Moacyr Flores - Cartas de Dona Leopoldina

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CARTAS 

DE DONA LEOPOLDINA

Publicado no site em 22/09/2008

Moacyr Flores

   A história de gênero é uma divisão didática da história social que tem como objeto de estudo
as  mulheres  e  suas  relações  com  a  família,  grupo  social,  trabalho,  política  e  com  a  religião,
analisando  as  tensões  e  contradições,  pois  certamente  não  é  biografia  de  mulheres.  É
importante  estudar  as  transformações  culturais  e  as  mudanças  das  idéias  sobre  o  homem  e  a
mulher,  família,  castidade,  descoberta  do  corpo,  sedução,  violência  sexual,  casamento,  parto,
doenças e educação dos filhos, para entender o espírito de uma época.

    Durante séculos, a contar da civilização grega, as mulheres ocupavam o espaço doméstico. As
que buscavam outros espaços eram consideradas mulheres de má fama. O cristianismo trouxe
novo conceito sobre a mulher: a virtude. Toda a mulher devia ser virtuosa. Os homens tinham
honra, por isto, em legítima defesa da honra podiam matar a esposa que perdesse a virtude nos
braços  de  um  amante.  O  homem,  principalmente  se  fosse  governante  podia  e  deveria  ter
amantes  para  mostrar  que  possuía  virilidade.  Os  reis  franceses,  menos  Luís  XVI,  nomeavam
oficialmente suas amantes que recebiam pensão e propriedades do Estado, vivendo na Corte em
Versalhes,  ditando  a  moda,  lançando  o  novo  tipo  de  dança  e  até  o  estilo  de  decoração,  como
Madame  Pompadour  que  determinou  para  a  França  o  estilo  rococó.  Sua  sucessora,  Madame
Mantenant, baniu o estilo rococó, instituindo o estilo neoclássico, sinal de bom gosto e de cultura
clássica.

    O historiador Peter Gay considera que “uma época histórica, assim como um fato histórico, é
um conjunto de possibilidades realizado no âmbito do espaço e no fluxo do tempo, e que cada
ator  e  atriz  do  drama  humano,  seja  protagonista,  ou  simples  figurante,  é  chamado  a
desempenhar  papéis  determinados  através  do  nevoeiro  do  caráter,  das  fortunas  econômicas  e
das identificações regionais ou sociais” (Gay, p. 10).

    A vida de uma princesa é sempre idealizada como personagem maravilhosa de conto de fadas.
Essas simplificações esbarram com a etiqueta palaciana que provoca o isolamento da realidade e
o afastamento do convívio com os subalternos e com o povo. A historiografia brasileira traça a
imagem  da  imperatriz  Leopoldina  como  uma  mulher  que  influiu  na  independência  do  Brasil  e
sofreu com o desprezo amoroso do mulherengo D. Pedro I, tendo que aturar Domitília de Castro
como primeira dama da Corte. Leopoldina conhecia dentro da própria família real da Áustria e dos
demais reinos europeus o papel das amantes dos governantes e da nobreza. A vida amorosa de
D. Pedro não se constituía num escândalo, era própria da conjuntura social.

    O século XVIII é o século da sexualidade, com publicações de livros pornográficos ilustrados,
dentro do gênero de livros “filosóficos”, entre eles, os mais célebres são os do Marquês de Sade
(1740­1814) que, entre relatos de perversões sexuais ataca a política do sistema monárquico e
a religião considerada como incoerente ao sistema de liberdade. Até o final século XVIII, a família
não era importante, os filhos das pessoas ricas ou nobres eram educados por um parente para
não criarem laços familiares, com o objetivo de prepará­los para o casamento de conveniência.
Esta atitude começa a mudar no final do século. Os pais não intervinham na educação dos filhos,
entregando­os a preceptores que lhes ensinavam regras de etiqueta, a falar em francês, pintar
aquarelas,  compor  música  e  a  tocar  instrumentos  musicais.  As  jovens  eram  obrigadas  pelos
preceptores  a  escrever  um  diário,  como  exercício  de  escrita.  O  diário  também  servia  para
descobrir os pensamentos das jovens.

   Carolina Josefa Leopoldina de Habs­burgo, filha de Francisco I e Maria Teresa da Sicília, nasceu
em Viena em 22 de janeiro de 1797 e morreu no Rio de Janeiro em 11 de dezembro de 1826.
Era  sobrinha  de  Maria  Antonieta,  raí­nha  da
França e irmã de Maria Luísa (1791­1847) que
casou com Napoleão Bonaparte. 

