Cinesiologia e Biomecanica
Cinesiologia e Biomecanica
Cinesiologia e Biomecanica
E BIOMECÂNICA
autora
VALERIA REGINA SILVA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial sergio augusto cabral; roberto paes; gladis linhares
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
isbn: 978-85-5548-135-2
3. Sistema Neuromuscular
Aplicado ao Movimento 27
6. Cinesiologia e Biomecânica da
Coluna Vertebral, dos Membros
Superiores e Inferiores 51
8• capítulo 1
Muito tempo depois, por volta do ano de 1608, veio Borelli, o qual é consi-
derado o pai da biomecânica, por ser o primeiro a estudar matematicamente o
movimento. Isto nos revela a diferença básica entre cinesiologia e biomecânica.
Outros estudiosos também contribuíram para a avaliação da evolução do
movimento humano. Ettiénne Marey (1830 – 1904), médico e inventor francês,
que em parceria com Edward Muybridge (1830 – 1904), realizou estudos sobre
o movimento humano. Publicou diversos trabalhos acerca da análise do movi-
mento humano, depois de eles desenvolverem técnicas de filmografia durante
a execução de movimentos tanto em humanos quanto em animais.
Cinesiologia se refere então ao estudo científico do movimento humano de
forma abrangente, utilizado para descrever qualquer forma de avaliação anatô-
mica, fisiológica, psicológica ou mecânica do movimento humano.
A partir do século XX, com os significativos avanços tecnológicos e metodo-
lógicos, principalmente das técnicas de avaliação do movimento, a cinesiologia
se consolidou como ciência, sendo uma das principais disciplinas de formação
em áreas que trabalham com o movimento humano.
capítulo 1 •9
Os eixos de movimentos estão associados aos movimentos propriamente
ditos: o eixo mediolateral permite os movimentos de flexão e extensão.
A osteocinemática descreve o movimento dos ossos em relação aos planos
anatômicos. Assim, no plano sagital, ocorrem os movimentos de flexo-exten-
são, dorsiflexão e flexão plantar. No plano frontal, ocorrem os movimentos de
abdução e adução, inclinação (flexão) lateral, desvio ulnar e radial, eversão e
inversão. No plano horizontal, ocorrem os movimentos de rotação interna (me-
dial) e externa e rotação axial.
A artrologia estuda a classificação, estrutura e função das articulações e é
uma importante base para o estudo geral da cinesiologia. Um método de clas-
sificação das articulações se baseia no potencial de movimento, como as sinar-
troses e as diartroses.
Sinartrose é uma junção entre ossos a qual permite pouco ou nenhum mo-
vimento. Podem ser denominadas como fibrosas ou cartilaginosas, devido ao
tecido conjuntivo periarticular. As articulações fibrosas são estáveis graças à
presença de tecido conjuntivo denso com grande quantidade de colágeno; já
as cartilaginosas, são estabilizadas por diferentes formas de fibrocartilagem ou
cartilagem hialina, frequentemente associadas ao colágeno. Ambas as articu-
lações têm a função de promover uma ligação estável entre os ossos de modo
a permitir a transmissão de forças e, de modo geral, permitem um movimento
limitado. A anfiartrose é uma articulação cujas superfícies estão interligadas
por discos de cartilagens fibrosas ou por membranas sinoviais, são articulações
pouco móveis, como as pubianas e as intervertebrais.
A diartrose é uma articulação de movimento livre e amplo, comumente é co-
nhecida como sinovial. Essa articulação é formada por cartilagem hialina sem
pericôndrio no encontro de dois ossos com líquido sinovial mantido por uma
membrana sinovial.
10 • capítulo 1
de métodos de estudo próprios para que sejam aplicados na investigação do
movimento.
Seu atual desenvolvimento é expresso por novos procedimentos e técnicas
de investigação, nas quais se reconhece a tendência crescente de combinar vá-
rias disciplinas científicas na análise do movimento.
Nos últimos anos, o progresso dos métodos de medição, armazenamento e
processamento de dados contribuiu de forma grandiosa para a análise do mo-
vimento. Para a sua formação, a biomecânica recorre a um complexo de disci-
plinas científicas (Ex. Anatomia, Fisiologia e Física - mecânica), observando-se
uma estreita relação entre as necessidades e as exigências da prática do movi-
mento humano. Em princípio, a estrutura funcional.
Na maioria das vezes, a análise de movimentos complexos é simplificada,
pois se inicia com uma avaliação de forças atuantes dentro e fora do corpo. As
leis de movimento do Sir Isaac Newton ajudam a elucidar a relação existente
entre as forças e suas ações em articulações individuais, assim como em todo
o corpo humano. Newton observou que as forças, a massa e os movimen-
tos se relacionavam de modo previsível. Assim, em 1967, na sua famosa obra
Philosophiae Naturalis Principia Mathematica as leis e princípios básicos da
mecânica foram fundamentados. Essas leis são conhecidas como leis do movi-
mento; são elas: lei da inércia, lei da aceleração e lei da ação e reação.
Deste modo, a aplicação biomecânica para a saúde do movimento humano
pode contribuir para a melhoria do desempenho e na prevenção de lesões.
1.5.1 Antropometria
capítulo 1 • 11
tatura, massa, volume, densidade, centro de gravidade e momento de inércia
da massa. Ao investigar e conhecer os aspectos fundamentais para a melhor
análise cinética e cinemática do movimento, será possível determinar carac-
terísticas e propriedades do aparelho locomotor. Algumas dessas característi-
cas são descritas como: as dimensões das formas geométricas de segmentos,
distribuição de massa, braços de alavanca, posições articulares definindo um
modelo antropométrico que contém parâmetros necessários à construção de
um modelo biomecânico da estrutura analisada (Amadio et al., 1999).
Dentre as variáveis anteriormente descritas, algumas podem ser calculadas,
como: (a) propriedades do biomaterial– resistência dos componentes do apare-
lho locomotor, elasticidade, deformação e limite de ruptura; (b) cinéticas (mo-
mento de inércia de segmentos corporais); (c) centro de rotação articular, ori-
gem e inserção muscular, comprimento e área de secção transversa dos braços
de alavanca da musculatura; (d) densidade e distribuição da massa corporal.
Os métodos analíticos são os mais utilizados, caracterizando-se por mode-
los do corpo baseados em dados antropométricos do indivíduo, portanto me-
dida direta, in vivo.
1.5.2 Cinemetria
12 • capítulo 1
1.5.3 Dinamometria
1.5.4 Eletromiografia
capítulo 1 • 13
A inervação muscular transmite os potenciais cuja atividade elétrica média
pode ser detectada por eletrodos colocados na superfície da pele sobreposta ao
músculo, e daí observam-se o início e o fim da ação muscular em movimentos,
posturas, ou seja, o padrão temporal dessa inervação/ativação. Esses sinais co-
letados podem ser influenciados, entre outros fatores, pela velocidade de en-
curtamento e alongamento muscular, grau de tensão, fadiga e atividade reflexa.
Segundo Winter (1991), é possível analisar dados do potencial de ação nervoso
e relacioná-lo com medidas de função muscular, como: tensão, força, estado de
fadiga, metabolismo muscular e- pode contribuir para a análise dos elementos
contráteis. Comumente, a obtenção do sinal elétrico pode ser realizada com o
auxílio de eletrodos intramusculares e de superfície, sendo os de superfície re-
comendados para avaliação de áreas com maior diâmetro; já intramusculares
são sugeridos para regiões de menor diâmetro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMADIO, A.C., LOBO DA COSTA, P.H., SACCO, I.C.N. SERRÃO, J.C. ARAUJO, R.C. MOCHIZUKI,
L., DUARTE, M. Introdução à Biomecânica para Análise do Movimento Humano: Descrição e
Aplicação dos Métodos de Medição. Revi. Bras. Fisioter., v.3, n.2, p.41-54, 1999.
GARDNER, E.; GRAY, D.I.; O'RAHILLY, R. Anatomia: estudo regional do corpo humano. 1ª Edição. Rio
de Janeiro: Guanabara, 1988.
NEUMAN, D.A. Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier,
2011.
SACCO, I.C.N., Tanaka, C. Cinesiologia e Biomecânica dos Complexos Articulares. 1ª Edição. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
WINTER, DA. The Biomechanics and motor control of human gait. Normal, Elderly and
Pathological. Ontario, Canada: University of Waterloo Press, 1991. 143 p.
14 • capítulo 1
2
Princípios
Mecânicos
para Análise
Cinesiológica e
Biomecânica
2.1 Base Cinemática para Análise do
Movimento Humano
2.1.1 Conceito
16 • capítulo 2
A artrocinemática descreve o movimento que ocorre entre as superfícies
articulares, pois existem três movimentos fundamentais entre as superfícies
articulares curvas: rolamento, deslizamento e giro. No movimento de rola-
mento, ocorre o contato entre múltiplos pontos de uma superfície articular
em rotação com a outra superfície; já no movimento de deslizamento, ocorre
o contato de um único ponto de uma superfície articular com múltiplos pon-
tos da outra superfície articular e, por último, o movimento de giro no qual
um único ponto na superfície articular faz contato com um único ponto em
outra superfície.
Diversas articulações promovem movimentos combinados de rolamento,
deslizamento e giro. Um exemplo é articulação do joelho, em que ocorre a
rotação interna do fêmur conforme o côndilo rola e desliza em relação à tíbia,
fixa durante o movimento de extensão.
capítulo 2 • 17
deve-se rodar em torno de um eixo que tem uma relação de 90 graus em rela-
ção ao plano. Durante as atividades de vida diária (AVD), exercícios e esportes,
o movimento geralmente ocorre em mais de um plano em um determinado
conjunto. Compreender planos e eixos do corpo é útil para descrever os princi-
pais movimentos do corpo e instrumental ao projetar programas de exercícios
eficazes.
O ponto de pivô para o movimento das articulações do corpo é denomi-
nado eixo de rotação. Para a maioria das articulações, o eixo de rotação está
localizado no interior da estrutura da articulação. Os eixos são denominados
como: eixo mediolateral, aquele que permite os movimentos de flexão e ex-
tensão; eixo ântero-posterior, aquele que permite os movimentos de adução
e abdução; eixo longitudinal (ou vertical), aquele que permite rotação interna
e externa. Salienta-se que o movimento que ocorre num determinado eixo de
movimento acontece dentro de plano anatômico, como durante a flexão do
cotovelo, o qual possuiu o eixo mediolateral, e o movimento acontece dentro
do plano sagital, sendo o último o plano do movimento.
Além de planos e eixos anatômicos, vários termos de direção são utilizados des-
crever a posição das estruturas em relação à posição anatômica.
Em direção à cabeça, é chamado superior, enquanto que, para os pés é in-
ferior. Segmentos corpóreos voltados ou em movimento para frente do corpo
estão em anterior e, quando estão para a parte de trás, estão na direção pos-
terior. Segmento ou movimento que vai em direção à linha média do corpo
está no sentido medial, enquanto o movimento ou a posição ou sentido opos-
to, ou seja, para os lados do corpo é lateral. Existem muitos outros termos
anatômicos que têm significados semelhantes como estes, porém esses são
comumente mantidos na sua forma original clássica, em latim ou grego. Por
exemplo, superior é sinônimo de cefálico, enquanto inferior é o mesmo que
caudal.
O uso cuidadoso da terminologia é importante em ciência e profissões
para evitar confusão. Um exemplo da confusão que pode ocorrer com o uso
de termos gregos ou latinos desconhecidos, dos termos valgo e varo. Os sig-
nificados originais gregos desses termos podem estar em desacordo com o
seu uso típico na medicina ortopédica. Aa medicina geralmente define genu
(joelho) valgo como um desvio para dentro da articulação do joelho, enquanto
18 • capítulo 2
o genu varo geralmente corresponde a um desvio do joelho para o exterior, o
que resulta numa aparência de pernas arqueadas. Isto leva a uma considerá-
vel confusão em descrever anormalidades anatômicas, e alguns têm sugerido
que estes termos sejam descartados ou, pelo menos, definidos cada vez que
são utilizados.
A descrição dos movimentos pode receber terminologia específica em sua
descrição. O movimento de flexão refere-se à diminuição do ângulo de uma
determinada articulação no plano sagital, enquanto o movimento de exten-
são é aquele que promove o aumento do ângulo da articular. Deste modo, os
movimentos nos extremos da amplitude de movimento são muitas vezes de-
nominados como "hiper", por exemplo, a hiperextensão.
