Curso de Capacitacao e Aperfeicoamento em Psicanalise Site
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em Psicanálise
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1
Sumário
1.0– SIGMUND FREUD ........................................................................................................ 5
1.1 Influências das Artes e Literatura .......................................................................... 8
1.2 Formação Médica e Estudos em Fisiologia .......................................................... 9
1.3 Aulas com Charcot................................................................................................ 10
1.4 Josef Breuer .......................................................................................................... 12
1.5 A Teoria do Trauma .............................................................................................. 15
1.6 A Teoria dos Sonhos ............................................................................................ 16
1.7 O Fim do Isolamento de Freud ............................................................................ 17
1.8.1 O psicanalista demorou para alcançar a fama ........................................... 19
1.8.2 Foi nomeado ao Prêmio Nobel .................................................................... 20
1.8.3 Fugiu do nazismo .......................................................................................... 21
1.8.4 Lutava contra o tabagismo ........................................................................... 22
Freud sofreu com um câncer de laringe. Ele chegava a fumar mais de 20 charutos
por dia. Ao longo dos anos, passou por mais de 30 cirurgias para retirar tumores
que tomavam conta de sua boca. Apesar disso, ele nunca parou de fumar. ......... 22
2.0 JACQUES LACAN.................................................................................................... 23
2.1 A Complexidade da Obra de Lacan .................................................................... 25
2.2 Características da obra psicanalítica de Lacan ................................................. 26
2.3 Diferenças entre as obras de Freud e Lacan ..................................................... 27
2.4 O estado do espelho............................................................................................. 28
........................................................................................................................................... 28
2.5 O outro ................................................................................................................... 29
2.6 O falo...................................................................................................................... 30
2.7 As três ordens da psicanálise .............................................................................. 30
2.8 O desejo................................................................................................................. 31
2.9 O ímpeto ................................................................................................................ 32
2.10 Outras considerações........................................................................................... 33
3.0 DONALD WOODS WINNICOTT ............................................................................. 34
............................................................................................................................................... 35
4.0 Holding ................................................................................................................... 37
3.2 Self Verdadeiro e Falso Self ................................................................................ 39
3.3 Objeto Transicional ............................................................................................... 40
2
3.4 Desenvolvimento Psíquico ................................................................................... 42
3.5 Integração e Personalização ............................................................................... 42
3.6 Adaptação à Realidade ........................................................................................ 44
3.7 Crueldade Primitiva (fase de pré-inquietude) ..................................................... 45
4.0 MELANIE KLEIN....................................................................................................... 46
4.1 Contribuições à Psicanálise ................................................................................. 53
4.2 Melanie Klein e as fantasias inconscientes ........................................................ 55
4.3 A fantasia kleiniana: definições ........................................................................... 55
4.4 A origem e a função da vida fantasmática.......................................................... 56
4.5 As relações objetais.............................................................................................. 58
4.6 A introjeção e a projeção...................................................................................... 59
4.7 A constituição do sujeito: um percurso nas manifestações fantasmáticas ao
longo do desenvolvimento ............................................................................................... 61
4.8 Fantasias e conteúdos patológicos ..................................................................... 65
4.9 Fantasias e conteúdos sexuais ........................................................................... 66
5.1 Anna e a Psicanálise Infantil ................................................................................ 78
5.2 As Duas Correntes da Psicanálise em Crianças ............................................... 80
5.3 Alguns Conceitos Kleinianos na Psicanálise da Criança .................................. 81
5.4 Conceitos de Ana Freud na Psicanálise da Criança ......................................... 82
5.5 A Psicanálise da Criança .......................................................................................... 83
5.5.1 O Brincar na Psicanálise de Crianças............................................................... 83
5.5.3 O Brincar Segundo Winnicott............................................................................. 85
5.5.4 O Brincar Segundo Melaine Klein ......................................................................... 86
5.5.5 O Brincar em Ana Freud .................................................................................... 88
5.6 A Entrevista com os Pais na Clínica Psicanalítica da Criança ......................... 89
6.0 – PSICANÁLISE ....................................................................................................... 90
7.0 INSCONSCIENTE .................................................................................................... 94
7.1.1 Percepção, inconsciente e representação .................................................. 98
7.2 Percepções endopsíquicas e o inconsciente ................................................... 105
7.3 Percepção, consciência e inconsciente ............................................................ 110
8.0 ID, EGO E SUPEREGO ......................................................................................... 121
9.0 Mecanismos de Defesa – As Defesas do Ego ........................................................ 123
9.4 Compensação ..................................................................................................... 124
9.5 Negação............................................................................................................... 124
9.1 Regressão ........................................................................................................... 124
9.6 Identificação ........................................................................................................ 124
3
9.4 Sublimação .......................................................................................................... 125
9.5 Racionalização .................................................................................................... 125
9.6 Formação reativa ................................................................................................ 125
10.0 TEORIA DA SEXUALIDADE ................................................................................. 125
10.1 A teoria da sedução generalizada ..................................................................... 129
10.2 A fonte da pulsão sexual .................................................................................... 133
10.3 Pulsão sexual de vida e pulsão sexual de morte ............................................. 136
11.0 COMPLEXO DE ÉDIPO......................................................................................... 141
11.1 Complexo de Édipo: idade ................................................................................ 144
11.2 Por que o complexo de Édipo é importante? ...................................................... 144
11.2.1 Funções do complexo de Édipo .................................................................... 145
11.3 Complexo de Electra ............................................................................................. 145
“A dissolução do complexo de Édipo”: resumo do livro .............................................. 146
11.4 Frases do complexo de Édipo .............................................................................. 146
REFERÊNCIA .................................................................................................................... 147
4
1.0– SIGMUND FREUD
5
Em sua estada de seis meses em Paris, trabalhou com o neurologista
francês Jean-Martin Charcot, observando o tratamento da histeria com o uso da
hipnose, despertando então seu interesse pelo estudo dos distúrbios mentais.
7
1.1 Influências das Artes e Literatura
Em 1896 Freud iniciou sua célebre coleção de antiguidades, composta por mais
de 2000 peças, das mais variadas procedências; que testemunha o grande
interesse de Freud por civilizações antigas e pela arqueologia.
10
Freud (1935) declara que no início Charcot dispensava-lhe pouca
atenção; mas Charcot um dia em uma de suas aulas declarou que estava
necessitando de um tradutor de alemão para suas conferências, prosseguiu
dizendo que ficaria satisfeito se alguém se encarregasse de verter o novo volume
de suas conferências para o alemão. Freud ofereceu-lhe seus préstimos.
Charcot aceitou a oferta, foi admitido no círculo de seus conhecidos pessoais, e
a partir dessa época tomou parte integral em tudo que se passava na clínica.
11
1.4 Josef Breuer
Freud (1935) diz que, no início, Breuer objetou com veemência, mas por
fim cedeu, especialmente tendo em vista que, nesse meio tempo, as obras de
Janet haviam previsto alguns dos seus resultados, tais como o rastreamento de
sintomas histéricos em fatos da vida do paciente e sua eliminação por meio da
reprodução hipnótica in statu nascendi. Em 1893 foi lançado uma comunicação
preliminar, “Sobre o Mecanismo Psíquico dos Fenômenos Histéricos”, e em
1895 seguiu-se o livro, Estudos sobre a Histeria.
13
Freud (1935) diz que Estudos sobre a Histeria não procurou
estabelecer a natureza da histeria, mas apenas lançar luz sobre a origem de
seus sintomas. Assim, dava ênfase à significação da vida das emoções e à
importância de estabelecer distinção entre os atos mentais inconscientes e os
conscientes (ou, antes, capazes de ser conscientes). O livro introduziu também
a noção de um fator dinâmico, supondo que um sintoma surge através do
represamento de um afeto, e um fator econômico, considerando aquele mesmo
sintoma como o produto da transformação de uma quantidade de energia que
de outra maneira teria sido empregada de alguma outra forma.
