Caderno Da Escola Plural 0
Caderno Da Escola Plural 0
Caderno Da Escola Plural 0
Belo Horizonte
2002
Prefeito de Belo Horizonte
Fernando Damata Pimentel
Edição
Assessoria de Comunicação Social da Secretaria Municipal de Educação
Supervisão Editorial
Assessoria de Comunicação Social da Prefeitura de Belo Horizonte
Bom trabalho,
"
1
CARBONELL, Jaume. A aventura de inovar a mudança na escola. Porto Alegre, Artmed, 2002.
SUMÁRIO
Escola Plural
Proposta Político-Pedagógica
Rede Municipal de Educação
Belo Horizonte - Outubro/94 (Caderno 0)..................................................................................07
3º Ciclo:
Um Olhar Sobre a Adolescência
como Tempo de Formação (Caderno 5)....................................................................................127
EJA:
A Construção de Diretrizes
Político-Pedagógicas para a RME/BH...................................................................................155
Avaliação
Dos Processos Formadores dos Educandos (Caderno 4)......................................................191
#
$
Escola Plural
Proposta Político-Pedagógica
Rede Municipal de Educação
Belo Horizonte - Outubro/94 %
Caderno 0
1ª Edição / 1994
Prefeito
Patrus Ananias de Sousa
Vice-prefeito
Célio de Castro
3ª Edição / 2002
&
SUMÁRIO
1 - A avaliação hoje
2 - Avaliação na nova lógica
'
ASSUMINDO A ESCOLA EMERGENTE
Estamos devolvendo aos profissionais da Rede do caráter transgressor ou não legal, ainda que
Municipal, aos pais e alunos o retrato da escola legítimo de muitas dessas ações. Grades estão
que conseguimos captar nos inúmeros contatos que presas na Delegacia por serem inovadoras; cada
mantivemos com a comunidade escolar. Diante da ano podem ser cortadas experiências significativas...
seriedade dos Projetos Político-Pedagógicos das Nas inúmeras reuniões realizadas, um profissional
escolas e diante da pluralidade de ações manifestava sua indignação diante desse quadro:
significativas que são realizadas em cada sala de por que temos que provar a cada governo que
aula, cada série, turno e área, a primeira sensação entra, a cada delegado e inspetor que o que estamos
é de estarmos diante de algo extremamente inovador. fazendo é coisa séria? A resposta poderia ser esta:
A Rede Municipal de Belo Horizonte avançou muito porque essa multiplicidade de experiências
nos últimos anos, podendo ser considerada hoje emergentes não foi assumida como proposta da
pioneira no movimento de renovação pedagógica Rede, como Proposta de Governo.
iniciado no Brasil, desde o final dos anos 70. O Recolher os ricos materiais existentes nas escolas
grau de consciência e organização dos seus e construir coletivamente uma Proposta da Rede
profissionais foi, sem dúvida, um fator determinante. Municipal, assumida e garantida pelo Governo,
A luta pela autonomia e pela gestão democrática implica algumas sensibilidades políticas.
contribuiu para que cada comunidade escolar Implica ter cuidado para fortalecer e não
tentasse equacionar com realismo seus problemas enfraquecer a autonomia das escolas e das
e suas possibilidades de intervenção. Os Projetos experiências emergentes. Como? Primeiro,
Político-Pedagógicos são a melhor expressão desse assumindo as ações emergentes como instituídas,
trabalho sério e pioneiro. ou como constitutivas do Sistema Escolar e não
Na multiplicidade de reuniões que acontecem como periféricas à sua rígida estrutura tradicional.
nas escolas, percebemos que, além das medidas A insegurança de muitas escolas e de seus
propostas nos Projetos Político-Pedagógicos, muitas profissionais se dá porque o melhor de seus intentos
outras acontecem na sala de aula, nas oficinas, nas só pode acontecer em tempos e espaços extra-
equipes de área e, sobretudo, na maturidade de sistema, extraturno, em adendados, em dobras etc.
cada profissional. Há muitas surpresas guardadas Segundo, construindo uma direção mais coletiva
nas gavetas. A Rede nem sempre conhece toda a que legitime essa pluralidade de experiências
riqueza de ações significativas nela existente. A assumidas como Proposta de Governo, defendida
autonomia da escola pode levar a uma auto- perante os órgãos normativos e incorporada
imagem parcializada. É necessário reconstruir o politicamente como permanente e, não, pontual no
retrato total da Rede Municipal na multiplicidade equacionamento dos recursos, dos tempos, nos
de experiências emergentes. Estas têm de ser estatutos e planos de carreira dos seus profissionais
captadas pelos profissionais como totalidade. Não etc.
são fatos isolados deste ou daquele profissional, Com freqüência, somos cobrados de falta de
desta ou daquela escola. São materiais diversificados direção. Temos medo de não conseguir equacionar
que apontam nas mesmas direções; que direções direção com autonomia, possivelmente porque nos
são essas? Apontam novas lógicas; que lógicas são formamos no mesmo movimento social que acredita
essas? Apontam nova concepção de escola; que na construção democrática da socieclade, do
escola é essa? Estado e das instituições como a escola. O medo
Nas reuniões afloram essas questões. Aflora a não será o melhor conselheiro. Ele não poderá
vontade coletiva de captar os Eixos Norteadores de intimidar-nos nas tentativas de construir
escola que estão emergindo. Tentamos destacar coletivamente uma direção para a Rede Municipal,
esses Eixos Norteadores e estamos devolvendo nosso que é reivindicada hoje como necessária.
intento, para que a Rede Municipal, e não apenas O trabalho que devolvemos aos profissionais,
cada escola, se assuma como uma proposta pais e alunos segue a seguinte lógica:
coletiva. 1º - recolhe e destaca a pluralidade de
Se a primeira impressão que as escolas dão é experiências emergentes na Rede Municipal;
de orgulho dos profissionais diante da rica 2º - tenta captar a direção coletiva apontada
pluralidade de ações emergentes, um contato mais nessas experiências;
próximo produz a impressão de insegurança diante 3º - concretiza essa direção-coletiva em
propostas de intervenção na estrutura do nosso 3º) Os conteúdos e processos. Tentamos
Sistema Escolar. captar como reorientar o que se ensina e aprende,
A construção deste trabalho que devolvemos às as concepções e práticas do que é considerado
escolas teve a participação de coletivos muito como o fazer diário: o processo de ensino-
diversos: diretores de educação das Regionais e aprendizagem. Que nova concepção e que novas
suas equipes, equipes do CAPE e da SMED, coletivos práticas emergem de nossas escolas;
de diretores de escola, de coordenadores de áreas,
de professores e professoras, de pais e mães, alunos 4º) A avaliação. Destacamos a avaliação,
e alunas. É necessário avançar nessa construção processo polêmico, onde se concentram inúmeras
coletiva, discutindo cada ponto, cada eixo e corajosas experiências na Rede, peça-chave para
norteador, cada proposta de ação, cada estratégia qualquer proposta escolar inovadora.
etc.
