Escape Room No Ensino de Química
Escape Room No Ensino de Química
Escape Room No Ensino de Química
20160188
A educação química precisa ser discutida com foco na aprendizagem que os sujeitos do século XXI
necessitam. Desse modo, incorporar a criatividade, a colaboração, a comunicação e o pensamento crítico
em práticas instrucionais modernas torna-se relevante. Este relato empírico objetiva apresentar uma nova
forma de implantar a Aprendizagem Baseada em Jogos por meio do uso do escape room (sala de fuga).
Para tanto, construímos um desenho a fim de orientar a elaboração de um escape room em um ambiente
não formal de ensino e, em seguida, apresentamos algumas opiniões dos participantes do jogo em relação
à experiência vivenciada para a aprendizagem da química. Os resultados incluem aspectos sobre a cons-
trução de espaços para proporcionar falha (fracasso) como sendo favorável para a aprendizagem química
em salas de fuga, além da importância do trabalho colaborativo na resolução de problemas escalonados em
diferentes níveis de complexidade. 45
ensino de química, escape room, aprendizagem baseada em jogos
I
novações ou adaptações pedagógicas são sempre experiência de aprendizado dos alunos, ela remonta à década
bem‑vindas ao contexto do ensino da Química, sobre- de 1970, quando foi divulgado o jogo The Oregon Trail. Com
tudo se elas forem capazes de efeito, ao promover situações de
fomentar habilidades do século aprendizagem pautadas no lúdico,
[...] ao promover situações de
XXI na formação química dos a integração dos jogos com a ciên-
aprendizagem pautadas no lúdico, a
estudantes, tais como a contribui- cia química a torna mais divertida
integração dos jogos com a ciência química
ção com a alfabetização digital, a torna mais divertida e com elevado e com elevado potencial para con-
o pensamento inventivo e crítico, potencial para contribuir com a construção tribuir com a construção de conhe-
a utilização de uma ampla va- de conhecimentos plurais que possam cimentos plurais que possam ser
riedade de habilidades durante a ser agregados à química. Isto porque a agregados à química. Isto porque
resolução de problemas, aspectos GBL pode se adequar a todos os tipos de a GBL pode se adequar a todos os
colaborativos, entre outros bene- estilos de aprendizagem dos alunos, bem tipos de estilos de aprendizagem
fícios. Nesse viés, a proposição como com os conhecimentos de cunho dos alunos, bem como com os co-
de novas estratégias pode apoiar conceitual, factual e procedimental. nhecimentos de cunho conceitual,
fortemente um ensino eficaz que factual e procedimental. Há vários
garanta a aprendizagem dos alu- estudos na literatura relatando que
nos sobre habilidades do século XXI. o uso dos jogos sob este viés pode melhorar o interesse e a
Nessa direção, a Aprendizagem Baseada em Jogos (GBL, motivação dos alunos na aprendizagem da química (Chee
ou na língua inglesa adotado como game based learning) e Tan, 2012; Winarti et al., 2017, Srisawasdi e Panjaburee,
vem contribuindo positivamente com o campo de renovações 2018), entre outros.
didático-metodológicas, as quais podem ser incorporadas Há muito tempo, os jogos são concebidos para fins
em ambientes educacionais. Este tipo de aprendizagem está educacionais. E, cada vez mais, estão sendo utilizados em
relacionada ao uso de jogos que se propõem a aprimorar a diferentes níveis de ensino como ferramenta de aprendizado
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alternativo para oportunizar aprendizados sobre química para O que é um jogo do tipo Escape Room? Por que devemos
alunos de diferentes faixas etárias. Há uma gama de tipos de usá-lo no ensino de química?
jogos que podem ser usados com a finalidade de entreter e
ensinar em sala de aula, existindo, ainda, possibilidades de As salas de fuga ainda são pouco utilizadas no ensino de
inovação dentro desse segmento, já que se trata de um tema química. Isto demonstra potencial para serem desbravadas
que agrega uma contribuição idiossincrática aos processos e aplicadas como ferramenta inovadora e interessante para
de ensino e aprendizagem, bastando, para tanto, alinhar os engajar alunos utilizando diversos temas ou conteúdos quí-
objetivos traçados para atingir a aprendizagem dos alunos micos, tendo em vista que a aprendizagem baseada em jogos
com o currículo. Desse modo, a utilização dos jogos como é uma excelente maneira de aumentar o envolvimento nas
abordagem educacional favorece o estímulo, a capacidade atividades escolares. Segundo Whitton (2018), as salas de
de pensar criticamente e, sobretudo, o trabalho colaborativo fuga são uma forma relativamente nova de entretenimento
para resolver os problemas. em que pequenos grupos de jogadores trabalham juntos
No contexto de inclusão da GBL nos espaços destinados em um determinado período para encontrar pistas, resolver
à construção de conhecimentos percebe-se que os jogos quebra-cabeças e escapar de uma sala trancada na vida
apresentam amplo potencial para compor abordagens pe- real. Na mesma linha da realidade, Borrego et al. (2017)
dagógicas em química que incorporem a aprendizagem em definem os jogos de fuga como atividades reais nas quais
grupos. Nessa direção, estudos realizados por Stockwell os participantes entram em uma sala e apenas saem dela
et al. (2017) defendem que a aprendizagem em grupo após resolver alguns enigmas. Independente das definições
pode ser mais eficaz do que a que giram em torno de um núcleo
individual, uma vez que incenti- comum de ideias, é necessário
Neste relato, exploraremos os jogos de
va as interações na vida real e o ainda pontuar que todas as salas
Escape Room (jogos de sala de fuga)
envolvimento entre os jogadores como forma de abordar a Aprendizagem de fuga exigem que os jogadores
e ajuda a promover e desenvolver Baseada em Jogos em um contexto não- trabalhem juntos para atingir um
habilidades de comunicação e digital. Nosso objetivo é abordar o escape mesmo objetivo, em oposição ao
46 interações de grupo através do room para incentivar o seu uso no ensino uso dos jogos que prezam pelo
jogo (Dascalu et al., 2016). O fato de química, além de demostrar alguns viés competitivo. Assim, só existe
é que a aprendizagem baseada em resultados obtidos com a experiência uma única possibilidade, ou seja,
jogos é uma excelente maneira de educativa proporcionada. entrarem juntos e saírem juntos da
aumentar o envolvimento com sala, independente de o resultado
as atividades instrucionais da alcançado ser exitoso ou não.