Movimento de um segmento afastado da linha média no plano frontal é
"abdução", enquanto o movimento de volta para a linha média é chamadas de
"adução". Propostas conjuntas no plano transversal são geralmente chamados
de rotação interna (rotação do aspecto anterior do segmento direção à linha
média) e rotação externa. Alguns exemplos de termos de movimento articular
especiais são "pronação", que se refere à rotação interna do antebraço na arti-
culação radioulnar, ou "adução horizontal", que é desenho do ombro (articu-
lação glenoumeral) em direção à linha média de um plano transversal. Como
os termos direcionais, a terminologia anatômica relacionadas com as rotações
das articulações também é usada incorretamente. É incorreto dizer "uma pes-
soa está flexionando um músculo", porque a flexão é um movimento articular.
capítulo 2 • 19
2.2 Base Cinética para Análise do Movimento
Humano
2.2.1 Conceito
20 • capítulo 2
de um determinado fluido. Um exemplo seria uma bola viajando pelo ar, ao
passar pelo fluxo laminar, a bola cria na região posterior um fluxo turbulento,
o qual possui pressão menor que a região anterior. Tal arrasto tende a reduzir
a velocidade da bola. Assim, a área do corpo perpendicular ao fluxo laminar é
responsável por determinar a magnitude do arrasto de forma.
O arrasto de onda é tido como uma força de resistência ocasionada pelo
movimento do corpo sobre um fluido viscoso, como a água, o qual é capaz de
formar ondas, sendo comumente definida pela força de reação exercida pelo
fluido sobre o corpo que constituiu a onda de arrasto. Quando um corpo está
perfeitamente submerso, a força de arrasto de onda não está presente.
Além das forças de resistência dinâmica descritas, podem atuar sobre um
corpo disposto num determinado fluido o empuxo dinâmico, também conhe-
cido como força de sustentação. Esta força é perpendicular ao fluxo e à força
de arrasto, sendo que pode atuar para cima, para baixo ou na horizontal, de-
pendendo do movimento do corpo. Assim, o empuxo dinâmico obedece ao
princípio de Bernoulli, em que a velocidade alta do fluxo, promove uma re-
gião de baixa pressão na superfície de contato e, por sua vez, onde a velocida-
de é baixa, a pressão é alta.
Já o empuxo é uma força vertical igual e contrária ao peso do fluido des-
locado pelo corpo inserido nele. Essa força também é denominada como flu-
tuabilidade. Alguns fatores contribuem para a flutuabilidade, pois, quanto
mais denso o fluido, maior será a força de flutuabilidade.
capítulo 2 • 21
2.2.4 Centro de Gravidade e Estabilidade no Movimento
Cada corpo possui um ponto chamado de centro de massa, sobre o qual a mas-
sa é uniformemente distribuída em todas as direções. Ao ser exposto à gravi-
dade, o centro de massa de um corpo coincide rigorosamente com o centro de
gravidade. Por definição, o centro de gravidade é o ponto sobre o qual os efeitos
da gravidade estão perfeitamente equilibrados. O centro de massa de um corpo
em posição anatômica decai sobre a segunda vértebra sacral, todavia essa posi-
ção se altera conforme a pessoal muda de posição.
Cada segmento do corpo humano possui um centro de massa definido. A
localização do centro de massa dentro de cada segmento isolado (exemplo:
coxa, perna e pé) permanece fixa, aproximadamente no seu ponto médio; em
contrapartida, o centro de massa do membro inferior como um todo altera
sua localização conforme ocorre o movimento.
22 • capítulo 2
Durante a realização de uma alavanca de terceira classe, o eixo rotacio-
nal se localiza na extremidade óssea. O peso suportado por essa alavanca tem
maior alavancagem do que a força muscular. Um exemplo é a ação dos mús-
culos flexores de cotovelo, os quais realizam um torque flexor necessário para
a manutenção de um peso colocado na mão. É a mais encontrada no sistema
musculoesquelético.
capítulo 2 • 23
2.2.6 Tipos de Cargas Mecânicas Atuando nos Biomateriais
24 • capítulo 2
plasticidade. O tecido superdistendido sofreu uma deformação plástica.
Neste ponto, houve falência de seu material e sua deformação é permanen-
te. Ao contrário da energia elástica, a energia plástica não é completamen-
te recuperada neste momento, nem mesmo quando a força deformadora é
removida.
Caso ocorra a permanência da ação da carga de estiramento ou compres-
são, o tecido atinge seu ponto de falência final, em que o tecido se separa,
parcial ou completamente, e perde sua capacidade de suportar qualquer nível
de tensão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMADIO, A.C., LOBO DA COSTA, P.H., SACCO, I.C.N. SERRÃO, J.C. ARAUJO, R.C. MOCHIZUKI,
L., DUARTE, M. Introdução à Biomecânica para Análise do Movimento Humano: Descrição e
Aplicação dos Métodos de Medição. Revi. Bras. Fisioter., v.3, n.2, p.41-54, 1999.
HAMILL, J. KNUTZEN, K.M. Bases Biomecânicas do Movimento Humano. 1ª Edição. Barueri:
Manole, 2012.
KNUDSON, D. Fundamentals of Biomechanics. 2ª Edition. New York: Springer, 2007.
NEUMAN, D.A. Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier,
2011.
SACCO, I.C.N., TANAKA, C. Cinesiologia e Biomecânica dos Complexos Articulares. 1ª Edição.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
capítulo 2 • 25
26 • capítulo 2
3
Sistema
Neuromuscular
Aplicado ao
Movimento
3.1 Organização Estrutural do Músculo
Estriado Esquelético
28 • capítulo 3
O miofilamento grosso é composto por grandes moléculas de miosina, or-
ganizadas para formar um filamento longo. Cada molécula tem um alargamen-
to, chamado de cabeça. As cabeças da miosina são capazes de mover-se e ligar-
se aos sítios da actina, gerando assim a contração ou relaxamento muscular
(LEVITSKY, 2004).
As proteínas musculares contráteis estão envolvidas por tecido conjuntivo
que formam as fáscias musculares. Devido à disposição elástica em série des-
se tecido colagenoso, dão origem aos tendões, e os componentes elásticos pa-
ralelos apresentam função de sustentação da fibra muscular. Quanto maior a
proporção de colágeno para as fibras elásticas, maior será o número de fibras
que são orientadas na direção do estresse e, quanto maior a área transversal ou
a largura do tendão, mais forte el será. A propriedade viscoelástica do tecido é
importante e corresponde ao limite de elasticidade e, se o alongamento conti-
nuar, pode resultar em lesão.
capítulo 3 • 29
3.3 Comportamento Mecânico dos Diferentes
Tipos de Fibras Musculares
30 • capítulo 3
por dois elementos, sendo um contrátil (EC) e outro elástico (E) do músculo. O
EC é representado pelo componente ativo, sendo formados pelos miofilamen-
tos de actina e miosina, e o E é representado pelo componente passivo, forma-
do pelo tecido conectivo (endomísio, perimísio e epimísio). Estes elementos
resistem à deformação do músculo e do tendão quando são submetidos a uma
força de tração, o que contribui para restrição da flexibilidade ( KJAER, 2004).
O tecido conectivo muscular é formado por tecido conjuntivo denso e está pre-
sente nos envoltórios das estruturas musculares. Vale salientar que esse tecido
é rico em colágeno, grande responsável pela rigidez do tecido.
O epimísio é constituído por uma camada de tecido conjuntivo que envolve
todo o músculo e se afunila em suas extremidades, formando o tendão. O pe-
rimísio circunda cada fascículo, que é um conjunto de aproximadamente 150
fibras musculares. O endomísio é uma fina camada de tecido conjuntivo que
envolve cada fibra muscular. Sob o endomísio está localizado o sarcolema, que
envolve o sarcômero, unidade funcional do músculo (KJAER, 2004).
As fibras elásticas são compostas por elastina, a qual é capaz de se alongar
até 150%, o que demonstra a sua capacidade de complacência quando compa-
radas às fibras de colágeno. Desta forma, a proporção entre o número de fibras
colágenas e elásticas de um tecido vai determinar sua maior rigidez ou compla-
cência (CULAV et al., 1999).
capítulo 3 • 31
A elasticidade é a capacidade da fibra muscular de retornar ao seu compri-
mento de repouso, assim que seja removida a força de alongamento, sendo sua
capacidade também determinada pela quantidade de tecido conjuntivo pre-
sente no músculo.
A capacidade de produzir força ou tensão de um músculo depende do
comprimento em que ele se encontra quando estimulado. A tensão máxima é
produzida quando o músculo está próximo do seu comprimento de repouso.
Quando o músculo está em uma posição de encurtamento, a tensão diminui
lentamente e depois mais rapidamente. Quando o músculo está em uma posi-
ção de alongamento, a tensão progressivamente diminui.
32 • capítulo 3
Essas ações musculares são muito diferentes em termos do seu custo ener-
gético e produção de força. A contração excêntrica é capaz de gerar a mesma
produção de força ou até superior aos outros dois tipos de ações musculares
com o recrutamento de menor número de fibras. Tal fato acontece no nível do
sarcômero, local onde a força aumenta além da força isométrica máxima se a
miofibrila estiver alongada e for estimulada.
A contração concêntrica possui menor capacidade de geração de força, de-
vido à redução do número de pontes cruzadas formadas com o aumento da ve-
locidade de contração.
Um fator que contribui para a diferença da capacidade de gerar força entre
as contrações excêntricas e concêntricas ocorre quando as ações geram movi-
mento verticais. Nesse caso, a produção de força é influenciada pelos torques
criados pela ação da gravidade.
A força gravitacional cria um torque descendente associado à ação excêntri-
ca para o controle de um movimento de agachamento; outro exemplo é a ação
concêntrica gerada para a produção de inibição do movimento na presença do
força peso.
Existem ainda dois tipos de contrações importantes a serem descritos: a iso-
cinética e a isoinercial.
A contração isocinética é a contração muscular dinâmica, na qual a veloci-
dade de movimento é mantida constante e associada a uma sobrecarga mus-
cular, proporcionada por meio do uso de um equipamento específico. São ini-
ciados com um mínimo de resistência, a qual sofre um gradual aumento. É um
tipo de contração que favorece a resistência muscular.
Já a contração isoinercial é uma resistência a qual o músculo tem de se con-
trair constantemente.
capítulo 3 • 33
biarticulares ou poliarticulares fogem a esta regra, comumente atravessam
mais de uma articulação, criando um número relativo de movimentos que
ocorrem de modo oposto entre si. Assim, esta ação depende da posição do cor-
po e da interação do músculo com a superfície em que o membro está apoiado
ou mesmo a um objeto no qual o segmento está fixado ou estabilizado.
Assim, a maior contribuição dos músculos biarticulares se encontra na re-
dução do trabalho dos músculos monoarticulares, ou seja, reduzem o gasto
energético, por permitirem o trabalho positivo em uma articulação e o negativo
em um outra articulação adjacente.
Os músculos biarticulares ou poliarticulares podem apresentar mais fre-
quentemente um fenômeno denominado de insuficiência, a qual pode se apre-
sentar como ativa e passiva. A insuficiência ativa ocorre quando um músculo
atinge um ponto em que não pode mais ser encurtado. Por exemplo, o músculo
bíceps braquial é responsável pela flexão de cotovelo e também flexão de om-
bro. Se tentarmos realizar uma flexão de ombro e cotovelo ao mesmo tempo,
o bíceps ficará em insuficiência ativa, em razão da proximidade de suas inser-
ções. Já a insuficiência passiva ocorre quando um músculo não pode mais ser
alongado sem danificar suas fibras. Por exemplo, os músculos isquiotibiais rea-
lizam duas ações diferentes em duas articulações: promovem a flexão do joelho
e a extensão do quadril. Quando fletimos o quadril com o joelho estendido, os
isquiotibiais ficam em insuficiência passiva.
34 • capítulo 3
ma, músculos com maior separação ou área de corte transversal fisiológica,
são capazes de produzir maior força, no entanto com perda na velocidade de
contração
Caracteristicamente, fibras longas em paralelo exibem uma faixa de tra-
balho mais longa, o que gera maior amplitude de movimento e velocidade de
contração.
capítulo 3 • 35
tes elásticos seriados são estruturas que repousam alinhadas em série com as
proteínas ativas, como, por exemplo, os tendões. Já os componentes elásticos
paralelos, são tecidos que repousam paralelamente às fibras ativas, como peri-
mísio. O estiramento de um músculo alonga os componentes elásticos parale-
los e seriados, proporcionando resistência similar a de uma mola.
Quando um músculo promove o estiramento de seus componentes elásti-
cos e seriados e paralelos, é gerada uma curva de comprimento tensão passiva.
A tensão passiva em um músculo estirado é atribuída às forças elásticas pro-
duzidas por elementos não contráteis, como os tecidos conjuntivos extracelu-
lares, os tendões e as proteínas estruturais. A curva de comprimento tensão-
passiva é uma parte importante da capacidade de total de geração de força da
unidade musculotendínea. Essa tensão passiva se mostra importante em mús-
culos estirados para movimentar e estabilizar as articulações contra as forças
da gravidade.