15
Por volta de 1897, Freud se deu conta de que o trauma psíquico era
insuficiente para explicar todos os sintomas neuróticos. Ele percebeu que suas
pacientes não contavam sempre a verdade e que seus discursos estavam cheios
de ideias fantasiosas. Os sintomas neuróticos não estavam diretamente
relacionados com fatos reais, mas com fantasias impregnadas de desejos; e,
como destaca Freud (1935), no tocante à neurose, a realidade psíquica era de
maior importância que a realidade material. A sedução durante a infância retinha
certa parcela, embora mais humilde, na etiologia das neuroses. Mas os
sedutores vieram a ser, em geral, crianças mais velhas.
Freud com o tempo pôde concluir que tudo que tinha sido esquecido de
alguma forma fora aflitivo; e que ao mesmo tempo havia algo no próprio indivíduo
que tentava a todo custo não ser lembrado. Surgia a teoria da resistência e por
conseguinte, a do recalque.
16
A Interpretação dos Sonhos (1900) marca a passagem para um modelo
que investiga não apenas as manifestações psicopatológicas, mas capaz de dar
conta do psiquismo em geral. No Capitulo VI da Interpretação dos Sonhos Freud
formula o primeiro grande modelo do aparelho psíquico (a primeira tópica).
O psiquismo é composto por dois grandes sistemas – inconsciente e pré-
consciente/consciente – que são separados por uma barreira
(a censura/recalque) que através do mecanismo do recalque expulsa e mantêm
certas representações inaceitáveis fora do sistema consciente. Mas essas
representações exercem uma pressão para tornarem-se conscientes e ativas.
Ocorre um jogo de forças, entre os conteúdos reprimidos e os mecanismos
repressores. Como resultado desses conflitos há a produção das formações do
inconsciente: os sintomas, sonhos, lapsos e chistes. Essas formações
representam o fracasso e o sucesso das duas forças conflitantes e representam
uma espécie de acordo entre elas.
17
infantil; Complexo de Édipo; os conceitos de transferência e contratransferência;
a importância das resistências etc..
Por mais de dez anos após o seu afastamento de Breuer, Freud não teve
seguidores. Ficou completamente isolado. Em Viena, foi evitado; no exterior,
ninguém lhe deu atenção. A Interpretação de Sonhos Freud (1900), mal foi objeto
de críticas nas publicações técnicas.
18
(1915), ‘O Inconsciente’ (1915), ‘Luto e Melancolia’ (1917) etc. vem fazer parte
dessa tentativa de construção de uma Metapsicologia. Com isso Freud queria
construir um método de abordagem de acordo com o qual todo processo mental
é considerado em relação com três coordenadas, as quais descreveu como
dinâmica, topográfica e econômica, respectivamente.
19
A Interpretação dos Sonhos", livro considerado por Freud como seu mais
relevante trabalho, não despertou muito interesse no ano de sua publicação, em
1899. Uma segunda edição da obra veio a ser publicada apenas 10 anos depois,
em 1909.
Sigmund Freud foi nomeado ao Prêmio Nobel 13 vezes (12 delas para o
Nobel de Medicina e 1 vez para o de Literatura), mas não ganhou nenhum deles.
À época, seus críticos defendiam que a psicanálise era uma prática sem
fundamentos. Apesar disso, Freud recebeu o prestigioso Prêmio Goethe de
Literatura, em 1930.
20
1.8.3 Fugiu do nazismo
21
1.8.4 Lutava contra o tabagismo
22
1.8.5 Poucos registros audiovisuais de Freud
Link do vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=M5CYhJSTHVs&list=RDCMUCl_CwuUIJ6R
81i7pyrJy4Pw&start_radio=1&t=25
23
complexa de se compreender. Ele fundou uma corrente psicanalítica própria: a
Psicanálise Lacaniana.
24
Jacques Lacan é considerado como o único dos grandes intérpretes de
Freud que procurou retornar literalmente aos seus textos e à sua doutrina. Isto
é, Lacan não apenas o estudou com o intuito de ultrapassar ou de conservar a
sua doutrina.
25
Dentro disso, as contradições acabam sendo frequentes na obra de
Lacan. Ele afirmava que sua obra propunha um retorno à obra de Freud, como
num movimento de retomada. Não obstante, por exemplo, ele se opunha
claramente à ciência naturalista por Freud proposta.
Para Lacan, a psicanálise tinha uma única interpretação possível, que era
a interpretação linguística. Dentro dessa concepção, ele dizia que o inconsciente
tinha a estrutura de uma língua. Expressão essa que ficou muito conhecida em
sua obra.
26
De acordo com a teoria de Lacan, não vivemos em um mundo de realidades.
Nosso mundo é composto de símbolos e de significantes. O significante é algo
que representa outra coisa.
Lacan não apenas afirma que o inconsciente é como uma língua. Ele também
propõe que, antes da língua, não existe o inconsciente para o indivíduo. É
apenas quando a criança adquire uma língua é que ela se torna um sujeito
humano, isto é, quando ela passa a fazer parte do mundo social.
27
no discurso, o analista poderia contaminá-lo com os seus significantes, com as
suas interpretações.
Dessa forma, vemos que, apesar de ter declarado que a sua primeira
intenção era retomar as teorias de Freud. Lacan acaba indo além da obra de seu
predecessor. E, assim, a sua obra, em muitos momentos, acaba se diferenciando
e progredindo em relação aos estudos freudianos.
28
a imagem que é observada no espelho acaba por desencadear
uma fragmentação na própria interpretação que alcança o ego, em que a
identificação com aquilo que vê é responsável pela superação desta
problemática. No entanto, a comparação que vai estabelecendo com a imagem
consolidada da mãe ou do pai – o outro – pode também gerar alguma ira no seio
da própria criança. No fundo, o “estado do espelho” é decisiva para aquilo que é
a tomada de conhecimento da criança com o seu corpo e a eventual identificação
com a sua estrutura física, levando à formação do sentido integrado e completo
do eu.
2.5 O outro
O francês, na conceção do outro, diverge da noção que Freud
empreendeu, e aproxima-se daquela que o filósofo alemão Georg
Hegel apregoou. O piscanalista destrinçava dois tipos de outro, em que um era
o grande (A) e outro o pequeno (a). Esta diferença permite um melhor
posicionamento do eu na realidade, em relação àquele que é o outro em
concreto. Assim, e enquanto o grande representa o que se transcende ao ilusório
e que não se assimila através da identificação, o pequeno é somente uma reflexo
projetado pelo ego, remetido ao imaginário. O discurso constrói-se, desta forma,
no outro, podendo assumir-se secundariamente como um assunto enquanto se
assume em pleno discurso como tal. O discurso linguístico, assim como a própria
linguagem, partem de um lugar fora do próprio consciente e constroem-se a partir
do inconsciente, lugar em que o outro se cria e existe. Esta noção referencial
está numa cena que transcende aquilo que é visível e plenamente cognoscível,
estando nas estruturas assimiladas e recriadas. Este plano linguístico cruza-se
com o que o denominado “pai” da Linguística, o suíço Ferdinand de Saussure,
conceptualiza. Ainda sobre o outro, é a mãe a primeira a assumir esse papel, a
primeira a ouvir os choros do recém-nascido, embora seja também ela parte
do complexo de castração, no qual a criança descobre que falta sempre um
significante para que o outro se se molde na totalidade. Esta incompletude,
analisada numa linguagem simbólica e semiótica, leva a que se denomine de
“Outro barrado”, que impede que esse outro vá para além daquilo que o ego
perceciona.
29
2.6 O falo
O lado simbólico acaba por ser o reflexo da cultura em que o ser humano
está inserido, ao contrário do reflexo da natureza que o imaginário é. Elementos
primordiais do simbólico são a morte e a lacuna, providenciais naquilo que é a
30
deteção de necessidades ou tendências básicas e que podem estar mais ou
menos ligadas ao imaginário, sendo que alterações nas estruturas simbólicas
não afetam as formulações em bruto deste. Por último, existe o real, onde emana
o verdadeiro e o ser-em-si. No entanto, para Lacan, isto não é sinónimo de
realidade, estando fora daquilo que são os padrões simbólicos. O real é, sim, um
plano onde não existem ausências, estando sempre no seu lugar e não
desencandeando as possibilidades da ausência e da inexistência. O gaulês
considera o real como “o impossível”, porque é inatingível pela imaginação e
incapacitado de ser integrado pelo simbólico. Desta forma, torna-se de
impossível alcance, e é precisamente o objeto usado pela ansiedade, ao qual o
sujeito não consegue associar palavras nem categorias e, por conseguinte,
gerando essa apoquentação.
