História Da América II
História Da América II
História Da América II
Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.a Brigitte Grossmann Cairus
Prof. Roberto Henrique Wolter
Prof. Thiago Rodrigo da Silva
C136h
ISBN 978-65-5663-018-2
CDD 970
Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico! Como podemos refletir acerca das transformações
históricas ocorridas na América Latina nos últimos cinco séculos a partir
de um viés cultural, social, político, religioso e de gênero? Quais seriam
as principais especificidades dessas categorias na América espanhola e
portuguesa e suas influências ibéricas, africanas, nativas e alhures?
III
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
V
LEMBRETE
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
VI
Sumário
UNIDADE 1 – ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA............................................................1
VII
TÓPICO 2 – MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL
E COLONIAL......................................................................................................................85
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................85
2 MULHERES NA AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA........................................................................86
2.1 CASAMENTO...................................................................................................................................87
2.2 HERANÇAS E PROPRIEDADES...................................................................................................89
2.3 TRABALHO.......................................................................................................................................90
2.4 RELIGIOSIDADE . ...........................................................................................................................90
3 COLONIZAÇÃO E GÊNERO.............................................................................................................93
3.1 OS PRIMEIROS ANOS DE COLONIZAÇÃO..............................................................................94
3.2 MAIAS E COLONIZADORES ESPANHÓIS................................................................................96
3.3 MULHERES INDÍGENAS: OBJETO DE TROCA, DE DOAÇÃO OU DE ESPÓLIO.............97
3.4 HERNÁN CORTÉS, MALINCHE E A CONQUISTA DE TENOCHTITLÁN.........................98
3.5 MULHERES INDÍGENAS E EUROPEUS: OUTROS ELEMENTOS DA RELAÇÃO...........100
3.6 OS IMPACTOS DA CHEGADA DE MULHERES EUROPEIAS À AMÉRICA COLONIAL......101
3.7 MULHERES INDÍGENAS: O TRABALHO APÓS A CONQUISTA ESPANHOLA.............102
3.8 IMPACTOS DA COLONIZAÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO POPULACIONAL........................103
3.9 IGREJA CATÓLICA E AS MISSÕES............................................................................................104
4 AMÉRICA DO NORTE: COLONIZAÇÃO, GÊNERO E RELIGIÃO .......................................106
4.1 CANADÁ: OS INDÍGENAS HURONS-WENDATS..................................................................108
4.2 ESTADOS UNIDOS: SIOUX E CHEROKEES.............................................................................110
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................113
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................116
VIII
TÓPICO 2 – O ESTADO NA AMÉRICA LATINA...........................................................................165
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................165
2 O ESTADO NA AMÉRICA LATINA...............................................................................................165
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................179
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................180
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................211
IX
X
UNIDADE 1
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles, você encontrará
autoatividades que o ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.
CHAMADA
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
ARTE PRÉ-COLOMBIANA
1 INTRODUÇÃO
A arte pré-colombiana latino-americana possui qualidades estéticas,
funções sociais, técnicas e estilos bastante distintos de arte europeia e se
desenvolveu em um conjunto de civilizações cujas realizações intelectual e
artística seria capaz de rivalizar com os da antiga China, Índia, Mesopotâmia e
do mundo mediterrâneo. Ela engloba todos os itens de arte criados por distintos
povos indígenas ou nativos antes da vinda de Colombo e da influência espanhola
e portuguesa. Além disso, não há uma única arte pré-colombiana, como veremos
durante este tópico, as diferentes obras de arte das culturas pré-colombianas
são caracterizadas pela grande riqueza e variedade. A arte pré-colombiana é
determinada por um grupo de representações intelectuais e artísticas como a
escultura, arquitetura, arte rupestre, pintura, cerâmica, metais e têxteis, que foram
criadas no continente sul americano em fase pré-colombiana e oferecem um acesso
privilegiado para o conhecimento das culturas que os criaram (CAUSIL, 2016).
3
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
FONTE: <https://www.pagina3.com.br/imagens/colunas/upload/Balsa%20Muisca.jpg>.
Acesso em: 28 jan. 2020.
FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2018/07/
localiza%C3%A7%C3%A3o-dos-incas-maias-e-astecas.jpg>. Acesso em: 14 abril 2019.
4
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-COLOMBIANA
E
IMPORTANT
5
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
FONTE: <http://www.mayuc.com/wp-content/uploads/2018/02/machupicchu-1.jpg>.
Acesso em: 14 abr. 2019.
FONTE: <https://cache-graphicslib.viator.com/graphicslib/media/6a/-photo_31782506-674x446.jpg>.
Acesso em: 13 out. 2019.
6
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-COLOMBIANA
7
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/07/4a/62/074a62f28c0218d211c9239a558a162b--aztec-
art-inca.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2019.
8
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-COLOMBIANA
FONTE: <https://assets.catawiki.nl/assets/2018/4/30/1/e/f/1ef4ea31-2b28-4699-8c08-
1ef2dc004776.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2019.
9
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
10
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-COLOMBIANA
FONTE: <https://image.freepik.com/foto-gratis/escultura-maya_65844-103.jpg>.
Acesso em: 14 abr. 2019.
11
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
• Na pintura: a pintura não foi menor. O gênero e a posição social eram expressos,
em cores distintas, dentro de cada representação pictórica. As cenas se referiam
a sacrifícios humanos ou hostilidades entre povos vizinhos, servindo de
fonte de informação de suas relações diplomáticas, guerreiras, hierárquicas,
cerimoniais e judiciais (CHASS, 2006).
FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/c7/18/d1/c718d1e8e4fc9d753382e40b272157b5.jpg>.
Acesso em: 14 abr. 2019.
FONTE: <https://traffickingculture.org/app/uploads/2012/08/Pakal-Mask-Source-Unknown-
300x199.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2019.
12
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-COLOMBIANA
FONTE: <https://www.ancient-origins.net/sites/default/files/field/image/TENOCHTITLAN-map.jpg>.
Acesso em: 14 abr. 2019.
FONTE: <https://static1-directoriodehote.netdna-ssl.com/files/atractivos/1064/A5_1064.jpg>.
Acesso em: 14 abr. 2019.
13
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
14
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-COLOMBIANA
FONTE: <https://tuul.tv/cultura/asi-fue-como-bernal-diaz-del-castillo-describio-el-templo-mayor>.
Acesso em: 14 abr. 2019.
FONTE: <https://culturesnclay.files.wordpress.com/2009/04/rain-deity.jpg?w=700&h=>.
Acesso em: 14 abr. 2019
15
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
NOTA
FONTE: <https://cdn.kastatic.org/ka-perseus-images/4363cb475d7f019850c0737c38ddd367049
88a60.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2019.
16
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-COLOMBIANA
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/dd/Feather_headdress_
Moctezuma_II.JPG/350px-Feather_headdress_Moctezuma_II.JPG>. Acesso em: 14 abr. 2019.
• Na lapidação de pedras: os astecas tinham uma forte atração por pedras preciosas
de todos os tipos. Uma vez que a cultura asteca era neolítica, as ferramentas eram
predominantemente feitas de pedra e cobre. Obsidiana e pederneira eram usadas
para fazer facas sacrificiais, tão valiosas para os rituais, a obsidiana também foi
usada como raspador e para fazer outros utensílios domésticos para cortar. Os
mexicanos eram particularmente hábeis em esculpir pedras duras de diferentes
cores e superfícies brilhantes, como pedra verde, pórfiro, obsidiana, cristal de
rocha, turquesa e ônix. Uma grande variedade de esculturas, vasos e peças
de joalheria foram criadas com estas pedras. Na arte lapidar, os astecas faziam
peças elaboradas de cristal de rocha, ametista, jade, turquesa e obsidiana, entre
outras pedras importantes, além de madrepérola. Eles organizaram pequenos
pedaços de pedra com os quais formaram mosaicos brilhantes sobre um fundo
de osso, estuque e madeira, feitos a partir de instrumentos de cana, areia e esmeril
(AGUILAR-MORENO, [20--]).
FONTE: <https://cdn.kastatic.org/ka-perseus-images/
b9bd72b989c4bdcf2dcbac651033156ae14ba60f.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2019
17
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
18
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-COLOMBIANA
FONTE: <http://www.oarquivo.com.br/images/thumbnails/images/Geral_22/apedraan-fill-
458x254.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2019.
FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-AB7MG3P8t0k/WTQybXa1EQI/AAAAAAAA06A/
FKx41i8FBRU7maB2b12s4A5MhDb3aT3-gCLcB/s640/Cusco%2B-%2BPeru%2B%25286%2529.JPG>.
Acesso em: 14 abr. 2019.
19
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRmZ03BLjqWUE8QAr_Z0_
IAHiI0i1K5JHp7nUZwq-4jXmngBXzX&s>. Acesso em: 28 jan. 2020.
• Na cerâmica: essas são identificadas por terem uma variedade de formas. Dentre
alguns exemplos podemos citar os vasos utilitários três pernas, usada pelos
guerreiros durante as guerras; os resistentes vasos domésticos que utilizavam o
vermelho; a enorme ânfora, com duas alças laterais. Segundo R. Ravines (2011,
p. 435, tradução nossa), “há aproximadamente 4.000 anos atrás as cerâmicas
surgiram no Peru e, desde então, houve mudanças notáveis que foram registradas
nos vários estilos de cerâmica que foram fabricados em seu território ao longo
do tempo”. Diferentes estilos podem ser reconhecidos na cerâmica peruana pré-
hispânica. Dentro dessa diversidade, doze são os que se destacam claramente por
sua originalidade, plasticidade, difusão e volume de produção. Estes estão em
ordem cronológica: Chavín, Moche, Recuay, Pucará, Paracas, Cajamarca, Nasca,
Huari/Tiahuanaco, Chimu, Chancay, Chincha e Inca.