O tecido muscular serve para produzir força (ativamente) por meio de estí-
mulos do sistema nervosos central. A produção de força ativa é desencadeada e
explicada pela hipótese do filamento deslizante (Hugh Huxley, Andrew Huxley,
1954), por meio da qual se acredita que a força ativa é produzida quando os fila-
mentos de actina, ao deslizar sobre a miosina, aproximam os discos Z e estrei-
tam a banda H, sobrepondo estes filamentos, com encurtamento dos sarcôme-
ros. Cada cabeça de miosina se encaixa na miosina adjacente, formando o que
se denomina de ponte cruzada. A força produzida por um sarcômero depende
do número de pontes cruzadas. A disposição da actina e miosina no sarcômero
influencia a quantidade de força ativa de acordo com o comprimento da fibra
muscular. Qualquer mudança no comprimento da fibra muscular altera, por-
tanto, a sobreposição entre actina e miosina.
Enfim, a força que uma fibra muscular pode gerar é diretamente propor-
cional ao número de pontes cruzadas entre os filamentos de actina e miosina.
36 • capítulo 3
em que aumenta a velocidade de deformação dos componentes passivos, o que
resulta em maior capacidade de geração de força.
Ao reduzir a velocidade com o aumento da carga, a maior potência poderá
ser gerada. A potência é definida como o produto da força pela velocidade.
No caso das ações musculares excêntricas, ocorre o oposto que acontece
nas ações concêntricas. Comumente ações excêntricas são geradas por múscu-
los antagonistas, pela gravidade ou por alguma outra força externa. Neste tipo
de ação, a tensão aumenta com a velocidade de alongamento, porque o múscu-
lo está se alongando durante o momento contrátil.
capítulo 3 • 37
lenta produz maior força, porque o tempo necessário está disponível para que
a tensão produzida pelos elementos que contribuem para contração seja trans-
mitida aos elementos elásticos paralelos ao tendão (NORDIM & FRANKEL,
2003).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CLARK, K. A.; MCELHINNY, A.S.; BECKERLE, M. C.; GREGORIO, C. C. Striated muscle
cytoarchitecture: an intricate web of form and function. Annual review of cell and developmental
biology. v.18, p. 637–706, 2002.
HERRMANN, H.; BÄR, H.; KREPLAK, L.; STRELKOV, S.V.; AEBI, U. Intermediate filaments: from cell
architecture to nanomechanics. Nature reviews molecular cell biology. v. 8, p. 562-573, 2007.
HAMILL, J. KNUTZEN, K.M. Bases Biomecânicas do Movimento Humano. 1ª Edição. Barueri:
Manole, 2012.
KJÆR, M.; KROGSGAARD, M.; MAGNUSSON, P.; ENGEBRESTSEN, L.; ROOS, H.; TAKALA, T.; WOO,
S. L-Y. Textbook of sports medicine. Basic science and clinical aspects of sports injury and physical
activity. Blackwell Science LTD, Oxford, 2003.
KNUDSON, D. Fundamentals of Biomechanics. 2º Edition. New York: Springer, 2007.
NORDIM M., FRANKEL, V.H. Biomecânica básica do sistema musculoesquelético. 3° Edição.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
38 • capítulo 3
4
Sistema Ósseo e o
Movimento
4.1 Composição e Estrutura do Tecido Ósseo
O osso é um tecido conjuntivo altamente especializado, sendo composto por
colágeno tipo I, células (osteócitos), e uma substância fundamental rica em
sais minerais. As proteoglicanas da substância fundamental contêm glicopro-
teínas como a osteocalcina, a qual se liga fortemente aos sais minerais ricos em
cálcio e fósforo, como a hidroxiapatita.
As epífises são as extremidades do osso, apresentam forma dilatada, e a di-
áfise é um “tubo” que une as epífises.
A superfície do osso é formada por tecido ósseo com cavidades muito pe-
quenas, sendo que a maioria não é visível a olho nu e o aspecto muito compacto
desta camada lhe dá o nome de osso compacto. É um tecido muito resistente à
tensão e torção e a choques mecânicos.
A superfície da articulação não é revestida por tecido ósseo, mas por cartila-
gem hialina localizada sobre uma fina camada de osso compacto.
No interior o osso possui: uma região central sem osso situada na diáfise
denominada canal medular, cujo interior é ocupado in vivo pela medula óssea;
uma região de tecido ósseo formada por milhares ou milhões de pequenas tra-
ves, pontes ou tabiques, os quais estão organizados de modo tridimensional
denominada osso esponjoso. A disposição das traves ósseas ocorre segundo as
linhas de força que atuam nesta região, tornando o osso esponjoso bastante
resistente e leve.
O osso cortical é formado por lâminas ósseas paralelas e próximas entre si,
formando uma substância rígida e compacta que proporciona resistência ao
osso.
O osso trabecular, é formado por lâminas ósseas dispostas de forma irregu-
lar deixando espaços livres entre si, ocupados pela medula óssea.
Quanto à característica celular os osteoblastos são as células que produzem
matriz óssea, que se deposita em torno da própria célula. Depois de serem total-
mente envolvidos pela matriz, ficam incorporados nela e passam a ser denomi-
nadas de osteócitos. Este é um dos mecanismos de crescimento do osso deno-
minado de aposição, semelhante ao que é encontrado nas peças cartilaginosas
quando condroblastos secretam matriz cartilaginosa. Considera-se que há na
superfície do osso células denominadas osteoprogenitoras que servem como
células-tronco do tecido ósseo.
O terceiro tipo de célula do tecido ósseo é denominado osteoclasto. Esta cé-
lula é multinucleada e se forma pela fusão de macrófagos. Ela se situa sempre
40 • capítulo 4
na superfície do osso e tem a função de destruir a matriz do tecido ósseo e pro-
mover sua reabsorção. Desta maneira, o tecido ósseo tem células que produ-
zem matriz (osteoblastos), células que mantêm a matriz (osteócitos) e células
que reabsorvem o tecido ósseo (osteoclastos), de modo que, em situação de
normalidade, há um equilíbrio que mantém em condições adequadas a quan-
tidade e a organização do tecido ósseo. Modificações de forças que agem sobre
o osso provocam reabsorção e neoformação de trabéculas ósseas em diferentes
posições, visando obter sempre uma situação em que o osso atenda às necessi-
dades do organismo.
O tecido ósseo secundário, maduro ou lamelar e não lamelar apresentam
características importantes e distintas. No osso maduro, os osteócitos, estão
organizados e ocupam camadas bastante distintas.
A diferença principal entre tecido ósseo lamelar e não lamelar está na dis-
posição de suas fibras colágenas. No tecido ósseo primário, imaturo ou não la-
melar, as fibras colágenas estão dispostas em todas as direções, sem nenhuma
organização. Já no osso secundário, maduro ou lamelar, as fibras colágenas
desta lamela estão organizadas de modo paralelo entre si, o que promove maior
sustentação ao osso.
O osso lamelar pode ser comparado à madeira compensada, na qual cada
camada possui fibras (de celulose) dispostas em ângulo reto em relação à ca-
mada vizinha. Cada lamela óssea pode ter de 3 a 7 micrômetros de espessura
e contém muitos osteócitos ao longo de sua extensão, mas frequentemente só
um na sua espessura.
No seu exterior, o osso é revestido pelo periósteo e o interior, o canal medu-
lar, é revestido por uma camada de osteoblastos denominada endósteo.
capítulo 4 • 41
de osso é promovida pelos osteoclastos, os quais contribuem para a remode-
lagem óssea. Os fibroblastos primitivos, essenciais para o reparo de ossos fra-
turados, são originários do periósteo, do endósteo e de tecidos perivasculares.
O osso demonstra sua maior força quando comprimido pelo eixo longo de
sua haste, entretanto suas extremidades recebem forças compressivas multi-
direcionais por meio das superfícies de sustentação de peso. O estresse nestas
áreas é dissipado pelo osso subcondral subjacente e então pela rede de osso
esponjoso, que, por sua vez, atua como uma série de apoios para redirecionar
as forças pelo eixo longo do osso compacto. Esse arranjo estrutural redireciona
as forças, de modo a absorver e retransmiti-las aos demais segmentos do corpo.
42 • capítulo 4
A um cientista alemão (Julius Wolff (1839 – 1902) é creditada a descoberta
de que os ossos remodelam de acordo com a tensão mecânica que ele recebe,
ou seja, ocorre a formação de osso na presença de estresse e a reabsorção na sua
ausência). Esse fenômeno é chamado Lei de Wolff.
LEITURA
Acesso sugerido:
http://www.icb.usp.br/mol/7-42-discoepif-6-Kossa.html
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KNUDSON, D. Fundamentals of Biomechanics. 2º Edition. New York: Springer, 2007.
NEUMAN, D.A. Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier,
2011.
SACCO, I.C.N., TANAKA, C. Cinesiologia e Biomecânica dos Complexos Articulares. 1ª Edição.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
capítulo 4 • 43
44 • capítulo 4
5
Sistema Articular
Aplicado ao
Movimento
5.1 Classificação das Articulações
Relacionadas ao Estudo do Movimento
A articulação é a junção entre dois ou mais ossos que permite a rotação de arti-
culações individuais para o movimento, transferindo e dissipando a força pro-
duzida pela contração muscular e pela força da gravidade.
Assim, a artrologia, é a ciência que estuda a classificação, estrutura e fun-
ção das articulações no movimento humano tanto em doenças quanto no
envelhecimento.
As articulações são classificadas em: sinartrose e diartrose. As articulações
sinartrodiais permitem quase nenhum movimento articular devido à forte
camada de tecido conjuntivo fibroso e cartilaginoso, mantendo uma ligação
firme e transmissão de força entre esses ossos. Elas são subdivididas em art.
fibrosas pela alta concentração de colágeno, ex. suturas do crânio, articulação
tibiofibular distal (sindesmose), membrana interóssea radioulnar; e art. carti-
laginosas uma combinação entre colágeno com fibrocartilagem, encontradas
na sínfise púbica, manúbrio esternal e articulação entre os corpos vertebrais.
As articulações diartroses são cavidades sinoviais preenchido por fluido,
permitindo movimentos mais amplos. Ex.: art. glenoumeral, joelho, tornoze-
lo. Para que ocorra um movimento harmônico, são necessários alguns outros
elementos, como a cartilagem articular para revestimento ósseo, envolvida por
uma cápsula articular externa (fibroso) e interna (sinovial), essa especializada
na produção de fluido sinovial (plasma, ac. hialurônico e glicoproteínas), redu-
zindo o atrito articular e nutrindo a cartilagem articular.
As articulações sinoviais são classificadas fazendo analogia a objetos fami-
liares. A primeira dela é art. em dobradiça caracterizada pela art. úmeroulnar
e interfalangeana e permite a flexo-extensão somente. A art. em pivô é quando
uma articulação é orientada paralelamente ao eixo de rotação, ex. art. atlanto-
axial e radioulnar proximal. A art. elipsoide é formada por um estrutura conve-
xa e por outra côncava, permitindo dois graus de movimento flexo-extensão e
adução e abdução, ex. art. radiocárpica. A art. esferoidea apresenta uma relação
convexa pareada com uma superfície côncava, permitindo movimento em três
planos. Ex.: quadril e glenoumeral. A art. plana é formada por ossos achatados
que deslizam e rodam uns sobre os outros, ex. art. intercárpicas e intertársica e
carpometacárpica do IV e V dedos. A art. em sela é formada por uma superfície
46 • capítul0 5
côncava e uma convexa, permite movimento em dois planos, ex. carpometa-
cárpica do polegar. Art. condiloides apresentam uma superfície óssea côncava
bem rasa, permite dois graus de liberdade, porque o terceiro grau de movimen-
to é impedido pelos ligamentos. Ex. Joelho.
capítulo 5 • 47
Bolsas sinoviais são extensões da membrana sinovial preenchida por fluido
sinovial que aparecem em situações de estresse. Essas bolsas ajudam na ab-
sorção de força e proteção de tecidos conjuntivos periarticular (ligamentos),
inclusive os ossos.
48 • capítul0 5
Devido ao formato e à necessidade funcional das articulações, labro peri-
férico, discos articulares e meniscos formados por coxim fibrocartilaginoso se
localizam entre as superfícies articulares, aumentando a área de contato entre
as superfícies ósseas e dissipando a força. Coxins de tecido adiposo aumentam
a espessura da cápsula articular, preenchendo espaços não articulares, porém
reduzem o fluido sinovial. Em situações patológicas, esses coxins afetam a me-
cânica articular.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HAMILL, J., KNUTZEN, K.M. Bases biomências do movimento humano. 1ª Edição. Barueri:Manole,
2012.
KNUDSON, D. Fundamentals of Biomechanics. 2º Edition. New York: Springer, 2007.
