Saiba A Diferença Entre Ciência e Filosofia

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INSTITUTO DE EDUCACAO A

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Curso de Licenciatura em Ensino de Historia

Resolução de Exercícios

Beatriz Ambrósio Macado Impuanha

Código n˚ 708192203

Entrega: Outubro 2020

Curso de: História

Exame de: Introdução a Filosofia

2⁰ Ano 2020

Gurué, Outubro de 2020


Nome do estudante: Beatriz Ambrósio Macado Impuanha Ano de frequência: 2o ano
Especialização: História Turma:
Trabalho de: Introdução a Filosofia Código do Estudante: 708192203
Dirigido ao docente: Dr. Mestre Mangala Número de páginas: 15
Confirmado pelo responsável do CED Data de entrega: Outubro 2020

ASPECTOS A CONSIDERAR NA CORREÇÃO: Cotação Cotação


INTRODUÇÃO: exposição e delimitação do assunto em 2,0v
análise.
Desenvolvimento: 5,0
Fundamentação teórica (definição de conceitos e termos e v
apresentação dos pontos de vista dos autores). 5,0

Interligação entre teoria e prática (argumentos/ contra v

argumentos e exemplificação)
Clareza expositiva 2,0v
Citações bibliográficas (directas e indirectas) 2,0v
Conclusão 2,0v
Referências bibliográficas (normas APA) 2,0v
Cotação Total: 20,0v
Assinatura do docente:
Assinatura do assistente pedagógico:
Índice
1. Introdução.....................................................................................................................................1
2. Objectivos......................................................................................................................................1
2.1. Geral..........................................................................................................................................1
2.2. Específicos.................................................................................................................................1
3. A diferença entre Ciência e Filosofia..........................................................................................2
3.1. Ciência versus Filosofia............................................................................................................2
3.2. Cientistas versus Filósofos.......................................................................................................3
3.3. A classificação das ciências de comte......................................................................................4
3.4. Os dois princípios básicos da razão ocidental.........................................................................6
3.5. Implicações do princípio de identidade...................................................................................7
3.6. A enigmática relação entre a filosofia e a política..................................................................8
3.7. A noção de causa.......................................................................................................................9
3.8. Os vários sentidos da palavra razão......................................................................................10
3.9. O princípio de razão suficiente como princípio lógico em Kant..........................................10
4. Conclusão....................................................................................................................................12
5. Bibliografia.................................................................................................................................13
1. Introdução

Este trabalho tem como objetivo analisar a contribuição e influência de Comte (1748-1857),
sobre a classificação das ciências desenvolvida pelo lógico e filósofo norte-americano Charles
Sanders Peirce (1839-1914). Peirce reconheceu em várias passagens seu débito com Comte,
enfatizando as divisões tricotonômicas, das quais suas próprias categorias emergiram, de
acordo com o fundamento que governava essas divisões. As ciências para Comte se
desenvolvem logicamente e historicamente do abstracto para o concreto.

A classificação das ciências de Peirce, desenvolvida segundo o princípio comteano traz as


ciências em uma hierarquia, na qual as mais altas fornecem os fundamentos para as demais e,
nesta hierarquia, a matemática está no topo, que ao contrário de Comte não é uma ciência
positiva.

A classificação peirceana não é um sistema fixo e rígido porque está sempre em evolução,
também não é um esquema linear, mas escadas relacionadas numa forma tridimensional,
exibindo as relações de dependência entre as ciências. Estes pontos constituem o cerne do
desenvolvimento desta apresentação, de maneira a fornecer subsídios aos professores de
ciências e matemática, ajudando-os a reflectir sobre a matemática por meio da história.

