Alcoc3b3licos Anc3b4nimos 80 Anos 2
Alcoc3b3licos Anc3b4nimos 80 Anos 2
Alcoc3b3licos Anc3b4nimos 80 Anos 2
“
alcoólico fala com outro alcoólico, compartilhando experiências, forças e
esperanças” – Alcoólicos Anônimos, pg. 19/4/3
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Introdução
Muito importante: os textos contidos nesta apostila não fazem parte da literatura de A.A.
aprovada ou autorizada pela Conferência de Serviços Gerais de A.A., nem pretende caráter oficial,
mas sim subsidiar quem se disponha a dar continuidade às pesquisas sobre esta história fascinante.
Esta pequena apostila foi criada para lembrar o 80º aniversário de A.A. no mundo, no dia 10
de junho de 2015. Foi elaborada apenas com o material que este transcritor foi recolhendo de fontes
fidedignas e/ou oficiais, verificando e organizando nos últimos tempos. Trata-se de uma coletânea de
textos relacionados direta ou indiretamente com a Irmandade de A.A., sua literatura, o contexto
sócio-político e histórico em que ela se desenvolveu e seu processo de evolução. Os textos foram
extraídos da literatura disponível de A.A., do Boletim trimestral do GSO – Box 4-5-9 (os textos
retirados deste boletim constituem literatura de A.A. aprovada pela Conferência e sua inserção nesta
apostila tem a autorização de A.A.W.S. – Serviços Mundiais de A.A., desde que transcritos
integralmente e tenham sua fonte citada) e de pesquisas na Internet - algumas com graus diversos de
interpretações às quais este transcritor atribui crédito, mas que por elas não se responsabiliza, razão
pela qual deverão sempre ficar sujeitas a comprovação e verificação por parte de qualquer leitor
interessado.
As transcrições foram feitas por um membro de A.A. e destinam-se unicamente a membros e
amigos de A.A. Embora se trate de um trabalho menor, sem o devido rigor acadêmico e respeitando
as limitações do transcritor, seu propósito é levar aos novos membros um mínimo do conhecimento
básico da fascinante história de A.A. que além de educativa, pode ser muito útil no processo de
recuperação e incentivá-los a se aprofundarem na pesquisa e divulgação de nossas raízes e na
preservação de sua linguagem universal. Não pretende absolutamente dizer a quem quer que seja o
quê nem como fazer, nem obriga a concordar com todo ou parte do texto, nem contestar, questionar
ou desqualificar opinião já formada, mas auxiliar na formação de opinião daqueles que ainda não a
têm e contribuir para a boa informação e a afirmação dos membros na Irmandade e sua inclusão nos
órgãos de serviço – grupo e estrutura.
Para que estas informações sejam as mais corretas possíveis, este transcritor pede sua
colaboração, leitor/a, no sentido de indicar eventuais falhas que possam comprometer o sentido e a
veracidade dos relatos, enviando o texto correto com a devida comprovação obedecendo a uma
forma tradicional ou documentada, para poder efetuar a revisão.
O folheto “Guia dos Arquivos Históricos” do ESG de Nova York - agora adotado pelo
CAHist da Junaab, começa com uma frase de Carl A. Sandburg (1878-1967): “Quando uma
civilização ou uma sociedade desaparece, há sempre uma condição presente: seus membros
esqueceram-se de onde vieram”. A Irmandade de A.A. foi fundada há apenas 80 anos; nem você
nem eu temos o direito de deixar que desapareça. Mesmo que seja somente pela simples questão da
nossa sobrevivência, precisamos resgatar e preservar sua história e divulgá-la. Todo membro de A.A.
já sabe de onde veio; para ficar, tem o direito de saber onde está e nós temos o dever de lhe contar.
Tudo de graça veio e de graça-grata está indo. Se o conteúdo lhe for proveitoso, passe adiante
nesse espírito. Obrigado.
pepepan47@hotmail.com
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PRIMEIRA PARTE
...E assim começou “‘Alcoólicos Anônimos’ -
o milagre do século 20”
(expressão atribuída ao franciscano italiano Angelo Giuseppe Roncalli (1881-1963) quando
pontífice da igreja católica romana, entre outubro de 1958 e junho de 1963, com o nome João 23).
O resgate do Mensageiro
No começo de 1934 ingressou no Grupo de Oxford de Nova York
Rowland Hazard III (Roy) (1881 – 1945), membro de uma dinastia de
magnatas da Ilha de Rhodes (EUA). Após varias internações por
alcoolismo, em 1931, foi levado pela família a procurar ajuda para seu
problema em Zürich com o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875 –
1961) - um dos pais da psicologia analítica (psicanálise) com quem Bill
W., mais tarde, trocou correspondência.
Após algum tempo de terapia, o resultado
foi desanimador e o Dr. Jung teria sugerido que
“somente uma profunda transformação através de
Rowland Hazard III uma conversão espiritual, seria capaz de remover
sua esmagadora compulsão pela bebida”.
De volta à América, Rowland ficou internado entre fevereiro e março
de 1932. Ao sair da internação foi procurar o terapeuta leigo Courtenay
Baylor (1870-1945), um dos líderes do Movimento Emmanuel que o
ajudou a se manter sóbrio. Baylor também compartilhava a ideia do Dr. Jung
Carl Gustav Jung
a respeito da necessidade da conversão espiritual, e indicou-lhe o Grupo de
Oxford de Nova York, onde, após sua “conversão” a Deus através de Sam Shoemaker, ingressou no
Grupo e passou a fazer parte de uma equipe de abordagem.
Nessa condição, acompanhado de Francis Shepard (Shep) Cornell
(1899-1985) e Cebra Q. Graves (1898-1979) viajou em agosto desse ano à
cidade de Bennington, Vermont - onde Rowland tinha uma casa de veraneio
e Cebra era filho do juiz local, Collins Millard
Graves, abordar Edwin (Ebby) T. Thacher (1896-
1966) – antigo companheiro de escola e farras de Bill
W. Ebby tinha sido preso, e iria a julgamento, por
dirigir embriagado e provocado um grave acidente
destruindo parte de uma residência e o novo
Shep Cornell
automóvel “Packard” de seu pai. Devido às
reincidências a Promotoria estava pedindo sua internação no Asilo
Brattleboro, para doentes mentais; porém, os três oxfordianos persuadiram o
Cebra Graves Tribunal, conseguiram a custódia de Ebby e levaram-no para Nova York.
Algum tempo depois Ebby, por intermédio de Sam Shoemaker e apadrinhado por Rowland,
confessou seu alcoolismo e entregou sua vida a Deus na Igreja do Calvário – este era o procedimento
da “rendição” e da “conversão”. Ficou sóbrio e decidiu ajudar seu amigo Bill Wilson. Assim, numa
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sombria manhã de novembro de 1934, quando o telefone tocou Bill W. atendeu e ouviu a voz
familiar de Ebby T. Ebby estava em Nova York. Contou que ouvira falar da dificuldade de Bill e
perguntou se podia ir ao Brooklyn para vê-lo.
A Mensagem
Duas noites mais tarde, Ebby e Bill estavam
sentados à mesa da cozinha da casa nº 182 da Rua Clinton.
Havia uma garrafa de gim e uma jarra de suco de abacaxi sobre
a mesa, mas apenas Bill bebia. Entre incrédulo e estupefato,
ouviu Ebby recusar a bebida e dizer que agora tinha religião e
estava sóbrio há alguns meses seguindo alguns preceitos
básicos: admitir a derrota perante o álcool, se tornar honesto
consigo mesmo, confessar seus defeitos a outra pessoa, fazer
reparações dos danos causados, ajudar os outros
desinteressadamente e rezar a Deus na forma em que o
concebia. Ebby não tentou pressionar nem evangelizar.
Após este encontro Bill continuou a beber, porém, não
conseguia tirar Ebby da cabeça nem aquela afinidade
encontrada no fato de que “um alcoólico tinha estado falando
Ebby T. Thacher com outro alcoólico”.
“O Mensageiro” Poucos dias depois, em sete de dezembro de 1934, Bill
W. decidiu ver o que acontecia na Missão do Calvário que
ficava do outro lado da cidade, na East 23rd Street com Segunda Avenida, em Gramercy Park. Ao
descer do metrô, ao invés de ir pra lá começou a entrar nos bares, e somente ao cair da noite e
acompanhado de outro bêbado, um finlandês de nome Alec, chegou ao local e o encarregado não os
deixava entrar não fosse a intervenção de Ebby. Depois de comer um prato de feijão, aceitaram
assistir uma reunião num auditório cheio de abandonados cheirando a suor e álcool.
Após alguns cânticos, orações, sermões, ao ouvir os depoimentos daquelas pessoas o interesse
e o entusiasmo de Bill iam aumentando.
Quando veio o chamado para a “rendição” e a “conversão”, ao ver alguns homens caminhando na
direção do púlpito, Bill sentiu um impulso magnético e inexplicavelmente impelido também se
aproximou do púlpito ajoelhando-se entre os trêmulos penitentes. Sentiu uma grande motivação e
colocando-se em pé começou a falar. Mais tarde não se lembrava do que tinha falado, mas Ebby
disse-lhe que tinha feito tudo certo e havia “entregado a sua vida a Deus”. Achou que tinha
encontrado a sobriedade, teve uma longa conversa com Lois e naquela noite conseguiu dormir sem
tomar uma gota de álcool.
Porém na manhã seguinte, depois de Lois, sua mulher, sair para o trabalho, voltou a beber. E
bebeu por mais dois ou três dias.
Bob. Foi o que fiz”. E se propôs a marcar um encontro com o médico cirurgião Robert Holbrook
Smith (Dr. Bob) (1879-1950) – também membro do Grupo de Oxford de Akron havia dois anos e
meio - um beberrão cético, já beirando o desprestigio profissional.
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O Dr. Bob e o Grupo de Oxford em Akron
Em 1933 os tempos eram extremamente difíceis para todo mundo, mas piores para Robert
Holbrook Smith - Dr. Bob (1879-1950): Dr. Bob quase não clinicava. Ele se escondia ou ficava em
casa indisposto. Anne e Lilly, a secretária do Dr. Bob, mentiam para os pacientes dele. Conseguiram
uma ampliação do prazo para pagar a hipoteca da casa. No inicio desse ano Dr. Bob e Anne entraram
em contato com o Grupo de Oxford, que se tinha instalado na cidade em janeiro daquele ano e ela o
persuadiu a frequentar as reuniões, mas posteriormente ele mesmo se sentiu atraído pelos membros
“por causa do aparente equilíbrio, saúde e felicidade”. Seu entusiasmo esfriou de certa forma
quando descobriu que o programa tinha um aspecto espiritual.
Entretanto era tranquilizador saber que não se reuniam em igrejas, mas no Hotel Mayflower e
em casas particulares. “Em nenhum momento senti que ali houvesse uma resposta para meu
problema com a bebida alcoólica”, disse. No entanto, durante os dois anos e meio seguintes Dr. Bob
frequentou regularmente as reuniões do Grupo de Oxford, dedicou muito tempo ao estudo de sua
filosofia, e embarcou em uma busca espiritual destinada a durar pelo resto da vida. Contudo, ficava
bêbado.
Em 1934/35, a esposa e os filhos do Dr. Bob estavam
passando necessidades e vivendo num campo de batalha de
promessas quebradas, feitas com toda sinceridade. Então,
Anne Robinson Ripley (1881 – 1949), ou, Anne Smith, sua
mulher, procurou Henrietta Seiberling pedindo ajuda para
seu marido.
Numa noite de abril de 1935, Henrietta e outras
pessoas sentiram que deveriam fazer alguma coisa pelo Dr.
Bob e procurou seus colegas do Grupo de Oxford, o casal T.
T. Henry e Clarace Williams
Henry e Clarace Williams que concordaram em ceder sua
casa para fazer uma reunião com Dr. Bob nos moldes da “rendição” e “conversão” do Grupo de
Oxford. Ele aceitou e dessa reunião de compartilhamento participaram vários membros do Grupo de
Oxford. Mas apesar da boa vontade de todos, inclusive dele próprio, a mágica não funcionou. Este
foi o inicio das reuniões do Grupo de Oxford às quartas feiras à noite na casa dos Williams.
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compreendeu o que lhe afligia; como médico, nunca tinha pensado nessa possibilidade. Passadas
mais de cinco horas de compartilhamento e reciprocidade produziu-se a identificação necessária
entre dois alcoólicos que falando de si próprios, um para o outro, conseguem manter-se afastados da
bebida, e desta constatação deriva toda a proposta de A.A.
Bill ficou hospedado na casa dos Smith em Akron. Algumas semanas após, o Dr. Bob foi
participar da Convenção Médica Americana no hotel Atlantic City, em Nova Jersey; bebeu o tempo
todo e ao voltar para casa teve um apagamento que durou mais de 24 horas e levou três dias para
ficar sóbrio.
A Fundação do Alcoólico
Apesar deste contratempo, foi mantida a ideia de pedir contribuições
para pagar os custos das divulgações e manter um escritório de serviços.
Para isso foi planejada uma fundação de caridade isenta de impostos, e para
realizar o trabalho legal foi recrutado o advogado John Wood. À instituição
foi dado o nome de Fundação do Alcoólico. Para cuidar da administração
e recolher doações e contribuições o Dr. Bob e Bill criaram em Nova York,
11 de agosto de 1938, um conselho, ou junta, de cinco Custódios formado
três amigos influentes não alcoólicos: Willard Richardson, Frank Amos e
John Wood e por dois alcoólicos: o Dr. Bob e Bill R., um membro de Nova
Ruth Hock C. York, que saiu depois de voltar a beber. O projeto do livro continuou em pé
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e começou a ser escrito em maio. Para bancar o empreendimento, em fins de 1938 foi criada uma
editora - a Works Publishing, Inc. (em 1959 tornar-se-ia A.A. World Services, Inc. – A.A.W.S.) que
tinha como sócios Bill e Hank P. - o primeiro alcoólico a conseguir a abstinência no Grupo de Nova
York.
A sede era o escritório de uma firma de consultoria dirigida aos postos de gasolina que Hank
tinha em Newark, Nova Jersey, onde o único patrimônio era uma enorme escrivaninha e alguns
móveis estofados, e lá trabalhava a secretária Ruth Hock Crecelius (1911-1986), não alcoólica, que
viria a ser uma das maiores colaboradoras e secretária nacional de A.A. Foram colocados à venda
600 certificados de ações ao preço de face de 25 dólares cada uma.
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• The Autobiography of Malcolm X: As Told to Alex Haley (A Autobiografia de Malcom X:
como disse a Alex Haley) – 1965, de Malcolm X e Alex Haley;
• Bury My Heart at Wounded Knee (Enterre meu coração em Wounded Knee) – 1970, de
Dee Brown;
• Cosmos – 1980, de Carl Segan, e,
• The Words of Cesar Chavez (As Palavras de César Chávez) – 2002, de César Chávez.
A lista e a mostra iluminam a importância dos livros para perfilar e dirigir nossas vidas e, de
acordo com a experiência dos alcoólicos que sofrem – em América e em todas as partes, não há livro
mais importante que Alcoólicos Anônimos. Considerado por muitos um ícone cultural, sua maneira
simples de abordar o alcoolismo abriu as portas da recuperação a milhões de pessoas aqui e em todas
as partes do mundo.
Para saber mais sobre a mostra ou sobre a Biblioteca do Congresso, acesse www.loc.gov
Exemplares representativos da evolução da publicação
do Big Book (EUA/Canadá)
O exemplar nº 1.000.000 foi presenteado pelo Dr. John L. Norris, Presidente da Junta de
Serviços Gerais, ao 37º presidente dos EUA, Richard Nixon (1913-1994), no dia 16 de
abril de 1973.
O exemplar de nº 2.000.000 foi presenteado a Joseph A. Califano Jr. (n. 1931), Secretário
de Estado de Saúde, Educação e do Bem-estar nomeado pelo 39º presidente dos EUA
Jimmy Carter, em junho de 1979.
O exemplar de nº 15.000.000 foi presenteado em 1996, a Ellie Norris, viúva do Dr. John
L. Norris (1903-1989). (não alcoólico) Custódio emérito, ex-presidente da Junta de
Serviços Gerais.
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Entre os dias 25 de junho e 29 de setembro de 2012, a Biblioteca do Congresso dos EUA
realizou uma exposição em Washington, DC, mostrando os 88 livros que “moldaram a
Nação Americana e influenciaram na visão que o mundo tem da América”. Entre esses
livros encontra-se o livro “Alcoholics Annonymous” ou Big Book. (1)
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depois de ter saído o artigo da Liberty, o Plain Dealer de Cleveland também publicou uma série de
artigos sobre o movimento, e mais livros foram vendidos. Nos próximos 16 anos foram distribuídas
300.000 cópias em 16 reimpressões.
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A origem das Doze Tradições de A.A.
Ou: os filhos do caos
Box 4-5-9, Primavera 2011 (pág. 1-2) => http://www.aa.org/lang/sp/sp_pdfs/sp_box459_spring11.pdf
Título original: “‘Los hijos del caos’: El nacimiento de las Tradiciones de A.A.”
“Os aproveitadores se aproveitavam, os solitários lamentavam sua solidão, os comitês
entravam em disputa, os novos clubes enfrentavam dificuldades inesperadas, os oradores
praticavam o charlatanismo, os grupos eram desgarrados pelas controvérsias, os membros se
convertiam em profissionais e vendiam o movimento; por vezes grupos inteiros se embriagavam e as
relações públicas locais chegaram a ser um escândalo”. (A linguagem do Coração).
Assim era a situação em alguns dos Grupos da incipiente Irmandade na época pioneira de
A.A. conforme Bill W. Com pouca ou nenhuma experiência na nova e exigente aventura da
sobriedade, os Grupos de A.A. voavam às cegas.
O programa de recuperação de A.A., tal como expresso nos Doze Passos expostos no Livro
Grande (Livro Azul, no Brasil), alastrava-se como fogo – de um alcoólico para outro, por todo o país
(EUA) e inclusive em países de ultramar. Com reportagens favoráveis em vários meios de
comunicação e o crescente apoio da medicina e da religião, A.A. foi sendo cada vez mais conhecida.
Alcoólicos estavam conseguindo sobriedade e essas boas novas difundiam-se rapidamente.
Entretanto, os recém criados Grupos dispunham de poucos recursos para seu apoio e
orientação, com exceção do profundo desejo de seus membros individualmente se manterem sóbrios.
Tudo tinha que ser definido dia após dia e baseados na experiência pessoal e individual por meio de
um sistema de tentativas, aprendendo com os erros e assim descobrir o que funcionava ou não.
Regras foram criadas para em seguida serem quebradas, estabeleceram-se normas que logo foram
descartadas, e inevitavelmente, surgiram disputas, muitas vezes acirradas, referentes às relações dos
próprios membros, uns com os outros, e com o mundo exterior.
Nas primeiras décadas de A.A., havia muitos problemas para enfrentar e, na medida em que a
quantidade de membros aumentava a cada ano, os desafios decorrentes para viver e trabalhar juntos,
não apenas como indivíduos mas também como Grupos, iam-se empilhando. O sucesso e a maior
visibilidade vinham acompanhados de suspeitas, ciúmes e ressentimento. Havia conflitos
relacionados com todos os assuntos imagináveis: o uso do dinheiro, as operações dos clubes, o uso
inapropriado do nome de A.A., a liderança e3 os romances.
Os costumes nas reuniões variavam de um Grupo para outro; algumas reuniões eram
compostas principalmente por bêbados de classes mais baixas; outras davam preferência aos bêbados
das classes mais altas; alguns Grupos permitiam a volta de quem tinha recaído, enquanto outros
acreditavam que essas pessoas deveriam ser excomungadas. “Parecia que cada participante em cada
desacordo dos Grupos de todo o país, nos estivesse escrevendo durante esse confuso e apaixonado
período”, disse Bill W. em ‘A.A. Atinge a Maioridade’. Os problemas descritos por esses membros
ameaçavam tumultuar a Irmandade nascente e numa carta de 1950 dirigida a um membro de A.A. de
Michigan, Bill W. disse: “Quando chegavam à minha mesa no escritório as cartas em que
descreviam as dores de crescimento dos primeiros Grupos, passava a noite deitado na cama sem
poder conciliar o sono. Parecia-me que as forças da desintegração iam desgarrar nossos Grupos
pioneiros...”.
Alcoólicos Anônimos não foi a primeira Irmandade que embarcou à deriva nas armadilhas e
nos conflitos gerados pelo sucesso perigoso. A Sociedade Washingtoniana, um movimento criado
quase um século antes (em abril de 1840) e dedicado ao resgate de bêbados quase havia descoberto a
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solução para o problema do alcoolismo. Em seu começo, a sociedade, que se originou em Baltimore,
estava composta somente por alcoólicos que se esforçavam para se ajudar os uns a os outros.
Tiveram considerável sucesso e o movimento prosperou alcançando mais de 500.000 membros.
Porém, os Washingtonianos deixaram que políticos e reformadores, alcoólicos e não alcoólicos
fizessem uso da sociedade para seus próprios fins e, em que pesem suas intenções expressas de não
se meter na política, na religião e no comercio, muitos membros adotaram publicamente posturas
opostas em questões de reforma de políticas referentes ao alcoolismo e outros assuntos do dia a dia.
Num prazo de oito a nove anos, segundo reportagens da época, perderam seu atrativo. No banquete
anual de A.A. em Nova York, em 07 de novembro de 1945, Bill W. disse: “Em resumidas palavras,
os Washingtonianos puseram-se a resolver os problemas do mundo antes de solucionar os seus. Não
tiveram a capacidade de ocupar-se unicamente de seus assuntos”.
O Grupo de Oxford (*), uma organização religiosa da qual brotaram as sementes de A.A. e
que deu origem a alguns dos princípios e preceitos básicos da Irmandade, também oferece exemplos
do que não deve ser feito. No livro ‘A.A. Atinge a Maioridade’, Bill W. escreveu: “Os AAs pioneiros
extraíram suas idéias de auto-exame, reconhecimento dos defeitos de caráter, reparações pelos
danos causados e o trabalho com os outros, direta e unicamente do Grupo de Oxford e
particularmente de Sam Shoemaker, seu líder nos EUA”. Entretanto, embora o Grupo de Oxford se
preocupasse profundamente com a sorte dos alcoólicos, alguns costumes desse Grupo incomodavam
a Bill W. Embora seja o responsável por impulsionar alguns dos princípios espirituais de A.A., as
diferenças acabaram por causar a separação dos dois movimentos. Como Bill W. disse uma vez: “O
grupo de Oxford queria salvar o mundo e eu somente queria salvar os bêbados”.
Aproveitando-se do exemplo dos Grupos precursores e da cada vez mais ampla experiência
retirada de suas próprias lutas internas durante sua primeira década, A.A. ia-se aproximando dia a dia
de um conjunto de princípios práticos que pudessem orientar e proteger a vida dos Grupos de A.A.
Em 1946, na revista Grapevine, os fundadores e membros pioneiros codificaram esse
princípios e publicaram-nos com o titulo de “Os Doze pontos para assegurar o nosso futuro” (Nota
do transcritor: a partir de 01 de junho de 1949 estes princípios passariam a se chamar “As Doze
Tradições de Alcoólicos Anônimos”).
“Filhos do caos”, escreveu Bill W. num ensaio sobre a Quarta Tradição, “de maneira
desafiadora brincamos com fogo repetidas vezes, saímos ilesos e, conforme percebemos, mais sábios
que antes. Estes mesmos desvios constituíram um vasto processo de provas e tentativas, o qual, pela
graça de Deus, nos trouxe a onde hoje nos encontramos”.
Conforme Bill W., a acolhida proporcionada às Tradições nos anos de 1940, não foi das mais
calorosas. “Apenas Grupos em grandes dificuldades as levaram a sério. Em algumas partes até
reação violenta houve, principalmente naqueles Grupos que tinham longas listas de regras e
regulamentos ‘protetores’. Havia, também, muita apatia e indiferença”.
Entretanto, e com o passar do tempo, tudo isso mudou e poucos anos mais tarde, por ocasião
da Primeira Convenção Internacional de Cleveland, Ohio, em julho de 1950, vários milhares de
membros de A.A. declararam que as Tradições de A.A. constituíam “a plataforma sobre a qual
nossa Irmandade poderia funcionar melhor e se manter unida para sempre”. Deram-se conta de que
nossas Tradições resultariam tão necessárias à nossa sociedade quanto o tinham sido os Doze Passos
para a vida de cada membro. Conforme a opinião da Convenção de Cleveland, as Tradições eram a
chave da unidade, do funcionamento e inclusive da sobrevivência de todos nós e a Irmandade na sua
totalidade aceitou e aprovou esses princípios. Mais tarde, em abril de 1953, foi publicado o livro “Os
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Doze Passos e as Doze Tradições”, que a Irmandade utiliza como guia para a recuperação individual
e para a sobrevivência coletiva.
Fazendo eco àquelas palavras, J. B., um membro de Modesto, Califórnia, escreveu na
Grapevine de abril de 1984: “As Doze Tradições não são uma mera coleção de guias estabelecidos
por ‘eles’ e transmitidas a nós com a ordem incondicional de que “isto é o que vocês têm que fazer,
e ponto’. As Tradições são o fruto da experiência e dos erros que quase destroçaram nossa
Irmandade e as ace3itamos de bom grado.
Ao falar das Tradições, falamos da vida e da morte. Não posso viver sem A.A. Mas você e eu
somos A.A. Temos que ser responsáveis por nós mesmos, apesar de nós mesmos. Eu tenho que ser
responsável apesar de mim mesmo, e, de responsabilidade é do que tratam as Tradições”.
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meio século a oração veio se entretecendo tão intimamente na filosofia de A.A. que perece difícil aos
membros lembrar que não teve origem na experiência de A.A.
Entretanto, a pesar de anos de investigação por parte de historiadores e inúmeras conjeturas
por parte de amadores, a exata origem da Oração da Serenidade continua a ser um mistério. O que
parece indiscutível é a reclamação de autoria feita pelo teólogo Reinhold Niebuhr, que numa
entrevista disse haver escrito a oração como nota final de um sermão a respeito do cristianismo
prático. Mesmo assim, Niebuhr admitiu alguma dúvida ao acrescentar “supostamente, é possível que
tenha estado muitos anos, inclusive séculos, aparecendo aqui e acolá, porém não acredito. Acredito
sinceramente que eu próprio a escrevi”.
Com sua permissão, durante a Segunda Guerra Mundial a Oração da Serenidade foi impressa
em cartões que foram distribuídos aos soldados americanos. Até então já tinha sido impressa pelo
Conselho Nacional de Igrejas assim como também por Alcoólicos Anônimos.
Ao sugerir que a oração poderia ter aparecido aqui e acolá durante séculos, parece que
Niebuhr estava certo. De acordo com Bill W.: “Ninguém pode dizer com segurança quem foi o
primeiro a escrever a Oração da Serenidade. Alguns dizem que veio dos antigos gregos; outros que
saiu da pena de algum poeta inglês anônimo e outros que foi escrita por um oficial da marinha
americana”. Sua origem também foi atribuída a antigos textos sânscritos e aos distintos filósofos
Aristóteles, Santo Agostinho, Tomás de Aquino e Espinosa. Um companheiro de A.A. encontrou
entre “Os seis erros do ser humano” do escritor romano da antiguidade, Cícero, a seguinte frase: “A
tendência a se preocupar com coisas que não podem ser mudadas ou corrigidas”.
De fato, ninguém encontrou o texto da oração entre os escritos destas supostas fontes
originais. O que certamente são muito antigos, como a citação de Cícero, são as questões da
aceitação, a coragem para mudar o que pode ser mudado e a disposição para se desprender daquilo
que está fora da nossa capacidade para ser mudado. Com certeza, a busca da origem dessa oração
tem sido como descascar uma cebola e às vezes é preciso recomeçar de novo. Por exemplo, em julho
de 1964, a Grapevine recebeu o recorte de um artigo publicado no Herald Tribune de Paris onde o
correspondente informava ter visto em Koblenz, Alemanha, uma placa gravada com as seguintes
palavras: “Deus, concede-me o desprendimento para aceitar as coisas que não posso alterar; a
coragem para alterar as coisas que posso alterar; e a sabedoria para distinguir uma coisa da
outra”.
Finalmente parecia haver aqui uma prova concreta com citação, autor e data da Oração da
Serenidade. Más não. Quinze anos mais tarde, em 1979, Peter T., de Berlim, disse a Beth K.,
membro do pessoal do ESG à época, que na sua primeira forma, a oração teve origem no filósofo
romano Boécio (480-524), autor de “Os consolos da filosofia”.
Existem mais reclamações e, sem dúvida, irão continuar as descobertas nos anos vindouros.
Entretanto, uma ideia compartilhada por muitos é a de que, a Oração da Serenidade, seja qual for sua
origem, antiga ou moderna, parece ter surgido de uma percepção humana fundamental e de uma
sabedoria nascida do sofrimento.
Fora o Pai-Nosso e a oração de São Francisco, não há outras palavras e conceitos, ao mesmo
tempo práticos e espirituais, que tantos membros de A.A. levem gravados nas suas mentes e em seus
corações na sua viagem de sobriedade em direção a uma nova maneira de viver.
Bill W. referiu-se a este fenômeno ao agradecer um amigo de A.A. que o presenteou com uma placa
onde estava escrita a oração: “Na criação de A.A., a Oração da Serenidade foi um bloco de
construção muito valioso, realmente uma pedra angular (*)”.
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E falando em pedras angulares, mistérios e coincidências, um trecho da rua 120 de
Manhattan, que ladeia o prédio onde se encontra o ESG, entre as ruas Riverside e Broadway, é
conhecido pelo nome Reinhold Niebuhr Place.
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Realmente, entanto que Grupos especiais são formados para satisfazer as necessidades de
certo grupo dentro de A.A., geralmente não são exclusivos, mas abertos a qualquer membro de A.A.
(um homem que encontrou a sobriedade aos 70 anos de idade assistiu sua primeira reunião em um
Grupo de jovens – e pode se identificar!).
Existe verdadeira necessidade de que existam Grupos especiais? Em um artigo na Grapevine
de outubro de 1977, K. S. disse:
“Quando falei a respeito do propósito de tais Grupos com as pessoas que participam deles,
demostraram que definitivamente acreditavam que não podiam se abrir totalmente ao falar de si
próprios na maioria dos Grupos de A.A. Os homossexuais acreditam que sua orientação sexual e as
características de suas relações afetivas não seriam compreendidas ou aceitas nas reuniões de A.A.
regulares. Os jovens estão convencidos de que os membros de mais idade não compreende sua
maneira de viver. E os profissionais notam que encontram melhor compreensão entre seus colegas,
particularmente em assuntos relacionados com sua conduta profissional quando eram alcoólicos na
ativa.
Os membros desses grupos especiais estão convencidos que muitos deles não teriam ficado
em A.A. se tivessem que ingressar através de um Grupo regular.
Concordemos ou não com esta maneira de pensar, a realidade é que muitos alcoólicos
acreditam nisto. E acreditam com tanta firmeza que formam estes Grupos e os fazem funcionar”.