química e contribui para colocar em prática atividades co- Os jogos de Escape Room são baseados em resolução de
laborativas. Decerto, existem dezenas de formas de aplicar problemas de forma colaborativa e que devem ser resolvidos
esse tipo de estratégia metodológica na química, represen- em um intervalo de tempo pré-estabelecido. Para Clarke et
tando, assim, possibilidades plurais que se inter-relacionam al. (2017), este tipo de jogo fornece um contexto colabora-
com a capacidade de criatividade do professor e a sua tivo, motivador e autêntico, pois os quebra-cabeças podem
disponibilidade. ser projetados para superar metas curriculares específicas.
Neste relato, exploraremos os jogos de Escape Dessa maneira, o seu uso, quando inserido em atividades
Room (jogos de sala de fuga) como forma de abordar a com objetivos pedagógicos definidos, pode favorecer a uma
Aprendizagem Baseada em Jogos em um contexto não-digi- combinação de conhecimento químico e raciocínio lógico,
tal. Nosso objetivo é abordar o escape room para incentivar os quais podem ser úteis para os professores em relação ao
o seu uso no ensino de química, além de demostrar alguns encorajamento dos alunos no processo de aprendizagem,
resultados obtidos com a experiência educativa proporcio- bem como testar suas habilidades (Peris, 2007). Estes
nada. Vale destacar que no campo da educação química quebra-cabeças estão inseridos em uma ‘trama’ que deve
brasileira, os benefícios desse tipo de jogo até o momento ser desvendada até encontrar a possível ‘saída’ da sala, ou
não foram relatados na literatura quando relacionados ao seja, são jogos geralmente baseados em torno de um tema
ensino de química ou de outra ciência natural, fato que o específico e tem um elemento narrativo (Whitton, 2018).
torna promissor para ser explorado como estratégia peda- Originalmente, o primeiro escape room surgiu no Japão
gógica. É importante frisar que são jogos que apresentam por volta de 2007 (Clarke et al., 2017). Pode ser considerado
potencial inovador e que podem beneficiar alunos perante ainda um gênero dos role-playing games (RPG), mais especi-
o surgimento de habilidades motivacionais que levem à ficamente, uma adaptação do live-action (Nicholson, 2015).
aprendizagem, pois proporcionam uma experiência de A sua adoção na educação foi fortemente impulsionada com
alto engajamento, pois impulsiona os jogadores a resolver base nos benefícios que este tipo de jogo demonstrou, pois
problemas. Na realidade, o escape room fornece uma forma apresenta potencial para promover uma aprendizagem co-
diversificada de métodos de entrega de informações mul- laborativa diante da resolução de problemas; favorecer uma
timodais que demonstram potencialidades para o ensino e experiência em um contexto real por meio da simulação;
a aprendizagem da química. fomentar um aprendizado flexível; criar situações nas quais
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há maiores chances de retenção do conhecimento químico implantar um escape room pode requerer mais tempo do
e, consequentemente, a aplicação desse conhecimento para que recursos financeiros, contudo, os resultados podem
outras situações do cotidiano, além de incentivar a prática ser vantajosos aos processos de ensino e aprendizagem
relacionada à expressão e à agilidade corporal (os alunos se da química. Quanto à forma de elaboração e componentes
movimentam durante a atividade); fornecer feedback ime- constituintes, propomos um desenho que pode ser usado
diato aos professores sobre o andamento da aprendizagem como roteiro-guia (descreveremos mais adiante), porém,
dos seus alunos; permitir a ‘falha’, entre outras vantagens. há ampla liberdade para a caracterização do espaço e da
Salienta-se que os atributos citados vão ao encontro de elaboração dos quebra-cabeças/enigmas que deverão estar
uma aprendizagem química que realmente pode ser capaz alinhados com os objetivos traçados para a aprendizagem
de contribuir para atender às exigências educacionais do química dos alunos. Cabe destacar que é bastante intrigante
século XXI. o número e a variedade de quebra-cabeças que existem e
Com isso, percebemos que o escape room no ensino que podem ser adaptados para esse fim. Com o escape room
de química pode permitir flexibilidade ao contexto de se abre uma nova oportunidade de repaginação sobre as
aprendizado. Isto porque não se enquadra numa aborda- formas como os conteúdos presentes nos currículos podem
gem ortodoxa amplamente abraçada pela sociedade sobre ser apresentadas.
