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QUADRAS DE ALCIPE
RESUMO
ALCIPES’S STANZAS
ABSTRACT
Marquesa de Alorna is also knowed as a Portuguese Alcipe. In this article, we propose to read one of her poems. In this analysis we con-
sidered rhetoric-poetic criteria, which suggests that she emulates recurrent topics from Greek and Latin poets on Antiquity. Despite her
poem had been written with apparent simplicity, we expect to point out elements to demonstrate some artifacts used in this composition.
Keywords: Lyricism, Marquesa de Alorna, “Sozinha no Bosque”.
ESTROFAS DE ALCIPE
RESUMEN
En este artículo, proponemos leer un poema de la Mrquesa de Alorna, también conocida como Alcipe portuguesa. En el análisis, se
consideran criterios retórico-poéticos, lo que sugiere que es una emulación de temas recurrentes en los antiguos poetas griegos y latinos.
En aparente simplicidad, se espera señalar elementos para demostrar varios artificios empleados en la composición.
Palavras Clave: Lirismo, Marquesa de Alorna, “Sozinha no Bosque”.
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“Não por acaso grandes homens, nossos a experiência do particular”. Estava preparado o solo
ancestrais, estéril para que o crítico repisasse a tese que frequenta
preferiam os romanos do campo aos da grande parte dos manuais de literatura portuguesa (e
cidade” (Varrão).1 brasileira), desde meados dos Oitocentos: “quase todos
os escritores da época apresentavam mais ou menos
“Humilde agrada: se cantamos selvas, caracteres pré-românticos” (Idem, ibidem, p. V–VII –
Selvas o cônsul nobremente soem” (Virgílio).2 grifos meus). Poder-se-ia sugerir que a afirmação do
filólogo se devesse ao modo de pensar da “época” em
“[…] se o tom de Camões te agrada muito, que ele próprio se inscrevia.
parece-me que podes prezar-te de o ter
adquerido. Acho que o imitas infenito” Porventura fosse razoável dar menor importância para
(Marquês de Alorna).3 o emprego do rótulo “pré-romantismo”, por se tra-
tar de um paratexto brevíssimo (não passa de quatro
LIRISMO páginas) e que mais cumpria um protocolo editorial
do que tencionava dizer algo de novo ou mais preciso,
Sózinha no bosque em relação à chamada poesia “árcade” ou “romântica”
Com meus pensamentos, produzida em Portugal. Mas, o que justificaria a repro-
Calei as saudades, dução da etiqueta “Pré-Romantismo” em manuais de
Fiz tregoa a tormentos. maior fôlego mais recentes, que pretendem rediscutir
poesia portuguesa?6 As impressões de Hernâni Cidade,
Olhei para a lua, também registradas em 1941, – quase um século após
Que as sombras rasgava, a publicação das Obras Poéticas de Alorna – provavel-
Nas tremulas aguas mente induziram considerável número de críticos e lei-
Seus raios soltava. tores a utilizar as mesmas e limitadas lentes, ao ler esses
e outros versos reunidos no volume. Uma das conse-
N’aquella torrente quências é que, ao lado da etiqueta “pré-romantismo”,
Que vai despedida a que Rodrigues Lapa aderira, há o inevitável senso
Encontro assustada de “originalidade” que supunha embalar os versos da
A imagem da vida. poetisa. Embora não mencione outros estudiosos de
literatura portuguesa em sua coletânea, não seria difícil
Do peito, em que as dores localizar algumas das referências em que o filólogo se
Já iam cessar, escorava.
Revoa a tristeza,
E torno a penar.4 Além de Cidade, um dos bastiões de sua concepção
teleológica do “Arcadismo” certamente era Teófilo Braga,
No breve “Prefácio” que escreveu para Poetas do Século morto em 1924. Relembre-se que, em 1900, o célebre crí-
XVIII, coletânea que organizou em 1941, Manuel tico português reunira, em cinco volumes, a história da
Rodrigues Lapa contrapunha o Seiscentismo ao Sete- literatura de seu país, a cobrir o período que se estende-
centismo5, propondo que a “época do frade literato” (ou ria do século XII ao XIX: protocivilização, escravização
“Barroco”) cedera passo à “época do jurista literato” (ou da África, conquistas marítimas, escravização da Amé-
“Arcadismo”). A seu ver, esse novo protagonista, des- rica, restauração após a Era de Filipe II, dependência
confiado dos dogmas e esclarecido pelas Luzes, estaria dos ingleses, pombalismo, fuga às tropas napoleônicas e
“cansado dos sistemas gerais, que procuravam explicar consolidação da pátria. Escorado no Verdadeiro Método
o mundo como um todo, num vasto de trabalho de sín- de Estudar, de Luís Antônio Verney, Braga (1984, p. 37)
tese”. Por esse motivo, “o homem do século XVIII tenta afirmou que até o início do século XVIII:
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Muitas destas formas eram restos da poética mental e a acidentada vida pessoal da Marquesa, antes
provençal, outras da italiana, mas a falta de e depois do cárcere.
