BC 05
BC 05
UNESP/FUNEP/EECB
TANGERINAS OU MANDARINAS
CDU: 634.322
ÍNDICE
Introdução ............................................................................. 1
Características Gerais ............................................................. 2
Características Específicas...................................................... 3
Satsuma .................................................................................. 3
King ....................................................................................... 4
Mexerica ................................................................................ 4
Mandarinas (Tangerinas) ..................................................... 5
Microtangerinas ..................................................................... 5
Híbridos ................................................................................. 5
Descrição de alguns cultivares importantes ......................... 8
Épocas de Produção ........................................................... 13
Importância Econômica ...................................................... 15
Características de Qualidade ............................................... 20
Porta-enxertos para tangerinas ........................................... 24
A importância do clima para a produção de tangerinas ....... 29
Informações Gerais ............................................................. 31
Referências Bibliográficas ................................................... 34
Tangerinas ou Mandarinas
Luiz Carlos Donadio
Prof. Titular, Dep. de Horticultura
FCAV-Unesp, Jaboticabal, SP
Eduardo Sanches Stuchi
Fábio Luiz de Lima Cyrillo
Engos Agrônomos Msc.
EECB, Bebedouro
Introdução
As variedades cítricas comerciais pertencem a diversas
espécies da família Rutaceae e, principalmente, ao gênero
Citrus. Deste, as espécies principais são as laranjas doces, as
tangerinas, os limões, as limas ácidas e os pomelos. Outras
espécies de menor importância são a toranja, a lima doce, a
laranja azeda e a cidra. Enquanto para cada grupo cítrico
existe uma espécie, para as tangerinas ou mandarinas são
aceitas várias espécies. Considerando aquelas que tem uso
comercial, representadas por muitas variedades copas, quatro
espécies são distinguidas: as Satsumas - Citrus unshiu Marc.,
as Mexericas - Citrus deliciosa Ten., as do grupo King -
Citrus nobilis Lour. e as mandarinas ou tangerinas comuns -
Citrus reticulata Blanco. Outras 32 espécies são citadas pelo
autor japonês Tanaka para o grupo das mandarinas e seus
possíveis híbridos, mas poucas são aceitas. Merecem citação
algumas utilizadas como porta-enxertos como a Sunki (C. sunki
Hort. ex Tan.) a Cleópatra (C. reshni Hort. ex Tan.) e Nasnaran
(C. amblycarpa Ochse), chamadas micro tangerinas. Muitos
híbridos entre espécies ou variedades de tangerinas e entre
estas e outras espécies são freqüentemente utilizados como
variedades dentro do grupo, como os tangelos (tangerina x
pomelo) e tangores (tangerina x laranja doce).
1
A origem das mandarinas é, provavelmente, no
nordeste da Índia e sul da China, embora as diferentes
espécies citadas podem ter se originado fora destes centros
de origem principais. Assim, a tangerina King é citada como
de origem na Indochina, a Satsuma no Japão e a Mexerica
na Itália, mas já como centros secundários de origem,
provavelmente todas provenientes de C. reticulata, esta
considerada uma das espécies ancestrais dos citros
(GIACOMETTI, 1991).
Em relação à importância das tangerinas na citricultura
mundial e brasileira serão comentados dados da FAO, do
IEA de São Paulo Agrianual , Boletins do CEAGESP e outros
da literatura. Os dados de produção do Brasil (COELHO,
1996), usualmente, são estimativas do IBGE. Em 1996
(AGRIANUAL, 1998) ,esses dados davam a área de 51.458
ha e produção de 607 mil toneladas, sendo os principais
produtores São Paulo, com 45%, Rio Grande do Sul com
20%, Paraná com 12% e Bahia com 6%.
Características Gerais
Os frutos de mandarinas usualmente são de tamanho
pequeno ou médio, de forma oblata (achatada), casca fina
e pouco aderente, o centro do fruto (coração) é aberto e o
aroma é distintivo. Em regiões de clima subtropical, com
invernos frios, o fruto desenvolve coloração avermelhada,
tanto interna como externamente, ou seja, na casca. As
sementes têm cotilédones verdes, mas há exceções. A planta
é muito resistente ao frio, enquanto o fruto não. Tem folhas
lanceoladas, com ponta e com a nervura central proeminente;
o pecíolo é típico, não alado. As flores são usualmente
brancas, pequenas, isoladas, ou em inflorescência de
pedúnculos curtos. A planta é normalmente alternante. Há
2
espécies mono e outras poliembriônicas (HODGSON, 1967;
ANDERSON, 1996).
