Decisão de Concessão de Efeito Suspensivo
Decisão de Concessão de Efeito Suspensivo
Decisão de Concessão de Efeito Suspensivo
06/07/2021
Número: 8019646-10.2021.8.05.0000
Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO
Órgão julgador colegiado: Quinta Câmara Cível
Órgão julgador: Desa. Carmem Lúcia Santos Pinheiro
Última distribuição : 01/07/2021
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 8002012-78.2021.8.05.0039
Assuntos: Multa Cominatória / Astreintes, Liminar, Área de Preservação Permanente
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MAD EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA. TIAGO CARNEIRO FRAGA LIMA (ADVOGADO)
(AGRAVANTE) KALIANY CONCEICAO PINHEIRO SOUZA (ADVOGADO)
VALDICK FIGUEIREDO SOUZA JUNIOR (ADVOGADO)
MARLUS FAGUNDES DE ALMEIDA (ADVOGADO)
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DA BAHIA
(AGRAVADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
16816 06/07/2021 15:10 Decisão Decisão
346
PODER JUDICIÁRIO
DECISÃO
Trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido de efeito suspensivo, interposto por MAD
EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA. em face de decisão proferida pelo MM. Juízo de
Direito da 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Camaçari/BA, que, nos autos da Ação Civil Pública
nº 8002012-78.2021.8.05.0039, ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, ora
Agravado, deferiu o pedido liminar, para determinar a suspensão da vigência de todas as Portarias
emitidas pela Prefeitura Municipal de Camaçari em favor da empresa Agravante, assim como para obstar
a execução de todas as obras referentes ao empreendimento residencial denominado VÍVEA NOVA
CAMAÇARI, com a imediata suspensão dos efeitos do Termo de Acordo e Compromisso para Permissão
Especial de Uso da Faixa de Domínio Integrante do Sistema Viário BA 093, celebrado em 23/02/2021,
especificamente no que se refere a cláusula 5.1.1, que impôs ao Município de Camaçari a obrigação
relativa à construção e manutenção de via de acesso ao empreendimento residencial acima referido, sob
pena de multa diária de R$200.000,00 (duzentos mil reais), até o limite de R$5.000.000,00 (cinco milhões
de reais), a ser revertida em favor do Fundo Estadual do Meio Ambiente.
Esclareça-se que o Ministério Público do Estado da Bahia ajuizou a Ação Civil Pública contra o
Município de Camaçari e a empresa MAD Empreendimentos Imobiliários Ltda., alegando, em síntese,
que o Ministério Público Federal encaminhou notícia de fato a respeito de suposta ilegalidade na
concessão das Licenças Ambientais referentes à implantação do loteamento imobiliário denominado
VÍVEA NOVA CAMAÇARI, conforme Relatório de Fiscalização Ambiental do INEMA (Instituto do
Meio Ambiente e Recursos Hídricos), que teria sido construído com amparo em portarias emitidas pela
municipalidade em detrimento das normas protetoras do Meio Ambiente.
Em suas razões recursais, id. 16675536, a Agravante aduziu, em síntese, a regularidade dos projetos
urbanísticos aprovados, pontuando que se trata de empresa idônea, com atuação no seguimento
imobiliário, pautando suas atividades sempre com atenção à responsabilidade social e ambiental.
Prosseguiu informando que, após a análise e consequente aprovação do Projeto Urbanístico apresentado
pela Agravante, o Município de Camaçari expediu a Portaria nº 132/2012 (Doc. 09), concedendo a
Licença Ambiental de Implantação, com validade de 3 (três) anos, para a construção de um
empreendimento do tipo loteamento, com “Área Total” de 490.165,33m2;, sendo: (i) 393.374.72m2; de
“Área Loteada”, compreendida pela soma da “Área dos Lotes” e das “Áreas Públicas”; e (ii)
96.790,61m2; de “Área de Preservação Permanente”.
Aduziu que, inicialmente, o empreendimento seria composto por 515 (quinhentos e quinze) lotes,
distribuídos em 29 (vinte e nove) quadras, a serem construídos em uma área de 252.068,52m2;,
denominada de “Área dos Lotes”, pontuando que, na Portaria nº 132/2012, a empresa Agravante ficou
obrigada ao atendimento de 10 (dez) condicionantes, exigidas para a aprovação final do empreendimento.