compreensão do elemento tradicional levava
os poetas para o esmero exclusivo da forma Entretanto, a sensibilidade, cultura e graça emanadas
forçando-os a absurdos que hoje vemos pelos versos da Marquesa não impediram que Hernâni
repetidos nos modernos parnasianos. Era Cidade lhe atribuísse procedimentos típicos do uni-
contra este atrasado culteranismo que se verso masculino, vigentes até meados do século XIX.
erigia a Arcádia Lusitana, desvairada pelo seu Como percebeu Joana Junqueira Borges (2017, p. 50), o
lado com o pseudoclassicismo francês. crítico resgatava uma hipótese sustentada pela biógrafa
Maria Amália Vaz de Carvalho que hoje consideraría-
Também poderíamos mencionar o compêndio de His- mos “sexista”:
tória da Literatura Portuguesa, de Joaquim Mendes dos
Remédios, consideravelmente popular até meados do Se é comum a utilização de termos
século XX. O historiador propunha dividir a história da masculinos para adjetivar as qualidades da
literatura em três grandes períodos: “Medieval – abran- poeta, é ainda mais comum o uso do termo
gendo os séculos XVII a XV; Clássica – compreendendo “varonil”, que referencia diretamente ao
os séculos XVI a XIX; e Romântica – que principia em masculino. Esse vocábulo está presente em
1825” (REMÉDIOS, 1921, p. 8). Como se sabe, o modo Maria Amália Vaz de Carvalho, que, em um
de repartir e fatiar a história das letras luso-brasileiras estudo (1912) sobre a Marquesa de Alorna,
ainda reverbera, nos manuais de lá e de cá, em nossos afirma “As duas qualidades predominantes
dias.7 Para citar dois exemplos, Massaud Moisés (1978) desta inteligência de mulher são o vigor
encaixou a poetisa Marquesa de Alorna no grupo dos quase viril do pensamento experimentado,
poetas “dissidentes” da Arcádia, com o que retomava e a extrema cultura adquirida em longos
a definição proposta por Teófilo Braga, que datava de anos de prisão” [grifo da autora]. O termo
1896 (p. 418 e ss.). Por sua vez, Antônio Soares Amora também está presente em Hernâni Cidade,
(2008) dividiu o Classicismo português em três “épo- que apresenta D. Leonor como “Formosa e
cas clássicas”, a exemplo do que Braga já fizera. Para altiva silhueta em que a graça feminina se casa
Amora, a escritora pertenceria à geração “árcade” que com aquela varonil energia que, evitando-lhe
iria de 1756 a 1825. as deliquescências sentimentais, lhe inspira
um nobre amor da cultura, da liberdade – e o
Deslocar Alorna de lugar parece ter sido a solução ódio másculo contra o despotismo de que foi
encontrada pelos tratadistas para classificar, sob o vítima” [grifo da autora].
rótulo de “árcade”, “pré-romântica” ou “romântica”,
aquela que não cabia no que consideravam o para- As pesquisas com mais seriedade e maior fôlego, desen-
digma de uma ou outra escola literária – embora todos volvidas por Maria Delille (2006) e Vanda Anastácio
reconhecessem o seu talento. Em 1939, Joaquim Fer- (2007), colaboram na remodelagem de uma imagem
reira (p. 698 e 699) inseriu Alorna no grupo dos poetas bem diversa da poetisa portuguesa, antes e depois de
árcades “independentes”8. Na década de 1960, António ter regressado a Portugal. Entre 1814 e 1839, após uma
José Saraiva e Óscar Lopes (1996, p. 642) a considera- longa temporada na Inglaterra, sabe-se que Alorna
ram “iniciadora do Romantismo literário em Portugal”. assumira protagonismo nas rodas literárias e culturais
Como ficou dito, Manuel Rodrigues Lapa provavel- de Lisboa:
mente dialogava mais de perto com o professor Her-
nâni António Cidade – autor de três volumes contendo Alcipe9 ocupará um lugar central na vida
biografia, poesia, prosa e “inéditos” –, que propunha intelectual lisboeta. Apesar de ter lutado com
haver estreita correspondência entre a escrita senti- dificuldades financeiras até à data da sua
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morte […], a Condessa de Oeynhausen abrirá literária. Há quase vinte anos ele chamava atenção para
as portas das várias residências onde viveu o fato de que:
na cidade de Lisboa a poetas e literatos que a
visitaram também durante as temporadas que […] paradoxalmente, apenas se tende a
passou em casa do Marquês de Fronteira, seu louvar nos árcades o que se julga encontrar
neto, no Palácio de São Domingos de Benfica de obliquamente supraconvencional, de
(ANASTÁCIO, 2007, p. 44). astúcia que disfarça o sentimento sob o
código superficial, seja pela alusão subjetivo-
De um lado, a tradição crítica a reiterar a “sinceridade” biográfica, cujo tom pode oscilar entre
de Alorna e o caráter “antecipatório” de sua poesia; de o existencial e o psicológico, seja pela
outro, pesquisas lastreadas em fontes, a desmitificar a referência realista e sociológica, que sempre
figura da poetisa. Diante de impressões e referendos, acha meio de descobrir no convênio pastoril
onde, quando e como situar D. Leonor nas letras de estéril um broto tocante de nacionalidade.
