Cap 4

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 18

c a p í t u lo 4

c a p í t u lo 4
Capítulo 4
O quarto capítulo tem por objetivo apresentar a diversida-
de e aspectos biológicos dos principais grupos de organismos
eucariontes fotossintetizantes com cloroplastos envoltos por
duas membranas. Este está dividido em dois tópicos relativos
às algas verdes e vermelhas, grupos importantes na composi-
ção e funcionamento dos ambientes continentais e marinhos.
Capítulo 4 53

4.1 Filo Rhodophyta


As algas vermelhas são particularmen-
te abundantes em águas tropicais e quentes,
embora muitas sejam encontradas nas regi-
ões mais frias do mundo. Existem de 4000 a
6000 espécies conhecidas, agrupadas em 680
ou mais gêneros de macroalgas de morfologia
diversa, sendo poucos os representantes orga-
nizados em filamentos microscópicos ou uni-
Figura 4.1 – Faixa de Cyanidium (verde) crescendo
nas águas termais ácidas do Parque Yellowstone,
celulares - como Cyanidium L. Geitler, um dos
Estados Unidos (http://image56.webshots. únicos organismos capaz de crescer em fontes
com/156/4/75/63/451947563HfXaII_fs.jpg). termais ácidas (Figura 4.1).
A maioria das rodofíceas são algas mari-
nhas macroscópicas, estruturalmente comple-
Características Gerais xas, embora existam alguns poucos represen-
Habitat: aquáticos (principalmente marinhos, tantes de água doce. Normalmente, crescem
mas também encontrados na água doce);
aderidas a rochas ou a outras algas, existindo
Pigmentos: clorofila a e d; α e β carotenóides; ainda algumas formas flutuantes. Poucos gê-
xantofilas (luteína, zeaxantina); ficobiliproteinas;
neros, como Porphyra C. Agardh, possuem cé-
Substância de reserva: amido das florídeas;
lulas densamente agrupadas em uma ou duas
Parede celular: celulose, hemicelulose, polissaca- camadas, conferindo um aspecto foliáceo. A
rídeos sulfatados (colóides – ágar e carragenanas);
maior parte das rodofíceas é composta por fi-
Reprodução: assexuada e sexuada (oogâmica); lamentos densamente interligados e mantidos
Organização vegetativa: unicelulares, filamen- unidos por uma camada mucilaginosa, de con-
tosos e pseudoparenquimatosos; sistência firme. O crescimento dos filamentos
Flagelo: ausente. é iniciado por uma célula apical simples, em
forma cilíndrica, que separa os segmentos se-
54 Sistemática Vegetal I

quencialmente para formar um eixo. Esse eixo, por sua vez, pode
formar ramos laterais. Muitas algas vermelhas são multiaxiais,
onde o talo é constituído por uma rede tridimensional de fila-
mentos, formados por várias células apicais, constituindo um talo
pseudoparenquimatoso (Figura 4.2). Na maioria das espécies, as
células adjacentes são conectadas por conexões celulares (pit con-
nections), ligações citoplasmáticas formadas no momento da divi-
são, responsáveis pela comunicação intercelular e manutenção da
estrutura do talo (Figura 4.3).

Os cloroplastos contêm ficobilinas que mascaram a cor da clo-


rofila a e conferem às algas vermelhas sua cor avermelhada na Para ir mais longe:
maioria das vezes característica. Esses pigmentos são particular-
Quais as semelhanças de
mente bem adequados a absorção de luz verde e verde-azulada que um cloroplasto de uma
penetra em águas mais fundas, onde as algas vermelhas são bem alga vermelha e uma célu-
representadas. Bioquimica e estruturalmente, os cloroplastos lem- la de uma cianobactéria?

bram as cianobactérias, a partir das quais poderiam ter derivado, Releia o capítulo anterior
e pesquise na internet as
seguindo os princípios estabelecidos pela teoria da endossimbiose.
eventuais relações evo-
lutivas entre estes dois
Dentre as algas, as rodofíceas são os representantes mais atípi-
grupos.
cos, por não possuírem células flageladas nem centríolos. No lu-
gar desses últimos, possuem centros de microtúbulos organizados
denominados anéis polares. A principal substância de reserva é o
amido das florídeas, estocada no citoplasma. Apesar do nome, sua
estrutura molecular apresenta maior semelhança com o glicogênio
do que com o amido.