2.8 O desejo
31
os ímpetos, desencadeados a partir da relação do eu com uma lacuna que existe
no seu interior, e que serão explorados de seguida.
Após a delimitação daquilo que é o desejo, a sua noção em concreto é desejar
o desejo do outro (Désir de l’Autre), sendo que o objeto em si é o próprio objeto
desejado pelo ser humano e, logo, por reconhecimento. Aquilo que, segundo
Lacan, torna esse objeto desejável é mesmo ser pretendido por outros. Estando
o próprio desejo no campo do outro, está descortinada a razão pela qual ele é
inconsciente.
2.9 O ímpeto
Num dos pontos em que concorda com Freud, Lacan afasta o ímpeto do
instinto, porque o primeiro nunca pode ser satisfeito e permanece como uma
espécie de rota para o sujeito seguir até à consolidação do desejo em redor de
um dado objeto. Os ímpetos, todos eles de cariz sexual, constituem as bases
culturais e simbólicas do desejo, sendo composto pela pressão, pelo fim, pela
fonte e pelo objeto, o circuito de condução dos próprios ímpetos. A linguística
volta a ser importada e a trazer três vozes na estruturação do circuito, havendo
a voz ativa (o ver), a reflexiva (o ver a si mesmo), e a passiva (ser visto). Apesar
da presença desta última, o ímpeto é praticamente todo ele ativo, sendo o circuito
a única via disponível de ir para além do princípio do mero prazer. Contudo,
Lacan volta a divergir de Freud em pontos cruciais, defendendo que ímpetos
incompletos não conseguem obter uma organização consolidada, sendo que a
sua parcialidade concerne somente uma parte da impulsão sexual. Desta forma,
representam apenas aquilo a que se chama de “jouissance” (fruição).
Nesses ímpetos parciais ou incompletos, o gaulês distingue quatro tipos,
sendo eles o oral (a zona erógena são os lábios, em relação aos seios), o anal (o
ânus, em relação ao expelir das fezes), o escópico (os olhos, em relação ao que
vê) e o invocatório (os ouvidos, em relação ao que é dito). Enquanto os primeiros
dois derivam daquilo que se definiu como procura, os restantes provêm do
desejo. O dualismo que se afasta do psicanalista austríaco (ímpetos sexuais e
ímpetos do ego ligados à sobrevivência) mas também é apologista daquilo que
é uma ligação entre o imaginário e o simbólico. Lacan conclui com a noção de
que todas as pulsões são de morte, por serem excessivas, destrutivas e
repetitivas.
32
2.10 Outras considerações
O psicanalista teceu algumas teorias quanto a várias temáticas, entre elas
sobre o teor da verdade. Desta feita, Lacan olhou para esta como algo que se
vai descobrindo através das estruturas e da devida identificação e orientação do
objeto em estudo. Nisto, acaba por beber daquilo que é a noção de paradigma
proposta pelo norte-americano Thomas Kuhn, e acredita na existência de uma
constelação de valores, técnicas e crenças que se encontra no seio de cada
comunidade. Este corpo permite uma aproximação ao que é a verdade,
questionando e visualizando a verosimilhança dos diferentes símbolos.
No plano meramente clínico, apresentou a perspetiva de “sessão de
psicanálise de tempo variável”, flexibilizando consoante os diferentes casos que
lhe passavam pelas mãos e abdicando do previamente fixo de cinquenta minutos
(acredita-se que foi uma duração estipulada pelo próprio Freud). O fundamento
dessa alteração consistiu em sessões que se alargavam e que eram
interrompidas em momentos fulcrais da própria análise do psicanalista. Isso
também lhe permitiu analisar mais casos, mais do que quaisquer seguidores da
doutrina freudiana.
No que toca ao seu volume escrito, este foi compilado em 1966 pelo
francês Jacques-Alain Miller e a própria obra (“Écrits“) tornou-se numa das cem
mais influentes do século XX, para o jornal Le Monde. Nos anos 70, a mesma
obra foi dividida em dois volumes e parte dela foi traduzida para o inglês –
por Alan Sheridan – e publicada em 1977. Para além disso, também no jornal
académico “Lacanian Ink” foram divulgados alguns dos postulados do francês,
em plena esfera académica norte-americana. O registo é sobejamente diferente
daquele que foi empreendido nos seminários e nas palestras dadas, gerando até
alguma polémica. Para além disso, torna-se algo impercetível pelas constantes
referências a Hegel e ao também filósofo mas franco-russo Alexandre
Kojève (estudou a relação entre o mestre e o escravo, com ligações ao estado
do espelho e o papel do outro neste), e por uma prosa que se fecha muito nos
conceitos científicos e psicoanalíticos.
Apesar do extenso trabalho de Lacan, interessa realçar que parte do seu
contributo é mais denotado nas artes e nas humanidades, nomeadamente na
33
literatura e na filosofia (o próprio papel do Outro é amiúde explorado nesta área
do saber). Em termos de legados institucionais, destacam-se a escola de
Ljubliana, na Eslovénia, e algumas sociedades de psicanálise que incorporam
as suas ideias, tanto no Reino Unido como na própria América do Norte.
34
(1896 – 1971)
36
posteriores frustrações e fracassos relativos por parte da mãe, sem perder sua
vivacidade.
4.0 Holding
37
Para Winnicott a sustentação ou holding protege contra a afronta
fisiológica. O holding deve levar em consideração a sensibilidade epidérmica da
criança – tato, temperatura, sensibilidade auditiva, sensibilidade visual,
sensibilidade às quedas – assim como o fato de que a criança desconhece a
existência de tudo o que não seja ela própria. Inclui toda a rotina de cuidados ao
longo do dia e da noite. A sustentação compreende, em especial, o fato físico de
sustentar a criança nos braços, e que constitui uma forma de amar. A mãe
funciona como um ego auxiliar.
38
3.2 Self Verdadeiro e Falso Self
Nos casos mais próximos da saúde, o self falso age como uma defesa
do verdadeiro, a quem protege sem substituir. Nos casos mais graves, o self
39
falso substitui o real e o indivíduo. Winnicott diz que na saúde o self falso se
encontra representado por toda a organização da atitude social cortês e bem
educada. Produziu-se um aumento da capacidade do individuo para renunciar a
onipotência e ao processo primário, em geral, ganhando assim um lugar na
sociedade que jamais se pode conseguir manter mediante unicamente o self
verdadeiro. O falso self, especialmente quando se encontra no extremo mais
patológico da escala, é acompanhado geralmente por uma sensação subjetiva
de vazio, futilidade e irrealidade.
40
ilusória, a mãe deve idealmente, ir desiludindo a criança, pouco a pouco, fazendo
com que o bebê adquira a noção de que o seio é uma “possessão”, no sentido
de um objeto, mas que não é ele (“pertence-me, mas não sou eu”).
41
A ligação e o afastamento do objeto transicional deixa em cada sujeito
uma marca: fica na mente do indivíduo um espaço que, assim como o objeto
transicional, é intermediário entre o interno e o externo. É nesse espaço que se
produz muitas das atividades criativas do homem, como as artes, a musica, etc.
que “representam” o mundo interno para o exterior e, em certo sentido,
“representa” a realidade para si mesmo.
42
outro lado há um tipo de experiência que tende a reunir a personalidade em um
todo, a partir de dentro (a atividade mental do bebê). Chega um período em que
a criança, graças às experiências citadas, consegue reunir os núcleos do seu
ego, adquirindo a noção de que ela é diferente do mundo que a rodeia. Esse
momento de diferenciação entre “eu” e “não-eu” pode ser perigoso para o bebê,
pois o exterior pode ser sentido como perseguidor e ameaçador. Essas ameaças
são neutralizadas, dentro do desenvolvimento sadio, pela existência do cuidado
amoroso por parte da mãe.