2. Objectivos
2.1. Geral
 Diferenciar a filosofia de outras ciências
2.2. Específicos
 Analisar a contribuição e influência de Comte sobre a classificação das ciências
 Diferenciar os conceitos de filosofia da política
 Conhecer os princípios da razão humana

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3. A diferença entre Ciência e Filosofia

Apesar de a ciência ter herdado a argumentação racional que surgiu com os primeiros
filósofos, a diferença entre ciência e filosofia reside no fato da ciência estar comprometida
com demonstrações empíricas, enquanto a filosofia se permite trabalhar com conceitos que
estão além de qualquer demonstração física.

Tanto a ciência quanto a filosofias estão obrigadas a demonstrar seus conceitos de forma
clara, lógica e sem contradições, contudo, se a filosofia estivesse comprometida com dados
empíricos, não poderia investigar conceitos metafísicos como Deus, a alma humana ou
mesmo desconfiar da realidade de onde a ciência tira suas conclusões como fizeram Platão e
Descartes. (HIRATA. C. 2017).

Isso não impede que a ciência também avance no terreno puramente conceitual. É o caso, por
exemplo, da Teoria da Relatividade criada por Albert Einstein baseada em conceitos e
raciocínios indutivos, como também fazem os filósofos. Porém, as teorias científicas sempre
estarão submetidas à comprovação.

Foi assim em 1919 quando uma equipe de cientistas conseguiu comprovar o desvio da luz em
um eclipse solar, como Einstein previra, confirmando assim sua famosa teoria. Outro caso
recente é o Bóson de Higgs, uma partícula elementar da matéria também chamada Partícula
de Deus, que foi percebida de forma conceitual pelo físico britânico Petter Higgs em 1964 e
confirmada através de experimentos realizados com o Grande Colisor de Hádrons em 2013.

3.1. Ciência versus Filosofia

As revoluções científicas seguem um caminho de queda e ascensão de paradigmas. Portanto,


quando um paradigma científico é refutado, ele não é mais considerado conhecimento válido.
Como exemplo podemos citar o surgimento da teoria heliocêntrica, que derrubou a crença de
que o Sol girava ao redor da Terra considerada uma crença absurda. (HIRATA. C. (2017).

Isto não acontece com a filosofia e até mesmo os filósofos mais antigos, como os pré-
socráticos, são fonte de inspiração até hoje, influenciando tanto cientistas quanto pensadores
contemporâneos como Friedrich Nietzsche. O conceito de átomo, utilizado pela ciência
moderna, foi inspirado nos antigos filósofos atomistas. O Renascimento ocorrido entre os
séculos XIV e XVI também é um exemplo de retomada de tradições filosóficas antigas.

2
Isso ocorre porque a filosofia, através de sua abordagem puramente conceitual, busca atingir
os assuntos mais perenes da humanidade, como as questões éticas que a ciência parece
desconsiderar.

Entretanto, as investigações filosóficas ainda, que não tenham como objetivo a demonstração
empírica, acabam influenciando o processo de investigação científica. O filósofo Renné
Descartes (1596-1650) é o exemplo mais simbólico desta influência, uma vez que foi sua
forma característica de filosofar que acabou influenciando o método científico moderno.

3.2. Cientistas versus Filósofos

Os filósofos também questionam as afirmações dos cientistas, combatendo crenças científicas


mal elaboradas. Este é o caso do argumento da sala chinesa, elaborado pelo filósofo
americano John Searle para combater o alarmismo dos cientistas sobre a inteligência artificial.

Podemos citar também a argumentação de Thomas Nagel que tenta refutar a ideia de que a
neurociência poderia esclarecer o problema da consciência humana. Isso demonstra como a
investigação filosófica se aplica não apenas aos conceitos metafísicos, mas também a todo e
qualquer conceito, seja ele científico ou crença popular. É por isso que se costuma dizer que a
filosofia é uma experiência conceitual. (HIRATA. C. 2017).

É natural que durante as pesquisas científicas surjam questões filosóficas. Nesse ponto, o
antipático filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi bastante pessimista quanto à
capacidade dos cientistas em avaliar essas questões.