Para mais informação a respeito de como se constitui um Grupo de A.A., favor observar a
seguinte declaração nos diretórios:
Muitos Grupos especializados encontraram benefícios ao se organizar a nível internacional,
com um comitê executivo centralizado e um endereço postal onde os AAs interessados podem
escrever solicitando informações. Os Escritórios de A.A. têm uma lista dos Grupos especiais
internacionais com informação atualizada para quem queira contatá-los.
Alguns deles: Birds of a Feather – BOAF (para pilotos e profissionais da aviação); Conselho
Internacional de Jovens; Conselho Internacional de homens Homossexuais e Mulheres Lésbicas;
Grupos Internacionais de Médicos, de Advogados, Etc.
Alguns deste Grupos não só compartilham informação e experiência, mas também realizam
Conferencias ou Encontros anuais (*). Outros Grupos funcionam apenas através de correspondência,
como os Grupos por Correspondência para Surdos, World Hello – um serviço aos membros que têm
problemas auditivos ou não pode participar das reuniões regulares. (Outro tipo de Reuniões por
correspondência criado em 1946 para trabalhadores no mar é Internacionalistas e Solitários).
Entretanto, seja qual for a finalidade secundária, qualquer Grupo de A.A. – organizado ou
não, tem um único propósito primordial: a recuperação do alcoolismo. <= Fim da transcrição.
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e Cleveland... Somos pouco menos de uma dúzia de mulheres alcoólicas em Minneapolis, das quais
apenas quatro estão em atividade”. Bobbie B., a secretária da Sede, respondeu, “eu sugiro que
escreva diretamente para Marion R., 12214 Detroit Ave., Cleveland, Ohio. Marion é a secretária de
um Grupo de mulheres de lá que recentemente comemorou seu primeiro aniversário”. Pouco tempo
depois, Bobbie recebeu uma consulta semelhante vinda de Harrisburg, Pensilvânia, e respondeu: “Já
há mais de 60 mulheres no Grupo de Nova York. Isto é notável porque, quando conheci o Grupo
quase dois anos atrás, havia apenas duas mulheres e a convicção de que este programa
simplesmente não iria funcionar para as mulheres”. Em uma carta que Grace O., de Nova York,
escreveu para Bill W., em 1945, relata, “em apenas sete dias, ingressaram em nosso Grupo 19
moças”.
Em San Diego, Califórnia, iniciou-se um Grupo de mulheres que se reúne continuamente, a
cada semana, desde setembro de 1945. Suas fundadoras se conheceram no escritório do marido de
uma delas. Em fevereiro de 1946, já contando com 15 membros, alugaram uma sala para fazer suas
reuniões. Significativamente, na Convenção Internacional de Cleveland, em 1950, foi incluída no
programa uma sessão especial para as mulheres membros. O primeiro Grupo para mulheres em Sal
Lake City começou a ser listado pelo ESG na primavera de 1952.
Nunca foi feita, ao longo dos anos, alguma tentativa de elaborar uma contagem de Grupos de
Mulheres em A.A., mas é seguro dizer que eles existem em todos os lugares onde A.A. mantém uma
presença considerável.
A questão dos Grupos para mulheres foi abordada por Nell Wing (1917-2007), não alcoólica,
arquivista do ESG, numa entrevista oferecida a uma escritora em 1979. Ela explicou, “se a aceitação
da condição da mulher alcoólica nos anos 1930/40 já era difícil, foi muito mais difícil ainda ser
aceita em um Grupo de A.A. Em sua quase absoluta maioria compostos por homens, a presença de
mulheres nos Grupos era considerada por muitos um fator perturbador. Uma vez que grande parte
do sucesso do programa de A.A. está centrada no compartilhamento das experiências de um
alcoólico com outro alcoólico, nos primeiros tempos da Irmandade sempre se entendeu que, se esse
compartilhamento ocorresse entre homens e mulheres fatalmente acabaria por se desviar do
propósito essencial. As poucas mulheres que conseguiam ser aceitas em algum Grupo eram
apresentadas às mulheres dos membros que, mesmo não alcoólicas, ofereciam-lhes amizade e apoio,
pois eles não queriam apadrinhá-las por temor a envolvimentos alheios ao propósito da Irmandade.
Assim, na medida em que mais mulheres foram chegando, elas foram incentivadas a criar seus
próprios Grupos”.
Em 14 de fevereiro de 1964, Bernadette O'K., e mais outras mulheres em A.A., organizaram
em Kansas City a primeira Conferência Nacional de Mulheres em A.A.
O objetivo deste fórum foi:
A partilha de experiências comuns entre mulheres alcoólicas;
A discussão dos problemas de especial interesse para todas as mulheres em A.A.;
Oportunidade de ouvir oradoras mulheres de outras Áreas.
Quarenta e cinco membros compareceram a essa Primeira Conferência Nacional, e sua
aceitação foi tão positiva que se transformou em permanência anual e posteriormente em
Internacional. A data para sua celebração anual foi fixada no fim da semana que tem o dia 14 de
fevereiro porque nesse dia é o aniversário de Bernadette O´K., é também o dia de São Valentim, dia
dos namorados em vários países do hemisfério Norte, além de ser uma pausa bem-vinda na
depressão de inverno.
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Nessa sequência, entre os dias 11 14 de fevereiro de 2016 será celebrada em Northfolk,
Virgínia a 52ª Conferência Internacional da Mulher em A.A. O lema permanente desse evento é "The
Language of the Heart Will Be Spoken Here" ou, algo como, “Aqui se Fala a Linguagem do
Coração”. http://internationalwomensconference.org/
Veja mais em: http://www.barefootsworld.net/aaspecialgroups.html
http://www.aa.org/aatimeline/timeline_h2.php?lang=_sp
http://internationalwomensconference.org/
Veja: “A.A. para a Mulher”, Junaab, código 202
Veja: “Colcha de Retalhos”, Junaab, código 253
Ver também: Revista Vivência nº 54, Jul./Ago./ 1998
Negros em A.A.(1945)
Em tese, a Irmandade de Alcoólicos Anônimos sempre deu as boas-vindas a qualquer
alcoólico que independentemente da etnia, cor, religião ou qualquer outra característica que pudesse
distinguir as pessoas. No entanto, A.A. é apenas e inevitavelmente uma parte da sociedade em que
existe. À época em que A.A. foi fundada, e pelas três décadas seguintes, a discriminação dos negros
era uma característica da sociedade americana e nos Grupos de A.A. não era muito diferente. Ainda
agora (2012), depois de uma serie de conquistas dos negros na área dos direitos civis, quando um
negro vai a uma reunião de maioria branca, mesmo sendo recebido calorosamente e apesar dos
esforços feitos pelos membros para que ele se sinta em casa, muitas vezes continua a se sentir
“diferente” e provavelmente não fique naquele Grupo.
Embora se saiba que o alcoolismo tem uma grande incidência na comunidade negra, A.A.
nunca fez uma pesquisa para especificar a percentagem de negros na Irmandade. Joe Mc O., foi o
primeiro negro membro de A.A. em Little Rock, Arkansas, e acredita que as diferenças culturais
contra os negros em busca de ajuda em A.A., ou em outro lugar, ficaram um pouco mais atenuadas.
Lembra que durante sua juventude, até os próprios negros estabeleciam diferenças entre eles e se
dividiam em grupos distintos; uns piedosos e abstêmios que participavam de igrejas, entoando
canções espirituais e outros bebedores e arruaceiros; assim, divididos entre bebedores e piedosos, uns
não queriam se relacionar com os outros. Estes estereótipos foram se desvanecendo nas últimas
décadas com a rápida aceitação dos negros na sociedade em geral. Tem sido uma preocupação
continua do ESG que a mensagem de A.A., chegue aos negros alcoólicos com a intensidade
desejada.
Este problema foi tratado pela Junta de Custódios numa sessão ordinária durante um fim de
semana, em janeiro de 1986. T. Garret, o primeiro Custódio negro, 1983-87, comentou que quando
ele chegou em A.A., os negros não eram aceitos nas reuniões composta por brancos em Washington
DC, assim que ele sempre teve que frequentar o Grupo Mideast, composto unicamente por negros.
Ele disse também, que, de acordo com suas Tradições, A.A., não adotou um papel mais agressivo
nem advogou pelas causas raciais. O resultado, em muitas partes do país, a formação de Grupos de
A.A. para negros deu-se antes que a integração social.
Nos primeiros tempos da Irmandade, em todo o Sul e na maior parte do Norte dos EUA, os
brancos não queriam se misturar socialmente com os negros. Esse era um fato, e ninguém, nem os
Grupos de A.A. poderiam ser coagidos ou persuadidos a fazê-lo, ainda que fossem alcoólicos. O
preconceito era tão grande, que 50 brancos poderiam se afastar de A.A. para que se pudesse ajudar
um único negro. Era uma situação embaraçosa, mas em termos práticos ninguém poderia fazer nada.
No inicio de 1940, chegaram ao Grupo de Nova York dois alcoólicos negros recém saídos da
prisão, a quem Bill havia convidado após proferir uma palestra naquela penitenciária. A reação no
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Grupo foi imediata. Tinha alguns sulistas que acharam que Bill tinha extrapolado ao tomar a decisão
sem consultar o Grupo. Estavam dispostos a separar-se de A.A. Por outro lado, havia alguns nortistas
que achavam que os negros deviam ingressar como membros normais e com privilégios plenos. E, é
claro, aqueles que ficaram em cima do muro. Questionados os opositores a respeito de os negros
terem o mesmo direito a A.A. quanto qualquer outro ser humano, eles concordaram, mas ficou mais
ou menos combinado que os negros deveriam ser convidados a assistir como “observadores” às
reuniões abertas ou fechadas do Grupo.
Esta solução funcionou. A primeira consulta recebida pelo ESG – então ainda Sede, feita por
um alcoólico negro chegou em 1943, vinda de Pittsburgh. Em resposta a outra consulta no mesmo
sentido em outubro de 1944, a então secretária da Sede, Bobbie B., escreveu: “nós ainda não temos
noticias da existência de algum Grupo para negros em qualquer lugar, e este tipo de consulta está
acontecendo com frequência quase diária. Sabemos que em Pittsburgh há um membro negro, e eu
sugiro que você escreva para o Grupo de lá e descubra como trataram essa situação”.
Em 1945, Jim Scott, um médico negro, fundou na Carolina do Norte o primeiro Grupo de
A.A. formado por negros. “A História de Jim” aparece na 2ª e 3ª edições do Big Book, e seguiram-
se Grupos para negros em Washington, DC e St. Louis, Missouri. Logo após, em janeiro de 1946,
começou outro Grupo em Los Angeles, que no prazo de um ano já contava com vinte membros.
A formação do primeiro Grupo de negros em Cleveland girou ao redor de uma mulher; assim
duas minorias estavam envolvidas. Tratava-se de uma mulher negra que trabalhava em uma boate e
chamou Oscar W., às três horas da madrugada dizendo-se revoltada com a vida. No dia seguinte
chamou de novo dizendo que estava sóbria e querendo saber o que fazer. Oscar W. Levou-a ao
Grupo Lake Shore. Disseram que ela poderia frequentar A.A., mas teria que participar de um grupo
diferente. “Apesar de todas as atitudes liberais, ainda não se podia aceitar uma mulher negra”,
admitiu Oscar. O administrador do prédio disse que se ela ficasse todos deveriam sair. Assim, foi
formado um Grupo próximo à casa dela em um bairro negro, na Cedar Avenue. As noticias que se
espalharam falavam sobre ‘algumas pessoas loucas que podiam ajudar você a parar de beber’ (Ver
capítulo “As Minorias” no livro O Dr. Bob e os Bons Veteranos – Junaab, código 116). Em junho de
1946, o ESG registrou o Grupo Outhwaite, em Cleveland, Ohio; tinha oito membros. Um mês
depois, havia notícias de Grupos para negros em Charleston, Carolina do Sul. No mesmo período,
também começaram em Kansas City, Missouri e Toledo, Ohio
Em 1947 aumentou o ritmo de criação de Grupos para negros. Começou um Grupo no Harlem
de Nova York, e foram relacionados mais dois em Nova Jersey. A Filadélfia conheceu seu primeiro
Grupo em Junho desse ano e também outro Grupo foi formado em Cincinnati. O primeiro Grupo
para negros em Crowley, Luisiana, foi iniciado em maio de 1949. De acordo com Ann M., em 1952
havia aproximadamente 25 Grupos de A.A. dedicados unicamente a alcançar o alcoólico negro.
Como nenhum esforço foi feito pelo ESG para fazer alguma distinção entre os Grupos para negros e
os Grupos regulares, é praticamente impossível rastrear seu crescimento durante as décadas
intermediárias, ou estimar seu número atual. Sabe-se que, obviamente, sua presença é muito
relevante no norte de Ohio, Washington, DC, Atlanta, Geórgia e em muitas outras cidades com
importante concentração de população negra.
Veja mais em: http://www.barefootsworld.net/aaspecialgroups.html
http://www.aa.org/aatimeline/timeline_h2.php?lang=_sp
Veja o folheto: “A.A. para os negros e os afro-americanos alcoólicos” em:
http://www.aa.org/lang/en/catalog.cfm?category=4&product=68
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Jovens em A.A. (1946)
Quando A.A. era jovem, seus membros não o eram. A maioria
das pessoas cujo alcoolismo tinha dobrado seus joelhos e que chegou
em A.A. em seus primórdios eram, de maneira geral, pessoas de meia
idade para cima. Mesmo assim, também foram ingressando alguns
jovens que, a principio eram considerados quase uma curiosidade, mas
seu número foi crescendo até o ponto de que a Primeira Convenção
Internacional, em 1950, em Cleveland, incluiu uma sessão para eles. Em
seguida, na medida em que A.A. foi crescendo, nas décadas de 1950-
1960, o número de jovens na faixa dos trinta e dos vinte anos, e até
adolescentes, foi aumentando. Na verdade, muitos membros de idade avançada nos dias de hoje,
chegaram em A.A. naquelas faixas etárias.
Havia várias razões para essa tendência de crescimento dos jovens em A.A. À medida que a
conscientização da doença e dos males provocados pelo alcoolismo foi aumentando, o estigma contra
os doentes alcoólicos foi sendo reduzido na mesma proporção. Drogas comumente usadas por jovens
se tornaram mais facilmente disponíveis e foram acelerando a progressão do alcoolismo e o
desespero final. Mas tarde, com a chegada dos centros de tratamento para dependentes, o numero de
ingressos de jovens em A.A. foi aumentando gradativamente. E, neste ponto, aplica-se a constatação
de A.A. que pontifica que “semelhante atrai semelhante”. Quando um jovem alcoólico hesitante se
aproxima de um Grupo pela primeira vez e vê outro jovem, há grandes chances de ele ou ela fique.
Quando um jovem é rejeitado pela família, ou ele próprio se afasta para viver perambulando pelas
ruas, se deteriorando pelo uso abusivo de álcool e drogas e encontra acolhida em um Grupo de A.A.
onde ele percebe a presença de outros jovens também alcoólicos, normalmente ele/a fica.
Normalmente, o caminho trilhado pela maioria dos jovens que ingressam em A.A. tem sido
cheio de obstáculos. Na década de 1960, muitos lembram como foram ignorados e até desprezados
por membros mais velhos nos Grupos regulares de A.A. “Você é muito jovem para ser um alcoólico.
Precisa sair e beber um pouco mais”, costumavam dizer. Um orador, numa Convenção de Jovens
em A.A., lembra que, “quando eu estava deixando uma reunião, ouvi uma observação de um
membro mais velho, ‘eu tenho derramado mais bebida do que a que esse jovem punk tem bebido’.
Ele provavelmente tenha feito isso, mas foi o álcool que eu bebi, e não o que ele derramou que
tornou minha vida incontrolável”.
Mesmo quando são bem recebidos por adultos e pessoas mais velhas nos Grupos regulares,
boa parte dos jovens se sente diferente por diversas razões; vestem e falam de forma diferente, tem
dificuldades e problemas diferentes.
Então, em diversas partes do país, os membros mais jovens começaram a formar seus próprios
Grupos. O primeiro Grupo conhecido “para homens e mulheres abaixo dos 35”, foi formado em
janeiro de 1946 na Filadélfia. No prazo de um ano já contava com 30 membros e um registro
surpreendente de sobriedade contínua. Em outubro do mesmo ano, foi iniciado em San Diego,
California, um Grupo similar, mas apenas para homens, que foi seguido por um Grupo de jovens
mulheres nos meses seguintes. Em 1947, começou um Grupo “sub 35”, em Nova York com apenas
um punhado de jovens. Três anos mais tarde era frequentado por quase uma centena de jovens
alcoólicos abaixo dos 35 anos.
Em setembro de 1961, um artigo da Grapevine se referia à situação dos Grupos para Jovens:
“Em alguns lugares, naturalmente, eles começaram com muitas esperanças e muita energia, mas
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com liderança pouco estável e sábia. Alguns Grupos se transformaram em clubes sociais, várias
Tradições foram quebradas e como consequência acabaram se dissolvendo. Mas, no longo prazo, a
maioria dos Grupos sobreviveu porque e se tornou viável porque atendiam a uma necessidade de
sobrevivência”. Uma moça admitiu, “eu acho que nós somos rebeldes apenas por uma
característica da idade, mesmo em Grupos Fe A.A. Aqui, eu não tenho que tentar comparar minha
maneira de beber com a dos companheiros de mais idade que remexem no seu passado e falam do
‘gin de banheira’ ou de bares subterrâneos (uma referencia aos botecos clandestinos durante a Lei
Seca nos EUA)”. Outro rapaz disse, “o Grupo de Jovens me ajuda nos meus problemas atuais. Por
ser jovem tenho um tipo de problemas pessoais, domésticos e profissionais diferente dos que têm
mais idade. Como começar uma carreira ou iniciar uma família não são problemas que os membros
mais antigos tenham agora. Junto com outros jovens fica mais fácil enfrentá-los e nos fortalecer
para manter a sobriedade, que sempre vem em primeiro lugar”. Os Grupos de Jovens eram
frequentemente vistos com desconfiança por membros de Grupos regulares. Não raro, deixaram de
ser incluídos nas estruturas de serviços locais porque alguns os consideravam “não A.A.”. Mas os
jovens continuaram na sua caminhada e, aos poucos, seus Grupos passaram a ser não só aceitos
como também admirados. No artigo da Grapevine referido no parágrafo anterior, o Secretário do
Escritório de Serviços de A.A. de Milwaukee, Wisconsin, é citado dizendo, “os Grupos de Jovens
são os salva-vidas da Irmandade em nossa Área. Os servidores de confiança dos Grupos “sub 35”,
constituem a maioria dos voluntários que mantém o Escritório Central funcionando. Eles são os que
mais se disponibilizam para realizar os trabalhos do 12º Passo, e realizar as tarefas de divulgação e
informações institucionais e públicas”.
Grupos de Jovens, juntamente com os
jovens dos Grupos regulares, uniram-se em
1958 para formar a International Conference
of Young People in A.A., ou, A Conferência
Internacional de Jovens em A.A. - ICYPAA
(pronuncia-se “icky-pa”), nos dias 26 e 27 de
abril daquele ano em Niágara Falls, Nova
York. Menos de cem pessoas compareceram.
A partir de então, o evento vem sendo
realizado anualmente em diversas Cidades de
costa a costa dos EUA e em outras cidades do
mundo onde os Grupos para Jovens – YPAA´s
1ª ICYPAA em 1958. Note-se no auditório a presença de
estão presentes. A concorrência das Cidades
membros das mais variadas idades.
para sediar este evento é muito disputada e
costuma mobilizar as agências de turismo das cidades-sede que disputam a preferência de mais de
três mil visitantes adicionais.
A 57ª Conferência Internacional de Jovens em A.A. irá acontecer entre os dias 3 e 6 de
setembro de 2015 em Miami, Flórida - http://57th.icypaa.org/
Previsivelmente, as grandes convenções e a existência da ICYPAA causaram muitas
controvérsias nos Grupos regulares de A.A. até com insinuações de a Irmandade não deveria
reconhecer a Conferencia dos jovens como um evento de A.A., pois se assemelhava a uma
dissidência. Membros mais velhos ressentiram-se e acharam que a unidade de A.A. poderia estar
ameaçada. As lideranças da ICYPAA, logo trataram de esclarecer, “nos não somos um movimento
separatista ou uma ramificação de A.A. A nona Tradição diz que ‘... podemos, porém, criar juntas ou
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comitês de serviço diretamente responsáveis perante aqueles a quem prestam serviços’. Nosso
objetivo principal é o de levar a mensagem aos alcoólicos mais jovens”.
Atualmente, a resistência dos Grupos regulares desapareceu. Custódios da Junta de Serviços
Gerais, incluindo seu Presidente, comparecem com prazer às convenções anuais dos jovens e até aos
seus encontros regionais. Ex-integrantes de Grupos de Jovens tem se distinguido como servidores de
confiança em todos os níveis da estrutura da Irmandade, como Delegados e Custódios. Estas
convenções são grandes defensoras do ESG. A convite do Conselho de Administração de Serviços
Gerais, líderes da ICYPAA têm frequentado e partilhado nas reuniões do conselho dando sua valiosa
contribuição a respeito de maneiras para se comunicar com os jovens, e que tipo de linguagem
utilizar através dos meios de comunicação disponíveis. Os jovens são futuro de A.A.
Os Grupos de Jovens são conhecidos nos EUA e Canadá pela sigla YPAA, de Young People
in A.A., ou, Jovens em A.A. e uma de suas principais atividades é a de organizar encontros em forma
de seminários, fóruns, convenções e conferências, de âmbito setorial, regional, nacional e
internacional cujos programas enfocam o compartilhar de assuntos relativos a tais Reuniões nos
respectivos Grupos. Este movimento, que constitui parte integrante da Irmandade, ultrapassou as
fronteiras de sua origem e atualmente encontram-se Grupos YPAA espalhados por países, além dos
EUA e Canadá, como México, Austrália, África do Sul, Índia, Alemanha, Suécia, Dinamarca,
Holanda, França, Inglaterra, Escócia, Irlanda, etc.
Veja mais em: http://www.barefootsworld.net/aaspecialgroups.html
http://57th.icypaa.org/
Uma mensagem para Adolescentes – Junaab, código 225
Os Jovens em A.A. – Junaab, código 201
Veja também no Box 4-5-9 => http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_april_may05.pdf
http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_oct-nov07.pdf
Solitários-Internacionalistas (1946)
A Loners/Internationalist Meeting - LIM, ou Reunião para Solitários-Internacionalistas
(RSI), é um boletim bimestral confidencial, enviado para Solitários, Residentes, Internacionalistas,
Padrinhos de solitários e Contatos de Porto. O boletim contém trechos de cartas de membros LIM e
inclui nomes completos e endereços. LIM é distribuído unicamente para os membros acima
mencionados que precisam de confidencialidade da partilha pessoal por meio de correspondência.
Um membro da equipe do ESG coordena o serviço de correspondência dos Solitários,
Residentes e Internacionalistas que é aberto aos membros de A.A. listados numa das categorias
abaixo.
Categorias:
1) Solitários: são membros de A.A. que residem ou trabalham em zonas isoladas onde, numa
distância razoável, não há reuniões de A.A.
2) Residentes: são membros de A.A. que estão confinados em suas residências devido a
enfermidade ou impedimento físico
3) Internacionalistas: são membros de A.A. trabalhando em navios de mar por longos
períodos.
4) Contato de Porto: é um membro de A.A. disposto a servir de contato para
Internacionalistas quando da sua chegada aos portos.
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5) Padrinho de Solitários: é um membro de A.A. com presença ativa nas reuniões de A.A.
locais e compartilha as experiências e atividades desses grupos com Solitários, Residentes
e Internacionalistas por meio de correspondência.
Obs.: um padrinho de solitários não é um Solitário ou um “padrinho” no sentido tradicional
de A.A.
Para participar, um membro de A.A. precisa:
1) Ler e escrever em inglês.
2) Fornecer um endereço permanente para correspondência.
3) Estar disposto a compartilhar suas experiências, forças e esperanças através de
correspondência. A maioria dos membros LIM se corresponde via correio postal, mas
também podem fazê-lo via correio eletrônico.
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a recuperação, uma nova forma de vida e novos valores, mas também aceitação e, na verdade, uma
“família” que antes não tiveram.
Assim, em grandes cidades com uma população significativa de homossexuais, - Nova York,
Los Angeles, San Francisco, Washington, Boston, etc., gays e lésbicas chegaram em A.A. nos
primórdios da Irmandade, no final dos anos 1930.
O primeiro homossexual a ingressar na Irmandade está descrito, mesmo que aparentemente de
maneira enigmática, na página 128/5/1, do livro “Os Doze Passos e as Doze Tradições” - Junaab,
código 105: “No calendário de A.A. corria o Ano Dois. Àquela altura não se viam senão dois grupos
de alcoólicos lutando por um lugar ao sol. Um estranho entrou num desses grupos, bateu na porta e
pediu para entrar. Falou francamente ao membro mais velho daquele grupo. Em pouco tempo
provou que era um caso desesperador e que acima de tudo queria ficar bom. ‘Mas’, perguntou ele,
‘o senhor permitirá que eu faça parte de seu Grupo? Sou vitima de outra dependência ainda mais
estigmatizante que o próprio alcoolismo e o senhor poderá não me querer entre os seus. Não é
assim?’”. Este enigma é desfeito pelo próprio Bill W., em um discurso pronunciado durante a
Conferência de 1968, e cujo tema eram as Tradições; o discurso foi gravado por Barry L. e ao se
referir à Terceira Tradição, pode-se ouvir Bill dizer que o “membro mais velho” era o Dr. Bob, e a
“outra dependência ainda mais estigmatizante”, era a homossexualidade. Após a aceitação dessa
pessoa pelo Grupo, o texto no livro Doze Passos..., continua na pg. 128/4/5 “... Ele jamais
incomodou quem quer que fosse com o seu outro problema”. Esta experiência foi uma das primeiras
a ser utilizada como base para o enunciado da Terceira Tradição.
O próprio Barry L. foi um dos primeiros membros homossexuais - “em 1945 não estávamos
em armários, mas trancafiados em cofres!”. Ingressou em Manhattan em 1945, e é citado no livro
“Levar Adiante” – Junaab, código 118, como coadjuvante de um incidente ocorrido na sede de um
clube de A.A. na Rua 41, em Nova York onde Barry era secretário. Na ocasião, entrou no escritório
de uma casa-clube de A.A. em Nova York, um homem solicitando ajuda. Ele era negro, e naquele
Grupo não havia nenhum negro. Era ex-presidiário, seu cabelo estava tingido de loiro, usava
maquiagem e disse que era dependente de drogas. Os membros mais antigos não sabiam que atitude
adotar. Barry L. consultou Bill W., que lhe perguntou se o homem era um bêbado. Diante da
confirmação, Bill disse “acho que é tudo que podemos exigir”. O candidato foi convidado a assistir
às reuniões e, embora logo desaparecesse, sua breve permanência criou mais um precedente para a
Terceira Tradição.
A partir da década de 1940, e com mais intensidade nas de 1950 e 1960, A.A. experimentou
um forte afluxo de homossexuais, sobretudo nas grandes cidades com uma população significativa de
gays e lésbicas - Nova York, Los Angeles, San Francisco, Washington, Boston, etc., começaram a
aparecer Grupos em determinados bairros como Greenwich Village e o East Side de Manhattan em
Nova York e Centro de São Francisco; entretanto, nas listas de Grupos dos ESL´s eles não foram
designados como grupos gays.
Em 1947, três homens de Boston pediram a opinião de Bill W., a respeito de iniciarem
reuniões exclusivas para homossexuais naquela cidade. Bill perguntou-lhes se, nessas reuniões,
estariam também dispostos a receber qualquer alcoólico que os procura-se em busca de sobriedade.
Diante da resposta afirmativa, Bill W., disse-lhes, “então vão em frente”
Embora os homossexuais se identificassem com a proposta dos Grupos regulares de A.A. no
que diz respeito ao propósito único da Irmandade - manter o foco no alcoolismo tinham grandes
dificuldades e sentiam desconforto ao compartilhar seus problemas de relacionamento e suas
experiências com pessoas alheias à sua condição. E assim, em San Francisco, em 1967, alguns
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setores manifestaram sua vontade de criar um Grupo para gays. Formou-se, então o primeiro Grupo
para gays numa sala de uma Igreja Episcopal, no centro de San Francisco. No começo, os membros
identificavam-se como sendo “alcoólico e gay”, mas em pouco tempo retiraram a palavra gay, e
ficou “eu sou alcoólico” simplesmente. “A principio consideramos isso como um lugar onde os
homossexuais alcoólicos intimidados nos Grupos regulares podiam comparecer. Não tínhamos ideia
de criar um Grupo onde outras pessoas também pudessem vir para obter sua sobriedade. Mas isso
foi o que aconteceu. Se nós não o tivéssemos feito, alguém iria fazê-lo”, disse um fundador do
Grupo.
E, de fato, alguém já estava fazendo em outras cidades também. Em Washington, DC, por
exemplo, dois gays e duas lésbicas, realizaram uma reunião em uma casa particular no dia 8 de
dezembro de 1971. Todos passaram a considerar que o Grupo formado unicamente por
homossexuais era extremamente útil para seu propósito de recuperação. Continuaram a se reunir aos
domingos e estenderam os locais a mais duas casas até o verão de 1972, quando Cade W., e Bob W.,
se aproximaram do reverendo Goodrich, da Igreja Episcopal de St. James, e conseguiram permissão
e um espaço para realizar suas reuniões. No começo de 1974, Ray C., iniciou um Grupo em St.
Margaret que se reunia às sextas feiras. Depois veio o Grupo Lambda, na Virginia.
Padrões similares de crescimento foram ocorrendo em outras cidades, e na medida em que o
número de Grupos de A.A. para homossexuais foi crescendo e aparecendo em outros locais,
verificou-se que se fazia necessário um diretório com a lista desses Grupos de gays e lésbicas, e
assim, por uma ação da Conferência de Serviços Gerais de 1974, começaram a serem listados nos
diretórios dos EUA/Canadá, com votação favorável de 131 votos e apenas dois votos contrários.
Para esse efeito, bem como para oferecer um contato específico, em 1981, foi criado o
“International Advisory Council for Homosexual Men and Women in Alcoholics Anonymous” –
IAC, ou algo como, “Conselho Consultivo Internacional para Homens e Mulheres Homossexuais em
Alcoólicos Anônimos”. Ver Carta e Estatutos do Conselho Consultivo Internacional – IAC A.A.
Ver: http://gal-aa.org/
http://iac-aa.org/about-iac/by-laws/
http://www.barefootsworld.net/aaspecialgroups.html
Você pensa que é diferente? – Junaab, código 206
A.A. e os alcoólicos Gays/Lésbicas – Junaab, código 248
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Seu objetivo é agir como uma ponte entre Alcoólicos Anônimos e advogados, juízes
relutantes, estudantes de direito e outros profissionais jurídicos. Em suas reuniões compartilham suas
experiências com a bebida e as dificuldades que o alcoolismo acarreta na prática de sua profissão.
