Notas de Aula de EDB - Rodney J. Biezuner - Iedp-2-Rodney
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Introdução às
Equações Diferenciais Parciais
1
Rodney Josué Biezuner
Departamento de Matemática
Instituto de Ciências Exatas (ICEx)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
12 de outubro de 2007
1
E-mail: rodney@mat.ufmg.br; homepage: http://www.mat.ufmg.br/∼rodney.
Sumário
0 Introdução 5
0.1 Condução do Calor em uma Barra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
0.1.1 Modelagem Fı́sica e Matemática do Problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
0.1.2 Algumas Formas mais Gerais para a Equação do Calor . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
0.1.3 Condição Inicial e Condição de Fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
0.1.4 Solução do Modelo Matemático: O Método de Separação de Variáveis e Séries de Fourier 11
0.1.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
0.2 Leis de Conservação e Relações Constitutivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
0.2.1 Lei de Conservação Unidimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
0.2.2 Lei de Conservação em Várias Dimensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
0.2.3 Relações Constitutivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
0.2.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1 Séries de Fourier 20
1.1 Propriedades das Funções Seno e Cosseno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.1.1 Periodicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.1.2 Relações de Ortogonalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.1.3 Produto Interno no Espaço das Funções Quadrado-Integráveis . . . . . . . . . . . . . . 23
1.1.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.2 Cálculo dos Coeficientes da Série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.3 Teorema de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.3.1 Existência da Série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.3.2 Funções Contı́nuas por Partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.3.3 O Teorema de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.3.4 Estimativa dos Coeficientes de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.3.5 Séries de Fourier de Funções Pares e Ímpares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.3.6 Extensões Periódicas Pares e Ímpares de Funções Definidas em Intervalos . . . . . . . 38
1.3.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
1.4 Convergência da Série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
1.4.1 Convergência Puntual da Série de Fourier: Demonstração do Teorema de Fourier . . . 43
1.4.2 Diferenciação e Integração Termo a Termo da Série de Fourier . . . . . . . . . . . . . 48
1.4.3 Desigualdade de Bessel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
1.4.4 Convergência Uniforme da Série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
1.4.5 Identidade de Parseval . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
1.4.6 Sistemas Ortogonais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
1.4.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
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Introdução
Uma equação diferencial parcial (EDP) é uma equação matemática envolvendo derivadas parciais. Uma
solução para uma equação diferencial parcial é uma função cujas derivadas parciais satisfazem a equação.
Dizemos que uma equação diferencial parcial tem ordem m quando a derivada parcial de ordem mais alta
tem ordem m.
A maioria das equações diferenciais parciais surgem de modelos fı́sicos. Uma outra classe importante
surge de problemas em geometria diferencial. Nestas notas, cada equação que estudarmos será precedida
pela introdução de um modelo fı́sico. O modelo fı́sico, além de prover uma motivação para o estudo de
determinada equação (por que estudar exatamente esta equação diferencial parcial, já que existem infinitas
outras possibilidades matemáticas?), sugere as propriedades matemáticas que as soluções desta equação
devem ter e, muitas vezes, métodos para resolvê-la ou até mesmo a expressão exata da solução.
Como exemplos de áreas que são altamente dependentes do estudo de EDPs, destacamos as seguintes:
acústica, aerodinâmica, elasticidade, eletrodinâmica, dinâmica dos fluidos, geofı́sica (propagação de ondas
sı́smicas), transferência do calor, meteorologia, oceanografia, ótica, prospecção de petróleo, fı́sica do plasma,
mecânica quântica, relatividade, circulação de fluidos dentro de organismos vivos e crescimento de tumores.
Nesta introdução veremos como muitas equações diferenciais parciais importantes surgem através de leis
de conservação. Veremos antes um exemplo concreto: a equação do calor unidimensional, que é a forma
diferencial da lei de conservação da energia térmica. Além disso, introduziremos um método de solução para
equações diferenciais parciais lineares: o método de separação de variáveis e o uso de séries de Fourier, cuja
teoria será desenvolvida a partir do primeiro capı́tulo.
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Portanto, este é um problema de condução de calor unidimensional. Em outras palavras, as variáveis fı́sicas
são constantes em cada seção transversal da barra, podendo variar apenas de uma seção para outra.
Consideremos a barra posicionada no eixo x, com uma das extremidades na origem x = 0; logo a outra
extremidade ocupa a posição x = L. Queremos determinar como a temperatura em cada ponto da barra
varia à medida que o tempo passa. Para isso, vamos analisar o fluxo de calor ao longo da barra. Inicialmente,
considere duas seções transversais da barra, localizadas em x e x + ∆x, delimitando uma fatia da barra.
Através destas seções, calor flui (entra ou sai) para ou desta fatia. Denotaremos o fluxo de calor, isto é, a
quantidade de calor por unidade de tempo fluindo para a direita por unidade de área, por φ(x, t); no S.I., o
fluxo de calor tem como unidades Joules/m2 s.
Esta quantidade de calor total que entra ou sai da fatia por instante de tempo pode ser calculada em função
das temperaturas nas seções transversais que delimitam a fatia através da Lei de Condução do Calor de
Fourier (esta lei foi empiricamente observada por Fourier):
Lei de Condução do Calor de Fourier. Sejam P1 e P2 duas placas formadas de um mesmo material
e de mesma área igual a A, mantidas a temperaturas constantes respectivas T1 e T2 . Se elas forem
colocadas paralelamente a uma distância d uma da outra, haverá passagem de calor da placa mais
quente para a placa mais fria e a quantidade de calor transferida de uma placa para a outra por
unidade de tempo (ou seja, a taxa de transferência de calor, medida em Joules/s) é dada por
|T2 − T1 |
Φ = kA ,
d
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onde k é uma constante especı́fica do material entre as placas, chamada condutividade térmica do
material.
Denotemos
Logo, como k é constante (pois assumimos que a barra é feita de um único material homogêneo), temos
Z t1 Z b
Q = kA uxx (x, t) dxdt. (1)
t0 a
Por outro lado, também é observado experimentalmente que a quantidade de calor absorvida por uma
substância em um perı́odo de tempo é diretamente proporcional à massa desta substância e à variação média
de sua temperatura durante o intervalo de tempo considerado:
Q = cm∆u.
A constante de proporcionalidade, denotada por c, depende de cada substância e é chamada o calor especı́fico
da substância; em outras palavras, o calor especı́fico nada mais é que a quantidade de calor necessária para
elevar em um grau a temperatura de uma unidade de massa da substância; no S.I., o calor especı́fico tem
como unidades Joules/kgK. Embora o calor especı́fico de uma substância em geral varie com a temperatura
em que ela se encontra (isto é, c = c(u)), para diferenças de temperaturas não muito grandes o calor especı́fico
é aproximadamente constante.
Aplicamos esta lei empı́rica novamente a um segmento qualquer da barra entre as posições x = a e x = b.
A variação média da temperatura neste segmento da barra no intervalo de tempo que vai de t0 até t1 é
obtida tomando-se a média das variações médias das temperaturas de todos os pontos da barra, ou seja
Z b
1
∆u = [u(x, t1 ) − u(x, t0 )] dx.
b−a a
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sendo m a massa deste segmento e c o calor especı́fico do material que constitui a barra. Por outro lado,
escrevendo m = ρA(b − a), onde ρ é a densidade volumétrica da barra, e trocando a ordem dos limites de
integração, obtemos
Z t1 Z b
Q = cρA ut (x, t) dxdt. (2)
t0 a
Igualando as duas expressões obtidas em (1) e (2) para a quantidade total de calor Q que entra no
segmento da barra entre x = a e x = b no perı́odo de t0 até t1 , obtemos a equação do calor em sua forma
integral:
Z t1 Z b Z t1 Z b
cρ ut (x, t) dxdt = k uxx (x, t) dxdt.
t0 a t0 a
Mas a, b, t0 , t1 são arbitrários, logo os integrandos são necessariamente iguais e assim obtemos a equação do
calor na sua forma diferencial
ut = Kuxx , (3)
k
onde K = é chamada a difusividade térmica do material. A equação (3) é chamada simplesmente
cρ
a equação do calor, e representa a lei de variação da temperatura u(x, t) de uma barra uniforme com
superfı́cie lateral termicamente isolada. Ela descreve como o calor se espalha ou se difunde com o passar do
tempo, um processo fı́sico conhecido como difusão. Outras quantidades fı́sicas também se difundem seguindo
esta mesma equação diferencial parcial (em situações unidimensionais), como por exemplo a concentração de
substâncias quı́micas, tais como perfumes ou polutantes, e por este motivo a equação (3) também é chamada
mais geralmente de equação de difusão.
Observação: A forma diferencial da equação do calor também pode ser obtida mais diretamente. De fato,
diferenciando a lei de Fourier
φ(x, t) = −kux (x, t)
em relação a x obtemos
φx = −kuxx . (4)
Por outro lado, vimos acima que
Z t1 Z b Z t1
Q=− [φ(b, t) − φ(a, t)]A dt = cρA ut (x, t) dt dx.
t0 a t0
Agora, ao invés de usar a lei de Fourier na integral do lado esquerdo como fizemos acima para obter (1),
usamos o Teorema Fundamental do Cálculo para escrevê-la na forma
Z t1 Z "Z #
t1 b
[φ(b, t) − φ(a, t)]A dt = φx (x, t) dx A dt.
t0 t0 a
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Logo,
Z b Z t1 Z b Z t1
− φx (x, t) dt dx = cρ ut (x, t) dt dx.
a t0 a t0
Como a, b, t0 , t1 são arbitrários, os integrandos devem ser iguais e portanto obtemos a equação
φx = −cρut . (5)
Igualando as expressões (4) e (5) para φx , obtemos novamente a equação do calor.
de modo que
Z t1 Z b
Q=A [k(x)ux (x, t)]x dxdt.
t0 a
Do mesmo modo, pode ocorrer que o calor especı́fico do material que constitui a barra varie com x, assim
como a sua densidade linear (o que certamente ocorrerá na situação dada acima como exemplo). Logo,
Z t1 Z b
Q=A c(x)ρ(x)ut (x, t) dxdt
t0 a
Portanto, nesta situação, a equação do calor que descreve a variação da temperatura da barra com o passar
do tempo se torna
c(x)ρ(x)ut = [k(x)ux ]x , (6)
Esta equação é chamada a equação do calor na forma divergente.
Pode também ocorrer que exista uma fonte interna de calor em regiões da barra, devida por exemplo a
reações quı́micas, nucleares ou aquecimento elétrico. Denotemos
q(x, t) = quantidade de calor gerada por unidade de volume por unidade de tempo.
À quantidade total de calor Q que entra no segmento da barra entre x = a e x = b no perı́odo de t0 até t1 ,
devido ao fenômeno de condução do calor ao longo da barra, deve ser somada a quantidade de calor gerada
internamente no segmento durante este perı́odo, antes de igualar à expressão obtida em (2) (isso nada mais
é que a lei de conservação do calor, um caso particular da lei de conservação da energia). Pela definição de
q(x, t), este calor gerado internamente é dado por
Z t1 Z b
q(x, t)A dxdt.
t0 a
É claro que nada impede que as duas situações acima ocorram simultaneamente. Neste caso, a equação
completa que descreve o fenômeno da condução de calor na barra será
u(x, 0) = f (x).
Esta é a única condição inicial necessária. Matematicamente, esta necessidade é expressa pelo fato da equação
diferencial parcial (3) possuir uma derivada parcial em relação ao tempo de primeira ordem (como no caso de
equações diferenciais ordinárias de primeira ordem, em que é necessário saber apenas uma condição inicial,
o valor da função no instante inicial, para se conhecer a solução única da equação).
Além disso, a distribuição de temperaturas na barra ao longo do tempo também deve depender do que
se passa nas extremidades da barra, que podem não estar isoladas termicamente e portanto podem permitir
a entrada ou saı́da de calor, influindo na distribuição de temperaturas na barra com o passar do tempo. As
condições nas extremidades da barra são chamadas de condições de fronteira. Matematicamente, isso se
deve ao fato da equação diferencial parcial (3) depender também da variável x. Podemos imaginar vários
tipos de condições de fronteira para o problema da barra:
u(0, t) = T1 e u(L, t) = T2 .
2. Temperaturas nas extremidades variando com o tempo de acordo com funções conhecidas:
3. Extremidades isoladas termicamente (ou seja, o fluxo de calor através das extremidades é nulo e a
barra está completamente isolada):
ux (0, t) = ux (L, t) = 0.
u(0, t) = 0 e ux (L, t) = 0.
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Com uma condição inicial e qualquer uma destas condições de fronteira o problema matemático está
bem posto, admitindo uma única solução, conforme veremos em detalhes em um capı́tulo posterior. Uma
condição do tipo 1 ou 2, em que são dados valores para a solução da equação diferencial parcial na fronteira,
é chamada uma condição de Dirichlet. Uma condição do tipo 3 ou 4, em que são dados valores para a
derivada da solução da equação diferencial parcial na fronteira em relação à variável espacial, é chamada
uma condição de Neumann. Uma condição mista, envolvendo tanto o valor da solução como o de sua
derivada espacial na fronteira, exemplificada pela condição do tipo 5, é chamada uma condição de Robin.
Observação: O fato da equação do calor (3) ter uma derivada parcial em relação à variável x de segunda
ordem não tem nada a ver com o fato de precisarmos de duas condições de fronteira. Se fôssemos usar a
analogia com equações diferenciais ordinárias, seria por exemplo suficiente especificar u(0, t) e ux (0, t), mas
este tipo de problema não tem solução em geral (é chamado sobredeterminado). O fato de precisarmos de
duas condições de fronteira é uma simples conseqüência da fronteira de um segmento ser formada por dois
pontos (no caso, a fronteira do segmento [0, L] é formada pelos pontos 0 e L). Na verdade, essencialmente
temos apenas uma condição de fronteira; o que ocorre é que, no caso de um segmento, a fronteira é desconexa
e esta condição de fronteira é mais facilmente expressa por duas sentenças. Este conceito ficará mais claro
quando estudarmos equações diferenciais parciais em regiões do plano e do espaço.
Uma condição de fronteira de grande interesse prático ocorre quando a barra está em contato com um
fluido em movimento, como ar ou água. Como exemplo desta situação, imagine uma barra quente em contato
com ar mais frio em movimento. Calor deixa a barra, aquecendo o ar, que leva o calor embora, no conhecido
processo de convecção. Experimentos mostram que o fluxo do calor que deixa a barra é proporcional à
diferença de temperatura entre a barra e a temperatura exterior:
Kux (0, t) = H[u(0, t) − T ];
T é a temperatura externa e a constante de proporcionalidade H é chamada o coeficiente de transferência de
calor ou coeficiente de convecção; a constante H depende do material que forma a barra e das propriedades
do fluido (tais como sua velocidade). Esta é a chamada lei de resfriamento de Newton. Note que esta
condição de fronteira envolve uma combinação linear entre u e ux e é uma condição de Robin. Como pela
lei de Fourier o fluxo de calor é dado por φ = −kux , temos que φ(0, t) = −kH[u(0, t) − T ], de modo que se a
barra está mais quente que o ambiente exterior (u(0, t) > T ), o fluxo é negativo, isto é, na direção negativa
do eixo x, saindo da extremidade da barra localizada em x = 0 para o ambiente externo, e vice-versa. Por
causa disso, no caso da outra extremidade, localizada no ponto x = L, a lei de resfriamento de Newton deve
então ser escrita na forma
Kux (L, t) = −H[u(L, t) − T ].
Esta é apenas uma suposição, que pode ou não ser correta (na verdade, veremos que em geral esta suposição
está errada, mas ainda assim ela nos ajudará a encontrar a solução correta para o problema). A vantagem
de fazer esta suposição é que ela simplifica consideravelmente o problema, transformando um problema de
encontrar a solução de uma equação diferencial parcial, que não sabemos como resolver, em um problema de
encontrar a solução de uma equação diferencial ordinária, que sabemos resolver. De fato, substituindo (10)
na equação do calor, obtemos
F (x)G0 (t) = KF 00 (x)G(t)
donde
F 00 (x) 1 G0 (t)
= .
F (x) K G(t)
Note que o lado esquerdo desta equação depende apenas de x, enquanto que o lado direito depende apenas
de t. Isso só pode ser possı́vel se na verdade ambos os lados forem independentes de x e t, isto é,
F 00 (x) 1 G0 (t)
=σ e =σ
F (x) K G(t)
onde σ ∈ R é uma constante. Portanto o problema se reduz a resolver duas equações diferenciais ordinárias:
para t > 0.
Vamos resolver primeiro (11). Fazemos isso, apesar dela ser uma equação mais complexa que (12), porque
as condições de fronteira de (9) implicam que F satisfaz as condições
De fato, a condição de fronteira u(0, t) = 0 implica que F (0)G(t) = 0 para todo t > 0, o que por sua vez
implica que F (0) = 0 (a menos que G(t) = 0 para todo t, o que significaria que u ≡ 0, uma solução que não
nos interessa, exceto no caso raro em que a condição inicial seja também f ≡ 0); similarmente a condição de
fronteira u(L, t) = F (L)G(t) = 0 implica que F (L) = 0. Assim, apesar da equação (11) ser mais complexa,
ela está sujeita a restrições, o que não ocorre com a equação (12): a condição (13) restringe as soluções
de (11), o que ultimamente limitará os valores possı́veis de σ. Em princı́pio, há três soluções possı́veis,
dependendo do sinal de σ:
Logo, a condição (13) implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o sistema
½
c1 + c =0 √
√ 2 .
c1 e σL + c2 e− σL = 0
Mas a única solução deste sistema é c1 = c2 = 0, o que levaria a F ≡ 0 e portanto u ≡ 0, solução que
não nos interessa (a não ser que a condição inicial fosse u(x, 0) ≡ 0).
Rodney Josué Biezuner 13
F (x) = c1 x + c2 .
Como não queremos c2 = 0, devemos ter sen λL = 0, o que implica λL = nπ, onde n ∈ N pode ser um
inteiro positivo qualquer.
Portanto, para cada valor de n uma solução não nula para o problema (11), (13) é da forma
nπ
Fn (x) = sen x, (14)
L
por este motivo chamada uma autofunção para o problema (11), (13) associada ao autovalor
n2 π 2
−σ = λ2n = . (15)
L2
A equação (12) é imediatamente resolvida através de uma integração simples. A solução de (12) é da
forma
G(t) = ceσKt ,
onde c ∈ R é uma constante real. Como o valor de σ para que o problema (9) tenha soluções não nulas é o
dado em (15), segue que para cada valor de n temos uma solução relevante de (12) dada por (a menos da
constante)
n2 π 2
Gn (x) = e− L2
Kt
. (16)
Segue que para cada n = 1, 2, 3, . . ., temos uma função
n2 π 2 nπ
un (x, t) = e− L2
Kt
sen x
L
que é uma solução para a equação diferencial parcial do problema (9) satisfazendo às suas condições de
fronteira.
Por outro lado, precisamos de uma solução que também satisfaça à condição inicial u(x, 0) = f (x). Logo,
as soluções que encontramos só funcionam se a função f (x) tem uma forma muito particular, ou seja, se
f (x) for um múltiplo escalar da função seno. Por exemplo,
π
se f (x) = 3 sen x, então (9) tem solução u(x, t) = 3u1 ;
L
5π
se f (x) = 17 sen x, então (9) tem solução u(x, t) = 17u5 .
L
Rodney Josué Biezuner 14
segue que
N
X n2 π 2 nπ
u(x, t) = cn e− L2
Kt
sen x (17)
n=1
L
1. Será que toda função f (x) realmente pode ser escrita como uma série de Fourier?
2. Se a resposta à pergunta anterior for negativa, quais são as funções que possuem séries de Fourier?
Será que elas formam uma classe suficientemente grande para abranger todas ou uma quantidade
significativa das funções que surgem nos problemas práticos?
3. Mesmo que f (x) possa ser representada por uma série de Fourier, será que a série definida acima para
u(x, t) converge para uma função diferenciável em t e duas vezes diferenciável em x que é a solução de
(9)?
Rodney Josué Biezuner 15
Estas perguntas mostram a necessidade de se desenvolver uma teoria para as séries de Fourier. Faremos isso
no próximo capı́tulo.
Observação: Note que nem o candidato à solução (18), e nem mesmo a solução (17), são produtos de duas
funções de uma variável, uma dependendo apenas de x e outra dependendo apenas de t (elas são na realidade
somas de produtos de funções de uma variável, soma finita em um caso, soma infinita no outro). Portanto a
suposição inicial de que partimos no método de separação de variáveis é errada para a maioria das condições
iniciais, a não ser que elas sejam múltiplos de sen(nπx/L). Mas, usando a linearidade da equação do calor,
pudemos usar as soluções obtidas através do método de separação de variáveis e a partir delas construir a
solução para o problema geral. Este é um método freqüentemente usado em ciências exatas: simplificar um
problema complexo através de uma suposição que em geral não é válida, mas a partir da solução para o
problema simplificado, construir a solução correta para o problema complicado.
0.1.5 Exercı́cios
Exercı́cio 0.1. Mostre que a equação do calor é linear, isto é, se u1 (x, t) e u2 (x, t) são soluções da equação
diferencial parcial ut = Kuxx , então au1 (x, t) + bu2 (x, t) também é, quaisquer que sejam a, b ∈ R.
Além disso, se elas satisfazem as condições de fronteira homogêneas u(0, t) = u(L, t) = 0, então
au1 (x, t) + bu2 (x, t) também satisfaz.
Exercı́cio 0.2. Mostre que a equação mais geral do calor, c(x)ρ(x)ut = [K(x)ux ]x + q(x, t), também é uma
equação linear.
Exercı́cio 0.3. Proceda como fizemos no texto e encontre um candidato à solução para o seguinte problema
de valor inicial com condição de fronteira de Neumann homogênea:
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
ux (0, t) = ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L.
Seja u = u(x, t) a densidade ou concentração de alguma substância, por unidade de volume, que depende
apenas de uma variável espacial x ∈ R e do tempo t > 0. Novamente enfatizamos que a substância cuja
densidade estamos medindo pode ser massa, momento, energia, população, ou qualquer outra coisa, material
ou abstrata. Por exemplo, no caso da equação do calor, a temperatura u é uma medida da densidade de
energia térmica. De fato, se e(x, t) denota a densidade de energia térmica, isto é, a quantidade de energia
térmica por unidade de volume, então a densidade de energia térmica e a temperatura estão relacionadas
através da equação
e(x, t) = c(x)ρ(x)u(x, t),
cujo significado é: a energia térmica por unidade de volume é igual à energia térmica por unidade de massa
por unidade de temperatura (i.e., o calor especı́fico), vezes a temperatura, vezes a densidade volumétrica de
massa.
Imaginamos que a substância está distribuı́da em um tubo uniforme com seção transversal de área
constante A. Por hipótese, u é constante em cada seção transversal do tubo, variando apenas na direção x.
Considere um segmento arbitrário do tubo, entre as seções transversais localizadas em x = a e em x = b.
Chamamos este segmento de volume de controle. A quantidade total da substância dentro do volume de
controle no instante de tempo t é
Z b
Quantidade total da substância
= u(x, t)A dx.
dentro do volume de controle a
Assuma agora que existe movimento da substância através do tubo na direção axial. Definimos o fluxo
φ(x, t) da substância no tempo t como sendo a quantidade da substância fluindo através da seção transversal
em x no tempo t por unidade de área, por unidade de tempo. Assim as dimensões de φ são [φ] = quantidade
da substância / (área × tempo). Por convenção, φ será positivo se a substância estiver se movendo na direção
positiva do eixo x, e negativo se ela estiver se movendo na direção negativa do eixo x. Portanto, no tempo t,
a quantidade lı́quida de substância permanecendo no volume de controle será a diferença entre a quantidade
da substância entrando em x = a e a quantidade da substância saindo em x = b:
Esta é a lei de conservação na forma integral, valendo mesmo se u, φ ou f não forem funções diferenciáveis
(o que pode ocorrer em certos fenômenos fı́sicos, como por exemplo naqueles que envolvem ondas de choque
ou outros tipos de descontinuidade). Se estas funções forem continuamente diferenciáveis, podemos derivar
sob o sinal de integração na primeira integral
Z Z b
d b
u(x, t) dx = ut (x, t) dx,
dt a a
Em n dimensões, o fluxo pode ser em qualquer direção, logo ele é uma grandeza vetorial que denotaremos
por φ(x, t). Se η(x) denota o vetor unitário normal apontando para fora da região V , a taxa de transferência
lı́quida da substância para fora do volume de controle através de sua fronteira ∂V é dada por
Z
Taxa de transferência lı́quida da substância
= φ(x, t) · η(x) dS.
para fora do volume de controle ∂V
Se u, φ e f forem todas de classe C 1 (assim como a região V ), podemos derivar sob o sinal de integração e
usar o Teorema da Divergência
Z Z
φ(x, t) · η(x) dS = div φ(x, t) dV,
∂V V
Exemplo 0.1. (Equação do Calor) No caso da equação do calor, a relação constitutiva é a lei de Fourier:
De fato, para materiais isotrópicos (isto é, materiais em que não existem direções preferenciais) verifica-
se experimentalmente que o calor flui de pontos quentes para pontos frios na direção em que a diferença
de temperatura é a maior. O fluxo de calor é proporcional à taxa de variação da temperatura nesta
direção, com a constante de proporcionalidade k sendo por definição a condutividade térmica, como
no caso unidimensional. Como sabemos, a direção onde uma função cresce mais rápido é exatamente
aquela dada pelo vetor gradiente da função, e o módulo do gradiente fornece a magnitude da taxa
de variação da função nesta direção. O sinal negativo ocorre, como no caso unidimensional, porque o
vetor gradiente aponta na direção de crescimento da temperatura, enquanto que o fluxo do calor se dá
na direção oposta (da temperatura maior para a temperatura menor). O fluxo do calor em uma região
bi ou tridimensional pode ser facilmente visualizado quando se lembra que o gradiente de uma função é
perpendicular às superfı́cies de nı́vel da função. No caso em que a função é a temperatura, as superfı́cies
de nı́vel são chamadas superfı́cies isotérmicas ou, simplesmente, isotermas. Assim, o calor flui das
isotermas mais quentes para as isotermas mais frias, e em cada ponto da isoterma perpendicularmente
à isoterma. Em outras palavras, as linhas de corrente do fluxo de calor correspondem às linhas de fluxo
do campo gradiente da temperatura.
Portanto, a equação do calor em Rn com termo fonte independente de u tem a forma
∂2u ∂2u
∆u = div ∇u = + . . . + . (25)
∂x21 ∂x2n
¤
Exemplo 0.2. (Equação da Difusão) Em muitos outros processos fı́sicos observa-se que a substância flui
a uma taxa diretamente proporcional ao gradiente de densidade, de regiões de maior densidade para
regiões de menor densidade. Esta relação geral é chamada de lei de Fick :
Além do calor, exemplos de outras substâncias que se comportam assim são substâncias quı́micas
dissolvidas em algum fluido (neste caso, u representa a concentração quı́mica) e até mesmo populações
de insetos. Além de ser confirmada através de observações empı́ricas, a lei de Fick que governa estes
e vários outros fenômenos fı́sicos e biológicos pode ser justificada teoricamente através de argumentos
baseados em modelos probabilı́sticos e caminhos aleatórios. ¤
Exemplo 0.3. Quando o termo fonte não é independente de u, processos governados pela lei de conservação
e pela lei de Fuck são regidos pela chamada equação da difusão-reação
O termo fonte, também chamado termo de reação, pode ser não linear em u. Exemplos importantes
aparecem na teoria de combustão e em biologia. ¤
Exemplo 0.4. (Equação da Continuidade) Se ρ denota a densidade de um fluido e V é o campo de ve-
locidades de escoamento do fluido, o fluxo de massa (taxa de transferência de massa, medida em
quantidade de massa / (área)×(tempo)) é dado por
φ = ρV.
Note que a densidade ρ = ρ(x, t) de um fluido movendo-se no espaço, assim como o seu campo de
velocidades V = V(x, t), são funções da posição no espaço e do instante de tempo considerado. A lei
de conservação de massa implica então a equação da continuidade
ρt + div(ρV) = 0.
0.2.4 Exercı́cios
Exercı́cio 0.4. Identifique as relações constitutivas para as seguintes leis de conservação escritas em forma
diferencial:
1. Equação de Burgers:
ut + u ux = 0.
2. Equação de Korteweg-deVries (KdV):
ut + u ux + uxxx = 0.
Séries de Fourier
Para determinar a possibilidade de uma determinada função poder ser expressa como uma série de Fourier,
bem como para obter os coeficientes da série de Fourier da função quando isso ocorrer, precisamos antes
estudar certas propriedades das funções seno e cosseno.
Claramente, se T é um perı́odo para a função f , então qualquer múltiplo inteiro de T também é um perı́odo
para f : 2T , −2T , 3T , −3T , 4T , −4T , etc. Por exemplo,
Definição. O menor perı́odo positivo de uma função periódica f é chamado o perı́odo fundamental.
Em geral, o perı́odo fundamental de uma função periódica é referido simplesmente como o perı́odo da função.
Porque o valor de uma função periódica repete-se a cada intervalo de comprimento igual ao seu perı́odo,
para conhecer uma função periódica de perı́odo T basta descrevê-la em qualquer intervalo de comprimento
T ; o seu gráfico é obtido repetindo-se o gráfico neste intervalo em qualquer outro intervalo de comprimento
T.
Exemplo 1.1.
(a) As funções seno e cosseno são periódicas e ambas têm perı́odo 2π.
(b) Funções constantes são funções periódicas que não possuem perı́odo fundamental, pois qualquer número
real não nulo é um perı́odo para a função constante, logo não existe um menor perı́odo positivo. Do
mesmo modo, a função ½
1 se x é racional,
f (x) =
0 se x é irracional,
é uma função periódica que não possui perı́odo fundamental, pois todo número racional não nulo é um
perı́odo para f (observe que números irracionais não são perı́odos para f ).
20
Rodney Josué Biezuner 21
(c) A função f (x) = x − bxc, onde bxc é o maior inteiro menor que ou igual a x, é periódica de perı́odo 1.
0,8
0,6
0,4
0,2
0
-3 -2 -1 0 1 2 3
x
(d) Podemos encontrar uma infinidade de exemplos de funções periódicas, simplemente definindo uma função
em um intervalo de comprimento T e declarando que ela é periódica de perı́odo T , desta forma definindo
ela na reta toda. Ou seja, suponha que a função f foi inicialmente definida no intervalo I de compri-
mento T ; dado x ∈ R, se x ∈ / I, determine um inteiro k tal que x + kT ∈ I (k é positivo se x está
localizado à esquerda do intervalo I e negativo se x está à direita de I) e defina
f (x) = f (x + kT ).
Desta forma, definimos uma função f na reta toda que é automaticamente periódica de perı́odo T . Por
exemplo, podemos definir uma função g por
½
−x se − L 6 x < 0,
g(x) =
x se 0 6 x < L,
e declará-la periódica de perı́odo 2L.
0,8
0,6
0,4
0,2
0
-2 -1 0 1 2
x
Para que a definição desta extensão periódica seja consistente, observe que o intervalo I deve ser fechado
em um extremo e aberto no outro ou, se o intervalo I for fechado nos dois extremos, a função deve ter
os mesmos valores nestes extremos. ¤
Com relação aos perı́odos das funções que constituem a série de Fourier, fazemos a seguinte importante
observação:
Rodney Josué Biezuner 22
nπx nπx 2L
Proposição 1.2. As funções sen e cos têm o mesmo perı́odo fundamental, igual a .
L L n
Prova. De fato, na verdade vale a seguinte afirmação mais geral: para qualquer valor α ∈ R, α 6= 0,
2π
sen αx e cos αx têm perı́odo fundamental igual a .
α
Isso pode ser determinado através do seguinte argumento: queremos encontrar o menor valor positivo de T
para o qual vale
sen α(x + T ) = sen αx para todo x ∈ R,
ou seja,
sen αx cos αT + cos αx sen αT = sen αx para todo x ∈ R.
Para determinar αT , o que conseqüentemente determinará T , basta obter os valores de sen αT e cos αT ,
pois um ângulo fica completamente determinado quando se conhece os valores de seu seno e de seu cosseno,
a menos de múltiplos de 2π. Para isso, observamos que a equação acima é válida para qualquer valor de x.
Em particular, substituindo o valor x = 0 na expressão acima, obtemos
sen αT = 0,
π
o que implica que αT é um múltiplo de π. Agora, substituindo o valor x = na expressão acima, obtemos
2α
cos αT = 1.
Logo, αT é necessariamente um múltiplo de 2π. Como queremos o menor valor positivo de T , segue que
αT = 2π
e, portanto,
2π
T = .
α
A mesma conclusão vale para a função cos αx, já que a função cosseno nada mais é que a função seno
defasada. ¥
Como conseqüência deste resultado, já que qualquer múltiplo inteiro do perı́odo fundamental é um perı́odo,
nπx nπx
segue que para todo n as funções sen e cos têm o valor 2L como perı́odo comum.
L L
Prova. Estas relações podem ser obtidas através de integração direta e uso das identidades trigonométricas.
Por exemplo, se n 6= m, escrevemos
Z L Z · ¸
nπx mπx 1 L (n − m)πx (n + m)πx
sen sen dx = cos − cos dx
−L L L 2 −L L L
· ¯L
11 1 (n − m)πx 1 (n + m)πx ¯¯
= sen − sen ¯
2π n−m L n+m L −L
= 0.
Se n = m, escrevemos
Z Z ³ Z · ¸
L
nπx mπx L
nπx ´2 1 L 2nπx
sen sen dx = sen dx = 1 − cos dx
−L L L −L L 2 −L L
· ¯L
1 L 2nπx ¯¯
= x− sen
2 2nπ L ¯−L
= L.
das funções definidas no intervalo [a, b] cujo quadrado é integrável, podemos definir um produto interno por
Z b
hu, vi = u(x)v(x) dx.
a
Porque as funções são quadrado-integráveis, a integral acima está bem definida e é finita (caso contrário, se
duas funções são apenas integráveis, o produto delas não é necessariamente integrável; tome, por exemplo,
u(x) = v(x) = x−1/2 no intervalo [0, 1]). De fato, como para quaisquer A, B ∈ R vale a desigualdade
2AB 6 A2 + B 2 , segue que
Z b Z b Z b
1 1
u(x)v(x) dx ≤ u2 (x) dx + v 2 (x) dx < ∞.
a 2 a 2 a
hu, vi
](u, v) = arccos ,
kuk kvk
1.1.4 Exercı́cios
Exercı́cio 1.1. Sejam f, g : R → R funções periódicas de perı́odo T . Mostre que
(a) f + g é periódica de perı́odo T .
(b) αf é periódica de perı́odo T para qualquer escalar α ∈ R.
(c) O conjunto PT (R) das funções periódicas de perı́odo T é um subespaço vetorial do espaço F(R) das
funções reais definidas na reta.
(d) f g é periódica de perı́odo T .
(e) f /g é periódica de perı́odo T (assuma que g nunca se anula).
³x´
(f ) f é periódica de perı́odo aT .
a
T
(g) f (ax) é periódica de perı́odo .
a
(h) Se h é uma função qualquer (não necessariamente periódica), então a composta h ◦ f é periódica de
perı́odo T .
Exercı́cio 1.2. Sejam f, g : R → R funções periódicas de perı́odos fundamentais diferentes. Podemos
concluir que f + g é periódica? Podemos concluir que f + g não é periódica?
Exercı́cio 1.3. Sejam f1 , f2 : R → R funções periódicas de perı́odos T1 , T2 , respectivamente. Prove que se
existem inteiros n, m tais que
nT1 = mT2 ,
então f1 + f2 é periódica de perı́odo nT1 .
Exercı́cio 1.4. Mostre que sen ax + sen bx é periódica se e somente se a/b é racional.
Exercı́cio 1.5. Seja f : R → R uma função diferenciável, periódica de perı́odo T . Mostre que f 0 também é
periódica de perı́odo T .
Exercı́cio 1.6. Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo T , localmente integrável (i.e., integrável
em qualquer intervalo). Mostre que a função
Z x
F (x) = f
0
Exercı́cio 1.7. Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo T , localmente integrável. Determine a
constante a para que a função abaixo seja periódica de perı́odo T :
Z x
F (x) = f (t) dt − ax.
0
Exercı́cio 1.8. Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo T , localmente integrável. Mostre que
Z a+T Z T
f= f.
a 0
Exercı́cio 1.9. Mostre que uma função periódica contı́nua não constante possui perı́odo fundamental.
Rodney Josué Biezuner 25
a0 X ³ nπx ´
∞
nπx
f (x) = + an cos + bn sen , (1.2)
2 n=1
L L
ou seja, que o lado direito desta identidade seja uma série convergente que converge para o valor f (x) em
todo ponto x ∈ R. A série no lado direito da expressão acima é chamado a série de Fourier de f . [O
a0
motivo de termos escolhido escrever ao invés de simplesmente a0 ficará claro a seguir.] Em particular,
2
para que isso seja possı́vel vemos que f tem que ser periódica com perı́odo 2L, pois este é o perı́odo comum
nπx nπx
das funções sen e cos ; portanto, funções definidas na reta toda que não satisfazem esta condição
L L
não podem possuir séries de Fourier.
Suponha, além disso, que a função f seja integrável no intervalo [−L, L] e que a série do lado direito
possa ser integrada termo a termo. Obtemos, pelas relações de ortogonalidade,
Z L Z ∞
à Z Z L !
a0 L X L
nπx nπx
f (x) dx = dx + an cos dx + bn sen dx
−L 2 −L n=1 −L L −L L
= a0 L,
donde
Z L
1
a0 = f (x) dx. (1.3)
L −L
Os outros coeficientes também podem ser obtidos facilmente explorando as relações de ortogonalidade. Mul-
nπx
tiplicando ambos os lados da equação (1.2) por cos e integrando de −L a L, obtemos
L
Z L Z ∞
à Z Z L !
nπx a0 L nπx X L
mπx nπx mπx nπx
f (x) cos dx = cos dx + am cos cos dx + bm sen cos dx
−L L 2 −L L m=1 −L L L −L L L
= an L,
donde
Z L
1 nπx
an = f (x) cos dx. (1.4)
L −L L
a0
[Por este motivo escrevemos o termo constante da série de Fourier na forma : deste modo, a fórmula para
2
os coeficientes an é a mesma, independente se n = 0 ou n 6= 0.] Analogamente, multiplicando ambos os lados
nπx
da equação (1.2) por sen e integrando de −L a L, obtemos
L
Z
1 L nπx
bn = f (x) sen dx. (1.5)
L −L L
Exemplo 1.4. Admitindo que exista uma série de Fourier que convirja para a função periódica f de perı́odo
2L, definida no intervalo [−L, L] por
½
−x se − L 6 x 6 0,
f (x) =
x se 0 6 x 6 L,
calcule os seus coeficientes.
Rodney Josué Biezuner 26
Solução. Temos
Z " Z Z L # µ ¶
L 0
1 1 1 L2 L2
a0 = f (x) dx = − x dx + x dx = + = L.
