Aplicações Nas Ciencias
Aplicações Nas Ciencias
Aplicações Nas Ciencias
3 Modelagem Matemática
Isso quer dizer que um modelo matemático pode traduzir fenômenos que se asse-
melham a acontecimentos reais, sendo que o estudo de tais modelos permite que façamos
previsões futuras de situações que ocorrem no presente. Conforme cita Burak (1987) “a
adequação de um modelo pode ser julgada por seu êxito em ordenar os dados e, a partir
deles, fazer predições”, ou seja, quanto mais o modelo se aproximar da realidade mais
garantido será inferir sobre seus dados.
Burak (1987) apresenta, em sua dissertação, onde tem sido desenvolvido o uso da
Modelagem Matemática na educação: iniciação científica, aperfeiçoamento para o professor,
cursos regulares e pesquisa científica. A iniciação científica proporciona, com a modelagem
matemática, as aplicações da Matemática em outras áreas do conhecimento podendo
32 Capítulo 3. Modelagem Matemática
ser aprofundada a partir das áreas de pesquisa da disciplina em questão, por exemplo,
as Equações Diferenciais Ordinárias. O aperfeiçoamento para o professor proporciona a
especialização do docente para uma nova metodologia de ensino ou simplesmente renovar os
conhecimentos já adquiridos anteriormente a respeito da modelagem. Os cursos regulares,
por exemplo, de Cálculo Diferencial e Integral pode proporcionar um ambiente rico de
aplicações e modelos matemáticos em diversas áreas como Engenharia, Biologia, Física,
entre outras áreas do conhecimento, permitindo, assim, investigações por parte dos alunos
em sua própria área de estudo. E a pesquisa científica, de acordo com Burak (1987), é o
segmento que, por meio de projetos, faz largo uso dos modelos matemáticos em diversas
áreas do conhecimento e há um aumento significativo de programas de pós-graduação na
área da Modelagem Matemática.
Como forma de indagação, de acordo com Barbosa (2001), a Modelagem Matemática
propicia aos alunos oportunidades de questionamentos em diversas situações utilizando os
conceitos matemáticos sem a necessidade de procedimentos pré-fixados. O encaminhamento
fornecido aos estudantes é que apresentará o ambiente de aprendizagem por meio da
modelagem e as condições das ferramentas fornecidas é que possibilitará a estimulação e a
criatividade para solucionar as situações propostas.
Barbosa (2001) assume modelagem como “um ambiente de aprendizagem no qual
os alunos são convidados a indagar e/ou investigar, por meio da matemática, situações
oriundas de outras áreas da realidade”. Nesta pesquisa, em cada situação, estamos apre-
sentando as aplicações por meio de equações diferenciais para estudar problemas oriundos
de outras realidades além da matemática aplicada à própria matemática.
Com isso, a pesquisa será realizada a fim de investigar a utilização das Equações
Diferenciais Ordinárias para solucionar problemas modelados matematicamente em algumas
áreas do conhecimento e, para isso, utilizaremos as etapas descritas por Bassanezi (2002)
nas situações apresentadas.
33
Seria um tanto quanto injusto escolher uma definição única para Engenharia, mas,
para esse trabalho, uma “definição” apropriada é que Engenharia é uma ciência que utiliza
o conhecimento das Ciências Matemáticas e Naturais para desenvolver recursos e utilizar
de forma justa aquilo que é obtido na natureza em benefício da sociedade. Ou seja, uma
ciência que depende de outras ciências para cumprir com seu objetivo.
Apresentamos a descrição acima porque um curso de Engenharia tem uma carga
ampla das ciências exatas principalmente de Matemática. Nosso objetivo é mostrar Modelos
Matemáticos que são frequentemente utilizados para descrever situações dentro de cada
campo a fim de maximizar as ideias teóricas estudadas nos cursos de Cálculo e EDO
ligando-as contextualmente dentro das aplicações e desafios que surgirão dentro da carreira
profissional.
A construção e o estudo de um modelo são mais relevantes do que sua solução pois
envolvem os desafios proporcionados pela elaboração de hipóteses que levam até sua tese
final. Com isso, queremos destacar e até mesmo fazer uma ligação desses desafios ao que foi
citado no Capítulo 2 sobre as etapas necessárias para obter um Modelo Matemático, pois
um Engenheiro também experimenta, abstrai ideias, formula hipóteses, resolve problemas,
valida, modifica e, por fim, faz aplicações a partir de suas conclusões finais.
Os modelos que aqui serão apresentados são desafios e problemas além dos exercícios
propostos para ilustrar a teoria. Temos como pretensão fornecer aos futuros Engenheiros
subsídios de que os tópicos que são estudados em Cálculo Diferencial e Integral e Equações
Diferenciais Ordinárias são poderosas ferramentas para utilização em sua vida profissional
e não só acadêmica.
F = −kx (4.1)
em que k é a constante elástica da mola e o sinal negativo significa a força contrária que a
mola faz para voltar ao seu comprimento de equilíbrio e x é o afastamento em relação ao
equilíbrio.
Analisando a Lei de Hooke, podemos transformá-la em uma Equação Diferencial
Ordinária. Sabendo que F = −kx e analisando a 2a Lei de Newton, sabendo que a aceleração
é a derivada segunda do espaço em relação ao tempo , então ma = −kx ⇒ mx = −kx.
Disso, podemos concluir que
mx + kx = 0 (4.2)
mx + kx = 0
k
x + x = 0.
m
A equação característica é dada por
k
λ2 + =0
m
k k
cujas raízes são λ1 = i e λ2 = − i. Logo a solução geral da equação (4.2), de
m m
acordo com Teorema 2.4.2 do Capítulo 2, será
⎛ ⎞ ⎛ ⎞
k ⎠ k ⎠
x(t) = Acos ⎝ t + Bsen ⎝ t , A, B ∈ R (4.3)
m m
k k
ωn = ⇒ ωn2 =
m m
k
e substituindo em x + x = 0, então
m
x + ωn2 x = 0 (4.4)
k
em que ωn = é a velocidade angular constante cuja unidade é radianos por segundo.
m
Portanto, a equação (4.3) poderá ser escrita da seguinte forma
Embora há vários tipos de molas, como molas não-lineares duras e moles, restrin-
giremos nosso estudo às molas lineares que é o caso já exemplificado anteriormente pela
Lei de Hooke. Se a força exercida pela massa m esticar ou comprimir esse tipo de mola,
ela exerce uma força restauradora −kx seja para a direita ou para a esquerda. Abaixo,
apresentaremos duas figuras que exemplificam a situação. Na primeira, a mola está em
equilíbrio e, na segunda, a mola sofre uma tensão (no caso, o esticamento da mesma).
1
Para um estudo mais detalhado das FCN’s recomendamos uma análise nas obras de Halliday, Walker
e Resnick (2010a) e Kraige e Merian (1997).
36 Capítulo 4. Modelagem Matemática nas Engenharias
oscilando até uma força externa parar o sistema e, como a solução da equação (4.2) é dada
por uma combinação linear de funções periódicas, então concluímos a etapa chamada de
validação.
Validado o modelo, a próxima etapa é a aplicação. Na subseção (4.1.3), apresentamos
a aplicação da vibração livre não-amortecida para verificação imediata do que o fenômeno
pode nos apresentar. Fornecemos tanto uma leitura algébrica quanto uma leitura gráfica
para uma visualização de diferentes ângulos do fenômeno.
mx = −cx − kx
λ2 + 2ζωn λ + ωn2 = 0
√ √
cujas raízes são λ1 = ωn −ζ + ζ 2 − 1 e λ2 = ωn −ζ − ζ 2 − 1 .
√
A análise dessa solução se dá pelo fator ζ 2 − 1 originando três categorias de
movimento amortecido:
e, por fim,
! √ √ "
−ζωn t 1−ζ 2 ωn t −i 1−ζ 2 ωn t
x(t) = e Ae i
+ Be , A, B ∈ R (4.10)
Com esses três casos citados acima, analisamos nosso modelo para três tipos de
soluções distintas que podem ocorrer em uma única Equação Diferencial Ordinária de
Segunda Ordem. Para efeito de curiosidade, podemos fazer uma nova substituição na
√
equação e usar a Fórmula de Euler eix = cos(x) + isen(x). Seja ωf = ωn 1 − ζ 2 . Então,
x(t) = e−ζωn t Aeiωf t + Be−iωf t
= e−ζωn t [A (cos(ωf t) + isen(ωf t)) + B (cos(ωf t) − isen(ωf t))]
= e−ζωn t [(A + B) cos(ωf t) + i (A − B) sen(ωf t)]
4.1. Aplicações das EDO na Engenharia Mecânica 39
e, por fim,
4.1.3 Aplicações
Como aplicação inicial e mais generalizada do movimento livre não-amortecido, utili-
zaremos a Transformada de Laplace para resolver o seguinte PVI por meio da equação (4.4):
⎧
⎪
⎪ x (t) + ωn2 x = 0
⎪
⎨
⎪
x(0) = x
0 m
⎪
⎪
⎩ x (0) = V m/s
0
V0
x(t) = x0 cos(ωn t) + sen(ωn t) (4.12)
ωn
Exemplo 4.1.1. Suponhamos que um corpo com massa de 3 kg estica uma mola em
0,05 m. No instante t = 0 s, o corpo é solto de um ponto 0,10 cm abaixo da posição de
equilíbrio com uma velocidade de 0,20 m/s. Desprezando o atrito, determina a função x(t)
que descreve o movimento livre do sistema.