43
3.6 Adaptação à Realidade
45
Depois de a criança ter alcançado a diferenciação entre ela e o meio
circundante e se adaptar em certa medida à realidade, pela absorção de pautas
objetivas dela, que modificam suas fantasia, o último passo que deve dar é
integrar em um todo as diferentes imagens que tem de sua mãe e do mundo.
46
(1882 – 1960)
47
idade. Aos 45 conheceu e casou-se com Libussa, também judia, de origem
eslovaca, 24 anos mais moça que ele, descrita por Melanie em sua autobiografia
como uma jovem culta, espirituosa e interessante. Depois do casamento, o casal
estabeleceu-se em Deutsch-Kreutz, Áustria. Em algum momento no período
entre o nascimento das duas últimas filhas, a família mudou-se para Viena, na
esperança de melhorar sua difícil situação financeira. Em Viena, o Dr. Reizes
trabalhou como assistente de um dentista e, para complementar sua renda,
como consultor médico de um teatro de variedades.
O casal teve quatro filhos: Emilie (1876), Emanuel (1877), Sidonie (1878)
e Melanie Reizes. Dentro da família, Emilie era a predileta do pai, Sidonie a mais
bonita e Emanuel uma espécie de gênio. E embora a mãe tivesse em Melanie
sua filha preferida, confessou-lhe que ela não fora desejada. Libussa
amamentou os três primeiros filhos, mas Melanie teve uma ama-de-leite que,
segundo ela, “me amamentava a qualquer hora que eu pedisse”. Ainda segundo
Melanie Klein em sua autobiografia, “nessa época, Trub King ainda não fizera
sua obra devastadora”, referindo-se ao pediatra neozelandês que defendia um
regime alimentar severo para os bebês. Com relação ao pai ela diz:_”Não me
lembro de alguma vez ele ter brincado comigo. Doía-me pensar que meu pai era
capaz de afirmar com toda franqueza e sem consideração por meus sentimentos
que preferia minha irmã mais velha, sua primogênita.” Desde cedo Melanie exibia
uma notável autoconfiança. Na velhice dizia às pessoas que “não era tímida em
absoluto” e, de fato, nunca se deixara passar despercebida durante toda a sua
tumultuada e importante vida.
48
a doença reumática, tuberculose e depressão. No final da vida tornou-se viciado
em drogas. Emmanuel tinha para com suas irmãs um relacionamento com
matizes incestuosos e, para com a família em geral, um vínculo marcado pelo
êxito em provocar culpa e vitimizar-se. Para Melanie, ele teria sido um pai
substituto, um companheiro íntimo e um amante imaginário e ninguém em sua
vida jamais conseguiu substituí-lo. No período compreendido entre 1887 e 1902,
Melanie Klein sofreu grandes perdas: a irmã Sidonie, em 1887, de tuberculose;
o pai, em 1900, de pneumonia; o irmão Emmanuel, em 1902, de cardiopatia.
Em 1903, logo após completar 21 anos, ela casou-se com Arthur Steven
Klein, engenheiro químico de caráter sombrio e tirânico de quem estava noiva
desde 1899. Arthur era seu primo em segundo grau por parte de mãe e amigo
de Emmanuel. Sua família residia em Rosemberg, na parte eslovaca da Hungria.
Nada se sabe sobre a cerimônia. Em um texto intitulado “Chamado de Vida”, que
seus biógrafos consideram autobiográfico, Melanie Klein escreve sobre o choque
vivido por uma moça, Anna, na noite de núpcias: “E, portanto, tem de ser assim,
a maternidade tem que começar com repugnância?” O casal passou a lua-de-
mel em Zurique e se estabeleceu na cidade do noivo. Dois meses depois do
casamento, Melanie descobriu que estava grávida e em 19 e janeiro de 1904
nasceu a primeira filha, Melitta. Melanie teria dito que estava gostando de ser
mãe, mas sua autobiografia contém o seguinte trecho: “Lancei-me o máximo que
pude no papel de mãe e no cuidado de minha filha. Sabia o tempo todo que não
estava feliz, mas não havia saída”. Em 2 de março de 1907 nasceu Hans, o
segundo filho, cuja gravidez foi marcada por um estado de profunda depressão.
Em 1908 os Klein mudaram-se de Rosemberg para Krappitz; no ano seguinte
para Hermanetz e em 1910 para Budapeste, o que possibilitou a convivência de
Melanie com a parte da família do marido estabelecida naquela cidade, com a
qual manteria uma sólida ligação afetiva.
49
relacionamento estreito e afetuoso, porém marcado por atitudes e sentimentos
ambivalentes: amor e ódio, apoio e intrusão, liberdade e controle, dependência
e autonomia.
50
o principal centro de psicanálise da época, seria dizimada pouco tempo depois
por razões políticas. A queda do Império Austro-Húngaro foi seguida por um
regime comunista de duração breve que, por sua vez, deu lugar a um regime
branco, o Terror Branco, francamente anti-semita, o que teve como
consequência a expulsão dos psicanalistas judeus da Sociedade e sua
dissolução. Assim, em 1919, Melanie Klein saiu de Budapeste com os filhos para
estabelecer-se por um curto período em Rosemberg com os sogros. Seu marido,
do qual se divorciaria em 1923, mudou-se por razões profissionais para a Suécia,
onde permaneceu até 1937, novamente casado e depois divorciado. Morreu na
Suíça em 1939.
51
célebre tradutor e editor de texto da Standard Edition das Obras de Freud e um
dos animadores do famoso grupo londrino de Bloomsbury, Ernest Jones a
convidou a proferir palestras em Londres. Para essa cidade mudou-se no ano
seguinte e ali viveu até o fim de sua vida, desenvolveu-se plenamente no âmbito
profissional e fundou uma escola frutífera até os dias atuais. Em 1927, tornou-se
membro da Sociedade Psicanalítica Britânica.
A mudança da família Freud de Viena para Londres, no final dos anos 30,
em virtude da Segunda Grande Guerra, faria com que a Sociedade Britânica se
dividisse ideologicamente em dois grandes grupos: o dos adeptos de Melanie
Klein, que tinha à frente Susan Isaacs, Paula Heimann e Joan Rivière, e o dos
adeptos do freudismo clássico, entre os quais figurava Melitta. Um terceiro grupo,
composto por analistas independentes, não alinhados com nenhum dos dois
anteriores, se formaria depois, num período marcado pela polêmica. Apesar da
contundência dos debates, Klein e seu grupo permaneceram na Sociedade
Britânica e na Associação Internacional de Psicanálise (IPA). Não foram
expulsos, como viria a acontecer com Lacan na década seguinte, nem abriram
uma dissidência contra Freud, como haviam feito Adler e Jung anteriormente.
Ao longo de sua obra, Melanie Klein formulou uma teoria que possibilitou
a compreensão da vida mental primitiva e abriu novos horizontes dentro do
campo da psicanálise. Para Julia Kristeva, que dedicou à psicanalista o segundo
volume da coleção “O Gênio Feminino”, a clínica da infância, da psicose e do
autismo, em que predominam nomes como Bion, Winnicott e Frances Tustin,
seria inconcebível sem a inovação kleiniana. Melanie Klein seria em seu
entender a refundadora mais ousada da psicanálise moderna. Segundo Luís
Cláudio Figueiredo e Elisa Maria de Ulhôa Cintra, “se perguntássemos aos
estudiosos da área qual teria sido, depois de Freud (1856-1939) e ultrapassando-
o, o autor que mais contribuiu para que se compreenda o funcionamento psíquico
inconsciente, não haveria dúvida: Melanie Klein, seguida de seus discípulos
Wilfred Bion (1897-1979) e Donald Winnicott (1896-1971). A estranheza das
formações do inconsciente e das primeiras experiências desafia todas as
medidas de bom senso. Melanie Klein ensinou a por de lado a razão e o senso
de medida para compreender o caráter autônomo e demoníaco das fantasias
inconscientes e angústias.”