Debatem sobre quais circunstâncias poderão se identificar como membros de A.A., e qual a melhor
maneira de estender a mão para colegas e clientes que tenham problemas com a bebida. Concluíram
que tinham condições de levar a mensagem de A.A. com eficácia sem arriscar sua reputação e a
prática profissional. Assim como os Médicos em A.A., os Advogados em A.A. não pretendem
formar Grupos especiais, mas, que suas reuniões periódicas sirvam como antessala para que
advogados com problemas com a bebida possam encontrar outros advogados que os incentivem a
participar das reuniões nos Grupos regulares de A.A. No dizer enfático de Igor S., o ILAA “não
pretende ser um movimento separatista nem um grupo elitista. Ao contrário disso, servir como uma
comunidade de partilha onde o advogado assustado e carregado de culpa possa perceber que não
está sozinho”.
Veja: http://www.ilaa.org/
http://www.ilaa.org/pages/conference/
http://www.barefootsworld.net/aaspecialgroups.html
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Vegas, Los Angeles, Miami, Chicago,, La Jolla, Seattle, Burlingame e Morristown – Nova Jersey.
Em junho de 1981, a formação de um “ninho” em Vancouver, Canadá, tornou os “Pássaros”
verdadeiramente internacionais. Tem membros “avulsos” na Irlanda, Alemanha, Islândia e India. A
associação foi ampliada para admitir outros tripulantes decabine além dos pilotos. As reuniões de
Birds of a Feather são todas fechadas e o anonimato dos membros é rigorosamente observado. Os
Grupos estão registrados no Escritório de Seviços Gerais de A.A. – ESG, mas não são divulgados
nos diretórios (exceto um endereço para contato nacional) nem nas listas de reuniões locais.
http://www.barefootsworld.net/aaspecialgroups.html
http://www.boaf.org/
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próximos 50 anos. Alcoólicos Anônimos está respondendo à "epidemia oculta" do alcoólico mais
idoso.
O primeiro Grupo credenciado com características de “anos
dourados” parece ter começado em 1978, em North Hollywood,
Califórnia. “Teet” C., um de seus fundadores, diz que tinha visto
muitos alcoólicos idosos cair no esquecimento e ter a sensação de não
pertencer à Irmandade quando assistem às grandes reuniões abertas.
Acrescenta, no entanto, que é sugerido aos idosos com pouco tempo
na Irmandade e sobriedade recente, que não se acomodem nos Grupo
da “melhor idade”, e que também participem de Grupos regulares
“onde poderão se encontrar com veteranos cujo tempo de sobriedade
ultrapassa os 25 ou 40 anos, e que podem ajudar os recém-chegados a quebrar sua própria
negação”. Nas últimas décadas surgiram em todo o país muitos outros Grupos, “mais de 60”, “anos
dourados”, “idosos sóbrios”, “melhor idade” etc. Atualmente esses Grupos e reuniões atendem pela
sigla SIS – Seniors In Sobriety, ou algo como Idosos Em Sobriedade, ou ainda, Idosos Sóbrios
A 11 ª Convenção Internacional de AA em Minneapolis, em julho de 2000, abriu espaço para
que, pela primeira vez a nível de Convenção, fossem realizadas reuniões específicas para membros
“mais de 60”, com o tema “Levar a mensagem ao alcoólico idoso”, e desde então tem havido
muitos avanços.
Um indício do crescente interesse pelo tema foi a realização da Primeira Conferência Anual
de Idosos Sóbrios, realizada em Kona, Havaí, em maio de 2005. No evento, ao longo de quatro dias,
foram debatidos temas como “Alcançar a Sobriedade depois dos sessenta”, “Enfrentar os desafios
da idade” e, “Velho, sóbrio há algum tempo, e agora o quê?”.
Essa primeira Conferência foi assistida por 140 pessoas e teve 30 oradores. De acordo Marion
B. coordenadora do evento, registrou-se a presença de enfermeiras e outros profissionais da área da
saúde interessados em conhecer o programa de recuperação de A.A. e, assim, poder ajudar melhor os
pacientes que tenham problemas com a bebida.
Wayne G., indicado coordenador da Segunda Conferência Anual de Idosos Sóbrios, em 2007,
em Sedona, Arizona, diz: “Tenho 65 anos e não me considero velho. O ambiente da Conferência no
Havaí foi muito cômodo. Ali, havia pessoas de 50 até 80 anos. Há muitos assuntos que tem interesse
especial para os AAs de idade avançada. Por exemplo, como se acostumar com mais tempo livre ao
se aposentar; como enfrentar nossas limitações mentais e físicas à medida que envelhecemos, e
como isso afeta nossa sobriedade; como pedir ajuda, que sempre é difícil para muitos alcoólicos, e
pode tornar-se ainda mais difícil com o passar dos anos. Em uma reunião, um companheiro sentado
numa cadeira de rodas, disse que lhe incomodava pedir ajuda quando necessitava que alguém
empurra-se a cadeira”.
Percebe-se na estrutura de serviço uma resposta ao crescente interesse ao tema de A.A. e as
pessoas de idade avançada. Depois de certa relutância de algumas pessoas a nível de área que
achavam que os idosos deveriam ser acolhidos no Comitê de Necessidades Especiais, a maioria se
convenceu de que o processo de envelhecimento não é uma necessidade especial, mas uma fase
universal da vida, com suas vantagens e desvantagens. Então, muitas áreas seguiram o exemplo da
área do Havaí que foi a primeira a criar um “Comitê de Cooperação com a Comunidade de Pessoas
de Idade Avançada”. A partir daí, começaram a aparecer e se instalar por todo o país, desde
Colorado até a Florida e nova York, reuniões específicas para idosos. As listas de locais e horários
destas reuniões podem ser encontradas na relação de Reuniões do GSO.
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A Irmandade reconheceu as necessidades especiais dos alcoólicos de mais idade ao publicar o
folheto “A.A. for the Older Alcoholic—Never Too Late”, ou algo parecido com “A.A. para o
alcoólico de idade avançada – nunca é tarde demais”, onde conta a história de oito homens e
mulheres que se juntaram a A.A. depois dos 60 anos de idade. Foi publicado em 2012 pela
JUNAAB, com o titulo “A.A. para o Alcoólico Idoso”.
A 10ª Conferência Internacional de Idosos Sóbrios, será realizada entre os dias 3 e 6 de
novembro de 2016, em San Diego, California.
http://seniorsinsobriety.org/sis/wp-content/uploads/2015/03/SIS-2016-Conference-61.pdf
Veja: http://www.seniorsinsobriety.org/SISFOCUS.htm
http://www.barefootsworld.net/aahistory.html
http://translate.google.com/translate?hl=pt-
http://aasis2013.org/
BR&sl=tl&tl=pt&u=www.barefootsworld.net/aahistory.html
A.A. para o Alcoólico Idoso – Junaab, código 249
Box 4-5-9, Out. Nov. / 2006 => http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_oct-nov06.pdf
A revista Grapevine
É uma das duas corporações
operacionais da Junta de Serviços Gerais de
A.A. (a outra é A.A.W.S.) na estrutura dos
EUA/Canadá. Atualmente tem sete diretores:
dois Custódios de serviços gerais, dois
Custódios regionais, um Custódio não alcoólico e a diretora/ editora executiva, que também ocupa a
função de presidente da corporação. A junta reúne-se trimestralmente para considerar assuntos tais
como a circulação, as finanças e as operações editorias da Grapevine e “La Viña” – sua equivalente
em español.
Publica a revista internacional de Alcoólicos Anônimos Grapevine (pronuncia-se greipvain) -
algo como “A Videira”, em formato impresso e de áudio junto com coleções de artigos da revista
Grapevine em forma de livros, CDs e no seu sítio na Web. Divulga a experiência, força e esperança
dos membros de A.A., seus amigos e familiares levando sua mensagem a mais de 250.000 pessoas
cada mês. A circulação média mensal da revista impressa gira em torno de cem mil exemplares.
A Grapevine foi lançada por um grupo de seis voluntários em junho de 1944 como um
boletim para os AAs da área metropolitana de Nova York, mas Bill W. e a redação logo perceberam
seu potencial para unificar os Grupos largamente dispersos e informar o público a respeito do novo
programa. “Que seus raios de esperança e experiencia iluminem sempre a corrente de nossa vida em
A.A. e, também algum dia, todo canto escuro deste mundo alcoólico”, escreveu Bill W. no primeiro
número, que foi enviado a todos os Grupos dos EUA e Canadá e aos AAs membros da forças
armadas durante a Segunda Guerra Mundial. Um ano e meio mais tarde, Bill escreveu aos Grupos
perguntando-lhes se gostariam que a Grapevine fosse sua revista nacional. Queria que fosse
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publicada uma revista que “reflita, com toda exatidão que fosse possivel a voz de toda a Irmandade,
e não as opiniões de nenhum indivíduo, grupo ou organização – nem sequer nosso Escritório
Central ou da Fundação do Alcoólico, embora, é claro, deva estar minimamente vinculada à
fundação do Alcoólico para assegurar sua continuidade e integridade básica”. Os Grupos adotaram
a revista imediatamente e em 1949 era chamada “A revista mensal internacional de Alcoólicos
Anônimos” e “Nossa reunião impressa”.
Entre 1944 e 1971, Bill W. publicou aproximadamente 150 artigos e editoriais na Grapevine,
incluindo duas séries de ensaios para apresentar as Tradições (2). Bill também se valeu da Grapevine
para apresentar à Irmandade a ideia da Conferência de Serviços Gerais e para colocar a prova sua
proposta de mudar a proporção da Custódios alcoólicos e não alcoólicos na Junta de Serviços Gerais.
Para Bill, a revista era o principal meio de comunicação com os Grupos; e em anos posteriores, seus
artigos na Grapevine serviram para explicar e esclarecer muitos dos principios espirituais básicos de
A.A.
Publicado pela primeira vez no número de junho de 1947, o Preâmbulo – baseado no prefâcio à
primeira edição do Livro Azul, foi escrito pelo primeiro chefe de redação da Grapevine, e vários
artigos publicados originalmente na Grapevine foram reproduzidos como histórias na segunda e
terceira edições do Livro Azul (nas edições para EUA/Canadá) e em outros livros e folhetos
aprovados pela Conferência.
Para conhecer a revista, veja =>http://www.aagrapevine.org/
http://www.aagrapevine.org/
N.T. (1): No Brasil foi lançado, em novembro de 1985, o número “Zero” da Revista
Brasileira de A.A., que depois se chamaria Revista Vivência (ver abaixo: Vivência).
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Um Alcoólico Anônimo é um alcoólico que através da aplicação e a adesão ao programa de
A.A., renunciou o uso de qualquer bebida alcoólica, em qualquer forma. No momento em que tome
uma gota de cerveja, vinho ou qualquer outro tipo de bebida alcoólica, automaticamente perde sua
condição de Alcoólico Anônimo.
A.A. não está interessada na sobriedade dos bebedores que não têm o sincero desejo de ficar
sóbrios permanentemente. Não é reformadora de ninguém, apenas oferecemos nossa experiência para
aqueles que a queiram.
Temos uma saída com a qual todos nós podemos concordar plenamente e nos unir em uma
ação harmoniosa. Raramente vimos fracassar alguém que tenha seguido conscientemente nosso
programa. Agora, você pode ou não gostar deste programa, mas o fato é que ele funciona. É a nossa
única chance de nos recuperar.
Há muita diversão na Irmandade de A.A. Algumas pessoas podem se surpreende com nossa
aparente leveza, mas no seu interior há uma grande seriedade e uma plena consciência de que temos
que colocar as primeiras coisas em primeiro lugar e, para cada um de nós, o primeiro é o nosso
problema alcoólico. Beber é morrer. A fé deve funcionar 24 horas por dia em nós ou perecemos.
Para obter o tom adequado nesta reunião, peço que inclinemos nossas cabeças para alguns
momentos de silêncio, oração e meditação. Devo lembrá-los que tudo o que seja dito nesta reunião
expressa nosso ponto de vista de hoje e desse momento.
Não falamos por A.A. como um todo, e vocês podem ou não concordar com o fato, mas, se
sugere não prestar atenção àquilo que não possa ser conciliado com o Livro Grande.
Se você não tiver o Livro Grande, é hora de comprá-lo. Leia-o, estude-o, viva-o, empreste-o,
divulgue-o e aprenda com ele o que significa ser um A.A.
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podem se sentir confundidas pela frase. Portanto, como parte da evolução de A.A., foi removida a
palavra “sincero”. Na reunião de verão de 1958, a Junta de Serviços Gerais ratificou a exclusão, e
desde então, o preâmbulo indica apenas “o desejo de parar de beber”.
Ao mesmo tempo, a frase “A.A. não cobra taxas nem honorários” foi modificada para o texto
atual: “Para ser membro de A.A. não há taxas ou mensalidades; somos autossuficientes graças às
nossas próprias contribuições”. Esta versão atual do Preâmbulo aparece na primeira página de cada
edição da revista Grapevine.
Quando impresso, o Preâmbulo deverá incluir a seguinte indicação de procedência:
Direitos autorais da revista © The A.A. Grapevine, Inc. Reimpresso com permissão.
Preâmbulo de A.A.©
Alcoólicos Anônimos© é uma Irmandade mundial de homens e mulheres que compartilham
entre si suas experiências, forças e esperanças a fim de resolver seu problema comum e ajudar
outros a se recuperarem do alcoolismo.
O único requisito para se tornar membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro de
A.A. não há taxas nem mensalidades; somos autossuficientes graças às nossas próprias contribuições.
A.A. não está ligada a nenhuma seita ou religião, nenhum movimento político, nenhuma
organização ou instituição; não deseja entrar em qualquer controvérsia pública; não opina nem
combate causa alguma.
Nosso propósito primordial é o de mantermo-nos sóbrios e ajudarmos outros alcoólicos a
alcançarem a sobriedade.
Direitos autorais da revista © The A.A. Grapevine, Inc. Reimpresso com permissão.
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No verão de 1948, Dr. Bob descobriu que tinha um câncer de cólon já em estado avançado.
Fechou seu consultório e se aposentou da prática médica para que ele e Anne pudessem viver
tranquilos seus últimos dias.
Em maio de 1949, Dr. Bob e Anne fizeram a ultima viagem juntos – foram ao Texas ver o
filho Smitty e sua família. Na volta para casa o avião em que estavam permaneceu em terra por
algum tempo por causa de uma tempestade, e Anne contraiu pneumonia seguida de um grave ataque
do coração. Dr. Bob telefonou para a Irmã Ignatia solicitando um leito no hospital St. Thomas, onde
ficou até sua morte no dia 1º de junho de 1949.
Com a morte de Anne o Dr. Bob ficou muito abalado, lembra seu filho Smitty: “Somente
após a morte dela, vi claramente que essa pessoa profunda, tranqüila e atenciosa, que lutava pelo
que acreditava ou para proteger sua família, foi a base sólida que papai precisou para prosseguir
com sua parte em A.A.”.
Após a morte de Anne, os membros de A.A. estavam pensando em fazer um monumento para
ela e o Dr. Bob, e com este fim já haviam iniciado uma coleta. Ao saber disso, Dr. Bob rapidamente
pediu que o dinheiro fosse devolvido e se declarou contra a Irmandade erguer para eles qualquer
memorial ou monumento tangível. Ele disse a Bill: “Deixemos que enterrem você e eu exatamente
como aos outros sujeitos”.
Ao final, quando Dr. Bob estava-se preparando para morrer, houve três coisas que queria
fazer: ir a St. Johnsbury mais uma vez, ir ao Texas no Natal e aparecer na primeira Convenção
Internacional em Cleveland.
Pouco mais de três meses depois da Convenção, em um sábado do inicio de novembro, Bill
foi até Akron. Embora estivesse muito doente, o Dr. Bob ainda se agüentava em pé e Bill começou a
persuadi-lo quanto à necessidade de obter seu consentimento em relação à Conferência. Depois de
um longo tempo de espera Dr. Bob disse: “Bill, tem que ser uma decisão dos AAs, não uma decisão
nossa. Vamos convocar a Conferência. Tudo certo da minha parte”.
Bill finalmente tinha o consentimento do parceiro.
Algumas horas depois, Bill se despediu: “desci os degraus e então me virei para olhar para
trás. Bob estava na soleira da porta, alto e ereto como sempre... Aquele era o meu parceiro, o
homem perante o qual nunca proferi uma palavra dura. Aquele maravilhoso sorriso, amplo e
conhecido, estava estampado em sua face e ele disse, quase brincando: ‘Lembre-se, Bill, não vamos
estragar isso. Vamos manter as coisas simples! ’. Fui embora, incapaz de lhe
dizer uma palavra. Aquela foi a ultima vez que o vi”.
Na quarta feira seguinte, Dr. Bob foi levado ao City Hospital para o
que seria a ultima operação. Morreu no dia seguinte, 16 de novembro de 1950,
ao meio dia.
O serviço do funeral foi conduzido na velha igreja Episcopal pelo Rev.
Walter Tunks, cuja resposta a uma chamada telefônica, 15 anos antes, abriu o
caminho para que Bob e Bill se encontrassem pela primeira vez. Dr. Bob foi
“enterrado exatamente como os outros sujeitos”, no cemitério Mount Peace
de Akron.
Ao seu lado está Anne, como esteve durante tantos anos. Além de uma lápide simples, não há
nenhum monumento.
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A primeira Conferência de Serviços Gerais
Em 1945 começou a ficar evidente que a responsabilidade e autoridade final pelo serviço dos
cofundadores – Bill W. e o Dr. Bob, nunca deveriam ser entregues totalmente à Junta de Custódios
de Fundação do Alcoólico – embora tivesse que ser dada aos Custódios grande parte da
responsabilidade ativa e imediata; mas a responsabilidade final compartilhada pelo Dr. Bob e Bill
W., simplesmente não poderia ser transferida a uma Junta autonomeada e relativamente
desconhecida pela totalidade de A.A. Então, onde se poderia abrigar a responsabilidade final pelo
serviço mundial? E, o que iria acontecer quando Bill W. e o Dr. Bob morressem?
Entre 1947 e 1948, Bill W. começou a pensar sobre o futuro de A.A., e aproximou-se do Dr.
Bob através de uma carta, apresentando-lhe as seguintes sugestões: 1) que fosse concedido aos
Grupos pleno controle sobre seus assuntos e 2) que os Grupos fossem vinculados aos Custódios e ao
escritório central, através daquilo que ele chamou de Conferência de Serviços Gerais.
Bill achou que isso era vital, mas a maioria dos Custódios não queria tal mudança assim como
muitos veteranos de Akron, Cleveland, Chicago e Nova York. Eles se achavam no direito de
supervisionar os assuntos daqueles que haviam ingressado em A.A. depois deles. Entre os que
apoiavam e os contrários à mudança, encontrava-se o Dr. Bob que começou a sofrer pressões para se
decidir. Em principio ele não achava a mudança prudente.
Num sábado, dia 11 de novembro de 1950, Bill foi até Akron. Embora estivesse muito doente,
o Dr. Bob ainda se mantinha em pé e Bill começou a persuadi-lo quanto à necessidade de obter seu
consentimento em relação à Conferência. Depois de um longo tempo de espera Dr. Bob disse: “Bill,
tem que ser uma decisão dos AAs, não uma decisão nossa. Vamos convocar a Conferência. Tudo
certo da minha parte”.
Bill finalmente tinha o consentimento do parceiro que viria morrer exatamente cinco dias
depois desse último encontro entre os dois.
Na edição de dezembro daquele ano, sai publicado na Grapevine um artigo assinado por Bill e
autorizado pelo Dr. Bob em 11 de novembro, no qual os dois recomendam a criação de uma
Conferencia de Serviços Gerais de A.A.
A Junta de Custódios aceitou a criação da Conferência de forma experimental pelos próximos
quatro anos. Aceitou também a dissolução da Fundação do Alcoólico – expressão que sugeria obras
beneficentes, paternalismo, talvez grandes capitais, criando uma Junta provisória que em 1954 iria se
transformar na Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos.
Assim, em 25 de abril 1951, aconteceu a Primeira Conferencia de Serviços Gerais de A.A.
Coordenada pelo presidente da Fundação do Alcoólico desde 1944, Bernard Smith - não alcoólico,
único Custódio a apoiar a criação dessa Conferência desde o surgimento da ideia, foi realizada no
Hotel Commodore de Nova York; foi a primeira vez que a consciência coletiva dos grupos contida
na Segunda Tradição pode ser demonstrada em sua verdadeira amplitude.
Embora mais tarde a Conferência pudesse incluir o mundo inteiro, naquele momento pareceu
mais apropriado que os primeiros Delegados viessem unicamente dos EUA e Canadá. Cada Estado
(EUA) e Província (Canadá) seriam identificados com um número a partir de 1 (um) e teriam um
Delegado cada. Os Estados ou Províncias com grande população de AAs poderiam ter mais
Delegados. Para assegurar a continuidade da Conferência, os Delegados foram divididos em Painéis.
Um Painel ímpar – Painel Um, eleito para servir por dois anos, entraria em exercício em 1951, o
primeiro ano. Um Painel par – Painel Dois, tomaria posse do encargo em 1952. Dali para frente seria
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eleito um Painel enquanto outro se retiraria anualmente. Assim os Delegados à Conferência fariam a
rotatividade e ao mesmo tempo manteriam continuidade.
http://www.aa.org/pdf/products/sp_bm-31.pdf.
http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_april-may08.pdf
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A.A. tem uma dívida imensa com aquelas pessoas que, embora não compartilhem nossa
doença, compartilham por vontade própria nossas dificuldades, e assim tem sido desde o mesmo
começo da nossa Sociedade. Bill W. escreveu: “Nos dias em que A.A. era desconhecida, nossos
Custódios não alcoólicos foram quem nos apresentou ao público. Proporcionaram-nos as ideias.
Passaram horas seguidas trabalhando voluntariamente ao nosso lado e nas tarefas mais difíceis e
ingratas. Transferiram apara nós de maneira voluntária e gratuita seus conhecimentos profissionais
e financeiros. Vez por outra, foram mediadores que ajudaram a resolver nossas dificuldades”. Estas
palavras, escritas em 1966, ainda são verdadeiras. Os Custódios não alcoólicos continuam
constituindo uma rica fonte de sabedoria e perspectiva e, uma vez que não têm que guardar seu
anonimato, tem a liberdade de se apresentar perante o público em nome de A.A.
Ver: Fundação do Alcoólico
N.T. (1): Em 1944 foi formalizada a Fundação do Alcoólico como corporação jurídica. Para
cuidar dos trâmites legais junto aos órgãos competentes foi procurado o escritório
de advocacia do Dr. Bernard (Bern) B. Smith em Nova York. Entre as cláusulas de
constituição da fundação, Bill W. disse a Bern que desejava estipular que houvesse
uma maioria de não alcoólicos na Junta de Custódios e diretores da Fundação.
Quando Bern perguntou o porquê esta distinção seria necessária, Bill explicou que
“os alcoólicos recuperados em A.A. estavam apenas a um trago de voltar ao
desastre”. Bern incluiu este requisito na Carta de Constituição da Fundação embora
se tenha visto obrigado a se referir aos membros alcoólicos como “ex-alcoólicos”,
um termo não utilizado pelos membros de A.A.
Quando Bern apresentou a solicitação para inscrever a Carta de Constituição em
nome da Junta, o secretário do Estado de Nova York encarregado de recebê-la
observou que alguns Custódios eram não alcoólicos e outros alcoólicos.
Preocupado com essa diferenciação, perguntou a Bern, “Como você pode distinguir
esta diferença do ponto de vista legal?”. Não foi fácil responder, mas a Bern
finalmente lhe ocorreu esta explicação que satisfez os especialistas em leis: “Sentem
todos em volta de uma mesa e ponham um uísque com soda na frente da cada um.
Os que não o bebam são os alcoólicos”. A explicação funcionou e a Junta obteve sua
Carta Constitutiva.
Depois deste trabalho “Bern” tornou-se amigo de A.A. e serviu a Irmandade durante
26 anos, até a sua morte em 1970, sendo 21 anos como Custódio não alcoólico.
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símbolos da Irmandade. No emblema, os Três Legados estão representados por um triângulo
equilátero – os três lados e os três ângulos são iguais, onde sua base representa a
Recuperação – os Doze Passos – o lado esquerdo a Unidade – as Doze
Tradições de Alcoólicos Anônimos, e o lado direito o Serviço – na descrição de
Bill, ‘tudo aquilo que nos leva ao alcoólico que ainda sofre’ e seus princípios
espirituais baseiam-se no 12º Passo e a 2ª, 4ª, 7ª, 8ª e 9ª Tradições. O triângulo
está inscrito numa circunferência que simboliza A. A. no mundo.
O emblema de A.A. O pavilhão é uma bandeira na cor branca contendo no centro o
emblema na cor azul.
O símbolo foi registrado na Câmara de Propriedade dos EUA em 1957, quando passou a ser
usado oficialmente como propriedade da Irmandade. Tinha quatro formatos conforme sua
destinação: 1) um triângulo equilátero inscrito numa circunferência apenas delineado, destinado ao
registro de propriedade da literatura da A.A.; 2) igual ao anterior (1), mais dois “AA” dentro do
triangulo com fundo azul, representado no pavilhão; 3) igual ao anterior (2), mais os dizeres
Conference General Service faceando internamente a circunferência, era o carimbo da Conferência;
4) igual ao formato 2 mais os dizeres Recuperação Unidade Serviço faceando externamente os lados
do triangulo, para uso nos Grupos.
Em janeiro de 1993, a propriedade do logotipo 1 foi questionada na Justiça americana, e
dentro do espírito do conceito que recomenda evitar ações judiciais sempre que possível, o A.A.W.S.
(Serviços Mundiais de A.A), suspendeu a partir de maio daquele ano, o uso do logotipo como
símbolo oficial de A.A.
A exclusão do Circulo e do Triangulo como
símbolo oficial de A.A.
Box 4-5-9, Ago. Set. / 1993 (pág. 6-7) => http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_aug-sept93.pdf
Título original: “Desprendiéndonos del círculo y el triángulo como un símbolo ‘oficial’ de AA"
Durante muito tempo, um triângulo inscrito em um círculo foi reconhecido como o símbolo
de Alcoólicos Anônimos. Entretanto, o círculo e o triângulo também constam entre os mais antigos
símbolos espirituais conhecidos pela humanidade. Para os antigos egípcios o triângulo representava a
inteligência criativa; para os gregos, significava a sabedoria. Geralmente, representa a aspiração de
alcançar um entendimento mais elevado e uma maior compreensão do espiritual.
Na Convenção Internacional em 1955, durante a celebração do 20º aniversário de A.A., foi
aceito o triângulo inscrito num círculo como o símbolo de Alcoólicos Anônimos. “O circulo”, disse
Bill W. aos AAs reunidos em St. Louis, “simboliza o mundo inteiro de A.A., e o triângulo representa
os Três Legados de A.A., - Recuperação, Unidade e Serviço. Dentro do nosso maravilhoso mundo
novo, encontramos a libertação de nossa obsessão mortal”.
O símbolo foi registrado como marca oficial de A.A. em 1955, e foi livremente usado por
várias entidades de A.A., o qual funcionou bem durante um bom tempo. Entretanto, por volta da
metade dos anos 1980 começou a haver certa preocupação por parte dos membros da Irmandade a
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respeito da utilização do círculo e do triângulo por organizações alheias a A.A. Em conformidade
com a Sexta Tradição que diz que A.A. “... nunca deverá sancionar, financiar ou emprestar o nome
de A.A. a qualquer sociedade parecida ou empreendimento alheio à Irmandade...”, A.A. World
Services – Serviços Mundiais de A.A., começou, em 1986, a tomar algumas providencias para
prevenir a utilização do círculo e do triângulo por entidades alheias, incluindo fabricantes de
brindes, casas editoras e instituições de tratamento. Esta política de desestímulo foi realizada com
moderação e, tão somente depois que todas as tentativas de persuasão e conciliação tinham
fracassado, foi considerado empreender ações legais. De fato, dos aproximadamente 170 usuários
não autorizados que foram contatados, apenas foram apresentadas demandas contra dois deles e o
assunto foi resolvido logo no início.
No começo dos anos de 1990, alguns membros da Irmandade pareciam dizer duas coisas:
“queremos medalhas com nosso círculo e triângulo”, e, “não queremos nosso símbolo associado
com objetivos não A.A.”. O desejo de alguns membros de A.A. de ter fichas de aniversário foi
considerado pelas juntas de A.A. World Services e da Revista Grapevine (equivalente à Vivência)
em outubro de 1990, quando foi estudada a possibilidade de produzir medalhas. Foi do parecer
dessas juntas que as fichas e as medalhas não tinham relação com o nosso propósito primordial de
levar a mensagem de A.A. e que este assunto deveria ser tratado pela Conferência para obter a
opinião da consciência de Grupo da Irmandade. A essência desta decisão foi transmitida à
Conferência de Serviços Gerais de 1991 no relatório da Junta de A.A.W.S.
A Conferência de Serviços Gerais de 1992 começou enfrentando o dilema ouvindo
apresentações a respeito de porque devemos ou não produzir medalhas e, sobre a responsabilidade de
A.A.W.S. de proteger nossas marcas registradas e os direitos de propriedade contra usos que
pudessem sugerir afiliação com fontes alheias.
O resultado foi uma Ação Recomendável da Conferência para que a Junta de Serviços Gerais
desse início a um estudo a respeito da viabilidade de possíveis métodos através dos quais se
poderiam colocar as fichas de sobriedade a disposição da Irmandade, seguido de um relatório a um
Comitê ad hoc (para esse fim) constituído por Delegados à Conferência de 1993, o qual informaria
todos os membros da Conferência no seguinte mês de março (nos EUA/Canadá, as Conferências são
realizadas no mês de abril).
Após longas considerações, o Comitê ad hoc apresentou seu relatório e recomendações à
Conferência de 1993. Depois de uma discussão, a Conferência aprovou duas das cinco
recomendações apresentadas:
1) O uso de fichas e medalhas de sobriedade é um assunto de autonomia local e não algo sobre o
que a Conferência deva consignar uma posição definitiva;
2) Não é apropriado que A.A.W.S ou a Grapevine produzam ou autorizem a produção de fichas
e medalhas de sobriedade.
Entre as considerações incluídas no informe do Comitê ad hoc, encontravam-se as
repercussões de continuar protegendo por meios legais o uso das marcas registradas de A.A. por
parte de organizações alheias.
Coincidentemente, a Junta de A.A.W.S. tinha começado a considerar alguns acontecimentos
recentes, chegando finalmente à conclusão de que as perspectivas de litígios cada vez mais longos e
custosos, a incerteza de conseguir sucesso e o desvio do propósito primordial de A.A. eram grandes
demais para justificar a continuação das tentativas de proteger o círculo e o triângulo. Durante a
reunião pós-conferencial da Junta de Serviços Gerais, os Custódios aceitaram a recomendação de
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A.A.W.S. de não continuar a proteção do símbolo do círculo e do triângulo como uma das nossas
marcas registradas.
No começo de junho (1993), a Junta de Serviços Gerais apoiou por unanimidade substancial a
declaração de A.A.W.S. de que, de acordo com nosso propósito original de evitar a sugestão de
afiliação ou associação com produtos e serviços alheios, Alcoólicos Anônimos World Service, Inc.
deixará progressivamente de fazer uso “oficial” ou “legal” do símbolo com o círculo e o triângulo.
A.A.W.S. continuará resistindo ao uso não autorizado de outras marcas e qualquer tentativa de
publicar literatura de A.A. sem permissão.
É claro, o circulo e o triângulo sempre irão ter um significado especial no coração e na mente
dos membros de A.A., no sentido simbólico, como o tem a Oração de Serenidade e os lemas, que
nunca tiveram um caráter oficial.