A camada mucilaginosa de ágar ou carragenana que compõe


a parede celular de algumas espécies confere flexibilidade e uma
textura escorregadia. A produção e excreção contínua da mucila-
gem auxiliam as algas vermelhas a se proteger de outros organis-
mos que possam colonizar sua superfície e reduzir sua exposição
à radiação solar.

Algumas algas apresentam ainda depósito de carbonato de cál-


cio em sua parede. Muitas são particularmente duras e pétreas, e
constituem a ordem Corallinales, ou algas coralinas.
Capítulo 4 55

Figura 4.2 – Aspectos morfológicos de representantes de algas vermelhas (<http://www.


Algaebase.org> e Cortesia de Carmem Zitta – Lab. de Algas Marinhas/UFSC).

Camada Camada
externa interna

Centro

0,2 μm

Figura 4.3 – Ligação citoplasmática (‘Pit connection’) de Palmaria Stackhouse


(Raven et al., 1999, p. 360).
56 Sistemática Vegetal I

Pedras vivas? qüência, com o aquecimento global. De fato, a pro-


Os organismos comercializados em lojas de aquá- dução da maior parte do CaCO3 do ambiente mari-
rios sob a denominação de pedras vivas são repre- nho é de origem biogênica ou associada a alguma
sentantes da ordem Corallinales. Compreendem atividade biológica.
cerca de 1000 espécies que estão distribuídas em Se por um lado, a presença do carbonato confere
todos os oceanos. Seus representantes, as algas vantagens evolutivas e ecológicas, por outro, faz
calcárias, estão presentes desde a região de entre- dos rodolitos alvo de interesse econômico para ex-
marés até grandes profundidades. A principal ca- tração de carbonato de cálcio e micronutrientes.
racterística do grupo é a impregnação de carbona- Na Europa, a explotação iniciou nos anos 70, po-
tos (principalmente cálcio e magnésio) nas paredes rém devido a sua importância ecológica e baixís-
celulares. Em áreas tropicais, estas algas fazem par- sima taxa de crescimento, alguns países (por ex. a
te da construção dos recifes de corais, agindo como Inglaterra) classificam estes organismos como re-
cimentantes, protegendo contra a ação erosiva das curso não renovável e a atividade extrativista foi re-
ondas e possibilitando a manutenção e crescimen- centemente proibida (Figura 4.5).
to desses ecossistemas.
No Brasil, são explotadas entre 96.000 e 120.000
Em alguns ambientes, este grupo apresenta repre- toneladas métricas por ano. A atividade possui le-
sentantes que vivem livres do substrato, forman- gislação própria, a Instrução Normativa IBAMA No
do rodolitos ou nódulos calcários. Estas espécies 89 de 02/02/06 que, em linhas gerais, determina
formam bancos naturais, conhecidos por maërl que a produção do pescador deve ser destinada a
ou bancos de rodolitos (nódulos calcários), repre- empresas licenciadas e somente na área abrangi-
sentando uma das maiores reservas de carbonato da por sua licença ambiental. Cada empresa tem a
do mundo (Figura 4.4 A e B). Estes bancos são ver- cota máxima de 18.000 kg/ano, que deve ser cole-
dadeiros oásis de diversidade, proporcionando a tada respeitando o limite mínimo de profundidade
ocorrência de uma elevada biodiversidade associa- de 1,5 m e a menos de cem metros da baixa-mar.
da de algas, invertebrados e vertebrados. Apesar do amparo legal, a explotação vem aconte-
Existem evidências de haver uma relação estreita cendo antes mesmo de que biodiversidade e biolo-
entre estas algas e o ciclo do carbono e, por conse- gia do grupo seja conhecida.