L −L L −L 0 L 2 2
Os outros coeficientes podem ser calculados através de integração por partes. Temos
Z " Z Z L #
1 L nπx 1 0
nπx nπx
an = f (x) cos dx = − x cos dx + x cos dx
L −L L L −L L 0 L
"Ã ¯0 Z 0 ! Ã ¯L Z L !#
1 L nπx ¯¯ L nπx L nπx ¯¯ L nπx
= − x sen + sen dx + x sen − sen dx
L nπ L ¯−L nπ −L L nπ L ¯0 nπ 0 L
" ¯0 ¯L #
1 L2 nπx ¯¯ L2 nπx ¯¯
= − 2 2 cos + 2 2 cos
L n π L ¯−L n π L ¯0
· ¸
1 L2 L2 L2 L2
= − 2 2 + 2 2 cos nπ + 2 2 cos nπ − 2 2
L n π n π n π n π
2L
= 2 2 (cos nπ − 1)
n π
(
0 se n é par,
= 4L
− 2 2 se n é ı́mpar.
n π
e
Z " Z Z L #
L 0
1 nπx 1 nπx nπx
bn = f (x) sen dx = − x sen dx + x sen dx
L −L L L −L L 0 L
"Ã ¯0 Z 0 ! Ã ¯L Z L !#
1 L nπx ¯¯ L nπx L nπx ¯¯ L nπx
= x cos − cos dx + − x cos + cos dx
L nπ L ¯−L nπ −L L nπ L ¯0 nπ 0 L
" ¯0 ¯L #
1 L2 L2 nπx ¯¯ L2 L2 nπx ¯¯
= cos nπ − 2 2 sen − cos nπ + 2 2 sen
L nπ n π L ¯−L nπ n π L ¯0
= 0.
Portanto,
∞
L 4L X 1 (2n − 1)πx
f (x) = − 2 2
cos .
2 π n=1 (2n − 1) L
Observe que a série do lado direito
¯ é de fato convergente
¯ em todo ponto x, já que os coeficientes
X∞
1 ¯ (2n − 1)πx ¯ 1
diminuem na razão de , ¯cos ¯ 6 1 e a série é sabidamente convergente.
(2n − 1)2 ¯ L ¯
n=1
n2
Na figura a seguir ilustramos o gráfico da série truncada em vários valores de n (vermelho corresponde
a truncar a série em n = 1, azul a truncá-la em n = 2 e verde a truncá-la em n = 3; preto corresponde
Rodney Josué Biezuner 27
0,8
0,6
0,4
0,2
0
-2 -1 0 1 2
x
Por outro lado, a convergência parece ser mais lenta nas quinas (isto é, nos pontos onde f não é
diferenciável), como pode ser observado na figura acima. Para ver isso melhor, tome L = x = π, de
modo que obtemos
∞
π 4X 1
π= − cos(2n − 1)π
2 π n=1 (2n − 1)2
ou
X∞
π2 1 1 1 1
= 2
=1+ + + + ...
8 n=1
(2n − 1) 9 25 49
Enquanto que π = 3.1415926536 é uma aproximação para π com 10 casas decimais, temos:
v
u k 3.141274327 se k = 1000,
u X 1
t8 = 3.141589470 se k = 100000,
(2n − 1)2
n=1 3.141592335 se k = 1000000.
¤
Prova. De fato,
¯Z ¯ Z Z L
¯ L nπx ¯¯ L ¯ nπx ¯¯
¯ ¯
¯ f (x) cos dx¯ 6 |f (x)| ¯cos ¯ dx < |f (x)| dx < ∞,
¯ −L L ¯ −L L −L
¯Z ¯ Z Z L
¯ L nπx ¯¯ L ¯ nπx ¯¯
¯ ¯
¯ f (x) sen dx¯ 6 |f (x)| ¯sen ¯ dx < |f (x)| dx < ∞.
¯ −L L ¯ −L L −L
¥
Portanto, quando f ∈ L1loc (R) é uma função periódica de perı́odo 2L, podemos construir formalmente a série
a0 X ³ nπx ´
∞
nπx
+ an cos + bn sen .
2 n=1
L L
A próxima questão é se esta série converge em cada ponto x e se ela converge para o valor f (x).
Exemplo 1.6.
Rodney Josué Biezuner 29
(a) A função
−1 se n < x < n + 1 e n é par,
f (x) = 0 se x = n ∈ Z,
1 se n < x < n + 1 e n é ı́mpar.
é contı́nua por partes em qualquer intervalo fechado da reta. Seus pontos de descontinuidade são os
pontos com valores inteiros e os limites laterais nestes pontos são −1 e 1.
0,5
0
-3 -2 -1 0 1 2 3
-0,5x
-1
(b) A função
1 se x < 0,
g(x) = 0 se x = 0,
sen 1
se x > 0,
x
não é contı́nua por partes no intervalo [−1, 1] pois não existe o limite lateral à direita em x = 0.
0,5
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
-0,5
-1
Rodney Josué Biezuner 30
20
15
10
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
Teorema 1.7. (Teorema de Fourier) Seja f : R −→ R uma função periódica de perı́odo 2L, tal que f e f 0
são contı́nuas por partes no intervalo [−L, L]. Então a série de Fourier de f
a0 X ³ nπx ´
∞
nπx
+ an cos + bn sen
2 n=1
L L
onde
Z L
1 nπx
an = f (x) cos dx, n = 0, 1, 2, . . . ,
L −L L
Z L
1 nπx
bn = f (x) sen dx, n = 1, 2, . . . ,
L −L L
f (x+) + f (x−)
converge para f (x), se f é contı́nua em x, e para , se f é descontı́nua em x.
2
Em geral, se uma função f e a sua derivada f 0 forem contı́nuas por partes, diremos simplesmente que f é
diferenciável por partes. Observe que se f é contı́nua em x, então a média dos limites laterais de f em x
é exatamente igual a f (x); o teorema poderia ter sido enunciado em uma forma mais compacta simplesmente
Rodney Josué Biezuner 31
afirmando que se f satisfaz as condições do enunciado, então a série de Fourier de f converge sempre para
f (x+) + f (x−)
.
2
Exemplo 1.8.
(a) Defina (
1
x2 sen se x 6= 0,
f (x) = x
0 se x = 0.
1
Observe que f é contı́nua ( lim x2 sen = 0), mas f 0 não é contı́nua por partes, pois apesar da derivada
x→0 x
existir em x = 0, não existe nenhum dos limites laterais da derivada em x = 0:
(
1 1
0 2x sen − cos se x 6= 0,
f (x) = x x
0 se x = 0.
0,04
0,5
0,02
x
-0,3 -0,2 -0,1 0 0,1 0,2 0,3
0 0
-0,3 -0,2 -0,1 0 0,1 0,2 0,3
x
-0,02
-0,5
-0,04
-1
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
-3 -2 -1 0 1 2 3
x
Rodney Josué Biezuner 32
0,8
0,6
0,4
0,2
0
-4 -2 0 2 4
x
Para os valores de descontinuidade (x = kL, k ∈ Z), os senos se anulam e a série de Fourier de f tem
valor igual a L/2, exatamente a média dos limites laterais nestes pontos. Nos demais pontos, a série
de Fourier converge para f , mas com uma convergência lenta, já que os seus coeficientes são da ordem
de 1/(2n − 1).
(c) (Onda triangular ) Defina g : R −→ R por
½
−x se − L 6 x < 0,
g(x) =
x se 0 6 x < L,
e g periódica de perı́odo 2L. Observe que g é contı́nua e diferenciável por partes (isto é, g 0 é contı́nua
por partes), logo a série de Fourier de g converge para g em todo ponto. ¤
Rodney Josué Biezuner 33
se denotarmos Z L
1
M0 = |f (x)| dx,
L −L
segue que
|an | , |bn | 6 M0 para todo n 6= 0. (1.6)
Em outras palavras, se f é localmente absolutamente integrável, então as seqüências (an ) e (bn ) dos coefi-
cientes de Fourier de f são uniformemente limitadas.
Se, além disso, f for contı́nua e diferenciável e sua derivada f 0 for localmente absolutamente integrável,
podemos integrar por partes para obter
Z Z L
1 L nπx 1 nπx ¯¯L 1 nπx
an = f (x) cos dx = f (x) sen ¯ − f 0 (x) sen dx
L −L L nπ L −L nπ −L L
de modo que
Z L
1 nπx
an = − f 0 (x) sen dx. (1.7)
nπ −L L
Analogamente,
Z Z L
1 L
nπx 1 nπx ¯¯L 1 nπx
bn = f (x) sen dx = − f (x) cos ¯ + f 0 (x) cos dx
L −L L nπ L −L nπ −L L
Z L
1 1 nπx
=− (f (L) cos nπ − f (−L) cos(−nπ)) + f 0 (x) cos dx
nπ nπ −L L
de modo que
Z L
1 nπx
bn = f 0 (x) cos dx. (1.8)
nπ −L L
Segue que
¯ ¯
¯ 1 Z L nπx ¯ 1
Z L
¯ ¯
|an | = ¯ f 0 (x) sen dx¯ 6 |f 0 (x)| dx,
¯ nπ −L L ¯ nπ −L
¯ ¯
¯ 1 Z L nπx ¯¯ 1
Z L
¯
|bn | = ¯ f 0 (x) cos dx¯ 6 |f 0 (x)| dx.
¯ nπ −L L ¯ nπ −L
Se Z L
1
M1 = |f 0 (x)| dx,
π −L
Rodney Josué Biezuner 34
temos
M1
|an | , |bn | 6 para todo n 6= 0. (1.9)
n
Assim, neste caso as seqüências (an ) e (bn ) dos coeficientes de Fourier de f convergem para 0 a uma taxa
proporcional a 1/n.
Se, além das hipóteses acima, f for duas vezes diferenciável, f 0 for contı́nua em [−L, L] e a derivada
segunda f 00 for localmente absolutamente integrável, podemos integrar por partes duas vezes para obter
Z L " Z L #
1 0 nπx 1 L 0 nπx ¯¯L L 00 nπx
an = f (x) sen dx = − f (x) cos ¯ + f (x) cos dx
nπ −L L nπ nπ L −L nπ −L L
Z L
L nπx
= 2 2 f 00 (x) cos dx,
n π −L L
Z L " Z L #
1 0 nπx 1 L 0 nπx ¯¯L L 00 nπx
bn = f (x) cos dx = f (x) sen ¯ − f (x) sen dx
nπ −L L nπ nπ L −L nπ −L L
Z L
L nπx
= 2 2 f 00 (x) sen dx,
n π −L L
e daı́
¯ ¯
¯ L Z L nπx ¯¯ L
Z L
¯ 00
|an | = ¯ 2 2 f (x) cos dx¯ 6 2 2 |f 00 (x)| dx,
¯ n π −L L ¯ n π −L
¯ ¯
¯ L Z L nπx ¯¯ L
Z L
¯ 00
|bn | = ¯ 2 2 f (x) sen dx¯ 6 2 2 |f 00 (x)| dx,
¯ n π −L L ¯ n π −L
de modo que, se
Z L
L
M2 = 2 |f 00 (x)| dx,
π −L
temos
M2
|an | , |bn | 6 para todo n 6= 0. (1.10)
n2
Nestas condições, sem usar o Teorema de Fourier, concluı́mos pelo teste da comparação que a série de Fourier
P∞ 1
converge, pois a série 2
é convergente.
n=1 n
Os cálculos acima mostram ainda que é possı́vel calcular os coeficientes de Fourier das derivadas de uma
função a partir dos coeficientes de Fourier da própria função, em certas condições, sem que haja a necessidade
de calcular novas integrais. Na prática, o que estamos fazendo é derivar a série de Fourier termo a termo
(veja o Teorema 1.19 e o Exemplo 1.20 para maiores detalhes):
Proposição 1.9. (Coeficientes de Fourier das Derivadas de uma Função) Seja f : R −→ R uma função
periódica de perı́odo 2L, k vezes diferenciável, tal que f, f 0 , f 00 , ..., f (k−1) são contı́nuas em R e f (k)
(j) (j)
é localmente absolutamente integrável. Então, se an , bn denotam os coeficientes de Fourier de f (j) ,
Rodney Josué Biezuner 35
temos para 2 6 j 6 k
nπ nπ
a0n = bn b0n = − an
L L
n2 π 2 n2 π 2
a00n = − an b00n = − bn
L2 L2
n3 π 3 n3 π 3
a000
n =− bn , b000
n = an ,
L3 L3
(4) n4 π 4 (4) n4 π 4
an = an , bn = bn ,
L4 L4
.. ..
. .
j j j j
σj n π an
se n é par, σj+1 n π bn
se n é par,
(j) L j (j) L j
an = j j bn = j j
σj n π
σj+1 n π
bn se n é ı́mpar, an se n é ı́mpar,
Lj Lj
onde ½
1 se j = 0 mod 4 ou j = 1 mod 4,
σj =
−1 se j = 2 mod 4 ou j = 3 mod 4.
Definição. Uma função real f : R −→ R é par se f (−x) = f (x) e ı́mpar se f (−x) = −f (x).
Exemplo 1.10.
nπx 2
(a) As funções constantes, |x|, x2 , x4 , x2n e cos para qualquer n ∈ N, e ex são funções pares.
L
nπx
(b) As funções x, x3 , x2n+1 e sen para qualquer n ∈ N, são funções ı́mpares.
L
(c) As funções ex , x2 + x + 1 não são nem pares, nem ı́mpares. ¤
(ii) A soma de uma função par e uma função ı́mpar não é par, nem ı́mpar.
(iii) O produto de duas funções pares é uma função par; o produto de duas funções ı́mpares é uma função
par.
(iv) O produto de uma função par e uma função ı́mpar é uma função ı́mpar.
Prova: A verificação destas propriedades é muito fácil: por exemplo, se f e g são ı́mpares, então
Proposição 1.12. (Integração de funções pares e ı́mpares) Seja f : R −→ R uma função localmente in-
tegrável.
(i) Se f é uma função par, para todo L ∈ R vale
Z L Z L
f (x) dx = 2 f (x) dx. (1.11)
−L 0
Prova: Temos Z Z Z
L 0 L
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−L −L 0
Rodney Josué Biezuner 37
¥
Como conseqüência destas duas proposições, obtemos que a série de Fourier para uma função par é uma
série de cossenos, enquanto que a série de Fourier para uma função ı́mpar é uma série de senos:
Logo,
∞
a0 X nπx
f (x) = + an cos .
2 n=1
L
(ii) Seja f : R −→ R uma função ı́mpar que satisfaz as hipóteses do Teorema de Fourier. Então,
an = 0 para todo n,
Z L
2 nπx
bn = f (x) sen dx, n = 1, 2, . . .
L 0 L
Logo,
∞
X nπx
f (x) = bn sen .
n=1
L
Prova: Segue imediatamente da expressão para os coeficientes de Fourier dada pelo Teorema 1.7 juntamente
com a proposição anterior. ¥
Exemplo 1.14 (Onda em dente de serra) Considere a função f (x) = x, se −L < x < L, f (−L) = f (L) = 0,
Rodney Josué Biezuner 38
0,5
0
-3 -2 -1 0 1 2 3
x
-0,5
-1
2,5
1,5
0,5
-2 -1 0 1 2
x
0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
-3
1
Os coeficientes de Fourier da série de cossenos de f decrescem na ordem de 2 , enquanto que os
n
1
coeficientes de Fourier da série de senos de f decrescem na ordem de . Portanto, a convergência
n
Rodney Josué Biezuner 40
1.3.7 Exercı́cios
Exercı́cio 1.10. Calcule a série de Fourier das seguintes funções:
(a) f (x) = |x|, −π 6 x < π, f é periódica de perı́odo 2π.
(b) f (x) = |sen x| .
(c) f (x) = |cos x| .
(d) f (x) = x2 , −π 6 x 6 π, f é periódica de perı́odo 2π.
(e) f (x) = 1 + sen x + cos 2x.
(f ) f (x) = sen2 x.
(g) f (x) = cos2 x.
(h) f (x) = ex , −π 6 x < π, f é periódica de perı́odo 2π.
(i) f (x) = e−|x| , −π 6 x 6 π, f é periódica de perı́odo 2π.
+
(j) f (x) = (sen x) , isto é, ½
sen x se sen x > 0,
f (x) =
0 se sen x 6 0.
½
−L se − L 6 x < 0,
(k) f (x) = , f é periódica de perı́odo 2L.
L se 0 < x < L,
½
0 se − L 6 x < 0,
(l) f (x) = , f é periódica de perı́odo 2L.
x2 se 0 < x < L.
½
x+L se − L 6 x 6 0,
(m) f (x) = , f é periódica de perı́odo 2L.
L se 0 6 x < L.
L
0 se − L 6 x < − ,
2
L L
(n) f (x) = 1 se − 6 x 6 , , f é periódica de perı́odo 2L.
2 2
L
0 se 6 x 6 L,
2
c
a (x + a)
se − a 6 x 6 0,
(o) f (x) = 0 se a 6 |x| 6 b, , f é periódica de perı́odo 2b.
− c (x − a)
se 0 6 x 6 a,
a
x+b
se − b 6 x 6 −a,
b−a
(p) f (x) = 1 se − a 6 x 6 a, , f é periódica de perı́odo 2b.
x−b
− se a 6 x 6 b,
b−a
Rodney Josué Biezuner 41
Exercı́cio 1.11. Usando algum software matemático (Scilab, Maple, Matlab, etc.) ou algum pacote gráfico
Pk
(OpenGL, Java2D, etc.), plote os gráficos das somas parciais n=1 de algumas das séries de Fourier
do exercı́cio anterior para valores de k = 1, 2, 3, 5, 10, 100.
Exercı́cio 1.12. Quais são as relações entre os coeficientes de Fourier da função f e da função
(a) g(x) = f (x + c), c ∈ R?
(b) g(x) = f (x) + c, c ∈ R?
(c) g(x) = f (cx), c > 0? [Observe que se f tem perı́odo 2L, então g tem perı́odo 2L/c .]
Exercı́cio 1.13. Quais são as relações entre os coeficientes de Fourier das funções f e g e da função αf + βg,
onde α, β ∈ R?
Exercı́cio 1.14. Mostre que se f : R −→ R é uma função par [ı́mpar] diferenciável, então f 0 será ı́mpar
[par].
Exercı́cio 1.15. Existe alguma função que é ao mesmo tempo par e ı́mpar?
Exercı́cio 1.16. Usando o Teorema de Fourier, mostre que qualquer função f : R −→ R contı́nua, periódica,
diferenciável por partes, pode ser escrita como a soma de uma função par e uma função ı́mpar.
Exercı́cio 1.17. Mostre que qualquer função f : R −→ R pode ser escrita de maneira única como a soma de
uma função par e uma função ı́mpar, chamadas as suas componentes par e ı́mpar. Em outras palavras,
F = P ⊕ I.
Sugestão: se f (x) = g(x) + h(x) com g par e h ı́mpar, qual é o valor de f (−x)?
Exercı́cio 1.18. Prove a seguinte fórmula devida a Kronecker. Se f é uma função contı́nua e p é um
polinômio de grau N , então
Z
pf = pf1 − p0 f2 + p00 f3 − . . . + (−1)N p(N ) fN +1 + C,
onde C é uma constante, p, p0 , p00 , . . . , p(N ) são as primeiras N derivadas de p, f1 é uma antiderivada
de f , e para k = 1, ..., N , fk+1 é uma antiderivada de fk .
(a) Use esta fórmula para calcular as seguintes integrais para N = 1, 2, 3, 4:
Z π Z π
xN cos nx e xN sen nx.
0 0
(b) Calcule a série de Fourier para a função f de perı́odo 2π definida por f (x) = x2 se −π 6 x 6 π.
(c) Calcule a série de Fourier para a função f de perı́odo 2π definida por f (x) = x3 se −π 6 x 6 π.
(d) Calcule a série de Fourier para a função f de perı́odo 2π definida por f (x) = x4 se −π 6 x 6 π.
(e) Calcule a série de Fourier para a função f de perı́odo 2π definida por f (x) = x4 − 2π 2 x2 se −π 6 x 6 π.
Exercı́cio 1.19. Usando a série de Fourier da onda quadrada (Exemplo 1.8), mostre que
X∞ n
π 1 1 1 (−1)
= 1 − + − + ... = .
4 3 5 7 n=1
2n + 1
Esta é uma maneira rápida de calcular π? (Para responder a esta pergunta, use algum software
matemático ou desenvolva algum programa simples para calcular as somas parciais desta série.) Com-
pare a velocidade de convergência desta série com a da série obtida no Exemplo 1.4.
Rodney Josué Biezuner 42
Exercı́cio 1.20. Considere a função periódica f : R −→ R de perı́odo 2 definida no intervalo [0, 2) por
f (x) = x2 .
(a) Calcule a série de Fourier de f.
(b) Esboce o gráfico de f e o gráfico da série de Fourier de f .
(c) Usando a série de Fourier de f , prove que
X∞
π2 1 1 1 1
= 1 + 2 + 2 + 2 + ... = 2
.
6 2 3 4 n=1
n
Compare a velocidade de convergência desta série com a série do exercı́cio anterior e com a série do
Exemplo 1.4.
Exercı́cio 1.21. Mostre que para 0 < x < 2π podemos escrever
X∞ µ ¶ X∞ µ ¶
4 16π 4 2π 2 3 3 π2
x = + 16 − 4 cos nx + 16π − sen nx.
5 n=1
n2 n n=1
n3 n
Exercı́cio 1.22. Use a série de Fourier da função do Exercı́cio 1.18 (c) para obter a seguinte série
X∞ n
π3 1 1 1 (−1)
= 1 − 3 + 3 − 3 + ... = .
32 3 5 7 n=0
(2n + 1)3
Usando séries de Fourier, é possı́vel calcular ζ(2n) para qualquer inteiro positivo n, como fizemos em
alguns casos acima. Por exemplo:
t 2 4 6 8 10
2 4 6 8
π π π π π 10
ζ(t)
6 90 945 9450 93555
para todo x ∈ [−π, π]. A partir disso, derive a seguinte fórmula devida a Euler:
X∞ n
aπ (−1)
= 1 + 2a2 .
sen aπ n=1
a 2 − n2
Rodney Josué Biezuner 43
Lema 1.16. (Lema de Riemann-Lebesgue, 1854) Seja f : [a, b] −→ R uma função absolutamente integrável.
Então
Z b
lim f (x) sen tx dx = 0, (1.13)
t→∞ a
Z b
lim f (x) cos tx dx = 0. (1.14)
t→∞ a
Prova. Forneceremos uma demonstração válida apenas para funções contı́nuas por partes, já que o nosso
propósito é provar o Teorema de Fourier na forma enunciada neste capı́tulo. Para uma demonstração do
lema no caso geral, veja [4]. Consideraremos apenas o primeiro limite, já que a demonstração do segundo é
completamente análoga.
Como f é contı́nua por partes em [a, b], o intervalo [a, b] pode ser subdividido em um número finito de
subintervalos tais que f é contı́nua em cada um destes subintervalos, exceto possivelmente nas extremidades.
Já que o limite da integral no intervalo [a, b] é a soma (finita) dos limites da integral em cada subintervalo,
basta provar que o limite é zero em cada um destes subintervalos. Podemos portanto assumir, sem perda
de generalidade, que f é contı́nua em [a, b], redefinindo f nos extremos se necessário (isto é, redefinindo
f (a) = f (a+) e f (b) = f (b−), pois o valor da função nas extremidades do intervalo não afeta o valor da
integral).
Rodney Josué Biezuner 44
Divida o intervalo [a, b] em n subintervalos de comprimentos iguais, através dos pontos a = x0 < x1 <
. . . < xn−1 < xn = b. Escreva
Z b X Z xi+1
n−1
f (x) sen tx dx = f (x) sen tx dx
a i=0 xi
n−1
X Z xi+1 X Z xi+1
n−1
= f (xi ) sen tx dx + [f (x) − f (xi )] sen tx dx.
i=0 xi i=0 xi
¯Z ¯
¯ b
¯
¯
¯ X ¯¯Z xi+1
n−1 ¯ n−1 Z
¯ X xi+1
¯ f (x) sen tx dx ¯ 6 M ¯ sen tx dx ¯ + |f (x) − f (xi )| dx.
¯ a ¯ ¯ ¯
xi i=0 xi i=0
Temos ¯Z ¯ ¯¯ ¯ ¯
¯ xi+1 ¯ ¯ cos tx ¯xi+1 ¯¯ 1 2
¯ sen tx dx¯¯ = ¯ ¯ ¯ = |cos txi+1 − cos txi | 6 .
¯ ¯ t ¯xi ¯ t t
xi
X Z xi+1
n−1 n−1
X Z xi+1 n−1
X
|f (x) − f (xi )| dx 6 (Mi − mi ) dx = (Mi − mi )(xi+1 − xi )
i=0 xi i=0 xi i=0
n−1
X n−1
X
= Mi (xi+1 − xi ) − mi (xi+1 − xi ),
i=0 i=0
ou seja, a diferença entre a soma superior e a soma inferior de Riemann na partição [a, x1 , . . . , xn−1 , b]. Como
f é integrável em [a, b] (pois é contı́nua em [a, b]), tanto a soma superior quanto a soma inferior convergem
para o valor da integral de f em [a, b], à medida que tomamos partições do intervalo [a, b] com subintervalos
de comprimento cada vez menor, ou seja, um número n de pontos cada vez maior. Assim, dado qualquer
ε > 0 arbitrário, por menor que seja, podemos sempre encontrar n suficientemente grande para que tenhamos
X Z xi+1
n−1
|f (x) − f (xi )| dx 6 ε.
i=0 xi
Portanto, obtemos ¯Z ¯
¯ b ¯ 2nM
¯ ¯
¯ f (x) sen tx dx¯ 6 + ε.
¯ a ¯ t
Fazendo t → ∞, concluı́mos que ¯Z ¯
¯ b ¯
¯ ¯
¯ f (x) sen tx dx¯ 6 ε.
¯ a ¯
Como ε é arbitrário, temos que ter necessariamente
Z b
f (x) sen tx dx = 0.
a
¥
Rodney Josué Biezuner 45
Usando a identidade trigonométrica cos(a−b) = cos a cos b+sen a sen b, a soma parcial da série de Fourier
n µ ¶
a0 X kπx kπx
Sn (x) = + ak cos + bk sen
2 L L
k=1
Z L " n µ ¶#
1 1 X kπx kπt kπx kπt
= f (t) + cos cos + sen sen dt
L −L 2 L L L L
k=1
Definição. A função à !
n
1 1 X kπx
Dn (x) = + cos (1.16)
L 2 L
k=1
O núcleo de Dirichlet é uma função par, contı́nua e periódica de perı́odo 2L. Além disso,
Z L
Dn (x) dx = 1, (1.17)
−L
µ ¶
1 1
Dn (0) = n+ .
L 2
Para os nossos propósitos, a seguinte expressão compacta para o núcleo de Dirichlet (que não envolve uma
somatória) será extremamente útil:
(n + 1/2)πx
1 sen L
Dn (x) = πx . (1.18)
2L sen
2L
Prova. Temos à !
n
X n
X
ikθ
1+ cos kθ = Re 1 + e .
k=1 k=1
donde Z L
Sn (x) = f (x − s)Dn (s) ds, (1.21)
−L
pois ambas f e Dn tem perı́odo comum 2L, logo o seu produto é uma função periódica de perı́odo 2L e o
valor da sua integral sobre qualquer intervalo de comprimento 2L é o mesmo. Por outro lado, usando o fato
que Dn é uma função par, podemos escrever
Z 0 Z 0 Z L
f (x − s)Dn (s) ds = − f (x + s)Dn (−s) ds = f (x + s)Dn (s) ds,
−L L 0
donde Z L
Sn (x) = [f (x + s) + f (x − s)]Dn (s) ds. (1.22)
0
Usaremos esta expressão para as somas parciais e o Lema 1.17 para obter um teste que dará condições
suficientes para que a série de Fourier de uma função convirja para a média dos seus limites laterais:
Rodney Josué Biezuner 47
Teorema 1.18. (Teste de Dini, 1880) Seja f : R −→ R uma função periódica de perı́odo 2L, absolutamente
integrável em [−L, L]. Fixado x ∈ [−L, L], se existem os limites laterais f (x+), f (x−) e existe δ0 > 0
tal que
Z δ0 ¯ ¯
¯ [f (x + s) − f (x+)] + [f (x − s) − f (x−)] ¯
¯ ¯ ds < ∞, (1.23)
¯ s ¯
0
então
f (x+) + f (x−)
Sn (x) → .
2
Prova. Mais uma vez, provaremos o resultado apenas para funções contı́nuas por partes. Denote
podemos escrever
Z L Z L
f (x+) + f (x−)
Sn (x) − = [f (x + s) + f (x − s)]Dn (s) ds − [f (x+) + f (x−)]Dn (s) ds
2 0 0
Z L
= g(x, s)Dn (s) ds.
0
Teorema 1.19. (Diferenciação Termo a Termo da Série de Fourier) Seja f : R −→ R uma função periódica
de perı́odo 2L, tal que f é contı́nua em R e f 0 é contı́nua por partes, de modo que vale o Teorema de
Fourier e a série de Fourier de f é dada por
a0 X ³ nπx ´
∞
nπx
f (x) = + an cos + bn sen .
2 n=1
L L
Então a série de Fourier de f 0 é a série obtida derivando termo a termo a série de Fourier de f :
∞ ³
X nπ nπx nπ nπx ´
− an sen + bn cos .
n=1
L L L L
Prova: Como f 0 é contı́nua por partes, em particular é absolutamente integrável, logo seus coeficientes de
Fourier estão bem definidos. Seja
A0 X ³ nπx ´
∞
nπx
+ An cos + Bn sen
2 n=1
L L
a série de Fourier (formal, se não convergir) de f 0 . Para provar o teorema, basta provar que
A0 = 0,
nπ
An = bn ,
L
nπ
Bn = − an .
L
Pelo Teorema Fundamental do Cálculo, temos
Z L
1 1
A0 = f 0 (x) dx = (f (L) − f (−L)) = 0,
L −L L
porque f tem perı́odo 2L, logo f (L) = f (−L). Assumindo, para simplificar a demonstração, que f 0 é
contı́nua, podemos integrar por partes para obter os outros coeficientes:
Z " Z #
1 L 0 nπx 1 nπx ¯¯L nπ L nπx
An = f (x) cos dx = f (x) cos ¯ + f (x) sen dx
L −L L L L −L L −L L
" Z #
1 nπ 1 L nπx
= (f (L) cos nπ − f (−L) cos(−nπ)) + f (x) sen dx
L L L −L L
nπ
= bn .
L
Z " Z #
1 L
0 nπx 1 nπx ¯¯L nπ L nπx
Bn = f (x) sen dx = f (x) sen ¯ − f (x) cos dx
L −L L L L −L L −L L
" Z #
nπ 1 L nπx
=− f (x) cos dx
L L −L L
nπ
= − an .
L
¥
Rodney Josué Biezuner 50
Exemplo 1.20. Se f é descontı́nua, então a conclusão deste teorema falha: mesmo que f possua uma série
de Fourier que convirja para f em seus pontos de continuidade, não podemos derivar a série de Fourier
de f termo a termo para encontrar a série de Fourier de f 0 . Por exemplo, se f : R −→ R é a onda em
dente de serra, isto é, a função periódica de perı́odo 2L definida no intervalo fechado [−L, L] por
½
x se − L < x < L,
f (x) =
0 se x = L, −L,
como vimos no Exemplo 1.14. Como f 0 satisfaz também as hipóteses do Teorema de Fourier, sabemos
que f 0 também possui uma série de Fourier que converge para f 0 nos pontos de continuidade e para a
média dos limites laterais nos pontos de descontinuidade. No entanto, como f não é contı́nua, ocorre
que esta série de Fourier não pode ser obtida através da derivação termo a termo da série de Fourier
de f . De fato, a derivada termo a termo da série de Fourier de f
∞
X nπx
2 (−1)n+1 cos
n=1
L
não é nem mesmo uma série convergente em nenhum ponto, divergindo tanto nos pontos de descon-
tinuidade como em pontos de continuidade de f . Por exemplo, no ponto x = 0, a série é
∞
X
2 (−1)n+1 = 2(1 − 1 + 1 − 1 + ...)
n=1
que oscila entre os valores −2 e 0. Em geral, a série diverge em qualquer ponto porque
lim cos nx 6= 0
n→∞
para todo x ∈ R. Para provar isso, suponha por absurdo que lim cos nx = 0 para algum x. Isso
n→∞
³ ´2
implica evidentemente que lim cos nx = 0 também, pois lim cos2 nx = lim cos nx . Também
2
n→∞ n→∞ n→∞
segue que lim cos 2nx = 0, pois {cos 2nx} é uma subseqüência de {cos nx}. Mas então, tomando o
n→∞
limite quando n → ∞ em ambos os lados da identidade trigonométrica
1 + cos 2nx
cos2 nx = ,
2
obteremos o absurdo 0 = 1/2. Isso prova que lim cos nx 6= 0 para todo x ∈ R e portanto a série
n→∞
diverge em todos os pontos.
Podemos calcular a série de Fourier de f 0 diretamente a partir da definição de f 0 : temos que f 0 (x) = 1
se −L < x < L, f 0 não está definida nos pontos múltiplos de L (mas podemos redefinir nestes pontos
Rodney Josué Biezuner 51
como valendo 1) e é periódica de perı́odo 2L, logo seus coeficientes de Fourier (note que f 0 é par) são
Z Z
1 2L 1 2L
a0 = f (x) dx = dx = 2,
L 0 L 0
Z
1 2L nπx
an = cos dx = 0,
L 0 L
bn = 0,
e sua série de Fourier é, portanto,
f 0 (x) ≡ 1.
Poderı́amos ter chegado a este resultado imediatamente, sem precisar de calcular os coeficientes de
Fourier de f 0 , porque a série de Fourier de uma função definida na reta é única. ¤
No caso da questão de se é permitido integrar termo a termo a série de Fourier de f , as hipóteses sobre
f para que isso seja possı́vel são muito mais fracas. Podemos integrar a série de Fourier de f termo a
termo para obter a integral de f mesmo quando a série de Fourier de f não converge uniformemente para
f . De fato, podemos integrar a série de Fourier de f mesmo quando a série de Fourier de f não converge
pontualmente para f , e mesmo quando ela não é uma série convergente! Para mostrarmos isso, vamos provar
rigorosamente o resultado intuitivamente óbvio que a integral de uma função periódica de perı́odo T tem o
mesmo valor em qualquer intervalo de comprimento T :
Proposição 1.21. Seja f : R −→ R uma função periódica de perı́odo T . Então, para qualquer a ∈ R vale
Z T Z a+T
f (x) dx = f (x) dx.
0 a
basta provar que F é constante, pois isso implicará que F (0) = F (a) para todo a ∈ R. Para isso, mostraremos
que F 0 ≡ 0. De fato, escrevendo
Z 0 Z a+T Z a Z a+T
F (a) = f (x) dx + f (x) dx = − f (x) dx + f (x) dx
a 0 0 0
a0 X ³ nπx ´
∞
nπx
+ an cos + bn sen
2 n=1
L L
para todo t ∈ R.
Rodney Josué Biezuner 52
Prova: Defina Z th
a0 i
F (t) = f (x) − dx.
0 2
Em primeiro lugar, vamos verificar que F satisfaz as hipóteses do Teorema de Fourier. De fato, F é periódica
de perı́odo 2L, pois
Z t+2L h Z th Z t+2L h
a0 i a0 i a0 i
F (t + 2L) = f (x) − dx = f (x) − dx + f (x) − dx
0 2 0 2 t 2
Z t+2L h
a0 i
= F (t) + f (x) − dx
t 2
e
Z Z t+2L Z Z t+2L Ã Z !
t+2L h a0 i a0 t+2L 1 1 L
f (x) − dx = f (x) dx − dx = f (x) dx − f (x) dx 2L
t 2 t 2 t t 2 L −L
Z L Z L
= f (x) dx − f (x) dx = 0.
−L −L
Além disso, F é contı́nua na reta toda, pois é a integral de uma função contı́nua por partes, e F 0 = f é
contı́nua por partes por hipótese. Portanto, F possui uma série de Fourier que converge para F em todo
ponto:
∞ µ ¶
A0 X nπt nπt
F (t) = + An cos + Bn sen .
2 n=1
L L
Calculando os coeficientes da série de Fourier de F , através de integração por partes obtemos
Z " ¯L Z L #
1 L nπt 1 L nπt ¯¯ L 0 nπt
An = F (t) cos dt = F (t) sen − F (t) sen dt
L −L L L nπ L ¯−L nπ −L L
"Z # " Z #
L ³
1 a0 ´ nπx 1 a0 L nπx
=− f (t) − sen dt = − Lbn − sen dt
nπ −L 2 L nπ 2 −L L
L
=− bn ,
nπ
Z " ¯L Z L #
L
1 nπt 1 L nπt ¯¯ L 0 nπt
Bn = F (t) sen dt = − F (t) cos + F (t) cos dt
L −L L L nπ L ¯−L nπ −L L
"Z # " Z #
L ³
1 a0 ´ nπx 1 a0 L nπx
= f (t) − cos dt = Lan − cos dt
nπ −L 2 L nπ 2 −L L
L
= an .
nπ
Falta calcular A0 . Para isso, notamos que da definição de F segue que F (0) = 0, logo
X∞ ∞
A0 L X bn
=− An = .
2 n=1
π n=1 n
Assim,
Z th ∞ µ ¶
a0 i
∞
L X bn LX bn nπt an nπt
f (x) − dx = + − cos + sen ,
0 2 π n=1 n π n=1 n L n L
Rodney Josué Biezuner 53
donde
Z Z ∞ ∞ µ ¶
t
a0 t
L X bn LX bn nπt an nπt
f (x) dx = dx + + − cos + sen
0 0 2 π n=1 n π n=1 n L n L
∞ · µ ¶¸
a0 L X an nπt bn nπt
= t+ sen − cos −1
2 π n=1 n L n L
como desejado. ¥
Exemplo 1.23. A demonstração do teorema anterior produz como conseqüência não-intencional um teste
para determinar que uma determinada série trigonométrica não pode ser a série de Fourier de nenhuma
função contı́nua por partes. De fato, provamos lá que
Z
π th a0 i
X∞
bn
= f (x) − dx,
n=1
n L 0 2
não pode ser a série de Fourier de uma função contı́nua por partes porque a série
X∞ X∞
bn 1
=
n=1
n n=2
n log n
Definição. Seja f : R −→ R uma função periódica de perı́odo 2L, quadrado-integrável no intervalo [−L, L].
O erro quadrático médio na aproximação de f pelas somas parciais da sua série de Fourier é definido
por
Z L
1 2
En = |f (x) − Sn (x)| dx. (1.25)
2L −L
2
Observe que En nada mais é que a média dos quadrados dos erros |f (x) − Sn (x)| sobre o intervalo [−L, L],
daı́ o nome.