Uma Resolução
Apresentada por Bill W. e aprovada na
Convenção do Vigésimo Aniversário em 1955.
(Esta Resolução autoriza a Conferência de Serviços Gerais
a atuar em nome de Alcoólicos Anônimos
e coverter-se na sucessora dos seus cofundadores) (1):
Nós, os membros da Convenção do Vigésimo Aniversário de Alcoólicos Anônimos, reunidos
em Saint Louis, em julho do ano 1955, consideramos que a nossa Irmandade alcançou sua
maioridade e está capacitada para tomar posse completa e permanente dos Três Legados do nosso
patrimônio de Alcoólicos Anônimos – os Três Legados de Recuperação, Unidade e Serviço.
Acreditamos que a Conferência de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos, criada em 1951
por nossos cofundadores, Dr. Bob e Bill W. e autorizada pelos Custódios da Fundação do Alcoólico,
está agora capacitada para assumir por inteiro a proteção das Doze Tradições de A.A. e para assumir
em sua totalidade a direção e o controle do serviço mundial da nossa Sociedade, tal como estipulado
no ‘Manual de Serviço Mundial do Terceiro Legado’ (2), recentemente revisado pelo nosso
cofundador Bill W. e a Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos.
Também ouvimos e aceitamos a proposta de Bill W. que a Conferência de Serviços Gerais
deve-se converter em sucessora permanente dos fundadores de A.A. herdando deles todos os deveres
anteriores e responsabilidades especiais, evitando assim no futuro toda possibilidade de
comprometimento em prestigio individual ou autoridade pessoal, e proporcionando à nossa
sociedade os meios para funcionar de forma permanente.
PORTANTO, RESOLVEMOS: Que a Conferência de Serviços Gerais de Alcoólicos
Anônimos seja convertida, a partir desta data, 3 de julho de 1955, na protetora das Tradições de
Alcoólicos Anônimos, perpetuadora dos Serviços Mundiais da nossa Sociedade, a voz da consciência
de Grupo da nossa Irmandade como um todo e a única sucessora dos cofundadores, o Dr. Bob e Bill
W.
E ENTENDE-SE: Que nem as Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos, nem as garantias
expressadas no Artigo XII da Carta de Constituição da Conferência poderão ser mudadas ou
corrigidas pela Conferência de Serviços Gerais, sem antes pedir o consentimento prévio de todos os
Grupos de A.A. no mundo todo. (Isto deverá incluir todos os Grupos de A.A. conhecidos pelos
Escritórios de Serviços Gerais ao redor do mundo) (3). Os Grupos deverão ser devidamente
notificados a respeito de qualquer projeto e lhes será concedido um tempo não inferior a seis meses
para sua consideração. E antes que a Conferência execute qualquer ação a respeito, deverá ser
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recebido por escrito dentro do tempo estipulado o consentimento de pelo menos três quartas partes de
todos os Grupos registrados que respondam à proposta correspondente.
ENTENDEMOS TAMBÉM: Que, como estipulado no Artigo XII da Ata de Constituição da
Conferência, esta se compromete com a Sociedade de Alcoólicos Anônimos pelos seguintes meios:
Que em todos seus procedimentos, a Conferência de Serviços Gerais observará o espírito das
Tradições de A.A., tomando muito cuidado para que a Conferência nunca se torne sede de riqueza ou
poder perigosos. Que suficientes fundos para as operações mais uma ampla reserva, sejam o seu
prudente princípio financeiro. Que nenhum dos membros da Conferência nunca seja colocado em
posição de autoridade absoluta sobre qualquer um dos outros. Que todas as decisões importantes
sejam tomada através de discussão, votação e, sempre que possível, por substancial unanimidade.
Que nenhuma ação da Conferência seja jamais pessoalmente punitiva ou uma incitação à
controvérsia pública. Que, embora a Conferência preste serviço a Alcoólicos Anônimos, ela nunca
desempenhe qualquer ato de governo e que, da mesma forma que a Irmandade de Alcoólicos
Anônimos a que serve, a Conferência permaneça sempre democrática em pensamento e ação.
St. Louis, Missouri, 03 de julho de 1955
Esta resolução foi aprovada pela Convenção por aclamação, e na Conferência (que
acontecia em paralelo à Convenção, em St. Louis – a única Conferência realizada fora de
Nova York), por determinação legal, através de votação.
N.T. (1): Um texto equivalente a esta “Resolução”, denominado “Acordo”, foi aprovado
pelos Delegados à Conferência de Serviços Gerais realizada em São Paulo em
17 de abril de 1987. Veja seu conteúdo na página 12 do Manual de Serviço de
A.A. (Junaab, código 108).
N.T. (2): Atualmente, “Manual de Serviço de A.A.”.
N.T. (3): A Conferência de Serviços Gerais de 1976 adotou a seguinte resolução: “... entre
os instrumentos que requerem três quartas partes dos Grupos que respondem à
solicitação para fazer mudanças ou emendas, sejam incluídos os Doze Passos
de A.A., se alguma vez forem propostas mudanças ou emendas. Isto se aplica
ao texto original em inglês, não às traduções”.
Lê-se nas páginas S102 e S103 de =>http://www.aa.org/assets/es_ES/sp_bm-31.pdf
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Um passeio pela história:
Os Arquivos Históricos do ESG-NY
Box 4-5-9, Março 2014 (pag. 5-6) => http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_spring14.pdf
Título original: “Una caminata por la historia: los Archivos Históricos de A.A. de la OSG ".
Eles vêm de lugares tão distantes quanto a Ucrânia e tão próximos como o bairro do Brooklin,
em grupos de até vinte pessoas ou na forma de apenas um Solitário; chegam com muita motivação e
boa vontade, e ás vezes por sugestão feita por seu padrinho, para visitar as instalações da “Sede de
A.A.”. Dia após dia, em números a cada vez maiores, chegam os visitantes ao Escritório de Serviços
Gerais – ESG, localizado no “Upper West Side” de Manhattan. Muitos dos que fazem o percurso das
instalações ficam surpresos com a amplidão do espaço e igualmente impressionados pelo alcance e a
variedade dos trabalhos empreendidos e os serviços oferecidos diariamente pelos escritórios da
Irmandade. Muitos se interessam especialmente pelas tradições e a história de A.A., e assim, a
maioria das visitas começa – e frequentemente termina - nos Arquivos Históricos de A.A. do ESG.
Ansiosos por informação a respeito de Bill W., o Dr. Bob, os membros pioneiros e os
primeiros amigos e defensores da Irmandade, os visitantes costumam se sentir entusiasmados com a
vasta coleção de literatura de A.A., que inclui uma impressão de cada edição do Livro Grande (no
Brasil, Livro Azul). A riqueza do passado do A.A. está refletida no contexto histórico, nas fotografias
penduradas nas paredes, fotos dos cofundadores e dos primeiros amigos de A.A., entre eles, o padre
Ed Dowling, o sacerdote jesuíta a quem Bill W. considerava um dos seus conselheiros espirituais e
John D. Rockefeller, cujo exemplo e perspectiva sobre as finanças assentaram as bases da Tradição
de Autossuficiência de A.A. Fotos de Lois W. e Anne S., esposas dos cofundadores e das suas casas
em Bedford Hills, Nova York e em Akron, Ohio, oferecem uma visão mais ampla sobre as vidas dos
dois homens responsáveis pela criação e o desenvolvimento de A.A.
Os visitantes também podem ver o Prêmio Lasker, outorgado a A.A. pela Associação Médica
Americana em 1951; exemplares de números atrasados e recentes da Grapevine; livros de recortes de
artigos sobre A.A. publicados em jornais de 1939 até a década de 1950 e fotos de pessoas, lugares e
acontecimentos de importância histórica para A.A. Há também uma exposição internacional com
fotos de locais de reuniões e cópias de traduções de literatura de A.A. As primeiras traduções do
Livro Grande incluem: alemão (1952), espanhol (1952) e francês (1963).
Outros itens de interesse especial são a máquina de escrever que foi usada para datilografar o
manuscrito do Livro Grande; uma cópia emoldurada da carta escrita pelo Dr. Carl Jung, endereçada a
Bill W. em 1961 - carta que aparece na página 330 do livro “A Linguagem do Coração” (Junaab,
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código 104), uma coleção de escritos de Bill publicados na Grapevine; e o sofá em que Bill W.
costumava se sentar no ESG. Sentados neste sofá em contemplação, procurando na biblioteca a
multiplicidade de fotografias e amostras de objetos dos primeiros dias de A.A., os visitantes
frequentemente dizem se sentir profundamente gratos e conectados com o extraordinário e
improvável passado de A.A.
Um dia típico nos Arquivos Históricos é um dia muito ocupado, porque uma das funções
principais dos Arquivos Históricos é a de responder aos aproximadamente 1.600 pedidos de
informações e pesquisas que chegam anualmente feitas por membros de A.A., funcionários do ESG e
o público em geral. Além disso, o pessoal dos Arquivos Históricos está fazendo um esforço constante
para catalogar e armazenar as novas aquisições e para avaliar, organizar e preservar outras coleções
de materiais. O pessoal também monta e mantém amostras dos arquivos e passa uma quantidade
considerável de tempo digitalizando documentos importantes para sua coleção.
Algumas perguntas que chegam aos Arquivos Históricos são bastante fáceis de responder,
mas para responder outras é necessário fazer pesquisas mais minuciosas. Entre as solicitações de
informação mais comuns incluem-se as que tratam da origem e desenvolvimento dos Passos e as
Tradições de A.A.; histórias de Grupos, Áreas e estruturas internacionais; números atrasados e
edições anteriores de boletins, folhetos e outras publicações; o desenvolvimento da estrutura do
serviço e as ações das Juntas corporativas e da Conferência de Serviços Gerais desde 1951.
Entre as principais propriedades dos Arquivos Históricos incluem-se os registros escritos da
Fundação do Alcoólico, organizada no final da década de 1930 para atender às necessidades do
incipiente movimento e precursora da atual Junta der Serviços Gerais. Inclui a correspondência entre
o ESG e os membros e Grupos pioneiros da América do Norte e outras partes do mundo, e detalha as
dificuldades com as que A.A. foi confrontada e que foram superadas a través de tentativas e erros. Os
Arquivos Históricos também tem arquivadas as atas das reuniões da Junta der Serviços Gerais, das
Juntas corporativas de A.A.W.S., Inc., e Grapevine e tem uma coleção substancial de materiais de
áudio, incluindo entrevistas gravadas e gravações de eventos de A.A., tais como as Conferências de
Serviços Gerais e as Convenções Internacionais. Há também uma coleção de literatura produzida
pelo ESG e outras entidades de A.A. e uma quantidade considerável de registros de Grupos.
Também está abrigada nos Arquivos Históricos uma vasta coleção de recortes de imprensa e
de livros que tratam tanto de A.A. como de alcoolismo e oferecem aos interessados a oportunidade
de formar uma ideia do desenvolvimento e a evolução da percepção e compreensão do alcoolismo, e
como ele tem mudado desde a Fundação de A.A.
Com alguma frequência, o pessoal dos Arquivos Históricos recebe pedidos de cópias das
cartas de Bill W. contendo textos citados no livro “Na Opinião de Bill” – Junaab, código 112; a
resposta a estes pedidos apresenta grandes dificuldades para o pessoal, porque, como Bill explicou
no prefácio a este livro, as citações foram retiradas de seus contextos originais para a sua publicação,
e tem sido necessário revisar alguns textos e até mesmo retornar a escrevê-los no interesse da
clareza; é por isso que é difícil encontrar a fonte original de várias citações. Em casos muito raros, é
possível encontrar a carta solicitada, e por isso quem apresentou o pedido recebe extratos
relacionados da carta e não uma cópia da mesma. Ao tomar estas decisões, o pessoal dos Arquivos
Históricos segue as Normas para Fotocopiado que foram criadas para proteger a integridade física e
intelectual da coleção. Além disso, o objetivo dessas normas também é o de proteger o anonimato e a
privacidade de nossos membros e cumprir as leis de Direitos Autorais dos EUA quando forem
aplicáveis à nossa coleção.
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Além disso, cada ano vem aos Arquivos Históricos vários profissionais interessados em fazer
pesquisa e estudar os vários aspectos da história de A.A. Alguns querem aprender sobre indivíduos
importantes para a Irmandade. Outros querem saber mais sobre o programa de A.A. propriamente,
incluindo suas raízes filosóficas, psicológicas e espirituais. Embora o número possa variar,
geralmente ocorrem a cada ano por volta de uma dúzia de pesquisadores que após pedir e obter a
aprovação do Comitê de Arquivos Históricos dos Custódios tem acesso a determinada propriedade
inédita.
O pessoal dos Arquivos Históricos recebe por telefone, correio postal ou eletrônico, pedidos
de ajuda dos arquivistas ou Comitês de arquivos locais (Áreas, Distritos, Grupos, etc.) que precisam
de conselhos sobre quais materiais selecionar. Para ajudar os arquivistas locais, os Arquivos
Históricos do ESG lhes oferecem o Libro de Trabalho dos Arquivos Históricos (1), Guia dos
Arquivos Históricos e outros guias relacionadas com preservação e digitalização, um kit de histórias
orais e outros materiais.
Três vezes por ano os Arquivos Históricos publicam um boletim intitulado Marcas com
artigos sobre vários aspectos da história do A.A., bem como artigos sobre preservação e manutenção
da coleção nos arquivos. Marcas (o nome é provisório, já que ainda não é publicado em português)
está disponível em espanhol, inglês e francês; pode chegar diretamente pelo correio eletrônico para
aqueles que se inscreverem no website de A.A. do ESG - www.aa.org.
Os visitantes dos Arquivos Históricos frequentemente estão interessados especificamente na
história de Grupos individuais e muitos acabam encontrando-se, no final de sua turnê pelas
instalações, na biblioteca dos Arquivos Históricos – talvez sentados no sofá de Bill - folheando
velhos livros de recortes, artigos publicados no passado na Grapevine ou diretórios remanescentes
procurando informações sobre o seu Grupo base ou o Grupo onde conseguiram sua sobriedade.
Profundamente curiosos a respeito de A.A. e seu desenvolvimento, os visitantes também fazem
perguntas relacionada com a literatura de A.A., especialmente sobre o Livro Grande, os lemas e as
orações dos dias pioneiros. Alguns fazem perguntas sobre o uso de medalhões e logotipos, e outros
querem se informar sobre costumes e práticas que se desenvolveram nas reuniões.
Não importa qual seja a pergunta: os dedicados membros do pessoal dos Arquivos Históricos
irão fazer tudo o possível para responder aqueles que desejam aprender sobre A.A. e sua
extraordinária história.
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Os Comitês da Junta de A.A.W.S. : Dada a quantidade e complexidade dos assuntos que A.A.W.S.
têm que tratar, a junta realiza grande parte do seu trabalho através de quatro comitês que se reúnem
em sessão separada da plenária da junta e apresentam seus relatórios e recomendações
posteriormente à junta. Estes comitês são os seguintes:
Serviços: cuida das necessidades dos departamentos de serviço e se esforça para melhorar a
comunicação entre a junta de A.A.W.S. e a Irmandade. Este comitê é o responsável pela supervisão
do sítio na Web de A.A. do ESG.
Finanças e Administração: cuida dos salários e orçamentos, e a revisão de contas.
Publicações: cuida dos assuntos de edição, reimpressão e tradução da nossa literatura e demais
assuntos editoriais.
Nomeações: Nomeia os novos diretores de A.A.W.S., e Custódios de Serviços Gerais. Todos os
membros deste comitê são Custódios-diretores.
N.T. (1): Esta entidade não tem equivalente na estrutura de serviços de A.A. no Brasil. Todas
as funções a ela atribuídas são exercidas por Comitês específicos da Junaab.
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Em um artigo sobre os Conceitos, Sam S., um antigo Delegado do sul da Flórida, comentou
sobre a importância perene que eles têm para o bem estar geral de A.A. e que os princípios em que
estão baseados são inerentes aos membros de A,A, mesmo tendo, ou não, um conhecimento
específico sobre eles. “Eles nos dizem que nunca devamos ser ávidos por dinheiro ou poder, que
somos todos iguais, que devemos tomar decisões, se possível, somente quando estamos de acordo,
que nossas ações não devem ser prejudiciais, que sempre devemos atuar como servidores de
confiança. Estes são os guias para as relações entre a Conferência e a Irmandade como um todo;
Porém, servem também como guias para qualquer Grupo de A.A. onde quer que se encontre, por
meio dos quais pode trabalhar com eficácia para proteger nossa Irmandade a fim de que os que
ainda estão pó vir a encontrem saudável e segura.
Os Conceitos não deixam apenas traçadas com extrema clareza as linhas de comunicação,
mas, também nos oferecem métodos e formas de comunicação que refletem a preocupação, a
confiança, o amor, o respeito mútuo e o reconhecimento da dignidade de cada pessoa que
caracterizam a Irmandade de A.A. Percebemos que nossos Conceitos são a base espiritual de todos
os serviços mundiais de A.A.”.
A Declaração de Responsabilidade
Box 4-5-9, Out./Nov. 2008 (pág. 9-10) => http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_oct-nov08.pdf
Título original: “La declaración de la responsabilidad: un tema que perdura”
Sob qualquer padrão de medida que se queira utilizar, Alcoólicos Anônimos tinha alcançado
em 1965 um sucesso que parecia superior ao que pudessem ter imaginado seus dois cofundadores
trinta anos antes. Com aproximadamente 350.000 membros no mundo todo, a Irmandade tinha-se
convertido numa instituição bem conhecida na América do Norte, e muitos profissionais que
trabalhavam na área da recuperação acreditavam que A.A. era a mais clara e melhor solução para o
tratamento do alcoolismo. No começo de julho de 1965, aproximadamente 10.000 membros
congregaram-se em Toronto, Canadá, para participar da IV Convenção Internacional que resultou ser
uma boa ocasião para alardear e se recrear nos logros de A.A.
Entretanto, a Convenção também se dedicou a fazer um destemido inventário e,
especialmente, ao tema da responsabilidade. Bill W. introduziu oficialmente o Termo de
Responsabilidade que diz “Eu sou Responsável... quando qualquer um, seja onde for, estender a
mão pedindo ajuda, quero que a mão de A.A. esteja ali. E por isto: eu sou responsável”.
O autor dessa declaração foi Al S., que contou a historia de sua concepção na VI Convenção
Internacional de Denver em 1975; “buscava-se uma declaração (sobre a responsabilidade), que
tivesse o efeito de captar emocionalmente os AAs sem impor nenhum dever”, lembrou Al. Depois de
varias tentativas, teve a ideia de que deveria ser uma decisão e uma responsabilidade pessoal – “Eu”
no lugar de “nós”. Dez mil membros de A.A. juntaram-se e, de mãos dadas fizeram pela primeira
vez a declaração desse Termo na Convenção de Toronto, e desde então se tem distribuído por toda a
Irmandade e se reimprime nos folhetos de A.A. e na Revista Grapevine.
Porque a essa declaração foi escrita e aceita naquele momento? Uma possível razão é que Bill
W. e outras lideranças em A.A. haviam detectado alguns problemas que poderiam afetar a
capacidade futura de A.A. ajudar os alcoólicos.
Em 1963, uma revista nacional tinha publicado uma matéria de capa muito crítica em relação
a A.A. a qual sugeria que a Irmandade já não dava tão bons resultados. Os profissionais no campo do
alcoolismo, não alcoólicos, sentiam-se inquietos diante das atitudes e ações de alguns membros de
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A.A. – um deles inclusive iria falar na Convenção de Toronto. Alguns insinuaram que estava na hora
de A.A. “fazer seu inventário”.
Bill W. considerou detidamente o tema num artigo intitulado “Nosso lema: a
Responsabilidade”, publicado no número de julho de 1965 na revista Grapevine. Disse ser possível
que estivéssemos alienando alguém devido à nossa arrogante convicção de sempre estar com a razão
e nossa solução para o alcoolismo ser a única. Tínhamos que corrigir essas atitudes e esse
comportamento para continuar a alcançar o alcoólico que estava sofrendo.
Bill W. disse: “Se fizer um inventário dos defeitos de A.A., podem estar seguros de que
também estarei fazendo o meu próprio. Sei que meus erros de ontem ainda têm repercussões, e meus
erros de hoje podem igualmente afetar nosso futuro. Assim acontece com todos e cada um de nós.
Nossa próxima responsabilidade será a de apadrinhar, de maneira inteligente e carinhosa,
cada homem e cada mulher que recorra a nós em busca de ajuda. O empenho e o amor com que nos
dispormos a realizar essa tarefa, individual ou coletivamente, terão importância decisiva”
Complemento:
Houve duas Ações Recomendáveis da Conferência de Serviços Gerais em relação ao termo
de Responsabilidade. A primeira, em 1971, a Conferência, recomendou que o Comitê de Literatura
reafirmasse nas suas publicações o texto “Eu sou responsável” conforme a Convenção Internacional
realizada em Toronto em 1965. A segunda, em 1977, a Conferência recomendou que o texto dessa
declaração nunca fosse mudado.
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A Junta autorizou o projeto e no dia 15 de novembro de 1967 foram enviadas cartas-convite
aos representantes de Inglaterra, Austrália, Nova Zelândia, França, Bélgica, Alemanha, Finlândia,
América Central (Costa Rica, Honduras, Guatemala, El Salvador, Panamá, Nicarágua), América do
Sul, México, Noruega, África do Sul e Holanda.
O projeto foi aprovado pelos países interessados e pela Conferência de Serviços Gerais de 1968 dos
EUA/Canadá.
Assim, foi criada Reunião de Serviço Mundial – RSM e iniciada em 1969. Realiza-se a cada
dois anos alternando uma reunião em Nova York - cidade sede do Serviço Mundial – outra reunião
em qualquer outra cidade do mundo onde exista estrutura de serviços de A.A. escolhida por consenso
dentre os países participantes.
A RSM congrega Delegados de todos os países do mundo que tenham uma estrutura
organizada de Serviço capaz de legitimar a sua representação como oriunda da “consciência
coletiva” dos Grupos de cada nação.
Quando uma RSM acontece em Nova York, os Delegados têm a preciosa oportunidade de
ficar conhecendo o Escritório de Serviços Gerais dos EUA/Canadá. Além de se familiarizarem com a
infraestrutura do Serviço Mundial, podem sentir, intuitivamente, a aura que envolve as atividades de
A.A, executadas no país de origem da Irmandade.
Toda RSM é patrocinada pela Junta de Serviços Gerais dos Estados Unidos e Canadá. Cada
país participante colabora com uma cota de despesa nivelada estabelecida pela Reunião anterior. A
cada Reunião, o plenário, por sugestão da Comissão de Finanças, decide um aumento da cota, de tal
forma que, dentro de alguns anos, a RSM possa se tornar autossuficiente, libertando-se da atual
dependência financeira do ESG dos EUA/Canadá.
A RSM tem por objetivo principal unir A.A de todo o mundo e levar a mensagem a todos os
recantos do planeta. O evento se processa através dos seguintes Comitês: Agenda, Comitê de
Política/Admissões/Finanças, Literatura e Publicações, Trabalhando com os Outros, Instituições
Correcionais, de Informação, de Instituições de Tratamento e de Assuntos Novos.
A primeira Reunião de Serviços Mundiais foi celebrada Em Nova York entre os dias 9 e 11 de
outubro de 1969 com a participação de 27 Delegados de 16 países.
Desde então foram realizadas as seguintes Reuniões:
Anos pares, em Nova York: a 2ª, 1972; 4ª, 1976; 6ª, 1980; 8ª, 1984; 10ª, 1988; 12ª, 1992; 14ª,
1996; 16ª, 2000; 18ª, 2004; 20ª, 2008; 22ª, 2012.
Anos impares: A 3ª – 1974, Londres, Inglaterra; 5ª – 1978, Helsinki, Finlandia; 7ª – 1982,
San Juan del Rio, México; 9ª – 1986, Ciudad de Guatemala, Guatemala; 11ª – 1990, Múnich,
Alemanha; 13ª - 1994, Cartagena, Colômbia; 15ª – 1998, Auckland, Nova Zelandia; 17ª –
2002, Oviedo, España; 19ª – 2006, Dublín, Irlanda; 21ª – 2010, Ciudad de México, México;
23ª – 2014, Varsovia, Polonia.
Você pode ver o relatório destas reuniões e seus comitês em:
http://redelaweb.org/rsm/historiarsm.html
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Página electrónica: www.aamexico.org.mx
Correio eletrônico: editorialosg@aamexico.org.mx
Para saber mais sobre a história e o funcionamento da REDELA, veja:
http://redelaweb.org/historia/guia.html
A Declaração de Unidade
Box 4-5-9, Fev. Mar. / 2009 (pág. 7-8) => http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_febmar09.pdf
Título original: “¿Por qué tenemos una Declaración de Unidad?”
Em julho de 1970, onze mil membros de Alcoólicos Anônimos reunidos em Miami Beach,
Florida, EUA, fizeram a seguinte promessa em onze idiomas diferentes:
“Uma Declaração de Unidade:
O futuro de A.A. depende de ser colocado em primeiro lugar, o nosso bem-estar comum, a
fim de manter a nossa Irmandade unida. Da unidade de A.A. dependem as nossas vidas e as vidas
daqueles que virão”.
A aceitação desta declaração na Convenção de 1970 selou a aprovação final à campanha
iniciada por Bill W. algumas décadas atrás, para estabelecer como prioridade a preservação da
unidade para assegurar o futuro de A.A. Vinte anos antes, na primeira Convenção Internacional, em
Cleveland, mais de três milhares de membros de A.A. votaram pela aceitação das Doze Tradições
que Bill havia redigido e proposto com o propósito específico de assegurar a sobrevivência de A.A.
como sociedade. A aceitação oficial da Declaração de Unidade serviu para reforçar isso.
Por que foi necessário fazer essa declaração? Quase desde os primórdios de A.A., Bill havia
colocado como foco a importância de manter a unidade da Irmandade. Trabalhando juntos
poderemos alcançar e manter a sobriedade que não pudemos encontrar quando estávamos sozinhos.
Mesmo quando A.A. não tinha mais de cem membros, em sua maioria concentrados em Akron e
Nova York, Bill e o Dr. Bob tinham a visão de uma irmandade unificada que poderia alcançar os
alcoólicos em todas as partes da América do Norte e inclusive do mundo. Bill W., nas suas palestras
e artigos, sempre destacou a necessidade de preservar a unidade para que nós mesmos pudéssemos
manter a sobriedade e preservar A.A. para “os milhões que ainda não nos conhecem”.
Ao apresentar as Tradições, Bill escreveu: “Enquanto os vínculos que nos unem demonstrem
ser mais fortes que as forças que pudessem nos dividir, tudo irá bem...estaremos seguros como
movimento; nossa unidade essencial continuará a ser algo seguro”.
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Quais eram as forças que poderiam nos dividir? Ele mencionava com frequência a luta pela
propriedade, o poder e o dinheiro. Sentia ser absolutamente necessário que A.A. como sociedade
teria que evitar as controvérsias sobre a política e a religião. Também acreditava que o anonimato era
um fator decisivo para manter a unidade e que a ajuda de A.A. deveria estar disponível para todos
sem favoritismos nem prejuízos.
Bill descreveu as Doze Tradições como sendo “Doze pontos para assegurar o nosso futuro”.
Ele as considerava tão essenciais para a preservação da sociedade quanto os Doze Passos para a
recuperação do membro individual. Escreveu que o mais urgente e estimulante interesse de A.A. era
“preservar entre nós, os AAs, uma unidade tão sólida que nem as debilidades pessoais nem a
pressão e discórdia desta época turbulenta possam prejudicar nossa causa comum. Sabemos que
Alcoólicos Anônimos tem que sobreviver. Se assim não for, exceto contadas exceções, nós e nossos
companheiros alcoólicos em todas as partes do mundo recomeçaríamos nossa desesperada viagem
rumo ao esquecimento”.
Bill estava doente e lhe restava menos de um ano de vida quando foi adotada oficialmente a
Declaração de Unidade. Mesmo assistindo à Convenção numa cadeira de rodas e fazendo uma breve
aparição no palco, não pode fazer a longa palestra que costumava fazer nas Convenções anteriores.
Porém, certamente deveu sentir um merecido orgulho ao ver aprovada esta declaração por parte da
convenção, da mesma maneira que a Convenção Internacional de 1965, em Toronto, emitira a
declaração do Termo de Responsabilidade.
De acordo com informação encontrada nos Arquivos Históricos de A.A., o autor do texto da
declaração provavelmente foi Al S., o mesmo membro de A.A. e assessor que tinha redigido o
Termo de Responsabilidade. Também reflete os esforços do Comitê que organizou e trabalhou na
Convenção Internacional de 1970 – 35º aniversário de A.A. O lema da Convenção, apropriadamente,
foi “A unidade dentro da nossa Irmandade”.
Na cerimônia de sábado à noite, o então gerente geral do ESG, Bob H., convidou para subir
ao palco vários antigos delegados e membros de ultramar para participar da adoção da Declaração;
dizendo que, “a unidade de A.A. é a qualidade especial que faz com que nossa Irmandade seja
única. É o cimento que mantém unida nossa sociedade, a plataforma que faz possível o ‘Serviço’ de
A.A. É mais que um acordo sobre os princípios básicos, mais que a liberação da discórdia
destrutiva. É um vínculo criado pela experiência compartilhada, como a que compartimos aqui,
nesta noite. A unidade é nossa mais prezada posse, nossa melhor garantia para o futuro de A.A. Que
todos a valorizemos e a preservemos, hoje e todos os amanhãs que estão por vir”.
Bob H. pediu então a todos os participantes que se encontravam no palco que recitassem a
Declaração de Unidade, que foi iniciada pelo Dr. John L. Norris, o diretor clínico da Eastman Kodak
e amigo e Custódio não alcoólico durante muitos anos.
Conforme informação disponível, devido ao agravamento da saúde, Bill não pode assistir a
essa cerimônia. Porém, conseguiu subir ao palco na manhã seguinte para proferir um brevíssimo
discurso de quatro minutos, que foi acolhido com uma grande ovação com todos os presentes em pé.
Isto, nos últimos meses de vida de Bill, foi uma comovedora lembrança do também breve discurso
do Dr. Bob na primeira Convenção Internacional, em julho de 1950, em Cleveland, quando instou a
todos a ter presente que os Doze Passos se reduzem a amor e serviço, sua última mensagem antes de
morrer em novembro daquele ano.
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O falecimento de Bill W.
Não se sabe ao certo quando Bill W. – um fumante inveterado, descobriu que tinha contraído
enfisema pulmonar. Em 1965, ele havia completado 70 anos e continuava fumando. Havia tentado
deixar de fumar muitas vezes e recaido outras tantas. A partir de 1966, sua respiração foi piorando, o
enfisema apoderou-se dele, mas continuava fumando. Em 1969, as doenças vinham e desapareciam.
Primeiramente foi a pneumonia. Embora o estrago já tivesse sido feito, no inverno desse ano ele
conseguiu parar de fumar, e em 1970 melhorou ligeiramente.
Todos os meses de abril, Bill falava na abertura
da Conferência. Em 1970, ele começou a falar, mas de
repente parou, justamente na metade da segunda frase.