Arguiu que o Projeto Urbanístico revisado foi apresentado e, após análise, aprovado pela SEDUR, em
26/07/2013, tendo sido emitida uma nova AOP de nº 53/2013. Concomitante, afirmou que houve a
formalização de Termo de Acordo e Compromisso, firmado entre o Município de Camaçari e a
Agravante, estabelecendo normas, obrigações e garantias para a implantação do Projeto Urbanístico, bem
como a publicação do Decreto nº 5399/2013 e a expedição do Alvará nº 002/2013, autorizando o início
das obras do loteamento.
Alegou que, em razão das alterações aprovadas no Projeto Urbanístico revisado (Doc. 10), o
empreendimento passou, então, a ser composto por 550 (quinhentos e cinquenta) lotes, com uma
diminuição da “Área dos Lotes”, de 252.068,52m2; para 251.021,93m2;, tendo ocorrido, ainda, uma
diminuição da “Área de Preservação Permanente”, de 96.790,61m2; para 93.313,44m2;, um aumento das
“Áreas Verdes”, de 78.651,06m2; para 79.370,38m2;, e um aumento das “Áreas Públicas”, de
141.306,20m2; para 145.829,96m2;.
Informou que, posteriormente, a Agravante requereu e teve deferida a renovação de sua Licença
Ambiental de Implantação, por meio do Processo Administrativo nº 01345.22.09.461.2016, com a
emissão da Portaria nº 091/2016 (Doc. 16), exatamente, como havia sido mencionado na Portaria nº
046/2013.
Afirmou que não obstante o erro material, a referida Portaria nº 091/2016 trouxe, de forma expressa, as
condicionantes exigidas para a autorização do empreendimento.
Quanto à construção do sistema viário na região da Via Parafuso, arguiu que o Município de Camaçari, a
teor da Cláusula Sétima do TAC firmado em 15/05/2013 (Doc. 12), comprometeu-se, no projeto original,
com a expropriação de área para a sua construção. Sucede que, como não houve o cumprimento da
referida obrigação, não tendo ocorrido a desapropriação, fez-se necessária a modificação do projeto do
Defendeu ser incoerente e contraditória a postura do Ministério Público, quando enxerga ter havido
irregularidade decorrente da ausência da construção do sistema viário, ao mesmo tempo, pede pela
interrupção da respectiva obra, sem, ao menos, apontar qualquer ilegalidade no seu projeto.
No que se refere à redução na Área de Preservação Permanente, afirmou que, no seu Projeto Urbanístico
inicial, que deu origem à Licença Ambiental de Implantação (Portaria nº 132/2012), havia previsão da
construção de um lago artificial no empreendimento, todavia, durante a elaboração do Projeto Urbanístico
definitivo, vinculado à AOP nº 53/2013, que deu origem à Licença Ambiental de Alteração, constatou-se
que não seria viável a construção de um lago artificial naquele espaço, inclusive, em razão de possíveis
prejuízos ambientais decorrentes da necessidade de supressão de vegetação para a acomodação da água,
de modo que a construção do lago foi excluída do segundo Projeto Urbanístico, ensejando, como
consequência, a diminuição da “Área de Preservação Permanente” inicialmente indicada.
Em relação à alegação do Agravado de que teriam existido irregularidades nas Licenças Ambientais
concedidas à Recorrente, afirmou que estas, em verdade, tratam-se de meros equívocos, que não
materializam qualquer ilegalidade, não tendo havido, ainda, dolo, má fé e/ou qualquer prejuízo ao meio
ambiente.
Pontuou que as obras do sistema viário estão sendo realizadas às suas expensas, e que a cláusula que
atribui ao Município a obrigação de conservar e manter as vias não se revela prejudicial ao interesse
público, tendo sido firmada, tão somente, em razão das suas características, considerando que atenderá à
demanda de um número considerável de munícipes.
Ressaltou que não se verifica nas licenças reconhecidas pela decisão agravada como irregulares, nenhuma
referência à obra realizada na Rodovia BA-535, não existindo, da mesma forma, no inquérito civil
colacionado na ação civil pública, qualquer alusão ao sistema viário em questão, de modo que, não é
possível querer imputá-la de irregular, sem que exista qualquer demonstração neste sentido.
