pratas e objectos pessoais
serviços disponibilizados ao público
recepção, espaço polivalente, espaços exteriores, biblioteca, loja, auditório, casas de turismo rural,
adega, parque de estacionamento
tipo de actividades
culturais e/ou educativas, agrícolas e turísticas
visitas guiadas, serviços educativos, acções de formação, cursos de verão, eventos, congressos,
alojamento
intervenções no edifício
1. 1945 ampliação
1. 1990/94 adaptação: casas da quinta ▪ Arq. João Mesquita, Arq. Carlos de Azevedo
arranjos exteriores ▪ Arq. Teresa Andersen (coordenadora)
2. 1994/97 adaptação a museu ▪ Arq. José Luís Carvalho Gomes
documentação gráfica
Fundação Eça de Queiroz [intervenção 1]
Arquivo do Arquitecto José Luís Carvalho Gomes [intervenção 2]
documentação fotográfica
Fundação Eça de Queiroz [imagens 208 e 210]
a casa . 2
A casa da Quinta de Vila Nova, construída no início do século XVIII em torno de um
pátio central, pertenceu à família Figueirôa, depois aos Condes de Resende e foi herdada,
nessa condição, por D. Emília, esposa de Eça de Queiroz. Para conhecer a propriedade, o
escritor visita-a durante uma semana da Primavera de 1892, descrevendo-a: "O caminho
íngreme e alpestre da estação até à quinta é simplesmente maravilhoso, valles lindissimos,
carvalhos e soutos de castanheiros seculares, quedas d’ áqua, pomares, flores, tudo ha n'
aquelle bendito monte [...] Em quanto à casa é feia, muito feia; e à fachada mesmo pode
aplicar-se, sem injustiça, a designação de hedionda. Tem um arco enorme; e por baixo d'
elle duas escadarias parrallelas que são d' um mau gosto incomparavel. Como sollidez está
perfeita. Precisa apenas, por dentro, ser soalhada e caiada e o telhado necessita ser
visitado e reparado." [Carta de Eça de Queiroz a sua esposa, 1892]
A curta estadia repetiu-se três vezes, inspirando A Cidade e as Serras. Aliás, "a estreita
relação existente entre o cenário ficcional […] e o lugar real que lhe serviu de modelo – com
a estação de caminho de ferro, a casa, a exuberante paisagem das serras e a presença do
Douro – fez com que a designação literária de «Tormes» fosse gradualmente adquirindo
foros de genuíno topónimo. Hoje em dia, a Casa de Vila Nova é conhecida quase
exclusivamente como «Casa de Tormes», a escassa sinalização direccional existente
identifica como tal o lugar e até a típica estação da linha do Douro – onde,
imaginariamente, Jacinto teria descido do comboio – adoptou a denominação que a
ficção consagrou." [125 ▪ João Mesquita, 1997, p. 21]
da casa ao museu . 3
a Fundação Eça de Queiroz
Em 1970, D. Maria da Graça Salema de Castro e o marido, neto de Eça de Queiroz,
possuindo "dois terços dos bens deixados por Eça de Queiroz, para além da Quinta e Casas
de Vila Nova em Santa Cruz do Douro (Tormes), [pensaram] doar estes bens a uma
fundação a instituir em vida, a qual teria, como principais objectivos, a continuação e o
enquadramento institucional da divulgação e do estudo da obra de Eça de Queiroz, bem
como o desenvolvimento de toda uma gama de iniciativas culturais, tanto no âmbito
nacional, ou internacional, como de incidência mais estritamente regional." [124 ▪ Maria da
A partir de 1988, a Associação dos Amigos de Eça de Queiroz teve como principal
missão apoiar a formação da Fundação Eça de Queiroz, instituída em 1990, criando
condições para o seu desenvolvimento, a partir do património arquitectónico e agrícola da
Quinta de Vila Nova e do espólio doados, procurando conceber um programa capaz de
conciliar a realidade biográfica com a componente literária.
17 18
16
C 1. 1991/97
19
26 29
20 21 27
28
22
25
23
24
A 2. 1991/97 P 1. 1991/97
15
14 13
A 2. 1991/97
1
2
12
6 8 11
5
7
10
9
quinta P 0. 1991/97
A casa de Tormes, B eira e beiral. C parque de estacionamento. D adega. E mata. F casa do lúcio. G casa nova. H vinha nova. I casa de
lamelas. J casa dos campos novos.
1991/97. Arq. José Luís Carvalho Gomes : 1 pátio. 2 entrada. 3 loja (antigos lagares). 4 auditório. 5 sala de espera. 6 reserva. 7
administração. 8 alpendre. 9 apartamento (cozinha) 10. apartamento (sala). 11 arrumo. 12 capela. 13 sala polivalente. 14 jardim. 15 edifício
de apoio. 16 sala de entrada. 17 biblioteca. 18 sala-museu. 19 sala de estar. 20 varanda. 21 sala de jantar. 22 quarto Eça de Queiroz. 23
quarto. 24 i.s. 25 cozinha. 26 área de serviço. 27 varanda. 28 apartamento (quartos). 29 coro alto.
1:500
268 da casa ao museu 0 5 10
E1 E2
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
o conhecimento do edifício
Embora se conheçam os diversos proprietários da Quinta de Vila Nova, podendo
estabelecer-se comparações com outros imóveis pertencentes a essas famílias,
desconhece-se a história da evolução do conjunto edificado e das suas sucessivas
alterações. Em 1892, aquando da sua visita, Eça de Queiroz terá realizado um
levantamento das dimensões dos compartimentos da casa, do qual vimos cópias
praticamente ilegíveis que, redesenhado, poderá esclarecer o conteúdo das alterações e
ampliações realizadas nos anos 40.
o programa
Para atingir os seus objectivos e obter apoios, nomeadamente financeiros, a Fundação
Eça de Queiroz elaborou um pormenorizado programa abrangendo três domínios:
arquitectónico; museológico, cultural e turístico; e agrícola e paisagístico.
O programa arquitectónico previa: 1. a adaptação da casa principal a sede da
fundação e espaço museológico, reestruturando a área privada que manteria a função
residencial; 2. a instalação de um apartamento na antiga casa do caseiro, destinada ao
conservador; 3. a concepção e/ou aquisição de mobiliário de apoio às diferentes
actividades; 4. a reconversão das casas rústicas da quinta para acolher colaboradores ou
unidades de alojamento de turismo rural; e 5. a recuperação de instalações agrícolas,
como a adega, o armazém e a eira.
O programa museológico, cultural e turístico antevia: 1. a organização de um museu, de
um arquivo e de uma biblioteca sobre a vida e obra do personagem; 2. o desenvolvimento
de actividades de investigação, inventariação, classificação e conservação do património
literário do escritor; 3. a realização de visitas de estudo, conferências, congressos e
colóquios; 4. o acolhimento de investigadores da obra do escritor; 5. a edição regular de
publicações; 6. a formação contínua de professores de português; 7. a atribuição de um
prémio escolar regional, de uma bolsa de estudos e de um prémio literário; 8. a gestão da
quinta do ponto de vista turístico 9. o estabelecimento de parcerias; e 10. a organização de
percursos turísticos exteriores como os Percursos Queirosianos, o Caminho de Jacinto,
Tormes e os Escritores de Baião, visitas a outras Casas de Escritores; e 11. a promoção da
gastronomia queiroziana.
Finalmente, o programa agrícola e paisagístico determinava: 1. a reconversão da
quinta através de um plano de gestão capaz de incentivar outras explorações locais; 2. a
implantação de vinha contínua em três hectares e de vinha nova em outros cinco; 3. a
a casa-museu . 4
Embora a Casa de Tormes . Museu Queiroziano não utilize o termo casa-museu na sua
denominação, os critérios museológicos que a regem permitem inseri-la nesta categoria de
museus sobretudo se considerarmos a geração de casas-museu que denominamos
experimentação. No entanto, a especificidade temática que se encontra em Tormes e o
isolamento geográfico impedem que a componente museológica tenha maior importância
e constitua apenas mais uma das facetas da instituição.
localização
Rua Rosa Araújo, 41, 1250-194 Lisboa
www.fundacaomedeirosealmeida.pt
ocupação da casa
41 anos desde 1945 a 1986
abertura ao público
Junho 2001
tutela
Fundação Medeiros e Almeida
director/técnico responsável
Teresa Vilaça
colecções
artes decorativas: mobiliário, pintura, escultura, tapeçarias e tapetes, azulejos, porcelana chinesa,
pratas, jóias, relógios, leques
serviços disponibilizados ao público
recepção, sala de exposição temporária, espaço polivalente (cedência de espaços), loja, cafetaria
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições temporárias
intervenções no edifício
1. 1896 construção ▪ Construtor Manuel Correia Júnior
1. 1922 ampliação: anexo ▪ Arq. Carlos Rebelo de Andrade
1. 1923 ampliação: dois pisos e caixa de elevador ▪ Arq. Carlos Rebelo de Andrade
1. 1943 remodelação interior global ▪ Arq. Carlos Ramos
1. 1968/70 adaptação a museu: ampliação ▪ Arq. Alberto Pereira Cruz
2. 1999/00 remodelação piso inferior ▪ Arqui III: Arq. João de Almeida
documentação gráfica
Arquivo Intermédio da Câmara Municipal de Lisboa [consulta de todos os processos referentes às
intervenções excepto o de 1896 que se encontrava em restauro].
Fundação Medeiros e Almeida [intervenções 1 e 2]
documentação fotográfica
Fundação Medeiros e Almeida [imagens 213, 214, 215 e 217]
a casa . 2
A casa, edificada em 1896 pelo construtor Manuel Correia Júnior para o advogado
lisboeta Augusto Vítor dos Santos, foi vendida em 1921 a Eduardo Guedes de Sousa que
transforma, em 1922, um edifício anexo da habitação em garagem, quarto do motorista,
estufa e lavadouro e, em 1923, acrescenta à casa dois andares em mansarda forrada a
zinco, instalando simultaneamente aquecimento central e um elevador num novo pequeno
volume exterior ao edifício servindo todos os pisos, segundo projectos do Arquitecto Carlos
Rebelo de Andrade.
Monsenhor Pedro Ciriaci, Arcebispo de Tarso, adquire o imóvel em 1927 como
representante do Estado do Vaticano para nele acolher a Nunciatura Apostólica que, dois
anos mais tarde, efectua várias obras de reparação interior conducentes à instalação dos
seus serviços. Das intervenções, realizadas pelo construtor José Joaquim dos Santos, não
existe qualquer registo pois o proprietário gozava de direitos de exterritorialidade.
Finalmente, em 1943 o edifício é adquirido por António Medeiros e Almeida que o
transforma novamente em habitação através da concretização de um projecto do
Arquitecto Carlos Ramos, datado de Janeiro de 1945, que previa, na memória descritiva, a
substituição de todos os revestimentos de paredes, tectos e de alguns pavimentos, a
substituição de paredes de madeira por paredes de tijolo, a remodelação total das
escadas, casas de banho e a revisão completa de todas as redes técnicas. Embora
tenham sido feitos vários pedidos para obras de manutenção e beneficiação, entre 1953 e
1973, pensamos que a casa se mantém com as características do projecto de 1945.
Quando, na década de setenta, Medeiros e Almeida decide transformar a sua casa em
museu adquire a casa vizinha na Rua Rosa Araújo, onde residiria até à sua morte.
da casa ao museu . 3
a Fundação Medeiros e Almeida
Desde a década de sessenta, o casal Medeiros e Almeida, sem descendentes directos,
reflectia sobre o destino a dar à casa que habitava e à colecção de obras de arte que
nela reuniu, procurando evitar a dispersão do conjunto. A solução que encontraram
conduziu à criação da Fundação Medeiros e Almeida em 1973, cujos estatutos previam
dotar o país de uma casa-museu mantendo no essencial a concepção museológica
existente e conceder bolsas de estudo sobre temas de arte. Para cumprir esses
objectivos, Medeiros e Almeida doava simultaneamente à fundação outros bens, entre
36
P 3. 1943-68 P 4. 1943-68
A 1. 1968…
28 35
27 26 25 34
29
33
30
31 32
A 2. 1943… P 2. 1943-68
22 23 24
44 44
18 16 18 16
19 17 15 19 17 15
44
20 14 20 14 43
21 42
12 13 12 13
11 11
2 1 10 2 1 10
3 3
4 4
9 9 40
5 8 5 8
41 39
6 7 6 7
1943. Arq. Carlos Ramos – remodelação interior: 1 entrada de serviço. 2 quarto. 3 despensa. 4 quarto. 5 sala do pessoal. 6 casa forte. 7
armazém. 8 engomados. 9 serviço. 10 cozinha. 11 garagem. 12 vestíbulo. 13 sala. 14 sala de passagem. 15 sala. 16 biblioteca. 17 galeria. 18
copa. 19 sala de jantar. 20 escritório. 21 jardim. 22 apartamento dos motoristas. 23 estufa. 24 lavadouro. 25 galeria. 26 sacristia. 27 capela. 28
copa. 29 rouparia. 30 quarto de hóspedes. 31 sala. 32 banho. 33 quarto de vestir. 34 quarto de cama. 35 banho. 36 atelier de D. Margarida. 37
quartos e arrumos. 38 instalações dos funcionários.