Em sua clínica, Klein (Mezan, 2002) percebe que as crianças têm uma
imagem de mãe dotada de uma imensa malvadeza, o que, na maioria das vezes,
não corresponde à mãe verdadeira. Daí surge o conceito de fantasia kleiniano,
a partir da hipótese de que as crianças estão lidando com uma deformação da
mãe real, a qual é criada na mente do infante de modo fantasmático. Melanie
Klein apoiou toda sua teoria na ênfase das fantasias inconscientes, presentes
nas relações objetais primitivas.
55
os quais agem na vida desde o nascimento. Elas apresentam componentes
somáticos e psíquicos, dando origem a processos pré–conscientes e
conscientes, e acabam por determinar, desta forma, a personalidade. Pode–se
concluir que as fantasias são a forma de funcionamento mental primária, de
extrema importância neste período inicial da vida.
É possível a distinção entre dois conceitos de fantasia: phantasy, com ph, a qual
corresponde à atividade de fantasia inconsciente; e fantasy com f, a qual
corresponde à atividade fantasmática consciente (Isaacs, 1986). A fantasia pode
ser definida como a representante psíquica do instinto e expressa a realidade de
sua fonte, interna e subjetiva, embora esteja ligada à realidade objetiva. Ela se
transforma de acordo com o desenvolvimento, no decorrer das experiências
corporais, sendo ampliada e elaborada, influenciando e sendo influenciada pelo
ego em maturação.
57
No início da vida, o princípio do prazer reina em absoluto na mente da
criança. A partir do momento em que ela se torna capaz de estabelecer uma
relação entre seus desejos e fantasias e a realidade, é estabelecido, então, o
princípio de realidade. O sentimento de onipotência, oriundo dos impulsos do id
de tudo desejar a qualquer tempo e circunstância, perde força para a entrada do
compromisso com a realidade, a qual impõe restrições a certas fantasias e
desejos. Desta forma, tudo o que é prazeroso, mesmo que seja fantasiado, está
vinculado ao princípio do prazer, ao passo que o que é relacionado ao
pensamento racional, concreto, que pode ser cientificamente comprovado, está
vinculado ao princípio de realidade.
De acordo com Klein (Leader, 2001), a fantasia pode ser considerada uma
estrutura através da qual o sujeito se relaciona com os objetos exteriores.
Durante o período inicial da vida, a mente infantil funciona basicamente através
de fantasia inconsciente, a qual suplementa o pensamento racional enquanto
este não estiver desenvolvido. Este funcionamento mental provoca ansiedades
e angústias diversas, as quais estão relacionadas ao caráter destas fantasias
primitivas, dotadas de conteúdos delirantes (Riviere, 1986a).
58
são dirigidos ao seio mau, preservando o bondoso. O seio mau é então sentido,
nas fantasias infantis, como se estivesse dilacerado, reduzido a fragmentos;
enquanto o bom permanece íntegro, completo.
59
A introjeção corresponde ao mecanismo primitivo do bebê de introjetar
todos os objetos — começando pelo seio materno, seguido pelo polegar, por
brinquedos, etc. A este seio é atribuído poderes sobrenaturais de onipotência
tanto para o bem quanto para o mal, já que ele é capaz tanto de uma gratificação
infinita, quanto de uma frustração imensa (quando não satisfaz a criança no
momento em que ela deseja). Quando o seio é visto como gratificador, todos os
sentimentos bons são associados a ele; da mesma forma, quando é visto como
mau é o depositário de todos os sentimentos destrutivos. Aos posteriores objetos
que também são sugados pela criança são atribuídos os mesmos poderes do
seio, uma vez que, em suas fantasias imaginativas, estes objetos o substituem.
60
entendidos como armas perigosas, para com o objeto externo persecutório –
seio da mãe, nos primeiros meses de vida.
62
deixada no desamparo, devido à destruição anterior da genitora realizada por
ela própria. Estas fantasias reparadoras são extremamente importantes para o
desenvolvimento bem sucedido da próxima fase, a genital, a qual prevalecerá
durante o resto da vida num desenvolvimento saudável.
63
sadismo anterior. Os ataques sádicos caminham, então, para o
desaparecimento.
64
realidade, o caráter de suas fantasias sofre contínuas alterações, as quais
proporcionam uma adaptação ao seu contexto em contínua mudança.
67
mencionado o caso do menino Fritz, cuja fobia era um temor a árvores, ao qual
correspondia uma fantasia subjacente: a equivalência do tronco de árvore ao
pênis do pai. Fixações artísticas e intelectuais, ou até mesmo alguns tipos de
neuroses, têm como fator etiológico, na maioria das vezes, fantasias acerca da
cena primária que não foram descarregadas devidamente (Klein, 1923/1948).
68
Melanie Klein ressalta a importância da análise ao dizer que o trabalho
analítico é uma importante via de acesso à vida fantasmática (Klein, 1927b/1948)
e que está dominado, desde o primeiro momento, pelas fantasias inconscientes,
de forma a possibilitar a experimentação das mesmas pelas das crianças,
através de seus jogos.
69
5.0 ANNA FREUD
Nascida no dia 03 de dezembro de 1895, Anna era a mais jovem dos seis
filhos de Sigmund e Martha Freud. Anna não fora desejada nem por sua mãe,
nem por seu pai, que decidiu, depois de seu nascimento, permanecer casto por
não poder utilizar contraceptivos. Ela era uma criança viva com uma reputação
para traquinagens. Freud escreveu ao amigo dele Fliess em 1899: “Anna está
completamente bonita por sua desobediência....” Quando a sua irmã rival a ela
se casou em 1913, a Anna escreveu ao pai dela. “Eu estou alegre que Sophie
se casa, porque a disputa interminável entre nós era horrível para mim.” Anna
teve de lutar para ser reconhecida pelas qualidades de que dispunha: coragem,
tenacidade e o gosto pelas coisas do espírito. Não tendo nem a beleza de sua
70
irmã Sophie Halberstadt nem a elegância de Mathilde Hollitscher, sentia-se em
estado de inferioridade na família, na qual se esperava que só os herdeiros
masculinos fossem talentosos para os estudos.
Rivalizando desde a infância com sua tia Minna Bernays, passou a adolescência
invejando a doutrina que a privava de seu pai adorado. Na idade adulta, para
aproximar-se dele, decidiu entrar para o círculo de seus discípulos. Mas como
estava impedida de ir para universidade estudar medicina, tornou-se professora
primária. Exerceria essa profissão durante toda a Primeira Guerra Mundial, de
1914 a 1920 exatamente.
73
personalidade de Anna Freud e por sua concepção de uma pedagogia
psicanalítica. Entre outras coisas, embora isso tenha sido negado depois, a
escola consistia em uma experiência progressiva e elitista de educação de
crianças [cujos pais] faziam análise. Uma experiência privilegiada, muito
promissora, inspirada e animada por um ideal de humanidade mais puro e mais
sincero do que todos os outros estabelecimentos que freqüentei. Ali, difundia-se
um autêntico sentido de comunidade.”
76
conservou todavia muitos amigos de outrora, que a admiravam por seu
devotamento, sua generosidade e seu senso de fidelidade, e com os quais podia
evocar saudosamente o antigo esplendor vienense. Entre eles, Ernst Kris,
Marianne Kris, Heinz Hartmann, René Spitz, Richard Sterba, etc. Isolada em
Londres, mas instalada na magnífica mansão de Maresfield Gardens 20, que se
tornaria o Freud Museum, prosseguiu com suas atividades em favor da infância,
criando as Hampstead Nurseries, sempre com a ajuda de Dorothy Burlingham.
Em 1952, fundou a Hampstead Child Therapy Clinic, centro de terapia e
pesquisas psicanalíticas, onde aplicou suas teorias em estreita colaboração com
os pais das crianças atendiada.
Guardiã da herança freudiana, tratou não só da publicação das obras do pai e
de seus arquivos, como também dos membros da família, principalmente os
sobrinhos. Durante os anos 1970, continuou a desempenhar o papel de mãe
para os filhos de sua amiga Dorothy. Dois deles tiveram um fim dramático: Bob
morreu de uma crise de asma depois de atravessar vários episódios de
depressão, e Mabbie acabou suicidando-se, ingerindo uma alta dose de
medicamentos.
