CT Damec 2019 1 03

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

CAMPUS CURITIBA

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE MECÂNICA

CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

RAMON BRUNOW GOMES

ANÁLISE MACROSCÓPICA E MICROSCÓPICA DE


TENSÕES DE CONTATO EM ENGRENAGENS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

(TCC2)

CURITIBA

2019
RAMON BRUNOW GOMES

ANÁLISE MACROSCÓPICA E MICROSCÓPICA DE


TENSÕES DE CONTATO EM ENGRENAGENS

Monografia do Projeto de Pesquisa apresentada à


disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso –
Tcc2 do curso de Engenharia Mecânica da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
como requisito parcial para a aprovação na
disciplina.

Orientador: Prof. Dr. Eng. Carlos Henrique da


Silva, UTFPR – DAMEC
Coorientador: Prof. Dr. Eng. Tiago Cosseau,
UTFPR - DAMEC

CURITIBA

2019
TERMO DE APROVAÇÃO

Por meio deste termo, aprovamos a monografia do Projeto de Pesquisa "ANÁLISE


MACROSCÓPICA E MICROSCÓPICA DE TENSÕES DE CONTATO EM
ENGRENAGENS", realizado pelo aluno RAMON BRUNOW GOMES, como requisito
para aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso – Tcc2, do curso de
Engenharia Mecânica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Prof. Dr. Eng. Carlos Henrique da Silva


DAMEC, UTFPR
Orientador

Prof. Dr. Eng. Tiago Cosseau


DAMEC, UTFPR
Coorientador

Prof. Me. Eng. Eduardo Gregorio Olienick Filho


DAMEC, UTFPR
Avaliador

Prof. Dr. Eng. Julio Cesar Klein das Neves


DAMEC, UTFPR
Avaliador

Curitiba, 28 de Junho de 2019.


AGRADECIMENTOS

Gostaria de prestar agradecimento ao orientador deste trabalho, Prof. Dr. Eng Carlos
Henrique da Silva, juntamente com o coorientador Prof. Dr. Eng Tiago Cosseau, pelo
apoio prestado e também por se disponibilizarem com o intuito de passar
conhecimento a mim no decorrer de minha formação, sendo por meio de matérias
cursadas, como por meio desta monografia. Também agradeço ao companheiro de
laboratório Eng. Fernando Souza Roker da Silva por compartilhar bons momentos no
decorrer dos dias no laboratório e assim contribuir grandemente com conhecimento
adquirido de forma conjunta. Por último e não menos importante, agradeço
grandemente aos meus pais, Jonaiber Lima Gomes e Mariusa Brunow Gomes, por
me darem a oportunidade de me afastar de moradia para poder assim cursar essa
maravilhosa jornada de conhecimento durante os anos de formação na UTFPR,
mesmo que tenha sido com grande dificuldade.
RESUMO

Gomes, Ramon. Análise macroscópica e microscópica de tensões de contato em


engrenagens. 84f. Trabalho de conclusão de curso – Tcc2, Bacharelado em
Engenharia Mecânica, Departamento Acadêmico de Mecânica, Universidade
Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2019.

Os ensaios feitos no tribômetro FZG possuem diversos fins, dentre eles está a
caracterização dos mecanismos de desgaste que uma engrenagem pode sofrer. O
presente trabalho visa então buscar correlações entre os tipos de mecanismos de
desgastes presentes no flanco de dentes de engrenagens ensaiadas e os perfis de
rugosidade apresentados tanto antes quanto após os ensaios através da comparação
entre tensões macroscópicas e microscópicas no contato. As engrenagens utilizadas
são fabricadas em aço AISI 4320, temperado e revenido. A caracterização foi feita por
meio do estudo das tensões de Hertz que leva em conta a geometria macroscópica e
além disso, para que a geometria microscópica seja considerada, as asperezas da
superfície foram medidas em regiões características. Este estudo apresenta, para o
contato macroscópico, tensões máximas por volta de 1,5MPa, podendo ser maiores.
No caso da consideração microscópica, que leva em conta rugosidades Ra, foram
considerados os estados de fabricação e pós ensaio. Encontraram-se picos de tensão
na faixa de 19x109MPa na região adendo do pinhão quando avaliada a engrenagem
com o flanco dos dentes em estado de fabricação e quando considerada a medida
após os ensaios, as tensões máximas tiveram uma mudança de localização do
adendo para o diâmetro primitivo, atingindo valores na ordem de 21x109MPa enquanto
que a região que anteriormente apresentou maior pico de tensão, ou seja, o adendo
mostrou uma queda dos valores de tensão para cerca de 50% do valor inicial.

Palavras-chave:

Engrenagem, Rugosidade, Ensaio FZG, Tensões de contato, Mecanismos de


desgaste
ABSTRACT

Gomes, Ramon. Macroscopic and microscopic analysis of gears contact stress. 84p.
Undergraduate Thesis, Mechanical Engineering, Academic Mechanical Engineering
Department, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2019.

