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Apostila Finanças Comportamentais

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Finanças Comportamentais

Finanças Comportamentais

Finanças Tradicionais vs. Finanças Comportamentais


Um assunto cada vez mais importante no mundo acadêmico financeiro, que vem ganhando espaço
em discussões e estudos nas grandes academias do pensamento econômico mundial, são as
finanças comportamentais (behavioral finance).

Trata-se de uma ramificação das finanças modernas que defende serem os agentes decisórios
dotados de racionalidade limitada.

As finanças comportamentais contestam a Hipótese do Mercado Eficiente e suas


premissas de que os agentes econômicos operam de forma inteiramente racional e
que buscam, em suas decisões, a maximização da utilidade esperada.

Essa contestação se dá a partir da incorporação de conceitos de outras áreas (como Psicologia e


Sociologia) à Economia para explicar as decisões financeiras dos indivíduos.

As finanças comportamentais não buscam substituir os pressupostos da teoria econômica tradicional,


mas sim incluir aspectos psicológicos em suas análises para explicar situações práticas que não são
contempladas na teoria tradicional.

Esse novo ramo de estudo parte do princípio de que algumas variáveis econômicas
não podem ser descritas pelas condições de equilíbrio preconizadas pela teoria
moderna, uma vez que os agentes financeiros tomam decisões que muitas vezes são
incompatíveis com atitudes baseadas em expectativas racionais.

Esses estudos foram incorporados ao contexto das finanças nas últimas décadas, em decorrência
de fortes correções nos preços de ativos durante crises financeiras que não conseguiram ser
inteiramente explicadas pelo modelo moderno de finanças.

A batalha entre as finanças comportamentais e a teoria tradicional de finanças está


concentrada principalmente na eficiência de mercado – conceito que, segundo Statman
(1999), tem dois significados:

― Não há uma forma sistemática de vencer o mercado;

― Os preços das ações são racionais, isto é, refletem somente características utilitaristas
ou fundamentais, tais como risco, mas não características psicológicas e sentimentos.

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Finanças Comportamentais

A concepção tradicional de finanças assume que os investidores possuem três


características principais:

São avessos a riscos: investidores procuram minimizar risco e maximizar retornos


para suas aplicações.

Expectativas racionais: as avaliações e projeções do investidor refletem toda a


informação relevante disponível.

Integração dos seus investimentos: o investidor avalia seus investimentos como


um todo. Ele conhece a teoria moderna de carteiras.

Em contraste com a concepção tradicional de finanças, a escola de finanças comportamentais


considera que os investidores não agem sempre de forma inteiramente racional e, dessa forma,
cometem erros sistemáticos.

As finanças comportamentais assumem que os investidores:

São avessos a perdas: investidores procuram evitar incorrer em perdas, mesmo


que isso implique manter ativos perdedores nas carteiras.

Operam sob racionalidade limitada: o processo decisório é influenciado por uma


série de fatores, o que leva o investidor nem sempre à decisão que irá maximizar a
utilidade esperada.

Segregam seus investimentos: os investidores tendem a visualizar seus


investimentos de forma separada, o que pode implicar diversificações
desfavoráveis.

O foco das finanças modernas está voltado para os resultados do mercado, tais como preço, volume,
dividendos e assim por diante, relevando as causas que produzem estes resultados.

Nenhuma atenção é dada aos atores que atuam no mercado, como os investidores, gestores de
carteiras, entre outros.

Por sua vez, o foco das finanças comportamentais são justamente os atores
que tomam decisões constantemente, cujas consequências serão refletidas
justamente nos preços dos ativos.

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Finanças Comportamentais

Heurísticas e Vieses Comportamentais

Ancoragem, Representatividade, Framing, Excesso de Confiança e Aversão à


Perda são cobrados em todos os exames (CEA, CFP e CGA).

Com base em procedimentos que podem ser considerados rudimentares, em termos científicos,
Daniel Kahneman e Amos Tversky, pesquisadores que podem ser considerados os principais
precursores das Finanças Comportamentais, fizeram experimentos com alunos para tentar averiguar
se os conceitos das Finanças Modernas poderiam ser sempre verificados.