80
modelos teóricos que expandem ou que modificam essas abordagens originais
(FELICE, 2003).
Ainda em Oliveira (2007), Klein em sua clínica, percebe que as crianças têm uma
imagem de mãe dotada de uma imensa maldade, o que, na maioria das vezes,
não corresponde à mãe real. Daí surgiu o conceito de fantasia kleiniano, a partir
da hipótese de que as crianças estão lidando com uma deformação da mãe
verdadeira, a qual é criada em sua mente de maneira fantasmática. Melanie
Klein fundamentou toda sua teoria evidenciando as fantasias inconscientes,
presentes nas relações objetais primitivas.
Segundo Silva e Santos (2008), Ana Freud afirma que a análise do adulto
tropeça com dificuldades maiores já que diz respeito a objetos amorosos mais
arcaicos e mais importantes do individuo (os seus pais, que introjetou por meio
da identificação e cuja lembrança é protegida pela piedade filial). Enquanto que
nos casos de crianças os conflitos envolvem pessoas vivas que existem no
mundo exterior e que ainda não se encontram estabelecidas na memória. Anna
82
Freud dizia que o analista de crianças além do treinamento analítico
propriamente dito, também deveria possuir um segundo componente: o
conhecimento pedagógico.
85
experiência de controle de objetos reais cria um espaço potencial entre a mãe e
o bebê, no qual a brincadeira começa (FELICE, 2003).
86
Melanie Klein aborda a psicanálise para as crianças através da técnica
do brincar, que até então não tinha sido estudada. Como ela mesma cita, teve
um insight a respeito do desenvolvimento inicial e a interpretação que se pode
obter através de observações do brincar das crianças, influenciando também em
crianças mais velhas e adultos (CARMINATTI, 2005).
88
Anna Freud entendia o brincar como atividade expressiva e não simbólica
(pois o simbólico estava ligado ao reprimido) e Melanie Klein via o brincar como
alocução e destinado ao analista, pressupondo diferentes níveis de simbolização
conforme idade, nível de funcionamento mental, quantidade e qualidade das
angústias da criança (REGHELIN, 2008).
89
exclusiva aos processos internos, ao tratarmos a criança pela Psicanálise
devemos se necessário, encaminhar os pais a outro analista para entrevistas de
orientação (PRISZKULNIK, 1995).
6.0 – PSICANÁLISE
90
indiretamente por essas áreas, além de áreas como sociologia, educação, dentre
outras.
Assim, o que é e o que não é psicanálise acaba sendo uma dúvida, às vezes,
até para os próprios atuantes da área. O que é a psicanálise e até que ponto
pode se considerar os métodos psicanalíticos?
O próprio Freud passou por vários métodos, como o hipnotismo, para chegar
ao que hoje é considerado o método psicanalítico. Além disso, houve muitas
divergências entre os psicanalistas, contemporâneos a Freud ou posteriores a
ele.
91
Que é quando o paciente fala sobre si, sobre seus problemas e sobre a sua
vida. Essa é a base do método psicanalista. Que é um dos fatores que define o
que é e o que não é psicanálise.
92
é um processo demorado. Isso geralmente envolve de duas a cinco sessões por
semana durante vários anos.
93
• Sexualidade infantil – um modo de sexualidade que está presente na
infância, mas se prolonga, jamais sendo superada, por toda vida do
sujeito.
• A partir do livro Três ensaios – Sexualidade infantil deve ser tratada como
o conceito de sexualidade na psicanálise.
7.0 INSCONSCIENTE
95
trabalho como neurologista. Elas revelam tanto as características sensorialistas
como associacionistas de suas primeiras conceituações da percepção.
96
realização do desejo e o investimento total da percepção a partir da excitação da
necessidade é o caminho mais curto em direção à realização do desejo. A
fidelidade a uma suposta realidade externa sofre inevitáveis abalos. Um percurso
pelos textos posteriores de Freud, sugere, cada vez mais, que as percepções
são regidas pela dinâmica psíquica e não podem ser simples reflexo da realidade
externa.
98
exige, no entanto, uma verificação mais cuidadosa das preocupações e
intenções de Freud (Cf. Garcia-Roza, 1995; Hanns, 1996; Nicolaïdis, 1989).
99
Verifica-se aqui que a extremidade perceptiva caracteriza-se por sua
permeabilidade e que percepção e memória são funções que não podem ser
realizadas pelo mesmo sistema. Há então uma extremidade responsável pela
captação sensorial e a seguir, um sistema onde encontram-se os traços
mnêmicos (Erinnerungsspur). A novidade deste modelo e também sua
complicação, fica por conta da posição em que Freud coloca a consciência: na
extremidade oposta à da percepção. Entre o sistema mnêmico e a consciência
encontram-se os sistemas inconsciente, pré-consciente e por fim a extremidade
motora que é onde Freud situa a consciência.
100
de representações que se originaram de percepções e não mais de percepções
em si.
Não se trata mais de uma questão de saber se aquilo que foi percebido
(uma coisa) será ou não integrado ao ego, mas uma questão de saber se algo
que está no ego como representação pode ser redescoberto também na
percepção (realidade) É, como se pode notar, novamente uma questão sobre
o externo e o interno. O que é irreal, meramente uma representação e subjetivo
é apenas interno; o que é real está também lá fora. (p.375).
102
pode ser modificada por omissões ou alterada pela fusão de diferentes
elementos. (p.375).
Freud não pode ser mais claro: a reprodução de uma representação nem
sempre é uma repetição fiel. A representação é irreal, subjetiva e interna. O real
é o que é externo e pode ser apreendido pela percepção. Mas quais seriam os
diferentes elementos que por fusão modificariam a representação e impediriam
que ela fosse uma repetição fiel? Por que, muitas vezes, ocorrem omissões?
Freud não dá respostas a estas perguntas neste texto. Resta saber se Freud
acredita que o trabalho terapêutico da análise teria condições de transformar os
processos psíquicos a ponto de ser possível uma representação que seja uma
repetição fiel. Será que ele postula um psiquismo e uma apreensão da realidade
que em sua constituição traga já em si a impossibilidade de que as
representações sejam repetições fiéis, e aí as "distorções" perceptivas seriam
inevitáveis, ou ao contrário, as distorções não seriam uma condição inerente à
percepção e ao psiquismo e seriam portanto, de fato, distorções ? Talvez nos
casos de patologias mais severas as chamadas distorções perceptivas possam
ser distinguidas de uma representação consensual da realidade de forma mais
clara, mas o que dizer dos processos perceptivos da grande gama dos ditos
"normais"?
Freud, ainda neste texto, não parecia ter muitas dúvidas quando afirma
que "originalmente a existência da representação já é a garantia da realidade do
representado." (1925b, p.375). Conhecemos a ambigüidade de Freud com
relação a este tema, mesmo porque não é de todo incoerente com a teoria supor
representações de objetos irreais ou de processos puramente fantasiados. Mas
vale lembrar que é o mesmo Freud que afirma que toda fantasia se apoia sobre
um grão de realidade. Estas oposições entre interno e externo, entre real e
fantasiado estão no centro de toda discussão metapsicológica. Em muitos
momentos Freud parece ver- se obrigado a tomar um partido, em outros ele
parece aceitar mais tranqüilamente a ambigüidade imposta pelos fatos.
103
teríamos apenas percepções que geram representações, mas também
representações que "forçariam" a necessidade de percepções:
104
O tema da percepção está diretamente ligado à totalidade da investigação
freudiana, não só no viés mais especulativo da teoria, no questionamento dos
traços originais que constituiriam o psiquismo, mas fundamentalmente na própria
trajetória da teoria com relação às noções de realidade externa e realidade
psíquica. Mesmo que se pressuponha uma autonomia quase absoluta das
representações psíquicas com relação à realidade exterior (situação que faria a
psicanálise se aproximar perigosamente de uma posição solipcista) não há como
recusar à percepção seu lugar constante no próprio cotidiano da prática
psicanalítica, ou seja, no trabalho clínico. A situação clínica só se torna possível
porque há percepções de parte a parte. Poderíamos dizer, basicamente
percepções auditivas, mas sabemos que também estão presentes as visuais, as
olfativas e as enigmáticas "percepções internas" ou endopsíquicas.