seu país? Entretanto, salvo engano, é passado enfim o
período historicamente mais criativo dessa
EMULAÇÃO repugnância à convenção. Agora já não é tão
difícil postular que o bosque eventualmente
Estudos como os de Alcir Pécora (2001), Luís André desgraçado de Glaura é mesmo um bosque de
Nepomuceno (2002), e aqueles das já citadas Maria tópicas memorizadas, partes normativas da
Manuela Gouveia Delille (2006) e Vanda Anastá- disposição e figuras bem regradas da elocução
cio (2007), sugerem que os “árcades” luso-brasileiros [grifos do autor].
teriam importado e adotado os modelos petrarquista
e camoniano, de modo a respeitar a convenção dese- Convenientemente situado entre o “Barroco”, obscuro e
jável e, simultaneamente, a representar um maior grau super-regrado, e o Romantismo, supostamente claro e
de civilização através de versos e cartas. Desse modo, anticonvencional, o “Arcadismo” (outra invenção com
haveria relação entre o artifício (representado na poe- propósito “didático” cunhada no século XIX) atenderia
sia) e os códigos sociais, inoculados pelos tratados de aos arbítrios de uma crítica francamente impressionis-
cortesania entre os séculos XVII e XVIII, o que parece ta, em que a precisão da análise importava bem menos
respaldar a hipótese de Vanda Anastácio (2007, p. 14), que a hiperinterpretação, por vezes, delirante. É ilustra-
para quem: tiva desse esquematismo empobrecedor, a nota afixada
ao título do poema “Sozinha no Bosque”, por Manuel
[…] os juízos que [Hernâni Cidade] proferiu Rodrigues Lapa (1967, p. 103). O filólogo afirmava tra-
acerca da sua obra poética, que classifica tar-se de uma:
como pré-romântica, são reveladores do tipo
de discurso dominante na historiografia Poesia de inspiração romântica, como a
literária portuguesa dos séculos XIX e XX seguinte [no livro, “Como está Sereno o Céu”],
sempre que se trata de mulheres escritoras: a com a noite de luar por cenário, e um coração
desvalorização da obra, do papel e da trajetória dorido, que não sabe bem do que sofre. É um
destas a favor das virtudes consideradas mal novo, como a autora lhe chama algures,
mais propriamente femininas: a fidelidade um desejo absurdo de sofrer, enfim o mal do
conjugal, o recato na viuvez, a dedicação aos século, como lhe chamaram os românticos,
filhos, o sentimentalismo. mais tarde. Qualquer objecto acende e renova
a dor no coração sensível: aqui a simples
Ressalte-se o que Alcir Pécora (2001, p. 193) percebeu, imagem das águas fugitivas fez rebentar as
ao examinar a poesia árcade e sua recepção pela crítica fontes da tristeza.
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Como o crítico parecia desprezar as convenções e igno- Abrigas em teu centro o escuro medo;
rar as tópicas recorrentes na poesia setecentista, a sua O mais terno segredo
abordagem soa superficial e sujeita a erros, a começar Vem Alcipe fiar-vos no seu canto.
pela suposição anacrônica de que o poema caracteri- Doei-vos, selvas tristes,
zasse um exemplar “de inspiração romântica”. Não há Das mágoas que me ouvistes,
“Romantismo” avant la lettre nos versos de Alorna. Desde que a voz queixosa aos Céus levanto.
