Mia Mingus Acessibilidade Intima
Mia Mingus Acessibilidade Intima
Mia Mingus Acessibilidade Intima
Notas da tradução:
Tive dificuldade de traduzir Access Intimacy, o sentido desse termo me pareceu complexo, pois a
tradução literal seria algo como intimidade ao nível da acessibilidade. Durante o texto a palavra cuplicidade me
veio muito a mente, e tive a sensação que era esse afeto o que mais surgia no texto enquanto eu o lia. Eu
pensem em intimidade acessibilitadora na medida que essa cuplicidade parece criar um espaço onde de algum
modo a acessibilidade pode vir a ser construída nas relações, não apenas focando nas questões materiais do
acesso, mas também a nível afetivo de sentir-se de fato pertencente - o que a autora parece afirmar no texto
que por si só caracteriza esse conceito. E foi meu foco nesse nível afetivo do pertencimento que fez sentido para
mim traduzir o termo Access Intimacy como Intimidade Acessibilitadora.
A autora se refere a pessoas com deficiência e não direciona o texto apenas para mulheres, mas como
o português é uma língua que tende a priorizar o gênero masculino decidi traduzir o texto optando pelo gênero
feminino nos momentos que ela fala dos coletivos, mas como disse, no original ela se refere a todos os gêneros
utilizando o gênero neutro da língua inglesa.
Coloquei tb entre colchetes palavras em português que acredito que tornam o texto mais inteligível.
Fiquem a vontade para modificar os possíveis erro de tradução, pontuação e português.
bjs,
Diogo
Eu nunca tive palavras para a intimidade acessibilitadora antes, por anos eu sentia
isso ou desejava sentir isso, mas não sabia como descrever-la. Sempre esteve levemente
fora do meu alcance, um pouco distante das minhas mãos. Eu a confundi com a intimidade
emocional ou política, atração sexual ou desejo romântico. Eu tenho erroneamente
pressuposto que essa intimidade estaria presente baseando-se na experiência ou intimidade
da pessoa. Eu tenho me envolvido com o como descrever a proximidade que eu sentiria
com pessoas cujo meu corpo deficiente simplesmente se sentiria um pouco mais seguro e
calmo. Houveram relacionamentos que carregavam intimidade emocional, física e política,
mas apenas careciam de intimidade acessibilitadora. E houve relacionamentos onde a
intimidade acessibilitadora tem ajudado a criar condições para que a intimidade emocional,
familiar e política pudessem crescer.
Na minha vida, a intimidade acessibilitadora é algo que tem sido conquistado a duras
penas, de maneira orgânica ou às vezes de maneiras que parece mágica. Ela me pegou de
surpresa, apareceu junto a pessoas as quais eu nunca esperaria ter esse tipo de “conexão
assecibilitadora/ conexão a nível de acessibilidade”. Isso tem sido animador e revelador,
como um longo e lento exalar. Eu não sei de onde ela vem ou como ela ocorre. Ela tem se
feito sentir como uma linguagem não-dita, instintiva entre duas pessoas diferentes, como um
modo inteiramente único de ser capaz de se comunicar e conectar. Similar ao encontrar com
alguém com quem “seu santo bate”, intimidade acessibilitadora se fez sentir como uma
forma distinta de atração, desejo e energia que basta por si só.
Ela tem se mostrado como relacionamentos onde eu sempre sinto que eu posso
dizer quais são minhas necessidades de acessibilidade, não importa o que. Ou dizer que eu
não sei ao certo quais elas são, e isso também é ok. Tem se mostrado como pessoas não
esperando pagamento na forma de moeda emocional ou posse por conta do acesso
[oferecido]. Tem se mostrado como pessoas corpo-normativas/ não-deficientes me ouvindo
e acreditando em mim. Tem se mostrado como pessoas investindo e lembrando-se de
minhas necessidades de acesso e verificando comigo se algumas situações estão
ocorrendo que podem ser inacessíveis ou difíceis com relação às questões da deficiência.
Tem se mostrado como acessibilidade “crip”. Tem se mostrado como solidariedade crip.