106
através das experiências adquiridas, que por sua vez acabam configurando essa
forma particular de percepção do mundo.
Após ter feito sua própria infância coincidir com o passado clássico, o que
para ele era muito fácil, houve uma perfeita analogia entre o soterramento de
Pompéia, que fez desaparecer mas ao mesmo tempo preservou o passado, e
a repressão, da qual tinha conhecimento através do que poderíamos chamar de
percepção "endopsíquica" ["endopsychische" Wahrnehmung]. (1907, p.49).
... a repressão não se efetua por meio da amnésia, mas sim através da ruptura
de conexões causais devidas a uma retirada de afeto [Affektenziehung]. Essas
conexões reprimidas parecem persistir em algum tipo de configuração muito
vaga (que eu, em outro lugar, comparei a uma percepção endopsíquica) sendo,
por um processo de projeção, assim transferidas para o mundo externo, onde
dão testemunho daquilo que foi apagado da consciência. (1909, p.90).
108
externo. Ocorre aqui, ao que parece, um processo de mútua constituição entre
percepção do que é externo e percepção do que é interno. Talvez, a própria
concepção de interno e externo precisa ser revista.
110
Consciência e percepção são, neste caso, praticamente sinônimos, já que
a consciência é entendida como a fase subjetiva de uma parte dos processos
físicos que se produzem nos atos perceptivos, inicialmente apenas de ordem
neurológica. No Projeto, Freud aproxima a percepção e a consciência em um
mesmo sistema (o sistema de neurônios w). Na Carta 52, no entanto,
apresentando a construção esquemática linear do aparelho psíquico, Freud
coloca em posições opostas W (percepção) e a consciência (Bws). A
consciência, neste esquema, surgiria depois dos registros perceptivos se ligarem
às representações-palavra do pré- consciente. Consciência e percepção
aparecem vinculadas mas esquematicamente separadas. Como se sabe, no
"Capítulo VII" de A Interpretação dos Sonhos, esta separação é mantida (até
Freud acrescentar, em 1919, que a consciência estaria também na extremidade
perceptiva do aparelho, formando assim a famosa equivalência P=Cs [W=Bw])
(Freud, 1900, p.517). Esta equivalência coloca como questão se percepção e
consciência estão em um mesmo lugar, ou se ocupam dois lugares. O curioso é
que Freud tenha insistido, com a nota de 1919, em igualar percepção e
consciência depois de tê-las separado. Assim, de acordo com a direção linear, o
estímulo que chega do exterior ao psiquismo pelo sistema percepção, segue seu
curso passando pelos registros mnemônicos e pelo pré-consciente até o sistema
consciência. Mas se a sensação consciente implica uma percepção, o sistema
percepção e a consciência deveriam ser igualados. Isto fica claro na explicação
do processo onírico, em que haveria a inversão dessa ordem linear do estado de
vigília. A possibilidade do sonho é dada pela conseqüente regressão do material
onírico originado no interior do aparelho, em direção à extremidade perceptiva.
Freud sugere que:
A única maneira pela qual podemos descrever o que acontece nos sonhos
alucinatórios é dizendo que a excitação se movimenta numa direção para
trás [ rückläufigen]. Em vez de ser transmitida na direção da extremidade motora
do aparelho, ela se movimenta no sentido da extremidade sensória e atinge
finalmente o sistema das percepções. [System der Wahrnehmungen]. (1900,
p.518).
Em um trecho posterior do "Cap. VII" Freud procura tornar mais clara esta
dualidade da consciência: "Através das qualidades deste sistema, a consciência,
que antes era apenas um órgão sensorial para a percepção, torna-se também
um órgão sensorial para a porção de nossos processos de pensamento." (1900,
p.547). Em outra passagem ele procura evidenciar que uma percepção pode vir
a ser algo consciente: "Uma vez que um sonho tenha se tornado uma percepção,
ele se acha em condições de excitar a consciência, através das qualidades agora
adquiridas." (1900, p.547).
113
Freud reconhece que a própria possibilidade do pensar é dada pela
percepção, já que é por meio desta que podem existir no psiquismo
representações-coisa ou representações-palavra a partir dos traços de imagens
sensoriais. Os resíduos perceptivos originais, entretanto, não podem se tornar
conscientes por conta própria. Por estarem distantes das regiões de
processamento dos pensamentos, os traços sensoriais já não retêm as
qualidades desses resíduos, e para que retenham as primeiras qualidades,
precisam do reforço de novas qualidades. Neste sentido, é como se a percepção
de algo fosse reinventada a cada momento durante o seu processamento
psíquico, e o que aparece na consciência possui, ao mesmo tempo, uma
qualidade própria, diferente do que foi originalmente marcado, e também algo da
origem. Vale lembrar que os traços de memória não se modificam, são presentes
do modo como foram marcados; o que se transforma é a qualidade da
representação resultante.
... o fato de uma coisa se tornar consciente ainda não coincide inteiramente com
o fato dela pertencer a um sistema, pois aprendemos que é possível estarmos
conscientes de imagens sensoriais mnêmicas às quais de forma alguma
podemos permitir uma localização psíquica nos sistemas Cs. ou P [System Bw
oder W ]. (1917, p.188).
É desta forma que Freud propõe que o investimento adequado sobre algo
que está no Ics. ou Pcs., torna-o consciente, mas não faz com que pertença
imediatamente ao sistema Cs. Isto coincide com as primeiras considerações
teóricas de Freud quanto ao fato do sistema P e Cs não poder armazenar
informação. Mas e quanto à consciência das informações que nos chegam
diretamente do mundo? Necessariamente são percepções, e assim passam pelo
sistema Cs. Se para os elementos presentes internamente existe a possibilidade
de consciência, o mesmo deve ocorrer também com os elementos externos.
Quais seriam essas condições, ou melhor, como ocorre o controle sobre elas?
114
No Projeto de 1895, Freud sugere que para um processo de pensamento
ser consciente, ele deveria se comportar como uma percepção externa e assim
ser uma percepção. O afeto, por sua vez, é consciente ou inconsciente. Em
termos metapsicológicos, se um afeto é inconsciente e não está ligado a uma
representação, ele não poderia existir no Pcs e, portanto, também não poderia
estar no Cs; resta, assim, o Ics. Neste caso, o afeto está reprimido ou impedido
de se desenvolver. Mas e quando o afeto é transformado e mesmo assim
permanece em estado latente? Neste caso, poderíamos pensar que ele não
pode ser identificado como um afeto reprimido, pois a transformação já implicaria
em algum grau de liberdade. É importante lembrar que os afetos ligados às
representações podem existir no Pcs. Muitas dessas questões serão
respondidas com os artigos da chamada segunda tópica.
115
Com estes novos recursos, Freud já pode responder à questão sobre a
possibilidade de consciência dos estímulos externos.
somente algo que já foi uma percepção Cs. [bw Wahrnehmung] pode tornar-se
consciente, e qualquer coisa, que não os sentimentos, proveniente de dentro que
procure tornar-se consciente, deve tentar transformar-se em percepções
externas. Isto se torna possível mediante os traços mnêmicos. (1923, p.289).
117
do organismo, não precisa necessariamente ter uma origem a partir de P./Cs.,
mas para surgir como consciência deve necessariamente passar por esse
sistema. A percepção interna dos processos de pensamento tem vínculos com
as percepções externas, mas há elementos gerados que não fazem parte de
algo que foi originalmente marcado como memória de um acontecimento, como
o que se entende por representação.
Bem diferentes são as percepções internas; estas, diz Freud, são 'mais
primárias, mais elementares' do que as percepções externas. Uma consciência
aguda ou lúcida não lhes é necessária para serem sentidas. Essas percepções
se manifestam como uma força condutora, sem que o ego seja capaz de notar
sua ação. Elas vão chegar à consciência relegando o pré-consciente. Seu
vínculo com a linguagem, quando existe, é, no limite, contingente. (p.61).