Conforme os resultados expressos em artigos científicos publicados nos anos 1970, os pesquisadores
notaram que os alunos-objetos dos experimentos aceleravam os processos decisórios, simplificando
a tomada de decisão. Ao invés de buscar mais informações para tomada de decisões em condições
de incerteza, como preconizado pelas finanças modernas, os alunos pesquisados se mostravam mais
aptos a concluir o processo decisório assim que acreditavam ter feito análises suficientes.

Segundo os pesquisadores, isso ocorreria porque as pessoas, para avaliarem probabilidades e prever
valores em processos decisórios, se baseiam em um número limitado de princípios heurísticos, ou
seja, regras de bolso, capazes de simplificar essa tarefa de avaliação e previsão. O problema é que,
ao se valer dessas heurísticas, fica-se sujeito a incorrer em erros severos e sistemáticos.

Esse processo de interpretação do ambiente, visando à tomada de decisão, englobaria uma


transformação dos dados conforme essas regras de bolso, influenciando assim de modo decisivo o
processo decisório. E, com isso, os autores defendem que os decisores não são 100% racionais, mas
operam sob o que chamaram de racionalidade limitada.

Eles enumeram três tipos de heurísticas que influenciam o processo de tomada de decisão:
Ancoragem, Representatividade e Disponibilidade.

Ancoragem

A heurística da Ancoragem refere-se à elevada relevância dada a uma informação inicial, geralmente
um valor, que pode ter sido sugerida pela formulação do problema ou pelo resultado
de uma computação parcial.

A partir dessa informação inicial, os decisores tomam esse valor como


ponto de partida para realizar estimações que muitas vezes acabam sendo
próximas desse valor inicial.

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Finanças Comportamentais

Nesse sentido, esse valor é semelhante a uma âncora, mesmo quando essa informação não é
relevante à situação.

Os autores perceberam essa heurística a partir de um simples experimento. Foi solicitado aos
pesquisados estimarem várias porcentagens e, antes de responderem, os pesquisadores forneciam
números arbitrários.

Num dos exemplos, foram fornecidos números a partir de uma roleta e, em seguida, perguntado aos
pesquisados quanto países africanos pertenciam à ONU (Organização das Nações Unidas).

As estimativas médias das porcentagens foram de 25% para os grupos que receberam o número
arbitrário 10, e de 45% para os grupos que receberam o número arbitrário 65, indicando que os
números previamente fornecidos influenciaram as estimativas dos respondentes.

Outros exemplos típicos são de um investidor que venderá suas ações somente se o preço
ultrapassar determinado valor e de um analista ou gestor de ativos que foca a decisão de negociar
um ativo somente se atingir determinado preço, geralmente um preço-alvo.

Note que, nas duas situações, a informação prévia é considerada suficiente para que o decisor
encerra rapidamente o processo de tomada de decisão com base nessa informação.

Representatividade

A heurística de Representatividade remete à influência de acontecimentos passados no processo


decisório. Trata-se de uma tendência que o decisor apresenta a extrapolar o futuro a partir de
acontecimentos passados.

Tversky e Kahneman verificaram essa heurística com uma pesquisa que fizeram, na
qual pediam aos respondentes que inferissem a profissão de determinado sujeito, a
partir de um breve relato de sua personalidade.

O relato afirmava ser esse sujeito tímido e reservado, disponível para ajudar, mas sem muito
interesse pelo convívio social.

Os pesquisadores também descreveram, no perfil do sujeito, os adjetivos fraco, meticuloso e


organizado, e solicitaram aos pesquisados preverem sua profissão a partir de uma lista contendo as
seguintes ocupações: fazendeiro, vendedor, piloto de avião, bibliotecário e médico.

Como resultado, os pesquisadores verificaram que a resposta mais frequente para profissão
do sujeito relatado era bibliotecário e, com isso, identificaram a presença da heurística da
representatividade.