Solução. Para determinar a constante elástica da mola, da Lei de Hooke temos que
F = kx =⇒ mg = kx e com os dados do exercício temos 3 · 9, 8 = k · 0, 05 =⇒ k = 588
N/m. Daí, de (4.2) temos que
k 588
Podemos notar que ωn2 = 196 rad/s, pois ωn2 = = = 196 rad/s. Com isso,
m 3
temos o seguinte PVI:
⎧
⎪
⎪ x (t) + 196x(t) = 0
⎪
⎨
⎪
x(0) = 0, 10 cm
⎪
⎪
⎩ x (0) = V (0) = 0, 20 m/s
De (4.12), temos
V0
x(t) = x0 cos(ωn t) + sen(ωn t)
ωn
0, 20
= 0, 10cos(14t) + sen(14t)
14
= 0, 10cos(14t) + 0, 0143sen(14t)
Podemos notar um movimento com uma característica peculiar: uma única frequên-
cia angular ωn . Esse tipo de sistema só ocorre em sistemas conservativos, isto é, em que
forças externas ou dissipativas não atuam ou, se houver tais forças, elas são irrelevantes
comparadas às aplicadas ao sistema. Podemos dizer também que a quantidade de energia
inicial é igual à final formando um sistema em que a energia mecânica é constante, ou seja,
Em = Ec + Ep = constante
Para o movimento livre amortecido, temos os três casos apresentados neste capítulo.
⎧
⎪
⎪ x (t) + 2ζωn x (t) + ωn2 x(t) = 0
⎪
⎨
⎪
x(0) = x m
0
⎪
⎪
⎩ x (0) = V m/s
0
4.1. Aplicações das EDO na Engenharia Mecânica 43
= (s + ζωn )2 + ωf2
Então,
sx0 + 2ζωn x0 + V0
L {x} =
(s + ζωn )2 + ωf2
# $ # $
s + ζωn ζωn x0 + V0 ωf
L {x} = x0 2
+
2
(s + ωn ) + ωf ωf (s + ωn )2 + ωf2
# $
−ζωn t ζωn x0 + V0
x(t) = e x0 cos(ωf t) + sen(ωf t) (4.13)
ωf
# $
x0 1
= + ωn x0 + V0
s + ωn (s + ωn )2
44 Capítulo 4. Modelagem Matemática nas Engenharias
Exemplo 4.1.4. Para o movimento superamortecido, quando ζ > 1, temos duas raízes
√ √
reais distintas λ1 = ωn −ζ + ζ 2 − 1 e λ2 = ωn −ζ − ζ 2 − 1 , sabendo que ωf =
√
ωn ζ 2 − 1. Da mesma forma, temos em
A B
L {x} = +
s − λ1 s − λ 2
# $ # $
x0 λ1 + 2x0 ζωn + V0 λ1 t x0 λ2 + 2x0 ζωn + V0 λ2 t
x(t) = e − e (4.15)
2ωf 2ωf
4.1.4.1 Aplicações
Exemplo 4.1.5. O Toyota IQ, lançado em 2008, de acordo com seu catálogo de 20122 ,
tem como especificação de massa 1.215 kg, sendo suas suspensões dianteira e traseira do
tipo McPherson e barra de torção, respectivamente. De acordo com Gillespie (1992), um
bom nível de conforto em relação à taxa de amortecimento ζ está entre 0,2 e 0,4. Sendo
ζ = 0, 4, podemos modelar o afastamento da mola em relação ao equilíbrio por meio da
equação (4.7). A força peso age sobre o carro, então
F = mg =⇒ F = 1.215 · 9, 8
=⇒ F = 11.907 N
F = kx =⇒ 11.907 = k · 0, 04
=⇒ k = 297.675 N/m
2
Disponível em <http://www.toyota.pt/Images/iq_catalogo_2012_tcm270-1198995.pdf>. Acesso em
12/03/2014.
46 Capítulo 4. Modelagem Matemática nas Engenharias
k 297.675
ωn = = = 15, 652 rad/s
m 1.215
ωf = ωn2 (1 − ζ 2 ) = 245(1 − 0, 42 )
= 14, 35 rad/s
⎧
⎪
⎪ x (t) + 12, 52x (t) + 245x(t) = 0
⎪
⎨
⎪
x(0) = 0, 04 m
⎪
⎪
⎩ x (0) = V = 0, 2 m/s
0
# $
−ζωn t ζωn x0 + V0
x(t) = e x0 cos(ωf t) + sen(ωf t)
ωf
# $
−0,4·15,652t 0, 4 · 15, 652 · 0, 04 + 0, 2
=e 0, 04 cos(14, 35t) + sen(14, 35t)
14, 35
pressão na linha. A não instalação deste dispositivos pode acarretar em sérias consequências
e até mesmo graves acidentes.
Estamos interessados aqui em válvulas de segurança e alívio do tipo mola que
permitem um curso rápido de elevação e retorno para a posição inicial, que consideraremos
em nossa linguagem a posição de equilíbrio. Seu funcionamento ocorre, basicamente, da
seguinte forma: suponha uma linha hidráulica projetada para uma pressão de 10 bar e caso
ocorra uma avaria qualquer na linha e essa pressão aumentar para 11 bar, por exemplo,
a válvula de alívio de pressão, automaticamente, agirá de modo que o excesso de fluido
na linha faça pressão na mola e saia por uma descarga na própria válvula e com isso a
pressão volta a ser equilibrada. Porém, para a pressão da linha não ficar abaixo da de
trabalho, a mola retorna rapidamente à sua posição de equilíbrio, mantendo, assim, as
condições iniciais de trabalho.
O conjunto é composto por uma mola na vertical, sendo que em suas extremidades
há dois componentes chamados prato de mola superior e prato de mola inferior e o local
onde o fluido “empurra” a mola chama-se disco de vedação.
4.1.5.1 Aplicações
Exemplo 4.1.6. Considere uma válvula de alívio de pressão do tipo mola montada em
uma rede hidráulica, sendo diâmetro de entrada do fluido na válvula DE = 25 mm,
diâmetro de saída DS = 50 mm, pressão de trabalho P = 10 kgf
m2
. Suponhamos que houve
uma avaria na linha e a pressão aumentou fazendo com que a mola deslocasse no mesmo
valor que o diâmetro de saída, ou seja, x0 = 50 mm, para que aliviasse a pressão e
equilibrasse novamente o sistema. Como o processo requer um retorno rápido da mola,
consideraremos ζ = 1, ou seja, o movimento é criticamente amortecido. Com esses dados,
podemos modelar matematicamente a oscilação criticamente amortecida do sistema, isto
é, determinar a função deslocamento em cada instante de tempo para o retorno da mola
em sua posição zero.
Primeiramente, temos que determinar a constante elástica k da mola. Sabendo que
“pressão é força sobre área”, então
F πd2
P = =⇒ F = P A =⇒ F = P · =⇒ F = 0, 005 kgf = 0, 05 N
A 4
F = kx =⇒ 0, 05 = k · 0, 05 =⇒ k = 1 N/m
Como a mola está na vertical, então ela está sujeita a ação da gravidade e à
massa, que consideraremos a massa do prato de mola inferior sem qualquer outro tipo de
4.1. Aplicações das EDO na Engenharia Mecânica 49
F = mg =⇒ 0, 05 = m · 9, 81 =⇒ m = 0, 0051 kg
cuja solução por meio da Transformada de Laplace está generalizada pela equação (4.14).
Então,
Observe que à medida que o tempo aumenta, o deslocamento tende a zero, ou seja,
o dispositivo por meio de mola está voltando para a sua posição zero, isto é, a válvula
de alívio de pressão fecha-se e o sistema retorna a trabalhar com sua pressão normal.