os significados atribuídos ao ‘aprender e ensinar’. Assim, Ainda nessa vertente, ao criar um espaço para o trabalho
a adoção de métodos que permitam aos alunos elabo- escolar de modo desafiador para promover uma experiência
rarem seu próprio caminho lógico para uma solução de significativa de aprendizagem nos alunos, os professores
um determinado problema deve precisam ter em conta a liberda-
ser altamente incentivada, pois As salas podem ser montadas com a
de de permitir a falha (fracasso)
simula um contexto factível para utilização de um espaço físico subutilizado dos alunos durante o processo de
a aplicação de conhecimentos na da escola e decorada com artefatos de resolução dos quebra-cabeças/
resolução de problemas diversos. simples acesso, ou, ainda, com o uso dos enigmas presentes na sala. O
Com o uso do escape room, é materiais mantidos no depósito da escola. sucesso ou o fracasso do grupo
possível acelerar o desempenho depende de sua experiência em 47
cognitivo dos alunos porque a resolver os enigmas e decifrar os
atividade exige que eles reúnam e mobilizem várias de códigos inseridos na sala corretamente (Nebot e Campos,
suas habilidades sobre lógica, colaboração, resolução de 2017). Isto implica dizer que muitas vezes o ‘fracasso’ dos
problemas, habilidades conceituais e físicas, comunicação, alunos frente à atividade pode servir de um excelente me-
pensamento crítico etc. Logo, escapar da sala exige esforços canismo avaliativo para mensurar os objetivos educacionais
cognitivos e manifestação de diferentes habilidades. Sobre traçados inicialmente. Além do mais, é preciso oportunizar
as tarefas que devem ser realizadas para escapar da sala, aos alunos múltiplas chances de demonstrar o domínio sobre
Zhang et al. (2018) afirmam que, os conteúdos químicos, por isso, se almejamos aguçar neles
habilidades e competências do século XXI, também devemos
Para escapar da sala, os participantes devem prati- avaliá-los com métodos alternativos.
car trabalho em equipe, comunicação, delegação de Nesse viés, Whitton (2018) garante que a criação de
tarefas, pensamento crítico e pensamento divergente salas de fuga envolve um desafio rico, reunindo habilidades
para lidar com uma série de quebra-cabeças cada vez criativas de resolução de problemas e design técnico em um
mais complexos, desde objetos ocultos, montagem espaço seguro, no qual o resultado realmente não importa
de objetos físicos (quebra-cabeças), contagem e/ou (embora o processo possa ser avaliado). Com isso, abre-se
correspondência de símbolos. Ao longo da atividade, espaço para a discussão do possível impacto do resultado do
o mestre do jogo observa o progresso dos participan- jogo para a construção da aprendizagem dos sujeitos. Sob
tes através de várias câmeras que estão fisicamente este ponto, Plass et al. (2015) defendem que o fracasso não
montadas em toda a sala. Os jogadores podem receber pode ser descrito como um resultado indesejável, pois ele é,
dicas visuais esporádicas, exibidas em um monitor de por definição, um passo esperado e, às vezes, necessário no
televisão na sala, que são fornecidas pelo mestre do processo de aprendizagem, uma vez que amplia espaços para
jogo se os participantes não conseguirem progredir a reflexão dos alunos sobre os seus possíveis erros durante
na solução de pistas ou se os participantes desejarem a realização da atividade.
receber uma pista diretamente (p. 1). A seguir, discutiremos a metodologia do trabalho e, para
tanto, proporemos um desenho para orientar a construção
Todas as ações exigidas ou descritas podem ser adapta- de um escape room para o ensino de química, abordando os
das para o ensino da química de forma criativa e também seus elementos constituintes. Em seguida, descreveremos
econômica. As salas podem ser montadas com a utilização a experiência vivenciada apresentando alguns resultados
de um espaço físico subutilizado da escola e decorada preliminares e, por fim, faremos as nossas conclusões acerca
com artefatos de simples acesso, ou, ainda, com o uso dos do escape room como estratégia para a aplicação do GBL
materiais mantidos no depósito da escola. Seguramente, no ambiente educacional.
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Metodologia room abordando conteúdos instrucionais da química. Longe
de limitarmos possibilidades para a sua estruturação, nosso
a) Delineamentos adotados desenho visa, tão somente, facilitar a construção de salas de
Este artigo traz um relato de pesquisa de natureza fuga para o ensino de química, muito embora ele também
qualitativa com abordagem descritiva sobre a utilização possa ser utilizado por qualquer outra área do conhecimento.
do escape room no ensino de química. O estudo empírico Com o intuito de esclarecer e incentivar o uso deste tipo
realizado envolveu ao todo 102 pessoas, contudo, menos de jogo, a Figura 1 e o Quadro 1 objetivam demonstrar os
que 1/5 dos participantes responderam o questionário ao passos utilizados e, respectivamente, a descrição de cada um
final da experiência de forma espontânea e voluntária. Ele deles para um maior entendimento do leitor, desmistificando,
foi elaborado utilizando a ferramenta formulários google® assim, os elementos constituintes de um escape room, sem
e continha quatro questões fechadas e uma questão aberta. pormenorizar a importância de cada um deles na busca para
Vale ressaltar que o objetivo do questionário final de opinião proporcionar uma construção holística sobre a experiência
foi aferir eventuais diferenças em relação às concepções em aplicar o escape room em um contexto educacional.
observadas por meio do escape room. Destaque-se que os Mesmo sabendo que algumas etapas presentes na Figura
dados obtidos pelas questões fechadas foram tabulados, já 1 poderiam ser agrupadas, preferimos, neste primeiro mo-
a questão aberta foi utilizada para exemplificar as opiniões mento, apresentá-las e discuti-las de modo mais detalhado
sobre a estratégia pedagógica implementada. para favorecer uma visão mais aproximada da estrutura de
um escape room com finalidade educacional.