A partir de um estereótipo de bibliotecário, os pesquisados parecem ter simplificado o processo


decisório para previsão da profissão do sujeito, uma vez que não havia informação suficiente para
justificar, racionalmente, qual seria sua ocupação.

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Os autores identificaram nova contradição aos pressupostos da racionalidade


dos processos decisórios, uma vez que são as probabilidades subjetivas (no caso,
o estereótipo de um bibliotecário), frutos da avaliação no processo decisório, que
determinaram preferências entre apostas – e não o contrário, como previsto em
processos de decisão estritamente racionais.

Se esse fosse o caso, era de se esperar que os respondentes levassem em consideração a


proporção de bibliotecários na população, assim como a das outras ocupações listadas para
responderem à enquete.

Com isso, os pesquisadores também constataram que os decisores são insensíveis a


probabilidades anteriores de resultados, o que influencia o julgamento sobre probabilidade de
cada evento e, consequentemente, o processo decisório como um todo.

Em outros experimentos descritos no artigo, os autores constataram serem os decisores insensíveis


também ao tamanho da amostra e à proporção de determinados eventos na amostra.

Ao invés disso, os respondentes se basearam na representatividade de cada evento a partir de


julgamentos subjetivos, especialmente estereótipos.

Outra conclusão a que os autores chegaram foi que as pessoas têm concepções errôneas sobre
o acaso, pois esperam que uma sequência de eventos gerados aleatoriamente represente as
características essenciais de determinado processo, mesmo se a sequência é curta.

Suas pesquisas indicaram que as pessoas esperam que os resultados sigam uma
sequência representativa de determinado evento, como se o acaso fosse visto
como um processo “autocorretor”, em que o desvio em uma direção induziria a
outro desvio, mas na direção oposta, como forma de ‘contrabalancear’ e restaurar
o equilíbrio.

Um exemplo típico dessa heurística é de um investidor que se baseia somente no desempenho


passado do preço de um ativo para adquiri-lo, assumindo que se comportará no futuro da mesma
forma que no passado.

Ou ainda um investidor que compre determinado ativo simplesmente porque o preço vem caindo
há alguns dias, acreditando numa tendência de mercado de que tal ativo recupere seu preço, como
ocorrido no passado.

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Finanças Comportamentais

O viés Disponibilidade será cobrado apenas nos exames CEA e CFP.

Disponibilidade

A disponibilidade remete à facilidade com que determinadas ideias, lembranças ou situações vêm à
mente e influenciam, dessa forma, o processo decisório.

Pode também estar associada à memória recente do decisor e que influencia de alguma forma seu
processo decisório.

Autores identificaram serem grandes grupos de eventos mais rápida e facilmente relembrados do
que classes de eventos menos frequentes.

Além disso, eventos com maior probabilidade de ocorrer são mais fáceis de serem imaginados do
que os menos prováveis, assim como conexões associativas entre eventos são fortalecidas quando
eventos ocorrem juntos.

Devido à teoria da disponibilidade, as pessoas estimam a frequência de uma


classe ou a probabilidade de um evento pela facilidade com que instâncias ou
ocorrências podem ser trazidas à mente.

Seus julgamentos seriam bastante influenciados pela facilidade com que ocorrências de eventos
podem ser lembradas ou resgatadas por livre associação: pela sua visibilidade, exposição e saliência.

Por exemplo, pode-se avaliar a probabilidade de uma dada especulação financeira falhar ou dar certo
em função de acontecimentos recentes com o investidor ou com pessoas de sua relação.

Um exemplo do efeito da disponibilidade foi a significativa queda da procura por passagens aéreas
nos Estados Unidos logo após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

Apesar de o transporte aéreo ser o mais seguro, se avaliarmos o número de acidentes


comparativamente ao número de viagens realizadas, muitos optaram por transportes terrestres, que
são menos seguros, na mesma comparação.