1:500
1968. Arq. Alberto Pereira Cruz – ampliação, 1º projecto: 39 entrada da casa-museu. 40 museu: recepção. 41 instalações sanitárias. 42 início
0 5 10
da visita. 43 jardim de inverno. 44 sala de exposição.
www.fundacaomedeirosealmeida, 2005]
o conhecimento do edifício
A evolução do edifício é conhecida, existindo desenhos de todas as fases da sua
transformação. No entanto, o estudo da colecção instalada na ampliação construída em
1968, poderá contribuir para o conhecimento da concepção arquitectónica e ocupação
museológica, permitindo eventualmente compreender a estreita relação entre forma e
dimensionamento dos espaços e características das peças adquiridas antes, durante e
depois.
o programa
Na primeira fase, desenvolvida entre 1968 e 1970, sob orientação de Medeiros e
Almeida, o programa incluiu a ampliação do edifício para acréscimo da área de
exposição permanente, a criação de uma entrada da casa-museu e a instalação de
sanitários de apoio ao público.
Na segunda fase, iniciada nos anos 90 e conducente à efectiva abertura ao público, o
programa previa ainda a instalação, em espaços existentes, de outros serviços de apoio ao
público como recepção, cafetaria, loja, sala polivalente, sala de exposições temporárias, e
área de apoio a funcionários, gabinetes dos serviços administrativos da fundação e zonas
de reserva.
P 3. 1999… P 4. 1999…
C 1. 1968
60 60
60 59 64
60
63
60
61 62
C 2. 1970… P 2. 1999…
22 22 22 47 46 45
18 16 52 49 48
19 17 15 53 51 50
22 44
20 14 22 54 55 58
12 13 22 56 57
P 1. 1970 P 1. 1999…
26 36 37
11 25
2 1 10 29 27 35 38
3 24
28
4
24 22 22 30 34 43 42 39 40
9
31 32 33
5 8
23 21 41
6 7
P 0. 1970 P 0. 1999…
1970. Arq. Alberto Pereira Cruz – ampliação (desenho baseado no levantamento dos anos 90): 1 a 20 – ver legenda anterior. 21 hall de
entrada. 22 sala de exposição. 23 i.s. 24 reservas. 25 arrumo.
1:500
1999. Arqui III: 26 pátio de entrada. 27 entrada. 28 recepção. 29 sala de espera. 30 i.s. 31 cozinha dos funcionários. 32 vestiários. 33 reserva da 0 5 10
loja. 34 loja. 35 cafetaria. 36 sala polivalente. 37 arrumo. 38 sala de exposição temporária. 39 início da visita. 40 capela. 41 "átrio". 42 sala dos
c b
E1 E2
relógios. 43 sala das porcelanas. 44 galeria nova. 45 sala do piano. 46 sala Luís XIV. 47 quarto. 48 corredor Rainha Dona Catarina de Bragança.
49 sala. 50 salão. 51 galeria. 52 sala das pratas. 53 sala de jantar. 54 escritório. 55 sala de passagem. 56 saleta. 57 patamar 58 sala do lago. 59
galeria. 60 reserva. 61 sala de D. Margarida. 62 banho. 63 quarto de vestir. 64 quarto. 65 piso administrativo. 66 arrumos.
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso
a casa-museu . 4
A Casa-Museu Medeiros e Almeida abriu ao público apenas em Junho de 2001, mas a
sua história faz com que se adapte perfeitamente à anterior geração de casas-museu,
onde predominam grandes casas de coleccionadores.
No entanto, dois aspectos fundamentais permitem que a sua natureza se ajuste ao
terceiro grupo, rico em alternativas funcionais. Por um lado, a visita da eclética colecção é
um motivo de atracção e um complemento de outras actividades da fundação, como o
serviço de restauração quotidiano e a organização frequente de eventos de apoio a
diversas entidades. Por outro, a visita da casa-museu através do endereço electrónico da
Fundação Medeiros e Almeida é bastante completa, apresentando o conteúdo de todas
as salas da exposição permanente e demonstrando uma excelente capacidade de
adaptação a novos tipos de público.
localização
Rua de São Bento, 193, 1250-219 Lisboa
ocupação da casa
44 anos, desde 1955 a 1999
abertura ao público
2001
tutela
Fundação Amália Rodrigues
director/técnico responsável
Amadeu da Costa Aguiar
colecções
retratos, vestuário, jóias entre outros objectos pessoais, pintura, mobiliário do século XVIII e XIX,
serviços disponibilizados ao público
recepção, loja
tipo de actividades
visitas guiadas
intervenções no edifício
1. 1954 beneficiação ▪ Amália Rodrigues
1. 1999-2000 adaptação a museu ▪ Fundação Amália Rodrigues
área terreno -
área bruta -
área útil -
documentação gráfica
Na pesquisa realizada no Arquivo Intermédio da Câmara Municipal de Lisboa não foi possível encontrar
qualquer registo gráfico sobre o edifício e os registos escritos não estabeleciam qualquer relação com
Amália Rodrigues. Por outro lado, não terá sido realizado qualquer levantamento arquitectónico para
orientação da intervenção de adaptação da casa a museu.
documentação fotográfica
Casa-Museu Amália Rodrigues [imagens 219 e 222]
a casa . 2
A casa foi adquirida por Amália Rodrigues em 1954 que aí se instala alguns meses depois
de realizadas obras de beneficiação, no n.º 193 da Rua de São Bento, onde receberia
durante 44 anos muitos amigos e admiradores.
da casa ao museu . 3
o testamento
Através do seu testamento Amália Rodrigues estabelece que na sua casa se instale a
sede da Fundação Amália Rodrigues e uma casa-museu.
o programa
O programa estabelecido pela Fundação Amália Rodrigues incluía: 1. o tratamento do
espólio coordenado por Madalena Braz Teixeira, directora do Museu do Traje; 2. a
realização de obras de beneficiação geral do edifício; 3. a musealização parcial do
primeiro e segundo pisos da casa; 3. a instalação da recepção e de uma loja de
recordações no rés-do-chão; 4. a manutenção de um espaço de residência para os
empregados que viviam com a cantora; e 5. a criação de um espaço administrativo da
Fundação.
a casa-museu . 4
A abertura ao público ocorre um ano e nove meses após a morte da artista.
A casa-museu mantém-se em geral como Amália Rodrigues a deixou, tendo sido
introduzidos alguns elementos de caracterização do ambiente doméstico como seja a
mesa da sala de jantar, decorada com um serviço de louça usado em dias de festa. No
entanto, nem todos os espaços da casa estão abertos ao público tendo sido feita uma
selecção dos espaços mais significativos: hall, sala de jantar, sala de estar, quarto,
antecâmara e quarto de Amália.
O percurso de visita fecha-se sobre si mesmo e a voz da fadista acompanha os
visitantes.
localização
Avenida 25 de Abril, 104 Vila Nova de Famalicão
ocupação da casa
44 anos desde 1955 a 1998
abertura ao público
Setembro de 2002
tutela
Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
director/técnico responsável
José Manuel Oliveira
colecções
mobiliário, pintura, escultura, jóias, faiança e arte sacra
serviços disponibilizados ao público
recepção, sala de exposição temporária, espaços exteriores
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições temporárias
intervenções no edifício
1. 1954/55 construção ▪ Arq. Manoel da Silva Passos Júnior
1. 1998 adaptação a museu ▪ C. M. de Vila Nova de Famalicão : Arq. Manuel Araújo Silva
documentação gráfica
Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão [Processo para Licença de
Construção n.º 98/1955]
Casa-Museu Soledade Malvar [intervenção 1: síntese do projecto do Arq. Manuel Araújo Silva]
documentação fotográfica
Casa-Museu Soledade Malvar
a casa . 2
Em 1954, Soledade Malvar encomenda ao Arquitecto Manoel da Silva Passos Júnior o
projecto de um prédio de rendimento a construir na Avenida Salazar, actual Avenida 25 de
Abril, em Vila Nova de Famalicão. O edifício continha no rés-do-chão estabelecimentos
comerciais, nos restantes três pisos apartamentos e uma habitação isolada destinada a
residência da proprietária que a ocupou durante 44 anos, até ao momento da doação.
Relativamente ao projecto original, as alterações efectuadas na casa dizem respeito ao
aluguer da garagem para instalação de uma loja de flores e à ocupação do previsto
apartamento da empregada com a loja de antiguidades Bric-à-Brac e respectivo escritório,
reinstalando a criada no último piso, inicialmente não previsto, sob o vão do telhado.
da casa ao museu . 3
a doação
Soledade Malvar doou à Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão a sua casa e
uma pequena parte da sua colecção de antiguidades, através de uma escritura de
doação lavrada a 9 de Fevereiro de 1998. Com a obrigação de não fraccionamento do
conjunto durante dez anos, a autarquia comprometia-se a realizar, no prazo de um ano,
obras de adaptação e beneficiação com base num projecto de autoria de um arquitecto
e seguindo as indicações da doadora, com o objectivo de abrir ao público a Casa-Museu
Soledade Malvar e uma galeria de arte complementar, dinamizando o conjunto para que
se tornasse uma referência museológica, artística e cultural na região.
17 28
16 11 29 30
P 3. 1955 - 98 P 3. 1998
28
15
22
5 12
14 13 27 26
P 2. 1955 - 98 P 2. 1998
7 8 24
6 5 11 22 25
9 10 23
P 1. 1955 - 98 P 1. 1998
4
19
3 1 2 18 20 21
P 0. 1955 - 98 P 0. 1998 E1 E2
1954/55. Arq. Manoel da Silva Passos Júnior: 1 entrada da casa. 2 florista (antiga garagem). 3 loja de antiguidades. 4 escritório e arrumo. 5
patamar. 6 copa. 7 cozinha. 8 despensa. 9 sala de jantar. 10 sala de estar. 11 terraço. 12 quarto de vestir. 13 quarto. 14 quarto de hóspedes.
15 sala de banho. 16 sala de costura. 17 quarto da empregada.
1998. Arq. Manuel Araújo Silva: : 18 entrada da casa-museu e galeria de exposições. 19 atendimento e administração. 20 átrio. 21 florista. 22
sala de exposição. 23 sala de jantar. 24 bar (funciona como reserva). 25 terraço (uso público). 26 quarto. 27 colecção de pratas. 28 reserva. 29
atelier de restauro. 30 terraço. 1:500
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
o programa
Do ponto de vista das novas funções, o programa cumpre as disposições da doação
que previa a criação de uma galeria de exposições temporárias, acrescentando-lhe um
bar e uma área de trabalho para restauro pontual de peças e preparação de exposições.
a casa-museu . 4
A Casa-Museu Soledade Malvar, com uma favorável localização no centro da cidade,
vive quase exclusivamente das actividades realizadas na galeria de exposições
temporárias. A visita da sua colecção permanente parece insignificante quando inserida
no panorama museológico de Vila Nova de Famalicão que inclui a Casa de Camilo, o
Museu Bernardino Machado, o Museu da Fundação Arthur Cupertino de Miranda, entre
outros.
A sua sobrevivência e independência parecem condicionadas pela eventual futura
doação ou aquisição de outras peças da colecção particular de Soledade Malvar, capaz
de promover a reformulação dos objectivos da instituição e a alteração da actual
concepção museológica e museográfica. Eventualmente, ao aceitar a doação
estabelecendo um limite de manutenção do conjunto durante dez anos, a autarquia previu
outras opções.
localização
Rua do Convento, n.º 13, 7430-152 Crato
www.misericordia-crato.org
ocupação da casa
31 anos de 1968 a 1999
abertura ao público
27 de Julho de 2003
tutela
Santa Casa da Misericórdia da Vila do Crato
director/técnico responsável
Joaquim Mariano Gargana Cabaço
colecções
arte sacra com destaque para imagens do Menino Jesus,
cerâmica do século XIX, têxteis, objectos populares e tradicionais
serviços disponibilizados ao público
recepção, sala de exposição temporária, espaços exteriores, sala de leitura, loja, posto Internet
tipo de actividades
visitas guiadas, exposições temporárias, serviços pedagógicos
intervenções no edifício
1. 1998/99 adaptação a museu: ampliação ▪ Arq. Fernando Santana Rêgo
documentação gráfica
Casa-Museu Padre Belo [intervenção 1]
Arquivo Pessoal do Arq. Fernando Santana Rêgo [levantamento e intervenção 1]
documentação fotográfica
Casa-Museu Padre Belo [imagens 229 e 232]
Arquivo Pessoal do Arq. Fernando Santana Rêgo
a casa . 2
A casa da Rua do Convento e respectivo quintal, adquiridos pelo padre Belo em 1968
para aí residir com a sua mãe, ocupavam dois lotes rectangulares de um terreno com
declive acentuado, cada um com frente de cerca de nove metros e meio, perpendiculares
a uma das ruas de um recente loteamento do Crato. Desde essa data, o edifício de planta
quadrangular de um só piso com divisões dispostas ao longo de um corredor, foi
progressivamente ampliado ocupando o quintal do lote edificado com compartimentos de
serviço e crescendo em altura de modo a albergar a crescente colecção de Padre Belo.
da casa ao museu . 3
a doação
Através de uma escritura de doação lavrada a 20 de Novembro de 1998, Padre Belo
doou a sua habitação e respectivo espólio artístico à Santa Casa da Misericórdia da Vila do
Crato, Instituição Particular de Solidariedade Social, com a condição de que fosse aberta
ao público.
o conhecimento do edifício
A história da evolução do edifício, desde a sua construção até à data da doação, não
se encontra registada, mas a identificação das principais alterações morfológicas era e é
15
14 14 32 31 30
14 29
P 1. 1986 P 1. 1998/99
13 12 28 b
c
11
8 10 26 27
23
7 9 24 25
P 0. 1986 P 0. 1998/99
6 4 22 21
3 20
c
2 19
1 18
5 16 17
1986 : 1 arrumos. 2 área de serviço. 3 cozinha. 4 i.s. 5 rampa. 6 quintal. 7 escritório. 8 sala. 9 quarto. 10 quarto. 11 saguão. 12 sala de jantar 13
quarto. 14 salas da colecção. 15 terraço.