Concluiu arguindo a ausência de perigo de dano que justifique o deferimento da medida liminar, na
medida em que as obras do loteamento já foram concluídas.
Pugnou pela concessão do efeito suspensivo ao recurso e, ao final, pelo seu provimento, para reformar a
decisão que deferiu o pedido liminar.
É o breve relatório.
Decido.
Cumpre mencionar que cabe Agravo de Instrumento contra decisões que versem sobre tutela provisória,
na forma prescrita no art. 1.015, I do CPC.
Por outro lado, consta dos autos documentos que comprovam o cumprimento, pela empresa Agravante, de
todas as condicionantes originalmente previstas na Portaria nº 132/2012, que, por erro da Administração,
não foram mencionadas quando houve a publicação da Portaria nº 046/2013, após a revisão do Projeto
Urbanístico.
Cumpre mencionar, neste aspecto, que a alteração no projeto inicialmente apresentado pela Agravante foi
devidamente aprovada pelo órgão competente, o que permitiu a execução das obras e a sua própria
conclusão, revelando-se temerário, neste momento processual, acolher a pretensão deduzida pelo
Agravado, mormente considerando que impactará diretamente na vida de centenas de pessoas, desde
aquelas que adquiriram os lotes, até aquelas que foram contratadas para a sua construção.
Com efeito, a determinação de paralisação das obras, no atual momento, além de não mais se prestar a
evitar suposto dano ambiental, se mostra extremamente prejudicial para todos aqueles que investiram no
empreendimento, guardando a legítima expectativa de construírem seus lares, despendendo, muitas vezes,
as economias de toda uma vida de trabalho, para a consecução do sonho da cada própria.
Os trabalhadores, por seu turno, acaso mantida a decisão liminar, se virão privados do seu sustento, sendo
surpreendidos com a demissão em massa, em plena pandemia do coronavírus, retirando o sustento das
suas respectivas famílias.
Com relação às obras do sistema viário, observa-se que o fundamento que embasou o deferimento da
medida liminar foi a existência de cláusula contratual supostamente prejudicial ao interesse público, por
ter imposto à municipalidade a obrigação de construir e manter a via de acesso ao empreendimento
residencial. Todavia, os documentos de ids. 16679565/16678566 e 16679556 revelam que as vias de
acesso já estão concluídas e que a construção das obras do sistema viário será custeada pela
empresa Agravante.
Ademais, não se verifica, nas licenças supostamente irregulares, nenhuma referência à obra realizada na
Rodovia BA-535, não existindo, da mesma forma, no inquérito civil colacionado à Ação Civil Pública,
qualquer alusão ao sistema viário em questão, de modo que, não é possível querer imputá-la de irregular,
sem que exista qualquer demonstração neste sentido.
Registre-se que esta Relatora não desconsidera os relevantes argumentos deduzidos na exordial da Ação
Civil Pública ou, tampouco, a fundamentação que embasou a decisão agravada. Porém, analisando
cuidadosamente o feito e a farta documentação produzida pela Agravante, nota-se que não existe perigo
da demora que justifique o deferimento de medida liminar, sendo mais prudente, neste momento
processual, permitir a conclusão da obra do sistema viário, única que ainda se encontra pendente.
Corroborando o entendimento ora exposto, precedentes jurisprudenciais pátrios, inclusive desta Corte de
Justiça:
Destarte, mostra-se prematura a interrupção da obra que foi devidamente licenciada pela Administração
Pública, levando-se em consideração o impacto social que pode ser gerado sem que haja prova concreta
do dano ambiental efetivo.
Assim, para o acolhimento das pretensões estampadas na peça inicial da Ação Civil Pública, imperioso
perquirir com minúcia se estão presentes as ilegalidades mencionadas quanto à responsabilidade
ambiental, sendo descabida tal análise em sede de agravo de instrumento, exatamente em razão da
excepcional possibilidade de intervenção do Poder Judiciário sobre o mérito administrativo.
Intime-se o Agravado para, querendo, apresentar contrarrazões, nos termos do artigo 1.019, II, do Código
de Processo Civil.
Relatora