Física Atômica e Molecular
Física Atômica e Molecular
Física Atômica e Molecular
Resumo e Motivação
Início: Revisão sucinta de noções elementares de física atômica e molecular.
Sumário
Uma revisão lúcida, detalhada e com referências aos trabalhos originais da fase “heróica” pré-1970
pode ser encontrada na bela coletânea de G.W. Series1 , The Spectrum of Atomic Hydrogen, Advances,
publicada em 1988. O impacto do Laser e as grandes novidades em Física Atômica e Molecular são
narradas no cativante livro de J. Rigden2 , Hydrogen, the Essential Element, publicado em 2002.
O átomo de hidrogênio sempre foi e continua a ser uma fonte inesgotável para se estudar física
e obter resultados surpreendentes. Um indício disto é facilmente obtido contando-se quantos Prêmio
Nobel já foram atribuidos a pessoas que dedicaram-se a estudar as propriedades do átomo de hidrogênio
(veja o livre de Rigden). Faça uma lista e descubra quando e a quem foi atribuido o mais recente Nobel
na área de física atômica e molecular.
Leituras recomendadas
Christopher J. Foot, Atomic Physics, (Oxford University Press, Oxford, 2008).
Na parte final, este livro contém excelente material explicando Doppler-free laser spectrocopy, Laser
cooling and trapping, magnetic trapping and Bose-Einstein condensation, atom interferometry, ion traps,
e quantum computing. Existe na internet, para baixar.
H. Friedrich, Theoretische Atomphysik (Springer, Berlin, 1990).
W. Demtröder, Atoms, Molecules and Photons, § 3.4
H. Haken and H.C. Wolf, The Physics of Atoms and Quanta, capítulo 8,
A. Beiser, Concepts of Modern Physics, capítulo 4.
R. Eisberg and R. Resnick, Quantum Physics, capítulo 4.
V. Kondratyev, The Structure of Atoms and Molecules, (MIR, Moscou, 1967), caps. 3 e 4.
Veja ainda a Internet; localize os websites dos principais grupos trabalhando no assunto ...
1
G.W. Series, editor, The Spectrum of Atomic Hydrogen, Advances, (World Scientific, Singapore, 1988).
2
J. Rigden, Hydrogen, the Essential Element, (Harvard University Press, Harvard, 2002).
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(1 Generalidades sobre átomos)
A maior parte do conhecimento sobre átomos é adquirido estudando-se o modo como a luz inter-
age com a matéria, em particular medindo-se o espectro atômico. Assim, a óptica sempre teve um papel
fundamental no desenvolvimento da física atômica. A precisão extrema com que as linhas do espectro
óptico podem ser medidas faz com que a física atômica seja um dos ramos onde se consegue maior
precisão nas medidas. Por exemplo, como veremos em mais e mais detalhes ao longo do curso, as fre-
qüências das linhas espectrais do átomo de hidrogênio foram medidas com uma precisão extremamente
elevada, permitindo testar fenômenos pequenos porém importantes, que não são usualmente observados.
A base da espectroscopia atômica é a medida da energia do fóton absorvido ou emitido quando
um elétron “pula” de um nível quântico para outro, como mostrado na Fig. 1. Tais pulos constituem as
chamadas transições radiativas. A frequencia ν do fóton (e, portanto, seu comprimento de onda, λ) é
determinado pela diferença de energia dos dois níveis envolvidos na transição, de acordo com a fórmula
familiar:
hc
hν = = E2 − E1 , (1)
λ
onde E1 e E2 representam as energias dos estados inferior e superior do átomo, respectivamente.
Espectroscopistas medem o comprimento de onda do fóton e, assim, podem deduzir as diferenças
de energia. As energias absolutas são determinadas fixando-se o valor para um dos níveis (normalmente
o estado fundamental) através de outros métodos, por exemplo, medindo-se um potencial de ionização.
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1.3 Unidades de energia (1 Generalidades sobre átomos)
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1.4 Escalas típicas de energia em átomos (1 Generalidades sobre átomos)
Tabela 1: Escalas aproximadas de energia para as diferentes interações que ocorrem dentro dum átomo.
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1.5 Efeitos de Campos externos (1 Generalidades sobre átomos)
ao acoplamento spin-órbita. Esta interação dá origem a deslocamentos das energias atômicas para o
vermelho (red shifts), da ordem de 2000 vezes menor que os deslocamentos devidos à estrutura fina. A
bem-conhecida linha de 21 cm da radio astronomia é causada por transições entre os níveis hiperfinos do
hidrogênio atômico. A energia fotônica neste caso é 6 × 10−6 eV, ou 0.05 cm−1 .
