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Jamie McGuire - 02 Happenstance

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Outubro Proibido todo e qualquer uso comercial.

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Sinopse
Erin Easter agora era Erin Alderman, porque Erin Alderman estava morta.

Na segunda parte desta série USA Today bestselling, acompanhamos a


protagonista Erin, uma colegial na pequena Blackwell, Oklahoma. Depois de um
terrível acidente que deixou duas colegas mortas, Erin descobre que ela foi trocada ao
nascer. Pouco depois, ela se muda para a casa de seus verdadeiros pais, Sam e
Julianne Alderman, transformando Erin do dia pra noite da desclassificada da
Blackwell High School, para a única filha de um dos casais mais ricos da cidade.

Erin também está sendo correspondida por sua paixão de infância, Weston
Gates, o sonho que ela teve um dia agora era realidade.

Mas quando Erin se depara com segredos que lhe dão as respostas que ela
está procurando, ela também descobre uma verdade que ela nunca quis saber.
Índice
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Mesmo a luz estando apagada e a porta fechada, algo estava me
atraindo para o quarto da Alder. Eu estava morando com meus pais
verdadeiros há três semanas e nunca tinha visto a porta da Alder aberta, mas
cada vez que eu passava pela madeira pintada de branco com as letras em
madeira no tom pastel que se soletravam ERIN, algo dentro de mim dizia-me
para abri-la.

Eu não vou, eu prometi.

Na minha segunda noite nos Alderman’s, Julianne sentou-se em minha


cama queen-size e folheou catálogos de edredons, papéis de parede e roupas.
Ela me pediu para marcar tudo que eu gostasse e deve ter comprado tudo,
porque caixas chegavam quase todos os dias.

A campainha tocou, e eu corri para baixo nas escadas de madeira,


tentando não fazer muito barulho, mesmo sabendo que Sam e Julianne
estavam acordados e na cozinha.

Depois de desviar das caixas, abri a porta, sorri, quando vi Weston


balançar a cabeça para o lado para afastar sua franja de seu rosto. Seu cabelo
ainda estava molhado, e seus olhos estavam um pouco inchados. Nós
tínhamos ficado acordados até tarde no telefone ontem à noite.

"Pelo cheiro parece que eles estão tentando atraí-la para a cozinha
novamente." Weston disse, inclinando-se para me dar um selinho.

"Bom dia." Eu disse quando ele se afastou.


Os olhos dele foram para o chão, percorrendo as caixas de tamanhos
diferentes. "Mais coisas?"

"Mais coisas." Eu disse, olhando admirada para as caixas


empoeiradas.

“Weston!” Julianne chamou. "Tem um prato com um montão de bacon


aqui!"

Ele passou por mim, pegando minha mão no caminho. Nós andamos
pelo corredor levemente colorido e viramos para a direita, sob uma porta com
um arco. Julianne gostava de cores claras e muita luz natural, o que fazia
sentido, porque ela incorporava a luz do sol. Toda a casa era decorada,
principalmente na cor branca ou em tons de branco, azul claro e finas cortinas.

No fogão tinha uma panela cheia de molho de pimenta branca. E como


prometido, ao lado da ilha de granito, um prato cheio de bacon crocante.

"Está com fome?" Julianne perguntou, alegremente. Ela estava


vestindo um avental xadrez azul e amarelo sobre seu suéter angorá rosa e
calça jeans. Seus cabelos castanho-avermelhados saltaram e brilharam como
sempre faziam.

Weston olhou para mim com seus grandes olhos verde esmeralda,
porque ela não estava falando com ele.

"Sinto muito." Eu me encolhi. Odiava desapontá-la, mas eu nunca tinha


tomado café da manhã pelo que me lembrava, e parecia estranho comer de
manhã. Gina não cozinhava para mim desde que eu tive idade o suficiente para
fazer um sanduíche, dormir e ir a pé para a escola era uma prioridade ao invés
de preparar ovos, mesmo que Gina algum dia tivesse se incomodado em
colocar alimentos para o café da manhã nos armários ou geladeira, o que ela
não tinha.
Julianne deu de ombros, tentando suavizar. "Apenas pegue algumas
fatias para levar, querida."

"Você fez... Biscoitos e molho de carne?" Weston perguntou,


levantando seu queixo sentindo o cheiro saboroso.

"E salsicha." Julianne disse, com seus olhos brilhando novamente.

Weston olhou para mim e depois para o relógio dele. "Temos tempo."

Deixei minha mochila verde novinha em folha cair suavemente no


chão, peguei um banquinho no bar que estava na ilha. "Sim, nós temos."

Julianne se virou, pegou dois biscoitos da assadeira de alumínio,


depois os cortou ao meio. Com uma concha pequena, os mergulhou no molho.

Weston engoliu, já salivando.

"Sua mãe não faz café da manhã?" Eu perguntei.

"Às vezes." Weston disse. "Mas ela não cozinha tão bem como
Julianne. Não sei se alguém o faz."

"Aw", disse Julianne. "Elogios levarão você a todos os lugares nesta


casa."

Eu me contorci no meu lugar. Ocorreu-me que não era a primeira vez


que Weston tinha se sentado na cozinha com Julianne e comido da sua comida
com sua filha. Mas era uma filha diferente.

"Ele tem razão, querida." Sam disse. "Você é uma cozinheira


fantástica, e eu sou um homem de sorte." Ele pegou alguns bacons e beijou
Julianne na bochecha. "Se tudo correr bem, vou estar em casa por volta das
oito da noite. Eu tenho um caso até tarde."
Julianne assentiu com a cabeça e se inclinou, oferecendo sua
bochecha para seus lábios.

Sam andou até mim, inclinou-se e beijou meu cabelo. "Tenha um bom
dia, mocinha." Ele fez uma pausa. "Você trabalha hoje à noite?"

Balancei a cabeça. "Eu costumo trabalhar todos os dias, das quatro as


oito."

"É demais." Julianne disse triste.

Sam acenou com a cabeça para Weston. "Você vai buscá-la?"

Weston assentiu.

"Posso te pegar no trabalho amanhã?" Sam ergueu seus óculos, me


olhando ansiosamente com os olhos naturalmente inchados.

Eu olhei de relance para Weston e então assenti.

Sam encolheu os ombros. "Eu gostaria de levá-la para tomar sorvete."

Todos na cozinha olharam para ele.

"Estou brincando." Ele disse rindo. "Eu pensei que talvez pudéssemos
jantar mais tarde?"

Ele olhou para sua esposa para ter a aprovação.

"Claro." Eu disse um pouco surpresa.

Ele apertou meu ombro e depois pegou seu casaco, correndo pelo
corredor em direção á porta dos fundos que levava para a garagem.

"Sam?" Julianne o chamou. "Sua bolsa!" Ela piscou para mim.


Sam correu e pegou uma mala de couro marrom. "Não é uma bolsa!"
Ele disse, exasperado. Ele desapareceu de novo. Segundos depois a porta dos
fundos bateu atrás dele.

Um zumbido baixo soou, sinalizando a porta da garagem.

Julianne afastou sua franja de seus olhos. "Eu tenho que cortar o
cabelo. Isso está me enlouquecendo."

Ela olhou para mim com entusiasmo em seus olhos. "Você quer ir?"

Olhei para o meu cabelo, a cor é praticamente idêntica aos cabelos


castanho-avermelhados da Julianne, menos suas luzes. Eu o tinha trançado
porque ainda estava um pouco úmido do meu banho na noite anterior. Na
maioria das vezes eu o prendia em um coque ou rabo de cavalo para não
atrapalhar. Gina o cortou algumas vezes quando eu estava na escola primária.
A única vez que tentei cortá-lo sozinha estava no 9º ano, e foi uma falha épica,
então só tinha deixado crescer. Agora, as pontas se penduravam bem no meio
das minhas costas.

Weston olhou para mim.

"Uh, claro." Eu disse.

"Quão curto?" Weston perguntou com uma careta.

"Tão curto quanto ela quiser," Julianne disse, meio brincando.

"Só estou perguntando." Disse Weston, levantando suas mãos.

"Vou ligar e marcar uma hora. Qual é o melhor horário?"

Dei de ombros. "Sábado de manhã?"

"Vou marcar nesse período," ela disse, enxaguando uma frigideira.


Weston colocou o último pedaço de biscoito na boca. "Obrigado,
Julianne. Mas é melhor irmos também."

"É claro. Eu vou desempacotar as suas coisas, Erin. Você pode colocá-
las onde quiser esta noite."

"Está bem. Obrigada." Eu disse, deslizando meus braços pelas alças


da minha mochila. "Até mais tarde."

"Eu... Tenha um bom dia, sweetie."

"Você também." Eu disse, seguindo Weston até a porta da frente.

Sua enorme caminhonete Chevy vermelha estava estacionada na


calçada em frente de casa, com o motor ligado. A pintura parecia recém-
encerada, e os pneus brilhando.

"Passou algum tempo na caminhonete ontem?"

"Estou entediado desde que se mudou para cá. Compartilhar você é


mais difícil do que parece."

"E o que você fazia antes de mim?" Eu perguntei.

Eu estava o provocando, mas Weston fez uma cara estranha. Ele


passava seu tempo com a Alder e os seus amigos. Ele não precisava ficar
longe para respeitar a necessidade de Sam e Julianne para conhecerem sua
filha. Agora que Alder tinha ido embora e ele não saía com os mesmos amigos,
ele provavelmente tenha ficado um pouco perdido enquanto eu estava com
Sam e Julianne.

Weston abriu a porta do passageiro para mim. "Praticamente a mesma


coisa. Desejando passar mais tempo com você."

Não tinha certeza se ele estava brincando ou não. Ele não sorriu.
Entrei, e Weston correu para o assento do motorista. Assim que sentou
atrás do volante, estendeu a mão para a minha. Quando eu a peguei, ele
puxou meus dedos.

"O quê?" Eu perguntei.

"Vem cá," ele disse, gesticulando para que eu me sentasse ao lado


dele.

Aproximei-me e prendi o cinto. Ele puxou seu cinto através de seu


1
peito. Travou, e colocou o câmbio na unidade Drive . Com o braço
descansando na parte superior do assento atrás de mim, ele dirigiu para a
escola com uma mão.

Ele provavelmente tinha dirigido bastante com uma mão enquanto


estava com a Alder.

Eu me encolhi, internamente. Esses pensamentos tinham que parar, ou


eu me faria sentir miserável.

Quando estacionamos na vaga de estudante e andamos juntos para o


lado sul do edifício, menos pessoas estavam nos olhando comparado á
semana anterior.

Ainda não me sentia confortável em dar as mãos na escola, mas às


vezes, Weston me deixava levar.

O primeiro período foi tranquilo á respeito de que ninguém ficava me


atormentando, o que havia se tornado o novo normal. Brady ainda atirava
olhares em minha direção, mas ele parecia mais curioso do que irritado.

1
Drive: Dirigir; para carros com câmbio automático.
Sra. Merit começou a aula assim que o sinal tocou e deu a maior parte
de seus slides na lousa digital quando Sara Glenn inclinou-se.

"Qual é a do colar?" Ela perguntou.

"Garotas tendem a usar joias de vez em quando." Eu disse.

Ela não foi dissuadida. "Weston deve ter dado a você. Você esta o
usando todos os dias a quase um mês."

Eu a ignorei. Não achei necessário responder.

"Chrissy North disse que você se mudou para o quarto da Alder. Ele
está assombrado?"

"Não, e não."

"Brendan disse que Weston disse que vocês já transaram na cama


dela."

Eu estreitei meus olhos para ela. "Weston não diria isso."

"Então é verdade?"

"Isso é nojento."

Sua sobrancelha se arqueou. "Sexo com Weston é nojento?"

Meu peito se pressionou contra a mesa quando me inclinei em sua


direção. "Você não se cansa de ouvir e espalhar fofocas Sara? Não é
cansativo, ou isso é realmente tudo o que você precisa para se sentir
importante?"

"Senhoritas?" Sra. Merit disse.

Eu sentei na minha cadeira e olhei para o meu livro, colocando minhas


mãos no meu colo, assim Sara não podia vê-las tremendo. Uma decepção
pesada veio até mim por ter a atacado. O que havia de errado comigo? Eu
estava acima disso. Isso também não podia mudar.

Sra. Merit leu o texto, e eu comecei a responder as vinte e duas


questões do capítulo final.

Sara não falou comigo novamente, e garanti que as minhas coisas


estivessem guardadas dez segundos antes do sinal tocar para que eu pudesse
sair depressa.

Weston me encontrou no meu armário. Ele sentiu que algo estava


errado. "Brady disse alguma coisa pra você?"

Eu balancei minha cabeça.

"Brendan? Micah? Foi Andrew, não foi? Aquele merdinha...”.

"Não. Ninguém disse nada." Eu falei, guardando o livro de bio no meu


armário e pegando meu livro para a próxima aula.

Weston pegou meu queixo delicadamente em sua mão e virou-me para


olhá-lo. "Me diga."

Fechei os olhos. "Estão dizendo coisas horríveis." Eu balancei minha


cabeça. "Horríveis."

"Como o quê?” Sua mão esquerda estava no meu queixo, e as suas


sobrancelhas juntas.

"Não quero dizer. Eu não posso... É horrível."

"Que transamos na cama da Alder?" Ele perguntou.

Eu olhei para ele. "Você já ouviu falar?"

"Na semana passada. Estou realmente surpreso, que esta seja a


primeira vez que ouviu isso."
"Me desculpe. Eu..."

Weston ficou vermelho de raiva, mas isso não era dirigido a mim. "Não
se desculpe por eles, Erin. Tenha pena deles. Isso é tão contraditório e..." Suas
palavras foram sumindo. "Quem teve essa ideia estava débil o suficiente para
falar para mais alguém e essa pessoa tem mais problemas do que fofocas.
Você não pode evitar o que pensam ou dizem."

"Eu sei. Não me importo com o que pensam de mim. Mas isso é
apenas... Não quero que chegue até Sam ou Julianne."

"Eu já contei a eles. E eles sabem que nunca iríamos desrespeitá-los


assim."

Minha boca caiu aberta. "Você disse a eles? Como pôde dizer isso a
eles?"

"É uma cidade pequena, Erin. É preferível que eles ouçam de nós, não
é?"

"Mas eles não ouviram isso de nós. Eles ouviram de você. Por que
você não me disse?"

Quanto mais agitada eu ficava, mais nervoso Weston estava. Ele


engoliu, e seu rosto caiu. "Você já sofreu bastante."

"Por favor, não me olhe desse jeito."

"De que jeito?”

"Esse olhar... Oh coitadinha. Eu tenho o bastante disso."

"Erin." Weston começou, mas o sinal tocou.

"Droga!" Eu disse. Peguei minhas coisas e bati meu armário, segui


meio andando, meio correndo para a minha próxima aula.
A segunda e a terceira aula foram um borrão. O olhar no rosto de
Julianne quando Weston dissera-lhe qual era o mais recente rumor era a única
coisa que minha mente podia pensar. Weston me encontrou no meu armário
entre as aulas, esperando que eu falasse primeiro. Quando eu não falei, ele me
deixou ir embora.

Ele estava no meu armário novamente antes do almoço, mas eu fui


direto para o refeitório e comi sozinha. Os outros alunos observavam cada
mordida minha. Eu não podia ganhar essa batalha. Eles encaravam quando
Weston e eu estávamos juntos, e quando não estávamos. A atenção foi
significativamente menos negativa do que antes do acidente, apenas
curiosidade, mas ainda era uma atenção que eu não queria.

Quando chegou a aula de saúde, o peso era demais, e as minhas


emoções estavam à flor da pele.

O Treinador Morris distribuiu um caça palavras e sentou-se colocando


seus pés em sua mesa. Tive que estudar, perfeitamente ciente que Weston
estava olhando para minha nuca. Eu pude ouvi-lo vasculhar sua mochila e
depois dar uma inalada em sua bombinha. Sua mesa rangeu algumas vezes
enquanto ele fazia várias tentativas para ficar confortável.

Seus dedos quentes tocaram minhas costas entre minhas omoplatas,


tão suavemente, que eu pensei que tivesse imaginado isso.

Ele abafou um sussurro. "Por favor, fale comigo."

Eu inclinei minha cabeça em direção a meu ombro, mas não virei. "Não
sei o que dizer."

"Diz que sou um idiota por falar com seus pais sem falar com você
primeiro, e depois diz que não me odeia."
"Eu não te odeio."

Os dedos dele deixaram minha camisa, e eu o ouvi respirar baixinho.

Espiei através da minha sobrancelha e vi o treinador Morris tentando


não olhar. Após uma rápida análise periférica, era evidente que o treinador não
era o único que tinha notado essa conversa silenciosa entre mim e Weston.

Senti um peso em meu peito. Passaram-se semanas desde que eu


tinha lutado contra a vontade de chorar, mas as paredes levantaram-se como
velhas amigas. E eu levei meus pensamentos para quantas bolas de sorvete
de coco devo colocar em um Blizzard Havaiano, e quantas caixas de copos,
colheres ou guardanapos temos no estoque, depois que o caminhão de
suprimentos veio. Imaginei-me dobrando panos desgastados e brancos e
contando-os como eu já havia feito. Estar dentro do Dairy Queen sempre foi
reconfortante pra mim. Não só o trabalho mantinha minha mente ocupada, mas
como também era onde passava um tempo com a minha melhor amiga,
Frankie. E não importava com quantas pessoas me deparava frente a frente, à
janela sempre estava entre nós.

O sinal tocou, mas me perdi dentro das paredes do DQ. Weston


levantou e parou na minha mesa, mas quando eu não olhei pra cima, ele
continuou andando. Logo eu percebi que eu era a única pessoa na sala, ou foi
o que pensei.

“Hey,” disse uma voz.

Olhei para cima. Era Brady Beck. "Você está realmente morando com
os Alderman’s agora?"

Recolhi minhas coisas e levantei, mas Brady ficou no meu caminho.


"Aposto que se preocupam o tempo todo se você está os roubando. Você pode
ser de sangue, mas foi criada por uma drogada."
Eu apenas olhei para ele, recusando-me a responder.

Ele me olhou de cima em baixo, seus olhos ainda presunçosos de


superioridade. "Weston já admitiu porque de repente ele está tão interessado
em você?"

Permaneci em silêncio.

"Talvez você devesse perguntar a ele." E ele foi embora.

As marmorizações brancas falsa no ladrilho vermelho do corredor


pareciam pequenas cobras albinas deslizando em diferentes direções,
principalmente junto das grandes janelas de vidro que ladeavam a parede sul
das áreas comuns. As cadeiras que contornavam as meia dúzias de mesas
que normalmente ficam cheias para o almoço estavam vazias, eu contornei a
esfera de vidro no centro da escola que era a biblioteca, e decidi abrir mão do
meu armário e ir direto para o espanhol, minha próxima aula.

Srta. Alcorn cumprimentou-me, quando entrei. Eu era a primeira aluna


na sala, e provavelmente a única sem meu livro.

"Eu esqueci em casa." Eu lhe disse, evitando responder mais tarde, na


frente de todos.

"Não se esqueça de trazê-lo amanhã. Você definitivamente precisará


dele."

Eu assenti e então tentei esfregar meu pescoço retirando os nós. Nem


dez minutos na sala, Micah Norton arrancou um pequeno pedaço de papel de
caderno e jogou na minha mesa vazia.

"Weston já te deu o fora? Ele está grudado em sua cintura, e não vi


vocês juntos o dia todo."

Eu não me virei.
“Easter,” ele sussurrou.

Foi a primeira vez que alguém tinha me chamado assim desde que a
notícia se espalhou que eu não era filha de Gina. Parecia depreciativo. Sempre
pareceu.

Eu ainda não tinha virado. Micah não tinha os amigos lá para encorajá-
lo a me intimidar, então se eu o ignorasse, geralmente ele desistiria. Havia três
tipos de valentões: aqueles como Sara que estava mais para passivo-agressivo
do que qualquer outra coisa, e geralmente só faziam quando estavam tendo
um dia ruim. Outros, como Micah ou Andrew, que só me magoavam quando
havia outras pessoas participando, e então os valentões como Brady e
Brendan, que não se importava em quem estava por perto. Quando eles
decidiam atacar alguém, o tormento não parava até que eles de alguma forma
haviam destruído sua presa.

Eu tinha lido vários livros e artigos sobre bullying, e como as meninas


geralmente atacavam umas as outras, mas na minha escola, os garotos eram
os piores. Eles apreciavam o poder que vinha com a intimidação. Muitas vezes
o nível e a extensão de crueldade dependiam de quantos se juntariam ao
ataque. Ninguém estava a salvo. Era aleatório e sempre súbito e cruel. A
melhor proteção era a amizade com os valentões e participar. O ciclo era
vicioso e previsível, o único remédio era a formatura, e eu sabia que eu era
apenas uma de muitos desesperados para o último dia de aula.

Minha indiferença, junto com a política de tolerância zero da Srta


Alcorn sobre intimidação, provavelmente, foram os dois fatores que fez Micah
desistir rapidamente. Um alívio familiar veio, mas também era inquietante. Me
senti fora de forma, mesmo que depois de apenas algumas semanas de não
me sentir tão protegida. Felizmente, Micah me deixou em paz pelo resto da
aula.
Quando eu vi Weston na aula de arte, ele estava uma pilha de nervos.
Ele se sentou no seu banquinho que tinha colocado na minha mesa, seu joelho
estava balançando pra cima e pra baixo de ansiedade.

"Por que você está me evitando?" Ele deixou escapar.

"Eu não estou." Eu disse, mantendo minha voz baixa, esperando que
ele fizesse o mesmo.

Sra. Cup invadiu a sala, rapidamente para nos ameaçar se fossemos a


qualquer lugar diferente do que direto para a velha pizzaria que fica ao lado do
mural do qual tínhamos trabalhado.

"Quem não tem uma carona?" Sra. Cup perguntou.

Weston me olhou com preocupação.

Apenas dois alunos levantaram a mão.

"Vocês podem ir comigo, ou podem pegar uma carona com outra


pessoa. Preciso saber agora." Sra. Cup disse, esperando os dois estudantes se
decidirem.

Weston não tirava seus olhos dos meus. "Posso levá-la?"

Indo para o estacionamento, Weston ofereceu sua mão, testando as


águas2. As únicas pessoas do lado de fora eram os outros estudantes de arte e
Sra. Cup, então foi menos constrangedor do que antes ou depois da escola,
Mas eu podia sentir a tensão irradiando dos seus dedos no momento em que
nos tocamos.

Assim que a porta bateu, ele respirou. "Me desculpe, Erin. Eu pensei
que tivesse fazendo a coisa certa. Eu estava tentando protegê-la. Agora

2
Testando as águas: Gíria americana, testando o clima entre duas ou mais pessoas.
percebo que foi estúpido falar com eles sem falar com você primeiro." Ele
esperou que eu respondesse, claramente se preparando para um argumento.

"Eu vou superar." Eu não estava com raiva. Eu não sabia o que eu
estava sentindo, mas foi estranho ter alguém tão... arrependido por mim.

Uma linha se formou entre suas sobrancelhas, ele virou o rosto pra
frente, golpeando o câmbio para colocar em marcha ré. Ele estava infeliz com a
minha resposta e quieto, perdido em seus pensamentos enquanto dirigia para o
terreno baldio da antiga pizzaria. Todo mundo já estava em pé em frente á
parede de tijolos, pegando os materiais e preparados, quando ele parou no
estacionamento.