O trabalho que estamos desenvolvendo, neste Ainda neste mês, esperamos poder devolver aos
primeiro momento, está centrado em quatro profissionais partes centrais do trabalho realizado,
núcleos que julgamos vertebradores da totalidade das experiências levantadas e das ações necessárias
da Proposta: para a construção coletiva da Proposta Escola
Plural. São aspectos centrais no dia-a-dia de nossas
1º) Eixos Norteadores da Escola que escolas: qualificação plural e permanente dos
queremos. Tentamos sintetizar as direções ou nortes profissionais; relações escola movimento sócio-
apontados como mais determinantes nas cultural; materialidade da escola; construção da
experiências da Rede. Acreditamos ter acertado ao escola democrática; formação técnico-profissional;
destacar a busca de uma escola mais Plural, daí o educação infantil; educação de jovens e adultos
mote da PROPOSTA ESCOLA PLURAL. (suplência, noturno regular, alfabetização);
educação especial; educação de 5ª a 8ª e 2º grau.
2º) Organização do trabalho ou a nova O trabalho que ora devolvemos aponta os eixos
lógica de organização dos tempos dos professores, norteadores não apenas das quatro primeiras séries
dos alunos e dos processos cotidianos. As da educação básica, mas de toda a Escola Plural
experiências emergentes não ficam na periferia do ou da totalidade de idades-níveis ou Ciclos de
dia-a-dia da escola, apontam novas lógicas no Formação. Em anexo, acompanha um calendário
ordenamento temporal do trabalho escolar. de ações previstas para dar continuidade, durante
este semestre, à construção coletiva de nossa
Proposta.
I - EIXOS NORTEADORES DA ESCOLA PLURAL
A Rede Municipal de Belo Horizonte, através de são um fato isolado de nossa Rede. Apontam
seus profissionais, está inserida no movimento de respostas sérias dos profissionais sensíveis aos
renovação pedagógica iniciado no Brasil, no final avanços dos direitos sociais. Apontam novas
da década de 70. concepções de educação escolar construídas pelo
Com audácia e profissionalismo, foram movimento democrático e pelo movimento de
espalhando-se nas escolas experiências renovação pedagógica. Movimentos que exigem
significativas. Poderíamos lembrar o movimento de novas respostas das instituições educacionais para
gestão democrática - eleição de diretores, a garantia do avanço dos direitos sociais de todos
organização dos colegiados, revitalização dos os cidadãos.
grêmios livres, o movimento de elaboração e Comecemos por explicitar o significado desse
implementação do projeto político-pedagógico das conjunto de ações emergentes que acontecem nas
escolas e dos subprojetos por áreas e nossas escolas. Elas apontam os EIXOS
problemáticas; o movimento de renovação NORTEADORES da construção coletiva da
metodológica, sobretudo na área de alfabetização; Proposta Político-Pedagógica que pretendemos para
o movimento de capacitação permanente dos toda a Rede Municipal.
profissionais nos locais de trabalho, através do
reordenamento dos tempos de formação (horários 1º) Uma Intervenção Coletiva mais
de estudo, pesquisa, projetos, produção). Radical
Nossas escolas inovaram nas estratégias de
novo ordenamento do tempo, salas-ambiente - Quando analisamos os Projetos Político-
aulas geminadas... ; as estratégias de reorganização Pedagógicos das escolas, logo percebemos que, em
de turnos (turmas intermediárias, turmas de tempo todos eles, há um objetivo central: reduzir a evasão,
integral); nas estratégias de continuidade e de a reprovação e a repetência. Os profissionais da
promoção, de aumento do tempo de escola, de educação, na medida em que avançaram no
diversificação de áreas/atividades, de diversificação reconhecimento e defesa de seus direitos, tornaram-
dos processos de avaliação... se mais sensíveis às desigualdades e aos múltiplos
Percebe-se que muitas dessas mudanças são processos de exclusão ainda persistentes na nossa
tidas como transgressões ao ordenamento sociedade e, sobretudo, na instituição de que são
institucional vigente. Elas sobrevivem pelo empenho responsáveis: a escola.
das escolas ou de grupos de profissionais sensíveis Muito se fez nos últimos anos. Avançamos na
às tendências pedagógicas atuais e, sobretudo, à democratização do acesso e na qualificação dos
necessidade de garantir a permanência dos alunos profissionais, na renovação dos currículos, métodos
e alunas numa experiência mais rica de educação. e material didático. Mas continuamos com
Essas experiências emergentes na Rede altíssimos índices de evasão e, sobretudo, de
Municipal apontam uma concepção de educação reprovação. Os setores populares não conseguem
e uma proposta de escola diferente do modelo percorrer uma experiência formadora sem
culturalmente aceito (internalizado como o ideal). interrupções, repetências e desajustes entre idade-
Entretanto, a escola culturalmente aceita, aquela série.
que vivemos como alunos e profissionais, A Rede Municipal de Belo Horizonte não
transformou-se numa instituição tão aceita que pretende aderir a propostas fáceis de promoção
sua imagem nos impede de considerar e legitimar automática, rebaixamento das exigências,
outras formas de organização. empobrecimento dos conteúdos para barateamento
Há uma tensão entre a escola aceita e a escola dos custos da educação popular. Mas também não
emergente. A Rede Municipal se propõe a assumir pretende acomodar-se e esperar que medidas de
a escola emergente. É o que os profissionais, pais e intervenção pontual alterem em alguns percentuais
alunos esperam: que, a partir dessas práticas esses índices. Não há como conviver com os
renovadoras das escolas, seja construída elevados e injustos índices de reprovação-exclusão
coletivamente uma Proposta Político-Pedagógica da do povo, em seu direito legítimo à educação.