Devido às suas diferentes espécies, híbridos e
também variedades dentro delas, a adaptação a climas
diferentes é muito grande. Assim, as mandarinas comuns,
como a ‘Ponkan’, ‘Dancy’ e outras, adaptam-se melhor ao
clima semitropical a tropical, enquanto as Clementinas e
Mexericas, aos climas mediterrâneos subtropicais. As
Satsumas adaptam-se a clima com inverno mais frio,
podendo resistir a temperaturas de até -9oC (DAVIES &
ALBRIGO, 1994).
Características Específicas
Satsuma
3
King
Mexerica
4
quando maduro, ficando mole, com polpa granulada e seca.
As flores são pequenas, brancas, com pólen de alta fertilidade
(HODGSON, 1967; SPINA et al., 1980, DONADIO et al., 1995).
Mandarinas (Tangerinas)
Microtangerinas
Híbridos
5
os híbridos produzidos por polinização controlada, os
tangelos (tangerinas x pomelo) são os mais importantes,
bem como os híbridos entre tangerinas. Esses cruzamentos
são possíveis, por serem utilizadas usualmente plantas-
mães monoembriônicas, como a Clementina, a King e
outras (HODGSON, 1967; MOREIRA & PIO, 1991).
Também pode ser usada planta mãe poliembriônica, como
foi feito no Brasil (DONADIO, 1984), utilizando Satsuma
e obtendo-se alguns híbridos de interesse potencial,
principalmente alguns que se mostraram tolerantes à CVC
(LI, 1997).
Entre os híbridos de tangerinas com tangerinas,
HODGSON (1967) cita vários, alguns com certa importância,
como Campeona, na Argentina, Encore, Fortune, Fremont,
Kara, Kinnow, Wilking, Frua, Honey e outras.
As Tabelas 1 a 3 dão algumas informações sobre as
principais espécies de tangerinas, seus híbridos e clones
cultivados comercialmente (HODGSON, 1967; ANDERSON,
1994; PIO, 1997).
Das variedades citadas nas Tabelas 1 a 3, as ‘Satsumas’,
‘Clementinas’ e alguns híbridos, produzem frutos sem
sementes, o que é atualmente uma importante característica.
Entre os híbridos que podem produzir frutos com poucas
ou sem sementes, os atualmente mais importantes em alguns
países são ‘Fortune e ‘Nova’, mas somente quando não há
polinização cruzada. Dados da EECB em plantios mistos,
com outras variedades, a ‘Nova’ deu, em média, 5,66
sementes/fruto. A ‘Avana Apireno’ deu 8 sementes/fruto. As
‘Satsumas, Okitsu’ e ‘Clausellina’, mesmo em plantios mistos,
dão frutos praticamente sem sementes.
6
Tabela 1. Satsuma e Mexerica, seus híbridos e clones principais.
SATSUMA
Variedade Parentesco Ano de País de
Lançamento Origem
Okitsu Clone nucelar de miyagawa 1940 Japão
Clausellina Mutação de Owari 1962 Espanha
Owari (Satsuma tardia) - Japão
Umatilla Owari x Ruby Blood 1931 Flórida, EUA
Kara Owari x King 1935 Califórnia, EUA
(s/nome) Owari x 1984 Brasil
Natal,Max,Cravo,Murcott
MEXERICA
Mex. comum C. deliciosa - Itália
Mex. precoce Mutante de Mex comum - Brasil
Mex. tardia Mutante de Mex. comum 1955 Itália(RS, Brasil)
(Montenegrin
a)
Mex. Avana Mutante de Mex. comum - Itália
Apireno
Encore King x Mexerica 1965 Califórnia, EUA
Kinnow King x Mexerica 1965 Califórnia, EUA
Wilking King x Mexerica 1965 Califórnia, EUA
7
Tabela 3. Clementina, seus clones e híbridos principais.