b) Propondo um desenho para a elaboração do Escape Room Adicionalmente, é importante mencionar que há duas
O nosso relato também intenta demostrar o desenho que possibilidades para a criação da sala de escape room. Na
foi utilizado como roteiro-guia para a construção do escape primeira delas, o professor pode ser o ‘mestre do jogo’ e
48
Figura 1: Etapas constituintes utilizados na elaboração do escape room: proposta de um desenho. Fonte: Elaborada pelos autores
Etapas Detalhamento
1. Defina o tema/ Os assuntos ou temas utilizados podem ser diversos. Assim, em se tratando do conhecimento quími-
assunto ou conteúdos co, as salas podem ser excelentes ferramentas para discutir, além dos conteúdos curriculares, temas
instrucionais. transversais, enfoques CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), aplicar a abordagem STEAM (Ciência,
Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), trabalhar a Educação Inclusiva e Questões Étnico-Raciais:
todos numa perspectiva química, além de outros. As salas podem atuar também como auxiliares na
exploração de alguns vértices representativos do nível do conhecimento químico fornecido pelo Triplet
de Johnstone (1993)1, em especial, o nível simbólico e macroscópico.
2. Crie uma narrativa. A narrativa é crucial para sustentar uma boa trama que deve ser desvendada pelos alunos. Podemos
dizer que ela é responsável pelo processo de imersão do aluno na experiência e precisa ser convincente,
apresentando, assim, logicidade. A narrativa irá ancorar diferentes tipos de enigmas, que, por sua vez,
são responsáveis por revelar possibilidades para o seu desfecho final.
3. Estabeleça as regras. Como em qualquer outro jogo, as regras são imprescindíveis para o escape room. Através delas, é
possível informar o que é permitido ou não dentro do espaço físico da sala. Assim, deve-se fortalecer a
ideia de que não é preciso arrastar os móveis da sala, nem usar força física para abrir objetos e garantir,
sobretudo, que a resolução dos problemas em formato de enigmas inseridos na narrativa deve ser feita
coletivamente. É importante configurar regras claras e curtas.
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Quadro 1: Descrição sobre as etapas constituintes do escape room e seu detalhamento (cont.)
Etapas Detalhamento
4. Fixe o tempo de O tempo de duração é outro fator importante, pois ele serve de norteador para a construção dos enig-
duração da atividade. mas, podendo influenciar na sua quantidade e complexidade. De um modo geral, quanto mais tempo,
mais enigmas ou enigmas mais robustos em seu grau de complexidade, no entanto, é possível utilizar
poucos enigmas desde que eles apresentem complexidade mais elevada. Uma pergunta que se deve
fazer antes de elaborar os enigmas é: de quanto tempo eu precisaria para resolver todos os problemas
apresentados na sala? Sua resposta precisa ter ‘empatia química’ com os alunos. É importante tam-
bém levar em conta o tempo de ‘prospecção’ das pistas pelos alunos, a reflexão sobre elas e o seu
agrupamento para entender a narrativa pelos alunos.
5. Defina a quantidade Um jogo de escape room é projetado para ser jogado por uma equipe que trabalhará colaborativamente
de jogadores. a fim de solucionar os problemas e encontrar a sua saída, ou seja, escapar/fugir dela. É preciso levar
em conta as dimensões do espaço físico. Se a sala for pequena demais, inviabilizará, por exemplo,
que ela comporte um número elevado de jogadores, pois eles não conseguiriam analisar as pistas com
atenção ou se movimentar com facilidade dentro dela. É sempre bom estabelecer uma capacidade
máxima e mínima permitida.
6. Determine a A quantidade de problemas/enigmas/puzzles está diretamente imbricada ao tempo de duração estipu-
quantidade de lado, à complexidade cognitiva dos problemas e à ‘empatia química’. É altamente favorável intercalar
problemas. desafios mais difíceis com desafios mais fáceis e ligeiramente mais curtos e objetivos. A meta é sempre
desafiar os participantes a escapar da sala.
7. Construa os desafios/ Esta etapa é altamente desafiadora para quem elabora um escape room. A criação pode ser bem di-
enigmas. Planeje as versa, mas se deve sempre articular os enigmas com a narrativa, dando um sequenciamento para ela.
pistas. Geralmente, as salas de fuga possuem forte apelo ao uso dos cadeados, códigos, etc. Sobre a produção
dos enigmas, eles podem ser elaborados utilizando ferramentas da internet, Qr codes, mapas, textos
impressos, imagens, pinturas, padrões numéricos, gravações de áudio, vídeos, caça-palavras, cifras,
códigos do tipo Braille e/ou Morse etc. Há uma gama de possibilidades que podem ser viáveis para a
montagem da sala. Contudo, a complexidade dos enigmas precisa ser dosada. Desafios demasiada- 49
mente fáceis ou complicados demais podem implicar em desmotivação, por isso, o ideal é aumentar
a complexidade a cada enigma resolvido ou intercalar um enigma complexo com um mais fácil de ser
resolvido, visto que eles precisam dar fluidez ao jogo e, assim, torná-lo muito difícil levará ao fracasso
da maioria dos alunos em resolver o enigma final que possibilitará a saída da sala. Os enigmas pre-
cisam de pistas. Elas são fundamentais para também proporcionar uma imersão dos alunos ao jogo.
Para cada enigma é fundamental pensar em uma pista ou conjuntos de pistas. Quando combinadas
com os enigmas, deverão dar um sequenciamento lógico que permita fazer os alunos enxergarem o
seu andamento no jogo, mostrando, assim, que eles se aproximam do enigma final que fornecerá a
‘chave’ de acesso à porta. As pistas também ajudarão a dar uma identidade visual e temática à sala.