Porém, como houve maciça repercussão e divulgação dos ataques terroristas, que foram
caracterizados pelo uso de aviões, muitos passageiros passaram a optar, naquele momento, por um
transporte mais arriscado – o transporte terrestre.

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Framing

Muitos artigos publicados na área de Finanças Comportamentais trouxeram relatos de experimentos


que confirmam a ideia de que se tende a avaliar de forma parcial perspectivas futuras envolvendo
incerteza e risco, entrando em rota de colisão com a Teoria da Utilidade Esperada.

E uma das respostas defendidas por muitos pesquisadores para esse problema remete ao conceito
de enquadramento ou framing: a forma como as informações são apresentadas pode gerar
alterações de percepções e de julgamento.

Em outras palavras, seria como se fosse tomada determinada decisão frente a um cenário que, se
apresentado (enquadrado) de forma diferente, levaria a outra decisão.

Kahneman e Tversky, em artigo publicado em 1979, relataram o seguinte exemplo. Uma doença
infectou 600 pessoas e os decisores deveriam optar entre os programas A e B:

Programa A: 200 pessoas serão salvas;

Programa B: haverá 1/3 de chance de que 600 pessoas serão salvas e 2/3 de chances de que
todos morrerão.

Os pesquisadores relatam que a maioria dos decisores optou pelo programa A.

Foi então que eles enquadraram esses mesmos programas de formas diferentes, renomeando-os
para C e D:

Programa C: 400 pessoas morrerão;

Programa D: haverá 2/3 de chances de 600 pessoas morrerem e 1/3 de chances de todas se salvarem.

Nesse cenário, a maioria dos decisores optou pelo Programa D. Note que o problema é o mesmo,
mas foi formulado de maneiras diferentes. E isso nitidamente impactou o processo decisório, levando
a resultados diferentes.

Excesso de confiança

O excesso de confiança está relacionado ao fato de os decisores atribuírem excessiva confiança em


sua habilidade de previsão.

Os decisores tendem a confiar de forma demasiada na própria capacidade para


tomar decisões, acreditando serem capaz de fazer escolhas melhores que a média.

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Finanças Comportamentais

Uma maneira de ilustrar isso é pedir aos investidores para preverem um intervalo de confiança para
o retorno esperado de uma ação. Os investidores tendem a estipular um intervalo muito estreito (que
definirá um leque muito estreito de possíveis retornos).

Ou seja, eles tendem a subestimar sistematicamente o risco (desvio padrão) dos retornos
das ações.

Note que o excesso de confiança pode levar a surpresas. Dado que os investidores continuamente
subestimam o leque de possíveis retornos, há uma probabilidade maior que a normal de um retorno
fora do intervalo de confiança (ou seja, uma surpresa).

Existem duas importantes implicações do excesso de confiança e o fracasso


resultante de reconhecer o verdadeiro risco de um investimento.

1. Os investidores tendem a fazer “apostas” injustificadas, sendo demasiadamente


confiantes na sua capacidade de interpretar a informação e prever
desempenho, e não percebem que não têm todas as informações necessárias
para formar projeções imparciais.

2. Com base na sua capacidade para interpretar as informações, os investidores


tendem a operar com mais frequência do que justificado pela informação.

O exemplo típico do comportamento viesado de excesso de confiança refere-se a um investidor


que, baseado na crença de uma capacidade superior de previsão do futuro, gira excessivamente sua
carteira de ativos, procurando antecipar-se constantemente aos movimentos do mercado.

O resultado é que esse investidor nem sempre consegue superar o benchmark apropriado e, quando
o faz, muitas vezes incorre em elevados custos de transação (pelo giro excessivo da carteira) que o
ganho líquido fica aquém da variação do benchmark.

Aversão à perda

A aversão a perdas refere-se à relutância do investidor em aceitar uma perda.

Uma ação pode estar consideravelmente desvalorizada em relação ao seu preço de


compra, mas o investidor a mantém, esperando que seu preço se recupere.

Este conceito pode ser relacionado com o jogador que continua jogando os dados, na esperança de
recuperar suas perdas.