20
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-COLOMBIANA
FONTE: <https://hablemosdeculturas.com/wp-content/uploads/2017/11/cultura-
inca24-768x994.jpg>. Acesso em: 15 out. 2019.
FONTE: <https://worldhistory.us/wp-content/uploads/2018/12/inca-tunic-696x548.jpg>.
Acesso em: 28 jan. 2020.
21
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Cada povoado, grupo étnico, tribo e nação da América Latina deixou marcada
suas crenças, esperanças, realizações em seus artefatos e em sua arte pré-
colombiana. A religião animista foi um elemento da maior importância na
vida pré-colombiana, uma vez que deificou forças naturais, lugares sagrados
e alguns objetos. A religião emanava de uma concepção de dualidade e assim
correspondia simbolismos contrários na arte.
22
AUTOATIVIDADE
2 Localizada em duas pequenas ilhas no lago Texcoco, essa cidade foi fundada
em 1325 e tornou-se capital no fim do Século XV. Através da construção de
ilhas artificiais, ela foi aumentada e passou a cobrir uma área de mais de 13
km². Em 1519, sua população era estimada em 400.000 pessoas. A capital
tinha palácios deslumbrantes e templos no topo de pirâmides e refletia a
riqueza e o poder do Império Asteca. Os astecas construíam aquedutos para
o abastecimento de água e canais que permitiam o transporte pela cidade.
Essa cidade era chamada de:
a) ( ) Tenochtitlán.
b) ( ) Machu Picchu.
c) ( ) Chichén Itzá.
d) ( ) Cusco.
23
24
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
A arte latino-americana, segundo John F. Scott (2018), inclui as tradições
artísticas que se desenvolveram na Mesoamérica, América Central e América
do Sul após o contato com os espanhóis e portugueses, começando em 1492 e
1500, respectivamente, e continuando até o presente. A descoberta europeia,
a conquista e a colonização das Américas, iniciada em 1492, criaram enormes
mudanças nas culturas indígenas da região. No momento em que os europeus
chegaram, especialmente da Espanha e Portugal, vieram com tradições de pintura
e escultura que remontam à antiguidade. Ao longo de séculos, os povos indígenas
americanos haviam formado civilizações com suas próprias e únicas práticas
artísticas, desde as grandes estruturas políticas dos impérios inca e asteca até a
presença mais dispersa de pequenos agrupamentos de povos nômades.
25
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
3 O BARROCO
Em meados do Século XVII, o estilo barroco de pintura e escultura chegou
às Américas. Os artistas que trabalhavam nesse estilo — alguns deles mestiços e
mulatos, refletindo a crescente diversidade da região — preferiam a objetividade
e clareza realistas e rejeitavam as cores fantásticas, as proporções alongadas e as
relações espaciais ilógicas e extremas preferidas pelos artistas maneiristas. Eles se
esforçaram para fazer com que os eventos religiosos descritos em suas pinturas
parecessem realistas, fazendo com que os espectadores se sentissem participantes.
Os pintores do início do estilo barroco renderam cenas dramaticamente iluminadas
de figuras em grande escala não idealizadas, colocadas contra a frente do quadro.
Esse estilo, tornado famoso por Caravaggio na Itália, tornou-se imensamente
popular entre os artistas espanhóis ativos em Sevilha, a cidade de partida para a
maioria dos colonos latino-americanos (SCOTT, 2018).
26
TÓPICO 2 | ARTE COLONIAL BARROCA
FONTE: <http://www.artchive.com/web_gallery/reproductions//193501-194000/193745/size1.jpg>.
Acesso em: 14 abr. 2019.
27
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
Embora suas obras não tenham data, o Mestre de São Jerônimo pode
muito bem ter sido um importante pintor inicial da escola de Cuzco, composta
principalmente de artistas indígenas e mestiços. Na fase inicial do barroco na
América Latina, a escultura em alto relevo era usada em fachadas e retábulos. Na
igreja de São Francisco em Santa Fé de Bogotá, Colômbia, por exemplo, o interior
de madeira tem um retábulo composto de representações bíblicas emolduradas,
que foram esculpidas e pintadas anonimamente em 1633. As cenas representam
figuras em um ambiente tropical rico que sugerem pertencer as paisagens
colombianas (SCOTT, 2018).
28
TÓPICO 2 | ARTE COLONIAL BARROCA
FONTE: <https://artecolonial.files.wordpress.com/2011/05/el-sec3b1or-de-monserrate.
jpg?w=510&h=339>. Acesso em: 14 abr. 2019.
FONTE: <https://museosdmqjennifermeza.files.wordpress.
com/2015/05/14932684538_81496deca5_b.jpg?w=351&h=233>. Acesso em: 14 abr. 2019.
29
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
30
TÓPICO 2 | ARTE COLONIAL BARROCA
FONTE: <https://www.flickr.com/photos/tachidin/22345358338/in/dateposted/>.
Acesso em: 14 abr. 2019.
FONTE: <http://www.edupedia.ec/images/edupedia/arte_colonial/artecolonial40.jpg>.
Acesso em: 14 abr. 2019.
31
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/c0/e5/83/c0e5839754ef955c1614461560657d8d.jpg>.
Acesso em: 14 abr. 2019.
32
TÓPICO 2 | ARTE COLONIAL BARROCA
FONTE: <https://admin.banrepcultural.org/sites/default/files/obra-de-arte/gallery/ap4850.jpg>.
Acesso em: 28 jan. 2020.
33
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/__xsw7_wF8KQ/SqzuJzKk53I/AAAAAAAAAU0/
J2Twq2JmSx4/s400/Parian+4.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2019.
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/50/Entrada_Virrey_
Arzobispo_Morcillo.jpg/500px-Entrada_Virrey_Arzobispo_Morcillo.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2020.
34
TÓPICO 2 | ARTE COLONIAL BARROCA
FONTE: <https://www.milenioweb.es/wp-content/uploads/2018/02/Biombo-del-encuentro-entre-
Hern%C3%A1n-Cort%C3%A9s-y-Moctezuma.-Juan-Correa-300x178.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2019.
35
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
FONTE: <http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/2542248801?profile=original>.
Acesso em: 14 abr. 2019.
FONTE: <http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/
get/2542252350?profile=RESIZE_1024x1024>. Acesso em: 14 abr. 2019.
36
TÓPICO 2 | ARTE COLONIAL BARROCA
5 O BARROCO NO BRASIL
O barroco no Brasil dominou, em termos artísticos, a maior parte do
período colonial e obteve solo fértil para um rico florescimento. O barroco foi
introduzido no país no início do Século XVII, através de missionários católicos,
especialmente jesuítas, que ali catequizavam e aculturavam os indígenas,
contribuindo assim para com o processo de colonização dos portugueses.
Durante o período colonial houve uma íntima ligação entre a Igreja e o
Estado. Dessa forma, compreendemos que a religião exercia forte influência
no cotidiano social e cultural, refletido principalmente na arte e na arquitetura
sacra da época através das esculturas, pintura e entalhe para decoração de
igrejas e conventos ou para culto privado. As características mais típicas do
barroco, geralmente descritas como um estilo dinâmico, narrativo, ornamental,
dramático, cultivando os contrastes e uma plasticidade sedutora, transmitem
um conteúdo programático articulado com refinamentos de retórica e grande
pragmatismo (HISOUR, [20--]).
FONTE: <https://arquiteturadobrasil.files.wordpress.com/2010/03/rio-saobento31.
jpg?w=300&h=198>. Acesso em: 14 abr. 2019.
A arte barroca era uma arte essencialmente funcional, que se dava muito
bem para os fins que servia: além de sua função puramente decorativa, facilitava
a absorção da doutrina católica e dos costumes tradicionais pelos neófitos, sendo
um instrumento pedagógico e catequético eficiente (HISOUR, [20--]).
37
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Durante o período colonial houve uma íntima ligação entre a Igreja e o Estado
português. O barroco foi introduzido no Brasil no início do Século XVII, através
de jesuítas, que ali catequizavam e aculturavam os indígenas, contribuindo
para com o processo de colonização dos portugueses. Em termos artísticos,
podemos afirmar que o barroco dominou artisticamente, no Brasil, a maior
parte do período colonial.
38
AUTOATIVIDADE
39
40
UNIDADE 1
TÓPICO 3
O MODERNISMO LATINO-AMERICANO
1 INTRODUÇÃO
Na história intelectual latino-americana, segundo Amy A. Oliver (2016),
o modernismo é um termo que pode ser aplicado de maneira útil e precisa por
pelo menos dois movimentos intelectuais distintos: o movimento modernista na
América Latina de língua espanhola (1880-1920) e o movimento modernista no
Brasil (1922-1945). Em suas respectivas cenas, os dois os movimentos modernistas
tiveram grande impacto e representaram rupturas culturais. Podemos constatar
que esses dois movimentos tenham origens, contextos, resultados, trajetórias e
agrupamentos de pensadores um tanto distintos, bem como legados distintos de
influência e de corpo social. Apesar das diferenças históricas, sociais e culturais,
os dois deixaram legados culturais duradouros em suas respectivas regiões.