Esta falta de habilidade percebida por Schopenhauer pode ser fruto da abordagem empírica da
ciência, que acaba viciando a investigação filosófica feita pelos cientistas. Normalmente os
cientistas mais populares abordam questões filosóficas se limitando a utilizar descobertas
científicas para confirmar suas crenças pessoais. (HIRATA. C. 2017).

Schopenhauer era um leitor ávido das descobertas científicas de sua época. Mas acreditava
que, quando os cientistas se confrontavam com questões filosóficas em suas pesquisas,
revelavam uma sabedoria de sapateiro para as coisas da filosofia.

Também não é incomum que cientistas virem gurus espirituais, acreditando que as recentes
teorias científicas revelam de forma irrefutável uma sabedoria divina. Outros pensam o
contrário e se tornam líderes de movimentos ateístas. A maioria, contudo, segue seu caminho
promovendo as revoluções científicas não se importando com questionamentos filosóficos.
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3.3. A classificação das ciências de comte

Para Comte, a ciência seria o epítome do conhecimento positivo, o último estágio das três
fases (teológica, metafísica e positiva) pelas quais passa o conhecimento humano. A marcha
da ciência traduzia um processo cumulativo, associado ao progresso e à aplicação do método
científico. Cansado de explicações em termos de causas não observáveis e não verificáveis,
Comte considerava que no estado positivo.

A base sobre a qual o sistema classificatório de Comte foi estabelecido é a distinção entre
abstracto e concreto. Segundo Comte, todas as outras classificações propostas tiveram vícios
fundamentais, por isso não puderam obter assentimento unânime; foram tentativas mal
concebidas, desencadeando nas pessoas atitude desfavorável contra “toda empresa deste
género. (HIRATA. C. 2017).

Para Comte, a teoria geral das classificações, estabelecidas nos trabalhos de filósofos
botânicos ou zoólogos, permite esperar um sucesso real, oferecendo um guia certo, graças ao
verdadeiro princípio fundamental da arte de classificar, princípio este que é consequência
necessária da aplicação directa do método positivo.

Um dos principais defeitos das outras classificações seria o da homogeneidade que sempre
existiu entre as diferentes partes do sistema intelectual, umas positivas sucessivamente, outras
teológicas ou metafísicas, em um estado de coisas tão incoerente que não permitia alguma
classificação racional.

Assim, a classificação deve provir do próprio estudo dos objectos a serem classificados,
“sendo determinada pelas afinidades reais do encadeamento natural apresentado por eles, de
sorte que esta classificação seja ela própria a expressão do fato mais geral, manifestado pela
comparação aprofundada dos objectos que abarca. (HIRATA. C. 2017).

A própria questão das classificações deve ser tratada pela observação, em vez de ser resolvida
por considerações a priori. Na classificação comteana são consideradas apenas as teorias
científicas e de modo algum suas aplicações. As ciências se desenvolvem tanto logicamente
como historicamente do abstracto e simples para o concreto e complexo. As abstractas
buscam descobrir regularidades ou leis nos fenómenos encontrados e as concretas buscam
explicar como as regularidades podem ser aplicadas a casos especiais.

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No esquema comteano, as ciências abstractas são: matemática, astronomia, física, química,
biologia e sociologia, cada uma dependendo dos princípios das precedentes. A Sociologia, por
se referir às relações entre entidades biológicas, se apoia na biologia; a biologia, por se tratar
de objectos físicos, busca apoio na física; a física, tratando de objectos que podem ser
contados, se apoia na matemática. (KAUARK-LEITE, 2014).

Nesse enfoque, a matemática se torna uma ciência positiva para Comte, devido ao seu
posicionamento quanto à importância dos fatos palpáveis, mensuráveis e reprodutíveis para a
formulação das leis; a matemática é essencialmente a ciência da medição, considerando-se
que toda medição envolve uma operação com números, a matemática é a ciência dos
números. (KAUARK-LEITE, 2014).