"Isso é novo para mim também, Erin" Weston disse. "Eu não me
importava se a Alder me desse o fora. Não me preocupava todas as noites
para qual faculdade ela iria, talvez eu nunca mais a veria novamente. Todas
essas coisas bizarras, horríveis e incríveis estão acontecendo com você, e
seria totalmente compreensível se você dissesse que não teria tempo para
fazer isto dar certo comigo... e eu sou louco por você, Erin. Você tem alguma
ideia do quanto isso me assusta?"

"Você quer falar sobre estar assustada? Você já sabia que a minha
mãe é uma boa cozinheira, porque você já namorou a filha dela.
Provavelmente já fizeram sexo no quarto onde eu durmo. Você conhece a
minha casa e meus pais melhor do que eu. Eu estou vivendo a vida de outra
pessoa, Weston. Então me conte mais sobre como você tem medo de levar um
fora."

Eu ofeguei e cobri a minha boca. Ele expirou como se eu tivesse dado


um soco no seu estômago.
"Oh meu Deus, sinto muito por dizer isso." Minhas mãos abafaram
minhas palavras estridentes.

Ele balançou a cabeça, esfregando o dedo indicador no lábio inferior.


"Não há regras para isso. Eu posso ter merecido isso. Nem sei."

"Ninguém merece isso. Seus sentimentos são tão importantes quanto


os meus. Ambos já passamos por muita coisa. Me desculpe," Eu disse,
alcançando ele.

Ele desligou a caminhonete e virou-se para puxar a maçaneta da porta.


Um surto de medo passou por mim.

A porta se abriu apenas alguns centímetros, e então ele fez uma


pausa. Ele se virou e me envolveu em seus braços. As lágrimas que tinha
guardado o dia todo finalmente escorreram pelo meu rosto.

Sra. Cup bateu na janela do lado do motorista, e nós dois viramos para
ver o topo de sua cabeça. Weston abriu a sua porta.

"Vamos lá, vocês dois. Vocês tem trabalho a fazer."

Limpei meus olhos com as mangas, acenando.

Quando descemos da caminhonete com nossas tintas e pincéis e


caminhamos até a parede, vários pares de olhos nos encaravam.

Se tivesse sido qualquer outra pessoa, a detenção ou pelo menos uma


repreensão severa teria sido aplicada. Havia algo sobre ser uma Alderman, ou
um Gates, ou uma Masterson ou um Beck. As regras não parecem ser
aplicadas às pessoas com esses sobrenomes. Não em Blackwell.
Frankie praticamente massageava o sorvete servido no copo azul e
vermelho em suas mãos. Mesmo ela o enchendo com a quantidade certa de
sorvete e depois jogando a quantidade exata de calda de morango e banana,
ela estava distraidamente conversando sobre seus filhos e seu fim de semana.

“Eu acordei, não só com chiclete no meu cabelo, mas também duas
melecas e um palito de picolé. Quer dizer, só eu, né?”

Minha sobrancelha arqueou, e ela deu de ombros, mergulhando uma


casquinha na calda de chocolate. Ela olhou para isso por um momento, até ter
certeza de que o chocolate estava seco, e depois colocou o sorvete dentro da
casquinha sem sequer uma mancha branca no chocolate.

“Você nunca me dirá o seu segredo de como fazer o sorvete de


casquinha?” Perguntei.

“Qual o sentido? Você estará me deixando em breve.”

Franzi o cenho. “Eu ainda tenho quatro meses, valeu.”

Frankie segurou a casquinha para fora da janela do Drive thru e, em


seguida, fechou o vidro. “Você não precisa mais do dinheiro, Erin. Vai ser uma
criança. Aproveite o resto do seu último ano.”

Eu fiz uma careta. “Eu não trabalhei todo esse tempo para ter que pedir
dinheiro a alguém.”

“Eles são seus pais, Erin. Isso é o que as crianças fazem. E está tudo
certo. Você merece.”
“Eu sei o que você está tentando dizer. Ainda assim não quero depender
de alguém para dinheiro. Nem mesmo Sam e Julianne. Além disso, eu posso
ou não sentir sua falta.”

“Ah,” ela disse, virando a placa de aberto “eu te odeio.”.

“Também te odeio.”

O som da Chevy do Weston rugiu por trás da loja, enquanto


reabastecíamos e limpávamos.

“Eu meio que sinto falta de você recusar minhas caronas,” Frankie disse.

“Eu meio que sinto falta de você mal perguntar por que sabe que eu vou
dizer não.”

“Por que você deixa ele e nunca me deixou?” ela perguntou, limpando a
maquina de sorvete.

“Ele me deixa dirigir,” disse com um sorriso.

Ela estendeu as mãos e as deixou caírem nas suas coxas. “Você


poderia ter dirigido o meu Taurus porcaria! Tudo o que tinha que fazer era
pedir!”

Eu ri quando a segui para fora do depósito. “Noite, Frankie.”

“Boa noite, Erin. Oi Weston!” Ela disse, com um aceno.

Weston acenou de volta para Frankie, e, em seguida, olhou para baixo


para mim, o cotovelo apoiado na tinta vermelha de sua porta. “O quê?”

Seu boné de beisebol marrom e branco estava virado para trás, partes
de seu cabelo castanho saindo dele. Ele já tinha tomado banho, e eu imaginei
que seu desodorante old spice – que agora era meu cheiro favorito – iria
provavelmente chegar ao meu nariz no segundo que eu subisse em meu
banco.

Suas bochechas estavam coradas, e seu nariz, ligeiramente pontudo,


ainda estava um pouco brilhante de ser recém-lavado. As duas piscinas de
esmeraldas, que ficavam debaixo daqueles longos cílios escuros, emolduravam
contra sua pele bronzeada.

Eu costumava roubar olhares dele tanto quanto possível, e agora podia


olhá-lo durante o tempo que eu quisesse. Ele já disse algumas vezes, que me
amava, e não era uma epifania recente. Weston Gates havia me amado desde
que éramos crianças, e durante todo esse tempo eu provavelmente também o
amei. Eu só não reconhecia isso pelo que era, porque não podia. Não havia
esperança naquela altura. Mas lá estava ele, sentado acima de mim em sua
grande caminhonete, os escapamentos anunciavam ao mundo que ele estava
no Dairy Queen para me buscar no trabalho, isso estava se tornando uma
coisa normal. Para nós e para todos em nossa pequena cidade.

“Você não vai pedir desculpas de novo por hoje cedo, não é?” ele
perguntou, claramente não querendo rediscutir.

“Não, estava meio esperando que pudéssemos parar no viaduto antes


de você me levar para casa.”

Ele sorriu. “Oh sim?” Antes que eu pudesse responder, ele desapareceu,
inclinando-se para puxar a maçaneta da porta do lado do passageiro e
empurrando a aberto. Seu rosto estalou de volta à vista. “Salte para dentro,
babe. Eu tenho uma Fanta laranja no cooler na parte de trás com seu nome
nela.”

Dei a volta e entrei. “Você é tão romântico.”


Ele me puxou para mais perto e colocou a mão na minha coxa. “De
nada,” ele disse com um sorriso provocante.

Após um beijinho rápido na minha bochecha, ele pressionou o


acelerador e pegou a Main Street, virando rapidamente para a esquerda para ir
ao viaduto. Nosso viaduto, como ele o chamava.

A caminhonete não estava estacionada nem há dez minutos, mas já


estávamos pele com pele na parte de trás da sua caminhonete. Senti hesitação
enquanto ele me beijava, e puxei para trás para olhá-lo nos olhos.

“O que há com você?” Perguntei.

“Nada.”

“Mentiroso.”

“Uh... isso é embaraçoso,” ele disse com uma risada nervosa.

“O que é embaraçoso?”

“E realmente inadequado. Eu deveria ter dito algo antes.”

“Oh Deus. O que?” Pensei nos piores cenários possíveis, de modo que
não importa o que ele dissesse, não poderia ser tão ruim quanto eu imaginava.

“Então, depois do treino de hoje, eu recebi um mensagem da Julianne.”

“Tá?”

“Sam tinha algum tempo antes do seu caso até tarde, e eles me
convidaram para conversar. Eles” - ele se encolheu – “falaram comigo.”.

“O que falaram?”

“Sobre nós. Sobre isso. Sobre proteção e-”.


“Oh Deus! Oh não!” Eu disse, rolando de debaixo dele. Sentei-me e
coloquei minha camisa sobre minha cabeça. “Por favor, não. Não me diga.”

Ele estava achando graça, nem um pouco preocupado que os meus pais
tinham falado com ele sobre nossa vida sexual. “Eles só queriam ter certeza de
que eu não estava me aproveitando da sua situação, e que estávamos, você
sabe, sendo cuidadosos. Eles sabem que você quer ir para a faculdade, e eles
não me queriam estragando isso.”

Cobri meu rosto com minhas duas mãos.

“Você quer saber o que Sam me disse?”

Balancei minha cabeça. “Na verdade não, não.”

“Ele disse” - Weston baixou a voz para imitar a voz de Sam – “se você
não vai se casar com ela, então mantenha suas mãos longe do futuro de outro
homem.”.

“Oh. Wow. Pare.”

“Então eu disse ‘Ótimo. Tenho a sua bênção para pedir a ela?”

“Isso não é engraçado.”

Weston explodiu numa risada. “Ele disse: ‘Não!’” Ele balançou a cabeça
e levantou os braços, imitando um Sam muito perturbado. “Eu estava apenas
brincando com ele.”

Eu semicerrei um olho. “Por favor, me diga que você não admitiu nada.”

“Eu fiz. Confirmei.”

Baixei a cabeça. “Que nós estávamos fazendo sexo? Ou que estamos


usando proteção? Suponho que ambos?”

“Correto.”
Eu me levantei e me vesti. Weston não parecia feliz com isso, mas ele
não discutiu.

“Você está com pressa para chegar em casa agora?”

“Bem, sim, já que agora eles sabem o que temos feito. Cada minuto a
mais que fico fora, depois do trabalho, eles tem mais certeza de que estamos
fora... Isso é ruim. Tão constrangedor.”
3
“Nós não estamos no ensino fundamental mais. Somos adultos
conscientes.”

“Que ainda moram com os pais.” Eu grunhi. “Como é que eu vou olhar
nos olhos deles quando eu voltar?”

“Eles não são ingênuos. Eles já sabiam.”

“Mas eu não sabia que eles sabiam.”

“Você esta me confundindo.”

“Eu não quero que eles pensem que eu sou uma má pessoa.”

“Você não é. E eles não pensam,” ele se esquivou, olhando para longe.
Ele estava escondendo alguma coisa.

“Você tá estranho. O que você não tá me dizendo?” Perguntei.

Ele deu de ombros, claramente desconfortável com o que estava prestes


a dizer. “Eles sabiam sobre Alder e eu. Não estavam muito contentes, mas não
surtaram.”

“Desculpe ter perguntado.”

“Eu também,” ele resmungou.

3
middle school – 6º ao 8º ano.
Nós levamos as nossas Fantas para a cabine da caminhonete e
voltamos para casa em um silêncio desconfortável. Quando paramos o carro,
eu espreitei a casa, como se houvesse um monstro esperando lá dentro.

“Eles não vão gritar com você.”

“Eu não estou acostumada a toda essa pressão, de me preocupar com o


que meus pais pensam de mim, ou decepcionar alguém. É estressante.”

“Bem-vinda à minha vida... e praticamente de todos os outros,” ele disse


com uma cotovelada e uma piscadela.

Desci para o concreto, e Weston me entregou minha mochila. “Por que


você colocou seu avental de volta?”

“Eu não sei. Não voltar para casa com ele parece à mesma coisa que ter
a minha camisa de trás para frente.”

“Bem pensado. Vou para casa e tomar um banho frio.”

“Se Julianne e Sam estiverem esperando na mesa da cozinha quando


eu entrar para falar sobre menstruação ou algo assim, eu vou culpar você.”

Weston jogou a cabeça para trás e riu. “Faz parte de recuperar o tempo
perdido, você consegue.”

Minha boca puxou para o lado. “Costumava me deixar pasma como


ingrata Alder era por tê-los. Agora me ouça. Tenho sorte que não estão
sentados lá com uma caixa de cerveja, me xingando para levar cigarros para
eles.”

“Não tem jeito certo de fazer isso, Erin. Pare de colocar tanta pressão
sobre si mesma.”
Eu assenti e deslizei a alça de nylon por cima do meu ombro, sorrindo
quando o Chevy não se afastou do meio-fio até que eu tinha um pé na porta da
frente. Eu comecei a subir as escadas, mas notei a luz da cozinha acesa.

“Erin?” Julianne chamou, sua voz tremula.

Eu deixei minha mochila no pé da escada e caminhei pelo corredor,


encostando-me ao batente da porta. Julianne estava sentada na ilha da
cozinha no primeiro banco, seu cabelo puxado para trás em um rabo de cavalo
pequeno na nuca de seu pescoço. Ela estava usando uma das camisas do
Sam e uma calça de ioga azul escura. Ela segurava uma caneca de café, mas
o liquido dentro era marrom leitoso, com uma pilha de marshmallows flutuando
no topo.

“Como foi a escola e o trabalho?” ela perguntou.

Puxei a alça do avental sobre a minha cabeça e puxei o nó na parte


inferior das minhas costas, desamarrando-o com uma mão. Eu o enrolei e dei
de ombros.

“Foram bons, na verdade. Como foi o seu dia?”

“Bom. Um pouco tedioso. Eu limpei a casa, e quero dizer que coloquei a


louça do café na máquina de lavar e levei o lixo pra fora, porque Sam é meio
que um fanático por limpeza, como você deve ter percebido. E então eu assisti
Days of our lives4. Aquele EJ é um belo, gênio do mal. Eu gostaria que ele e
Sami resolvessem suas idiotices.”

Eu não tinha certeza quem EJ e Sami eram, mas ela parecia irritada com
a falta de união deles.

4
Days of our Lives é uma telenovela (soap opera) exibida originalmente pela NBC desde a sua
estreia em 1965.
“Eu posso ajudar com os pratos e o lixo. Se você apenas me mostrar
que botões apertar na máquina de lavar louça. Eu nunca usei uma antes, mas
não pode ser tão difícil.”

Julianne me dispensou com a mão. “Por Favor. Eu mal tenho o


suficiente para me manter ocupada.”

“Você já pensou em voltar a trabalhar?”

Ela olhou para a geladeira, mas não estava realmente olhando para ela.
“Na clinica? Eu não sei. Fui uma mãe dona de casa tanto tempo... Alder
sempre parecia ter um monte de coisas para eu fazer. Agora eu realmente não
tenho muito...” Seus olhos se focaram. “Oh, Erin. Eu não quis dizer nada com
isso. Eu nunca iria comparar você com ela. Vou parar agora de falar.” Ela
cobriu os olhos com dedos longos e elegantes. Suas unhas eram perfeitamente
lixadas e pintadas com um lilás claro.

Caminhei até lá e sentei-me no banco ao lado dela. “Você pode falar


sobre Alder. Você a criou. Você a amava. Não fere meus sentimentos nem
nada.”

Julianne juntou as mãos e inclinou sua bochecha em seu pulso, olhando


para mim enquanto balançava a cabeça. “Eu sei que você disse que criou a si
mesma, Erin. Posso dizer que você fez um trabalho fantástico?”

Eu sorri.

Ela deslizou algo para mim, e eu olhei para baixo. Era um smartphone.

“Sam carregou ele, esta pronto pra ser usado, mas o carregador está
ligado à tomada atrás da mesa de cabeceira em seu quarto. O número está no
adesivo na parte de trás.”
Virei-o para ler os sete dígitos escritos em um rabisco do Sam em uma
tira de Post-it.

“É meu?”

“Nós nos sentiríamos melhor se você o carregasse.”

“Quanto custa? Refiro-me ao celular e a fatura mensal.”

“Nós apenas colocamos no plano da família. Nós vamos cuidar disso.”

“Obrigada, mas eu -”

Julianne colocou a mão sobre a minha, e seus olhos se tornaram


suaves. “É apenas um celular, Erin. Nós queríamos.”

“Tá- tá bem. Obrigada.”

“Quer um pouco de chocolate quente?”

“Eu vou tomar um banho e ir para a cama, se você não se importa.”

“Oh, claro,” ela disse, querendo demonstrar não estar ofendida.

O banquinho raspou através do azulejo quando eu fui ficar de pé. Só


quando cheguei à porta. Julianne falou novamente.

“Nós, oh... nós conversamos com Weston hoje sobre algo. Eu não tenho
certeza se ele disse a você ou não, mas decidimos tarde demais que isso foi
um pouco pessoal demais e que nós fomos indiscretos.”

Eu mantive as minhas costas para ela e fechei os olhos.

“Sinto muito se ultrapassamos nossos limites. Podemos estar


exagerando um pouco, tentando recuperar o tempo perdido. Sam e eu
conversamos sobre isso mais cedo. Vamos trabalhar muito duro para não
invadir a sua privacidade. Deve ser particularmente difícil quando você não
teve... supervisão antes.”
Eu me virei. “É constrangedor,” eu admiti. “Eu não estou acostumada a
isso. Estou sentindo um pouco de pressão, mas eu não sei. É meio amável que
você se importou o suficiente para incomodar ele sobre isso.”

Três rugas formaram na testa de Julianne quando ambas as


sobrancelhas levantaram. “Oh, tudo bem. Bem... boa noite, querida.”

“Boa noite.”

“Erin?”

“Sim?” Eu disse, metendo minha cabeça de volta na entrada da porta.

“Faria você se sentir desconfortável se eu dissesse que eu te amo?


Você não tem que dizer isso de volta.”

“Eu não acho que isso me faria desconfortável.”

Ela sorriu. “Eu amo você.”

Foi tão surreal que eu não me importei de devolver o sentimento. “Eu


também amo você, Julianne.”

Caminhei pelo corredor e pude ouvi-la fungar enquanto eu subia as


escadas.

As letras em tons pastel na porta da Alder tinham ido embora, parei em


frente a sua porta. Todo o segundo andar estava escuro, mas havia luz
suficiente do andar de baixo para ver o que estava faltando.

Eu me perguntei se elas estavam em uma caixa em meio a um monte de


outras caixas no quarto da Alder, ou se Sam e Julianne tinham deixado tudo do
jeito que era. Eu coloquei minha mão na maçaneta, mas pensei melhor e
arrastei a minha mochila pelo corredor até o meu quarto.
Pilhas de roupas novas haviam sido lavadas, dobradas e colocadas em
cima da cama perfeitamente feita que agora estava coberta com a capa para
edredom que eu tinha escolhido. Era branca, com listras horizontais verde-
claras através dela. Pela reação sutil de Julianne, eu poderia dizer que não era
o mais chique que ela tinha visto, mas eu já tinha passado por três catálogos, e
foi o primeiro que eu gostei depois que comecei a cansar de olhar. E era verde.
Verde era minha cor de coisa nova, para combinar com meu novo namorado,
minha nova casa, meus novos pais, e minha nova vida.

Eu guardei as roupas que Julianne não tinha pendurado no guarda


roupa na cômoda e tomei um banho. O vapor encheu todo o banheiro e eu
demorei tanto tempo que os meus dedos começaram a enrugar.

Depois de levar meu tempo com minha rotina noturna, eu me arrastei


para a cama e tomei uma respiração profunda. A casa era tão quieta à noite.
Nenhum som zumbindo através das paredes. Sem televisão alta. Apenas o
leve zumbido do ventilador de teto e o baixo zumbido, não contínuo, do ar
condicionado central soprando através dos dutos.

Assim que eu comecei a cair no sono, ouvi a voz profunda de Sam


murmurando com Julianne em seu quarto no andar de baixo. Em poucos
minutos, ouvi passos tranquilos subir as escadas, e então minha porta se abriu.
Ergui a cabeça para ver os dois olhando para mim.

“Desculpe,” Sam sussurrou. “Apenas checando você. Hábito.”

“Tudo bem,” Eu disse, colocando minha cabeça no travesseiro enquanto


a porta rangeu fechando. Fiquei ali, pensando em quantas noites eles espiaram
pela porta que não tinha mais as letras em tons pastel penduradas e como que
deve ser estranho para eles abrir esta para checar uma garota diferente.
Uma sensação peculiar tomou conta de mim, um sentimento forte de
que eu não pertencia àquela casa. Pela primeira vez desde que deixei a casa
da Gina, eu senti falta daquele feio, felpudo e emaranhado tapete e o
assimétrico ventilador do meu quarto. As paredes deste quarto não eram
riscadas ou descascadas, e o tapete era muito limpo. As instalações no
banheiro não estavam pingando ou cobertos de algum tipo de porcaria e as
gavetas não choramingavam quando eu as abria. Cheirava amaciante Downy5
e limpeza, um cheiro sofisticado e único para Sam e Julianne. A cama era
muito confortável. Os lençóis muito macios.

Eu não pertencia a Gina e não me encaixava na vida de Alder. Não tive


tempo suficiente para tentar. O chocolate quente, de repente soou fantástico,
mas eu não queria acordar as outras duas pessoas que moravam na casa. Um
pensamento fugaz passou pela minha cabeça, eu meio que desejava que eles
bebessem demais ou ficassem chapados para que eu pudesse andar por aí no
meio da noite, se eu quisesse, mas depois me senti tão culpada por isso, que
eu mal podia suportar estar na minha própria pele.

5
Marca de amaciante.
"Que isso?" Weston perguntou enquanto caminhávamos na direção da
Chevy.

Me virei para vê-lo apontando minha bunda. Como um cachorro


correndo atrás do rabo, eu fiz um 360º no jardim, tentando ver o que ele estava
apontando.

Ele riu e me parou, puxando o smartphone do meu bolso de trás.

"Isso."

"Oh. Julianne me deu ontem à noite.”

"É um celular."

"Eu sei."

"Funciona?"

"Acho que sim. Eu não liguei.”

Ele devolveu-me com um sorrisinho no rosto. "Você não ligou? Por que
não?"

Dei de ombros e segui para a caminhonete. "Não tive tempo para ler as
instruções. Não sei como ligar."

Após Weston e eu sentarmos em nossos assentos e colocarmos os


cintos, ele estendeu a mão. Eu a peguei. Então ele estendeu a outra.

Eu fiz uma careta. "Estamos fazendo um aperto de mão secreto?"

Seu divertimento se transformou em uma enorme gargalhada. "O


celular, Erin! Me dê seu celular, dai posso te dar um curso rápido ".
Eu o entreguei, e ele me instruiu sobre como liga-lo, adicionar contatos e
enviar mensagens. Ele ainda adicionou algumas músicas e me mostrou como a
ouvi-las.

"O mais importante durante as aulas é isso" ele disse, mexendo em um


pequeno botão lateral com o pouco de unha que ele tinha. "Fica no silencioso.
Você pode mudar o toque, se quiser. Posso mostrar isso mais tarde."

“Por quê?”

Ele deu de ombros. "Eu não sei. É só algo que as pessoas fazem para
deixa-lo mais pessoal. Você não precisa se não quiser, mas definitivamente
você deve deixa-lo no silencioso. Se tocar durante a aula, podem pegar o seu
celular. "

"Quem é que vai me ligar durante as aulas?"