Dissemos, no início do exemplo, que quando o movimento é criticamente amortecido há
um retorno mais rápido para a posição zero. Isso, de fato, é uma característica desse tipo
de movimento. Iremos comparar essa mesma situação se ζ > 1, ou seja, o movimento
será superamortecido que faz com que o retorno seja mais lento que o anterior que é uma
característica real desse tipo de movimento.
Exemplo 4.1.7. Considere, agora, uma válvula de alívio de pressão com as mesmas
características do exemplo anterior, porém iremos fazer uma comparação entre ambos
exemplos considerando ζ = 1, 3. A ideia aqui é observar o movimento superamortecido e
comprovar que, de fato, o retorno da mola com essa informação é mais lento. Se tal sistema
fosse projetado dessa forma, seria possível que, por conta do retorno mais lento da mola,
a pressão na linha de fluido ficasse abaixo da pressão de operação por um determinado
período de tempo. Partindo desta ideia, temos o seguinte PVI:
⎧
⎪
⎪ x (t) + 36, 4x (t) + 196x(t) = 0
⎪
⎨
⎪
x(0) = 0, 050 m
⎪
⎪
⎩ x (0) = V (0) = 0 m/s
cuja solução por meio da Transformada de Laplace está generalizada pela equação (4.15).
Então,
# $ # $
x0 λ1 + 2x0 ζωn + V0 λ1 t x0 λ2 + 2x0 ζωn + V0 λ2 t
x(t) = e − e
2ωf 2ωf
sendo λ1 = −6, 5707, λ2 = −29, 8293 e ωf = 11, 6293 rad/s. Daí, substituindo os dados,
temos:
Observe que a função x, agora, tem duas funções exponenciais decrescentes enquanto
a função x do exemplo anterior possui uma função exponencial decrescente multiplicando
uma função linear. Esse último fator, faz com que o decréscimo seja mais rápido. Por outro
lado, a soma das duas funções exponenciais caracterizará um retorno mais suave, mais
lento do que o anterior.
Tanto uma quanto outra tenderá a zero quando t → ∞, porém com velocidades
diferentes, ou seja, uma será mais rápida que a outra em determinados intervalos de tempo.
O gráfico do movimento superamortecido deste exemplo é dado por:
4.1. Aplicações das EDO na Engenharia Mecânica 51
Note que, saindo da posição inicial, a mola retornará à posição zero para um tempo
suficientemente grande, porém, como já citado de um modo mais lento. Podemos comparar
isso observando ambas as situações no mesmo plano cartesiano.
=⇒ v(t) = −0, 4214 e−6,5707 t − e−29,8293 t
É evidente que, para condições de projeto, muitos outros fatores são considerados.
A mola tem um efeito bastante importante no sistema e, ao passar do tempo, a mesma
sofre desgastes consideráveis e precisa ser objeto de manutenção contínua e de modo
preventivo. Vale lembrar que os sistemas são projetados para atuarem em condições
normais de temperatura e pressão, porém tanto em sistemas com fluidos que trabalham
em temperaturas baixas ou muito altas é necessário um cuidado especial em relação a
avarias que fazem a pressão aumentar e tendo como consequência sérios danos ao projeto
em si.
Apresentadas algumas aplicações das vibrações livres amortecidas para a Engenharia
Mecânica, mostraremos, na próxima seção, algumas aplicações das equações diferenciais
ordinárias na Engenharia Elétrica.
Isso reforça ainda mais o interesse e o avanço nas pesquisas nessa área do conheci-
mento. A tecnologia cresce no intuito de facilitar diversos processos, sejam eles de produção
ou não, automatizando o sistema de controle de uma ou mais variáveis de um sistema.
Os modelos matemáticos para um sistema dinâmico envolvem definir um conjunto
de equações que contribua para representar bem o funcionamento do sistema. Nosso
estudo está interessado em apresentar alguns modelos matemáticos aplicados à Engenharia
Elétrica descritos por equações diferenciais ordinárias e nesse sentido comparar os modelos,
por exemplo os circuitos LC e RLC, com as vibrações livres não-amortecidas e amortecidas
de sistemas encontrados na Engenharia Mecânica e com isso mostrar que muitas vezes,
modelos criados em uma área específica podem muito bem se enquadrar em uma outra
área do conhecimento que, a priori, são distintas. Essa conexão facilita o trabalho do
modelador, pois a dedicação maior de tempo estará mais focada no ajustes das variáveis
para cada área estudada.
considerada também como a taxa de variação média entre a carga elétrica q e o tempo t
em dois pontos distintos do circuito elétrico, em que
• i é a intensidade da corrente;
56 Capítulo 4. Modelagem Matemática nas Engenharias
e, portanto,
dq
i= (4.17)
dt
Podemos determinar a carga elétrica que passa pelo circuito no intervalo [0, t]. Por
separação de variáveis, resolvemos a seguinte equação diferencial
t
dq
i= =⇒ dq = idt =⇒ dq = i dt
dt 0
t
=⇒ q(t) = i · t | = i · (t − 0)
0
=⇒ q(t) = it (4.18)
isolando i, temos
V
i= (4.20)
R
4.2. Aplicações das EDO na Engenharia Elétrica 57
dq V
=
dt R
V
=⇒ q(t) = ·t (4.21)
R
Pela seção ss , passa uma carga dq em um intervalo dt. A movimentação da carga
dq depende da realização de trabalho dW pela fonte. Disso, definimos a força eletromotriz
E da fonte em relação ao trabalho realizado como
dW
E=
dq
isto é, a força eletromotriz é o trabalho realizado pela fonte por unidade de carga transferidas
do terminal de baixo potencial (terminal negativo) para o terminal de alto potencial
(terminal positivo). No SI, a unidade é volt (joule por Coulomb).
Apresentados os conceitos de corrente elétrica e força eletromotriz, a seguir introdu-
ziremos os circuitos RC, RL, LC e RLC. Os circuitos do tipo RC (resistor - capacitor) são
simples filtros eletrônicos que são utilizados como temporizadores de sinais. Um exemplo
de sua utilização são os controladores de temperatura de um sistema de ar condicionado.
Os circuitos do tipo RL (resistor - indutância) são utilizados, por exemplo, em válvulas
solenóides que, por ação de um campo magnético gerado por uma bobina (indutor),
abrem ou fecham para controlar a passagem de fluidos. Para os circuitos LC (indutância
- capacitância) e RLC (resistência - indutância - capacitância), suas aplicações estão
concentradas em filtros eletrônicos que atenuam características não desejadas de uma
frequência separando os sinais desejados.
4.2.3 Circuito RC
Nesta seção, vamos estudar circuitos elétricos em que as correntes variam com o
tempo. A Figura 11 mostra um circuito com um capacitor de capacitância C, resistência
R e uma fonte ideal com força eletromotriz E.
q = CV
et/RC · q = EC et/RC + K
0 = EC + K =⇒ K = −EC
logo,
q(t) = EC − EC e−t/RC =⇒ q(t) = EC 1 − e−t/RC (4.24)
Note que quando t → +∞, temos que q(t) = EC que é o valor final da carga no
capacitor.
Através da derivada de q(t), que sabemos que é a corrente, podemos determinar a
corrente de carregamento do capacitor. Com efeito,
dq 1 −t/RC
i(t) = = −EC − e
dt RC
E −t/RC
= e (4.25)
R
mas,
q(t)
V (t) =
C
então,
V (t) = E 1 − e−t/RC (4.26)
4.2. Aplicações das EDO na Engenharia Elétrica 61
sendo seu processo de resolução análoga à EDO (4.22) cuja solução é dada por
τ = RC
e como o próprio o nome diz possui dimensão temporal que representa o tempo necessário
para que o capacitor atinja a carga ou a tensão um valor equivalente a 63% do seu valor
máximo que pode ser verificado quando t = τ na equação (4.24).
De acordo com as etapas para obtenção de um modelo descritas no Capítulo 3,
primeiramente, obtemos os dados do circuito, como a força eletromotriz E, a resistência R
e a capacitância C. Esta etapa é chamada de experimentação. Com os dados levantados,
aplicamos, como hipótese, a regra das malhas no circuito para ser testada no modelo,
sendo esta etapa chamada de abstração.
Aplicada a regra das malhas, usamos a linguagem matemática para formular nosso
modelo por meio de uma equação diferencial a partir dos dados levantados, por exemplo,
sabendo que que i = dq
dt
. Chamamos esta etapa de formulação do modelo. Tendo o modelo
formulado, passamos a resolvê-lo para determinar a função solução que determina a carga
3
Quando E = 0 a corrente no resistor cai para zero, mas não de forma instantânea. O decréscimo da
corrente pode ser calculada com essa conjectura.