Rede como um todo e que essa proposta seja O fracasso escolar dos setores populares rebate
assumida pelo Governo Municipal. em nossa sensibilidade social e profissional, como
Essas mudanças no cotidiano da escola não um desafio a ser enfrentado com maior
radicalidade do que foi no passado. A proposta de Sistema Escolar, impondo currículos orientados
ESCOLA PLURAL pretende sintonizar-se com as basicamente ao domínio de habilidades e saberes,
experiências emergentes na Rede que apontam para para a inserção no mercado de trabalho. Outras
um diagnóstico mais global dos problemas e para dimensões da formação humana foram
uma intervenção coletiva mais radical: intervir nas marginalizadas.
estruturas excludentes do sistema escolar e na Nossa escola foi perdendo progressivamente
cultura que legitima essas estruturas excludentes e sua função socializadora, ao mesmo tempo em que
seletivas. as identidades sócio-culturais dos cidadãos se
Partimos da hipótese de que a estrutura de nosso diversificavam. Os movimentos de renovação
sistema escolar e a cultura que o legitima são pedagógica tentaram encurtar esse descompasso.
seletivas e excludentes. A nossa escola enquanto A Escola Nova, por exemplo, pretendeu abrir a
instituição - para além da boa vontade de seus escola à vida, simulando situações da vida real. Na
mestres - mantém a mesma ossatura rígida e década de 80, os profissionais se tornaram mais
excludente, desde que foi constituída há mais de sensíveis à diversidade de culturas, identidades e
um século. saberes e buscaram mecanismos de abrir a escola
De lá para cá, a consciência da igualdade de à diversidade da cultura e dos saberes dos alunos.
direitos avançou, mas o Estado e as instituições Atualmente, as propostas vão mais longe.
sociais continuam apegadas à velha lógica da Pretendem construir uma escola mais plural, em
exclusão e seletividade. Nossa escola não é duplo sentido:
democrática e igualitária. Peneira, exclui em nome
da lógica das precedências das séries, das Primeiro, sintonizada com a pluralidade de
avaliações, das médias, da uniformidade que não espaços e tempos sócio-culturais de que participam
reconhece as diferenças de ritmos de aprendizagem, os alunos, onde se socializam e formam.
de classe, de gênero, de raça, de cultura.... Segundo, alargando suas funções e recuperando
Pretendemos intervir nessa lógica e nessa sua condição de espaço-tempo de socialização e
estrutura escolar. Sabemos que nossa pretensão é individualização, de cultura e de construção de
mais arriscada do que deixar intacta a máquina identidades diversas.
que produz a exclusão e os altos índices de fracasso O movimento social atual, que recoloca o direito
de mais da metade das crianças, adolescentes e de todos à realização plena como sujeitos sócio-
até jovens e adultos dos setores populares. Guia- culturais, encontra eco em nossas instituições
nos a convicção de que concentrar os esforços da educativas. Elas se redefinem como espaços e
Rede Municipal de Belo Horizonte apenas em tempos de vivência desses direitos.
minorar os estragos, os efeitos em algumas
porcentagens cada ano, sem ir à raiz do problema A onilateralidade versus a unilateralidade da
não é a melhor forma de garantir o direito popular formação humana.
à educação e à cultura. Propomos construir O tempo de escola é encarado cada vez mais
coletivamente um novo ordenamento para a como oportunidade de uma socialização-vivência
Educação Básica da Rede Municipal, que seja mais o mais plena possível dos profissionais e dos alunos.
democrático e igualitário do que o atual. Há novas dimensões da formação humana
recolocadas hoje nas lutas pelo direito à educação.
2º) Sensibilidade com a Totalidade da Nossas escolas estão sintonizadas com esse
Formação Humana movimento. A estreita concepção de educação está
sendo alargada dentro delas.
Os movimentos democráticos e de renovação Novas dimensões da formação dos profissionais
pedagógica criticam os sistemas escolares por e dos alunos tentam encontrar espaços legítimos
terem perdido a pluralidade de funções sócio- nos currículos das nossas escolas. Temos
culturais que a sociedade deles espera. experiências de trabalho que ultrapassam os limites
Podemos detectar um descompasso entre a dos conteúdos curriculares: trabalhos
escola e o movimento social. Este exigindo das interdisciplinares com temas comuns; projetos que
instituições educacionais uma formação mais plural. articulam arte e alfabetização, matemática e
Aquela fechando-se na educação de aspectos produção de textos; temos projetos - oficinas e
!
singulares. práticas que resgatam a história da comunidade, a
A Lei 5.692/71, ainda em vigor, estreitou nosso alegria na escola, a educação sexual, as identidades
étnicas, a cultura etc. projeto integrado de literatura infantil - educação
São inúmeras as práticas que tentam alargar a física - educação artística etc.
estreita concepção de educação ainda vigente. As escolas tentam alargar seus rígidos tempos
Novas dimensões da formação dos alunos, alunas para incorporar oficinas de teatro, aulas de
e profissionais pressionam para ter um lugar legítimo capoeira, educação corporal com alunos e mães,
nos Projetos Político-Pedagógicos das escolas. Cada semanas do folclore, da mulher, da violência, da
área e cada grupo de educadores poderá identificar questão social, festival de dança, recreios culturais,
inúmeras ações, que apontam essa sensibilidade celebrações, meninos no parque: ciranda
crescente com a pluralidade das dimensões da mágica,pinta e borda, mãos à terra, resgate
formação humana das crianças e jovens e dos do recreio, coral.
próprios profissionais. A escola se abre como espaço cultural da
comunidade: festas; jogos entre pais, alunos,
3º) A Escola como Tempo de Vivência professores; resgate da história e cultura da
Cultural comunidade; extensão da educação artística à
comunidade.
Estamos num momento histórico de grande São ações que apontam uma nova escola
sensibilidade perante a realização do ser humano articulada com a produção cultural da cidade, com
como sujeito cultural. As instituições escolares se os diversos grupos e com os organismos públicos,
distanciaram da cultura, de seus processos de suas programações e manifestações. Uma escola
produção e manifestação. Elas já foram espaços que multiplica seus tempos culturais. Que abre seus
mais fortes de cultura. Já estiveram mais abertas currículos às dimensões culturais que os
às vivências culturais da nação, das comunidades, transpassam. A cultura não é mais encerrada num
dos grupos sociais. horário da grade curricular nem nas habilitações
Ainda ficam, no cotidiano das escolas, de um profissional. A totalidade da experiência
sobretudo nas primeiras séries, tempos-rituais- escolar passa a ser cultural.
celebrações que abrem espaços para vivências
culturais, mas estão marginalizados. São 4º) Escola Experiência de Produção
considerados tempos perdidos, roubados ao Coletiva
escasso tempo de ensino-aprendizagem. São
considerados como coisa de crianças. Não são A experiência escolar tradicional, tanto para o
explorados como tempos fortes de formação- aluno como para o professor, tem-se concentrado
vivência cultural para todas as idades de formação. na transmissão-recepção de informações e saberes.