Note que há uma leve diferença entre aversão a perdas e ancoragem. Um investidor que não quer
assumir uma perda não venderá a ação enquanto o preço de compra não for superado.

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Finanças Comportamentais

Para configurar a presença da ancoragem, o investidor deve, por exemplo, comprar a ação a
R$ 40 e não vendê-la antes de o papel atingir R$ 48, preço-alvo divulgado pelo analista de ações
que lhe assessora.

Se o papel atingir R$ 47 e ainda assim ele não vender, ficará ainda mais clara a presença da
ancoragem: não haverá perdas, com o investidor tomando a decisão única e exclusivamente com
base em um número previamente fornecido.

A aversão à perda pode levar ao comportamento de “sede de risco”. Um gestor de carteira, por
exemplo, pode ter tido perdas recentes.

Sabendo que ele deve reportar seus resultados no final do trimestre, e relutante em relatar as
perdas, ele começa a tomar posições progressivamente mais arriscadas, na esperança de, pelo
menos, empatar.

O comportamento de busca por risco para evitar perdas é justamente a base


da Teoria da Perspectiva, desenvolvida por Kahneman e Tversky com base nas
constatações de heurísticas e comportamentos viesados verificados pelos
autores anteriormente.

Alguns outros autores também detectaram o viés da aversão a perdas em seus estudos.

Bazerman (2004) reforça essa questão da aversão a perdas, destacando que


investidores preferem manter ações a vendê-las quando seu preço fica abaixo
daquele pago para adquiri-las, pois aliená-las, nessas condições, implicaria
reconhecer uma estratégia perdedora e, consequentemente, arcar com a perda.

Por sua vez, muitos autores identificaram que investidores preferem vender rapidamente ações que
registram ganhos, como forma de realizar os lucros.

Os vieses Status Quo e Teoria da Perspectiva serão cobrados nos exames CFP e
CGA.

Status Quo

Outro comportamento viesado que aparece com certa frequência em estudos sobre Finanças
Comportamentais é o de status quo.

A partir dessa simplificação de julgamento, alguns decisores preferem manter a situação como se
encontra a efetuar qualquer mudança, mesmo que esse movimento implique maiores ganhos.

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Finanças Comportamentais

Esse viés pode também estar relacionado à aversão a perdas e ao efeito disposição: ao invés de
vender ativos com desempenho desfavorável, o investidor pode preferir mantê-los, justamente para
não precisar assumir explicitamente a adoção de uma estratégia perdedora e, com essa inação,
estaria também se valendo do viés de status quo.

As consequências deste viés podem se resumir em investidores:

― Mantem carteira com nível de risco inadequado.

― Não consideram outras, melhores opções de investimentos.

― Com posições concentradas em ações da empresa onde trabalham.

Teoria da perspectiva

A Teoria da Perspectiva (Prospect Theory) descreve como as pessoas estruturam e avaliam uma
decisão que envolva incerteza.

Primeiro, os investidores estruturam as opções em termos de ganhos e perdas potenciais, relativas a


um ponto de referência específico.

Apesar de aparentemente se ancorarem em vários pontos de referência, o preço de aquisição do


ativo parece ter a maior importância.

Segundo, os investidores avaliam os ganhos e as perdas de acordo com a função de utilidade em


forma de “S”, representada na figura abaixo.

A aversão a perdas e um comportamento de busca de risco para não assumi-las podem ser
observada na função, que possui duas curvaturas bem diferentes.

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Finanças Comportamentais

A função é côncava na parte dos ganhos. Os investidores se sentem satisfeitos


1 (a partir de um valor de utilidade mais alto) quando ganham, por exemplo, R$ 500.

Eles têm satisfação ainda maior quando esse ganho é dobrado, no valor de
R$1.000. Porém, isso não quer dizer que tal satisfação chegue a ser duas
vezes maior.

2 A função é convexa para perdas, isto é, sentem-se mal quando perdem. Mas, se
perdem o dobro, a sensação de mal-estar será proporcionalmente maior àquela
correspondente a duas vezes a sensação de quando perderam metade.