8
Foto 1. Tangerina Clementina Foto 2. Tangerinas Clementina
com boa produção na e Okitsu comparadas
Espanha. com Cravo e Ponkan
em Janeiro de 1998 na
EECB.
9
Clemenules - É uma seleção espanhola de ‘Clementina
Fina’, entre muitas outras obtidas no citado país, onde é a
variedade mais importante de tangerina. Cultivada em outros
países, como Argentina. Como outras seleções de
‘Clementina’, seu comportamento em nossas condições não
é bom, pois além de não se adaptar bem ao clima, necessita
de cuidados especiais de controle de florescimento e
frutificação, raleio e outros, se não produz frutos pequenos.
Deve ser melhor conservada em nossas condições, pois
produz frutos de boa qualidade e sem sementes em plantios
isolados.
10
Page - É um híbrido de ‘Clementina’, precoce, mas
que pode ser mantido na planta por mais de 4 meses. O
fruto é de boa qualidade, mas seu tamanho é pequeno.
Além disso, produz muita semente, quando em plantios
mistos. Também é suscetível à verrugose. Devido às poucas
informações em nossas condições, não é recomendada.
11
Foto 4. Frutos do híbrido ‘Sunburst’, na Flórida.
12
Épocas de Produção
13
Para as demais variedades, entre as precoces, que
competiriam com a ‘Cravo’, além da ‘Satsuma’ e ‘Clementina’
e seus clones, apenas ‘Sunburst’, ‘Nova’ e ‘Page’ são precoces
e poderiam ser interessantes para diversificação. Quanto às
tardias, com possibilidade de produção de julho em diante,
nenhuma variedade ou clone é mais tardio que a ‘Murcott’
(Tabela 4).
Satsuma
Clementina
Nova ( )*
Page*
Sunburst*
Cravo
Mexerica
Ponkan
Murcott
Dancy
Ellendale*
Encore*
Fortune*
Malvasio*
Ortanique*
Temple*
14
Algumas variedades, como ‘Malvasio’, ‘Fortune’,
‘Ortanique’ e ‘Encore’, podem produzir boa parte de suas
colheitas nesse período, entretanto não são tão tardias como
a ‘Murcott’. As demais variedades produzem na meia estação
(igual à época das tangerinas tradicionais), o que implicaria
em seu menor interesse, principalmente pela competição
com a ‘Ponkan’ e seus vários clones, que, como pode-se
ver, produz em vários meses no Estado de S. Paulo. A Figura
3 atesta este fato, pelo volume comercializado em 1997
(BOLETIM CEAGESP, 1997).
Importância Econômica
China
3,61 3,47 3,44
4,18 2,59
Japão
4,77 2,47
Espanha
11,12 Brasil
EUA
Itália
Egito
11,69 Turquia
41,71
Marrocos
Argentina
15
Os dados da FAO indicam ainda que houve algumas
mudanças importantes na produção de tangerinas entre os
principais países produtores. Assim, enquanto o Brasil ,nos
últimos vinte anos, dobrou sua produção, passando de cerca
de 300 mil toneladas para 600 mil toneladas, o Japão caía
de 3,5 milhões de toneladas para 1,5 milhões toneladas,
com redução portanto de cerca de 60%, embora ainda se
mantenha como terceiro entre os principais produtores, atrás
da China e Espanha. Nestes países, as mandarinas ganharam
muita importância nos últimos 20 anos. A Espanha dobrou
sua produção, indo de 800 mil toneladas para 1,6 milhão de
toneladas, aumentando sua participação no total produzido
de 10 para 13%. A China foi o país onde as tangerinas mais
cresceram de produção no período 1977 - 97, com aumento
da participação de 4% para mais de 40%, tornando-se o
principal produtor. Outros países mantiveram a sua produção
ou tiveram pouco incremento, como Estados Unidos, Itália,
Argélia, México. Outros experimentaram algum crescimento,
como Israel, Marrocos, Egito e Turquia.