Teorema 1.24. Seja f : R −→ R uma função periódica de perı́odo 2L, quadrado-integrável no intervalo
[−L, L]. Então
Z L n
1 2 a2 1 X¡ 2 ¢
En = |f (x)| dx − 0 − ak + b2k . (1.26)
2L −L 4 2
k=1
Rodney Josué Biezuner 54
Prova: Temos
Z L
1 2
En = |f (x) − Sn (x)| dx
2L −L
Z L Z L Z L
1 12 1 2
= |f (x)| dx − f (x)Sn (x) dx + |Sn (x)| dx.
2L −L L −L 2L −L
¥
Pode-se provar que, dentre os polinômios trigonométricos, as somas parciais da série de Fourier de uma
função são aquelas que minimizam o erro quadrático médio (veja o Exercı́cio 1.27).
Corolário 1.25. (Desigualdade de Bessel) Seja f : R −→ R uma função periódica de perı́odo 2L, quadrado-
integrável no intervalo [−L, L]. Então
∞ Z
a20 X ¡ 2 ¢ 1 L
2
+ an + b2n 6 |f (x)| dx. (1.27)
2 n=1
L −L
Prova: Segue diretamente do teorema anterior, lembrando que En > 0 por definição e tomando o limite
quando n → ∞. ¥
Em particular, este resultado mostra que os coeficientes de Fourier de uma função quadrado-integrável são
quadrado-somáveis, isto é,
∞
a20 X ¡ 2 ¢
+ an + b2n < ∞.
2 n=1
P∞ P∞
Em geral, nós não temos n=1 an < ∞ ou n=1 bn < ∞ (veja, por exemplo, os coeficientes de Fourier da
função do Exemplo 1.14).
Mais tarde, veremos que a desigualdade de Bessel é uma identidade, a identidade de Parseval.
Rodney Josué Biezuner 55
Prova: Segue imediatamente do teorema anterior porque cada soma parcial de funções contı́nuas é uma
função contı́nua. ¥
Um teste usualmente fácil de aplicar para estabelecer que uma série converge uniformemente é o teste-M
de Weierstrass:
P
∞
Teorema 1.28. (Teste-M de Weierstrass) Seja fn uma série de funções reais definidas em um conjunto
n=1
X. Suponha que para cada n ∈ N existe Mn > 0 tal que
|fn (x)| 6 Mn para todo x ∈ X
P
∞ P
∞
e a série Mn converge. Então fn converge uniformemente.
n=1 n=1
Rodney Josué Biezuner 56
P
∞
Prova: Para cada x ∈ X, a série fn (x) converge absolutamente pelo teste da comparação. Logo
n=1
podemos definir uma função real f : X −→ R por
∞
X
f (x) = fn (x).
n=1
P
∞
Vamos provar que fn → f uniformemente em X. Para todo x ∈ X, escreva
n=1
¯ ¯ ¯ ∞ ¯
¯ k
X ¯ ¯ X ¯ ∞
X ∞
X
¯ ¯ ¯ ¯
¯f (x) − fk (x)¯ = ¯ fn (x)¯ 6 | fn (x)| 6 Mn .
¯ ¯ ¯ ¯
n=1 n=k+1 n=k+1 n=k+1
P
∞ P
∞
Como a série Mn é convergente, dado ε > 0 existe k0 ∈ N tal que se k > k0 então Mn < ε. ¥
n=1 n=k0 +1
Vale a pena observar, no entanto, que existem séries uniformemente convergentes que não satisfazem o
teste-M de Weierstrass.
Teorema 1.29. (Convergência Uniforme da Série de Fourier) Seja f : R −→ R uma função periódica de
perı́odo 2L, tal que f é contı́nua em R e f 0 é contı́nua por partes. Então a série de Fourier de f
converge uniformemente em R.
a0 X ³ nπx ´
∞
nπx
+ an cos + bn sen
2 n=1
L L
através do teste-M de Weierstrass. Basta provar que para todo n existe Mn > 0 tal que
¯ nπx nπx ¯¯
¯
¯an cos + bn sen ¯ 6 Mn
L L
P
∞
e a série Mn é convergente.
n=1
De fato, usando a desigualdade 2AB 6 A2 + B 2 , temos que
¯ nπx nπx ¯¯2 nπx nπx nπx nπx
¯
¯an cos + bn sen ¯ = a2n cos2 + 2an cos bn sen + b2n sen2
L L L L L L
2 2 nπx 2 2 nπx
6 2an cos + 2bn sen
¡ 2 L
¢ L
6 2 an + b2n ,
∞
X ¡ ¢
n2 a2n + b2n
n=1
Rodney Josué Biezuner 57
Em 1904, Féjer provou que a série de Fourier de uma função contı́nua por partes é Cesàro-somável (já
vimos que a série de Fourier de uma função apenas contı́nua não precisa ser convergente). O resultado
de Féjer será uma ferramenta importante na demonstração da identidade de Parseval, além de servir para
provar outros resultados sobre séries de Fourier. As médias aritméticas das somas parciais da série de Fourier
receberam o nome de somas de Féjer :
as somas parciais da série de Fourier de uma função f . Definimos as somas de Féjer por
n
1 X
σn (x) = Sk (x). (1.29)
n+1
k=0
Lembrando que as somas parciais da série de Fourier podem ser escritas na forma
Z L
Sn (x) = f (t)Dn (x − t) dt,
−L
Rodney Josué Biezuner 58
onde Dn é o núcleo de Dirichlet (definimos D0 ≡ 1 para abranjer também o caso n = 0), obtemos a seguinte
expressão para as somas de Féjer:
n Z Z L " n
#
1 X L 1 X
σn (x) = f (t)Dk (x − t) dt = f (t) Dk (x − t) dt.
n+1 −L −L n+1
k=0 k=0
Lema 1.31. O núcleo de Féjer é uma função par, contı́nua, periódica de perı́odo 2L que satisfaz as seguintes
propriedades adicionais:
2
(n + 1)πx
1 sen
2L
Fn (x) = πx (1.31)
2L (n + 1) sen
2L
para x 6= 2kL, k ∈ Z,
Z L
Fn (t) dt = 1 (1.32)
−L
e
n+1
Fn (0) = .
2L
Prova: Demonstraremos apenas a primeira identidade já que as outras identidades e demais propriedades do
núcleo de Féjer seguem diretamente da definição e das correspondentes propriedades do núcleo de Dirichlet.
Pelo Lema 1.17, temos
n
X
1 (k + 1/2)πx
Fn (x) = πx sen .
2L (n + 1) sen L
k=0
2L
Para calcular
n
X (k + 1/2)πx
sen ,
L
k=0
πx
Tomando θ = , segue que
L
2
(n + 1)πx (n + 1)πx
1 sen2 1 sen
2L 2L
Fn (x) = πx πx = πx .
2L (n + 1) sen sen 2L (n + 1) sen
2L 2L 2L
¥
Teorema 1.32. (Teorema de Féjer) Seja f : R −→ R uma função periódica de perı́odo 2L, limitada e
integrável no intervalo [−L, L]. Então, se os limites laterais f (x+), f (x−) existem para todo ponto
x ∈ R, a seqüência de somas de Féjer converge para a média dos limites laterais em todo ponto x.
f (x+) + f (x−)
σn (x) → .
2
Em particular, se f é contı́nua em x, então σn (x) → f (x).
Além disso, se f é contı́nua, a convergência é uniforme.
Daı́, como
Z L Z L
1= Fn (x) dx = 2 Fn (s) ds,
−L 0
A existência de f (x+) e f (x−) significa que, dado ε > 0, existe δ = δ(x) > 0 tal que se 0 < s < δ temos
ε ε
|f (x + s) − f (x+)| < e |f (x − s) − f (x−)| < ,
2 2
ou seja,
|g(x, s)| < ε.
Além disso, como f é limitada, temos que
|g(x, s)| < M
Rodney Josué Biezuner 60
se δ < s < L, para alguma constante M > 0. Portanto (observe os paralelos com a demonstração do Lema
1.17),
¯ ¯ Z L
¯ ¯
¯σn (x) − f (x+) + f (x−) ¯ 6 |g(x, s)| Fn (s) ds
¯ 2 ¯
0
Z δ Z L
<ε Fn (s) ds + M Fn (s) ds
0 δ
Z L
6ε+M Fn (s) ds.
δ
Corolário 1.33. Sejam f, g : R −→ R duas funções periódicas de perı́odo 2L e contı́nuas. Se elas possuem
a mesma série de Fourier, então f = g.
Corolário 1.34. Se os coeficientes de Fourier de uma função periódica e contı́nua são nulos, então ela é a
função identicamente nula.
Podemos agora mostrar que o erro quadrático médio com relação às somas parciais da série de Fourier
tende a 0 quando tomamos somas parciais cada vez maiores, como era de se esperar:
Teorema 1.35. Seja f : R −→ R uma função periódica de perı́odo 2L, quadrado-integrável no intervalo
[−L, L]. Então
lim En = 0. (1.34)
n→∞
Prova: Se nos limitarmos a funções contı́nuas, o resultado segue do Teorema de Féjer e do Exercı́cio 1.27.
De fato, pelo Teorema de Féjer, σn → f uniformemente, logo
e, portanto,
Z L µ ¶2
1 2
|f (x) − σn (x)| dx 6 max |f (x) − σn (x)| → 0 quando n → ∞.
2L −L [−L,L]
Rodney Josué Biezuner 61
Por outro lado, σn (x) é um polinômio trigonométrico de ordem n, logo pelo Exercı́cio 1.27
Z L Z L
1 1 2 2
En = |f (x) − Sn (x)| dx 6 |f (x) − σn (x)| dx.
2L −L 2L −L
Corolário 1.36. (Identidade de Parseval) Seja f : R −→ R uma função periódica de perı́odo 2L, quadrado-
integrável no intervalo [−L, L]. Então
Z ∞
1 L
2 a20 X ¡ 2 ¢
|f (x)| dx = + an + b2n . (1.35)
L −L 2 n=1
Definição. Um conjunto de funções {ϕn } ⊂ L2 ([a, b]) é chamado um sistema ortogonal se ele satisfaz as
duas condições seguintes:
(i) hϕn , ϕm i = 0 se n 6= m;
(ii) kϕn k > 0 para todo n.
Se kϕn k = 1 para todo n, então dizemos que {ϕn } é um sistema ortonormal.
½ ¾ ½ ¾
kπx kπx
Os conjuntos cos e sen são exemplos de sistemas ortogonais.
L n=0,1,... L n=1,2,...
Definição. Um sistema ortogonal {ϕn } ⊂ L2 ([a, b]) é completo se ele não for um subconjunto próprio de
nenhum outro sistema ortogonal, isto é, se hf, ϕn i = 0 para todo n, então f = 0.
Quando dizemos f = 0 para uma função quadrado-integrável, queremos dizer que o conjunto dos pontos x
tais que f (x) 6= 0 tem medida nula. O próximo resultado esclarece melhor o significado da identidade de
Parseval. Sua demonstração está além do nı́vel deste curso.
Teorema 1.37. Um sistema ortogonal {ϕn } ⊂ L2 ([a, b]) é completo se e somente se para toda função
f ∈ L2 ([a, b]) existem coeficientes cn tais que
2
X 2
kf k = c2n kϕn k . (1.38)
n
½ ¾
kπx kπx
Decorre da identidade de Parseval e deste resultado que o sistema ortonormal 1, cos , sen
L L n=1,2,...
é um sistema completo.
Rodney Josué Biezuner 62
1.4.7 Exercı́cios
Exercı́cio 1.23. Obtenha a identidade trigonométrica de Legendre
µ ¶
1
n sen n + θ
1 X 1 2
+ cos kθ =
2 2 θ
k=1 sen
2
de uma maneira diferente da utilizada no Lema 1.17 usando a identidade trigonométrica
θ 1 1
cos kθ sen = sen(k + )θ − sen(k − )θ.
2 2 2
Exercı́cio 1.24. Obtenha a identidade trigonométrica
µ ¶ n+1
n
X 1 sen2
θ
sen k + θ= 2
2 θ
k=0 sen
2
de uma maneira diferente da utilizada no Lema 1.31 usando a identidade trigonométrica
θ θ k−1 k+1
2 sen k sen = cos θ − cos θ.
2 2 2 2
Exercı́cio 1.25. Usando o teste de Dini, prove o seguinte teorema:
(Lipschitz, 1867) Seja f uma função periódica localmente integrável. Se f é contı́nua de Lipschitz em
algum intervalo aberto centrado em x, isto é, se existem δ, M > 0 tais que
|f (x + t) − f (x)| 6 M t para todo t ∈ (−δ, δ) ,
então a série de Fourier de f converge para f (x).
Exercı́cio 1.26. Use o teste de Dini para provar o seguinte resultado:
Seja f uma função periódica localmente integrável. Se f é contı́nua de Hölder em algum intervalo
aberto centrado em x, isto é, se existem δ, M > 0 e 0 < α 6 1 tais que
|f (s) − f (t)|
α 6M para todos s, t ∈ (x − δ, x + δ) ,
|s − t|
então a série de Fourier de f converge para f (x).
Conclua que se uma função periódica f localmente integrável tem derivada em x, então a série de
Fourier de f converge para f (x).
Exercı́cio 1.27. Mostre as que somas parciais da série de Fourier de uma função f são os polinômios
trigonométricos que melhor aproximam f . Ou seja, se
n µ ¶
e c0 X kπx kπx
Sn = + ck cos + dk sen ,
2 L L
k=1
onde ck , dk ∈ R são coeficientes quaisquer, e se definirmos o erro quadrático médio com relação a este
polinômio trigonométrico por
Z L¯ ¯2
en = 1
E
¯ ¯
¯f (x) − Sen (x)¯ dx,
2L −L
então temos
En 6 E en .
Capı́tulo 2
63
Rodney Josué Biezuner 64
É necessário provar que o nosso candidato à solução u definido em (2.2) é de fato uma solução para o
problema de Dirichlet (2.1). Para isso precisamos definir mais precisamente o conceito de solução. Talvez
surpreendentemente, a definição deste conceito depende fortemente do tipo de aplicação que se tem em
mente, ou seja, do tipo de resposta que se espera do modelo matemático. Por exemplo, a função
f (x) se 0 6 x 6 L e t = 0,
u(x, t) = 0 se x = 0, L e t > 0,
1000 se 0 < x < L e t > 0,
satisfaz todas as condições do problema (2.1), mas não parece ser uma solução fisicamente aceitável, pois
os valores da função no interior da faixa retangular não tem qualquer relação com os valores na fronteira e
não sofrem nenhuma influência destes. Em geral, esperamos que a distribuição de temperaturas na barra
varie de maneira contı́nua com o tempo, a partir da distribuição de temperaturas inicial, e que em qualquer
instante de tempo considerado a distribuição de temperaturas ao longo da barra também seja contı́nua
e, em particular, que não haja um salto descontı́nuo na temperatura da barra em seus extremos. Estas
considerações levariam à seguinte definição de solução para o problema (2.1):
O sı́mbolo C 2,1 significa que exigimos que a nossa solução tenha derivadas parciais contı́nuas até a segunda
ordem em x e derivadas parciais contı́nuas de primeira ordem em t. Observe que, em particular, esta
definição exige que a distribuição inicial de temperaturas seja contı́nua e que f (0) = f (L) = 0 (note que,
como conseqüência destes dois fatos, a extensão periódica ı́mpar de f também será uma função contı́nua).
No entanto, esta condição sobre f pode ser uma restrição muito grande em certos problemas fı́sicos e não
corresponder à realidade observada. Um exemplo de uma situação fı́sica plausı́vel em que isso não ocorre
é quando consideramos duas barras homogêneas formadas de um mesmo material e possuindo a mesma
geometria uniforme, inicialmente isoladas uma da outra (e do meio ambiente) e mantidas a temperaturas
constantes mas diferentes (por exemplo, uma é mantida à temperatura constante de 0◦ C, enquanto que a
outra é mantida à temperatura constante de 100◦ C); se elas forem colocadas imediatamente uma em contato
com a outra através de uma de suas extremidades, então temos um sistema que na prática é uma única
barra com uma distribuição inicial de temperaturas dada por uma função descontı́nua (porém contı́nua por
partes). Por outro lado, não é razoável que a solução u(x, t) esteja totalmente desconectada da distribuição
de temperaturas inicial. Para conciliar estas diferenças, utilizaremos a seguinte definição de solução para a
equação do calor:
Definição. Dizemos que uma função u : R → R é uma solução de (2.1) se u ∈ C 2,1 (R), u é contı́nua
b
em R={(x, t) ∈ R2 : 0 6 x 6 L e t > 0}, lim u(x, t) = f (x) se f é contı́nua em x, e u satisfaz todas as
t→0
condições de (2.1).
Estas são condições que uma função u(x, t) deve satisfazer para ser considerada uma solução para o
problema de valor inicial e de valor de fronteira (2.1). O próprio problema de valor de fronteira deve ainda
satisfazer duas condições importantes para que ele seja considerado um modelo matemático válido para
o problema fı́sico em questão: ele deve possuir uma única solução e esta única solução deve ser estável.
De fato, esperamos que se um problema fı́sico foi bem compreendido, com todas as variáveis levadas em
consideração, ele deva ter uma única solução; se o correspondente modelo matemático possuir mais de uma
solução, é sinal de que ele ainda não é um modelo matemático correto para o problema em questão e que são
necessárias hipóteses adicionais para limitar o número de soluções a uma única solução. Da mesma forma, na
medição experimental de fenômenos fı́sicos, esperamos um certo grau de incerteza e que as medidas obtidas
sejam apenas aproximações. Por exemplo, a medição da temperatura inicial da barra é uma aproximação e
certamente deve conter erros. Analogamente, não é razoável esperar que as temperaturas nas extremidades
da barra possam ser mantidas o tempo todo na temperatura exata 0; pequenas flutuações em algumas casas
Rodney Josué Biezuner 65
decimais devem ocorrer. Conseqüentemente, a solução do modelo matemático é apenas uma aproximação da
solução real. Para que ela seja uma boa aproximação, deveremos requerer que a solução do problema dependa
continuamente da condição inicial e das condições de fronteira, isto é, pequenas mudanças na condição inicial
ou nas condições de fronteira acarretam apenas pequenas mudanças na solução. Um problema que satisfaz
todas estas condições, isto é, possui uma solução única estável, é chamado um problema bem-posto no
sentido de Hadamard.
Exemplo 2.1. Considere o problema de Dirichlet (condução do calor em uma barra infinita; Rothe, 1928):
½
ut = Kuxx se − ∞ < x < ∞ e t > 0,
u(x, 1) = f (x) se − ∞ < x < ∞.
Lema 2.2. (Teste de Abel) Seja S um conjunto e fn , gn : S −→ R seqüências de funções tais que:
P
∞
(i) fn converge uniformemente em S;
n=1
(ii) ou gn (s) 6 gn+1 (s) , ou gn+1 (s) 6 gn (s) , para todo n ∈ N e para todo s ∈ S;
(iii) existe uma constante M > 0 tal que |gn (s)| 6 M para todo n ∈ N e para todo s ∈ S.
Então a série
∞
X
fn gn
n=1
converge uniformemente em S.
Prova: O resultado segue através da fórmula de soma por partes também devida a Abel. Ela pode ser
P
∞
obtida da seguinte forma. Denote as somas parciais da série fn por
n=1
n
X
Fn = fk .
k=1
Rodney Josué Biezuner 66
P
∞
Assuma agora as hipóteses deste teorema e denote f = fn . Como, para 1 < m < n, temos
n=1
n−1
X
(gk+1 − gk ) = gn − gm ,
k=m−1
P
∞
Como fn converge uniformemente, existe N suficientemente grande tal que para todo k > N temos
n=1
ε
|Fk − f | <
4M
sempre que k > n. Logo, se n > m > N , temos
¯ ¯
¯Xn ¯ n−1
X
¯ ¯
¯ fk gk ¯ 6 |Fn − f | |gn | + |Fm−1 − f | |gm | + |Fk − f | |gk+1 − gk |
¯ ¯
k=m k=m
n−1
X
ε ε ε
6 M+ M+ |gk+1 − gk |
4M 4M 4M
k=m
ε ε
= + |gn − gm |
2 4M
= ε.
P
∞
Isso mostra que as somas parciais da série fn gn constituem uma seqüência de Cauchy uniforme, logo a
n=1
série converge uniformemente. ¥
Outro resultado que precisaremos é o fato de que podemos derivar termo a termo uma série uniformemente
convergente. Por sua vez, isto segue do fato de podermos integrar termo a termo uma série uniformemente
convergente:
Rodney Josué Biezuner 67
P
∞
Lema 2.3. (Integração termo a termo de uma série uniformemente convergente) Seja fn uma série
n=1
uniformemente convergente no intervalo [a, b] de funções integráveis limitadas fn : [a, b] −→ R. Então
o seu limite é integrável e
Z bX ∞ X∞ Z b
fn = fn .
a n=1 n=1 a
P
n P
∞
Prova: Seja Fn = fk a soma parcial de ordem n da série e f = fn o limite da série. Denote
k=1 n=1
e, para uma partição a = x0 < x1 < . . . < xn−1 < xn = b do intervalo [a, b], sejam
mi = inf f e Mi = sup f,
[xi−1 ,xi ] [xi−1 ,xi ]
onde o sup e o inf são tomados sobre todas as partições do intervalo [a, b]. Temos
Z b Z b
(Fn − sn ) 6 L 6 U 6 (Fn + sn ) .
a a
Logo,
0 6 U − L 6 2sn (b − a) .
Como sn → 0 porque a convergência é uniforme, concluı́mos que U = L; em outras palavras, as somas
inferior e superior são iguais, o que significa que f é integrável.
Para provar a integração termo a termo, escreva
¯Z Z b ¯¯ ¯¯Z b ¯ Z
¯ b ¯ b
¯ ¯ ¯ ¯
¯ f− Fn ¯ = ¯ (f − Fn )¯ 6 |f − Fn | 6 sn (b − a) → 0.
¯ a a ¯ ¯ a ¯ a
¥
P
∞
Lema 2.4. (Derivação termo a termo de uma série uniformemente convergente) Seja fn uma série
n=1
puntualmente convergente de funções continuamente diferenciáveis fn : [a, b] −→ R, tal que a série
P∞
fn0 converge uniformemente em [a, b]. Então o seu limite é diferenciável em [a, b] e
n=1
à ∞
!0 ∞
X X
fn = fn0 .
n=1 n=1
Prova: As derivadas fn0 são continuamente diferenciáveis, logo em particular são integráveis. Podemos
portanto aplicar o lema anterior à série das derivadas, obtendo para cada x ∈ [a, b]
Z ∞
xX ∞ Z
X x ∞
X ∞
X ∞
X
fn0 = fn0 = [fn (x) − fn (a)] = fn (x) − fn (a) .
a n=1 n=1 a n=1 n=1 n=1
Rodney Josué Biezuner 68
¥
Agora estamos em condição de provar a existência de solução para o problema de Dirichlet para a equação
de calor unidimensional:
Teorema 2.5. (Existência de Solução para o Problema de Dirichlet Homogêneo) Seja f : [0, L] → R uma
função contı́nua por partes tal que f 0 também é contı́nua por partes. Então
∞
X n2 π 2 nπx
u(x, t) = cn e− L2
Kt
sen
n=1
L
com Z L
2 nπx
cn = f (x) sen dx
L 0 L
é uma solução para (2.1), de classe C 2,1 b Além disso, lim u(x, t) = f (x) se f
em R e contı́nua em R.
t→0
é contı́nua em x.
Prova: Pelo Lema de Riemann-Lebesgue temos que cn → 0 quando n → ∞, logo existe M > 0 tal que
|cn | < M . Portanto, para todo t > t0 , qualquer que seja t0 > 0, vale
¯ ¯
¯X∞
nπx ¯¯ X∞
¯ 2 2
− nLπ
2 Kt
n2 π 2
¯ cn e sen ¯6M e− L2 Kt0 .
¯ L ¯
n=1 n=1
A série numérica do lado direito converge, por exemplo pelo teste da raiz:
µ ¶1/n
π 2 Kt π 2 Kt0
− L2 0 n2
lim e = lim e− L2 n = 0.
n→∞ n→∞
Segue do teste-M de Weierstrass que a série do lado esquerdo converge uniformemente no conjunto [0, L] ×
[t0 , ∞) e portanto u(x, t) é contı́nua neste conjunto. Mas t0 é arbitrário, logo isso prova que u(x, t) é contı́nua
em R. b
Agora, fixado x ∈ (0, L), diferenciando a série de u(x, t) termo a termo em relação a t, obtemos a série
∞
π 2 X 2 − n2 π2 2 Kt nπx
− K n cn e L sen ,
L2 n=1 L
o lado direito converge, logo concluı́mos que a série do lado esquerdo é uniformemente convergente em
t ∈ [t0 , ∞). Pelo Lema 2.4, isto implica que esta série é ut (x, t) para todo t > t0 . Mas o teste-M de
Weierstrass também dá a convergência uniforme desta série em (x, t) ∈ (0, L) × [t0 , ∞) para todo t > t0 ,
Rodney Josué Biezuner 69
portanto concluı́mos também que ut (x, t) é contı́nua em R. Analogamente, fixado t, diferenciando a série de
u(x, t) termo a termo duas vezes em relação a x, obtemos a série
∞
π 2 X 2 − n2 π2 2 Kt nπx
− 2
n cn e L sen ,
L n=1 L
e pelo mesmo argumento concluı́mos que esta série é uxx (x, t) e que uxx (x, t) é contı́nua em R. Comparando
as duas séries, vemos que ut (x, t) = Kuxx (x, t) para todo (x, t) ∈ R. Além disso,
∞
X nπx
u(x, 0) = cn sen = f (x),
n=1
L
u(0, t) = u(L, t) = 0.
Suponha agora que f é contı́nua em x0 . Considere as séries de funções definidas no intervalo [0, ∞)
nπx0
fn (t) ≡ cn sen ,
L
n2 π 2
gn (t) = e− L2
Kt
.
P
∞
Pelo Teorema de Fourier, fn é uma série numérica convergente, e portanto uniformemente em t ∈ [0, ∞).
n=1
A seqüência de funções (gn (t)) satisfaz |gn (t)| 6 1 e gn+1 (t) 6 gn (t) para todo n ∈ N e para todo t ∈ [0, ∞).
P
∞ n2 π 2 nπx0
Pelo teste de Abel, concluı́mos que cn e− L2 Kt sen converge uniformemente em t ∈ [0, ∞). Em
n=1 L
particular, u (x, t) → u (x, 0) = f (x). Isso termina a demonstração do teorema. ¥
Corolário 2.6. (Regularidade da Solução da Equação do Calor) A solução obtida no teorema anterior é de
classe C ∞ em R.
Prova: De fato, nada nos impede de diferenciar termo a termo a solução u (x, t) acima quantas vezes
quisermos em relação a x e t e usar o mesmo argumento do teorema (teste da raiz e teste-M de Weierstrass)
para concluir a convergência uniforme em cada etapa. Em linhas gerais, ao derivar a série de u (x, t) termo
a termo i vezes em relação a t e j vezes em relação a x obteremos a série
∞
X n2 π 2 nπx
C (L, π) cn np e− L2
Kt
sen
n=1
L
que isso, ela é suave! O motivo disso pode ser melhor compreendido se analizarmos a expressão em série de
u (x, t)
X∞
n2 π 2 nπx
u(x, t) = cn e− L2 Kt sen
n=1
L
da seguinte forma. As exponenciais em t tendem a 0 rapidamente, como sabemos ser o comportamento
de uma exponencial negativa. Assim, passado um instante de tempo t (por menor que seja), os termos da
série a partir de uma certa ordem são arbitrariamente pequenos. É quase como se pudéssemos desprezar
completamente os termos da série a partir de uma certa ordem e a série infinita transformasse-se em uma
série finita. A descontinuidade presente na condição inicial surge exatamente da presença de um número
infinito de termos da série, pois uma série finita (combinação linear finita) de senos é sempre uma função
contı́nua, e à medida que o tempo passa o efeito é sentido como se um número infinito de termos se anulasse
e só restasse um número finito de termos.
Lema 2.7. (Princı́pio do Máximo para a Equação do Calor) Considere o retângulo R = (x1 , x2 ) × (t1 , t2 ).
Suponha que u(x, t) : R → R seja contı́nua em R e satisfaça a equação do calor ut = Kuxx em R ∪ `4
onde `4 = (x1 , x2 ) × {t2 }. Então o máximo e o mı́nimo de u são assumidos em um dos outros três
lados do retângulo R:
`1 = {x1 } × [t1 , t2 ],
`2 = {x2 } × [t1 , t2 ],
`3 = [x1 , x2 ] × {t1 }.
Então existe um ponto (x0 , t0 ) ∈ R ∪ `4 tal que u(x0 , t0 ) = maxR u. Defina a função
M −m
v(x, t) = u(x, t) + (x − x0 )2 ,
4L2
onde L = x2 − x1 . Como em `1 ∪ `2 ∪ `3 temos
M −m 2 3 M
v(x, t) 6 m + L = m+ < M,
4L2 4 4
e u(x0 , t0 ) = v(x0 , t0 ) = M , segue que o máximo de v também é assumido em um ponto de R ∪ `4 , digamos
em (x, t) ∈ R ∪ `4 . Como (x, t) é um ponto de máximo para v, devemos ter
vt (x, t) > 0,
vxx (x, t) 6 0.
Em particular,
vt (x, t) > Kvxx (x, t).
Rodney Josué Biezuner 71
Teorema 2.9. (Estabilidade da Solução do Problema de Dirichlet) Se o problema de Dirichlet com condições
inicial e de fronteira contı́nuas possuir uma solução contı́nua, então ele é bem-posto no sentido de
Hadamard.
Prova: Já sabemos pelo teorema anterior que se existir solução contı́nua, ela é única. Resta provar apenas
a dependência contı́nua das soluções com as condições iniciais e de fronteira. Mediremos a proximidade das
condições inicial e de fronteira através da norma do sup. Sejam u1 e u2 soluções dos problemas de Dirichlet
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
u(x, 0) = f1 (x) se 0 6 x 6 L,
u(0, t) = g1 (t) se t > 0,
u(L, t) = h1 (t) se t > 0,
e
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
u(x, 0) = f2 (x) se 0 6 x 6 L,
u(0, t) = g2 (t) se t > 0,
u(L, t) = h2 (t) se t > 0,
respectivamente, onde f1 , f2 , g1 , g2 , h1 , h2 , são funções contı́nuas e limitadas. Então u = u1 − u2 é solução
do problema de Dirichlet
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
u(x, 0) = f1 (x) − f2 (x) se 0 6 x 6 L,
u(0, t) = g1 (t) − g2 (t) se t > 0,
u(L, t) = h1 (t) − h2 (t) se t > 0.
π2 2
Definindo α = 2 K, notando que e−n αt 6 e−nαt = (e−αt )n , já que e−αt < 1 para t > 0, e lembrando que
L
P∞ r
rn = para |r| < 1, concluı́mos que
n=1 1 − r
e−αt
|u(x, t)| 6 M ,
1 − e−αt
Rodney Josué Biezuner 73
de modo que
lim u(x, t) = 0.
t→∞
Isso era esperado, já que as extremidades da barra não estão termicamente isoladas, a temperatura em
todos os pontos da barra deve decair até atingir a mesma temperatura que as suas extremidades, com o
calor escapando da barra através delas. Na verdade, a desigualdade acima mostra que a temperatura decai
rapidamente, com decaimento exponencial da ordem de e−αt .
Para este problema, o princı́pio de superposição de soluções não funciona, pois apesar da equação do calor ser
linear, as condições de contorno não são homogêneas. Vamos obter a solução através de algumas considerações
fı́sicas.
É de se esperar que após decorrido um tempo suficientemente longo, devido ao fato do calor se propagar
rapidamente, os efeitos da distribuição inicial de temperaturas na barra se dissiparão e será atingida uma
distribuição de temperaturas permanente v(x), ou seja, independente do tempo t e da condição inicial. Como
v deve obedecer à equação do calor, mas vt ≡ 0, segue que v é uma solução do problema
½ 00
v (x) = 0 se 0 < x < L,
(2.5)
v(0) = T1 , v(L) = T2 .
v é chamada a solução de estado estacionário. Da equação de v obtemos que v(x) = ax+b; os valores das
constantes a, b são obtidos através das condições de contorno, de modo que a solução de estado estacionário
é
T2 − T1
v(x) = x + T1 . (2.6)
L
O fato da distribuição de temperaturas no estado estacionário ter a forma de uma reta é sugerida pela
própria equação do calor ut = Kuxx . O significado da equação é que a variação da temperatura ut em um
ponto da barra com o passar do tempo é proporcional à curvatura da função temperatura naquele ponto
(isto é, uxx ). Logo, se a curvatura da função temperatura é positiva (uxx > 0, concavidade para cima),
então ut é positiva também, e portanto a tendência nesta região da curva é que as temperaturas aumentem
com o passar do tempo, diminuindo a concavidade e retificando a curva na região; se a curvatura da função
temperatura é negativa (uxx < 0, concavidade para baixo), então ut é também negativa, o que significa que a
tendência é que as temperaturas diminuam naquela região com o passar do tempo, diminuindo a concavidade
e rectificando a curva na região.
Para encontrar a solução u(x, t) para (2.4), tentamos expressá-la como a soma da solução de estado
estacionário v(x) e uma outra distribuição de temperatura w(x, t):
A distribuição de temperatura w(x, t) é chamada transiente, porque ela desaparece à medida que o tempo
passa (ou seja, torna-se arbitrariamente pequena, até o ponto de não poder ser registrada pelos instrumentos
Rodney Josué Biezuner 74
de medição), permanecendo apenas a solução de estado estacionário. Como w(x, t) = u(x, t) − v(x), segue
que w(x, t) satisfaz o problema de Dirichlet homogêneo
wt = Kwxx se 0 < x < L e t > 0,
w(0, t) = w(L, t) =
µ 0 ¶ se t > 0,
(2.8)
T2 − T1
w(x, 0) = f (x) − x + T1 se 0 6 x 6 L,
L
Como vimos no final da seção anterior, de fato w(x, t) → 0 quando t → ∞. Portanto, a solução do problema
(2.4) é a soma da solução de estado estacionário e a solução transiente:
X∞
T2 − T1 n2 π 2 nπx
u(x, t) = x + T1 + cn e− L2 Kt sen . (2.11)
L n=1
L
(a única coisa que mudou aqui foi a condição de contorno desta equação diferencial) e
de modo que √ √ √ √
F 0 (x) = c1 σe σx − c2 σe− σx .
A condição de fronteira F 0 (0) = F 0 (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o
sistema ½ √ √
c1 σ + c2 σ = 0 √
√ √ √ .
c1 σe σL − c2 σe− σL = 0
cuja única solução é c1 = c2 = 0, mas F (x) ≡ 0 não nos interessa.
2. σ = 0: A solução geral de (2.13) é da forma
F (x) = c1 x + c2 ,
de modo que
F 0 (x) = c1 .
A condição de fronteira F 0 (0) = F 0 (L) = 0 implica c1 = 0, mas desta vez podemos ter c2 6= 0 e portanto
uma solução aceitável é a solução constante
F (x) ≡ c0 .
√
3. σ < 0: Denotando λ = −σ, a solução geral de (2.13) é da forma
de modo que
F 0 (x) = −c1 λ sen λx + c2 λ cos λx.
A condição de fronteira F 0 (0) = F 0 (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o
sistema ½
c2 λ = 0
.
−c1 λ sen λL = 0
Logo c2 = 0 e como não queremos c1 = 0, devemos ter sen λL = 0, o que implica λL = nπ, onde n ∈ N
pode ser um inteiro positivo qualquer. Portanto, para cada valor de n, uma solução para (2.13) é a
função
nπ
Fn (x) = cos x,
L
chamada uma autofunção para o problema (2.13) associada ao autovalor
n2 π 2
−σ = λ2n = .
L2
Teorema 2.10. (Existência de Solução para o Problema de Neumann Homogêneo) Seja f : [0, L] → R uma
função contı́nua por partes tal que f 0 também é contı́nua por partes. Então
X∞
1 n2 π 2 nπx
u(x, t) = c0 + cn e− L2 Kt cos ,
2 n=1
L
com Z L
2 nπx
cn = f (x) cos dx.
L 0 L
b Além disso, lim u(x, t) = f (x) se
é uma solução para (2.12), de classe C 2,1 em R e contı́nua em R.
t→0
f é contı́nua em x.
Resolveremos este problema também pelo método de separação de variáveis. Escrevendo u(x, t) =
F (x)G(t), obtemos como de costume as equações diferenciais ordinárias
½ 00
F (x) − σF (x) = 0 se 0 < x < L,
(2.18)
F (0) = F 0 (L) = 0,
Rodney Josué Biezuner 77
e
G0 (t) − σKG(t) = 0.
Para resolver (2.18), analizamos o sinal de σ:
de modo que √ √ √ √
F 0 (x) = c1 σe σx − c2 σe− σx .
A condição de fronteira F (0) = F 0 (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o
sistema ½
c1 + c2√= 0
√ √ √ .
c1 σe σL − c2 σe− σL = 0
cuja única solução é c1 = c2 = 0, o que não nos interessa.
2. σ = 0: A solução geral de (2.18) é da forma
F (x) = c1 x + c2 ,
de modo que
F 0 (x) = c1 .
A condição de fronteira F (0) = F 0 (L) = 0 implica c1 = c2 = 0, e novamente isto não é interessante.
√
3. σ < 0: Denotando λ = −σ, a solução geral de (2.18) é da forma
de modo que
F 0 (x) = −c1 λ sen λx + c2 λ cos λx.
A condição de fronteira F (0) = F 0 (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o
sistema ½
c1 = 0
.
c2 λ cos λL = 0
(2n − 1)π
Como não queremos c2 = 0, devemos ter cos λL = 0, o que implica λL = , onde n ∈ N pode
2
ser um inteiro positivo qualquer. Portanto, para cada valor de n, uma solução para (2.18) é a função
(2n − 1)π
Fn (x) = sen x,
2L
chamada uma autofunção para o problema (2.18) associada ao autovalor
(2n − 1)2 π 2
−σ = λ2n = .