Seria preferível afirmar que a temática lírica fosse o
mote do poema, o que implicaria rejeitar definições Recurso similar, a produzir efeito de inconstância, per-
advindas do futuro, adotadas por teóricos e historia- cebe-se no soneto12 “Mote Alheio”, em que a Marquesa
dores adeptos do idealismo romântico. Não faltavam de Alorna responde ao desafio de encerrar a compo-
sujeitos que julgavam representar o ápice da literatura sição com o verso “Foi vontade, é amor, será loucura”:
universal: funil temporal e estético para onde todas as
“escolas literárias” remeteriam. Numa noite serena descansava
Lise triste, que um tempo foi contente,
A suposta antecipação romântica realizada pela poetisa Nas margens de uma plácida corrente,
não procede. Delille (2006, p. 212) observa que: Onde a imagem de Cíntia se quebrava:
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sugerir que os versos serviriam como exemplares para valência dos sentimentos inconstantes. Recorde-se que
disseminar o “mal do século”, o crítico reforçava o pres- a persona poética teria recorrido a um passeio solitário
suposto desencontrado de sua interpretação, como se se no bosque, para apaziguar (“dar trégua”) à dor que ia no
tratasse de uma amostra “pré-romântica”. Por sinal, em “peito”. Como a alegria é apenas um estado de espírito e,
sua leitura, Lapa psicologiza a persona lírica, para quem por isso mesmo volátil, não haveria impropriedade no
“a simples imagem das águas fugitivas” teria despertado teor dos versos, nem se detectaria “confusão” da poe-
as “fontes” (repare-se na metáfora continuada e infeliz tisa ou da persona que criou. No poema, alternam-se
a que o filólogo recorre) “da tristeza”: sentimento que sentimentos. Numa de suas cantigas, percebemos que a
pretendia atribuir à Marquesa de Alorna em pessoa, alternância de estados da alma é um recurso constante,
esquecendo-se se tratar de uma figuração poética – o que permite questionar a reprimenda feita pelo crí-
sujeita, portanto, às regras da verossimilhança, devida- tico (ALORNA, 1941, pp. 87-88):
mente apoiadas por expedientes retórico-poéticos. A
premissa, além de redutora, confundia a instância de Ai de mim! A melodia
criação (a autoria do poema) com o éthos de um eu fic- Evita uma alma agitada;
cional, projetado artificialmente nos versos. Não há cabi- O terror da fantasia
mento em analisar o teor do poema como se se tratasse Faz-me a voz desentoada.
de uma senha de acesso ao que houvesse de mais sincero
e recôndito na alma da escritora. Eu mesma não sei que temo!
Um desconhecido efeito
DECORO Me anuncia, quando gemo,
Que encerro a morte no peito.
É possível que as quadras de “Sozinha no Bosque”
tenham sido interpretadas com ligeireza e má vontade O Tejo me viu com vida,
por uma parte da crítica. Como vimos, parece ser essa Sem ela o Danúbio e o Reno,
circunstância que motivou o juízo severo e equivo- Fere, oh Morte desabrida!
cado de Manuel Rodrigues Lapa (1967, p. 103), diante O seu triunfo é pequeno.
dos versos: “Nas tremulas aguas/Seus raios soltava”. O
teor sentencioso da nota de rodapé que afixa ao verbo Em “Sozinha no bosque”, Alorna recorre ao reflexo da
“soltar” não deixa dúvidas: “Soltava. Termo não muito lua a se afastar, acompanhado o movimento do rio. Os
apropriado. Em D. Leonor há por vezes destes desacer- versos reforçam justamente a inconstância das pessoas
tos de expressão, próprios afinal de quem se vê obri- e da natureza – o que parece se estender a sentimen-
gado a esboçar um novo estilo, como era o caso seu”. A tos ora amenos, ora turbulentos. Vejamos como isso
rigor, os “desacertos” decorrem da leitura do filólogo, e também é dramatizado em uma elegia relacionada ao
não da suposta incompetência ou falta de proeza que mesmo tema (ALORNA, 1941, p. 55):
atribui a Alorna. O primeiro equívoco do crítico estava
em desconsiderar a metáfora pretendida pela poetisa, Amáveis solidões, bosques sagrados,
ao empregar o verbo (segundo Lapa, semanticamente Que nas noites tranquilas livremente
impreciso, já que, a rigor, a lua não “solta” raios). Prestais um doce abrigo aos desgraçados;
Em outra passagem, Manuel Rodrigues Lapa (1967, p. De meus olhos a límpida corrente
104) aplica juízo improcedente sobre o que dizem os Deixai-me desatar; suspiros, brados,
versos 3 a 6, a seu ver: “Outra imagem confusa e não Expliquem sem receio o que a alma sente.
muito própria: a tristeza revoando do peito, parece que
o havia de deixar sem dor; ora[,] é justamente o contrá- Há outro lapso na interpretação de Lapa, ao analisar
rio que a poetisa quer dizer”. Os versos sugerem a ambi- “Sozinha no Bosque”: a aparente incapacidade do crí-
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tico em distinguir entre a poetisa e a personagem que Junto às margens de um rio docemente
figura em seus versos. Além disso, ele supõe que a Mar- Com meus suspiros altercando,
quesa de Alorna, em pessoa, se visse “obrigada” a “esbo- A viva apreensão ia pintando
çar um novo estilo”. Ora, o que seria compreendido pela Passadas glórias no cristal luzente.
poetisa como “novidade”, durante os oitenta e oito anos
que ela viveu? O caráter compulsório da arte e da vida Mas quando nesta ideia mais contente
em sociedade a teria levado a perseguir o “novo”, como O coração se estava recreando,
se fosse possível escapar à convenção vigente em seu Despenhou-me do peito o gosto brando,
tempo e, desse modo, antecipar o Romantismo? Para Envolto com a rápida corrente.
