Didatica Fabiola Dos Santos
Didatica Fabiola Dos Santos
Didatica Fabiola Dos Santos
Introdução
É de extrema importância que as atividades pedagógicas estejam or-
ganizadas e fundamentadas dentro da rotina do professor. Seguindo
essa concepção, a organização do cotidiano escolar é um aspecto que
demanda planejamento, discussões e embasamento teórico e prático
para subsidiar o trabalho docente.
O cotidiano das ações do professor serve para planejar, orientar
e propor atividades diárias que estejam pautadas no propósito da
significação da aprendizagem e da implementação da autonomia, e na
problematização de situações que levem o aluno a refletir, questionar
e dialogar.
Neste capítulo, você vai estudar sobre o cotidiano escolar e como a
sua organização interfere nas práticas pedagógicas dos professores e as
determina. Além disso, vai aprender sobre os aspectos que devem ser
considerados no momento de planejar a rotina escolar, pensando em
uma proposta de trabalho que transcende o espaço físico da sala de
aula e vai além dos conhecimentos preestabelecidos pelos conteúdos
curriculares.
Ser professor implica saber quem sou, as razões pelas quais faço o que faço e
consciencializar-me do lugar que ocupo na sociedade. Numa perspectiva de
promoção do estatuto da profissão docente, os professores têm de ser agen-
tes ativos do seu próprio desenvolvimento e do funcionamento das escolas
como organização ao serviço do grande projeto social que é a formação dos
educandos.
Nesse sentido, é possível afirmar que, além dos conteúdos escolares pro-
postos pelos planos de estudo das escolas e mantenedoras, é importante que o
professor contemple em seu planejamento conhecimentos, saberes e discussões
relacionados à vida em sociedade, visto que os alunos estão inseridos nesse
contexto e precisam estar preparados para enfrentar, dialogar e refletir sobre
as questões que norteiam o seu cotidiano.
Para isso, é necessário que o professor crie condições de estudo, bem como
selecione e reorganize os conteúdos de maneira que sejam oportunizadas
práticas educativas pautadas nas exigências da vida social, e que vão além
do espaço da sala de aula. Saviani (2011) considera que a educação vai além
dos muros da escola, partindo da premissa de que o “saber sistematizado”
deve ser trabalhado dentro das escolas, como um conhecimento mais elevado
do cotidiano.
Moacir Gadotti (2006, documento on-line), em seu artigo A escola na
cidade que educa, fala a respeito da cidade educadora — conceito que se
consolidou no início da década de 1990, em Barcelona (Espanha) — e dispõe,
a partir da aprovação de uma carta no Congresso Internacional das Cidades
Educadoras, alguns princípios básicos que caracterizam uma cidade que educa.
Basicamente “[...] é a cidade, como espaço de cultura, educando a escola e todos
que circulam em seus espaços, e a escola, como palco de espetáculo da vida,
educando a cidade numa troca de saberes e de competências” (GADOTTI,
2006, p. 134, documento on-line).
A escola, numa perspectiva transformadora, tem como papel:
[...] contribuir para criar as condições que viabilizem a cidadania, por meio
da socialização da informação, da discussão, da transparência, gerando uma
nova mentalidade, uma nova cultura, em relação ao caráter público do espaço
da cidade (GADOTTI, 2006, p. 138, documento on-line).
No entanto, o ensino não pode ser visto como algo estanque. Freire (1996)
parte do termo “inacabamento do ser humano” para expressar que estamos em
constante aprendizado, e que os saberes acontecem em todas as situações
nas quais o sujeito está inserido. O mesmo autor complementa: “É na incon-
clusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo
permanente. Mulheres e homens se tornaram educáveis na medida em que se
reconhecem inacabados” (FREIRE, 1996, p. 64).
Nesse contexto, se pensarmos de que forma é possível impulsionar o pro-
cesso de ensino e aprendizagem dos alunos, voltamos para o próximo elemento
constitutivo da aula: o planejamento. O planejamento diário é necessário para
a prática de um educador, pois é por meio da sua organização, juntamente com
combinações preestabelecidas com os alunos, que a aprendizagem se tornará
significativa. O professor deve fazer uma avaliação contínua de sua prática,
reestruturando sempre que necessário o seu planejamento, atendendo as falas
dos alunos e suprindo as suas necessidades.
O educador precisa adequar a prática pedagógica às possibilidades
de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, visando promover es-
paços de socialização do conhecimento e ampliação de novos saberes,
derivados não somente das experiências cotidianas, mas de outras áreas
do conhecimento.
Para isso, é preciso pensar no currículo — integrado e flexível — como
um instrumento de formação humana, em que o professor, por meio de situ-
ações que problematizem conhecimentos, possa planejar, propor e coordenar
atividades significativas e desafiadoras. É importante, contudo, que haja
objetivos claros do que se deseja alcançar com o trabalho, a fim de ampliar
as experiências e práticas sociais, culturais e pedagógicas.
[...] os currículos não são conteúdos prontos a serem passados aos alunos.