A escola está fechada em si mesma em seus Uma educação bancária. Entretanto as pessoas
rituais de transmissão, promoção - retenção, apenas se formam na medida em que participam
enquanto a cidade recria sua cultura, seus valores do processo de sua produção. Constroem-se
éticos e cria novos tempos-espaços, novos rituais participando na produção da própria existência e
públicos de vivências culturais. Uma das demandas na construção da cidade, do conhecimento, dos
mais atuais é por espaços públicos que permitam a valores, da cultura...
vivência coletiva, recriação e expressão da cultura. Nossas escolas avançaram bastante nessa
Nossas escolas vêm avançando na recuperação de direção: temos experiências de discussão e
sua função de espaço público privilegiado de cultura. produção coletiva das normas disciplinares;
Não apenas os professores das áreas de arte trabalhos em parceria entre disciplinas e áreas, entre
conseguiram maiores espaços. A maioria dos professores e alunos na produção de material
profissionais tenta vincular sua área do pedagógico, textos e livros, na gestão coletiva, na
conhecimento com as dimensões culturais. Temos troca de informações e estudos, nos projetos de
experiências que vinculam o cotidiano e o lúdico, suplência etc.
arte e biblioteca, criatividade e alegria, arte e A discussão, elaboração e aprovação dos
alfabetização, cultura e folclore, literatura, teatro e Projetos Político-Pedagógicos das escolas, as
expressão corporal, cultura e higiene bucal, oficinas, os grupos de estudo, os horários de projeto
aprendizagem e valores sociais da criança, são práticas, entre outras, que vão criando um novo
" identidade e percepção do espaço social, cultura e estilo e uma nova cultura de construção coletiva do
consciência negra, arte e reciclagem do lixo, oficinas cotidiano da escola.
de artes - textos - matemáticas - fantoches - jogos, As instituições escolares sabem que só serão
educativas na medida em que se constituírem como
centros de formação coletiva. É nessa tarefa que
elas adquirem sua identidade e sua autonomia mais
plena. É nessa formação coletiva que os profissionais
e alunos se afirmam como sujeitos plurais.
Uma análise dos Projetos Político-Pedagógicos
construídos e aprovados pelas escolas da Rede
Municipal mostra quanto se avançou nesta direção.
Foram eles um momento rico de construção coletiva.
E mais, todos se propõem a formação do cidadão
para a participação na sociedade. Todos esses
Projetos apontam que a escola formará esses
sujeitos coletivos na medida em que os torna
participes da construção de espaços escolares
humanizados. Na medida em que o tempo de
escola propicie vivências coletivas de valores, de
interações, de linguagens múltiplas, de
comunicação, de pesquisa - produção, de interação
com a cidade, com a multiplicidade de processos A escola foi se constituindo como uma instituição
de produção - reprodução da existência externa à estruturada de espaços, tempos, rituais, lógicas,
escola. precedências, séries, disciplinas e grades. A escola
A participação nos movimentos sociais dos pais, administra mecanismos regulados de transmissão,
comunidade, alunos, profissionais, auxiliares só avaliação, promoção e retenção. Administra o
adquire sentido pleno numa construção da escola trabalho de seus profissionais e o submete a uma
enquanto processo coletivo de formação. divisão rígida e hierárquica. A autonomia dos
profissionais, sua qualidade fica condicionada a essa
5º) As Virtualidades Educativas da materialidade.
Materialidade da Escola Cada escola faz parte de um Sistema de Ensino
articulado em níveis e graus. O percurso de
Todos os Projetos Político-Pedagógicos das formação escolar está colado à passagem por esses
escolas enfatizam o peso da materialidade como processos instituídos e ritualizados. Os profissionais
pré-condição para sua implementação. Enfatizam experimentam no seu dia-a-dia como esses
não apenas as condições físicas e as condições de processos instituídos e mais especificamente a
trabalho que ainda são bastante limitadoras das organização do trabalho são pesados, são
propostas, mas também a organização dos tempos, deformadores. Os próprios alunos e alunas são
espaços, processos; a organização do trabalho, as submetidos a esses processos rígidos e
grades, as serrações, o recorte de horários, as deformadores. A experiência tem mostrado que
hierarquias.... sonhar com uma educação diferente sem redefinir
A Rede Municipal tenta redefinir aspectos essas estruturas e essa organização do trabalho fica
significativos da estrutura e organização da escola: em sonhos.
experiências de salas-ambiente, aulas geminadas, As virtualidades educativas da escola dependem
módulos geminados, seriação mais flexível, provas em grande parte da capacidade de tornar essas
interdisciplinares, avaliação processual, novos estruturas mais formadoras. Uma escola de
critérios de enturmação e agrupamento dos alunos, qualidade não pode esquecer o peso dessa
organização por temas interdisciplinares, materialidade.
mecanismos de integração extraturno, flexibilização Os processos de socialização e formação dos
de horários para entrosamento das séries e educadores e dos educandos se constroem nessa
professores, projetos de jornada integrada etc. rede de estruturas e mecanismos reguladores. As
A centralidade dada a esses aspectos materiais virtualidades educativas não estão apenas na
e organizativos da escola mostra o avanço da
consciência dos profissionais, no sentido de captar
natureza dos conteúdos, nem apenas na boa
vontade e arte dos profissionais, nem no sentido
#
que a experiência escolar não se reduz a uma dado à relação educador-educando. As
relação interpessoal entre educadores e educandos. virtualidades formadoras ou deformadoras estão
sobretudo no caráter humanizador das estruturas são igualmente idades de formação e de vivências
escolares, no seu caráter democrático, igualitário de direitos plenos.
ou excludente. Conseqüentemente as escolas, sua
Conscientes desse peso educativo da organização, seus tempos e espaços estão sendo
materialidade, os profissionais criam mecanismos repensados para se redefinirem e adaptarem a esse
de intervenção na estrutura escolar, nos valores e avanço na consciência-vivência dos direitos da
na cultura que ela materializa. Os profissionais infância.
percebem que não é suficiente redefinir o sentido As instituições educacionais são repensadas
das relações interpessoais, os conteúdos como tempos e espaços da cidadania e dos direitos
transmitidos, nem os processos de sua apreensão no presente, para que o tempo de escola permita
ou avaliação. As velhas formas de institucionalização uma experiência o mais plena possível da infância
da educação escolar estão hoje em questão. Por aí e da adolescência, sem sacrificar auto-imagens,
caminham as propostas mais ousadas de identidades, ritmos, culturas, linguagens,
intervenção que já acontecem na Rede Municipal representações etc., em nome da preparação para
de maneira pontual. Falta assimilá-las em uma a vida adulta.