4L2
Portanto, um candidato à solução do problema com condições de fronteira mistas (2.17) será a função
∞
X (2n−1)2 π 2 (2n − 1)πx
u(x, t) = c2n−1 e− 4L2
Kt
sen
n=1
2L
Rodney Josué Biezuner 78
2n − 1
o que não é imediatamente claro, pois não é um inteiro. No entanto, podemos imaginar que 2L está
2
fazendo o papel de L na série de Fourier, de modo que o que temos que obter é uma extensão periódica ı́mpar
de perı́odo 4L de f . Ainda assim, sobra o problema de que aparecem apenas os termos de coeficiente ı́mpar
nesta série de senos de f . Precisamos determinar uma extensão ı́mpar de f de tal modo que os coeficientes
nπx
de Fourier de f correspondentes aos inteiros pares sejam iguais a zero. Observando que as funções sen
2L
são ı́mpares em relação à reta x = L se n é par, e pares se n é ı́mpar, parece razoável considerar a extensão
para f que é “par” em relação a esta reta, de forma a eliminar os coeficientes pares. Assim, definimos a
seguinte extensão para f :
f (x) se 0 6 x 6 L,
fe(x) = f (2L − x) se L 6 x 6 2L,
−f (−x) se − 2L 6 x 6 0,
f é periódica de perı́odo 4L;
observe que ao extendermos f no intervalo [L, 2L], o fizemos de tal modo que o gráfico de fe é simétrico em
relação à reta x = L; ou seja, fe é uma função “par” em relação a esta reta. Os coeficientes de Fourier desta
extensão de f são dados por
an = 0,
Z 2L Z Z
2 nπx 1 L nπx 1 2L nπx
bn = fe(x) sen dx = f (x) sen dx + f (2L − x) sen dx
2L 0 2L L 0 2L L L 2L
Z Z
1 L nπx 1 0 nπ(2L − t)
= f (x) sen dx − f (t) sen dt
L 0 2L L L 2L
Z L Z L µ ¶
1 nπx 1 nπt
= f (x) sen dx + f (t) cos nπ sen − dt
L 0 2L L 0 2L
Z Z
1 L nπx 1 L nπt
= f (x) sen dx + f (t)(−1)n+1 sen dt
L 0 2L L 0 2L
0 Z se n é par,
= 2 L nπx
f (x) sen dx se n é ı́mpar.
L 0 2L
Uma vez estabelecidos os coeficientes do candidato à solução, pode-se provar rigorosamente que este é de
fato uma solução para o problema de Robin homogêneo:
Teorema 2.11. (Existência de Solução para o Problema de Robin Homogêneo) Seja f : [0, L] → R uma
função contı́nua por partes tal que f 0 também é contı́nua por partes. Então
∞
X (2n−1)2 π 2 (2n − 1)πx
u(x, t) = c2n−1 e− 4L2
Kt
sen
n=1
2L
com Z L
2 (2n − 1)πx
c2n−1 = f (x) sen dx
L 0 2L
é uma solução para (2.17), de classe C 2,1 b Além disso, lim u(x, t) = f (x) se
em R e contı́nua em R.
t→0
f é contı́nua em x.
Rodney Josué Biezuner 79
Lema 2.12. (Princı́pio do Máximo para a Equação do Calor com Condições de Fronteira) Sejam
© ª
R = (x, t) ∈ R2 : 0 < x < L e t > 0 ,
RT = {(x, t) ∈ R : t 6 T } .
Suponha que u : RT → R seja contı́nua em RT e satisfaça a equação do calor ut = Kuxx em RT .
Denote por ∂∗ RT = RT \RT a fronteira parabólica de RT . Então u atinge os seus valores máximo e
mı́nimo em RT na fronteira parabólica ∂∗ RT .
Denote
∂0 RT = {(x, t) ∈ ∂∗ RT : x = 0 e t > 0} ,
∂L RT = {(x, t) ∈ ∂∗ RT : x = L e t > 0} .
Sejam a1 , b1 , a2 , b2 ∈ R constantes não-negativas tais que a1 , b1 não são simultaneamente nulas e a2 , b2
não são simultaneamente nulas.
(1) Suponha que u satisfaz a condição de fronteira
Se u atinge um mı́nimo negativo em R então u atinge este valor mı́nimo em ∂∗ RT \∂0 RT ; se u atinge
um máximo positivo em R então u atinge este valor máximo em ∂∗ RT \∂0 RT .
(2) Suponha que u satisfaz a condição de fronteira
Se u atinge um mı́nimo negativo em R então u atinge este valor mı́nimo em ∂∗ RT \∂L RT ; se u atinge
um máximo positivo em R então u atinge este valor máximo em ∂∗ RT \∂L RT .
Prova: Já sabemos pelo princı́pio do máximo (Lema 2.7) que u atinge os seus valores máximo e mı́nimo em
RT na fronteira parabólica ∂∗ RT de RT . Vamos provar (1). Assuma que u satisfaz a condição de fronteira
(2.19), que u atinge um mı́nimo negativo e suponha por absurdo que u atinge este mı́nimo negativo em
∂0 RT , isto é, que existe t0 > 0 tal que
Como o mı́nimo ocorre em (0, t0 ), devemos ter ux (0, t0 ) > 0. Daı́, segue da condição (2.19) e das hipóteses
sobre os coeficientes a1 , b1 que
ux (0, t0 ) = 0,
caso contrário terı́amos a1 u (0, t) − b1 ux (0, t) < 0, pois a1 , b1 não são simultaneamente nulos (u (0, t0 ) < 0
não implica em contradição, pois pode ser que a1 = 0). Agora, defina uma função v : RT → R por
M −m
v (x, t) = u (x, t) − x.
2L
Rodney Josué Biezuner 80
Então v é contı́nua e satisfaz a equação do calor, logo v também atinge o seu valor mı́nimo na fronteira
parabólica ∂∗ RT . Por outro lado, v = u em ∂0 RT , mas se (x, t) ∈ ∂∗ RT \∂0 RT temos
M −m M −m M +m
v (x, t) > u (x, t) − L>M− = > m,
2L 2 2
o que prova que v tem um mı́nimo em (0, t0 ), contradizendo o fato que
M −m M −m
vx (0, t0 ) = ux (0, t0 ) − =− < 0.
2L 2L
Para provar o resultado sobre o máximo, basta considerar −u.
A demonstração de (2) é análoga, bastando considerar
M −m
v (x, t) = u (x, t) − (L − x) .
2L
¥
Corolário 2.13. Suponha que u : R → R é uma solução contı́nua para o problema
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
a1 u (0, t) − b1 ux (0, t) = 0 se t > 0,
a2 u (L, t) + b2 ux (L, t) = 0 se t > 0.
Se
m0 = min f (x) e M0 = max f (x)
[0,L] [0,L]
então
min (0, m0 ) 6 u (x, t) 6 max (0, M0 )
para todo (x, t) ∈ R.
Prova: Seja T > 0 arbitrário. Pelo princı́pio do máximo, u atinge o seu valor máximo M em RT na fronteira
parabólica ∂∗ RT . Ou M 6 0 e então u (x, t) 6 0 para todo t 6 T , ou M > 0. Neste último caso, pelo
lema anterior segue que u atinge o seu máximo em ∂∗ RT \ (∂0 RT ∪ ∂L RT ), logo u (x, t) 6 M0 para todo
t 6 T . Como T é arbitrário, isso prova que u 6 max (0, M0 ) em R. A demonstração da outra desigualdade
é análoga. ¥
Provaremos agora a unicidade e a estabilidade da solução para os problemas de Neumann e de Robin:
Teorema 2.14. (Unicidade da Solução para Problemas de Neumann e de Robin) Se o problema
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
a1 u (0, t) − b1 ux (0, t) = g (t)
se t > 0,
a2 u (L, t) + b2 ux (L, t) = h (t) se t > 0,
possuir solução contı́nua, então ela é única.
Prova: Se u1 , u2 são duas soluções para este problema, então u = u1 − u2 é solução de
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L,
a1 u (0, t) − b1 ux (0, t) = 0
se t > 0,
a2 u (L, t) + b2 ux (L, t) = 0 se t > 0,
e o resultado segue imediatamente do Corolário 2.13. ¥
A estabilidade com relação à condição inicial é vista no Exercı́cio 2.13 (para a estabilidade com relação
às condições de fronteira, veja [5]).
Rodney Josué Biezuner 81
Exemplo 2.15. Considere o seguinte problema de condução de calor em uma barra uniforme, homogênea,
cuja superfı́cie lateral é isolada termicamente:
ut = uxx + sen x se 0 < x < π e t > 0,
u(0, t) = 1 se t > 0,
ux (π, t) = 2 se t > 0,
u(x, 0) = 1 + sen x se 0 6 x 6 π.
Observe que uma das extremidades da barra é mantida a uma temperatura constante, enquanto que a
outra extremidade tem uma taxa de fluxo de calor constante (condição de fronteira de Robin). Além
disso, vemos que calor é gerado internamente na barra (a função seno é positiva no intervalo (0, π)),
dependendo do ponto da barra, mas independente do tempo.
Vamos encontrar primeiro a solução de estado estacionário v(x). Embora, à primeira vista, fisicamente
talvez não seja tão claro que ela exista nestas condições, se pudermos encontrá-la matematicamente
isso por si só será prova suficiente da sua existência. Como v deve obedecer à equação do calor, mas
vt ≡ 0, segue que v satisfaz à equação 0 = v 00 (x) + sen x, logo v é uma solução do problema
00
v (x) = − sen x se 0 < x < L,
v(0) = 1, (2.23)
0
v (π) = 2.
v 0 (x) = cos x + c1 ,
v(x) = sen x + c1 x + c2 .
As constantes de integração c1 e c2 são determinadas através das condições de fronteira. A condição de
fronteira v(0) = 1 permite concluir que c2 = 1, enquanto que a condição v 0 (π) = 2 implica que c1 = 3.
Assim, a solução de estado estacionário é
v(x) = sen x + 3x + 1.
Rodney Josué Biezuner 82
Escrevendo u(x, t) = v(x) + w(x, t), segue que a solução transiente w satisfaz o problema
wt = wxx se 0 < x < π e t > 0,
w(0, t) = wx (π, t) = 0 se t > 0,
w(x, 0) = −3x se 0 6 x 6 π.
com Z π
6 (2n − 1)x 24(−1)n
c2n−1 = − x sen dx = .
π 0 2 π(2n − 1)2
Portanto, a solução do problema é
∞
24 X (−1)n − (2n−1)2 t (2n − 1)x
u(x, t) = sen x + 3x + 1 + e 4 sen .
π n=1 (2n − 1)2 2
¤
Exemplo 2.16. Considere uma barra homogênea, completamente isolada termicamente (ou seja, inclusive
nas suas extremidades), feita de material radiativo de modo que calor é gerado internamente à uma
taxa constante. O modelo matemático para este problema é
ut = Kuxx + q se 0 < x < L e t > 0,
ux (0, t) = ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L.
Fisicamente, não deve haver uma temperatura de estado estacionário. Matematicamente, se supuser-
mos que existe uma solução de estado estacionário v(x) independente do tempo e tentarmos resolver o
correspondente problema para v
½ 00
v (x) = a se 0 < x < L,
v 0 (0) = v 0 (L) = 0
v 0 (x) = ax + c1 ,
donde
a 2
v(x) = x + c1 x + c2 .
2
A condição de fronteira v 0 (0) = 0 permite concluir que c1 = 0, mas então a condição de fronteira
v 0 (L) = 0 implica que a = 0, uma contradição (pois q 6= 0; além disso, observe que a constante c2
permanece indeterminada).
Este problema pode ser resolvido pelo método de variação dos parâmetros, como veremos na próxima
subseção. ¤
Rodney Josué Biezuner 83
Para resolver este problema, usaremos o método de variação dos parâmetros. A sua motivação é a seguinte.
Se tivéssemos g = 0, então a solução do problema seria
∞
X n2 π 2 nπx
u(x, t) = cn e− L2
Kt
sen .
n=1
L
Esta solução já satisfaz as condições de fronteira. Precisamos escolher os coeficientes cn (t) de tal forma
que u (x, t) satisfaça a equação do calor não-homogênea e a condição inicial; esta última obviamente será
satisfeita se tivermos Z
2 L nπx
cn (0) = f (x) sen dx. (2.26)
L 0 L
Formalmente, substituindo a expressão acima na equação do calor, temos
∞
X ∞
nπx π2 X 2 nπx
c0n (t) sen = −K 2 n cn (t) sen + q (x, t) .
n=1
L L n=1 L
Se para cada t > 0 fixado a função q (x, t) é representada por sua série de Fourier de senos
∞
X nπx
q (x, t) = qn (t) sen ,
n=1
L
π 2 n2
c0n (t) = −K cn (t) + qn (t) (2.27)
L2
sujeita à condição inicial (2.26). A solução para este problema é
2 2 2 2
Z t
n2 π 2
− nLπ
2 Kt − nLπ
2 Kt Ks
cn (t) = cn (0) e +e qn (s) e L2 ds. (2.28)
0
Assim como fizemos no Teorema 2.5, pode-se provar que esta é a solução do problema (2.24) (veja Exercı́cio
2.9, para o caso em que q é apenas uma função de x). Observe que este método também funciona quando
consideramos condições de Neumann ou de Robin homogêneas.
Exemplo 2.17. Como exemplo, vamos usar o método de variação de parâmetros para resolver o problema
de Neumann do Exemplo 2.16. Escrevemos
∞
c0 (t) X nπx
u(x, t) = + cn (t) cos .
2 n=1
L
Rodney Josué Biezuner 84
Como
q0 = q,
qn = 0 para todo n > 1,
segue que
c0 (0)
c0 (t) = qt + ,
2
n2 π 2
cn (t) = cn (0) e− L2
Kt
para todo n > 1,
logo
∞
c0 X n2 π 2 nπx
u(x, t) = qt + + cn e− L2 Kt cos ,
2 n=1
L
onde cn são os coeficientes da série de Fourier de f . Note que quando t → ∞ a solução se comporta
como
c0
v (x, t) = qt + .
2
Neste sentido, podemos chamar v (x, t) de solução de estado estacionário. Observe como a temperatura
aumenta a uma taxa constante à medida que o tempo passa tornando-se arbitrariamente grande, como
esperávamos. ¤
onde a1 , b1 , a2 , b2 ∈ R são constantes não-negativas tais que a1 , b1 não são simultaneamente nulas e a2 , b2
não são simultaneamente nulas.
Embora não faça sentido obter uma solução de estado estacionário, já que o problema todo é dependente
do tempo, ainda assim podemos considerar escrever
A solução deste problema é ainda uma função linear em x, mas desta vez os coeficientes lineares dependem
de t:
v (x, t) = A (t) x + B (t) . (2.32)
Os coeficientes A (t) e B (t) são determinados pelas condições de fronteira. Resolvendo o sistema resultante
½
a1 B (t) − b1 A (t) = g (t)
,
a2 [A (t) L + B (t)] + b2 A (t) = h (t)
Rodney Josué Biezuner 85
obtemos
a1 h (t) − a2 g (t) b1 h (t) + (La2 + b2 ) g (t)
v (x, t) = x+ . (2.33)
(La1 + b1 ) a2 + a1 b2 (La1 + b1 ) a2 + a1 b2
Observe que para resolvermos este sistema, teremos que supor que a1 , a2 também não são simultaneamente
nulas. Isso significa que esta estratégia não funcionará para um problema de Neumann, porque neste caso não
seremos capazes de determinar B (t). Assumindo esta hipótese adicional, a “solução transiente” w = u − v
satisfazerá então, o problema
wt = Kwxx + q (x, t) − vt (x, t) se 0 < x < L e t > 0,
w(x, 0) = f (x) − v (x, 0) se 0 6 x 6 L,
(2.34)
a1 w (0, t) − b1 wx (0, t) = 0 se t > 0,
a2 w (L, t) + b2 wx (L, t) = 0 se t > 0,
Para este problema, como as condições de fronteira agora são homogêneas, podemos usar o método de
variação de parâmetros introduzido na subseção anterior, desde que tenhamos um problema de Dirichlet
ou um problema de Robin do tipo tratado anteriormente. Caso contrário, a situação fica mais complicada,
como mostrado na próxima seção.
Para resolver este problema, primeiro procuramos a solução de estado estacionário, já que as condições
nos extremos não são homogêneas. A solução de estado estacionário v = v(x) deve satisfazer o problema
00
v (x) = 0 se 0 < x < L,
v(0) = T1 ,
0
v (L) + hv(L) = hT2 .
ou seja,
h(T2 − T1 )
v(x) = + T1 .
1 + hL
Rodney Josué Biezuner 86
Definindo w(x, t) = u(x, t) − v(x), segue que a solução transiente w(x, t) satisfaz o problema homogêneo
wt = Kwxx se 0 < x < L e t > 0,
w(0, t) = 0 se t > 0,
wx (L, t) + hw(L, t) = 0 se t > 0,
w(x, 0) = g(x) se 0 6 x 6 L,
onde g(x) = f (x) − v(x). Usando o método de separação de variáveis, escrevendo w(x, t) = F (x)G(t),
concluı́mos que F e G devem satisfazer
00
F (x) − σF (x) = 0 se 0 < x < L,
F (0) = 0, (2.36)
0
F (L) + hF (L) = 0,
e
G0 (t) − σKG(t) = 0.
Como antes, é possı́vel
√ verificar que apenas no caso σ < 0 temos soluções que não são identicamente nulas.
Denotando λ = −σ, a solução geral de (2.36) é então da forma
de modo que
F 0 (x) = −c1 λ sen λx + c2 λ cos λx.
A condição F (0) = 0 implica que c1 = 0, enquanto que a condição F 0 (L) + hF (L) = 0 implica que
ou seja,
λ
tan λL = − .
h
Existem infinitas soluções para esta equação transcendental em λ (pois a reta de inclinação −1/h intercepta
o gráfico de tan λL infinitas vezes); de fato, para cada n ∈ N existe uma única solução λn satisfazendo
(2n − 1)π nπ
< λn < .
2L L
Portanto, generalizando, gostarı́amos de escrever a solução na forma
∞
X n2 π 2
w(x, t) = cn e− L2
Kt
sen λn x, (2.37)
n=1
assumindo que toda função razoável g pode ser escrita como uma série de Fourier generalizada
∞
X
g(x) = cn sen λn x.
n=1
Os valores de λn podem ser obtidos através de métodos numéricos (eles certamente não são uma constante
vezes n, como no caso da série de Fourier). A resolução completa deste problema pede portanto uma teoria
de séries de Fourier generalizadas, o que não faremos neste curso (para ver o desenvolvimento desta teoria,
uma boa referência é [5]).
Rodney Josué Biezuner 87
A partir daı́, o correspondentes problema com a equação do calor não-homogênea seria resolvido usando
o método de variação de parâmetros como fizemos na seção anterior. Para ver se é realmente possı́vel
fazer isso, como observado antes terı́amos que nos aprofundar mais no estudo da teoria de problemas de
Sturm-Liouville.
onde x é o comprimento de arco ao longo do fio. Observe que as condições de fronteira são uma conseqüência
da hipótese de que o contato entre as duas extremidades do fio é perfeito do ponto de vista térmico. Este é
evidentemente um problema de condições de fronteira mistas. Estas não são exatamente prescritas, mas são
condições de fronteira periódicas, já que podemos imaginar o problema definido para todo x (não apenas para
x entre −L e L), com o ponto x sendo fisicamente igual ao ponto x + 2L, logo tendo a mesma temperatura.
Resolvendo este problema pelo método de separação de variáveis, chegamos ao problema de Sturm-
Liouville periódico 00
F (x) − σF (x) = 0 se − L < x < L,
F (−L) = F (L), (2.40)
0
F (−L) = F 0 (L).
Rodney Josué Biezuner 88
A única solução periódica para este problema, além da solução constante F0 (x) = c (correspondente à σ = 0),
é
F (x) = c1 cos λx + c2 sen λx.
√
onde, como de costume, λ = −σ. Usando a primeira condição de fronteira, obtemos
donde
2c2 sen(λL) = 0.
Usando a segunda condição de fronteira, obtemos
donde
2λc1 sen(λL) = 0.
Se sen(λL) 6= 0, então c1 = c2 = 0. Portanto, teremos uma solução não identicamente nula somente se
sen(λL) = 0,
nπ n2 π 2
o que corresponde a λ = . Logo, σ = − 2 e
L L
nπx nπx
Fn (x) = an cos + bn sen ,
L L
n2 π 2
Gn (t) = e− L2
Kt
.
Assim, a solução do problema é
∞ ∞
a0 X n2 π 2 nπx X n2 π 2 nπx
u(x, t) = + an e− L2 Kt cos + bn e− L2 Kt sen , (2.41)
2 n=1
L n=1
L
onde an e bn são os coeficientes da série de Fourier da extensão periódica de f de perı́odo 2L. Este é um
exemplo de uma solução que envolve ambos senos e cossenos.
onde f : R → R é uma função adequada. Este é um problema apenas de valor inicial, chamado problema
de Cauchy. Ele pode ser pensado como o modelo matemático para uma barra muito longa, de modo que
as condições sobre as suas extremidades podem ser desprezadas. Este problema não pode ser resolvido por
séries de Fourier se a funções f não for periódica.
Rodney Josué Biezuner 89
v(x, t) = u(λx, λ2 t)
também é uma solução, para qualquer valor de λ ∈ R. Em outras palavras, a equação do calor é invariante
x2
sob mudanças de coordenadas lineares que deixam invariante a razão . Isso sugere procurar por uma
t
solução que tenha a forma µ 2¶
x
u(x, t) = v (2.44)
t
para alguma função especial v a ser determinada. No entanto, chegaremos ao nosso objetivo de uma maneira
algebricamente mais simples se tentarmos soluções da forma
µ 2¶
x
u(x, t) = w(t)v , (2.45)
t
Escolhendo
s
v(s) = e− 4 ,
Rodney Josué Biezuner 90
segue que
4v 00 (s) + v 0 (s) = 0,
logo a equação acima transforma-se em
µ ¶ µ ¶
x2 2 x2
w0 (t)v − w(t)v 0 =0
t t t
ou, µ ¶
1 2
w0 (t) − w(t) e−x /4t = 0,
2t
donde
1
w0 (t) − w(t) = 0. (2.47)
2t
A solução desta equação é
w(t) = t−1/2 . (2.48)
Concluı́mos que
2
u(x, t) = t−1/2 e−x /4t
. (2.49)
Definição. A solução fundamental para a equação do calor é a função
1 − x2
Γ(x, t) = √ e 4t se x ∈ R e t > 0. (2.50)
4πt
Ela também é chamada o núcleo do calor.
Γ satisfaz a equação do calor em R × (0, +∞), por construção; isso também pode ser diretamente verificado:
x2 − 2t x2
Γt (x, t) = √ 5/2 e− 4t = Γxx (x, t).
8 πt
√
O núcleo do calor, que é uma função integrável em R; a escolha da constante 1/ 4π é para normalizar a
integral:
Lema 2.18. Para todo t > 0 vale Z
Γ(x, t) dx = 1. (2.51)
R
Prova. Z Z Z Z
1 2
− x4t 1 −y 2
√ 1 2
Γ(x, t) dx = √ e dx = √ e 2 t dy = √ e−y dy = 1.
R 4πt R 4πt R π R
¥
A função Γ é chamada solução fundamental, porque soluções para o problema de Cauchy podem ser
construı́das a partir dela. De fato, fazendo uma convolução entre o núcleo do calor e a condição inicial,
obtemos uma fórmula de representação para a solução limitada do problema de valor inicial da equação do
calor (é uma condição fı́sica razoável que a temperatura inicial da barra infinita seja limitada):
Teorema 2.19. (Solução do Problema de Cauchy) Suponha que f é uma função contı́nua e limitada. Defina
Z Z
1 (x−y)2
u(x, t) = Γ(x − y, t)f (y) dy = √ e− 4t f (y) dy (2.52)
R 4πt R
para x ∈ R e t > 0. Então u é a única solução limitada de classe C ∞ (R × (0, +∞)) ∩ C 0 (R × [0, +∞))
para o problema de valor inicial (2.43). Mais precisamente, temos
sup |u (x, t)| 6 sup |f (x)| para todo t > 0. (2.53)
x∈R x∈R
Rodney Josué Biezuner 91
Prova. Note que Γ ∈ C ∞ (R × (0, +∞)). Além disso, usando indução, podemos ver que as derivadas parciais
de Γ são dadas por
∂ p+q Γ P (x, t) − x2
Γxp tq (x, t) = p q
(x, t) = e 4t
∂x ∂t Q (t)
P √
para algum polinômio P (x, t) = aij xi tj e algum monômio Q (t) = ak πtk/2 . Por exemplo,
−x − x2
Γx (x, t) = √ e 4t ,
2t 4πt
x2 − 2t − x2
Γt (x, t) = √ e 4t ,
8 πt5/2
x2 − 2t − x2
Γxx (x, t) = √ e 4t ,
8 πt5/2
x4 − 12x2 t + 12t2 − x2
Γtt (x, t) = √ e 4t ,
32 πt9/2
−x3 + 6xt − x2
Γxt (x, t) = √ e 4t .
16 πt7/2
Portanto, vemos que as derivadas parciais de Γ são integráveis em R para todo t > 0, logo podemos derivar
sob o sinal de integração para obter
Z
uxp tq (x, t) = Γxp tq (x − y, t)f (y) dy
Rn
para todos p, q > 0, e portanto u ∈ C ∞ (R × (0, +∞)). Como Γ é uma solução para a equação do calor, segue
em particular que Z
[ut − uxx ] (x, t) = [Γt − Γxx ] (x − y, t)f (y) dy = 0,
R
de modo que u satisfaz a equação do calor porque Γ satisfaz.
Para provar que u é contı́nua até a fronteira temos que provar que
Para provar isso, dados x0 ∈ R e ε > 0, escolha δ > 0 tal que |f (y) − f (x0 )| < ε se |y − x0 | < δ. Então, se
δ
|x − x0 | < , temos (usando o Lema 2.18)
2
¯Z ¯
¯ ¯
|u(x, t) − f (x0 )| = ¯¯ Γ(x − y, t) [f (y) − f (x0 )] dy ¯¯
R
Z x0 +δ Z
6 Γ(x − y, t) |f (y) − f (x0 )| dy + Γ(x − y, t) |f (y) − f (x0 )| dy
x0 −δ |y−x0 |>δ
Z
6 ε + 2 kf kL∞ Γ(x − y, t) dy.
|x−x0 |>δ
δ 1
|y − x0 | 6 |x − y| + |x − x0 | < |x − y| + 6 |x − y| + |y − x0 | ,
2 2
de modo que
1
|x − y| > |y − x0 | ,
2
Rodney Josué Biezuner 92
e portanto
Z Z Z +∞
1 (x−y)2 1 (y−x0 )2 2 y2
√ e− 4t dy 6 √ e− 16t dy = √ e− 16t dy
4πt |y−x0 |>δ 4πt |y−x0 |>δ 4πt δ
Z +∞ √ Z +∞
1 −z 2 4 2
=√ √ e 4 t dz = √ e−z dz → 0
πt δ/4 t π δ/4t1/2
R +∞ 2 √ δ
quando t → 0+ , porque 0
e−z dz = π < ∞. Portanto, se |x − x0 | < e t > 0 é suficientemente
2
pequeno, temos |u(x, t) − f (x0 )| < 2ε.
O fato de que u é limitada segue imediatamente da fórmula de representação; de fato, para todo x ∈ R
e para todo t > 0 temos Z
|u (x, t)| 6 sup |f | Γ(x − y, t) dy = sup |f | .
R R R
Lema 2.20. (Princı́pio do Máximo em R) Suponha que u ∈ C 2,1 (R × (0, T )) ∩ C 0 (R × [0, T ]) satisfaz
½
ut = uxx se x ∈ R e t > 0.
(2.55)
u (x, 0) = f (x) se x ∈ R,
e existem constantes M, a > 0 tais que
2
u(x, t) 6 M ea|x| para todo x ∈ R e para todo 0 6 t 6 T. (2.56)
Então
sup u 6 sup f. (2.57)
R×[0,T ] R
1
Prova. Basta provar o resultado assumindo que T < , pois podemos sempre dividir o intervalo [0, T ]
4a
em subintervalos iguais de comprimento menor que 1/4a e aplicar o argumento sucessivamente a estes
subintervalos.
1
Portanto, podemos assumir que existe ε > 0 tal que a < . Fixado y ∈ R e µ > 0, defina
4(T + ε)
µ (x−y)2
v(x, t) = u(x, t) − √ e 4(T +ε−t) .
T +ε−t
O segundo termo também satisfaz a equação do calor, como pode ser verificado diretamente, logo v também
satisfaz a equação do calor. Considere o retângulo
RT = (y − ρ, y + ρ) × (0, T )
v(y, t) 6 max v.
∂ ∗ RT
Temos
v(x, 0) 6 u(x, 0) 6 sup f,
R
Rodney Josué Biezuner 93
v(x, t) 6 sup f.
R
2.9 Exercı́cios
Exercı́cio 2.1. Resolva os seguintes problemas de valor inicial e de fronteira. Encontre a solução de estado
estacionário, se existir.
ut = uxx se 0 < x < 1 e t > 0,
(a) u(0, t) = 0, u(1, t) = 100 se t > 0,
u(x, 0) = 100x (1 − x) se 0 6 x 6 1.
ut = uxx se 0 < x < 10 e t > 0,
u(0, t) = 0,
½ u(10, t) = 100 se t 6 0,
(b)
0 se 0 6 x < 5,
u(x, 0) =
100 se 5 < x 6 10.
ut = uxx se 0 < x < π e t > 0,
(c) ux (0, t) = u(π, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = x se 0 6 x 6 π.
Exercı́cio 2.2. Usando algum software matemático (Scilab, Maple, Matlab, etc.) ou algum pacote gráfico
(OpenGL, Java2D, etc.), plote os gráficos de algumas das soluções do problema anterior e veja como a
solução evolui com o tempo.
Exercı́cio 2.3. O problema de valor inicial e de fronteira para tempo negativo
ut = Kuxx se 0 < x < L e t < 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t 6 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
ut = Kuxx + q,
onde q é uma função contı́nua tal que q > 0. (Sugestão: considere a função u(x, t) = (1 − e−t ) sen x.)
Rodney Josué Biezuner 94
Exercı́cio 2.10. Resolva os seguintes problemas de valor inicial e de fronteira. Encontre a solução de estado
estacionário, se existir.
ut = Kuxx + a se 0 < x < L e t > 0,
(a) u(0, t) = b, u(L, t) = c se t > 0, onde a, b, c ∈ R.
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L,
ut = Kuxx + Ce−px se 0 < x < L e t > 0,
(b) u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0, onde p, C são constantes positivas.
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
Exercı́cio 2.11. Encontre o valor constante de q e o menor valor da constante M para os quais o problema
ut = Kuxx + q se 0 < x < 1 e t > 0,
ux (0, t) = 1, ux (1, t) = 3 se t > 0,
u(x, 0) = x (1 − 2x) + M se 0 6 x 6 1,
possuir solução contı́nua para qualquer condição inicial contı́nua, então ela depende continuamente da
condição inicial (assuma que a1 , b1 , a2 , b2 ∈ R satisfazem as mesmas condições do Lema 2.12).
Exercı́cio 2.14. Prove o seguinte princı́pio do máximo, usando a notação do Lema 2.7: Considere o
retângulo R = (x1 , x2 ) × (t1 , t2 ). Suponha que u(x, t) : R → R seja contı́nua em R e satisfaça a
desigualdade
ut 6 Kuxx
em R ∪ `4 . Então o máximo de u é assumido na fronteira parabólica ∂∗ R = `1 ∪ `2 ∪ `3 do retângulo
R.
Exercı́cio 2.15. Prove o seguinte princı́pio do mı́nimo, usando a notação do Lema 2.7: Considere o retângulo
R = (x1 , x2 ) × (t1 , t2 ). Suponha que u(x, t) : R → R seja contı́nua em R e satisfaça a desigualdade
ut > Kuxx
Exercı́cio 2.16. Prove o seguinte princı́pio de comparação: Se u e v são duas soluções da equação do
calor que satisfazem as mesmas condições de fronteira (com a1 , b1 , a2 , b2 ∈ R satisfazendo as mesmas
hipóteses do Lema 2.12) e tais que
u (x, 0) 6 v (x, 0)
para todo 0 6 x 6 L,então
u (x, t) 6 v (x, t)
para todo 0 6 x 6 L e para todo t > 0.
Capı́tulo 3
1. As vibrações ocorrem em um plano. Denotaremos as coordenadas deste plano por (x, u), de modo que
u(x, t) denota a posição do ponto x da corda no instante de tempo t.
2. As vibrações são transversais. Ou seja, as partı́culas constituintes da corda deslocam-se apenas na
direção do eixo u.
3. A corda é flexı́vel. Isso significa que a corda não oferece resistência a ser dobrada (ou seja, resistência
a flexão, daı́ o nome). Como conseqüência, a força atuando em cada ponto da corda é sempre tangente
à corda, chamada a tensão da corda.
Como não há movimento da corda na direção do eixo x, isso significa que a resultante das componentes
horizontais das tensões atuando em cada pedaço da corda é nula. Portanto, se T (x1 , t) e T (x2 , t) são as
tensões atuando nos pontos x1 e x2 e θ(x1 , t) e θ(x2 , t) são os ângulos destas forças com relação à horizontal
(o eixo x), no instante de tempo t, segue que
para todos x1 , x2 . Portanto, a componente horizontal da tensão é constante ao longo da corda, independente
do ponto x, embora ela possa depender do tempo t. Vamos denotar esta constante positiva por τ (t):
Para calcular a resultante vertical da tensão atuando no pedaço da corda compreendido entre x1 e x2 ,
observamos primeiro que a força vertical atuando em um elemento infinitesimal da corda compreendido entre
os pontos x e x + ∆x é dada por:
T (x + ∆x, t) sen θ(x + ∆x, t) − T (x, t) sen θ(x, t) = τ (t) [tan θ(x + ∆x, t) − tan θ(x, t)] .
Usando o fato de que tan θ(x, t) é a inclinação de u(x, t) no instante de tempo t, ou seja, a derivada ux (x, t)
da função u com relação a x, obtemos
τ (t) [tan θ(x + ∆x, t) − tan θ(x, t)] = τ (t) [ux (x + ∆x, t) − ux (x, t)] = τ (t)uxx (x, t)∆x
97
Rodney Josué Biezuner 98
onde, pelo Teorema do Valor Médio, x é algum ponto entre x e x + ∆x. Portanto, a resultante vertical da
tensão atuando no pedaço da corda compreendido entre x1 e x2 é dada por
Z x2
resultante vertical = τ (t) uxx (x, t) dx. (3.1)
x1
Isso significa que em cada ponto x da corda, a força devida à tensão atuando nele no instante de tempo t
é dada por τ (t)uxx (x, t), o produto da tensão horizontal naquele ponto pela curvatura da corda no ponto.
Intuitivamente isso faz sentido, pois a tensão atuando na corda é principalmente uma força horizontal e
quanto maior é a curvatura em um ponto na corda, maior deve ser a tensão naquele ponto: imagine uma
corda presa nas suas extremidades; ao tentarmos flexioná-la, ela oferece resistência exatamente por estar
presa (as extremidades presas “puxam” a corda em suas direções), e quanto mais puxarmos a corda em um
determinado ponto, o que significa que estamos cada vez aumentando mais a curvatura da corda naquele
ponto, maior é a tensão na corda, isto é, a sua resistência a ser assim flexionada.
Além das forças de tensão (forças internas à corda), a corda pode também estar sujeitas a forças externas,
tais como a força da gravidade e a resistência ao movimento da corda imposta pelo meio onde ela está
situada (forças de atrito ou fricção), mas estamos assumindo que a contribuição destas forças é negligı́vel
(por exemplo, a corda é feita de um material muito leve e o meio não oferece resistência significativa), ou
seja, estamos assumindo que as vibrações são livres.
Por outro lado, se utt (x, t) é a aceleração em um ponto x da corda no instante de tempo t (representada
apenas pelo seu componente vertical, já que o seu componente horizontal é nulo) e se a densidade linear da
corda no ponto x é ρ(x), segue da segunda lei de Newton que em cada elemento infinitesimal da corda a
força atuando nele é dm utt (x, t) = ρ(x)dx utt (x, t), de modo que
Z x2
resultante vertical = ρ(x)utt (x, t) dx. (3.2)
x1
Igualando (3.1) a (3.2), usando o fato de que x1 e x2 são arbitrários, e denotando c2 = c2 (x, t) = τ (t)/ρ(x),
obtemos a equação da onda:
utt = c2 uxx . (3.3)
Fisicamente, ela significa que a aceleração em cada ponto da corda é proporcional à curvatura da corda
naquele ponto. Pontos com concavidade para cima (isto é, uxx > 0) tendem a mover para cima (utt > 0),
enquanto que pontos com concavidade para baixo (uxx < 0) tendem a se mover para baixo (utt < 0); é claro
que deve-se levar em conta também a velocidade e a direção em que a corda está-se movendo no momento.
Quando a corda é homogênea (ρ(x) ≡ constante) e as vibrações são pequenas, de modo que θ(x, t) ∼ 0
e conseqüentemente cos θ(x, t) ∼ 1, e a força de tensão não varia com o tempo (por exemplo, uma corda
com as extremidades fixadas), temos que o parâmetro c é uma constante. Observe que o parâmetro c tem
dimensão de velocidade, e o significado fı́sico disso será explicado mais tarde.
onde as condições iniciais f e g são funções contı́nuas. Este é o caso de uma corda de violão, em que a corda
é deslocada e depois solta para começar a sua vibração (f 6= 0 e g ≡ 0) ou da corda de um piano, em que a
corda em repouso é percurtida por um golpe de martelo (f ≡ 0 e g 6= 0).
Podemos também considerar o problema da corda com extremidades livres, em que as extremidades
da corda são presas a trilhos colocados perpendicularmente à corda, no plano de vibração:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
ux (0, t) = ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
ut (x, 0) = g(x) se 0 6 x 6 L.
Este é um problema de Neumann
Podemos ainda considerar condições de fronteira mistas (uma extremidade fixa, uma extremidade livre)
ou um problema em que as extremidades da corda se movem transversalmente de acordo com uma lei
conhecida:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = a(t) se t > 0,
u(L, t) = b(t) se t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
ut (x, 0) = g(x) se 0 6 x 6 L.
onde f (0) = f (L) = f 00 (0) = f 00 (L) = g(0) = g(L) = 0 e c é uma constante. Escrevendo u(x, t) = F (x)G(t),
obtemos as equações diferenciais ordinárias
½ 00
F (x) − σF (x) = 0 se 0 < x < L,
(3.5)
F (0) = F (L) = 0,
e
G00 (t) − σc2 G(t) = 0. (3.6)
Como de costume, para resolver (3.5), analizamos o sinal de σ e concluı́mos que a única possibilidade
√ de
se obter soluções que não sejam identicamente nulas é quando σ < 0. Neste caso, denotando λ = −σ, a
solução geral de (3.5) é da forma
F (x) = c1 cos λx + c2 sen λx.
A condição inicial F (0) = F (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o sistema
½
c1 = 0
c2 λ sen λL = 0
e portanto devemos ter λL = nπ, onde n ∈ N pode ser um inteiro positivo qualquer. Portanto, para cada
valor de n, uma solução para o problema de Sturm-Liouville (3.5) é a autofunção
nπx
Fn (x) = sen , (3.7)
L
associada ao autovalor
n2 π 2
−σ = λ2n = .