1998/99 Arq. Fernando Santana Rêgo: 16 reservas e atelier. 17 reservas e arrumos. 18 arquivo. 19 administração. 20 cozinha. 21
arrecadação. 22 pátio. 23 recepção/loja/sala de exposição temporária. 24 escritório. 25 quarto. 26 sala dos Cristos. 27 sala de Nossa Senhora.
28 sala de jantar. 29 sala de Santo António. 30 sala de S. Francisco. 31 sala do presépio. 32 biblioteca, sala de leitura/exposições temporárias.
1:500
E 1: conservado modificado novo E 2: exposição administração serviços ao público serviços internos circulação percurso 0 5 10
o programa
O Programa Inicial de Intervenção na Casa-Museu Padre Belo, elaborado pelo Dr.
Joaquim Mariano Gargano Cabaço, Presidente da Assembleia da Santa Casa da
Misericórdia da Vila do Crato, e aprovado, ainda antes da doação oficial, a 27 de Março
de 1998, partiu de uma análise e caracterização das condições existentes, para
estabelecer as principais linhas orientadoras de organização e funcionamento do futuro
espaço museológico, prevendo: 1. a realização de obras de beneficiação do edifício
existente mantendo o ambiente quotidiano de Padre Belo; 2. a ampliação do edifício para
obtenção de espaços de apoio aos visitantes – recepção, loja, sala de exposição
temporária e sala de leitura; 3. a organização das salas de exposição permanente,
descrevendo sucintamente o seu conteúdo; 4. a preparação de exposições temporárias, a
partir da colecção permanente e das peças em reserva, de acordo com o calendário
litúrgico ou admitindo iniciativas de outras entidades que se enquadrem na temática da
colecção de Padre Belo; 5. a elaboração do plano de actividades - conferências,
seminários e colóquios - procurando estabelecer parcerias de divulgação do acervo junto
de públicos específicos, nomeadamente a nível do turismo religioso; 6. e a organização de
publicações relacionadas com o espólio e o personagem.
a casa-museu . 4
A Casa-Museu Padre Belo abriu ao público a 27 de Julho de 2003.
A visita da exposição permanente, concentrada nos espaços da antiga casa, começa,
normalmente, com uma abordagem biográfica no Escritório, onde Padre Belo recebeu
frequentes visitas, prolonga-se pelos dois pisos do volume principal que acolhem a
colecção de arte sacra e termina, descendo para a antiga área de serviço, com a
colecção de artefactos tradicionais. No entanto, o triplo sistema de circulação vertical –
duas escadas e elevador – autoriza outros percursos adaptando-os a diferentes tipos de
público e temas de visita, permitindo observar separadamente as duas colecções da
exposição permanente e a exposição temporária. Por outro lado, é possível inserir nesses
percursos uma passagem pelo pátio, potenciando o seu uso para exposições temporárias
ao ar livre. Porém, não existindo uma separação efectiva entre os diferentes núcleos e
funções, levantam-se graves problemas de isolamento, vigilância e segurança das
colecções permanentes que a serem resolvidos irão reduzir a versatilidade actualmente
existente.
Embora de dimensão espacial muito reduzida, o facto de a sua colecção possuir uma
intensa organização e coerência temática face ao panorama habitual do património
móvel das casas-museu, facilita a inserção desta casa-museu nos meios técnicos
específicos da arte sacra e nos circuitos do turismo religioso. Simultaneamente, a vasta
quantidade de peças em reserva permite desenvolver actividades variadas de divulgação
e promoção da casa-museu, ampliando geograficamente a sua acção com iniciativas
como as exposições fora de portas ou empréstimos a outras instituições museológicas e
religiosas.
Na realidade, o estudo de uma museografia específica, muito diferente da
proporcionada por uma casa-museu, seria mais adequado para a valorização, no todo e
nas partes, da colecção de arte sacra do padre Belo.
66 "Ecrã personalizado" in "A casa que ainda não temos" - Prova Final de Licenciatura em Arquitectura da
autora, p.124-127.
1830
1840
1850
1860
1870
1880
1890
1900
1910
1920
1930
1940
1950
1960
1970
1980
1990
01 camilo castelo branco
02 teixeira lopes
03 guerra junqueiro
04 leal da câmara
06 abel salazar
07 fernando de castro
09 egas moniz
10 ferreira de castro
11 josé régio 1
13 josé régio 2
14 anastácio gonçalves
15 carlos relvas
16 joão de deus 1
17 bissaya barreto
18 frederico de freitas
19 solheiro madureira
20 aquilino ribeiro
21 fernando namora
22 fernando pessoa
23 maurício penha
24 josé cercas
25 joão soares
26 humberto delgado
27 júlio dinis
29 joão de deus 2
30 eça de queiroz
31 medeiros e almeida
32 amália rodrigues
33 soledade malvar
34 padre belo
2000
1820
1830
1840
1850
1860
1870
1880
1890
1900
1910
1920
1930
1940
1950
1960
1970
1980
1990
67 97 ▪ HEIDEGGER, Martin, "O conceito de tempo", Lisboa: Fim de Século, 2003 (1927)
68 Considerando que o significado de monumento se integra no significado mais amplo de património (lugar),
prolongando, do primeiro para o segundo, o conteúdo de muitas das reflexões realizadas, ao longo dos
tempos, sobre salvaguarda, conservação e comunicação.
69 80 ▪ RIEGL, Aloïs, "Le culte moderne des monuments", Paris: L'Harmattan, 2003 (1903)
70 Lugar (= casa-museu) entendido como a soma das coordenadas x, y, z, t e a que define espaço, objectos,
tempo e acontecimentos, ou seja, património móvel, imóvel e intangível.
71 Nas citações seguintes, de Alois Riegl, objecto, monumento e obra podem ler-se como lugar (casa-museu).
2. Por isso, a distorção, muito comum, pouco sensata, é uma validação falsificada onde o
autêntico é dificilmente detectável devido à sobreposição do valor artístico novo ao valor
6. A reocupação acontece quando a relação entre espaços e objectos foi alterada, mas
se considera ser possível reconstituir as conexões desaparecidas, simulando um contexto
próximo do original através da reutilização de fragmentos do tempo de acção.
Este mecanismo depende profundamente das características dos vestígios do passado,
da credibilidade das fontes de informação e da ética que orienta as investigações
73 O conjunto de espaços de muitas casas de coleccionadores, surge de uma selecção realizada pelos
mesmos. Fruto de exibições voluntárias em vida do seu proprietário, as Casas-Museu José Régio em Portalegre,
Medeiros e Almeida em Lisboa ou Padre Belo no Crato revelam diversas selecções temáticas deste tipo. No
entanto, no momento da reapropriação museológica realizada por terceiros parece destacar-se a validação
como mecanismo de reapropriação.
1995, p.23]
Sendo que a reapropriação tem como base uma política cultural, nas áreas da
museologia e das metodologias de intervenção no património, existe muitas vezes um prazo
de validade para a solução encontrada que poderá ser reconsiderada ou legitimada.
A evolução do gosto, dos meios, métodos e técnicas de investigação e de intervenção
podem contribuir para reequacionar a utilização de um ou mais mecanismos e dos
consequentes projectos de montagem das exposições, procurando, por exemplo, repor
uma realidade anterior relativamente bem documentada, como na Casa de Camilo em
1953 e na Casa-Museu Carlos Relvas em 2000.
Ou, através da lógica do valor artístico relativo, podem favorecer "uma outra
«contextualização», em segundo grau, no tempo: quando se considera que o contexto do
museu em si mesmo adquiriu valor histórico, testemunho insubstituível dum momento da
história do gosto, que se deve preservar." [53.5 ▪ Michel Laclotte, 1997, p. 277]
A percepção e a consciência da utilização destes, e de outros, mecanismos de
reapropriação em diferentes fases da história da casa-museu facilitam o entendimento do
equilíbrio entre carácter original e carácter adquirido. A reapropriação museológica é um
sistema complexo com múltiplos pontos de partida e de chegada. Assim, qualquer um dos
mecanismos identificados constitui apenas uma especulação abstracta sobre diferentes
métodos de seleccionar e expor o edifício e as colecções na casa-museu. As circunstâncias
particulares de cada caso de estudo obrigam a considerar inúmeras combinações nas
quais, com frequência, validação, distorção, retenção, sobreposição, selecção,
reocupação, evocação, as suas variantes e outros mecanismos possíveis, coexistem numa
só casa-museu, simultânea ou sucessivamente.
Quando assumidos e transmitidos ao visitante nenhum destes mecanismos parece
produzir falsidades. Mas, durante este processo muita informação é suprimida, outra
valorizada em excesso. A verdadeira história do lugar é pouco conhecida. Apenas o
inventário do património existente inicialmente e o registo exaustivo das múltiplas
modificações a que é submetido permitiriam esclarecer a lógica do conjunto e das partes.
Ainda que submetida a uma reapropriação museológica, a existência do tempo de acção
para lá dos seus próprios limites é obviamente uma condição difícil, senão impossível.
74 Resumo do capítulo V: "A MUSEOGRAFIA MODERNA E OS RECURSOS DOS EDIFÍCIOS ANTIGOS: Vantagens e inconvenientes da
referência a uma época: prestígio do edifício; variedade arquitectónica; harmonia entre objectos e salas;
necessidade de uma selecção dos espécimes; reconstituições de interiores; necessidades impostas por
circunstâncias locais. Importância do acordo entre edifício e colecção. – DIFERENTES CATEGORIAS DE EDIFÍCIOS,
considerados do ponto de vista da utilização museográfica: edifício com interesse estético e histórico tanto interior
como exterior; edifício em que apenas o envelope deve ser respeitado (adaptação do interior às necessidades da
colecção […]); edifícios que apenas podem acolher uma parte das colecções (construções anexas que
respondem às exigências modernas de apresentação e de instalação; arquitectura dos anexos). – MEDIDAS DE
SEGURANÇA: contra incêndio; tratamento das fundações e das paredes; dificuldades de protecção contra roubo;
recursos arquitectónicos na instalação de aquecimento; sistema de água quente; caldeira exterior ao edifício;
ponto de vista estético na escolha dos radiadores. - OS PRINCÍPIOS MUSEOGRÁFICOS E AS EXIGÊNCIAS DO RESTAURO [...] -
ILUMINAÇÃO NATURAL: reflectores e protecções – ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL: Valorização das particularidades arquitectónicas
e decorativas para a passagem de condutas e a localização de candeeiros, importância da iluminação local. –
DIFERENTES CASOS DE ADAPTAÇÃO […] – A OBRA DE ARTE E A SUA ENVOLVENTE." [31 ▪ Roberto Paribeni, 1934, p. 180]
75 Em 1934, este texto, sem desfavorecer a evolução da museografia moderna, considerava que os edifícios
antigos eram particularmente favoráveis à reconstituição museográfica de ambientes de época, permitindo uma
adequada transição entre exterior e interior.
76 "O [célebre] «teste da autenticidade» da UNESCO implicava a avaliação de quatro aspectos fulcrais [...]: (i)
a autenticidade da forma, na autenticidade estética do conceito arquitectónico transmitido pelo objecto
(design); (ii) a autenticidade material e a (iii) autenticidade dos processos tecnológicos, traduzidas na presença
dos materiais e das técnicas originalmente empregues na sua elaboração; (iv) a autenticidade na
implantação, verificando-se a continuidade do genius loci do lugar, mantendo-se as relações fundamentais
entre o bem patrimonial e o sítio do seu assentamento, sem relocalizações do objecto patrimonial ou
destruições da sua envolvente." [91 ▪ José Aguiar, 2002, p. 76]
77 Carta de Atenas, 1931, artigo I – Doutrinas. Princípios Gerais.
78 Carta de Veneza (sobre a conservação e restauro dos monumentos e dos sítios), 1964, artigo 5.
79 Apenas duas casas-museu não estabelecem actualmente qualquer representação/analogia com um
espaço doméstico, a Casa-Museu Carlos Relvas e a Casa-Museu João Soares.
▪ noutras, o museu foi obrigado a partilhar o edifício, de forma mais ou menos temporária,
com programas completamente independentes como a escola primária na Casa de
Camilo, a colónia de férias na Casa-Museu Afonso Lopes Vieira, as bibliotecas municipais
nas Casas-Museu Teixeira Lopes e Carlos Relvas ou parte da reserva do Museu Nacional
Soares dos Reis na Casa-Museu Fernando de Castro. Embora nenhuma destas situações
impeça a abertura ao público do museu, o transtorno é inevitável;
▪ em certas casas-museu, outras funções paralelas e/ou independentes, mas
complementares, foram conscientemente inseridas no programa geral da instituição,
embora nem sempre incluídas no mesmo edifício. As bibliotecas nas Casas-Museu Ferreira
de Castro, Fernando Pessoa, João Soares e João de Deus II, os apartamentos na Casa de
Tormes e na Casa-Museu João Soares, as Galerias Diogo de Macedo na Casa-Museu
Teixeira Lopes, os centros de estudos especializados na Casa de Camilo e na Casa-Museu
José Régio I, o laboratório fotográfico na Casa-Museu Carlos Relvas e o Centro Enoturístico
na Casa-Museu dos Patudos, exemplificam a variedade de funções adicionais.