62 Capítulo 4. Modelagem Matemática nas Engenharias
N Φ = Li (4.31)
d(N Φ)
EL = − (4.32)
dt
d(N Φ) di
=L
dt dt
4
Solenóide é uma bobina helicoidal formada por espiras circulares próximas que, ao passar uma corrente
elétrica i, forma um campo magnético.
5
Essa lei determina que o módulo da força E eletromotriz induzida por meio de uma bobina com N
espiras é igual à taxa de variação instantânea di fluxo magnético Φ que passa pela espira.
4.2. Aplicações das EDO na Engenharia Elétrica 63
di
EL = −L (4.33)
dt
4.2.5 Circuito RL
Como nos circuitos RC, a corrente apresenta um comportamento semelhando
quando o circuito contém uma força eletromotriz E, um indutor L e uma resistência
R. Pelo fato de o circuito agora possuir um indutor, então nele aparecerá uma força
eletromotriz autoinduzida EL opondo-se ao aumento da corrente de acordo com a Lei de
Lenz6 .
Observe, na Figura 12, que agora temos duas forças eletromotrizes, sendo a da
fonte, cujo valor de E é constante e EL , no indutor, é variável com o tempo produzida pela
autoindução.
No circuito representado pela Figura 12, aplicaremos a regra das malhas no sentido
horário, ou seja, o sentido da corrente. Do ponto a para o ponto b, o potencial elétrico
varia de −iR. Com a variação da corrente i, significa a existência da força eletromotriz
autoinduzida EL = L dt di
. Pela Lei de Lenz, EL opõe-se ao aumento da corrente que é
para baixo, então do ponto b para o ponto c, o potencial varia de −L dt
di
. E, finalmente, do
ponto c para o ponto a, o potencial varia de +E que é a força eletromotriz da fonte, então,
6
Essa lei, que determina o sentido da corrente induzida em uma espira, afirma que “a corrente induzida
em uma espira tem um sentido tal que o campo magnético produzido pela corrente se opõe ao campo
magnético que induz a corrente” (HALLIDAY; WALKER; RESNICK, 2010b, p. 267).
64 Capítulo 4. Modelagem Matemática nas Engenharias
seguindo abaixo a demonstração da solução que é uma função i(t). Determinando o fator
integrante μ(t), temos
μ(t) = e R/L dt = e(R/L)t
E (R/L)t
e(R/L)t · i = e +K
R
e substituindo o valor de K na equação (4.36), obtemos uma solução particular tal que
E
i(t) = 1 − e−(R/L)t (4.37)
R
di
Li + i2 R = Ei (4.38)
dt
dUL di
= Li =⇒ dUL = Li di
dt dt
em que UL é a energia magnética armazenada pelo indutor L que passa uma corrente i e
que tem como analogia a energia armazenada por um capacitor de capacitância C que
passa uma quantidade de carga q, ou seja,
1 2
UC = q
2C
4.2.6 Circuito LC
d2 x
+ kx = 0
dt2
porém, para modelar matematicamente a oscilação do circuito LC, usaremos como recurso
4.2. Aplicações das EDO na Engenharia Elétrica 67
F = −kx =⇒ ma = −kx
dv
=⇒ m = −kx
dt
dv dx dx
=⇒ m · + kx =0
dt dt dt
dv dx
=⇒ mv + kx =0
dt dt
⎛ ⎞
d ⎜
⎜1 1 ⎟
⎟
=⇒ ⎜ mv 2 + kx2 ⎟ = 0
⎝
dt 2 ⎠
2
U
U = UK + UM
mas como não há atrito, a energia total U não varia ao passar do tempo, logo
dU
=0
dt
daí,
dU di q dq
= Li + =0
dt dt C dt
68 Capítulo 4. Modelagem Matemática nas Engenharias
mas,
dq di d2 q
i= =⇒ = 2
dt dt dt
então,
d2 q q d2 q 1
Li 2
+ i = 0 =⇒ L 2
+ q=0
dt C dt C
logo, a solução geral da equação (4.39) de acordo com o Teorema 2.4.2 é dada por
⎛ ⎞ ⎛ ⎞
1 ⎠ 1 ⎠
q(t) = A cos ⎝ t + B sen ⎝ t , A, B ∈ R (4.40)
LC LC
dU
= −i2 R
dt
dU di q dq
= Li +
dt dt C dt
então
di q dq
Li + = −i2 R
dt C dt
Sendo i = dq/dt e di/dt = d2 q/dt2 e dividindo ambos os membros por i, segue que
d2 q dq 1
L 2
+R + q=0 (4.41)
dt dt C
que é a equação diferencial de segunda ordem com coeficientes constantes que modelam as
oscilações amortecidas em um circuito RLC. Para expor sua forma padrão, basta dividir
ambos os membros da equação por L. Logo,
d2 q R dq 1
+ + q=0 (4.42)
dt2 L dt LC
4.2. Aplicações das EDO na Engenharia Elétrica 71
1. Superamortecido: quando α2 > ωn2 . Esse fato gera duas raízes reais distintas λ1 e λ2 .
Logo, a solução geral da equação diferencial (4.42) é dada por
√ √
−α+ α2 −ωn2 t −α− α2 −ωn
2 t
q(t) = A e +Be
3. Subamortecido: quando α2 < ωn2 a equação característica fornece duas raízes comple-
xas, uma conjugada da outra. O termo α2 − ωn2 é negativo, então
daí,
λ1 = −α + i ωn2 − α2 e λ2 = −α − i ωn2 − α2
! "
−αt
q(t) = e A cos ωn2 − α2 t + B sen ωn2 − α2 t
Para uma solução particular, vamos supor que a mesma é dada por
sendo
xp (t) = A [cos(ωn t) − tωn sen(ωn t)] + [sen(ωn t) + tωn cos(ωn t)]
xp (t) = −2Aωn sen(ωn t) + 2Bωn cos(ωn t) − Aωn2 t cos(ωn t) − Bωn2 t sen(ωn t)
γ0
em que A = − e B = 0. Portanto, a solução geral é dada por
2ωn
γ0
= c1 cos(ωn t) + c2 sen(ωn t) − tcos(ωn t) (4.43)
2ωn
Das condições iniciais fornecidas pelo PVI, mostra-se que os valores das constantes
γ0
da solução complementar são c1 = 0 e c2 = . Logo, a solução do problema de valor
2ωn
inicial é dada por
7
Ver Boyce e Diprima (2006) , capítulo 3, seção 3.6.
74 Capítulo 4. Modelagem Matemática nas Engenharias
γ0
x(t) = [sen(ωn t) + tcos(ωn t)] (4.44)
2ωn
cair, porém, segundo Zill e Cullen (2001), durante meio século acreditava-se que a causa
da queda era a ressonância. Os ventos de aproximadamente 70 km/h geraram movimentos
de torção e a ponte veio abaixo.
Por exemplo, a equação x (t) + ωn2 x(t) = γ0 sen(ωn t) do nosso exemplo é linear,
porém pesquisas posteriores apontam que efeitos não lineares foram fatores principais que
causaram as oscilações na estrutura da ponte Tacoma Narrows.
Esse caso desencadeou, posteriormente, em uma série de cuidados em projetos
de estruturas grandes, por exemplo, no caso das pontes. Apesar de que a ressonância
não é considerada a causa principal do colapso na ponte do estado de Washington, os
Engenheiros Civis procuram assegurar que as oscilações não gerem vibrações inaceitáveis
que venham a formar o fenômeno da ressonância.