Após uns instantes disse “Sinto, mas não posso
continuar”. Todos ficaram espantados com a cena,
porque se havia uma coisa que Bill sempre podia fazer
era falar, de modo eloqüente, articulado e convincente.
Ele agora sofria de toda espécie de dores e
estava mentalmente inseguro, mas tinha muita vontade
de assistir à Convenção Internacional de Miami Beach, Bill W. na abertura de sua última
em julho. Em maio, foi internado no Instituto do Conferência, em 1970
Coração de Miami, cujo diretor era o Dr. Ed B., companheiro e amigo querido de A.A.
Estava programado que Bill participasse de uma conferência de imprensa durante a
Convenção. Com certeza, deveria falar algo importante, como sempre o fazia nas Convenções a cada
cinco anos. Porém na noite anterior, teve que ser levado de novo, do hotel para o Instituto do
Coração. Fisicamente era impossivel que Bill falasse, mas seu coração estava voltado para aquela
reunião. Bill foi levado de ambulância, arranjaram uma caminhonete equipada com guincho, que
levantou Bill na cadeira de rodas e o depositou na entrada traseira do palco. Estava recebendo
oxigênio atraves de um tubo colocado no nariz. Foi levado na cadeira até o microfone. Falou apenas
durante quatro minutos, mas, mais uma vez consguiu hipnotizar as 14.000 pessoas que participaram
daquela Conveção. Foi retirado do palco e levado de volta ao hospital onde ficaria o resto do mes de
julho.
Em 1º de agosto voltou a Nova York. Lá teve mais uma pneumonia, da qual nunca mais se
recuperou. Foi internado no Hospital Northern Westchester. Começou a ter alucinações. Em
novembro, quando já estava completamente prostrado, Lois leu sua
mensagem de despedida durante seu jantar de aniversário – 75 anos,
onde parafraseava uma saudação árabe enviada por um membro.
Escreveu a todos os AAs: “Eu os saúdo, e dou graças pelas suas vidas”.
Em janeiro de 1971, o Dr. Ed decidiu que o Instituto do Coração
de Miami poderia ajudar Bill, já que possuia um novo aparelho
respiratório. Um velho amigo alugou um Learjet e o Dr. Ed viajou de
Miami para acompanhar Bill em sua volta. Junto viajaram Lois e a
secretária Nell Wing (secretária do Escritório desde a saída de Ruth
Nell Wing
Hock em 1942, e a primeira arquivista de A.A.). O avião chegou a
Miami ao cair da tarde. Às oito da noite, depois de jantar e após Lois ter
voltado ao quarto de Bill para despedir-se, Nell e ela se retiraram a seus quartos no hotel Holliday
Inn, ao lado do Instituto. Bill estava confortável e alegre quando Lois o deixou. O dia era 24 de
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janeiro de 1971, data do 53º aniversário de casamento de Lois e Bill. Bill morreu às onze e trinta da
noite.
No Posfácio do livro “Levar Adiante” – Junaab, código 118, pág. 442/2/1, lê-se:
“No dia 27 de janeiro, foi realizada uma cerimônia particular in memoriam em Stepping
Stones. A Oração de São Francisco, a predileta de Bill, ecoou através das árvores que rodeiam a
casa: ‘Ó Senhor! Faze de mim um instrumento de Tua Paz; onde há ódio, faze que eu leve o amor;
onde há ofensa que eu leve o perdão; onde há discordia que eu leve a união; onde há dúvidas que eu
leve a fé; onde há erros que eu leve a verdade; onde há desespero que eu leve a esperança; onde há
tristeza que eu leve a alegria; onde há trevas que eu leve a luz!
Oh! Mestre! Faze que eu procure menos ser consolado do que consolar; ser compreedido do
que compreender; ser amado do que amar. Porque é dando que se recebe; é perdoando que se é
perdoado; é morrendo que se vive para a Vida Eterna’”.
Em 8 de maio, depois que a terra em Vermont havia degelado, os restos de Bill foram
sepultados no jazigo da familia no cemitério de East Dorset. A lápide simples, do mesmo mármore
branco que seu pai retirava da pedreira, reza: “William G. Wilson. 1895 – 1971”. Sem nenhuma
referência a Alcoólicos Anônimos. Do jeito que o Dr. Bob havia preconizado:... sejamos enterrados
como os outros sujeitos.
Lois Burnham, casada com Bill durante exatos 53 anos, foi co-fundadora dos Grupos
familiares Al – Anon, criados em 1951 - quando ela tinha 60 anos de idade - junto com sua amiga e
vizinha Anne B., esposa de um AA. O primeiro Grupo iniciou-se na sua casa. Em 1957 fundou o
primeiro Grupo de Alateen. Morreu no Northern Westchester Hospital em Mount Kisco, N.Y., no dia
5 de outubro de 1988, aos 97 anos de idade.
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SEGUNDA PARTE
A experiência alcoólica de Bill W.
A experiência alcoólica de Bill W. acompanhou integralmente o período da Lei Seca desde
sua proposta até a sua revogação (ver abaixo: Lei Seca)
Na data da apresentação da proposta, em 08-09-1917, Bill W.
estava com 21 para 22 anos de idade e era ainda um neófito nas
artimanhas do álcool. Tinha começado a carreira alcoólica quando foi
promovido de cadete a segundo-tenente naquele mesmo ano; até então ele
nunca tinha bebido. Seu batismo alcoólico aconteceu no verão desse ano,
numa festa social promovida por Catherine Grinnel, de uma rica família
de New Redford. Ofereceram um “Bronx”, que é uma mistura de gim,
vermute seco e doce e suco de laranja. Bill surpreendeu-se aceitando a
bebida. Tímido e com complexo de inferioridade, seu embaraço era tanto
que simplesmente teve que tomar aquele gole. Este gole resultou no
primeiro porre; descobriu o “elixir da vida” e, nas suas palavras, Bill foi
um bebedor excessivo desde o início. Ele nunca atravessou nenhum
estágio moderado ou qualquer período de bebedor social. Sem a bebida,
Bill W. na Academia
Bill sentia-se novamente inferior.
Militar
Em janeiro de 1918, os EUA estavam totalmente envolvidos na
Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e Bill poderia ser mandado para a Europa a qualquer
momento. Por este motivo decidiu se casar com Lois Burnham (1891-1988), com quem estava
namorando havia três anos. O casal vai morar no apartamento mobiliado que Bill havia alugado em
New Bedford.
Um dos aspectos dessa nova vida social permaneceu
desconhecido para Lois até descobri-lo enquanto ainda estavam em
New Bedford. Bill se lembra de que, durante esse período, deve ter
saído do ar pelo menos uma vez a cada três festas. Certa noite Lois,
ficou chocada ao ouvir os companheiros de Bill no Exército contar
como o haviam arrastado para casa e posto na cama. Mesmo assim ela
não ficou perturbada a respeito disso, confiando em que poderia
persuadi-lo a voltar à sua antiga abstinência. “Eu tinha certeza de que
viver comigo seria de tamanha inspiração que ele não precisaria de
álcool”.
Nas recordações desse período, Bill mencionou
frequentemente seu medo de ir para a guerra e a vergonha que sentia em
relação a esse medo.
Bill W. e Lois Burnham no Em um dia do mês de agosto embarcou no Lancashire, um
dia do seu casamento navio inglês de transporte de tropas, rumo à Inglaterra. Bill foi enviado
para a França, onde descobriu que o vinho francês podia provocar os
mesmos efeitos que a bebida de New Bedford. Em fins de 1918, a guerra estava esmorecendo, e a
unidade de Artilharia de Bill foi estacionada em uma cidadezinha montanhesa, longe da frente de
combate, até que o Armistício foi assinado (11/11/1918). Seu batalhão continuou na França até a
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primavera de 1919 e Bill estava apenas começando a gostar do vinho francês quando finalmente foi
embarcado de volta para casa, para ser desmobilizado.
Em maio de 1919, ao dar baixa do Exército, Bill descobriu-se como um homem livre.
Imensamente ambicioso em relação a si próprio, cheio de grandes sonhos sobre o futuro e, não tendo
planos para o presente, como muitos outros veteranos da guerra, achou difícil se readaptar à vida
civil. Uma vez que não havia concluído nenhuma faculdade e não estava treinado para nenhuma
profissão, também teve dificuldade para encontrar emprego.
O pai de Lois, o Dr. Clark Burnham, com quem Lois e Bill estavam morando porque não
tinham condições de pagar aluguel, usou sua influencia para empregar Bill como auxiliar no
departamento de seguros na Ferrovia Central de Nova York, cujo encarregado era seu cunhado Cy
Jones. Bill considerou isso um rebaixamento para quem tinha sido um oficial, e foi duro de aceitar
ordens, especialmente vindas de um cunhado. Trabalhou lá alguns meses e acabou sendo despedido.
Seguiu-se um período de “fracassos e colapsos” na sua busca por outro emprego. Achou um num
dos cais centrais de Nova York como ajudante de carpinteiro que o obrigava a acordar muito cedo.
Ao se negar a filiar-se ao sindicato foi ameaçado e saiu do emprego. Entrementes, a bebida ia
aumentando.
Para dar um tempo a si mesmo e afastá-lo da bebida, Lois convenceu Bill a fazer uma
excursão com ela ao Maine passando por vários lugares – na verdade a primeira das inúmeras fugas
geográficas. Em seu diário, Lois afirma que estavam felizes e despreocupados.
Depois que voltaram para o Brooklyn, Lois achou um emprego na Cruz Vermelha, como
terapeuta ocupacional no Hospital Naval do Brooklyn – curso que tinha feito enquanto Bill esteve na
Europa. Ao contrario de Bill, ela nunca teve problemas para manter o emprego.
Bill também encontrou finalmente um emprego como investigador de fraudes e falcatruas
cometidas contra a United States Fidelity and Guaranty Company. Desistiu de tornar-se engenheiro,
e matriculou-se nos cursos noturnos da Escola de Direito do Brooklyn.
Embora a vida em comum dos Wilson já fosse atrapalhada pela bebida de Bill no inicio da
década de 1920, foi também uma época de crescimento. Bill continuou estudando Direito durante
mais três anos e cumpriu as exigências necessárias para a obtenção de um diploma. Deveria aparecer
para recebê-lo no ano seguinte, mas nunca apareceu.
O casal queria muito ter um filho e, durante o verão de 1922, Lois ficou grávida. Essa foi a
primeira das três gravidezes tubárias, ou ectópicas – em que o óvulo se desenvolve fora da cavidade
uterina, p. ex. na trompa de Falópio - que ela sofreria. Depois do segundo insucesso foram obrigados
a encarar o fato de que nunca teriam filhos naturais. Anos mais tarde, quando a situação financeira
melhorou, o casal solicitou a adoção de uma criança. Depois de muita espera receberam a resposta de
que uma criança adequada ainda não tinha sido encontrada. Bill sempre teve a certeza – confirmada
por Lois depois de sua morte, de que não lhes entregaram uma criança devido à sua bebida.
Na U. S. Fidelity & Guaranty Company, Bill estava mostrando ser um investigador capaz.
A grande expansão do mercado de ações da década de 1920 estava apenas começando e as pessoas já
ganhavam fortunas nesse mercado. Bill sentiu-se atraído por esse excitante mundo novo. Vivendo
modestamente, o casal tinha economizado 1000 dólares que foram aplicados em algumas ações
muito baratas que logo apresentaram grande elevação, conforme as previsões de Bill decorrentes de
suas observações. Ele notou que, embora muitas pessoas ganhassem muito dinheiro comprando e
vendendo ações com base em informações escassas, outras perdiam muito pela falta dessas
informações. Com base nesse raciocínio, Bill tornou-se um dos pioneiros em um novo ramo da
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economia: o analista de mercado – uma ideia incomum à época, mas que hoje seria impensável
comprar ações de uma empresa sem contar com a orientação desse profissional.
Essa atividade implicava na elaboração de relatórios baseados na investigação de empresas
e gerentes, viagens prolongadas, diárias de hotel, etc. Ele conseguiu interessar o especulador Frank
Shaw, marido da melhor amiga de Lois, que embora não o patrocina-se mostrou interesse em ver os
relatórios quando prontos.
Para Lois a ideia de viajar foi uma benção “Eu estava tão
preocupada com a bebida de Bill que queria afastá-lo de Nova York e de
seus bares. Tinha certeza que durante um ano ao ar livre eu seria capaz de
corrigi-lo”. O casal tinha uma motocicleta Halley Davidson equipada
com sidecar (direita). Lotaram a moto com todos os equipamentos de
acampamento, além de livros de consulta financeira e partiram.
Estamos em 1925. Bill fez seus relatórios, conheceram lugares,
divertiram-se, e assim o ano que o casal passou na estrada e, excetuando
alguns raros episódios de bebida pesada, resultou naquilo que Lois havia
esperado ajudando a retardar o alcoolismo de Bill. Em um desses
episódios Lois decidiu também ficar bêbada para “levantar um espelho
na frente dele e mostrar-lhe como uma pessoa ficava ridícula quando estava bêbada”. Bill achou
muito divertido, a ainda a encorajou a beber mais. Ela ficou tão ruim que mal conseguiu levantar a
cabeça.
Frank Shaw ficou impressionado com os relatórios e investiu pesado nas empresas
recomendadas. Bill recebeu sinal verde para observar outras empresas e indústrias e autorização para
sacar dinheiro contra preço em ascensão de algumas ações. Viajaram agora para o sul em sua
motocicleta.
Em junho de 1926, voltaram para o Brooklyn. Seus relatórios financeiros estavam
comprovando ser enormemente bem-sucedidos. Era o limiar daquilo que parecia ser um dos períodos
mais excitantes de sua vida. Segundo sua descrição: “Durante os anos seguintes, a fortuna jogou
dinheiro e aplausos no meu caminho. Eu havia conseguido. Minhas avaliações e minhas ideias
foram seguidas por muitos, ao som dos milhões em papeis. A bebida estava assumindo um papel
importante e estimulante em minha vida. Falava-se alto nos bares onde se tocava jazz nos subúrbios
da cidade. Todo mundo gastava milhares e falava em milhões. Arrumei uma plêiade de amigos
ocasionais”.
Bill estivera certo ao acreditar que suas investigações e relatórios dariam bons resultados.
Lois errou ao acreditar que um ano distante dos bares de Nova York faria com que ele parasse de
beber.
Apesar disso, os Wilson começaram a desfrutar de uma afluência nova e excitante. Como
tantos especuladores daqueles tempos fervilhantes, Bill era um investidor marginal. Comprava lotes
de ações pagando apenas uma parcela de seu preço real. Se o valor subisse, seus lucros eram
enormes. Se o valor caísse acentuadamente, seu capital exigível virava fumaça e ainda seria intimado
a compensar o déficit – isso era chamado de “cobrir a margem”.
Em 1927, as viagens de moto haviam sido abandonadas em favor de um meio de transporte
mais condizente com seu novo padrão de vida mais elevado; o casal viajava de avião ou de trem e
tinha dinheiro para os hotéis e as diversões. Embora bebesse pesadamente em algumas viagens, Bill
foi capaz de concluir excelentes relatórios.
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Nesse mesmo ano alugaram um dispendioso apartamento de três quartos no nº 38 da Rua
Levingston, numa área nobre do Brooklyn. Para satisfazer o desejo de grandeza de Bill, alugaram
também o apartamento vizinho, derrubaram as paredes divisórias transformando-os num só
apartamento. Mas já havia sinais evidentes de que a doença estava tomando conta dele. Lois, que o
acompanhava em suas viagens, lembra que se estava iniciando uma época de frustrações; ele
começou a mentir e já era comum haver desentendimentos. No fim desse ano, ele estava tão
deprimido pelo seu próprio comportamento que afirmou “agora estou a meio caminho do inferno, e
indo rápido”. Ele passou uma procuração a Lois referente a todos os direitos, titularidade e interesses
relativos às suas contas.
Por volta de 1928, Bill era um astro entre os associados de Wall Street. “Naqueles dias, é
claro, eu bebia por razões paranoicas. Bebia para sonhar sonhos de poder maiores ainda, sonhos de
dominação. O dinheiro nunca foi um símbolo de segurança para mim. Dinheiro era o símbolo do
prestígio e do poder”.
Entretanto, nesse mesmo ano cenas dolorosas começaram a acontecer no suntuoso
apartamento do casal. Noite após noite, Bill só chegava a casa pela madrugada, tão bêbado que ou
caia assim que atravessava a porta ou Lois tinha que ajudá-lo a se deitar. Promessas foram sendo
quebradas uma após a outra, inclusive aquelas escritas, junto com as juras de amor a Lois, na Bíblia
que o casal possuía.
A bebida de Bill havia começado a preocupar seus parceiros em Wall Street, apesar de seu
enorme sucesso em identificar situações lucrativas. Sempre agradável e afável quando estava sóbrio,
embaraçava seus colegas e tornava-se problemático e agressivo quando bebia. Também não era mais
bem recebido pelos amigos de Lois.
Depois de uma serie de jogadas inteligentes, armadas na bolsa durante a primavera e o
verão de 1929, Bill havia amealhado lucros suficientes para se tornar independente. Rompeu com
seu amigo e benfeitor Frank Shaw e passou a ser um lobo solitário de Wall Street.
Teve pouco tempo para desfrutar a situação. No “crash” da bolsa que ocorreu em outubro
desse ano, a súbita queda dos preços empurrou-os ainda mais para baixo, devido às vendas
desesperadas a fim de evitar perdas adicionais ou obter dinheiro sonante para “cobrir as margens” ou
outros débitos. Bill tinha-se preparado para um abalo, e o que sobreveio foi um furacão. Quando a
primeira onda de vendas derrubou os preços no abismo, o preço de suas ações da Penick & Ford caiu
de 55 para 42 dólares. Com ajuda de seus amigos, Bill comprou pesadamente na tentativa de conter a
queda do preço. As ações pararam de cair, subiram para 52 dólares e depois mergulharam para 32
em um único dia, arruinando os amigos que haviam confiado nele – além de a si próprio. Bill faliu.
Um amigo chamado Dick Johnson, ofereceu-lhe um emprego na empresa de corretagem
que possuía em Montreal. Bill e Lois mudaram-se para lá na época do Natal e alugaram um
apartamento decrépito. Em algumas semanas Bill estava de volta ao mercado negociando novamente
com as ações da Penick & Ford, que na primavera de 1930 retornaram ao preço de 55 dólares por
ação. Bill sentiu-se como Napoleão voltando de Elba. O casal encontrou logo melhores acomodações
num prédio caro e sobranceiro. Passou um período esplendido em Montreal, jogando golfe e
jantando no Club House. Quando chegou o outono Johnson despediu Bill e seu Waterloo foi como
sempre a bebedeira.
De volta ao Brooklyn, o casal, novamente humilhado, foi hospedado pelos pais de Lois.
Embora estivesse em desgraça, os sogros o trataram com bondade e interesse. No dia de Natal de
1930, depois de um tratamento penoso para combater um câncer ósseo, faleceu sua sogra, Matilde
Spelman. O comportamento de Bill nesse episódio revela o quanto a bebida havia fugido ao seu
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controle: ele estava bêbado havia quatro dias, e continuou bêbado durante os quatro dias seguintes ao
falecimento da sogra.
Humilhado pelos seus fracassos e pela dependência do pai da mulher, Bill achou um
emprego de investigador com um salário de 100 dólares por semana, considerado uma fortuna para
muitas famílias naqueles dias de crise. Ele conservou o emprego por quase um ano, mas foi demitido
após um incidente provocado por ele em um bar.
Com essa demissão, a credibilidade de Bill em Wall Street desapareceu completamente. Ele
estava devendo 60 mil dólares (mais de um milhão e duzentos mil dólares em 2015), e foi ‘colocado
na geladeira’.
Bill entrou então numa fase de beber sem esperança. Lois arranjou um emprego na Macy´s,
recebendo 19 dólares por semana, mais uma pequena comissão sobre as vendas, e foi com esse
dinheiro que o casal passou a viver. Ocasionalmente conseguia desenvolver alguma ideia sobre
pequenos negócios em seguros e vendia-as por algumas centenas de dólares, que se esvaiam pagando
as contas dos bares clandestinos garantindo assim uma linha de credito para quando ficasse de novo
sem dinheiro. Tornou-se também um bebedor solitário, parcialmente porque preferia assim, mas
também porque nenhum dos seus companheiros de Wall Street queria mais sua companhia.
Esta foi a vida de Bill em 1931 e no verão de 1932. Apesar de ter alguns sucessos
consideráveis nas poucas incursões que conseguiu perpetrar no mercado financeiro, os fracassos que
se seguiam por causa da bebida eram imensamente maiores.
Bill e Lois continuaram a morar no numero 182 da Rua Clinton, no apartamento que o Dr.
Burnham havia construído para sua mulher, no segundo andar. O médico que se havia casado
novamente em maio de 1933, mudou-se. Lois continuou a trabalhar na Macy´s, onde ganhava, em
1933, 22,50 dólares por semana mais uma comissão de um por cento sobre as vendas.
Este foi o pior período da vida do casal. Bill começou a roubar dinheiro da bolsa da mulher
para beber. Veio a vontade do suicídio. A loucura o rondava e apesar dos fortes sedativos que
recebia, as pessoas temiam pela sua sanidade, e ele também. Em fins de 1933 o casal estava
perdendo as esperanças. Além de Lois e do sogro, Bill só tinha agora mais duas pessoas ainda ao seu
lado: sua irmã Dorothy e o marido dela, o Dr. Leonard V. Strong, que, como sua mãe, era um
médico osteopata.
Foi o Dr. Leonard que providenciou, e pagou, a primeira internação
de Bill no Hospital Charles B. Towns. O hospital foi fundado em 1901 e
recebeu o nome de seu fundador, Charles B. Towns (1862-1947)
especialista em alcoolismo e toxicodependência; estava localizado no Nº
239 da Central Park West, em Manhattan, Nova York. Towns tinha-se
associado ao Dr. Alexander Lambert, professor na Universidade Cornell
Medical College e, como médico do presidente Theodore Roosevelt
informou várias pessoas no governo sobre o método de tratamento do
alcoolismo desenvolvido pelos dois e conhecido pelo nome Towns-Lambert
ou ainda The Beladona Cure ou a cura pela beladona. O método tornou a
instituição nacionalmente conhecida para a reabilitação física e mental de
Towns Hospital
alcoólicos durante os loucos anos de 1920.
O Dr. William D. Silkworth (1873 – 1951), diretor do Hospital Towns e um dos poucos
médicos dessa época a tratar com seriedade o conceito do alcoolismo como doença apesar da Lei
Seca, explicou a Bill sua teoria a respeito da “alergia” e da “obsessão” e que “o alcoolismo não é
vício no sentido de defeito grave ou costume censurável, como se entende a pratica da alcoolatria,
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mas sim uma doença física e mental, progressiva e incurável caracterizada, por uma ‘obsessão
mental’ que leva seus portadores a beber compulsivamente, e uma ‘alergia física’ que pode levá-los
à loucura ou à morte prematura”. Bill ouvia essas explicações quase em transe. Pela primeira vez
ouvia falar do alcoolismo não como uma falta de força de vontade, não como um defeito moral -
vício ou pecado, mas como uma doença legitima. Juntou-se à teoria o grande carinho que o Dr.
Silkworth manifestava pelas pessoas, a sua maneira especial de se interessar por elas. Seu alivio foi
imenso.
Agora Bill estava certo de que tinha encontrado a resposta para seu problema de bebida.
Uma vez que ele entendia o que acontecia, porque sabia a partir de então que era um alcoólico e que
não podia tomar com segurança nenhum gole, Bill achava que havia encontrado a solução. Lois, que
o visitava todas as noites no hospital, também acreditava que ele havia dominado o problema. Saiu
do Towns como um novo homem, ou pelo menos ele pensava assim.
Não se sabe ao certo quanto tempo Bill permaneceu sóbrio: ele achava que havia sido entre
dois e quatro meses, e Lois que tinha sido um mês, mais ou menos. De qualquer maneira, a recaída
aconteceu poucos dias antes ou depois, ou até no mesmo dia, 05-12-1933, da revogação da Lei Seca.
Bill W. ainda passaria por mais três internações no mesmo hospital, a última no dia 11-12-1934, a
partir da qual entraria no caminha da sobriedade.
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Graduou-se em 1902 – “summa cum laude (com louvor), aos olhos dos beberrões”, em suas
próprias palavras.
Agora que Bob possuía um diploma, sugeriu-se que começasse a ganhar a vida e traçasse
um futuro sólido e seguro para si próprio. Ele queria tornar-se médico como seu avô materno. Por
alguma razão sua mãe opunha-se fortemente a esse desejo. Assim, Bob passou os três anos seguintes
em Boston, Chicago e Montreal, em uma profissão de negócios que foi curta, variada e malsucedida.
Bob não estava interessado em negócios. Todo final de semana tomava uma bebedeira.
O fracasso nos negócios levou-o a persuadir sua família para que o deixassem cursar
medicina, que era o que gostava. Assim, em 1905, aos 26 anos, ingressou na Universidade de
Michigan como estudante pré-médico.
Apesar das boas intenções e dos elevados propósitos de Bob, tudo pareceu ruir assim que
ele mais uma vez colocou os pés num campus universitário. “Tornei-me um dos líderes... bebendo
com muito mais veemência do que havia demonstrado anteriormente” Disse mais tarde. Tudo correu
bem por um tempo, depois os tremores começaram a aumentar. Isso aconteceu muitas vezes, indo de
mal a pior. Sua vida na escola se transformou em longas bebedeiras, uma atrás da outra, e já não
bebia por puro prazer. Tentou uma “cura geográfica”. Arrumou as malas e partiu para o Sul, a fim de
recuperar-se numa fazenda de um amigo. Depois de um mês decidiu voltar e continuar os estudos.
Porém, o corpo docente não pensava do mesmo jeito: achavam que a Universidade de Michigan
podia sobreviver, ainda mais próspera, sem a presença de Robert Holbrook Smith. Depois de longas
discussões, com promessas e firmes declarações por um lado, ameaças e advertências por outro,
permitiram sua volta e que prestasse exames.
O fato de ter ido bem nos exames podia ser considerado um sinal de habilidade natural e
inteligência. Podia também ser considerado um sinal de determinação que alguns alcoólicos possuem
para trabalhar mais arduamente, por mais tempo e melhor que todos os demais – durante certo
período. Nos exames seguintes, houve mais discussões e foi expulso, porém, deram-lhe seus créditos
e com eles conseguiu uma transferência em 1907 para cursar o segundo ano na Universidade de
Rush, perto de Chicago, Illinois.
Continuaram as bebedeiras, cada vez mais prolongadas, acordando com tremores ainda
mais intensos. Nos exames finais, teve provas que deixou de fazer porque não conseguia segurar o
lápis. Mais repreensões, mais promessas e mais reclamações e uma proposta: o reitor decidiu que se
Bob desejasse se graduar deveria voltar mais dois trimestres, permanecendo completamente sóbrio.
Ele foi capaz de cumprir essa solicitação e, como resultado,
conseguiu seu diploma de médico em 1910, aos 31 anos. De
fato, seus conhecimentos e sua conduta foram considerados
tão louváveis que ele foi capaz de assegurar uma residência
médica altamente cobiçada no City Hospital em Akron,
Ohio.
Os dois anos de residência foram livres de
problemas e o trabalho tomou o lugar do álcool.
“Mantinham-me tão ocupado que praticamente não deixava
o hospital. Como consequência não me podia envolver em Hospital da Cidade de Akron
nenhum problema”, disse.
Em 1912, ao completar os dois anos de residência medica, abriu um consultório no prédio
do Second National Bank, em Akron, onde permaneceria até a aposentadoria em 1948.
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Talvez como resultado do horário irregular e do trabalho intenso de um novo clinico geral,
Dr. Bob teve um problema estomacal grave. “Logo descobri que alguns drinques aliviavam a dor da
minha gastrite, pelo menos por algumas horas”, disse ele. E assim, não demorou a retornar aos
velhos hábitos da bebida e, quase imediatamente, a pagar muito caro fisicamente com a volta do
verdadeiro horror e o sofrimento do alcoolismo. “eu estava entre a cruz e a espada: se não bebe-se,
meu estomago me torturava, e se bebe-se, meus nervos faziam a mesma coisa”.
Quando as coisas ficavam muito ruins e era incapaz de trabalhar, submetia-se a um
tratamento numa das clínicas locais de desintoxicação. Isso aconteceu, no mínimo, uma dúzia de
vezes.
Após três anos dessa existência de pesadelo, o jovem médico acabou em um dos hospitais
locais, o qual, semelhante a outros lugares para tratamento de doentes nos arredores, atendia
pacientes com doenças socialmente inaceitáveis, tais como o alcoolismo, a dependência das drogas e
as doenças mentais. A equipe do hospital fez o melhor, mas ele acabou persuadindo amigos bem
intencionados a contrabandear uísque para dentro do hospital. Quando o abastecimento falhava,
roubava no próprio prédio, e bebia álcool medicinal.
No inicio de 1914, o juiz Smith, seu pai, enviou um médico de St. Johnsbury com instruções
para levar o Dr. Bob para casa. Lá permaneceu na cama por dois meses antes de ousar sair. Estava
completamente desmoralizado. Passaram-se mais dois meses até retornar a Akron e reassumir suas
funções na clínica. Ele ficou tão apavorado com o acontecido que não tocou em bebida alcoólica até
que foi decretada a Lei Seca.
Ainda estava sóbrio no inicio do ano seguinte e, acreditando que ficaria daquela forma para
sempre e, que talvez Anne Ripley também acreditasse, foi a Chicago para casar-se com ela depois de
tê-la engabelado por longos 17 anos. A cerimônia aconteceu na casa da mãe dela, Sra. Joseph Pierce
Ripley, “às oito horas e trinta minutos” do dia 25 de Janeiro de 1915. Os três primeiros anos da vida
de casados dos Smith foram ideais, livres de qualquer infelicidade. O Dr. Bob continuava sóbrio, e
qualquer dúvida remanescente que Anne podia ter foi afastada. Era na época, como sempre o foi, um
casal muito devotado. A vida profissional do Dr. Bob seguia tranquila; estava adquirindo uma boa
reputação como médico, trabalho do qual gostava muito, e inspirava confiança aos pacientes:
“Exatamente como se espera que um médico seja”, disse Emma K. – próxima dos Smith em seus
anos finais. Fizeram muitas amizades, tornaram-se membros respeitáveis da comunidade, e em 1918,
tornaram-se pais de Smitty seu único filho.
Porém esse mesmo ano teve um impacto diferente na vida do Dr. Bob: em outubro foi
aprovada a Emenda 18ª ou Lei Seca que vigorou desde 16/01/1920, até 05/12/1933. A lei proibia a
fabricação, venda, transporte, importação e exportação de bebidas alcoólicas contendo mais de 0,5º
de álcool em todo território dos EUA.
Sua memória eufórica foi ativada e achou que alguns drinques naqueles momentos que
antecediam à entrada em vigor fariam pouca diferença, e que uma pequena provisão enquanto ainda
era legal logo acabaria, e a normalidade da temperança se estabeleceria no país.
O Dr. Bob começou de forma moderada a jornada da proibição. E num tempo relativamente
curto, ficou fora de controle novamente, não de volta ao velho padrão, mas o progresso de sua
doença foi evidente.