Quanto ao consumo da produção de tangerinas no
mundo, os principais exportadores de fruta fresca são:
Espanha, com 60%, Marrocos, com 10%, China, com 6% e
outros vários países com cerca de 1 a 4% do total cada um.
Os principais importadores são: Alemanha - 25%, região
Mediterrânea - 20%, França - 16%, Inglaterra - 10%, Holanda
- 9%. Os outros 20% são distribuídos por vários países, como
Canadá, Bélgica, Áustria, Suécia, Arábia Saudita e outros.
Do total de mais de 25 milhões de t de citros processados,
as tangerinas perfazem apenas 2,5%, apresentando queda
nos últimos 20 anos, pois já chegou a 7% há vinte anos atrás
(FAO, 1997). Os países que mais processam tangerinas são
a Espanha - 32%, os Estados Unidos - 22%, Japão - 24% e
outros com menores porcentagens. No Japão e Espanha é
processada boa parte de ‘Satsuma’ em gomos.
No Brasil, a industrialização de tangerinas decresceu
nos últimos anos e a exportação brasileira é pequena, tendo,
16
nos últimos 3 anos, atingido de 6 a 8 mil toneladas,
principalmente de ‘Murcott’.
Para o grupo de variedades de tangerinas
comercializadas no CEAGESP em 1997, no total das quatro
variedades mais importantes (Figura 2), nota-se claramente
que o período de abril a agosto, com quantidades superiores
a 600 mil caixas/mês, é o mais importante. Isso indica que
os três primeiros meses do ano (janeiro a março) e os quatro
últimos (setembro a dezembro) seriam melhores para
comercialização de tangerinas.
Os dados das Figuras 3 a 6 indicam que a principal
variedade comercializada em São Paulo é a ‘Ponkan’, com
aproximadamente 70 até 90% nos meses de março a agosto
(Figura 3). A segunda variedade é a ‘Murcott’, com
aproximadamente o dobro da ‘Mexerica’ e da ‘Cravo’, que
ocupam a terceira e quarta posição, respectivamente (Figuras
4, 5 e 6).
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17
sendo comercializadas. Para a ‘Mexerica’, a oferta maior é
de maio a agosto, com preços maiores em abril-maio e em
setembro. Para ‘Cravo’, a maior quantidade comercializada
no CEAGESP é de abril a maio, mas, no geral, os preços são
mais baixos que os das outras variedades.
Para explicar o período tão extenso de produção de
algumas variedades, a principal razão é a distribuição em
diferentes regiões produtoras e conseqüente efeito do clima.
Assim, se em maio/97, por exemplo, a ‘Ponkan’ provém,
principalmente, da Serra de Jaboticabal (33,83%), Campinas
(25,87%) e média Araraquarense (9,76%), em setembro, 16%
provém de Paranapiacaba, 15,37% da Depressão Periférica
Setentrional e 12,39% do Alto Ribeira (PR).
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19
Características de Qualidade
20
Apireno’ e a ‘Ellendale’ só atingiam nível mínimo de
qualidade em início de maio, enquanto a ‘Fortune’ só em
fins de junho, ainda assim com “ratio” 8, podendo ser colhida
até agosto, com boa qualidade (Tabela 5, Figura 7) (Foto 7).
* Dados preliminares.
21
14
12
10
8
Brix
6
o
4
2
0
02/Fev 05/Mar 06/Mai 23/Jun
3,5
3
2,5
Acidez
2
1,5
1
0,5
0
02/Fev 05/Mar 06/Mai 23/Jun
20
15
Ratio
10
0
02/Fev 05/Mar 06/Mai 23/Jun
22
Foto 7. Planta de Fortune com Foto 8. Tangeleiro Orlando,
boa produção em muito produtivo, na
Valência, Espanha. EECB.