4.4 Aplicações
Exemplo 4.4.1 (Circuito RC ). Considere um circuito RC com resistência R = 6M Ω e
um capacitor com capacitância C = 2, 5 μF ligados em série juntamente com uma bateria
com força eletromotriz E = 12V . Por meio desses dados, podemos determinar a carga em
função do tempo de carregamento do capacitor. De fato, pela equação (4.22), temos
dq 1 E dq 1
+ q= =⇒ + q = 2 · 10−6
dt RC R dt 15
⎧
⎪
⎪ dq 1
⎪
⎪
⎨ dt + q = 2 · 10−6
15
⎪
⎪
⎪
⎪
⎩ q(0) = 0
q(t) = EC 1 − e−t/RC =⇒ q(t) = 3 · 10−5 1 − e−t/15
A equação (4.26) nos fornece a solução geral, porém vamos considerar como
78 Capítulo 4. Modelagem Matemática nas Engenharias
q(t) = 10 e−t/15
di R E di
+ i = =⇒ + 4, 5 · 103 i = 9 · 103
dt L L dt
⎧
⎪
⎪ di 3 3
⎨ dt + 4, 5 · 10 i = 9 · 10
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎩ i(0) = 0
80 Capítulo 4. Modelagem Matemática nas Engenharias
3
= 18 · 103 e−4,5·10 t
L {q} s2 + 24 · 106 = 30 · 10−3 s
30 · 10−3 s
L {q} = √ 2
s2 + 2 · 103 6
√
= 0, 03 cos 2 · 103 6 t
que é função que modela as oscilações do circuito elétrico do tipo LC. Comparando com o
movimento livre não-amortecido, podemos notar que a carga elétrica q ficará oscilando,
por causa da função cosseno presente na solução do PVI, até que uma força externa aja
no sistema e pare tal oscilação.
dq
Podemos determinar a corrente i neste circuito. Sabemos que i = dt
, então
dq √ √
= i(t) = −60 6 sen 2 · 103 6 t
dt
4.4. Aplicações 83
Exemplo 4.4.4 (Circuito RLC ). Considere um circuito RLC em série com um resistor
de resistência R = 2, 0 Ω, indutor de indutância L = 10 mH e capacitor de capacitância
C = 1, 5 μF . Este tipo de circuito apresenta três categorias de amortecimento e com esses
84 Capítulo 4. Modelagem Matemática nas Engenharias
1
dados vamos analisar em qual categoria ele encontra-se. Vimos que α = R L
e ωn = √LC
e se α2 > ωn2 é superamortecido, se α2 = ωn2 é criticamente amortecido e se α2 < ωn2 é
subamortecido. De fato,
R 2 1 1 1
α= = = e ωn = √ =√
2L 20 10 LC 15
⎧ 2
⎪
⎪ d q 1 dq 1
⎪
⎪ + + q=0
⎪
⎪ dt2 5 dt 15
⎪
⎪
⎪
⎪
⎨
⎪
⎪ q(0) = 30 μC
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎩ q (0) = i(0) = 0 A
que tem como solução, de acordo com o Teorema 2.4.1, é dada por
⎡ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞⎤
−0,1t ⎣0, 03 cos ⎝
17 ⎠ 300 17 ⎠⎦
q(t) = e t + 0, 003 sen ⎝ t
300 17 300
oscilações serão amortecidas até num determinado tempo t e, assim, a carga, conforme
mostra o gráfico, se anulará.
dq
Podemos determinar a corrente i deste circuito. Sabemos que i = dt
, então
⎡⎛ ⎞ ⎛ ⎞⎤
dq 300 17 ⎠ 17 ⎠⎦
= i(t) = −e−0,1t ⎣⎝0, 0003 + 0, 03 sen ⎝ t
dt 17 300 300
e é possível, também, observar o caráter oscilatório da corrente elétrica, uma vez que a
oscilação se dá em termos da função senoidal e o amortecimento se dá pelo fator exponencial
decrescente contido na função i.
Exemplo 4.4.5 (Circuito RLC ). Considere, agora, um circuito RLC em série com
resistência R = 6 Ω, indutor com indutância L = 10 mH e capacitor com capacitância
C = 1, 5 μF . Sabemos que
R 6 3 1 1
α= = = e ωn = √ =√
2L 20 10 LC 15
⎧ 2
⎪
⎪ d q 3 dq 1
⎪
⎪ + + q=0
⎪
⎪ dt2 5 dt 15
⎪
⎪
⎪
⎪
⎨
⎪
⎪ q(0) = 30 μC
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎩ q (0) = i(0) = 0 A
Para a solução deste PVI, iremos utilizar a equação (4.15) em que foi aplicada
a Transformada de Laplace para o movimento superamortecido para a aplicação na
Engenharia Mecânica e que é equivalente para esse caso bastando ajustar os termos
referentes àquele sistema para com o circuito RLC. A equação (4.15) é:
# $ # $
x0 λ1 + x0 2ζωn + V0 λ1 t x0 λ2 + x0 2ζωn + V0 λ2 t
x(t) = e − e
2ωf 2ωf
⎡ ⎤ ⎡ ⎤
⎢ q 0 λ 1 + q0
R R
⎢ + i0 ⎥
⎥
⎢ q0 λ 2 + q 0
⎢ + i0 ⎥
⎥ λ t
⎢
q(t) = ⎢ L ⎥ λ1 t ⎢
−⎢ L ⎥e 2
2 ⎥e 2 ⎥
⎣ 2 R ⎦ ⎣ 2 R ⎦
√ · 2 2
−1 √ · 2 2
−1
LC 4ωn L LC 4ωn L
3 1 7 3 1 7
sendo λ1 = − + e λ2 = − − as raízes da equação característica
10 10 3 10 10 3
dada por:
3 1
λ2 + λ+ =0
5 15
Substituindo os valores na função q, temos que a solução do PVI é dada por (com
valores arredondados):
dq
i(t) = = −0, 00655 e−0,1473 t + 0, 00654 e−0,4528 t
dt
Exemplo 4.4.6 (Circuito RLC ). Considere um circuito RLC em série de resistor com
√
resistência R = 43 15 Ω, indutor com indutância L = 10 mH e capacitor com capacitância
C = 1, 5 μF . Sabemos que
√ √ √
R 4 15 1 15 1 1 15
α= = · = e ωn = √ =√ =
2L 3 10 15 LC 15 15
⎧ 2 √
⎪
⎪ d q 2 15 dq 1
⎪
⎪
⎨ dt2 + 15 dt + 15 q = 0
⎪
⎪ q(0) = 30 μC
⎪
⎪
⎩
q (0) = i(0) = 0 A
Da mesma forma que o exemplo anterior, iremos utilizar a equação em que foi
aplicada a Transformada de Laplace, equação (4.14), para o movimento criticamente
amortecido que também é equivalente para este caso bastando fazer os ajustes necessários
dos dados para o circuito RLC. A equação (4.14) é:
# $
√ 1
−1/ LC t
q(t) = e q0 + √ q 0 + i0 t
LC
Substituindo os dados na função q, temos que a solução do PVI é dada por:
# $
√ 0, 03
q(t) = e−1/ 15 t
0, 03 + √ t
15
dq 0, 03 √
i(t) = = − √ t e−1/ 15 t
dt 15
Como já dito, a oscilação criticamente amortecida por conter um termo linear faz
com que o retorno para a corrente e a carga inicial ocorra mais rapidamente. Comparando
com o movimento livre amortecido em sistemas com molas a reação é análoga, o retorno
para a posição de equilíbrio é mais rápido do que o movimento superamortecido.
Com isso, apresentamos a aplicação das equações diferenciais ordinárias na Enge-
nharia Elétrica fazendo uma análise de acordo com as etapas para criação de um modelo
matemático descritas no Capítulo 3.
91
1
Para um detalhamento deste método para obter o volume da esfera encontra-se em Eves (2004, p.
422).
92 Capítulo 5. Modelagem Matemática na Física
Estes são só alguns exemplos. Existem outros nomes e trabalhos desenvolvidos que
recorrem a esse método mesmo sem o rigor que conhecemos hoje.
Em se tratando do Cálculo Diferencial e Integral, não podemos esquecer de dois
importantes matemáticos predecessores de Newton: John Wallis (1616 - 1703) e Isaac
Barrow (1630 - 1677). O primeiro é considerado um dos mais importantes matemáticos
do seu tempo produzindo em diversos segmentos inclusive métodos para ensinar surdos
e mudos (EVES, 2004). Wallis utilizou sistematicamente as séries em que contribuiu
bastante e, assim, Newton pode estudá-la mais a fundo posteriormente. Sua dedicação e
contribuição ficou por conta da teoria da integral. Em sua obra Arithmetica infinitorum,
de acordo com Eves (2004), surge a afirmação da seguinte fórmula de integração
1 1
xm dx =
0 m+1
Em sua obra Um novo método para máximos e mínimos e também para tangentes,
apresenta como encontrar tangentes por meio do cálculo diferencial e encontrar quadraturas
por meio do cálculo integral. Na mesma obra demonstra propriedades operatórias das
derivadas, por exemplo:
d du dv
[u · v] = v · +u·
dx dx dx
5.1. Físicos e matemáticos: a fundamentação do Cálculo Diferencial e Integral 93
du dv
! " v· −u·
d u dx dx
=
dx v v2
d n du
[u ] = nun−1
dx dx
Foi Leibniz que introduziu termos como função, coordenadas, oscilações, entre
outros termos e juntamente com os irmãos Bernoulli deu o nome que conhecemos hoje
de Cálculo Integral. As notações modernas das operações aritméticas também é devido
a Leibniz. É considerado o pai da Lógica Moderna e o precursor da matemática mais
avançada do seu tempo.
2
Braquistócrona é o nome que se dá à trajetória de uma partícula sujeita a um campo gravitacional
constante, sem atrito e com velocidade inicial nula que se desloca entre dois pontos no mais curto
período de tempo.