8. Verifique a As tecnologias desempenham um papel duplo. Para elaborar os enigmas e pistas, os professores podem
possibilidade de inserção recorrer ao uso de sites. Já durante o seu uso na sala, as tecnologias podem ser inseridas por meio de
da tecnologias. um dispositivo móvel, como, por exemplo, um celular. No entanto, é fundamental que os professores
não permitam que os alunos entrem na sala portando os seus dispositivos, uma vez que eles podem
fotografar e repassar informações sobre a sala para os demais alunos. Caso utilize o celular, ele pode
ser acessado por meio da resolução de um enigma que tenha como pista um telefone que intuitivamente
poderá ser utilizado pelos alunos para realizar uma possível leitura de um Qr code, por meio de um App
(aplicativo), cadeados, chaves, usar a lanterna, a calculadora, ou qualquer outro aplicativo que possa
ser utilizado para incrementar a sala e gerar códigos que precisam ser decifrados.
9. Escolha o espaço fixo O espaço físico pode ser um local subutilizado da escola, assim como também pode ser um ambiente
para a sala. que foi adaptado para o contexto do jogo. Nele, é importante que se tenha uma porta para fortalecer
a ideia de que os jogadores precisam sair do local encontrando a chave que abre a porta. Contudo,
caso a porta não possua chave, isto também pode ser ajustado, o que mostra que abrir a porta é uma
metáfora que deve ser incentivada durante o jogo. Por exemplo, é possível esconder uma buzina/apito
que, ao ser encontrado, deverá ser acionado como indicativo de resolução (com êxito) de todos os
enigmas existentes na sala. Também é possível colocar uma corrente de ferro e um cadeado, que, neste
caso, terá como objetivo fazer com que os alunos encontrem a chave que pode estar escondida dentro
da sala. A construção de salas de fuga em eventos da área e feiras de ciências também surge como
excelente opção para a implantação desse tipo de jogo.
10. Escolha os artefatos. A escolha dos artefatos é uma etapa também importante para a montagem do escape room. Eles ajuda-
rão a decorar a sala, farão parte do cenário de modo geral, podendo ser utilizados diferentes materiais
existentes no depósito da escola ou de sua casa. Por exemplo, é possível colocar espelho, quadros
diversos, caixas plásticas com fecho para cadeado, caixas de papelão ou madeira, jarros, pedaços de
madeiras, vasilhas, mobiliários em geral etc. Enfim, os artefatos são igualmente adaptados ao contexto
da sua sala e devem, preferivelmente, estar em harmonia com o seu enredo, contribuindo assim, para
a imersão do aluno no mundo real e físico do jogo. Os artefatos também podem dar um ar de diversão,
pois os professores podem colar cartazes com piadas internas, nome da escola, fotos etc.
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Quadro 1: Descrição sobre as etapas constituintes do escape room e seu detalhamento (cont.)
Etapas Detalhamento
11. Teste e repita os itens Todas as regras devem ser repassadas e os enigmas devem ser testados dentro do limite de tempo
3 e 7. estipulado. Esta etapa é muito importante para ajustar todos os itens e garantir que tudo saia bem.
12. Monte o cenário. Montar a sala é organizá-la com os artefatos, verificar a disposição onde os objetos serão colocados,
Decore a sala. espalhar as pistas e disponibilizar os materiais que precisarão ser utilizados durante a resolução dos
enigmas.
13. Divulgue a atividade. A divulgação é necessária. Ela aumenta a curiosidade dos alunos e, com isso, a sua motivação. Para
tanto, há, opcionalmente, algumas possibilidades, tais como a criação de uma fanpage ou Instagram
do escape room criado, cartazes podem ser colocados no espaço interno da escolha (recomendamos
o uso do site canva.com para criá-los com facilidade), e-mails podem ser enviados com informações
sobre o jogo, entre outros meios para a propaganda da atividade. Construa sinais visuais que digam
algo como: “A sala de escape está chegando. Você está pronta ou pronto para o desafio? Percebe-se
que a ideia da divulgação é aguçar a curiosidade do público para a atividade que será proposta.
14. Avalie a experiência A avalição é um ponto chave dentro de um processo de criação de um escape room educacional.
proposta. Assim, logo após a realização do jogo para todos os alunos da turma (jogado em equipe), é altamente
desejável fomentar o diálogo sobre as experiências vividas, as dificuldades encontradas, os pontos
altos e baixos da experiência, questionando como o uso da estratégia aplicada pode ter proporcionado
aprendizados distintos, discutindo a química envolvida nos enigmas, corrigindo os erros e enaltecendo
os acertos, etc. É imprescindível promover a autoavaliação dos alunos em relação à atividade realizada.
O professor também deverá avaliar se seus objetivos educacionais foram atingidos e a qualidade da
montagem da sala em geral. O escape room no ensino de química também pode ser utilizado como
método de avaliação formativa e diagnóstica.