Proposta de Governo e reconhecer publicamente
sua legitimidade. 7º) Socialização Adequada a cada Idade-
Ciclo de Formação
6º) A Vivência de Cada Idade de
Formação sem Interrupção Encontramos na Rede Municipal experiências
significativas, que pretendem reduzir as rupturas nos
A separação entre tempo de formação e tempo processos de socialização provocadas pela
de ação, tempo de infância e tempo de adulto, fez reprovação e conseqüente repetência. Os
do tempo de escola uma etapa que só encontra profissionais da escola pública popular vêm reagindo
sentido enquanto PREPARAÇÃO para outros a essa realidade crônica, ora com medidas mais
tempos. A infância e a adolescência deixaram de tradicionais, ora mais radicais. Podemos lembrar
ter sentido em si como idades específicas de vivência as seguintes experiências de aceleração de alunos,
de direitos. A criança e o adolescente não são de criação de turmas intermediárias aprovadas de
reconhecidos como sujeitos de direitos no presente. forma especial e garantindo estratégias de
Daí que a escola só se pensa como tempo de continuidade; alternativas de trabalhos sem
preparação para vivência de direitos no futuro. seriação; implantação da dependência; tempo
Na década de 70, falava-se na escola como integral para diminuir a defasagem idade-série;
tempo de preparação para o trabalho futuro. Na manutenção das turmas homogêneas pelo critério
década de 80, enfatizava-se o tempo de escola de idade etc.
como preparação para a cidadania futura. A escola vem retomando a centralidade de sua
A maioria dos Projetos Político-Pedagógicos de função socializadora de valores, crenças, rituais;
nossas escolas reafirma essa visão da escola como vem se assumindo como espaço de construção de
preparo da criança para a vivência consciente dos identidades, de auto-imagens e de hábitos de
direitos no futuro, quando adulto. convívio na diversidade. Nesses avanços, a
Essa concepção do tempo da infância e do pedagogia redescobre a força socializadora e
tempo da escola está arraigada em nossa cultura formadora do convívio entre alunos e alunas da
pedagógica, na representação social e em nossa mesma idade ou ciclo de idades de formação.
formação e prática profissional. A escola sempre As iniciativas diversas, que tentam manter cada
sonhada como, garantia da futura república, da educando com seus pares de idade de socialização,
futura democracia, da futura cidadania, do futuro buscam ser fiéis a essa velha e renovada pedagogia
progresso, da futura vivência dos direitos, da futura que tinha sido marginalizada e sacrificada em nome
libertação, da futura igualdade... Os movimentos da fidelidade estreita à lógica das precedências, dos
sociais democráticos vêm lutando contra essa pré-requisitos, do vencimento de etapas de domínios
permanente negação dos direitos no presente e seu e habilidades; à lógica de avaliações de rendimentos
adiamento para tempos e idades futuras. O médios, de reprovações, repetências e interrupções
$ movimento social vem recolocando cada idade e rupturas de turmas e de quebras de percursos de
presente como tempo específico de construção da socialização próprios de cada idade-ciclo de
experiência histórica. A infância ou a vida adulta formação.
As experiências da Rede Municipal apontam área e por projetos interdisciplinares, o
lógicas novas que merecem ser assumidas como planejamento, a pesquisa e a produção coletiva
Proposta de Governo e reconhecidas como permitiram um processo rico de capacitação
legítimas. permanente no trabalho.
Pretendemos que toda a Rede Escolar assuma As lutas por tempos remunerados de estudo e
que o tempo de escola deverá ser um tempo de pesquisa, projetos e produção coletiva e pela criação
socialização-formação no convívio entre sujeitos na do CAPE, são a expressão mais concreta da nova
mesma idade-ciclo de formação-socialização. consciência dos profissionais da Rede Municipal
Rupturas ou interrupções desse processo não são sobre seu direito à formação permanente no
justificáveis por diferenças de raça, classe, gênero, trabalho. Além desses tempos e espaços de
ritmo de aprendizagem etc. formação, uma variedade de ações está
A escola e seus profissionais passam a redefinir acontecendo no cotidiano de nossas escolas:
a cultura, estrutura e organização escolar para encontros de professores por áreas e por séries para
permitir aos setores populares (os mais reprovados capacitação teórico-prática; trabalho coletivo com
na velha lógica excludente) uma vivência de cada equipes de suplência; produção coletiva de textos e
idade-ciclo de formação sem interrupção. livros; participação em cursos, seminários e
conferências pedagógicas, locais e nacionais etc.
8º) Nova Identidade da Escola, Nova Os profissionais da Rede Municipal alargaram
Identidade do seu Profissional não apenas a concepção da educação dos alunos,
mas sua própria concepção de capacitação
As modificações havidas na Rede Municipal têm profissional. A criação dos departamentos, a
como sujeitos centrais os trabalhadores em afirmação do domínio dos saberes por área de
educação. O movimento de renovação pedagógica ensino representou um avanço na qualificação,
que acontece nas escolas recebe sua inspiração no porém não caímos numa concepção fechada e
movimento social mais amplo pela democracia e especializada, restrita de qualificação por recortes
pela igualdade de direitos; essa mesma consciência do conhecimento. Os professores aprofundaram
inspirou nos últimos 15 anos a organização dos sua qualificação sem estreitá-la.
educadores e seu compromisso com a escola Dimensões mais amplas fazem parte do perfil
pública democrática. de profissional da educação. Ele se entende sujeito
Construindo essa nova escola, foi-se do projeto total da escola e reivindica sua
construindo um novo profissional, com nova participação qualificada na construção desse
identidade, novos valores, novos saberes e projeto total. Ele reivindica mais: ser reconhecido
habilidades. Construindo a nova Escola Plural, foi- como sujeito sócio-cultural, com direito a tempos,
se construindo um profissional mais plural, mais espaços e condições de participação na cultura.
politécnico. Os Eixos Norteadores da Escola Plural
A gestão democrática da escola, a elaboração explicitaram como esta Proposta pretende que o
dos Projetos Político-Pedagógicos, as oficinas por tempo de escola seja uma vivência rica para os
alunos e alunas como sujeitos sócio-culturais.
Considerar os profissionais da educação como os
agentes dessa construção é pouco. Seu tempo de
trabalho nas escolas terá de permitir-lhes também
uma vivência como sujeitos sócio-culturais.