Tabela 2: Nomes e intensidades relativas dos efeitos devidos a campos externos aplicados em átomos.
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1.6 Modelo de Bohr (1 Generalidades sobre átomos)
O enigma da estabilidade dos elétrons orbitais foi resolvido em 1913 por Bohr, através de um
novo modelo atômico. Os elementos-chave introduzidos por ele para explicar a estabilidade atômica
observada eram os seguintes:
• O momentum angular L do elétron é quantizado em unidades de ~ (~ = h/2π):
L = n ~, (5)
onde n é um número inteiro. Aqui, h é a constante que havia sido introduzida por Planck em 1899
como uma “hipótese puramente formal” no tratamento da radiação do corpo negro.
• As órbitas atômicas são estáveis, e radiação (luz) é emitida ou absorvida apenas quando o elétron
“pula” duma órbita para outra.
Quando Bohr fez estas hipóteses em 1913, não havia justificativa para elas, a não ser o fato que
elas eram espetacularmente bem sucedidas ao predizer os níveis de energia do átomo de hidrogênio. Em
retrospecto, com os conhecimento da Mecânica Quântica, sabemos agora porque as hipóteses funcionam.
A primeira hipótese corresponde a afirmar que a órbita deve conter um número fixo de compri-
mentos de onda de de Broglie. Para uma órbita circular, isto pode ser escrito como:
h h
2π r = inteiro × λdeBroglie = n × =n× , (6)
p me v
que pode ser rearranjada de modo a fornecer
h
L ≡ me vr = n × . (7)
2π
A segunda hipótese é uma conseqüência do fato que a equação de Schrödinger conduz a soluções inde-
pendentes do tempo (estados próprios).
Na teoria de Bohr, a derivação dos níveis de energia quantizados é feita do seguinte modo. Con-
sidere um elétron de massa me e carga −e orbitando um núcleo de massa mN e carga +Ze. A força
central centrípeta que mantém a estabilidade do sistema numa órbita circular é a força Coulombiana:
mv 2 Ze2
F = = , (8)
r 4π0 r2
onde, como é usual para sistemas de dois corpos, a massa m que entra nesta expressão é a massa
reduzida do átomo, definida como sendo a média harmônica das duas massas:
1 1 1
= + . (9)
m me mN
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1.6 Modelo de Bohr (1 Generalidades sobre átomos)
As Eqs. (7) e (8) permitem mostrar facilmente que tanto o raio do átomo quanto a velocidade
orbital são grandezas quantizadas:
n2 me Z
rn = a0 e vn = α c, (10)
Z m n
nas quais as duas constante fundamentais que aparecem são
0 h2
o raio de Bohr : a0 ≡ , (11)
πme e2
e2
e a constante de estrutura fina : α≡ . (12)
20 hc
As expressões acima implicam ainda que a energia é quantizada. Isto pode ser visto facilmente
considerando-se a energia total que, como sempre, é dada pela soma das energias cinética e potencial:
Ze2 Ze2 2 mZ 2 e4
En = 21 mv 2 − = 12 mv 2 − mv 2 = − 12 m = − 2 2 2. (13)
4π0 r 20 hn 80 h n
Esta expressão pode ser escrita mais condensadamente na forma:
R0
En = − (14)
n2
onde R0 é a constante de Rydberg efetiva para o sistema dada por
m
R0 = Z 2 R∞ (15)
me
e R∞ é a energia de Rydberg:
me e4
R∞ = . (16)
820 h2
A energia de Rydberg é uma constante fundamental e tem um valor de 2.18 × 10−18 J, equivalente a 13.6
eV ou, ainda, a 109 737 cm−1 . Isto mostra que a energia “grossa” dos estados atômicos no hidrogênio é
da ordem de 1 − 10 eV, ou 104 − 105 cm−1 em números de onda. Note que, modernamente, não se fala
mais em “constante de Rydberg”, mas sim em “energia de Rydberg”.
Para o átomo de hidrogênio a massa reduzida vale
mp
m = me × = 0.9995 me , (17)
me + mp
onde mp é a massa do próton no núcleo, o que fornece para a constante efetiva de Rydberg do hidrogênio
o valor
RH = 0.9995 R∞ . (18)
A espectroscopia atômica é muito precisa: fatores numa faixa de 0.05% do valor acima podem ser facil-
mente medidos. Para outros sistemas de duas partículas, tais como o positrônio, (um elétron orbitando
em torno de um pósitron), o efeito da massa reduzida é bem maior, pois neste caso m = me /2. Como
sempre, se em vez de estar no vácuo o átomo estiver num meio com constante dielétrica m (como, por
exemplo, num sólido cristalino), basta trocarmos 0 por m 0 nas fórmulas acima para que elas continuem
válidas.