No modernismo latino-americano, isso pode ser notado através da literatura,
filosofia, arte, arquitetura, fotografia e música (OLIVER, 2016).
41
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
42
TÓPICO 3 | O MODERNISMO LATINO-AMERICANO
Por sua vez, a arquitetura mexicana pode ser observada nos edifícios e
terrenos da Universidade Nacional Autônoma do México na Cidade do México,
projetada por Carlos Lazo, Enrique Del Moral e Mario Pani, e construída em 1950.
43
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
Sua arquitetura é famosa por incluir famosos muralistas mexicanos, como Diego
Rivera e David Alfaro Siqueiros. Ao retratar a história da cultura mexicana, o
grande mural em mosaico de pedra natural do arquiteto Juan O'Gorman enfeita
o exterior da biblioteca da universidade e serve como um marco visual na Cidade
do México (OLIVER, 2016).
FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-cDWFgLEvxn4/TkxF50jTAuI/AAAAAAAAAC8/KjdVAX5jCcg/
s400/goorman.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2019
FONTE: <http://angiehranowsky.com/wp-content/uploads/2015/06/Luis_Barragan_
Mexico_City_0.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2020.
44
TÓPICO 3 | O MODERNISMO LATINO-AMERICANO
3 O MODERNISMO NO BRASIL
No Brasil, o modernismo serviu como uma ruptura perante influências
europeias que dominaram as artes no Brasil, e perante a eclosão da Primeira
Guerra Mundial. Considerado o “papa” do modernismo, Mário de Andrade,
concebia o movimento como um estado de espírito rebelde e revolucionário. Se
o modernismo hispano-americano visava primariamente a inovação poética e
literária na tradição latino-americana, o modernismo na América Latina de língua
portuguesa era um tipo essencialmente diferente de movimento.
<https://www.diariodepernambuco.com.br/static/app/noticia_
127983242361/2016/02/11/626480/20160211154238388129o.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2019.
45
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
FONTE: <https://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/011530001019.jpg>.
Acesso em: 14 abr. 2020.
46
TÓPICO 3 | O MODERNISMO LATINO-AMERICANO
FONTE: <http://s2.glbimg.com/ZK4uHeqKDotCRwsSxCZbDtak2Ls=/e.glbimg.com/og/ed/f/
original/2016/10/24/tela_cafe_candido_portinari.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2020.
48
TÓPICO 3 | O MODERNISMO LATINO-AMERICANO
Mário de Andrade, por sua vez, encarnava o movimento tão bem porque
praticava em muitas das disciplinas associadas ao modernismo paulistano:
era poeta, romancista, musicólogo, historiador da arte e fotógrafo. Seu ensaio
informativo, O movimento modernista, de Andrade (1942), foi uma reminiscência
e análise da Semana de Arte Modernista vinte anos após o evento, digna de
nota pela valorização da diversidade cultural e racial brasileira (rural, africana
e indígena). Enquanto a Semana da Arte Modernista em 1922 foi crucial para
a explosão modernista da literatura, música e pintura, ela teve pouco efeito
na arquitetura, que chegou ao modernismo mais de uma década depois e foi
encorajada pelo Presidente Getúlio Vargas.
49
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
FONTE: <https://cdn.culturagenial.com/imagens/catedral-de-brasilia-cke.jpg>.
Acesso em: 14 abr. 2020.
50
TÓPICO 3 | O MODERNISMO LATINO-AMERICANO
LEITURA COMPLEMENTAR
Como historiador da arte, acho difícil acreditar que possa haver muitos
lugares no mundo hoje onde há mais coisas em jogo sobre a arte do que na
América Latina. De fato, a América Latina, desde seu início em 1492, tem sido
uma região caracterizada pela luta de imagens, sejam elas lícitas ou ilícitas,
próprias ou impróprias, ortodoxas ou heterodoxas, desejadas ou não. Nunca se
pode ficar muito longe da intensidade política, religiosa, econômica e cultural
que circula em torno das imagens, em particular no que diz respeito à sua criação
ou destruição. Colombo, é claro, nunca se convenceu de que o que ele havia visto
era diferente de seu próprio mundo. Mas, mesmo depois da revelação de que
as Américas representavam um mundo novo e, portanto, desconhecido, elas se
tornaram parte do Velho Mundo (a Europa), conhecido por pressagiar e depois
espelhar a grande iconoclastia da reforma da Europa.
51
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
INTI EM OURO
52
TÓPICO 3 | O MODERNISMO LATINO-AMERICANO
TAPEÇARIA DE PARACAS
53
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
Histórias como essa são comuns nos Andes e em outros lugares, mas não
são apenas nas pequenas comunidades onde as obras de arte se encontram no
coração da comunidade. Muitos países latino-americanos modernos abraçaram
seus artistas, pedindo-lhes que articulem visualmente as aspirações, a história e
os sonhos da nação. O México é certamente o exemplo mais importante. Diego
Rivera, José Orozco e David Siqueiros deram ao México um rico acervo de
pinturas murais e a óleo que expressam suas lutas históricas e triunfos.
54
TÓPICO 3 | O MODERNISMO LATINO-AMERICANO
MANIFESTO ANTROPÓFAGO
55
UNIDADE 1 | ARTE E HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
É evidente que a imagem foi criada com um intuito crítico e que alguns
equatorianos ficaram cativados com ela. Ao mesmo tempo, porém, era difícil
refutar a intervenção da CIA na soberania do Equador, dadas as revelações
de Philip Agee em Inside the Company: Diário da CIA, publicado em 1975. Mas
o que realmente veio a ser o foco do debate não foi tanto o fato polêmico em
si, mas se o Estado, uma vez patrono do artista, devesse agir com censura em
relação à expressão própria daquele artista. Um programa de televisão chamado
Libertad de Expresión ofereceu um debate público sobre a questão, assim como os
editoriais dos jornais. O sentimento geral girou em torno da questão da tolerância
em relação à expressão política, especialmente de visões de oposição, mesmo em
lugares públicos e pagos por verbas públicas.
NOTA
FONTE: CUMMINS, T. Latin American Art: Politics, History and Aesthetics. Revista: Harvard Review
of Latin America. 2000. Disponível em: https://revista.drclas.harvard.edu/book/latin-american-art.
Acesso em 26 mar. 2019.
56
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
57
AUTOATIVIDADE
2 A Semana de Arte Moderna, que ocorreu em São Paulo em 1922, foi tida
como um evento modernista marcante na história da cultura brasileira.
Organizado por um grupo de intelectuais e artistas por ocasião do
Centenário da Independência, o evento estabeleceu o rompimento com
o tradicionalismo cultural associado às correntes literárias e artísticas
anteriores: o parnasianismo, o simbolismo e a arte acadêmica. Com relação
à Semana de Arte Moderna 1922, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:
58
UNIDADE 2
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada tópico, você
encontrará autoatividades que objetivam auxiliar na sua compreensão dos
temas abordados.
CHAMADA
59
60
UNIDADE 2
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico, estudaremos temas relacionados à história das
mulheres e das relações de gênero na América. Para que possamos fazer uma leitura
acurada destes temas, é fundamental que tenhamos, no presente, o conhecimento
das diversas ferramentas teóricas que possibilitam ao historiador, ou ao professor de
História, compreender o seu objeto de estudo. Nesse sentido, o Tópico 1, intitulado
Feminismo, gênero e história das mulheres, abordará a América através da participação
das mulheres nas ondas feministas, no pensamento feminista, e na constituição
do campo de saber da história das mulheres e das relações de gênero. Iniciaremos
os nossos estudos pelo Século XX, para que, nos próximos dois tópicos, possamos
compreender a América pré-colonial e colonial através das lentes das pesquisas
sobre a história das mulheres e das relações de gênero.
61
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
62
TÓPICO 1 | FEMINISMO, GÊNERO E HISTÓRIA DAS MULHERES
3 AS ONDAS DO FEMINISMO
Historicamente, o pioneirismo nos estudos de gênero está relacionado ao
movimento feminista. No entanto, caro acadêmico, o termo gênero aparecerá nas
pesquisas acadêmicas apenas na segunda onda do feminismo. Por isso, antes de
nos aprofundarmos sobre o termo, ou categoria gênero, é relevante recordarmos
o que são as ondas do feminismo.
NOTA
FONTE: <https://a.scpr.org/i/6b451c2db769c0675003152857fc18e6/5389-full.jpg>.
Acesso em: 10 jan. 2020.
63
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
NOTA
64
TÓPICO 1 | FEMINISMO, GÊNERO E HISTÓRIA DAS MULHERES
E
IMPORTANT
65
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
NOTA
66
TÓPICO 1 | FEMINISMO, GÊNERO E HISTÓRIA DAS MULHERES
NOTA
DICAS
67
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
ATENCAO
E
IMPORTANT
68
TÓPICO 1 | FEMINISMO, GÊNERO E HISTÓRIA DAS MULHERES
NOTA
E
IMPORTANT
69
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
70
TÓPICO 1 | FEMINISMO, GÊNERO E HISTÓRIA DAS MULHERES
5 GÊNERO E HISTÓRIA
Como vimos, foi na transição entre a segunda e a terceira onda do
feminismo que os estudos de gênero passaram a ocupar um lugar de destaque
entre os estudos feministas. É neste período, mais especificamente na segunda
metade da década de 1980, que a categoria gênero encontra considerável
espaço nas pesquisas das ciências humanas e sociais. Por serem áreas ainda
predominantemente masculinas, e amplamente ligadas aos temas tradicionais,
as tentativas iniciais de inserção do gênero nas pesquisas desencadeou uma série
de debates e acarretou filiações e discordâncias. De todo modo, assim como a
utilização das categorias raça/etnia e classe, as perspectivas analíticas centradas
na categoria gênero ampliaram o campo de estudo de diversas ciências humanas
e sociais, com destaque para a História (SOIHET; PEDRO, 2007).