A matemática envolveria a mensuração indirecta de magnitudes e se propõe a determinar


magnitudes de acordo com as relações existentes entre os números. Assim, considerando-se
que a matemática é a mais geral do ponto de vista de medição, qualquer ciência ou estudo que
trate de fenómenos que podem ser medidos depende da matemática.

O carácter hierárquico de esquema de Comte de classificação é visto no fato de que as leis


matemáticas são indispensáveis. Cada estágio sucessivo nesse desenvolvimento é
determinado pelo precedente, todas as ciências recebem as leis que a tornam possível a partir
das ciências que a precederam. (KAUARK-LEITE, 2014).

Existem dois géneros de ciências naturais, umas abstractas, gerais, tendo por objecto a
descoberta de leis que regem as diversas classes de fenómenos e que consideram todos os
casos possíveis de conceber e outras concretas, particulares, descritivas, designadas algumas
vezes sob o nome de ciências naturais propriamente ditas e que consistem na aplicação dessas
leis.

Para Comte, é evidente que colocar a ciência matemática no topo da filosofia positiva, apenas,
estende-se ainda mais a aplicação do princípio de classificação fundado na dependência
sucessiva das ciências, resultante do grau de abstracção de seus fenómenos respectivos. Não
há investigação que não seja finalmente redutível a números.

Comte divide a matemática em duas grandes ciências: a matemática abstracta ou o cálculo e a


matemática concreta que se compõe da geometria geral da mecânica racional. A parte

5
concreta se funda na parte abstracta, tornando-se, por sua vez, a base de toda a filosofia
natural. (KAUARK-LEITE, 2014).

3.4. Os dois princípios básicos da razão ocidental

A metafísica ocidental está fundada sobre dois princípios básicos: o princípio de identidade e
o princípio de razão. O princípio de identidade, junto com o princípio de não contradição e o
princípio do terceiro excluído, constitui a base da lógica ocidental. No entanto, a vigência
desses três princípios não se limitam à lógica, eles são ao mesmo tempo produto e produtores
de uma determinada ontologia uma teoria do ser, uma maneira de conceber o ser das coisas,
uma maneira perguntar e responder o que são as coisas e de uma determinada epistemologia
uma maneira específica de perceber, definir, classificar e explicar o que são as coisas e como
as coisas funcionam. (LONGUENESSE, 2001).

Princípios lógicos carregam consigo fundamentos e são fundamentados, legitimam e são


legitimados, são já implicações, mas também produzem graves implicações onto-
epistemológicas.

O princípio de identidade, consiste na pressuposição, na postulação e na afirmação de que um


ente algo que é, é idêntico a si mesmo, o que se traduz na fórmula A=A. Isto significa apenas
que um dado objecto, pessoa, conceito, valor ou instituição são idênticos a si próprios, isto é,
em termos muito simples, a mesa é mesa, o computador é o computador, eu sou eu, você é
você, Deus é Deus, o Brasil é o Brasil, a Justiça é a Justiça, a Ciência é a Ciência.

O princípio de identidade se desdobra em dois outros que lhe são complementares e sem os
quais, portanto, resta incompleto. Se temos o princípio de identidade, temos então também o
princípio de não contradição, que consiste na negação da possibilidade de que um ente seja
diferente de si mesmo, o que se traduz pela fórmula A é diferente de não A. Isso também é
muito simples de compreender e significa apenas que um dado objecto, pessoa, conceito,
valor ou instituição, sendo idênticos a si próprios, não são qualquer outra coisa senão aquilo
mesmo que são. (LONGUENESSE, 2001).