Por outro lado, a concretização dos espaços (mínimos) exigíveis a um museu ocorre
normalmente de forma lenta e progressiva, ao longo de décadas de existência da
instituição, acompanhando, passo a passo, a evolução das exigências funcionais e
museológicas, e ultrapassando algumas das dificuldades iniciais, como bem ilustra a
sequência de intervenções realizadas na Casa de Camilo entre 1915 e 2005.
Apenas as casas-museu mais recentes, como as dedicadas a Frederico de Freitas,
Fernando Pessoa, João Soares, Eça de Queiroz e Padre Belo, cujos programas científicos,
museológicos, administrativos, funcionais e pedagógicos foram pensados como um todo,
respondem numa primeira intervenção à instalação cuidadosa e equilibrada de espaços
públicos, privados e de serviço.
Estas considerações fazem pensar na casa-museu como um "híbrido [que] é feito da
mistura de dois elementos distintos, e [que] a transição entre os dois é um percurso entre 0 e
100, em que 0 é exactamente igual a um dos elementos e 100 exactamente igual a outro.
Pelo meio existem inúmeras combinações dos dois elementos – inúmeros híbridos – sendo
que apenas num momento, a meio, 50/50, o híbrido é uma mistura em partes iguais (que
partes?) dos dois elementos que o compõem. Se a cada um desses momentos
corresponder um objecto, teremos uma multidão de objectos que progressivamente
deixam de ser quase cópias do primeiro, para passarem a ser tendencialmente mais
próximos de réplicas do segundo." [Pedro Cortesão Monteiro, JA 220-221, p. 21]
Mas ainda que seja possível considerar simbólica e matematicamente, e até mesmo
pela observação directa do objecto arquitectónico, a casa-museu um objecto híbrido em
que cada um dos termos da designação enriquece e enfraquece o outro, a casa-museu é
apenas um museu em que a casa é exposição/memória do íntimo e o museu é a
concretização efectiva do público.
"A característica [particular] deste par íntimo vs público é que cada um destes termos
não pode existir sem o outro; ou seja, cada um fornece as condições de existência do seu
oposto. O primeiro limita o segundo e ambos se oferecem respectivamente uma forma. Um
extremo: o público, codificado, assinalado, marcado e exposto ao olhar de todos junta-se
ao outro extremo, o espaço íntimo resistente a qualquer olhar exterior, a qualquer
Apesar da limitação inicial da maioria dos programas funcionais analisados, nas últimas
décadas tem-se assistido a um aumento da presença da componente museu que se
sobrepõe progressivamente à componente casa. As casas-museu ganham dimensão, mas
proporcionalmente a área de exposição permanente tem sido reduzida a favor de espaços
de acolhimento ao público, espaços privados e de serviço, provocando a utilização da
intersecção e/ou da exclusão.
As casas-museu do período da experimentação comprovam-no e as outras
acompanham-nas, pois, podendo, nenhuma delas rejeita a nova condição
contemporânea da instituição museológica que implica novos espaços, novas funções e
actualizações constantes.
82 "Ao falar de intervenções arquitectónicas em âmbitos espaciais construídos não é de mais enunciar alguns
princípios fundamentais para estabelecer bases operativas para a composição e o desenho. Assim, é fácil
entender que a relação primária em termos topológicos, entre uma forma existente (A) reconhecível pelos seus
limites e um novo contributo formal (B) responda a uma destas três possibilidades: inclusão, intersecção e
exclusão." [86 ▪ Francisco Garcia, 1996, p. 187]
83 Em três casos, Casas-Museu Afonso Lopes Vieira, João de Deus I e Fernando Namora, a área bruta do
museu é inferior à da casa. Em onze a área bruta mantém-se inalterada. [anexo IX, ponto 5.7]
84 Em sete casas-museu a área bruta do museu ultrapassa até 500 m2 a área bruta da casa; em quatro
ultrapassa até 1000 m2 e na Casa de Camilo a diferença é actualmente de 2300 m2. [anexo IX, ponto 5.7]
Desse "jogo" resulta a síntese desenhada e escrita realizada para analisar e descrever
cada uma das noventa e sete intervenções identificadas no conjunto das trinta e quatro
casas-museu.
Entre visita do edifício e pesquisa de documentos, elementos como desenhos (com
algum destaque para legendas e representações bicolores entregues em processos de
licenciamentos de obras), correspondência, fotografias, memórias descritivas, testemunhos
e outros, foram essenciais para o cruzamento ou separação de informações.
Reunindo o máximo de dados foi possível caracterizar de forma geral cada intervenção
e, posteriormente, identificar algumas situações recorrentes entre protecção do edifício da
casa e construção do edifício do museu.
Organizámos estas situações em seis tipos de intervenção – reabilitação, reconstrução,
alteração, relacionáveis com os processos de inclusão do programa, e tratamento dos
espaços exteriores, ampliação e construção de edifício independente, referentes à
intersecção e exclusão – que, isolados ou conjugados entres si, caracterizam dois
momentos essenciais da construção do lugar: um de adaptação da casa a museu através
de actualizações funcionais e outro de manutenção e prolongamento das condições
existentes ou criadas por uma intervenção anterior, sendo que normalmente, para cada
casa-museu, ambas se repetem alternada e ciclicamente.
Importa considerar que independentemente do grau de transformação que cada um
desses tipos de intervenção induz, a adaptação do edifício existente às funções
museológicas coloca sempre problemas internos – organização e flexibilização dos espaços
e dos sistemas de circulação, separação de funções, necessidade de criar novos espaços
com diferentes capacidades e dimensões, orientação e iluminação, organização dos
percursos de visita, introdução de sistemas de protecção/apresentação da colecção,
resistência da construção, instalação de equipamento de aquecimento/climatização,
instalações eléctricas, segurança contra roubo e incêndio, vigilância centralizada –,
problemas externos – relação e integração com o espaço envolvente, urbano ou rural,
estacionamento, transportes públicos, sinalização, segurança –, e problemas de avaliação
do contexto específico em que a obra arquitectónica (casa ou casa-museu) foi produzida
e utilizada – tempo e espaço concretos de construção, dados do programa, do sítio, da
encomenda do cliente, da condição social do cliente, da formação teórica e prática do
arquitecto (ou outro técnico), do diálogo entre cliente e arquitecto, das condições de
mercado, da legislação em vigor, dos usos, costumes e gostos, do campo artístico
dominante, das articulações disciplinares, das práticas de construção (técnicas e
materiais), e outras condições, mais ou menos, particulares.
Assim, para manter o carácter do edifício e alguma representação da função anterior,
documento essencial do discurso museológico, a intervenção arquitectónica exige uma
síntese, feita de sacrifícios e concessões perante a multiplicidade de condicionalismos, e
"pressupõe, em qualquer dos casos, um inevitável confronto físico e espacial que impõe a
interpretação crítica do objecto a transformar, absorvendo, em maior ou menor
profundidade, o seu significado global, enquanto condicionante do limite da capacidade
de transformação do existente." [92 ▪ Miguel Tomé, 2002, p. 15]
3. Mais frequente é a alteração das características dos edifícios fomentada, em geral, pela
retenção de espaços utilizados para a refuncionalização do conjunto.
A situação mais frequente de alteração resulta em diferentes assimetrias de tratamento
dos espaços interiores provocadas pela demolição de paredes divisórias, abertura e
encerramento de vãos, substituição de materiais de revestimento por outros com
características diferentes, alterações estruturais, que contribuem para a modificação das
relações tipológicas, volumétricas, estruturais e construtivas anteriormente existentes.
Por outro lado, sempre que se considerou que a reabilitação ou reconstrução da casa
seria injustificada e desnecessária perante a difícil sobrevivência do património edificado
até ao momento da intervenção e a definição de um programa funcional absolutamente
diferente do anterior espaço doméstico, optou-se pela construção de um novo edifício por
detrás de um fachada que se mantém, encontrando um equilíbrio entre património
disponível e a sua reinterpretação como documento com valor histórico e museológico.
Assim, aconteceu na Casa Fernando Pessoa e na Casa-Museu João Soares, onde para
além da fachada e volumetria se mantiveram apenas escassos elementos que referem e
recordam a casa desses personagens.
Em ambas as situações da alteração ocorrem desequilíbrios de tratamento dos espaços
internos e/ou externos, e na relação entre ambos, dificilmente ultrapassáveis e,
provavelmente, inevitáveis para o prolongamento da existência dos edifícios e das
instituições.
"Na teoria semiológica, o espaço externo, ou significante, encerra o espaço interno, a
que corresponde o significado, com uma envolvente exterior que inclui: as fachadas, as
coberturas, os pormenores arquitectónicos, a linguagem que se expressa pela decoração,
pelos materiais, pelos revestimentos, pelas texturas e cor, que são, assim e explicitamente,
os portadores dos significados que se encerram no interior.
Na arquitectura urbana, por comparação, o significante também assume um
significado, ou seja, as fachadas urbanas são sempre significantes dos espaços internos do
edifício que encerram no seu interior; mas também correspondem, elas próprias, à
determinação de um novo significado. Ou seja, as fachadas urbanas concorrem para a
definição de um novo tipo de espaço, também com características de um «interior», mas a
uma diferente e muito maior escala: a amplitude do espaço urbano. Nesse sentido, as
fachadas são como as «paredes interiores» do espaço urbano, pelo que são, no mesmo
momento, significantes e significado." [91 ▪ José Aguiar, 2002, p. 137]
O equilíbrio entre esses significantes e significados estará sempre mais ou menos
comprometido no edifício da casa-museu, porque à fachada da casa corresponde o
museu. No espaço urbano, como significante a fachada do edifício não condiz com o
significado; mas como significado a sua preservação é fundamental para o prolongamento
no tempo da imagem histórica e urbana da casa preservada.