118
interna. Além disso, as origens do próprio ego remontam a épocas ou estados
em que não só o psiquismo, mas todo o corpo está implicado.
119
fenômeno da consciência"; ou seja, que a consciência torna-se uma qualidade
do sistema P. (p.351).
120
8.0 ID, EGO E SUPEREGO
8.1 Id
121
considerar as circunstâncias da realidade. Assim, o id tem a função de
descarregar as tensões biológicas, regido pelo “princípio do prazer”
8.2 Ego
8.3 Superego
Segundo Freud, nem tudo que nos ocorre é agradável ao nosso consciente
e o nosso ego pode considerar uma série de ocorrências como ameaçadoras à
sua integridade, ao seu bem-estar. Nesse sentido diante das exigências das
outras instâncias psíquicas – Id, que é nosso lado mais instintivo e do superego,
que representa nossos valores morais e regras internalizadas – o ego deseja
proteger-se para garantir o bem estar psicológico do sujeito frente a esses
conteúdos indesejados.
123
9.4 Compensação
9.5 Negação
Exemplo: diante do término de um namoro, o sujeito pode dizer “Está tudo bem.
Eu nunca gostei dele (a) mesmo. Estou ótimo (a)!”
9.1 Regressão
9.6 Identificação
Exemplo: alguém que não pode ter filhos apega-se aos bichinhos de estimação.
9.5 Racionalização
ocorre uma inversão do desejo real. A pessoa tenta de forma lógica explicar os
acontecimentos, mas tudo isso é uma forma de disfarçar os verdadeiros desejos,
que estão ocultos.
126
fundamental para a compreensão de todas as outras formulações que compõem
o conjunto de seu pensamento.
127
84). Não sendo o ego o fator antissexual almejado, a teoria das pulsões corre o
risco de perder a dualidade essencial entre duas forças opostas.
O último dualismo pulsional proposto por ele, entre Eros e pulsão de morte
(Freud, 1920/2006), trouxe inúmeras interrogações, tornando-se um dos pontos
mais controversos de todo o seu percurso. A libido, energia da pulsão sexual,
incorporada ao conjunto das pulsões de vida (Eros), teria a função de tornar a
pulsão de morte inofensiva (Freud, 1924/2007). Diante dessa perspectiva, a
sexualidade, no final da teoria freudiana, assume papel diferente da força
impetuosa, eminentemente perturbadora (Laplanche & Pontalis, 1967/1982) que
havia sido atribuída à pulsão sexual nos primeiros esboços da teoria das pulsões.
128
Nesse contexto, as contribuições de Jean Laplanche mostram-se
especialmente valiosas. O autor prioriza a questão da pulsão sexual em suas
abordagens, reafirmando a importância da magistral ampliação da sexualidade
que Freud inaugura. Exploraremos as contribuições desse autor, com a
finalidade de elaborar a seguinte questão: a sexualidade estaria ou não restrita
ao campo da ligação no âmbito psíquico?
129
Um dos pontos fundamentais da teoria de Laplanche é a distinção que
estabelece entre a gênese da sexualidade infantil e o desenvolvimento da
relação perceptivo-motora da criança. A emergência da sexualidade no ser
humano não se confunde aqui com as primeiras adaptações psicofisiológicas do
bebê. “Inicialmente, falar da criança é (...) falar de um indivíduo biopsíquico, e
seria aberrante a ideia de um bebê puro organismo, pura máquina, sobre o qual
viria se enxertar não sei o quê, uma alma, um psiquismo." (Laplanche,
1987/1992, p. 99).
Como afirma Jacques André (2008), "tal qual uma 'infecção', o sexual
contamina um corpo psíquico desprovido da resposta imunizadora adaptada" (p.
549). Do lado da criança, a princípio, há apenas o organismo com suas
montagens biológicas, pré-formadas, e do lado do adulto, há a implantação de
mensagens nesse organismo infantil – "(...) mensagens antes de tudo somáticas,
inseparáveis dos significantes gestuais, mímicos ou sonoros, que as
transportam" (Laplanche, 1993/1997, p. 14-15).
130
Ao criar um vínculo de ternura e apego com a criança, o adulto introduz nesta os
elementos que fazem emergir a pulsão. "É na interação da ternura que desliza,
que se insinua a ação inconsciente do outro, a face sexual inconsciente da
mensagem do outro" (Laplanche, 1993/1997, p. 60). A abertura perceptiva e
motora da criança à autoconservação permite a introdução desses elementos
sexuais. Esse é o sentido que a noção de apoio vem a adquirir na teoria de
Laplanche.
131
Em outras palavras, a sexualidade infantil não teria mecanismo endógeno
inato. Os termos implantação e enxerto, dentro desse contexto, não podem ser
mais precisos, posto que referidos a uma sexualidade que adviria por via
exógena, antes da maturação da sexualidade biológica. Segundo André (2012),
nesse fato reside a especificidade do ser humano, articulada justamente à
desqualificação que o campo do instinto sofre. O organismo do pequeno ser é
totalmente subvertido pela ação sedutora e inconsciente do outro, ponto de
partida para a emergência do sexual e do pulsional.
133
Na teoria da sedução generalizada, essa medida da exigência de trabalho
não é exercida diretamente pelas fontes somáticas do corpo, mas por protótipos
inconscientes. As mensagens enigmáticas emitidas pelo adulto, carregadas de
sentido e desejo, impactam o corpo-psiquismo infantil.
134
fonte, escreve Laplanche (1988): trata-se do "(...) impacto sobre o indivíduo e
sobre o ego da estimulação constante exercida, do interior, pelas
representações-coisa recalcada." (p. 80).
135
O trabalho de tradução remodela totalmente a mensagem. Reside aí a
essência da ideia de metabolização. Os conteúdos excitatórios, implantados na
criança, precisam ser metabolizados, sendo o inconsciente o resultado dos
restos desse processo de metabolização.
136
Na história do pensamento freudiano, distinguem-se duas teorias das
pulsões. A primeira, marcada pela dualidade entre pulsão sexual e pulsão de
autoconservação, e a segunda, marcada pela dualidade entre pulsão de vida e
pulsão de morte. A pulsão sexual é o elemento comum entre essas duas
formulações. Se, na primeira teoria das pulsões, a fonte da pulsão sexual
corresponde às excitações sexuais que brotam de diferentes zonas erógenas,
na segunda teoria, a pulsão sexual – parte integrante do conjunto das pulsões
de vida (Eros) – é uma força inerente ao organismo, que encontra uma primeira
expressão psíquica no id, a sede das pulsões.
137
infantil cujas manifestações perversas são constantemente tematizadas como
ameaçadoras para a estabilidade do ego.
143
Dessa forma, baseando-se nos três tempos, Freud descreveu sua teoria
apontando as possíveis consequências de um complexo de Édipo mal resolvido.
144
11.2.1 Funções do complexo de Édipo
Até agora, falamos somente dos meninos. No entanto, Freud não deixou de
lado esse período crítico na vida das mulheres e desenvolveu o complexo de
Édipo invertido, conhecido popularmente como complexo de Electra — termo
desenvolvido por Carl Jung, um grande estudioso de Psiquiatria, Psicologia e
Psicanálise — ou complexo de Édipo feminino.
145
O funcionamento é igual ao do de Édipo, basta inverter os papéis. Nesse
sentido, a menina reconhece seu pai como objeto de desejo e se identifica com
a mãe durante o terceiro tempo, consolidando sua feminilidade.
146
REFERÊNCIA
- http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-
51772006000200007
- https://www.comunidadeculturaearte.com/quem-foi-o-psicanalista-jacques-lacan/
- https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/winnicott-principais-conceitos
- 1964: A criança e seu mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982.
- http://psicanalisekleiniana.vilabol.uol.com.br/biografia.html
- https://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0212.pdf
- http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
432X2007000200005
- http://abrafp.blogspot.com/2009/11/biografia-de-anna-freud.html
- http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65641999000100003
147
Curso de Capacitação e Aperfeiçoamento
em Psicanálise
https://bit.ly/2XCYFUJ
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