Maria Dalille (2006, p. 219), a tese não se aplica nem
se sustenta: Lá vão parar meus gostos no Oceano,
Ficando inanimado o peito e frio,
A respeito da literatura alemã […], me parece Que o recreio buscou só por seu dano.
errôneo apontar as traduções que a Marquesa
fez de Wieland Herde e Goeth como sinal Acabou-se o contente desvario,
de abertura à nova literatura romântica. E meus olhos saudosos do engano
Infelizmente esta opinião, divulgada a partir Quase querem formar um novo rio.
dos estudos de Hernâni Cidade, continua a ser
aceite transmitida em escritos recentes sobre a Repare-se que o soneto “Junto às margens de um
produção poética e translatória de Leonor de rio docemente” evoca “Sozinha no bosque”. Aqui e
Almeida. lá uma persona lírica solitária caminha às margens
de “um rio”, a alternar o “coração recreando” com
O emprego do verbo “esboçar”, na sentença brandida o “inanimado peito e frio”. A ambivalência do que
por Lapa, parece ser tão ou mais revelador do que ele a persona poética sente resulta na consciência do
pensava sobre o estatuto provisório, ou impreciso, do “desvario”. Por isso, os olhos “saudosos do engano”
poema. A ênfase de sua leitura recai nas supostas falhas anunciam as lágrimas, que também podem ser lidas
recorrentes cometidas pela poetisa. Curiosamente, não como metáfora do rio, “cristal luzente” de “passadas
há ressalvas com relação à cantiga “Às saudades do meu glórias”. Ora, ainda que pudéssemos aceitar as res-
jardim”. Por sinal, com este mesmo poema podería- salvas de Rodrigues Lapa – organizador da coletânea
mos refutar o pseudoargumento de que a poetisa pro- –, caso elas fossem procedentes, o que o teria levado
duzira versos desencontrados, ilógicos ou impróprios a incluir um poema com tantos defeitos em uma obra
(ALORNA, 1941, p. 92): de sua responsabilidade, cujo objetivo seria apresentar
poetas de talento do século XVIII? Seria uma questão
Dêsse tempo em que falavam relacionada ao fato de se tratar de uma poetisa, e não
As flores, se recordou, de um representante masculino?13
E a Saudade enternecida
Dêste modo replicou: CONVENÇÃO
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sombria do bosque, mal iluminado pela lua, que rompe Sempre diviso aflita, descontente,
o céu nublado; sugerem a instabilidade emocional Os princípios da luz pelo horizonte.
experimentada pela persona poética.
Na cantiga anterior, ao descrever o cenário para onde a
A cantiga traduz um momento de parada, de contem- persona lírica se dirigia, durante a noite, Alorna pare-
plação; mas não nos autoriza a afirmar que se trata de cia disposta a recuperar a antiga teoria dos elementos e
sofrimento provocado pelo amor,16 o que torna ainda estabelecer relação com os ingredientes que caracteri-
mais complexo afirmar que se tratasse de uma poetisa zariam o gênero bucólico, como sugere o fato de recor-
“pré-romântica”. As armaduras classificatórias dificil- rer a “bosque” (terra), “luar” (fogo/ar) e “rio” (água).
mente dão conta da diversidade de estilos, temas, gêne- A recorrência de tais elementos não constituía pobreza
ros e formas trabalhados por poetas, ainda que situados lexical, obsessão pelo tema ou incapacidade de estender
proximamente ao período literário que se elegeu como o alcance metafórico de seus versos. A rigor, tratava-
ponto de chegada. -se de aplicar o léxico apropriado a um gênero popu-
lar (Cantiga) – próprio para ser entoado em tertúlias
De que falam seus versos? e saraus, onde as habilidades de compor versos eram
colocadas à prova diante de um auditório nem sempre
Uma mulher se encontra “sozinha no bosque”, na homogêneo.