casa
casa-museu
museu
património
outros
casa de camilo
[102] 1958 "A Reconstituição da Casa de Camilo: relatório"
[]: SNI - Secretariado Nacional da Informação, 1958 [Centro de Estudos Camilianos]
[103] CASTRO, Augusto de, "O que os oradores disseram na inauguração da Casa de Camilo,
em S. Miguel de Seide, na tarde do dia dezoito de Junho do ano da graça de 1958"
[S.I.]: SNI - Secretariado Nacional da Informação, 1958 [Centro de Estudos Camilianos]
[104] 1964 CÉSAR, Amândio, "A Casa Assombrada de S. Miguel de Seide"
V. N. de Famalicão: Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, 1964
[105] 1994 SERENO, Isabel, "Casa de Camilo Castelo Branco"
Inventário do Património Arquitectónico, n.º ipa PT010312430007
Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, http://www.monumentos.pt [pesquisa em 2005]
[106] 1997 OLIVEIRA, José Manuel de, "Projecto Turístico-Cultural de Ceide (S.Miguel) – Programa
preliminar" (documento policopiado) [Centro de Estudos Camilianos]
[107] 1999 OLIVEIRA, José Manuel de, "A Casa de Camilo"
in: Boletim Casa de Camilo – IV Série, n.º 1, 1999, p. 134-161 [Centro de Estudos Camilianos]
[108] http://www.geira.pt/CMCamilo/ [pesquisa em 2004]
[109] 2002 CASTRO, Aníbal Pinto de e OLIVEIRA, José Manuel, "Casa de Camilo . Ceide"
V. N. de Famalicão: Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, 2002 [Centro de Estudos Camilianos]
[110] – http://www.rpmuseus-pt.org/Pt/cont/fichas/museu_04.html [pesquisa em 2004]
[111] 2006 OLIVEIRA, José Manuel de, "A Casa de Camilo no Século XXI"
in Boletim RPM, n.º 20, Lisboa: Rede Portuguesa de Museus, Junho 2006
referências 353
[126] 2000 MATOS, A. Campos, "A Casa de Tormes: inventário de um património"
Santa Cruz do Douro: Fundação Eça de Queiroz, 2000 [Biblioteca da Fundação Eça de Queiroz]
[127] MATOS, A. Campos, "Viagem no Portugal de Eça de Queiroz (roteiro)"
Santa Cruz do Douro: Fundação Eça de Queiroz, 2000 [Biblioteca da Fundação Eça de Queiroz]
[128] 2003 CASTRO, Laura, "Viajar com Eça de Queiroz"
Porto: Delegação Regional da Cultura do Norte e Edições Caixotim, 2003
[129] 2004 www.feq.pt [pesquisa em 2004]
[131] 2004 RODRIGUES, Rita, "A Casa Fernando Pessoa: espaço simbólico, espaço criativo"
Lisboa: Casa Fernando Pessoa, 2004 (documento policopiado)
[132] 2000 MARTINS, Maria Manuela Tolda, "Casa Memorial Humberto Delgado"
Boquilobo: Março de 2000 (documento de trabalho policopiado)
[134] 1986 Portaria n.º 112/86 de 29 de Março de 1986 in Diário da República I Série, n.º 73, p. 736-737
Lisboa: Ministério do Plano e da Administração do Território, Direcção do Planeamento Urbanístico
[135] 1995 BARBOSA, Maria Luísa G. Fernandes, "Casa-Museu Abel Salazar: nota histórica"
in Matesinus. Revista de Arqueologia, História e Património de Matosinhos nº ½, 1995/96, p. 54-59,
Matosinhos: Câmara Municipal de Matosinhos, Gabinete Municipal de Arqueologia e História
[Biblioteca da Casa-Museu Abel Salazar]
[142] 2005 MATIAS, Cecília, "Casa Museu Afonso Lopes Vieira e capela / Colónia de Férias"
Inventário do Património Arquitectónico, n.º ipa PT021010010013
Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, http://www.monumentos.pt
[pesquisa em 2005]
[144] – http://pwp.netcabo.pt/ompnc/casa_afonso_lopes_vieira.htm
(trabalho de João Parente, Orlando de Carvalho e Maria João Trindade) [pesquisa em 2005]
[148] 1983 MATIAS, Maria Margarida Lopes Garrido Marques, "Malhoa e a Casa Malhoa"
Lisboa: Casa-Museu Anastácio Gonçalves, Instituto Português do Património Cultural, 1983
[Biblioteca da Casa-Museu Anastácio Gonçalves]
[150] 1992 SILVA, João, "Casa de Malhoa / Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves"
Inventário do Património Arquitectónico, n.º ipa PT031106500115
Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, http://www.monumentos.pt
[pesquisa em 2005]
[151] 2002 MATOS, Maria Antónia Pinto de (coord.), "Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves. Roteiro"
Lisboa: Instituto Português de Museus/Casa-Museu Anastácio Gonçalves, 2002
[161] 2002 GORDALINA, Rosário, "Casa-Museu de Carlos Relvas / Casa-Estúdio de Carlos Relvas"
Inventário do Património Arquitectónico, n.º ipa PT031412020005
Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, http://www.monumentos.pt [pesquisa em 2005]
[162] 2003 MESQUITA, Vitória e PESSOA, José (comissários), "Carlos Relvas e a Casa da Fotografia"
Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga, 2003 (catálogo de exposição)
[163] 2004 "Actas do encontro Projectar para Conservar: Como intervir no Edificado",
ISCTE. Secção Autónoma de Arquitectura e Urbanismo, 3 e 4 de Junho de 2004
[164] 1982 BARTHOLO, M. L., "Roteiro. Casa dos Patudos (Solar de José Relvas)"
Alpiarça: Casa dos Patudos, 1982 [Casa-Museu dos Patudos]
[165] 1992 GORDALINA, Rosário (1992), MATIAS, Cecília (2000) e SILVA, Carlos (2002),
"Casa-Museu dos Patudos / Casa de José Relvas"
Inventário do Património Arquitectónico, n.º ipa PT031404010003
Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, http://www.monumentos.pt [pesquisa em 2005]
[169] 1966 MADAHIL, António Gomes da Rocha, "Instituição da «Fundação Egas Moniz» e da sua
«Casa-Museu» em Avanca", Aveiro: Separata do vol. XXXII do Arquivo do distrito de Aveiro, 1966
[Casa-Museu Egas Moniz]
referências 355
Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, http://www.monumentos.pt [pesquisa em 2005]
[171] 1997 COSTA, Lucília Verdelho da, "Ernesto Korrodi – 1889-1944. Arquitectura, ensino e Restauro
do Património"
Lisboa: Editorial Estampa, 1997
[172] 2000 PEREIRA, Ana Leonor e PITA, João Rui (org.), "Egas Moniz em livre exame"
Coimbra: Edições Minerva , 2000; ISBN 972-8318-96-0 [Casa-Museu Egas Moniz]
[178] 1951 Decreto-Lei n.º 38:560 Diário do Governo I Série, n.º 261 de 15 de Dezembro de 1951
(aceitação de doação) [Museu Nacional Soares dos Reis]
[188] 2004 MENDES, José; PITA, António; JACINTO, Rui e MENDES, Carla, "Desassossego e Magnitude.
Itinerários de Fernando Namora"
Coimbra: Comissão de Coordenação da Região Centro e Câmara Municipal de Condeixa, 2004
[190] 1990 FREITAS, Paulo de, "Casa-Museu Frederico de Freitas: A Casa da Calçada"
in Islenha n.º 7, Julho-Dezembro 1990, p. 42-46
Funchal: Direcção Regional dos Assuntos Culturais [Casa-Museu Frederico de Freitas]
[192] 1997 GONÇALVES, Luísa e CARDOSO, M. João, "Casa-Museu Frederico de Freitas (2ªfase): obras
decorrem ao mesmo tempo que os trabalhos da sua instalação"
in Jornal da Madeira, 8 de Dezembro de 1997 [Casa-Museu Frederico de Freitas]
[201] 1994 SERENO, Isabel (1994) e NOÉ, Paula (1996), "Casa do Dr. Domingos Barbosa / Museu de
Guerra Junqueiro"
Inventário do Património Arquitectónico, n.º ipa PT011312140041
Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, http://www.monumentos.pt [pesquisa em 2005]
[202] 1997 CRUZ, António; FERREIRA, J. A. Pinto e ANTUNES, Manuel, "Casa-Museu Guerra Junqueiro"
Porto: Câmara Municipal do Porto, 1997
[207] 1993 MARTINS, Gabriela Rocha, "Casa-Museu João de Deus – O homem, o cidadão, o poeta ou
um processo de memória e morte", in Mirante, n.º 6, Mar.Jun. 1993, Boletim da Associação de
Estudos e Defesa do Património Histórico-cultural do concelho de Silves
[209] 1999 MARTINS, Gabriela Rocha, "Casa-Museu João de Deus – O futuro construído em memória"
(conferência apresentada no 10º Congresso do Algarve, 16 e 17 de Abril de 1999)
[210] 2000 GUERREIRO, Alexandra, DUARTE, Marisa e MAJOR, Teresa, "Casa-Museu João de Deus.
Arquitectura", Faro: Universidade do Algarve no curso de Engenharia Civil, 1º ano, 2º ciclo, 1º semestre
(documento policopiado)
[216] 1965 RÉGIO, José, "A Minha Casa de Portalegre. Como principia uma Colecção de Velharias"
in O Primeiro de janeiro, 1 de Janeiro de 1965
referências 357
[217] 2001 MAÇÃS, Maria José e ALVES, Sónia, "A Conservação Preventiva na Casa-Museu José Régio"
Portalegre, 10 de Outubro de 2001
In http://www.anmp.pt/anmp/div2001/museus/interv/CMPortalegre.doc [pesquisa em 2004]
[220] 1996 "Século XX Português. Os caminhos da democracia. João Soares. Mário Soares "
Cortes: Fundação Mário Soares. Casa-Museu/Centro Cultural João Soares, 1996; ISBN 972-97147-0-3
[223] 1996 SOUSA, Élvio João Melim de, " A Casa-Museu de Leal da Câmara (Rinchoa, Sintra)"
(documento policopiado) [Casa-Museu Leal da Câmara]
[224] 2000 SOUSA, Élvio João Melim de, " A Antiga Escola Primária da Rinchôa-Mercês (Leal da Câmara)"
in Vária Escrita n.º 7; Sintra: Câmara Municipal de Sintra, 2000, p. 223- 248[Casa-Museu Leal da Câmara]
[225] 2003 SOUSA, Élvio João Melim de, "A Casa-Museu de Leal da Câmara (Rinchoa, Sintra): Percurso
e Função"
Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2003 (Dissertação de
Mestrado em Museologia e Património) [Biblioteca da Universidade Nova de Lisboa ▪ T 95]
[226] – SOUSA, Élvio e MONTOITO, Eugénio, " Leal da Câmara. Um Tempo e uma Paleta de Cores"
Rinchôa: Casa-Museu Leal da Câmara (desdobrável)
[228] 1995 CASTRO, Laura, "Programa Base para Abertura do Legado D. Marta – Organização do
espaço, condições de exposição e hipóteses de abertura do núcleo S.O.S.S"
(documento policopiado) [Biblioteca da Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio]
[230] 1996 MELO, Manuela de; VASCONCELOS, Maria João e CASTRO, Laura, "Casa-Museu Marta
Ortigão Sampaio: exposição da colecção de pintura", Porto: Câmara Municipal do Porto, 1996
[Biblioteca da Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio]
[231] 1999 OLIVEIRA, Daniela, "Arquitectura de Museus: Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio"
Porto: Departamento de Ciências e Técnicas do Património da Universidade do Porto, 1999 (trabalho
realizado no âmbito da disciplina de "Arquitectura de Museus" do 1º ano do Curso de Pós-Graduação
em Museologia) (documento policopiado) [Biblioteca da Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio]
[232] – PINTO, Pedro Costa, "Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio – Sugestão para o aumento da
área expositiva da colecção de mobiliário"
Porto: Departamento Museus e Património Cultural da C.M.P., 1999 (relatório de estágio policopiado)
[Biblioteca da Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio]
[233] 2000 PINTO, Pedro Costa, "Os Móveis de Marta Ortigão Sampaio"
Porto: Departamento Museus e Património Cultural da C.M.P., 1999 (relatório de estágio policopiado)
[Biblioteca da Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio]
[236] 1999 SANTOS, Henrique Maia dos, "Maurício Penha: uma vida prestante, um carácter nobre"
Sanfins do Douro: Fundação Casa-Museu Maurício Penha, 1999
casa-museu medeiros e almeida
[240] 2002 COSTA, Armindo e COSTA, Artur Sá da, "Casa-Museu Soledade Malvar / Roteiro"
Vila Nova de Famalicão: Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, 2002 (desdobrável)
[243] 1992 MADUREIRA, António, "Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira. Catálogo-guia ilustrado"
Estarreja: Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira, 1992
[246] 1939 MATOS, Armando de, "Os museus de Vila Nova de Gaia"
in Portugal Económico Monumental e Artístico. Lisboa: vol. 3, fasc. XVIV, Outubro 1939, p. 173-176
[Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia ▪ FL 743-ANA]
[247] 1966 VASCONCELOS, Flórido de, "Teixeira Lopes: reflexões sobre o homem e a obra"
in Boletim Cultural de Gaia. Vila Nova de Gaia: Grupo de Amigos do Mosteiro da Serra do Pilar, n.º 2,
Novembro de 1966, p. 9-17
[Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia ▪ G-9 [FL] 593-ANA]
[248] 1966 LOPES, José Marcel Teixeira, "Teixeira Lopes íntimo e a grande época de 1900"
in Boletim Cultural de Gaia. Vila Nova de Gaia: Grupo de Amigos do Mosteiro da Serra do Pilar, n.º 2,
Novembro de 1966, p. 33-55
[Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia ▪ G-9 [FL] 594-ANA]
[251] 1991 LAPA, Teresa, "Casa-Museu Teixeira Lopes: Galerias Diogo de Macedo"
in Roteiro do Concelho de Vila Nova de Gaia. Vila Nova de Gaia: 1991, p. 11
[Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia ▪ 908.469.121(036) [G] ]
[252] 2002 FERNANDES, Sara Elisabete da Conceição, "Casa-Museu Teixeira Lopes (Edifício e História)"
Porto: Escola Superior de Educação, 2002 (trabalho realizado no âmbito da disciplina de "Património I"
do Curso de Gestão do Património) (documento policopiado) [Casa-Museu Teixeira Lopes]
referências 359
referências . 3
bibliografia específica: outros museus
Musée Rodin
[257] http://www.musee_rodin.fr [pesquisa em 2005]
[259] 2001 JULLIEN, Béatrice, "L'infini artificiel, ou la maison-musée de sir John Soane"
in Le Visiteur n.º7, Besançon: Les Éditions de l'Imprimeur, Outono 2001
referências . 4
imagens
A origem das imagens encontra-se referida na ficha síntese de cada caso de estudo.
Todas as outras imagens são fotografias da autora.