As constantes fundamentais que aparecem no modelo de Bohr estão relacionadas entre si do
seguinte modo
~ 1 ~2 1
a0 = e R∞ = , (19)
me c α 2me a20
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1.6 Modelo de Bohr (1 Generalidades sobre átomos)
2.18 × 10−18 J
Energia de Rydberg R∞ me e4 13.6 eV
820 h2
109 737 cm−1
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1.7 Sobre a necessidade de termos uma Mecânica Quântica (1 Generalidades sobre átomos)
onde n1 e n2 são os números quânticos dos dois estados envolvidos. Na absorção, partimos do estado
fundamental, para o qual n1 = 1. Na emissão, podemos ter qualquer combinação que envolva n1 < n2 .
Algumas das séries de linhas espectrais tem nomes especiais, homenageando as pessoas que as descobri-
ram e estudaram por primeiro. As linhas de emissão terminando em n1 = 1 são ditas pertencerem à série
de Lyman (1914), todas linhas no ultravioleta. As linhas que terminam em n1 = 2 pertencem à série
de Balmer (1885), quatro delas no visível, n1 = 3 à série de Paschen (1908), toda ela no infravermelho,
n1 = 4 à série de Brackett (1922), n1 = 5 à série de Pfund (1924). n1 = 6 à série de Humphreys (1953).
As demais não tem nome. Algumas destas séries estão representadas na Fig. 4.
Isto nos mostra que a magnitude de p é indefinida, exceto quando n for grande.
Esta discrepância entre os dois modelos, Bohr e quântico, não é surpreendente pois o modelo de
Bohr é uma mistura de idéias clássicas e quânticas e, portanto, é de se esperar que seja auto consistente a
medida que nos aproximarmos do limite clássico (i.e. para valores grandes de n). Para valores pequenos
de n, o modelo de Bohr falha quando levamos em conta a natureza quântica do elétron.
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1.8 O spin (1 Generalidades sobre átomos)
1.8 O spin
O spin do elétron e suas conseqüências serão discutidas mais adiante no Curso. Neste ponto, desejamos
apenas rever uns fatos básicos.
O spin é uma propriedade puramente quântica, que não possui equivalente clássico. O experimento
de Stern-Gerlach (1922), repreentado esquematicamente na Fig. 5, mostrou que átomos sem nenhum
momentum angular orbital possuiam um momentum angular3 , de origem então desconhecida. Por falta
de um nome melhor, este momentum angular foi chamado de “spin”. Paul Dirac conseguiu demonstrar a
existência do spin ao introduzir em 1928 a equação relativística, que hoje leva o seu nome, para descrever
a situação toda.
O fato de existirem duas componentes no experimento de Stern-Gerlach levou à conclusão de que
a componente z do spin pode assumir apenas dois valores. Portanto, atribuimos dois números quânticos
de spin ao elétron, a saber s e ms , onde s = 1/2 e ms = ±1/2. A magnitude do momentum angular de
spin é dada por p
S = s(s + 1) ~ (24)
e a componente do spin ao longo do eixo z é dada por
Sz = ms ~. (25)
O fato do elétron possuir um valor de spin semi-inteiro torna-o o que se chama de férmion. Férmions
obedecem o princípio de exclusão de Pauli. Partículas com valores inteiros de spin (por exemplo,
partículas α) não obedecem o princípio de exclusão de Pauli. Tal princípio diz que apenas um elétron
pode ocupar um estado quântico qualquer (i.e. cada estado pode no máximo conter apenas um elétron).
Este fato tem conseqüências importantes para explicar a organização descoberta empiricamente para a
Tabela Periódica dos Elementos, como veremos mais adiante.
3
pL é igual a n~ e, como n ≥ 1, L não pode ser zero. Entretanto, sabemos
No modelo de Bohr, o momentum angular orbital
da Mecânica Quântica, o valor de L é na verdade `(` + 1) ~, onde ` é o número quântico orbital. Como ` pode assumir
valores 0 ≤ ` ≤ (n − 1), alguns átomos podem de fato ter L = 0. O momento de dipolo magnético dum átomo é diretamente
proporcional ao seu momentum angular. Assim sendo, um átomo com L = 0 não deveria ser defletido ao passar através dum
campo magnético não-uniforme, e não seria possível entender o experimento se não atribuissemos um efeito novo de spin
intrínseco ao elétron.
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