Apostila 01

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U N I V E R S I D A D E

UNIGRANRIO
Vá além da sala de aula !

Propriedades Mecânicas
dos Materiais
Núcleo de Educação a Distância U N I V E R S I D A D E
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25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ

Reitor
Arody Cordeiro Herdy

Pró-Reitor de Administração Acadêmica


Carlos de Oliveira Varella

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduação


Emilio Antonio Francischetti
Pró-Reitora Comunitária
Sônia Regina Mendes

Direção geral: Jeferson Pandolfo Desenvolvimento do material: Paulo Bonfim


Revisão: Camila Andrade, Laís Sá e Mariana Baptista Desenvolvimento instrucional: Roberta Saboya
Produção editoração gráfica: Elisa Medeiros

Copyright © 2018, Unigranrio


Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico,
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio.
Sumário
Propriedades Mecânicas dos Materiais
Objetivos ........................................................................................... 04
Introdução ......................................................................................... 05
1. Introdução aos Materiais: Propriedades Mecânicas .......................... 06
1.1 A Curva de Tensão x Deformação ............................................ 07
1.2 Dureza Ductilidade ................................................................ 11
1.3 Tenacidade Resiliência .......................................................... 15
1.4 Fluência e Fadiga ................................................................. 18
Síntese ............................................................................................. 22
Referências Bibliográficas .................................................................... 24
Objetivos
Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de:

▪▪ Identificar as diferenças entre dureza, ductibilidade, tenacidade,


resiliência, fluência e fadiga, bem como as suas especificidades.

4 Mecânica dos Materiais


Introdução
Nesta unidade, veremos que um material é escolhido para uma
aplicação pelas suas propriedades mecânicas. A história do domínio da
conformação dos metais é essencial para entendermos quem somos e como
pensamos atualmente.

Além disso, vamos conhecer as suas propriedades mecânicas, curva


de tensão e deformação, a diferença entre dureza e ductilidade e o conceito
de resiliência.

Mecânicas dos Materiais 5


1. Introdução aos Materiais: Propriedades Mecânicas
Inicialmente, um material é escolhido para uma aplicação pelas suas
propriedades mecânicas. Em especial, podemos aplicar esforços (cargas) em
pequenos pilotos cilíndricos ou em forma de paralelepípedos (corpos de
prova) em máquinas de ensaios, a fim de obter um gráfico que possa decifrar
as principais propriedades mecânicas desse material. Esse gráfico é chamado
de Curva de Tensão x Deformação. Observe a Figura 1:

Figura 1: Esquemas gerais de um ensaio de tração/compressão. Fonte: Infoescola.


Como os metais têm propriedades mais controláveis, em função da sua
composição molecular, vamos utilizá-los como exemplos principais. Os metais,
na Antiguidade, definiam qual cultura permaneceria e qual desapareceria.
As idades históricas do bronze e do ferro foram cruciais para conseguirmos
identificar quais costumes e técnicas foram passados adiante. Em especial,
nas regiões mais frias, onde o fogo era essencial à sobrevivência, e existiam
abundância de metais (ferro, estanho, cobre), foram desenvolvidas técnicas
de manejo e conformação de metais - como exemplo, podemos citar o sudeste
do continente asiático e a Europa. A confecção de armas de bronze (ligas
basicamente de cobre e estanho), e posteriormente, de ferro e aço definiram
as nossas heranças culturais. Por mais civilizada que fosse uma população, ela
sempre era absorvida ou conquistada por grupos que dominavam o manuseio
dos metais. A história do domínio da conformação dos metais é essencial para
entendermos quem somos e como pensamos atualmente.

O metal, na sua forma cristalina, possui propriedades mecânicas


confiáveis, portanto, o entendimento destas propriedades pode ser mapeado
por meio destes materiais.

1.1 A Curva de Tensão x Deformação


Para entendermos essa parte, devemos enunciar os principais elementos
de um Ensaio de Ruptura por Tração. O corpo de prova (CP) geralmente é
um cilindro, em que o comprimento útil possui uma seção reta constante e
de menor área do que o restante do objeto, que é engastado nas duas garras
da máquina de ensaio.