DICAS
71
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
Entende-se que, para Joan Scott (1995), as mudanças sociais estão vinculadas
às relações de poder, e que essas relações devem ser analisadas historicamente,
em cada contexto, verificando quais os discursos que fundamentam e validam as
diferenciações sociais, entre elas as diferenças de gênero. O gênero ocupa, nessa
configuração, posição de centralidade na produção de saberes amparados nas
diferenças sociais fundamentadas no sexo.
NOTA
72
TÓPICO 1 | FEMINISMO, GÊNERO E HISTÓRIA DAS MULHERES
DICAS
E
IMPORTANT
73
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
Vale lembrar que, nos estudos de gênero, com base nos teóricos pós-
estruturalistas, o sujeito é descentralizado, despossuído de uma identidade
universal, tal como o homem do humanismo, que possa ser elevado ao posto
de representante de toda a humanidade, ou de uma parcela dela. Para os pós-
estruturalistas os atributos do homem do humanismo, o mesmo adotado pelo
Iluminismo, não encontravam respaldo na realidade, esta fragmentada e
permeada por múltiplas identidades (RAGO, 1998a).
74
TÓPICO 1 | FEMINISMO, GÊNERO E HISTÓRIA DAS MULHERES
NOTA
E
IMPORTANT
FONTE: MATOS, M. I. História das Mulheres e Gênero: usos e perspectivas. In: MELO, H. P.
de et al. (Org.). Olhares feministas. Brasília: Ministério da Educação, 2007. p. 286. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=639-
vol10feministas-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 20 dez. 2019.
75
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
DICAS
76
TÓPICO 1 | FEMINISMO, GÊNERO E HISTÓRIA DAS MULHERES
DICAS
Margareth Rago (1998, p. 89) comenta que o gênero foi definido como a
“construção social e cultural das diferenças sexuais” e que o desconhecimento
sobre esta categoria analítica trouxe desconforto para historiadoras e historiadores.
Contribuiu para esse desconforto o fato de a categoria gênero ser uma categoria
aberta, não delineada, ao contrário de conceitos acabados com o de classe, este
amplamente utilizado pelas teóricas feministas brasileiras. A desconfiança na
categoria de análise histórica gênero não se circunscreveu às Américas. Na França,
a incorporação da categoria gênero encontrou resistência até mesmo entre em
uma parcela considerável de feministas (RAGO, 1998a).
E
IMPORTANT
77
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
NOTA
78
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
79
• Ao final dessa segunda onda, mulheres negras, moradoras de periferia,
lésbicas, entre outras, passam a criticar a permanência de um modelo de mulher
condizente com os padrões da mulher branca, de classe média, ocidental e
heterossexual.
• A terceira onda do feminismo teve início na década de 1990, e teve como marco
fundante o livro Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade (1990),
da filósofa estadunidense Judith Butler.
80
• Originalmente, gênero foi uma categoria considerada mais neutra do que
mulher, mulheres, ou história das mulheres, percebidas como vinculadas à
politização do feminismo. No entanto, entende-se que história das mulheres e
estudos de gênero são campos complementares.
81
AUTOATIVIDADE
82
III- A utilização da categoria gênero pelos historiadores trouxe à tona fontes
até então desconsideradas pela historiografia, como os documentos oficiais
e os ambientes públicos.
IV- No Brasil, a inserção da categoria relacional gênero e dos estudos de
gênero ocorreu nas décadas de 1980 e 1990.
83
84
UNIDADE 2 TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Embora os povos originários tenham vivido na América milhares de
anos antes da chegada de Cristóvão Colombo, os registros documentais pré-
colombianos relacionados às mulheres são escassos. Sabemos que, antes do
contato com os europeus, diversas civilizações floresceram e desapareceram na
região que viria a ser chamada de América. Em muitas dessas sociedades era
comum ocorrer a troca ou a adesão a sistemas políticos, econômicos, sociais e
religiosos de outros povos. Algumas cidades-estado desenvolveram culturas
complexas, sendo que, em parte delas, os elementos religiosos motivaram a
construção de grandes edificações de pedra, sendo que parte delas perduram até
os dias atuais (SOCOLOW, 2015).
E
IMPORTANT
Nomenclatura
FONTE: <https://www.portaldasmissoes.com.br/noticias/view/id/2563/america-e-sua-populacao
-indigena-.html>. Acesso em: 7 jan. 2020.
E
IMPORTANT
86
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
FONTE: <https://en.wikipedia.org/wiki/Yohl_Ik%CA%BCnal#/media/File:Yohl_Ik'nal.svg>.
Acesso em: 24 nov. 2019.
Na cultura moche, que perdurou entre os anos 100 a.C. e 800 nos territórios
do norte do atual Peru, as mulheres aparecem, embora raramente, retratadas em
pinturas na cerâmica. Nessas pinturas, as mulheres são representadas tecendo ou
praticando relações sexuais (SOCOLOW, 2015).
2.1 CASAMENTO
Em outras evidências materiais, pode-se constatar que a presença feminina
no poder, e mesmo em funções militares, foi importante para a manutenção de
alianças dinásticas e para a criação de linhagens reais. Na sociedade maia, assim
como nas sociedades inca e asteca, era comum que líderes políticos casassem suas
filhas com governantes de outras cidades-estado. Desse modo, nessas sociedades,
o casamento dos membros das elites políticas esteve mais ligado ao poder do que
à sentimentos amorosos (SOCOLOW, 2015; FAVRE, 2004).
87
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
DICAS
88
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
DICAS
Filme: Apocalypto
Nas guerras, os povos conquistadores
capturavam homens e mulheres, os quais serviriam
de sacrifício ou seriam expostos e vendidos como
escravos nas principais cidades pré-colombianas.
No filme Apocalypto (2006), uma narrativa situada
em um período muito próximo à chegada dos
espanhóis à América, são apresentados esses e
outros elementos da civilização maia.
89
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
2.3 TRABALHO
A divisão sexual do trabalho é uma das constantes em todas as sociedades
pré-colombianas. A definição de quais trabalhos podem ser realizados por
homens, e quais podem ser realizados por mulheres variaram de sociedade
para sociedade. Um exemplo dessa variação pode ser encontrado nos afazeres
relacionados à agricultura (SOCOLOW, 2015).
No âmbito religioso, o trabalho das tecelãs podia ser visto nos adornos
e vestimentas dos sacerdotes e nas tapeçarias que decoravam as paredes dos
templos. Os tecidos também constituíram uma forma de pagamento de impostos
ao Estado asteca. Estima-se em três milhões o número de peças de tecido
requeridas pelo Estado em um ano (SOCOLOW, 2015).
2.4 RELIGIOSIDADE
Assim como na divisão sexual do trabalho, na política e na guerra, a
participação das mulheres nos assuntos ligados à religião era secundária. O caso
mais conhecido que envolve as mulheres às práticas religiosas é o das Virgens do
Sol, também chamadas de as escolhidas (acllas, em quéchua) (SOCOLOW, 2015).
90
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
DICAS
As acllas foram tema de diversas crônicas escritas por espanhóis que chegaram
ao continente americano no Século XVI. No artigo As sacerdotisas do sol: imagens sagradas
e profanas do feminino nas crônicas espanholas do Século XVI, a historiadora Susane
Rodrigues de Oliveira analisa as representações de gênero e de religiosidade, bem como as
concepções de civilização e barbárie em três crônicas. Os autores dessas crônicas são: um
missionário jesuíta, um funcionário da coroa e um frei mercedário. Boa leitura!
91
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
Para os maias, Ixchel era a deusa da lua, da medicina, dos partos, da fiação
e da tecelagem. Nas civilizações andinas, com destaque para a inca, as mulheres
eram descendentes de uma divindade feminina, e vários dos seres sagrados eram
do sexo feminino. A Mãe Terra, entre esses povos, era Pacha Mama ou Pachamama
(SOCOLOW, 2015).
FONTE: <https://cdn.britannica.com/s:700x500/00/155700-050-92D0DBD7/Coatlicue-stone-
sculpture-National-Museum-of-Anthropology.jpg>. Acesso em: 26 dez. 2019.
92
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
3 COLONIZAÇÃO E GÊNERO
Após a descoberta da América pelo navegador genovês Cristóvão
Colombo (1452-1516), em 12 de outubro de 1492, e com a divisão entre
portugueses e espanhóis dos territórios pelo Tratado de Tordesilhas (7 de
junho de 1494), a presença europeia na região nos séculos seguintes pode
ser compreendida através da sua divisão em dois períodos: colonialismo e
imperialismo. Ambos os períodos têm como marca a interferência estrangeira
no território e, evidentemente, na vida dos povos que, na visão colonialista,
foram denominados de pré-colombianos e americanos.