23
Porta-enxertos para tangerinas
24
obtidas com os cavalos: ‘Caipira L.’, ‘Cravo’ e os trifoliatas
‘CT32’, ‘Rich 22-2’, ‘Tucuman’, ‘CT-35’, ‘CT-4’, ‘CT-34’,
‘Towne’ e ‘CT-33’. Os porta-enxertos vigorosos, ‘Caipira L.’
e ‘Cravo’, apresentaram frutos de maior tamanho, mas com
menor porcentagem de suco e menores valores de Brix, no
caso do limão ‘Cravo’, em condições de cultivo sem irrigação
(CARRAU et al., 1993). ‘Ellendale’ se mostrou mais produtiva
com os seguintes porta-enxertos: ‘Cravo’, Citrus karna,
‘Rugoso CR67’, ‘Pectinífera’, ‘Caipira L.’, citrange ‘Carrizo
CZ33’ e trifoliata ‘CT-33’, em condições de cultivo sem
irrigação (CARRAU et al., 1993).
Na Califórnia, a produção acumulada (8 safras) de
tangelo ‘Minneola’ foi maior quando os porta-enxertos eram:
limoeiro ‘Yuma Ponderosa’ (702 Kg/pé), citrange ‘C-32’ (701
Kg/pé), citrumelo ‘Swingle’ (679 Kg/pé), citrange ‘C-35’ (657
Kg/pé), trifoliata ‘Pomeroy’ (649 Kg/pé), limoeiro ‘Rugoso
Limoneira’ (632 Kg/pé) (ROOSE et al., 1989).
Na Flórida, a produção acumulada de frutos de tangelo
‘Orlando’ (10 safras) e ‘Minneola’(12 safras) sobre sete porta-
enxertos foram computados. Para ‘Minneola’, o
comportamento dos porta-enxertos foi o seguinte: citrange
‘Carrizo’ (59,1 caixas/pé), ‘Smooth Flat Seville’ (50,7), citrange
‘Rusk’ e citrange ‘Morton’ (48,4), ‘Cleópatra’ (34,9), trifoliata
(33,7) e citrumelo ‘F80-9’ (30 caixas/pé). Para ‘Orlando’, a
ordem foi: citrange ‘Carrizo’ (79,6 caixas/pé), ‘Cleópatra’
(67,4), trifoliata (56,6), citrange ‘Morton’ (49,4), citrumelo
‘F80-9’ (48,9), citrange ‘Rusk’ (45,6) e ‘Smooth Seville’ (45,3)
(CASTLE et al., 1993).
Foram conduzidos uma série de trabalhos sobre porta-
enxertos para tangerina ‘Clementina SRA 63’, na Córsega.
Destacam-se dois, no primeiro, o citrange ‘Troyer’ induziu a
maior produção de frutos (média de 11 safras), juntamente
com Citrus khatta, trifoliata e limoeiro ‘Volkameriano’.
‘Volkameriano’ e C. khatta apresentaram os menores valores
de sólidos solúveis e a maior percentual de frutos com
25
granulação. Já, no segundo, as maiores produções (média
de 7 safras) foram induzidas por citrumelo ‘1432’, trifoliata
‘Pomeroy’, citrange ‘Carrizo’ e citrange ‘Troyer’. Estes mesmos
cavalos induziram a melhor qualidade das frutas. Nos dois
experimentos, a tangerineira ‘Cleópatra’ não apresentou boa
produção, sendo esta composta, majoritariamente, por frutos
de calibres menores (BLONDEL, 1986).
FALLAHI & ROSS-RODNEY (1992) indicaram como
recomendáveis para ‘Fairchild’, os porta-enxertos citrange
‘Carrizo’, limão ‘Volkameriano’, Citrus taiwanica e limão
‘Rugoso’. A qualidade dos frutos foi superior com ‘Carrizo’,
e a maturação foi adiantada quando os cavalos eram os
limões ‘Volkameriano’ e o ‘Rugoso’. Entretanto, os sólidos
solúveis foram mais baixos cerca de 1 oBrix.
Na Argentina, a maioria dos pomares de tangerina está
enxertada em trifoliata, pela adaptação melhor deste porta-
enxerto ao clima frio e indução de melhor qualidade
(ANDERSON, 1996).
O limoeiro ‘Cravo’ é o porta-enxerto da grande maioria
dos pomares de tangerinas no Estado de São Paulo. Este
fato se deve à facilidade de obtenção de sementes, bom
comportamento em viveiro, resistência à seca e precocidade
de entrada em produção e boa produção de frutos durante
a vida do pomar. Além do limoeiro ‘Cravo’, são indicados a
‘Sunki’, ‘Cleópatra’ e o tangelo ‘Orlando’ para tangerinas
(POMPEU JR, 1991).