Figura 2: Esquema do comprimento útil de um corpo de prova, cuja área da seção transversal é praticamente constante.
Fonte: Do autor.

A carga, geralmente, é exercida em KN (cada KN equivale a 10³ N),


e um Newton vale, aproximadamente, 102 gf (gramas força). Porém, como

Mecânicas dos Materiais 7


o corpo de prova varia na sua área da seção reta (A0), ele suporta distintas
tensões mecânicas dependendo dessa área. A tensão mecânica é, então,
definida como:
F
σ=
A0

Ela é chamada de Tensão de Engenharia (σ) , e a área da seção reta


é definida bem próxima ao centro do corpo de prova (CP). Nesse caso, o
comprimento útil do CP é aquele em que essa área é praticamente constante
e um pouco menor do que nas regiões em que o CP é engastado pelas garras.
Para os metais, o valor dessa tensão é alto na casa dos MPa ou GPa. Aqui, no
caso, 1 MP a =106 P a e o 1 GP a =109 P a. O pascal (Pa) está definido no SI
como 1 Pa = 1 N / 1 m² .

Apesar de a carga ser em unidade de força (KN), a tensão é dada em


unidade de pressão (MPa) e depende da geometria do corpo de prova (CP),
em geral, da área média da seção transversal do comprimento útil do CP.

Uma vez definida a tensão de engenharia (σ), devemos também


determinar a Deformação de Engenharia (E), que é uma grandeza
adimensional, geralmente representada em termos percentuais do
comprimento inicial (%):
l − l0 ∆l
=∈ =
l0 l0

A variação de comprimento (∆l) está escrita para uma “tração”. Para uma
compressão, podemos adotar o módulo , a fim de evitar que o valor fique negativo.

A máquina de ensaios passa a exercer uma tração, e, à medida que a


carga aumenta, também aumenta a deformação. Para os metais, geralmente, o
gráfico de Tensão x Deformação tem a seguinte forma, na tração:

8 Mecânica dos Materiais


Gráfico 1: Curva de Tensão x Deformação de Corpo de Prova metálico. Fonte: Do autor.

Essa curva é plotada pela máquina e contém informação das principais


propriedades mecânicas do material tracionado. A carga aplicada (KN) é
dividida pela área da seção transversal (A0)e é traduzida em tensão mecânica
σ(MPa). A deformação é percentual E(%)em relação ao comprimento inicial(l0).

É importante frisar que os materiais podem possuir anisotropias


(pequenas diferenças de comportamento do material, dependendo da direção
onde se aplicam os esforços), em relação aos eixos em que são aplicadas as
cargas, ou seja, dependendo de qual linha (longitudinal, transversal, outras)
é aplicada a carga, podem-se obter comportamentos distintos. Logo, é
importante que o ensaio seja uniaxial (direção única), definindo corretamente
o eixo principal, em que o corpo de prova está sendo submetido aos esforços.

A região linear, também chamada de região proporcional ou


região elástica, possui como inclinação o Módulo de Young ou Módulo de
Elasticidade (E). Observe:

σ =∈ E (dentro da região elástica)


Mecânicas dos Materiais 9
De modo geral, o que melhor define a região elástica é o fato de que
o corpo de prova retorna às dimensões originais, caso a carga seja retirada.
Por isso, a primeira parte da curva é conhecida como Lei de Hooke para o
corpo de prova. Em outras palavras, até uma determinada tensão, o corpo de
prova se comporta como uma mola, cujas deformações não são permanentes.

A partir de uma determinada tensão chamada Tensão Limite de


Escoamento, a deformação passa a ser permanente, e o corpo de prova,
mesmo aliviado da carga, não retorna às dimensões originais. A região
após a interseção do limite de escoamento é a de deformação plástica, cujo
material passa a sofrer conformações permanentes. O Módulo de Young (E)
possui grande importância para os processos de moldagem, em que as peças
metálicas (laminação, usinagem, extrusão, trefilação etc.) vão se conformar,
pois é possível estimar as cargas necessárias para superar a dureza do material,
conformando-o permanentemente.