E
IMPORTANT
93
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
DICAS
NOTA
94
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
DICAS
Oribela é uma destas órfãs. Após ser obrigada a se casar e viver um cotidiano
de violência doméstica em um engenho de açúcar, Oribela decide fugir. Durante a sua
fuga são apresentados novos personagens e temas relevantes da história do Brasil colonial.
Alguns dos temas são: a religiosidade no Brasil da época, a situação das mulheres em
Portugal e na colônia americana no Século XVI, o matrimônio, o cotidiano do período no
Brasil, o relacionamento entre indígenas e europeus, entre outros.
95
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/5/5c/Desmundo_%282002%29
_Film_Poster.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2020.
DESMUNDO. Direção de Alain Fresnot. Intérpretes: Simone Spoladore, Osmar Prado, Caco
Ciocler. Roteiro: Sabina Anzuategui, Anna Muylaert, Alain Fresnot. Música: John Neschling.
Brasil: Columbia Pictures do Brasil, 2003. (100 min.), DVD, son., color.
96
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
O resultado foi a soma do pior dos dois mundos patriarcais: dos maias
e dos espanhóis. Apesar das sinceras conversões ao cristianismo, as
implicações religiosas sobre a igualdade das almas não tiveram um
impacto profundo sobre a igualdade de gênero na sociedade maia.
Ao mesmo tempo, algumas proteções e oportunidades que a tradição
proporcionava para as mulheres foram reduzidas. Houve uma fusão
cultural, uma forma de sincretismo, mas que com poucos ganhos
para as mulheres.
97
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
98
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/fe/Cortez_%26_La_
Malinche.jpg/440px-Cortez_%26_La_Malinche.jpg>. Acesso em: 7 jan. 2020.
99
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
Percebe-se que Malinche é uma personagem que divide opiniões. Por ter
sido mãe de uma menina e de um menino mestiços, ela é considerada por muitos
a mãe da nação mexicana. Para outros, é percebida como traidora dos povos
indígenas, pelo seu envolvimento com Cortés, e por ter participado da conquista
espanhola que decorreu na decadência da civilização asteca (SOCOLOW, 2015).
DICAS
100
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5e/Mestiso_1770.
jpg/200px-Mestiso_1770.jpg>. Acesso em: 8 jan. 2020.
101
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
102
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
104
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
E
IMPORTANT
105
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
Até o final do Século XVII e início do XVIII, em regiões fora das fronteiras
e, por isso mesmo distantes das missões, ocorreu a continuidade de conflitos entre
os povos indígenas e os europeus. Exemplos dessas regiões são os territórios do
interior do Brasil e da América Central, o norte do México e o Chaco, na América
do Sul (SOCOLOW, 2015).
106
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
E
IMPORTANT
Seja pela força das armas de fogo aliadas a conflitos entre sociedades
locais, ou pela falta de imunidade às doenças trazidas para a América do Velho
Mundo, como a varíola e a gripe, responsáveis por milhões de mortes, ou ainda
uma combinação desses e outros fatores, o homem europeu passou a dominar e
a controlar boa parte das sociedades e economias locais. Em uma perspectiva de
gênero, os homens nativos perderam seus privilégios, muitos desses vinculados
à virilidade e a própria condição de homem (STEARNS, 2012).
107
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
NOTA
108
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
FONTE: <http://www.firemuseumcanada.com/wp-content/uploads/2016/06/Huron-Village.jpg>.
Acesso em: 08 jan. 2020.
109
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
Assim como ocorreu com o domínio espanhol, com o controle francês dos
territórios na América do Norte, as guerras, torturas e até mesmo a canibalização
de prisioneiros se tornaram práticas inadequadas aos novos modelos sociais.
Como consequência, boa parte da violência que era exaurida em batalha passou
a ser aplicada no interior das comunidades, tendo nas mulheres o principal
destino das agressões. Com a conversão e com as inversões no espectro das
relações de gênero, as mulheres introjetaram muitas das imposições a elas
destinadas. Muitas passaram a se ver como pecadoras e merecedoras da
dominação masculina (STEARNS, 2012).
110
TÓPICO 2 | MULHERES INDÍGENAS E EUROPEIAS NA AMÉRICA PRÉ-COLONIAL E COLONIAL
Pela tradição indígena, [...] organizar uma casa e cultivar o solo era
considerado trabalho feminino, e um homem que cortava uma árvore
para uma casa ou usava um arado era ridicularizado e considerado
afeminado. Em contraste, para pessoas de origem euroamericana, os
homens deveriam liberar as mulheres de arar os campos, trabalho
considerado “inadequado para esse sexo”.
Ao contrário dos sioux, em alguns dos povos nativos do sul do atual Estados
Unidos, com destaque para os cherokees, a posição social das mulheres era mais
bem equalizada com a dos homens. As mulheres estavam inseridas em atividades
reconhecidas pela tribo, como a agricultura e, em decorrência disto, eram elas
as responsáveis pelas celebrações em honra às colheitas. A caça, atividade de
alta relevância, como é recorrente nas tradições indígenas, permaneceu sendo
realizada pelos homens (STEARNS, 2012).
NOTA
111
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
112
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
113
• A América pré-colombiana foi permeada por divindades femininas. Entre elas
estão Ixchel, Pacha Mama ou Pachamama (Mãe Terra), Chicomecóatl e Coatlicue.
• A aculturação dos indígenas aos costumes europeus teve impacto nas tradições,
na organização social, na religião, nas relações de gênero e na divisão sexual do
trabalho.
114
• Em regiões do Peru e do México, as mulheres se tornaram as principais
produtoras de tecido para o pagamento de tributos.
115
AUTOATIVIDADE
FONTE: TODOROV, T. A conquista da América: a questão do outro. 3. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
116
UNIDADE 2 TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste Tópico 3 adicionaremos às discussões sobre as
mulheres indígenas e europeias, as mulheres africanas. Sabe-se que, durante o
período do tráfico negreiro, algo em torno de 8 a 11 milhões de africanos foram
escravizados e trazidos para as Américas (SCHWARCZ; STARLING, 2015). As
mulheres corresponderam à cerca de 30 ou 40 porcento deste total (SOCOLOW, 2015).
DICAS
Que tal ler mais sobre essa discussão? O conteúdo a seguir certamente será útil
em seus estudos e nas aulas que você ministrará sobre o tema. Acesse: https://novaescola.
org.br/plano-de-aula/5978/escravo-ou-escravizado#.
A busca pela manutenção dos costumes era uma forma de ligação com a
vida no continente africano e com seus antepassados. As mulheres, por exemplo,
buscaram preservar a prática, presente na África Ocidental, da amamentação
prolongada, além dos dois anos de idade da criança. Símbolo do trabalho
árduo nas fazendas e nas cidades, as africanas também foram responsáveis pela
introdução de diversas palavras no vocabulário brasileiro, pela preservação de
músicas, danças, comidas, crenças e costumes, que reformularam tradições e
ajudaram a formar o Brasil atual.
117
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
3 TRABALHO
O gênero do escravizado influenciou diretamente na destinação prevista
para ele em solo americano. Os homens eram direcionados, em sua maioria,
às zonas rurais. Por sua vez, nas cidades da América Latina, o número de
mulheres era significativamente maior do que o de homens. Nas cidades, as
mulheres escravizadas trabalhavam, em maior número, nos afazeres domésticos,
limpando, cozinhando, lavando e costurando para suas senhoras e seus senhores.
Elas também faziam companhia as suas senhoras, ou, sinhás, como também eram
denominadas (SOCOLOW, 2015).
118
TÓPICO 3 | MULHERES INDÍGENAS, EUROPEIAS E AFRICANAS NA AMÉRICA COLONIAL
119
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
DICAS
Caro acadêmico, você sabia que a tradição das negras de tabuleiro permanece
viva na atualidade? No artigo, As baianas do acarajé, de Carolina Cantarino, disponível no
site do IPHAN, pelo endereço http://www.labjor.unicamp.br/patrimonio/materia.php?id=65,
são apresentados elementos que relacionam a venda de produtos pelas negras de tabuleiro
no Brasil colonial às atuais vendedoras de acarajé. Boa leitura!
120
TÓPICO 3 | MULHERES INDÍGENAS, EUROPEIAS E AFRICANAS NA AMÉRICA COLONIAL
DICAS
Recomendamos também a leitura dos demais capítulos do livro História das mulheres no
Brasil, primorosa obra organizada pela historiadora Mary Del Priore. Boa leitura!
FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/510SZdIV3CL._SX258_
BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2020.
121
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
4 PROSTITUIÇÃO
Consideradas propriedades de seus senhores, as escravizadas foram
vítimas de diversos abusos, incluindo o sexual. Também era comum que senhores
e sinhás obrigassem suas escravas a se prostituírem, visto que a procura por
mulheres negras e mulatas pelos homens brancos era constante e crescente. Embora
a prostituição fosse marcada pela violência, exploração e contato com diversas
doenças sexualmente transmissíveis, ela proveu bons rendimentos para senhores
e escravizadas. Muitas mulheres conseguiram a própria liberdade, e de pessoas
próximas, com o dinheiro proveniente da prostituição (SOCOLOW, 2015).