Figura 4.4 (A) – Diversidade encontrada nos bancos de algas Figura 4.4 (B) – Exemplares de nódulos calcários.
calcárias (http://www.nectonsub.com.br/bblog/pictures/ (Laboratório de Ficologia CCB/UFSC).
bb16e0a7e3d423761e46e16feb015651.jpg).
Capítulo 4 57

As algas do Filo Rhodophyta são agrupadas em uma única Classe


Rhodophyceae, que por sua vez é dividida em duas subclasses: Ban-
giophycidae e Florideophycidae. Formas unicelulares são encon-
tradas apenas em Bangiophycidae e esse grupo ainda desempenha
uma reprodução sexual mais simples. Existem ainda algumas dife-
renças citológicas, sendo a mais significativa a presença de cone-
xões (pit-connections) entre as células de muitas Florideophycidae.

4.1.1 Subclasse Bangiophycidae


Além dos representantes unicelulares, existem as formas multi-
celulares mais simples. A alga vermelha comercial importante do
gênero Porphyra, popularmente conhecida como “nori” (impor-
tante na culinária oriental), possui talo foliáceo, semelhantes à alga
verde Ulva (popularmente conhecida como alface do mar), porém
é constituída apenas por uma camada de células. A reprodução as-
sexuada é feita por monósporos, formados pela divisão simples de
células vegetativas. Os esporos são liberados da margem do talo,
algumas vezes agrupados.
Detalhes da reprodução sexuada são conhecidos em apenas al-
gumas espécies. A mais conhecida é a do gênero Porphyra. Nesse
caso, um grupo de células do gametófito masculino haplóide sofre
divisões mitóticas repetidas, liberando os espermácios, gametas
masculinos. No gametófito feminino, o gameta feminino carpogô-
nio se diferencia a partir das células vegetativas. Os espermácios,
levados pelas correntes, são retidos pela mu-
cilagem que envolve o carpogônio. O gameta
masculino fertiliza então a célula feminina, e
o zigoto resultante sofre sucessivas divisões
mitóticas, liberando os carpósporos, esporos
diplóides. Uma vez que encontram o substra-
to adequado, geralmente o interior de con-
chas de ostras e mexilhões, os carpósporos
germinam, originando uma planta diplóide
filamentosa, denominada Conchocelis Bat-
ters. A reprodução assexuada pode ocorrer
Figura 4.5 – Foto de exploração. nessa fase pela produção de esporos mitó-
ticos, entretanto, apenas esporos haplóides,
58 Sistemática Vegetal I

denominados conchósporos, produzidos através de meiose em es-


porângios especiais (conchosporângios) regeneram novamente na
forma gametofítica foliosa haplóide (Figura 4.6).
A fase Conchocelis foi inicialmente classificada em um gênero
independente. Somente após a reprodução do ciclo de vida de Por-
phyra em laboratório pela ficóloga inglesa Kathleen Drew Baker,
publicado na revista Nature, em 1949, foi constatado que, na ver-
dade, a fase Conchocelis era a fase diplóide daquele gênero, for-
mando a base para a produção moderna e bilionária da indústria
do “nori” no Japão, Coréia e China.