50 elaborará, implantará e acompanhará todas as etapas de jogos. Vale salientar que há diferentes tipos de cadeados no
perto, sendo assim, o propositor da atividade, porém, ele mercado, mas com modelos simples é possível ‘bolar’ várias
pode solicitar ajuda a alunos de outras turmas ou colegas de possibilidades para serem decifradas pelos alunos.
trabalho. A segunda possibilidade pode ser implantada em
sala de aula, por exemplo, como uma forma de colocar em c) A estruturação da proposta ´Escape Room Science Education´
prática a Aprendizagem Baseada em Projetos. Desse modo, A sala de escape montada fez parte de um grande evento
a sala passaria a ser um produto que seria desenvolvido pelos na área de jogos e atividades lúdicas no ensino de química,
alunos também de forma colaborativa, integrando, assim, física e biologia, realizado no final do ano de 2018. Seguindo
tópicos do currículo da química em projetos práticos que o desenho proposto na Figura 1, construímos a sala. A seguir,
sejam capazes de envolver alunos em situações da vida real. na descrição que faremos, serão identificados os elementos
Em ambas as situações, idealmente, o professor ou propositor constituintes e já apresentados (Quadro 1) que são subja-
do escape room deve ser capaz de orientar, de modo a trazer centes ao processo de composição da sala e, prontamente,
cada grupo para o final, ou perto do final do jogo dentro do mostraremos apenas a sua concretização, uma espécie de
tempo previsto (Guigon et al., 2018). ‘raio x’, ou melhor, uma comparação teórica entre o desenho
Um outro ponto diz respeito à diversificação dos enigmas elaborado (Figura 1) e a sala física criada para favorecer uma
e pistas. Guigon et al. (2018) defendem que a relação entre experiência voltada a fim de envolver o público em situações
elas está atrelada à linearidade e dificuldade do jogo. Logo, da vida real, tendo como pano de fundo conhecimentos quí-
há a necessidade de encontrar uma dosagem na relação entre micos. A participação dos grupos foi por adesão voluntária
pistas e enigmas para evitar a desmotivação entre a condição e, para uma maior sistematização dos fatos, construímos o
do jogo em poder proporcionar situações diametralmente Quadro 2, que contém o ‘raio x’ da nossa experiência.
opostas, ou seja, fácil ou difícil demais. É preciso quebrar
a obviedade das pistas, confundir os alunos, mas também Alguns resultados e discussões
norteá-los para que tenham uma boa interpretação sobre elas.
Tanto as pistas quanto os enigmas precisam ser mutáveis para Um total de 17 grupos (n = 102 sujeitos) participaram da
evitar o possível ‘spoiler’ dos alunos que entraram na sala atividade e 58,82% (10) dos grupos conseguiram escapar/sair
primeiro. Por exemplo, se foi utilizado um sequenciamento do ´Escape Room Science Education´. O público participante
de coeficientes estequiométricos como código para abrir um foi formado por estudantes de graduação e pós-graduação e
cadeado (do tipo mala de viagem), para a próxima equipe, professores de diferentes níveis educacionais pertencentes à
o professor poderá mudar a equação química ou a ordem área de ciências da natureza. O questionário individual foi
dos enigmas, desde que não se altere a lógica da narrativa aplicado logo após a realização do jogo e foi preenchido por
elaborada inicialmente. Os cadeados são bem-vindos em 16 participantes, ou seja, apenas 15,69% do total. Os dados
uma sala de escape e, praticamente, são inerentes ao próprio serão apresentados levando-se em consideração o número de
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Quadro 2: Descrição da proposta ‘Escape Room Science Education’ e seu detalhamento
Etapas Detalhamento
1. Conteúdos Tabela periódica, reações químicas, estrutura do átomo.
instrucionais utilizados.
2. Narrativa elaborada. Atenção, investigadores participantes, temos uma missão muito importante para vocês: Foi descoberto
o paradeiro do serial Killer. Precisamos que partam imediatamente para lá, resolvam os problemas cole-
tivamente e saiam do covil o mais rápido possível. Será que vocês são capazes?
3. Regras. As regras foram repassadas por vídeo antes do início da atividade. O vídeo informava o que era e o
que não era permitido dentro da sala. Também optamos em ter duas plaquinhas (do SIM e NÃO) para
orientar os participantes durante o jogo. As placas só eram levantadas em momentos em que havia
falta de interpretação ou confusão sobre as etapas internas do jogo. Como a obviedade não é uma
premissa do jogo, muitas vezes, o grupo interpretava as pistas erroneamente ou simplesmente não as
via como sendo parte integrante do jogo.
4. Tempo de duração da 20 minutos.
atividade.
5. Quantidade de Mínimo 04, máximo 06.
jogadores.
6. Quantidade de Foram 04 ao total, com respectivos pequenos desdobramentos.
problemas.
7. Elaboração dos 1 – Enigma da garrafa: uma garrafa na qual a tampa era um cadeado de segredo numérico de 3 dígitos.
desafios/enigmas. Para abrirem a garrafa, os jogadores precisam relacionar os dígitos as cores (visível) do espectro ele-
Planejamento das pistas. tromagnético, ou seja, havia uma foto desta pregada na parede em cima da garrafa, destacando seus
valores de comprimento de onda para cada cor. Uma delas era o segredo numérico que abria a garrafa.
2 – Análise de sangue do suspeito: Ao abrirem a garrafa, os jogadores descobriam um teste de amido no
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sangue, utilizando lugol (uma solução de I2 em equilíbrio com KI em água destilada) e umas anotações
procedimentais do assassino. Havia vidrarias no local, bastando apenas coletar o sangue (o sangue
era falso e apresentava a seguinte composição química: carboximetilcelulose de sódio ou metilcelulose
ou metacelulose, glucose (açúcar extraído do milho) e corante líquido, encontrado facilmente em lojas
de artigos para decoração de festas) e pingar algumas gotas de lugol, verificar a coloração e comparar
com as anotações. Aqui envolvia conceitos sobre reações químicas que mudam de cor, indicando a
reatividade do amido com o lugol.