94 Capítulo 5. Modelagem Matemática na Física
dv dx dv dv dv
= · ⇒ =v .
dt
dt dx dt dx
v
A equação (5.2) é uma Equação Diferencial Ordinária mais conhecida como Equação
de Bernoulli. A formulação geral desse tipo de equação é dada por
dy
+ p(x)y = f (x)y n
dx
Para solucionar a equação (5.2), é necessária uma substituição a fim de recairmos
em uma EDO Linear de Primeira Ordem e, assim, encontrar o fator integrante.
Comparando essa equação com a Equação de Bernoulli temos n = −1, então
1
w = v 1−n ⇒ w = v 2 ⇒ v = w 2 . Derivando ambos os membros em relação a x, temos
dv 1 dw
= 1 ·
dx 2w 2 dx
1 dw c 1 1
1 · + w 2 = gw− 2
2w 2 dx m
1
Multiplicando a equação por 2w 2 , então
dw c
+ 2 w = 2g (5.3)
dx m
5.2. Corpo em queda livre com influência do atrito 95
Com isso, temos uma equação do tipo y (x) + p(x)y(x) = q(x) e podemos resolvê-la
c
encontrando o fator integrante3 μ(x). Sendo p(x) = 2 , então
m
c c
μ(x) = exp 2 dx = exp 2 x
m m
Multiplicando a equação (5.3) pelo fator integrante μ(x), temos
c dw c c c
exp 2 x · + exp 2 x · 2 w = exp 2 x · 2g
m dx m m m
d c
w · exp 2 x
dx m
Então,
d c c
w · exp 2 x = exp 2 x · 2g
dx m m
Integrando ambos os membros diferenciando x, temos
d c c
w · exp 2 x dx = exp 2 x · 2g dx
dx m m
c c
w · exp 2 x = 2g exp 2 x dx
m m
Como queremos a função w, solução do problema, e resolvendo a integral por substituição,
então
c mg c mg c
w · exp 2 x = · exp 2 x + K ⇒ w = + Kexp −2 x
m c m c m
2 mg c
v = + Kexp −2 x
c m
mg c
v(x) = + Kexp −2 x , K∈R (5.4)
c m
5.3 Aplicação
⎧
⎪
⎪ dv −1
⎪
⎨ dx + 0, 1786 v = 9, 81 v
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎩ v(0) = 0 m/s
b−a
h=
n
em que
ȳn+1 = yn + hf (xn , yn )
1
yn+1 = yn + h(k1 + 3k3 ), (5.7)
4
5.5. Aplicação: o movimento de queda livre 99
em que
k1 = f (xn , yn )
1 1
k2 = f xn + h, yn + hk1
3 3
2 2
k3 = f xn + h, yn + hk2
3 3
Nesse caso note que o termo k2 não aparece explicitamente no método, porém ele
deve ser calculado a cada passo na resolução do problema.
1
yn+1 = yn + h(k1 + 2k2 + 2k3 + k4 ) (5.8)
6
sendo:
k1 = f (xn , yn )
1 1
k2 = f xn + h, yn + hk1
2 2
1 1
k3 = f xn + h, yn + hk2
2 2
k4 = f (xn + h, yn + hk3 )
F = ma (5.9)
100 Capítulo 5. Modelagem Matemática na Física
F
a= (5.10)
m
dv F
= (5.11)
dt m
em que v é a velocidade (m/s) e t é o tempo (s). Caso a força resultante que atua sobre o
corpo for positiva, ele irá ter uma aceleração e caso for negativa, ele terá uma desaceleração.
Para um corpo em queda livre sob a gravidade da Terra, duas forças opostas
resultam em F : a força gravitacional para baixo FD e a força de resistência do ar, oposta
a gravitacional FU . Logo a equação da resultante é
F = FD + FU (5.12)
FD = mg (5.13)
FU = −cv (5.14)
A equação (5.16) está em termos da taxa de variação instantânea dv/dt, com isso
ela é chamada de equação diferencial ordinária na variável que estamos interessados em
estudar, isto é, a velocidade do corpo.
5.5. Aplicação: o movimento de queda livre 101
⎪
⎪
⎪
⎪
⎩ v(0) = 0
problema em estudo considera para os cálculos c = 12, 5 kg/s e m = 68, 1 kg nos primeiros
quinze segundos.
Podemos observar que o Método de Euler não é muito preciso, mas consegue
representar de forma satisfatória a velocidade do corpo em queda livre. Note que se
aumentarmos o tempo de análise tal método se aproximará da solução exata, pois o erro
absoluto diminui cada vez mais para tempos suficientemente longos.
A próxima tabela apresenta uma melhoria no método de Euler. Isso poderá ser
reparado ao analisarmos o erro absoluto entre a solução exata e tal método.
68, 1 · 9, 81
v(t) = = 53, 44 m/s
12, 5
5.5. Aplicação: o movimento de queda livre 105
Para solucionar (6.1), temos que fazer uma mudança de variável. De fato,
dN N
= −rN ln
dt K
seja
N
u = ln ⇒ N = Keu
K
dN du
⇒ = Keu substituindo em (3.1)
dt dt
du du
Keu = −ruKeu ⇒ = −ru
dt dt
du du
= −rdt ⇒ = − rdt
u u
N
ln(u) = −rt + C ⇒ ln = e−rt eC
K
−rteC
N = Kee e tendo N (0) = N0 , então
rt N0
ln( )
N (t) = Ke−e K (6.2)
metastáticas não podem ser excedidas por esse limite suporte. Então, iremos considerar,
para os cálculos, que nossa capacidade de suporte será K = 1013 células.
Os parâmetros da solução da equação de Gompertz serão baseados no estudo de
Domingues (2011), onde r = 0, 0060, K = 1013 e N0 = 109 . Logo, a equação (6.2) com
esses valores declarados torna-se:
−0,0024 ln(10) t
N (t) = 1013 e−e
De acordo com os dados propostos por Domingues (2011), a equação (6.5) fica da
seguinte forma:
N (t) = 1013 e0,006 t
mas, observe que para t → ∞, N (t) → ∞ que para o crescimento tumoral não é real
para tempos indefinidamente grandes. Porém, para o modelo logístico, isso não acontece e
veremos esse fato ao resolvermos a equação. Sendo N (0) = n0 , temos o seguinte PVI:
⎧
⎪
⎪ dN N
⎪
⎪
⎨ dt
=r 1− N
K
⎪
⎪
⎪
⎪
⎩ N (0) = N
0
De fato,
dN K −N K
=r N =⇒ dN = r dt
dt K N (K − N )
1 1
dN + dN = rt + C
N K −N
ln N − ln(K − N ) = rt + C
N
ln = rt + C
K −N
6.1. Dinâmica de crescimento de um tumor 111
N
= ert · ek =⇒ N = (K − N )ert · eC
K −N
=⇒ N = K ert · eC − N ert · eC
=⇒ N + N ert · eC = K ert · eC
K ert · eC
=⇒ N (t) =
1 + ert · eC
e, das condições iniciais e fazendo os ajustes necessários, a solução do PVI é dada por
KN0
N (t) = (6.6)
N0 + (K − N0 ) e−rt
1022
N (t) =
109 + (1013 − 109 ) e−0,006 t
Apesar de existirem diversos modelos, cada um com sua área de interesse, nosso
modelo é simples baseando-se apenas no decaimento do efeito da droga no sangue em
função do tempo. Supondo que a taxa de variação da concentração é proporcional à
concentração existente na corrente sanguínea em cada instante t e sabendo que a dosagem
(da concentração) inicial seja C(0) = C0 , então,
dC
= −γC (6.7)
dt
em que,
1
Reflexão obtida em sua nota de aula denominada Farmacocinética.
6.2. Modelo matemático para absorção de drogas (medicamentos) 115
dC dC t
= −γC =⇒ = −γdt
dt C t0
=⇒ ln(C) = −γ(t − t0 ) + k
⎪
⎪
⎪
⎪
⎩ C(0) = C
0
meia-vida entre 50 − 140 minutos em uma pessoa adulta. De acordo com os estudos farma-
cológicos, entre 4 e 6 meias-vidas o medicamento quase atinge sua concentração máxima
plasmática e quanto mais curta for a meia-vida, mais rápido alcança-se a concentração
máxima.
É evidente que a cada dose aplicada do medicamento ele possui um período de
tempo de ação no organismo e sendo eliminado durante tal período. Vamos analisar agora
116 Capítulo 6. Modelagem Matemática na Biologia
Podemos notar que a cada 480 minutos (8 horas) uma nova dose de Fenobarbital é
aplicada, ou seja, o tempo inicial de aplicação é a cada 480 minutos e a partir de então a
concentração da medicação decai em função do tempo.