São uma construção e seleção de conhecimentos e práticas produzidas em
contextos concretos e em dinâmicas sociais, políticas e culturais, intelectuais
e pedagógicas. Conhecimentos e práticas expostos às novas dinâmicas e
reinterpretadas em cada contexto histórico. As indagações revelam que há
entendimento de que os currículos são orientados pela dinâmica da Sociedade.
Cabe a nós, como profissionais da Educação, encontrar respostas (LIMA,
2007, p. 9, documento on-line).
Cabe destacar que o planejar consiste na forma como o professor vai organi-
zar e reorganizar o seu trabalho, levando em consideração aspectos referentes
à realidade da turma e à forma como ela é composta. Nesse sentido, o plane-
jamento deve ser flexível, claro, objetivo e coerente, visto que a educação está
em constante movimento, e os conteúdos, saberes e habilidades que precisam
ser desenvolvidos estão sempre sujeitos a alterações.
Porém, para que o plano proposto pelo professor seja realmente signi-
ficativo, é necessário que ele esteja intimamente ligado à prática diária, de
maneira que sejam registradas as situações, conhecimentos e experiências
relevantes durante cada etapa desse processo. Libâneo (1994, p. 225) destaca
que “[...] agindo assim, o professor usa o planejamento como oportunidade
de reflexão e avaliação da sua prática”.
Outra questão importante dentro do planejamento é a possibilidade de
um trabalho conjunto entre as diferentes áreas do conhecimento, na medida
em que promove a interação, colaboração e participação entre os envolvidos
num processo coletivo de saberes. Corsino (2007, p. 59) destaca que “[...] o
conhecimento é uma construção coletiva e é na troca dos sentidos construídos,
no diálogo e na valorização das diferentes vozes que circulam nos espaços de
interação que a aprendizagem vai se dando”.
A interdisciplinaridade, assim, nasce como uma proposta pedagógica
cujo objetivo é envolver as diferentes áreas do currículo de forma integrada,
estabelecendo relações entre as áreas do conhecimento, com o propósito
de aprimorar o processo de aprendizagem. Souza (2012, p. 9) destaca:
Na sala de aula, ele produz, em conjunto com seus alunos, o tempo e o trabalho
real de ensino, por meio da implementação das atividades e da dinâmica da
turma. Essa produção não segue uma ordem, nem uma frequência. Não tem
duração. Ela se transforma em experiência e ajuda o professor a organizar o
tempo no seu trabalho diário.
A sala de aula, no que diz respeito ao tempo, deve ser vista como um
ambiente propício à aprendizagem, em que os conteúdos sejam trabalhados
de forma integrada, sem compartimentações. São os professores, a partir do
seu planejamento diário, os principais responsáveis em conhecer a realidade
e as necessidades que precisam ser trabalhadas, discutidas e fundamentadas
durante todo o decorrer de sua aula.
É importante ressaltar que o professor não deve utilizar esse tempo para
regular, controlar ou deter as atenções para si próprio, tampouco centrar
a aula em suas explicações ou impor o que deve ser realizado em cada
momento do dia. Pelo contrário, o aluno deve ser envolvido nesse processo
e ser parte integrante da organização, tornando-se um sujeito ativo de sua
aprendizagem e contribuindo para que a aula transcorra de forma prazerosa
e significativa.
Seguindo essa proposta de organização em que o aluno é envolvido, a
rotina aparece para nortear o andamento da aula, pois é a partir dela que as
atividades serão pensadas e desenvolvidas de acordo com uma sequência. A
partir da rotina, o aluno participa das atividades e conhece o que vai acontecer
ao longo do dia, o que contribui para que sejam desenvolvidas a sua autonomia
e a sua iniciativa, colaborando para o bom andamento da proposta de trabalho
do professor, levando assim à melhoria do ensino como um todo.
Mas, afinal, o que é uma rotina? Como ela deve ser organizada? Para melhor
exemplificar o seu conceito, Barbosa (2006, p. 37) destaca: “[...] as rotinas
podem ser vistas como produtos culturais criados, produzidos e reproduzidos
no dia-a-dia, tendo como objetivo a organização da cotidianidade”. A autora
ainda complementa, dizendo que “[...] a rotina pedagógica é um elemento
estruturante da organização institucional e de normatização da subjetividade
das crianças e dos adultos que frequentam os espaços coletivos de cuidados
e educação” (BARBOSA, 2006, p. 45).
Contudo, quando se pensa na terminologia rotina, logo se tem a ideia de
que esta é realizada a partir da repetição e sequência de ações que organizam
o cotidiano. Para fugir dessa visão, é preciso considerar que, a partir de uma
rotina, é possível proporcionar às crianças a noção e compreensão de tempo,
além de desenvolver a construção do contexto em que está inserida, possibi-
litando a construção da autonomia e da identidade.
Leitura recomendada
OUVIDORIA-GERAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Educação: boas práticas: educação
além dos muros. YouTube, 27 maio 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=LJEjltb7Xq4>. Acesso em: 23 jun. 2018.