5 CONTROLE E VIOLÊNCIA
Os escravizados eram constantemente vigiados pelas autoridades,
que até mesmo delimitavam os locais das cidades nos quais os escravizados
poderiam circular. Acusações de vadiagem, embriaguez, bruxaria, brigas e furtos
eram frequentemente punidas com violência. O lundu, uma dança praticada
por escravizados, pessoas livres e libertas, chegou a ser proibido, acusado de
ser profano e lascivo em excesso. De todo o modo, a violência mais extremada
era infligida aos escravizados e às escravizadas que tivessem fracassado na
fuga. Nas punições não havia diferenciação por gênero, o fator que conferia a
punição era a falta cometida pelo escravizado (SOCOLOW, 2015). Outras formas
de violência não eram aplicadas em decorrência de alguma prática indevida
realizada pelo escravizado, e sim como resultado de uma sociedade patriarcal
hierarquicamente estabelecida.
122
TÓPICO 3 | MULHERES INDÍGENAS, EUROPEIAS E AFRICANAS NA AMÉRICA COLONIAL
João Fernandes de Oliveira, que havia ido para Portugal em 1770 resolver
assuntos referentes ao testamento de seu pai, faleceu em Lisboa no ano de 1779.
Chica da Silva faleceu em casa, no dia 16 de fevereiro de 1796. Símbolo da ascensão
social, foi enterrada na igreja da Irmandade de São Francisco de Assis, frequentada
123
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
pela elite branca. Anos depois, o corpo de Chica da Silva foi transferido para uma
sepultura na parte externa da igreja. Nos Séculos XIX e XX ocorre a redescoberta
de Chica da Silva, e sua memória persiste na ficção que a mistifica, assim como na
historiografia que busca compreendê-la (FURTADO, 2003; 2013).
DICAS
124
TÓPICO 3 | MULHERES INDÍGENAS, EUROPEIAS E AFRICANAS NA AMÉRICA COLONIAL
7 MATRIMÔNIO E MATERNIDADE
Juntamente com conversão à fé cristã, as coroas ibéricas e a Igreja Católica
defendiam o casamento religioso entre os escravizados. Por outro lado, os
senhores de escravos eram contra a prática, pois a venda de escravos por casal
era mais complicada do que a venda de escravos solteiros. Para os escravizados,
o casamento possibilitava a formulação de uma família, embora o medo da venda
de parceiros e filhos fosse constante. Outra vantagem proveniente do matrimônio
era a ampliação dos contatos sociais e da possibilidade de conseguir a alforria
(SOCOLOW, 2015).
125
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
8 ALFORRIA
A liberdade poderia ser conseguida através do pagamento da carta de
alforria, conferida pelo proprietário em vida ou como parte de seu testamento.
Embora as senhoras possuíssem menos escravos, em números relativos, foram
elas as que mais concederam a liberdade. Por outro lado, alguns proprietários
manipulavam os escravizados com promessas de liberdade que eram
constantemente preteridas. Também os termos e os valores acordados para
a alforria poderiam ser alterados pelos senhores, embora fosse uma prática
repreendida até mesmo pelas autoridades legais (SOCOLOW, 2015).
DICAS
Para compreender a história das formas de alforria, e como ela foi utilizada no
interior da sociedade escravocrata brasileira, recomendamos a leitura do capítulo intitulado
Alforrias, escrito pelo historiador Eduardo França Paiva, texto integrante do livro Dicionário
da escravidão e liberdade: 50 textos críticos, organizado pela historiadora Lilia Moritz
Schwarcz e pelo historiador Flávio dos Santos Gomes. Aproveitamos também para sugerir
a leitura dos outros 49 textos presentes na obra.
FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/51czdvR4mbL.jpg>.
Acesso em: 29 jan. 2020.
126
TÓPICO 3 | MULHERES INDÍGENAS, EUROPEIAS E AFRICANAS NA AMÉRICA COLONIAL
E
IMPORTANT
FONTE: SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das
Letras, 2015. p. 95.
9 RESISTÊNCIA
Em todas as regiões da América houve resistência por parte dos
escravizados, fossem eles indígenas ou africanos. As mulheres africanas
engendraram diversas formas de resistência, sendo as mais comuns o corpo mole
no trabalho, as sabotagens, a fuga para os quilombos, a participação nas revoltas,
o aborto, e até mesmo o suicídio. Por terem um vasto conhecimento sobre as
propriedades de diversas ervas e outras plantas, as escravizadas fabricaram
diversos venenos, fato que as tornavam temidas por seus senhores e por suas
senhoras (SOCOLOW, 2015).
127
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
NOTA
FONTE: SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das
Letras, 2015. p. 98.
10 RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE
Forçados a renegar as tradições africanas em nome da fé cristã, os
escravizados buscaram formas de manter suas tradições mesmo sob os olhos
atentos de missionários e padres. Como resultado do sincretismo religioso, tanto
na América espanhola, quanto na portuguesa, diversos santos católicos receberam
caraterísticas de crenças africanas (SOCOLOW, 2015; REIS, 2012).
128
TÓPICO 3 | MULHERES INDÍGENAS, EUROPEIAS E AFRICANAS NA AMÉRICA COLONIAL
NOTA
Caro acadêmico, este não é um padrão para toda a América, visto que
a proporção sofreria influência do tamanho e do tipo de plantação para qual estariam
alocados estes escravizados.
FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/2e/ec/4e/2eec4eb25df1eac721533787acea3228.jpg>.
Acesso em: 29 jan. 2020.
129
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
E
IMPORTANT
130
TÓPICO 3 | MULHERES INDÍGENAS, EUROPEIAS E AFRICANAS NA AMÉRICA COLONIAL
E
IMPORTANT
131
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
FONTE: <https://womensmuseum.files.wordpress.com/2017/11/mary_chilton_winslow_on_
plymouth_rock_ma_from_mayflower.png>. Acesso em: 05 jan. 2020.
132
TÓPICO 3 | MULHERES INDÍGENAS, EUROPEIAS E AFRICANAS NA AMÉRICA COLONIAL
FONTE: <https://cdn.britannica.com/s:300x300/29/164529-050-3821CD58/Anne-Hutchinson.jpg>.
Acesso em: 3 jan. 2020.
133
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
FONTE: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/4-salem-witch-trial-1692-
granger.jpg>. Acesso em: 04 jan. 2020.
134
TÓPICO 3 | MULHERES INDÍGENAS, EUROPEIAS E AFRICANAS NA AMÉRICA COLONIAL
NOTA
135
UNIDADE 2 | AMÉRICA: HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO
LEITURA COMPLEMENTAR
Djamila Ribeiro
Aquele homem ali diz que é preciso ajudar as mulheres a subir numa
carruagem, é preciso carregá-las quando atravessam um lamaçal, e elas devem
ocupar sempre os melhores lugares. Nunca ninguém me ajuda a subir numa
carruagem, a passar por cima da lama ou me cede o melhor lugar! E não sou eu
uma mulher? Olhem para mim! Olhem para meu braço! Eu capinei, eu plantei,
juntei palha nos celeiros, e homem nenhum conseguiu me superar! E não sou
eu uma mulher? Consegui trabalhar e comer tanto quanto um homem - quando
tinha o que comer - e aguentei as chicotadas! Não sou eu uma mulher? Pari cinco
filhos, e a maioria deles foi vendida como escravos. Quando manifestei minha
dor de mãe, ninguém, a não ser Jesus, me ouviu! E não sou eu uma mulher?
136
TÓPICO 3 | MULHERES INDÍGENAS, EUROPEIAS E AFRICANAS NA AMÉRICA COLONIAL
Existe ainda, por parte de muitas feministas brancas, uma resistência muito
grande em perceber que, apesar do gênero nos unir, há outras especificidades que
nos separam e afastam. Enquanto feministas brancas tratarem a questão racial
como birra e disputa, em vez de reconhecer seus privilégios, o movimento não vai
avançar, só reproduzir as velhas e conhecidas lógicas de opressão. Em O segundo
sexo, Beauvoir diz: “Se a ‘questão feminina’ é tão absurda é porque a arrogância
masculina fez dela uma ‘querela’, e quando as pessoas querelam não raciocinam
bem”. E eu atualizo isso para a questão das mulheres negras: se a questão das
mulheres negras é tão absurda é porque a arrogância do feminismo branco fez
dela uma querela, e quando as pessoas querelam não raciocinam bem.
FONTE: RIBEIRO, D. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia das Letras,
2018. 152 p.
CHAMADA
137
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• O abandono de bebês nas rodas dos expostos por mulheres que trabalhavam
como amas de leite era incentivado pelos senhores, pois assim as amas poderiam
continuar trabalhando.
138
• As mulheres escravizadas possuíam reduzidas taxas de fertilidade. Já a taxa de
mortalidade infantil era alta entre os grupos escravizados.
• Ao contrário do que ocorreu nas cidades coloniais, nas regiões rurais, o número
de homens era maior do que o de mulheres.
139
AUTOATIVIDADE
140
Sobre os eventos referentes à colonização da América do Norte, classifique V
para as sentenças VERDADEIRAS, e F para as sentenças FALSAS:
141
142
UNIDADE 3
AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
143
144
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Nesta terceira unidade, observaremos, em uma perspectiva histórica, a
presença das instituições como um importante lócus social para a compreensão
das dinâmicas políticas, culturais e religiosas da América Latina. As instituições
podem ser compreendidas como organismos que possuem funções específicas
no corpo social, e que possuem legitimidade em sua ação. Ou seja, as instituições
possuem, como principal característica, uma forte presença no corpo social,
podendo, através dele, impor condutas e estimular o pensamento sobre diferentes
esferas sociais (BERGER; LUCKMANN, 2004).