NEUMAN, D.A. Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier,
2011.
capítulo 5 • 49
50 • capítul0 5
6
Cinesiologia e
Biomecânica da
Coluna Vertebral,
dos Membros
Superiores e
Inferiores
6.1 Coluna Vertebral
A coluna vertebral consiste em conjunto de 33 vértebras dividido em 7 vértebras
cervicais, 12 torácicas, 5 lombares, 5 sacrais e 4 coccígenas. A estrutura geral
das vértebras é de um corpo e arco, incluindo forame intervertebral, lâmina,
processos transversos, articulares, espinhosos e discos intervertebrais.
52 • capítul0 6
O ligamento longitudinal anterior longo e forte que se estende do processo ba-
silar do occipital, corpo vertebral até o sacro reforça a face anterior do corpo verte-
bral e ajuda a limitar a extensão cervical e lombar e contribui para limitar a lordose
fisiológica. O ligamento longitudinal posterior que se estende posteriormente do
corpo vertebral, do áxis até o sacro está localizado dentro do canal vertebral e an-
terior à medula espinal. A porção lombar é mais delgada e limita a capacidade de
conter uma herniação discal. Tensão aumenta com a flexão.
Os ligamentos capsulares interapofisários são fortes e impedem os movi-
mentos extremos da coluna, incluindo movimentos translação ou separação
das superfícies articulares.
O disco interverbral é composto por um anel fibroso, centralmente preen-
chido por núcleo pulposo, um gel contendo 80% de água; e dois platôs cartila-
gem hialínica que separa o núcleo pulposo do corpo vertebral. A sustentação do
peso corporal passa do corpo vertebral para o disco intervertebral, que distribui
a força pelo núcleo pulposo para todas as direções do anel fibroso. Se a força é
central, como ocorre ao carregar um peso sobre a cabeça, ocorre compressão
que abaulará o ânulo fibroso em todas as direções. Quando a força ocorre fora
do eixo central do disco, o núcleo exerce uma pressão oposta no anel fibroso,
tornando-se estreito na frente e estirado posteriormente.
O núcleo pulposo é aquoso, hidrofílico e vascularizado. Durante o dia,
mudanças na altura do indivíduo pode chegar em 2 cm, devido à perda de
água durante o dia. Com a idade, a capacidade de reabsorver água diminui.
Microtraumas e envelhecimento podem causam danos ao disco intervertebral.
Na flexão e extensão da art. atlanto-occipital, ocorre uma combinação de
rolamento no mesmo sentido do movimento e deslizamento para o sentido
oposto. Na art. atlantoaxial, ocorre uma inclinação para mesmo sentido do mo-
vimento, enquanto na art. de C2-C7, ocorre somente o deslizamento no mesmo
sentido do movimento. Nos movimentos de rotação, a art. atlanto-occipital são
desprezíveis, enquanto na art. atlantoaxial, ocorre uma rotação do áxis com um
deslizamento no mesmo sentido da vértebra acima, o atlas. Nas vértebras C2-
C7, ocorre uma combinação de deslizamento no mesmo sentido da rotação.
Na flexão lateral da art. atlanto-occipital ocorre um movimento de rolagem e
deslizamento do crânio sobre o atlas, afastando o processo mastoide contrala-
teral. Na região de C2-C7, ocorre o deslizamento das vértebras no mesmo senti-
do da flexão lateral e o afastamento dos processos transversos contralaterais. A
presença de ligamentos posicionados nessas estruturas ósseas impede a movi-
mentação excessiva da articulação.
capítulo 6 • 53
Na flexão e extensão, são permitidos 5° de flexão e 10° de extensão no plano
sagital; 5° de flexão e 0° de extensão no plano frontal e rotação axial no plano
horizontal é desprezível. Na articulação atlantoaxial ocorrem flexão é de 5° e
extensão de 10°, rotação axial que combina rotação e deslizamento para o mes-
mo lado de 35 a 40° e pouco movimento de flexão lateral. Nas articulações de
c2-c7 a flexão é de 40°, extensão de 60°, rotação axial e flexão lateral de 35°.
Na região torácica, as superfícies articulares são um pouco oblíquas, mas
estão no plano frontal e pode ocorrer a flexão lateral. Porém, os poucos movi-
mentos dessa região são atribuídos pela presença de 10 costelas adjacentes qe
formam a art. costocorpórea e costotranversal, enquanto que na região torácica
inferior e junção toracolombar existe maior grau de liberdade.
A região torácica exibe em torno de 45° de cifose fisiológica. São permitidos
até 40° de flexão, 25° de extensão. Os extremos da flexão são limitados pelos
ligamentos longitudinais e cápsulas das articulações apofisárias, enquanto a
extensão excessiva é limitada pelo ligamento longitudinal anterior e o impacto
das lâminas e entre os processos espinhosos.
A rotação axial da coluna torácica, é de 35°, devido ao movimento de desli-
zamento da faceta inferior com a faceta superior no mesmo sentido da rotação.
Nas regiões inferiores da coluna torácica a rotação é menor.
A flexão lateral da coluna torácica é de 35° para ambos os lados. Para o mo-
vimento, a faceta inferior da vértebra superior desliza superiormente sobre a
faceta superior da vértebra inferior contralateral e desliza inferiormente do
mesmo lado do movimento. Nesse movimento, ocorre deslizamento superior
com afastamento dos processos espinhosos vértebras superiores sendo limita-
dos pelos ligamentos supra e interespinosos e longitudinal posterior.
Na região lombar de L1-L4, a flexão ocorre devido à combinação de desliza-
mento superior das articulações de uma vértebra sobre a outra, devido ao movi-
mento de deslizamento das vértebras adjacentes, com aumento da tensão nos
ligamentos inter e supraespinosos e longitudinal posterior. O grau de flexão
da coluna lombar afeta significativamente o disco intervertebral. A flexão pro-
longada da lombar aumenta a força de compressão na região anterior do disco
fazendo que o núcleo pulposo migre posteriormente, podendo haver prolapsos
ou herniações discais.
A extensão lombar permite entre 15 e 20° de movimento, o que aumenta da
lordose fisiológica. A extensão lombar é combinada com extensão de quadril, é
alcançada pelo estiramento dos músculos do flexores de quadril e ligamentos
54 • capítul0 6
capsulares do quadril, promovendo uma lordose lombar. Na extensão ocorre um
deslizamento inferior e posterior da faceta articular inferior em relação à faceta arti-
cular superior da vértebra adjacente. Em casos de hiperlordose lombar, há aumento
do contato das facetas articulares, o que pode gerar um estresse nas regiões adjacen-
tes, podendo comprimir ligamentos interespinosos, gerando dores lombares.
A extensão também afeta negativamente o disco e deforma o núcleo pulposo
na direção anterior, visto que ocorre uma redução dos forames intervertebrais
e pode comprimir as raízes nervosas, levando a fraqueza e alteração de sensibi-
lidade das extremidades. Uma extensão completa ajuda a reduzir a pressão de
contato entre o núcleo herniado e a raiz nervosa. Manobras de extensão lombar e
correções posturais ajudam a aliviar a sintomatologia de dores lombares.
A flexão e extensão da coluna lombar ocorre também por ajustes da pelve
em relação ao fêmur fixo durante os movimentos ou quando se pega objetos do
chão. Também podem ocorret ajustes como movimentos de inclinação ante-
rior e posterior da pelve com o tronco fixo.
A rotação axial da coluna lombar tem entre 5 e 7° de liberdade no plano ho-
rizontal alcançado pela rotação das outras vértebras, as quais são muito restrin-
gidas pela orientação relativamente forte das articulações apofisárias das vér-
tebras lombares, ofertando assim uma estabilidade deste segmento. A rotação
axial da coluna lombar ocorre pela rotação do quadril e região torácica inferior.
Na rotação axial ocorre uma compressão da cartilagem apofisárias contralate-
ral, danificando-as, assim como podem romper-se os ânulos fibrosos.
CONEXÃO
Assita aos Vídeos:
https://www.youtube.com/watch?v=RNUpMNd_u1U
https://www.youtube.com/watch?v=FyBOBjl6A10
https://www.youtube.com/watch?v=0qR-Yfw9fOI
capítulo 6 • 55
Na camada superficial estão o trapézio, latíssimo do dorso, romboide, ele-
vador da escápula e serrátil anterior, todos bilaterais. Quando ativados unilate-
ralmente, promovem rotação axial, ou no caso do trapézio que age na inclina-
ção lateral.
Na camada intermediária do tronco estão o serrátil póstero superior e infe-
rior e suas funções estão mais relacionadas com a ventilação do que na estabi-
lização. Na camada profunda do tronco, esses músculos são didaticamente são
classificados em grupo eretor da coluna, transversoespinal e segmentar curto.
Os músculos da camada profunda do tronco são inervados pelo ramo dorsal
dos nervos espinais das regiões cervical torácica e lombar.
É uma grande massa muscular que preenche o espaço entre os processos es-
pinhosos e transversos das vértebras bilateralmente, estendendo-se por toda
a coluna se inserindo em um único tendão na região do sacro. Os músculos
eretores da coluna são espinal, longuíssimo e iliocostal. Tem função de rotação
axial, extensão e inclinação lateral do tronco.
Os músculos espinais são formados pelo espinal torácico, espinal cervical
e espinal da cabeça e ascendem inserindo nos processos espinhosos das vérte-
bras torácicas e cervical, no ligamento nucal.
Os músculos longuíssimos incluem os longuíssimos torácico, cervical e da
cabeça. O longuíssimo torácico se insere nas costelas, o longuíssimo cervical
se insere nos processos transversos e o longuíssimo da cabeça se insere no pro-
cesso mastoide.
Os músculos iliocostais incluem os músculos da região lombar e torácica,
provindo de um tendão comum e inserindo-se nas costelas médias e superio-
res, respectivamente. A partir deste ponto ,o iliocostal cervical continua cra-
nialmente para se inserir nos tubérculos posteriores dos processos transversos
cervicais junto com o longuíssimo da cabeça.
A contração bilateral dos eretores da coluna causa seletivamente a extensão
da cabeça, tronco ou pescoço. Devido à inserção desses músculos na pelve, os
movimentos podem ocasionar a inclinação anterior da pelve aumentando a lor-
dose lombar. A contração unilateral dos iliocostais promove a flexão lateral do
tronco; iliocostal e o longuíssimo cervical auxiliam na rotação contralateral, e
os iliocostais lombares auxiliam na rotação lateral ipsilateral.
56 • capítul0 6
Músculos tranversoespinais
Recebem esse nome devido à inserção dos músculos nos processos transversos
de uma vértebra para os processos espinhosos de uma vértebra superior. Os
músculos são os espinais, multifidos e os rotadores.
Os semiespinais torácicos são finos e inserem-se dos processos transver-
sos de T6-T10 até os processos espinhosos de C6-T4. Os semiespinais cervicais
iniciam a partir dos processos transversos das torácicas superiores e inserem
em C2-C5. Como inserem nos processos transversos proeminentes do axis que
ofertam grande estabilidade para os músculos suboccipitais.
Os músculos semiespinais da cabeça e cervical são músculos que atravessam
a região do pescoço, e se espessam na inserção do osso occipital, nas regiões da
linha nucal. Esses músculos promovem grande torque extensor craniocervical.
Os multífidos iniciam no processo transverso de uma vértebra e se inserem
nos processos espinhosos de duas ou quatros vértebras acima. Dessa forma,
preenchem os espaços entre os processos espinhosos e transversos, gerando
grande torque de extensão e excelente estabilizador da coluna, cerca de dois
terços desta região.
Os rotadores são os músculos mais profundos existentes em toda a colu-
na, chamados de rotadores longos e curtos, porém são mais desenvolvidos na
região torácica. Cada fibra muscular insere-se entre os processos transverso e
espinhoso, lâmina de uma vértebra localizada a uma ou duas junções interver-
tebrais acima.
A contração bilateral desses músculos causa a extensão do esqueleto axial,
podendo acentuar a lordose lombar e cervical e diminuir a cifose torácica. A
contração unilateral causa a inclinação lateral do tronco e rotação axial devi-
do à posição oblíqua das fibras. Como os músculos são pequenos e orientados
mais verticalmente do que horizontalmente, torque extensor é maior do que a
rotação axial.
capítulo 6 • 57
Cada músculo intertransversal está localizado nos processos transversos
adjacentes e se divide em anterior e posterior, pelos quais passa o ramo ventral
dos nervos espinais. A contração unilateral proporciona uma magnitude pe-
quena de flexão lateral da coluna, porém o torque desses músculos é excelentes
fonte de estabilidade intervertebral.
58 • capítul0 6
cos de T12 a L5, e, ao atravessar a região do ligamento inguinal, os dois múscu-
los se fundem em único tendão, inserindo, no trocânter menor do fêmur.
O m. iliopsoas exerce função na coluna lombar, na junção lombosacral e na
articulação do quadril. Ao cruzar a frente do quadril, o iliopsoas age levando o
fêmur em direção à pelve e da pelve em direção ao fêmur, acentuando a lordose
lombar, assim torna-se um flexor de tronco e quadril.