"Eu poderia te enviar mensagem se soubesse seu número." Ele tocou na


tela duas vezes e, em seguida, pegou seu celular, colocando em mais
números. "Deixa quieto. Já tenho. "

Eu peguei de volta o celular. "Talvez eu não quisesse que você tivesse


isso," Eu provoquei, mas então caiu a minha fixa, e me senti um pouco triste.
"Você provavelmente é a única pessoa que vai usar isso." O celular tocou na
minha mão, e eu olhei para baixo. Era uma mensagem.

É Sam (Papai). Não se esqueça do jantar. Vejo você à noite. Tenha


um bom dia na escola.

Não esquecerei.
Digitei de volta, e deixei o celular cair no meu colo. Os cantos da minha
boca curvados para cima.

"Quem era?" Perguntou Weston, claramente descontente com o olhar no


meu rosto.

"Sam" eu disse. "Ele estava me lembrando do jantar hoje à noite."

"Oh sim" disse ele, suas sobrancelhas ainda franzidas. Ele dirigiu pelo
nosso bairro em direção à escola. Ele parecia perdido em pensamentos, dando
seta e indo no limite da velocidade como ele tinha feito umas cem vezes antes.
Mas ele não disse mais nada até nós estacionarmos em uma vaga de alunos e
entrarmos.

Desta vez ele não tentou segurar minha mão. Ele colocou o braço em
volta de mim, me acompanhando até meu armário e beijou meu cabelo.

"Vejo você depois da aula" ele disse, afastando-se. Os alunos do 3º e 2º


ano que tinham armários na mesma área olharam para mim, surpresos com o
incomum show de afeto.

Coloquei minha mochila no armário, peguei meu livro de Bio e fui para a
aula. Minha mesa estava vazia quando cheguei, mas várias outras também
estavam. Eu estava adiantada, por isso era uma boa hora para colocar a minha
lição na mesa da Sra. Merit. Ter em vista fazer as coisas de um jeito que
chamasse menos atenção fazia parte de mim. Provavelmente sempre faria.

Quando eu voltei para a minha cadeira, Brady Beck entrou e sentou na


cadeira de Sara Glenn na minha frente. O instinto me fez recuar, mas fiquei
imediatamente envergonhada que eu fiz isso.

Ele parecia se divertir. "Você perguntou pra ele?"

"Perguntei pra quem, o quê?"


"Weston. Por que de repente ele está tão interessado em você.”

"Nós já conversamos sobre tudo isso."

"Então ele não te disse a verdade."

"Por que você apenas não diz o que quer que eu saiba, e nós podemos
acabar com isso?"

Os olhos de Brady brilharam com muitas coisas passando por trás deles.
Ele estava pensando em suas opções, o que queria dizer, e se o resultado
seria o que queria.

"Nah" ele disse empurrando para trás a cadeira e levantando. Ele sentou
na sua, ainda me encarando. "Você pode tirar a garota do trailer...6”.

Olhei para meu celular e apertei o botão que Weston me mostrou para
silenciar. Seu nome estava na tela, e eu sorri, sabendo que ele tinha colocado
seu número em meus contatos. Era bom ter uma breve conversa com ele para
me distrair enquanto a sala enchia com alunos sonolentos.

"Os Aldermans te deram isso?" Perguntou Brady.

Vários dos alunos que tinham chegado e sentado se viraram para olhar
para mim.

Não olhei para cima.

"Qual é a sensação de se beneficiar com a morte de outra pessoa?"

Continuei sem responder.

6
A frase completa seria “You can take the girl out of the trailer park, but you can't take the trailer park
out of the girl” (Você pode tirar a garota do trailer, mas você não pode tirar o trailer da garota.). Que
seria um ditado que quer dizer que mesmo você mudando de posição social não quer dizer que perdeu
velhos hábitos. (Pessoas que moram em trailers nos EUA são consideradas de baixa renda)
"Não posso acreditar que eles estão simplesmente deixando você
assumir a vida dela assim, como se ela nunca tivesse existido."

Eu apertei diferentes botões no meu celular, qualquer coisa para me


distrair.

"Julianne nunca foi muito esperta-"

"Cala a porra da sua boca!" As palavras pularam da minha garganta


antes que eu pudesse detê-las. Minhas costelas estavam pressionadas contra
a mesa, as palmas das minhas mãos contra os muitos escritos que os alunos
antigos e atuais tinham feito na superfície preta e ardósia.

Brady se sentou novamente com uma satisfação diferente de qualquer


outra que eu tenha visto antes em seu rosto. Agora ele sabia como me afetar.
Eu tinha exposto a minha fraqueza, e ele sem dúvida irá explorá-la sempre que
pode.

Os olhos de Sara vagaram atrás de mim, e me virei. Sra. Merit tinha


ouvido meu ataque de histeria, e eu esperava por punição.

"Abram seus livros na página 283" ela disse, caminhando para trás de
sua mesa.

Durante o intervalo entre a segunda e terceira aula, Weston veio até


meu armário com uma expressão bem diferente no rosto do que tinha essa
manhã indo para a escola. Suas bochechas estavam vermelhas, e ele
respirava rápido.

"O que Brady disse para você?" Perguntou.

Balancei minha cabeça. "Não importa."


"Importa. Ouvi que ele disse que você estava feliz que Alder morreu, e
estava se beneficiando da morte dela, e que ele também falou mal de Julianne,
e você surtou na sala. Algo disso é verdade?”

"Mais ou menos."

"Por que não me contou?" Ele perguntou um pouco magoado.

"Você está chateado?"

"Não, estou puto da vida. Beirando a fúria.”

"Por isso."

Ele se mexeu. "Por que você o deixa fazer o que quer, Erin? Por que
continua deixando ele te tratar desse jeito? Ele merece um soco no cara, tomar
uma surra, tropeçar e cair de cara... alguma coisa. Pessoas assim não podem
simplesmente tratar as outras como lixo e ir em frente com suas vidas sem
nenhuma repercussão.”

"Não foi você que disse outro dia para sentir pena deles?"

"Brady deixa muito difícil sentir alguma coisa em relação a ele, além de
extremo nojo. Não é só você. E essa imitação que ele faz de Annie Black toda
vez, dos motores de sua cadeira de rodas? E Jenny Squires?"

“O que tem ela?”

"Ela foi organizadora do basquete masculino só por uma temporada,


porque todas as noites depois de um jogo fora de casa, ela tinha que lavar o
ranho de Brady de seu cabelo. Ele se sentava atrás dela, não importava onde
ela estava no ônibus, e cuspia em seu cabelo. Tudo o que ele podia tirar de
sua garganta até chegarmos ao estacionamento da escola."

"Se você sabia disso, por que não falo nada?"


Weston pareceu magoado. "Você está certa. Eu deveria ter feito alguma
coisa. Muitas coisas. Especialmente por você.”

"Você fez."

"Dez anos depois. Como Frankie disse."

"Melhor do que nunca. Você não pode salvar o mundo. Eu só tô curiosa,


se você viu, e era tão contra isso, por que deixou passar?"

Ele olhou para baixo. "Talvez eu seja um covarde."

"Você não é um covarde."

"Talvez eu fosse até agora."

Brady passou e assobiou sua desaprovação. "Ainda se rebaixando,


Gates."

Weston agarrou Brady pela camiseta e o virou, batendo com força suas
costas contra o armário ao lado do meu.

Estremeci e recuei. Os olhos de Brady se arregalaram, e nessa fração


de segundo, foi como se nós dois estivessemos pensando a mesma coisa: O
que Weston faria agora.

"Se Karma7 não chuta a sua bunda, eu vou", Weston fervia de raiva, um
pouco ofegante.

"Que porra há de errado com você?" Brady gritou.

Toquei o braço de Weston, dando uma rápida olhada para ver se algum
professor estava vindo.

"Weston?" Eu disse, tentando manter minha voz calma. "Weston. Solta


ele."

7
Karma tem um sentido de destino, vida.
Os olhos selvagens de Weston lentamente relaxaram, e ele soltou os
dois punhados da camiseta de suas mãos.

"Se e quando o comportamento dele tiver consequências, isso será o


Karma dele. Como nós reagimos é nosso."

A respiração de Weston desacelerou, e os ombros relaxaram.

Brady saiu rapidamente, arrumando sua camiseta e balançando o


pescoço de um lado para outro, como se ele até mesmo pudesse revidar. Tudo
que ele tinha eram suas palavras, e ele sabia disso. Era por isso que ele as
usava tão cruelmente.

Os alunos tinham parado por um momento, achando que uma briga


estava prestes a acontecer, mas tinha acabado tão rapidamente, que ninguém
teve tempo para se reunir e chamar mais atenção. Como se nada tivesse
acontecido, todos caminharam para sala, passando um pelo outro, como dois
rios opostos, seguindo o mesmo caminho, todos os dias sem saber por quê.

"Desculpe" disse ele. "Perdi a cabeça."

A respiração ofegante que antes mal se ouvia agora estava mais forte.
Weston respirava com um pouco mais de dificuldade.

"Você tem sua bombinha?" Perguntei.

Ele assentiu, tirando-a do bolso e balançando o recipiente do tamanho


da palma da mão, e apertou, inalando-a. Ele beijou minha testa e então se
afastou sem expressar mais nada, exceto uma tosse no meio do corredor.

Pelo vidro ao redor da biblioteca, vi alguns alunos me encarando. Eu


balancei minha cabeça e fui para a sala. Dentro das paredes da nossa escola
estavam os fracos, os tristes, os magnificos e os arrogantes, todos voando pela
mesma estrada a 160 km/h para um fim no qual nós não estávamos prontos.
Os alunos que mal conseguiam se lembrar de trazer seus casacos de casa
para escola estavam esperando ser liberados no mundo como adultos.

Parte de mim estava feliz que eu tinha que me virar para sobreviver a
um bom tempo. Sem suas mães por perto, a maioria dos meus colegas de
classe não tinham idéia de como controlar seus gastos ou até mesmo quanto
Tylenol tomar e quantas vezes. Na escola eramos tratados como bebês, nos
repreendiam e diziam quando deviamos comer. Nós até tinhamos que levantar
as mãos para pedir permissão para ir ao banheiro. Em apenas algumas
semanas nós seremos livres para ter cartões de crédito e empréstimos
estudantis, ou assinar contratos de um apartamento que podemos não ser
capazes de pagar, porque fomos ensinados como fazer, mas não como viver.

Essa era uma pequena parte da minha criação que eu sempre


agradeceria, mas ainda assim eu não desejaria a mais ninguém. Eu nunca
conseguiria minha infância de volta. De muitas formas eu sempre fui à adulta, e
era difícil me acostumar a ter pais e também um namorado que queriam muito
cuidar de mim.

Meus pensamentos se perderam quando os cartazes colados na parede


chamaram minha atenção. Enfeitados com glitter, os cartazes tinham letras que
diziam coisas como: BAILE FIRE & ICE8 e BILHETES À VENDA! Pelo falatorio
animado nos corredores, era óbvio que o baile estava chegando, assim era a
formatura e o verão. A energia nos corredores estava prestes a atingir o apice.

Sentando-me em minha mesa, pensei em Weston e o som que ele fez


quando tentou respirar. Eu não sabia muito sobre asma, mas Weston também
não dava muita importância pra isso.

8
Fogo e Gelo
Puxei meu celular do bolso, olhando minhas mensagens, e clicando em
seu nome. Esse parecia o jeito mais fácil de fazer isso.

O sinal tocou, mas coloquei o celular no meu colo e digitei de qualquer


jeito.

Tá melhor?

:) Hey. Yeah? Pq?

Só pra saber. Você estava meio ofegante antes.

Nah. ;)

;)

O celular deslizou discretamente de volta para meu bolso, e a alegria de


quebrar as regras tomou conta de mim quando o Sr. Barrows começou sua
lição. Eu tinha visto tantas pessoas fazer isso antes e não conseguia entender
por nada deste mundo por que eles arriscavam ficar em apuros, ter seus
celulares confiscados, ou ir para detenção. Ficou claro para mim agora por que
eles faziam isso, e não tinha nada a ver com a mensagem em si.

Prometi para mim mesma que não faria isso de novo, mas essa não foi á
única promessa que eu quebraria nesse dia.
Frankie limpou a calda de chocolate no avental e xingou, imediatamente
cobrindo sua boca. "Oops.”

“Contanto que você não faça isso em um megafone." Eu disse com uma
piscadela.

"Estou me sentindo um pouco desligada hoje."

"Nervosa?"

"Sobre o quê?" Ela perguntou, mesmo sabendo exatamente o que eu


queria dizer.

"Você se esqueceu de seu encontro com Mark?"

"Eu esqueci na verdade, obrigada por me lembrar", ela disse, fingindo


verificar algo em cima da prateleira na parede ao lado da janela do drive-thru.

"Você é uma mentirosa."

Ela engasgou. "Malcriada!"

Eu ri, e então Frankie gargalhou. Depois de tentar parar de rir por um


minuto inteiro, nós duas começamos a tagarelar. A tempestade tinha rolado por
volta de uma hora atrás, a chuva estava reluzindo sobre as luzes da Main
Street.

"Estou tão feliz que os dias estejam mais longos." Frankie disse
limpando depois seu rímel manchado. "Dá tempo de brincar com as crianças
quando eu saio do trabalho."

"Será que Mark sabe que você tem filhos?" Eu perguntei.


"Qual é a sua obsessão com o Mark?", Ela brincou. "Provavelmente. Ele
mora aqui só há alguns meses, tenho certeza que todos na Kay Eletric já
falaram para ele meu histórico financeiro e sexual até agora. Tô brincando. Não
exatamente.”

"Barbara não enviou ele a você?" Perguntei. Barbara era da


contabilidade na Kay Eletric e Frankie a fazia rir toda vez que ela vinha no
drive-thru. No fim de semana passado, Barbara veio quando voltava pra casa e
disse a Frankie tudo sobre Mark, o novo instalador de telefone do Alabama.

Ele era bonito, doce, solteiro, e gostava de rir. Barbara perguntou a


Frankie se ela poderia dar o seu número e para surpresa de todos, Frankie
escreveu o seu número em um guardanapo e o segurou para fora da janela.

Três telefonemas depois, Frankie concordou em ter um primeiro


encontro. Ela havia deixado cair e derramado coisas, bagunçado os pedidos a
noite toda. Até mesmo Weston percebeu quando veio por alguns minutos após
o treino.

Ela olhou para o relógio. "Bem. É hora de fechar mocinha. Como estou?"
Ela estava balançando suas curvas em um novo par de jeans capri e uma
camisa xadrez roxa de botão.

“Se cubra de chocolate, aposto que ele vai gostar."

Ela riu e tirou o avental. "Obrigada, Erin. Tenha um bom jantar com o
seu... Sam."

“Eu vou. Eu vou ter um fantástico jantar com o meu Sam." Eu sorri.
Gostei de como aquilo soava.

Eu podia ouvir a Range Rover de Sam esperando, do outro lado da porta


dos fundos antes de abri-la. Seu sorriso estava brilhante quando nossos olhos
se encontraram e eu acenei para Frankie antes de subir no banco do
passageiro. "Eu sai correndo e esqueci minha maleta de novo", ele brincou. "Se
importa se pararmos em casa antes de ir ao jantar? Meu telefone está nela.”

"Claro." Eu disse. Sam dirigiu para a estrada e nós seguimos para o sul.
O primeiro minuto ou dois foi em silêncio então Sam limpou a garganta. "Você
pode mudar a estação, se você quiser."

"Esta tudo bem."

"Como foi no trabalho?"

"Sem problemas, em sua maior parte. Weston passou lá. Frankie tem
um encontro hoje à noite."

"Julianne queria ligar durante a tempestade. Assegurei que você não


estaria com muito medo." Ele riu de si mesmo, mas em seguida olhou para mim
quando eu não respondi.

"Sinto muito. Você estava? Deveríamos ter ligado?"

"Não, eu gosto das tempestades."

Sam assentiu, aliviado. "Eu também. Julianne nem tanto. Tivemos um


cachorro uma vez por isso, quando eu não estava em casa e estava chovendo
Julianne tinha um amigo, mas não era para ser. Ele agravou a asma de
Sonny."

"Você quer dizer Weston?”

Sam pensou por um momento depois admitiu. "Você tem razão. O pelo
teria desencadeado sua asma também. Naquela época, no entanto, víamos
Sonny quase todos os dias. Por um bom tempo, Weston apenas aparecia se
Peter e Veronica o obrigassem brincar com as meninas."

“Sonny tinha asma?"


"Você não sabia?" Sam perguntou.

Eu balancei minha cabeça.

"Acho que não deveria me surpreender. Ela escondia tanto quanto


Weston."

"Ele não fala muito sobre isso.”

"Ele se esforça bastante pra impressionar você. Eu nunca o vi agir


assim." Sam disse perdido em seus pensamentos por um momento antes de
voltar ao presente. "De qualquer forma, já que Sonny estava sempre em casa,
decidimos nos livrar de... huh. Eu nem me lembro do nome."

Nós encostamos na calçada e eu esperei. Não me ocorreu que Sam não


tinha entrado na garagem até que eu vi Julianne de pé ao lado de outro
veículo. Não seu G-Wagon branco, mas uma BMW vermelha. Com um grande
laço branco na parte superior.

Sam saiu e caminhou para o meu lado da Range Rover.

"Isso não tá acontecendo." Eu sussurrei antes dele abrir a porta.

Saí. Sam e Julianne, ambos estavam radiantes.

"Perdemos alguns aniversários e Natais." Sam disse.

"A formatura está chegando também." Disse Julianne.

Apontei para a pintura vermelha brilhante. "É para mim?"

Sam levantou um pequeno controle remoto, preto com alguns botões


prata. "Não é a mesma coisa que segurar as chaves, mas este é do seu novo
carro. Esperamos que você goste de vermelho."

Eu engasguei com minha própria saliva. "Se eu gosto...? Você está


brincando."
Ambos balançaram a cabeça e eu fiz o mesmo.

Seus sorrisos caíram e Julianne estendeu as mãos, andando na minha


direção.

"Por favor, nos deixe fazer isso. Eu nem sei quem deu a ideia. Ambos,
eu acho."

Sam concordou com a cabeça.

Julianne continuou, com a voz trêmula. "E você precisa de um carro,


honey. Você tem dezoito anos, você trabalha muito e... você deve ter um
veículo.”

Seus rostos, e então o carro se tornaram um borrão. Antes que eu


pudesse impedir de derramar as lágrimas, minhas bochechas já estavam
molhadas.

Os lábios de Julianne tremeram, ela começou a chorar também,


cobrindo rapidamente sua boca.

Sam passou os braços ao meu redor. "Por favor, nos deixe fazer isso
por você."

"Eu nem sei como aceitar algo assim. Isso esta ficando mais louco a
cada dia, mas do melhor jeito possível. Não por causa das coisas. Não são as
coisas." As palavras saíram engraçadas e abafadas, eu não tinha certeza se
eles conseguiam até me entender.

Sam colocou o controle remoto na minha mão e me abraçou de lado.


"Tem um ano, esta em excelentes condições e tem uma classificação de nove
pontos em segurança. As chaves são esse controle. É um botão de partida
para ligar. Enchi o tanque e eu mesmo verifiquei o óleo. Você vai nos levar
para jantar? Eu posso te mostrar o que todos os botões fazem.”
Eu balancei a cabeça novamente. "Eu não acho que deveria. Eu não
tenho muita experiência em dirigir e...”.

“Você dirige a caminhonete do Weston algumas vezes, não é?" Julianne


perguntou.

Eu assenti.

"Eu preciso de uma carona para o jantar antes que eu morra de fome."
Sam estava tentando me provocar tão delicadamente quanto podia, claramente
tentando melhorar o clima.

Limpei meus olhos e olhei para Julianne. "Você já jantou?"

Ela assentiu com a cabeça. "Vai passar algum tempo com o seu...”.

"Meu Sam", eu disse.

Sam também gostou.

Meu rosto caiu. "Eu não quero parecer ingrata. Este... Obrigada. Muito
obrigada. Isto é incrível. Só é... Muito incrível. Isso tá meio que me assustando
um pouco. Eu sinto as coisas começarem a melhorar, ruim vai ser quando tudo
acabar. Não as coisas. Eu não quero dizer as coisas.”

Julianne segurou minhas bochechas com as duas mãos. "Você é a


nossa filha e nós compramos um carro pra nossa filha. Isso é tudo. Não é
errado. Não é pra te preparar para a decepção. É apenas um carro.”

“Não é apenas um carro." Eu olhei para a BMW vermelha estacionada e


depois para o controle remoto em minha mão. Eu realmente tinha um carro. Eu
poderia ir pra escola. Trabalhar. Para a faculdade. Para o supermercado. Para
a lavanderia, se ainda precisasse ir lá. Não precisava, mas eu poderia dirigir
até lá, se eu quisesse. "Você não sabe o que isso significa para mim. Não acho
que eu poderia explicar pra você.”
“Você não sabe o que você significa para nós.” Julianne disse.

Eu apertei meus lábios. "Estou muito nervosa para dirigir ele."

Eles riram e Julianne tirou dezenas de fotos enquanto Sam passava o


básico, então ela acenou enquanto eu saía muito lentamente da garagem.

"Você está indo muito bem." Sam disse quando eu levantei a alavanca
dando sinal, e virei à direita.

“Eu vou acordar a qualquer minuto." Eu disse balançando a cabeça. "É


simplesmente maravilhoso demais para ser real."

Sam riu. "Estou feliz que você gostou. É um alívio. Tivemos medo de
que não gostasse e ficasse chateada.”

Pensei sobre o que deve ter sido pra eles ver a decepção nos olhos de
Alder, quando lhe deram um carro em seu décimo sexto aniversário. No
próximo sinal de Pare, tive a certeza de olhar diretamente nos olhos de Sam.

"Você não tem que me dar nada. A maneira como você tem sido
acolhedor e compreensível é mais do que eu poderia pedir. Mas isso é
absolutamente incrível. Eu amo isso. Eu não consigo agradecer o suficiente."

O sorriso de Sam aumentou e ele se acomodou em seu lugar. "Eu mal


posso esperar para contar a Julianne que você disse isso. Ela vai ficar tão
feliz."

Pressionei meu pé no acelerador e o carro que não era apenas um carro


respondeu imediatamente, levando-nos para o restaurante.

Quando chegamos, levou quase dez minutos para eu estacionar, em


seguida Sam me instruiu como desligar a ignição e travar. Ele me acompanhou
pelo estacionamento e estendeu a mão para abrir a porta, mas ela se abriu
antes que ele conseguisse.
Os Mastersons saíram e Carolyn engasgou audivelmente. Seu cabelo
platinado, fino e ralo de anos de clareamento, foi puxado frouxamente para trás
em um coque baixo, o colarinho branco estava levantado na parte de trás e
dobrado na frente. Quando sua boca se abriu, seu rosto inteiro se esticou com
ela, como se sua pele fosse tão firme, que tudo tinha que se mover como uma
coisa só. Ela estava quase esquelética, mas seu marido, Harry, era redondo e
respirava pesadamente, a apenas um passo de sua mesa até a porta. Ao
contrário de Carolyn, Harry não poderia ter problemas para fazer qualquer
expressão. Só seus olhos se moveram para ver a quem ela estava reagindo.