        As  princesas  eram  dadas  como  penhor  de


um  tratado  de  paz  entre  dois  estados,  não
tinham  escolha  nem  podiam  protestar.  A
Áustria  estava  em  decadência,  não  possuía
exército  poderoso,  nem  economia  capaz  de
sustentar  seus  súditos.  A  miséria,  gerada  pela
devastação  das  Guerras  Napoleônicas  e  pelo
processo  de  industrialização,  atingia  mais  de
um  terço  da  população  que  não  possuía
emprego  nem  comida.  Só  restava  ao
alquebrado  império  da  Áustria  fazer  alianças
com  os  reinos  vizinhos  mais  poderosos,  dando
suas princesas como penhor da paz. 

        Leopoldina,  a  arquiduquesa  da  Áustria,


escreveu uma vasta correspondência que dá a
dimensão histórica de seu caráter, de seu papel
como  mulher  e  como  futura  imperatriz  do
Brasil.  As  cartas  de  Leopoldina  permitem
reconstituir  o  sistema  educacional  da  alta
nobreza, a época de casamento, o conforto da
moradia  na  Quinta  da  Boa  Vista,  as  intrigas
palacianas e as diversões da corte brasileira.

    Geralmente as meninas casavam cedo, dos 12 aos 15 anos de idade, de acordo com a escolha
dos pais. Eram educadas desde cedo para procederem como mulheres capazes de administrar a
casa, “já que este seria o seu futuro”. (Ariès, p. 136).

    Pela correspondência vê­se que o maior relacionamento de Leopoldina com o pai Francisco I
era  através  de  cartas  que  ela  escrevia.  Em  5.8.1809,  agradece  a  coleção  de  mineralogia  que
recebeu do pai e solicita que não abandonem os filhos da viúva Handel, antiga camareira, pois
“os pobres órfãos estão numa situação muito difícil, com a horrível carestia de Viena”. Comunica
que está aprendendo o italiano, idioma que considera fácil.

    As cartas para a irmã Maria Luiza, que era esposa de Napoleão Bonaparte que estava exilada
em  Parma,  referem­se  às  excursões  a  castelos,  vilas  e  montanhas.  Em  outras  cartas  escreve
sobre  bailes,  em  nenhuma  refere­se  à  política  e  nem  sobre  o  tratado  de  Viena  que  está
acontecendo nos bailes e banquetes da corte de Francisco I. 

    Em carta de 19.7.1816, à irmã Maria Luísa, a princesa Leopoldina informa que o pai dissera
“não acredito que Leopoldina ainda esteja aqui no próximo inverno”. Leopoldina pede pelo amor
de  Deus  que  Luísa  não  conte  para  ninguém  que  estão  tratando  de  seu  casamento.  Em  24  de
setembro, no dia do casamento de sua irmã Maria, o pai comunica a Leopoldina que em breve
ela  poderia  escolher  entre  dois  pretendentes,  sendo  que  o  primeiro  não  gostara  dela  e  que
pretendia escolher uma noiva entre princesas alemãs. Leopoldina percebeu que o pai preferia o
segundo pretendente e ela resolveu concordar

   “na firme convicção de que quando cumprimos a vontade de nossos
pais seremos felizes em qualquer situação, pois sabes por experiência
própria que uma princesa nunca pode agir como quer”.

   Leopoldina informa à irmã Maria Luísa que o emissário virá no próximo mês e que ela partiria
em abril. Na carta, ela não dá o nome do pretendente e nem para onde iria. Diz ainda que nunca
teve aversão àquela nação (Portugal), só  não  suporta  seus  vizinhos  (espanhóis).  Afirma  que  a
família  do  pretendente  tem  muito  senso  e  bom  coração.  Somente  em  carta  de  4.10.1816,
Leopoldina se refere ao Brasil, pensando que retornaria à Europa em dois anos:

      “é  um  país  magnífico  e  ameno,  terra  abençoada  que  tem


habitantes honestos e bondosos; além disso  louva­se  toda  a  família,
têm  muito  senso  e  nobres  qualidades;  logo  a  Europa  estará
insuportável  e  daqui  dois  anos  posso  viver  aqui  novamente,  mas
esteja  convicta  de  que  meu  maior  empenho  será  corresponder  à
confiança que toda a família e meu futuro esposo em mim depositam,
através de meu amor por ele e meu comportamento”.

      Leopoldina  passou  a  estudar  música  com  afinco  porque  soube  que  no  Brasil  a  música  era
muito apreciada. Também a Baronesa Hohenegg leu para Leopoldina o livro Croquis do Brasil, de
Joaquim José Antônio Lobo da Silveira, entre exclamações de esplêndido e magnífico. Segundo a
princesa,  todos  na  corte  vienense  queriam  ver  o  Brasil.  Em  sua  aprendizagem  de  português,
achou um idioma sonoro mas difícil de entender porque é meio árabe, italiano e francês.

    Ela imaginava o Brasil como o El Dorado e se refere em carta à irmã Luísa ao ouro do Brasil.
Leopoldina  supõe  que  brevemente  a  Família  Real  portuguesa  retornará  a  Portugal.  Não  possui
informações corretas sobre a corte no Brasil. Estava feliz por ter obedecido ao pai e de talvez ser
útil à pátria.