Ou seja, mais uma vez em termos muito simples: se uma mesa é um a mesa, ela não é também
um computador, nem é também uma pessoa, nem é também um Deus, nem é também um
valor ou uma instituição. Se eu sou eu, não sou também você, nem sou também um edifício,
nem sou também um livro. Por fim, estes dois princípios básicos levam a um terceiro, que,

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apenas por coincidência, se chama princípio do terceiro excluído. O princípio do terceiro
excluído decorre dos dois anteriores e tem por função garantir que eles sejam absolutamente
válidos. (LONGUENESSE, 2001).

Ele consiste apenas no seguinte: dado que A=A e A é diferente de B, qualquer terceira opção
está automaticamente “excluída”. Logo, A não pode ser igual a B, nem pode ser diferente de
si próprio. Isto, como já se supõe, quer apenas dizer que sendo um dado ente idêntico a si
próprio e diferente de todo “outro”, a afirmação de que um ente seja um outro, ou de que um
ente seja e não seja ele mesmo é por princípio absurda, infundada e ilógica.

Curiosamente, Aristóteles não fornece nenhuma prova positiva do princípio de não


contradição. Ele utiliza uma prova pela negativa, através do chamado princípio anhipotético.
O princípio anhipotético consiste apenas no seguinte: dado um certo postulado, o seu
contrário não pode se produzir sem ao mesmo tempo reafirmá-lo.

Aristóteles afirma ser assim com o princípio de não contradição: mesmo que se queira
contestálo, é necessário que se o faça através de uma construção frasal coerente em que os
termos significam exactamente aquilo que significam, isto é, uma construção frasal em que os
As sejam iguais aos As e diferentes dos Bs (ARISTÓTELES, 2002).

3.5. Implicações do princípio de identidade

O princípio de identidade, nesses termos, parece algo da ordem de uma constatação


completamente óbvia e banal, que apenas o espírito excêntrico e distorcido dos filósofos pode
ter -se preocupado em estabelecer como princípio. No entanto, suas implicações ontológicas
são gravíssimas: tendemos a compreender os entes como algo em si, isto é, idênticos a si
mesmos, fechados sobre si mesmos, possuidores de uma essência única e própria e cercados
por fronteiras rígidas que os diferenciam absolutamente dos outros.

Nesse sentido, temos a forte tendência a considerar a “mesa” como objecto único existente
por si mesmo para além de toda e qualquer relação. Tendemos a imaginar ainda que nem
sequer saibamos formular a coisa nesses termos que um objecto é algo previamente dado em
si e por si mesmo e que as relações que estabelece e as mudanças e transformações pelas quais
passa são apenas acidentais, não afectando o núcleo da sua “essência” própria.

Tendemos também a conceber objectos, instituições, pessoas, valores, como entes muito bem
delimitados por fronteiras rígidas e, portanto, como essencialmente diferentes uns dos outros,
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preservando sempre, não importa o tanto de relações acidentais que estabeleçam, algum nível
de pureza essencial. (LONGUENESSE, 2001).

3.6. A enigmática relação entre a filosofia e a política

Eu vou começar com uma referência a um de meus mestres, Louis Althusser. Para Althusser,
o nascimento do marxismo não é uma questão simples. Ele depende de duas revoluções, de
dois eventos intelectuais maiores. Primeiro, um evento científico, a saber, a criação por Marx
de uma ciência da história, que tem por nome materialismo histórico. 

O segundo evento é em sua natureza filosófico e diz respeito à criação, por Marx e alguns
outros, de uma nova tendência em filosofia, que tem por nome “dialética materialista”. Nós
podemos dizer que uma nova filosofia é chamada para clarificar e ajudar o nascimento de uma
nova ciência. Assim, a filosofia de Platão foi convocada pelo surgimento da matemática, ou a
filosofia de Kant pela física newtoniana. Não há nada particularmente difícil nisso tudo. Mas
nesse contexto se torna possível fazer algumas pequenas observações sobre o futuro da
filosofia. (LONGUENESSE, 2001).