Sam segurou meus ombros e o ar entre nós estava imediatamente


tenso. "Oi, Harry. Carolyn."

Carolyn se recompôs, em seguida, arqueou uma sobrancelha, me


olhando como se Sam tivesse me tirado direto do lixão da cidade para o
privilégio da sua presença.

"Então, ela está vivendo com você agora?" Carolyn perguntou, com a
voz entrecortada e cheia de desprezo.

"Agora não, Carolyn." Sam disse, incentivando-me para as portas de


vidro duplo.

Assim que eu dei um passo para frente, Carolyn deu um passo para ficar
na frente da porta.

"Você tem alguma ideia do que nós passamos Sam?" Ela fervia.

"Eu realmente não estou à vontade para discutir isso na frente de Erin,
Carolyn. Por favor”, disse ele, apontando para ela se afastar.

Ela não se afastou. "Estou devastada. Julianne é minha melhor amiga e


eu tratava Alder como uma filha. Você sabe quão estranho e doentio é isso
tudo? Eu não posso nem falar com Julianne sobre isso, porque você tem a sua
nova família agora e ela não quer negatividade. Será que ela está brincando
comigo?"

Minha sobrancelha se levantou.

Harry ficou ali, inabalável.

Sam olhou para mim e depois de volta para ela. "Julianne está certa.
Nossa prioridade é a Erin, e não é uma boa ideia para você estar perto dela,
considerando..." Ele me abraçou do lado dele. "Eu realmente sinto muito,
Carolyn. Mas eu não vou discutir isso agora. Todos nós já passamos por muita
coisa, e agora simplesmente não é o momento."

Passamos por um segundo conjunto de portas e fomos recebidos pelo


host. As paredes estavam cobertas de pintura brilhante e murais detalhados, os
alto-falantes tocavam uma melodia em Espanhol apenas alto o suficiente para
ser ouvido sobre o baixo murmuro dos clientes. Dezenas de cabeças se
viraram para ver Sam e eu andando pelo corredor para a última mesa.

Sam se mexeu nervosamente enquanto o garçom levava nossos


pedidos de bebidas, depois se inclinou para falar. "Eu sinto muito sobre
Carolyn. Eu não sabia que eles estariam aqui. Eles têm estado bastante
reclusos desde que as meninas faleceram."

"Compreensível."

"Julianne e Carolyn estão em desacordo sobre nossas escolhas."

"Isso deve ser muito difícil para Carolyn", eu disse.

Sam fez uma pausa, surpreso com o meu comentário, depois riu. "Sim,
bem, eu tenho certeza que é. Julianne é geralmente muito... amigável. Carolyn
não está acostumada a ser ignorada. Como eu tenho certeza que você pode
sentir, há um pouco tensão entre nós."

"Eles não acreditam que eu sou sua filha?" Perguntei.

Ele ergueu os óculos redondos. "Não importa para mim ou para a sua...
Julianne. Só estamos interessados em uma transição suave para você neste
momento e... Oh, Erin. Sinto muito. Isso soa muito clinico."

"Você não tem que se fazer de burro pra mim, Sam. Você é um
cirurgião. Eu espero que você fale com inteligência."

Sam riu uma vez. "Bem, eu não estou falando com você como seu
cirurgião. Eu estou falando com você como o seu Sam.”

Eu sorri. O termo estava definitivamente me conquistando.


Meu telefone tocou. "É Weston," eu disse. Eu li a mensagem em
silêncio, primeiro e em seguida, li em voz alta para Sam. "Julianne me mostrou
as fotos do carro. Badass9."
Sam parecia contente e fez um gesto para eu responder.

Posso levar você pra escola de manhã?

Ele não respondeu de imediato. Poucos minutos depois, meu telefone


tocou novamente.

Wow.
O Quê?
Eu estava com medo de que isso também acabasse.
O que você quer dizer?

9
Fodão
Nossa carona de manhã para a escola juntos. Me liga antes de vc ir
para a cama. Amei o carro.
Ok. Obrigada! Eu também!

Ele me mandou uma carinha amarela beijando um coração pequeno,


mas eu não tinha ideia de como mandar isso e não queria passar o meu jantar
com Sam mandando mensagem, então eu apenas enviei de volta o mesmo
rosto digitado piscando que eu tinha enviado antes.

"As coisas vão bem com vocês dois?" Sam perguntou quando coloquei
meu celular no bolso.

Eu assenti. "Ele tem estado meio estranho desde que eu mudei."

"Sim, eu acho que ele sente falta de você um pouco."

"É estranho pra você? Que eu esteja passando um tempo com Weston e
ele foi o namorado da Alder?”

Sam pensou por um momento, mas eu sabia que ele já sabia a resposta.
Ele estava apenas decidindo que palavras usar.

"Eu quero que você seja feliz. Weston é um bom rapaz."

“Você pode ser sincero comigo, Sam. Eu perguntei.”

A boca de Sam puxou para o lado. “Você é... adorável, Erin. Mas eu
mantenho a minha declaração original.”

Eu assenti. "Tudo bem.”


O perfeito ventilador de teto branco estava ligado, rodando sem fazer
barulho. Ele não trepidava e praticamente se misturava com o teto branco e
liso, que não estava rachado ou descascando. Não havia manchas de
vazamento no teto.

Os armários e banheiro da casa dos Alderman ainda cheiravam a pintura


fresca. Nada como o lugar mofado e de dois quartos da Gina. Era estranho não
tê-la visto desde que soube das novidades, mas imaginei que ela preferiria
assim. O carro de Gina ainda estava parado no supermercado onde ela
trabalhava no mesmo lugar, durante as mesmas horas de sempre, mas eu não
tinha entrado. Eu não sabia o que dizer e, também, porque Julianne me
mantinha atualizada com qualquer coisa que eu precisasse saber. Era como se
antecipar e preencher todas as minhas necessidades fosse o trabalho integral
dela.

Eu passei meu dedão pelo controle preto que ainda estava em minha
mão. Eu não tinha colocado ele no criado-mudo ou deixado na cozinha perto
das chaves de Sam porque eu tinha um medo irracional que se eu o largasse,
ele iria desaparecer. Tudo que tinha acontecido comigo no ultimo mês era tão
surreal, totalmente oposto ao caminho que minha vida tinha tomado até agora,
quase tão perfeito que eu mal poderia acreditar. Então eu segurava o controle
remoto como se segurasse a esperança que eu iria abrir meus olhos na manhã
seguinte sobre o mesmo belo ventilador de teto, no corredor onde do outro lado
da porta agora faltavam às letras em cores pastel.
Eu olhei para o relógio digital na mesa e suspirei. Eram duas da manhã.
Depois do jantar eu tinha ligado para Weston e nós tínhamos conversado por
uma hora sobre o carro. Ele queria dirigir por ai comigo, mas eu estava
cansada naquela hora. Agora, deitada aqui no colchão macio, eu estava
afundada nele, os lençóis tão suaves que pareciam até meio gordurosos (do
melhor jeito possível). Eu não conseguia dormir.

Eu andei pelo quarto com meus pés descalços e abri a porta. Ela rangeu
então eu congelei e espiei pelo corredor. Estava escuro e quieto. Sam e
Julianne estavam em suas camas há um tempo já.

Eu pisei no carpete duro e dei alguns passos em silêncio, até que


estivesse na frente da porta de Alder. Meus batimentos cardíacos aceleraram
enquanto eu alcançava a maçaneta, me perguntando se seu quarto estaria
trancado. Eu estava com medo do que estava do outro lado da porta, como se
ela pudesse estar ali de pé, gritando para eu sair.

Eu forcei a maçaneta dourada e ela cedeu. A porta abriu, rangendo um


pouco como a minha, e eu a abri ainda mais.

O quarto estava escuro, mas a luz da lua que se infiltrava pela janela
oferecia luz suficiente para que eu pudesse ver as fotos colocadas nas fitas
cruzadas no mural na parede10, fotos de Erin quando líder de torcida em jogos
de futebol americano, saindo com Brady, Brendan, Chrissy e, é claro, Weston.
Eu engoli. Ele parecia feliz e isso fez meu estômago se revirar, mesmo quando
me lembrei de vê-lo sempre com Alder com essa mesma expressão. Aqueles

10
olhos brilhantes que eram só para ela. Eu pensei em como ele olhava para
mim.

É diferente, eu disse a mim mesma.

Seu quarto estava limpo e tudo estava em seu devido lugar. Ele tinha
sido aspirado recentemente e a cama estava feita. Eu me sentei em seu
edredom preto e branco e olhei ao redor para as várias decorações que tinham
na parede. Parecia errado, mas também era excitante, mil vezes melhor do que
mandar mensagens durante a aula. Alder teria morrido de novo se soubesse
que eu estava em seu quarto – se ela soubesse que eu estava vivendo aqui, e
que Weston estava vindo me ver. Eu me perguntava como Sam e Julianne
conseguiam racionalizar essas coisas, equilibrando me fazer feliz com não
sentir como se estivessem pouco se lixando para sua memória.

Eu andei até seu armário e abri a porta. Era um closet igual ao meu.
Suas roupas estavam pressionadas e penduradas em vários sacos plásticos
idênticos aos meus. Mas ela tinha vários uniformes de lideres de torcida em
seu armário, e vários vestidos e sapatos de salto. Um dos sacos plásticos se
destacava de todas as outras roupas, eu acendi a luz do closet para olhar
melhor. Era o vestido para o baile.

Eu tentei olhar melhor sem toca-lo, mas eu finalmente desisti e o puxei


para fora de seu lugar, segurando ele na minha frente. O controle que eu ainda
tinha em minha mão dificultava o manuseio, mas eu consegui segura-lo meio
desajeitadamente. Ele era estonteante. Era de um ombro só e praticamente
não tinha costas, transparente da cintura para cima, com algumas pedrarias
prateadas cobrindo certas partes. Ela teria parecido uma deusa grega, e eu a
imaginava usando seu cabelo para cima, preso para trás, longe de seu rosto
em um coque alto. Quando eu a imaginei com Weston, eu coloquei o vestido
longe.
Minha curiosidade ainda não estava satisfeita, mas o closet era o único
lugar que eu sentia como se pudesse espiar com a luz acesa. Eu passei os
dedos pelas suas roupas e por seus sapatos. Encontrei uma caixa de
brinquedos retangular atrás de suas roupas. Era branca com sapatilhas de balé
rosa, sem tampa. Havia bonecas bebê e Barbies, alguns brinquedos antigos do
McDonald’s e cadernos, todos ou quase todos em branco, com alguns
desenhos infantis de um cachorro ou unicórnio, e um com três bonecos palitos.
Pequenas meninas, todas com o nome Erin apareciam com seus diferentes
estilos de cabelo. Eu soube de imediato qual supostamente era eu. Aquela com
o cabelo desarrumado. Elas estavam de mãos dadas, sorrindo. Minha
respiração estava alterada. Eu lembrei quando isso tinha acontecido na vida
real: as risadas e as mãos dadas. Nós éramos melhores amigas naquela
época.

Uma caixa de plástico transparente cheia de fichários chamou minha


atenção, eu abri a tampa o mais silenciosamente que eu consegui, tirando o
primeiro. Era verde, com a palavra, DIÁRIO escrito na capa com um marcador
permanente preto na letra de Alder.

Eu o coloquei de lado, depois o peguei novamente. Eu fiz isso varias


vezes, cada vez me convencendo de não abri-lo.

“Esses são os pensamentos dela, Erin. Não se atreva.” Eu disse a mim


mesma, colocando a tampa de volta na caixa. Eu tinha que levantar cedo, de
qualquer jeito, para que eu pudesse ir até Weston e dirigir cuidadosamente
para escola pela primeira vez. Ler seus pensamentos era errado. Muito errado
e haviam vários princípios morais e éticos que eu valorizava em mim que
seriam violados de várias maneiras se eu abrisse aquele diário.

Mesmo assim eu abri.


Eu fechei o diário, não querendo saber se era de mim quem ela estava
falando. Os diários estavam todos datados até o primário. Eu ergui as
sobrancelhas. Ela tinha preenchido todos esses diários. Todos os pensamentos
privados de Erin Alderman estavam disponíveis para eu ler e aprender se eu
quisesse. Havia um único diário plastificado com um cadeado prata quebrado
escrito MEU PRIMEIRO DIARIO.

Eu fechei a tampa e me levantei, desligando a luz. A privacidade de


Alder já tinha sido violada e a confiava de Sam e Julianne. A culpa me forçou a
sair do quarto, voltar para o corredor e para meu quarto, até ficar debaixo das
cobertas.

Depois de vinte minutos sem conseguir resolver meus pensamentos, eu


olhei para o ventilador de teto. Será que Alder estava falando de mim? O que
eu tinha feito? Será que ela quis dizer que Weston estava olhando para mim?
Com certeza não. Ele uma vez tinha dito que sempre tinha gostado de mim,
mas isso não queria dizer que ele realmente gostava. As perguntas estavam lá
e eu não tinha certeza se queria saber as respostas. Havia tantas naquelas
páginas. Eu poderia até descobrir o porquê as Erins tinham parado de falar
comigo.

Eu me virei de lado, ainda segurando o controle em minha mão, me


perguntando se Julianne sabia sobre os diários. Eles não estavam exatamente
escondidos. Talvez Julianne respeitasse a privacidade de Alder o suficiente
para que ela não precisasse esconder eles.

Eu fechei meus olhos, imaginando se era eu a pessoa que Weston


estava olhando. Eu precisava saber. A próxima vez que eu estivesse sozinha
em casa, eu iria voltar a ler até que eu descobrisse o porquê – porque Alder me
odiava. Por que ela agia daquele jeito e porque ela odiava tanto Blackwell se
ela tinha tudo. Talvez ela não tivesse. Talvez ela não quisesse isso. Não era da
minha conta. Eu não deveria ler aqueles diários. Mas meu dever e querer eram
tão opostos que eu sabia que a curiosidade venceria no final, especialmente
desde que aquelas respostas eram algo que eu queria há muito tempo.

A fadiga só me atingiu quando cheguei ao ultimo degrau. O sono não


veio fácil na noite anterior e, mesmo quando eu comecei a cochilar, eu não
conseguia continuar dormindo.

Sam passou correndo por mim, em direção à cozinha, dando um tapinha


no meu ombro.
“Dia mocinha. Olhe o medidor de combustível. Oh!” ele disse, se virando
e pegando algo no bolso da frente de suas calças, puxando sua carteira. “Use
isso quando for abastecer. E se você precisar de qualquer outra coisa. Bem...
use com moderação.”

Eu gentilmente recusei. “Eu tenho dinheiro.”

Ele ofereceu novamente o pequeno cartão prateado, insistindo. “Seu


salário é para ser gasto. Nós cuidamos do resto. Apenas aceite, querida. Eu
estou atrasado.”

Depois de uma pequena pausa, eu peguei o cartão e tentei colocar ele


no bolso de trás do meu jeans, mas era um dos novos que Julianne tinha
comprado e os bolsos eram apertados e abotoados. Eu não conseguia
entender qual parte tinha o botão com todo o brilho cobrindo o tecido, então eu
o coloquei no bolso da frente. Depois eu guardava na mochila. Ter tudo isso
me deixava nervosa.

“Obrigada.” Eu disse.

Sam piscou e correu pela porta de trás que levava a garagem. “Tenho
que ir querida!”

“Tenha um bom dia!” Julianne disse.

Eu me juntei a ela na cozinha. “Estou saindo.”

“Sem café da manhã?” ela perguntou, tentando não mostrar sua


decepção. Um lindo omelete estava dobrado perfeitamente em um prato floral.
Um garfo apoiado em um guardanapo de pano e meio copo de suco de laranja
estava na frente.

“Você é tão... tudo é sempre tão perfeito. Essa casa toda poderia ser
fotografada para uma revista.”
Julianne sorriu. “Obrigada. Isso é meu passa tempo, na verdade. Eu fico
inquieta,” ela disse, colocando suas palmas na beira do balcão. Ela olhou ao
redor. “E um pouco entediada, se você quer saber a verdade.”

“Você já pensou mais em voltar a trabalhar?”

Ela concordou. “Sam e eu discutimos isso. Nós decidimos que seria


melhor se eu ficasse em casa um pouco mais. Especialmente durante o verão
quando você estiver mais aqui.”

“Eu trabalho bastante no verão.” Eu disse com um meio sorriso.

“Sobre isso,” ela disse, mordendo seu lábio inferior. “O que você acha de
diminuir algumas horas? Isso te daria mais tempo livre em casa... e com
Weston. E mais tempo para você aproveitar seu ultimo ano e o verão antes de
ir para a faculdade. Sem pressão. Apenas uma ideia.”

“Eu trabalho bastante para economizar pra faculdade.”

“Erin, querida, nós vamos pagar pela sua faculdade. Tudo que você
juntou você pode gastar como quiser.”

“Um... isso é tão generoso. Mas você e Sam já fizeram tanto. Vocês me
deram um lugar para ficar e um carro incrível que está do lado de fora. Eu não
posso aceitar mais de vocês. E eu tenho bolsa de estudo.”

Ela sorriu. “Estou tão orgulhosa de você.”

Suas palavras me chocaram. Não conseguia me lembrar de ninguém


dizendo isso para mim antes.

“Você trabalhou tão duro, e você é uma pessoa tão boa apesar das
circunstancias,” ela começou a lacrimejar, mas rapidamente limpou seus olhos.
“Seu dinheiro é seu. Qualquer coisa que sua bolsa não cobre, nós cuidaremos.
Eu sei que provavelmente parece que estamos fazendo muito, mas isso é só
porque está acontecendo tudo junto. Se você estivesse aqui o tempo todo,
seria algo mais gradual. Se está te assustando, me desculpe.”

Eu balancei minha cabeça. “Você não precisa se desculpar Julianne. Por


nada. Tudo que você fez é maravilhoso. Vocês dois.”

A expressão de Julianne ficou mais suave e ela se inclinou sobre o


balcão para pegar minha mão nas suas.

“Você é nossa filha.” Ela disse suavemente. “Deixe-nos cuidar de você.


Deixe-nos fazer as coisas um pouco mais fáceis do que elas foram para você.
Isso nos ajuda também.”

Eu dei um meio sorriso. “Talvez eu possa falar com Patty sobre contratar
alguém para me cobrir nos finais de semana e diminuir minhas horas de
trabalho no verão.”

Julianne sorriu, acariciando minha mão antes de voltar para o fogão.


“Estou animada. Podemos ir para a cidade ou algo do tipo e jantar, ir às
compras ou ao museu.”

Seu entusiasmo era contagiante. “Parece divertido.” Eu me sentei e comi


quatro ou cinco pedaços de omelete, bebi o suco, limpei minha boca e peguei a
mochila.

“Vejo você hoje à noite,” eu disse.

“Okay querida,” ela disse, pegando meu prato

Eu andei pelo corredor, até a porta dos fundos dessa vez. Sam tinha
deixado à porta da garagem aberta, sabendo que logo eu estaria saindo. Eu
balancei minha cabeça. O pensamento de ter um carro – ainda mais uma BMW
– para ir a escola era inacreditável, mas ali estava ela, brilhante, linda e
esperando para eu entrar.
Eu dei ré devagar e cuidadosamente fui até a casa de Weston, na
esquina. Eu estacionei na rua, mas, quando sai, percebi que tinha estacionado
longe demais do meio fio. Eu comecei a voltar para arrumar minha pobre
baliza.

Weston correu para fora com sua mochila em sua mão, sorrindo. “Não
se preocupe com isso, babe.”

Ele estava particularmente incrível em um bom jeans, segurado por um


cinto grosso de couro marrom. Sua camisa polo azul clara o fazia parecer ainda
mais bronzeado e seu pulso esquerdo estava coberto com um relógio e o
direito com algumas pulseiras de couro trançadas. Ele tinha o tipo de corpo
esguio de um jogador de baseball e seu cabelo estava estrategicamente
bagunçado com um pouco de gel. Seus olhos ainda estavam meio sonolentos,
mas o verde claro deles brilhava tanto como sempre.

Eu não sabia se eu iria superar ter alguém com a aparência dele me


chamando de babe. Eu sempre pensei que esses enjoativos apelidos fofos
eram ridículos, mas quando Weston dizia para mim, calor se espalhava do meu
rosto até meu pé, e eu só queria que ele falasse novamente. Algo sobre como
ele dizia isso tão casualmente me fazia sentir como se não houvesse fim para
nosso começo. Nenhuma preocupação sobre nós á vista.

Peter e Verônica saíram ambos surpresos, mas com expressões felizes.

“É um carro e tanto esse seu aí!” Peter disse.

Eu dei de ombros e balancei minha cabeça. “Eu sei. Eles são bons de
mais comigo.”

“Bobagem.” Veronica disse. Ela colocou o braço em volta de mim e


apertou. “Você precisa de um carro, sua bobinha.”
Weston abriu a porta do passageiro. “Certo, você viu o carro. Nós
precisamos ir para a escola.”

Seus pais deram tchau para nós enquanto eu saia nervosa. Weston
conversou sobre o treino de baseball e nosso teste de saúde, sem parecer nem
um pouco preocupado com minha noção de direção. Eu tinha dirigido sua
caminhonete algumas vezes, mas isso era bem diferente.

Eu entrei no estacionamento e os alunos que estavam indo para aula


pararam e encararam. Blackwell era uma escola bem pequena, todos
conheciam o que cada um dirigia.

“Eles estão encarando,” eu disse apavorada.

“Eles vão fazer isso.”

“Eles vão dizer que eu estou me aproveitando de Sam e Julianne.”

“Eu vou dar um jeito neles.”

Eu estacionei e desliguei o carro. Shannon LaBlue, da aula de arte, não


hesitou em andar na minha direção.

“Isso é seu?” ela perguntou sua voz mais alta que o normal.

Eu olhei para Weston e falei. “Sim.”

“Seus pais acabaram de comprar para ela,” Weston disse. “Legal, né?”

Eu não tinha pensado nessa resposta, mas amei o jeito que soou: meus
pais. Sam e Julianne eram meus.

“Uma BMW, Easter? Isso é incrível!”

Eu concordei, sem conseguir agradecer. Por alguma razão, dizer


obrigada parecia estranho. Mais pessoas se aproximaram para olhar. Eu
apertei o botão de travar no controle e, então, Weston me guiou para dentro do
prédio segurando minha mão.

Quando chegou a aula de Biologia, toda a escola já sabia sobre o carro.


Sara e alguns dos outros alunos da sala me perguntaram sobre ele no
momento em que me sentei. Brandy até me olhou, mas não disse nada.

Quando eu cheguei à aula do Sr. Barrows, eu parei na porta, vendo que


em vez do Sr. Barrows, Julianne era quem estava sentada atrás de sua mesa,
passando por uma papelada, parecendo nervosa. Quando nosso olhar se
encontrou, sua expressão mudou para um meio sorriso de desculpa e uma
meia carranca.

“Foi coisa de ultima hora. Desculpe-me se isso te envergonha.”

Outros alunos bateram no meu ombro passando por mim enquanto


tomavam seus lugares. Eu andei até ela e a abracei. Ela pausou por um
momento, chocada pela minha demonstração incomum de afeto.

“Obrigada novamente pelo carro,” eu sussurrei. “Todos o acham


incrível.”