L2
Agora o problema (3.6) é
c2 n2 π 2
G00 (t) + G(t) = 0,
L2
cuja solução geral é
cnπt cnπt
Gn (t) = an cos + bn sen . (3.8)
L L
Portanto, as soluções fundamentais da equação da onda que satisfazem às condições de fronteira são as
funções µ ¶
nπx cnπt cnπt
un (x, t) = sen an cos + bn sen . (3.9)
L L L
Rodney Josué Biezuner 101
∞
X µ ¶
nπx cnπt cnπt
u(x, t) = sen an cos + bn sen .
n=1
L L L
Os seus coeficientes an , bn são determinados através das condições iniciais. Como u(x, 0) = f (x), temos
∞
X nπx
f (x) = an sen ,
n=1
L
Observe que em cada instante de tempo t a forma da corda é uma senoidal, cuja amplitude varia de
maneira periódica. Por exemplo,
√
u(x, 0) = √
sen x, u(x, 5π/4) = − 22 sen x,
u(x, π/4) = 22 sen x, u(x, 3π/2) √= 0,
u(x, π/2) =√
0, u(x, 7π/4) = 22 sen x
u(x, 3π/4) = − 22 sen x, u(x, 2π) = sen x.
u(x, π) = − sen x,
¤
Rodney Josué Biezuner 102
O exemplo anterior ilustra de forma clara a diferença da equação do calor para a equação da onda. Na
equação da onda, o termo dependente de t também é uma função periódica, de modo que a corda vibra. Na
equação do calor, diferentemente, o termo dependente de t é um decaimento exponencial em t: o calor se
propaga (e se dissipa) rapidamente.
Aqui também a forma da corda é uma senoidal em cada instante de tempo t, cuja amplitude varia de
maneira periódica. Apenas o intervalo de tempo é deslocado de uma constante, porque a corda começa
do repouso: √
2
u(x, 0) =
√
0, u(x, 5π/4) = − 2 sen x,
2
u(x, π/4) = 2 sen x, u(x, 3π/2) = √
sen x,
u(x, π/2) =√sen x, u(x, 7π/4) = − 22 sen x
2
u(x, 3π/4) = 2 sen x, u(x, 2π) = 0.
u(x, π) = 0,
¤
Mais uma vez, é possı́vel provar rigorosamente que este candidato é de fato a única solução para o
problema (3.4) sob hipóteses razoáveis:
Teorema 3.3. Sejam f, g : [0, L] → R, f de classe C 2 e g de classe C 1 , tais que f (0) = f (L) = f 00 (0) =
f 00 (L) = g(0) = g(L) = 0. Suponha, além disso, que f 000 e g 00 são contı́nuas por partes. Então
∞
X µ ¶
nπx cnπt cnπt
u(x, t) = sen an cos + bn sen
n=1
L L L
com
Z L
2 nπx
an = f (x) sen dx,
L 0 L
Z L
2 nπx
bn = g(x) sen dx,
cnπ 0 L
Prova: Para mostrar que u é contı́nua em R, mostraremos que a série que defina u converge uniformemente
em R. Para provar isso pelo teste-M de Weierstrass, basta mostrar que
∞
X
(|an | + |bn |) (3.10)
n=1
Rodney Josué Biezuner 103
é convergente. Integrando por partes duas vezes (como fizemos para estimatir os coeficientes de Fourier no
Capı́tulo 1) e usando as hipóteses que f é de classe C 2 e que f (0) = f (L) = 0, obtemos
Z " Z L #
2 L nπx 2 L nπx ¯¯L L 0 nπx
an = f (x) sen dx = − f (x) cos ¯ + f (x) cos dx
L 0 L L nπ L 0 nπ 0 L
Z L " Z L #
2 0 nπx 2 L 0 nπx ¯¯L L 00 nπx
= f (x) cos dx = f (x) sen ¯ − f (x) sen dx
nπ 0 L nπ nπ L 0 nπ 0 L
Z L
2L nπx
=− 2 2 f 00 (x) sen dx.
n π 0 L
Como pelo Lema de Riemann Lebesgue
Z L
nπx
f 00 (x) sen dx → 0 quando n → ∞,
0 L
segue que existe uma constante C independente de n tal que
C
|an | 6 . (3.11)
n2
Analogamente, integrando por partes uma vez e usando as hipóteses que g(0) = g(L) = 0 e g é de classe C 1 ,
obtemos
Z L " Z L #
2 nπx 2 L nπx ¯¯L L 0 nπx
bn = g(x) sen dx = bn = − g(x) cos ¯ + g (x) cos dx
cnπ 0 L cnπ nπ L 0 nπ 0 L
Z L
2L nπx
= 2 2 g 0 (x) cos dx,
cn π 0 L
de modo que concluı́mos também que existe uma constante C independente de n tal que
C
|bn | 6 . (3.12)
n2
Segue de (3.11) e (3.12) que a série (3.10) converge, logo u é contı́nua em R.
Se integrarmos por partes (3.11) mais uma vez e usarmos as hipóteses f 00 (0) = f 00 (L) = 0 e que f 000 é
contı́nua por partes, obtemos
" Z L #
2L L 00 nπx ¯¯L L 000 nπx
an = − 2 2 − f (x) cos ¯ + f (x) cos dx
n π nπ L 0 nπ 0 L
Z L
2L2 nπx
=− 3 3 f 000 (x) sen dx
n π 0 L
2L2
= − 3 3 cn , (3.13)
n π
onde cn são os coeficientes de Fourier de f 000 . Da mesma forma, integrando por partes (3.12) mais uma vez
obtemos
" Z L #
2L L 0 nπx ¯¯L L 00 nπx
bn = 2 2 g (x) sen ¯ − g (x) sen dx
cn π nπ L 0 nπ 0 L
Z L
2L2 nπx
= 3 3 g 00 (x) sen dx
cn π 0 L
2L2
= 3 3 dn , (3.14)
cn π
Rodney Josué Biezuner 104
onde dn são os coeficientes de Fourier de g 00 . Porque f 000 e g 00 são contı́nuas por partes, pelo lema de Riemann-
Lebesgue temos que cn , dn → 0 quando n → ∞, logo segue de (3.13) e (3.14) que existe uma constante C > 0
tal que
C
|an | , |bn | 6 3 ,
n
logo a série
∞
X
n (|an | + |bn |)
n=1
1
converge, o que prova que u é de classe C em R e que podemos derivar a série que define u termo a termo
para obter
∞ µ ¶
πX nπx cnπt cnπt
ux (x, t) = n cos an cos + bn sen ,
L n=1 L L L
∞ µ ¶
cπ X nπx cnπt cnπt
ut (x, t) = n sen −an sen + bn cos .
L n=1 L L L
Como as três séries do lado direito são convergentes (as duas últimas pela desigualdade de Bessel), segue
que u é de classe C 2 em R e que podemos derivar as séries que definem as derivadas primeiras de u termo a
termo para obter as derivadas segundas de u:
∞ µ ¶
π2 X 2 nπx cnπt cnπt
uxx (x, t) = − 2 n sen an cos + bn sen ,
L n=1 L L L
∞ µ ¶
c2 π 2 X 2 nπx cnπt cnπt
utt (x, t) = − 2 n sen an cos + bn sen ;
L n=1 L L L
em particular, vemos que utt = c2 uxx . É fácil ver que as condições inicial e de fronteira são verificadas. ¥
Como veremos no Teorema 3.5, as hipóteses sobre a derivada terceira de f e a derivada segunda de g podem
ser removidas; de fato, não é nem mesmo necessário que existam f 000 e g 00 para que a equação da onda possua
solução de classe C 2 .
3.2.1 Exercı́cios
Exercı́cio 3.1. Use o método de separação de variáveis para resolver os seguintes problemas de valor ini-
cial e de fronteira (em alguns problemas, pode ser necessário encontrar antes a solução de “estado
estacionário”).
Rodney Josué Biezuner 105
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(a) ux (0, t) = 0, ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(b) u(0, t) = 0, ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(c) u(0, t) = A, u(L, t) = B se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(d) u(0, t) = A + Bt, u(L, t) = C + Dt se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
(e) (Corda sujeita à ação da gravidade)
utt = c2 uxx − g se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = 0, u(L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
(i) (Corda percurtida por um martelo plano) Para 0 < a < L e δ > 0 pequeno:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0, ½
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0, v se |x − a| 6 δ,
com g(x) =
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L, 0 se |x − a| > δ.
ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L,
(j) (Corda percurtida por um martelo convexo) Para 0 < a < L e δ > 0 pequeno:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0, (
π (x − a)
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0, v cos se |x − a| 6 δ,
com g(x) = 2δ
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L, 0 se |x − a| > δ.
ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L,
Rodney Josué Biezuner 106
Exercı́cio 3.2. Usando algum software matemático (Scilab, Mupad, Maple, Matlab, Mathematica, etc.) ou
algum pacote gráfico (OpenGL, Java2D, etc.), plote os gráficos de algumas das soluções do exercı́cio
anterior e veja como a solução evolui com o tempo.
Exercı́cio 3.3. Prove que as soluções que você encontrou no Exercı́cio 3.2 (a), (c), (d) e (e) são contı́nuas
em R e de classe C 2 em R. O que você pode dizer sobre as soluções que você encontrou nos ı́tens (f),
(g) e (h)?
Exercı́cio 3.4. (Princı́pio de Duhâmel) Mostre que a solução do problema de Dirichlet para a equação da
onda não-homogênea com condições iniciais homogêneas
2
utt = c uxx + q(x, t)
se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L,
ut (x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L,
é dada por Z t
u(x, t) = u(x, t; s) ds,
0
Teorema 3.4. (Solução de D’Alembert, 1747) Suponha que u é uma função de classe C 2 que satisfaz a
equação da onda
utt = c2 uxx
onde c é uma constante. Então existem funções F, G : R → R de classe C 2 tais que
onde
Z L
2 nπx
an = f (x) sen dx,
L 0 L
Z L
2 nπx
bn = g(x) sen dx.
cnπ 0 L
De fato, usando as identidades trigonométricas, temos
· ¸
nπx cnπt 1 nπ(x + ct) nπ(x − ct)
sen cos = sen + sen ,
L L 2 L L
· ¸
nπx cnπt 1 nπ(x − ct) nπ(x + ct)
sen sen = cos − cos ,
L L 2 L L
de modo que
∞ · ¸ ∞ · ¸
1X nπ(x + ct) nπ(x + ct) 1X nπ(x − ct) nπ(x − ct)
u(x, t) = an sen − bn cos + an sen + bn cos ,
2 n=1 L L 2 n=1 L L
ou seja,
1 Xh nπr i
∞
nπr
F (r) = an sen − bn cos ,
2 n=1 L L
1 Xh nπs i
∞
nπs
G(s) = an sen + bn cos .
2 n=1 L L
Como an são os coeficientes de Fourier da extensão periódica ı́mpar de perı́odo 2L da função f , que deno-
taremos por fe, segue que
∞
1X nπx 1
an sen = fe(x) .
2 n=1 L 2
cnπbn
Por outro lado, são os coeficientes de Fourier da extensão periódica ı́mpar de perı́odo 2L da função
L
g; bn não são os coeficientes de Fourier da extensão periódica par de perı́odo 2L da função g. Para resolver
este problema, observe que ao integramos termo a termo
X∞
cnπbn nπx
g (x) = sen ,
n=1
L L
obtemos Z x ∞
X nπx
g (ξ) dξ = −c bn cos
0 n=1
L
Rodney Josué Biezuner 109
Assim, se denotarmos por ge a extensão periódica ı́mpar de perı́odo 2L da função g, temos que
∞ Z x
1X nπr 1
bn cos =− ge(ξ) dξ.
2 n=1 L 2c 0
Em outras palavras,
Z r
1e 1
F (r) = f (r) + ge(ξ) dξ,
2 2c 0
Z s
1 1
G(s) = fe(s) − ge(ξ) dξ,
2 2c 0
e
Z x+ct Z x−ct
1e 1 1 1
u(x, t) = f (x + ct) + g(ξ) dξ + fe(x − ct) − ge(ξ) dξ
2 2c 0 2 2c 0
Z x+ct
1 1
= [fe(x + ct) + fe(x − ct)] + ge(ξ) dξ.
2 2c x−ct
Agora observe que, diferentemente do enunciado do Teorema 3.3, as funções F e G, e portanto a solução
u, serão de classe C 2 simplesmente se exigirmos que f seja de classe C 2 (desde que, além disso, f 00 (0) =
f 00 (L) = 0) e g seja de classe C 1 . Estas considerações nos levam a enunciar o seguinte resultado:
Teorema 3.5. (Solução de D’Alembert para o Problema de Dirichlet) Sejam f, g : [0, L] → R, f de classe
C 2 e g de classe C 1 , tais que f (0) = f (L) = f 00 (0) = f 00 (L) = g(0) = g(L) = 0. Então
Z x+ct
1 e e 1
u(x, t) = [f (x + ct) + f (x − ct)] + ge(s) ds, (3.16)
2 2c x−ct
onde fe, ge são as extensões periódicas ı́mpares de f, g, respectivamente, com perı́odo 2L, é a única
solução para (3.4), contı́nua em R e de classe C 2 em R. Além disso, (3.4) é bem posto no sentido de
Hadamard.
As funções F e G não podem ser determinadas de maneira única, porque se c é uma constante arbitrária,
então F + c e G − c levam à mesma solução para o problema. Mas, por este mesmo motivo, não há perda
de generalidade se impusermos a condição
F (0) = 0.
Além disso, o problema envolve apenas os valores de x e t tais que 0 6 x 6 L e t > 0, logo apenas os
valores de F em [0, +∞) e de G em (−∞, L] são relevantes para a solução. Estes valores serão unicamente
determinados pelas condições iniciais e de fronteira.
Das condições iniciais do problema, obtemos
se 0 6 x 6 L. Como f (0) = F (0) = 0, segue que G(0) = 0. Integrando a última expressão, obtemos
Z
1 x
F (x) − G(x) = g(s) ds
c 0
Rodney Josué Biezuner 110
se 0 6 x 6 L. Concluı́mos que
Z x
1 1
F (x) = f (x) + g(s) ds,
2 2c 0
Z x
1 1
G(x) = f (x) − g(s) ds
2 2c 0
para x ∈ [0, L]. Para encontrar os valores de F e G além deste intervalo, usamos as condições de fronteira.
De u(0, t) = 0 para todo t > 0, obtemos F (ct) + G(−ct) = 0 para todo t > 0, isto é,
e de u(L, t) = 0 para todo t > 0, obtemos F (L + ct) + G(L − ct) = 0 para todo t > 0, isto é,
(Em outras palavras, G em [−L, 0] é a extensão ı́mpar da restrição de F ao intervalo [0, L].) Agora, se fe, ge
são as extensões periódicas ı́mpares de f, g, respectivamente, com perı́odo 2L, então para x 6 0 temos
fe(x) = −f (−x),
Z −x Z −x Z x
g(s) ds = − ge(−s) ds = ge(s) ds,
0 0 0
de modo que Z x
1 1
G(x) = fe(x) − ge(s) ds para todo − L 6 x 6 L.
2 2c 0
ou, tomando x = −y + L,
G(y) = G(y − 2L) para todo y 6 L,
o que significa que G é a restrição a (−∞, L] de uma função periódica de perı́odo 2L. Segue então de (3.17)
que o gráfico de F em [0, +∞) é obtido do gráfico de G em (−∞, 0] por simetria com respeito à origem, de
modo que F é a restrição a [0, +∞) de uma função periódica de perı́odo 2L. Portanto,
Z
1 1 x
F (x) = fe(x) + ge(s) ds para todo x > 0,
2 2c Z 0 (3.19)
x
1 1
G(x) = fe(x) − ge(s) ds para todo x 6 L.
2 2c 0
Para que F e G sejam de classe C 2 , precisamos que f seja de classe C 2 e que g seja de classe C 1 . Além
disso, como fe é ı́mpar, derivando fe(x) = −fe(−x) duas vezes produz fe00 (x) = −fe00 (−x) para todo x; em
Rodney Josué Biezuner 111
particular, fe00 (0) = −fe00 (0), o que implica fe00 (0) = 0, e fe00 (L) = −fe00 (−L) = −fe00 (L) (porque fe tem perı́odo
2L), logo fe00 (L) = 0 também.
Como F e G foram determinadas de maneira única nos intervalos [0, +∞) e (−∞, L], respectivamente,
segue que a única solução para o problema é
Z x+ct
1 e e 1
u(x, t) = [f (x + ct) + f (x − ct)] + ge(s) ds.
2 2c x−ct
É fácil verificar a partir daı́ que a solução depende continuamente dos valores iniciais, pois se u1 e u2 são
soluções de (3.4) correspondentes aos valores iniciais f1 , g1 e f2 , g2 , respectivamente, então
¯Z ¯
1 ¯¯ ¯
¯ 1 ¯¯ x+ct ¯
|u1 (x, t) − u2 (x, t)| 6 ¯fe1 (x + ct) + fe1 (x − ct) − fe2 (x + ct) − fe2 (x − ct)¯ + ¯ [ g
e1 (s) − g
e2 (s)] ds ¯
¯
2 2c x−ct
Z
1 ¯¯ ¯ 1¯
¯ ¯
¯
¯ 1 x+ct
6 ¯fe1 (x + ct) − fe2 (x + ct)¯ + ¯fe1 (x − ct) − fe2 (x − ct)¯ + max |ge1 − ge2 | ds,
2 2 2c [x−ct,x+ct] x−ct
Como
¯ ¯
¯e ¯
¯f1 (x + ct) − fe2 (x + ct)¯ 6 max |f1 − f2 | ,
[0,L]
¯ ¯
¯e ¯
¯f1 (x − ct) − fe2 (x − ct)¯ 6 max |f1 − f2 | ,
[0,L]
¥
Compare a expressão obtida em (3.19) com a expressão para F e G obtida através de séries de Fourier.
onde f, g : R → R são funções de classe C 2 . Este é um problema de valor inicial apenas, também chamado
de problema de Cauchy. Ele pode ser pensado como o modelo matemático para uma corda muito longa,
de modo que as condições sobre as suas extremidades podem ser desprezadas. Este problema não pode ser
resolvido por séries de Fourier se as funções f e g não forem periódicas, mas usando o mesmo argumento do
Rodney Josué Biezuner 112
Teorema 3.5 (este caso é ainda mais simples e muitos dos detalhes daquela demonstração são desnecessários),
obtemos a solução como sendo
Z x+ct
1 1
u(x, t) = [f (x + ct) + f (x − ct)] + g(s) ds. (3.20)
2 2c x−ct
3.4.4 Exercı́cios
Exercı́cio 3.6. Usando algum software matemático (Scilab, Mupad, Maple, Matlab, Mathematica, etc.) ou
algum pacote gráfico (OpenGL, Java2D, etc.), crie uma animação para ver como as funções F e G se
sobrepõe para criar a solução u para o problema de Dirichlet da equação da onda em um intervalo
[0, L]. Escolha vários pares de funções F e G que satisfaçam as condições do Teorema 3.5.
Exercı́cio 3.7. Mostre que a solução geral para a equação da onda não-homogênea
utt = c2 uxx − g
é
g
u (x, t) = x (x − 1) + F (x + ct) + G(x − ct),
2c2
onde F e G são funções arbitrárias de classe C 2 .
Exercı́cio 3.8. Encontre a solução de D’Alembert do problema de Neumann homogêneo para a equação da
onda.
Exercı́cio 3.9. Encontre a solução de D’Alembert do problema de Robin homogêneo para a equação da
onda com condições de fronteira u(0, t) = 0, ux (L, t) = 0.
Exercı́cio 3.10. Mostre que a solução geral para a equação da onda não-homogênea
é Z
1
u (x, t) = F (x + ct) + G(x − ct) + q (r, s) drds,
2c T
onde F e G são funções arbitrárias de classe C 2 e T é o triângulo de vértices (x − ct, 0), (x + ct, 0) e
(x, t).
cnπt cnπt
= an cos + bn sen .
L L
Portanto,
∞
X µ ¶
nπx cnπt
u(x, t) = αn sen sen + θn . (3.21)
n=1
L L
Esta é a chamada solução de Bernoulli (1753) e é imediatamente passı́vel de interpretações fı́sicas. Para
cada n, as vibrações individuais
µ ¶
nπx cnπt
un (x, t) = αn sen sen + θn
L L
são chamadas harmônicos. A vibração da corda é a superposição destes infinitos harmônicos. Se consider-
armos apenas o harmônico un cada ponto da corda se move com as seguintes caracterı́sticas:
nπx
amplitude αn sen ,
L
fase θn ,
2L
perı́odo ,
cn
cn
freqüência .
2L
Em particular, a freqüência em todos pontos da corda para cada harmônico é um múltiplo inteiro de c/2L
aumentando linearmente com n. A freqüência do primeiro harmônico, chamado o harmônico fundamental,
é a chamada a freqüência fundamental da corda:
r
c 1 τ
ω1 = = .
2L 2L ρ
nπx
Note ainda que para cada harmônico existem pontos da corda que não se movem (os zeros da função sen );
L
estes são chamados pontos nodais.
O ouvido humano é capaz de distinguir poucos harmônicos. Isso se deve não só pelo fato da freqüência dos
harmônicos aumentar linearmente com o ı́ndice n, como também porque a amplitude e, conseqüentemente,
a energia destes harmônicos decrescer com n. Para ver isso, vamos calcular a energia de cada harmônico.
A segunda é clara. Para ver como foi obtida a primeira, observe que o trabalho da força de tensão vertical
na direção transversal em um ponto x da corda é dado por
de modo que o trabalho total realizado pela força de tensão na corda desde o instante 0 até o instante t0 é
Z t0 Z L
T = τ uxx (x, t)ut dxdt.
0 0
se as extremidades da corda estão fixadas de modo que ut (0, t) = ut (L, t) = 0, ou se as condições de fronteira
são tais que ux (0, t) = ux (L, t) = 0. Logo,
Z t0 ÃZ !
L
1 d 2
T=− τ ux (x, t) dx dt
0 2 dt 0
Z Z
1 L 2 1 L 2
= τ ux (x, 0) dx − τ ux (x, t0 ) dx,
2 0 2 0
o que mostra que o trabalho da tensão para levar a corda da configuração inicial para a configuração final
depende apenas destas duas e portanto independe das configurações intermediárias, o que nos permite definir
esta expressão como uma energia potencial.
Assim, para cada n, a energia total do harmônico un é (supondo τ e ρ constantes)
Z Z
1 L 1 L
En = Un + Kn = τ [(un )x ]2 dx + ρ(x)[(un )t ]2 dx
2 0 2 0
Z µ ¶ Z µ ¶
τ αn2 n2 π 2 L 2 nπx 2 cnπt ρ αn2 c2 n2 π 2 L 2 nπx 2 cnπt
= cos sen + θn dx + sen cos + θn dx
2 L2 0 L L 2 L2 0 L L
µ ¶Z L µ ¶Z L
τ αn2 n2 π 2 2 cnπt 2 nπx ρ αn2 c2 n2 π 2 2 cnπt nπx
= 2
sen + θn cos dx + 2
cos + θ n sen2 dx
2 L L 0 L 2 L L 0 L
µ ¶ µ ¶
τ αn2 n2 π 2 2 cnπt L ρ αn2 c2 n2 π 2 2 cnπt L
= 2
sen + θn + 2
cos + θn
2 L L 2 2 L L 2
· µ ¶ µ ¶¸
αn2 n2 π 2 cnπt cnπt
= τ sen2 + θn + ρc2 cos2 + θn .
4L L L
cn
onde M = Lρ é a massa total da corda, αn é a amplitude máxima do harmônico e ωn = 2L a freqüência do
harmônico. Desta expressão, não parece óbvio que a energia de cada harmônico decresce, mas a observação
seguinte prova que isso tem que acontecer.
A energia total da corda é soma das energias dos harmônicos. De fato, como a corda vibrante nesta
situação é um sistema conservativo (não há forças dissipadoras de energia e o sistema é isolado de influências
externas ou estas são desprezı́veis), a energia total da corda é a sua energia no instante 0, ou seja,
Z L Z L
1 1
E= τ u2x (x, 0) dx + ρ(x)u2t (x, 0) dx
2 0 2 0
Z L Z L
1 1
= τ [f 0 (x)]2 dx + ρ(x)[g(x)]2 dx.
2 0 2 0
Exemplo 3.6. No caso da corda dedilhada (por exemplo, a corda de um violão), o movimento da corda é
descrito pelo problema
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
ut (x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L,
onde
hx
se 0 6 x 6 a,
f (x) = a
L−x
h se a 6 x 6 L.
L−a
(Supõe-se que o músico dedilha a corda em um ponto distante a da extremidade 0 a uma altura h.) Os
harmônicos deste problema são encontrados diretamente encontrando a série de Fourier de f (já que
dn = 0, pois não há velocidade inicial, o músico simplesmente solta a corda):
µ ¶
2h L2 nπa nπx cnπt
un (x, t) = 2 2
sen sen cos .
a(L − a) n π L L L
A vibração total da corda é a superposição destes harmônicos. Observe que, dependendo do ponto
a, alguns harmônicos podem estar ausentes (correspondentes a sen nπa L = 0); estes são os chamados
harmônicos mudos. Por exemplo, se a = L/2, todos os harmônicos pares são mudos. Em geral, se o
ponto a for um ponto nodal do n-ésimo harmônico, este será mudo. O primeiro harmônico (que não
possui pontos nodais) nunca é mudo.
A altura do som é medida pela freqüência, e em geral ela é dada pelo harmônico fundamental
r
1 τ
ω1 = .
2L ρ
Assim, quanto menor o comprimento da corda, maior é a freqüência, recurso utilizado nos instrumentos
musicais e pelos músicos. Além disso, a freqüência depende da tensão, daı́ a necessidade de se afinar
os instrumentos musicais, pois com o passar do tempo a tensão em suas cordas varia.A intensidade
depende da energia, já o timbre é uma qualidade que depende da forma global de u(x, t) e portanto
permite distinguir entre instrumentos diferentes. ¤
Rodney Josué Biezuner 117
Teorema 3.7. (Princı́pio de Conservação da Energia) Suponha que u(x, t) seja uma solução para a equação
da onda
utt = c2 (x, t)uxx
onde c(x, t) = τ /ρ(x) e τ é uma constante positiva satisfazendo
ux (0, t) = ux (L, t) = 0
ou
ut (0, t) = ut (L, t) = 0.
Se a energia da solução u no instante t é definida por
Z L Z L
1 1
E(t) = τ u2x (x, t) dx + ρ(x)u2t (x, t) dx,
2 0 2 0
ρ(x)utt = τ uxx .
Temos
" Z Z #
0 d 1 L 2 1 L 2
E (t) = τ ux (x, t) dx + ρ(x)ut (x, t) dx
dt 2 0 2 0
Z L Z L
=τ ux (x, t)uxt (x, t) dx + ρ(x)ut (x, t)utt (x, t) dx
"0Z 0
Z #
L L
=τ ux (x, t)uxt (x, t) dx + uxx (x, t)ut (x, t) dx .
0 0
Prova: Suponha que u1 e u2 sejam duas soluções do problema acima. Então u = u1 − u2 é solução do
problema
utt = c2 (x, t)uxx se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = ut (x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L.
É claro que a energia inicial é E(0) = 0. Logo, pelo princı́pio de conservação da energia,
Z L Z L
1 1
E(t) = τ (t)u2x (x, t) dx + ρ(x)u2t (x, t) dx = 0
2 0 2 0
para todo t. Como τ (t) e ρ(x) são funções positivas, segue que ux (x, t) = ut (x, t) = 0, portanto u é constante.
Mas u(0, t) = 0, logo esta constante é a constante nula, isto é, u ≡ 0 e portanto u1 = u2 . ¥
Se as oscilações são pequenas, temos que c é uma constante e a solução independente do tempo é
g 2
v(x) = (x − Lx).
2
Isso não corresponde à situação observada na realidade, em que a forma de uma corda suspensa é uma
catenária (isto é, o gráfico de uma função do tipo cosseno hiperbólico). Isso mostra os limites do nosso
modelo fı́sico. O seu maior limite é neste caso é que o cabo suspenso está sujeito a grandes oscilações. Para
obter a equação diferencial correta que modela uma corda ou cabo suspenso, é necessário ter um modelo
fı́sico mais acurado que permita grandes oscilações.
Observe a situação mostrada na figura abaixo:
Nela consideramos a porção do cabo suspenso entre os dois pontos marcados na figura, onde um dos pontos
é o ponto mais baixo do cabo e o outro ponto está situado à sua direita. Denote por H a força da tensão
horizontal atuando no ponto mais baixo da curva e por T a tensão atuando no ponto à direita. Se entre
estes dois pontos o comprimento do cabo for s e a sua densidade linear for ρ, de modo que o seu peso é
Rodney Josué Biezuner 119
P = mg = (ρs)g, e a tensão T faz um ângulo θ com a horizontal, do equilı́brio das forças resultantes segue
que:
T cos θ = H,
T sen θ = gρs.
Daı́,
gρ
v 0 (x) = tan θ =
s.
H
Denotando a constante a = gρ/H, e derivando esta expressão uma segunda vez, obtemos
Por outro lado, como s = s(x) nada mais é que a função comprimento de arco, temos
p
s0 (x) = 1 + [v 0 (x)]2 .
bem diferente da equação anterior v 00 (x) = a. Note que esta é uma equação diferencial não-linear. A solução
geral desta equação diferencial ordinária de segunda ordem é
³x ´
v(x) = a cosh + c1 + c2 . (3.23)
a
Substituindo as condições v(0) = 0 e v(L) = 0, obtemos os valores das constantes c1 e c2 .
Capı́tulo 4
Neste capı́tulo estudaremos as equações da onda e do calor em dimensões 2 e 3. Isso nos levará naturalmente
ao estudo da equação de Laplace.
a0 (y) X h nπx i
∞
nπx
f (x, y) = fy (x) = + an (y) cos + bn (y) sen ,
2 n=1
a a
onde, para cada y ∈ [0, b], os coeficientes de Fourier são dados por
Z
1 a nπx
an (y) = f (x, y) cos dx para n > 0,
a −a a
Z
1 a nπx
bn (y) = f (x, y) sen dx para n > 1.
a −a a
Em seguida, suponha que cada um dos coeficientes an , bn : [0, b] → R, que na verdade são funções de y, tenha
regularidade suficiente, de modo que se estendermos cada um deles a uma função periódica de perı́odo 2b,
podemos escrever
∞ ³
an0 X mπy mπy ´
an (y) = + anm cos + bnm sen para n > 0,
2 m=1
b b
∞ ³
cn0 X mπy mπy ´
bn (y) = + cnm cos + dnm sen para n > 1,
2 m=1
b b
onde
120
Rodney Josué Biezuner 121
Z b
1 mπy
anm = an (y) cos dy para m > 0,
b −b b
Z b
1 mπy
bnm = an (y) sen dy para m > 1,
b −b b
e
Z b
1 mπy
cnm = bn (y) cos dy para m > 0,
b −b L
Z b
1 mπy
dnm = bn (y) sen dy para m > 1.
b −b L
Em outras palavras,
" ∞ ³
#
1 a00 X mπy mπy ´
f (x, y) = + a0m cos + b0m sen
2 2 m=1
b b
" ∞ ³
#
mπy ´
X∞ X
an0 mπy nπx
+ + anm cos + bnm sen cos
n=1
2 m=1
b b a
" ∞ ³
#
mπy ´
X∞ X
cn0 mπy nπx
+ + cnm cos + dnm sen sen ,
n=1
2 m=1
b b a
de modo que
1 X³ nπx ´ 1 X ³ mπy ´
∞ ∞
a00 nπx mπy
f (x, y) = + an0 cos + cn0 sen + a0m cos + b0m sen (4.1)
4 2 n=1 a a 2 m=1 b b
∞ ³
X nπx mπy nπx mπy nπx mπy nπx mπy ´
+ anm cos cos + bnm cos sen + cnm sen cos + dnm sen sen ,
n,m=1
a b a b a b a b
onde Z Z
1 a b nπx mπy
anm = f (x, y) cos cos dxdy para n, m > 0,
ab −a −b a b
Z aZ b
1 nπx mπy
bnm = f (x, y) cos sen dxdy para n > 0, m > 1,
ab −a −b a b
Z aZ b (4.2)
1 nπx mπy
cnm = f (x, y) sen cos dxdy para n > 1, m > 0,
ab −a −b a b
Z aZ b
1 nπx mπy
dnm = f (x, y) sen sen dxdy para n, m > 1.
ab −a −b a b
Precisamos enunciar com mais rigor as condições que f precisa satisfazer para que a série definida acima seja
convergente e convirja para f . Isto é feito através do seguinte teorema, cuja demonstração não será dada
aqui (veja [5]):
Teorema 4.1. Seja f : R2 −→ R uma função de classe C 1 , periódica de perı́odo 2a na variável x e periódica
de perı́odo 2b na variável y e tal que existe a derivada parcial mista fxy em cada ponto. Então a série
de Fourier de f definida acima converge uniformemente para f .
Rodney Josué Biezuner 122
Z "Z # Z " Z b #
a b
1 mπy nπx 1 a mπy nπx
anm = f (x, y) cos cos dxdy = 2 f (x, y) cos dy cos dx
ab −a −b b a ab −a 0 b a
Z ·Z a ¸ Z · Z a ¸
2 b nπx mπy 2 b nπx mπy
= f (x, y) cos dx cos dy = 2 f (x, y) cos dx cos dy
ab 0 −a a b ab 0 0 a b
Z Z
4 a b nπx mπy
= f (x, y) cos cos dxdy,
ab 0 0 a b
Z "Z b #
1 a mπy nπx
bnm = f (x, y) sen dy cos dx = 0,
ab −a −b b a
Z ·Z a ¸
1 b nπx mπy
cnm = f (x, y) sen dx cos dy = 0,
ab −b −a a b
Z ·Z a ¸
1 b nπx mπy
dnm = f (x, y) sen dx sen dy = 0.
ab −b −a a b
Z "Z #
a b
1 mπy nπx
anm = f (x, y) cos cos dxdy = 0,
ab −a −b b a
Z ·Z a ¸
1 1 b nπx mπy
bnm = = f (x, y) cos dx sen dy = 0,
ab ab −b −a a b
Z "Z b #
1 a mπy nπx
cnm = f (x, y) cos dy sen dx = 0,
ab −a −b b a
Z "Z # Z · Z a ¸
a b
1 nπx mπy 1 b nπx mπy
dnm = f (x, y) sen dx sen dy = 2 f (x, y) sen dx sen dy
ab −a −b a b ab −b 0 a b
Z "Z b # Z " Z b #
2 a mπy nπx 2 a mπy nπx
= f (x, y) sen dy sen dx = 2 f (x, y) sen dy sen dx
ab 0 −b b a ab 0 0 b a
Z Z
4 a b nπx mπy
= f (x, y) sen sen dxdy.
ab 0 0 a b
É claro que outras situações são possı́veis, por exemplo f par em uma variável e ı́mpar na outra. Em cada
caso, os coeficientes de Fourier correspondentes devem ser calculados usando os argumentos acima.
Rodney Josué Biezuner 123
Tentaremos primeiro encontrar uma solução para o problema que seja o produto de três funções, uma depen-
dendo exclusivamente de x, uma dependendo exclusivamente de y e a terceira dependendo exclusivamente
de t:
u(x, y, t) = F (x)G(y)H(t).
Temos
Como o lado esquerdo desta equação é uma função somente de t e o lado direito é uma função apenas de
x, y, segue que ambos os lados são constante:
Pelo método de separação de variáveis, chegamos portanto às seguintes equações diferenciais ordinárias:
F 00 (x) − ρF (x) = 0,
G00 (y) + (ρ − σ)G(y) = 0,
H 00 (t) − σc2 H(t) = 0.
concluı́mos que para que as soluções não sejam identicamente nulas, temos que ter ρ < 0 e σ − ρ < 0, isto é,
σ > ρ. Os problemas acima podem ser escritos têm como soluções fundamentais não nulas (autofunções)
nπx n2 π 2
Fn (x) = sen para ρ = − ,
a a2
e
mπy m2 π 2
Gm (y) = sen para σ − ρ = − .
b b2
Em particular, µ ¶
m2 π 2 n2 π 2 m2 π 2 n2 m2
σ =ρ− 2
=− 2 − = −π 2 + 2 ,
b a b2 a 2 b
e o problema em t é µ ¶
n2 m2
H 00 (t) + c2 π 2 2
+ 2 H(t) = 0,
a b
cujas solução geral é
Hnm (t) = Anm cos λnm t + Bnm sen λnm t
para r
n2 m2
λnm = cπ
2
+ 2. (4.6)
a b
Estas são as chamadas freqüências caracterı́sticas da membrana, enquanto que as soluções
nπx mπy
unm (x, y, t) = sen sen (Anm cos λnm t + Bnm sen λnm t) (4.7)
a b
são chamados os modos normais de vibração da membrana (correspondentes aos harmônicos no caso da corda
vibrante). Note que as freqüências caracterı́sticas não são múltiplos inteiros da freqüência fundamental, o
que torna a membrana vibrante inútil para a maioria dos propósitos musicais (além de manter um ritmo de
batidas), já que por causa disso o som do tambor não é tão agradável (tão harmonioso) quanto o de outros
instrumentos musicais, porque é difı́cil ao ouvido humano distingüir entre os seus harmônicos ou ordená-los
em uma escala em tempo real.
A solução do problema é
∞
X nπx mπy
u(x, y, t) = sen sen (Anm cos λnm t + Bnm sen λnm t) . (4.8)
n,m=1
a b
onde os coeficientes Anm , Bnm são determinados como sendo os coeficientes das séries de Fourier duplas das
funções apropriadas. Temos
∞
X nπx mπy
f (x, y) = u(x, y, 0) = Anm sen sen ,
n,m=1
a b
de modo que, estendendo f a uma função periódica ı́mpar de perı́odo 2a na variável x e a uma função
periódica ı́mpar de perı́odo 2b na variável y, obtemos
Z Z
4 a b nπx mπy
Anm = f (x, y) sen sen dxdy. (4.9)
ab 0 0 a b
Do mesmo modo, derivando a série de u com relação a t termo a termo, temos
∞
X nπx mπy
ut (x, y, t) = λnm sen sen (−Anm sen λnm t + Bnm cos λnm t)
n,m=1
a b
Rodney Josué Biezuner 126
e, portanto,
∞
X nπx mπy
g(x, y) = ut (x, y, 0) = λnm Bnm sen sen ,
n,m=1
a b
logo, procedendo de modo análogo estendendo f a uma função periódica ı́mpar de perı́odo 2a na variável x
e a uma função periódica ı́mpar de perı́odo 2b na variável y, obtemos
Z aZ b
4 nπx mπy
Bnm = g(x, y) sen sen dxdy. (4.10)
abλnm 0 0 a b
Q = cm∆u,
onde c é o calor especı́fico da substância. A variação média da temperatura da substância que ocupa esta
região do espaço no intervalo de tempo que vai de t0 até t1 é obtida tomando-se a média das variações médias
das temperaturas de todos os pontos da barra, ou seja
Z
1
∆u = [u(x, t1 ) − u(x, t0 )] dv,
vol Ω Ω
A taxa instantânea de variação do calor na região é portanto (usando novamente o Teorema Fundamental
do Cálculo) Z
cρ ut (x, t) dv. (4.11)
Ω
Por outro lado, pelo princı́pio de conservação do calor, a taxa de variação do calor na região também é dada
pela soma da taxa de calor que sai ou entra na região através da fronteira ∂Ω por unidade de tempo somada
ao calor gerado internamente por unidade de tempo. A primeira é dada por
Z
− φ · η ds
∂Ω
onde φ é o fluxo de calor, que é um vetor, já que o calor flui em alguma direção no espaço; a intensidade
de φ é a quantidade de calor fluindo por unidade de tempo por unidade de área. Se o fluxo de calor é
paralelo à fronteira, então nenhum calor cruza a fronteira; a componente do fluxo de calor que nos interessa
é a componente do fluxo perpendicular à fronteira. Na integral acima seguimos a convenção de que η é o
vetor unitário normal à superfı́cie apontando para fora. Assim, o sinal negativo explica-se como no caso
unidimensional porque se sai calor da região (isto é, a componente perpendicular do fluxo tem a mesma
direção de η e portanto a integral é positiva), então a variação de calor na região deve ser negativa. A taxa
do calor gerado internamente na região é dada por
Z
q(x, t) dv, (4.12)
Ω
onde q(x, t) é taxa de calor gerada por unidade de volume. Portanto, do princı́pio de conservação do calor
segue que Z Z Z
cρ ut dv = − φ · η ds + q dv. (4.13)
Ω ∂Ω Ω
Por outro lado, pelo teorema da divergência,
Z Z
φ · η ds = div φ dv.