A emenda 18ª favorecia os médicos ao permitir o uso do álcool etílico, em quantidades
quase ilimitadas, para “fins medicinais”. Muitas vezes, durante aqueles anos “secos”, Dr. Bob
escolhia um nome ao acaso na lista telefônica, e preenchia uma receita médica que lhe dava direito a
uma garrafinha de 100 cc de álcool medicinal.
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Logo entrou em cena um novo personagem: o contrabandista de bebida alcoólica. A
qualidade não era seu forte. Mesmo assim, o contrabandista da família era mais prestativo do que a
loja de bebidas. Fazia entregas a qualquer hora do dia ou da noite, domingos e feriados. Não aceitava
cheques nem vendia fiado. O Dr. Bob logo providenciou um.
Logo “desenvolvi duas fobias distintas: o medo de não dormir, e o medo de ficar sem
bebida. Se não ficasse sóbrio o bastante para ganhar dinheiro, ficaria sem bebida”, nas suas
próprias palavras.
Esta lógica irrefutável o conduziu a um pesadelo que durou 17 anos: ficar sóbrio para
ganhar dinheiro para poder beber e ficar bêbado para poder dormir. Depois tudo de novo – e de
novo!
Substituiu a bebida matinal, que era o que ele gostava, por grandes doses de sedativos, a fim
de acalmar as tremedeiras que o afligiam terrivelmente. Quando sucumbia ao desejo de beber de
manhã, acontecia um desastre maior. No primeiro caso, em poucas horas encontrava-se incapacitado
para trabalhar. No segundo caso, perdia a habilidade usual de levar às escondidas para sua casa
bebida alcoólica suficiente que o fizesse dormir. Assim, adquiriu o que hoje é conhecido como
dependência cruzada: álcool e fármacos.
Ainda assim, Dr. Bob conseguia se manter trabalhando como médico. “Eu tive bom senso
suficiente para nunca ir ao hospital se tivesse bebido e raramente recebi pacientes nesse estado”,
disse. De fato, sua carreira até progrediu durante esses anos. Depois de seu inicio como clinico geral,
em 1929 começou a se especializar como proctologista e cirurgião retal. Mas, à medida que os anos
de bebedeira decorriam, o esforço para fazer seu trabalho e manter uma fachada de normalidade se
tornou estafante. Gradualmente a fachada foi desmoronando.
Se Anne planejasse sair à tarde, ele conseguia um grande sortimento de bebidas e o levava
às escondidas para casa, escondendo-as no depósito de carvão, dentro do tanque de lavar roupas, em
cima das vigas do porão, e entre as telhas do celeiro. Utilizava também arcas e baús e até a lata de
lixo.
Costumava colocar bebidas em garrafas pequenas e enfiá-las no cano das meias. Seu
contrabandista escondia o álcool nos degraus atrás da casa.
Quando Anne tinha cerca de quarenta anos, e não poderia ter mais filhos, adotaram Suzanne
Windows (Sue) de cinco anos de idade, a mesma de Smitty, para não criá-lo como filho único.
A bebida de Dr. Bob teve um efeito inevitável na
vida da família e também em sua prática
profissional. À medida que as crianças cresciam, o
alcoolismo do pai tornava-se cada vez mais
perceptível, e os Smith foram sendo excluídos
pelos amigos. Não podiam aceitar mais convites
porque Dr. Bob ficaria bêbado e causaria uma
cena, e Anne não se atrevia a convidar alguém
para vir à sua casa pela mesma razão.
Em 1933 os tempos eram extremamente Dr. Bob e os filhos: Sue e Smitty
difíceis para todo mundo, mas piores para os
Smith: Dr. Bob quase não clinicava. Ele se escondia ou ficava em casa indisposto. Anne e Lilly, a
secretária do Dr. Bob, mentiam para os pacientes dele. Conseguiram uma ampliação do prazo para
pagar a hipoteca da casa. No inicio desse ano Dr. Bob e Anne entraram em contato com o Grupo de
Oxford e ela o persuadiu a frequentar as reuniões, mas posteriormente ele mesmo se sentiu atraído
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pelos membros “por causa do aparente equilíbrio, saúde e felicidade”. Seu entusiasmo esfriou de
certa forma quando descobriu que o programa tinha um aspecto espiritual. “Em nenhum momento
senti que ali houvesse uma resposta para meu problema com a bebida alcoólica”, disse. No entanto,
durante os dois anos e meio seguintes Dr. Bob frequentou regularmente as reuniões do Grupo de
Oxford, dedicou muito tempo ao estudo de sua filosofia, e embarcou em uma busca espiritual
destinada a durar pelo resto da vida.
Contudo, ficava bêbado. Foi nesse estado que assistiu à revogação da Lei Seca em 05-12-
1933, e assim passaria o ano de 1934 até o encontro com Bill W. no dia 12 de maio de 1935.
A Lei Seca
Obs.: para entrar no clima da época, pode assistir o filme Os Intocáveis (no original em
inglês: The Untouchables). é um drama policial norte-americano de 1987, dirigido por Brian De
Palma e escrito por David Mamet. Baseado no livro The Untouchables, livro de 1957, o filme é
estrelado por Kevin Costner como o agente do governo Eliot Ness. Ele também é estrelado por
Robert De Niro como líder de gangue de Al Capone e Sean Connery como diretor irlandês-
americano Jimmy Malone. O filme segue relato autobiográfico de Ness dos esforços dele e de seus
Intocáveis para trazer à justiça Capone durante a Lei Seca. Assistir =>
https://www.youtube.com/watch?v=oyAawwqYCeY
Ou acompanhe a trilha sonora => http://www.wikicine.com.br/trilhasonora/intocaveis.html
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Apesar da confiança manifestada pelas autoridades
de que a transição para a situação “seca” decorreria sem
incidentes, houve problemas logo no primeiro dia.
Embora tivesse o apoio de muitos setores da sociedade,
a Lei Seca foi ignorada por milhões de americanos. Não
importava a classe social: quem queria beber - o que era
permitido, mas, em tese, impossibilitado pela lei - dava
um jeitinho. Caminhões que transportavam bebidas
alcoólicas foram arrestados pelas autoridades e alguns
cidadãos detidos por violação da lei. Mesmo com a
proibição, a vontade de consumir bebidas alcoólicas não
foi banida do território norte-americano, mas apenas
Batida policial
levada à ilegalidade. A partir da entrada em vigor da Lei
Seca, passou a morrer uma pessoa por dia na guerra das
quadrilhas controladoras do tráfico.
A indústria de bebidas clandestinas proliferou por todo o país. Ainda mal tinham passado
duas semanas desde a entrada em vigor da Lei Seca e já se contrabandeavam bebidas alcoólicas em
caminhões que entravam pelas extensas e mal guardadas fronteiras com o Canadá e México. Outra
maneira de contornar a lei era o contrabando a partir de navios ancorados no Atlântico, fora das ág
uas territoriais americanas.
Logo essa demanda começaria a ser atendida de forma organizada. Eram os gângsteres - em
sua maioria, imigrantes vindos de países como Itália e Irlanda. Antes da Lei Seca, esses mafiosos
viviam do jogo e da prostituição. Passaram então a dominar também os milionários negócios com
bebidas, corrompendo policiais, elegendo políticos e matando seus concorrentes.
Em Nova York, o principal mafioso era o siciliano Joseph Bonanno - apontado como a
inspiração de O Poderoso Chefão (livro de Mario Puzo [1920-1999] que se tornou um clássico do
cinema). Já Dean O'Banion inundava o norte de Chicago com cerveja e uísque vindos do Canadá,
enquanto Johnny Torrio contratava policiais para proteger seus interesses no sul da cidade.
Mas nenhum gângster se tornou tão lendário
quanto Alphonse “Al” Capone. Filho de napolitanos,
ele nasceu em 1899, em Nova York. Conheceu Johnny
Torrio aos 14 anos e, com a Lei Seca, passou a auxiliá-
lo no contrabando de bebidas em Chicago.
Quando o rival O'Banion resolveu enfrentá-los,
foi morto em sua floricultura. Em 1925, Torrio se
aposentou, deixando Chicago inteira para “Al”
Capone, que expandiu o império ilegal para cidades
Alphonse "Al" Capone
como Saint Louis e Detroit. Apesar de todos os
assassinatos e outros crimes atribuídos a Capone, foi a sonegação de impostos que o pôs na cadeia.
Em 1931, graças às investigações conduzidas pelo agente fiscal Eliot Ness, líder dos "Intocáveis"
(grupo de agentes que combatia a máfia), Capone passou cinco anos na penitenciária de Alcatraz, na
Califórnia. Morreria em liberdade, no dia 25 de janeiro de 1947 - apenas cinco dias antes de Andrew
Volstead, o “pai” da Lei Seca.
Muitas pessoas destilavam em casa o seu álcool. Muitos uísques, runs e gins da época eram
feitos de maneira tosca. Alguns continham substâncias tóxicas na formula - como alvejante, solvente
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de tinta e formol. A baixa qualidade das bebidas contribuiu para que os casos de morte por cirrose
nos Estados Unidos praticamente não diminuíssem durante a Lei Seca. O “gim de banheira” era
feito com álcool industrial destilado e bagas de zimbro. A fim de dar ao gim um pouco mais de força,
juntava-se ainda álcool metílico ou um tira-manchas. A Lei Seca, aliás, tem tudo a ver com a
disseminação de drinques incrementados. O hábito servia para mascarar o gosto ruim dos destilados
clandestinos - um exemplo é o “bloody Mary”, à base de suco de tomate, que teria sido criado
durante a proibição.
No entanto, o álcool caseiro por muito rudimentar e pouco saboroso que fosse, não era tão
perigoso como as misturas desagradáveis preparadas pelos destiladores ilícitos de whisky, e outros
destilados que preparavam as suas poções em pardieiros infestados de bichos. Centenas de pessoas
cegaram ou ficaram paralíticas e outras morreram devido à ingestão de tais beberagens.
Sob a Lei Seca, os bebedores se encontravam nos speakeasies. Eram bares clandestinos, muitas
vezes subterrâneos, nos quais era preciso falar baixo (speak easy, em inglês) para não chamar
atenção. Em 1929, só em Nova York, 8000 bares que eram obrigados a vender bebidas sem álcool
tornaram-se “speakeasies” (a letra do tema de “O Poderoso Chefão”[que apanhou as sobras de
tudo aquilo], inicia-se “fale baixinho e nem o céu vai-nos ouvir...” =>
https://www.youtube.com/watch?v=qIFQwnsotss).
Os americanos, contudo, seguiam suportando a proibição. Afinal, o país vivia uma época de
prosperidade econômica.
A situação mudou com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929 (1): indústrias
fecharam as portas e famílias perderam todo o dinheiro que tinham. Começava a Grande Depressão
(2) - que deixaria um em cada quatro americanos desempregado.
Em 1933, os americanos estavam cansados da Lei Seca e das ilegalidades que a
acompanhavam e o conjunto destas crises foi decisivo para que a Lei Seca acabasse.
O Partido Democrático e o recém eleito Presidente Franklin Delano Roosevelt propuseram ao
congresso a 21ª Emenda que revogava a 18ª Emenda. No final do ano, esta proposta foi ratificada por
três quartos dos Estados. Finalmente, em 5 de dezembro, a Lei Seca foi revogada. O País viveu um
clima de Réveillon antecipado, com fabricantes e bebedores saindo das sombras. Alguns Estados do
sul mantiveram a Lei Seca até as décadas de 1950 e 1960. O Mississipi foi o último Estado sulista a
revogá-la em 1966.
Além de ser a única emenda da Constituição americana a ser revogada, ainda é considerado o
maior fracasso do legislativo daquele País em todos os tempos.
Entretanto, esses 13 anos 10 meses e onze dias em que vigorou a Lei Seca, foram definitivos na
vida e na carreira alcoólica de William Griffith Wilson (1895-1971) e de Robert Holbrook Smith
(1879-1950), depois conhecidos como Bill W. e Dr. Bob coautores de um dos maiores feitos
ocorridos no Século XX: a fundação da Irmandade de Alcoólicos Anônimos.
O alcoolismo de Bill teve início a partir da primeira bebedeira em 1917 e, quando da revogação
da lei em dezembro de 1933, tinha passado pela primeira internação, um ou dois meses antes, no
Towns Hospital, e muito provavelmente, a celebração dessa revogação tenha sido o motivo para sua
recaída. Seu calvário de internações e recaídas continuaria ainda por quase o ano inteiro de 1934.
Já para o Dr. Bob, este período, tinha sido apenas uma sequência de uma carreira alcoólica que
tinha começado com o seu ingresso na universidade em 1898 e iria continuar até o seu encontro com
Bill W. no dia 12 de maio de 1935 em Akron.
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N.T.(1): Conhecida como A Crise, ou, Crash de 1929, foi a
primeira crise pura do capitalismo (ou crise de
superprodução). As altas taxas de juro dos EUA
(aliadas a uma política deflacionista, medidas
praticadas com o propósito de escoar os excedentes
do seu comércio próspero - desenvolvido no pós-
guerra, e evitar a fuga de capitais) atraem às Bolsas
Americanas investimentos de todo o Mundo,
resultando um surto de especulação financeira que
atinge proporções desmedidas. O custo das ações
ultrapassa muito o seu valor real, levando à criação
de sociedades fictícias. Simultaneamente, a
progressiva automatização permite taxas de
produtividade mais elevadas, e promovem-se campanhas de venda a crédito
extraordinário, para escoamento do produto. A publicidade consegue incitar o
consumo em massa, mas a oferta continua muito superior à procura, o que leva à
saturação do mercado.
Nestas condições, fale a primeira empresa Inglesa, e a retirada imediata de parte dos
capitais britânicos da Bolsa de Nova York marcou, a 29.10.1929, a Terça-feira (mais)
negra da história do capitalismo. Um avultado número de ações (sem compradores) é
posto à venda, com a consequente baixa vertiginosa do seu preço. O sindicato dos
banqueiros e o sistema federal intervêm, mas a deflação dos preços torna-se
irreversível. A esta crise financeira alia-se assim uma econômica : matérias primas,
produtos alimentares e tropicais (café, borracha, algodão) são os primeiros produtos
a senti-la, mas todos os setores, em cadeia, acabam por ser afetados. Esta quebra faz
não só diminuir os rendimentos, como, consequentemente, diminui o poder de compra
e aumenta o desemprego (os estoques se acumulam, e a produção é restringida).
Também o comércio internacional entra em recessão, atingindo sobretudo a venda de
produtos industriais.
A falência de numerosas empresas e a falta de investimentos explicam a duração da
crise. O sector mais afetado foi, sem dúvida, a banca : o "crash" de Nova York
provoca também a retirada de capitais americanos investidos no estrangeiro, e o
clima de desconfiança que se gera leva os particulares a anularem os depósitos
bancários e a praticarem o entesouramento ou a compra do ouro. A esta crise
bancária junta-se uma crise de crédito quando, em maio de 1931, fale o principal
banco austríaco: é retirado o crédito a inúmeras empresas da Europa Central, que
acabam também por falir. Nenhum País escapa às repercussões desta crise, que abala
a crença no liberalismo e leva a uma crescente intervenção do Estado na atividade
econômica.
N.T.(2):A Grande Depressão foi uma severa crise econômica mundial na década que
antecedeu à Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O calendário da Grande
Depressão varia entre as nações, mas na maioria dos países começou por volta de
1929 e durou até o final da década de 1930 ou início dos anos 1940. Foi a mais
longa, mais difundida e mais profunda depressão do século 20. No século 21, a
Grande Depressão é comumente usada como um exemplo de quão fundo a economia
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do mundo pode cair. A depressão originada nos EUA, começou com a queda nos
preços das ações em 4 de setembro de 1929 e transformou-se em notícia no mundo
todo como o crash da bolsa de 29 de outubro de 1929 (também conhecido como
Terça-feira negra). De lá, rapidamente se espalhou para quase todos os países do
mundo.
A Grande Depressão teve efeitos devastadores em praticamente todos os países, ricos
e pobres, na renda pessoal, nas receitas fiscais; os lucros e os preços caíram,
enquanto o comércio internacional despencou quase dois terços. O desemprego nos
EUA subiu para 25%, e em alguns países chegou 33%. As cidades ao redor do mundo
foram duramente atingidas, especialmente aquelas que dependiam da indústria
pesada. A construção foi praticamente interrompida em muitos países. A agricultura e
áreas rurais sofreram como os preços das safras que diminuíram cerca de 60%.
Enfrentando uma demanda em queda livre, com poucas fontes alternativas de
empregos, zonas dependentes da indústria do setor primário, como crédito para o
cultivo, a mineração e a exploração madeireira foram as que mais sofreram.
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Na segunda-feira às nove horas, como combinado, Mitchell dirigiu-se à casa de Archibald e
encontrou-o ainda na cama curtindo a ressaca do domingo. No entanto, levantou-se, vestiu-se, e após
ouvir a leitura da promessa desceu à sua loja de canetas e tinta, e lá se concedeu a honra de ser o
primeiro a assinar o compromisso de temperança composto por Mitchell que rezava: “Nós, abaixo-
assinados, com o propósito de constituir uma sociedade para nosso próprio beneficio e para nos
proteger de costumes perniciosos e prejudiciais à nossa saúde, à nossa reputação e às nossas
famílias, nos comprometemos, como cavalheiros, a não ingerir qualquer bebida espirituosa, nem
licores de malte, nem vinhos ou sidra”.
Escolheram o nome “Washington Temperance Society” ou Sociedade de Temperança
Washington, em homenagem ao primeiro presidente dos EUA George Washington (1732-1799), e
começaram a escrever a constituição da nova sociedade que previa que somente pessoas com
problemas de alcoolismo poderiam fazer parte independentemente de sua condição social, política ou
religiosa. Aliás, assuntos políticos e religiosos eram terminantemente proibidos em suas reuniões que
começaram na mesma taverna, até que, devido ao inesperado crescimento de associados, e à
implicância do dono do local, alugaram uma sala comercial e tornaram habitual uma reunião semanal
que terminava sempre com o compromisso assumido de que cada participante presente trouxesse
mais um bêbado na próxima reunião; nessas reuniões desenvolveram o procedimento, único até
então, de que cada orador conta-se sua própria história calcada no preposto de “como eu era, o quê
aconteceu comigo e como sou agora”, depois usado em A.A. E se mantiveram sóbrios.
Em novembro de 1840 realizaram sua primeira reunião publica: o comparecimento foi
maciço, a imprensa deu ampla cobertura com reportagens muito favoráveis e que incluíam também o
nome completo dos fundadores. Tanto os alcoólicos como os não alcoólicos que se comprometiam
com a total abstinência eram bem-vindos ao grupo.
Cinco meses mais tarde o movimento declarava constar de seus quadros mais de 1.000
alcoólicos recuperados, 5.000 abstinentes indecisos quanto à conclusão se eram ou não alcoólicos, e
outros 1.000 que mantinham abstinência total.
Algum tempo depois organizaram um espetacular desfile em Baltimore, com banda de
música, balizas e estandartes, presenciada por mais de 40.000 pessoas. Alto-falantes espalhavam ao
vento: "Bêbado, venha até nós. Você pode se recuperar. Não desprezamos os bêbados, amamo-los e
guiamo-los, assim como uma mãe guia seus filhos nos primeiros passos".
A abstinência total parecia um milagre. Era evidente que uma revolução moral estava
começando a se implantar, e todos os olhares estavam agora dirigidos ao Temperance Society of
Washington em Baltimore, como o centro de todas as suas operações.
Não foi possível manter os milagres dos Washingtonianos dentro de seus limites geográficos.
A partir daí, o movimento ultrapassou as fronteiras de Baltimore e depois da Virgínia. Criaram uma
organização paralela feminina que recebeu o nome da mulher do presidente G. Washington, Martha
Washington (1731-4802), que alimentava e vestia os mais necessitados enquanto buscava apoio e
adeptas ao movimento entre o sexo feminino.
Seus membros estavam convencidos de que deles dependiam o socorro para os mais aflitivos
casos; os alcoólicos recuperados e em atividade dentro do Movimento comprovaram, com seus
exemplos, que podiam ajudar aos alcoólicos e estavam possuídos de uma extraordinária disposição
de levar sua mensagem.
Depois, essa campanha se ampliou, pela persuasão, no sentido de evitar o mesmo sofrimento
aos ainda não atingidos pelo alcoolismo, objetivando que prosseguissem com a sobriedade através de
uma total abstinência. Os líderes mais influentes do Movimento eram de opinião de que
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necessitavam de bons “vendedores” para espalhar a mensagem de prevenção e, os membros dos
grupos washingtonianos proporcionaram uma vasta relação de pessoas disponíveis. Nascia o 12º
Passo remunerado.
Em menos de quatro anos da relatada reunião no botequim, o número de washingtonianos
chegava ao máximo: estimava-se que o movimento incluía, no mínimo, 100.000 alcoólicos
recuperados e 300.000 bebedores normais em total abstinência – (Alcoólicos Anônimos, ao cabo
desse tempo todo, não tinha mais que cem membros).
Com a arrecadação das inscrições e a contribuição mensal de seus membros o movimento
tornou-se muito influente e poderoso. Membros não alcoólicos de prestigio acharam que as
mensagens aos alcoólicos seriam desnecessárias se as bebidas fossem proibidas por lei, e iniciaram
campanhas nesse sentido. Compraram briga com as igrejas ao afirmar serem os washingtonianos os
verdadeiros praticantes do cristianismo e com os políticos ao se envolverem em questões polêmicas,
tais como a abolição da escravatura - que viria a ocorrer em 1º de janeiro 1863, através de um Ato de
Emancipação assinado pelo 16º presidente dos EUA, Abraham Lincoln (1809-1865).
Mas logo chegaria ao esquecimento total. Pelo ano de 1848, tudo o que restava da espetacular
e poderosa organização com seu método original de tratamento do alcoolismo, era o Asilo dos
Decaídos, em Boston, que após várias modificações, no nome e na orientação, funciona hoje com o
nome de Hospital Washingtoniano, dedicando-se ao tratamento do alcoolismo seguindo modernas
técnicas médicas.
Embora o programa de recuperação dos washingtonianos não fosse tão completo como os
Doze Passos de A. A., nasceu da experiência dos milhares de alcoólicos que através dele
conseguiram a sobriedade, e desenvolveram alguns métodos e procedimentos semelhantes aos que
mais tarde seriam adotados por Alcoólicos Anônimos:
1. Alcoólicos se ajudando mutuamente.
2. Reuniões semanais, ou de frequência periódica.
3. Experiências compartilhadas.
4. Levar a mensagem a outros.
5. A dependência de um poder superior
6. Total abstinência ao álcool.
Porém, falhou em não oferecer um método de conduta, para membros e grupos, e estas falhas
inspiraram boa parte das Doze Tradições de A.A.; a maioria dos problemas dos washingtonianos
situou-se em áreas amplamente protegidas por elas: atração ao invés da promoção, não usar de
persuasão, o respeito ao anonimato, consciência coletiva, servidores não chefes, princípios acima das
personalidades, não entrar em controvérsia pública, centrar-se no problema comum: alcoólico para
alcoólico, não se meter em assuntos alheios ao movimento, não profissionalismo, etc. Não existindo
garantias de salvaguarda para o movimento em seu conjunto, este implodiu. Embora toda esta
trajetória basta-se para escrever a maioria das Doze Tradições de A.A., ela subsidiou apenas os
textos das Tradições Quinta e Décima.
Tendo a breve história anterior como exemplo, é possível efetuar uma limitada comparação
entre o Movimento Washingtoniano e Alcoólicos Anônimos e, meditar sobre as possibilidades de
A.A. ter um destino semelhante.
Esta experiência deu origem a uma sentença usada em A.A.: “Se um dia a Irmandade de A.A.
for destruída a causa não virá de fora, mas de dentro dela própria”.
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Movimento Emmanuel (1906)
O Movimento Emmanuel começou em Boston em 1906, na
Igreja Episcopal Emmanuel, onde seu fundador Rev. Elwood
Worcester (1862 – 1940), e seu assistente Rev. Samuel Mc Comb
(1864 – 1938), abriram uma clínica que atendia gratuitamente
pessoas portadoras de tuberculose vindas das favelas de Boston, e lá
chegavam à busca de ajuda e conforto espiritual.
Mais tarde, com a ajuda do médico psiquiatra, Dr. Isadore Henry
Coriat (1875 – 1943), estenderam esta
ajuda a pessoas portadoras de transtornos
mentais. Neste campo descobriram uma
procura muito grande por parte de
Rev. Elwood Worcester alcoólicos, o que os levou a desenvolver
técnicas especiais para trabalhar com essas
pessoas. Verificou-se, então, que combinando espiritualidade com
psicologia simples praticada em grupo através de reuniões semanais,
mantinha essas pessoas afastadas da bebida.
Essa terapia de grupo teve ampla repercussão e
Dr. Coriat
boa acolhida, e Worcester e Mc Comb tornaram-
se conhecidos por seu sucesso no tratamento de pacientes alcoólicos.
Em 1911, o corretor de seguros Courtenay Baylor (1870-1945), pediu
ajuda a Worcester para tratar seu alcoolismo e após um período de
sobriedade, em 1913, começou a trabalhar para a igreja Emmanuel como
especialista em alcoolismo. Tornou-se terapeuta leigo remunerado -
obteve grande sucesso e sua fama como terapeuta espalhou-se
rapidamente. Em 1919, publicou o livro “Refazendo um Homem”, onde
descreve a técnica de seu tratamento. Dentre os alcoólicos ajudados por
Baylor, dois se sobressaíram, primeiro pela natureza do seu grau de
Courtenay Baylor
alcoolismo considerado irrecuperável, e
segundo pela influência que suas histórias e seus feitos teriam na futura
constituição de A.A.
O primeiro deles foi Richard Rogers Peabody
(1892 –1936), membro e herdeiro de uma
abastada família de Boston, teve problemas com
sua maneira de beber desde a juventude. Alistou-
se no exército e combateu na Revolução
Mexicana. Em 1917 se realistou no campo de
treinamento de oficiais de Platsburg, Nova York,
onde se cruzou pela primeira vez com Bill W. Refazendo Um Homem
que também lá estava. Os dois faziam parte da
Força Expedicionária Americana e saíram de lá para participar da I Guerra
Mundial na Europa com o grau de segundo-tenente. Lá, Peabody chegou
ao posto de capitão. Os dois tiveram seu alcoolismo agravado na Europa e
Richard R. Peabody suas consequências na demoraram a aparecer. No regresso e por causa de
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seu alcoolismo, Peabody foi deserdado pela família e se divorciou de sua mulher Mary Phelps
"Polly" Jacob (1891-1970), com quem tinha dois filhos e teria lhe contado sua prática de adultério
enquanto ele estava na guerra. “Polly” ficou conhecida no mundo todo quando, revoltada contra o
uso do espartilho inventou o sutiã moderno, patenteado por ela em 1910 com a idade de 19 anos.
Em 1921, Peabody foi procurar ajuda na Igreja Episcopal Emmanuel, onde orientado por Baylor
conseguiu a sobriedade.
Aproveitando os conhecimentos adquiridos com Worcester e Baylor, R.
Peabody tornou-se terapeuta leigo. Em abril de 1931, publicou o livro O
Senso Comum de Beber, dedicado a Baylor, onde descreve o Método
Peabody para o tratamento do alcoolismo, e, apesar de ele não ter
qualquer formação em medicina ou psicologia, foi considerado muito
eficaz nos meios especializados. O método compõe-se de nove etapas (a
ideia de escrever o programa de A.A. em passos numerados parece ter
surgido destas etapas) concebidas para reeducar e ensinar os alcoólicos a
aceitar o fato de que nunca poderão voltar a beber – esta é a origem da
sentença usada em A.A.: “uma vez alcoólico sempre alcoólico”,
encontrada no terceiro capítulo do Livro Azul, que ao igual que “Um
homem de trinta anos...” e sua história, foi retirada do livro de Peabody
O Senso Comum de
que mostra formas e meios para se adaptar a uma nova vida sem beber. Beber
Foi o primeiro a afirmar que não existia cura para o alcoolismo. Este
método é uma versão secularizada e profissionalizada do movimento Emmanuel, ou seja, sem o
componente espiritual e também ignora as reuniões em grupo. Limitava-se aos alcoólicos que
podiam pagar pela terapia individualizada. Peabody também é o terapeuta leigo bem sucedido a
quem Bill W. se referiu ao tentar justificar a oferta de trabalho com alcoólicos feita pelo dono do
Hospital Towns, a qual foi rejeitada por Bill após consultar alguns outros membros, fato este que
teria originado o enunciado da Segunda Tradição
Além de Bill W. e Lois, este livro foi muito lido pelos primeiros AAs. Um exemplar presenteado a
Bill por Rosa Burwell encontra-se nos arquivos do GSO em Nova York.
Apesar do grande sucesso alcançado pelo modelo de tratamento desenvolvido por ele, parece ser que
Peabody recaiu no alcoolismo e morreu em 26 de abril de 1936 em Nova York aos 44 anos de idade.
O segundo alcoólico ajudado por Baylor, entre 1933 e 1934, foi Rowland Hazard (1881 – 1945), ao
conseguir que alcança-se a sobriedade, feito que o Dr. Jung, o renomado psiquiatra de Zurique, não
tinha conseguido. Em 1934, Rowland ingressou no Grupo de Oxford de Nova York, onde transmitiu
os conhecimentos do movimento Emmanuel para Ebby e para Bill W. (ver: Grupo de Oxford)
A partir de 1942, o Movimento Emmanuel foi perdendo espaço para Alcoólicos Anônimos, pois
embora os programas fossem muito parecidos no conceito espiritual, o primeiro deu ênfase à
formação de terapeutas, sobretudo a partir da aposentadoria de Worcester em 1929, enquanto A.A.,
não profissional e gratuito, atendia às expectativas de um maior número de alcoólicos. Um antigo
membro resumiu: “Suas ideias eram maravilhosas, mas não tinham a magia de A.A.”.
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Paralelamente a esses episódios, a Justiça inglesa declarou a inexistência legal do Grupo de
Oxford quando seus representantes pretendiam receber a quantia de 500 Libras esterlinas deixadas
como herança no testamento de um membro do grupo que tinha falecido. Mesmo que em 1938
tivesse mudado o nome do movimento, Buchman entrou com um recurso na Justiça inglesa para que
o nome “Grupo de Oxford” fosse reconhecido. Em junho de 1939 a Câmara de Comercio acabou
decidindo a favor do Grupo.
Em 1939, Frank Buchman, político astuto, antevendo o início da II Guerra Mundial mudou a
sede do movimento da Inglaterra para a Suíça – país neutro durante o conflito.
No começo teve o apóio, com reservas, de Sam Shoemaker, reitor da Igreja
Episcopal do Calvário em Nova York, e principal líder do Grupo de Oxford
nos EUA. Porém, pretensões políticas levaram-no a distanciar-se dos
princípios pregados pelas igrejas cristãs, e Sam acabou rompendo com o
novo movimento em fins de 1941. Também perdeu o apoio das principais
igrejas cristãs, ao ponto de a Igreja Católica, em 1950, proibir seus adeptos
de se filiarem àquele movimento.