A tensão limite de escoamento é de difícil obtenção. Por convenção,


é obtida da interseção da curva com um deslocamento de 0,2 % (0,002, mas
podem ser adotadas outras referências para materiais mais duros ou dúcteis),
paralela à reta relativa à região elástica. A tensão limite de escoamento possui
grande importância, pois é uma boa referência para as cargas e tensões
necessárias para obter formas a partir do escoamento do metal. Para efeitos
práticos, o limite de escoamento é o valor que mais se aproxima do Limite
Proporcional, que é a fronteira entre os comportamentos elásticos e plásticos.

Gráfico 2: Algumas propriedades e limites obtidos da curva de tensão x deformação. O ensaio é o de tração até a ruptura de
um corpo de prova metálico usual. Fonte: Do autor.
No Gráfico 2, acima, podemos observar alguns pontos importantes:

▪▪ Tensão Limite de Escoamento - Quando a deformação passa a ser


plástica e permanente com o aumento da carga;
▪▪ Limite de Resistência à Tração (LTR) - Um valor máximo de
tensão para produzir deformação. Não é necessário um aumento
de carga; o ensaio deve diminuir a carga para manter a deformação
na mesma escala do aumento de carga até a ruptura ou falha. Esse
ponto é muito importante, pois delimita o quanto o material possui
resistência à tensão imposta;
▪▪ Módulo de Young ou Módulo de Elasticidade - É a tangente do
ângulo de inclinação da reta do regime elástico ou proporcional;
▪▪ Recuperação Elástica - Quando o LTR é passado no regime
plástico, após a ruptura, alguns materiais tendem a recuperar
alguma deformação. Em especial, esse fenômeno é observado em
ligas de aço de baixo carbono, o que implica em algumas ações
para manter as formas desejadas nos processos frios ou quentes.
Essa recuperação também ajuda na determinação do limite de
escoamento, pois se utiliza da Histerese Mecânica do metal sob
deformação, ou seja, uma memória do comportamento elástico,
mesmo quando a deformação já está no regime plástico próximo
à ruptura.

Saiba
Saiba Mais
Mais

Assista a um ensaio de tração feito ao vivo com comentários e plot da


curva de tensão X deformação.

Assista agora

1.2 Dureza x Ductilidade


A dureza, inicialmente, é diretamente ligada aos Módulos de Elasticidade
(Young), que possuem origem molecular e estão vinculados às forças

Mecânicas dos Materiais 11


interatômicas. Logo, geralmente, grandes módulos de Young estão presentes
em materiais com altos Pontos de Fusão (molibdênio, tungstênio, cerâmicas),
sendo mais duro aquele que possui o maior módulo de Young. É importante
saber que o limite de proporcionalidade é a fronteira entre os comportamentos
elásticos e plásticos, ficando muito próximo ao limite de escoamento.

Material Módulo de Young Limite de Dureza Vickers


(MPa)* proporcionalidade (HV)
(MPa)
Diamante 1.000.000 50.000 84.000
Carboneto de Tungstênio 550.000 6.000 21.000
Aço de baixo carbono 196.000 220 450
Cobre 124.000 60 220
Chumbo e ligas 14.000 33 60
Polipropileno 900 27 (**)
* Valores médios e aproximados.
** A dureza Vickers não se aplica a um material tão macio (dúctil).

Tabela 1: Dados de alguns materiais usuais adaptados das referências bibliográficas principais. Fonte: Adaptado de Garcia;
Spim; Santos (2000).

A dureza é uma propriedade mecânica, em que comparamos materiais


por meio do contato. O material mais duro será aquele que risca ou produz
marca permanente no outro.

Pouco utilizado por metais, o teste de Dureza por Risco é mais usado
na mineralogia, em que podemos criar uma gradação de dureza dos minerais,
por meio da lei de ouro. A microdureza KNOOP (HK) é um teste usual
mais preciso e é feito quando se deseja quantificar a dureza em uma área
pequena e na superfície da peça.

Na microdureza HK, aplica-se uma carga inferior a 1 kgf sobre uma


superfície polida com uma ponteira de diamante, que deixa uma marca no

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formato de um losango. A razão entre a carga (gf ) e do comprimento da
maior diagonal (m)da impressão apresenta o seguinte valor:

P
HK = 14, 2.
L2

Figura 3: Esquema de ponta e marca de um ensaio de dureza por penetração, especificamente microdureza KNOOP.
Fonte: Do autor.