∂Ω Ω
φ = −k∇u. (4.14)
O sinal negativo ocorre, como no caso unidimensional, porque o vetor gradiente aponta na direção de cresci-
mento da temperatura, enquanto que o fluxo do calor se dá na direção oposta (da temperatura maior para
a temperatura menor). O fluxo do calor em uma região bi ou tridimensional pode ser facilmente visualizado
uma vez que você se lembre que o gradiente de uma função é perpendicular às superfı́cies de nı́vel da função.
Rodney Josué Biezuner 128
No caso em que a função é a temperatura, as superfı́cies de nı́vel são chamadas superfı́cies isotérmicas ou
simplesmente isotermas. Assim, o calor flui das isotermas mais quentes para as isotermas mais frias em cada
ponto da isoterma perpendicularmente à isoterma. Em outras palavras, as linhas de corrente do fluxo de
calor correspondem às linhas de fluxo do campo gradiente da temperatura.
Segue que
cρut = k∆u + q, (4.15)
onde ∆u = div ∇u é o Laplaciano de u. Se q ≡ 0, escrevemos
ut = K∆u, (4.16)
Para que o problema possua uma solução única, é necessário dar a condição inicial e a condição de fronteira,
como no caso unidimensional. Por exemplo, denotando x = (x1 , ..., xn ), podemos ter um problema de
Dirichlet homogêneo:
ut = k∆u se x ∈ Ω e t > 0,
u(x, t) = 0 se x ∈ ∂Ω e t > 0, (4.17)
u(x, 0) = f (x) se x ∈ Ω,
ou um problema de Neumann homogêneo:
ut = k∆u se x ∈ Ω e t > 0,
∂u
(x, t) = 0 se x ∈ ∂Ω e t > 0, (4.18)
∂η
u(x, 0) = f (x) se x ∈ Ω,
ut = K(uxx + uyy );
esta é a equação do calor bidimensional. Assumimos que existe uma distribuição inicial de temperaturas
nas margens:
u(x, y, 0) = f (x, y) para todo (x, y) ∈ ∂Ω
onde f : ∂Ω → R é uma função com alguma regularidade; no caso em que Ω é um retângulo R = (0, a)×(0, b)
(chapa retangular), esta condição inicial se escreve como
u(x, y, 0) = f (x, y) se 0 6 x 6 a e 0 6 y 6 b.
As condições de fronteira podem ser as mais diversas possı́veis. As margens podem estar mantidas a tem-
peratura constante igual a 0:
no caso em que Ω = R = (0, a) × (0, b), esta condição de Dirichlet se escreve como
onde η = η(x, y) é o vetor normal à fronteira ∂Ω no ponto (x, y) da fronteira (significando que se houver
transferência de calor, esta só pode se dar ao longo da fronteira, isto é, na direção tangente à fronteira, o que
certamente ocorrerá se por exemplo a distribuição de temperaturas inicial na fronteira não for constante);
no caso em que Ω = R = (0, a) × (0, b), esta condição de Neumann se escreve como
Ou ainda, as margens podem estar sujeitas a condições mistas ou mesmo condições mais complicadas.
Resumindo, o problema com condição de Dirichlet homogênea é
ut = K∆u se (x, y) ∈ Ω e t > 0,
u(x, y, t) = 0 se (x, y) ∈ ∂Ω e t > 0, (4.19)
u(x, y, 0) = f (x, y) se (x, y) ∈ Ω,
Novamente, vamos tentar encontrar uma solução para o problema que seja o produto de três funções de uma
variável:
u(x, y, t) = F (x)G(y)H(t).
Temos
ut = F (x)G(y)H 0 (t),
uxx = F 00 (x)G(y)H(t),
uyy = F (x)G00 (y)H(t).
Rodney Josué Biezuner 130
onde os coeficientes Anm são os coeficientes da série de Fourier dupla da extensão de f a uma função periódica
ı́mpar de perı́odo 2a na variável x e a uma função periódica ı́mpar de perı́odo 2b na variável y:
∞
X nπx mπy
f (x, y) = u(x, y, 0) = Anm sen sen ,
n,m=1
a b
ou seja,
Z aZ b
4 nπx mπy
Anm = f (x, y) sen sen dxdy. (4.23)
ab 0 0 a b
Rodney Josué Biezuner 131
Escrevendo
u(x, y, t) = F (x)G(y)H(t),
temos
ut = F (x)G(y)H 0 (t),
uxx = F 00 (x)G(y)H(t),
uyy = F (x)G00 (y)H(t),
donde
F 00 (x) G00 (y)
=− + σ = ρ.
F (x) G(y)
As condições de fronteira implicam, como sempre, condições de fronteira sobre as equações diferenciais
ordinárias de F e G:
F0 (x) = c para ρ = 0,
nπx n2 π 2
Fn (x) = cos para ρ = ,
a a2
Rodney Josué Biezuner 132
G0 (x) = c para σ = ρ,
mπy m2 π 2
Gm (y) = cos para σ − ρ = − .
b b2
Segue que o problema em t é µ ¶
n2 π 2 m2 π 2
H 0 (t) − K 2
+ H(t) = 0,
a b2
cujas solução geral é
H00 (t) = c,
2 n2
Hn0 (t) = e−π a2
Kt
,
2
−π 2 m Kt
H0m (t) = e a2 ,
2 n2 2
−π +m Kt
Hnm (t) = e a2 b2 .
A solução do problema de calor da chapa com margens termicamente isoladas é, portanto,
∞
X −π 2 n2
+m
2
Kt nπx mπy
u(x, y, t) = Anm e a2 b2 cos cos , (4.25)
n,m=0
a b
o que é equivalente a escrever (redefinindo os coeficientes, de forma a obter uma mesma fórmula integral
para todos os coeficientes)
∞ ∞
A00 1X −π 2 n
2
2 Kt
nπx 1 X 2 m2 mπy
u(x, y, t) = + An0 e a cos + A0m e−π a2 Kt cos
4 2 n=1 a 2 m=1 b
∞
X −π 2 n2
+m
2
Kt nπx mπy
+ Anm e a2 b2 cos cos ,
n,m=1
a b
onde os coeficientes Anm são os coeficientes da série de Fourier dupla da extensão de f a uma função periódica
par de perı́odo 2a na variável x e a uma função periódica par de perı́odo 2b na variável y:
∞ ∞ ∞
A00 1X nπx 1 X mπy X nπx mπy
f (x, y) = u(x, y, 0) = + An0 cos + A0m cos + Anm cos cos ,
4 2 n=1 a 2 m=1 b n,m=1
a b
ou seja,
Z aZ b
4 nπx mπy
Anm = f (x, y) cos cos dxdy, n, m > 0. (4.26)
ab 0 0 a b
4.4 Exercı́cios
Exercı́cio 4.1. Resolva o problema da membrana vibrante
2
utt = uxx + uyy ) se (x, y) ∈ (0, 1) e t > 0,
u(x, 0, t) = u(x, 1, t) = u(0, y, t) = u(1, y, t) = 0 se 0 6 x 6 a, 0 6 y 6 b e t > 0,
2
u(x, y, 0) = x (x − 1) y (y − 1) se (x, y) ∈ [0, 1] ,
2
ut (x, y, 0) = 0 se (x, y) ∈ [0, 1] .
Usando algum software matemático (Scilab, Mupad, Maple, Matlab, Mathematica, etc.) ou algum
pacote gráfico (OpenGL, Java2D, etc.), crie uma animação para visualizar a solução do problema.
Rodney Josué Biezuner 133
Exercı́cio 4.2. Use algum software matemático ou algum pacote gráfico para visualizar os modos normais
de vibração da membrana do exercı́cio anterior.
Exercı́cio 4.3. Encontre uma solução formal para o problema de Dirichlet para a equação da onda tridi-
mensional em um domı́nio na forma de uma caixa:
utt = c2 (uxx + uyy + uzz ) se 0 < x < a, 0 < y < b, 0 < z < c e t > 0,
u(0, y, z, t) = u(a, y, z, t) = 0 se 0 6 y 6 b, 0 6 z 6 c e t > 0,
u(x, 0, z, t) = u(x, b, z, t) = 0 se 0 6 x 6 a, 0 6 z 6 c e t > 0,
u(x, y, 0, t) = u(x, y, c, t) = 0 se 0 6 x 6 a, 0 6 y 6 b e t > 0,
u(x, y, 0) = f (x, y) se 0 6 x 6 a, 0 6 y 6 b e 0 6 z 6 c,
ut (x, y, 0) = g(x, y) se 0 6 x 6 a, 0 6 y 6 b e 0 6 z 6 c.
Exercı́cio 4.4. Encontre uma solução formal para o problema de Dirichlet para a equação do calor tridi-
mensional em um domı́nio na forma de uma caixa:
ut = K(uxx + uyy + uzz ) se 0 < x < a, 0 < y < b, 0 < z < c e t > 0,
u(0, y, z, t) = u(a, y, z, t) = 0 se 0 6 y 6 b, 0 6 z 6 c e t > 0,
u(x, 0, z, t) = u(x, b, z, t) = 0 se 0 6 x 6 a, 0 6 z 6 c e t > 0,
u(x, y, 0, t) = u(x, y, c, t) = 0
se 0 6 x 6 a, 0 6 y 6 b e t > 0,
u(x, y, 0) = f (x, y) se 0 6 x 6 a, 0 6 y 6 b e 0 6 z 6 c.
Capı́tulo 5
A Equação de Laplace
ut = K∆u
ut = K∆u + q(x),
134
Rodney Josué Biezuner 135
então
u = u1 + u2 + u3 + u4 .
Para obter a solução geral do problema de Dirichlet, basta portanto resolver cada um dos quatro problemas
acima. À tı́tulo de exemplo, vamos resolver o segundo explicitamente:
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = 0, u(x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
u(0, y) = u(a, y) = 0 se 0 6 y 6 b.
Escrevendo
u(x, y) = F (x)G(y),
segue que F 00 (x)G(y) + F (x)G00 (y) = 0 e portanto
As condições de fronteira implicam as seguintes condições sobre as equações diferenciais ordinárias acima:
Logo, ½
F 00 (x) − σF (x) = 0,
F (0) = F (a) = 0,
e ½
G00 (y) + σG(y) = 0,
G(0) = 0.
As autofunções do primeiro problema são
nπx n2 π 2
Fn (x) = sen para σn = .
a a2
Rodney Josué Biezuner 136
A solução geral do segundo problema (de valor inicial) é conveniente escrever na forma
nπy nπy
G(y) = c1 cosh + c2 senh
a a
porque a condição G(0) = 0 implica que c1 = 0. Assim, as soluções obtidas através de separação de variáveis
são os produtos
nπx nπy
sen senh .
a a
A solução u2 do segundo problema será a função
∞
X nπx nπy
u2 (x, y) = bn sen senh ,
n=1
a a
onde Z a
2 nπx
bn = f2 (x) sen dx,
nπb 0 a
a senh
a
pois
X∞ µ ¶
nπb nπx
f2 (x) = u2 (x, b) = bn senh sen .
n=1
a a
nπb
É mais conveniente, para efeitos de memorização, incorporar a constante senh na solução, escrevendo-a
a
na forma
nπy
nπx senh a
X∞
u2 (x, y) = bn sen (5.6)
a nπb
n=1 senh
a
de modo que Z
2 a nπx
bn = f2 (x) sen dx (5.7)
a 0 a
tem a forma padrão dos coeficientes da série de Fourier.
De maneira análoga, obtemos as soluções para os outros problemas:
nπ(b − y) Z
nπx senh
∞
X a
a 2 nπx
u1 (x, y) = an sen , an = f1 (x) sen dx, (5.8)
a nπb a 0 a
n=1 senh
a
nπ(a − x) Z
X∞ senh nπy 2 b
nπy
u3 (x, y) = cn b sen , cn = g1 (y) sen dy, (5.9)
nπa b b b
n=1 senh 0
b
nπx Z
X∞ senh nπy 2 b
nπy
u4 (x, y) = dn b
nπa sen b , dn = b
g2 (y) sen
b
dy. (5.10)
n=1 senh 0
b
Portanto, a solução do problema de Dirichlet (5.5) é
nπ(b − y) nπy
nπx senh senh
∞
X X∞
a nπx a
u(x, y) = an sen + bn sen (5.11)
a nπb a nπb
n=1 senh n=1 senh
a a
nπ(a − x) nπx
nπy senh nπy senh b
X∞ X∞
+ cn sen b + d sen ,
b nπa n
b senh nπa
n=1 senh n=1
b b
Rodney Josué Biezuner 137
5.1.1 Exercı́cios
Exercı́cio 5.1. Resolva o problema de Neumann
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
uy (x, 0) = f (x), uy (x, b) = 0 se 0 6 x 6 a,
ux (0, y) = ux (a, y) = 0 se 0 6 y 6 b.
Por que é necessário assumir Z a
f (x) dx = 0
0
para que este problema tenha solução? Além disso, observe que a solução só está determinada a menos
de uma constante (leia o enunciado da Proposição 5.4).
Exercı́cio 5.2. Resolva os seguintes problemas de fronteira para a equação de Laplace no retângulo. Veri-
fique que condições os dados de fronteira devem satisfazer para existir solução e se a solução que você
obteve é única ou única a menos de uma constante.
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
(a) u y (x, 0) = f 1 (x), u y (x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
u(0, y) = g1 (y), u(a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
(b) u(x, 0) = f1 (x), u(x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
ux (0, y) = g1 (y), u(a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
(c) uy (x, 0) = f1 (x), uy (x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
ux (0, y) = g1 (y), ux (a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
Exercı́cio 5.3. Encontre as soluções de estado estacionário, se existirem, para os seguintes problemas de
condução do calor no retângulo:
√
ut = π (uxx + uyy ) se 0 < x < a e 0 < y < b,
(a) u(x, 0) = f1 (x), u(x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
ux (0, y) = g1 (y), ux (a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
√
ut = e log π (uxx + uyy ) se 0 < x < a e 0 < y < b,
(b) u (x, 0) = f1 (x), u(x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
y
u(0, y) = g1 (y), ux (a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
Exercı́cio 5.4. Encontre as curvas de nı́vel de temperatura (chamadas isotermas) para a solução de estado
estacionário para o seguinte problema de condução do calor no retângulo:
ut = K (uxx + uyy ) se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = 1, u(x, b) = 1 se 0 6 x 6 a,
u(0, y) = 1, u(a, y) = 1 se 0 6 y 6 b.
Exercı́cio 5.5. Use o computador para encontrar as isotermas para a solução de estado estacionário, se
existir, para o seguinte problema de condução do calor no retângulo:
ut = K (uxx + uyy ) se 0 < x < 1 e 0 < y < 1,
u(x, 0) = 0, u(x, 1) = 0 se 0 6 x 6 1,
u(0, y) = 0, u(1, y) = 100 se 0 6 y 6 1.
Você consegue obter uma expressão analı́tica para estas curvas de nı́vel?
Rodney Josué Biezuner 138
Exercı́cio 5.6. Use o computador para encontrar as isotermas para as soluções de estado estacionário, se
existirem, dos seguintes problemas de condução do calor no retângulo:
ut = K (uxx + uyy ) se 0 < x < π e 0 < y < π,
(a) u(x, 0) = 100, u(x, π) = 100 se 0 6 x 6 π,
ux (0, y) = 0, ux (π, y) = 0 se 0 6 y 6 π.
ut = K (uxx + uyy ) se 0 < x < π e 0 < y < π,
(b) u(x, 0) = 0, u(x, π) = 100 se 0 6 x 6 π,
ux (0, y) = 0, ux (π, y) = 0 se 0 6 y 6 π.
ut = K (uxx + uyy ) se 0 < x < 1 e 0 < y < 2,
(c) u(x, 0) = 100, uy (x, 2) = 0 se 0 6 x 6 1,
ux (0, y) = 0, ux (1, y) = 0 se 0 6 y 6 2.
Exercı́cio 5.7. Resolva o seguinte problema de valor de fronteira para a equação de Laplace para a faixa
semi-infinita:
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e y > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 a,
u(0, y) = u(a, y) = 0 se y > 0,
lim u (x, y) = 0.
y→∞
Exercı́cio 5.8. Prove que se as condições de fronteira satisfazem hipóteses adequadas, a solução (5.11) para
o problema de Dirichlet da equação de Laplace é de classe C 2 no interior do retângulo e contı́nua até
a fronteira do retângulo.
Prova: Sejam
M = max u e m = max u
Ω ∂Ω
e suponha por absurdo que m < M . Então existe um ponto (x0 , y0 ) ∈ Ω\∂Ω tal que u(x0 , y0 ) = M . Defina
a função
M −m
v(x, y) = u(x, y) + [(x − x0 )2 + (y − y0 )2 ],
4d2
onde d = diam Ω. Se (x, y) ∈ ∂Ω, temos
M −m 2 3 M
v(x, y) 6 m + 2
d = m+ < M,
4d 4 4
e como u(x0 , y0 ) = v(x0 , y0 ) = M , segue que o máximo de v também é assumido em um ponto de Ω − ∂Ω,
digamos em (x, y). Mas, como (x, y) é um ponto de máximo para v, devemos ter
∆v(x, y) 6 0,
Rodney Josué Biezuner 139
enquanto que, pela definição de v e pelo fato de u satisfazer a equação de Laplace, para todo (x, y) temos
M −m M −m
∆v(x, y) = ∆u(x, y) + = > 0,
4d2 4d2
uma contradição. Isso mostra que u atinge o seu máximo em ∂Ω. Para provar que o mı́nimo de u também é
atingido em ∂Ω, basta observar que −u também satisfaz a equação de Laplace e que min u = − max(−u). ¥
Prova: Se u1 e u2 são duas soluções para o problema de Poisson acima, então u = u1 − u2 é uma solução
para o problema de Laplace com condição de fronteira homogênea
½
∆u = 0 se (x, y) ∈ Ω,
u(x, y) = 0 se (x, y) ∈ ∂Ω.
max u = max u = 0,
Ω ∂Ω
min u = min u = 0,
Ω ∂Ω
onde F : (0, a)×(0, b) → R é uma função de classe C 1 que possui uma série de Fourier dupla convergindo para
F (veja o capı́tulo anterior). Usando a linearidade do operador laplaciano, podemos dividir este problema
em dois: ½
uxx + uyy = F (x, y) se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = u(x, b) = u(0, y) = u(a, y) = 0 se 0 6 x 6 a e 0 6 y 6 b.
e
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = f1 (x), u(x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
u(0, y) = g1 (y), u(a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
O segundo problema é o problema de Dirichlet para a equação de Laplace no retângulo, que já resolvemos
no inı́cio deste capı́tulo. O primeiro é a equação de Poisson com condição de Dirichlet homogênea. Para
resolvê-lo, observamos que a função
nπx mπy
unm (x, y) = sen sen
a b
Rodney Josué Biezuner 140
5.3.1 Exercı́cios
Exercı́cio 5.9. Resolva o problema de Dirichlet homogêneo
½
uxx + uyy = F (x, y) se 0 < x < 1 e 0 < y < 1,
u(x, 0) = u(x, 1) = u(0, y) = u(1, y) = 0 se 0 6 x 6 1 e 0 6 y 6 1.
e (p
r = x2 + y 2 ,
y (5.15)
θ = arctan .
x
Para obter a expressão para o Laplaciano em coordenadas polares, usamos estas relações e a regra da
cadeia. Como
ux = ur rx + uθ θx ,
segue que
∂ ∂ ∂
uxx = [ur rx + uθ θx ] = (ur ) rx + ur rxx + (uθ ) θx + uθ θxx
∂x ∂x ∂x
= urr rx2 + urθ θx rx + ur rxx + urθ rx θx + uθθ θx2 + uθ θxx ,
donde
uxx = urr rx2 + uθθ θx2 + 2urθ rx θx + ur rxx + uθ θxx . (5.16)
Trocando x por y, obtemos também
Similarmente,
y x2
ry = e ryy = .
r r3
y
Por outro lado, diferenciando θ = arctan com relação a x, obtemos
x
1 ³ y ´ y y
θx = ³ y ´2 − 2 = − 2 = − 2,
x x + y2 r
1+
x
e com relação a y obtemos µ ¶
1 1 x x
θy = ³ y ´2 = 2 = 2.
x x + y2 r
1+
x
Diferenciando estas expressões uma segunda vez com relação a x e y, respectivamente, encontramos
y (2rrx ) 2xy
θxx = = 4
r4 r
e
−x (2rrx ) 2xy
θyy = =− 4 .
r4 r
Em particular, valem as seguintes identidades:
θxx + θyy = 0 e rx θx + ry θy = 0.
Rodney Josué Biezuner 142
onde f é uma função contı́nua que satisfaz f (0) = f (2π). Resolver este problema nestas coordenadas significa
encontrar uma função u(r, θ) contı́nua em D e de classe C 2 em (0, R) × (0, 2π) tal que u(r, 0) = u(r, 2π) para
todo 0 < r < R.
Escrevendo
u(r, θ) = F (r)G(θ),
obtemos
1 1
F 00 (r)G(θ) + F 0 (r)G(θ) + 2 F (r)G00 (θ) = 0,
r r
donde
F 00 (r) F 0 (r) G00 (θ)
r2 +r =− = σ.
F (r) F (r) G(θ)
Do fato de G(θ) satisfazer a equação diferencial ordinária
G00 (θ) + σG(θ) = 0
e ser uma função periódica de perı́odo 2π, concluı́mos que
σ = n2
para algum n > 0, e
Gn (θ) = an cos nθ + bn sen nθ. (5.19)
Em particular, F satisfaz a equação diferencial ordinária
r2 F 00 (r) + rF 0 (r) − n2 F (r) = 0.
Esta é a equação de Euler, cuja solução geral é
½
c1 + c2 log r se n = 0,
F (r) =
c1 rn + c2 r−n se n > 1.
Como a solução u é contı́nua, devemos ter F (r) limitada próximo a r = 0, o que implica que c2 = 0. Portanto,
as soluções de F admissı́veis para este problema são
Fn (r) = rn para n > 0.
Rodney Josué Biezuner 143
Observação. A solução obtida acima pode ser escrita em forma fechada com o auxı́lio da seguinte identidade
∞
X sen nθ r sen θ
rn = arctan . (5.22)
n=1
n 1 − r cos θ
De fato, usando a identidade cos nπ sen nθ = sen n(θ − π) e reescrevendo a solução anterior, obtemos
∞
100 X 1 − cos nπ n
u(r, θ) = 50 + r sen nθ
π n=1 n
∞ ∞
100 X n sen nθ 100 X n sen n(θ − π)
= 50 + r − r
π n=1 n π n=1 n
100 r sen θ 100 r sen(θ − π)
= 50 + arctan − arctan
π 1 − r cos θ π 1 − r cos(θ − π)
Rodney Josué Biezuner 144
de modo que µ ¶
100 r sen θ r sen θ
u(r, θ) = 50 + arctan + arctan . (5.23)
π 1 − r cos θ 1 + r cos θ
Esta solução é prontamente escrita em coordenadas cartesianas:
µ ¶
100 y y
u(x, y) = 50 + arctan + arctan . (5.24)
π 1−x 1+x
Em particular torna-se fácil determinar as isotermas (isto é, curvas de temperatura constante) desta
solução. Igualando o lado direito a um valor T , temos
y y π(T − 50)
arctan + arctan = .
1−x 1+x 100
Aplicando tan a ambos os lados desta equação e usando a identidade trigonométrica
tan a + tan b
tan(a + b) = ,
1 − tan a tan b
obtemos y y µ ¶
1−x + 1+x πT π πT
³ ´³ ´ = tan − = − cot ,
1− y y 100 2 100
1−x 1+x
donde
2y πT
2 2
= − cot ,
1−x −y 100
ou
x2 + y 2 − 1 πT
= tan .
2y 100
Portanto, a isoterma correspondente à temperatura T é o cı́rculo
µ ¶2
πT πT πT
x2 + y − tan = 1 + tan2 = sec2 ,
100 100 100
µ ¶
πT πT
centrado em 0, tan e de raio sec . Em particular, os centros destes arcos isotermais estão
100 100
centrados no eixo y. Por exemplo, T = 100 corresponde ao semicı́rculo superior, T = 50 corresponde
ao segmento do eixo x e T = 0 corresponde ao semicı́rculo inferior; os outros arcos isotermais ocupam
posições intermediárias, deformando-se continuamente de uma destas posições para a outra.
5.4.3 Exercı́cios
Exercı́cio 5.12. Encontre a solução limitada para a equação de Laplace na região fora do cı́rculo r = a que
satisfaz as condições de contorno:
Exercı́cio 5.13. Encontre a solução para a equação de Laplace na região semicircular r < a, 0 < θ < π,
que satisfaz as condições de contorno:
Exercı́cio 5.14. Encontre a solução para a equação de Laplace na região anular a < r < b, 0 6 θ 6 2π, que
satisfaz as condições de contorno:
u(a, θ) = A se 0 6 θ 6 2π,
u(b, θ) = B se 0 6 θ 6 2π,
onde A, B ∈ R.
Exercı́cio 5.15. Encontre uma solução para o problema de Neumann no disco:
(
1 1
urr + ur + 2 uθθ = 0 se 0 < r < R e 0 < θ < 2π,
r r
ur (R, θ) = g(θ) se 0 6 θ 6 2π.
O problema de Neumann para a equação de Laplace é, dada uma função g ∈ C(∂Ω), encontrar uma função
u ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) que satisfaça
(
∆u = 0 em Ω,
∂u (N)
=g sobre ∂Ω,
∂ν
onde ν é o vetor normal unitário apontando para fora. Enquanto o problema de Dirichlet tem solução única,
como já vimos no Teorema 5.2 (conseqüência do Princı́pio do Máximo Fraco, cuja demonstração pode ser
facilmente generalizada para Rn , n > 2), o problema de Neumann pode não possuir solução, porque a função
g não pode ser prescrita arbitrariamente. Por exemplo, se a fronteira ∂Ω é de classe C 1 , uma conseqüência
do Teorema da Divergência para campos vetoriais F ∈ C 1 (Ω; Rn )
Z Z
div F = F·ν (5.25)
Ω ∂Ω
é a fórmula de Green Z Z
∂u
∆u = (Fórmula de Green)
Ω ∂Ω ∂ν
(basta tomar F = ∇u). Logo, se existe uma solução para o problema de Neumann (N), então g deve satisfazer
Z
g = 0. (5.26)
∂Ω
Definimos o problema de Dirichlet para a equação de Poisson de maneira análoga: dadas funções f ∈
C 0 (Ω), g ∈ C 0 (∂Ω), encontrar uma função u ∈ C 2 (Ω) ∩ C 0 (Ω) que satisfaça
½
∆u = f em Ω,
(DP)
u=g sobre ∂Ω,
e o problema de Neumann, ou seja, encontrar uma função u ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) que satisfaça
(
∆u = f em Ω,
∂u (NP)
=g sobre ∂Ω.
∂ν
Para que exista uma solução para o problema de Neumann para a equação de Poisson, uma condição
necessária pela fórmula de Green é que f e g satisfaçam
Z Z
f= g.
Ω ∂Ω
Proposição 5.4. Se (DP) possui uma solução de classe C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω), então a solução é única. Se (NP)
possui uma solução de classe C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω), então a solução é única a menos de uma constante.
Rodney Josué Biezuner 147
Prova. Suponha que u1 e u2 são duas soluções para (DP) ou (NP). Então w = u1 − u2 satisfaz
½
∆w = 0 em Ω,
w=0 sobre ∂Ω,
ou (
∆w = 0 em Ω,
∂w
=0 sobre ∂Ω,
∂ν
respectivamente. Em qualquer um dos dois casos, tomando u = v = w na primeira identidade de Green,
segue que Z
2
|∇w| = 0,
Ω
1
u(x) = lim u.
r→0 |BR | B
R
Se u é harmônica, o valor de u no centro da esfera ou bola é igual ao valor da média da integral em qualquer
esfera ou bola e não apenas o limite das médias:
Teorema 5.5. (Teorema do Valor Médio para Funções Harmônicas) Seja u harmônica em Ω. Então, para
qualquer bola BR = BR (x) ⊂⊂ Ω, vale
Z Z
1 1
u(x) = u= u (5.29)
|∂BR | ∂BR nωn Rn−1 ∂BR
e Z Z
1 1
u(x) = u= u. (5.30)
|BR | BR ωn Rn BR
Prova. Para provar a segunda desigualdade, seja x ∈ Ω e BR = BR (x) ⊂⊂ Ω. Defina para r ∈ (0, R] a
função Z
1
φ(r) = u.
|∂Br | ∂Br
Para obter a derivada da função φ, fazemos a mudança de variáveis
y−x
ω= ,
r
de modo que
Z Z Z
1 1 1
φ(r) = u(y) ds = u(x + rω) dω = u(x + rω) dω,
nωn rn−1 ∂Br nω n ∂B1 (0) |∂B1 (0)| ∂B1 (0)
e daı́
Z Z
1 1 y−x
φ0 (r) = ∇u(x + rω) · ω dω = ∇u(y) · ds
|∂B1 (0)| ∂B1 (0) |∂Br | ∂Br r
Z
1 ∂u
= ds,
|∂Br | ∂Br ∂ν
y−x
pois o vetor normal unitário à ∂Br (x) apontando para fora é exatamente o vetor . Em outras palavras,
r
provamos que µ Z ¶ Z
d 1 1 ∂u
u = . (5.31)
dr |∂Br | ∂Br |∂Br | ∂Br ∂r
Mas, pela harmonicidade de u, temos que Z
∂u
= 0,
∂Br ∂ν
logo
φ0 (r) ≡ 0
e φ(r) é uma função constante. Portanto,
Z Z
1 1
u ≡ u
|∂Br | ∂Br |∂BR | ∂BR
para todo r, e a segunda identidade pode então ser obtida integrando-se esta equação de r = 0 até r = R. ¥
Proposição 5.6. (Caracterização das Funções Harmônicas) Suponha que u ∈ C 2 (Ω) satisfaça qualquer uma
das propriedades do valor médio enunciadas na proposição anterior. Então u é harmônica em Ω.
Prova. Suponha que exista um ponto x ∈ Ω tal que ∆u(x) > 0. Então, de acordo com a demonstração da
proposição anterior, para todo r suficientemente pequeno temos
· Z ¸ Z Z
∂ 1 ∂u
0 = |∂Br | u ds = = ∆u > 0,
∂r |∂Br | ∂Br ∂Br ∂ν Br
Se houvesse pelo menos um ponto em BR (x) cujo valor é estritamente menor que M , então a desigualdade
acima seria estrita, o que constituiria uma contradição. Concluı́mos que u ≡ M em BR (x), logo A é aberto.
¥
Analogamente, pode-se provar que se uma função harmônica assume um mı́nimo no interior, então ela é
constante.
Exemplo 5.8. A hipótese de Ω ser limitada não pode ser removida do Teorema 5.7. Com efeito, se Ω =
{(x, y) ∈ R2 : y > |x|}, então a função
u(x, y) = y 2 − x2
Teorema 5.9. (Desigualdade de Harnack) Suponha que u é uma função harmônica não-negativa em Ω ⊂
Rn . Então, para qualquer subconjunto limitado Ω0 ⊂⊂ Ω, existe uma constante C = C(n, Ω0 , dist(Ω0 , ∂Ω))
tal que
sup u 6 C inf0 u.
Ω0 Ω
Em particular,
1
u(y) 6 u(x) 6 Cu(y) para todos x, y ∈ Ω0 .
C
Prova. Seja
1
R= dist(Ω0 , ∂Ω).
4
Então, para quaisquer pontos x, y ∈ Ω0 tais que |x − y| 6 R, vale a desigualdade
Z Z
1 1 1
u(x) = u> u = n u(y).
ωn (2R)n B2R (x) ωn (2R)n BR (y) 2
Segue que
sup u 6 2n inf u.
BR (y) BR (y)
Rodney Josué Biezuner 150
Como Ω0 é compacto, podemos cobrir Ω0 por um número finito de bolas abertas B1 , . . . , BN de raio R tais
que Bi ∩ Bi+1 6= ∅ para i = 1, . . . , N − 1. Daı́,
1
u(x) > u(y)
2nN
para todos x, y ∈ Ω0 . ¥
Note que este resultado afirma que os valores de uma função harmônica não-negativa u em Ω0 são todos
comparáveis: u não pode ser muito pequena (ou muito grande) em um ponto de Ω0 , a menos que u seja muito
pequena (ou muito grande) em todos os pontos de Ω0 . Em outras palavras, funções harmônicas não-negativas
não podem oscilar violentamente em abertos limitados.
Teorema 5.10. (Invariância do Laplaciano sob Rotações) Seja u : U ⊂ Rn → R, x 7→ u(x) uma função de
classe C 2 . Considere uma mudança de coordenadas
y = Px,
X ∂vn X ∂v n
∂u ∂yj
(x) = (Px) = (Px)pji
∂xi j=1
∂yj ∂xi j=1
∂yj
e · ¸ " n #
Xn Xn X ∂2v n
X
∂2u ∂ ∂v ∂yk ∂2v
2 (x) = (Px) pji = (Px) pji = (y)pji pki .
∂xi j=1
∂xi ∂yj j=1
∂yj ∂yk ∂xi ∂yj ∂yk
k=1 j,k=1
t
Por definição de matriz ortogonal (PP = I), temos
n
X ½
1 se j = k,
pji pki = δjk =
0 se j =
6 k.
i=1
Rodney Josué Biezuner 151
Logo,
n
X n X
X n n
X Xn
∂2u ∂2v ∂2v
∆u(x) = 2 (x) = (y)pji pki = (y) pji pki
i=1
∂xi i=1 j,k=1
∂yj ∂yk ∂yj ∂yk i=1
j,k=1
n
X 2 n
X
∂ v ∂2v
= δjk (y) = (y).
∂yj ∂yk i=1
∂yi2
j,k=1
¥
Esta invariância do laplaciano com respeito a rotações torna plausı́vel a existência de soluções radiais para
a equação de Laplace. Veremos que a equação de Laplace de fato possui uma solução radial fundamental, a
partir da qual soluções mais complexas podem ser construı́das.
Seja u(x) = u(|x|) = u(r) uma função radial. Para uma função radial, o laplaciano é dado por
d2 u n − 1 du
∆u = + .
dr2 r dr
De fato, como
¡ ¢1/2
r = |x| = x21 + . . . x2n ,
temos
∂r 1 2xi xi
= = .
∂xi 2 (x2 + . . . x2 )1/2 r
1 n
Logo,
∂u ∂u ∂r du xi
= =
∂xi ∂r ∂xi dr r
e
x2i µ ¶
∂ u2 2
d u xi xi du r− d2 u x2i du 1 x2i
= 2 + r = + − ,
∂x2i dr r r dr r2 dr2 r2 dr r r3
donde µ ¶ µ ¶
n
X n n
∂2u d2 u X x2i du X 1 x2i d2 u du n 1 d2 u n − 1 du
2 = 2 2
+ − 3 = 2 + − = + .
i=1
∂xi dr i=1 r dr i=1 r r dr dr r r dr2 r dr
Logo, se u = u(r) é uma função radial harmônica, ela satisfaz a equação diferencial ordinária de segunda
ordem
n−1 0
u00 (r) + u (r) = 0.
r
Esta equação pode ser facilmente resolvida substituindo-se w(r) = u0 (r). Então w(r) satisfaz
n−1
w0 (r) + w(r) = 0,
r
ou
w0 (r) n−1
=− ;
w(r) r
esta equação pode ser integrada para obtermos, a menos de constantes multiplicativas e aditivas,
donde
1
w(r) = .
rn−1
Rodney Josué Biezuner 152
O motivo para se usar as constantes multiplicativas acima na definição da solução fundamental é para que
as mesmas não apareçam na fórmula de representação de Green (veja a próxima subseção). Observe que a
função Γ é harmônica e de classe C ∞ em Rn \{0}.
Para muitos resultados subseqüentes deste capı́tulo será utilizado o seguinte fato que lembramos: se
f (x) = f (|x|) é uma função radial, então
Z Z R
f = nωn f (r)rn−1 dr. (5.33)
BR (0) 0
A função Γ é integrável em qualquer vizinhança limitada da singularidade na origem, mas não é integrável
em todo o Rn , pois
Z R
Z Z R −
r log r dr se n = 2,
n−1 0
Γ(x) dx = nωn Γ(r)r dr = Z R
BR (0) 0
1
r dr se n > 3.
n−2 0
Teorema 5.11. (Fórmula de Representação de Green) Seja Ω um aberto limitado e u ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω).
Então, para todo y ∈ Ω,
Z µ ¶ Z
∂Γ ∂u
u(y) = − u (x − y) − Γ(x − y) − ∆uΓ(x − y) (5.34)
∂Ω ∂ν ∂ν Ω
Prova. Seja ε > 0 suficientemente pequeno para que tenhamos B ε (y) ⊂ Ω. Então Γ(x − y) é de classe C 1
(na verdade, de classe C ∞ ) em Ω\B ε (y) e podemos aplicar a Segunda Identidade de Green a esta região
para obter
Z µ ¶ Z Z
∂u ∂Γ
Γ(x − y) − u (x − y) = (∆uΓ(x − y) − u∆Γ(x − y)) = ∆uΓ(x − y).
∂[Ω\B ε (y)] ∂ν ∂ν Ω\B ε (y) Ω\B ε (y)
(observe que na segunda integral do lado direito, o vetor normal unitário ν aponta para dentro da bola
∂Bε (y)). Mas, se C = supΩ |∇u|, temos
¯Z ¯ Z (
¯ ∂u ¯ Cε log ε se n = 2,
¯ ¯
¯ Γ(x − y)¯ 6 C Γ(x − y) = CΓ(ε)nωn εn−1 = C
¯ ∂Bε (y) ∂ν ¯ ∂Bε (y) ε se n > 3,
n−2
logo Z
∂u
Γ(x − y) → 0 quando ε → 0;
∂Bε (y) ∂ν
por outro lado,
Z Z Z Z
∂Γ 1 1
u (x − y) = −Γ0 (ε) u= n−1
u= u,
∂Bε (y) ∂ν ∂Bε (y) nω nε ∂Bε (y) |∂B ε (y)| ∂Bε (y)
donde Z
∂Γ
− u (x − y) → −u(y) quando ε → 0.