4.1.2 Subclasse Florideophycidae


As algas pertencentes a esse grupo são sempre multicelulares,
filamentosas ou pseudoparenquimatosas, com organização unia-
xial (como em Polysiphonia Greville) ou multiaxial (como em
Nemalion Duby). Alguns representantes possuem ainda células
multinucleadas.
A reprodução assexuada é geralmente realizada através da pro-
pagação vegetativa ou da produção de monósporos. Até mesmo no
representante mais simples do grupo, a reprodução sexuada possui
um número de características que não são encontradas em outros
Filos ou Reinos. O ciclo de vida consiste de três fases:
1. uma fase gametofítica haplóide;
2. uma fase carposporofítica diplóide; e
3. uma fase tetrasporofítica diplóide, que serão descritas a se-
guir (Figura 4.7).
O gametófito masculino produz estruturas (espermatângios)
que vão gerar e liberar os gametas masculinos não-flagelados (es-
permácios), que são carregados pelas correntes até o gameta fe-
minino. Por sua vez, o gameta feminino (carpogônio), permanece
sobre o gametófito feminino e desenvolve um prolongamento,
denominado tricogine, responsável pela captação do espermácio.
Uma vez que o gameta masculino entra em contato com a trico-
gine, os respectivos citoplasmas se fundem, ocorrendo posterior-
mente a fusão dos núcleos (cariogamia) originando um zigoto di-
Capítulo 4 59

Germinação Reprodução assexuada


monosporângio Monósporo (N)
Gametófito (N) Talo jovem

Pironoide
Plasto
Núcleo

Fragmento do talo em secção transversal


Espermatângio
32 - 128 Espermácios
(gameta masculino)

Espermácios (gametas masculinos)


Fragmento do talo em
secção transversal

Espermatização

Carpogônio Zigoto (2n)


Formação de
Oosfera carpósporos (4-32)

Carpósporos (2N)
Germinação de
conchósporos
Germinação do
carpósporos
Conchósporos Esporângio

R!

Esporófito (2N)

Figura 4.6 – Ciclo de vida da Porphyra sp. (Subclasse Bangiophycidae) (http://web.uniovi.es/bos/Asignaturas/


Botanica/Imagenes/Porphyra%20umbilicalis%20(Bangioficidea,%20Rodof%EDceas).jpg).
60 Sistemática Vegetal I

plóide. Esse zigoto sofre repetidas mitoses, gerando a fase diplóide


(2n) carposporofítica. Células do carposporófito se diferenciam
originando então os carpósporos, esporos diplóides que são libe-
rados no meio. Uma vez encontrado um substrato adequado, os
carpósporos germinam, dando origem aos tetrasporófitos, fase
igualmente diplóide. Após o desenvolvimento desta planta de vida
livre diplóide, observa-se a diferenciação de células e a ocorrência
da meiose. Este processo pode ocorrer em estruturas especializa-
das ou sob a superfície do talo, e resulta na produção de esporos
haplóides. Por serem produzidos sempre em número de quatro,
estes esporos são então chamados de tetrásporos e o esporângio,
tetrasporângio. Em condições favoráveis, cada tetrásporo pode
germinar e formar um novo gametófito.
A geração carposporofítica representa uma estratégia evolutiva
para o aumento de descendentes resultantes da reprodução sexu-
ada, provavelmente devido à ausência de gametas masculinos fla-
gelados e a consequente baixa taxa de fertilização. A amplificação
do resultado da fecundação, com a produção de muitos mitóspo-
ros (esporos diplóides produzidos a partir de mitoses sucessivas) a
partir de uma única cariogamia, pode ser o fator responsável por
tornarem as algas vermelhas um dos grupos mais diversos e abun-
dantes nos mais diferentes ambientes costeiros do planeta.

4.2 Filo Chlorophyta Características Gerais


As algas verdes, incluindo pelo menos 17 Habitat: aquático (principalmente água
doce), terrestre em ambientes úmidos;
mil espécies, constituem o maior e mais diver-
Pigmentos: clorofila a e b; β-caroteno; xanto-
sificado grupo de algas, não só em nível de es-
filas (luteína, xantina);
pécie, como também em padrões estruturais,
Substância de reserva: amido e lipídios;
morfológicos e reprodutivos (Figura 4.8).
Parede celular: celulose, hemicelulose e gli-
Sua estrutura celular também se assemelha coproteínas cristalinas;
à das plantas vasculares na maioria das espé- Reprodução: assexuada e sexuada (isoga-
cies. Os plastos apresentam as clorofilas a e b, mia, anisogamia e oogamia);
e os tilacóides são organizados em pilhas de- Organização vegetativa: unicelulares, colo-
nominadas de granum (plural = grana). Em niais, filamentosas e parenquimatosas;
alguns grupos, os plastos podem ser grandes e Flagelo: presentes em alguma fase da vida.
em número reduzido, chegando a apenas um.
Capítulo 4 61