O psoas maior possui alavanca para a flexão da coluna lombar, porém não é
considerado um flexor dominante, quanto menos um extensor da coluna lom-
bar, porém apresenta grande função de estabilizador vertical da curva fisioló-
gica de lordose.
O outro músculo adicional é o quadrado lombar, que se insere no ligamento
iliolombar e crista ilíaca e superiormente na décima segunda costela e nos pro-
cessos transversos L1-L4, sendo inervado pelo ramo ventral dos nervos espinais
de T12-L3.
Exerce importante papel de suspensão do quadril durante a fase de balanço
e oscilação do pé, principalmente em pacientes assistidos com muletas.
A função geral desses músculos é oferecer estabilidade do esqueleto axial,
inclusive ao tronco junto com outras estruturas, como os ligamentos e tecidos
conjuntivos. Isso assegura, que mesmo diante de estímulos desestabilizado-
res, esses músculos e ligamentos ajudam a manter a posição do tronco quase
que estáticas. Assim, os músculos intrínsecos formados pelos grupos transver-
so espinal e segmentar curto, os músculos extrínsecos formados pelos grupos
anterolateral e os músculos adicionais do tronco fornecem a estabilização do
tronco.
capítulo 6 • 59
Em contração unilateral, age com um inclinador lateral e rotador axial con-
tralateral, ao passo que a contração de ambos os músculos pode flexionar ou
estender a região crâniocervical.
Os escalenos estão localizados entre os processos transversos cervicais me-
diais e inferiores e nas duas primeiras costelas, formando um triângulo com
três lados diferentes.
Como estão inseridos nas costelas superiores, estes músculos são conside-
rados acessórios da respiração quando a coluna está estabilizada.
O contrário ocorre visto que nas duas primeiras costelas estabilizadas, os
escalenos movem a coluna cervical, fazendo a inclinação lateral e rotação axial
dependendo da posição em que a região se encontra. Na contração bilateral, os
escalenos anterior e médio têm função de flexor cervical, embora estejam rela-
cionados mais com a ventilação e com a estabilidade bilateral e vertical para a
coluna cervical.
Os músculos dessa região são formados pelos músculos esplênios (da cabeça
e da cervical), sendo responsáveis pela extensão da região crânio-cervical supe-
rior na contração bilateral; e flexão lateral e rotação axial ipsilateral da cabeça
e cervical.
Esses músculos que cruzam a região crânio-cervical compõe a grande mas-
sa muscular para o volume do pescoço, que, quando ativada, fornece um ex-
celente meio de proteção dos órgãos, vasos sanguíneos, disco intervertebral,
articulações e o tecido neural. Também oferece uma fonte primária de estabili-
zação crânio-cervical, especialmente obtida pelos músculos curtos e segmenta-
dos, mas que é aumentada pela interação de outros músculos.
60 • capítul0 6
A clavícula apresenta uma curvatura convexa e côncava, sendo que extremi-
dades esternal articula-se com o esterno; e acromial que se articula com a face
acromial da escápula.
A escápula possui um formato triangular, sendo dividida em duas fossas su-
pra e infraespinal separadas pela espinha da escápula, que é elevada e se achata
para formar o acrômio, estrutura anterior e lateral que está sobre a cavidade
glenoide e se comunica com a extremidade distal para formar a art. acromio-
clavicular. A escápula contém a cavidade glenoide, relativamente côncava, que
se articula com a cabeça umeral, com uma inclinação de 4° no plano horizontal
do corpo escapular.
A cabeça umeral apresenta apenas metade de sua esfera em contato com
a cavidade glenoide, com um ângulo de inclinação de 135° com a epífise do
úmero, e com uma retroversão da cabeça umeral em relação ao cotovelo de 30°,
sendo evidenciados em membros dominantes de lançadores de beisebol. O
colo anatômico é o ponto que separa a cabeça da epífise, sendo evidenciadas
saliências chamadas de tubérculos maior e menor, ponto de inserções de mús-
culos do manquito rotador. As cristas se estendem distalmente do lado anterior
desses tubérculos, e recebem inserções do peitoral maior e do redondo maior;
e entre as cristas está o sulco bicipital abrigando o tendão da cabeça longa do
bíceps braquial. Outra consideração importante: o sulco do nervo radial, o qual
o úmero apresenta uma espiralação para o caminho do nervo radial.
A art. esternoclavicular (EC) é o ponto de união do esqueleto apendicular
com o esqueleto axial, com grande amplitude de movimento e tecidos conec-
tivos periarticulares. Os tecidos periarticulares são formados por ligamentos
esternoclaviculares (anterior e posterior), que, associados com os mm. ester-
nocleidomastoideo, esternotireoideo e subclávio, aumentam a estabilidade da
articulação. O ligamento interclavicular fica entre as extremidades mediais di-
reita e esquerda. O ligamento costoclavicular é forte e se estende da cartilagem
da primeira costela até a superfície inferior da clavícula. São formados por dois
feixes de fibras que ajudam a estabilizar a articulação em todos os movimentos
da clavícula, exceto a depressão. A art. EC contém um disco fibrocartilaginoso
que mantém conectada a face clavicular, na extremidade esternal da clavícula,
o ligamento interclavicular e com a cápsula interna, ajudando na absorção de
choque por aumento da área de contato. São articulações extremamente está-
veis, visto que, antes de serem luxadas, são fraturadas no nível clavicular, em
atividades de contato ou em acidentes de trânsito.
capítulo 6 • 61
Possui três níveis de liberdades com cada nível correspondente a um pla-
no. Os movimentos de elevação e depressão ocorrem em torno de 45° no plano
frontal, os quais produzem um movimento similar na escápula. Na elevação
da clavícula, ocorre um movimento de rolamento superior e deslizamento in-
ferior, que é limitado pelo ligamento costoclavicular. A depressão ocorre pelo
rolamento inferior e deslizamento superior, sendo limitado pelos ligamentos
capsulares e interclavicular. Os movimentos de protração e retração ocorrem
paralelos ao plano horizontal, com até 30° de liberdade. A retração ocorre pelo
rolamento da superfície côncava da clavícula e deslizamento posterior do es-
terno. Na prostração ocorre similarmente a retração, porém como movimento
anterior. O terceiro nível de movimento é a rotação da clavícula, que acontece
durante a flexão e a abdução de ombro, rolando cerca de 20 a 35° posteriormen-
te, combinado pelo giro da superfície esternal.
A articulação acromioclavicular (AC) está alinhadas por um disco articular
fibrocartilaginoso completo e incompleto. Nessa articulação ocorrem movi-
mentos sutis entre a escápula e a extremidade distal da clavícula que aperfeiço-
am a mobilidade com o tórax. São rodeadas por cápsulas e ligamentos superior
e inferior e reforçadas pelos mm. deltoide e trapézio. O ligamento coracocla-
vicular dá estabilidade extrínseca à articulação formando pelo lig. trapezoide
e conoide, sendo similares em comprimento e absorve maior parte da energia
dos que outros ligamentos do ombro e mantém a suspensão da escápula.
Possui três graus de liberdade. Os movimentos são de 30° de rotação para cima
e ocorrem durante a abdução e flexão de ombro. Na rotação para baixo ocorrem
durante os movimentos adução e extensão de ombro. As rotações ocorrem dentro
do plano escapular. Durante os movimentos do ombro, na extremidade distal da
clavícula ocorrem movimentos de ajustes rotacionais nos planos horizontal, sendo
evidenciados pela borda medial da escápula gira para fora, chamados de rotação
interna e externa. Os ajustes no plano sagital ocorrem no eixo medial-lateral, fazen-
do com que o ângulo inferior da escápula gire para fora ou em direção à superfície
do tórax. Os movimentos são chamados de inclinação anterior e posterior. Sem
esses ajustes rotacionais, os movimentos do membro superior seriam limitados.
A art. escapulotorácica não é uma articulação verdadeira, não havendo con-
tato entre as estruturas ósseas, sendo separadas por um conjunto muscular, os
quais reduzem o cisalhamento nos movimentos. A amplitude de movimento
dessa articulação varia de 10° na inclinação anterior, 5 a 10° rotação para cima
e 35° de rotação interna, contribuindo grandiosamente para o alcance dos mo-
vimentos de ombro.
62 • capítul0 6
Os movimentos da art. escapulotorácica acontecem pela cooperação das
art. AC e EC. Na elevação e depressão dessa articulação, ocorre uma rotação
para baixo da escápula na art. AC que faz que a escápula fique em posição verti-
cal durante a elevação, enquanto que, na rotação para cima da escápula na art.
AC, a escápula tende a ficar horizontalizada. Os ajustes adicionais na art. AC
nivelam a escápula com a curvatura do tórax. A protração da escápula ocorre
por meio das rotações, podendo ser amplificada pelos ajustes da art. AC e EC. A
retração ocorre de forma inversa à protração, em que a escápula vai em direção
à coluna durante os atos de puxar uma polia, subir em uma corda.
A rotação para cima da escapulotorácica combina movimentos de abdução
de ombro, com posição estável da cabeça umeral na cavidade glenoide, que é
alcançada pela ação de elevação da clavícula na art. EC e rotação escapular para
cima da art. AC, contribuindo para os 60° da art. escapulotorácica. Na rotação
para baixo, o braço retorna à posição original, com depressão da art. EC e rota-
ção para baixo da escápula na art. AC. A art. glenoumeral (GU) é uma articulação
esferoide entre a cabeça convexa do úmero e a concavidade rasa da fossa glenoi-
dal forrada por cartilagem articular. Além disso está envolvida por um conjunto
de cápsula fibrosa, enquanto que a membrana sinovial forma a parede interna
da cápsula e contorna o tendão do bíceps braquial na fenda intertubercular. As
camadas externas da parede inferior e anterior da cápsula são formadas por li-
gamentos glenoumerais ricas em fibras colágenas e são divididas em superior,
médio e inferior, espiralando-se em torno da articulação, limitando os extre-
mos dos movimentos de adução, abdução e rotação externa. Esses ligamentos
também contribuem para manter a pressão negativa da art. GU, evitando a su-
bluxação inferior da cabeça do úmero. A bolsa axilar também a ajudar a manter
a cabeça umeral suspensa, contribuindo para impedir os extremos de rotação
interna e externa, durante atividades de arremesso no beisebol. O ligamento
coracoumeral também oferece um fortalecimento à cápsula superior e ao ten-
dão do supraespinal, que é tensionada durante a abdução de ombro, resistindo
à translação inferior e à rotação externa do úmero.
Apesar de conter uma extensa camada de ligamentos e cápsula fibrosa, art.
GU é dependente da força, inervação e do controle dos músculos do manguito
rotador (Subescapular, supraespinal, infraespinal e redondo menor), pois pro-
duzem a estabilização dinâmica e proteção da articulação durante as diferentes
amplitudes de movimentos. Os tendões desses músculos se fundem dentro da
cápsula articular, explicando assim a estabilidade mecânica, porém, na região
capítulo 6 • 63
em que o manguito rotador não está totalmente coberto, o espaço entre os mm.
supraespinal e subescapular estão mais propensos a luxações.
O lábio glenoidal é uma extensão da cavidade glenoidal formada por fibro-
cartilagem que aumenta em 50% a profundidade da cavidade, aumentando a
congruência e estabilização.
Na posição estática da art. glenoumeral, cabeça do úmero é comprimida na
fossa glenoidal inclinada, devido ao vetor de força resultante da ação dos liga-
mentos capsular superior, ligamento coracoumeral e o tendão supraespinal. Essa
força de compressão articular ajuda a estabilizar, evitando a queda do úmero.
A posição adequada da articulação escapulotorácica é importante meio
para manutenção da orientação para cima a cavidade glenoidal Uma orienta-
ção para baixo da cavidade glenoidal devido a fraqueza e paralisia muscular,
leva a cabeça do úmero para baixo, ocasionando uma deformação plástica das
estruturas ligamentares superiores, podendo desencadear uma subluxação e/
ou luxação.
O arco coracoacromial é formado pelo ligamento coracoumeral com o acrô-
mio da escápula, e funciona com um teto da articulação GU contendo um espa-
ço subacromial por onde passam os músculos e o tendão supraespinal, bursa
subacromial, a cabeça longa do bíceps braquial e a cápsula superior.
Bursas existem em torno do ombro, aonde as forças friccionais entre os ten-
dões, ossos, cápsula, ligamentos e músculos são maiores. Dentre elas duas se
destacam, que são as bursas subacromial e subdeltoidea.
A art. GU permite três graus de liberdade, os quais têm a participação dos
movimentos da escapulotorácica, associado aos movimentos da art. AC e EC.