∂Bε (y) ∂ν
Além disso, como a função Γ é integrável em uma vizinhança da singularidade, temos que
Z Z
∆uΓ(x − y) → ∆uΓ(x − y) quando ε → 0.
Ω\B ε (y) Ω
Corolário 5.12. (Fórmula de Representação para Funções Harmônicas) Seja Ω um aberto limitado e u ∈
C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) uma função harmônica. Então, para todo y ∈ Ω,
Z µ ¶
∂Γ ∂u
u(y) = − u (x − y) − Γ(x − y) . (5.35)
∂Ω ∂ν ∂ν
Conseqüentemente, toda função harmônica é de classe C ∞ em Ω. Além disso, qualquer derivada
parcial Dα u de u também é uma função harmônica.
Prova. De fato, como y ∈ / ∂Ω, o integrando nesta fórmula de representação é infinitamente diferenciável
com respeito a y. Além disso, mudando a ordem de derivação, temos
¥
Agora, para cada y ∈ Ω, suponha que hy ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) satisfaz o problema de Dirichlet
½
∆hy = 0 em Ω,
hy (x) = Γ(x − y) sobre ∂Ω.
ou Z µ ¶ Z
∂u ∂hy
Γ(x − y) − u = hy ∆u.
∂Ω ∂ν ∂ν Ω
Subtraindo esta identidade da Fórmula de Representação de Green, obtemos
Z µ ¶ Z Z µ ¶ Z
∂Γ ∂u ∂u ∂hy
u(y) = − u (x − y) − Γ(x − y) − ∆uΓ(x − y) − Γ(x − y) − u + hy ∆u
∂Ω ∂ν ∂ν Ω ∂Ω ∂ν ∂ν Ω
Z · ¸ Z
∂Γ ∂hy
=− u (x − y) − (x) − ∆u [Γ(x − y) − hy (x)] .
∂Ω ∂ν ∂ν Ω
Portanto, Z Z
∂G
u(y) = − u(x) (x, y) − ∆u(x)G(x, y). (5.36)
∂Ω ∂ν Ω
Proposição 5.13. Seja Ω um aberto limitado. Então toda solução u ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) do problema de
Dirichlet ½
−∆u = f em Ω,
u=g sobre ∂Ω,
satisfaz Z Z
∂G
u(y) = − g(x) (x, y) + f (x)G(x, y). (5.37)
∂Ω ∂ν Ω
Assim, temos uma fórmula para construir a solução de qualquer problema de Dirichlet para o laplaciano em
um aberto limitado Ω, desde que conheçamos a função de Green para Ω. A dificuldade é obter a função de
Green para um dado domı́nio Ω.
Rodney Josué Biezuner 155
Mostraremos que v(y) = w(x). Observe que, por construção, a função de Green G(x, y) = Γ(x − y) − hy (x)
é harmônica na primeira variável em x 6= y. Segue que
∆v(z) = 0 para z 6= x,
∆w(z) = 0 para z =
6 y,
e v = w = 0 em ∂Ω. Logo, podemos aplicar a segunda identidade de Green em Ω\ [Bε (x) ∪ Bε (y)], para
todo ε 6 ε0 para algum ε0 suficientemente pequeno, para obter
Z µ ¶ Z
∂w ∂v
v −w = (v∆w − w∆v) = 0,
∂(Ω\[Bε (x)∪Bε (y)]) ∂ν ∂ν Ω\[Bε (x)∪Bε (y)]
ou Z µ ¶ Z µ ¶
∂w ∂v ∂v ∂w
v −w = w −v (5.39)
∂Bε (x) ∂ν ∂ν ∂Bε (y) ∂ν ∂ν
onde ν denota o vetor normal unitário apontando para dentro das bolas Bε (x) e Bε (y). Tomando o limite
quando ε → 0, como w é suave na vizinhança de x, segue como na demonstração do Teorema 5.11 e do fato
que hx é contı́nua que
Z Z Z
∂w ∂w ∂w
v = Γ(z − x) + hx → 0;
∂Bε (x) ∂ν ∂Bε (x) ∂ν ∂Bε (x) ∂ν
Esta transformação é chamada a inversão através da esfera ∂BR (0) de raio R. A inversão é um difeomorfismo
que transforma o interior da bola BR (0) em seu exterior Rn \BR (0), mantendo fixada a esfera ∂BR (0); a sua
inversa é ela própria. Usaremos a inversão para calcular a função de Green para a bola BR (0).
Para encontrar a função de Green para a bola BR (0), fixado y ∈ BR (0) precisamos encontrar uma função
harmônica hy ∈ C 2 (BR (0)) ∩ C 1 (B R (0)) solução para o problema de Dirichlet
½
∆hy = 0 em BR (0),
(5.40)
hy (x) = Γ(x − y) sobre ∂BR (0).
Se y = 0, basta tomar hy como sendo a função constante hy (x) ≡ Γ(R). Se y 6= 0, a situação é mais compli-
cada. Em princı́pio, poderı́amos tomar a própria função Γ, exceto pelo fato que Γ possui uma singularidade
em y. Mas isso pode ser corrigido através da inversão. De fato, a função
à !
Rn−2 R2 y
hy (x) = n−2 Γ x − 2 . (5.41)
|y| |y|
é harmônica em BR (0), porque o laplaciano é um operador linear invariante por translações. Esta função
R2 y
deixa de ser harmônica apenas em y = 2 que é a imagem do ponto y pela inversão através da esfera
|y|
∂BR (0), logo é um ponto fora da bola BR (0). Note que podemos escrever
à à !!
|y| R2 y
hy (x) = Γ x− 2 , (5.42)
R |y|
pois
à à !!
|y| R2 y 1 1 Rn−2 1 1
Γ x− 2 = ¯ ¯n−2 = n−2 ¯ ¯n−2
R |y| n(n − 2)ωn |y|n−2 ¯ R2 y ¯¯ |y| n(n − 2)ωn ¯ R2 y ¯¯
¯ ¯
¯x − 2¯ ¯x − 2¯
Rn−2 ¯ |y| ¯ ¯ |y| ¯
à !
Rn−2 R2 y
= n−2 Γ x − 2 .
|y| |y|
logo
hy (x) = Γ(x − y) em ∂BR (0).
Justificamos apenas para n > 3, mas as conclusões são válidas também para n = 2, como o leitor pode
prontamente verificar. Portanto, a função hy definida acima é a solução procurada para o problema de
Rodney Josué Biezuner 157
Dirichlet (7.2) no caso y 6= 0. Concluı́mos que a função de Green para a bola BR (0) é a função G(x, y) =
Γ(x − y) − hy (x) dada por
à à !!
|y| R2 y
Γ(x − y) − Γ x− 2 se y 6= 0,
G(x, y) = R |y| (5.44)
Γ(x) − Γ (R) se y = 0.
Temos
∂ 1 xi − yi
Γ(x − y) = −
∂xi nωn |x − y|n
e
|y| R2 yi |y|
2
µ ¶ (x − y ) 2 xi − 2 xi − yi
∂ |y| 1 R i i |y| 1 |y| |y| 1 R 2
Γ (x − y) = − ¯ ¯n =− ¯ Ã !¯ n = −
∂xi R nωn ¯¯ |y| ¯ R
¯ nωn R2 ¯¯ |y| R2 y ¯¯ nωn |x − y|n
¯ R (x − y)¯ ¯ x− 2 ¯
¯R |y| ¯
∂G
Prova. Como vimos no Corolário 5.15, a função (y, x) também é harmônica com relação à segunda
∂ν
variável x e x ∈ BR (0), logo podemos derivar
Z
∂G
u(x) = − u(y) (y, x) ds(y)
∂BR (0) ∂ν
dentro do sinal de integração para obter ∆u(x) = 0 se x ∈ BR (0). Resta estabelecer a continuidade até a
fronteira, isto é, que para todo x0 ∈ ∂Ω, temos
Como g é contı́nua, dado ε > 0, escolha δ0 > 0 tal que |g(y) − g(x0 )| < ε se |y − x0 | < δ0 e seja M =
max∂BR (0) g. Pelo Lema 5.16, temos
Z
g(x0 ) = g(x0 )K(x, y) ds(y).
∂BR (0)
Portanto,
¯Z ¯ Z
¯ ¯
¯ ¯
|u(x) − g(x0 )| = ¯ K(x, y) (g(y) − g(x0 )) ds(y)¯ 6 K(x, y) |g(y) − g(x0 )| ds(y)
¯ ∂BR (0) ¯ ∂BR (0)
Z Z
= K(x, y) |g(y) − g(x0 )| ds(y) + K(x, y) |g(y) − g(x0 )| ds(y)
|y−x0 |6δ0 |y−x0 |>δ0
Z Z
6ε K(x, y) ds(y) + 2M K(x, y) ds(y)
∂BR (0) |y−x0 |>δ0
2 2 Z
R − |x| 1
= ε + 2M n ds(y)
nωn R |y−x0 |>δ0 |x − y|
2 2 µ ¶n
R − |x| 2
6 ε + 2M |∂BR (0)|
nωn R δ0
2
R2 − |x|
= ε + 2n+1 M Rn−2 .
δ0n
2
Como R2 − |x| → 0 se x → x0 ∈ ∂BR (0), existe δ > 0 tal que se |x − x0 | < δ podemos garantir que
|u(x) − g(x0 )| 6 2ε. ¥
Rodney Josué Biezuner 159
5.6.5 Exercı́cios
Exercı́cio 5.17. Deduza da fórmula integral de Poisson a seguinte versão para a desigualdade de Harnack:
Seja u uma função harmônica não-negativa em BR (0) ⊂ Rn . Então, para todo x ∈ BR (0), vale
µ ¶n−2 µ ¶n−2
R R − |x| R R + |x|
u(0) 6 u(x) 6 u(0)
R + |x| R + |x| R − |x| R − |x|
Exercı́cio 5.18. Deduza o Teorema de Liouville a partir da versão para a desigualdade de Harnack provada
no item anterior:
Se u é uma função harmônica não-negativa em Rn , então u é constante.
Exercı́cio 5.19. Mostre que o problema de Dirichlet não-linear
½
∆u = u3 em Ω,
u=0 sobre ∂Ω,
onde Ω ⊂ Rn é um aberto limitado, possui como solução apenas a função identicamente nula.
Exercı́cio 5.20. Mostre que se u e v são funções harmônicas, então seu produto uv é harmônico se e somente
se ∇u · ∇v = 0. Conclua que se u é uma função harmônica tal que u2 é harmônica, então u é constante.
Capı́tulo 6
com f, g funções periódicas de perı́odo 2π na variável θ, satisfazendo f (R, θ) = g(R, θ) = 0 para todo
0 6 θ 6 2π. Se restringirmos nossa atenção aos casos em que a posição inicial f e a velocidade inicial g
são funções radialmente simétricas f (r, θ) = f (r) e g(r, θ) = g(r) (ou seja, a posição e velocidade iniciais de
um ponto da membrana dependem apenas da distância dele ao centro e não do ângulo polar θ), a simetria
da situação implica que a solução u também deverá ser radialmente simétrica, isto é, u(r, θ, t) = u(r, t) (a
posição de um ponto da membrana em qualquer instante de tempo não dependará do ângulo θ). Então o
problema se simplifica consideravelmente:
µ ¶
2 1
u = c urr + ur se 0 < r < R, 0 < θ < 2π e t > 0,
tt r
u(R, t) = 0 se t > 0, (6.1)
u(r, 0) = f (r) se 0 6 r 6 R,
ut (r, 0) = g(r) se 0 6 r 6 R,
160
Rodney Josué Biezuner 161
Vamos tentar resolver este problema pelo método de separação de variáveis. Suponha que possamos
escrever
u(r, t) = F (r)G(t).
Então · ¸
00 200 1 0
F (r)G (t) = c F (r)G(t) + F (r)G(t) ,
r
donde
1 G00 (t) F 00 (r) 1 F 0 (r)
2
= + = −λ2 .
c G(t) F (r) r F (r)
Aqui, nos adiantamos na análise da constante de separação de variáveis e decidimos que ela é negativa porque
esperamos obter soluções de G periódicas, pois as vibrações de uma membrana que não está sujeita a forças
externas ou dissipativas devem ser periódicas no tempo. Isso nos leva às seguintes equações diferenciais
ordinárias: ½
rF 00 (r) + F 0 (r) + λ2 rF (r) = 0 se 0 < r < R,
(6.2)
F (R) = 0,
e
G00 (t) + c2 λ2 G(t) = 0.
A primeira equação é conhecida como a equação de Bessel de ordem 0 e parâmetro λ. Ela não possui
soluções em forma fechada. No entanto, ela aparece tão freqüentemente nas aplicações que as suas soluções
receberam um nome especial: as funções de Bessel.
Observação: Poderı́amos em princı́pio também ter λ = 0, pois funções constantes também são periódicas
com perı́odo 2π, e neste caso terı́amos uma equação de Euler. No entanto, a solução geral para esta equação
de Euler seria F (r) = c1 + c2 log r e a condição F (R) = 0 implicaria que F ≡ 0.
x2 y 00 + xy 0 + x2 y = 0.
Mais geralmente, vamos estudar a equação de Bessel de ordem p, já que esta equação surgirá nos
problemas da membrana circular vibrante sem simetria radial:
x2 y 00 + xy 0 + (x2 − p2 )y = 0. (6.4)
Como observado antes, esta equação não possui uma solução em forma fechada. Para resolvê-la, usaremos
um método que estende o método de séries de potências, chamado método de Frobenius.
Rodney Josué Biezuner 162
onde c é uma constante não necessariamente inteira, diferenciando termo a termo e substituindo na equação
diferencial, obtemos
∞
X ∞
X ∞
X
(n + c)(n + c − 1)an xn+c + (n + c)an xn+c + (x2 − p2 )an xn+c = 0
n=0 n=0 n=0
que é a série
ou seja,
∞
X
2 2 2 2 1+c
© ª
(c − p )a0 + [(1 + c) − p ]a1 x + [(n + c)2 − p2 ]an + an−2 xn+c = 0.
n=2
a última relação valendo para n > 2. Assumindo a0 6= 0, obtemos a chamada equação indicial c2 − p2 = 0,
donde
c = p ou c = −p.
Isso implica que a1 = 0 (exceto no caso p = −1/2). Escolhendo c = p, a relação (6.7) produz a fórmula
recursiva
an−2
an = − se n > 2. (6.8)
n(n + 2p)
Como a1 = 0, todos os coeficientes com ı́ndices ı́mpares são iguais a 0:
(−1)k
a2k = a0 . (6.10)
22k k!(1 + p)(2 + p) · · · (k + p)
Usando a função gama Γ(x) (se você não conhece esta função, veja a próxima subseção) podemos simplificar
a notação. Utilizando a propriedade Γ(x + 1) = xΓ(x), segue que
logo
Γ(k + p + 1)
(1 + p)(2 + p) · · · (k + p) = . (6.11)
Γ(1 + p)
Escolhendo
1
a0 = , (6.12)
2p Γ(1 + p)
temos que a primeira solução da equação de Bessel pode ser escrita na forma
∞
X (−1)k ³ x ´2k+p
y(x) = (6.13)
k!Γ(k + p + 1) 2
k=0
desde que p não seja um inteiro negativo, pois se p for um inteiro negativo então Γ(k + p + 1) não está
definido para k = 0, . . . , p − 1.
Definição. Seja p ∈ R um número real que não é um inteiro negativo. A função Jp definida por
∞
X (−1)k ³ x ´2k+p
Jp (x) = (6.14)
k!Γ(k + p + 1) 2
k=0
em [0, +∞), se p > 0, e em (0, +∞) se p < 0, é chamada uma função de Bessel do primeiro tipo
de ordem p.
(−1)k ³ x ´2k+p
∞
X
Jp (x) = (6.15)
k!(k + p)! 2
k=0
e
(−1)k ³ x ´2k
∞
X
J0 (x) = 2 . (6.16)
(k!) 2
k=0
Para obter a solução geral para a equação de Bessel, precisamos obter uma segunda solução linearmente
independente de Jp , pois a equação de Bessel é uma equação diferencial ordinária linear de segunda ordem.
Para isso, quando p não é um inteiro positivo, basta fazer a segunda escolha possı́vel para c, ou seja, c = −p.
Neste caso obtemos
∞
X (−1)k ³ x ´2k−p
J−p (x) = . (6.17)
k!Γ(k − p + 1) 2
k=0
É claro que esta definição é consistente com a anterior, no sentido que J−(−p) = Jp . Além disso, verificaremos
daqui a pouco que Jp e J−p são linearmente independentes se p não é um inteiro. Portanto, possuı́mos uma
Rodney Josué Biezuner 164
definição consistente para Jp e J−p sempre que p não é um inteiro, e uma definição para Jp se p é um inteiro
positivo ou nulo (obviamente igual a J−p se p é um inteiro negativo). Falta definir J−p se p é um inteiro
positivo. Observe que se p é um inteiro positivo então Γ(k − p + 1) não está definido para k = 0, . . . , p − 1,
porque |Γ(x)| → ∞ quando x → k − p + 1 com estes valores de k. Mas, por este mesmo motivo, se na fórmula
para Jp fizermos p tender a um valor inteiro negativo n, podemos desprezar os primeiros termos da série de
k = 0 até k = p − 1 e definir
∞
X (−1)k ³ x ´2k−n
J−n (x) = . (6.18)
k!Γ(k − n + 1) 2
k=n
Contudo, com esta definição, as funções Jn e J−n são linearmente dependentes, pois
Desta forma Jp está definida para todo p ∈ R e Jp , J−p são duas soluções para a equação de Bessel de ordem
p.
Proposição 6.1. As funções de Bessel Jp estão definidas em [0, +∞) se p > 0, e em (0, +∞) se p < 0.
Além disso, elas são de classe C 2 .
Prova: Temos
¯ ³ x ´2(k+1)+p ¯¯
¯ (−1)k+1
¯ ¯
¯ (k + 1)!Γ(k + 1 + p + 1) 2 ¯ k!Γ(k + p + 1)x2k+p x2k+2+p x2
¯ ¯= = →0
¯ (−1)k ³ ´ ¯ 2k+2+p x2k+p
¯ x 2k+p ¯ (k + 1)!Γ(k + p + 2)x 4 (k + 1) (k + p + 1)
¯ ¯
k!Γ(k + p + 1) 2
quando k → ∞. Segue do teste da razão que Jp está bem definida para todo x > 0. Mais que isso, usando o
teste-M de Weierstrass, vemos que a convergência é uniforme em todo intervalo limitado, logo a função Jp é
contı́nua. O mesmo argumento pode ser usado para mostrar que podemos derivar termo a termo a série que
define Jp duas vezes, pois as séries obtidas deste modo:
e
(−1)k (2k + p) (2k + p − 1) ³ x ´2k+p−2
∞
X
Jp00 (x) =
24k+2p−1 k!Γ(k + p + 1) 2
k=0
Lema 6.2. Seja p ∈ R um número real que não é um inteiro negativo. Então
Prova: Ítens (ii) e (iii) seguem diretamente da definição. Os ı́tens (i) e (iv) seguem do fato de que para x
pequeno a função Jp tem o comportamento da função
1 ³ x ´p
. (6.20)
Γ(p + 1) 2
De fato, temos
∞
X (−1)k ³ x ´2k+p 1 ³ x ´p X ∞
(−1)k ³ x ´2k
Jp (x) = = .
k!Γ(k + p + 1) 2 Γ(p + 1) 2 k!(p + k) . . . (p + 1) 2
k=0 k=0
Definindo
∞
X (−1)k ³ x ´2k
Fp (x) = ,
k!(p + k) . . . (p + 1) 2
k=0
temos ³ x ´p
1
Jp (x) = Fp (x) .
Γ(p + 1) 2
Notando que Fp é contı́nua em 0 (para estabelecer isso, basta usar o mesmo argumento da Proposição 6.1)
e que portanto
lim Fp (x) = Fp (0) = 1,
x→0+
Teorema 6.3. Se p não é um inteiro, a solução geral para a equação de Bessel de ordem p é
Prova: Os ı́tens (iii) e (iv) do lema anterior mostram que Jp não pode ser múltiplo escalar de J−p . ¥
Exemplo 6.4. (As funções de Bessel do primeiro tipo de ordem p = ±1/2.) Temos
r
2
J 12 (x) = sen x,
πx
r
2
J− 12 (x) = cos x.
πx
De fato,
∞
X (−1)k ³ x ´2k+ 12
J 21 (x) = ,
k=0
k!Γ(k + 12 + 1)! 2
e pode ser provado (veja Exercı́cio 6.1) que
µ ¶
1 (2k + 1)! √
Γ k + + 1 = 2k+1 π,
2 2 k!
de modo que r r
2 X (−1)k ³ x ´2k+1
∞
2
J 12 (x) = = sen x .
πx (2k + 1)! 2 πx
k=0
Rodney Josué Biezuner 166
1 (2k)! √
Γ(k + ) = 2k π,
2 2 k!
obtém-se a forma apresentada acima para J−1/2 . ¤
Γ(n + 1) = nΓ(n)
= n(n − 1)Γ(n − 2)
= n(n − 1)(n − 2)Γ(n − 3)
= ...
= n(n − 1)(n − 2) . . . 3 · 2 · Γ(1) = n!
Assim, a função gama pode ser vista como uma extensão da função fatorial, que é definida apenas para
números naturais, a uma função definida para todos os números reais positivos. Por este motivo, ela é às
vezes chamada de função fatorial generalizada.
É possı́vel também defini-la para números reais negativos que não sejam inteiros negativos (isto é, para
x < 0, exceto para x = 0, −1, −2, ...). De fato, basta aplicar a propriedade
1
Γ(x) = Γ(x + 1)
x
sucessivamente. Como os limites laterais desta função em inteiros negativos são infinitos, não faz sentido
defini-la nestes números.
6.2.3 Exercı́cios
Exercı́cio 6.1. Aplique uma mudança de variáveis para provar que
µ ¶
1 √
Γ = π.
2
(−1)k 2 (k + p) ³ x ´2k+2p−1
∞ ∞
d p d X (−1)k x2k+2p X
[x Jp (x)] = =
dx dx k!Γ(k + p + 1) 22k+p k!Γ(k + p + 1)22k+p 2
k=0 k=0
∞
X (−1) k ³ x ´2k+p−1
= xp = xp Jp−1 (x) .
k!Γ(k + p) 2
k=0
A segunda identidade pode ser provada de maneira análoga. Se p é um inteiro negativo, segue da segunda
identidade aplicada a −p que
d p d p £ ¤
[x Jp (x)] = (−1)p [x J−p (x)] = (−1)p [−xp J−p+1 (x)] = xp (−1)p+1 J−p+1 (x) = xp Jp−1 (x) .
dx dx
¥
e
xJp0 (x) − pJp (x) = −xJp+1 (x) .
Prova: Derivando explicitamente o lado esquerdo das identidades obtidas no lema anterior, obtemos
e
−px−p−1 Jp (x) + x−p Jp0 (x) = −x−p Jp−1 (x) .
Multiplicando a primeira por x1−p e a segunda por xp+1 , obtemos os resultados respectivos. ¥
Pode-se obter uma expansão em série para as funções Yp também quando p é um inteiro:
e, se p é um inteiro positivo,
onde
1 1 1
ϕ (k) = 1 + + + ... +
2 3 k
e γ é a constante de Euler :
γ = lim [ϕ (k) − log k] .
k→∞
Para uma motivação das definições e resultados acima, veja [5], págs. 363-364, e as referências lá citadas. A
partir destas definições de Yp para p > 0 em forma de série, é possı́vel provar que elas são de classe C 2 em
(0, +∞) e, derivando termo a termo, que elas satisfazem a equação de Bessel de ordem p. As funções Yp são
chamadas funções de Bessel de ordem p do segundo tipo e são também soluções para a equação de
Bessel, linearmente independente de Jp quando p é um inteiro. De fato, o comportamento de Yp próximo à
origem é dado pelo seguinte resultado:
Lema 6.9. Se p é um inteiro não-negativo, então Yp (x) → −∞ quando x → 0.
Prova: Segue da expansão em série para Yp . Para p = 0 temos que Y0 tem o comportamento de
2 x
log
π 2
para x próximo de 0 já que J0 (0) = 1 e a série à direita na definição de Y0 é convergente. Para p > 0, como
xm log x → 0 quando x → 0 para todo m, o primeiro termo na expansão em série de Yp converge para 0,
logo Yp tem o comportamento de
(n − 1)! ³ x ´−n
−
π 2
para x próximo de 0. ¥
Com isso, obtemos a solução geral para a equação de Bessel de ordem p também para o caso em que p é um
inteiro não-negativo:
Teorema 6.10. Se p é um inteiro não-negativo, a solução geral para a equação de Bessel de ordem p é
y(x) = c1 Jp (x) + c2 Yp (x).
Rodney Josué Biezuner 170
Definição. Dizemos que uma função f (x) é da ordem de g (x) quando x → ∞ se existe uma constante
M > 0 tal que
|f (x)| 6 M |g (x)|
para todo x suficientemente grande. Denotamos isso por
f (x) = O (g (x)) .
Ap ³ ´
Jp (x) = √ cos (x + θp ) + O x−3/2
x
para x > 0. O mesmo resultado vale para Yp .
e fazer a substituição
u = R cos θ,
v = −R sen θ,
onde R e θ são funções de x, escolhidas de tal forma que R (1) > 0; observe que u está próximo à forma
desejada. Com esta substituição, o sistema transforma-se em
0
R cos θ − Rθ0 sen θ = −R sen θ µ ¶
0 0 R 2 1 .
−R sen θ − Rθ cos θ = −R cos θ + 2 p − cos θ
x 4
Rodney Josué Biezuner 171
Multiplicando a primeira equação por sen θ e a segunda por cos θ, somamos as duas equações para obter
µ ¶
1 1
θ0 = 1 + 2 p2 − cos2 θ; (6.26)
x 4
multiplicando a primeira equação por cos θ e a segunda por − sen θ, somamos as duas equações para obter
µ ¶
R0 1 2 1
=− 2 p − sen θ cos θ. (6.27)
R x 4
Agora, defina µ ¶Z ∞
2 1 1
θp = lim [θ (x) − x] = θ (1) − 1 + p − cos2 t dt (6.30)
x→∞ 4 1 t2
(a integral do lado direito desta expressão converge porque a integral de 1/t2 é convergente em (1, +∞) e
cos2 t é uma função limitada), de modo que
µ ¶Z ∞
2 1 1
θ (x) = x + θp − p − cos2 t dt. (6.31)
4 x t2
Analogamente, defina R∞
Ap = lim R (x) = R (1) e−(p − 14 )
2 1
sen t cos t dt
1 t2 , (6.32)
x→∞
de modo que R∞
R (x) = Ap e(p − 4 )
2 1 1
sen t cos t dt
x t2 . (6.33)
Note que Ap > 0, porque a única outra possibilidade seria R (1) = 0, o que implicaria
2
0 = R2 (1) = u2 (1) + [u0 (1)]
Prova: Sejam {yk } e {zk } as seqüências crescentes de máximos e mı́nimos da função Ap cos (x + θp ), x > 0;
ou seja, esta função atinge o valor máximo Ap em yk e o valor mı́nimo −Ap em zk . Em outras palavras,
yk = 2kπ − θp e zk = (2k − 1) π − θp
√
Segue do Teorema 6.11 que, para x suficientemente grande, existe pelo menos um zero xk de xJp (x) entre
yk e zk . Com efeito, dado 0 < ε < Ap , existe M > 0 tal que se x > M , temos
√
Ap cos (x + θp ) − ε < xJp (x) < Ap cos (x + θp ) + ε.
√
Isso implica que a função xJp (x) é positiva em yk e negativa em zk , para yk , zk > M . Os zeros de Jp
são isolados porque Jp é uma série de potências e não é uma função constante. Além disso, os zeros são
simples porque se Jp possuı́sse um zero múltiplo em x0 , então a função u da demonstração do Teorema
6.11 também possuiria um zero múltiplo em x0 e terı́amos u (x0 ) = u0 (x0 ) = 0 implicaria que a solução da
equação diferencial que u satisfaz é a solução identicamente nula, uma contradição. ¥
Corolário 6.14. Para qualquer p ∈ R, e para qualquer constante h ∈ R, existe uma seqüência {xk } tal que
xk → ∞,
e tal que a função
Fp (x) = hJp (x) + xJp0 (x)
possui um zero em cada xk e nenhum outro zero positivo. O mesmo vale para Yp .
Rodney Josué Biezuner 173
Prova: Sejam r, s > 0 dois zeros consecutivos de Jp . Como os zeros são simples, segue que
Logo,
Fp (r) Fp (s) = rsJp0 (r) Jp0 (s) < 0
e o Teorema do Valor Intermediário implica que Fp possui um zero entre r e s. Os zeros de Fp são isolados
pelo mesmo motivo do corolário anterior. ¥
Os valores de Ap e θp do Teorema 6.11 são na verdade conhecidos:
r µ ¶ ³ ´
2 2p + 1
Jp (x) = cos x − π + O x−3/2 ,
πx 4
r µ ¶ ³ ´
2 2p + 1
Yp (x) = sen x − π + O x−3/2 ,
πx 4
mas a demonstração destes fatos é longa (veja [5], pág. 370, para referências).
Diferentemente da função seno, não há uma fórmula para os zeros das funções de Bessel; estes devem ser
determinados por métodos numéricos.
Consideramos as funções de Bessel escaladas
³α x´
p,n
Jp . (6.35)
R
São válidas as seguintes relações de ortogonalidade para as funções de Bessel:
Proposição 6.15. (Relações de Ortogonalidade para as Funções de Bessel) Para qualquer p ∈ R, vale
Z R ³ ´ ³ ´ R2 2
αp,n x αp,m x J (αp,n ) se n = m,
Jp Jp x dx = 2 p+1
0 R R 0 se n =
6 m.
Rodney Josué Biezuner 174
Esta série é chamada a³série de´ Bessel de ordem p de f . Para encontrar os coeficientes an , multiplicamos
αp,m x
ambos os lados por Jp x e integramos termo a termo no intervalo (0, R). Devido às relações de
R
ortogonalidade que vimos na seção anterior, segue que
Z R ³α ´ ∞
X Z R ³α ´ ³α ´ Z R ³α ´
p,m x p,n x p,m x p,m x
f (x)Jp x dx = an Jp Jp x dx = am Jp2 x dx
0 R n=1 0 R R 0 R
R2 Jp+1
2
(αp,m )
= am .
2
Portanto,
Z R ³α ´
2 p,n x
an = 2 (α f (x)Jp x dx. (6.38)
R2 Jp+1 p,n ) 0 R
A demonstração do resultado a seguir está além do nı́vel deste curso (veja ??, pág. 376, para referências).
Teorema 6.16. Se f : [0, R] → R é uma função contı́nua por partes tal que sua derivada também é contı́nua
por partes, então f tem uma série de Bessel de ordem p no intervalo (0, R). No intervalo (0, R), a
f (x+) + f (x−)
série converge para f (x) se f é contı́nua em x, e para nos pontos de descontinuidade
2
de f .
onde
(−1)k ³ x ´2k
∞
X
J0 (x) =
(k!)2 2
k=0
e
Jq (x) cos qπ − J−q (x)
Y0 = lim .
q→0 sen qπ
No entanto, a função Y0 não é limitada perto de 0 e esperamos que as soluções da membrana vibrante sejam
contı́nuas e, portanto, limitadas. Assim, devemos ter c2 = 0. Segue que
e daı́
α0,n
λn = . (6.41)
R
As soluções desta equação de Bessel são portanto
³α ´
0,n
Fn (r) = J0 r (6.42)
R
para n = 1, 2, . . . As soluções da equação diferencial que G satisfaz são então
α0,n ct α0,n ct
Gn (t) = cn cos + dn sen . (6.43)
R R
A solução do problema da membrana circular vibrante deve ser da forma
X∞ ³α ´· α0,n ct α0,n ct
¸
0,n
u(r, t) = J0 r cn cos + dn sen . (6.44)
n=1
R R R
donde Z
2 R ³α ´
0,n r
cn = 2 2 f (r)J0 r dr, (6.45)
R J1 (α0,n ) 0 R
e
α0,n c ³ α0,n ´
∞
X
g(r) = ut (r, 0) = dn J0 r ,
n=1
R R
donde Z
2c R ³α ´
0,n r
dn = g(r)J0 r dr. (6.46)
Rα0,n J12 (α0,n ) 0 R
com f (R, θ) = g(R, θ) = 0 para todo 0 6 θ 6 2π. Pelo método de separação de variáveis, tentamos escrever
u(r, t) = F (r)G(θ)H(t),
de modo que
µ ¶
00 2
00 1 0 1 00
F (r)G(θ)H (t) = c F (r)G(θ)H(t) + F (r)G(θ)H(t) + 2 F (r)G (θ)H(t) ,
r r
e daı́
1 H 00 (t) F 00 (r) 1 F 0 (r) 1 G00 (θ)
= + + = −λ2 .
c2 H(t) F (r) r F (r) r2 G(θ)
Rodney Josué Biezuner 177
Mais uma vez, tomamos a constante de separação de variáveis negativa porque esperamos obter soluções
periódicas no tempo. Obtemos, então,
H 00 (t) + c2 λ2 G(t) = 0 (6.47)
e
F 00 (r) 1 F 0 (r) 1 G00 (θ)
+ = −λ2 − 2 ,
F (r) r F (r) r G(θ)
donde
F 00 (r) F 0 (r) G00 (θ)
r2 +r + λ2 r 2 = − = µ2 ,
F (r) F (r) G(θ)
e mais uma vez escolhemos o sinal da constante de separação de variáveis de acordo com a nossa expectativa
que G(θ) é periódica de perı́odo 2π. Portanto, usando as condições de fronteira, obtemos as equações
diferenciais ½ 00
G (θ) + µ2 G(θ) = 0 se 0 < θ < 2π,
G(0) = G(2π),
donde concluı́mos que µ = m e a sua solução geral é
para n = 0, 1, 2, . . ., e
½
r2 F 00 (r) + F 0 (r) + (λ2 r2 − n2 )F (r) = 0 se 0 < r < R,
(6.49)
F (R) = 0.
Esta última é uma equação de Bessel na forma paramétrica. Fazendo a mudança de variáveis y(r) = F (r/λ),
como no caso radial, concluı́mos que as suas soluções são da forma
F (r) = Jn (λr), n = 0, 1, 2, . . .
(pois as soluções Yn são ilimitadas e podem ser descartadas). Como F (R) = 0, segue que λR = αn,m é um
zero da função de Bessel Jn , logo
αn,m
λ= .
R
Assim, as soluções da equação de Bessel acima são
³α r´
n,m
Fnm = Jn (6.50)
R
para n = 0, 1, 2, . . ., m = 1, 2, . . ., e as soluções de H são
αn,m ct αn,m ct
Hnm (t) = Anm cos + Bnm sen (6.51)
R R
para n = 0, 1, 2, . . . , m = 1, 2, . . . A solução geral é, portanto,
³α r´ µ ¶
n,m αn,m ct αn,m ct
unm (r, θ, t) = Jn (an cos nθ + bn sen nθ) Anm cos + Bnm sen , (6.52)
R R R
e daı́ a solução do problema deve ser
∞ X
X ∞ ³α ´ µ ¶
n,m r αn,m ct αn,m ct
u(r, θ, t) = Jn (an cos nθ + bn sen nθ) Anm cos + Bnm sen (6.53)
n=0 m=1
R R R
com os coeficientes a serem determinados. Como no caso da equação de Laplace no retângulo, é mais fácil
resolver o problema geral (isto é, encontrar os coeficientes da solução em série acima) se usarmos a sua
linearidade decompondo-o em dois problemas mais fáceis, cada um com uma das condições iniciais nulas.
Rodney Josué Biezuner 178
O primeiro problema é
µ ¶
2 1 1
utt = c urr + ur + uθθ se 0 < r < R, 0 < θ < 2π e t > 0,
r r2
u(R, θ, t) = 0 se 0 6 θ 6 2π e t > 0,
u(r, θ, 0) = f (r, θ) se 0 6 r 6 R e 0 6 θ 6 2π,
ut (r, θ, 0) = 0 se 0 6 r 6 R e 0 6 θ 6 2π,
cuja solução é
∞ X
X ∞ ³α ´
n,m r αn,m ct
u1 (r, θ, t) = Jn (anm cos nθ + bnm sen nθ) cos , (6.54)
n=0 m=1
R R
Para obter os coeficientes, fixamos r de modo que fr (θ) = f (r, θ) é uma função apenas da variável θ,
escrevemos
à ∞ !
∞
X ³α r´ X ∞ X ³α r´
0,m n,m
fr (θ) = a0m J0 + anm Jn cos nθ
m=1
R n=1 m=1
R
à ∞ !
X∞ X ³α r´
n,m
+ bnm Jn sen nθ.
n=1 m=1
R
Definindo
∞
X ³α ´
0,m r
a0 (r) = 2 a0m J0 ,
m=1
R
∞
X ³α ´
n,m r
an (r) = anm Jn ,
m=1
R
X∞ ³α ´
n,m r
bn (r) = bnm Jn ,
m=1
R
segue que
Z R ³α ´
1 0,m r
a0m = 2 2 a0 (r)J0 r dr,
R J1 (α0,m ) 0 R
Z R ³α ´
2 n,m r
anm = 2 2 an (r)Jn r dr,
R Jn+1 (αn,m ) 0 R
Z R ³α ´
2 n,m r
bnm = 2 2 bn (r)Jn r dr.
R Jn+1 (αn,m ) 0 R
temos que 2a0 (r), an (r) e bn (r) são os coeficientes de Fourier da função fr (θ), logo
Z 2π
1
a0 (r) = f (r, θ) dθ,
π 0
Z 2π
1
an (r) = f (r, θ) cos nθ dθ,
π 0
Z 2π
1
bn (r) = f (r, θ) sen nθ dθ.
π 0
Portanto,
Z R Z 2π ³α ´
1 0,m r
a0m = 2 2 f (r, θ)J0 r dθdr,
πR J1 (α0,m ) 0 0 R
Z R Z 2π ³α ´
2 n,m r
anm = 2 f (r, θ) cos nθJn r dθdr, (6.55)
πR2 Jn+1 (αn,m ) 0 0 R
Z R Z 2π ³α ´
2 n,m r
bnm = 2 f (r, θ) sen nθJn r dθdr,
πR2 Jn+1 (αn,m ) 0 0 R
para m = 1, 2, . . .