Espermatângios

Espermácio
(n)
Espermácios (n)
Porção basal do Tricogine
carpogônio com
núcleo (n) Fecundação

Gametófito
feminino
(n) Núcleo do zigoto (2n)
Célula
Ramo auxiliar
carpogonial (n)

Célula
axial Célula
Gametófito suporte
masculino
(n) Núcleo
zigótico
(2n)

Carposporófito
Germinação dos (pericarpo) Carposporângio
tetrásporos (2n)

Tetrasporângio
Tetrásporos Pericarpo
(n) (n)
Carpósporos
Meiose (2n)

Germinação do
carpósporo
Tetrasporófito
(2n)

Figura 4.7 – Ciclo de vida de Polysiphonia sp. (Subclasse Florideophycidae)


(Raven et al., 1999, p. 362)
62 Sistemática Vegetal I

Outra característica é a presença de um ou


mais pirenóides por célula. Os pirenóides são
esféricos e contém a enzima RuBisCO, já refe-
rida anteriormente. Parte do amido produzido
pode ser depositado como um anel, por fora
do pirenóide e outra parte em grânulos, mas
tudo dentro do cloroplasto.
Uma novidade na organização estrutural
dessas algas é o aparecimento de grupos com
talos multinucleados formando uma massa de
filamentos não septados, denominados cenocí-
ticos (Ex. Codium Stackhouse). Tais talos não
são compartimentalizados e formam septos
delimitando células apenas nas regiões que vão
produzir estruturas de reprodução, como ga-
metângios (Figura 4.9).
A reprodução é, certamente, a mais variada
dentre todos os organismos fotossintetizantes,
pois todas as formas e tipos de estruturas, e ci-
clos de vida são encontrados. Representantes
da Ordem Charales já apresentam diferencia-
Figura 4.8 – Aspectos morfológicos de representantes de
ção de células estéreis de proteção ao redor algas verdes em diferentes ambientes (Raven et al., 1999,
dos gametângios, semelhante ao que ocorre p. 390, 397 e 398).
nas plantas terrestres (Figura 4.10). Conside-
ra-se que os ancestrais das plantas terrestres estariam agrupados
na Ordem Coleochaetales, da Classe Charophyceae. As espécies
de algas verdes podem apresentar um dos três tipos de reprodu-
ção sexuada: haplobionte haplonte, haplobionte diplonte ou diplo- Para ir mais longe
bionte além da reprodução assexuada por propagação vegetativa, Quais as semelhanças de
um cloroplasto de uma
esporos ou simples divisão celular.
alga verde e uma célula
A classificação das clorofíceas é baseada em um número de ca- de uma proclorófita?
racterísticas citológicas e bioquímicas relativamente complexas. Releia o capítulo anterior
As três classes mais importantes são Charophyceae, Ulvophyceae e pesquise na internet as
eventuais relações evo-
e Chlorophyceae, descritas a seguir:
lutivas entre estes dois
•• Classe Charophyceae: possuem células móveis assimétricas grupos.
com dois flagelos anexados em posição lateral; são predomi-
Capítulo 4 63