FZG tests have a lot of purposes, among them is the characterization of the
mechanisms of wear that a gear can suffer. This thesis aims to look for correlations
between the types of wear mechanisms at gear teeth that were tested and the
roughness profile presented before and after the tests by means of comparation
between macroscopic and microscopic stresses on the contact. The gears used are
made with AISI 4320 steel, quenched and tempered. The characterization was done
by means of the study of the Hertz’ stress that consider the macroscopic geometry and
so that the geometry ware considered, the superficial roughness was measured at
characteristic zones. That study presents for the macroscopic contact, maximum
stress about 1,5MPa or more. In the case of the microscopic consideration, that
consider Ra roughness, were considered the manufacturing state and after test. Were
found stress peaks about 19x109MPa at the pinion addendum when it was evaluated
the gear with a manufacturing state and when was considered the after test state, the
maximum stress change the location to primitive diameter, reaching in order of
21x109MPa while the addendum showed a drop in stress values to about 50% of the
initial value.

Keywords:

Gears, FZG test, Roughness, Contact stress, Wear mechanism.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Geração da involuta a partir de uma circunferência .................................. 21

Figura 2 - Geometria de contato dos dentes da engrenagem involuta ...................... 22

Figura 3 - Elementos básicos de um conjunto em engrenamento............................. 23

Figura 4 - Comparação entre os tipos de correção em engrenagens ....................... 25

Figura 5 - Demonstração de contato em cilindros ..................................................... 26

Figura 6 - Distribuição elíptica de pressões no contato cilindro x cilindro ................. 27

Figura 7 - Tensões de contato normalizadas x distância da superfície de contato ... 29

Figura 8 - Ponto de contato P para a determinação das velocidades ....................... 30

Figura 9 - Comparação das distribuições de pressão Hertziana e elasto-hidrodinâmica


no contato entre superfícies ............................................................................... 32

Figura 10 - Demonstração da área de contato real entre superfícies ........................ 35

Figura 11 - Perfil de rugosidade medido após o ensaio ............................................ 38

Figura 12 - Distribuição de pressões da superfície real em comparação com a


superfície lisa ..................................................................................................... 38

Figura 13 - Dente de engrenagem apresentando falha por pitting ............................ 40

Figura 14 - Dente de engrenagem apresentando scuffing ........................................ 42

Figura 15 - Dente de engrenagem apresentando Scuffing, Pitting e Abrasão .......... 43

Figura 16 - Imagem de um par de engrenagem utilizado .......................................... 44

Figura 17 - Microestrutura do material no centro da amostra .................................... 45

Figura 18 - Microestrutura do material próximo a superfície ..................................... 46

Figura 19 - Região no centro da amostra e próximo a superfície .............................. 46

Figura 20 - Laboratório onde se encontra o tribômetro e os demais equipamentos


necessários à realização e controle dos parâmetros de ensaio ......................... 47

Figura 21 - Esquema de elementos da máquina FZG ............................................... 49


Figura 22 - Posições para medição do perfil de rugosidades .................................... 50

Figura 23 - Bancada de medição de rugosidade ....................................................... 51

Figura 24 - Layout para medição no sentido axial ..................................................... 52

Figura 25 - Layout para medição no sentido radial ................................................... 53

Figura 26 - Mapeamento das funções do EngCalc ................................................... 54

Figura 27 - Posição sobre a face dos dentes onde foram feitos os cálculos ............. 55

Figura 28 - Localização dos pontos para o cálculo de tensões ................................. 58

Figura 29 - (A) Método de seleção de áreas utilizado por KODA, (B) Método adotado
no trabalho ......................................................................................................... 61

Figura 30 - Seleção da Área de Interesse ................................................................. 62

Figura 31 - Seleção manual ...................................................................................... 63

Figura 32 - Opções de seleção de zona .................................................................... 63

Figura 33 - Resultado da zona selecionada .............................................................. 64

Figura 34 - Exemplo de tipos de desgaste em uma quantificação ............................ 64

Figura 35 - Relatório final .......................................................................................... 65

Figura 36 - Dente 01 após o ensaio .......................................................................... 66

Figura 37 - Dente 07 após o ensaio .......................................................................... 66

Figura 38 - Dente 10 após o ensaio .......................................................................... 66

Figura 39 - Quantificação após 1 hora de ensaio ...................................................... 67

Figura 40 - Quantificação após 4 horas de ensaio .................................................... 68

Figura 41 - Tensão x posição diametral .................................................................... 70

Figura 42 - Velocidades no contato ........................................................................... 71

Figura 43 - (A) Coeficiente de atrito por distância diametral, (B) Parâmetro de filme por
posição diametral ............................................................................................... 72

Figura 44 - Distribuição de pressão contato liso........................................................ 73