tentativa de acalmar os tormentos que lhe afligem. A
certa altura, como se captasse aquele instante fugidio, à AUCTORITAS
medida que o luar se “despedia” (refletido na água que
corria), o pesar volta a afligi-la, o que explicaria que “do Caberia lembrar que há descrições similares àque-
[mesmo] peito”, de onde iam revoar as tristezas, volta- las empregadas pela Marquesa de Alorna nas Bucóli-
-se-lhe a sensação de que o tempo – a vida, feito rio – se cas de Virgílio, nas Odes de Horácio17, nos sonetos de
esvairia e os problemas continuariam sem solução. Para Petrarca, nos versos de Camões18, nas composições de
reforçar tal ambivalência no plano das sensações (ora ilustres contemporâneos da própria Marquesa – como
a arrebatá-la, ora a derrotá-la), Alorna recorre a um Correia Garção e o já citado Padre Francisco Manuel
cenário conveniente, sugerido pela noite com a lua par- do Nascimento –, sem contar as tópicas igualmente
cialmente encoberta pelas nuvens e pelo rio que afasta empregadas pelos poetas luso-brasileiros, a exemplo de
a luz e, com ela, leva a temporária sensação de recon- Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Cláudio
forto desejada pela persona poética. A tristeza volta a Manuel da Costa, Silva Alvarenga etc. Não por acaso, a
lhe fazer companhia, pois o mesmo luar que lhe pode- temática da solidão foi representada em diversos poe-
ria aportar tranquilidade, avança rio afora, a espelhar mas da poetisa, o que corrobora a hipótese de que ela
também a chama que perde intensidade, o tempo que teria plena consciência das preceptivas retórico-poé-
escorre (pois que é líquido, feito água), a clareza que ticas e sabia como aplicá-las aos temas que versificou
se esvai, enquanto segue o curso da vida, o curso do sob variadas formas (Canção, Onde, Soneto, Idílio, Ele-
rio. Discurso. A imagem repercute em vários poemas, gia, Epístola etc). Seria mais adequado compreender a
como neste soneto (ALORNA, 1941, p. 6): poesia de Alcipe como reafirmação da auctoritas, em
acordo com os preceitos da Antiguidade, como observa
Bem como se perturba a clara fonte João Adolfo Hansen (1992, pp. 23-24):
Na agitação contínua da corrente,
A minha alma sossêgo não consente, [...] as práticas antigas postulam a autoria
Por mais que nos meus ais ânsias desconte. como autoridade (gr. axioma; lat. auctoritas).
Genericamente, a auctoritas antiga é
De cuidado em cuidado, monte em monte especificada pela doutrina do decorum (gr.
Me leva êste pesar que o peito sente: prépon), interno e externo, em que o auctor
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é um nome, como etiqueta de um gênero, ou sob o impulso das emoções. Porém, mensurar a pro-
uma mediação retórico-política, norma cívica porção exata de afeto e honestidade é bem menos pro-
do gênero do discurso como convenientia, vável que detectar a aplicação de regras decorosas em
adequação à audiência. seus versos, onde reinam personae adequadas a cada
cenário, episódio e situação.
Pelo menos até o final da década de 1970, a percepção
em torno dos poetas “árcades” era bem outra. Como se NOTAS
viu, Rodrigues Lapa não estava sozinho nas emendas
1 Das Coisas do Campo, 2012, p. 127.
que propunha aos versos de Alcipe. Assim como ele,
Hernâni Cidade procedeu de modo similar, ao acres- 2 Bucólicas, 2008, IV, vv. 3-4, p. 87.
centar notas de rodapé com teor ora elogioso, ora recri- 3 Carta do Marquês de Alorna à filha, Marquesa de Alorna
minatório, em que chegava a alegar falta de “lógica” em (Anastácio, 2007, p. 54).
determinadas construções. Por exemplo, em nota ao 4 Poema identificado pelo número XXXI no segundo tomo da
soneto que identifica como “3”, lê-se a seguinte obser- Obra Poética da Marquesa de Alorna, editado em 1844, p. 257.
vação: “A construção mais lógica seria: …a quem a Foi preservada a grafia original.
desventura o mínimo prazer não consente” (CIDADE, 5 Para Antônio Soares Amora (2008, p. 271), “Se o Seiscentismo
1941, p. 5). Eis a estrofe a que ele se referia: produziu em Portugal os melhores prosadores clássicos da lín-
gua (recordemos nomes como os de Frei Luís de Sousa, Vieira,
Francisco Manuel de Melo e Bernardes), o Setecentismo distin-
Porém eu, infeliz, que a desventura
guiu-se pela revivescência da poesia”.
O mínimo prazer me não consente,
Em dizendo o que sinto, a mim sòmente 6 Em parte, foi o que reafirmou Lênia Márcia de Medeiros Mon-
gelli em 1985: “Nas Letras, a onda renovadora voltou-se prin-
Parece que compete esta figura [grifos meus].
cipalmente contra os excessos do Barroco, com um programa
específico de restauração do equilíbrio e da harmonia perdidos.