A função é mais inclinada para perdas do que para ganhos. Essa assimetria
3 entre ganhos e perdas leva a reações mais acentuadas em relação às posições
perdedoras do que para ganhadoras.

Um aspecto adicional da Teoria da Perspectiva é que as pessoas separam cada investimento para
monitorar os ganhos e as perdas e reexaminar as posições periodicamente.

Essas contas separadas são chamadas de contabilidade mental, na qual o investidor pensa em suas
aplicações como se fossem compartimentos separados: “dinheiro de apostas” (ações), “poupança”
(renda fixa), etc., ou seja, uso de atributos superficiais.

Dificilmente é analisada a relação entre essas aplicações numa perspectiva integrada de risco
e retorno.

O resultado deste viés pode ser a existência de maior risco do que o necessário
pela inexistência ou falta de diversificação dos investimentos.

Outra consequência é a rejeição de ativos que o investidor considera arriscados, analisados


individualmente, mas que poderiam proporcionar melhores retornos e serem adequados ao perfil
de risco de uma carteira como um todo.

Os vieses Movimento de Manada e Desconto Hiperbólico serão cobrados apenas


no exame CFP.

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Movimento de manada

O processo de tomada de decisão também pode ser simplificado se o decisor optar pela decisão que
demais estão optando.

Nesse sentido, pode-se preferir escolher conforme outras pessoas e, com isso, o processo decisório
seria simplificado.

Essa dinâmica revelou-se presente em alguns estudos, principalmente quando o decisor tem pouca
ou nenhuma informação a respeito do problema envolvido e, estando em um grupo no qual os
demais participantes decidem por determinada opção, esse decisor tende a seguir os demais.

Trata-se do chamado Efeito Manada.

Desconto hiperbólico

Além dos vieses e das heurísticas de julgamento, outros estudos que merecem destaque no campo
das Finanças Comportamentais referem-se aos trabalhos publicados sobre escolha intertemporal.

Segundo essa vertente, o fato de as consequências de uma decisão se desdobrarem


ao longo do tempo pode influenciar o processo decisório.

Giannetti (2005) refere-se a esse tema utilizando o termo troca intertemporal, que consiste na ação de
manipular de alguma forma a sequência dos eventos no tempo de modo a favorecer a realização de
um dado fim.

Conforme o autor, a troca intertemporal implica o intercâmbio entre um custo (aquilo que foi pago) e
um benefício (que foi recebido em determinada transação).

Além desse intercâmbio inerente a qualquer troca, toda troca intertemporal, não importa qual seja a
sua feição concreta, traz implícita a ocorrência de juros, segundo o autor.

Então, o juro estaria associado à quantia que se paga por antecipar um benefício ou a que se ganha
por postergar o recebimento desse benefício.

Conforme o princípio da racionalidade, o decisor, diante das opções que


envolvam as possibilidades de consumir agora e pagar depois, ou pagar agora e
consumir depois, avaliaria qual seria exatamente a mais vantajosa em termos de
benefícios e custos.

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Finanças Comportamentais

Se for mais vantajoso ser prudente e esperar para consumir mais no futuro, certamente o decisor
optaria pela renúncia desse consumo no presente. Da mesma forma, se a decisão por antecipar o
consumo fosse mais interessante, é de esperar que essa seria a escolha feita.

Ocorre que à medida que se aproxima o momento de tomada de decisão, haveria


uma tendência a consumir agora e pagar posteriormente: a propensão a descontar
o futuro – viver agora, pagar depois – aumenta de forma acentuada conforme a
oportunidade concreta de agir se aproxima, de acordo com Giannetti.

Com isso, parece haver uma flexão pela valorização do presente, melhor representada,
segundo autor, por uma curva com o formato de uma hipérbole, resultando no chamado
desconto hiperbólico.

Isso se deve ao fato de as decisões envolverem uma combinação instável entre preferências
inconsistentes, contrariando os princípios da racionalidade e da Teoria da Utilidade Esperada, que
pregam preferências consistentes com a maximização da utilidade.