Casa Tradicional de Glória do Ribatejo - Associação para a Defesa do Património Glória do Ribatejo
1
Museu Etnográfico Etnográfico e Cultural de Glória do Ribatejo Salvaterra de Magos
Brogueira
4 Casa Memorial Humberto Delgado Associação Casa Memorial
Torres Novas
São Bartolomeu de
23 Casa-Museu João de Deus Câmara Municipal Silves
Messines - Silves
anexos 363
Museu de Alhandra - Casa Dr. Sousa Alhandra
30 Câmara Municipal Vila Franca de Xira
Martins Vila Franca de Xira
31 Museu Júlio Dinis - Uma Casa Ovarense Câmara Municipal Ovar Ovar
Gafanha da Nazaré
34 Casa Gafanhoa Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré
Ílhavo
35 Casa-Museu San Rafael Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, Lda Caldas da Rainha
42 Casa-Museu Maurício Penha Fundação da Casa-Museu Maurício Penha Sanfins do Douro - Alijó
Gafanhão
57 Casa-Museu Maria da Fontaínha Arménio de Vasconcelos
Castro D'Aire
Ossela
62 Casa-Museu Ferreira de Castro Câmara Municipal Oliveira de Azeméis
Oliveira de Azeméis
69 Casa-Museu Manuel Luciano da Silva Associação Dr. Manuel Luciano da Silva Vale de Cambra
anexos 365
Anexo II
Ficha de identificação tipo enviada a cada casa-museu da lista anterior
casa-museu :
localização :
. organismo responsável
. director do museu
. contactos
. horário de funcionamento
. colecções
. tipo de actividades
. publicações da casa-museu
Vocação = conhecer
abertura efectiva
o personagem
habitação do
personagem
personagem
casa-museu
museu
casa
rpm
1 Casa Tradicional de Glória do Ribatejo
5 Casa-Museu do Carvalho
17 Casa-Museu de Camilo
anexos 367
34 Casa Gafanhoa
45 Casa-Museu de Aljustrel
47 Casa-Museu de Alpalhão
48 Casa-Museu de Ferro
49 Casa-Museu de Pechão _
72 Casa-Museu do Paúl
76 Casa-Museu do Jarmelo
79 Casa-Memória de Camões
83 Casa Colombo
anexos 369
Anexo IV
Lista comentada: síntese da informação recolhida sobre as instituições que constam da lista
cedida pela Rede Portuguesa de Museus e outras detectadas no decorrer da investigação.
anexos 371
39 Casa-Museu D. Maria Emília Vasconcellos Cabral
Instalado num solar oitocentista esta instituição expõe as colecções de arte de várias gerações da família
de Francisco Manuel Cabral Mettélo, filho de D. Maria Emília, que anteriormente se encontravam nas
casas de Lisboa dessa mesma família e agora são apresentadas muito ao estilo de period rooms num
museu de artes decorativas. Possui também colecções de carácter etnográfico e outros legados.
Visitamos esta casa-museu no sentido de esclarecer as nossas dúvidas quanto à sua inclusão nos casos
de estudo: embora possuindo uma extensa área de exposição permanente, o seu objectivo principal
não é o de melhor conhecer a vida de D. Maria Emília. Praceta Dr. António Simões Saraiva, 3400-073
Oliveira do Hospital.
40 Casa-Museu Eng. António de Almeida [p. 149]
41 Casa-Museu Solheiro Madureira [p. 201]
42 Casa-Museu Maurício Penha [p. 223]
43 Museu da Fundação da Casa de Mateus
Ocupa duas salas da Casa de Mateus. Na primeira, encontra-se o exemplar dos Lusíadas editado em
1817, na editora Firmin-Didor, pelo 5º Morgado de Mateus, Dom José Maria de Sousa Botelho Mourão,
as chapas de cobre utilizadas para a sua edição de 200 exemplares, correspondência, pergaminhos,
armas e recordações. Na segunda sala, está exposta uma colecção de paramentos utilizados na antiga
capela, um altar do séc. XVII de talha dourada e dezenas de relíquias. Solar de Mateus, 5000 Mateus.
44 Museu Biblioteca da Casa de Bragança - Paço Ducal de Vila Viçosa
"O Museu Biblioteca da Casa de Bragança - Paço Ducal de Vila Viçosa foi criado em 1933, embora a sua
origem remonte a 1915, data do testamento do último rei de Portugal, D. Manuel II. Instalado desde a
década de trinta do século XX num dos mais relevantes monumentos portugueses, o Paço Ducal de Vila
Viçosa, o Museu ocupa actualmente também as instalações do Castelo de Vila Viçosa, abrangendo
uma totalidade de seis núcleos museológicos que albergam colecções diversificadas e de grande
relevância patrimonial." [www.rpmuseus-pt.org] Terreiro do Paço, Vila Viçosa.
45 Casa-Museu de Aljustrel
Propriedade do Santuário de Fátima e aberta ao público desde Agosto de 1992, esta "Casa-Museu que
pretende retratar o quotidiano familiar no tempo das Aparições situa-se ao lado da casa onde nasceu a
vidente Lúcia e a cerca de 200 metros das casas dos Pastorinhos Beatos Francisco e Jacinta."
[www.santuario-fatima.pt/portal/index.php?id=1393] Aljustrel, 2495 Fátima.
46 Casa da Malta / Museu Mineiro
"Antiga casa que servia de alojamento aos mineiros, os «malteses», este edifício adquirido à Companhia
das Minas de Carvão e reconstruído pela Junta de Freguesia da Vila de S. Pedro da Cova é, desde 30 de
Setembro de 1989, Museu Mineiro. […] [É] um espaço de cultura e lazer onde funciona além do Museu
Mineiro, uma biblioteca, um centro de Dia para a 3ª Idade, um Gabinete de Apoio aos ex-trabalhadores
das minas e um anfiteatro para realização de diversas iniciativas." [Constantino Loureiro in desdobrável
da Casa da Malta / Museu Mineiro] Rua da Vila Verde, 253, 4510-457 S. Pedro da Cova.
Projecto de Recuperação da autoria do Arq. António Madureira.
47 Casa-Museu de Alpalhão
A casa foi adquirida com o lucro de rifas vendidas pelos alunos da escola nas festas de Verão e a
colecção etnográfica foi recolhida pelos mesmos junto da população. A escola organiza diversas
actividades desde a inauguração a 30 de Junho de 2001. Rua do Castelo, 6050-031 Alpalhão.
48 Casa-Museu de Ferro
Não foi possível contactar ou obter informações sobre esta instituição. Rua Dr. Oliveira Dias, 6200 Ferro.
49 Casa-Museu de Pechão
Em resposta ao nosso pedido de informação comunicaram-nos que se encontra encerrada ao público.
50 Casa-Museu José Antunes Pissarra
A casa e o espólio foram reunidos pela população de Arrifana que inaugurou a sua casa-museu em
Março de 1999. Travessa do Museu, 6300-035 Arrifana, Guarda.
51 Casa-Museu Anastácio Gonçalves [p. 161]
52 Casa-Museu Comendador Nunes Corrêa
Na casa nasceu o pai do Comendador que em sua homenagem a doa à Santa Casa da Misericórdia de
Pedrógão Grande nela instalando um museu cujo espólio é bastante variado: telas, moedas e medalhas,
borboletas, instrumentos musicais, colecção de ex-libris. Abre ao público de forma esporádica ou por
marcação. Rua 5 de Outubro, Pedrógão Grande.
53 Museu dos Embutidos/Museu Casa de Arte António Santos Pinto
Encontra-se fechado ao público por falta de condições físicas e de recursos humanos, prevendo-se a
transferência do seu espólio de mobiliário de embutidos realizado por António Santos Pinto para um outro
edifício da Santa Casa da Misericórdia de Alpedrinha no centro da aldeia. Rua António Santos Pinto,
6230-075 Alpedrinha.
anexos 373
Através da informação obtida via telefone foi possível perceber que o espólio é de características
etnográficas embora o edifício esteja relacionado com a família de Guerra Junqueiro. Num programa de
rádio sobre a região percebemos que existe um projecto de dinamização comum de um conjunto de
núcleos museológicos da região que por falta de meios não se encontra em total funcionamento.
Travessa de S. Francisco, 5180 Freixo de Espada à Cinta.
72 Casa-Museu do Paúl
O edifício foi recuperado pela Casa do Povo do Paúl e apresenta o ambiente quotidiano de uma família
burguesa no fim do século XIX e uma taberna típica. Rua do Quebra Costas, 6215-445 Paúl.
73 Casa-Museu do Castelejo
Não foi possível contactar ou obter informações sobre esta instituição. Rua Direita, 6230-152 Castelejo.
74 Casa-Museu Mário Coelho
Museu especializado em tauromaquia, inaugurado a 26 de Setembro de 2001, que reúne parte do
espólio do matador de toiros Mário Coelho e se encontra instalado na casa onde este nasceu. O seu
objectivo é dar a conhecer a importância da tauromaquia em Vila Franca de Xira.
Travessa do Alecrim, n.º 5, 2600 Vila Franca de Xira.
75 Museu Etnográfico/Casas Etnográficas de Penha Garcia
Não foi possível entrar em contacto com este museu nem confirmar a sua existência. Rua do Paraíso, n.º
2, 6060 Penha Garcia.
76 Casa-Museu do Jarmelo
Museu etnográfico da aldeia do Jarmelo. Junta de Freguesia de São Pedro do Jarmelo, 6300-210 Guarda.
77 Casa-Museu Palmira Bastos
Trata-se de um espaço memória dedicado à actriz Palmira Bastos instalado na antiga residência de seus
pais e onde funcionam também os espaços administrativos da Junta de Freguesia de Aldeia Gavinha e
um pequeno auditório onde ensaia o Grupo Cénico Palmira Bastos. Foi inaugurado a 27 de Fevereiro de
2000 e apresenta fotos e alguns objectos pessoais. Largo Palmira Bastos, n.º 1, Aldeia Gavinha, Alenquer.
78 Museu "Casa do Tempo"
Sala de exposições temporárias. Rua Dr. José Frenandes de Carvalho, 3280 Castanheira de Pêra.
79 Casa-Memória de Camões
A Casa-Memória de Camões ainda não foi inaugurada, mas representa o esforço de 20 anos de
investigação realizado pela "Associação para a Reconstrução e Instalação da Casa-Memória de Luís de
Camões" sob orientação da Dr.ª Manuela de Azevedo, com o objectivo de construir um espaço de
referência sobre a obra do ilustre poeta. O edifício é constituído por várias salas de exposição e sala
polivalente e foi edificado sobre as ruínas de uma casa onde Camões terá residido durante o seu exílio
em Constância. O projecto final do edifício é da autoria do Arq. Adelino Costa. A mesma associação é
responsável pelo Jardim-Horto de Camões realizado segundo projecto do Professor Arquitecto-Paisagista
Gonçalo Ribeiro Teles. Rua Barca, 1, 2250-046 Constância.
80 Casa-Museu Soledade Malvar [p. 285]
81 Casa-Museu João Tomás Nunes
"A Instituição João Tomás Nunes foi criada em 1942 pelo Prof. Artur Nunes Vidal, em colaboração com a
Junta de Freguesia de Fermentelos. No início começou por se designar Instituição Prémio João Tomás
Nunes e tinha como finalidade distribuir prémios aos alunos das escolas primárias de Fermentelos. Hoje,
para além dessa acção, tem como objectivo a preservação da cultura popular das gentes de
Fermentelos, tendo para isso criado, na sua sede, no Largo do Cruzeiro, uma exposição permanente,
com utensílios de utilização caseira, do amanho dos campos e do trabalho das oficinas artesanais."
[www.cm-agueda.pt, 2004] Largo do Cruzeiro, n.º 48, 3750-424 Fermentelos.
82 Casa de Tormes - Museu Queiroziano [p. 265]
83 Casa Colombo
"A nova exposição permanente da Casa Colombo pretende afirmar-se como um espaço de
reconhecimento da posição estratégica do Porto Santo no contexto da expansão portuguesa […] A
Casa Colombo pretende constituir-se como estrutura sede de um conjunto referencial mais vasto para a
identificação da história do Porto Santo, ao qual irão reunir-se outros núcleos expositivos." [www.rpmuseus-
pt.org] Travessa da Sacristia, 2 9400-176 Porto Santo.
84 Casa-Museu Frederico de Freitas [p. 189]
85 Pólo Museológico do Esparto - Casa Memória d'Alte
A Casa Memória d'Alte inclui o posto de turismo de Alte e um pólo museológico dedicado ao
conhecimento do esparto e do processo que conduz à produção de cordas, esteiras, tapetes, etc. a
partir desta planta herbácea, espontânea no Algarve. Estrada da Ponte, n.º 17, 8100-012 Alte.
86 Casa-Museu de Francisco Ernesto de Oliveira Martins
Esta casa-museu não se encontra aberta ao público. O seu proprietário, Francisco Ernesto de Oliveira
Martins, é um coleccionador fantástico sendo "considerado um dos grandes especialistas, se não o maior
anexos 375
Anexo V
A bola de cristal das estatísticas 1: quem são os personagens?
1.1
n.º de
nascimento por década personagens
1820 . Camilo 1
1830 . Carlos Relvas, João de Deus, Júlio Dinis 3
1840 . Eça de Queiroz 1
1850 . Guerra Junqueiro, José Relvas 2
1860 . Teixeira Lopes 1
1870 . Afonso Lopes Vieira, Egas Moniz, João Soares, Leal da Câmara 4
1880 . Anastácio Gonçalves, Bissaya Barreto, Fernando de Castro, Aquilino Ribeiro,
6
Fernando Pessoa, Marta Ortigão Sampaio
1890 . Abel Salazar, Eng. António de Almeida, Ferreira de Castro,
5
Frederico de Freitas, Medeiros e Almeida
1900 . Humberto Delgado, José Régio 2
1910 . Fernando Namora, José Cercas, Solheiro Madureira, Maurício Penha 4
1920 . Amália Rodrigues, Padre Belo, Soledade Malvar 3
total 32
1.2
n.º de
óbito por década personagens
1.3
n.º de
profissões/actividades personagens
anexos 377
Anexo VI
A bola de cristal das estatísticas 2: localização das casas-museu
3.2
época de construção dos edifícios n.º de casos
antes de 1800 7
século XIX 17
século XX 10
total 34
antes de 1800 . Casas de Guerra Junqueiro, Leal da Câmara, Frederico de Freitas, João de Deus II, Eça de
Queiroz, Amália Rodrigues, Júlio Dinis
durante o século XIX . Casas de Camilo, Afonso Lopes Vieira, Abel Salazar, Fernando de Castro (1893),
Ferreira de Castro, José Régio I, José Régio II, Carlos Relvas (1872/75), João de Deus I, Aquilino Ribeiro (?),
Fernando Namora, Fernando Pessoa, Maurício Penha, José Cercas, João Soares, Humberto Delgado, Medeiros
e Almeida (1896)
durante o século XX . Casas de Teixeira Lopes (1903), Anastácio Gonçalves (1904), José Relvas (1905/09)**,
Egas Moniz (1915)**, Bissaya Barreto (1924/25), Eng. António de Almeida (1933/35), Solheiro Madureira (1950),
Marta Ortigão Sampaio (1955), Soledade Malvar (1954), Padre Belo (?)