Julianne me abraçou de volta. “Eu tentei evitar ser substituta,” ela disse
baixinho no meu ouvido.

Eu me afastei. “É meio legal te ver no meio do dia.” Eu disse com um


sorriso e fui para minha mesa. Quando me sentei, a expressão de Julianne era
indecifrável. Ela estava perdida em pensamentos, até que um sorriso tocou
seus lábios e ela continuou, cumprimentando os alunos que continuavam
entrando na sala.
Dirigi para o mural com diversos pesares a tiracolo, eu estacionei na
antiga pizzaria ao lado da Chevy de Weston. Ele estava ali de pé com as mãos
nos bolsos e um sorriso no rosto.

O sol estava alto no céu, lançando uma sombra fraca ao longo do trecho
de concreto onde os outros estudantes estavam em pé com os pincéis nas
mãos. Sra. Cup olhou por cima do ombro, observando minha chegada com um
pequeno aceno de cabeça.

"Por que você demorou tanto?” perguntou Weston. "Você devia tá bem
atrás de mim."

"Eu peguei um sinal vermelho. E eu dirijo devagar."

"Um caracol poderia vencer você."

"Não sinto vergonha" eu disse, caminhando em direção á parede de


tijolos.

Eu mergulhei meu pincel em um pequeno recipiente de tinta verde e


comecei a preencher os lugares onde a velha pintura estava descascando.
Weston fez o mesmo com uma cor diferente.

"O que você vai fazer depois do trabalho?" Perguntou.

"Eu... acho que preciso ter uma conversa com Julianne."

"Oh? Isso parece ser um pouco sério.”

"É. Espero que não. Talvez.”

"Sobre o quê?"
"Algo que eu fiz."

Ele hesitou, fazendo alguns traços com seu pincel. "Eu quero saber?"

"Provavelmente não."

"Diga-me de qualquer jeito."

"Eu... É ruim."

"Será que você destruiu o carro?"

"Não."

"Será que você a roubou?"

Estiquei o pescoço pra ele. "O quê?"

Ele se virou e deu de ombros, parecendo chocado com ele mesmo. "Eu
não sei por que disse isso. Minha mente está acelerada, imaginando que coisa
séria você precisa falar com ela. Eu não acho que você iria rouba-la. Ou
qualquer um.”

Eu assenti, satisfeita, mas a expressão satisfeita desapareceu. "É quase


tão ruim."

"Jesus, Erin, diga-me."

"Eu... entrei no quarto da Alder."

Suas sobrancelhas se ergueram. Olhei para o cimento debaixo dos


meus sapatos e respirei uma lufada de ar. "Eu vi seu vestido de formatura. É
lindo."

Ele balançou a cabeça. "Branco. Ela me contou sobre isso.”

"Ela tem dezenas de diários em uma caixa no fundo de seu armário."

"Você leu?" Ele perguntou subitamente preocupado.


Eu balancei a cabeça, minhas bochechas pegando fogo.

Ele começou a pintar de novo, mas não respondeu.

Eu esperei e quando o silêncio ameaçava minha sanidade, eu virei para


ele. "Diga."

"Dizer o quê?"

"Que isso é errado."

"O que eles falavam?" Perguntou. "Quando foi o último registro?" Ele
manteve os olhos na parede, mas suas perguntas estavam tingidas com
preocupação.

"Eu não li muito. Apenas algumas anotações. Eu me senti mal o


suficiente para lê-los. Eu me sentiria pior se eu dissesse o que ela escreveu.”

"Qualquer coisa sobre mim?"

"Talvez. Eu não sei. Elas eram vagas.”

"Eu não tenho que lhe dizer que é errado, Erin. Tudo está na expressão
do seu rosto. Apenas... Não. Não leia.”

Ele estava certo. A argumentação era inútil. Mas pela minha visão
periférica eu o vi se mexendo, o que me deixou curiosa.

"Ela tem alguns realmente velhos. Talvez ela tenha escrito sobre por que
ela e Sonny pararam de falar comigo."

"Elas pararam de falar com você porque elas eram umas vadias." Ele
retrucou. "Mesmo no ensino fundamental."

"Será que Alder nunca falou com você sobre isso?"

Ele derrubou o pincel. Ele tentou saltar para trás, mas a tinta verde
espirrou em sua calça jeans e tênis.
"Droga!" Ele rosnou, erguendo as mãos.

"Consiga um pano molhado", Sra. Cup, disse rápido. Ela tentou ajudar,
mas a pintura só manchou mais.

"Posso ir para casa e tentar tirar isso?"

A Sra. Cup olhou para o relógio. "Nós só temos mais vinte minutos.
Pode ir. Não corra."

Weston assentiu, em seguida, me abraçou e tocou os lábios na minha


bochecha, deixando sua boca demorar um pouco mais contra a minha pele.

"Não leia mais, Erin. Ela se foi. Nada disso importa mais."

Ele caminhou rapidamente até sua caminhonete e ligou o motor. Ele


seguiu para a rua, mesmo depois de alguns segundos, eu ainda podia ouvir
seu motor.

Um gemido frustrado emanou da garganta da Sra. Cup. "Meninos."

Depois de mais um dia produtivo no mural, a Sra. Cup nos liberou cinco
minutos mais cedo. Eu dirigi direto para o Dairy Queen, estacionando ao lado
do Taurus da Frankie.

A porta da BMW mal tinha batido quando ouvi gritos de Frankie.

"Mas que porra é essa?" Ela perguntou, apontando para o meu carro.

Eu andei em direção a ela com um sorriso tímido. "O meu carro."

"Seu carro? Seu carro? Sam e Julianne compraram uma BMW? Não
responda a isso, a resposta é óbvia, mas Santa Mãe, Erin!” Ela disse,
seguindo-me para a porta dos fundos.

Eu coloquei meu avental sobre a minha cabeça e o amarrei nas costas.


"Eu sei. Acredite em mim, eu sei. Então... eu posso falar com você um minuto?”
Toda emoção deixou o rosto de Frankie, e ela me olhou por um
momento. "Yeah?"

"Julianne quer que eu... Ela me pediu pra pedir a Patty, uh... para
trabalhar menos horas." Frankie me observou por um momento.

"Você está se demitindo?"

"Nããão." eu disse enfaticamente prolongado. "Ela disse algo sobre


aproveitar o meu último ano e o verão. Ela quer que eu peça pra Patty para não
trabalhar fins de semana e reduzir minhas horas no verão."

"Você está bem com isso?"

Eu dei de ombros.

"Quero dizer." Disse ela, encolhendo os ombros também, "É claro que
você está. Que adolescente não iria querer mais tempo livre? Yeah. Quer dizer,
eu vou deixar Patty saber que você quer falar com ela, mas eu entendo.”.

"Você está chateada."

Ela fez um gesto com a mão. "Claro que não. Nem um pouco.”

"Eu sei que Patty pode ter que contratar alguém novo. Vou ficar até que
seja treinado."

"Eu vou fazer isso. Não é nada demais.”

"Você está estranha."

"Não estou."

Uma menina com chocolate em seu rosto veio até a janela. Quando
Frankie a ignorou, ela bateu nele.

Frankie olhou para ela e colocou a mão sobre o vidro para bloquear a
visão dela. "Cai fora, MilkyWay, nós estamos conversando."
"Frankie!" Eu disse, franzindo a testa. Abri a janela e peguei seu pedido.
Sua mãe estava esperando em uma minivan, olhando para o meu carro.

Depois de entregar-lhe as duas casquinhas cobertas de chocolate e um


Blizzard M&M eu fechei a janela e cruzei os braços. "Você está chateada."

Frankie estava ocupando-se com a limpeza da bancada impecável. "Eu


não estou chateada. Estou desapontada. Não com você. Sempre foi você e eu,
você sabe? Temos sempre estado no mesmo barco. Presas aqui.”

"Gosto de trabalhar no Dairy Queen."

"Eu aposto que você não diria isso se tivesse com a minha idade."

"Patty gosta."

"Patty é a dona."

"Oh Wow."

"O quê?"

"Patty acabou de chegar.”

O sorriso de Frankie me levou a atirar um copo vazio nela. Sua boca se


abriu e o rosto de Frankie fez o alegre sorriso inicial de Patty desaparecer.

"Boa tarde, senhoras. Tudo ok?"

Frankie se abaixou para pegar o copo. "Princesa Alderman tem um


pedido."

Desta vez o meu queixo caiu.

Patty não mexeu a cabeça. Em vez disso, seus olhos ficaram mudando
entre nós. "Parece que é um bom dia pra eu parar por aqui. Eu só estava vindo
lhe avisar que a minha sobrinha estará ajudando neste verão." Ela virou-se pra
mim. "Eu vi Julianne no outro dia e ela mencionou estar esperando que você
gaste um pouco mais tempo em casa. Ela falou com você sobre isso?”

Eu assenti.

Patty piscou. "Nós temos tudo resolvido, sunshine." Ela virou a cabeça
para o lado. "Se manda."

Minha cabeça se moveu para frente com os olhos arregalados. "O quê?
Agora?"

"Sim! Eu cubro o seu turno de hoje”.

"Oh não, Patty. Obrigada, mas eu te avisaria com mais antecedência do


que isso.”

Ela deu uma risadinha. "Não tem problema, contanto que você esteja
bem com isso. Eu já tinha discutido com Julianne e estamos preparadas. E ela
está certa. Você trabalhou bastante. Agora vai ser uma criança, enquanto você
ainda tem um pouco de tempo.”

Olhei para Frankie, que parecia perdida. "Ela está certa." disse ela. "Vai,
mocinha. Te mando mensagem com seus novos horários depois que eu e Patty
conversarmos."

O impulso de me mover não veio. Eu só estava ali, pasma.

A expressão de Patty se tornou de desculpa. "Você não tem que sair. Eu


não estou te chutando para fora. Julianne sugeriu e eu presumi já que Frankie
disse que você tinha algo pra falar comigo que era isso. Era isso?"

Eu assenti.

Ela sorriu. "Ok, então. O que você está esperando? Vá pegar um


refrigerante no Sonic, ou pegue uma casquinha coberta para o Weston. Eles
ainda estão treinando, não estão?"
"Mais um pouquinho. Eles têm o seu último jogo daqui a duas semanas”.

Patty olhou pra Frankie. "Certifique-se de deixar ela de fora da agenda


nesse dia. Fins de semana também."

Frankie concordou.

"Não sei." Eu disse pra Frankie.

"Eu sei." disse ela. "Não seria justo para mim, colocar todo peso em
você. Eu disse antes que você deveria aliviar suas horas. Não sei. Eu acho que
não pensei que você realmente faria. Eu só vou sentir sua falta.”

Patty estendeu a mão. "Eu preciso de seu avental, Erin. Tenha um bom
resto de dia!"

Eu desamarrei os cordões pretos das minhas costas e puxei a alça


sobre a minha cabeça, entregando meu avental a Patty.

"Você ainda vai me manter na agenda, né? Eu não estou despedida?"

"Claro que não, boba!" Ela disse, me golpeando brincando na bunda


com o avental.

Um carro parou no estacionamento, e Patty virou as costas pra mim,


abriu a janela e cumprimentou a família andando em direção a ela.

Frankie sorriu para mim. "Vejo você na próxima semana. Eu estou bem"
disse ela com um sorriso forçado. "Sinto muito. Isso foi estúpido.”

"Ok. Vejo você em alguns dias."

Por alguma razão, eu peguei um desvio pra casa para passar pela casa
de Gina. Parecia a mesma. As janelas ainda estavam sujas, a porta de tela
ainda estava pendurada errada, á varanda ainda precisava de uma pintura, o
muro do quintal ainda estava quebrado. Eu me perguntei se ela tinha deixado
meu quarto do jeito que estava, ou se ela tinha vendido tudo. Nada parecia ter
mudado lá. Eu me perguntei se ela se importava o suficiente comigo que ela
nem quisesse olhar para as minhas coisas, ou se ela estava tão aliviada por se
livrar de mim que ela queria se livrar de qualquer lembrança minha também.

A porta da garagem fechou lentamente atrás da BMW e eu apertei o


botão para desligar o motor. Silêncio. Silêncio absoluto. Só eu, a garagem, e o
cheiro de carro novo.

Julianne abriu a porta de trás com um grande sorriso. "Você está em


casa cedo! Conseguiu falar com Patty?"

Peguei minha mochila e fechei a porta do lado do motorista atrás de


mim, balançando a cabeça enquanto eu passava por ela, indo direto para o
meu banquinho habitual na ilha da cozinha. Ela me seguiu e encostou-se ao
fogão com seus braços cruzados.

"O que houve florzinha?" Ela perguntou. "Patty não estava chateada,
estava?"

Eu balancei minha cabeça. "Ela disse que você já tinha falado com ela
sobre isso."

Julianne encolheu. "Oh Deus, Erin, espero que esteja tudo bem. Eu não
quis dizer que ela tinha que reduzir suas horas. Eu apenas disse a ela que eu
esperava que você quisesse e que eu ia falar com você sobre isso”.

"Está tudo bem. Eu estava indo falar... Ela só falou antes de mim.”

"Oh. Então... você não está chateada comigo?”

"Não. Mas eu preciso te dizer uma coisa. Eu acho que você vai ficar
chateada comigo."

"Oh?" Ela disse de repente preocupada.


"Eu ia esperar até Sam chegar em casa para que eu pudesse dizer aos
dois."

"Ele tem um caso até tarde."

"Então eu vou te dizer, talvez você possa dizer a ele?"

Ela assentiu e deu alguns passos até que ela pudesse colocar as
palmas das mãos no granito da ilha.

"Eu, hum... Eu entrei no quarto da Alder. Estava curiosa, não que isso
seja uma desculpa. Mas eu vi a caixa cheia de diários."

Julianne não reagiu. Ela apenas ouviu.

"Eu li um. Não tudo. Mas eu li algumas coisas.”

Julianne abaixou a cabeça, e depois de alguns segundos, ela enxugou


os olhos com seu pulso.

"Sinto muito. Eu não deveria ter feito isso. Eu não vou entrar em seu
quarto novamente. A pior parte é que eu sabia que era errado, mas eu fiz,
mesmo assim.”

Julianne olhou para mim com os olhos molhados. "Você não é a única."

"Perdão?"

"Eu sempre soube que ela mantinha diários. Estive lendo eles também,
desde que ela morreu. A curiosidade é uma enorme armadilha, não é?" Ela
disse encabulada. "Mas, Erin... Você não deveria ler mais. Você não vai
gostar.”

"Você parece com o Weston." Eu disse, olhando pra longe.

"O que você quer dizer?"

"Ele disse a mesma coisa. Que eu não deveria ler mais. Ele agiu muito
estranho sobre isso."

"Sério? O que mais ele disse?”


"Nada demais."
Ela estava inquieta. "Ele veio aqui hoje."
"Ele o quê?"
"Ele me disse que você estava lendo os diários de Alder, me disse para
dizer-lhe pra parar."
Weston tinha deixado a aula de arte para fofocar sobre mim? Tinha que
haver uma razão pra que ele não quisesse que eu lesse os diários. Ele não
tentaria apenas me colocar em problemas com Julianne. Algo estava lá dentro,
que faria me machucar, ele sabia disso.
"Por que ele faria isso?"
Ela olhou para baixo, incomodada. "Alder é diferente do que
pensávamos Erin. Algumas das coisas que ela escreveu são... perturbadoras.
Ela sabia coisas. Coisas que Sam e eu não tínhamos ideia. E..." Ela balançou a
cabeça. "Eu não li todos eles. Foi muito difícil. Não contei a Sam. Eu não tenho
certeza de como ele reagiria.”
"Eu vou manter isso entre nós."
"Obrigada." Ela disse aliviada.
"Julianne? Existe alguma coisa sobre mim lá? Quero dizer que eu
deveria saber.”
Ela hesitou. "Sim."
"Posso ler?"
"Eu não sei como responder a isso, querida."
“Eu acho que... Eu acho que tenho.”
Meu tênis Converse preto bateu contra as arquibancadas enquanto eu
subia até o topo. O time de beisebol estava correndo nas laterais do campo,
suas camisetas encharcadas de suor e seus rostos vermelhos. Eu não estava
sentada por mais de cinco minutos, quando o treinador Langdon encerrou o
treino, e eles correram para a cabine.

Após uma breve reunião, eles começaram a se dirigir para o


estacionamento, incluindo Weston. Após alguns minutos, ele correu de volta,
olhando para onde eu estava sentada. Ele correu para cima das
arquibancadas, pulando os degraus de dois em dois, até que ele me alcançou.

Seus braços me envolveram, e ele pressionou os lábios contra os meus.


Sua pele estava coberta por um fino brilho de suor, mas ele poderia até estar
coberto de lixo tóxico que eu ainda não reclamaria.

"Eu estava me preparando para ir ao outro lado da rua, e vi seu carro no


estacionamento. O que você faz aqui?"

Dei de ombros. "Pensei em assistir você treinar já que não te restam


muitos."

Ele olhou para o campo. "Não acredito que esse é o meu último ano. Eu
vou sentir falta. Da maior parte. Baile. Formatura. Então acabou."

"Você já conversou com seu pai sobre Dallas?"

Ele balançou a cabeça. "Ele está muito animado com Duke, Erin. Cada
vez que penso em falar sobre o assunto, não parece ser o momento certo."
"Não tem uma hora certa para algo assim, e você vai esperar até não ter
mais tempo."

"Talvez ele tenha razão. Talvez Duke seja o melhor pra mim."

"Então você quer ser advogado?"

Seu rosto se contorceu em desgosto. "Não."

"Weston," Eu disse, virando seu rosto sujo, suado na minha direção.


"Você tem que dizer a eles. Você só tem uma vida. Uma chance. Não a
desperdice com o sonho de outra pessoa."

Seus olhos dançaram para frente e para trás através dos meus. "Meu
Deus, como você é linda."

Olhei para baixo, envergonhada.

"Você já tem com quem ir ao baile?"

Atirei-lhe um olhar. "Você sabe que eu não tenho."

"Você vai comigo?"

Eu balancei minha cabeça. "Nós já falamos sobre isso."

"Isso foi quando você não tinha Julianne Alderman como mãe. Ela vai
ajudar você a encontrar um vestido."

"Não posso lhe pedir para me comprar um vestido."

"Você não precisa. Somente diga a ela que eu convidei você para o
baile."

"Eu não danço", eu disse me contorcendo.

Ele segurou meu colar entre seu polegar e dedo indicador. Se inclinou e
o beijou, depois subiu para o meu pescoço.
Eu suspirei, movendo meu queixo para o lado, esticando o pescoço um
pouquinho para lhe dar melhor acesso.

Ele se afastou e franziu a testa.

"O que foi?" Eu perguntei surpresa com a reação dele.

"Você não esta cheirando sorvete."

Eu ri. "Eu mal trabalhei hoje. Patty assumiu meu turno, e minhas horas
foram reduzidas para eu ter mais tempo livre. Pedido da Julianne."

Um lado da boca de Weston se levantou, e então sua boca esticou em


um completo sorriso.

"Obrigado, Julianne". Ele olhou para os meus lábios e em seguida, se


moveu em minha direção, beijando-me suavemente primeiro. Sua boca se
abriu e saudei sua língua com a minha.

"Por favor, vá ao baile comigo." Ele sussurrou contra minha boca. "Não
quero ir sozinho. Não quero ir com mais ninguém além de você, e este é meu
último ano. Eu não quero perdê-lo. Mesmo que seja só para ficarmos tempo
suficiente para posar pra uma foto estúpida."

"Eu entendo seu dilema, mas eu realmente não quero ir."

"Bem," ele disse, seus lábios se moveram para o meu ouvido, "Às vezes
nós temos que fazer coisas que não gostamos. É uma boa lição para a vida.”.

"Você está certo. Se você contar para seu pai sobre Duke, então eu vou
ao baile com você."

Ele se sentou, chocado com a minha proposta. "Isso não é justo, Erin."

"Você disse..."
"Eu sei o que eu disse. Mas o baile e irritar o meu pai não são
exatamente a mesma coisa."

"É parecido."

Seus olhos se estreitaram. "Você vai ao baile se eu disser que quero ir


pra Dallas? E se ele disser não?"

"Isso é entre você e o seu pai. Mas se você contar, eu vou."

"Negócio fechado".

"Sério?" Eu disse, me sentindo enjoada de repente.

"É melhor você começar a procura um vestido agora."

Eu engoli em seco.

Nós nos levantamos, e Weston entrelaçou seus dedos aos meus,


descemos os degraus até o meu carro.

"Por que você não me segue até em casa? Meus pais não vão estar lá
por algumas horas."

"Lembra-se do que Sam disse?"

Ele assentiu. "Ele disse para eu ficar longe da esposa de alguém. Mas
você não vai ser a esposa de outra pessoa."

"Vá com calma, Speed Racer."

"Você sabe o eu quis dizer," ele disse abrindo a porta.

"Vejo você em um minuto", eu disse entrando na BMW.


Fiquei ali deitada, descansando contra o peito nu de Weston, envolvida
em seus braços. O ventilador de teto estava girando acima de nós, e a imagem
que ele tinha desenhado de mim estava sobre as nossas cabeças.

"Eu amo que você use isto todos os dias", disse ele tocando meu colar.

"Eu amo que você tenha me dado."

"Eu te amo."

Fiquei parada, me perguntando se ele tinha acabado de dizer, o que ele


realmente tinha acabado de dizer. Ele já tinha mencionado antes estar
apaixonado por mim, mas nunca tinha dito isso. Não tão direto. Não em voz
alta.

"Erin?"

"Estou contente."

"Você está contente." Ele disse categoricamente.

Fechei meus olhos, sabendo que eu o tinha magoado. "Eu quero dizer
isso. Só que parece estranha."

"Você diria?"

"Acho que sim."

"Você acha que sim."


"Pare de fazer isso." Eu disse, sentando-me e colocando meus braços
pelas alças do meu sutiã, e então minha camisa pela cabeça.

Ele suspirou claramente magoado com o rumo da conversa.

"É assustador, Weston. Mesmo se você for para Dallas, você vai estar a
cinco horas de distância. Nós vamos viver vidas separadas. Ninguém fica junto
quando vão para faculdades diferentes."

"Você não sabe." Ele franziu a testa. "Por que você tem que ser tão
negativa? Vamos nos ver tanto quanto pudermos. Vamos nos falar pelo
telefone todas as noites. Nós vamos ficar juntos, e então você vai me visitar e
se apaixonar por Dallas e vai se mudar pra lá depois que se formar."

"É assim?"

Ele se sentou contra a cabeceira da cama. "É."

"Eu não estou sendo negativa. Estou sendo realista. Eu não quero que
nenhum de nós sofra."

"Se não ficarmos juntos, eu vou sofrer. Isso vai me destruir. Eu não
quero mais ninguém."

"Weston, você tem dezoito anos. Você não sabe o que quer."

Ele se levantou e colocou seu jeans. "Você definitivamente não sabe o


que eu quero."

Acabei de me vestir e amarrei meus tênis. "É apenas bom senso. Nós
vivemos num aquário aqui, mas existem milhares de mulheres jovens e bonitas
em Dallas."

"Só tem uma... você." Estávamos em lados opostos de sua cama,


encarando um ao outro. Ele deslocou o peso dele, nervoso. "Você está... Você
está dizendo isso porque está pensando em conhecer alguém em Stillwater?"
"Não!"