Dessa forma, haveria, por conta dessa dinâmica temporal, um enaltecimento do presente,
relacionado à disfunção da visão conhecida por miopia, levando o decisor a preferir o recebimento
dos benefícios na atualidade, mesmo que isso não implicasse a melhor decisão em termos de
utilidade esperada.

Por sua vez, o desconto hiperbólico pode agir de forma inversa, com o decisor sobrevalorizando o
futuro, num movimento que o autor associou à hipermetropia. Nesse caso, o processo decisório
estaria mais inclinado pela renúncia do consumo na atualidade para consumo no futuro.

Outro pesquisador do tema desconto hiperbólico foi George Ainslie (2005), que criticou
a racionalidade no processo decisório, acrescentando o termo subjetivo – desconto
hiperbólico subjetivo.

Segundo esse autor, processos que envolvam recompensas rápidas tendem a ser preferíveis àqueles
com benefícios superiores, mas com recebimentos mais lentos.

Analisando de forma mais profunda essa dinâmica representada por sua teoria do desconto
hiperbólico subjetivo, Ainslie (2005) defende que essas recompensas rápidas geram uma relação
de conflito no decisor, que resultaria num impulso em direção à opção por essa recompensa
imediata (mas que geralmente envolve benefícios inferiores), como forma de se desvencilhar
dessa situação desconfortável.

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Finanças Comportamentais

Resumo
A seguir, as principais heurísticas e os comportamentos viesados mais importantes:

Heurísticas de Julgamento Descrição Exemplo característico

Influência de eventos passados Adquirir um ativo analisando


Representatividade na previsão de comportamentos simplesmente o retorno
futuros. passado.

Com base no preço-alvo de


uma ação, informado por
Influência de uma informação
um analista, um investidor
Ancoragem prévia (geralmente um número)
não toma qualquer decisão
na tomada de decisão
se o papel não atingir o valor
esperado.

Facilidade com que


Memória recente do decisor
determinadas ideias,
acerca de determinada situação
Disponibilidade lembranças ou situações vêm
impacta o processo de decisão
à mente influenciando, dessa
no presente.
forma, o processo decisório

Comportamentos Viesados Descrição Exemplo característico

Girar demais sua carteira de


Investidor confia
ativos e tem o desempenho
demasiadamente em sua
prejudicado pelos custos de
Excesso de confiança capacidade de prever o futuro e
transação decorrentes, ficando
se antecipar aos movimentos de
o resultado final geralmente
mercado.
abaixo do benchmark.

Relutar em desfazer uma


Dificuldade de assumir uma
posição perdedora para não
Aversão a perdas perda e admitir uma decisão
admitir que tomou uma decisão
malsucedida.
que resultou em prejuízo.

Manter a atual carteira e não


Desejo de nada fazer (manter as
Status quo considerar melhores opções de
coisas como estão, inércia).
investimentos.

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Finanças Comportamentais

Investidor decide adquirir


Decisor optar pela decisão que determinada ação porque
Movimento de Manada
demais estão optando. muitos outros investidores
também estão comprando.

Decisor muda sua preferência


Resposta dada é afetada pela
quando a mesma situação é
Framing maneira que a pergunta foi feita
apresentada em um formato
(resposta é influenciada)
diferente.

Recompensas rápidas geram


uma relação de conflito no
Processos que envolvam decisor, que resultaria num
recompensas rápidas tendem impulso em direção à opção
Desconto hiperbólico a ser preferíveis àqueles com por essa recompensa imediata
benefícios superiores, mas com (mas que geralmente envolve
recebimentos mais lentos benefícios inferiores), como
forma de se desvencilhar dessa
situação desconfortável.

Assimetria entre ganhos e O conforto associado com


perdas leva a reações mais o ganho de uma unidade
Teoria da Perspectiva acentuadas em relação às é inferior ao desconforto
posições perdedoras do que associado à perda da mesma
para ganhadoras. unidade.

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