O movimento de abdução do úmero é em torno de 120°, em que a cabeça do
úmero rola superiormente e desliza inferiormente, enquanto que na adução o
úmero realiza o movimento inverso. Esse mecanismo de rolamento e desliza-
mento é importante para manter o espaço subacromial normal a fim de evitar a
compressão do úmero contra o teto acromial, o tendão supraespinal e irritação
da bursa subacromial, evitando sintomas irritativos e inflamatórios da síndro-
me do impacto subacromial.
A flexão do úmero é em torno de 120°, podendo chegar a 180° com com-
binação de movimentos de rotação para cima da escaputorácica. Ocorre um
movimento giratório do úmero na cavidade glenoidal e translação anterior do
úmero na flexão extrema. A extensão de ombro é de 65° ativo e 80° passivo, mo-
vimentos que combinam inclinação anterior da escápula e deslizamento ante-
rior do úmero.
64 • capítul0 6
A rotação interna e externa ocorre no plano horizontal através do diâmetro
transverso da cabeça umeral e da cavidade glenoidal. Assim o deslizamento e o
rolamento das rotações ocorrem em diâmetro transverso maior da cabeça ume-
ral sobre uma pequena superfície da fossa glenoidal. A amplitude de rotação
interna é 75 a 85° e a rotação externa é de 60 a 70°, mas pode aumentar em até
90° combinado com a posição da cabeça umeral na cavidade glenoidal durante
o movimento de abdução.
Entre os movimentos do ombro, existe um ritmo entre a abdução glenou-
meral e a rotação escapulotorácica chamado de ritmo escapulotorácico. Para
cada 3° de abdução de ombro, 2° de abdução ocorre na glenoumeral e 1° de
rotação para cima ocorre na art. escapulotorácica, sendo assim denominado de
2:1. Assim, no arco de 180° de abdução de ombro, 120° ocorrem na glenoume-
ral e 60° ocorrem na art. escapulotorácica.
No entanto, 60° de abdução de ombro são proporcionados pela elevação si-
multânea da clavícula na art. EC e rotação para cima da escápula na art. AC.
Nos 180° de abdução de ombro, art. EC se eleva 30°, retrai-se cerca de 15° para
ajudar a art. AC a se posicionar a escápula dentro do plano horizontal.
Na abdução de ombro, a escápula inclina posteriormente e roda externa-
mente, sendo dependente da art. AC e EC, preservando o espaço subacromial,
limitando a possibilidade de impacto, reduzindo o estresse mecânico na cápsu-
la e nos músculos do manguito rotador.
Outro princípio já foi relatado, a rotação da clavícula da art. EC em torno do
seu eixo na abdução de ombro, sendo combinadas forças multiarticulares que
são transferidas dos músculos aos ligamentos. Na abdução, a escápula roda
para cima na art. AC, tensionando o ligamento coracoclavicular, que, devido
à incapacidade de alongar, e a tensão é transferida para o tubérculo conoide
da clavícula, fazendo com que a clavícula rode posteriormente, permitindo que
a escápula continue seus graus de rotação para cima. Sem esse movimento, a
abdução do ombro não seria possível.
Ações Musculares
capítulo 6 • 65
escapulotorácica são mm. trapézio porção ascedente, levantador da escápula e
os romboides, mantendo o suporte da posição da cintura escapular levemente
inclinada e retraída, com inclinação para cima da cavidade glenoidal e também
fornece uma potente alavanca para art. EC.
Os depressores da art. escapulotorácica são a parte descendente do múscu-
lo trapézio, peitoral menor agem diretamente na escápula. O m. subclávio age
indiretamente, puxando a escápula inferiormente à clavícula, e exerce impor-
tante função de estabilização da art. EC. O latíssimo do dorso deprime a cintura
escapular de forma indireta e puxa o úmero inferiormente.
O único protrador escapulotorácico é o serrátil anterior, tendo excelente
potência de alavanca para a protração escapular quando a art. glenoumeral é
utilizada em atividades de empurrar para a frente e alcançar. Nenhum outro
músculo pode fornecer protração adequada para a art. escapulotorácica. O ser-
rátil anterior é também flexor de braço quando o membro está em pronação,
inclinador posterior da escápula e em menor grau pode rodar externamente a
escápula.
Os retratores escapulotorácicos são a parte transversa do trapézio, os rom-
boides e parte descendente do trapézio. São músculos ativos durante o ato de
puxar, remar e o montanhismo, fixando a escápula ao tronco. Os romboides
tendem a elevar a escápula, porém esta é neutralizada pelas fibras descenden-
tes do trapézio, que deprimem a escápula. A paralisia completa do trapézio re-
duz a retração da escápula que tende a ficar protrusa.
Os principais abdutores do braço são os músculos deltoide anterior e médio
e o supraespinal, porém a elevação do braço fletido é feito pelo deltoide ante-
rior, cabeça longa do bíceps braquial e coracobraquial. Os músculos deltoide
médio e supraespinal são similares durante a abdução de ombro e ajudam a
estabilizar a cabeça umeral dentro da concavidade formada pela cápsula infe-
rior articular.
Os principais rotadores para cima da art. escapulotorácica são as fibras supe-
riores e inferiores do trapézio e o serrátil anterior e fornecem uma conexão para
os mm. mobilizadores distais, como o deltoide e os mm. do manguito rotador.
Para a rotação para cima da escápula, há interação entre os mm. trapézio e o
serrátil anterior. As fibras superiores e inferiores e as fibras do serrátil anterior
rodam a escápula para cima durante a abdução de ombro. A parte ascendente
do trapézio roda para cima a escápula e medializa a clavícula se mantendo ati-
va durante todo movimento de abdução de ombro, equilibrando as forças de
66 • capítul0 6
puxão do ângulo inferior da escápula promovido pela porção descendente do
trapézio. Já a parte transversa do trapézio está muito ativa durante a abdução,
e contribui para neutralizar as forças de protração da escápula, junto com os
romboides, que retraem a escápula.
Os músculos do manguito rotador fornecem e estabilização adequada para
a articulação glenoumeral, devido à falta de estruturas ligamentares para per-
mitir os movimentos amplos do ombro. Por isso, os músculos do manguito
rotador, por sua fusão dentro da cápsula articular antes de inserir do úmero
compensam a frouxidão natural e a instabilidade articular. Esses músculos
são controladores ativos da art. glenoumeral; na contração do m. supraespinal
ocorre uma compressão do úmero na cavidade glenoide contra a cavidade gle-
noide, permitindo um rolamento superior adequado para a abdução, e permite
uma distribuição adequada de forças pela maior área de contato em torno de
60 a 120° de abdução.
O m. supraespinal é orientado para abdução de ombro, rolando a cabeça
do úmero superiormente, e também aumenta o espaço musculotendíneo, res-
tringindo a translação superior do úmero. Os outros músculos do manguito
rotador têm uma linha de força para abdução que contrapõe as forças inferio-
res dos músculos latíssimo do dorso e do redondo maior e neutraliza parte da
contração do deltoide na estabilização estática da glenoumeral. Tais compor-
tamentos musculares passivos e ativos, se não funcionassem adequadamente
poderiam ocasionar uma impactação da cabeça do úmero contra o arco coraco-
acromial, bloqueando a abdução de ombro. Na abdução, os mm. infraespinal
e redondo menor podem rodar externamente o úmero e aumentam a liberação
entre o tubérculo maior e o acrômio.
Os principais adutores e extensores de ombro são o deltoide posterior, la-
tíssimo do dorso, redondo maior, cabeça longa do tríceps braquial e porção
costoesternal do peitoral maior. Puxar o braço contra a resistência, por ex. em
uma corda e a impulsão do corpo na água, exige uma forte contração desses
músculos. Os músculos latíssimo do dorso, redondo maior e peitoral maior são
adutores e extensores de ombro.
A estabilização da art. glenoumeral durante a extensão e a adução é feita
pelos romboides, sendo que a escápula roda para baixo e retrai durante esses
movimentos. No entanto, as linhas de força dos mm. peitoral menor e latíssimo
do dorso auxiliam os romboides a rodarem a escápula para baixo.
Os principais rotadores internos são o subescapular, deltoide anterior, pei-
toral maior, latíssimo do dorso e redondo maior e alguns desses são extensores
capítulo 6 • 67
e adutores, excelentes músculos para a natação e arremessos dos lançadores
de beisebol. Isso explica a massa muscular dos rotadores internos de ombro
que excede a rotação externa. A artrocinemática desse movimento ocorre pelo
rolamento do úmero contra a cavidade glenoide fixa. Também pode ocorrer o
movimento de rolamento do tronco e escápula com o úmero fixo.
Os principais rotadores externos da art. GU são os mm. infraespinal, redon-
do menor e deltoide posterior, além do supraespinal, que pode auxiliar a rota-
ção externa. São constituídos de pequena massa muscular, produzindo torque
de esforço do ombro relativamente baixo e são usados para gerar contrações
concêntricas de alta velocidade para o arremesso do beisebol, por exemplo, e
auxiliam na desaceleração da rotação interna durante a contração excêntrica.
68 • capítul0 6
A articulação do cotovelo é revestida por uma cápsula articular reforçada
por bandas de tecido fibroso por uma membrana sinovial que recobre a camada
interna da cápsula. As fibras do ligamento colateral medial reforçam a cápsula
articular, resistindo às forças compressivas em valgo do cotovelo e na flexão de
cotovelo, especialmente as fibras posteriores. As fibras proximais dos múscu-
los flexores do punho e pronadores também conferem resistência em valgo de
cotovelo e são chamadas de estabilizadores dinâmicos mediais do cotovelo.
O ligamento colateral lateral do cotovelo se divide em dois feixes um radial,
que são tensionados durante a flexão total de cotovelo; e um feixe ulnar que
funciona com um guia de movimento para o cotovelo, dando estabilidade no
plano sagital. O ligamento colateral lateral mais a cápsula posterior resiste con-
tra as forças aplicadas em varo.
A artrocinemática da flexão e extensão de cotovelo consiste de rolamento e
deslizamento da fóvea radial que está firmemente tracionada contra o capítulo do
úmero pela contração muscular. Essa articulação dá mínima estabilidade ao coto-
velo, e confere cerca de 50% da resistência contra o estresse em valgo de cotovelo.
A articulação do antebraço é formada pelas articulações radioulnar proxi-
mal e distal e unidas pela membrana interóssea. Os movimentos permitidos
por essa articulação são a pronação e supinação, com rotação do antebraço em
torno de um eixo que estende da cabeça do rádio até a cabeça da ulna, mecanis-
mo independente da mão. Essas rotações são permitidas porque há um espaço
livre entre a ulna distal e lado medial dos ossos do carpo, não havendo interfe-
rência da ulna.
Na posição de supinação, a ulna e o rádio estão em paralelos. Na pronação,
o segmento distal do rádio roda e cruza a ulna, praticamente fixa. A movimen-
tação da art. umeroulnar na pronosupinação é descrita com uma leve rotação
contrária da ulna em relação ao rádio.
Os movimentos de pronação e supinação são importantes para diversas ati-
vidades do dia a dia. A posição inicial para os movimentos encontra-se na posi-
ção neutra, com o polegar voltado para cima, em meio termo da pronação e da
supinação. São alcançados amplitude de 75° de pronação e 85° de supinação.
capítulo 6 • 69
radial, que é inervado pelo n. radial e o m. pronador redondo, que é inervado
pelo n. mediano. Todos são flexores primários do cotovelo.
O bíceps braquial é um músculo biarticular, tendo a combinação de flexão
de cotovelo e extensão de ombro como uma vantagem mecânica para produção
de força flexora de cotovelo, visto que a força máxima de um músculo é maior
quando a velocidade de contração é mais próxima de zero.
Os extensores de cotovelo são o tríceps braquial e ancôneo, que são inerva-
dos por um único nervo, o radial. O tríceps braquial é formado por três cabeças
localizadas na porção posterior do úmero, e o ancôneo é um músculo pequeno
e triangular localizado na porção lateral do epicôndilo lateral do úmero. Apesar
dos comprimentos diferentes das três cabeças do tríceps braquial, o braço de
momento é igual para os três. O m. ancôneo não produz grandes torques ex-
tensores, porém auxilia na estabilidade da art. umeroulnar, principalmente na
extensão, supinação e pronação.
Análises eletromiográficas indicam que o m. ancôneo é o primeiro a iniciar
e manter a extensão de cotovelo em pequenas forças, que são supridas em gran-
de parte pela cabeça medial do tríceps braquial, sendo o principal extensor do
braço. Na sequência, a cabeça lateral desse músculo atua, enquanto a cabeça
longa do tríceps funciona como uma reserva para caso ocorra a necessidade de
aumentar a força extensora.