Nós podemos começar considerando o fato de que esse futuro não depende principalmente da
filosofia e da sua história, mas de novos fatos em certos domínios, que não são imediatamente
filosóficos em sua natureza. Em particular, ele depende de fatos que pertencem ao domínio da
ciência: por exemplo, matemáticas para Platão, Descartes ou Leibniz; física para Kant,
Whitehead ou Popper; história para Hegel ou Marx; biologia para Nietzsche, Bergson ou
Deleuze. (MELO, 1992).

Eu estou perfeitamente de acordo com a afirmação que a filosofia depende de certos domínios
não filosóficos, que eu proponho de chamar de condições da filosofia. Eu quero meramente
lembrar que eu não limito as condições da filosofia ao vai e vem da ciência. Eu proponho um
conjunto muito mais vasto de condições, pertencentes a quatro tipos diferentes: ciência, com
certeza, mas também a política, a arte e o amor. (LONGUENESSE, 2001).

Portanto, meu trabalho depende, por exemplo, de um novo conceito de infinito, dos grandes
poemas de Mallarmé, Rimbaud, Pessoa, Mandelstam ou Wallace Stevens, da prosa de Samuel
Beckett, e das novas figuras de amor que emergiram no contexto da psicanálise, como
também da transformação completa de todas as questões relativas à sexualidade e ao gênero.
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Constrangidos pela força invisível do princípio de identidade, costumamos realmente em
geral conceber a mesa como mesa, objecto já em princípio diferente de mim, do computador,
dos livros, das paredes. Mas quando estamos tratando de mesas, livros e computadores, as
consequências podem não ser tão graves. (LONGUENESSE, 2001).

No entanto, as consequências ontológicas do princípio de identidade não param por aí.


Tendemos a conceber pessoas como um eu único, com uma essência determinada, com
atributos e propriedades também determinadas, e as julgamos com base em sua suposta
identidade. Julgamos que, com base nessa identidade uma pessoa deva se comportar de uma
determinada maneira, mantendo uma constância lógica ao longo das situações.

E nossa crença no princípio de identidade vai tão longe, que a cada vez que ele insiste em
falhar e o comportamento humano se mostra escancaradamente ilógico, contraditório e
absurdo, nos surpreendemos com a mesma intensidade e dizemos aquele não era você nem
parecia você estava possuído, ou coisa to tipo. (LONGUENESSE, 2001).

É verdade que essa é também a conclusão de Hegel. Para ele a filosofia é o pássaro da
sabedoria, e o pássaro da sabedoria é a coruja. A filosofia é a disciplina que vem depois do dia
do conhecimento, depois do dia das experiências da vida-real quando a noite cai.
Aparentemente, nosso problema envolvendo o futuro da filosofia está assim resolvido. Nós
podemos imaginar dois casos. (LONGUENESSE, 2001).

Primeiro caso: um novo amanhecer de experiências em questões de ciência, política, arte e


amor está prestes a irromper e então teremos a experiência de uma nova noite para a filosofia.
Segundo caso: nossa civilização está esgotada, e o futuro que somos capazes de imaginar é
um futuro sombrio, um futuro de obscuridade perpétua. O futuro da filosofia vai então residir
em morrer sua lenta morte durante a noite. (MELO, 1992).

3.7. A noção de causa

O princípio de identidade nos diz que as coisas são o que são, no entanto, nada tem a dizer
sobre o porquê das coisas serem como são. Por que, pelo que, através de que, por que razão as
coisas chegam a ser e são Perguntar o porquê é perguntar as causas das coisas. Talvez
ninguém mais, em nenhum outro tempo ou lugar, tenha levado tão longe a obsessão de
investigar as causas das coisas quanto os gregos antigos. (LONGUENESSE, 2001).

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Sua obsessão se faz presente ainda hoje no desenfreado desenvolvimento tecno científico que
a esta altura já alterou por completo a face do planeta. Causa em grego se diz aition, que
significa “dívida” e “comprometimento”. Perguntar pelas causas de um ente, significa,
portanto, perguntar a que se deve sua existência, com o que é que ele está comprometido
(HEIDEGGER, 2012, pp.1316).