O segundo problema é
µ ¶
2 1 1
u = c urr + ur + 2 uθθ se 0 < r < R, 0 < θ < 2π e t > 0,
tt r r
u(R, θ, t) = 0 se 0 6 θ 6 2π e t > 0,
u(r, θ, 0) = 0 se 0 6 r 6 R e 0 6 θ 6 2π,
ut (r, θ, 0) = g(r, θ) se 0 6 r 6 R e 0 6 θ 6 2π,
cuja solução é
∞ X
X ∞ ³α ´
n,m r αn,m ct
u2 (r, θ, t) = Jn (cnm cos nθ + dnm sen nθ) sen , (6.56)
n=0 m=1
R R
devido à condição inicial u(r, θ, 0) = 0. Usando um argumento similar ao usado no primeiro caso, obtemos
Z R Z 2π ³α ´
1 0,m r
c0m = g(r, θ)J0 r dθdr,
πcα0,m RJ12 (α0,m ) 0 0 R
Z R Z 2π ³α ´
2 n,m r
cnm = 2 g(r, θ) cos nθJn r dθdr, (6.57)
πcαn,m RJn+1 (αn,m ) 0 0 R
Z R Z 2π ³α ´
2 n,m r
dnm = 2 g(r, θ) sen nθJn r dθdr,
πcαn,m RJn+1 (αn,m ) 0 0 R
para m = 1, 2, . . .
Portanto a solução do problema geral é u = u1 + u2 , ou seja,
∞ X
X ∞ ³α ´
n,m r αn,m ct
u(R, θ, t) = Jn (anm cos nθ + bnm sen nθ) cos
n=0 m=1
R R
∞ X
X ∞ ³α ´
n,m r αn,m ct
+ Jn (cnm cos nθ + dnm sen nθ) sen ,
n=0 m=1
R R
Neste capı́tulo desenvolveremos a teoria da equação de Laplace tridimensional em domı́nios simétricos tais
como o cilindro e a bola. Não desenvolveremos a teoria para domı́nios cúbicos tais como paralelepı́pedos,
pois esta é uma extensão trivial da teoria para domı́nios retangulares: ao invés de séries de Fourier duplas e
seus coeficientes expressos como integrais duplas, basta considerar séries de Fourier triplas cujos coeficientes
são integrais triplas.
180
Rodney Josué Biezuner 181
radialmente simétricas. Em particular, não existe dependência da variável θ: ou seja, u = u(r, z). Considere
um cilindro com raio da base R e altura H. Este problema é modelado pela seguinte equação diferencial
parcial e pelas seguintes condições de fronteira:
1
urr + ur + uzz = 0 se 0 < r < R e 0 < z < h,
r
u(r, 0) = u(R, z) = 0 se 0 6 r 6 R e 0 6 z 6 h,
u(r, H) = f (r) se 0 6 r 6 R.
Escrevendo
u(r, z) = F (r)G(z),
obtemos
1
F 00 (r)G(z) + F 0 (r)G(z) + F (r)G00 (z) = 0.
r
Dividindo a equação por F (r)G(z), segue que
Levando em conta que F deve ser limitada na origem, as autofunções do primeira problema são
³α ´
0,n
Fn (r) = J0 r ,
R
Rodney Josué Biezuner 182
α0,n
com λ = . Levando em conta que G(0) = 0, as autofunções do segundo problema são (aqui é mais
R
conveniente escrever a solução geral da equação diferencial ordinária de G na forma G(z) = c1 cosh λz +
c2 senh λz) ³α ´
0,n
Gn (z) = senh z .
R
Assim, a solução do problema é
X∞ ³α ´ ³α ´
0,n 0,n
u(r, z) = an J0 r senh z . (7.4)
n=1
R R
Como
X∞ h ³α ´i ³ α ´
0,n 0,n
f (r) = u(r, H) = an senh H J0 r ,
n=1
R R
segue que
Z R ³α ´
2 0,n r
an = ³α ´ f (r)J0 r dr. (7.5)
R2 senh
0,n
H J12 (α0,n ) 0 R
R
Para ver que Ip é a solução da equação de Bessel modificada de ordem p note que
Jp (ix)
Ip (x) = , (7.9)
ip
√
onde i = −1. De fato,
∞
X µ ¶2k+p ∞
X ³ x ´2k+p
(−1)k ix (−1)k i2k
Jp (ix) = = ip
k!Γ(k + p + 1) 2 k!Γ(k + p + 1) 2
k=0 k=0
Assim,
1 £ 2 2 00 ¤
x2 Ip00 (x) + xIp0 (x) − (x2 + p2 )Ip (x) = x i Jp (ix) + xiJp0 (x) − (x2 + p2 )Jp (ix)
ip
1 £ ¤
= p (ix)2 Jp00 (ix) + ixJp0 (x) − (−(ix)2 + p2 )Jp (ix)
i
1 £ 2 00 ¤
= p z Jp (z) + zJp0 (z) + (z 2 − p2 )Jp (z)
i
= 0,
Rodney Josué Biezuner 183
quando p é um inteiro. A solução geral para a equação de Bessel modificada de ordem p é então
A função de Bessel modificada I0 é estritamente crescente para x > 0, logo não pode satisfazer I0 (R) = 0,
enquanto que as funções de Bessel modificadas próximas à origem são ilimitadas.
Escrevendo
u(r, z) = F (r)G(z),
obtemos como antes
F 00 (r) F 0 (r) G00 (z)
r2 +r =− = σ.
F (r) F (r) G(z)
As condições de fronteira implicam as seguintes condições sobre G:
nπ
e conseqüentemente a equação de Bessel modificada de ordem 0 e parâmetro :
H
n2 π 2 2
r2 F 00 (r) + rF 0 (r) + r F (r) = 0.
H2
Como a função de Bessel modificada do segundo tipo é ilimitada na origem, a solução geral desta equação
pertinente ao nosso problema é ³ nπr ´
Fn (z) = I0 .
H
Assim, a solução do problema é
X∞ ³ nπr ´ nπz
u(r, z) = bn I0 sen . (7.13)
n=1
H H
Como
∞ ·
X µ ¶¸ ³α ´
nπR 0,n
f (z) = u(R, z) = bn I0 J0 r ,
n=1
H R
segue que
Z H
2 nπz
bn = ¡ nπR ¢ f (z) sen dz. (7.14)
H I0 H 0 H
uρ = ur rρ + uθ θρ + uφ φρ = ur rρ + uθ θρ ,
pois φ não depende de ρ (ρ está definida em termos das variáveis r, θ apenas) e portanto φρ = 0. Diferenciando
ρ
θ = arctan , obtemos
z
1 1 z r cos θ cos θ
θρ = ³ ρ ´2 = 2 2
= 2 2 2 2
= .
z z +ρ r cos θ + r sen θ r
1+
z
Diferenciando ρ = r sen θ implicitamente com relação à ρ, temos
donde
1 − cos2 θ
rρ = = sen θ.
sen θ
Logo,
cos θ
uρ = sen θur + uθ
r
e µ ¶
1 1 cos θ 1 cot θ
uρ = sen θur + uθ = ur + 2 uθ
ρ r sen θ r r r
Concluı́mos que o Laplaciano em coordenadas esféricas é dado por
2 1 ¡ ¢
∆u(r, θ, φ) = urr + ur + 2 uθθ + cot θ uθ + csc2 θuφφ . (7.20)
r r
onde −1 < x < 1. Vamos obter as suas soluções usando o método de séries de potências, escrevemos
∞
X
y(x) = am xm
m=0
donde
∞
X ∞
X ∞
X ∞
X
am m(m − 1)xm−2 − am m(m − 1)xm − 2 am mxm + σ am xm = 0.
m=2 m=2 m=1 m=0
porque os termos adicionados aos dois somatórios intermediários são todos nulos e reindexando o primeiro
somatório. Segue que
∞
X
[(m + 2)(m + 1)am+2 + (−m(m − 1) − 2m + σ) am ] xm = 0.
m=0
Logo,
(m + 2)(m + 1)am+2 − (m(m + 1) − σ) am = 0,
donde obtemos a relação recursiva
m(m + 1) − σ
am+2 = am . (7.21)
(m + 2)(m + 1)
As duas soluções linearmente independentes da equação de Legendre são obtidas escolhendo a0 = 0, a1 = 1
e a0 = 1, a1 = 0. No primeiro caso obtemos uma série consistindo apenas dos termos ı́mpares, enquanto que
no segundo caso obtemos uma série consistindo apenas dos termos pares. Assim, estas duas soluções podem
ser respectivamente escritas nas formas
∞
X 2(k + 1)(2k + 1) − σ
y1 (x) = x2k+1 (7.22)
2(k + 1)(2k + 3)
k=0
e
∞
X 2k(2k + 1) − σ 2k
y2 (x) = x . (7.23)
2(k + 1)(2k + 1)
k=0
m(m + 1) − n(n + 1)
am+2 = am ,
(m + 2)(m + 1)
ou
(n − m)(n + m + 1)
am+2 = − am . (7.25)
(m + 2)(m + 1)
Rodney Josué Biezuner 187
Daı́ obtemos
n(n + 1)
a2 = − a0 ,
2
(n − 2)n(n + 1)(n + 3)
a4 = a0 ,
4·3·2
(n − 4)(n − 2)n(n + 1)(n + 3)(n + 5)
a6 = − a0 ,
6·5·4·3·2
..
.
e
(n − 1)(n + 2)
a3 = − a1 ,
3·2
(n − 3)(n − 1)(n + 2)(n + 4)
a5 = a1 ,
5·4·3·2
(n − 5)(n − 3)(n − 1)(n + 2)(n + 4)(n + 6)
a7 = a1 ,
7·6·5·4·3·2
..
.
onde
n(n + 1) 2 (n − 2)n(n + 1)(n + 3) 4 (n − 4)(n − 2)n(n + 1)(n + 3)(n + 5) 6
y1 (x) = 1 − x + x − x + ...
2 4! 6!
e
(n − 1)(n + 2) 3 (n − 3)(n − 1)(n + 2)(n + 4) 5 (n − 5)(n − 3)(n − 1)(n + 2)(n + 4)(n + 6) 7
y2 (x) = x− x + x − x +. . .
3! 5! 7!
Se n é par, então a série y1 é na verdade o polinômio
(2n)!
an = . (7.26)
2n (n!)2
Rodney Josué Biezuner 188
Os outros coeficientes são então determinados por uma relação recursiva reversa. Temos
(m + 2)(m + 1)
am = − am+2 ,
(n − m)(n + m + 1)
ou (trocando m por m − 2)
m(m − 1)
am−2 = − am . (7.27)
(n − m + 2)(n + m − 1)
Assim,
e, em geral,
(2n − 2m)!
an−2m = (−1)m . (7.28)
2n m!(n − m)!(n − 2m)!
n n−1
Tomando M = , se n é par, e M = , se n é ı́mpar, o n-ésimo polinômio de Legendre é
2 2
M
1 X (2n − 2m)!
Pn (x) = (−1)m xn−2m . (7.29)
2n m=0 m!(n − m)!(n − 2m)!
P0 (x) = 1,
P1 (x) = x,
1
P2 (x) = (3x2 − 1),
2
1
P3 (x) = (5x3 − 3x),
2
1
P4 (x) = (35x4 − 30x2 + 3),
8
1
P5 (x) = (63x5 − 70x3 + 15x),
8
1
P6 (x) = (231x6 − 315x4 + 105x2 − 5),
16
1
P7 (x) = (429x7 − 693x5 + 315x3 − 35x).
16
Teorema 7.1. Se f é uma função contı́nua por partes cuja derivada é contı́nua por partes no intervalo
[−1, 1], então f tem uma expansão em série de Legendre
∞
X
f (x) = An Pn (x)
n=0
com Z 1
2n + 1
An = f (x)Pn (x) dx.
2 −1
Além disso, a série de Legendre de f em x converge para f (x) se f é contı́nua em x e para a média
f (x+) + f (x−)
dos limites laterais , caso contrário.
2
u(r, θ) = F (r)G(θ).
s = cos θ.
Portanto,
cos θ
G00 (θ) + cot θG0 (θ) + σG(θ) = (1 − s2 )G00 (s) − sG0 (s) + [− sen θG0 (s)] + σG(s)
sen θ
= (1 − s2 )G00 (s) − sG0 (s) − sG0 (s) + σG(s)
= (1 − s2 )G00 (s) − 2sG0 (s) + σG(s),
σ = n(n + 1) (7.31)
Fn (r) = rn . (7.33)
Portanto,
un (r, θ) = rn Pn (cos θ).
Levando em consideração a condição de fronteira, obtemos
∞
X ³ r ´n
u(r, θ) = An Pn (cos θ) (7.34)
n=0
R
com Z π
2n + 1
An = f (θ)Pn (cos θ) sen θ dθ. (7.35)
2 0
Para obter esta expressão para os coeficientes An , multiplique a série de u(R, θ) = f (θ) por Pm (cos θ) sen θ,
integre termo a termo e use a substituição x = cos θ nas integrais resultantes sob o somatório. Isso produz
Z π ∞
X Z π
f (θ)Pm (cos θ) sen θ dθ = An Pn (cos θ)Pm (cos θ) sen θ dθ
0 n=0 0
X∞ µ Z −1 ¶
= An − Pn (x)Pm (x) dx
n=0 1
2m + 1
= Am .
2
Capı́tulo 8
Transformada de Fourier
a0 X ³ nπx ´
∞
nπx
f (x) = + an cos + bn sen (8.1)
2 n=1
L L
Se f não é uma função periódica, então ela não pode ser representada por uma série de Fourier. Podemos,
no entanto, representar f por uma integral de Fourier, se f for pelo menos suave por partes e satisfizer além
disso a condição Z ∞
|f (x)| dx < ∞,
−∞
Mais precisamente,
Teorema 8.1. Seja f : R → R uma função suave por partes, absolutamente integrável. Então f tem uma
representação por integral de Fourier que converge para f (x) nos pontos de continuidade de f e para
a média dos limites laterais nos pontos de descontinuidade de f .
191
Rodney Josué Biezuner 192
Esta representação integral para f pode ser motivado da seguinte forma: restrinja f ao intervalo fechado
[−L, L] e estenda ela periodicamente fora deste intervalo. Então, no intervalo [−L, L], f tem a representação
em série de Fourier dada em (8.1) com os coeficientes dados em (8.2). Fazendo L → ∞, como a função f
é integrável em R, segue que necessariamente a0 → 0. Além disso, a integrabilidade de f também implica
que a integral de f em R pode ser aproximada pela integral de f no intervalo [−L, L], desde que L seja
suficientemente grande. Assim, temos que os coeficientes an e bn podem ser aproximados por
Z
1 ∞ nπt π ³ nπ ´
an ≈ f (t) cos dt = A ,
L −∞ L L L
Z ∞
1 nπt π ³ nπ ´
bn ≈ f (t) sen dt = B .
L −∞ L L L
Logo,
∞ h ³
X nπ ´ nπx ³ nπ ´ nπx i π
f (x) ≈ A cos +B sen .
n=1
L L L L L
Mas, se denotarmos ωn = nπ/L e ∆ω = π/L, o que equivale a fazer uma partição do intervalo [0, ∞) em
subintervalos de comprimento ∆ω, reconhecemos uma soma de Riemann:
∞
X
f (x) ≈ [A(ωn ) cos ωn x + B(ωn ) sen ωn x] ∆ω.
n=1
Fazendo L → ∞, o que corresponde a fazer a norma da partição ∆ω → 0, esta soma de Riemann converge
para a integral de Fourier de f .
Exemplo 8.2. Obtenha a representação integral de Fourier da função
½
1 se |x| 6 1,
f (x) =
0 se |x| > 1.
Temos
Z ∞ Z 1
1 1 2
A(0) = f (t) dt = dt = ,
π −∞ π −1 π
Z ∞ Z 1 ¯1
1 1 sen ωt ¯¯ 2 sen ω
A(ω) = f (t) cos ωt dt =
cos ωt dt = ¯ =π ω ,
π −∞ −1 π πω −1
Z ∞ Z 1 ¯1
1 1 cos ωt ¯¯
B(ω) = f (t) sen ωt dt = sen ωt dt = = 0.
π −∞ π −1 πω ¯−1
Observe que lim A(ω) = A(0) (ou seja, obtivemos neste caso a função A(ω) contı́nua) e a função B é
ω→0
a função identicamente nula, o que era de se esperar, porque f é uma função par. Logo
Z
2 ∞ sen ω
f (x) = cos xω dω.
π 0 ω
Em particular, segue do teorema da integral de Fourier que
Z ∞ π/2 se |x| < 1,
sen ω
cos xω dω = π/4 se |x| = 1,
0 ω
0 se |x| > 1,
e, escolhendo x = 0, obtemos o valor da integral de Dirichlet
Z ∞
sen ω π
dω = .
0 ω 2
Rodney Josué Biezuner 193
Como vemos no exemplo acima, quando uma função é par ou ı́mpar, sua integral de Fourier é mais
simples (da mesma forma e pelo mesmo motivo que a série de Fourier de uma função periódica par ou ı́mpar
é mais simples):
8.1.1 Exercı́cios
Exercı́cio 8.1. Encontre a representação integral de Fourier das funções dadas (em todos os casos, a > 0).
½ ½
1 se 0 < x < 1, x se 0 < x < a,
a) f (x) = h) f (x) =
0 caso contrário. 0 caso contrário.
½ ½
1 se − a < x < a, x2 se 0 < x < a,
b) f (x) = i) f (x) =
0 caso contrário. 0 caso contrário.
−1 se − 1 < x < 0, ½
1 − |x| se − 1 < x < 1,
c) f (x) = 1 se 0 < x < 1, j) f (x) =
0 caso contrário.
0 caso contrário.
0 se − 1 < x < 1, ½
1 − x2 se − 1 < x < 1,
d) f (x) = 1 se 1 < |x| < 2, k) f (x) =
0 caso contrário.
0 caso contrário.
½
x se − 1 < x < 1,
e) f (x) = l) f (x) = e−|x| .
0 caso contrário.
( π π
cos x se − <x< , 2
f ) f (x) = 2 2 m) f (x) = e−x .
0 caso contrário.
½ x se 0 < x < 1,
sen x se 0 < x < π,
g) f (x) = n) f (x) = 2−x se 1 < x < 2,
0 caso contrário.
0 caso contrário.
Exercı́cio 8.2. (a) Use o Exemplo 8.2 para mostrar que
Z ∞
sen ω cos ω π
dω = .
0 ω 4
(c) Use a identidade trigonométrica sen2 ω + cos2 ω = 1 e o item anterior para obter
Z ∞
sen4 ω π
2
dω = .
0 ω 4
1
(Sugestão: sen2 ω = sen4 ω + sen2 ω cos2 ω = sen4 ω + 4 sen2 2ω.)
Exercı́cio 8.3. Usando a representação integral de Fourier, prove que as seguintes integrais impróprias têm
os valores especificados abaixo.
Z ∞ 0 se x < 0,
cos xω + w sen xω
a) dω = π/2 se x = 0,
1 + ω2
0 πe−x se x > 0.
Z ∞ ½
1 − cos πω π/2 se 0 < x < π,
b) sen xω dω =
0 ω 0 se x > π.
Z ∞
cos xω π
c) 2
dω = e−x se x > 0.
0 1+ω 2
πw π π
Z ∞ cos cos xω cos x se |x| < ,
d) 2 dω = 2 2
π
0 1 − ω2 0 se |x| > .
2
Z ( π
∞
sen πω sen xω sen x se 0 6 x 6 π,
e) dω = 2
0 1 − ω2 0 se x > π.
Z ∞
ω 3 sen xω π
f) dω = e−x cos x se x > 0.
0 ω4 + 4 2
Observe que apesar da função f ser uma função definida na reta (isto é, uma função de uma variável real)
tomando valores reais, em geral a função fb é uma função definida na reta tomando valores complexos. De
fato, a função fb pode ser escrita mais explicitamente, usando a fórmula de Euler, na forma
µZ ∞ Z ∞ ¶
1
fb(ω) = √ f (t) cos ωt dt − i f (t) sen ωt dt .
2π −∞ −∞
A parte complexa de fb será nula e portanto fb será uma função real se e somente se a integral
Z ∞
f (t) sen ωt = 0.
−∞
Isso ocorrerá se e somente se a função f for par. Portanto, no estudo da transformada de Fourier é inevitável
o aparecimento de funções de R em C, já que a maioria das funções não são pares. Diremos que uma função
de R em C é absolutamente integrável se as suas partes real e imaginária (que são funções de de R em R)
forem absolutamente integráveis. O espaço de tais funções será denotado por L1 (R, C). Na notação acima,
temos que Z ∞
1
f (x) = √ fb(ω)eiωx dω. (8.7)
2π −∞
Isso nos leva à seguinte definição. Definimos a transformada de Fourier de f , como sendo a função F
que associa a cada função absolutamente integrável f : R → R a função fb : R → C definida pela expressão
Rodney Josué Biezuner 196
(8.6); a sua inversa, chamada a transformada de Fourier inversa, é a função F −1 que associa a cada
função fb : R → C que pertença ao conjunto imagem de F a função absolutamente integrável f : R → R
definida pela expressão (8.7). Assim, se f é contı́nua,
F −1 (F(f )) = f. (8.8)
Exemplo 8.3. A transformada de Fourier de uma função absolutamente integrável, apesar de ser uma
função contı́nua, não é em geral uma função absolutamente integrável. O contra-exemplo clássico é a
função pulso ½
1 se |x| 6 1,
f (x) =
0 se |x| > 1.
De fato, calculando a transformada de Fourier de f , obtemos
Z ∞ Z 1
1 1 1 ¯1
fb(ω) = √ f (t)e−iωt dt = √ e−iωt dt = − √ e−iωt ¯−1
2π −∞ 2π −1 2πiω
1 ¡ −iω ¢ 1
= −√ e − eiω = − √ (cos ω − i sen ω − cos ω − i sen ω)
2πiω 2πiω
2i sen ω 2 sen ω
= √ = √ .
2πiω 2πω
Segue que a transformada de Fourier de f é a função
r
b 2 sen ω
f (ω) = ,
π ω
que não é uma função absolutamente integrável, como pode ser verificado. Observe porém que a
descontinuidade da função pulso foi suavizada pela sua transformada de Fourier, já que fb é uma
função contı́nua. Com efeito,
Z ∞ Z 1 r
1 1 2 2
fb(0) = √ f (t)e−iω0 dt = √ dx = √ =
2π −∞ 2π −1 2π π
e portanto lim fb(ω) = fb(0). Isso não foi um acidente e é sempre verdade.
ω→0
Teorema 8.4. Se f : R → R é uma função absolutamente integrável, então sua transformada de Fourier
fb : R → C é uma função contı́nua e limitada. Se, além disso, fb for absolutamente integrável, então f
é contı́nua.
A transformada de Fourier da função pulso no Exemplo 8.3 é uma função real porque ela é uma função
par. Em geral, a transformada de Fourier de uma função real é uma função complexa, como no próximo
exemplo.
Temos
Z ∞ Z ∞ Z ∞
1 1 1
fb(ω) = √ f (t)e −iωt
dt = √ e −t−iωt
dt = √ e−(1+iω)t dt
2π −∞ 2π 0 2π 0
1 ¯∞
¯
= −√ e−(1+iω)t ¯ .
2π(1 + iω) 0
¯ ¯
Como ¯e−iωt ¯ = 1, segue que
¯ ¯ ¯ ¯¯ ¯ ¯ ¯
¯ ¯
lim ¯e−(1+iω)t ¯ = lim ¯e−t ¯ ¯e−iωt ¯ = lim ¯e−t ¯ = 0,
t→∞ x→∞ t→∞
logo
1 1 − iω
fb(ω) = √ =√ .
2π(1 + iω) 2π(1 + ω 2 )
Se f : R → C é uma função duas vezes diferenciável absolutamente integrável tal que f 0 e f 00 também
são funções absolutamente integráveis, então
Em geral, se f : R → C é uma função k vezes diferenciável absolutamente integrável tal que as suas
derivadas até a ordem k também são funções absolutamente integráveis, então
Se f : R → C é uma função absolutamente integrável tal que x2 f (x) também é uma função absoluta-
mente integrável, então
F(xf (x))(ω) = −F(f )00 (ω).
Em geral, se f : R → C é uma função absolutamente integrável tal que xk f (x) também é uma função
absolutamente integrável, então
Multiplicando ambos os lados por −i obtemos a primeira fórmula. As outras fórmulas seguem da aplicação
iterada da primeira. ¥
Se a < 0, temos
Z ∞ Z −∞
1 1 ω 1
F(f (ax))(ω) = √ f (at)e−iωt dt = √ f (t)e−i a t dt
2π −∞ 2π ∞ a
Z ∞ ³ω ´
1 1 ω 1
= √ f (t)e−i a t dt = F(f (x)) .
−a 2π −∞ |a| a
¥
A convolução de duas funções absolutamente integráveis f, g é definida como sendo a função
Z ∞
(f ∗ g)(x) = f (x − t)g(t) dt. (8.9)
−∞
Podemos assegurar que ela está bem definida (isto é, a integral imprópria que a define converge para todo
x), se as funções f e g, além de serem absolutamente integráveis, são também quadrado-integráveis, isto é,
seus quadrados também são absolutamente integráveis:
Z ∞ Z ∞
2 2
|f (t)| dt, |g(t)| dt < ∞.
−∞ −∞
a2 b2
|ab| 6 + ,
2 2
válida para todos a, b ∈ R, segue que
¯Z ∞ ¯ Z ∞ Z Z
¯
¯
¯
¯6 1 ∞ 2 1 ∞ 2
¯ f (x − t)g(t) dt¯ |f (x − t)g(t)| dt 6 |f (x − t)| dt + |g(t)| dt < ∞.
−∞ −∞ 2 −∞ 2 −∞
Denotamos o espaço das funções quadrado-integráveis na reta por L2 (R). Além disso, a convolução de
funções absolutamente integráveis, quando está definida, é também uma função absolutamente integrável,
de modo que a sua transformada de Fourier está definida:
Z ∞ Z ∞Z ∞ Z ∞ µZ ∞ ¶
|(f ∗ g)(x)| dx 6 |f (x − t)| |g(t)| dt dx = |g(t)| |f (x − t)| dx dt
−∞ −∞ −∞ −∞ −∞
Z ∞ µZ ∞ ¶ µZ ∞ ¶ µZ ∞ ¶
= |g(t)| |f (x)| dx dt = |f (x)| dx |g(t)| dt
−∞ −∞ −∞ −∞
< ∞.
A transformada de Fourier comporta-se extremamente bem em relação a convoluções: ela transforma con-
volução de funções essencialmente em produto de funções:
Aplicando a transformada de Fourier a ambos os lados desta equação, obtemos (usando as Propriedades 1,
2 e 3)
iω fb(ω) + aifb0 (ω) = 0
ou
ω
fb0 (ω) + fb(ω) = 0.
a
Resolvendo esta equação através de uma integração simples, obtemos
2
fb(ω) = Ce− 2a
ω
Rodney Josué Biezuner 201
ω ω
para alguma constante C. [Em uma notação mais usual, a equação diferencial é y 0 + y = 0, donde y 0 = − y
a a
y0 ω 2
ou = − ; integrando ambos os lados desta equação obtemos log y = − ω2a + C e daı́ o resultado acima.]
y a
A constante C pode ser determinada através da integral imprópria relembrada acima:
Z ∞ Z ∞ r Z ∞
b 1 1 − at2
2 1 2 2 1
C = f (0) = √ f (t) dt = √ e dt = √ e−s ds = √ .
2π −∞ 2π −∞ 2π a −∞ a
¥
x2
A função gaussiana e− 2 não é a única função cuja transformada de Fourier é ela própria.
Rodney Josué Biezuner 202
½
e−ax se x > 0, 1 1
12. , a > 0. √
0 se x < 0, 2π a + iω
½
0 se x > 0, 1 1
13. , a > 0. √
eax se x < 0, 2π a − iω
µ ¶
n Γ(n + 1) 1 1
14. |x| e−a|x| , a > 0, n > 0. √ +
2π (a − iω)n+1 (a + iω)n+1
a 2 1 ω2
15. e− 2 x , a > 0. √ e− 2a
a
Rodney Josué Biezuner 203
8.2.5 Exercı́cios
Exercı́cio 8.4. Calcule a transformada de Fourier das funções a seguir (em todos os casos, a > 0).
½ ½
1 se |x| < a, x se |x| < 1,
a) f (x) = g) f (x) =
0 se |x| > a. 0 caso contrário.
½
−|x| x2 se |x| < 1,
b) f (x) = e . h) f (x) =
0 caso contrário.
½ ½
e−|x| se |x| < 1, 1 − |x| se |x| < 1,
c) f (x) = i) f (x) =
0 se |x| > 1. 0 caso contrário.
½ ½
ex se x < 0, 1 − x2 se |x| < 1,
d) f (x) = j) f (x) =
0 se x > 0. 0 caso contrário.
½ ( x
sen x se |x| < π, 1− se |x| < a,
e) f (x) = k) f (x) = a
0 caso contrário. 0 se |x| > a.
( π
cos x se |x| < ,
f ) f (x) = 2
0 caso contrário.
F 2 (f )(x) = f (−x).
(c) Conclua que f é uma função par se e somente se F 2 (f ) = f ; f é uma função ı́mpar se e somente
se F 2 (f ) = −f .
(d) Mostre que para qualquer função f temos F 4 (f ) = f .
Exercı́cio 8.7. Use o exercı́cio anterior e transformadas de Fourier de funções conhecidas para calcular as
transformadas de Fourier das seguintes funções:
cos x sen 2x
a) f (x) = x2 . b) f (x) = |x| .
e e
cos x + cos 2x sen x + cos 2x
c) f (x) = . d) f (x) = .
x2 + 1 x2 + 4
½ ½
cos x se |x| < 1, sen x se |x| < 1,
e) f (x) = f ) f (x) =
0 se |x| > 1. 0 se |x| > 1.
Rodney Josué Biezuner 204
Exercı́cio 8.8. Use uma transformada de Fourier conhecida e as propriedades operacionais para calcular a
transformada de Fourier das funções a seguir.
½
x se |x| 6 1, x2
a) f (x) = f ) f (x) = .
0 se |x| > 1. (1 + x2 )2
2 2
b) f (x) = xe−x . g) f (x) = (1 − x2 )e−x .
u
dxx (ω, t) = iωb
u(ω, t),
2
u
dxx (ω, t) = (iω) ub(ω, t) = ω 2 u
b(ω, t),
ou seja, derivadas espaciais são transformadas em expressões que envolvem apenas a função u b(ω, t) multi-
plicada por um monômio em ω. Por outro lado, derivando dentro do sinal de integração com relação a t,
temos que
Z ∞ µ Z ∞ ¶
1 d 1
ubt (ω, t) = √ ut (x, t)e−iωx dx = √ u(x, t)e−iωx dx = u
bt (ω, t),
2π −∞ dt 2π −∞
o que significa que a derivada temporal é preservada pela transformada de Fourier. Assim, vemos que quando
aplicamos a transformada de Fourier a uma equação diferencial parcial em duas variáveis, as derivadas
parciais espaciais desaparecem e apenas as derivadas temporais permanecem. Em outras palavras, aplicando
a transformada de Fourier transformamos a equação diferencial parcial em uma equação diferencial ordinária
em t. Esta observação é a essência do método da transformada de Fourier para resolver equações diferenciais
parciais. Em resumo, o método funciona da seguinte maneira:
Passo 1: Obtenha a transformada de Fourier de todas as equações envolvidas (i.e., a equação diferencial
parcial e a condição inicial).
Passo 2: Resolva a equação diferencial ordinária, obtendo a solução ub(ω, t).
Passo 3: Aplique a transformada de Fourier inversa a u b(ω, t) para obter u(ω, t).
À tı́tulo de exemplo, vamos aplicar este método às equações do calor e da onda.
Rodney Josué Biezuner 205
fb(ω) = u
b(ω, 0) = C(ω).
Portanto,
2
b(ω, t) = fb(ω)e−kω t .
u (8.12)
Tomando transformadas de Fourier inversas de ambos os lados da equação, obtemos
Z ∞
1 2
u(x, t) = √ fb(ω)e−kω t eixω dω. (8.13)
2π −∞
Às vezes, no entanto, esta solução não é conveniente em certas aplicações práticas. Usando a propriedade da
transformada de Fourier com relação a uma convolução, podemos obter uma solução em termos da condição
inicial f (x). De fato, voltando à equação que dá a solução ub(ω, t), observamos que a segunda função do
lado direito é uma gaussiana em ω que, conforme vimos anteriormente, a menos de uma constante é a
transformada de Fourier dela própria. Mais precisamente,
a 2 1 ω2
F(e− 2 x ) = √ e− 2a .
a
Daı́, se r
1 − x2
g(x) = e 4kt ,
2kt
então 2
gb(ω) = e−kω t .
[Tome a = 1/(2kt).] Logo, podemos escrever
b(ω, t) = fb(ω)b
u g (ω).
Lembrando agora que a transformada√de Fourier de uma convolução é o produto das transformadas de
Fourier das funções multiplicadas por 2π, ou seja
1
fb(ω)b
g (ω) = √ f[∗ g(ω),
2π
segue que
1
b(ω, t) = √ f[
u ∗ g(ω).
2π
Rodney Josué Biezuner 206
Esta é a solução da equação do calor em uma barra infinita, e além disso a única solução do problema,
se entendermos por solução uma função contı́nua e limitada em t > 0 (existem outras soluções, mas elas
não são limitadas, e do ponto de vista fı́sico esperamos que a solução do problema seja uma distribuição de
temperaturas limitada).
Assumimos que as funções f, g são contı́nuas, limitadas e absolutamente integráveis. Aplicando a transfor-
mada de Fourier a este problema, obtemos a equação diferencial ordinária em t
ubtt (ω, t) = c2 ω 2 u
b(ω, t)
b(ω, 0) = fb(ω),
u
u
bt (ω, 0) = gb(ω).
u
b(ω, t) = A(ω) cos cωt + B(ω) sen cωt.
fb(ω) = u
b(ω, 0) = A(ω),
gb(ω) = u
bt (ω, 0) = cωB(ω).
Rodney Josué Biezuner 207
Portanto,
gb(ω)
b(ω, t) = fb(ω) cos cωt +
u sen cωt.
cω
Aplicando a transformada de Fourier inversa, obtemos a solução do problema:
Z ∞· ¸
1 b gb(ω)
u(x, t) = √ f (ω) cos cωt + sen cωt eiωx dω. (8.16)
2π −∞ cω
1
Solução: Denotando f (x) = , segue que
1 + x2
r
π −|ω|
b(ω, t) = fb(ω) cos ωt =
u e cos ωt.
2
Logo,
r r µ ¶
π −1 −|ω| π −1 eiωθ + e−iωθ −|ω|
u(x, t) = F (e cos ωt) = F e
2 2 2
µ r ¶ µ r ¶
1 π −|ω| 1 π −|ω|
= F −1 eiωθ e + F −1 e−iωθ e
2 2 2 2
µ ¶
1 1 1
= + ,
2 1 + (x + t)2 1 + (x + t)2
µr ¶
−1 π −|ω| 1
usando a propriedade da transformada de Fourier de uma translação, pois F e = .
2 1 + x2
Observe que esta resposta coincide com a solução de D’Alembert.
8.3.3 Exercı́cios
Exercı́cio 8.9. Resolva a equação do calor ou da onda dada. Em todos os casos, assuma −∞ < x < ∞ e
t > 0.
Rodney Josué Biezuner 208
utt = uxx (
u = uxx
π π
tt 1
cos x se − 6x6 ,
a) u(x, 0) = b) u(x, 0) = 2 2
4 + x2
0 caso contrário,
ut (x, 0) = 0.
ut (x, 0) = 0.
½ ut = 1
ut = uxx se − ∞ < x < ∞ e t > 0, 100 u½
xx
c) 2 d) 100 se − 1 6 x 6 1,
u(x, 0) = e−x se − ∞ < x < ∞. u(x, 0) = .
0 se x > 1.
utt = uxx r u = uxx
t (
2 sen x |x|
e) u(x, 0) = f) 1− se − 2 6 x 6 2, .
π x u(x, 0) =
2
ut (x, 0) = 0. 0 se x > 1.
ut = 1
ut = 41 uxx½
100 u
xx
100 se − 2 < x < 0,
g) 20 se − 1 6 x 6 1, h)
u(x, 0) =
u(x, 0) = 50 se 0 < x < 1,
0 se x > 1.
0 caso contrário.
( ½
ut = uxx ut = uxx
i) 100 j)
u(x, 0) = . u(x, 0) = e−|x| .
1 + x2
Exercı́cio 8.10. Usando o método da transformada de Fourier, resolva o problema de valor inicial dado.
Em todos os casos, assuma −∞ < x < ∞ e t > 0.
uxt = uxxr ½
utt = uxxxx
a) π −|x| b)
u(x, 0) = e u(x, 0) = f (x).
2
½ ½
3ut + ux = 0 aut + bux = 0
c) d)
u(x, 0) = f (x). u(x, 0) = f (x).
½ ½
ut + tux = 0 ut = t2 ux
e) f)
u(x, 0) = f (x). u(x, 0) = 3 cos x.
½ ½
ut + a(t)ux = 0 ut + (sen t)ux = 0
g) h)
u(x, 0) = f (x), u(x, 0) = sen x.
½ ½
ut = ux ut = tuxx
i) j)
u(x, 0) = f (x). u(x, 0) = f (x),
½ utt + 2ut = −u
ut = a(t)uxx
k) , a(t) > 0. l) u(x, 0) = f (x),
u(x, 0) = f (x),
ut (x, 0) = g(x).
½ ½
ut = e−t uxx ut = tuxxxx
m) n)
u(x, 0) = 100, u(x, 0) = f (x),
utt = uxxt utt − 4uxxt + 3uxxxx
o) u(x, 0) = f (x), p) u(x, 0) = f (x),
ut (x, 0) = g(x). ut (x, 0) = g(x).
Rodney Josué Biezuner 209
Exercı́cio 8.11. Resolva o problema do calor com convecção na barra infinita (isto é, existe troca de calor
da barra com o meio ambiente):
½
ut = c2 uxx + kux se − ∞ < x < ∞ e t > 0,
u(x, 0) = f (x) se − ∞ < x < ∞.
Exercı́cio 8.12. Resolva o problema da vibração da corda infinita com amortecimento (b > 0):
utt = c2 uxx − 2but se − ∞ < x < ∞ e t > 0,
u(x, 0) = f (x) se − ∞ < x < ∞,
ut (x, 0) = g(x) se − ∞ < x < ∞.
é dada por Z ∞
y f (s)
u(x, y) = ds.
π −∞ (x − s)2 + y 2
Use esta fórmula (chamada a fórmula integral de Poisson) para resolver o problema de Dirichlet para
½
100 se − 1 6 x 6 1,
f (x) =
0 se x > 1.
De posse desta propriedade e usando também o exercı́cio anterior, resolva o problema de Dirichlet para
1
f (x) = . Quais são as isotermas neste caso?
1 + x2
Referências Bibliográficas
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Jersey, 2000.
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de Contorno, 7a. Ed., LTC, Rio de Janeiro, 2002.
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3a. Ed., Prentice-Hall do Brasil, Rio de Janeiro, 1995.
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210