145
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
146
TÓPICO 1 | AS INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS CRISTÃS
NOTA
147
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
148
TÓPICO 1 | AS INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS CRISTÃS
E
IMPORTANT
149
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
150
TÓPICO 1 | AS INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS CRISTÃS
Por fim, uma ordem surgida no Século XVI foi a de maior destaque
dentre os trabalhadores vinculados a obra de cristianização realizada pela Igreja
Católica, A companhia de Jesus, cujos membros são conhecidos como Jesuítas. A
ordem da Companhia de Jesus foi fundada em 1534 e teve como seu fundador
um basco de nome Inácio de Loyola, canonizado santo pelo Vaticano. Loyola era
um cavaleiro, isto é, um militar ligado às ordens de cavalaria, que eram presentes
no mundo medieval, mas que estavam entrando em decadência no alvorecer da
modernidade. Ao ser ferido em um combate, Inácio foi recolhido em um mosteiro,
para poder reestabelecer sua saúde. Como não tinha ocupação no tempo em que se
reabilitava, Santo Inácio solicitou livros de cavalaria, para que pudesse se inspirar
em sua profissão militar. Todavia, o local possuía apenas literatura religiosa.
Ao entrar em contato com esta literatura, acabou por se sentir chamado para a
pregação do evangelho. Como líder e possuidor de grande carisma, formou uma
nova ordem religiosa, inspirada nos princípios de disciplina e hierarquia comum
entre os militares, sendo a ordem batizada, como já visto, pelo nome de Companhia
de Jesus. Ao pensar que companhia era um termo utilizado para denominar uma
reunião de soldados, os jesuítas têm como abreviação a sigla SJ (Soldados de Jesus).
151
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
FONTE: O autor
Essa base escolástica foi utilizada pelo Frei Bartolomeu de Las Casas
(BRUIT, 1995), um dos mais brilhantes religiosos católicos do Século XVI, visando
proteger, do ponto de vista legal, os indígenas de serem escravizados e dizimados
pelos colonizadores espanhóis. Sua argumentação, partindo de princípios
aristotélicos, pensava ser uma das mais importantes questões religiosas cristãs
a de querer converter o indígena a verdadeira fé cristã, demonstrando a ele
152
TÓPICO 1 | AS INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS CRISTÃS
apreço por ser criado por Deus. Las Casas teve contato com os povos indígenas,
tendo sido nomeado bispo da cidade de Chiapas, no México. Assim, podemos
compreender que seu pensamento teve como principal inspiração seu trabalho
pastoral, enquanto missionário cristão no “novo mundo” que os europeus até
então desconheciam.
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/db/Bartolomedelascasas.
jpg/200px-Bartolomedelascasas.jpg>; <https://www.buscabiografias.com/img/people/Juan-
Gin%C3%A9s.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2019.
153
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
154
TÓPICO 1 | AS INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS CRISTÃS
155
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
156
TÓPICO 1 | AS INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS CRISTÃS
157
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
158
TÓPICO 1 | AS INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS CRISTÃS
159
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
160
TÓPICO 1 | AS INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS CRISTÃS
161
RESUMO DO TÓPICO 1
• No final do Século XIX e início do Século XX, a Igreja passou por um processo
de romanização, no qual a vivência da religiosidade foi alterada.
162
AUTOATIVIDADE
3 Explique o pentecostalismo.
163
164
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
O Estado é uma das principais instituições a regulamentar a vida dos
indivíduos no ocidente. As principais ações individuais, como o nascimento,
o casamento, a morte, o trabalho, as relações econômicas, políticas e sociais,
são mediadas por leis que são elaboradas por agentes estatais. Neste sentido,
compreender a formação do Estado na América Latina é uma das principais
questões a serem aprendidas pelos diferentes profissionais das ciências humanas.
Em especial aos professores de História, que possuem a missão de ensinar a
formação das diferentes sociedades, ter uma compreensão aprofundada do
Estado se faz necessária.
165
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
166
TÓPICO 2 | O ESTADO NA AMÉRICA LATINA
167
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
168
TÓPICO 2 | O ESTADO NA AMÉRICA LATINA
169
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
170
TÓPICO 2 | O ESTADO NA AMÉRICA LATINA
populacional. Porém, no Século XIX, essas massas não tinham acesso direto ao
voto. Com isso, muitos deles foram representados por um tipo de líder político
específico: o caudilho.
Essa pequena classe média teve importância para uma alteração na relação
entre os cidadãos das repúblicas latino-americanas e os Estados Nacionais, ao
observarmos que os bacharéis em direito foram figuras importantes, em especial
ao figurarem como representantes públicos, membros das câmaras legislativas
dos países da América Latina. Todavia, parte destes bacharéis em direito tinham
ligações pessoais com os latifundiários rurais latino-americanos.
172
TÓPICO 2 | O ESTADO NA AMÉRICA LATINA
E
IMPORTANT
173
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
174
TÓPICO 2 | O ESTADO NA AMÉRICA LATINA
175
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
176
TÓPICO 2 | O ESTADO NA AMÉRICA LATINA
177
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
178
RESUMO DO TÓPICO 2
• Os militares formam uma força política importante nas dinâmicas políticas dos
países ibero-americanos.
179
AUTOATIVIDADE
1 O que é patrimonialismo?
2 Por que a América Latina pode ser considerada um local do mundo no qual
o patrimonialismo é uma constante das relações sociais?
3 O que é estamento?
180
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
No presente tópico, você, caro acadêmico, terá uma visão panorâmica
sobre dois modelos educacionais presentes no continente americano, os
observando de um ponto de vista histórico e sociológico. A relação entre a
educação e a formação dos diferentes estamentos sociais foi amplamente
estudada por sociólogos da educação, com destaque para o teórico franco-
argelino Pierre Bourdieu, autor de trabalhos empíricos que revelam esta relação
entre o capital cultural acumulado pelos indivíduos e as diferentes trajetórias
individuais, que apontam a relação entre a vivência biográfica e seu diálogo
com a sociedade na qual se vive.
181
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
182
TÓPICO 3 | AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO NA AMÉRICA
FONTE: <https://www.theoceangallery.com/wp-content/uploads/2019/03/The-Oldest-Wooden-
Schoolhouse.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019.
183
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
184
TÓPICO 3 | AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO NA AMÉRICA
185
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
DICAS
As tensões que ocorrem nas escolas foram retratadas por diversos filmes,
sendo que muitos deles valem a pena serem assistidos, como A Sociedade dos Poetas
Mortos, Ao Mestre com Carinho e Um Diretor Contra Todos.
Uma das principais doutrinas católicas é o Extra Ecclesiam Nulla Salus. Isto
é, a compreensão que fora da igreja não existe a possibilidade de salvação para o
ser humano em face de Deus. Neste sentido, a obra de evangelização realizada
pela igreja católica no período colonial pode ser compreendida como uma ação
pedagógica. Pois, os missionários buscaram cristianizar as principais nações
indígenas, ensinando a elas as boas novas cristãs. As determinações do Concílio de
Trento afirmavam uma nova forma de ensino das noções básicas do cristianismo,
ao estabelecer a catequese antes da primeira comunhão. Deste modo, o foco dos
colonizadores ao educar as populações que pertenciam às esferas mais baixas da
estratificação social era a de se ensinar os rituais católicos e não as primeiras letras.
187
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
FONTE: <https://ogimg.infoglobo.com.br/in/23602904-53d-dcc/FT1086A/652/xPaulo-Freire.jpg.
pagespeed.ic.umu-Gi5dyB.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019.
188
TÓPICO 3 | AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO NA AMÉRICA
189
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
190
RESUMO DO TÓPICO 3
191
AUTOATIVIDADE
192
UNIDADE 3
TÓPICO 4
1 INTRODUÇÃO
Neste último tópico, abordaremos algumas das principais obras da
historiografia do continente americano. A historiografia é um dos campos
importantes para se compreender de forma aprofundada as diferentes áreas de
pesquisa da História enquanto campo disciplinar do conhecimento científico.
Pois, muito do que sabemos sobre a História da América foi o fruto do trabalho
dedicado e incansável de muitos pesquisadores.
193
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
Vários foram os escritores que ao longo dos Séculos XVI e XVII apontaram
a América como objeto de estudo histórico. Todavia, uma história ainda muito
próxima da crônica medieval, não preocupada com questões metodológicas e
científicas, mas sim em realizar uma narrativa de acontecimentos vivenciados
pelos primeiros exploradores no novo continente. Dentre estes historiadores e
cronistas, podemos citar alguns que tiveram grande destaque:
Por fim, uma das mais importantes obras de historiografia realizada ainda
nos primeiros séculos da época colonial foi escrito por Gonzalo Fernández Oviedo
y Valdés o autor de Historia general y natural de las Indias, islas y tierra-firme del mar
océano. Livro que buscou ser uma narrativa da expansão ultramarina realizada
pela nobreza espanhola. Uma das questões importantes para compreendermos
a historiografia colonial é que ela chamava a América Latina como Las Indias de
Castilla. Esse termo está, em grande parte, envolto na “confusão” de se nomear a
América como um novo continente ou uma continuação da Ásia.