"Me parece que você está mantendo suas opções em aberto."

"Deus, Weston, não é nada disso."

Sua respiração falhou, e ele olhou ao redor no chão, então viu a


bombinha na sua mesinha de cabeceira e a agarrou. Ele a agitou e, em
seguida, deu uma inalada.

"Por que está tão nervoso? Por que temos que falar sobre isso agora?"

"Eu meio que gostaria de saber se a garota que eu amo me vê como


algo temporário."

"Blackwell é temporário."

"Eu nem vou ficar aqui!"

"Eu sei! Só não estou fazendo promessas que não posso cumprir."

"Bem, isso é ótimo. Obrigado, babe."

Meus ombros caíram. Ele estava jogando sujo. "Eu tenho que ir para
casa." Eu contornei sua cama até a porta, mas ele parou na minha frente. Ele
respirou fundo, tocou meus braços e pressionou sua testa contra a minha...

"Dever de casa?"

"Tipo isso."

"O que isso significa?"

"Eu quero ler os diários antigos da Alder. Eu quero saber por que elas
pararam de falar comigo."

Ele paralisou. "Eu pensei que você não iria ler mais".

"Eu mudei de ideia. Julianne meio que não se importa."


"O quê?" ele gritou.

Inclinei-me para longe dele, atordoada pela sua resposta explosiva.

"Eles não são da sua conta, Erin. Isto é errado, e você sabe disso!"

Eu pisquei e então cerrei os dentes. "Saia da frente."

"Tudo bem". Ele deu um passo para o lado, sai furiosa, passando por
Veronica no caminho.

"Erin?" ela disse.

"Sinto muito, eu tenho que ir."

Quando cheguei ao meu carro, Weston me alcançou, respirando com


dificuldade.

"Não leia os diários, Erin. Só não leia...”.

"Por que não? O que você tem medo que eu descubra?"

Seus maxilares se moveram sob a pele, e ele engoliu em seco.

Depois de alguns segundos sem resposta, entrei no meu carro e fui para
casa.

Eu estacionei e subi as escadas, direto para o quarto da Alder.

"Erin?" Julianne chamou atrás de mim.

Fechei a porta e inclinei-me contra ela, sem fôlego. A porta do closet da


Alder estava fechada, olhei para ele, sabendo agora que certo ou errado, eu
tinha que lê-los. Eu precisava saber o que era tão terrível que Weston não
queria que eu continuasse.

Eu marchei e abri a porta, arrastei a caixa para fora do closet para o


meio do quarto dela. Peguei todos eles, um por um, até que cheguei ao diário
de plástico, lendo sobre descrições dos seus sonhos e dos garotos que ela
gostava. Quando terminei de ler esse diário, mudei para os fichários. Eu queria
pular para o diário do nosso quinto ano. Foi quando elas tinham parado de falar
comigo, mas eu me forcei a ler um de cada vez.

A fadiga começou aparecer quando eu abri um diário de plástico


amarelo, intitulado 5ª ANO. Qualquer menção de mim era como antes. Nós
ainda éramos amigas. Ela ainda gostava de mim. Em algumas ocasiões, ela
falou sobre pedir aos pais dela se Sonny e eu poderíamos nos juntar a eles nas
suas férias em família, e Sam e Julianne estavam considerando isso. Virei á
página para a data que eu estava procurando.
A maioria das menções seguintes era sobre o quanto elas me odiavam e
as maldades que faziam ou diziam para mim. Os pais da Sonny nunca tinham
se divorciado, então presumi que tinham chegado a um acordo, mas só depois
de ler os diários que eu entendi completamente. O pai da Sonny e a Gina
tiveram um caso. Harry tinha engravidado Gina. Fechei o diário. As Erins eram
meia irmã.

É por isso que elas me odiavam. Elas tinham achado que Gina e eu
quase fizemos os pais de Sonny se divorciarem.

"Gina", eu sussurrei, virando as páginas.


Era sobre isso que Carolyn estava falando no restaurante. A filha de
Gina tinha sido uma lembrança, um objeto no qual Carolyn poderia direcionar
sua raiva. Depois do acidente Carolyn descobriu que ela tinha recebido a filha
ilegítima de Harry em sua casa, levou-a em viagens de férias e comprou-lhe
presentes de natal e aniversário. Em uma estranha reviravolta do destino,
Harry ajudou a criar a sua própria filha, mesmo quando ele pensava que estava
ignorando-a para salvar o casamento.

Meus pensamentos viajaram até Gina. Os pais da Sonny eram bem mais
velhos do que ela. Ele era co-proprietário de uma fábrica próspera nos
arredores da cidade. Ele devia estar por volta dos trinta anos quando Sonny
nasceu - quando todas nós nascemos. Gina não tinha idade suficiente para
comprar bebida alcoólica quando ela ficou grávida, e ela nunca falou sobre o
homem que achávamos que era meu pai.

Uma súbita simpatia recaiu sobre mim, fazendo-me sentir tão pesada
que me sentia presa ao chão. Estava tão zangada com ela, mas a verdade era
que ambas sabíamos como era ser odiada por todos. Não ter ninguém.
Aprender desde cedo que a melhor defesa era afastar todo mundo, mesmo
aqueles que tentam ajudar. Ela estava muito devastada para ser minha mãe;
não era que não queria ser.

Conforme se passavam as datas, Alder escrevia menos sobre Gina e


mais sobre o quanto elas me odiavam. Quanto mais velha Alder ficava, melhor
ela explicava os relatos de Sonny das brigas periódicas de Harry e Carolyn
sobre a Gina - geralmente perto de nosso aniversário - e no ensino médio, ficou
claro para Carolyn que a filha de Gina sempre seria um lembrete da
infidelidade do marido, e ela me odiava por isso - assim como as Erins.

Ela também escreveu sobre me observar olhando para Weston e pegar


Weston me olhando – várias vezes. Meu estômago começou a doer.
Uma batida soou na porta.

"Erin?" Julianne disse antes de espiar. O cabelo dela não estava macio e
brilhante. Estava embaraçado e emaranhado em vários lugares de sua cabeça.
Seu rosto estava brilhante e livre de maquiagem, e seu pijama floral rosa
estava a maior parte coberto por um longo robe fino. "Oh, querida. São três da
manhã. Você não acha que talvez devesse fazer uma pausa?"

Foi então que percebi que meus olhos pareciam secos, ásperos e
inchados sob minhas pálpebras e a pele em torno deles estava pesada e
apertada ao mesmo tempo.

"Estou quase terminando."

"O-ok," ela disse. "Weston ligou algumas vezes mais cedo. Ele disse que
você não estava atendendo seu celular."

"Ainda está no meu carro, eu acho."

Os lábios dela formaram uma linha firme, e ela ofereceu um sorriso


compreensivo. "Você é uma página em branco, Erin. Talvez você não devesse
preenchê-la com palavras da Alder."

"Você sabia? Sobre Gina?"

Ela assentiu. "Acho que todo mundo sabe."

Fechei os olhos. "Não me admira que Gina estivesse com raiva. Ela
estava sozinha e culpada e odiada, e tudo que ela tinha era a mim como um
lembrete."

"Não é você. Não foi você. Você foi concebida com amor e nada mais.
Você é nossa."

"Todo mundo estava errado."


"Sim, eles estavam."

"Não. Eles a deixaram com toda a culpa, e ele ainda tem sua família e
sua reputação. Não é justo."

"Não, não é. Sinto muito se Sonny e Alder descontaram em você."

"Eu preciso vê-la. Não sei por quê. Eu não estou pronta ainda, mas eu
preciso falar com ela sobre isso."

A preocupação despertou nos olhos de Julianne. "Oh, ok. Eu, hum... eu


entendo."

Meus olhos caíram para o diário no meu colo, e Julianne fechou a porta.
Descansei meu queixo no meu punho enquanto eu virava ás páginas dos
diários de Alder do ensino médio. Ela sabia que eu gostava do Weston, e essa
foi á única razão dela ter o perseguido. Ela escreveu sobre perder a virgindade,
mas para minha surpresa absoluta, não foi com o Weston. Ela estava traindo
ele com Eric Liberty. Meu rosto se contorceu de desgosto. Eric era um
desengonçado, maconheiro, espinhento, que tinha sido preso duas vezes, e
então largou o ensino médio totalmente, e ela estava apaixonada por ele, não
por Weston.

O céu estava mudando lá fora da janela da Alder. Eu olhei para o seu


despertador. Era quase seis da manhã.

Eu virei á página, lendo sobre a primeira semana do nosso último ano.


Página após página, eu li sobre minha miséria através de seus olhos, e o
quanto ela gostava de infringi-la. Era uma das únicas coisas que trazia alegria
a ela. Ela odiava Blackwell, sua casa, seu carro e às vezes Sam e Julianne.
Seus desejos incluíam, se casar com Eric e mudar-se para São Francisco.

Seu primeiro registro em outubro fez o meu sangue gelar.


Minhas mãos começaram a tremer, e fechei o diário, deixando-o no chão
com os outros.
Meu colchão mal fez barulho quando eu me choquei nele, enterrei minha
cabeça no travesseiro. Embora eu não acreditasse que era verdade, Alder não
mentiria no próprio diário. As Erins estavam planejando um ultimo momento
perverso e humilhante para mim antes da formatura, e Weston ia ajudá-las. A
imagem que ele tinha desenhado de mim, o colar, a atenção e a falsa
gentileza, era tudo parte do plano de me envergonhar na frente da escola
inteira.

Meu travesseiro estava encharcado de lágrimas. Depois de tudo que


eles me fizeram passar, como pude ser tão ingênua? Como pude confiar que
de repente Weston teria algum interesse em mim sem motivo? As noites no
viaduto, conversas até a madrugada, perder minha virgindade... Era tudo parte
do plano. Talvez a ideia não fosse de Weston, mas ele estava junto com elas, e
Alder estava só fingindo ter ciúmes porque ela sabia que não era real. E
mesmo que fosse ela não se importava. Ela estava secretamente planejando
ficar com Eric de qualquer jeito.

Fiquei tentando arrumar desculpas para Weston, tentando pensar em


algo que o tornaria um expectador inocente, mas estava tudo lá em seus
diários. Uma última facada em mim, mesmo depois de sua morte. Não me
admira que Weston não quisesse que eu os lesse... Ele sabia exatamente o
que eu encontraria.

Por que ficou comigo depois que Alder morreu? Por que continuar com a
farsa? E então me ocorreu: ele me convidou para ir ao baile. Ele ia realizar o
plano dela. Ele era apaixonado por ela, e ele estava determinado a realizar seu
último desejo.

Quão maldoso alguém teria que ser para aceitar fazer uma coisa assim?
Eu sabia que as Erins eram más, mas Weston... Era sobre isso que o Brady
estava falando. Ele sabia o que o Weston estava fazendo. Eu tinha me dado
para alguém assim. Deixei ele me tocar. Colocar sua boca em mim. Me
penetrar.

Corri para o banheiro, tirei o colar da minha pele, joguei-o em uma


gaveta e então tirei a minha roupa. A torneira gemeu quando eu a torci, e a
água caiu. Eu entrei quando ainda estava gelada, desesperada para arrancar
qualquer traço de Weston de cima de mim. Fiquei debaixo da água enquanto
aquecia, esfregando e soluçando, com o sentimento totalmente destruído e
além de traído.

Senti minha pele esfolada e encharcada, então desliguei o chuveiro e


enrolei uma toalha em volta de mim. Uma batida fraca na porta do meu quarto
me fez endurecer. Julianne enfiou a cabeça, e o seu rosto caiu.

"Santo Deus, querida, você parece exausta. Você conseguiu dormir?"

"Eu estou acordada." Eu disse. "Bem acordada."


Sam e Julianne me encontraram na cozinha uma hora antes do primeiro
sinal tocar na escola. Ambos tinham expressões preocupadas e canecas de
café na mão.

“Eu sei que eu disse que eu queria poupar Sam dos detalhes, mas...”
Julianne começou. Mas não teve que terminar. Eu podia ver no rosto de Sam
que ele sabia o que fizemos.

“Eu venho tentando pensar em algo para dizer pra fazer você se sentir
melhor. Pais deveriam ser sábios, mas quando você é quem criou o
responsável...” Ele parou de falar, recuando de seus próprios pensamentos.

“Sam, isso não é culpa sua,” eu disse. “Não é culpa de Julianne. É, um


ciclo contínuo brutal.”

Ele caminhou ao redor da ilha e colocou os braços em volta dos meus


ombros. “Você faz muito fácil esquecer que eu estou falando com uma colegial.
Eu deveria fazer você se sentir melhor, não o contrário.”

“Ajudaria se eu disser que isso é uma droga?”

Ele ofereceu um pequeno sorriso. “Não, não depois do que Julianne


disse que estava nesses diários. Mas obrigado por tentar.”

“Claramente educação não tem nada a ver com comportamento,”


Julianne disse, esfregando a testa. “Você é uma pessoa tão doce, de bom
coração, Erin. Mesmo depois de tudo que você passou.”
“O que você vai dizer para Weston?” Sam perguntou, empurrando para
cima os óculos. A sutil elevação em seu nariz falhou em mantê-los onde eles
deveriam ficar.

“Você sabe sobre isso também?” Eu perguntei surpresa.

“Julianne me disse esta manhã. Ela queria que eu soubesse o que te


chateou tanto.”

Olhei para Julianne, seu suéter branco a fazia parecer o anjo que ela
era. “Eu acordei você?”

“Eu já estava acordada. Eu nunca ouvi você chorar daquela maneira. Eu


não acho que eu já ouvi alguém chorar desse jeito. Eu tinha que saber. Eu não
queria me intrometer, Erin, mas parecia importante demais para ignorar.”

Três batidas rápidas na porta e, em seguida, ouvimos a voz de Weston,


abafada pela porta. “Erin?” ele chamou, seu nervosismo era evidente.

Eu olhei para Sam.

Ele assentiu. “Eu cuidarei disso.”

Seus passos ecoaram pelo corredor de travertino11, e, em seguida, o


murmúrio começou.

“Apenas deixe-me falar com ela,” Weston disse, com a voz elevada. “Eu
posso explicar.”

Sam manteve a voz baixa.

“O que quer dizer com ela não quer me ver? Erin?” ele chamou
novamente. “Erin!”

“Weston.” A voz de Sam estava tensa, mas firme.

11
Tipo de piso de mármore
Os olhos de Julianne se arregalaram quando um tumulto podia ser
ouvido e ela correu para a porta da frente também. Eu abaixei minha cabeça e
apoiei em minhas mãos.

“Pare!” Julianne disse.

Suas vozes se acalmaram, mas o desespero na voz de Weston ainda


podia ser distinguido.

A porta fechou e Sam e Julianne voltaram para a cozinha, ambos com


expressões atordoadas.

“O que foi aquilo?” Perguntei.

Sam suspirou. “Ele queria entrar.”

“Ele te empurrou?” Eu perguntei, engolindo seco. Aparentemente eu não


conhecia Weston de modo algum.

Sam balançou a cabeça, claramente perturbado. “Não, não... Ele


empurrou a porta. Eu empurrei de volta. Ele só está chateado. Eu disse a ele
que vocês poderiam discutir isso mais tarde, mas para não te incomodar na
escola. Quer que eu ligue para o senhor Bringham?”

Eu balancei minha cabeça. “Por favor, não. Eu só quero que isso acabe.”

“Por que você não tirar o dia de folga comigo? Podemos ir às compras.
Ou ficar em casa e alugar filmes de comédia.” O sorriso artificial de Julianne
era estranhamente reconfortante. Ela estava sofrendo por mim, assim como
Sam. Empatia não era algo que eu estava acostumada, mas não havia nada
parecido. Nossa família parecia completa e real naquele momento, e pela
primeira vez, senti que pertencia a ali aquela cozinha, com as duas pessoas
que me amavam suficiente para ficarem acordados a noite toda se
preocupando, empurrando porta e ligando para o diretor. Eu pertencia a eles,
porque eu era deles.

Eu levantei e apertei ambos em um abraço apertado. “Só mais algumas


semanas. Eu posso passar por mais algumas semanas.”

Sam colocou sua mão grande suavemente na parte de trás do meu


cabelo, me puxando para ele.

Julianne se afastou para me olhar nos olhos, os dela enevoaram-se.


“Queríamos que suas últimas semanas de escola fossem diferente. Nós
queríamos tanto isso para você.”

“Eu sei.” Peguei minha bolsa do chão e pendurei-a por cima do meu
ombro. “Vejo vocês depois da escola.”

“Amo você,” Julianne disse.

O pequeno sorriso de Sam estava cheio de admiração e orgulho.

“Eu amo vocês também,” eu disse, andando em direção à garagem.

“O que mais podemos fazer?” Escutei Julianne dizer. “Eu preciso que as
coisas sejam melhores para ela.”

“Ela é a pessoa mais forte que eu conheço, querida. Ela não precisa que
consertemos isso para ela. Só vamos ama-la por isso.”

Eu sorri. Isso iria me carregar durante o dia.

Em biologia, já havia rumores de problemas entre Weston e eu. Sara


não perguntou, o que me pareceu estranho. Talvez fosse já evidente no meu
rosto, mesmo que eu estivesse conseguindo praticar o meu estoicismo 12
novamente. As cicatrizes que haviam formado ao longo dos anos foram

12
Rigidez ou fidelidade aos seus próprios princípios
facilmente trazidas de volta à superfície, mais forte do que nunca, porque desta
vez eu tinha um sólido sistema de apoio em casa. Eu sabia que não importava
o que aconteceu com Weston, eu teria sempre Sam e Julianne. Eles eram
meus. Para sempre.

Durante o segundo período, bem no meio da aula da senhora Vowel, a


senhora Pyles parou na porta com seu sorriso marca registrada.

“Eu preciso da Erin, senhora Vowel.”

A professora deixou cair o braço que estava escrevendo na lousa digital.


“Será que ela deveria levar suas coisas, ou ela vai voltar?”

A senhora Pyles olhou pra mim. “Vamos lá e pegue suas coisas.”

Eu fiz como pedido e segui pelo corredor revestido de acrílico, ganhando


olhares fixos dos alunos e professores em todas as classes que passamos.

“Eles acham que eu acertei na loteria,” eu sussurrei. “E, ao mesmo


tempo eles estão me julgando, pensando que estou me beneficiando da morte
de Alder. Cada coisa boa que acontece comigo fica distorcida.”

“Estou preocupada com você,” disse ela. “Aparentemente, o senhor


Bringham e a senhora Rogers estão também. Eles querem conversar com você
sobre como as coisas estão indo.”

“Sam ligou?”

“O senhor Bringham não falou mais. Por quê? Está tudo bem em casa?”

“Sam e Julianne são maravilhosos.”

Senhora Pyles pareceu aliviada. “Bom. Você merece nada menos.”

“Estamos indo para o escritório agora?”

Senhora Pyles assentiu.


“Eles te enviaram para me pegar?”

"É minha hora de planejamento. Ouvi à senhora Rogers pedir a um


aluno para enviar um bilhete para você vir ao escritório, e eu disse que iria
fazê-lo. Eu pensei que isto nos daria tempo para conversar. Eu vi que você tem
um carro novo. Isso é muito fantástico.”

“É incrível. Sam e Julianne já fizeram muito por mim.”

“Eles são pessoas tão boas. E, obviamente, de sorte também.”

“Sorte?”

“Por tê-la com eles novamente. Ter você de volta, mesmo depois de
perder Alder, deve ter sido um pouco mais fácil, você não acha?”

“Eu não sei. Eles realmente não falam sobre isso. Eu acho que eles têm
medo que seja injusto comigo falar sobre sentir falta dela.”

“Entendo. Faz sentido. Mas eles podem sentir falta dela e ainda estar
feliz por ter você.”

“Eles sentem. Eles estão. Eu não conheço ninguém que poderia lidar
com isso da maneira que eles têm. Ouço Julianne chorando no quarto de Alder
às vezes. Não muito. Deve ser muito difícil para eles, não ser capaz de se
lamentar normalmente.”

“É incomparável. Ao mesmo tempo triste e feliz. Mas todo mundo vê o


quão feliz você faz eles.”

“Você acha? Eu perguntei, parando em frente ao escritório.”

“Absolutamente.” Ela piscou para mim e abriu a porta.


A secretária, senhora Bookout, surgiu de seu assento. Ela mal era mais
alta do que a divisória que separava sua área de trabalho do resto da entrada
do escritório.

“Eu vou só dizer a eles que você está aqui,” disse ela.

Quando ela reapareceu, ela fez um gesto para eu entrar.

“Você vem?” Perguntei à senhora Pyles.

“Eu tenho que usar a máquina de Xerox e juntar algumas coisas para a
próxima aula.”

Com isso, ela andou por trás da divisória e pelo corredor para as áreas
administrativas, e eu entrei no escritório do senhor Bringham. Ele sentou-se
atrás de sua mesa com um meio sorriso, seus dedos entrelaçados na sua
frente. Senhora Rogers sentou-se em uma das duas cadeiras em frente de sua
mesa, igualmente feliz. Desta vez, o vice-diretor, o Sr. Mann, sentou-se na
reunião também. Seu avermelhado cabelo ralo e óculos quadrados
combinavam com seu suéter ferrugem.

“Eu espero que você não esteja nervosa, Erin. Nós só queríamos saber
como você estava. Como vão as coisas na nova casa? Se dando bem com
Sam e Julianne?”

“Eles têm sido incríveis. Eles me disseram outro dia que eles vão cuidar
das minhas despesas da faculdade.”

Senhora Rogers irradiou. “Isso é uma notícia fantástica, Erin. É


realmente. Estamos muito felizes por você. Parece que você está se
adaptando.”

“Eu estou feliz por mim também.”


Senhor Mann cruzou os braços e se inclinou contra a parede. “Suas
notas ainda estão boas. Estamos muito impressionados com a forma como
você lidou com tudo isso.”

“Obrigada.”

“Como estão às coisas com Gina?” Senhora Rogers perguntou


calmamente.

“Inexistente.”

Ela assentiu com a cabeça, claramente sem saber como reagir. “Todo
mundo reage de forma diferente. Isso deve ser difícil para ela também.”

“Na verdade, eu acho que ela está aliviada.”

“Oh,” Senhor Mann disse, balançando sua cabeça. “Eu não chegaria a
esse ponto. Você é uma ótima jovem, Erin. Nós só queremos que você saiba
que estamos aqui. Estamos torcendo por você. Coisas como esta... às vezes a
realidade bate quando não estamos preparados, e se você se encontrar
perdida, nós gostaríamos que você nos deixasse encontrar-lhe alguns recursos
para ajudá-la a compreender tudo isso. Porque é demais.”

Todos olharam para mim, como se estivessem esperando que eu


quebrasse.

“Não tem sido totalmente fácil. É muita coisa para assimilar. Mas nós
estamos levando um dia após o outro.”

“Tão bom ouvir você dizer nós,” senhora Rogers disse. “É importante ter
suporte em casa.”

“Eu concordo. Eu estava justamente pensando hoje o quanto isto


ajudou”.
Eles olharam um para o outro, aliviados e satisfeitos com nosso bate-
papo. Depois que nós tínhamos conversado sobre minhas notas, planos de
faculdade, e como impressionados eles estavam comigo, eles me liberaram da
sala, mas não antes do senhor Bringham oferecer uma cadeira a qualquer hora
que eu precisasse conversar. Agradeci a ele e me dirigi para o meu armário.