Logo, a dureza é medida em ensaios práticos e padronizados pela


indústria. Na Dureza por Rebote, um êmbolo com ponta padronizada
de diamante é solto em queda livre contra uma superfície. Destacam-se,
nesse tipo de teste, as medidas Shore, que são mais utilizadas em materiais
dúcteis (macios).

Os ensaios mais utilizados, entretanto, são os de Dureza por Penetração.


Todos eles são semelhantes ao da microdureza HK anterior e possuem pontas
arredondadas de carboneto de tungstênio ou pontas de diamante com formatos
diversos e padronizados (cone, pirâmide, seção de cubo). Os mais utilizados,
e que possuem relação entre si, são: ROCKWELL(HR), BRINELL(HB) e
VICKERS(HV).

A escolha dos ensaios depende do tipo de material a ser analisado e


das condições de aplicação em campo (na produção) ou em laboratório (de
forma mais controlada).

O ROCKWELL(HR) é um ensaio mais afeito ao laboratório (por


isso, é considerado mais confiável), porém, os valores de HB e HV podem ser
comparados com os do HR. Dada uma carga inicial (3 até 10 kgf ), para assentar

Mecânicas dos Materiais 13


a ponta de diamante ou esfera de Carboneto de Tungstênio (dependendo da
classe de dureza: HRB, HRC, HRM, Rockwell superficial e outros), uma
segunda carga (60 até 150 kgf ) é dada na superfície do material polido. A
máquina de ensaios correlaciona a profundidade de penetração com as cargas
aplicadas (aliviando a carga final e mantendo a inicial) e gera uma leitura direta
na escala da máquina. Por ser mais rápida e confiável, essa máquina pode testar
metais mais duros, porém não se adequa aos testes de campo.

Figura 4: O durômetro de bancada Rockwell. Fonte: Dreamstime.

Saiba
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Mais

Assista ao vídeo que mostra um treinamento simplificado do uso do


Durômetro Rockwell, selecionando a ponteira correta, bem como a
escala adequada ao metal ensaiado.
Assista agora

Podemos definir Ductilidade como a capacidade de conformar o material


na forma de duto (tubo). Quanto mais fácil é a conformação a frio do material,
mais dúctil ele é. Desse modo, materiais dúcteis são materiais macios.

14 Mecânica dos Materiais


A grandeza ductilidade é inversa à grandeza dureza. Repare que, quanto
maior é a dureza de um material, mais frágil ele pode ser. Então, materiais
que possuem alto módulo de elasticidade, ou um alto limite de escoamento,
ou ainda um alto limite de proporcionalidade podem fraturar com facilidade,
se esses limites forem ultrapassados.

Para encerrarmos esse assunto, podemos comparar as curvas de tensão


x deformação de um material duro e frágil (ferro fundido) com um material
dúctil (alumínio).

Gráfico 3: Comparação entre as curvas de Tensão x Deformação de ensaios de ruptura por tração. Fonte: Do autor.

1.3 Tenacidade x Resiliência

A Tenacidade é a energia total necessária para provocar a fratura do


material, sob deformação desde seu comprimento inicial (sem carga) até a sua
ruptura. Numericamente, a tenacidade é a área sob todo o gráfico de tensão x
deformação. Como a deformação é adimensional, a tenacidade é dada em MPa.

Mecânicas dos Materiais 15


Gráfico 4: Tenacidade como área sob a curva de tensão x deformação. Fonte: Do autor.

A tenacidade também pode ser expressa como o Módulo


∈ de Tenacidade r

(UT) , cuja expressão pode ser dada pela integral: =UT ∫ σ d ∈ , em que Er é
a deformação na ruptura. A tenacidade percorre toda a 0deformação, desde a
região elástica (proporcional) até a região plástica.

Um fenômeno muito importante, potencializado por materiais tenazes,


é o Encruamento.