Para mexerica no Vale do Ribeira, SP, (FIGUEIREDO
et al., 1979) obtiveram que os três porta-enxertos que
induziram a maior produção foram tangerina ‘Sunki’, laranja
‘.Flórida Sweet’ e limoeiro ‘Cravo’. Entretanto, esses três
cavalos são suscetíveis à gomose, que tem ocorrência
generalizada nas condições locais do litoral paulista, embora
neste experimento os porta-enxertos mais tolerantes às
doenças foram aqueles que induziram as menores produções
por planta, mas alguns deles são de porte baixo, o que
pode compensar a menor produção.
26
No Rio Grande do Sul (DORNELLES, 1981), em estudo
de porta-enxertos para ‘Mexerica’, chegam às seguintes
conclusões: a laranjeira ‘Caipira’ pode ser vantajosamente
substituída como porta-enxerto para mandarinas, sendo as
melhores alternativas, conforme os dados disponíveis, os
limoeiros ‘Volkameriano’, ‘Cravo Taquari’, ‘Cravo Limeira’ e
o ‘Rugoso da Flórida’. A laranjeira ‘Caipira’, porta-enxerto
tradicional no Rio Grande do Sul, foi inferior a todos os
demais porta-enxertos testados.
Em Botucatu, os porta-enxertos mais produtivos, na
média das duas primeiras safras para a tangerina ‘Satsuma
Owari’, foram: limão ‘Volkameriano’, laranja ‘Azeda’ e limão
‘Cravo’. Os maiores valores de sólidos solúveis totais foram
obtidos nos frutos produzidos em árvores sobre citrange
‘Morton’ (8,87 oBrix), sendo média para laranja ‘Azeda’,
tangerina ‘Cleópatra’, citrange ‘Carrizo’ e trifoliata (8,47 oBrix).
O limão ‘Cravo’ foi o penúltimo classificado com 7,33 oBrix
(SALIBE & MISCHAN, 1984). Esta diferença de 1,5 oBrix pode
ser detectada em prova de degustação segundo REITZ &
EMBLETON (1986), o que foi comprovado em Botucatu. Os
primeiros autores consideram a variedade interessante para
plantios comerciais em São Paulo, desde que enxertadas
sobre trifoliata ou sobre citranges, pois a tangerina ‘Cleópatra’
apresentou baixa produção e crescimento muito vigoroso.
PANZENHAGEN et al. (1994) encontraram que o
citrumelo ‘Swingle’ foi superior ao citrange ‘Troyer’ e trifoliata
na primeira e segunda safras com a copa ‘Montenegrina’ ,
no Rio Grande do Sul. Plantas de estaca da citada ‘Mexerica’
deram produção nula no início.
A ‘Ponkan’ apresentou maior produção de frutos, nas
quatro primeiras safras em Tietê, sobre limoeiro ‘Cravo’,
citrange ‘Troyer’ e trifoliata. As produções sobre ‘Sunki’,
‘Cleópatra’, tangelo ‘Orlando’, ‘Rugoso Flórida’ e ‘Rugoso
Nacional’ foram intermediárias. Limeira ‘Pérsia’ e laranjeira
‘Caipira’ induziram as piores produções (FIGUEIREDO et
27
al., 1973). Em Brasília, as maiores produções de ‘Ponkan’
foram alcançadas com os porta-enxertos limão ‘Rugoso da
África’, limão ‘Rugoso da Flórida’, tangelo ‘Orlando’, tangerina
‘Cleópatra’, limão ‘Cravo’, laranja ‘Caipira DAC’ e citrumelo
‘4475’ (PARENTE et al., 1993).
As maiores produções médias (4 safras, 3o ao 6o ano)
de tangor ‘Murcott’, em Porto Feliz, em ordem decrescente,
foram obtidas sobre os cavalos: tangelo ‘Orlando’, tangerinas
‘Cleópatra’ e ‘Suen Kat’ e limoeiro ‘Cravo’, e as menores
com trifoliata ‘EEL’, tangerina ‘Swatow’ e laranja ‘Caipira DAC’.