As intervenções de Rodrigues Lapa pareciam seguir os A inspiração para a realização deste objetivo veio de duas fon-
passos e reproduzir os desacertos do professor Hernâni tes centrais, catalizadoras [sic] das nuances e peculiaridades do
Cidade. Porém, o primeiro equívoco de ambos consis- movimento em diferentes regiões: a) da Antiguidade greco-ro-
mana, cujos cânones, sistematizados na Epistula ad Pisones de
tia na própria autoridade a que se arrogaram, como se
Horácio, foram divulgados pela Arte Poética (1674) de Boileau,
se tratasse de censores previamente autorizados a zelar
logo tornada livro de cabeceira de poetas e artistas, indispensável
pela “boa” gramática, pois conhecedores do teor e da para o conhecimento dos segredos de bem redigir; b) do Arca-
composição poética mais adequada que vigorasse em dismo italiano, que reviveu o mundo bucólico dos pastores da
Portugal um século antes. mitologia grega, propondo comportamentos convencionais para
chegar à criação do mundo perfeito, paradisíaco, revivescência
do mito da Idade do Ouro sob a égide da aurea mediocritas ho-
A segunda controvérsia residia no fato de ambos “cons-
raciana” (Mongelli, 1985, p. 23).
tatarem” falta de lógica onde havia esmero de constru-
ção, conveniência e emprego de recursos que traduziam 7 Dois exemplos dessa reverberação, no Brasil: o segundo volu-
me de Presença da Literatura Brasileira (Era Clássica), de Antô-
liberdade no plano poético. Em que pese seu renome
nio Soares Amora e A Literatura Portuguesa, de Massaud Moisés,
nos estudos sobre a literatura portuguesa, ambos os ambos publicados em 1961.
intérpretes pareciam dispor de menor capacidade de
8 “Os versos [da Marquesa de Alorna] afluem-lhe com eloquên-
entendimento que aquela demandada pelos versos
cia, as emoções ensombram-lhe o lirismo duma graça merencó-
esculpidos, como efeito de simplicidade, por Alcipe. rea” (Ferreira, s/d, p. 699).
Chaves de leitura como “inspiração”, “sentimento” e
9 Dentre os letrados que frequentavam a família da poetisa, en-
“verdade” precisariam ser relativizadas, especialmente quanto estava no cárcere, estava o Padre Francisco Manuel do
se o objetivo da interpretação for reconstituir os mode- Nascimento, que teria batizado “D. Leonor com o nome arcádi-
los emulados pelos poetas de outro tempo, lugar e cir- co de Alcipe, [e] sua irmã com o de Márcia ou Dafne” (Cidade,
cunstância. Não seria impossível que Alcipe escrevesse 1941, p. XIII).
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10 “[...] no que diz respeito à lírica amorosa [no século XVIII], o taríamos apenas sete podem considerar-se exclusiva e claramen-
petrarquismo, com todo o corpo de suas fórmulas e ideias esta- te dedicados ao tema” (Anastácio, 2007, p. 67).
belecidas, foi o grande paradigma da civilização poética” (Nepo-
17 Vanda Anastácio (2007, p. 99) também percebeu que o sone-
muceno, 2002, p. 22).
to de Alorna, “Feito na cerca, onde trabalhavam uns homens na
11 “A alegria perturba-lhe a ‘suavidade’ do seu coração, ou seja, agricultura”, fora uma “adaptação do célebre poema de Horácio
o sossego, por isso o sujeito lirico, no último terceto, sente-se cujo primeiro verso é: ‘Beatus ille qui procul negotiis’ [Epodo 2,
entristecido. Invertem-se, assim, as noções de contentamento e 1] no qual este autor latino faz o elogio da vida campestre e da
descontentamento. Então, é com e na melancolia que o ‘eu’ po- aurea mediocritas dos que vivem sem se preocupar com o lucro”.
ético pretende sair do estado eufórico que o desassossega e lhe
18 Hernâni Cidade (1941, p. 7) avaliava que o soneto “Dizendo-me
causa um sentimento penoso, procurando acalento ao seu cora-
uma pessoa que eu nunca havia de ser feliz” seria “um dos mais per-
ção no sentido de proclamar uma existência passiva e aprazível,
feitos de Alcipe, dos que melhor revelam a lição camoniana”.
que só é possível na companhia desta personificação. Desta for-
ma, a primeira noção de melancolia que encontramos na obra da
Marquesa está ligada à ideia de sossego e tranquilidade” (Silva, REFERÊNCIAS
2014, p. 19).