    Em princípio de novembro o Marquês de Marialva chegou a Viena para tratar do contrato de
casamento. O embaixador Marialva visitou Leopoldina e lhe entregou vários livros em português,
idioma  que  ela  ainda  não  entendia.  Em  13.11.1816  ela  recebeu  nova  visita  do  marquês  de
Marialva e do conde de Navarro de Andrade, que descreveram as belezas do Brasil. Em todas as
cartas à irmã Luísa, ela se refere ao futuro esposo, sem escrever seu nome. Na carta de 21 de
novembro refere­se à sua futura sogrinha (Carlota Joaquina) como intrigante e desleixada, mas
que  o  rei  (D.  João  VI)  é  “um  excelente  soberano  e  que  a  mantém  nas  rédeas  e  os  filhos
afastados dela”. Somente em 14 de dezembro é se diz apaixonada pelo Brasil e pelo retrato de
Dom Pedro. Em sua correspondência à irmã mais velha há sempre um toque infantil, apesar de
ter 19 anos. 

    Somente em 18.02.1817, o marquês de Marialva formalizou o pedido da mão de Leopoldina,
que  leu  a  metade  de  seu  discurso,  embora  o  tivesse  decorado.  Informa  que  dançou
desvairadamente nos bailes de carnaval da corte de Bellegard. Ficou descontente com o fim dos
bailes de carnaval, que eram mais animados que os concertos musicais.

        Em  15.4.1817  escreveu  à  irmã  Luísa  que  recebeu  o  retrato  de  Dom  Pedro,  que  a  deixou
transtornada, “é tão lindo como um Adônis; imagina uma bela e ampla fronte grega, sombreada
por cachos castanhos, dois lindos e brilhantes olhos negros, um fino nariz aquilino e uma boca
sorridente; ele todo atrai e tem a expressão eu te amo e quero te ver feliz”.

        Em  17.04.1817  participou  da  festa  dada  pelo  Marquês  de  Marialva,  onde  Leopoldina
compareceu com o broche com o retrato de Dom Pedro. Confessa que se sentiu melhor entre os
portugueses do que em meio à nobreza vienense, isto é a pequena  corte  que  a  acompanharia
até o porto de Livorno. O conde Metternich é que faria a entrega da noiva.

        Depois  de  muita  protelação,  a  comitiva  de  Leopoldina  partiu  de  Viena  em  03.06.1817,  em
vários  coches.  Chegou  em  Pádua  no  dia  nove,  quando  finalmente  encontrou  sua  amada  irmã
Luísa.  Realizou  um  passeio  turístico  com  a  irmã  em  Veneza,  ficando  cansada,  mal  podendo  se
movimentar. Recebeu a notícia que insurretos em Pernambuco fizeram uma terrível revolução.
A  frota  brasileira  rumou  para  o  litoral  de  Pernambuco  para  apaziguar  a  rebelião,  atrasando  a
viagem ao porto de Livorno, para buscar a arquiduquesa da Áustria. A frota brasileira  chegou  a
Livorno em 26 de julho, mas como a comitiva de Leopoldina era de 800 pessoas, houve grande
demora para aprontar os dois navios de guerra, que só conseguiram zarpar em 10.08.1817.
Chegada de Leopoldina no Rio de Janeiro.

      A  travessia  até  o  Rio  de  Janeiro  durou  84  dias,  conforme  carta  de  08.11.1817.  Ficou
encantada  com  a  baia  da  Guanabara.  Todos  os  navios  e  os  três  fortes  troaram  os  canhões.  A
Família  Real  chegou  numa  galeota  para  recepcioná­la,  com  muita  bondade,  principalmente  o
amado Pedro que, depois de casados, não a deixou dormir, apesar de Leopoldina se queixar de
dor de barriga.

    Logo em seguida enviou à irmã Luísa periquitos, um macaco, sementes de plantas e peles de
animais.  Escreve  que  a  dança  do  lardo  (lundu)  é  muito  indecente  e  não  deve  ser  vista  por
solteiros. Ela fica suando e quase morre de vergonha com a dança de origem africana. Escreve
para  o  irmão  Ferdinando  que  o  Brasil  é  um  verdadeiro  paraíso  que  está  colecionando  pássaros
para enviar­lhe. 

        Na  comitiva  de  Leopoldina  veio  a  chamada  Missão  Austríaca  formada  pelo  pintor  Thomas
Ender, Dr. Johann Kammerlacher, médico e ornitólogo, Dr. Rochus Schüch, mineralogista e G. K.
Frick, pintor de plantas e paisagistas que prepararam materiais para enviar ao Museu de História
Natural  de  Viena,  tudo  por  conta  do  dinheiro  que  Leopoldina  recebia  como  dotação.  Em
nenhuma  momento  Leopoldina  pensou  em  financiar  a  preparação  de  animais  e  aves  para  a
formação de um museu no Brasil.