Em Itirapina, os porta-enxertos tangerina ‘Sunki, limão ‘Cravo’
e tangerina ‘Cleópatra’ foram os que induziram as maiores
médias de produção no mesmo período de estudo, enquanto
os trifoliatas ‘Kryder 8-5’ e ‘EEL’, a tangerina ‘Swatow’ e a
laranja ‘Caipira DAC’ proporcionaram as piores produções
médias (FIGUEIREDO et al., 1997).
Da mesma forma que acontece com as laranjeiras e
limoeiros, também ocorrem incompatibilidade entre algumas
tangerineiras e alguns porta-enxertos. Na Espanha, são
descritas incompatibilidades, que aparecem aos 18-20 anos
de idade, entre o citrange ‘Troyer’ e as tangerinas ‘Satsuma
Owari’ e ‘Clementina Fina’. Observações preliminares levam
a crer que surjam também com outras variedades, como
‘Hernandina’ e ‘Arrufatina’. Até o momento, não foram
detectadas incompatibilidades, nem sintomas que suponham
seu aparecimento, nas combinações formadas sobre citrange
‘Carrizo’ (FORNER, 1995). Este mesmo autor, relatou esta
incompatibilidade e também se referia à incompatibilidade
das ‘Clementinas’ e ‘Satsumas’ sobre Poncirus trifoliata
(FORNER, 1984). Na Flórida, ocorre incompatibilidade entre
o tangor ‘Murcott’ e o citrange ‘Carrizo’. Também são
mencionadas as incompatibilidades entre híbridos de
tangerina e o Poncirus trifoliata e híbridos (CASTLE, 1993).
No Brasil, ocorre incompatibilidade entre ‘Murcott’ e o
trifoliata (POMPEU JUNIOR, 1991).
28
A importância do clima para a produção
de tangerinas
29
variáveis como porta-enxerto, variedades, tipo de solo e
manejo da cultura, são praticamente constantes.
A soma de graus-dia não somente reflete o crescimento,
mas também pode determinar, aproximadamente, a data de
maturação e a data de colheita, para uma dada variedade. O
método de graus-dia considera que uma planta necessita de
uma certa quantidade de energia, equivalente à soma de
graus térmicos acima de uma temperatura basal (12,6 oC
para citros), para completar determinada fase fenológica ou
o ciclo total. Esta soma seria constante, independente do
local ou época de plantio.
A comparação de graus-dia acumulados a partir da 1ª
florada (agosto-setembro), difere-se considerados os 5 grupos
de locais do Estado de São Paulo, que apresentam regiões
de menor latitude (Votuporanga e Colômbia), passando por
regiões intermediárias do 2º grupo (Pindorama, Bebedouro
e Severínia), do 3º grupo (Araraquara e Matão), do 4º grupo
(Limeira, Conchal e Mogi-Guaçu) e as regiões do 5º grupo
de maior latitude, localizadas no sul e sudoeste da área
citrícola (Itapetininga, Capela do Alto e Capão Bonito).
Para a tangerina ‘Ponkan’, que é uma variedade típica
de meia estação, isto é, necessita de aproximadamente 3.100
GD para a maturação de seus frutos, a maior oferta desta
tangerina no mercado inicia no mês de maio. Essa produção
é proveniente da região da Serra de Jaboticabal, situada no
2º Grupo, os pomares atingem rapidamente a somatória de
graus-dia necessária para a maturação dos frutos. Nos meses
de junho e julho, a menor parte da tangerina ‘Ponkan’
ofertada no CEAGESP de São Paulo é proveniente dos 4º e
5º grupos, respectivamente, regiões de Campinas, Mogi-
Guaçu, Capão Bonito e Jundiaí, regiões situadas em maiores
latitudes e, portanto, as plantas dos pomares desta região
demoram mais para conseguir acumular os GD necessários
para a maturação de seus frutos (BOLETIM CEAGESP, 1997).