O Encruamento é a capacidade de um material aumentar sua dureza,


por meio de deformações a frio na sua região plástica. Geralmente, as
categorias de ligas de aço de baixo carbono são muito tenazes, o que facilita
seu endurecimento via trefilação a frio, aumentando a sua dureza e otimizando
a tenacidade de cabos de aço trançados.

Uma característica desejável em equipamentos de segurança é que os


materiais que os compõem sejam tenazes, para que possam absorver grande
quantidade de energia sob deformação até a ruptura.

É importante perceber que tanto os materiais duros (titânio) quanto


os dúcteis (chumbo), em demasia, não são tenazes. É fácil perceber que

16 Mecânica dos Materiais


materiais excessivamente duros são frágeis, ou seja, uma vez deformados
podem fraturar, por isso, a dificuldade de entender essa propriedade mecânica
tão importante. Um bom exemplo seria comparar a dureza e fragilidade de
uma tampa de bueiro (ferro fundido) e uma faca (aço baixo carbono) dura,
porém, tenaz. Os processos quentes e frios de forja, encruamento, têmpera
e sobre o aço são fortemente influenciados pela necessidade de se obter
equipamentos que sejam duros em algumas partes (fio da lâmina), contudo,
tenazes de forma geral.

Esperamos que o material seja Resiliente quando, uma vez aliviada


uma carga aplicada dentro do regime elástico, ele retorne às dimensões
originais e devolva toda a energia recebida na deformação.

Desse modo, a Resiliência pode ser expressa segundo o Módulo


de Resiliência UR, que relata toda a energia que foi absorvida no regime
proporcional elástico, e que pode ser devolvida uma vez aliviada a carga.

A área sob a curva de tensão e deformação no setor elástico é o valor


do módulo de resiliência também em MPa.

Gráfico 5: Resiliência como área sob a curva de tensão x deformação nos limites do regime proporcional ou elástico. Fonte: Do autor.

Mecânicas dos Materiais 17


Em termos quantitativos, o módulo resiliência (UR) pode ser escrito como:
∈p
∈r
∈2p σ p2
U
= R ∫0 σ .=
d ∈ ∫ E. ∈ .=
0
d ∈ E=
2 2E
(MPa)

Nesse caso, Ep é a deformação máxima no regime elástico, e ‘E’ é o módulo


de Young.

Veja que o limite proporcional (σ p) , na prática, substitui o limite de


escoamento, pois é difícil determinarmos precisamente onde o regime passa
quando vai da região elástica para a região plástica.

1.4 Fluência e Fadiga


Encerramos esta unidade com dois ensaios que possuem grande
natureza didática na compreensão das propriedades mecânicas dos materiais,
agora, sob simulação de uso prático.

Os materiais são, muitas vezes, submetidos a variações de temperatura


ou trabalham em altas temperaturas, sob cargas que produzem tensões
mecânicas constantes. O Ensaio de Fluência tenta recriar essas condições e
avaliar a deformação do material ao longo do tempo até sua falha ou ruptura.

Figura 5: Esquema geral de um ensaio de fluência. Fonte: Do autor.

18 Mecânica dos Materiais


Uma carga uniaxial produz um esforço constante sobre o corpo
de prova, que é selecionado segundo o tempo de vida útil que se espera
do material em uso prático. Com extensômetros, plota-se uma curva de
deformação (E) em termos do tempo (t). Os metais, de forma geral, têm uma
estrutura que os amolece sobre alta temperatura, logo, com o tempo, o corpo
de prova vai escoar.

Gráfico 6: Curva esperada de um ensaio de fluência para corpo de prova metálico. Fonte: Do autor.

As três regiões esperadas em um ensaio de fluência estão próximas


dos 3 estágios de um ensaio de fluência. Essas regiões podem ser determinadas,
observando a taxa de fluência d ∈:
σ=
dt

▪▪ Estágio Primário ou Fluência Primária: É caracterizado por um


decréscimo contínuo da taxa de fluência. Nesse caso, o encruamento
ainda faz com que o material se torne mais duro; logo, existe uma
resistência à fluência que tende a diminuir;
▪▪ Estágio Secundário ou Fluência Secundária: A taxa de fluência
praticamente se torna constante, com o encruamento competindo

Mecânicas dos Materiais 19


com a recuperação, esses dois fenômenos que serão estudados
em breve na estrutura de grão dos metais. Essa taxa do estágio
secundário é chamada de taxa mínima de fluência.
▪▪ Estágio Terciário ou Fluência Terciária: Ocorre uma aceleração da
fluência. Quando o ensaio tem elevada carga e temperatura, os grãos
são recozidos, o que torna o material mais dúctil, aproximando-se
da ruptura do corpo de prova.