Os músculos extensores são estabilizadores estáticos do cotovelo, mesmo
na flexão isométrica. O torque máximo gerado pelos mm. extensores está asso-
ciado ao movimento de empurrar a cadeira, em que há necessidade de flexionar
o ombro e estender o cotovelo. A ação do deltoide anterior em flexionar o om-
bro neutraliza a tendência da força extensora do tríceps braquial. Para produzir
grandes torques em extensão, o cotovelo deve estar a 90° de flexão, momento
em que ocorre uma extensão quase completa do tríceps e do ancôneo, visto que
o comprimento do músculo determina o pico de torque extensor de cotovelo
dentro da amplitude de movimento.
Os músculos supinadores são os mm. supinador invervado pelo n. radial e o
m. bíceps braquial, e o braquiorradial é um supinador e pronador secundário.
O músculo supinador é extenso e são mais ativos que o bíceps braquial em ta-
refas de baixa potência, enquanto que o bíceps braquial se mantém inativo. O
m. bíceps braquial é poderoso supinador quando são requeridos movimentos
rápidos e fortes de pronosupinação, colocando o rádio em rotação.
70 • capítul0 6
Os pronadores do antebraço são os pronadores quadrado e redondo, am-
bos inervados pelos n. mediano. Os pronadores secundários são flexor radial
do carpo, palmar longo e braquiorradial a partir da posição de supinação.
O pronador redondo atua também como flexor de cotovelo, e sua ativida-
de é notada quando se tenta desparafusar um parafuso bem apertado ou no
arremesso do beisebol. O tríceps braquial novamente bloqueia a tendência de
flexão de cotovelo, agora do pronador redondo.
O pronador quadrado está mais distal do antebraço, abaixo de todos os fle-
xores de punho e dos dedos. É o músculo mais ativo dos pronadores, indepen-
denemente da demanda de força ou da flexão de cotovelo, além de estabilizar a
art. radioulnar distal através de uma força de compressão, ajudando a manter
o movimento correto do disco fibrocartilaginoso localizado nesta articulação.
Cinesiologia do Punho
capítulo 6 • 71
Cinesiologia da Mão
72 • capítul0 6
sentido palmar e desliza dorsalmente sobre a parte côncava do trapézio fixo.
Na adução ocorre o movimento inverso.
A oposição do polegar ocorre em dois momentos: uma abdução do polegar
seguida pela flexão e rotação medial, levando a palma da mão em direção ao
dedo mínimo. Na abdução do polegar, o metacarpo segue em direção palmar
através do trapézio. Durante a flexão e rotação medial, o metacarpo gira leve-
mente para medial guiado pelo sulco do trapézio. A oposição completa tem
entre 45 a 60° de rotação medial do polegar, sendo a art. carpometacarpal do
polegar encarregada por essa rotação, podendo ter auxílio das art. metacarpo-
falangeana e interfalangeana, que, com a rotação medial do trapézio sobre o
escafoide e trapezoide, amplifica a rotação.
As articulações metacarpofalangeanas são formadas entre a cabeça convexa
dos metacarpos e a falange proximal relativamente côncava. Permite dois graus
de liberdade, flexão e extensão no plano sagital e abdução e adução no plano
frontal.
A estabilidade da art. metacarpofalangeana é fundamental para a biome-
cânica da mão. Essas articulações formam o pilar central da mão, estabilidade
que é alcançada por uma série de ligamentos interligados, e embutidos na cáp-
sula de cada articulação metacarpofalangeana estão dois ligamentos colate-
rais, um radial e um ulnar e uma placa palmar inserindo próximo ao tubérculo
posterior à cabeça do metacarpo.
A amplitude de flexão é de 90° no indicador, 110° a 115° no dedo mínimo.
As extensões das metacarpofalangeanas podem ser estendidas de 0° até 30 a
45°. A abdução e adução ocorre a cerca de 20° além da linha mediana.
As articulações interfalangeanas proximais permitem 120° de flexão, e as
art. interfalangeanas distais podem chegar até 90° de flexão. A extensão das
interfalangeanas proximais é de 0°, e as interfalangeanas distais é de 30° em
hiperextensão.
A interfalangeana do polegar possui um grau de liberdade, com 70° flexão
ativa e até 20° de extensão passiva, sendo essencial em atividades que necessi-
tam de força da polpa do polegar contra o objeto.
capítulo 6 • 73
6.3 Membros Inferiores
Cintura Pélvica
A pelve é constituída da união do ísquio, púbis e ílio. A região pélvica tem fun-
ção de sustentar e proteger órgãos pélvicos, transmissão de forças das regiões
superiores para os membros inferiores. Sete articulações são formadas por es-
ses ossos: lombossacral, sacroilíaca (duas), sacrococcígea, sínfise púbica e qua-
dril (duas). Embora os movimentos nessas articulações sejam pequenos, elas
têm papel importante no parto, assim como apresentam várias lesões resultan-
do em disfunção e dor.
O quadril é formado pela cabeça femoral esférica e o acetábulo da pelve en-
volvidos por uma camada de cartilagem articular, músculos.
A cabeça femoral está cerca de dois terços dentro do acetábulo, aonde o
ponto mais proeminente no acetábulo apresenta maior espessamento da car-
tilagem articular.
O acetábulo, além de acoplar a cabeça femoral, apresenta uma importante
função biomecânica durante a marcha, com flutuações do nível de peso corpo-
ral entre 13% até 300% nas fases de oscilação e de apoio médio, respectivamen-
te. Por sua vez, o acetábulo apresenta um mecanismo de redução das forças de
pressão, em que o acetábulo se aplaina à medida que a incisura acetabular se
alarga, aumentando a área de contato articular, diminuindo o estresse sobre o
osso subcondral.
O lábio acetabular é um tecido fibrocartilaginoso, pouco vascularizado, bem
inervado capaz de proporcionar feedback proprioceptivo, dor em caso de lesão.
O lábio aumenta o acoplamento do acetábulo com a cabeça do fêmur, e causa
um selamento, gerando uma pressão negativa intra-articular que resiste à tra-
ção, ajuda a manter o líquido sinovial no interior da articulação, reduz o estresse
articular e protege a cartilagem articular pelo aumento da área de superfície.
A articulação do quadril apresenta alinhamento acetabular que ajuda a
sustentar a cabeça femoral adequadamente: ângulo centro-borda que é de 35°
importante para evitar luxações e redução da área de contato, podendo gerar
doença articular prematura. O outro ângulo é anteversão acetabular e mede
a orientação do acetábulo na horizontal em relação à pelve. O ângulo normal
dessa medida é de 20°. Um quadril com anteversão excessiva expõe ainda mais
a cabeça do fêmur, o que pode causar um deslocamento anterior e uma lesão
anterior de lábio, especialmente na rotação externa.
74 • capítul0 6
A articulação do quadril é envolvida por uma membrana sinovial que reves-
te a camada interna da cápsula articular. Os ligamentos iliofemoral, pubofe-
moral e isquiofemoral ajudam a reforçar a cápsula. A tensão passiva sobre os
ligamentos distendidos, cápsula articular e os músculos definem a amplitude
do quadril.
A osteocinemática do fêmur em relação à pelve permite 120° de flexão de
quadril com perna fletida, enquanto que com a perna estendida há uma flexão
de 70 a 80° de flexão de quadril sendo limitado pelos isquiotibiais. A extensão
de quadril é 20° sendo limitada pelos ligamentos capsulares e mm. flexores de
quadril. Com o joelho fletido, e a extensão de quadril diminui devido à resis-
tência do reto femoral. A abdução de quadril é em torno de 40°, sendo limitado
pelos músculos adutores e ligamento pubofemoral, membro contralateral, a
tensão passiva dos músculos abdutores de quadril, trato iliotibial, fibras supe-
riores do ligamento isquiofemoral. A rotação medial é em torno de 35°, alon-
gando os músculos piriforme, e parte do ligamento isquiofemoral. A rotação
lateral é em torno de 45°, sendo limitada pelo ligamento iliofemoral lateral e
por qualquer músculo rotador medial.
Na osteocinemática da pelve em relação ao fêmur fixo modifica a coluna
lombar, determinando o ritmo lombopélvico na mesma direção quando se ten-
ta pegar um objeto do chão, ou quando se tenta reposicionar na postura or-
tostática em que a pelve inclina anteriormente e a coluna lombar é levada em
extensão, apresentando um ritmo lombopélvico contralateral.
Na flexão de quadril, também há inclinação anterior da pelve em relação ao
fêmur fixo. O aumento da lordose lombar contrabalança a inclinação pélvica.
A inclinação pélvica afrouxa o ligamento iliofemoral, no entanto os músculos
isquiotibais podem limitar a inclinação anterior da pelve na posição sentada.
Entretanto, na posição em pé, o alongamento dos músculos isquiotibiais ajuda
a resistir à inclinação anterior da pelve.
A abdução do quadril da pelve em relação ao fêmur é de 30°, em virtude da
inclinação da coluna lombar, porém são limitados pela resistência do mm.
adutores e do lig. pubofemoral. A adução do quadril que está sustentando o
peso promove um rebaixamento da pelve contralateral, causando uma ligeira
concavidade lombar, movimento resistido pela banda iliotibial, mm. abduto-
res de quadril, piriforme e tensor da fáscia lata.
Nas rotações de pelve em relação ao fêmur, ocorre quando a crista ilíaca que
não está sustentando o peso move-se para trás ou para a frente, associado com
uma torção da coluna lombar em direção oposta à pelve.
capítulo 6 • 75
Músculo do Quadril
Grupos Posteriores
Isquiotibais
Músculos Anteriores
76 • capítul0 6
e semitendinoso. É inervado pelo n. femoral. Devido à sua disposição oblíqua,
tem função de fletir, abduzir e rodar lateralmente o quadril.
O músculo tensor da fáscia lata é biarticular, é o menor dos abdutores de
quadril. Exerce função no quadril e joelho. Origina-se da crista ilíaca e de estru-
turas adjacentes, lateralmente ao sartório e insere no trato iliotibial. É inervado
pelo ramo do nervo glúteo superior. Apresenta função de flexão e rotador in-
terno de quadril. Apesar de fornecer uma estabilização de joelho em extensão,
traumas repetitivos podem acontecer, como correr, ciclismo podem causar in-
flamação no local próximo ao tubérculo lateral da tíbia.
O m. iliopsoas é formado pela união do m. íliaco e psoas maior, que tem ori-
gens separadas, mas uma inserção comum. O ilíaco origina da fossa ilíaca e das
faces internas das espinhas ilíacas anteriores e inserem no trocanter menor do
fêmur. É inervado pelos ramos do nervo femoral. O músculo psoas maior origi-
na dos corpos vertebrais, discos intervertebrais e dos processos espinhosos das
vértebras de T-12 a L-5 e insere também no trocanter menor do fêmur. É iner-
vado por ramos do plexo lombar. O iliopsoas tem função de flexor de quadril.
O músculo psoas menor está anterior ao ventre do músculo psoas maior,
origina de T12-L1 e insere-se na pelve próximo à linha pectínea. Esse músculo
pode estar ausente em cerca de 40% das pessoas. Tem função de flexão de qua-
dril, porém também pode causar a inclinação posterior da pelve.
O pectíneo é um músculo achatado limitado lateralmente pelo iliopsoas e
medialmente pelo adutor longo. Origina do ramo superior do púbis e estrutu-
ras adjacentes e insere na linha pectínea sobre a face posteromedial superior
do fêmur, logo abaixo do colo femoral. É inervado pelo nervo femoral. A função
primária desse músculo é a flexão e adução de quadril, e rotação medial do qua-
dril secundariamente.
O glúteo médio é o maior músculo desse grupo, contribuindo com 60% da área
transversal dos abdutores. Origina-se em forma de leque na linha glútea an-
terior da crista ilíaca e da superfície externa do ílio e insere-se distalmente na
região lateral do trocânter maior. É inervado pelo n. glúteo superior.
As fibras do glúteo médio contribuem para a abdução de quadril, enquanto
as fibras anteriores fazem a rotação medial, e as fibras posteriores produzem a
rotação lateral e extensão.
capítulo 6 • 77
O glúteo mínimo é o músculo mais profundo dos glúteos, ocupando 20% da
área transversal dos abdutores de quadril. Origina-se das linhas glúteas ante-
rior e inferior e insere-se na região anterolateral do trocânter maior e na cápsu-
la articular. É inervado pelo n. glúteo superior. Todas as suas fibras contribuem
para abdução de quadril; e as fibras anteriores promovem a rotação medial.
O músculo tensor da fáscia lata é o menor dos abdutores de quadril, ocupa
cerca de 11% da área transversal.
Os músculos abdutores de quadril são essenciais para a cinemática da pel-
ve durante a marcha, impedindo a queda da pelve durante as fases de apoio
unilateral, sendo facilmente palpável logo acima do trocânter maior. Durante
essa fase de apoio, há a produção de força duas vezes maior que o peso do corpo
para estabilizar a pelve, o que aumenta a compressão através do quadril. Essas
forças que agem no quadril ajudam na estabilização da cabeça do fêmur no in-
terior do acetábulo, auxiliam na nutrição da cartilagem e fornecem estímulos
adequados para o desenvolvimento da articulação do quadril em crianças.