%
II - REORGANIZAÇÃO DOS TEMPOS ESCOLARES
1 - Organização dos Tempos Escolares quanto do aluno, em torno dos conteúdos a serem
Hoje transmitidos e aprendidos. Os conteúdos
constituem o eixo vertebrador da organização dos
Diretores, supervisares, professores, auxiliares e graus, séries, disciplinas, grades, avaliações,
alunos passam mais de vinte horas semanais juntos recuperações, aprovações ou reprovações.
na escola, durante mais de 180 dias do ano.
Como ocupamos esse tempo escolar? Que 2º) Essa lógica temporal dá prioridade ao
lógica norteia a organização temporal, a caráter precedente e acumulativo dos
organização dos espaços e a distribuição dos conteúdos, de sua transmissão e aprovação. O
conteúdos e das aprendizagens? Organizar e domínio do conteúdo A precede o domínio de B,
administrar o tempo é uma das tarefas mais que por sua vez precede a C etc. O primeiro
conflitivas no sistema escolar. Para ilustrar, bimestre precede ao segundo; a primeira série
lembremos a definição do calendário, a distribuição precede a segunda e assim por diante. Os avanços
das aulas, dos dias de prova, dos horários de cada das ciências na melhor compreensão da lógica da
área e matéria, do recreio, dos sábados letivos, dos construção do conhecimento superam essa
dias feriados etc. concepção linear. Sua linearidade justifica que,
Administrar o tempo de escola é tenso, porque enquanto os conteúdos e habilidades dos tempos
joga com interesses privados, joga com outros precedentes não sejam dominados, o aluno terá
tempos de nossas vidas em outros empregos, na de repetir o intento quantos anos sejam necessários.
família, no estudo... O tempo de escola é tempo de Se essa repetência quebrar a auto-imagem do
trabalho, tempo bem ou mal remunerado, tempo educando ou o distanciar do grupo de idade de
realizador ou alienante. Tempo em que estão em socialização etc., não importa. O decisivo é manter
jogo direitos dos profissionais e dos alunos. a lógica temporal precedente e acumulativa dos
O movimento dos trabalhadores em educação conteúdos. Esses se impõem como eixo vertebrador
vem lutando por maior controle do tempo de escola. de nossa escola.
Os movimentos sociais lutam também por alargar
o tempo de escola. Os jovens e adultos 3º) Essa lógica temporal se articula em torno
trabalhadores lutam por adequar o tempo rígido de supostos ritmos médios de aprendizagem.
do trabalho a um tempo mais flexível de educação. Independentemente da diversidade de ritmos
Porque o tempo de escola é tão conflitivo? culturais dos alunos e alunas, de suas condições
Porque é um tempo instituído, que foi durante mais sócio-culturais, da diversidade dos processos de
de um século se cristalizando em calendários, níveis, socialização, das diferenças de gênero, raça, classe
séries, semestres, bimestres, rituais de transmissão, social, toda criança e adolescente terá de dominar
avaliação, reprovação, repetência... no mesmo tempo as mesmas habilidades e saberes
O tempo escolar obedece a uma lógica (60% aprova, menos reprova).
institucionalizada que se impõe sobre os alunos e
sobre os profissionais da educação. Entender essa
lógica é fundamental para entender muitos dos
problemas crônicos da educação escolar. É
fundamental, sobretudo, para entender e corrigir
os problemas de evasão, reprovação e repetência,
o crônico fracasso escolar que exclui os setores
populares do seu direito à educação básica. É
fundamental, para entender parte das tensões dos
profissionais com o trabalho escolar.
Estratégia de Implantação
!
QUADRO DE IMPLANTAÇÃO
meio ambiente
Sexualidade
Diversidade
Consumo
Relação
cultural
com o
PORTUGUÊS
MATEMÁTICA
HISTÓRIA
Curriculares
CIÊNCIAS
Disciplinas
ED. FÍSICA
TEMAS TRANSVERSAIS
Este esquema ilustra a integração entre alguns se insere em todas as disciplinas e impregna todos
dos possíveis temas transversais e as disciplinas os demais temas.
curriculares. O cruzamento resultante de ambos os A inserção dos temas transversais como
eixos é o suporte a partir do qual é possível construir conteúdos curriculares possibilitará que as
um projeto curricular e uma programação de disciplinas passem a se relacionar com a realidade
conteúdos coerentes e significativos. A educação contemporânea, dotando-as de valor social, como
para a cidadania é o tema transversal nuclear, que nos mostra o quadro abaixo:
REALIDADE
DISCIPLINAS TEMAS
CURRICULARES TRANSVERSAIS PROBLEMAS
CONTEMPORÂNEOS
Nessa perspectiva, o processo de ensino/ Nesse, não há mais espaço para atividades
aprendizagem não tem como finalidade a isoladas, descontextualizadas e o que se busca é
transmissão de conteúdos prontos, mas sim a uma proposta global de intervenção.
formação de sujeitos capazes de construir, de forma
autônoma, seus sistemas de valores e, a partir deles, INTERVENÇÃO GLOBALIZANTE
atuarem criticamente na realidade que os cerca.
A representação do que seja uma intervenção
3 - Projetos de Trabalho: Uma Nova globalizante tem sido concebida de formas variadas,
Proposta de Renovação Pedagógica podendo ser caracterizada por, pelo menos, três
versões diferentes:
Uma mudança de concepção, para se viabilizar,
tem que se traduzir em ações concretas. Nesse A globalização como somatório de
& sentido, a discussão sobre uma proposta de disciplinas.
intervenção pedagógica ganha sentido e
importância, ao se pensar no projeto da escola É uma concepção que se encontra de forma
plural. generalizada, em nossa cultura escolar. A idéia é
da definição de um tema, a partir do interesse da A globalização como um processo de
turma ou do programa oficial, que será trabalhado formação.
em todas as disciplinas. Por exemplo, escolhe-se,
como tema, as eleições. A partir desse tema, o A noção de globalização, nessa perspectiva, é
professor de História estuda a história das eleições vista tanto do ponto de vista do conteúdo a ser
no país; o de Geografia, trabalha legenda de mapas trabalhado como do aluno que irá aprendê-lo. A
a partir dos resultados das pesquisas nos vários preocupação centra-se, então, no processo de
estados; o de Português lê textos sobre eleição; o construção do conhecimento, de forma globalizada,
de Matemática elabora problemas com dados da pelo aprendiz, mais do que na forma global de
eleição e assim por diante. apresentar o conhecimento a ele.