Entretanto, e apesar desses percalços, Frank Buchman, teve bom
trânsito e muita influencia como articulador inteligente entre os principais
políticos de seu tempo (à direita com o líder indiano Jawaharlal Nehru
Frank B. e Nehru
[1889-1964]); Konrad Adenauer (1876-1967), Chanceler da Alemanha,
costumava assistir reuniões conduzidas por Buchman em Caux, na Suíça. Ele foi condecorado pelos
governos francês e alemão por sua contribuição para a reconciliação franco-alemã depois da Segunda
Guerra Mundial, e também pelos governos da Grécia, Japão, Filipinas, Índia e Marrocos, e por duas
vezes, em 1952 e 1953, teve seu nome indicado para o Prêmio Nóbel da Paz.
Após a morte, em 1961, Frank Buchman foi sucedido na condução do movimento pelo jornalista
inglês Peter Dunsmore Howard (1908-1965), que viria a falecer em 1965, e o MRA entrou em um
período de declínio. Foi reorganizado e, no início do novo milênio estava claro que as palavras
“rearmamento moral” não carregavam mais a mesma ressonância que em 1939.
Em 2001, adotou o nome Iniciativas de Mudança (IdeM), e em 2002, Iniciativas de
Mudança Internacional (IdeM Internacional), que se descreve como uma
organização não-governamental (ONG) que trabalha pela paz, reconciliação e
a segurança humana a nível mundial. Tem status consultivo especial no
Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ONU) e
um status participativo no Conselho da Europa em Strasburg. Ressalta a
importância da responsabilidade pessoal, liderança ética e a construção da
confiança em meio às divisões do mundo.
Com sede em Caux, Genebra, Suíça, seu primeiro presidente foi
Rajmohan Gandhi (n. 1935), biógrafo e neto do líder da independência da Dra. Omnia Marzouck
Índia, Mahatma Gandhi (1869-1948). Em 2011 foi sucedido pela médica
pediatra egípcia Dra. Omnia Marzouck.
Após a morte de Buchman em 1961, Bill Wilson, disse ter-se arrependido por não havê-lo
convidado para a 2ª Convenção Internacional de A.A. em 1955, em St. Louis, quando foram feitas
homenageadas as pessoas não alcoólicas, profissionais e leigos, que contribuíram para o crescimento
da Irmandade naqueles 20 anos, e os ensinamentos defendidos por Buchman no Grupo de Oxford,
foram fundamentais para a estruturação da Irmandade. Bill W. disse: “Agora que Frank Buchman se
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foi, eu percebo mais do que nunca o quanto devemos a ele; gostaria de tê-lo procurado nos últimos
anos para lhe externar o nosso apreço”. Levar Adiante, página 422/5/3, Junaab, código 118.
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encontro com Sam Shoemaker, ficaram a sós num vagão privativo de um trem e lá entregou sua vida
a Deus. Sua vida mudou, e suas relações com a família e no casamento foram restabelecidas.
Harvey Firestone Sr. era membro da Igreja Episcopal São Paulo, de Akron, dirigida pelo Reverendo
Walter F. Tunks, que também era o capelão da Firestone. Impressionado com a “milagrosa”
recuperação de seu filho através de Sam Shoemaker, ele atribuiu o fato ao Grupo de Oxford e
convidou seu fundador, Frank Buchman, para uma serie de comemorações no Hotel Mayflower de
Akron e para instalar seu grupo na cidade. Buchman compareceu com uma comitiva de 60 pessoas e
lá permaneceram durante dez dias fazendo reuniões e apresentando as propostas do grupo. Destas
reuniões participaram a grande maioria dos líderes conservadores de Akron entre eles Henrietta
Buckler Seiberling (1888 – 1979), recém separada de John Seiberling, filho de Frank A. Seiberling,
fundador da Goodyear, e o casal T. Henry e Clarace Willians. A comitiva de Buchman deixou
Akron no dia 23 de janeiro de 1933, mas ficaram seis membros para dar suporte ao novo grupo. As
reuniões continuaram a ser celebradas no Hotel Mayflower até abril de 1935, quando passaram a ser
realizadas na residência do casal Willians.
Literatura em A.A.
Literatura de A.A. aprovada pela Conferência
Do Box 4-5-9, Abr. Mai. / 1978 (pág. 5)
http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_april-may78.pdf
Título original: “¿Que significa ‘Aprobado por la Conferencia’?”
Quando você vê o emblema (1) ao lado e as palavras “Literatura
aprovada pela Conferência de Serviços Gerais de A.A.”, isto apenas quer dizer
que estas publicações representam o mais amplo consenso do pensamento de
A.A. Não é apenas a interpretação de uma pequena localidade nem as ideias de
um determinado tipo de membro de Alcoólicos Anônimos
O carimbo está dizendo, na verdade: “Esta peça reflete o espectro de
opiniões de toda nossa Irmandade”.
O material de A.A. é preparado após rigoroso exame dos membros do pessoal do Escritório de
Serviços Gerais – ESG, dos Comitês da Junta de Custódios e da Conferência e da nossa Conferência
de Serviços Gerais (EUA/Canadá) tratando de expressar a consciência dos Grupos de A.A. em sua
totalidade.
A razão por detrás deste procedimento é simples. É uma maneira de conservar a
independência tradicional de A.A. Não estamos afiliados a ninguém, e não nos opomos, nem
apoiamos outras ideias quaisquer que sejam. Apenas expressamos (ou seja, publicamos) as nossas.
Isto não quer dizer que desaprovamos outras publicações. Muitos Escritórios de Serviços Locais de
A.A. publicam suas próprias listas de reuniões e às vezes literatura de informação a respeito da
Irmandade. A.A. na sua totalidade não se opõe a isso, assim como não desaprova a Bíblia ou livros
que tratam da saúde, ou quaisquer outras publicações de fontes diferentes que os AAs achem
proveitosas.
A revista Grapevine (no Brasil a Vivência) é um assunto diferente. Cada artigo publicado
representa claramente a opinião de uma pessoa, e na primeira página de cada exemplar consta este
esclarecimento: “As opiniões aqui expressadas não devem ser atribuídas a Alcoólicos Anônimos em
sua totalidade, nem sua publicação implica na aprovação de A.A. ou da Grapevine”.
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O que leiam os membros de A.A. não é assunto do ESG nem da Conferência, naturalmente.
Mas quando o emblema acima aparece, pode-se ter a segurança de que o conteúdo passou por
revisões e seleções conscienciosas e aprimoradas feitas pelos Comitês apropriados e a Conferência.
N.T. (1): Este artigo foi publicado na edição de Abril/Maio do Box 4-5-9 e 1978. Em 1993, o
emblema acima foi excluído por recomendação da A.A.W.S. à Conferência. Veja os
motivos na reprodução de outro artigo do mesmo boletim no item deste glossário:
Legado - A exclusão do Circulo e do Triângulo como símbolo oficial de A.A., ou em:
http://www.aa.org/lang/sp/sp_pdfs/sp_box459_aug-sept93.pdf
N.T. (2): A respeito do tema da aprovação de materiais de A.A. pela Conferência veja também:
Box 4-5-9, Abr. Mai. / 2005 (pág. 1 a 3) =>http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_april_may05.pdf
Box 4-5-9, Abr./Mai. 2008 (pág. 5-6) => http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_april-may08.pdf
Entre o final de 1939 e inicio de 1940 o Grupo de Akron elaborou “O Manual de Akron: Um
Manual para os Alcoólicos Anônimos”, com a participação do Dr. Bob, onde relaciona uma serie de
leituras recomendadas para que os recém-chegados em A.A. possam entender melhor os aspectos
espirituais do programa. “A seguinte literatura”, diz o panfleto, “ajudou muitos membros de
Alcoólicos Anônimos”:
“Alcoólicos Anônimos” (o Livro Azul). Ver: Alcoólicos Anônimos – O livro
Junaab, código 102
“A Bíblia” (entre as passagens favoritas cita “O Sermão da Montanha” em Mateus 5-7,
“A Carta de Thiago”, “1 Coríntios 13” e os salmos 23 e 91).
“No Cenáculo”. È o guia devocional diário mais conhecido no mundo. É um fascículo
com edição bimestral preparado por The Upper Room, Nashville, EUA, e editado em
português pela Editora Cedro, sob licença da Imprensa Metodista. Serviu como modelo
para Richmond Walker escrever o Livro “Vinte e Quatro Horas por Dia”, de 1948 (ver
abaixo), que após sua publicação viria ter a preferência dos membros por tratar de
sintetizar o 11º Passo de A.A. Deste modelo também derivou o livro de A.A. “Reflexões
Diárias” de 1991 – Junaab, código 111, e o livro “Coragem para mudar: um dia de cada
vez no Al-Anon”, de Al-Anon.
http://www.editoracedro.com.br/
“A Maior Coisa do Mundo”: (The Greatest Thing In The World), é um
sermão elaborado por um jovem missionário inglês do fim do século XIX, Henry
Drummond (1851 – 1894) cujo tema é o Amor. Foi baseado no texto do Capítulo 13
da I Epístola do Apóstolo Paulo aos Coríntios. Sua leitura (o sermão completo), uma
vez por dia durante trinta dias, era a receita que o Dr. Bob indicava para os
alcoólicos que quiserem mudar de vida (O Dr. Bob e os Bons Veteranos, página 320 –
Junaab, código 116). O sermão foi traduzido no Brasil, por Paulo Coelho (1947-), e
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publicado em 1991 pela Editora Rocco com o título “O Dom Supremo”.
Este texto também foi adaptado junto com o Soneto 11 de “Os Lusíadas” do escritor português Luís
Vaz de Camões (1524-1580) e musicado por Renato Russo (1960-1996), da banda Legião Urbana,
para produzir a bela canção “Monte Castelo” inserida no álbum “As Quatro Estações”, lançado em
1989.
Veja entre outros em:
http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3682318/o-dom-supremo
Poderá ler em español em :
http://www.desdeakron.blogspot.com.br/p/la-cosa-mas-grande-del-mundo-de-henry.html
Veja a epístola 1 Coríntios 13 em:
http://www.bibliaonline.com.br/nvi/1co/13
Aprecie o Soneto 11 de “Os Lusíadas”, em:
http://apoesiadosoutros.blogspot.com.br/2009/07/soneto-11-camoes.html
Ouça a canção “Monte Castelo” , em:
http://www.youtube.com/watch?v=BMP3UdEtnf4
“O sermão da Montanha”, de Emmet Fox.
http://www.barefootsworld.net/aaemmetfox.html
http://compare.buscape.com.br/o-sermao-da-montanha-e-o-pai-nosso-emmet-fox-8577011585.html#precos
Poderá ler em español acessando:
http://www.desdeakron.blogspot.com.br/p/el-sermon-de-la-montana-de-emmet-fox.html
“Como o homem pensa” de James Allen.
http://www.sendoedificado.com/2011/04/como-um-homem-pensa.html
Poderá ler em español acessando:
http://luisgaviria.org/download/cuhp.pdf
“As Variedades da Experiência Religiosa” de William James.
Ver: Variedades da Experiência Religiosa (As)
Procurar o livro entre outras livrarias em:
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?isbn=8531603919
Também pode ler e copiar acessando:
http://existeumasolucao.com.br/sala-de-leitura/arquivos/experiencia-religiosa.pdf
“O Senso Comum de Beber”, de Richard R. Peabody.
http://www.barefootsworld.net/aa-commonsenseofdrinking.html
Além de, “O amigo imutável”, uma série publicada por Bruce Publishing Co., Milwaukee;
“Psicologia da Personalidade Cristã”, de Ernest M. Ligon; “O que é o cristianismo”, de Adolf
Harnack; “Vida Abundante”, E. Stanley Jones e “O homem que ninguém conhece”, de Bruce
Barton.
http://hindsfoot.org/archives.html
A partir da publicação do Big Book em 1939, cujos direitos autorais pertenciam a Bill W. e
seu domínio à Works Publishing, Inc. – uma editora criada pelo próprio Bill W. e seu sócio Hank P.
em fins de 1938, muitos membros com tendências literárias foram incentivados por seus próprios
grupos a discorrer e escrever sobre seu entendimento a respeito do programa e da Irmandade. Sem
normas ou procedimentos de registro, desenvolveu-se assim a tradição de que um livro ou panfleto
que tratasse de alcoolismo, sua recuperação e do programa de A.A. aprovado pela consciência de um
Grupo de A.A., qualquer Grupo, passava a ter validade como literatura de A.A. e outros Grupos e
Intergrupais poderiam, a seu critério, adotá-lo para leitura, distribuição e venda em todo o território
dos EUA e Canadá. O aval dos Grupos garantia a credibilidade dos autores. Entre a grande
quantidade de colaboradores, os pioneiros e veteranos de A.A. destacam quatro escritores cujas obras
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tiveram, e ainda tem grande repercussão ajudando uma infinidade de alcoólicos em sua recuperação
(o quinto, Barry Leach, faz parte dos tempos modernos de A.A. e está relacionado nesta lista pela
grande popularidade que seu livro, “Vivendo Sóbrio”, alcançou). Foram eles:
1) Bill Wilson (1895 – 1971) foi o principal autor de Alcoólicos Anônimos
(1939) (Big Book ou, Livro Azul no Brasil) e em 1953 escreveu Os
Doze Passos e as Doze Tradições, uma interpretação sua dos
enunciados dos Doze Passos do capítulo V do Big Book e das Doze
Tradições publicadas em 1946 na sua forma longa. Estes são os dois
livros que concentram o pensamento A.A.
Bill W. foi o mais prolífico dos escritores de A.A. Ele recebia
pagamento pelos direitos autorais dos livros “Big Book” (1939) –
Junaab, código 102; “Os Doze Passos e as Doze Tradições” (1953) –
Junaab, código 105; “Alcoólicos Anônimos Atinge a Maioridade” 1ª Edição do
(1957) – Junaab, código 101; “Doze Conceitos para o Serviço "Big Book"
Mundial” (1962) – Junaab, código 107 e “O Estilo de Vida de A.A.”
(1967) , que a partir de 1975 se chamaria “Na Opinião de Bill” -
Junaab, código 112. Além destes livros foi um colaborador muito ativo
contribuindo com inúmeros artigos publicados pela revista internacional
de Alcoólicos Anônimos Grapevine.
Em 1963 foi assinado um convênio entre Bill e os Serviços Mundiais de
A.A. (A.A.W.S) - que a partir de 1959 passou a deter a propriedade
sobre as publicações de A.A. (este direito era simbolizado por um
1ª Edição do "Doze e
círculo e um triángulo inscrito delineados até 1993, quando o uso do Doze"
símbolo foi questionado na justiça americana, sendo então substituído
pela pela expresão “This is A.A. General Service Conference – approved literature” ou
“Literatura aprovada pela Conferência de Serviços Gerais de A.A.” que vigora até hoje).
Este convênio permitia a Bill legar seus direitos autorais a Lois, sua mulher, que, por sua vez,
obteve permissão para legá-los a beneficiários aprovados como parte de sua herança, desde
que 80% fossem para beneficiários que já tivessem completado 40 anos no momento do
convênio (o casal não teve filhos). Com a morte desses beneficiários, os direitos autorais
reverteriam para Alcoólicos Anônimos. A seu pedido, Bill não recebia direitos autorais sobre
as edições estrangeiras e elas não foram incluídas em sua herança.
http://hindsfoot.org/index.html
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compilou tudo em forma de meditações num pequeno livro de capa preta (no Brasil é azul-
escuro), que levou o título de “Vinte e Quatro Horas por Dia” (ao lado) e nele nos diz como
realmente fazer isso. Seu formato baseou-se no guia devocional diário da Igreja Metodista
“No Cenáculo” (até hoje uma publicação bi-mestral da Editora Cedro, no Brasil). Numa
página para cada dia do ano, contém uma passagem da literatura de A.A., uma meditação e
uma oração. A primeira impressão foi feita na tipografia do tribunal do condado de Daytona e
começou a distribuir o livro em todo o país sob o patrocínio do Grupo Daytona de A.A. Após
sua primeira publicação imediatamente se tornou o segundo livro mais importante para os
AAs, precedido apenas pelo “Big Book”.
Em 1954 foi o primeiro livro publicado pela Fundação Hazelden, uma instituição para o
tratamento do alcoolismo fundada em 1947 numa fazenda de Center City, Minnesota, que
tinha adquirido seus direitos - assim como no futuro os de muitos outros livros originados em
A.A., uma vez que o tipo de terapia aplicada na clínica e conhecida no mundo todo como
“Modelo Minnesota”, baseia-se nos Doze Passos de A.A.
Este livro foi traduzido e publicado no Brasil pela primeira vez em 1986 pela editora Vila
Serena, uma franquia da Fundação Hazelden, onde pode ser adquirido. “Rich”, como era
conhecido, escreveu vários artigos e ainda mais dois livros tratando sobre temas referentes à
Irmandade: “Apenas Para Bêbados”, de 1945, e “Os Sete Pontos de Alcoólicos Anônimos”.
Para preservar o anonimato os créditos deste livro são atribuídos à Editora Hazelden, assim
como anteriormente o tinham sido para Grupo Daytona de A.A. Seu nome não aparece no
livro.
http://hindsfoot.org/index.html
http://www.barefootsworld.net/aa24hoursbook.html
Veja o livro “Vinte e quatro horas por dia” em: http://www.editoravilaserena.com.br/
4) Edward (Ed) A. Webster (1892 – 1971) escreveu The Little Red Book
ou, O Pequeno Livro Vermelho que contém um capítulo para cada
um dos Doze Passos. Originalmente o livro foi baseado no Tablemate
(2) e tinha o mesmo título deste, “Alcoólicos Anônimos: Uma
Interpretação dos Doze Passos”, porém, ao ser impresso em 1946
recebeu o nome Red Book - Livro Vermelho, pela cor da capa e Little
- Pequeno em contraposição ao Big (Grande) Book, cuja capa na
primeira edição também era vermelha. O Pequeno Livro Vermelho
teve várias edições. Em cada etapa do processo de revisão, o Dr. Bob
colocava notas manuscritas e dava sugestões que Ed Webster acabava
incorporando ao livro.
O Dr. Bob - ao contrário de Bill W., não foi um escritor, e este livro é o que mais nos
aproxima do seu pensamento a respeito dos Passos. O Dr. Bob o definiu como a melhor
descrição de como trabalhar os Passos que já tinha sido escrito. Ele próprio recomendou sua
leitura em todos os EUA e Canadá. Até sua morte, em novembro de 1950, o Dr. Bob insistiu
para que o escritório de A.A. de Nova York fizesse cópias e as disponibilizasse para venda no
próprio escritório. Curiosamente, no mesmo novembro de 1950, Bill W. respondeu a uma
carta de Barry Collins sócio de Webster a respeito do livro e de sua distribuição pelo GSO
“...definitivamente O Little Red Book veio preencher uma necessidade de A.A. e sua
utilidade é inquestionável. A.A. tem um lugar bem definido para este livro. Algum dia eu
posso tentar escrever um livro de introdução (aos Passos), e espero que seja um complemento
à altura do Little Red Book.
... Aqui na Fundação não somos policiais, somos um serviço e os AAs são livres para ler
qualquer livro que escolherem”.
Ed Webster ficou sóbrio em Minneapolis, Minnesota, em 13 de dezembro de 1941 ao
ingressar no Grupo Nicollet daquela cidade Ele e seu amigo e companheiro de A.A. Barry
Collins criaram uma pequena editora, a Coll-Webb Co., onde foram impressas e distribuídas
cópias deste e outros livros escritos por Ed, sob o patrocínio do Grupo Nicollet em
Minneapolis, até a morte de Ed, em 1971. Após sua morte os direitos de edição foram
adquiridos pela Fundação Hazelden. Para preservar o anonimato os créditos deste livro são
atribuídos à Editora Hazelden, assim como anteriormente o tinham sido para Grupo Nicollet
de A.A. Seu nome não aparece no livro.
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Em 1953 Bill W. escreveu sua própria interpretação dos Doze Passos à qual agregou as Doze
Tradições num mesmo livro que passou a ser conhecido nos EUA como “Doze e Doze”. Com
urgência para pagar os custos de impressão e dificuldade para vender o livro porque seu texto
era muito complicado para as mentes ainda confusas pelo efeito de muitos anos de bebida, e
baseado num acordo com a editora de Bill, a Works Publishing, Inc. o escritório de Nova
York retirou o livro de Ed Webster de suas prateleiras abrindo assim o caminho para esse
livro, “Os Doze Passos e As Doze Tradições”, que junto com o Big Book representa o
pensamento da Irmandade.
http://hindsfoot.org/index.html
http://www.amazon.com/The-Little-Red-Book-Anonymous/dp/0894860046
Poderá ler em español em:
http://desdeakron.blogspot.com.br/
https://docs.google.com/file/d/0BwjD0Dg3Lf6RajVFOUVYdEk2WEk/edit?pli=1
Ressalva: O pessoal dos Arquivos Históricos do ESG – Nova York revisou rigorosamente as
informações a seguir para que resultem as mais corretas possíveis, mas poderão
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existir erros ou omissões nesta lista cronológica. Se você acredita ter encontrado
algum erro ou omissão, pedimos-lhe para nos contatar e notificar. Obrigado
1935
1) A fundação de A.A.
O Dr. Bob tem uma recaída, mas se recupera logo. Em 10 de junho de 1935, geralmente
conhecido como o dia que o Dr. Bob tomou sua última bebida, é comemorado como a data da
fundação de Alcoólicos Anônimos. Dr. Bob e Bill passam horas para formular o melhor
método para alcançar os alcoólicos, grupo famoso para resistir às instruções. Percebendo que
essa sobriedade parece mais atingível pensando em um dia de cada vez, ao invés de pensar
em lutar por toda avida, ocorreu-lhes o conceito de 24 horas.
1940
2) Canadá
A mensagem da Irmandade se espalha para o Norte quando o Rev. George Little, Ministro da
Igreja Unida de Toronto, ativista de um movimento antialcoólico, descobre o Livro Grande.
Encomenda alguns exemplares e dá dois deles a um pequeno grupo de alcoólicos que se
reúnem para apoiar uns aos outros. Esse grupo, liderado por Tom E., que se reúne em uma
sala encima da taverna Pequena Dinamarca veio a ser o primeiro grupo de EAA no Canadá.
1945
3) Austrália
Em uma carta dirigida a Archie McKinnon, enfermeira psiquiátrica interessada em ajudar
alcoólicos de Sydney, Bobbie B. da Fundação do Alcoólico, dá-lhe o nome de dois homens
que compartilham seu objetivo: Dr. Sylvester Minogue e o padre Tom Dunlea, fundador da
Boystown (algo como Cidade dos Meninos) na Austrália. Os três não alcoólicos se unem para
formar o primeiro grupo de A.A. no país, sendo Rex A. o primeiro membro a atingir e manter
a sobriedade.
4) Bermudas
Depois de pedir conselho à Fundação do Alcoólico, Steve V., um membro de A.A. de
Trenton, Nova Jersey, forma um Grupo de A.A. em St. Georges, Bermuda. No prazo de um
mês, aumenta de dois para seis membros e depois cresce rapidamente. No ano seguinte, o
periódico Hamilton Mid-Ocean News publicou uma série de doze artigos sobre Alcoólicos
Anônimos.
1946
5) Irlanda
A decisão de um membro de A.A. de Philadelphia e antigo proprietário de uma taverna,
Connor, F., de viajar para a Irlanda leva à formação do primeiro Grupo irlandês. Connor e sua
esposa visitam um sanatório em Dublin, onde um médico lhes apresenta o paciente, Richard
P., de Belfast. Depois de ler o Livro Grande, dado a ele por Connor, Richard escreve a vários
contatos que estavam informados sobre A.A. pelo padre Tom Dunlea. (Dunlea, um dos
fundadores do primeiro Grupo da Austrália, também se espalhou a mensagem de A.A. em
uma viagem para a Irlanda). Em breve, o primeiro Grupo de A.A. da Irlanda reúne-se em uma
sala do Country Shop de St. Stephen's Green de Dublin.
6) México
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Lester F. e Pauline D., americanos, organizam um Grupo de A.A. para a comunidade de
língua inglesa do México, D.F. Enquanto isso, Ricardo P., mexicano residente em Cleveland,
traduz para o espanhol partes do Livro Grande. Em uma conferência da Junta de Informação
Pública de México, foi aprovada a importação de publicações em espanhol sobre o alcoolismo
e a criação de Grupos de A.A. de fala hispana.
7) África do Sul
Em 1946, o movimento de A.A. surgiu em três lugares diferentes na África do Sul. Os
fundadores, que não se conheciam, são Arthur S., que conhece A.A. através da revista
Seleções Readers Digest, ele entra em contato com a Fundação do Alcoólico e forma um
Grupo de Johanesburgo; Pat O´F. da Cidade do Cabo, que se consultou também a Fundação
do Alcoólico; e Val D., que alcançou a sobriedade depois de ler um exemplar do Livro
Grande que um padre lhe tinha dado, fundou um Grupo em Springs.
8) Nova Zelândia
Ian McE., morador da cidade de Richmond, na Ilha do Sul, se interna voluntariamente em um
hospital psiquiátrico para conseguir sobriedade. Lá lê o artigo da Readers Digest, "Talvez eu
também possa fazê-lo". Ele se identifica fortemente com o tema do artigo e escreve a Bobbie
B. da Fundação do Alcoólico, iniciando assim uma longa correspondência com Bobbie (e
apadrinhamento), que leva à formação do primeiro grupo da Nova Zelândia.
1947
9) Bases do Pacífico
Após a Segunda Guerra Mundial, os soldados acantonados nas bases do Pacífico iniciam
Grupos de A.A. com a ajuda da Fundação do Alcoólico. No verão de 1947 o número de
membros de um grupo de Guam aumenta de 4 a 24 em um mês. Em Okinawa, o grupo
pioneiro começou a atender no Outono de 1947.
10) Noruega
George F., imigrante norueguês, dono de um café em Connecticut, escreveu à sua família
depois de muitos anos para informá-los de ter alcançado a sobriedade em A.A. Ao saber que
seu irmão, um tipógrafo de jornal de Oslo, estava-se afundando na bebida, George e sua
esposa vendem o estabelecimento e viajam para a Noruega. No começo, seu irmão não está
interessado muito interessado nos Doze Passos, mas depois aceita a mensagem com
entusiasmo e muito em breve alcança sua sobriedade. Através de anúncios no jornal, George
consegue juntar um grupo de alcoólicos e assim formar o primeiro Grupo de A.A. na
Noruega.
11) Brasil
Após dois anos de correspondência esporádica entre a Fundação do Alcoólico e alguns
americanos residentes no Brasil, a Fundação está registrada Herb D. como contato oficial de
A.A. Em setembro de 1947, Herb pede e recebe uma variedade de folhetos de A.A. e o nome
de outro membro de A.A. no Rio de Janeiro. Os dois procuram membros potenciais e em
setembro desse ano formam o primeiro Grupo de A.A. do Brasil.
Dr. Bob
Saint Johnsbury, Vermont 08 de agosto de 1879
Akron, Ohio, 16 de novembro de 1950
A.A. Grapevine, janeiro 1951
Por Bill W.
Depois de serenamente dizer para quem o atendia: “Creio que
chegou a hora”, o Dr. Bob faleceu em 16 de novembro de 1950 ao
meio dia. Assim terminou a enfermidade que o consumia, e no decorrer
da qual nos ensinou tão claramente que a grande fé pode superar as
graves angustias. Morreu como havia vivido, supremamente consciente
de que na casa de seu Pai há muitas moradas.
Todos os que o conheciam sentiram-se inundados de lembranças.
Mas quem poderia saber quais eram os pensamentos e sentimentos dos
5.000 doentes dos quais ele se havia ocupado pessoalmente, e aos quais
havia dado gratuitamente sua atenção médica? Que poderia recolher as
reflexões de seus concidadãos que o haviam visto afundar-se até quase
se perder no esquecimento para depois erguer-se deste mundo anônimo
renovado? Quem poderia expressar a gratidão das dezenas de milhares
de famílias de AAs que haviam ouvido falar tanto dele, sem tê-lo conhecido pessoalmente? Quais
eram as emoções das pessoas mais próximas a ele enquanto refletiam com gratidão sobre o mistério
da sua recuperação há quinze anos e de suas vastas consequências? Não se poderá compreender nem
a mínima parte desta grande benção. Somente se poderia dizer: “Que grande milagre, Deus
realizou”.
O Dr. Bob nunca haveria de querer que alguém o considerasse como um santo ou um super
homem. Também não teria desejado que o enaltecêssemos ou que chorássemos a sua morte. Quase o
podemos ouvir dizer que: “Parece-me que estão exagerando. Não me devem levar tão a sério. Eu
era somente um dos primeiros elos dessa cadeia de circunstâncias providenciais que se chama A.A.
Pela graça e por sorte este elo não se rompeu; apesar de meus defeitos e meus fracassos poderiam
ter levado a esta desgraçada consequência. Eu era mais um alcoólico que tentava se arrumar – com
a graça de Deus. Esqueçam-me, mas vão e façam o mesmo. Liguem solidamente seu próprio elo à
nossa cadeia. Com a ajuda de Deus, forjem uma cadeia forte e segura”. Assim é como o Dr. Bob
valorizaria a sí mesmo e nos aconselharia.
Era um sábado do mês de maio de 1935. Encontrava-me em Akron em função de um
desafortunado assunto de negócios que em seguida fracassou, deixando-me em um estado de precária
sobriedade. Aquela tarde passei dando voltas de um lado para outro no saguão do Hotel Mayflower
de Akron. Ao contemplar o grupo que ia se formando no bar, começou a me invadir um medo de
sofrer uma recaída. Era a primeira grande tentação desde que meu amigo de Nova York me havia
apresentado, em novembro de 1934, o que chegaria a ser os princípios básicos de A.A. Durante os
seis meses seguintes, havia-me sentido totalmente seguro da minha sobriedade. Mas agora não havia
esperança; sentia-me sozinho, desesperado. Durante os seis meses anteriores havia estado
trabalhando arduamente com outros alcoólicos. Ou melhor dizendo, havia-lhes passado sermões com
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um tom bastante arrogante. Cheio de uma falsa segurança, tinha a impressão de não poder tropeçar.
Mas desta vez, era diferente. Era necessário fazer algo imediatamente.
De uma lista de igrejas colocada em uma das paredes do
saguão, selecionei ao acaso o nome de um clérigo. Chamei-o
pelo telefone e lhe expliquei a minha necessidade de trabalhar
com um alcoólico. Embora não houvesse tido êxito com
nenhum deles, percebi repentinamente que este trabalho me
havia mantido livre do desejo. O clérigo deu-me uma lista de
dez nomes. Ele estava certo de q1ue algum deles me poderia
indicar um caso que necessitasse de ajuda. Apressei-me em ir
ao meu quarto e comecei a chama-los. Porém meu entusiasmo
foi diminuindo rapidamente. Das primeiras nove pessoas que St. Johnsbury, Vermont.
chamei, nenhuma podia, ou queria, sugerir nada que pudesse Casa onde o Dr. Bob nasceu.
satisfazer minha urgente necessidade.
Restava somente um nome na lista – Henrietta Seiberling. Por alguma razão, não conseguia
armar-me de suficiente coragem para marcar o número. Porém, depois de dar uma olhada no bar,
algo em meu interior me disse: “É melhor que o faça”. Para meu grande assombro, uma voz cálida,
com sotaque do sul, respondeu-me. Henrietta assegurou-me que me entendia e me perguntou se
poderia ir à sua casa imediatamente.