ALORNA, Marquesa de. Sonetos. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007
12 “Na poética da Marquesa de Alorna, o soneto ganha impor-
[organização de Vanda Anastácio].
tância singular, por ter sido a principal forma poética desenvol-
vida pela poetisa. Nascido na Itália medieval, o soneto era, então, AMORA, Antônio Soares. Presença da Literatura Portuguesa,
forma poética nova que carregava os valores do dolce stil nuovo, vol. 2: Era Clássica. 8a ed. Rio de Janeiro: Difel, 2008.
valorizando a expressão amorosa de caráter sublime em um for- ANASTÁCIO, Vanda. “Introdução”. In: ALORNA, Marquesa de.
mato bastante enxuto para a época, apenas 14 versos estrutura- Sonetos. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007, pp. 11-72.
dos, regra geral, em decassílabos e divididos em dois quartetos
e dois tercetos. O soneto petrarquista, que seguirá para Portugal BORGES, Joana Junqueira. “A mulher e a crítica: aspectos e
pelas mãos de Sá de Miranda, foi cultivado por Camões, que o questões na fortuna crítica da Marquesa de Alorna”. Revista De-
privilegiou em suas composições líricas e seguiu sendo uma for- sassossego (USP), n. 18, São Paulo, 2017, pp. 42-62.
ma poética de eleição para inúmeros escritores de língua portu- BRAGA, Teófilo. Teoria da História da Literatura Portuguesa.
guesa, tais como Bocage, Antero de Quental e Florbela Espanca. Porto: Livraria Chardron, 1896.
A Marquesa de Alorna, na linha dessa tradição poética e leitora
dos sonetos camonianos, inicia sua obra privilegiando essa for- _____. História da Literatura Portuguesa: Os Árcades. Lisboa:
ma, embora também tenha escrito odes, idílios, epístolas e fosse INCM, 1984.
exímia na técnica do improviso e da glosa” (Flores; Cavalcante, CIDADE, Hernâni. “Prefácio”. In: ALORNA, Marquesa de. Poe-
2017, p. 90). sias. Lisboa: Sá da Costa, 1941, pp. IX-LI.
13 “O facto de [Alcipe] ser mulher, aliado à circunstância de DALILLE, Maria Manuela Gouveia. “A Marquesa de Alorna –
ser descendente de uma família caída em desgraça explica, em uma discípula sensível das Luzes europeias”. In: THIELMANN,
grande medida, o seu cuidado na escolha dos assuntos dos seus Werner (ed.). Século das Luzes. Portugal e Espanha, o Brasil e a
poemas, bem como na selecção dos públicos a que os destina” Região do Rio da Prata. Frankfurt: Verlag TFM, 2006, pp. 209-
(Anastácio, 2007, p. 47). 226.
14 De acordo com Hernâni Cidade (1941, p. 11), o soneto de FERREIRA, Joaquim. História da Literatura Portuguesa. 2a ed.
Alorna iniciado por “Eu cantarei um dia da tristeza”, de Alorna, Porto: Editorial Domingos Barreira, s/d.
dialogava com um soneto de Petrarca, iniciado por “Io cantarei
FLORES, Conceição; CAVALCANTE, Ilane Ferreira. “Reflexões
d’amor si novamente”.
de leitura sobre as poéticas da Marquesa de Alorna e de Maria
15 A cantiga “Dúvida” também evoca Petrarca e Camões: “Logo Teresa Horta”. Revista Ártemis, vol. XXIII, 2017, pp. 89-99.
que Armínio aparece / Ergo os olhos com temor / Quero falar-
HANSEN, João Adolfo. “Autor”. In: JOBIM, José Luis. Palavras
-lhe, não posso, / Será isto acaso amor?” (Alorna, 1941, p. 84).
da crítica: tendências e conceitos no estudo da literatura. Rio de
No soneto “À Morte de Leandro”, a poetista recorre a um verso
Janeiro: Imago, 1992, pp. 11-43.
do terceiro canto de Os Lusíadas, como encerramento: “A voz
extrema ouviu da boca fria” (Anastácio, 2007, p. 151). LAPA, Manuel Rodrigues (org.). Poetas do Século XVIII. 3a ed.
Lisboa: Seara Nova, 1967.
16 “Com efeito, ao longo de toda a vida da autora o amor perma-
neceu um tema pouco frequente na sua obra poética. No que diz LENCASTRE, D. Leonor D’Almeida Portugal Lorena e. Obras
respeito aos sonetos, observamos que dos 110 textos que inven- Poéticas, Tomo II. Lisboa: Imprensa Nacional, 1844.
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QUADRAS DE ALCIPE | 97
O AUTOR
Jean Pierre Chauvin é Pesquisador do programa de Pós-Gra-
duação Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portu-
guesa, no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP. Rea-
liza projeto de pós-doutorado na Unifesp, Campus Guarulhos,
sob a supervisão de João Adolfo Hansen.
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