3 – Armário com os pertences das vítimas: os jogadores, ao descobrirem quais os pertences pessoais
da vítima que estava morta ao fundo da sala, descobriam também um código que indicava a reação
correta que deveria ser balanceada existente em um rol de várias equações não balanceadas. Nesse
obstáculo, os jogadores precisavam balancear a reação corretamente e seus coeficientes eram os
números que abriam o cadeado que trancava o armário.
4 – Tabela periódica luminescente: nos pertences da vítima existia uma chave que abria um livro falso
(o livro além de ser falso, possuía uma fechadura) e, dentro desse livro, havia uma lanterna UV. A ideia
aqui era fazer com que os jogadores acionassem a lanterna e começassem a vasculhar a sala. Havia
uma tabela periódica grande em uma das paredes da sala com um material luminescente que sinalizava
alguns dos elementos químicos dessa tabela. Ao incidirem a luz da lanterna na tabela, estes elementos
brilhavam um pouco mais do que os demais. A sequência desses símbolos abria um cadeado, cujo
código era formado por letras, achando, assim, a chave que estava dentro de urna e que era necessária
para abrir a porta da sala, encerrando, desse modo, o jogo.
8. Inserção das O uso de ferramentas tecnológicas esteve sempre presente antes e depois do jogo. Durante o jogo,
tecnologias. fizemos uso das tecnologias móveis, pois utilizamos um tablet que serviu de relógio para a contagem
regressiva. Este relógio pode ser encontrado no site www.classtools.net.
9. Espaço fixo para a Um stand de 3 m x 4 m (12 m2).
montagem da sala.
10. Artefatos utilizados. Foram usados diversos artefatos para decorar a sala ou servir como pistas. Vide Figura 2.
11. Testagem e repetição Foram adicionadas correções após a fase teste.
dos itens 3 e 7.
12. Montagem do A montagem da sala foi realizada de modo a favorecer maior flexibilidade na mobilidade dos partici-
cenário e decoração da pantes na atividade. A ideia era permitir a exploração das pistas inseridas no cenário construído. Sob
sala. este ponto, montamos, adaptamos e utilizamos artefatos já existentes, diminuindo, assim, o seu custo
financeiro. A Figura 2 exibe a sala.
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Quadro 2: Descrição da proposta ‘Escape Room Science Education’ e seu detalhamento (cont.)
Etapas Detalhamento
13. Divulgação da Criamos uma identidade visual e divulgamos em redes sociais, assim como também foram afixados
atividade. cartazes espalhados ao redor do local onde foi instalada a sala.
14. Avaliação da Ao sair da sala, os jogadores responderam a um questionário que tinha o objetivo de sondar opiniões
experiência. sobre a experiência vivenciada.
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respondentes. Portanto, dos 16 sujeitos, 75% (12) eram do Destaque-se que o grupo mais rápido escapou (saiu da sala) em
gênero feminino e 25% (4) pertencentes ao gênero masculino e 17 minutos e 41 segundos. Sobre o questionário, um dos seus
a idade média dos jogadores foi de 28,78 anos. O tempo médio itens solicitava que os respondentes atribuíssem uma nota (0 a
para fugir/escapar/sair da sala foi de 18 minutos e 52 segundos. 10) para representar a sua satisfação com a atividade ´Escape
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Room Science Education´. O resultado aponta alto índice de em seus esforços de colaboração, colocam em prática uma
contentamento por parte dos participantes, pois a média de produtividade que muitas vezes é confundida com fracasso.
notas geral foi 9. Os dados estão exibidos no Gráfico 1. Isso sugere que o ‘fracasso’, quando obtido em uma atividade
Vale lembrar que o objetivo educacional, pode iniciar um dis-
deste relato foi analisar também curso colaborativo que promova
Com o escape room proposto,
as opiniões dos participantes a compreensão dos objetivos de
observamos que os participantes dão
sobre o uso do Escape Room. indícios da mobilização de capacidades aprendizagem (Anderson et al.,
Com esse intuito, pedimos que de pensamento crítico, da utilização 2018) relacionados ao escape
os respondentes se posicionassem de conhecimentos sobre conteúdos room, visto que o próprio jogo é
em relação ao seguinte item do curriculares para resolver quebra-cabeças, altamente desafiador e fará com
questionário: Defina com suas reunir pistas e, oportunamente, fizeram que os jogadores executem várias
palavras como foi a sua experiên- forte uso da colaboração. tentativas para ser concluído. Já
cia com o Escape Room Science sobre o viés colaborativo fomen-
Education. Os dados obtidos tado pelo jogo, os participantes
foram agrupados por similitudes em função do grau de afirmaram que:
concordância entre os depoimentos coletados. Desse modo,
observamos algumas frases que reiteram aspectos importan- P3: Muito interessante. Desenvolve a prática
tes do escape room educacional que devem ser ressaltados. colaborativa e o aprendizado de diversos conceitos
Alguns participantes apontam situações atreladas à liberdade científicos, relacionando diferentes áreas da ciência.
de permitir a falha (fracasso) que o escape proporciona e P4: Foi uma forma muito legal de conectar com os
que podem ser observadas nos recortes textuais coletados pares para resolver problemas, cada um contribuiu
dos participantes P1 e P2: muito com o que sabia aprendendo o que não sabia.
P1: Amei a experiência, nunca havia participado. Com o escape room proposto, observamos que os par-
Pena que nosso grupo, apesar de ter descoberto o ticipantes dão indícios da mobilização de capacidades de 53
número do cadeado, não puxou o cadeado com força. pensamento crítico, da utilização de conhecimentos sobre
Mas tudo bem, mais do que a vitória, o que vale é o conteúdos curriculares para resolver quebra-cabeças, reunir
aprendizado e a tentativa. pistas e, oportunamente, fizeram forte uso da colaboração.