** datas dos projectos de ampliação das casas da autoria de Raul Lino e Ernesto Korrodi respectivamente.
3.3
período de ocupação da casa pelo personagem n.º de casos
nunca 2
menos de um ano 2
durante a infância e/ou adolescência 4
entre 10 e 19 anos 4
entre 20 e 29 anos 2
entre 30 e 39 anos 6
entre 40 e 49 anos 5
entre 50 e 59 anos 3
toda a vida (durante férias e outros períodos) 6
total 34
nunca . Guerra Junqueiro, Marta Ortigão Sampaio (mas a casa tinha sido construída para si)
menos de um ano . Júlio Dinis (5 meses), Eça de Queiroz
durante a infância e/ou adolescência . Ferreira de Castro, João de Deus II, Fernando Namora, Humberto
Delgado
entre 10 e 19 anos . João de Deus I (10), Fernando Pessoa (15), José Cercas (15) Leal da Câmara (18)
entre 20 e 29 anos . Carlos Relvas (22), Camilo (27)
entre 30 e 39 anos . Abel Salazar (30), Padre Belo (31), Anastácio Gonçalves (33), Eng. António de Almeida
(33), Frederico de Freitas (36), José Régio I (36)
entre 40 e 49 anos . Medeiros e Almeida (41), Soledade Malvar (42), Amália Rodrigues (44), Teixeira Lopes
(48), José Relvas (48)
entre 50 e 59 anos . Bissaya Barreto (50), Solheiro Madureira (50), Fernando de Castro (53)
toda a vida (durante férias e outros períodos) . Afonso Lopes Vieira, Egas Moniz, José Régio II, Aquilino
Ribeiro, Maurício Penha, João Soares
3.4
ocupação da casa pelo personagem por década
2000
1820
1830
1840
1850
1860
1870
1880
1890
1900
1910
1920
1930
1940
1950
1960
1970
1980
1990
1 1 2 3 6 11 10 13 13 15 17 14 14 10 7 6
anexos 379
Anexo VIII
A bola de cristal das estatísticas 4: metamorfose do edifício
4.1
período de incubação 1: entre o óbito e exteriorização simbólica n.º de casos
antes do óbito 2
mais de 10 anos antes do óbito 1
entre 1 e 9 anos antes do óbito 17
entre 1 e 9 anos após o óbito 2
mais de 10 anos após o óbito 12
total 34
entre 1 e 9 anos após o óbito . Casas de Abel Salazar (1), Fernando de Castro (4)
mais de 10 anos após o óbito . Casas de Bissaya Barreto (10), Guerra Junqueiro (14), João Soares (19), João
de Deus I (21), Aquilino Ribeiro (23), Camilo (25), Humberto Delgado (+/- 29), Fernando Pessoa (55), Eça de
Queiroz (70), João de Deus II (76), Carlos Relvas (84), Júlio Dinis (103)
4.2
período de incubação 2: entre exteriorização simbólica e abertura ao público n.º de casos
menos de um ano 6
entre 1 e 5 anos 7
entre 6 e 19 anos 16
mais de 20 anos 5
total 34
menos de 1 ano . Casas-Museu Abel Salazar, Amália Rodrigues, Solheiro Madureira, Fernando de Castro, Leal
da Câmara, Teixeira Lopes
entre 1 a 5 anos . Casas-Museu Bissaya Barreto (2), Aquilino Ribeiro (2), Carlos Relvas (3), Maurício Penha (4),
Soledade Malvar (4), Guerra Junqueiro (5), José Cercas (5)
entre 6 e 19 anos . Casas-Museu João Soares (6), José Régio II (6), Padre Belo (6), Afonso Lopes Vieira (7),
Ferreira de Castro (7), Eng. António de Almeida (7), Camilo (7), Fernando Namora (7), Humberto Delgado (?),
Fernando Pessoa (?), Frederico de Freitas (10), José Régio I (11), Júlio Dinis (12), Anastácio Gonçalves (16), Eça
de Queiroz (16), Egas Moniz (17)
mais de 20 anos . Casas-Museu Marta Ortigão Sampaio (22), João de Deus II (29), José Relvas (31), Medeiros e
Almeida (41), João de Deus I (65)
4.3
período de incubação 3: número de intervenções e/ou projectos
n.º de casos
após exteriorização simbólica por casa-museu
0 1
1 8
2 13
3 2
4 4
5 1
6 1
7 2
8 2
total 34
o mote: 1915-1949 9
a maturidade: 1950-1987 42
a experimentação: 1988-2005 46
total 97
4.5
intervenções e/ou projectos nas casa-museu: cronologia
anexos 381
27. 1972-85 Casa-Museu Anastácio Gonçalves
Adaptação a museu ▪ Instituto Português de Museus
28. 1974 Casa-Museu Eng. António de Almeida
Ampliação: auditório ▪ Arq. Fernando Távora
29. 1974-75 Casa de José Régio II
Adaptação a museu ▪ Câmara Municipal de Vila do Conde
30. 1974-76 Casa de Camilo
Beneficiação ▪ Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
31. 1975-81 Casa-Museu Guerra Junqueiro
Beneficiação e alteração da disposição das colecções ▪ Câmara Municipal do Porto
anexos 383
Anexo IX
A bola de cristal das estatísticas 5: como são os museus?
5.1
iniciativa n.º de casos percentagem
privada (iniciativa do próprio personagem) . Casas-Museu Teixeira Lopes, Leal da Câmara, Afonso Lopes
Vieira, José Relvas, Egas Moniz, José Régio I, Eng. António de Almeida, Ferreira de Castro, Anastácio Gonçalves,
Frederico de Freitas, Solheiro Madureira, Maurício Penha, José Cercas, Marta Ortigão Sampaio, Medeiros e
Almeida, Amália Rodrigues, Soledade Malvar, Padre Belo
privada (iniciativa da família, amigos e/ou admiradores) . Casas-Museu Camilo, Guerra Junqueiro, Abel
Salazar, Fernando de Castro, José Régio II, Carlos Relvas, João de Deus I, Bissaya Barreto, Aquilino Ribeiro, João
Soares, Eça de Queiroz
pública . Casas-Museu Fernando Namora, Fernando Pessoa, Humberto Delgado, João de Deus II, Júlio Dinis
5.2
tutela n.º de casos percentagem
administração central . Casas-Museu Fernando de Castro (IPM), Anastácio Gonçalves (IPM) , Abel Salazar
(Universidade do Porto)
administração local - câmaras municipais . Casas-Museu Camilo, Teixeira Lopes, Guerra Junqueiro, Leal
da Câmara, Afonso Lopes vieira, José Relvas, Egas Moniz, Ferreira de Castro, José Régio I, José Régio II, Carlos
Relvas, Fernando Namora, Fernando Pessoa, José Cercas, Humberto Delgado, Júlio Dinis, Marta Ortigão
Sampaio, João de Deus II, Soledade Malvar
privados - fundações . Casas-Museu Eng. António de Almeida, João de Deus I, Bissaya Barreto, Aquilino
Ribeiro, Maurício Penha, João Soares, Eça de Queiroz, Medeiros e Almeida, Amália Rodrigues, Solheiro Ma-
dureira
5.3
abertura ao público e idade n.º de casos percentagem
1920 a 1949 . Casas-Museu Camilo 1922 (83 anos), Teixeira Lopes 1932 (73), Guerra Junqueiro 1942 (63), Leal
da Câmara 1945 (60), Afonso Lopes Vieira 1946 (59), Abel Salazar 1947 (58)
1950 a 1989. Casas-Museu Fernando de Castro 1952 (53), Patudos . José Relvas 1961 (44), Egas Moniz 1968 (37),
José Régio I 1971 (34), Eng. António de Almeida 1973 (32), Ferreira de Castro 1974 (31), José Régio I 1975 (30),
Anastácio Gonçalves 1980 (25), Carlos Relvas 1980 (25), João de Deus I 1982 (23), Bissaya Barreto 1986 (19),
Frederico de Freitas 1988 (17), Solheiro Madureira 1988 (17) Aquilino Ribeiro 1988 (17)
1990 a 2005 . Casas-Museu Fernando Namora 1990 (15), Fernando Pessoa 1993 (12), Maurício Penha 1993 (12),
José Cercas 1995 (10), João Soares 1996 (9), Humberto Delgado 1996 (9), Júlio Dinis 1996 (9), Marta Ortigão
Sampaio 1996 (9), João de Deus II 1997 (8), Tormes . Eça de Queiroz 1997 (8), Medeiros e Almeida 2001 (4),
Amália Rodrigues 2001 (4), Soledade Malvar 2002 (3), Padre Belo 2003 (2)
entrada/vestíbulo da casa 18 53 %
escritório/biblioteca 17 50 %
atelier 7 21%
sala de estar/saleta 22 65 %
salão de recepção 6 18 %
salas do coleccionador 10 29%
sala de jantar 21 62 %
cozinha 11 32 %
quarto do personagem 27 79 %
quarto(s) 8 24 %
quarto de vestir 5 15 %
casa de banho 4 12 %
outros 5 15%
não expõe nenhuma divisão de âmbito doméstico 2 6%
jardins da casa com significado particular 11 32%
entrada/vestíbulo da casa ▪ Casas-Museu Camilo, Teixeira Lopes, Fernando de Castro, Patudos - José
Relvas, Egas Moniz, José Régio I, José Régio II, Anastácio Gonçalves, João de Deus I, Bissaya Barreto, Frederico
de Freitas, Solheiro Madureira, Maurício Penha, Marta Ortigão Sampaio, Eça de Queiroz, Medeiros e Almeida,
Amália Rodrigues, Soledade Malvar
escritório/biblioteca ▪ Casas-Museu Camilo, Teixeira Lopes, Afonso Lopes Vieira, Fernando de Castro, Patudos
- José Relvas, Egas Moniz, José Régio I, José Régio II, Anastácio Gonçalves, Bissaya Barreto, Frederico de Freitas,
Solheiro Madureira, Fernando Namora, Marta Ortigão Sampaio, Eça de Queiroz, Medeiros e Almeida, Padre
Belo
atelier ▪ Casas-Museu Teixeira Lopes, Leal da Câmara, Abel Salazar, Anastácio Gonçalves (atelier Malhoa),
Carlos Relvas, Maurício Penha, José Cercas
sala de estar/saleta ▪ Casas-Museu Camilo, Guerra Junqueiro, Leal da Câmara, Afonso Lopes Vieira, Abel
Salazar, Fernando de Castro, Patudos - José Relvas, Egas Moniz, Ferreira de Castro, Eng. António de Almeida,
José Régio II, Bissaya Barreto, Frederico de Freitas, Solheiro Madureira, José Cercas, João de Deus I, Humberto
Delgado, Júlio Dinis, Marta Ortigão Sampaio, João de Deus II, Eça de Queiroz, Amália Rodrigues
salão de recepção ▪ Casas-Museu Teixeira Lopes, Patudos - José Relvas, Egas Moniz, Eng. António de
Almeida, Frederico de Freitas, Medeiros e Almeida
salas do coleccionador ▪ Casas-Museu Teixeira Lopes, Leal da Câmara, Fernando de Castro, Patudos - José
Relvas, José Régio I, José Régio II, Anastácio Gonçalves, Solheiro Madureira, Medeiros e Almeida, Padre Belo
sala de jantar ▪ Casas-Museu Camilo, Teixeira Lopes, Guerra Junqueiro, Leal da Câmara, Abel Salazar,
Fernando de Castro, Patudos - José Relvas, Egas Moniz, Eng. António de Almeida, José Régio II, Anastácio
Gonçalves, Bissaya Barreto, Frederico de Freitas, Solheiro Madureira, Aquilino Ribeiro, João de Deus I, Eça de
Queiroz, Medeiros e Almeida, Amália Rodrigues, Soledade Malvar, Padre Belo
cozinha ▪ Casas-Museu Camilo, Ferreira de Castro, José Régio I, Frederico de Freitas, Maurício Penha, José
Cercas, Humberto Delgado, Júlio Dinis, João de Deus II, Eça de Queiroz (circuito alternativo), Padre Belo
quarto do personagem ▪ Casas-Museu Camilo, Teixeira Lopes, Abel Salazar, Fernando de Castro, Patudos -
José Relvas, Egas Moniz, Ferreira de Castro, José Régio I, Eng. António de Almeida, José Régio II, Anastácio
Gonçalves, Bissaya Barreto, Frederico de Freitas, Solheiro Madureira, Aquilino Ribeiro, Fernando Pessoa, Maurício
Penha, José Cercas, João de Deus I, Júlio Dinis, Marta Ortigão Sampaio, João de Deus II, Eça de Queiroz,
Medeiros e Almeida, Amália Rodrigues, Soledade Malvar, Padre Belo
quarto(s) ▪ Casas-Museu Camilo, Egas Moniz, Ferreira de Castro, Eng. António de Almeida, José Régio II,
Humberto Delgado, Júlio Dinis, Amália Rodrigues
quarto de vestir ▪ Casas-Museu Patudos - José Relvas, Egas Moniz, Eng. António de Almeida, Medeiros e