3.8. Os vários sentidos da palavra razão

Nos capítulos precedentes, insistimos muito na afirmação de que a Filosofia se realiza como
conhecimento racional da realidade natural e cultural, das coisas e dos seres humanos.
Dissemos que ela confia na razão e que, hoje, ela também desconfia da razão. Mas, até agora,
não dissemos o que é a razão, apesar de ser ela tão antiga quanto a Filosofia. Em nossa vida
quotidiana usamos a palavra razão em muitos sentidos. (LOPARIC, 2000).

Dizemos, por exemplo, “eu estou com a razão”, ou “ele não tem razão”, para significar que
nos sentimos seguros de alguma coisa ou que sabemos com certeza alguma coisa. Também
dizemos que, num momento de fúria ou de desespero, “alguém perde a razão”, como se a
razão fosse alguma coisa que se pode ter ou não ter, possuir e perder, ou recuperar, como na
frase: “Agora ela está lúcida, recuperou a razão”. (LOPARIC, 2000).

Falamos também frases como: “Se você me disser suas razões, sou capaz de fazer o que você
me pede”, querendo dizer com isso que queremos ouvir os motivos que alguém tem para
querer ou fazer alguma coisa. Fazemos perguntas como: Qual a razão disso, querendo saber
qual a causa de alguma coisa e, nesse caso, a razão parece ser alguma propriedade que as
próprias coisas teriam, já que teriam uma causa. (LOPARIC, 2000).

Assim, usamos “razão” para nos referirmos a “motivos” de alguém, e também para nos
referirmos a “causas ” de alguma coisa, de modo que tanto nós quanto as coisas parecemos
dotados de “razão”, mas em sentido diferente. Esses poucos exemplos já nos mostram quantos
sentidos diferentes a palavra razão possui: certeza, lucidez, motivo, causa. E todos esses
sentidos encontram se presentes na Filosofia. (MELO, 1992).

3.9. O princípio de razão suficiente como princípio lógico em Kant

De modo semelhante a Leibniz, Kant apresenta a definição lógica do PRS, juntamente com a
do PNC, na introdução do ML (Jäsche), na parte VII, que trata dos princípios ou critérios
formais para a definição da verdade. Inicialmente, ambos são concebidos como as condições
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necessárias, mas não suficientes da verdade, pois este conceito depende ainda de sua
referência ao conteúdo empírico, o qual não está posto, em princípio, na definição lógica ou
formal da verdade. (LOPARIC, 2000).

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4. Conclusão

Durante a realização deste trabalho chegamos a concluir que na relação entre a filosofia e
ciências, ambas as áreas, tanto a filosofia como a ciência possuem uma importância
fundamental para o desenvolvimento da sociedade, admitir que apenas um desses caminhos
leva à verdade absoluta é erróneo e pode significar o retrocesso do conhecimento, pois muitas
questões científicas possuem raízes de questionamentos filosóficos, bem como muitas
indagações filosóficas partem de pressupostos que a ciência não consegue explicar de modo
racional ou científico.

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5. Bibliografia

HIRATA. C. (2017). Causalidade e princípio de razão suficiente. São Paulo: Editora da


Universidade de São Paulo.

KAUARK-LEITE, P. (2014). Ciência empírica, causalidade e razão suficiente em Kant.


Brasil São Paulo.

LONGUENESSE, B. (2001). Kant’s Deconstruction of the Principle of Sufficient Reason.


São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.

LOPARIC, Z. (2000). A semântica transcendental de Kant. Brasil. São Paulo.

MELO, A. (1992). O princípio da razão suficiente limites e conjectura. II série. Vol. 9.


Recurso electrónico Revista da Faculdade de Letras: Filosofia.

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