nantemente de água doce e possuem reprodução sexuada com


a formação de um zigoto dormente, sendo que a meiose ocor-
re quando o zigoto germina. Exemplos: Desmidium C. Agar-
dh ex Ralfs, Spirogyra Link, Chara Linnaeus (Figura 4.11);
•• Classe Ulvophyceae: nessa classe, os representantes possuem
flagelos anexados na posição anterior da célula, as células
móveis possuem simetria externa aproximadamente radial,
são predominantemente marinhos, não possuem zigotos
dormentes e a alternância de gerações na reprodução sexua-
da é comum (ciclo de vida diplobionte isomórfico, como no
gênero Ulva). Exemplos: Ulothrix Kützing, Ulva Linnaeus,
Caulerpa J.V.Lamouroux (Figura 4.12);
•• Classe Chlorophyceae: os representantes possuem células
móveis com simetria externa radial ou aproximadamente
radial, e os flagelos são anexados na parte anterior da célu-
la. São predominantemente de água doce e assim como em
Charophyceae, o zigoto passa por um período de dormência
na reprodução sexuada, sendo que a meiose ocorre no mo-
mento de sua germinação (Ciclo de vida ha-
plobionte haplonte). Ex: Chlamydomonas C.G.
Ehrenberg, Volvox Linnaeus, Chlorella M. Bei-
jerinck (Figura 4.13).
As clorofíceas lembram as plantas em várias
características importantes. Elas contêm clo-
rofila a e b e armazenam amido nos plastíde-
os. As algas verdes e as plantas são os únicos
grupos que fazem isto. Outra característica
comum entre os grupos é o fato de alguns re-
presentantes das algas possuírem paredes celu-
lares firmes compostas por celulose, hemicelu-
lose e substâncias pécticas. Ainda, a estrutura
microscópica de algumas células reprodutivas
flageladas das clorofíceas se assemelha ao an-
terozóide das plantas. A maioria dos autores
supõe hoje que as plantas terrestres teriam
Figura 4.9 – Detalhe do gametângio de Codium. sido originadas das Charophyceae. Um grupo
(http://www.algaebase.org/search/pictures/detail/
?img_id=41776&sk=120). de algas verdes relacionado a esta Classe teria
64 Sistemática Vegetal I

dado origem a um organismo desconhecido que seria o ancestral


comum entre formas primitivas de briófitas e pteridófitas. Essas
últimas formariam então a base da qual derivaram as plantas vas-
culares. Dentre suas características morfológicas e anatômicas, a
disposição do fuso mitótico durante a divisão celular representa
uma informação importante que dá suporte para a hipótese de
origem das plantas vasculares, a partir destes ancestrais aquáticos.
Analisando a ultraestrutura desses organismos durante a mitose,
durante a formação do septo observa-se a ocorrência de micro-
túbulos que podem ser perpendiculares ou paralelos ao plano de
divisão da célula e formação do septo. Na linhagem das algas clo-
rofíceas, estes microtúbulos se dispõem paralelos ao plano de di-
visão (ficoplastos), enquanto que na linhagem das carofíceas, que
provavelmente deram origem à linhagem das plantas vasculares,
estes microtúbulos se posicionam perpendicularmente ao plano
de divisão das células (fragmoplasto) (Figura 4.14).

A C

Figura 4.11 – (A) Desmidium; (B) Spyrogira; (C) Chara. (<www.dr-ralf-


wagner.de/zieralgen-englisch.html> e <http://natsci.edgewood.edu/
wingra/student_projects/Carmen%20Hudson/chara_sp2.jpg>).

Figura 4.10 – Detalhe de um gametângio


de Chara envolto por células estéreis
(http://www.flickr.com/photos/48654200@
N00/270778259).
Capítulo 4 65

A B C

Figura 4.12 – Fotos de: (A) Ulothrix. (http://www.algaebase.org/search/images/view/?img_id=42442);


(B) Ulva (http://www.jonolavsakvarium.com/blog/200708/blog200708.html);
(C) Caulerpa (http://www.algaebase.org/search/images/view/?img_id=37454).