    Em dezembro de 1817 Leopoldina estava felicíssima com sua nova família e com o esposo que
tinha boníssimo coração. Reclamava sobre a falta de distração na corte portuguesa, pois não ia
ao teatro e nem a bailes. Também o calor dava­lhe preguiça, não a deixa ler e nem escrever. A
desilusão veria mais tarde.

    Leopoldina era doente, obesa e com tendência a bócio, sofria com o clima do Rio de Janeiro.
Sentia  falta  das  festas,  banquetes  e  passeios  que  realizava  nos  arredores  de  Viena.  No  Rio  de
Janeiro  estava  proibida  de  ir  à  cidade,  passando  a  maior  parte  do  tempo  no  palácio  de  São
Cristóvão, ou em passeios pela floresta da Tijuca, em busca de minerais ou pescando no mar. O
tédio só era quebrado na sala de música na companhia de Dom Pedro ou na coleta de minerais
nos morros do Rio de Janeiro.

        A  habitação  de  Leopoldina  compunha­se  de  seis  aposentos,  uma  sala  de  bilhar;.  a  sala  de
música  com  pintura  de  pássaros  e  árvores  na  parede,  com  poltronas  e  mesa  de  madeira  do
Brasil, três pianos, duas arcas com vasos de alabastro e um relógio de bronze; na sala de festas
havia  quatro  colunas,  representando  cenas  mitológicas,  além  de  vasos  de  porcelana  e
candelabros de bronze, com poltronas e mesas de Macau. O teto era pintado por artista francês.
Um  gabinete  de  toalete  de  platina  feito  na  Inglaterra,  muito  pesado,  que  ela  não  conseguia
manejar.  O  quarto  de  dormir  com  uma  cama  como  se  fosse  uma  casa,  ostentando  cortinado
bordado  a  ouro,  colcha  de  renda  de  Bruxelas,  além  de  dois  armários  com  relógios  e  vasos,
escrivaninha e canapé para dormir a sesta ou para quando o príncipe tinha seus achaques. Havia
também um gabinete. Logo depois  vinham  os  quartos  do  pessoal  que  servia  Dom  Pedro  e  um
quarto onde ele se vestia. No corredor ficavam as gaiolas de pássaros e os cães de caça. Embaixo
localizavam­se  quatro  quartos  para  as  duas  açafatas  e  para  duas  negras  que  cuidavam  do
lavabo.
    É notável a falta de higiene, pois de tanto lidar com os animais, Leopoldina ficou com sarna
que lhe provocou uma ferida no pé.

        Informa  que  sua  vida  era  bastante  solitária  e  que  o  país  está  atrasado  em  todo  tipo  de
cultura. Em carta de 18.4.1818, ao arquiduque Rainer, Leopoldina se queixa de grosserias que
tem  que  suportar  e  confessa:  “acho  impossível  fazer  o  bem,  ajudar  a  enobrecer  o  país  e  os
habitantes e isto custa muito sacrifício ao meu coração e razão”. Queixa­se que todas levam a
mal a mais bem intencionadas das atitudes. 

        Ela  não  explica  quais  são  as  bem  intencionadas  atitudes,  deveriam  ser  suas  tentativas  de
mudança  na  corte  portuguesa,  à  semelhança  da  festiva  corte  vienense.  Em  abril  de  1818
lamenta­se que Dom Pedro às vezes é grosseiro com ela, mas quando nota que a magoa, chora
com ela.

    Leopoldina descreve o parto que durou seis horas, porque a criança, que recebeu o nome de
Maria, nasceu com o braço sobre a cabeça. O trabalho de parto, em 4.4.1819, realizou­se com
Leopoldina  sentada  numa  cadeira  especial,  sem  assento,  que  possuía  apenas  apoio  para  as
pernas. Depois de oito dias, Leopoldina deixou de amamentar porque seu leite secou. A criança
logo ficou aos cuidados de uma babá e de uma dama. Em setembro de 1819, Maria foi vacinada
contra a varíola, doença que fazia uma grande devastação entre os escravos.

    A princesa Leopoldina considerava um sacrifício que só o amor de mãe justificava, sair da Praia
Grande e atravessar a baia da Guanabara para visitar a filha em São Cristóvão, a cada dois dias.

    Em dezembro de 1819, Leopoldina teve um aborto.

    Confessa que os bailes na corte do Rio de Janeiro são festas religiosas que duram de sete a
oito  horas,  terminando  à  meia­noite  e  que  gostaria  de  valsar,  “pois  amo  de  forma  indizível  a
dança  de  meus  compatriotas”.  Também  não  gosta  dos  pratos  portugueses,  preferindo  à  “boa
cozinha alemã”. Como se vê, Leopoldina não se adaptou à cultura luso­brasileira, tentando impor
costumes germânicos, esquecendo que ao casar com o príncipe Dom Pedro, herdeiro do trono,
deixou de ser arquiduquesa da Áustria.

    Em setembro de 1820, Leopoldina escreveu ao pai solicitando o empréstimo de 24 mil florins,
pois  tinha  despesas  com  imprevistos,  salários  e  pensões  de  famílias  necessitadas  e  criadagem.
Informava que seu dinheiro mensal não era pago regularmente e quando acontecia, Dom Pedro
retinha para suas despesas.

    Ao escrever para irmã Luísa, em 20.12.1820, refere­se aos incidentes ocorridos no Brasil, que
a deixam melancólica, pois o esposo pensa segundo os novos princípios e o sogro Dom João VI,
segundo os bons e verdadeiros. Esta situação deixa Leopoldina extremamente triste. Na mesma
data  escreve  ao  pai,  Francisco  I,  que  “infelizmente  o  feio  fantasma  do  espírito  de  liberdade  se
apossou  por  completo  da  alma  do  meu  esposo;  o  bom,  excelente  rei,  tem  todos  os  antigos
nobres e autênticos princípios e eu também, pois me foram inculcados em minha tenra idade e
eu mesma amo apenas a obediência para com a pátria, o soberano e religião”.

        Em  março  de  1821,  Leopoldina  confessa  que  está  apreensiva  com  as  ordens  que  virão  de
Lisboa,  mas  ficou  feliz  quando  veio  a  ordem  de  Dom  Pedro  embarcar  para  Portugal.  Espera
apenas terminar o resguardo do parto do príncipe herdeiro João Carlos, a fim de embarcar para a
Europa.

        Em  2.4.1821,  lamenta  a  desagradável  situação  em  que  está  por  Dom  Pedro  ter  jurado  a
constituição  e  Dom  João  VI  embarcar  para  retornar  a  Portugal.  Na  mesma  carta  em  que  se
lamenta da situação, informa ao pai que está enviando por Pohl um leão mestiço de pantera com
leão, um pássaro raro da China, um muar que dá cria, um zebu dos tártaros e dois botocudos,
aborígines daqui, “a quem peço não confiar”.

    Dom João VI, deixa o Brasil em 26.4.1821, de regresso à Lisboa, permanecendo Dom Pedro
no Rio de Janeiro como príncipe regente.

    Diante das ordens das Cortes de Lisboa, para Dom Pedro retornar a Portugal, permanecendo
Leopoldina  no  Rio  de  Janeiro,  ela  ordena,  em  28.4.1821,  a  Anton  von  Schaeffer  que  prepare
uma embarcação segura e veleira para uma família alemã de seis pessoas, para que possa fugir e
se  unir  a  Dom  Pedro,  quando  ele  partir  para  Portugal.  Considera  o  príncipe  Dom  Pedro
responsável por esta situação. 
        Em  15  e  16.5.1821  são  eleitos  os  deputados  que  irão  representar  o  Brasil  nas  Cortes  de
Lisboa.

        Apesar  dessa  situação  política  confusa,  Leopoldina  continuava  seus  passeios  a  cavalo,
acompanhada de dois camareiros, pois seu esposo ficava cuidando dos negócios. Nessa carta de
23.5.1821  e  em  outras  lamenta  o  envolvimento  de  Dom  Pedro  com  as  idéias  de  liberdade  e
confessa  que  não  participa  e  nem  concorda  com  processo  de  independência  do  Brasil,  sob  o
regime  liberal  com  princípios  totalmente  novos,  confessando  ao  pai  que  continuava  “fiel  ao
antigo  modo  de  pensar  e  aos  princípios  austríacos”,  ou  seja,  a  um  sistema  monárquico
absolutista.

    O comandante das tropas portuguesas do Rio de Janeiro, tenente­coronel Avilez,  força  Dom


Pedro a jurar as bases da nova Constituição liberal portuguesa, provocando uma crise política na
regência do reino do Brasil.

    Em carta de 7.6.1821, dirigida ao pai, Leopoldina informa que “cada dia as coisas estão mais
confusas  e  infelizmente  todas  as  cabeças  do  governo  foram  tomadas  por  princípios  totalmente
novos,  paciência!”  Dois  dias  depois  escreve  novamente  ao  pai  que  os  brasileiros  têm  cabeças
boas  e  tranquilas,  mas  as  tropas  portuguesas  estão  animadas  pelo  pior  espírito.  Critica  Dom
Pedro que não tem firmeza, pois “atemorizar seria o único meio de por termo à rebelião”. Está
convencida que o Brasil é um país maduro e importante é que é necessário mantê­lo.

        Em  8.7.1821  diz­se  muito  magoada  porque  é  mal  interpretada  e  que  as  almas  liberais
mesquinhas estão contra ela. Sente­se infeliz porque seus deveres a impedem de colocar­se sob
a proteção paterna, na sua querida pátria alemã.

    O príncipe regente Dom Pedro assina o decreto de 28.8.1821 pelo qual declara  a  imprensa
livre, de acordo com as bases da Constituição portuguesa.

    A pressão política sobre a regência de Dom Pedro aumenta quando as Cortes de Lisboa, em
29.8.1821,  decidem  suprimir  Tribunais  do  Rio  de  Janeiro  e  criar  Juntas  Provisórias  de  governo
para as províncias brasileiras, com autoridade unicamente civil. O comando militar seria confiado
a Governadores das Armas, subordinados diretamente às Cortes de Lisboa.

    Essas decisões das Cortes chegaram ao Rio de Janeiro em 9.12.1821, provocando  a  reação
dos  brasileiros  que  não  queriam  a  partida  do  príncipe  regente,  pois  temiam  que  o  Brasil
retornasse à situação de mera colônia de Portugal.

        Em  carta  de  8.1.1822,  a  Schaeffer,  Leopoldina  solicita  o  empréstimo  de  um  conto  de  réis.
Receia  o  dia  seguinte,  quando  o  príncipe  adotará  uma  atitude  mais  firme,  substituindo  os
ministros  por  filhos  do  país,  e  que  a  administração  do  governo  será  semelhante  a  dos  Estados
Unidos da América do Norte.

    Em 11.8.1821 as tropas ocupam o Morro do Castelo, na tentativa de obrigarem Dom Pedro a
cumprir as determinações da Corte. As tropas brasileiras e populares armados, sob o comando de
Dom  Pedro,  reúnem­se  no  Campo  de  Santana,  obrigando  os  portugueses  a  se  retirarem  para
Niterói, de onde embarcam no mês seguinte para Lisboa.

    Dom Pedro, por decreto de 16.2.1822, convoca o Conselho de Procuradores das  Províncias,
com o objetivo de unir todas as províncias.

    Em suas cartas Leopoldina refere­se à crise política entre os dois partidos antagônicos,  que
está dificultando a administração de Dom Pedro. Queixa­se do caos  de  idéias  gerado  pelo  logro
chamado  espírito  de  liberdade  e  que  nas  províncias  do  Norte  estão  assassinando  os  europeus.
Sente  o  coração  partido  pela  decisão  de  Dom  Pedro  de  permanecer  no  Brasil,  perdendo  a
esperança de rever os amigos e a pátria.

        O  ministro  José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva  aconselha  Dom  Pedro  a  assinar  o  decreto  de
4.4.1822,  pelo  qual  as  leis  mandadas  de  Lisboa  não  poderiam  ser  aplicadas  no  Brasil,  sem
receber o Cumpra­se do príncipe regente.

    Leopoldina muda de tom em carta ao marquês de Marialva, em 10.5.1822, ao considerar que
a permanência no Brasil do príncipe Dom Pedro evitou a queda total da monarquia portuguesa.
Pela primeira vez, a princesa Leopoldina inclui­se entre os brasileiros, escrevendo “o senhor pode
estar certo de que nós, brasileiros, nunca seremos capazes de sofrer as extravagâncias da Mãe­
Pátria, e que trilharemos sempre o caminho da honra e da fidelidade”.

D. Pedro I e Dona Leopoldina em visita à Roda dos Expostos.

   Parece que essa mudança de atitude está em consonância com o título de Defensor Perpétuo
do Brasil dado a Dom Pedro pelo Senado do Rio de Janeiro, presidido por Gonçalves Ledo.

        Dom  Pedro,  como  defensor  do  Brasil,  envia  uma  esquadra  naval  à  Bahia  para  expulsar  as
tropas portuguesas que tomaram a cidade de Salvador.

    Os brasileiros continuam com o processo que culminaria com a separação de Reino Unido a
Portugal,  em  23.5.1823  os  procuradores  das  províncias  encaminham  ao  príncipe  regente  o
pedido para convocação de Assembléia Constituinte. Somente em 3.6.1822, o príncipe regente
convoca a Assembléia Constituinte deixando de se subordinar ao Reino de Portugal. Leopoldina
informa  ao  pai,  em  23.7.1822  que  reina  no  Brasil  uma  grande  confusão  com  os  princípios
populares  da  exaltada  liberdade  e  independência  e  que  políticos  trabalham  numa  Assembléia,
imaginada  de  forma  democrática  como  no  país  livre  da  América  do  Norte.  Dom  Pedro  está
deslumbrado  com  as  novidades,  enquanto  ela  é  olhada  com  desconfiança  pelos  políticos
brasileiros.  Leopoldina  teme  que  os  acontecimentos  tomem  o  rumo  da  Revolução  Francesa,
quando só restará a ela a fuga para salvar os filhos, pois ela permanece fiel a seus princípios.

    Leopoldina conta à irmã Luisa, em carta de 23.6.1822, que está “cada dia mais misantropa,
porque infelizmente conheço pessoas cada vez mais corrompidas e com idéias às avessas”.

    Dom Pedro assina o manifesto de 6.8.1822, dirigido às nações e exigindo que os direitos do
Brasil sejam reconhecidos pelos outros povos. Estava feita a independência, o brado do Ipiranga
é apenas um fato simbólico.

    Em 14.8.1822, a princesa Leopoldina assume a regência do Brasil, no período em que Dom
Pedro  viajou  para  pacificar  a  província  de  São  Paulo,  agitada  por  lutas  entre  os  que  queriam  a
permanência do príncipe regente e os que desejavam obediência às Cortes de Lisboa.

    Leopoldina em carta de 20.8.1822 ao rei Dom João VI comunica que o príncipe  partiu  para


apaziguar São Paulo e que ela permanecia no Rio de Janeiro.  A  pequena  epístola  recomendava
Manoel de Carvalho, que ia às caldas na Europa por ordem médica. Leopoldina encerrou a carta
com fórmula de cortesia e submissão: “beija a mão de Vossa Majestade com o maior respeito,
meu pai e meu senhor, sua filha muito obediente, Leopoldina.”

        Teria  Manoel  de  Carvalho  levado  alguma  correspondência  secreta,  explicando  os  atos  do
príncipe regente? Ou seria apenas uma carta para ocultar o que estava acontecendo?

        Durante  sua  regência,  Leopoldina  aconselhou  o  ministro  José  Bonifácio  a  não  nomear  o
Soares como governador de Santa Catarina por ser um sujeitinho muito pé­de­chumbo, ou seja,
do grupo que apoiava os portugueses.

        Na  seleção  e  transcrição  de  cartas  realizadas  por  Benttina  Kann  e  Patrícia  Souza  Lima  não
constam  as  que  teriam  sido  enviadas  por  Leopoldina  e  por  José  Bonifácio  informando  das
resoluções das Cortes que anularam a convocação de Assembléia Constituinte e determinavam
que Dom Pedro retornasse a Portugal.

        Sérgio  Buarque  de  Holanda  publica  um  trecho  da  carta  de  José  Bonifácio  enviada  a  Dom
Pedro:

   Senhor! O dado está lançado e de Portugal nada temos a esperar
senão escravidão e horrores. Venha V. A. R. quanto antes e decida­se
porque irresoluções e medidas d´água morna, à vista desse contrário
que não nos poupa, para nada servem e um momento perdido é uma
desgraça.
    Muitas coisas terei a dizer a V. A. R., mas nem do tempo nem da
cabeça posso dispor. (Holanda, p. 137).

      Na  correspondência  de  Leopoldina  não  há  referência  ao  Sete  de  Setembro.  O  silêncio  faria
parte  do  segredo  político?  É  interessante  notar  que  Dom  Pedro  I  considerava  como  data  da
independência do Brasil, o dia de sua aclamação como imperador em 12.10.1822.

    A coroação aconteceu em 1º.12.1822. Após um grande intervalo, Leopoldina escreve ao pai,
Francisco I, que o barão Mareschall, portador da carta, explicará as notícias. Pede que entenda
que não havia outra forma para afastar o espírito popular das idéias de república.

    De 1822 a 1823, as províncias da Bahia, Maranhão, Piauí, Grão­Pará e Cisplatina uniram­se
ao  Império.  A  Assembléia  Constituinte,  instalada  em  3.5.1823,  contava  com  a  maioria  de
deputados  liberais  que,  ao  discutirem  o  projeto  de  Constituição,  procuraram  limitar  o  poder  do
Imperador. Em novembro Dom Pedro I ordenou a dissolução da Assembléia, rompendo com os
liberais,  entre  eles  oficiais  do  Exército  nacional.  Sem  o  poder  militar,  o  imperador  determina  a
vinda  de  europeus  solteiros  para  formar  batalhões  de  soldados  fiéis,  encarregando  Jorge  von
Schaeffer  do  recrutamento.  A  imperatriz  Leopoldina  mantém  a  correspondência  com  Johann
Martin  Flach,  para  que  este  ordene  a  Schaeffer  que  envie  1.500  homens,  a  fim  de  constituir
uma força para enfrentar o governo e o ministério que querem ver o imperador sem poder.

    Carlos Oberacker Júnior afirma que Dom Pedro I encarregou a imperatriz Leopoldina de tratar
com Flach o envio de soldados europeus para o Rio de Janeiro, ignorando as contra­ordens dos
ministros. (Oberacker, p. 42 a 44). 

    Além dos avisos de remessas de animais e de minerais para os parentes, a correspondência da
imperatriz  traz  constantemente  pedidos  de  empréstimos  para  pagamentos  de  despesas  com
empregados e de remessas dos presentes que enviava à Europa.

    Com a contratação da inglesa Maria Graham para preceptora da princesa Maria da Glória, a
imperatriz Leopoldina amplia seu círculo de amizade, antes restrito  a  José  Bonifácio  e  a  Martin
Francisco. Há uma intensa correspondência entre a imperatriz e a preceptora inglesa, ao pondo
das duas se encontrarem na hora da sesta para conversarem.

        Luiz  Mott,  de  uma  maneira  inconsistente,  interpretou  as  formas  de  cortesia  nas  cartas  de
Leopoldina  como  indício  de  lesbianismo,  conforme  trecho  de seu livro O  Lesbianismo  no  Brasil,
editado em 1987. Sem comentários.

    A chegada da ambiciosa Domitília de Castro à corte, desequilibra o relacionamento entre Dom
Pedro e a imperatriz Leopoldina pois, enquanto o imperador acumula a amante e seus parentes
com honrarias e benefícios, diminui a  atenção  para  com  a  esposa  e,  o  que  é  pior  e  motivo  de
queixas, toma para si a dotação em dinheiro destinada aos gastos pessoais da imperatriz.

    Leopoldina, com o afastamento dos amigos Maria Graham e dos irmãos Andrade, bem como
pela negligência do imperial esposo, torna­se uma mulher amargurada e solitária. 

        A  última  carta  da  imperatriz  é  à  sua  querida  irmã  Luisa,  ditada  à  Marquesa  de  Aguiar,  às
quatro horas da manhã de 8.12.1826. É um grito de desespero de uma mulher abandonada e
desprezada,  pedindo  a  proteção  de  seus  filhos,  queixando­se  amargamente  do  monstro
(Domitília de Castro Canto e Melo) que seduziu seu querido Pedro, a ponto de ele esquecê­la e
lhe fazer desfeitas. Solicita remessa de dinheiro para socorrer a seus pobres e para satisfazer as
dívidas  que  contraiu.  Declara  que  sua  única  amiga  é  a  Marquesa  de  Aguiar  a  quem  confiará  a
guarda dos filhos. 

    Dom Pedro I estava em São José do Norte, província do Rio Grande do Sul, quando recebeu a
notícia que a imperatriz Maria Leopoldina Josefa Carolina havia morrido em 11.12.1826.

    A correspondência da imperatriz Leopoldina é uma rica fonte de informações sobre a vida na
corte do Rio de Janeiro, do cotidiano na Quinta da Boa Vista, das relações entre os componentes
da família real e das intrigas palacianas, fomentadas pelo barbeiro Chalaça.

    Há outras informações importantes sobre o processo de independência, com as lutas entre os
partidários conservadores que pretendiam o Brasil unido à Portugal e os liberais que desejavam a
autonomia e até mesmo a independência. Leopoldina  expressa  seu  temor  que  a  república  seja
proclamada como foi na Revolução Francesa.

    Leopoldina  vive  isolada,  realizando  passeios  a  cavalo  ou  coletando  minerais.  Só  participa  da
política  quando  preside  a  regência  na  ausência  de  Dom  Pedro.  Mas  sua  participação  é  tutelada
pelo ministro José Bonifácio de Andrade e Silva.

        Na  coletânea  de  cartas  já  referida,  há  uma  lacuna  referente  ao  ato  de  independência  e  ao
processo  de  reconhecimento  por  outros  países.  Não  encontrei  dados  que  ela  teria  interferido  e
mesmo provocado nossa independência, pois para tudo que fazia, passeios e até mesmo ida ao
museu, solicitava licença a Dom Pedro. Suas críticas pela adoção de idéias liberais por parte de
Dom Pedro, indicam que ela apoiava o governo absoluto, no sistema de permanência do Reino
Unido a Portugal, à semelhança ao império Austro­Húngaro, de seu pai, Francisco I.

BIBLIOGRAFIA

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Dona Leopoldina. Cartas de uma imperatriz. São Paulo: Compnhia das Letras, 2.000.
GAY, Peter. A experiência burguesa da rainha Vitória a Freud. A paixão terna. S. Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
GRAHAM,  Maria.  Correspondência entre  Maria  Graham  e  a  imperatriz  Leopoldina.  Belo
Horizonte: Itatiaia, 1997.
HEYWOOD, Colin. Uma história da infância. Porto Alegre: Artmed, 2004.
HOLLANDA,  Sérgio  Buarque  de.  História  do  Brasil  –  1.  Das  origens  à  independência.  S.
Paulo: Nacional, 1971.
LACOMBE, Américo Jacobina. Ensaios brasileiros de história. S. Paulo: Nacional, 1989.
OBERACKER JÚNIOR, Carlos H. Jorge Antônio von Schaeffer, criador da primeira corrente
emigratória alemã para o Brasil. Porto Alegre: Metrópole/DAC/SEC, 1975.

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