194
TÓPICO 4 | A HISTORIOGRAFIA SOBRE A AMÉRICA
195
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
196
TÓPICO 4 | A HISTORIOGRAFIA SOBRE A AMÉRICA
DICAS
197
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
FONTE: <http://www.academia.org.mx/media/zoo/images/edmundo_
ogorman_857b3640cf28509117ef20388da4997c.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2019.
Luis Weckmann teve como sua principal tese uma relação de continuidade
entre a Idade Média Ibérica e o processo de Colonização da América. Essa sua tese
central foi exposta em algumas obras, como no artigo A Idade Média na Conquista
da América, também no livro As Raízes Medievais do Brasil. Em sua abordagem,
existiu uma continuidade entre as características da Idade Média Ibérica, que do
ponto de vista foi marcada pelo ideal da Reconquista, isto é, da expulsão dos
mouros da península, com as práticas sociais presentes na conquista, sendo a
conquista americana uma continuação da reconquista ibérica.
198
TÓPICO 4 | A HISTORIOGRAFIA SOBRE A AMÉRICA
199
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
e peruanas. Outro texto escrito por Chuanu com grande relevância foi Sevilha e
a América no Século XVI e XVII, no qual realizou uma pesquisa profunda tendo
utilizado variadas fontes para a compreensão da presença espanhola e portuguesa
no Atlântico nos séculos iniciais da conquista da América pelos espanhóis.
Outro autor que também foi um historiador francês que teve profunda
relevância na pesquisa sobre as relações econômicas na América Espanhola
Colonial foi Frédéric Mauro. Intelectual francês que atuou por anos como
professor na Sorbonne, Mauro apresentou teses sobre a história econômica e
social das colônias ibéricas e dos seus respectivos domínios ultramarinos. Entre os
intelectuais franceses mais recentes, é destaque Sergei Gruzinski. Autor de alguns
livros sobre a temática da presença colonial europeia na América, sendo autor
de A Colonização do Imaginário e O Pensamento Mestiço, no qual aponta análises
sobre a presença dos espanhóis na América através de um ponto de observação
dado pela denominada Nova História Cultural. Isto é, em suas pesquisas, busca
compreender a colonização americana não pelas questões econômicas, como
Mauro, mas através das questões culturais.
200
TÓPICO 4 | A HISTORIOGRAFIA SOBRE A AMÉRICA
LEITURA COMPLEMENTAR
Maria Ligia Coelho Prado já era mãe de três filhos quando decidiu, aos
27 anos, cursar história na Universidade de São Paulo (USP). Supostamente
tardia, a escolha se revelaria mais do que acertada: além do “amor à primeira
vista” pela disciplina, propiciou-lhe o exercício do magistério – ofício no qual
se destacaria como poucos de seus pares. Maria Ligia deu aulas em cursos
secundários de escolas públicas e particulares. Na década de 1980, percorreu o
estado de São Paulo lecionando história da América para professores do ensino
médio. No ensino superior, antes de ser contratada pela própria Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, iniciou sua carreira como
professora de história contemporânea de futuros arquitetos.
201
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
Como surgiu seu interesse pela América Latina como objeto de pesquisa?
Quando surge a noção de América Latina? Quando essa região passa a ser assim
denominada?
202
TÓPICO 4 | A HISTORIOGRAFIA SOBRE A AMÉRICA
Vou fazer uma digressão para chegar aí, ao seu ponto. Se considerarmos
os textos de letrados – que podem ser intelectuais ou políticos –, como os de Simón
Bolívar [1783-1830], por exemplo, ele se pergunta na famosa Carta da Jamaica, de
1815: “Quem somos nós? Não somos americanos e não somos europeus”. Essa
busca de afirmação está presente muito fortemente nos textos e depois em muitas
manifestações que vão acontecer pelo Século XIX. Digo isso para destacar que a
questão da identidade nos acompanha desde a independência. Se tomarmos as
fontes a partir daquela época, há documentos e ações que mostram preocupação
com a aproximação entre as diversas partes da América colonizada pelos
espanhóis, e, posteriormente, já no Século XX, com o Brasil.
203
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
Pasteurizam, quase.
204
TÓPICO 4 | A HISTORIOGRAFIA SOBRE A AMÉRICA
Você tratou dessa questão em seu livro América Latina no Século XIX: Tramas,
telas e textos (Edusp, 1999).
205
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
206
TÓPICO 4 | A HISTORIOGRAFIA SOBRE A AMÉRICA
Penso muito sobre isso. Não sou obcecada pela Revolução Francesa, mas
vou tomá-la como exemplo, mais uma vez. A Revolução Francesa estabeleceu que
a tortura não deve ser uma prática legal, o ser humano não pode ser violado. Não
exatamente nesses termos, mas pela primeira vez se fez essa afirmação. Antes, a
tortura era considerada absolutamente legal e legítima. Esse é um marco muito
importante na história recente da humanidade do mundo ocidental, pelo menos.
O que não significa, como bem sabemos, que a tortura foi eliminada.
207
UNIDADE 3 | AS INSTITUIÇÕES LATINO-AMERICANAS
Não resta dúvida de que, para a minha geração, que viveu sob a ditadura,
havia uma utopia socialista no horizonte, o que nos dava esperança e força para
enfrentar o cotidiano. Depois, nos anos 1980, foi muito forte a perspectiva da
importância fundamental da democracia, que também apareceu como uma
utopia na América Latina. Atualmente vivemos um momento muito difícil, de
grandes conflitos, confrontações ideológicas, de posições políticas muitas vezes
tomadas às pressas, sem maior reflexão dos significados que têm. O problema
para mim, mais contundente, é a falta de uma utopia. Nos momentos de extrema
dificuldade e desesperança, a minha geração imaginava que havia no horizonte
algo melhor, o futuro de alguma maneira nos ofereceria uma sociedade mais
justa, a democracia, menos opressão. Isso fazia com que nós, ao mesmo tempo,
suportássemos aquele período difícil e nos solidarizássemos. Hoje o mundo
parece ser tão cínico… O consumismo ganhou um espaço enorme. A ideia dos
grandes princípios que nortearam muitos dos caminhos de políticos e intelectuais,
trabalhadores do Século XX, parece que se perdeu. Tudo está muito pragmático,
imediatista. A mim, isso parece algo perturbador e perigoso. É preciso ter um
projeto de futuro para podermos suportar o cotidiano político. Precisamos ter um
horizonte. Hoje, o grande guarda-chuva que parece unir as pessoas é a ecologia,
pensar as questões ambientais, a preservação da natureza. Isso é algo que comove
e junta até aqueles com ideologias políticas diferentes, à esquerda ou à direita. Mas
não vejo uma utopia que nos diga “vamos ter um mundo com menos pobreza,
com mais igualdade”, que nos alimentou nos momentos mais difíceis do passado.
Não sou cética imaginando que as coisas não vão mudar. Acredito que mudarão,
mas será demorado.
Você diz que a dimensão da esperança como bússola foi eleita pela sua geração.
Para onde aponta a sua bússola hoje?
Até o começo dos anos 1990 eu tinha muitas certezas. Porque pertenço
a uma geração que tinha certezas em relação ao futuro, particularmente do
Brasil, da América Latina. No início dos anos 2000, perdi – para o bem, acho
– as certezas, mas mantenho o mesmo ânimo e o mesmo entusiasmo olhando
para frente. Desejo olhar para o horizonte e tentar enxergar esboços, ainda que
mal alinhavados, de utopias. É necessário refletir criticamente sobre o presente
e entender que aquilo que se vive não é “natural” e sim resultado das ações e
contradições dos indivíduos na história. E, finalmente, lembrar que é preciso
ter paciência, pois sabemos que as ideias dão frutos em tempos longos, que não
coincidem com os tempos das ações dos políticos.
FONTE: <https://revistapesquisa.fapesp.br/2017/07/18/maria-ligia-coelho-prado-questoes-abertas-
na-america-latina/>. Acesso em: 25 out. 2019.
208
RESUMO DO TÓPICO 4
CHAMADA
209
AUTOATIVIDADE
210
REFERÊNCIAS
AGUILAR-MORENO, M. Arte Azteca. FAMSI, [20--]. Disponível em: http://
www.famsi.org/spanish/research/aguilar/Aguilar_Art_Bib_es.pdf. Acesso em:
28 jan. 2020.
COMBY, J. Para ler a história da Igreja I: das origens ao século XV. São Paulo:
Loyola, 1993.
211
CUTIRI, P.; RONALD, A. Construcciones en Piedra. Arquitectura imperial
inca y moderna. Modelo arquitectónico del Templo de Qoricancha y las nuevas
propuestas de CMV Architec. Taller de Reflexión Artística III, Buenos Aires,
año XIII, v. 78, jul. 2017. p. 262.
212
FURTADO, J. F. Chica da Silva além do mito. In: FIGUEIREDO, L.
(Org.). História do Brasil para ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.
Cap. 6. p. 381-387.
213
LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-
estruturalista. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1997. 179 p.
PERROT, M. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2007. 190 p.
214
RAGO, M. Epistemologia feminista, gênero e história. In: PEDRO, J. M.;
GROSSI, M. P. (Orgs.). Masculino, Feminino, Plural. Florianópolis: Mulheres,
1998. p. 25-37.
215
SCOTT, J. F. Latin American Art. 2018. Disponível em: https://www.britannica.
com/art/Latin-American-art. Acesso em: 28 jan. 2020.
216