O outro músculo dessa região lateral do quadril é o piriforme. Origina-se da
superfície ventral do sacro, sulco ciático e ligamento sacrotuberoso e toma um
curso inferolateral inserindo-se na porção interna do trocânter maior do fêmur.
Este músculo é inervado do ramo derivado diretamente do primeiro e segundo
nervos sacrais. A sua principal ação é rotador lateral e abdutor de quadril.
78 • capítul0 6
Considerações Gerais
capítulo 6 • 79
quando o CG do corpo está posterior ao quadril. Ainda nessa posição sentada,
ocorrem ajustes do tronco, na elevação de uma ou duas pernas na posição su-
pina, em que há a participação dos músculos abdominais para agir sinergica-
mente como flexores de quadril, controlando a pelve e as vértebras. Os múscu-
los abdominais são capazes de impedir a hiperlordose lombar, porém, quando
estão fracos, a força do m. psoas maior acentua a lordose lombar. Com a perna
estendida bilateralmente, aumenta a tensão sobre as vértebras lombares, e o
iliopsoas deverá produz grandes torques, os músculos abdominais entram em
ação para ajudar a na estabilização da coluna lombar na superfície de apoio.
Foi visto que vários músculos passam por trás do eixo de flexo-extensão do
quadril, servem de extensores em todas as posições desta articulação, glúteo
máximo, cabeça longa do bíceps, semimembranoso e semitendinoso, adutores
durante a flexão de quadril.
A extensão do quadril realiza a inclinação posterior da pelve com a coluna
lombar, assim como os extensores e abdominais agem sinergicamente para in-
clinar a pelve posteriormente à pelve para estender o quadril e diminuir a lor-
dose lombar. A extensão do quadril controla a inclinação anterior da pelve em
atividades como escovar os dentes, atividades que deslocam o peso à frente dos
quadris, o controle extensor é realizado pelos isquiotibiais, com pouca ação dos
glúteos.
Os músculos extensores de quadril são capazes de estender o fêmur em re-
lação à pelve, acelerando o corpo para a frente e para cima, como o ato de subir
uma montanha ou andar agachado. Assim, a flexão de quadril gera maior tor-
que para os músculos extensores e para os adutores de quadril, ajudando por
consequência na estabilização da pelve e na sustentação do tronco flexionado.
No apoio unilateral, o glúteo médio produz a maior parte do torque abdu-
tor capazes de aumentar as forças de compressão do quadril,produzindo duas
vezes mais força que o peso corporal para gerar a estabilidade da pelve na fase
de apoio unilateral. O acetábulo é levado ao encontro da cabeça femoral, sendo
as forças equilibradas pela força de reação articular. A força de reação é cerca
de 2,5 vezes o peso corporal, sendo que, na marcha a força de compressão, é 3
vezes o peso, podendo aumentar de 5 a 6 vezes na corridae ao subir escadas.
80 • capítul0 6
Articulação do Joelho
A articulação do joelho é formada por três ossos fêmur, tíbia e patela, que
formam duas articulações, a petelofemoral e, tibiofemoral, que geram movi-
mentos em dois planos, a flexoextensão e as rotações medial e lateral. Funcio-
nalmente, várias atividades biomecânicas são expressas na marcha e corrida.
Participa na sustentação de peso corporal, no agachamento e levantamento do
corpo, rotação do corpo sobre um pé fixo. A mobilidade é fornecida pelas estru-
turas ósseas e a estabilidade é fornecida pelos ligamentos, músculos, cartila-
gem e meniscos, sendo essas estruturas estabilizadoras mais frequentemente
lesionadas devido ao grande torque produzido pelas forças que agem no fêmur
e tíbia.
A extremidade femoral apresenta côndilos lateral e medial seguido por ele-
vações em cada região, chamada de epicôndilo inserção dos ligamentos colate-
rais medial e lateral. Na incisura articular que separa os côndilos lateral e me-
dia da tíbia, localizam-se os ligamentos cruzados.
Os côndilos femorais se unem para formar um sulco intercondilar que co-
necta com a face posterior da patela, dando origem à articulação patelofemo-
ral. Os sulcos medial e lateral são levemente preenchidos por cartilagem que
cobre os côndilos femorais.
Já a tíbia apresenta função de transferência de peso do joelho para o torno-
zelo. A tíbia mantém uma relação com fêmur através dos côndilos que formam
a articulação femorotibial. A tuberosidade da tíbia serve para inserção do ten-
dão patelar do quadríceps femoral.
A patela é um osso sesamoide recoberto pelo tendão quadricipital, e
que apresenta uma camada de 5 mm de cartilagem articular que se articu-
la com o sulco intercondilar do fêmur, ajudando a dissipar grandes forças de
compressão.
A anatomia do joelho pode apresentar uma relação com o alinhamento do
joelho. A orientação normal do joelho é de 175°. Assim, ângulos abaixo de 165°
formam um X, formam um gênio valgum, e acima de 180° as pernas ficam ar-
queadas, chamadas de geno varo.
A cápsula articular se divide em anterior, posterior, posterolateral e medial,
sendo reforçadas por tendões musculares e outros ligamentos.
O joelho é envolvido por uma membrana sinovial e por um conjunto de 14
bolsas sinoviais que são extensões da membrana em locais que apresentam
capítulo 6 • 81
alta fricção nos movimentos. Os meniscos são estruturas fibrocartilaginosas
em formato de meia localizados na região tibiofemoral, ajudando a reduzir o
estresse, estabilizar a articulação, nutrir a cartilagem. Assim, em cirurgias de
menisco, a pressão de contato aumenta em 230% no joelho. A cada movimento,
os meniscos são deformados perifericamente, fazendo que ocorra a absorção
de joelho com uma tensão, assim as funções de nutrição e lubrificação da arti-
culação são perdidas.
A amplitude da flexão de joelho é de 130 a 150°, enquanto a extensão é em
torno de 0 a 5°. Já a rotação axial com o joelho flexionado é em torno 40 a 45°,
tendo a rotação lateral o dobro da rotação medial, enquanto que, na extensão
de joelho, a rotação é nula, bloqueada pelos ligamentos e congruência articular.
Artrocinemática Tibiofemoral
82 • capítul0 6
colateral lateral (LCL) está entre o epicôndilo lateral do fêmur e a cabeça da
fíbula, entrelaçado com o tendão do bíceps femoral e não se insere no menisco
lateral.
A função desses ligamentos é limitar o movimento excessivo do joelho, for-
necer resistência contra o estresse em valgo (LCM) e em varo (LCL), além de
estabilizar o joelho nos movimentos no plano sagital em conjunto com outros
ligamentos e cápsula articular. Os ligamentos colaterais e cápsula também im-
pedem as rotações excessivas.
Os mecanismos de lesão desses ligamentos ocorrem em atividades despor-
tivas, como o futebol, com a força em valgo e em varo no joelho com o pé apoia-
do no chão, forte hiperextensão combinado com a rotação lateral de joelho.
Os ligamentos cruzados são ligamentos intracapsulares, espessos e fortes,
cruzam a articulação do joelho da linha intercondilar do fêmur até a tíbia, sen-
do tensionados em todos os movimentos extremos da articulação contra as
forças de cisalhamento da tíbia com o fêmur. Eles participam da orientação
da artrocinemática do joelho por meio da propriocepção, devido à presença de
mecanorreceptores para prevenção de estiramento dos ligamentos cruzados
durante a contração muscular.
Extensores de Joelho
capítulo 6 • 83
Todas as fibras se unem recobrindo a patela e formam o tendão quadricipi-
tal e se inserem na tuberosidade da tíbia. Os vastos lateral e medial inserem-se
na cápsula, meniscos através dos retináculos. No vasto medial, por meio das
suas fibras oblíquas, a tração oblíqua ajuda na orientação e estabilização da
patela. O vasto intermédio está abaixo do reto femoral, e algumas fibras se in-
serem na face anterior da porção distal do fêmur e da cápsula, e que são tensio-
nados durante a extensão.
Os torques laterais são relativamente grandes na fase de 90 a 45° de flexão de
joelho via extensão do fêmur em relação à tíbia e de 45 a 0° da tíbia em relação
ao fêmur. Já o máximo de torque medial em relação ao ângulo articular é maior
na amplitude de 45 a 70° de flexão de joelho. O torque máximo de extensão do
joelho alcança 90% do total de torque na fase de 80 a 30° de flexão, tendo muita
implicação funcional do quadríceps nas atividades de subir degraus, levantar
da cadeira ou manter a posição do meio do agachamento. A aproximação da
extensão completa reduz até 70% do torque dos quadríceps.
O valgo de joelho tem o ângulo Q aumentado na tração lateral da patela.
Pode ser em decorrência da frouxidão ligamentar ou de lesão do LCM, associa-
da à adução crônica de quadril. A fraqueza dos músculos abdutores e o encur-
tamento dos adutores de quadril podem fazer que o fêmur rode medialmente,
consequentemente aumentando o valgismo.
84 • capítul0 6
Cinesiologia do Tornozelo e Pé
O simples ato de caminhar e correr exige que o pé seja flexível para absorver o
estresse de acordo com a inúmeras articulações. Essa estrutura participa ativa-
mente da locomoção, sustentação, equilíbrio. Outra função importante é for-
necer propriocepção para os músculos dos membros inferiores.
O pé é dividido em retropé (tálus, calcâneo e art. subtálar); mediopé (todos
os ossos restantes do tarso; incluindo art. transversa e intertásicas do pé); ante-
pé (metatarsos e falanges, art. distais e metatarsal).
Os movimentos do tornozelo e pé são descritos obedecendo aos planos
e eixos de movimento. Na dorsiflexão e flexão plantar, o eixo de rotação é la-
teromedial, no plano sagital. A inversão e a eversão ocorre no eixo de rotação
anteroposterior, no plano frontal, sendo visíveis no varo e valgo; a abdução e
a adução ocorrem no eixo vertical, no plano horizontal; os movimentos de pro-
nação e supinação, no plano oblíquo, que combina com movimentos de inver-
são, adução e flexão plantar; para a pronação, combina os movimentos eversão,
abdução e dosiflexão.
A articulação talocrural é formada pela tróclea, e as faces do tálus com a con-
cavidade distal da tíbia e os maléolos, mantendo importante estabilidade na-
tural do tornozelo, visto que 90% das forças de compressão passam pelo tálus.
A articulação talocrural possui um grau de liberdade de movimento, sendo
seu eixo ligeiramente inclinado em torno de 10° no plano frontal e 6° no plano
horizontal. Assim, a dorsiflexão é combinada com a abdução e eversão, e a fle-
xão plantar é combinada com adução e inversão, sendo, por definição, produz
pronação e supinação. A amplitude de dorsiflexão é de 15 a 25° e a flexão plan-
tar é de 40 a 55°, tendo movimentos acessórios da subtalar.
Na dorsiflexão, o tálus rola para a frente em relação à perna e, em seguida,
desliza para trás, sendo limitado a progredir no deslizamento posterior pelo
ligamento calcaneofibular. A dorsiflexão alonga a cápsula posterior. A dorsifle-
xão é limitada em entorses laterais de tornozelo.
Na flexão plantar, o tálus rola posteriormente e desliza anteriormente, si-
multaneamente, e os ligamentos talofibular anterior e deltoide se tornam ten-
sos nesse movimento. A flexão plantar alonga os músculos dorsiflexores e alon-
ga a cápsula anterior.
A articulação subtalar consiste de três articulações provenientes das fa-
ces do tálus. Essa articulação absorve forças rotacionais enquanto mantém o
capítulo 6 • 85
contato do pé no solo. Possui movimentos triplanares em único eixo articular.
Os movimentos são: . pronação (abdução com eversão); supinação (adução com
inversão); flexão plantar e dorsiflexão. Durante a marcha, quando o calcâneo
está relativamente imóvel por causa da descarga de peso corporal, uma parcela
significativa da pronação e supinação ocorre pela rotação do tálus e da perna
no plano horizontal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMADIO, A.C., LOBO DA COSTA, P.H., SACCO, I.C.N. SERRÃO, J.C. ARAUJO, R.C. MOCHIZUKI,
L., DUARTE, M. Introdução à Biomecânica para Análise do Movimento Humano: Descrição e
Aplicação dos Métodos de Medição. Revi. Bras. Fisioter., v.3, n.2, p.41-54, 1999.
KNUDSON, D. Fundamentals of Biomechanics. 2° Edition. New York: Springer, 2007.
NEUMAN, D.A. Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier,
2011.
SACCO, I.C.N., TANAKA, C. Cinesiologia e Biomecânica dos Complexos Articulares. 1ª Edição.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
86 • capítul0 6
ANOTAÇÕES
capítulo 6 • 87
ANOTAÇÕES
88 • capítul0 6