Nessa perspectiva, a globalização acontece pelo Nessa perspectiva, essa concepção de
acúmulo de matérias que tratam do mesmo tema e globalização parte do princípio de que a
não pela interação entre elas. O tema tem a função aprendizagem não é fruto apenas de uma
de motivação, no sentido de facilitar o entendimento acumulação de novos conhecimentos aos
dos conteúdos disciplinares. O aluno participa esquemas de compreensão dos alunos e sim de uma
apenas no momento de escolher o tema (quando reestruturação desses esquemas, a partir do
participa). Cabe ao professor de cada disciplina estabelecimento de relações entre os conhecimentos
(mesmo que seja apenas uma pessoa que se coloca que já possuem e os novos, com os quais se
ora como professor de Matemática, ora como de defronta. Assim, o que se pretende é que os alunos
Português ou Ciências) planejar, organizar e consigam aprender a aprender e a viver, ou seja,
transmitir o seu conteúdo. Muitas práticas consigam ir aprendendo a organizar seus próprios
centradas em tema gerador ou centro de interesse conhecimentos, e estabelecer relações, utilizando-
sequem essa lógica. se dos novos conhecimentos para enfrentar novos
problemas e atuar no mundo. Dessa maneira, sua
A globalização como um lugar de interseção aprendizagem vai adquirindo um valor relacionar e
de várias disciplinas. ativo. Esse processo exige que se ofereça aos alunos
experiências de aprendizagens ricas em situações
de participação. Não se forma um sujeito
A concepção de globalização ligada a um
participante e autônomo falando sobre autonomia
trabalho interdisciplinar tem ganhado espaço entre
e democracia e sim exercitando-as.
os educadores, nestes últimos tempos.
É nessa 3ª perspectiva que se insere a proposta
A idéia da interdisciplinariedade está centrada
dos projetos de trabalho, que tem como eixo a
na integração de várias disciplinas afins. Tem partido
participação dos alunos em seu processo de
do interesse de professores de várias disciplinas em
aprendizagem, produzindo algo que tenha
fazer um trabalho conjunto, mais global. Assim, um
significado e sentido para eles.
tema como a independência do Brasil é visto a partir
Os projetos - definidos, construídos e avaliados
de vários pontos de vista: histórico, geográfico,
coletivamente pelo grupo de alunos e professor - se
científico, literário. Há, nessa perspectiva um avanço
configuram como produto de uma negociação onde
em relação à concepção anterior, já que essa exige
se busca satisfazer os interesses individuais e
um trabalho conjunto dos professores, um trabalho
cumprir um fim social. Dá à atividade de aprender
de equipe. O que se questiona nessa visão é o fato
um sentido novo, onde as necessidades de
de se desconsiderar o ponto de vista do aluno,
aprendizagem afloram nas tentativas de se resolver
mantendo a concepção de que a apresentação de
situações problemáticas. Assim, os educandos
um tema sob vários pontos de vistas, por si só, já
sabem o que e para que estão aprendendo. Um
garante uma visão relacional do aluno. projeto gera situações de aprendizagem, ao mesmo
Na verdade, não há garantia de que o aluno tempo, reais e diversificadas. Possibilita também que
consiga construir as relações apresentadas. Para os educandos, ao decidirem, opinarem, debaterem,
eles, as informações podem ser vistas de formas construam sua autonomia e seu compromisso com
isoladas e fragmentadas, pois aprender a o social.
estabelecer relações exige um nível de compreensão Nessa perspectiva, o conhecimento escolar é
que precisa ser construído. Isto é, a visão
globalizadora tem que ser construída pelos alunos
construído a partir do reconhecimento das questões '
que são de interesse social e da sua reflexão, tendo
e não dada pelos professores. como referência o conhecimento cultural
acumulado, presente nas disciplinas.
CONHECIMENTO CURRICULAR PROBLEMAS CONTEMPORÂNEOS
CONHECIMENTO
ESCOLAR
Para que essa alternativa interativa se concretize, partir das questões levantadas nessa etapa que o
é preciso distinguir adequadamente que aspectos projeto é organizado pelo grupo.
do conhecimento escolar dependem da formação
acadêmica dos professores e quais dependem da b) Desenvolvimento: é o momento em que se
experiência cultural dos alunos. Por exemplo, ao criam as estratégias para buscar respostas às
organizar um projeto, os professores devem levar questões e hipóteses levantadas na
em consideração o conteúdo das disciplinas, não problematização. Aqui, também, a ação do sujeito
para convertê-lo diretamente em conhecimento é fundamental. Por isso, é preciso que os alunos se
escolar a ser transmitido mecanicamente aos defrontem com situações que os obriguem a
alunos, mas para subsidiar sua intervenção confrontar pontos de vista, rever suas hipóteses,
pedagógica pautada nos problemas sociais colocar-se novas questões, confrontar-se com novos
contemporâneos e nas concepções dos alunos elementos postos pela Ciência. Para isso, é preciso
acerca desses problemas. É no ponto de encontro que se criem propostas de trabalho que exijam a
de todas essas variáveis que o conhecimento escolar saída do espaço escolar, a organização em
vai sendo gestado. pequenos e grandes grupos, o uso de biblioteca, a
Nessa perspectiva, a escola passa a ser espaço vinda de pessoas convidadas à escola, entre outras
significativo de aprendizagem, meio estruturado e ações. Nesse processo, as crianças têm que utilizar
estruturante lugar de experimentação, realização, todo o conhecimento que têm sobre o tema e se
confronto, conflito, êxito, aberta para o contexto defrontar com conflitos, inquietações que as levarão
social em que está inserida. ao desequilíbrio de suas hipóteses iniciais.
PROBLEMATIZAÇÃO
Conhecimento prévio
Detonador do grupo
Expectativas/Objetivos
Organização do Projeto
DESENVOLVIMETO
Bibliográfica
Pesquisa
Estratégias para Campo
atingir os objetivos Entrevista
Debates
Realização do Projeto
SÍNTESE
Conceitos, valores, procedimentos construídos
Novas aprendizagens Informações adquiridas
ao longo do processo Questões esclarecedoras
Novos problemas a serem reolvidos
Educação Igualdade
Educação Diversidade
Sexualidade do de Raça e
Ambiental Cultural
Consumidor Gênero
PROJETO
Língua
Geografia
Portuguesa Matemática Ciências Artes História Ed. Física
OBJETIVOS
Área Disciplinar Temas Transversais
Língua Portuguesa Educação do Consumidor
Reconhecer textos publicitários, identificando Estrutura e funcionamento da sociedade de
sua função social e características. consumo: identificar a estrutura e
funcionamento do sistema de publicidade.
Refletir sobre o uso da língua como veículo Defesa do consumidor: identificar e utilizar
de inculcação de idéias, valores soluções alternativas para enfrentar as
comportamentos. propagandas de brinquedos.