Seus positivismos e sorrisos me distraíram, então quando eu virei à


esquina e vi um Weston devastado em pé no meu armário, eu não estava
preparada. Fiz uma pausa e depois continuei determinada a passar pela
combinação do cadeado rapidamente e trocar meu livro de texto de Inglês pelo
meu livro de exercícios de álgebra II.

Ele não disse nada, só ficou a alguns centímetros de mim enquanto eu


virava o disco preto para trás e para frente. Coloquei meu livro de texto na
prateleira superior e tirei meu frágil livro de exercícios de álgebra. Quando
fechei a longa porta de metal e virei, Weston enganchou seu dedo na minha
camisa.

“Você leu seu diário deste ano, não leu?”

Eu não respondi.

“Eu sei o que você está pensando. Eu entendo que você me odeia
agora, e se eu fosse você, eu me odiaria também, mas, por favor, deixe-me
explicar. Você pode me dar um soco ou gritar comigo, se quiser, mas apenas
me ouça.”

Eu não me virei. Eu não queria que ele visse a vermelhidão que


escureceu meu rosto do queixo ao couro cabeludo.

“Sam disse para você ficar longe.”


“Mesmo se não tivéssemos duas aulas juntos, eu não posso ficar longe
de você.”

“Tente,” eu disse indo embora. Eu não olhei para trás.

Álgebra não me manteve tão ocupada como eu esperava. A ideia de


Weston olhando para a parte de trás da minha cabeça ou tentando falar comigo
durante a aula de saúde e a de arte me deixou nauseada. Tanto que eu mal
podia comer as batatas fritas de queijo que pedi no Sonic durante o almoço.

Os garçons entravam e saiam apressados pelas portas de vidro duplas


como formigas na boca do seu monte. Os carros estavam estacionados em
seus respectivos lugares em cada lado do restaurante drive-in. Todas as
caminhonetes e sedans tinham suas janelas abertas, os motoristas ou
esperando seu pedido ou apertando o botão na caixa de prata pequena sob o
sinal de menu esperando sua vez.

Meu BMW vermelho era o único veículo estacionado com a janela


fechada; meus pensamentos poderiam ter vaporizado as janelas. Gritar e socá-
lo? Eu senti como se eu estivesse gritando debaixo d'água toda a minha vida;
foi reconfortante manter meus sentimentos logo abaixo da superfície. A maioria
das pessoas não entenderia, mas as reações eram perigosas, como tentação
ou vício. Deixar alguém me afetar era dar o único controle que eu tinha, e
mesmo sendo Weston, abrir mão - até mesmo uma vez - da fortaleza que eu
tinha mantido durante tanto tempo foi uma ladeira escorregadia que eu estava
com muito medo de pisar.

Fugir do rumo agora não levaria a nada. A necessidade de Weston de


explicar, e fazer isto certo, era sobre ele, não eu. A justiça não era dele, era
minha. Eu tinha sido a única sobrevivendo desde o quinto ano.
Espanhol com a senhorita Alcorn foi como sempre, mas eu passei todo o
período me preocupando com o próximo. Weston se sentava bem atrás de mim
na aula de saúde, e eu temia quaisquer comentários maliciosos de Brady.
Desde a morte das Erins, ele não era tão vocal, mas ele ainda tinha seus
momentos.

Enquanto eu caminhava para a aula, Weston apareceu ao meu lado.


Caminhamos juntos em silêncio, e o ignorei quando me sentei. Parecia que
toda a preocupação que eu tinha tido uma hora antes foi em vão, até cinco
minutos antes do sinal de dispensa, quando dedos familiares roçaram minha
camisa.

“Erin,” ele sussurrou. “Por favor.”

“Pare de implorar, Gates,” disse Brady da parte de trás da classe. “Você


se tornou tão marica. Ela descobriu. Apenas desista de uma vez.”

Eu mantive meu rosto apontado para frente. Treinador Morris levantou o


olhar das notas. Seus olhos se lançaram para Brady e, em seguida, para
Weston.

“Há algum problema?”

Após uma breve pausa, Brady falou. “Sem problemas. Weston apenas
não deixa a Erin em paz, mesmo ela querendo que ele a deixe.”

Os olhos do treinador Morris moveram-se rapidamente para mim. “Isso é


verdade?”

Engoli em seco e então balancei a cabeça. “Eu não sei do que ele está
falando.”

Os dedos de Weston me tocaram novamente, e eu me inclinei para


frente.
Treinador Morris notou.

“Weston,” ele começou.

“Realmente não é nada,” eu disse, implorando-lhe com os meus olhos


para não chamar a atenção para mim.

O treinador considerou o meu pedido silencioso e atendeu, voltando


para seus papéis.

“Eu diria que Weston mentir para você, fingir gostar de você, fazer com
que você acreditasse que ele está afim de você o suficiente para você dizer sim
ao baile, para que Alder pudesse derramar sopa de merda sobre sua cabeça
na frente de todos é alguma coisa,” disse Brady.

Um suspiro coletivo ecoou por toda a classe, e então, os sussurros


começaram.

Fechei os olhos e, em seguida, me virei. Eu tinha que ver a expressão


no rosto de Weston por mim mesma. Eu precisava ouvi-lo negar.

Seus dentes estavam cerrados. Ele estava respirando pelo nariz, suas
narinas dilatadas. Ele se pendurou a sua mesa como se sua vida dependesse
disso, os nós dos dedos vermelhos e, em seguida, muito branco.

Eu podia sentir as lágrimas arderem em meus olhos.

“Diga que não é verdade,” eu sussurrei tão baixo que eu praticamente


respirei as palavras.

“Não é verdade,” Weston disse através de seus dentes.

“Você é um mentiroso maldito,” Brady disse da parte de trás, um sorriso


em sua voz. “Eu estava lá quando eles planejaram.”
Como se soubesse o que estava prestes a acontecer, o treinador Morris
saltou sobre sua mesa no momento exato que Weston deixou a dele.

Weston descontroladamente socou e agarrou Brady, bem na hora que o


treinador o segurou.

“Seu mimado, repugnante, miserável pedaço de merda!” Weston gritou.

Brady sentou de volta na cadeira, observando Weston com os olhos


arregalados.

Treinador Morris lutou com Weston todo o caminho para fora da sala de
aula, e momentos depois o sinal tocou. Os outros alunos reuniram suas coisas
e apressaram-se para fora pra que pudessem ver qualquer que fosse a cena
que estava acontecendo no corredor.

Sentei-me na minha mesa, imóvel, me sentindo ferida e exausta. Brady


estava arrumando a mochila devagar. Os pôsteres de anatomia e gráficos
seriam as únicas testemunhas de qualquer sal que ele estava prestes a
derramar em minha ferida.

“Erin,” ele disse, sua voz baixa e suave. “Eu sou um babaca. Eu trabalho
muito duro pelo título. Eu também sou baixo o suficiente para saber que a
melhor maneira de se vingar de Gates é indo ao baile comigo.”

Eu congelei. Isso não era nem mesmo a última coisa que eu esperava
que ele dissesse. Me chamar para o baile não estava em qualquer lugar no
espectro de coisas que Brady Beck poderia dizer para mim. Eu olhei para ele, e
pela primeira vez, ele não estava olhando para mim com ódio ou desprezo.

“Você... não tem um encontro para o baile?” Perguntei.

Ele tentou algo como um sorriso, mas acabou sendo um trivial, dar de
ombros, indiferente. “Ainda não.”
Após uma longa pausa, levantei, ainda encontrando seus olhos, mesmo
ele sendo uma cabeça mais alto do que eu. “Talvez seja porque todo mundo
acha que você é um mimado, repugnante, miserável pedaço de merda
também.”

Sai andando e não olhei para trás.


Tudo parecia do avesso. Até mais do que normal. Sam tinha
reorganizado sua agenda no hospital então estava mais em casa e como eu
trabalhava só algumas noites por semana no Dairy Queen, as horas depois da
escola eram gastas assistindo filmes com os meus pais no sofá, jogando
Monopoly na mesa da cozinha e levando Julianne a Ponca City 13 para comprar
prateleiras e a decoração do meu futuro dormitório.

Uma noite, sentada no sofá no meio de Sam e Julianne enquanto


assistia A Princesa Prometida, Sam estendeu os braços atrás dos meus
ombros para mexer no cabelo de Julianne. Que se apoiou em sua mão.

"Como vocês se conheceram?" Perguntei.

Eles olharam um para o outro, e Sam pausou o filme.

Julianne sorriu, mas Sam falou primeiro. "No ensino médio."

"Vocês são namorados desde o ensino médio?" Perguntei.

"Sim, somos." disse Julianne, olhando para Sam com o mesmo amor no
olhar que vi nas fotos do casamento.

"Mesmo na faculdade?"

"Sim" disse Sam. "Nós dois fomos para Universidade de Oklahoma."

"Oh," eu disse. Eu já sabia disso. Eu vi o diploma de Julianne


emoldurado no escritório.

13
Cidade localizada no estado norte-americano de Oklahoma
“Mas mal nos víamos. Eu estava no Kappa Kappa Gamma14, Sam era
Sig Ep15, e nós dois tínhamos que estudar muito. Tínhamos concordado que a
experiência universitária vinha primeiro, e se fosse para ser, acabaríamos
juntos. Experimentamos coisas sozinhos, mas as minhas melhores
recordações são das que experimentei com o Sam.”

Sam endireitou os óculos e sorriu. “De verdade?”

“De verdade.” Ela inclinou para frente e deu-lhe uma palmadinha no


joelho e depois olhou para mim. “Vai se divertir bastante na OSU. É um
campus lindo.”

“Agora estou ainda mais ansiosa do que antes,” disse olhando para
minhas mãos.

Jullianne virou-se para mim, e encostou-se à almofada do sofá. “Falou


com ele?”

Balancei a cabeça. “Não consigo pensar em nada simpático para dizer.”

“Ainda está brava?” perguntou Sam.

Julianne franziu o nariz. “Claro que está. Continua não querendo ir ao


baile?”

“Eu realmente não… Não tinha planejado ir antes.”

“Talvez possa convidar alguém?” Perguntou o Sam.

Encolhi os ombros. “Não há alguém com quem eu realmente queira ir.”

“E se…” começou Julianne a dizer, mas depois parou.

“O quê?” perguntei.

14
Fraternidade Feminina
15
Fraternidade Masculina – Sig Ep é abreviação de Sigma Phi Epsilon (ΣΦΕ)
“E se comprássemos um vestido, se decidir ir estará preparada. Se não,
podemos vendê-lo, ou pode ficar com ele para uma festa caso entre em uma
fraternidade.”

“Não vou entrar numa fraternidade,” disse com convicção.

Ela encolheu os ombros. “Então venderemos.”

“Talvez,” respondi.

Meu celular acendeu. Era Weston. Outra vez. Sempre era Weston.
Coloquei de volta o celular na mesa de café.

Sam e a Julianne trocaram olhares, depois Sam ergueu o braço,


apontou o controle remoto para a televisão e apertou o botão de iniciar.

Na segunda-feira, estranhamente estava de bom humor, e decidi que


era porque estava escalada para trabalhar. Weston tinha parado de tentar se
explicar para mim uns dias antes, mas ele parecia miserável. Assim que juntei
minhas coisas em frente do mural e me dirigia para o meu carro - que estava
estacionado no final de um pequeno grupo de carros, enquanto a caminhonete
de Weston estava do outro lado – Weston correu atrás de mim.

Tentei ignorá-lo, mas quando ia abrir a porta, ele agarrou a minha mão e
pôs um papel dobrado nela.

Amassei o papel.
“Por favor, leia. Não vou te encher mais, se você apenas ler.”

Com um movimento imperceptível, concordei e abri a porta do meu


carro. A viagem do mural até ao Dairy Queen demorava apenas alguns
minutos. Estacionei e entrei no pequeno edifício, com a nota na minha mão.

“Olá, estranha,” disse Frankie, sorrindo. Ela estava no telefone, e percebi


imediatamente que estava falando com sua mãe sobre seus filhos.

Sorri para ela, encostei-me no balcão e apertei o papel na minha mão.


Alguns minutos depois finalmente desdobrei e franzi o rosto enquanto lia duas
simples frases.

Contei ao meu pai a respeito de Dallas. Vejo você as seis na noite do baile.

Te amo,

Weston

Amassei o papel na minha mão e ergui o punho até o meu queixo,


apoiando o meu cotovelo no outro braço contra o meu estômago.

Frankie olhava cautelosamente para mim. “Mãe, tenho que desligar. Dá


um beijo nos meus bebês.” Ela desligou o telefone e deu alguns passos em
minha direção. “O que é isso?”

“Um bilhete do Weston.”

“É ruim?”

“Não estamos mais juntos.”

“Não estão?”
“Não. Ele... Descobri que ele pretendia ajudar Alder me convidando para
o baile para eles poderem me humilhar lá.”

“O que?” ela gritou. “Não. Weston não faria isso.”

“Está no diário dela. E ele não negou. Brady sabia disso.”

Ela ficou pálida. “Tem que haver uma explicação. Tem que ter mais
alguma coisa que você não sabe.”

“Há. Sou estúpida,” eu disse, limpando as lágrimas ridículas que caiam


pelo meu rosto.

“Mas... ela morreu. Porque é que ele ia continuar com o plano?”

“Ele falou pra ela que continuaria? Não sei. Eu sabia que havia mais
algum motivo. Sabia que ele não se interessaria subitamente por mim. Eu só...
queria acreditar nisso,” disse com a voz falha.

“O que diz o bilhete?” perguntou ela horrorizada.

Estendi o bilhete, e ela pegou para ler. Depois olhou para mim. “O que
significa?”

“Eu tinha prometido que se ele dissesse ao pai que queria ir para o Art
Institute of Dallas em vez de ir para Duke, ia com ele ao baile.”

“Você não acha que ele pretende ir em frente com isso. Ele… Erin, algo
no meio desta confusão toda o fez mudar de ideia. Ele se apaixonou por você,
e agora que você sabe a horrível verdade, ele quer resolver isso. Ele não é o
tipo de pessoa que faz uma coisa tão cruel.”

Encolhi os ombros.

“Não precisa ir com ele. Se tem medo do que pode acontecer, não vai.”
Levantei o queixo e limpei as bochechas outra vez. “Não tenho medo
deles. Me recuso. Não importa o que eles podem fazer comigo, eu consigo
controlar o que os outros me fazem sentir. Se eu não deixar, eles não
conseguem me magoar.”

Frankie me devolveu o bilhete, o peguei e dobrei o papel amarrotado do


mesmo modo quadrado que estava quando o Weston me deu. Ao fazer isso, o
papel cortou meu dedo, e uma pequena gota de sangue caiu do pequeno corte.
Enfiei o bilhete no bolso da frente do meu avental e limpei o sangue no
guardanapo mais próximo.

“Eles podem vir com tudo o que tiverem. A piada será sobre eles.” Eu
disse, ao abrir a janela quando o primeiro carro se aproximou lentamente e
parou em frente à loja.

Frankie me observou e abanou a cabeça com receio. “Está tão perto de


se formar. Tão próxima de estar livre.”

Virei-me para encher um copo com o sorvete, o pus sobre as bananas e


o caramelo, e mantive o copo sobre o mixer. “Não sou mais Easter. Não vou
me esconder.”

“Você quer ir com ele.”

Suas palavras me atingiram com muita força, agachei-me de joelhos,


mal conseguindo pousar o copo no balcão.

“Ela está bem?” perguntou a mulher do outro lado da janela.

Frankie correu até mim, ajoelhando-se.

“Sou uma veterana que quer ir ao baile. Tenho uma chance de ver como
é. Que se danem. Que se dane ele. Que se danem todos eles.”
“Essa é minha garota.” Disse Frankie, mantendo a mão nas minhas
costas. “Para o inferno todos eles. E se ele fizer alguma coisa para te humilhar,
até mesmo sequer agir como um idiota, que Deus tenha pena dele. Porque os
teus pais e eu vamos imprensa-lo contra a parede.”

Levantei, segurando o copo com as duas mãos. “Não precisa se


preocupar com isso. Estou escrevendo a minha própria história. E na minha
história, eu tenho um final feliz. Não interessa o que aconteça, eles não podem
me tocar.”

Tirei meu celular do bolso da frente do avental e enviei uma mensagem


para Julianne.

Você tem planos para amanhã?

Não. Tem alguma coisa em mente?

Me convidaram para ir ao baile. Mais ou menos

Boa! Quem?

Weston

Tem certeza?

Na verdade não. Mas vou mesmo assim.

Então, ok. Falamos desta reviravolta mais tarde. Mas vai precisar de
um vestido.
Na terça depois da escola, Julianne se encontrou comigo na Frocks &
Fashion 16 no centro da cidade. Eu meio que fiquei zanzando enquanto ela
olhava os vestidos. Ela me mostraria um, e eu balançaria a cabeça negando.

Depois de vários nãos, ela aproximou-se de mim. “Qual a sua cor


favorita?” perguntou.

“Todas.”

“Isso é prático.” Ela riu.

“Que tal esse?” perguntou ela, pegando um vestido verde-água com


uma saia rodada e corpete amassado. Abanei a cabeça.

“O que você não gosta dele?”

“A saia volumosa. A cor. O fato de não ter alças.”

Ela assentiu. “Entendi.”

Alguns minutos depois, ela trouxe outro vestido, seus olhos animados.
“Olha para esse!” ela deu uma olhada melhor na etiqueta. “É o seu tamanho!”

Era um rosa claro, com uma saia comprida leve que fluía até o chão,
com uma grossa e plissada cintura império por baixo de um corpete
transparente. O tecido transparente passava por ambos os ombros, e centenas
de pequenos strass prateados agrupados cobriam a área do peito e depois se
separaram enquanto iam até o decote.

Julianne o virou. A parte de trás era transparente como o vestido da


Alder, mas os strass revestiam as bordas exteriores, em vez de agruparem na
parte inferior.

“Não gostou?”

16
Frocks & Fashion é uma loja localizada na cidade de Ponca City.
Balancei a cabeça. “Não, na verdade, até é bonito.”

“Sério?” disse ela. “Porque você não prova ele?”

“Não sei. Sinto como se estivesse desperdiçando seu dinheiro se eu não


for.”

“Nah. Vamos” disse ela, abrindo uma das cortinas dos provadores.

Peguei o vestido das mãos dela e entrei, fechando a cortina atrás de


mim. Tirei o vestido do plástico e o vesti puxando para cima e colocando os
braços nas mangas.

“Encontrei os sapatos perfeitos!” disse Julianne.

Tentei fechar o vestido, mas não conseguia pôr as mãos para trás o
suficiente. “Acho que preciso de ajuda com o zíper.”

“Posso entrar?” perguntou ela.

Puxei a cortina e ela engasgou-se. “Linda,” ela disse suavemente,


abaixando os sapatos que tinha nas mãos.

Olhei para baixo. “É bonito.”

Ela me pegou pela mão e segurou meus ombros de frente para mim em
direção ao espelho de três lados. Ela fechou o zíper das costas e entregou-me
os sapatos.

“Não é bonito,” disse ela. “É espetacular.”


Peguei Weston olhando para mim muitas vezes durante a semana,
parecendo sempre que estava preste a me dizer alguma coisa, mas nunca
dizia. Os olhos verdes que eu costumava ansiar tornaram-se fonte de conflito,
eu desejava e temia vê-los ao mesmo. Finalmente, na sexta de manhã antes
das aulas, ele me encontrou no meu armário.

“Hoje á noite é o meu jogo. Você disse que ia.”

“Dissemos muitas coisas.”

Ele estremeceu, e depois forçou um sorriso nervoso. “O que… O que


isso significa? Você não vai mesmo ao baile depois de eu ter dito ao meu pai
sobre Dallas? Foi uma coisa muito importante. Ele gritou. Depois falou durante
horas, do muito que eu tinha que crescer. Depois aceitou claro. Eu estava
morrendo de medo. Mas fiz isso.”

Mantive os olhos na parede atrás do meu armário.

“Ontem fiz a matrícula on-line em Dallas.”

Ainda não disse nada.

“Por favor, vá ao jogo. Fazemos um trato. Tudo ou nada. Se não


ganharmos hoje à noite, não tem que ir ao baile comigo.”

Olhei para ele. “Por quê? É assim tão importante para você continuar
com o plano da Alder?”

Ele uniu às sobrancelhas e abanou a cabeça. “Para mim nada é mais


importante do que você. Não sei como te dizer que sinto muito. Eu faria
qualquer coisa para voltar atrás do acordo com o plano da Alder. Eu queria ir
com você. Eu queria passar tempo com você. Todo o resto podia ter sido
evitado.”
“Você quer,” olhei para ele. “Nunca deixa de ser o que você quer, não
é?”

“Acho que sim. Não quero arrependimentos. Quero ter a garota que amo
nos meus braços durante a última dança. Quero que ela veja o meu último jogo
de baseball. Quero essas últimas memórias do ensino médio, mas as quero
com você. Mas isso é tudo que eu quero. Eu juro.”

Fechei o meu armário.

“Vá ao jogo. Se perdermos devolvo meu smoking e cancelo o seu


corsage.”

“Você me encomendou um corsage?” perguntei duvidosa.

“E uma limusine branca” ele disse, com esperança nos olhos.

Peguei meu livro de biologia e deixei Weston sozinho de pé no meu


armário. Enquanto eu caminhava para a aula, uma coisa parecida com
náuseas instalou-se enquanto eu sufocava um mix de emoções debilitantes
que fervia dento de mim.
Tocou uma vez e depois de novo. Senti minha mão suada contra o
celular enquanto a BMW fazia seu caminho para o campo de beisebol.

"Oi, sweetie." Julianne disse quando ela atendeu.

"Eu estou... Eu estou dirigindo para o campo de beisebol. Hoje a noite é


o último jogo do Weston."

"Oh?" Ela disse sem julgamento.

A falta de surpresa dela me surpreendeu. "Ele me pediu pra vir. Ele


também me lembrou de que prometi ir ao baile com ele."

"Isso está começando a fazer mais sentido." Ela disse, tentando soar
positiva. "Como mãe, eu não sei se estou bem com essa coação."

"Diga-me pra ir para casa."

"Você não quer ir ao jogo?"

"Não. Mas sim. Mas não."

Ela ofegou pelo telefone. "Posso ir?"

"Para o jogo?"

"Sim. O seu Sam está aqui. Eu aposto que ele também gostaria de ir
para o último jogo de Weston."

"Hum... sim. Sim. Por favor, venha." Pelo menos eu teria alguém para
ficar.

"Estamos chegando em 10 minutos." ela disse. "Vejo você e breve."


Eu coloquei o telefone no porta copo e girei o volante para a direita, no
estacionamento do campo de beisebol. Já estava cheio, com veículos,
transbordando para o gramado pertencente ao recinto norte. Um ônibus
branco, novo, de colégio no qual se lia CHISOLM LONGHORNS estava
estacionado na extremidade sul do estacionamento, vazio. As pessoas ainda
estavam entrando pelo portão, mas pelo placar, eu podia ver que o jogo já tinha
começado.