Numericamente, para uma avaliação do ensaio de fluência, é


estabelecida uma relação empírica para que se possa extrapolar o tempo de
ruptura, a partir de parâmetros definidos em laboratório. Esse método é
utilizado por causa do grande tempo necessário para a ruptura na casa das
milhares de horas.

T .(C + log tr ) =
parâmetro constante

Na expressão acima, T é a temperatura do ensaio (em Kelvin - K);


C é a constante de Larson-Miller (no caso, na ordem de 20); tr é o tempo
de ruptura em horas. O parâmetro de Larson-Miller (parâmetro constante)
é estimado segundo observações experimentais de uma curva tensão x
parâmetro (log x log), essa curva é empiricamente obtida e disponibilizada
por uma classe de materiais.

O Ensaio de Fadiga parte do pressuposto das chamadas cargas cíclicas,


estas são cargas dinâmicas que, ao longo do uso do material, podem produzir
trincas, falhas e até rupturas. A fadiga é muito comum em pontos de apoio de
motores e máquinas de ciclo constante.

Podemos citar como exemplo as asas dos aviões, que atuam em


condições críticas de tensão, vibração e temperatura. É necessário que esse
material seja submetido a tensões e vibrações semelhantes ao uso prático, por
meio de réplicas em escala das peças, a fim de mapear sinais de fadiga em
pontos específicos. Embora as simulações computacionais possam produzir
certa previsibilidade, ensaios de fadiga podem até induzir mudanças em partes
dos projetos e escolhas de materiais.

20 Mecânica dos Materiais


Importante
As principais propriedades mecânicas dos materiais servem de introdução a um campo de
estudo multidisciplinar, que envolve uma série de conhecimentos técnicos, combinada aos
ensaios necessários à classificação destes materiais. Isso nos mostra o caráter principal desse
ramo do conhecimento: o uso prático dos materiais na nossa vida cotidiana, por meio de
motores, máquinas e utensílios de forma geral.

Mecânicas dos Materiais 21


Síntese
Vimos, nesta unidade de aprendizagem, que o ensaio de tração
produz uma curva de tensão x deformação. A análise da curva, relativa a
um corpo de prova de material específico, consegue identificar uma série
de comportamentos mecânicos, o que leva a definições importantes, como:
Dureza, Ductilidade, Tenacidade e Resiliência. Além disso, identificamos
as regiões elástica e plástica da deformação até a ruptura, bem como os
limites de escoamento, proporcionais e de resistência à tração. Os ensaios de
Fluência e Fadiga, com suas respectivas naturezas dinâmicas favorecem um
entendimento rudimentar dos processos de encruamento e recuperação, além
de mostrar a importância da temperatura e das vibrações no comportamento
mecânico dos materiais em uso contínuo.

22 Mecânica dos Materiais


Referências Bibliográficas
ANHANGUERA - UNIDADE 2/CAMPO GRANDE - MS. Durômetro
Pantec Panambra HR-150 Rockwell. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=VuXCxpJBdsg. Acesso em: 28 jan. 2018.

CHARLES ZAPPA. Ensaio de Tração - Unisanta. Disponível em: https://


www.youtube.com/watch?v=ODNjhm0S07s. Acesso em: 28 jan. 2018.

GARCIA, Amauri; SPIM, Jaime Alvares; SANTOS, Carlos Alexandre.


Ensaios dos materiais. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

SHACKELFORD, James F. Ciência dos materiais. 6 ed. São Paulo: Pearson,


2008. Disponível em: http://unigranrio.bv3.digitalpages.com.br/users/
publications/9788576051602/pages/_1. Acesso em: 30 jan. 2018.

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