Observe que para t suficientemente grande, a concentração da medicação tende a
concentração inicial, então o paciente, no tempo designado, tem que tomar uma outra
dose, criando, assim, um ciclo até o fim do tratamento estipulado pelo médico responsável.
Em se tratando das etapas descritas por Bassanezi (2002) apresentadas no Capí-
tulo 3, também não partirmos de levantamento de dados e hipóteses iniciais e sim da
problemática já modelada, ou seja, partirmos com a formulação do modelo pronta e, assim,
passamos a resolvê-lo partindo da etada resolução.
6.2. Modelo matemático para absorção de drogas (medicamentos) 117
2. O vetor momento linear é o produto da grandeza escalar massa pela grandeza vetorial
velocidade, isto é,
p
= m
v .
d
p d(m
v )
F
= =
dt dt
d
v
=m = m
a
dt
ou seja, a grandeza vetorial força é o produto da massa pela grandeza vetorial aceleração
que é a segunda lei de Newton.
É importante aqui ressaltar o campo de validade da Mecânica Newtoniana. As
três leis de Newton são válidas em sistemas com velocidades baixas em comparação com
a velocidade da luz e para corpos com massa grande em comparação com partículas
elementares e suas massas (NETO, 2004).
Neto (2004), em sua obra Mecânica Newtoniana, Lagrangeana e Hamiltoniana,
apresenta uma tabela referente aos campos de atuação das teorias físicas. Quando a
velocidade do corpo estudado é muito menor do que a da luz, encontramo-nos em um
domínio newtoniano para massas muito maiores que a massa do elétron e no domínio da
teoria quântica não relativística quando a massa do corpo é de mesma grandeza que a
massa do elétron. Porém, quando a velocidade do corpo é de mesma grandeza que a da luz,
encontramo-nos na teoria relativística para massas muito maiores que a massa do elétron
e na teoria quântica relativística para massas de mesma grandeza que a massa do elétron.
A Mecânica Newtoniana descreve muito bem movimentos de corpos com velocidades
bem inferiores a da velocidade da luz, porém, por meio de observações experimentais, as
leis de Newton forneciam resultados incoerentes quando se tratava de velocidades grandes.
Por volta de 1905, Einstein apresentou a Teoria da Relatividade propondo equações para
substituir as conhecidas equações da Mecânica Newtoniana que descreviam os movimentos
de partículas em velocidades grandes e que estavam em conformidade com os dados
experimentais realizados. A Mecânica Newtoniana é um caso particular da Mecânica
Relativística quando tratamos de velocidades de partículas bem abaixo da velocidade da
luz.
A Mecânica Lagrangeana é uma outra formulação da mecânica clássica. Nesta
formulação, as leis de Newton não são mais o ponto inicial, mas sim o Princípio de Hamilton
também conhecido como princípio da mínima ação. Este princípio, nesta mecânica, é
o equivalente à segunda lei de Newton e está interessado em estudar a evolução de um
sistema do instante t1 para o instante t2 .
Segundo Neto (2004), o sistema é caracterizado por uma função escalar L que
depende de n coordenadas e n velocidades generalizadas que, de forma compacta, é
7.1. Função de onda 121
É chamado de espaço das configurações este espaço que é formado pelas coordenadas
generalizadas em que as derivadas de primeira ordem de tais coordenadas são denominadas
velocidades generalizadas.
Nesta formulação a ação é definida pela seguinte integral em um intervalo fechado
[t1 , t2 ], ou seja
t2
S= L(q, q̇, t) dt (7.2)
t1
A função lagrangeana a qual dissemos ser uma função escalar e, considerando uma
única partícula no sistema, ou seja, i = 1, é dada pela diferença entre a energia cinética T
e a potencial V , isto é,
1
L = T − V = m(ẋ)2 − V (x)
2
que, por conseguinte, gera, de forma generalizada, as equações de Lagrange para um
sistema com i partículas, ou seja,
d ∂L ∂L d2 xi dV (xi )
= =⇒ m 2 = − (7.3)
dt ∂ ẋi ∂xi dt dxi
E : F −→ R
122 Capítulo 7. Modelagem Matemática na Química
em que F é um espaço de funções. A grosso modo, o funcional associa uma função de uma
determinada classe a um número real.
Um exemplo clássico de um funcional é a distância entre dois pontos num plano ao
longo de uma curva S escrita como y = y(x). A ideia é determinar o menor comprimento de
curva que passa por tais pontos, x1 e x2 . Considerando ds é um comprimento infinitesimal
de S, então, pelo teorema de Pitágoras
∂H
ṗi = − (7.7)
∂qi
7.1. Função de onda 123
em que estas equações são chamadas de Equações de Hamilton. Para obtê-las é necessário
fazer o uso da Equação de Euler-Lagrange (NETO, 2004).
A Mecânica Hamiltoniana tem como vantagem a “parte formal da teoria, principal-
mente no que se refere à passagem para a mecânica quântica” (NETO, 2004, p. 331). Em
nossa apresentação das equações diferenciais ordinárias aplicadas à Química, analisamos
a Equação de Schrödinger para determinar a função de onda, equação esta dada por
ĤΨ = EΨ em que Ĥ é chamado de operador Hamiltoniano. De fato, a mecânica formulada
por Hamilton tornou-se uma ponte para a Mecânica Quântica.
Inicialmente, pensava-se que o movimento de partículas microscópicas poderia ser
expresso a partir da formulação da Mecânica Clássica em relação às leis de Newton. Erwin
Schrödinger, por intermédio de observações experimentais, evidenciou que as partículas
em sistemas microscópicos deveriam obedecer às leis do movimento ondulatório. E a
partir desse fato foi necessário formular uma mecânica que descrevesse o movimento das
partículas na escala atômica, ou seja, a teoria proposta por Schrödinger
em que a equação não depende da variável temporal t, pois a equação tornaria-se uma
EDP (equação diferencial parcial) que está fora dos limites desta pesquisa, porém, como
curiosidade, apresentaremos sua forma tridimensional sem a resolução do problema em
questão. Sejam m e E, massa e energia de uma partícula, respectivamente, então a Equação
de Schrödinger é dada por
2 d2 Ψ
− + V (x)Ψ = EΨ (7.8)
2m dx2
em que V (x) é a energia potencial no ponto x, E é a soma das energias potencial e cinética
e é uma constante definida da seguinte forma
h
= = 1, 05457 × 10−34 Js
2π
tal que h é a constante de Planck cujo valor é aproximadamente 6, 626069 × 10−34 Js.
A equação (7.8) descreve sistemas unidimensionais. Para sistemas tridimensionais,
temos
2 2
− ∇ Ψ + V Ψ = EΨ
2m
em que ∇2 (lê-se “nabla dois”) é dado por
∂2 ∂2 ∂2
∇2 = + + .
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
ĤΨ = EΨ
2 2
Ĥ = − ∇ + V.
2m
é uma idealização da energia potencial de uma molécula na fase gasosa que é livre para se
mover num recipiente unidimensional” (ATKINS; PAULA, 2008, p. 250).
Como exemplo de aplicações, esse modelo pode ser base para estudo da estrutura
eletrônica dos metais e também em termodinâmica estatística (movimento translacional
das partículas).
Na região entre as paredes da caixa (no intervalo [0, L]) a energia potencial V (x) é
nula. Então, a equação de Schrödinger é escrita da seguinte forma
2 d2 Ψ
− = EΨ (ĤΨ = EΨ ) (7.9)
2m dx2
2 d2 Ψ k 2 2
em que Ĥ = − é o operador Hamiltoniano e Ek = é a soma das energias
2m dx2 2m
cinética e potencial.
Note que a equação (7.9) é uma EDO de segunda ordem homogênea e podemos
escrevê-la da seguinte forma
2 d2 Ψ
+ Ek Ψ = 0
2m dx2
e abaixo segue o desenvolvimento de sua solução:
2 d2 Ψ k2 d2 Ψ
+ Ψ = 0 =⇒ + k2Ψ = 0
2m dx2 2m dx2
cuja equação característica e sua solução é
√
λ2 + k 2 = 0 =⇒ λ = ± −k 2
e pela relação de Euler e±ix = cos(x) ± isen(x) podemos reescrever a equação (7.10)
Ψk (x) = Aeikx + Be−ikx = A cos(kx) + isen(kx) + B cos(kx) − isen(kx)
= (A + B)cos(kx) + (A − B)isen(kx)
k 2 2
Em se tratando de uma partícula livre, qualquer valor de Ek = é uma solução
2m
aceitável. De acordo com Atkins e Paula (2008), quando a partícula não está livre, isto é,
ela está confinada numa determinada região do espaço, as funções Ψ (x) aceitáveis devem
satisfazer certas condições de contorno.