Figura 45 - Contato e deformação............................................................................. 74


Figura 46 - (A) Tensão cisalhante segundo Tresca para consideração sem atrito, (B)
Tensão cisalhante considerando o atrito médio ................................................. 74

Figura 47 - Simplificação dos dados ......................................................................... 75

Figura 48 - (A) Tensão de Hertz; (B) Deformação..................................................... 76

Figura 49 - (A) Tensões cisalhantes (B) Tensões cisalhantes com zoom na parte
selecionada ........................................................................................................ 77

Figura 50 - Simplificação dos dados ......................................................................... 78

Figura 51 - Tensão de Hertz...................................................................................... 79


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tipos de engrenagens.............................................................................. 20

Tabela 2 - Parâmetros para modificação do perfil de engrenagens .......................... 24

Tabela 3 - Características das engrenagens ............................................................. 45

Tabela 4 - Relação entre torques necessários para os estágios de carga e torque


obtidos por meio das massas disponíveis .......................................................... 48

Tabela 5 - Propriedades da matéria prima das engrenagens ................................... 55

Tabela 6 - Parâmetros macroscópicos calculados .................................................... 56

Tabela 7 - Parâmetros de entrada do EngCalc ......................................................... 57

Tabela 8 - Dados para pontos de interesse no pinhão. ............................................. 59

Tabela 9 - Dados para pontos de interesse na coroa ................................................ 59

Tabela 10- Quantificações......................................................................................... 69

Tabela 11 – Dados (referência no pinhão) ................................................................ 80


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

EHD - Elasto-Hidrodinâmico
ECDR - Engrenagem Cilíndrica de Dentes Retos
FZG - Forschungsstelle für Zahnräder und Getriebebau - Instituto
Técnico para o Estudo de Engrenagens e Mecanismos de
Acionamento

LASC - Laboratório de Superfícies e Contato


LISTA DE SÍMBOLOS

𝛼𝑤 Ângulo de pressão para engrenamento


A Área da distribuição de pressões no contato entre cilindros
Ar Área real de contato
𝑊𝐿 Carga específica
 Coeficiente de atrito
𝑥𝑐 Coeficiente de modificação do adendo da coroa
𝑥𝑝 Coeficiente de modificação do adendo do pinhão
𝑣1 Coeficiente de Poisson para o cilindro 1
𝑣2 Coeficiente de Poisson para o cilindro 2
𝛼 Coeficiente de pressão-viscosidade
𝑥 Coeficiente geral de modificação do adendo
Kb Coeficiente para cálculo da área de distribuição de pressões
L Comprimento da área de contato entre cilindros
l Comprimento do cilindro
𝐷𝑏 Diâmetro de base
d1 Diâmetro do cilindro 1
d2 Diâmetro do cilindro 2
𝐷𝑘𝑣1 Diâmetro externo
𝐷𝑝𝑣 Diâmetro primitivo modificado
𝑎𝑣 Distância entre centros corrigida
hc Espessura do filme lubrificante na região central do contato
h0 Espessura mínima do filme lubrificante
𝑊 Força normal
𝑊𝑡 Força tangencial
Syc Limite de escoamento em compressão
b Metade da largura da área de contato entre cilindros
E1 Módulo de elasticidade para o cilindro 1
E2 Módulo de elasticidade para o cilindro 2
E’ Módulo de Young reduzido
𝑚𝑣 Módulo modificado
K Parâmetro de elipse
 Parâmetro de filme
pmax Pressão máxima
RA Raio de curvatura do elemento A
RB Raio de curvatura do elemento B
R’ Raio de curvatura equivalente
𝑟 Raio de curvatura medido na região do diâmetro primitivo
𝐶𝑅 Razão de contato
Sp Resistência à penetração por compressão
𝜎𝐴 Rugosidade superficial RMS do corpo A
𝜎𝐵 Rugosidade superficial RMS do corpo B
RaEq Rugosidade equivalente
𝜎𝑚á𝑥 Tensão axial máxima
𝜎𝑥 Tensão axial na direção x
𝜎𝑦 Tensão axial na direção y
𝜎𝑧 Tensão axial na direção z
tmáx Tensão cisalhante máxima
UA Velocidade relativa da superfície A
UB Velocidade relativa da superfície B
U Velocidade relativa entre superfícies
VR Velocidade de rolamento
 Viscosidade do lubrificante
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 16
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA 16
1.2 OBJETIVOS 17
Objetivo geral 17
Objetivos Específicos 17
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 19
2.1 PERFIL DE DENTE DE ENGRENAGENS 19
2.2 TENSÕES DE CONTATO PARA ECDR 25
2.3 VELOCIDADES NO CONTATO 29
2.4 LUBRIFICAÇÃO EM ENGRENAGENS 31
2.5 RUGOSIDADE 34
2.6 COEFICIENTE DE ATRITO PARA ENGRENAGENS 36
2.7 TENSