Revista Linguagem Pauta With Cover Page v2
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ECOS DO PÓS-MODERNO NA
PRODUÇÃO DO POETA DE MEIA-
TIGELA
Léo Prudêncio
Inquiet udo: uma poét ica possível no Brasil dos anos 1970
Renan Nuernberger
“A LET RA P NÃO É A PRIMEIRA LET RA DA PALAVRA POEMA” Um est udo da obra poét ica de José Luís P…
Vânia REGO
ECOS DO PÓS-MODERNO NA PRODUÇÃO DO POETA DE MEIA-
TIGELA
Leonardo Prudêncio
UVA – Sobral/CE
UFC – Fortaleza/CE
Resumo: Esta pesquisa se desenvolveu sob Abstract: The study was conducted to
a perspectiva de perceber como o pós-moderno understand how the postmodern is related to
se apresenta no atual panorama cearense. the current scenario in Ceará. For a better
Para melhor delineamento metodológico, methodological design, we focused on the
enfoca-se a obras de um autor em particular, works of a particular author. Thus, it is an
por isso, este artigo trata-se de um estudo de investigative approach to literary studies with
caráter investigativo literário sobre a a postmodern perspective on the work of the
perspectiva pós-moderna na obra d'O Poeta poet Meia Tigela, a pseudonym used by Alves
de Meia-tigela, pseudônimo usado por Alves de Aquino. The study was based on the
de Aquino. Para esta pesquisa utilizou-se authors Vattimo (1996), Barthes (2004)
autores como Vattimo (1996), Barthes and Perrone-Moisés (2006). It is expected
(2004) e Perrone-moisés (2006).É esperado that this study will further research on the
que este trabalho sirva para futuras pesquisas works of the poet Meia-Tigela and
sobre O Poeta de Meia-tigela e também sobre postmodern literature.
o Pós-moderno.
1 Introdução
2 Metodologia
3 Discussão e resultados
(1998) comenta que a linguagem literária desses textos pós-coloniais é bastante fundida à
realidade pluralista das culturas locais, ou seja, o escritor, ao compor uma obra que fale sobre a
sua região, deverá também abranger os aspectos múltiplos dela, como as raças, danças, religiões e
compreensões políticas.
O poeta moderno necessita não apenas assimilar a sua cultura, mas também ter uma
posição canibalista ao deparar-se com a cultura do outro, lembrando a fala de Oswald de
Andrade (2011), em seu Manifesto Antropófago, que pregava uma literatura produto de uma
mistura de raças, culturas e cores. É importante comentar que todas as renovações artísticas
nascem de algo já feito e acredita-se que há uma espécie de ruptura e continuação, ou nas
palavras do poeta Ferreira Gullar (2002, p. 173)
A renovação não significa romper com todo o patrimônio de experiências acumulado.
Fora revolucionária não é a mera diluição de “achados” formais e sim a forma que
nasce como decorrência inevitável do conteúdo revolucionário. São os fatos, a História,
que criam as formas, e não o contrário.
Note-se que a literatura, em nossa época pós-moderna, quer não apenas ser vista como
algo esteticamente “belo”, pois assim estaríamos entrando na tradição, e essa poética põe em
xeque certos valores tradicionais. Barthes (2004) comenta que o estilo de um escritor possui
dimensão vertical, ou seja, está na alma do poeta, em sua linguagem e experiência.
O poeta que dialoga com o pós-moderno utilizará a linguagem como ponto referencial de
suas composições culturais, pois é na linguagem que está a marca de uma nação, e o poeta
representante artístico de seu local de origem, deverá compreender o comportamento linguístico
1
Essa cultura popular abrange tanto a folclórica quanto a cultura pop.
de sua localidade, para devolver a sociedade como forma artística. Em defesa de uma literatura
fora da linguagem muito rebuscada, o poeta Oswald de Andrade, em seu Manifesto da Poesia
Pau-Brasil, reivindica uma escrita de caráter mais acessível “A língua sem arcaísmos, sem
erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como
somos” (ANDRADE, 2011, p. 61). Essa reivindicação, tida como modernista, irá contaminar
toda a produção pós-moderna em nosso país. Benedito Nunes (2011, p. 15), sobre essa
concepção poética comenta:
Ensina o artista a ver com olhos livres os fatos que circunscrevem sua realidade
cultural, e a valorizá-los poeticamente, sem executar aqueles populares e etnográficos,
sobre os quais pesou a interdição das elites intelectuais, e que melhor exprimem a
originalidade nativa.
A poesia de caráter menos erudita irá se desenvolver com o passar dos anos e no Brasil
resultará na Poesia Concreta, que se caracteriza por uma desconstrução semântica das frases
postas no campo da página em branco.
Sobre o pós-moderno, Perrone-Moisés (2009, p. 183) elenca algumas características
peculiares no pós-moderno artístico que são: “heterogeneidade, diferença, fragmentação,
indeterminação, relativismo, desconfiança dos discursos universais, dos metarrelatos totalizantes,
abandono das utopias artísticas e políticas”. Através desses pontos elencados pela autora, nota-se
45
o princípio de união, pois como percebido não há uma linha única de pensamento.
O pós-moderno para Harvey (2012) enquadra mais características como a participação e
interação do leitor; o silêncio; a antiforma; a dispersão; indeterminação e a anarquia.
Começo com o que parece ser o fato mais espantoso sobre o pós-modernismo: sua
total aceitação do efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico que
formavam uma metade do conceito baudelairiano de modernidade. Mas o pós-
modernismo responde a isso de uma maneira bem particular; ele não tenta transcendê-
lo, opor-se a ele e sequer definir os elementos “eternos e imutáveis” que poderiam estar
contidos nele. O pós-modernismo nada, e até se esponja, nas fragmentárias e caóticas
correntes da mudança, como se fosse tudo o que existisse (HARVEY, 2012, p. 49 - grifo
nosso).
Portanto, o conceito de pós-moderno está aflorado com a condição efêmera da vida, com
os conceitos múltiplos e fluxos de pensamento que permeiam a sociedade pós-século XX. As
verdades ditas eternas e universais caem por terra, por isso a aceitação do todo na simplicidade da
composição desses autores.
Nessa perspectiva, a poesia atual parece se propor a recriar não somente o mundo, mas
também a palavra, pois ela é a partícula mínima de mundo, o pensamento de Barthes (2004, p.
45) comenta:
A palavra tem aqui uma forma genérica, é uma categoria. Cada palavra poética é assim
um objeto inesperado, uma caixa de Pandora de onde saem voando todas as
Esta forma pós-moderna de compor poesia compreende não somente a forma escrita da
poesia, mas todas as formas possíveis de comunicação como sons, placas de trânsito, cartazes,
luzes, imagens, estórias em quadrinhos, artes plásticas e pintura. Os poetas concretos
ambicionavam difundir a poesia em todos os gêneros possíveis. Isso nos faz lembrar o conceito
dito no início do capítulo, no qual se afirma que uma das marcas da literatura pós-moderna é a
fusão de gêneros e ritmos.
Através do signo palavresco, o poeta constrói a sua obra concreta, utilizando-se de sons,
ritmos e forma. Porém, tais formas, ritmos e sons são utilizados de modo múltiplo. Segundo
Haroldo de Campos (1975), é uma poesia que utiliza a palavra em sua dimensão gráfica-espacial,
acústico-oral e conteudística. É ainda para ele uma arte que presentifica e objetiva a palavra. É
Nesse poema, percebemos o uso gráfico e espacial que os poetas concretos teorizaram.
Para fazer a leitura desse poema, o leitor deverá executar o movimento de sobe e desce nas
linhas. Isso evidencia o uso do espaço impensável da página.
Pensar a literatura ou o texto num espaço impensável. Levar adiante uma experiência de
linguagem como trabalho produtor inscrito na região do significante, isto é, numa região
onde o significado não existe senão como deslizamento entre superfícies significantes,
como faiscamento incessante do sgnans, ou seja, do corpo verbal, concreto, da linguagem
(DÉPRÉ apud CAMPOS, 2005, p. 9)
48
2
Daqui em diante a obra será abreviada para CONCERTO.
3 https://revistapechisbeque.wordpress.com/2012/07/04/femininologia-do-espirito/
Neste soneto, nota-se mais que uma transfiguração de valores e utopias. Percebe-se nele
um rompimento formal e estético com os desígnios clássicos poéticos em que o poema é visto
como algo que decanta musas e sentimentos amorosos. O Poeta de Meia-tigela, no soneto acima,
discorre um pouco do pensamento de Sartre (1993, p. 13) quando afirma que “o poeta se afastou
por completo da linguagem-instrumento; escolheu de uma vez por todas a atitude poética que
considera as palavras como coisas e não como signos”, sendo assim o uso da palavra no poema
acima remete ao seu uso objetivo, e não subjetivo, a ação do que é descrito em Camicase II logo
é sinalizada na imaginação do leitor, causando dessa forma o efeito de tomar forma nas palavras.
A cultura popular é imprescindível na produção pós-moderna, Oswald de Andrade (2011)
comenta que a literatura era produzida para elites e para outros escritores, com o advento do
Manifesto da Poesia Pau-brasil, em que a arte deverá ser voltada às todas as camadas sociais,
privilegiando também a sua linguagem e costumes.
O Poeta de Meia-tigela ao publicar o livro Memorial Bárbara de Alencar (2011), propõe,
no conjunto da obra, um louvor às heróis populares e a sua cultura e linguagem. É valido lembrar
também, que um dos motivos do pseudônimo Poeta de Meia-tigela tem a sua origem em
influência de questões sociais “visto que o termo representa a metade da ração que era oferecida
ao serviçal, enquanto o seu senhor ganhava a tigela inteira” (POETA DE MEIA-TIGELA, 2009,
p. 37). Portanto, ao pontuar que a escolha de Alves de Aquino por assinar como Poeta de Meia-
tigela já explicita uma postura pós-moderna.
O uso da cultura e linguagem popular na literatura, tanto defendido por Oswald de
Andrade (2011), é comentado mais detalhadamente por Benedito Nunes (2011, p. 15):
A inocência construtiva da forma com que essa poesia sintetiza os materiais da cultura
brasileira equivale a uma educação da sensibilidade, que ensina o artista a ver com olhos
livres os fatos que circunscrevem sua realidade cultural, e a valorizá-los poeticamente,
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sem excetuar aqueles populares e etnográficos, sobre os quais pesou a interdição das
elites intelectuais, e que melhor exprimem a originalidade nativa.
Como se percebe, a escrita dos poetas contemporâneos faz uso dos valores populares em
sua gênese literária. Não a utilizam como algo depreciativo, mas sim como uma rica fonte de
produção literária. O escritor contempla o meio popular e o devolve em uma escrita que deva
representar também o que se observa. Seguindo esses moldes, o Poeta de Meia-tigela compõe a
série de poemas denominada História Cosmológica do Boi, composta por quatro poemas, porém
será reproduzido apenas a terceira parte do poema denominado O Boi-Bumbá (2011, p. 96-97):
Todo o Universo cabe no Nordeste.
Se não fosse heresia, bem diria eu
Ser o Nordeste até maior que Deus
(Calo, pois temo qu'Este me moleste).
Considerações finais
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Referências
ANDRADE, Oswald de. A utopia Antropofágica. 4°ed. São Paulo: Globo, 2011.
BARTHES, Roland. O grau zero da escrita: seguido de novos ensaios. 2° Ed. São Paulo:
Martins fontes, 2004.
CAMPOS, Augusto de; CAMPOS, Haroldo de; PIGNATARI, Décio. Teoria da Poesia
Concreta: Textos críticos e manifestos 1950-1960. 2° Ed. São Paulo: 1975.
CAMPOS, Haroldo de. Ruptura dos gêneros na Literatura Latino-Americana. São Paulo:
Perspectiva, 1977.
DÉPRÉ, Inês Oseki. Haroldo de Campos, ou a educação do sexto sentido. In: DÉPRÉ,
Inês Oseki. Haroldo de Campos: melhores poemas. 3º ed. São Paulo: Global, 2005.
HARVEY, David. Condição pós-moderna. 23º ed. São Paulo: Loiola, 2012.
MEIA-TIGELA, O Poeta de. Concerto nº1nico em mim menor para palavra e orquestra.
Poema – Combinação de realidades puramente imaginadas. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora,
2010.
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_______. Memorial Bárbara de Alencar & outros poemas. 2º ed. Fortaleza: Expressão
Gráfica Editora, 2011)
NUNES, Benedito. Antropofagia ao alcance de todos. In: ANDRADE, Oswald de. A utopia
Antropofágica. 4°ed. São Paulo: Globo, 2011.
PERRONE-MOISES, Leyla. Altas literaturas. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
_______. Flores da escrivaninha: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
SARTRE, Jean-Paul. O que é literatura. 2º ed. Trad.: Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Ática,
1993.