Quando eu entrei, Weston apareceu andando de algum lugar, perto da


cabine para a base do batedor com um taco na mão e um capacete marrom na
cabeça. Ele olhou para a arquibancada por um momento e então olhou para as
chuteiras, batendo com o bastão contra o pé esquerdo.

Ele deu um passo e olhou para trás mais uma vez, vendo-me entrar. Ele
se dirigiu para a cerca, colocando os dedos através dos orifícios agarrando-os,
com um largo sorriso e alívio em seus olhos.

"Erin!"

Eu puxei minha boca para o lado, minhas emoções estavam divididas


entre ficar envergonhada pela atenção e estar lisonjeada por sua reação.

"Vamos, Gates!" O treinador Langdon gritou.

Ele olhou para trás para seu treinador, para mim e então retornou a sua
posição. Eu o vi enquanto subia os degraus. Ele deixou a primeira bola passar.

"Strike17!" O árbitro falou, segurando seu punho no ar. A multidão vaiou.

Weston inclinou-se e torceu as mãos apertando em volta do bastão. O


lançador atirou a bola para ele, e Weston pegou.

17
Strike: Quando se faz o arremesso e a bola passa em baixo do ombro, em cima do joelho
entre a base.
A bola encontrou o bastão com um estalo e então foi lançada baixa e
reta, passando direito o interbases e saltou no campo a esquerda, fazendo os
defensores externo correrem.

A multidão aplaudiu enquanto Weston correu chegando à primeira base.


Ele beijou seu indicador e o dedo médio e olhou em minha direção.

"Erin!" Veronica me chamou com um sorriso. Ela acenou, e eu me sentei


com ela na quarta fila, à esquerda da base do batedor.

Julianne e Sam se juntaram a nós em menos de uma entrada depois,


sentando um de cada lado meu. Nenhum deles tinha a menor ideia como eu
estava dependendo muito deste jogo, e comecei a me sentir culpada por essa
pressão extra sobre Weston.

Nas duas primeiras entradas, os Blackwell Maroons estavam


preparados, mas as duas seguintes foram infestados com erros, e nós
estávamos quatro Runs18 abaixo. Eu podia ver a frustração no rosto de Weston,
ele começou a gritar aplaudir e vaiar seus companheiros de equipe da cabine e
da marca do lançador.

Quando ele arremessou a bola, ela voltou direto nele. Ele se esquivou, e
foi direto para a luva da segunda base. A multidão soltou um coletivo Ooh.

"Senhor, essa foi por pouco." Veronica disse, colocando a mão em seu
peito.

"Os lançadores realmente também deveriam ter que usar capacete."


Sam disse.

18
Runs ou Corridas (R): Número de corridas anotadas pelo rebatedor.
Weston tossiu em seu cotovelo e esperou pelo receptor. Ele balançou a
cabeça duas vezes e depois acenou. Ele levou a bola para trás, levantou a
perna e a lançou para o batedor.

"Alguém esta pegando fogo hoje." Peter disse depois que Weston lançou
três strikes consecutivos.

O árbitro os chamou, e os jogadores se movimentaram para a cabine.


Os jogadores da Chisolm colocaram suas luvas e correram para as suas
posições no campo.

Na sexta rodada, fomos rebatidos, perdendo por um. Eu podia ouvir a


tosse da cabine.

"É Weston?" Veronica disse. "Ele tem a bombinha, né?"

"Ele sempre tem." Peter disse, tentando parecer casual, mas eu percebi
um pouco de preocupação em sua voz.

"Ele esta tendo muitas crises de asma ultimamente." Veronica disse á


Julianne.

Um tumulto chamou a nossa atenção para a cabine de Blackwell, e


então treinador Langdon saiu e gritou. Os paramédicos de plantão correram até
o treinador, e os jogadores começaram a saltar para fora, andando para trás,
enquanto observavam com espanto tudo o que não conseguíamos ver. Peter
se levantou, dando dois passos de uma vez descendo as arquibancadas.
Veronica desceu os degraus de cimento.

"Oh God!" Eu falei.

Meus pais também se levantaram, e os seguiram pelas escadas e


através do portão.

"Vamos!" Julianne comandou.


"Weston?" Veronica chorou.

Peter segurou seus ombros enquanto ela levou suas mãos em concha
sobre a boca.

Um dos paramédicos correu até ambulância e voltou com uma maca e


suprimentos, rapidamente colocaram Weston sobre a maca. Foi a primeira vez
que eu dei uma boa olhada nele. Ele estava pálido, seu cabelo encharcado e
colado na sua testa. Ele revirava os olhos, enquanto engasgava por ar. A
bombinha caiu de sua mão no chão.

"Vamos. Vamos!" Sam gritou, ajudando Julianne e os paramédicos a


empurrarem as rodas da maca pela terra e a grama para a calçada e depois
para a ambulância.

Toda a multidão ficou em silêncio. Todos os jogadores se ajoelharam,


segurando seus bonés sobre seus corações.

"Não, não, não," eu sussurrei, assistindo sem poder fazer nada.

A ambulância acelerou com as luzes e sirenes ligadas pela Rua


Coolidge em direção ao hospital Peter e Veronica correram para os seus
carros.

"Erin! Erin! Vamos!" Julianne me chamou do estacionamento.

Eu corri com ela para seu G-Wagon. A porta bateu atrás de mim, e a vi
girar a ignição e engatar a marcha ré e, em seguida, colocar em Drive.

"Onde está o Sam?"

"Na ambulância. Weston teve ataques de asma antes. Não há um bom


tempo, mas ele irá ficar bem. Ele vai."

"Promete?" Eu disse, com meu corpo inteiro tremendo.


Julianne pressionou seus lábios juntos, fazendo uma linha fina. "Ele não
pode fazer isso novamente. Ele não faria."

"Quem?"

"Deus."

Eu pisquei e depois olhei pela janela, vendo as casas passarem.

Julianne seguiu para o estacionamento do hospital onde se localizava a


Baía de ambulância. A ambulância já estava estacionada, sua porta traseira
aberta.

Julianne segurou minha mão, e eu mantive o ritmo rápido enquanto


caminhávamos para a sala de espera.

Mães segurando bebês com febre e um casal de idoso, um deles com


uma tosse profunda, ocupavam as poucas cadeiras disponíveis - não que nós
precisássemos delas.

Enrolei os braços ao meu redor, e depois de penosos vinte minutos,


Sam apareceu. Ele parecia preocupado.

"Eles estão estabilizando-o." Ele disse, mas ele colocou a mão nas
costas de Julianne e levou-a para o corredor.

Eles falavam baixinho, tendo uma conversa intensa. Julianne olhou para
mim uma vez e cobriu a boca com sua mão.

Não conseguia encontrar um lugar confortável para colocar as minhas


mãos, então eu finalmente recorri a cruzá-las ao redor do meu estômago
novamente.

Sam e Julianne retornaram, me levando ambos pelos braços.

"Ele vai ficar bem," Sam disse.


"Tem certeza?" Eu perguntei.

"Eles estão trabalhando pra isso." Ele entregou-me uma nota de 5


dólares. "Por que você não vai buscar algumas águas da máquina no
corredor?"

Concordei, pegando o dinheiro e deixei a sala de espera, virando à


direita. Eu podia ver a máquina. Era perto do final do corredor, próxima da
entrada da frente. No meu caminho uma mulher de jaleco passou correndo na
minha frente, empurrando uma peça de equipamento em formato quadrado
com um braço e uma câmera como aparelho no final. Parecia um equipamento
portátil de Raio-X, e imaginei que ela estava indo para o quarto de Weston.

A máquina pegou a nota de 5 dólares de Sam. Eu apertei o botão para


uma garrafa de água, peguei o troco que caiu em um suporte na parte inferior e
depois repeti o processo mais duas vezes. Senti-me bem com as águas contra
a minha pele, e levei-as de volta para a sala de espera.

Sam e Julianne estavam ao lado do treinador Langdon e pararam de


falar quando eu me aproximei. Eles pegaram suas águas, mas não as abriram.
Sam abraçou-me, e nós esperamos. Quando eu não podia mais esperar, fiquei
perto da porta, observando as nuvens passar, e testemunhei o céu
escurecendo. Um por um os jogadores e os treinadores paravam e
caminhavam ao redor da sala de espera, como nós fazíamos.

Outra vida depois, Peter virou a esquina, e todos reuniram em torno


dele.

"Eles estabilizaram os níveis de oxigênio de volta ao normal. Agora ele


está recebendo um tratamento respiratório, mas eles vão mantê-lo aqui durante
a noite. Eles vão levá-lo para um quarto lá em cima."
Os colegas de equipe do Weston foram embora, e então era só Sam,
Julianne, o treinador Langdon e eu. Peter voltou, seguido por Veronica e
algumas enfermeiras empurrando uma cama hospitalar pelo corredor.

Eu tentei olhar através de Peter... Mas, não consegui dar uma boa
olhada.

"Graças a Deus," disse Julianne.

"Obrigado por sua ajuda hoje." Peter disse aos meus pais. "Se você não
tivesse ajudado, não sei se ele teria conseguido aqui no hospital."

Julianne olhou para mim quando eu fiquei boquiaberta.

"Mas ele está bem agora, né?" Eu perguntei.

Peter acenou com a cabeça, e tocou meu ombro. "Ele precisa


descansar. Ligaremos pra você amanhã."

Assenti, e Peter nos deixou, seguindo pelo corredor.

Sam e Julianne suspiraram simultaneamente de alívio.

"Eu sinto que devia ter percebido isso antes." Treinador Langdon disse.

"Não se culpe." disse Julianne.

O treinador esfregou a nuca. "Peça a Peter para manter-me atualizado."

Sam acenou com a cabeça, e o treinador tirou as chaves do bolso e


empurrou a porta de vidro, andando em passos rápidos para o seu carro.

"Está pronta, Honey?" Sam me disse, estendendo sua mão.

"Ele ficou lá porque ele queria vencer." Eu disse. "Ele provavelmente


sabia o que estava acontecendo, e não contou a ninguém porque ele queria
terminar o jogo."
Sam ofereceu um sorriso compreensivo. "Era seu último jogo, Erin."

"Não, eu concordei... Que se ele perdesse o jogo hoje, não teria que ir
ao baile com ele."

Julianne franziu a testa.

Lágrimas encheram meus olhos. "Ele não queria ir para Duke. Ele queria
ir para o Art Institute de Dallas. Dei-lhe a minha palavra que se ele dissesse ao
Peter, eu iria ao baile com ele. Ele disse ao Peter, mas eu não pude ir. Não,
depois... Weston ofereceu tudo ou nada. Ele me pediu para ir ao jogo hoje e
disse que se ele não ganhasse então ele não me incomodaria para ir ao baile."

O lábio de Julianne tremeu. "Isto não é culpa sua, querida."

"Eu ia de qualquer maneira. Não me importo com o que eles fizeram


comigo, eu ia, mas estive torturando-o nas duas últimas semanas, fazendo-o
sentir como se eu o odiasse. Eu sei exatamente como é se sentir odiada, e eu
fiz isso com ele. Isso é muito pior do que alguém já fez pra mim."

"Erin, Honey." Sam começou, mas eu balancei minha cabeça e dei um


passo para trás.

"Todo mundo esta dizendo como ele foi terrível, e eu fui á vítima. Até
ele. Mas vocês estão errados. Eu sou terrível. Eu sei como é doloroso e eu...
Eu o amo. E eu sei como é sentir a rejeição de alguém que deveria amá-lo. Eu
não tinha uma desculpa para trata-lo desse jeito, e ele quase morreu hoje por
causa desse estúpido baile. Que eu apenas iria com ele."

Aqueles que ainda estavam sentados na sala de espera viam a cena


que eu estava fazendo, metade deles curiosos, e metade deles fazendo
julgamentos.
"Você está exausta." Sam disse. "Vamos para casa, e a primeira coisa
que faremos de manhã é trazê-la. Assim que você acordar."

Eu balancei minha cabeça. "Eu não posso deixá-lo. Eu deveria ficar


aqui."

"Sei que você quer...” Sam disse.

"Não, eu devo. É um dever, Sam, e não apenas quero."

"Okay." Julianne disse, pegando minha mão. "Sam, você tem um caso
logo cedo. Eu vou ficar aqui com a nossa filha."

Sam assentiu. "Claro. Claro." Ele disse, pegando as chaves de Julianne


quando ela as estendeu. Ele nos abraçou e empurrou a porta abrindo-a,
desaparecendo no estacionamento escuro.

Julianne falou com uma das mulheres atrás da mesa da recepção, e


então ela fez um gesto para eu segui-la. Caminhamos para o elevador e fomos
para o segundo andar.

A sala de espera estava escura e vazia. Julianne acendeu a luz, e nos


sentamos em um banco. Ela me puxou para que eu deitasse em seu colo, e eu
deitei, deixando que as lágrimas caíssem dos meus olhos, passando por meu
nariz em seus jeans. Ela passou os dedos pelo meu cabelo, mas não falou.

"Eu estava com medo." Eu sussurrei. "Não sabia como perdoá-lo. Não
sabia que estava apaixonada por ele. Não sabia como fazer funcionar. Sinto
como se estivesse esperando a minha vida começar, e Blackwell era como se
fosse provisório. Eu pensei que Weston fosse parte disso. Eu não podia ver
ninguém daqui se adequando em minha nova vida."
"Você estava magoada pelo o que tinha lido no diário. Em cima dos anos
de dor que já suportou. Ninguém te culpa. Nem mesmo Weston. É óbvio pelo
seu comportamento. Ele disse por que concordou em ajudar Alder?"

"Só que ela ofereceu-lhe uma maneira de fazer algo que ele já queria."

"Oh", ela disse, mas foi mais um Aw. Ela colocou a palma da mão
suavemente em minha testa.

"Ele me faz sentir coisas. Passei toda a minha vida não deixando as
pessoas se aproximarem. O que eu sinto por ele me assusta."

"Descanse meu amor. Tudo será diferente de manhã."

Fiquei ali deitada, tentando relaxar, mas tão cansada quanto meu corpo
sentia, eu não consegui fechar meus olhos, com medo de acordar com más
notícias. Horas se passaram, e eu senti a mão de Julianne relaxar, e sua
respiração se estabilizar.

Passos se arrastaram pelo corredor de piso frio até o carpete na sala de


espera, eu olhei pra cima para ver Veronica em pé na porta.

"Adivinha quem está acordado." Ela sussurrou com um sorriso.

Sentei-me, acordando Julianne.

"Ele está melhor?" Eu perguntei.

"Ele está perguntando por você. Ele não vai voltar a dormir. Eu esperava
que ainda estivesse aqui."

"Eu posso vê-lo?" Perguntei, inclinando-me pra frente.

Veronica deu um passo para o lado. "Ele está no 210."


Eu levantei de meu assento e tentei não correr pelo corredor,
procurando a cada placa na parede com números, até chegar ao quarto de
Weston. Estava escuro, e eu entrei lentamente.

Ele estava sentado, sua sombra se enrijeceu, quando ele me


reconheceu.

"Erin." Ele disse, sua voz estava fraca. Ele acariciou o cobertor fino azul,
querendo que eu me sentasse no lugar vazio ao seu lado.

Na mão dele estava colado um tubo de IV19, que levava a uma bolsa de
soro. Uma cânula estava em nariz presa na parte de trás de suas orelhas, o
oxigênio fluía a partir de um aparelho na parede. Ele parecia ainda mais pálido
e frágil vestido na camisola hospitalar azul bebê que usava. Seus pés
chegavam até a extremidade da cama.

Sentei-me ao lado dele, assim como eu queria desde que tínhamos


chegado, mas agora que eu estava lá, as palavras não vinham.

Ele manteve a cabeça para trás, encostada em vários travesseiros que


foram usados para apoia-lo.

"Nós ganhamos?" Ele perguntou.

Eu ri uma vez. "Quem se importa?"

"Eu me importo. Realmente não quero perder de levá-la ao baile."

Eu balancei minha cabeça. "Não importa. Eu vou com você, se você


ainda quiser que eu vá."

19
*IV: Intra Venal.
Ele franziu a testa. "Bem, inferno. Se eu soubesse que tudo o que eu
tinha que fazer era ter um ataque de asma para você ir comigo, eu teria tido um
a uma semana atrás." Ele piscou.

"Isso não é engraçado."

Sua testa se franziu. "Eu nunca deixaria eles te envergonharem no baile,


Erin. Concordei em tentar fazer você gostar de mim e tentar levá-la ao baile.
Nunca concordei em deixá-los te humilharem."

"Agora não." Eu disse. "Espere até se sentir melhor."

"Preciso saber que você entende. Não, mais do que isso. Eu preciso que
você acredite em mim. Concordei em me aproximar de você, mas foi só um
pretexto, Erin. Alder estava disposta a me ajudar com algo que eu queria a um
bom tempo... sem incomodar você sobre isso. Ela queria levá-la ao baile, então
ela ia recuar. Todos eles iam."

"O que aconteceu na esquina naquele dia com as Erins e o Brady? E ela
ir até o meu trabalho?"

"Se ela recuasse completamente, ela tinha medo que você descobriria o
que eles estavam aprontando."

"O que você estava fazendo. Você fala como se não estivesse com
eles."

"Foi á única maneira de estar com você, sem fazer você ser um alvo.
Que tipo de oportunidade eu teria então?"

"Não foi apenas para eu não me dar mal."

"Ok, eu admito isso. Eu queria estar com você e me divertir. Eu sabia


que não nos deixariam em paz. Na época eu pensei que fosse a solução
perfeita. Se você quer atingir seus objetivos, ás vezes você tem que roubar
uma base20."

"Isso não é um jogo, Weston. Se ele não tivesse ido do jeito que você
queria...”.

"Se eu achasse que não haveria nenhuma maneira de evitar o que eles
iam tentar fazer no baile, nós teríamos nosso próprio baile, no nosso viaduto,
só você e eu. Eu não arriscaria isso. Você está certa, eu fui dissimulado sobre
isso, isto não é um jogo. Mas no final do dia, não havia maneira de acabar com
a Alder para estar com você e fazer isso dar certo. Teria sido infeliz. Eu teria
perdido você. Você decidiria que não valeria a pena. Você teria me evitado
como uma praga até que você fosse para a faculdade, e seria o fim."

Eu olhei para ele. Ele me olhava como se esse pensamento doesse


fisicamente.

"Mas tudo mudou. Você deveria ter me contado."

"Eu não podia arriscar, Erin. Eu pensei que eu era louco por você antes,
planejando tudo isso só para ter uma chance com você. Achei que não fosse
possível te amar mais, mas aconteceu. Eu entrei em pânico. Eu não sabia o
que fazer."

"Dissesse a verdade. Mesmo que fosse uma droga. Mesmo que isso não
fosse sobre mim. Como, as Erins sendo meia irmã."

Seu queixo quase tocou seu peito quando ele olhou para mim. "Você
sabe disso também?"

"Eu li todos eles. Eu sei sobre tudo."

20
Weston fez um trocadilho com Baseball, no original ele dizia que para se chegar a um home precisasse
trapacear em alguma base.
Ele pensou por um momento, balançando a cabeça, incrédulo. "Loucura
pensar como as coisas teriam sido diferentes se tivessem descoberto sem o
acidente."

"Eu não quero. Isso me deixaria louca, pensar sobre as incertezas


quando há muitos, o que aconteceu para lidar. Eu só quero saber toda a
verdade sobre o que aconteceu, Weston. Pelo o que eu sei, sinto como se
pudéssemos seguir em frente."

"Até nós?" Ele perguntou.

Toquei meu ombro contra o seu peito com um pequeno sorriso. Meus
olhos tinham se ajustado ao escuro, e eu pude ver os pensamentos girando por
trás de seus olhos.

"Ok, aqui esta a verdade: Eu tenho pensado sobre como ficar com você
desde o ginásio." Ele disse. "Esse foi nosso último ano. Eu não tive muito
tempo, e eu estava ficando desesperado. Você acha que a Sonny era
inteligente o suficiente para chegar a esse plano por conta própria? Quem você
acha que plantou a semente em sua mente maligna?"

"Então me humilhar no baile foi ideia sua?" Eu disse, tentando manter


minha voz calma.

Ele franziu a testa, decepcionado que eu tenha chegado a essa


conclusão. "Não, claro que não. Eu desempenhei com a sua inveja. Ás vezes,
eu divergi com Alder sobre isso. Tenho certeza que ela me pegou olhando pra
você. Tivemos uma grande briga, numa noite. Ela disse que eu nunca teria
uma chance com você porque você não se meteria com ela. Foi aí que eu
percebi. Então da próxima vez que você surgiu numa conversa - que era
muitas vezes - eu brincava com eles. Eu dizia que conseguiria fazer você sair
comigo, totalmente."
Eu levantei uma sobrancelha.

Sua expressão se declarou pra eu deixá-lo terminar de explicar. "Sonny


disse a mesma coisa que Alder, que você não teria coragem. Isso foi tudo que
eu precisava. Naquele momento. Apostei que conseguiria levá-la ao baile
comigo. Após uma conversa com Brady, o filme Carrie surgiu. Foi quando eles
tentaram me convencer. Foi quando eu disse que sim, mas sempre foi a minha
maneira de chegar até você sem ser importunado. Só assim nós poderíamos
aproveitá-lo."

"E depois da formatura?" Eu perguntei.

"Eu ia fazer a mesma pergunta. E depois verão?" Ele disse,


entrelaçando seus dedos aos meus. "Eu vou dirigir para Oklahoma todo fim de
semana se for preciso. Eu sei que você tem essa ideia de como seria a vida
após Blackwell. Mas ainda pode ser como você queria que fosse quando
começamos. Só quero estar com você. Eu quero deixar Blackwell com você.
Quero ver você se tornar o que você quiser."

"Nós vamos descobrir." Eu disse. "Nenhum de nós tem a menor ideia o


que queremos ser."

Ele apertou minha mão. "Tudo o que sou é tudo o que somos."

Meu lábio inferior tremia. Eu tinha sido tão terrível para ele, e agora ele
estava numa cama de hospital, tentando consertar as coisas. "Você não
deveria ser legal comigo. Eu não mereço mais um tratamento especial de
você."

"Você tem ideia de quanto tempo eu te amei, Erin?"

Eu sorri, com lágrimas queimando meus olhos. "Tanto quanto eu te


amei."
Weston me puxou para ele, e eu deitei-me ao seu lado na sua cama de
hospital, vendo as silhuetas de Veronica e Julianne na porta.

Weston envolveu ambos os braços ao meu redor e respirou


profundamente, descansando sua cabeça na minha. Rapidamente ele relaxou,
e o bip de seu monitor cardíaco tranquilizou diminuindo para um mesmo ritmo.

Veronica abraçou Julianne ao seu lado, e elas deixaram a porta,


andando pelo corredor.

Eu descansei minha bochecha contra o peito de Weston. O próximo fim


de semana era o baile e duas semanas depois seria a formatura. A única coisa
com que eu me preocupava era com a conversa que eu precisava ter com
Gina. Todo o resto parecia com pijamas limpos e lençóis quentes recém tirados
da secadora. Weston e eu teríamos o verão inteiro pra passarmos juntos antes
de irmos para a faculdade, e pela primeira vez, ele se sentiu como parte do
meu início em vez de um final feliz.

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