Selecione 5 anúncios de brinquedos, escreva seu nome e marque um X nas casas que
correspondem aos truques utilizados:
1º) A Avaliação hoje se ele deve ser aprovado ou não. Assim, avalia-se
para registrar um resultado numérico e com ele,
A avaliação é uma das dimensões a serem aprovar ou reprovar.
consideradas, ao se pensar um projeto de escola,
pois é ela que nos permite interpretar a realidade, Quando avaliar?
redefinindo metas e processos, a partir dessa A avaliação é feita no final do processo.
interpretação. A avaliação, assim, é peça chave Como tem o caráter de aprovar ou não, a época
para qualquer proposta escolar inovadora. própria para sua realização é quando já se acabou
Ao pensarmos sobre a avaliação, devemos o processo e tem-se um produto, que é, então,
ter em mente as respostas para as seguintes avaliado.
questões:
o que avaliar? Quem avalia?
para que avaliar? O poder de avaliar é do professor, que, no
quem avalia? papel de juiz, determina se o aluno é bom ou ruim.
quando avaliar? Se for bom, é aprovado; se for ruim, é reprovado.
como e com que avaliar? Ao aluno, resta ouvir sua sentença, sem direito à
apelação. Os pais apenas são comunicados dos
Se formos olhar para a visão de avaliação resultados, através de uma reunião ou, então, ao
existente, hoje, em nossa cultura escolar, essas receber o boletim do filho.
perguntas seriam assim respondidas:
Como e com que avaliar?
O que avaliar? A avaliação é feita através de provas em um
A avaliação está centrada em um aspecto momento estanque do processo. É a quantidade
do processo dos alunos, isto é, no seu desempenho de pontos na prova, e não o processo vivido, que
cognitivo dentro do processo de ensino/ determina o resultado do aluno, ou seja, seu
aprendizagem. Não se coloca como objeto de resultado é o sinônimo dos pontos que tira na prova.
avaliação o projeto da escola, o trabalho do Estas, por sua vez, devem ser neutras, objetivas,
professor, o processo do aluno de uma forma global. praticamente descontextualizadas do processo para
se tornarem dignas de credibilidade. !#
Para que avaliar?
Se o objeto da avaliação é o desempenho Há, assim, uma visão reduzida e equivocada
cognitivo do aluno, a avaliação serve para decidir do processo de avaliação. O que predomina é um
modelo quantitativo, centrado no aluno. Daí o fato Quem avalia?
dos resultados negativos, com uma alta taxa de Os agentes da avaliação são aqueles que
reprovação, não repercutirem num processo de são sujeitos do processo ou parceiros do mesmo,
reflexão de todo o projeto escolar: a nota, nessa ou seja:
visão, reflete apenas o desempenho cognitivo do
aluno e revela um problema que se concentra nele o grupo de profissionais da escola
e não no processo educativo.
Essa visão já vem sendo questionada e o grupo de alunos
muitas escolas da Rede Municipal já vêm buscando
formas alternativas de rompimento com esse o conselho escolar
modelo: novos processos de avaliação
interdisciplinar por turma; eliminação das provas os pais e mães dos alunos
bimestrais; avaliação processual com auto-
avaliação; eliminação do sistema de notas; os agentes educativos de apoio (das
avaliação não para retenção dos alunos, mas para regionais/CAPE/SMED).
o projeto de aceleração; avaliação mais flexível para
equipamento dos alunos por critério de idade; Dependendo do que está sendo avaliado,
avaliação flexível na educação de jovens e adultos; um ou outro agente terá uma responsabilidade
avaliação vinculada ao projeto de dependência... maior no processo. Se, por exemplo, é o processo
Todas essas experiências apontam para a de ensino/aprendizagem e de socialização de um
necessidade de se repensar o sentido da avaliação determinado grupo de alunos que está sendo
em um projeto educativo que conceba a escola em avaliado, participarão como agentes centrais dessa
sua dimensão plural. avaliação, o professor acompanhante, os
professores do Ciclo de Formação, os alunos e seus
2º) Avaliação na Nova Lógica pais. Se o objeto de avaliação é o projeto
pedagógico da escola, esses agentes se ampliarão
Entendendo a educação como um direito, com a participação de representantes do corpo
no projeto da Escola Plural não cabe avaliar para docente, discente, pais, funcionários, membros das
classificar, excluir ou sentenciar, aprovar ou reprovar. Regionais, coordenados pela Direção e Conselho
Na perspectiva da Escola Plural, as questões Escolar.
referentes à avaliação são assim explicitadas:
Quando avaliar?
O que avaliar? Entendemos que a ação avaliativa é
A avaliação tem que incidir sobre aspectos contínua e não circunstancial, reveladora de todo
globais do processo, inserindo tanto as questões o processo e não apenas de seu produto. Dentro
ligadas ao processo ensino/aprendizagem como as desse processo de avaliação formativa, podemos
que se referem à intervenção do professor, ao projeto identificar três momentos chaves: o inicial, o
curricular da escola, à organização do trabalho contínuo e o final. Cada um desses momentos
escolar, à função socializadora e cultural, à possui uma especificidade, sendo que o momento
formação das identidades, dos valores, da ética etc., inicial tem uma função diagnóstica, o contínuo, a
enfim, ao seu Projeto Político-Pedagógico. Assim, de acompanhar o processo e o final, de identificar
não mais procede pensar que o único avaliado é o avanços alcançados e aspectos a serem
aluno e seu desempenho cognitivo. trabalhados em outro momento, constituindo-se,
assim, em um momento inicial de uma nova fase
Para que avaliar? do processo.
Avalia-se para identificar os problemas e É o que nos mostra este quadro,
avanços e redimensionar a ação educativa. Com a caracterizando os três momentos, ao se pensar a
avaliação, iremos diagnosticar os avanços e avaliação do processo de Formação Básica, em um
entraves do projeto em suas múltiplas dimensões, determinado projeto.
além de detectar suas causas e as ações mais Quadros semelhantes a esse podem ser
!$ adequadas para seu redimensionamento e construídos ao se avaliar, por exemplo, o projeto
continuidade. A avaliação, portanto, é um processo pedagógico da escola ou a prática do grupo de
formativo e contínuo. professores.
MOMENTOS DE AVALIAÇÃO
Avaliação Inicial Avaliação Contínua Avaliação Final
Para quê? Conhecer e identificar Perceber o grau de Identificar os
conhecimentos, valores, avanço dos alunos em resultados finais do
atitudes prévias dos relação aos objetivos. processo de
alunos (diagnóstico). Reorientar e melhorar aprendizagem-
a intervenção socialização.
pedagógica. Levantar os objetivos
para novas
aprendizagens.
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