Impostas as condições de contorno à função Ψ (x), a energia da partícula em uma
caixa unidimensional é quantizada de forma que ela se torne uma função de onda aceitável.
Na próxima seção, apresentaremos a aplicação da partícula na caixa bidimensional que é
modelada matematicamente por uma equação diferencial parcial em duas variáveis, x e y,
uma independente da outra sendo possível a sua solução por separação de variáveis.
Temos que resolver uma Equação Diferencial Parcial. Para isso, utilizaremos o
método da separação de variáveis. Esse método consiste em dividir a equação inicial em
duas ou mais equações diferenciais ordinárias, uma para cada variável.
Ψ (x, y) = χ(x)ϕ(y)
que resultará nas seguintes equações, cada uma para sua respectiva coordenada
2 d2 χ
− = Ex χ
2m dx2
2 d2 ϕ
− = Ey ϕ
2m dy 2
E = Ex χ + Ey ϕ
7.1. Função de onda 127
∂2Ψ ∂ 2 χϕ d2 ϕ
= =χ 2
∂x2 ∂x2 dx
e também
∂2Ψ ∂ 2 χϕ d2 χ
= = ϕ .
∂y 2 ∂y 2 dy 2
Substituindo ambas as equações em (7.11), temos
2 d2 ϕ d2 χ
− χ 2 +ϕ 2 = Eχϕ
2m dx dy
Notemos que o segundo membro da equação é uma constante, não variando, assim,
independente dos valores de x e y no primeiro membro da equação. Se variarmos x apenas
o termo que depende dessa variável altera-se e como o termo do segundo membro é uma
2mEx
constante podemos escrevê-la como − 2 . E como raciocínio análogo, podemos realizar
2mEy
o mesmo para y escrevendo-o como − 2 . Portanto, E = Ex + Ey . Logo, concluímos
que
1 d2 χ 2mEx
=− 2
χ dx 2
1 d2 ϕ 2mEy
=− 2
ϕ dy 2
que, como podemos observar, são duas equações diferenciais ordinárias cada uma para sua
respectiva coordenada.
Esse processo resultou em equações diferenciais ordinárias semelhantes à equação
de Schrödinger para a partícula numa caixa unidimensional. É possível fornecer o mesmo
tratamento algébrico para uma partícula em uma caixa tridimensional separando suas
respectivas variáveis e encontrando três equações diferenciais ordinárias.
A seguir, apresentaremos uma aplicação da função de onda que é o processo de
tunelamento no qual é um fenômeno que a partícula atravessa a barreira de potencial.
Ψ = Cekx + De−kx C, D ∈ R
k = [2m(V − E)]1/2
Observe que se E > V a solução torna-se complexa de acordo com o Teorema 2.4.2.
Com efeito,
2 d2 Ψ d2 Ψ 2m
− + (V − E)Ψ = 0 =⇒ + 2 (E − V )Ψ = 0
2m dx 2 dx 2
1 2
V (x) = kx (7.12)
2
1
V (x) = mω 2 x2 (7.13)
2
A relevância para a mecânica quântica está nos níveis de energia para sistemas
microscópicos, como nas vibrações das moléculas em gases e também em sólidos, em que a
solução da Equação de Schrödinger para este tipo de potencial é importante. Vale ressaltar
que esta não envolve a força que age sobre a partícula, mas sim a energia potencial sobre
todo o sistema. Então, a constante k pode ser entendida como um valor que indica o
quanto a energia potencial do sistema aumenta, sendo o valor de referência V = 0 e x = 0.
130 Capítulo 7. Modelagem Matemática na Química
√
e, assim, seja ξ = ρ x. Daí,
dΨ dΨ dξ dΨ √ dΨ
= =⇒ = ρ
dx dξ dx dx dξ
d2 Ψ d2 Ψ
=⇒ = ρ
dx2 dξ 2
sendo esta última implicação obtida ao observar as derivadas de ordem superior como
sendo aplicação de operadores diferenciais. Com essa mudança de variável, a equação de
Schrödinger é reescrita na variável ξ da seguinte maneira:
d2 Ψ (ξ)
2
+ (ρ − ξ 2 )Ψ (ξ) = 0 (7.15)
dξ
2 /2)
Na equação acima, fazemos Ψ (ξ) = e−(ξ η(ξ), então
dΨ (ξ) 2 2 dη(ξ)
= −ξe−(ξ /2) η(ξ) + e−(ξ /2)
dξ dξ
d2 Ψ (ξ) 2
−(ξ 2 /2) d η(ξ) 2 dη(ξ) 2
=⇒ 2
= e 2
− 2ξe−(ξ /2) + (ξ 2 − 1) e−(ξ /2) η(ξ)
dξ dξ dξ
que é o resultado, também, obtido por Donangelo e Capaz (2009). Agora, substituindo o
resultado acima na equação (7.15), temos a seguinte equação diferencial de segunda ordem
do oscilador harmônico:
d2 η(ξ) dη(ξ)
2
− 2ξ + (ρ − 1)η(ξ) (7.16)
dξ dξ
conhecida como Equação de Hermite. As soluções dessa equação diferencial são chamadas
de Polinômios de Hermite.
H0 (t) = 1
H1 (t) = 2t
H2 (t) = 4t2 − 2
H3 (t) = 8t3 − 12t
H4 (t) = 16t4 − 48t2 + 12
k
H2k+1 (ξ) = di ξ 2i+1 no caso ímpar (7.21)
i=0
em que ci e di são os coeficientes. Estes são dados, segundo Donangelo e Capaz (2009),
conforme a seguinte relação de recorrência:
4(i − k)
ci+1 = ci para os polinômios de grau 2k. (7.22)
2(i + 1)(2i + 1)
4(i − k)
di+1 = di para os polinômios de grau 2k + 1. (7.23)
2(i + 1)(2i + 3)
1 d2 χ 2mEx
=− 2
χ dx 2
1 d2 ϕ 2mEy
=− 2
ϕ dy 2
Como última aplicação, apresentamos o oscilador harmônico simples. Como abs-
tração, utilizamos como hipótese a equação (7.8) e, sabendo que a energia potencial é
V (x) = 12 kx2 , substituímos esse valor na equação mencionada e, portanto, temos a formu-
lação do modelo descrito na equação (7.16). Como resolução, transformamos a equação
(7.16) numa equação denominada equação de Hermite cuja solução é dada pelos polinômios
de Hermite.
135
8 Considerações Finais
Linear, como auto-valores e auto-vetores tanto no caso real como no complexo. Um modelo
matemático descrito por um sistema de equações diferenciais é o predador-presa que
descreve a interação de duas espécies diferentes de animais em um mesmo ambiente ou
até mesmo os chamados modelos de competição em que duas espécies de animais que
ocupam o mesmo ecossistema competem não entre si, mas pela mesma fonte de recursos,
por exemplo, alimentos e habitat.
Por intermédio de nossas questões iniciais, principalmente aquela que verte na
utilização dos conceitos matemáticos profissionalmente, apresentamos modelos descritos
por equações diferenciais que explicam fenômenos que são estudados por profissionais de
cada área. A conceitualização matemática e a sua possível intervenção prática por meio da
modelagem de sistemas fornece ao estudante possíveis subáreas em que há a possibilidade
de estudar projetos e aplicá-los. Um exemplo é o circuito RLC em que é possível observar,
em um osciloscópio, o comportamento da oscilação por causa da dissipação de energia
no resistor, ou seja, por meio de um aparelho usado na prática é possível confirmar e
comparar os cálculos realizados teoricamente.
Do que apresentamos nesta pesquisa, sugerimos, para cada modelo nas áreas do
conhecimento abordadas, a criação de sequências didáticas para o ensino de EDO por
meio da Modelagem Matemática. Como dito na Introdução, não estamos defendendo o
ensino deste tópico matemático sem seu enfoque formal, mas que tenha a possibilidade de
apresentar aplicações das equações diferenciais, pois elas surgiram para resolver problemas
de outras ciências.
139
Referências
ATKINS, P.; PAULA, J. de. Físico - Química. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
HALLIDAY, D.; WALKER, J.; RESNICK, R. Fundamentos de física. vol. 2. 8. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2010.
HALLIDAY, D.; WALKER, J.; RESNICK, R. Fundamentos de física. vol. 3. 8. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2010.
KRAIGE, L.; MERIAN, J. Mecânica Dinâmica. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1997.
ZILL, D. G.; CULLEN, M. R. Equações diferenciais. 3. ed. São Paulo: Pearson Makron
Books, 2001.