30
Mais do que as médias anuais, as flutuações mensais,
ou mesmo diárias, provocam mudanças fisiológicas. As
respostas dos frutos a estas flutuações dependem do estágio
de desenvolvimento do fruto. Altas temperaturas e umidade
proporcionam frutos pouco firmes, cuja senescência se dá
rapidamente, com baixa capacidade de armazenamento e
altamente suscetíveis às manchas de casca. Por outro lado,
possuem um alto conteúdo em sólidos solúveis e baixa acidez
(REITZ & EMBLETON, 1986). A exposição direta aos raios
solares provoca queimaduras nos frutos, além de prejudicar
a sua qualidade interna e seu tamanho.
A irrigação geralmente aumenta o tamanho dos frutos
e níveis de umidade inadequados provocam sua redução. A
irrigação reduz os valores de sólidos solúveis e de acidez
do suco de tangerina ‘Dancy’, mas adianta a redução da
relação SST/Acidez, fazendo com que possa antecipar a
colheita na Flórida. Geralmente, estresses hídricos no inverno
provocam redução na qualidade de suco, aumentam a
espessura da casca, os sólidos solúveis e a acidez. Quanto
ao aspecto externo, a casca é pouco afetada pela irrigação.
Com relação à qualidade interna do fruto, as altas umidades
e temperaturas afetam negativamente a qualidade das
‘Clementinas’ (REITZ & EMBLETON, 1989) (Foto 9).
Em Minas Gerais, nas regiões de Lavras, Perdões e
Alfenas, foi estudada a maturação de tangerinas durante 3
safras, mostrando que o clima tem influência na qualidade
de ‘Ponkan’ e ‘Murcott’ e, principalmente, na época de
maturação. Em Lavras, a colheita poderia ser iniciada na
primeira quinzena de abril e, em Perdões (local mais frio),
só na primeira quinzena de maio (CHITARRA e CAMPOS,
1981).
Informações Gerais
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Entretanto, técnicas especiais de nutrição, indução floral,
desbaste e anelamento, podas, escoramento de plantas,
colheita, beneficiamento e comercialização, irrigação e
controle fitossanitário, devem ser utilizadas. Neste boletim
não se abordarão estas técnicas, ou por estarem em avaliação
ou já terem sido apresentadas em publicações específicas.
Neste caso, estão a nutrição (GRUPO PAULISTA, 1994),
irrigação (VIEIRA, 1991; GOEL, 1992) e controle fitossanitário
(COELHO, 1996; PRATES, 1976).
As demais técnicas, apesar de existirem informações
em trabalhos esporádicos e de experiência prática de
alguns técnicos e produtores, além de informações na
literatura, (GUARDIOLA, 1992; RAGONE, 1992; COELHO,
1996; DONADIO & RODRIGUEZ, 1992; NITO & RAHMAN,
1992), necessitariam ser melhor analisadas em nossas
condições.
Não há dúvida, entretanto, que, para as tangerinas,
todas as citadas técnicas necessitam ser bem utilizadas para
se conseguir obter um resultado final de boa produtividade,
associada à qualidade, como frutas típicas de mercado. As
referidas técnicas também deverão estar associadas às
condições climáticas da área de produção, porta-enxertos,
material genético de boa qualidade, espaçamento,
implantação do pomar e manejo do solo e das invasoras,
técnicas que já se tem informações gerais para citros.
Em relação aos aspectos fitossanitários, é importante
destacar que algumas tangerinas são resistentes ou tolerantes
ao cancro cítrico ou à CVC, conforme MOHAN et al. (1985)
e LI (1997). Os primeiros autores dão uma tabela de
resistência ao cancro cítrico (Tabela 6).
Para CVC, avaliações feitas na Estação Experimental de
Citricultura de Bebedouro nos últimos anos e publicadas
recentemente (LI, 1997), classificam algumas variedades
quanto ao comportamento em relação à CVC (Tabela 7).
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Tabela 6. Classificação de cultivares de tangerina e híbridos em
relação à resistência ao cancro cítrico.
Fonte: LI (1997).
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Destaque-se a resistência da ‘Satsuma’ e ‘Ponkan’ às duas
doenças. Híbridos de ‘Satsuma’ x ‘Natal’, que já haviam sido
avaliados como tolerantes à cancro cítrico (BUSQUET, 1982),
também se mostram resistentes à CVC.
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