Almeida, Amália Rodrigues
casa de banho ▪ Casas-Museu Camilo, Anastácio Gonçalves, Marta Ortigão Sampaio, Medeiros e Almeida,
outros ▪ Casas-Museu Afonso Lopes Vieira (capela), Abel Salazar (capela), Patudos – José Relvas (sala de
família, sala de música), Egas Moniz (capela, oratório, sala de jogo), Frederico de Freitas (sala de chá)
não expõe nenhuma divisão de âmbito doméstico ▪ Casas-Museu Carlos Relvas, João Soares
jardins da casa com significado particular ▪ Casas-Museu Camilo, Afonso Lopes Vieira, Patudos - José
Relvas, Ferreira de Castro, Eng. António de Almeida, José Régio II, Carlos Relvas, Bissaya Barreto, Frederico de
Freitas, Júlio Dinis, Marta Ortigão Sampaio
anexos 385
5.6
género de espaços disponíveis n.º de casos percentagem
recepção 24 71 %
destaque de uma ou mais colecções em espaço de exposição permanente 15 44 %
exposição temporária 19 56 %
espaço polivalente 11 32 %
espaços exteriores 31 91 %
biblioteca/centro de documentação 16 47 %
loja 20 59 %
auditório 9 26 %
espaços para serviço educativo 9 26 %
cafetaria 9 26 %
espaço multimédia/audiovisuais 1 3%
espaços administrativos 23 68%
reservas 24 71%
ateliers de conservação e/ou restauro 10 29%
outros 7 21%
não possui espaços para o público 2 6%
recepção ▪ Casas-Museu Camilo, Teixeira Lopes, Guerra Junqueiro, Afonso Lopes Vieira, Abel Salazar, Patudos
- José Relvas, Egas Moniz, Ferreira de Castro, José Régio I, Eng. António de Almeida, Anastácio Gonçalves,
Carlos Relvas, Bissaya Barreto, Frederico de Freitas, Fernando Namora, Fernando Pessoa, João Soares, Marta
Ortigão Sampaio, João de Deus II, Eça de Queiroz, Medeiros e Almeida, Amália Rodrigues, Soledade Malvar,
Padre Belo
destaque de uma ou mais colecções em espaço de exposição permanente ▪ Casas-Museu Tei-
xeira Lopes, Leal da Câmara, Abel Salazar, Fernando de Castro, Egas Moniz, José Régio I, Eng. António de
Almeida, Anastácio Gonçalves, Bissaya Barreto, Frederico de Freitas, Aquilino Ribeiro, João Soares, Marta
Ortigão Sampaio, Medeiros e Almeida, Padre Belo
sala de exposição temporária ▪ Casas-Museu Camilo, Teixeira Lopes, Guerra Junqueiro, Afonso Lopes Vieira,
Fernando de Castro, Patudos - José Relvas, José Régio I, Eng. António de Almeida, José Régio II, Anastácio
Gonçalves, Carlos Relvas, Bissaya Barreto, Frederico de Freitas, Fernando Pessoa, Maurício Penha, João Soares,
Medeiros e Almeida, Soledade Malvar, Padre Belo
espaço polivalente ▪ Casas-Museu Leal da Câmara, Abel Salazar, Egas Moniz, Ferreira de Castro, José Régio
I, Eng. António de Almeida, Frederico de Freitas, Fernando Namora, João de Deus II, Eça de Queiroz, Medeiros e
Almeida
espaços exteriores ▪ Casas-Museu Camilo, Teixeira Lopes, Guerra Junqueiro, Leal da Câmara, Afonso Lopes
Vieira, Abel Salazar, Fernando de Castro, Patudos - José Relvas, Egas Moniz, Ferreira de Castro, José Régio I,
Solheiro Madureira, Eng. António de Almeida, José Régio II, Anastácio Gonçalves, Carlos Relvas, Bissaya Barreto,
Frederico de Freitas, Aquilino Ribeiro, Fernando Namora, Fernando Pessoa, Maurício Penha, José Cercas, João
Soares, Humberto Delgado, Júlio Dinis, Marta Ortigão Sampaio, João de Deus II, Eça de Queiroz, Soledade
Malvar, Padre Belo
biblioteca/centro de documentação ▪ Casas-Museu Camilo, Teixeira Lopes, Afonso Lopes Vieira, Abel
Salazar, José Régio I, José Régio II, Anastácio Gonçalves, Aquilino Ribeiro, Fernando Pessoa, Maurício Penha,
João Soares, Humberto Delgado, Júlio Dinis, Marta Ortigão Sampaio, João de Deus II, Padre Belo
loja ▪ Casas-Museu Camilo, Teixeira Lopes, Guerra Junqueiro, Afonso Lopes Vieira, Abel Salazar, Patudos - José
Relvas, Egas Moniz, José Régio I, Eng. António de Almeida, Anastácio Gonçalves, Carlos Relvas, Frederico de
Freitas, Fernando Namora, Fernando Pessoa, João Soares, Marta Ortigão Sampaio, Eça de Queiroz, Medeiros e
Almeida, Amália Rodrigues, Padre Belo
auditório ou sala de conferências ▪ Casas-Museu Camilo, Guerra Junqueiro, Eng. António de Almeida, José
Régio II, Frederico de Freitas, Fernando Pessoa, Maurício Penha, João Soares, Eça de Queiroz
espaços para serviço educativo ▪ Casas-Museu Teixeira Lopes, Guerra Junqueiro, José Régio I, José Régio II,
Anastácio Gonçalves, Frederico de Freitas, João Soares, Marta Ortigão Sampaio, João de Deus II
cafetaria ▪ Casas-Museu Camilo, Guerra Junqueiro, Patudos - José Relvas, José Régio I, Carlos Relvas, Frederico
de Freitas, Fernando Pessoa, João de Deus II, Medeiros e Almeida
espaço multimédia/audiovisuais ▪ Casa-Museu João de Deus II
espaços administrativos ▪ Casas-Museu Camilo, Teixeira Lopes, Guerra Junqueiro, Leal da Câmara, Afonso
Lopes Vieira, Abel Salazar, Fernando de Castro, Patudos - José Relvas, Egas Moniz, José Régio I, Solheiro
Madureira, Eng. António de Almeida, José Régio II, Anastácio Gonçalves, Bissaya Barreto, Frederico de Freitas,
Fernando Pessoa, João Soares, Marta Ortigão Sampaio, João de Deus II, Eça de Queiroz, Medeiros e Almeida,
Padre Belo
reservas ▪ Casas-Museu Camilo, Teixeira Lopes, Guerra Junqueiro, Leal da Câmara, Afonso Lopes Vieira, Abel
Salazar, Fernando de Castro, Patudos - José Relvas, Egas Moniz, José Régio I, Eng. António de Almeida, José
Régio II, Anastácio Gonçalves, Bissaya Barreto, Frederico de Freitas, Fernando Namora, Maurício Penha, João
Soares, Marta Ortigão Sampaio, João de Deus II, Eça de Queiroz, Medeiros e Almeida, Soledade Malvar, Padre
Belo
ateliers de conservação e/ou restauro ▪ Casas-Museu Teixeira Lopes, Guerra Junqueiro, Leal da Câmara,
Abel Salazar, Patudos - José Relvas, Anastácio Gonçalves, Frederico de Freitas, Maurício Penha, Soledade
Malvar, Padre Belo
outros ▪ Casas-Museu Camilo: Centro de Estudos Camilianos, Leal da Câmara: Núcleo dos Saloios, Patudos -
José Relvas: Centro Enoturístico, José Régio I : Centro de Estudos José Régio, Carlos Relvas: Laboratório de
Fotografia, João Soares: dois apartamentos, Eça de Queiroz: casas de turismo rural, adega
correspondente à casa
exposição permanente
da casa para o museu
actividades do museu
área bruta da casa
serviços ao público
total de exposição
zonas de apoio às
outras exposições
área bruta actual
áreas exteriores
administração
permanentes
casa-museu
temporárias
exposições
áreas úteis
camilo 473+(2316) 473 2316 345 205 90 (195) 490 9+(705) 9+(130) (430) 1200+(4300)
teixeira lopes 2605 1616 989 1251 609 692 88 1389 125 58 300 1200
guerra
1928 ** ** ** - 282 152 434 243 97 310 660
junqueiro
leal da câmara 618+(207) 704 119 521 85 144+(100) - 329 73 18 122 1400+(800)
afonso lopes
311 539 -228 415 104 - 31 135 22 29 30 645
vieira
abel salazar 581+(254) 581 254 413 99 150 - 249 14+(141) 60 11+(58) 950
fernando de
961 961 0 618 244 15 - 259 226* 22 192 2000
castro
patudos – josé
3610 3610 0 2288 845 211 298 1354 521 73 1015 **
relvas
egas moniz 1294 648 646 491 290 392 - 682 85* - 94 **
ferreira de
108+(178) 108 178 41 41 55 - 96 79* 9 33 400
castro
josé régio I 1272 532 689 388 351 84 52 487 190 64 28 140
eng. antónio de
1011 888 123 689 269 71 - 340 172* 28 145 **
almeida
josé régio II 430+(289) 430 289 276 247 16 (17) 274 (77) (25) 13+(10) 264
anastácio
1066 534 532 371 223 8 166 397 63 87 169 410
gonçalves
frederico de
3150 2150 1000 1445 534 501 182+124 1341 231 96 338 754
freitas
solheiro
** ** **
madureira
aquilino ribeiro ** ** 0
fernando
139 212 -73 ** - 39 - 39 33* - 23 106
namora
fernando
1296 ** ** ** - - 204 204 296 70 200 152
pessoa
maurício penha 590 590 0 431 38 - 124 162 133 26 109 490
humberto
150 69 81 49 49 50 - 99 7 - - 200
delgado
marta ortigão
936 936 0 720 307 56 - 363 82 26 125 1643
sampaio
tormes – eça de
1264 ** ** ** 220 34 - 254 311 50 249 **
queiroz
medeiros e
2760 2760 0 2160 1093 32 113 1243 187* 215 362 91
almeida
amália
** ** 0
rodrigues
soledade
248 248 0 181 93 10 31 134 5 - 31 41
malvar
anexos 387
5.7
dimensão: área bruta do museu n.º de casos
menos de 499 m2 8
entre 500 e 999 m2 10
entre 1000 e 1999 m2 8
entre 2000 e 2999 m2 3
mais de 3000 m2 2
não foi possível obter dados 3
total 34
menos de 499 m2 . Casas-Museu João de Deus I (127), José Cercas (133), Fernando Namora (139), Humberto
Delgado (150), Júlio Dinis (154), Soledade Malvar (248), Ferreira de Castro (286), Afonso Lopes Vieira (311)
entre 500 e 999 m2 . Casas-Museu Maurício Penha (590), João de Deus II (620), Padre Belo (694), José Régio II
(719), Leal da Câmara (825), Abel Salazar (835), Carlos Relvas (841), Bissaya Barreto (856), Marta Ortigão
Sampaio (936), Fernando de Castro (961)
entre 1000 e 1999 m2 . Casas-Museu Eng. António de Almeida (1010), Anastácio Gonçalves (1066), José Régio
I (1221), Tormes. Eça de Queiroz (1264), João Soares (1290), Egas Moniz (1294), Fernando Pessoa (1296), Guerra
Junqueiro (1928)
entre 2000 e 2999 m2 . Casas-Museu Teixeira Lopes (2605), Medeiros e Almeida (2760), Camilo (2789)
mais de 3000 m2 . Casas-Museu Frederico de Freitas (3150), Patudos - José Relvas (3610)
não foi possível obter dados . Casas-Museu Solheiro Madureira, Aquilino Ribeiro, Amália Rodrigues
5.8
dimensão: áreas de exposição n.º de casos
menos de 99 m2 6
entre 100 e 299 m2 9
entre 300 e 499 m2 12
entre 500 e 999 m2 1
mais de 1000 m2 4
não foi possível obter dados 3
total 34
menos de 99 m2 . Casas-Museu Fernando Namora (39), Júlio Dinis (70), José Cercas (85), Ferreira de Castro
(96), João de Deus I (97), Humberto Delgado (99)
entre 100 e 299 m2 . Casas-Museu Soledade Malvar (134), Afonso Lopes Vieira (135), João de Deus II (143),
Maurício Penha (162), Fernando Pessoa (204), Tormes - Eça de Queiroz (254), Padre Belo (269), José Régio II
(274), João Soares (282)
entre 300 e 499 m2 . Casas-Museu Abel Salazar (249), Fernando de Castro (259), Leal da Câmara (329),
Bissaya Barreto (340), Eng. António de Almeida (340), Marta Ortigão Sampaio (363), Carlos Relvas (366),
Anastácio Gonçalves (397), «Guerra Junqueiro (434), José Régio I (487), Camilo (490)
mais de 1000 m2 . Casas-Museu Medeiros e Almeida (1243), Frederico de Freitas (1341), Patudos – José Relvas
(1354), Teixeira Lopes (1389)
não foi possível obter dados . Casas-Museu Solheiro Madureira, Aquilino Ribeiro, Amália Rodrigues