Em virtude de que havia enfrentado outras calamidades e superou-as, ela sem dúvida entendia
a minha. Iria desempenhar um papel vital na série de acontecimentos fantásticos que rapidamente
contribuiriam para o nascimento e desenvolvimento da nossa Irmandade. De todos os nomes que o
serviçal pastor havia-me dado, ela era a única que havia se interessado o suficiente. Quero expressar
aqui a nossa eterna gratidão.
Não demorou em me contar a crítica situação do
Dr. Bob e de Anne. Unindo a ação à palavra telefonou
para a casa deles. Quando Anne respondeu, Henrietta me
descreveu como um alcoólico sóbrio de Nova York que,
tinha certeza, poderia ajudar a Bob. Aparentemente, o
bom doutor havia esgotado todos os recursos médicos e
espirituais para o seu problema. Em seguida Anne disse:
“O que você diz Henrietta, é muito interessante. Mas
receio que agora não podemos fazer mais nada. Por ser
o Dia das Mães, meu querido Bob acaba de me trazer
Dr. Bob e Anne uma planta muito bonita. A planta está na mesa, mas,
infelizmente, Bob está no chão. Podemos nos ver
amanhã?”. Henrietta convidou-os para vir jantar no dia seguinte.
Na tarde seguinte, as cinco em ponto, Anne e o Dr. Bob apresentaram-se na casa de Henrietta.
Ela diretamente nos conduziu ao Dr. Bob e a mim, para a biblioteca. O Dr. Bob me disse:
“Encantado em conhecê-lo Bill Mas acontece que não posso ficar muito tempo, somente cinco ou
dez minutos, no mais tardar”. Ri, e lhe disse: “Parece que tem muita sede, não?”. Replicou-me:
“Bem, parece que depois de tudo entende bem este assunto de bebida”. Dessa forma começou uma
conversa que durou várias horas.
Desta vez a minha atitude foi muito diferente. Meu medo em me embebedar havia produzido
uma mais apropriada humildade. Depois de contar a minha história ao Dr. Bob, expliquei-lhe o
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quanto precisava dele. Se me permitisse ajuda-lo, talvez pudesse manter-me sóbrio. Assim começou
a crescer para a luz a semente que iria dar nascimento a A.A. Porém, como já havia adivinhado a
nossa querida Anne, esse primeiro broto era muito fácil, Era melhor que tomássemos algumas
medidas práticas. Convidou-me a passar uma temporada em sua casa. Dessa maneira eu poderia
vigiar o Dr. Bob e ele a mim. Esta era a chave da questão. Talvez pudéssemos fazer juntos o que não
podíamos fazer sozinhos. Além do mais, era possível que pudesse reavivar esse assunto de negócios
tão pouco promissor.
Durante os três meses seguintes, vivi com este maravilhoso casal. Acreditei sempre que eles
me deram mais do que eu possa ter-lhes dado. A cada manhã havia um período de recolhimento.
Depois do longo silêncio, Anne lia uma pequena passagem da Bíblia. Nosso favorito era Tiago.
Sentada na sua poltrona num canto da sala, terminava sua leitura dizendo suavemente: “A fé sem
obras, é fé morta”.
Mas as angústias alcoólicas do Dr. Bob ainda não haviam chegado ao fim. Tinha que assistir à
Convenção Médica em Atlantic City. Em vinte anos não havia perdido nenhuma. Esperando
inquietamente, Anne e eu passamos cinco dias sem ter notícias dele. Finalmente, a enfermeira de seu
consultório e seu marido o encontraram uma manhã bem cedo na estação de trem de Akron em um
estado algo confuso e desalinhado – para não dizer mais. Surgiu um terrível dilema. Três dias mais
tarde, o Dr. Bob tinha que realizar uma delicada operação cirúrgica. Ninguém poderia substituí-lo.
Simplesmente tinha que fazê-la. Mas, como íamos conseguir coloca-lo em condições de realiza-la?
Instalaram-nos em um quarto de duas camas. Começamos pelo rotineiro processo de reduzir
gradualmente a ingestão de álcool. Ninguém consegue dormir muito, mas ele cooperou. No dia da
operação, às quatro da manhã, Bob olhou-me e disse: “Vou fazer isto”. Perguntei-lhe: “Quer dizer
que vai realizar a operação?”, ele me respondeu: “Coloquei a operação e a mim nas mãos de Deus.
Vou fazer o que for necessário para obter e manter a minha sobriedade”. Não me disse mais
nenhuma palavra. Às nove da manhã, enquanto o ajudávamos a se vestir, ele lamentavelmente estava
tremendo. Sentíamo-nos presos pelo pânico. Iria conseguir fazê-lo? Por estar demasiado tenso ou
tremendo muito poderia operar mal o bisturi e tirar a vida de seu paciente. Arriscamo-nos. Dei-lhe
uma garrafa de cerveja. Este foi o último gole que ele tomou em sua vida. Era o dia 10 de junho de
1935. O paciente sobreviveu.
Logo apareceu nosso primeiro candidato, enviado por um pastor da vizinhança. Como o recém-
chegado via-se ameaçado de perder o juízo, Anne decidiu hospedá-lo a ele e sua família – sua esposa
e dois filhos. O novato era um enigma. Quando estava bebendo, tornava-se totalmente louco. Uma
tarde, sentada na cozinha, Anne estava olhando-o calmamente enquanto ele brincava com uma faca.
Ao sentir seu olhar fixo, ele retirou a mão. Mas não logrou sua sobriedade nesse momento. Sua
mulher desesperada foi morar com seus pais e ele desapareceu. Quinze anos mais tarde voltou a
aparecer para prestar sua homenagem ao Dr. Bob. Vimo-lo são e felizmente sóbrio em A.A. Em
1935 não estávamos tão acostumados com os milagres como o estamos hoje. Havíamos dado este
caso por perdido.
Então, atravessamos uma época de calma à frente do Décimo Segundo Passo. Anne e Henrietta
aproveitaram essa época para infundir em Bob e em mim uma muito grata e frutífera espiritualidade.
Lois tirou uns dias de descanso do seu penoso trabalho em uma grande loja de Nova York, e veio a
Akron para passa férias conosco, o que nos levanto muito o moral. Começamos a assistir as reuniões
do Grupo de Oxford realizadas na casa de T. Henry Williams em Akron. A devoção deste bom
homem e de sua mulher brilha em nossas lembranças. Seus nomes apareceram inscritos na primeira
página do livro como uns dos primeiros e melhores amigos de A.A.
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Um dia o Dr. Bob me disse: “Você não acha que deveríamos começar a trabalhar com alguns
bêbados?”. Telefonou para a enfermeira encarregada das admissões no Hospital Municipal de Akron
e explicou-lhe que ele e outro bêbado de Nova York tinham um remédio para o alcoolismo. O vi
ruborizar-se e desconsertar-se um pouco. A enfermeira havia comentado: “Bem doutor, o senhor já
se submeteu a esse tratamento?”.
Contudo, a enfermeira nos enviou um cliente. Disse-nos que era um tipo difícil. Tratava-se de
um eminente advogado de Akron, que havia perdido quase tudo. Nos últimos quatro meses, havia
estado seis vezes no hospital. Tinha chegado naquele momento; acabava de atropelar uma enfermeira
que ele havia confundido com um elefante rosa; “Servirá para os senhores?”, perguntou-nos. O Dr.
Bob disse-lhe: “Instale-o em um quarto particular. Quando melhorar o visitaremos”.
Pouco tempo depois o Dr. Bob e eu encontramo-nos contemplando um quadro que, desde
então, dezenas de milhares de nós voltaríamos a contemplar: o de um homem sentado na cama e que
ainda não se apercebeu de que se pode recuperar. Explicamos-lhe a natureza da sua doença, e lhe
contamos a nossa própria história de bebedores e de recuperação. Porém, o doente, sacudindo a
cabeça, nos disse: “Parece que os rapazes passaram muito mal. Porém nunca estiveram tão mal
como eu estou neste momento. Agora é muito tarde para mim. Não me atrevo a sair daqui. Sou
também um homem de fé: costumavam ser diácono na minha igreja. Ainda tenho fé em Deus, mas
parece que Deus não bota fé em mim. O álcool me venceu; não tenho mais solução. Mas voltem a me
visitar. Gostaria de falar mais com os senhores”.
Em nossa segunda visita, ao entrar no quarto do enfermo, vimos uma mulher sentada ao pé da
cama. Estava dizendo: “O que lhe aconteceu marido? Você tem um aspecto muito diferente. Sinto-
me muito aliviada”. O homem olhou para nós e disse aos gritos: “Aqui estão, eles me compreendem.
Ontem depois que se foram, não conseguia tirar da cabeça o que me haviam dito. Passei a noite sem
dormir. Depois me veio a esperança. Se eles conseguiram encontrar sua libertação, eu também
posso fazê-lo. Cheguei a estar disposto a ser sincero comigo mesmo, a reparar os danos que causei
e a ajudar outros alcoólicos. Quando pensei nisso, senti-me transformado. Sabia que iria ficar
bem”. O homem na cama continuava falando: “Agora minha querida mulher, traga-me as minhas
roupas. Vou me levantar e vamos sair daqui”. Dito isto, o AA número três levantou-se da cama, para
nunca mais voltar a beber. A semente de A.A. havia germinado outra vez, e outro broto surgiu no
novo terreno. Embora ainda não o soubéssemos, já estava em flor. Éramos três ali reunidos. E o
Grupo Número Um de Akron havia-se tornado realidade.
Nós três trabalhamos com centenas de alcoólicos. Eram muitos os chamados e poucos os
escolhidos. O fracasso nos acompanhava diariamente. Entretanto, quando fui embora de Akron, em
setembro de 1935, parece que mais dois ou três doentes tinham-se unido a nós definitivamente.
Os dois anos seguintes de nossa época pioneira constituíram o período de “voar às cegas”.
Com seu aguçado instinto de médico, o Dr. Bob continuava atendendo e introduzindo a cada novo
caso, primeiro no Hospital Municipal de Akron e depois, durante os doze anos seguintes, no Hospital
Santo Tomás, onde milhares de enfermos contavam com sua cuidadosa vigilância e o seu toque
especial de A.A. Embora não fossem seus correligionários, o pessoal e as irmãs que trabalhavam
com ele operavam verdadeiros milagres. Ofereceram-nos um dos mais brilhantes exemplos de amor
e de dedicação que os AAs jamais haviam conhecido. Dirigiam-se aos milhares de visitantes e
pacientes AAs – aos que realmente o sabem, perguntando-lhes qual era a sua opinião sobre a Irmã
Inácia do Santo Tomás. Ou sobre o Dr. Bob. Bem, estou-me antecipando.
Enquanto isso, um pequeno Grupo havia-se formado em Nova York. As reuniões de Akron na
casa de T. Henry começaram a atrair alguns visitantes de Cleveland. Nessa conjuntura, passei umas
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semanas visitando o Dr. Bob. Pusemo-nos a contar quantos dentre as centenas de alcoólicos tinham
ficado? Quantos se haviam mantido sóbrios? E, por quanto tempo? Nesse outono de 1937, o Dr. Bob
e eu calculamos que havia uns quarenta casos que tinham um tempo considerável de abstinência –
contando o tempo de todos talvez somassem um total de sessenta anos de sobriedade. Brotaram-nos
lágrimas de alegria. Tinha passado uma quantidade suficiente de tempo com uma quantidade
suficiente de casos que indicava que algo novo – e talvez muito significativo, estava acontecendo. De
repente, o céu se desanuviou. Já não voávamos às cegas. Havia-se acendido um farol. Deus havia
ensinado aos alcoólicos a transmiti-lo de mão em mão. Não esquecerei nunca esse momento de
súbita e humilde compreensão na companhia do Dr. Bob.
Mas essa nova compreensão apresentou-nos um grande problema, víamo-nos tendo que tomar
uma decisão de imensa envergadura. Havíamos demorado quase três anos para realizar quarenta
recuperações. Porém, apenas nos EUA havia um milhão de alcoólicos. Como íamos comunicar-lhes
nossa mensagem? Não seria por acaso necessário, termos trabalhadores assalariados, nossos próprios
hospitais e grande quantidade de dinheiro? Sem dúvida teríamos que reeditar um livro de textos.
Seria sensato irmos a passo de tartaruga enquanto nossa mensagem fosse se desvirtuando e talvez
milhares de alcoólicos morressem? Que dilema.
A forma como conseguimos nos livrar do profissionalismo, da riqueza e da administração de
bens importantes, e como finalmente nos arranjamos para publicar o livro Alcoólicos Anônimos, por
si só, é uma história. Mas nessa época crítica, os conselhos prudentes do Dr. Bob com frequência nos
detiveram para que não nos lançássemos em empreendimentos precipitados que poderiam ter
retardado nosso desenvolvimento durante anos e inclusive ter-nos arruinado. Também não ´podemos
esquecer a dedicação que tiveram o Dr. Bob e Jim S. (que faleceu no verão passado) em sua tarefa
para recolher histórias para o livro de A.A.: três de cada cinco destas histórias provinham de Akron.
O interesse e a sabedoria do Dr. Bob foram fatores de primordial importância naquela época de
graves dúvidas e graves decisões.
Quando nos regozijamos de que Anne e o Dr. Bob tenham vivido suficiente para que chegasse
a todas as partes da Terra, aquela luz que se acendeu em Akron; de que se dessem conta de que
algum dia milhões de pessoas poderiam passar por debaixo desse arco cada vez mais amplo cuja base
eles também haviam ajudado a esculpir. Entretanto, estou seguro de que eles, por serem tão
humildes, nunca chegaram a formar uma ideia clara da magnitude do legado que nos deixaram, nem
como cumpriram bem sua tarefa. Fizeram tudo que tinham que fazer. O Dr. Bob inclusive teve a
oportunidade de ver a Irmandade chegar à sua maioridade, quando, pela última vez, dirigiu a palavra
a 7.000 alcoólicos (N.T.: historiadores coincidem em relatar este número como sendo entre três e
três mil e quinhentos participantes) reunidos em Cleveland.
Vi o Dr. Bob no domingo anterior à sua morte. Porém, menos de um mês antes, ele tinha-me
ajudado a formular uma proposta para a Conferência de Serviços Gerais de alcoólicos Anônimos, o
Terceiro Legado de A.A. Este legado, em forma de folheto, estava na gráfica quando ele se despediu
de nós pela última vez na quinta feira seguinte. Por representar seu último gesto e desejo para os
AAs, este documento terá para nós um grande e especial significado.
Não tive uma relação parecida com esta com nenhum ser humano. A coisa mais bela que eu
posso dizer é que, durante todos os anos, muitas vezes difíceis para nossa Irmandade, ele e eu nunca
tivemos uma penosa diferença de opinião. Seu espírito fraternal e a sua capacidade para o amor
estavam fora do meu alcance.
Para terminar, permitam-me que lhes ofereça um último e comovedor exemplo de sua
simplicidade e humildade. Por muito estranho que pareça, é uma história que fala de um monumento
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– um monumento que se propôs erguer em sua homenagem. Faz um ano, quando Anne morreu,
muitos companheiros acharam apropriado que lhe fosse dedicado um monumento comemorativo. As
pessoas insistiam em que fosse feito algo dessa índole. Ao chegarem esses rumores aos ouvidos do
Dr. Bob, ele não demorou em se manifestar contrário à ideia de que os AAs erguessem um mausoléu
para ele e Anne. Com apenas uma frase convincente, expressou serenamente seu horror aos símbolos
em homenagem pessoal. Disse: “Anne e eu queremos ser enterrados como uma pessoa qualquer”.
Entretanto, no pavilhão dos alcoólicos do Hospital Santo Tomás, seus amigos colocaram uma
placa simples que diz: “Com gratidão, os amigos do Dr. Bob e Anne Smith, afetuosamente
dedicamos esta placa comemorativa para as irmãs e pessoal do Hospital Santo Tomás. Em Akron, o
local de nascimento de Alcoólicos Anônimos, o hospital Santo Tomás foi a primeira instituição
religiosa a abrir as portas para a nossa Irmandade. Que a carinhosa dedicação daqueles que aqui
trabalhavam em nossa época pioneira constitua sempre para todos nós um ilustre e maravilhoso
exemplo da graça de Deus”.
http://www.barefootsworld.net/aa-drbobgv011951.html
http://www.barefootsworld.net/amweeklydrbob1951.html
Também pode ler a partir da página 416 de “A Linguagem do Coração”, Junaab, código 104.
Bill W.
East Dorset, Vermont 26 de novembro de 1895
Miami, Florida, 24 de janeiro de 1971
Edição especial do Box 4-5-9, Fev. 1971 (pág. 1 a 6)
http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_january_billmemorial71.pdf
Título original: “En memoria de nuestro querido Bill”
Bill W. morreu no dia 24 de janeiro de 1971 no Miami Heart Institute, Miami Beach, Florida,
EUA, depois de uma longa doença. Estava em tratamento de enfisema pulmonar desde 1968. Tinha
75 anos de idade.
De acordo com os próprios desejos de Bill, depois dos serviços funerários privados, queria ser
enterrado em East Dorset, Vermont, onde tinha nascido em 26 de novembro de 1895.
Último gole
Esse foi seu último gole; era o dia 11 de dezembro de 1934. Aconteceu pouco tempo depois
que Ebby T., um velho amigo com quem Bill bebia, o visitou na sua casa, na Rua Clinton no
Brooklin, Nova York, onde ele estava sem trabalho, como um bêbado sem esperança, sustentado pela
sua mulher Lois. Ebby tinha deixado de beber depois de se afiliar ao Grupo de Oxford, um
movimento religioso muito na moda à época. No Hospital Towns, Bill teve a experiência espiritual
que lhe retirou o desejo de beber e o preparou para ajudar a persuadir outros bêbados a parar de
beber.
Seus esforços não tiveram sucesso até maio de 1935, quando estava hospedado no Hotel
Mayflower, em Akron, Ohio, e já se encontrava na iminência de beber depois de um fracasso no
negócio que o tinha levado lá.
De repente percebeu que os esforços que tinha feito em Nova York para que outros bêbados
encontrassem a sobriedade tinham sido estéreis; mas, com isso, ele continuava sóbrio já havia quase
cinco meses. Desta maneira, em vez de ir ao bar, Bill começou a fazer chamadas telefônicas na
tentativa de encontrar um alcoólico a quem pudesse ajudar, porque se tinha convencido de que,
mesmo o outro, o ouvindo ou não, iria impedir que ele tomasse aquele trago. Pela primeira vez, foi
motivado pela própria sobrevivência.
Como resultado dessas chamadas, na casa de entrada da mansão da família Seiberling, acabou
conhecendo Robert. H. Smith – o Dr. Bob, um cirurgião também afligido pelo alcoolismo.
Este encontro dos dois, que mais tarde seriam conhecidos como os cofundadores de
Alcoólicos Anônimos, de certa maneira representa a primeira reunião realizada pelo “primeiro
Grupo de A.A.”. Foi o inicio da recuperação do Dr. Bob, que trabalhando na área da medicina,
especializou-se no tratamento de alcoólicos nos hospitais em que trabalhou.
“... Quão sábio você foi durante todos estes anos... Todos tivemos um raio de esperança, mas
o seu foi de instintiva sabedoria – o “tato”, a comunicação entre dois corações cheios de amor, o
presente da sensibilidade e a graça da recuperação ajuda a nos ver em você. Você foi o primeiro a
fazer-nos ver o quanto queríamos coloca-lo num pedestal, que Deus nunca escolhia homens
perfeitos para levar Sua mensagem”
Um membro de A.A.
“Sinto que Bill não nos deixou, mas apenas mudou de endereço. Vive conosco e sempre será
assim...
Nunca será esquecido”.
Um membro de A.A.
Sentimento de inferioridade
O Sr. Wilson evitava a eloquência e eufemismos e impressionava seus ouvintes com a
simplicidade e franqueza de sua “história” de A.A.
Em sua terra natal, East Dorset, Vermont, onde ele nasceu em 26 de novembro de 1895 e
onde frequentou uma escola de ensino fundamental que tinha apenas duas salas, lembrou, “eu era
alto e desajeitado, e me sentia muito mal porque crianças menores me empurravam pra lá e pra cá.
Lembro-me de ter ficado deprimido por um ano ou mais, então tive uma determinação feroz de ser
vencedor, ser o homem nº 1”.
“Nos anos loucos”, ele lembrou, “Eu estava bebendo para sonhar grandes sonhos de poder e
grandiosidade”. Sua esposa foi ficando cada vez mais preocupada, mas ele assegurou que “os
homens geniais criam seus melhores projetos quando estão bêbados”.
Lois B. Wilson
Nova York, Nova York, 04 de março de 1891
Mount Kisco, Nova York, 05 de outubro de 1988
Box 4-5-9, Natal / 1988 (pág. 1 a 4)
http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_holiday88.pdf
Título original: “In Memoriam: Lois W. 1891-1988”.
Lois Burnham Wilson – querida Lois W. para
milhões de membros de A.A. e Al-Anon, e viúva do
cofundador de A.A. Bill W., morreu tranquilamente no dia
cinco de outubro de 1988, com a idade de 97 anos.
Um mês antes, com aspecto um tanto delicado, mas
com expressão muito viva, sentada numa cadeira no salão
da casa que havia compartilhado com Bill, disse a uma
visita, “Sabe, vou chegar aos 100”. Mas não conseguiu.
Duas semanas depois de dizê-lo, ingressou no hospital de
Northern Westchester. Padecendo de pneumonia nos
últimos dias e não podendo falar, continuou se
comunicando através de bilhetinhos escritos.
Cinco dias antes da sua morte, John B., diretor
geral do Escritório de Serviços Gerais de A.A. – ESG, foi
visita-la no hospital. Expressou-lhe sua gratidão pessoal e
a da Irmandade inteira, porque, como disse John, “os AAs devem suas vidas a você”. Um ligeiro
sorriso passou pelo rosto de Lois e num papel escreveu “Não a mim, mas a Deus”. John replicou
“Mas foi sua servidora”. E Lois escreveu: “Você também é”.
Ao receber a noticia da morte de Lois, John disse: “Ela foi a última dos quatro: o Dr. Bob e
Anne, Bill e Lois. Sua morte marca o fim de uma era para Alcoólicos Anônimos”.
Michael Alexander, não alcoólico, presidente da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos
Anônimos, manifestou-se de maneira parecida na carta em que informou à Irmandade a morte de
Lois: “Nos primeiros dias, o futuro inteiro da nossa Irmandade e o de incontáveis alcoólicos
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pendiam do fio da resolução e capacidade de Bill W. e do Dr. Bob para perseverar nos seus esforços
de fincar Alcoólicos Anônimos em terreno firme. Uma multidão de pessoas considera Lois Wilson
como a pessoa sem cuja ajuda seu marido não teria podido persistir neste trabalho crucial. Bill
costumava classifica-la como ‘uma sócia na participação plena’ nas penas e prazeres daqueles
tempos. De fato, muitos AAs acreditam que devem suas vidas a Lois, a Bill, ao Dr. Bob e a Anne”.
A tarde do sábado seguinte ao falecimento de Lois, umas cinquenta pessoas, parentes e
amigos, reuniram-se para um serviço informal, ao estilo Quaker (1), no salão de Stepping Stones na
frente do fogo crepitante que brilhava na chaminé. Nessa ocasião, Michael Alexander, falou dos
muitíssimos talentos e facetas de Lois: foi não apenas a líder e a organizadora de Al-Anon, mas
também escritora, poetisa, artista, musicista e oradora muito solicitada e muito afetiva, amante da
natureza, dona de casa, anfitriã incansável e esposa devotada de Bill. “Era uma grande e
extraordinária dama e sentiremos muito sua falta”.
Nessa tarde, outras pessoas compartilharam as lembranças comovedoras, agridoces e
divertidas que realçaram o indômito que era seu espirito até o fim da vida, sua mente aguçada, seu
senso de humor, seu ímpeto exuberante. Ralph B., contratado pela antiga Fundação do Alcoólico
(atual Junta de Serviços Gerais de A.A.) para escrever alguns dos primeiros folhetos de A.A. e
visitante assíduo de Stepping Stones desde os primeiros tempos, disse quer ela era “a força que
mantinha as coisas em marcha enquanto Bill ficava pensando, escrevendo ou visualizando. De vez
em quando eu contestava Bill, mas nem sequer pensaria em discutir com Lois”.
Ron S. narrou a respeito de ter acompanhado Lois a um Rodeio de Motos na Califórnia, onde
ela iria aparecer como oradora, havia apenas três anos. Enquanto empurrava a cadeira de rodas
através do estacionamento do hotel, ela viu uma motocicleta grande e reluzente e lhe pediu para
aproximá-la à moto para poder admirá-la. Então pediu que a fotografasse ao lado da moto. No dia
seguinte, ao ser apresentada aos participantes do evento, foi nomeada membro honorária do Grupo
de motociclistas em A.A., enquanto o auditório assobiava e aplaudia. “Encantou lhe”, disse Ron.
Steve S., motorista de taxi em Bedford Hills, conseguiu que os presentes percebessem o essencial,
contando em poucas palavras como Bill e Lois tocaram pela primeira vez sua vida quando ele era um
bêbado, e como o ajudaram a transformar sua vida, oferecendo-lhe uma carinhosa amizade durante
mais de 20 anos de sobriedade.
Lois nunca se deteve. Até as últimas semanas da sua vida, continuou aceitando convites para
falar e planejando viagens. Participou dos jantares de abertura da Conferência de Serviços Gerais de
A.A. e de Al-Anon, recebeu visitas e Stepping Stones e frequentemente ia almoçar com seus amigos.
Fez um resumo da sua própria vida, naquilo que se relacionava com Bill e com A.A. nas seguintes
palavras (extraídas do Prólogo de Lois Remembers – Lois se lembra):
“A recuperação de Bill foi conseguida apesar de mim. Embora tivesse trabalhado para ele
alcança-la, durante toda nossa vida de casados não o tinha feito de forma apropriada. O amor que
sentia, por muito verdadeiro que fosse, era também possesivo; e tão grande era meu ego que
acreditava que o poderia transformar... Bill era minha vida... Durante os primeiros 17 anos da
minha recuperação e da de Bill, não existia nenhuma irmandade para as famílias dos alcoólicos...
Portanto, A.A. foi meu primeiro amor. Embora não seja alcoólica, ainda nestes dias sinto-me tão
membro de A.A. como de Al-Anon, pelo menos em espirito”.
Lois Burnham nasceu no dia quatro de março de 1891, no Brooklin, Nova York a mais velha
de seis irmãos. “Minha infância foi muito feliz”, escreveu.
Também tinha lembranças felizes dos verões que ia passar com seus avos na cabana de seus
pais ao lado de um lago. Alegremente andava descalça, passeava na sua bicicleta, subia em arvores
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como um rapazinho mais. Com outras crianças nadava no lago, ou fazia passeios numa canoa, e mais
tarde na medida em que ia crescendo, viajava a Manchester para jogar tênis, golfe ou dançar.
Ali conheceu Bill que era amigo do seu irmão Rogers. Bill e sua irmã moravam em Dorset
com seus avos, porque seus pais estavam divorciados. No começo, Bill não lhe impressionou muito,
já que era quatro anos mais novo que ela e nativo de Vermont, enquanto ela era uma veranista
sofisticada. Entretanto, enquanto os dois passavam juntos muitas horas agradáveis, fazendo
excursões, passeando de barco, fazendo piqueniques e acima de tudo, falando, seu interesse foi
crescendo até que esqueceram as diferenças.
O casal mantinha seu amor através do correio – ela diariamente, ele mais esporadicamente.
Bill foi entrando e saindo da Universidade de Norwich, e quando os EUA, declararam a guerra em
1917, sua classe alistou-se no Exercito Reserva e Bill foi enviado a escola de Treinamento para
oficiais. Foi nomeado subtenente em agosto e estacionado em New Bedford, Massachussets. Durante
esse período de dois anos e meio, visitavam-se com tanta frequência como lhes era possível no
Brooklin e nos diversos postos onde Bill era destinado.
Pronto correu o boato de que o regimento de Bill iria embarcar para o estrangeiro, e o dia 24
de janeiro de 1918, Bill e Lois se casaram. Os recém casados foram morar em New Bedford, e quatro
meses depois mudaram para Newport, Rode Island. Durante a maior parte do noivado, Bill não
bebeu uma única gota de álcool, uma vez que a maneira de beber de seu pai tinha contribuído muito
para o divórcio dos seus pais. Mas agora, ocasionalmente bebia nas festas, e quando o fazia, ficava
bêbado. Isso não preocupava a Lois porque ela acreditava que podia “consertá-lo”.
Durante a guerra, Lois trabalhou no Hospital Walter Reed, de Washington, D.C. Quando Bill
voltou depois do Armistício, foram morar no Brooklin. Não tendo nenhum preparo para trabalhar na
vida civil, Bill teve dificuldades para se orientar. “Para poder refletir bem sobre a situação”, disse
Lois, “fizemos uma longa excursão a pé através do Maine, New Hampshire e Vermont”, dando
inicio, assim, ao que seria um costume em toda sua vida. Bill estudou na Faculdade de Leis do
Brooklin durante quatro anos enquanto Lois trabalhava como terapeuta vocacional.
Durante este período e nos anos seguintes, a maneira de beber de Bill piorava. Embora
sempre sonhassem com ter filhos, Lois experimentou três gravidezes ectópicas (N.T.: gestação que
ocorre fora da cavidade uterina) seguidas de intervenções cirúrgicas. Durante a última Bill estava
bêbado demais par visita-la no hospital. Ao saber que não poderiam ter filhos fizeram um pedido de
adoção numa agencia oficial que não teve efeito porque, aparentemente, uma das referencias
informava que Bill bebia excessivamente.
Em 1925 houve um intervalo feliz, quando os dois abandonaram seus empregos e compram
uma motocicleta com sidecar e foram trotar-mundo durante um ano.
Em 1929, “angustiada pela maneira de beber sem trégua de Bill”, Lois desafogou seu
coração num documento desgarrador, mas de uma perspicácia extraordinária. Dizia em parte:
“O que alguém deve pensar depois de tantos fracassos?... Se perdesse meu amor e minha fé,
o que aconteceria então? Apenas enxergo o vazio, as rijas, o sarcasmo, o egoísmo... Amo meu
marido mais do que possa expressar com palavras, e sei que ele também me ama. É um homem
esplêndido, excelente... todos o amam... um líder nato... tão generoso que daria seu último centavo...
tem um magnífico senso de humor e um vocabulário extraordinário... um orador convincente... uma
memória fora do comum... Os detalhes o aborrecem, por ter uma mente clarividente, com
perspectivas mais amplas. Está sempre pedindo a minha ajuda, e estivemos tratando de encontrar,
sem parar durante cinco anos, uma solução para o seu problema com a bebida...”.
Esta mensagem de despedida foi lida por Lois em novembro de 1970 durante o jantar de
aniversário em que Bill completava 75 anos de idade.
Bill W. nasceu em East Dorset, Vermont, EUA, em 16 de novembro de 1895; morreu no dia 24
de janeiro de 1971 – data do 53º aniversário de seu casamento com Lois - horas depois de dar entrada
no Instituto do Coração de Miami, Florida, EUA, em decorrência de enfisema pulmonar. Repousa no
cemitério de East Dorset.