Chlamydomanas

A B C

Figura 4.13 – Fotos de (A) Chlamydomonas (http://www1.umn.edu/umnnews/Feature_Stories/Slime_sublime.html);


(B) Volvox (http://www.bhikku.net/archives/03/jan03.html); (C) Chlorella (http://io.uwinnipeg.ca/~simmons/16labman05/
lb1pg7.htm).

Ficoplasto Fragmoplasto

A C

B D

Figura 4.14 – Esquema com informações sobre a divisão celular em clorofita, destacando
fico e fragmoplasto (http://www.biologie.uni-hamburg.de/b-online/d44/44c.htm).
66 Sistemática Vegetal I

Resumo
Filo Rhodophyta
As algas vermelhas habitam ambientes principalmente mari-
nhos. Possuem como pigmentos clorofila a e d, α e β carotenos, lu-
teína, zeaxantina e ficobiliproteinas, e como substância de reserva,
o amido das florídeas. Uma exclusividade do grupo é a presença
de anéis polares, em vez de centríolos, e polissacarídeos sulfata-
dos na sua parede celular (agar e carragenana), colóides ampla-
mente utilizados nas indústrias alimentícia, têxtil, farmacêutica e
de cosméticos, entre outras. Algumas espécies podem apresentar
depósito de carbonato de cálcio em sua parede, sendo chamadas
de algas coralinas. Possuem reprodução assexuada e sexuada oo-
gâmica. Seus representantes podem ser unicelulares, filamentosos
ou pseudoparenquimatosos, e não possuem flagelos. As rodofíceas
são agrupadas em uma única Classe Rhodophyceae, que é dividi-
da em duas subclasses: Bangiophycidae e Florideophycidae. Um
importante gênero é a Porphyra, conhecida popularmente como
“nori”. A reprodução sexuada é uma característica marcante de
boa parte das algas vermelhas, pois possui três fases: uma fase ga-
metofítica haplóide, uma fase carposporofítica diplóide e uma fase
tetrasporofítica diplóide.

Filo Chlorophyta
Os representantes desse filo habitam diversos ambientes, desde
ambientes aquáticos até terrestres úmidos. Possuem como pigmen-
tos clorofila a e b; β-caroteno; luteína e xantina, e como substân-
cias de reserva amido, óleos e gorduras. Podem se reproduzir asse-
xuada ou sexuadamente, e organismos flagelados são presentes em
alguma fase da vida. As clorofíceas podem ser ainda unicelulares,
coloniais, filamentosas e parenquimatosas, e constituem o maior e
mais diversificado grupo de algas. Algumas espécies possuem ain-
da talos cenocíticos. Representantes da Ordem Charales podem
apresentar células estéreis ao redor dos gametângios, semelhan-
te ao que ocorre nas plantas terrestres. A reprodução assexuada
pode ser por propagação vegetativa, por esporos ou simples divi-
são celular, enquanto a reprodução sexuada pode ser haplobionte
haplonte, haplobionte diplonte ou diplobionte.
Capítulo 4 67

Referências
Bell, P. R.; Hemsley A. R. Green plants: their origin and diver-
sity. 2. ed. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2000.
Bold, H. C.; Wynne, M. J. Introduction to the algae: Structure
and reproduction. New Jersey, USA: Prentice-Hall, 1978.
Cole, K. M.; Sheath, R. G. Biology of red algae. New York,
USA: Cambridge University Press, 1990. p. 147-170.
Graham, L. E.; Wilcox, L. W. Algae. New Jersey, USA: Pren-
tice-Hall, 2000.
Lee, R. E. Phycology. 2. ed. New York, USA: Cambridge University
Press, 1989.
Oliveira, E. C. Introdução à biologia vegetal. 2. ed. São Paulo:
Edusp, 2003.
Raven, P. H.; Evert, R. F.; Eichhorn, S. E. Biologia vegetal. 6.
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
van den Hoek, C.; Mann, D. G.; Jahns, H. M. Algae: an in-
troduction to phycology. Cambridge, UK: Cambridge University
Press, 1995.

Você também pode gostar