P2: Cheia de expectativa e ansiedade, apesar na Para Pan et al. (2017), as salas de fuga oferecem oportunida-
frustração de não termos solucionado o caso, achei des para as pessoas praticarem uma série de habilidades de
a ideia criativa e inovadora, abrindo possibilidades colaboração. Já Bluemink et al. (2010) observaram, com os
para que, com as devidas adequações, possa ser seus estudos sobre o escape room, que esse tipo de jogo per-
utilizada em sala de aula. mite que os alunos participem de uma atividade colaborativa
verdadeira e construtiva para promover conhecimentos. No
Os recortes P1 e P2 fortalecem a ideia de que com o es- nosso estudo, percebemos que a aprendizagem colaborativa
cape room educacional é possível oportunizar espaços para emergiu naturalmente durante a resolução dos problemas
que os alunos pratiquem a aprendizagem com um maior grau (Cleophas, 2016). Por fim, ressalvamos que a mobilização
de auto direção, descoberta e abertura para o ‘fracasso’ em de estratégias de resolução de problemas foi mais influente
relação ao ato de escapar da sala. Kapur (2008) discute a durante o jogo do que concernente ao número de desafios
ideia do ‘fracasso produtivo’. Para ele, os alunos, ao falharem que os participantes resolveram.
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Algumas reflexões e considerações finais ativamente na resolução dos desafios existentes na sala de
escape proposta, aumentando, assim, sua motivação e dis-
Tornar o aprendizado em química relevante e divertido posição para aprender.
será sempre um interesse genuíno por parte de professores. Ao colocar em execução a sala de escape room, observa-
Neste relato, observamos que o uso do escape room como mos que foi perceptível a existência de efeitos positivos para
estratégia para a aplicação do GBL favoreceu a criatividade, a aprendizagem dos participantes. Entretanto, nosso relato
a colaboração, a tenacidade e a resolução de problemas, também apresenta limitações que não foram apontadas,
enfatizando, assim, o surgimento de habilidades que são porém, podem ser aprofundadas nas próximas pesquisas.
essenciais para o sucesso de salas de fuga em um ambiente Uma delas está centrada no baixo número de respondentes
educacional. No entanto, alertamos para a necessidade de ao questionário. A outra pode estar atrelada às nuances so-
traçar objetivos claros de aprendizagem antes de construir bre o ‘fracasso produtivo’, o que evidencia que elas podem
um escape room, pois o planejamento é de extrema impor- ser investigadas com maior rigor futuramente. Finalmente,
tância. O escape room proposto propiciou espaços para que estudos sobre a parametrização em encontrar uma dosagem
os participantes colocassem em prática o conhecimento aceitável entre facilidade e complexidade dos jogos por meio
químico já previamente adquirido para resolver problemas da construção de enigmas e pistas também podem agregar
de modo colaborativo. A sala elaborada nos trouxe resultados avanços para o uso do escape room na educação em química.
positivos e mostrou que ela ajuda os alunos a ‘pensar fora da
caixa’, ou seja, de uma maneira menos retilínea em relação Nota
à mobilização dos conhecimentos.
A experiência de implantação da sala foi notável, es- O triplet ou triângulo de Johnstone é um modelo que
1
pecialmente considerando que nunca houve uma atividade defende a ideia de que o conhecimento químico durante o
semelhante relatada na literatura brasileira da área de ensino ensino e a aprendizagem da Química pode ser representado
de química, o que evidencia o caráter inovador e promissor graficamente por um triângulo que possui os vértices rotu-
em explorar esse tipo de jogo. Logo, diante das vantagens lados como macroscópico, submicroscópico e simbólico.
54 para o contexto de ensino e aprendizagem, acreditamos que
a incidência de trabalhos acadêmicos envolvendo o uso do Maria das Graças Cleophas (maria.porto@unila.edu.br), doutora em ensino das
escape room na educação em química aumentará nos pró- ciências, com ênfase no ensino de química, pela UFRPE. Atualmente é professora
ximos anos. Com a sala, vimos também uma possibilidade adjunta da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Foz
real, dinâmica e desafiante de praticar habilidades para do Iguaçu – PR/ BR. Eduardo Luiz Dias Cavalcanti (eldcquimica@yahoo.com.br),
licenciado em química pela Universidade Federal de Goiás, mestre e doutor em
garantir o aprendizado em química, seja pela apreensão de química também pela UFG e coordena o Núcleo de pesquisa e investigação em
novos conhecimentos ou por estratégia revisiva de conteúdos jogos e atividades lúdicas no ensino de química (LudeQ) da Universidade de
curriculares. Verificamos ainda que os sujeitos participaram Brasília (UnB). Brasília – DF/ BR.
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Abstract: Escape Room into Chemistry Teaching. The chemistry teaching must be discussed by the lens of the 21st century features and needs. Incorporating
creativity, collaboration, communication and critical thinking into modern instructional practices increases its relevance on the educational scenery. This
empirical report aims to present a new way to implement Game Based Learning through the use of Escape Room methodology. Therefore, we developed a
design to guide the elaboration of an Escape Room in a non-teaching environment, and then we presented some feedbacks from the participants of the game
about chemistry learning in their experience. The results include data about improving space to provide failure as a way to developing chemistry learning and
enhance collaborative work through the solution of staggered problems in different levels of complexity.
Keywords: chemistry teaching, room escape, game-based learning
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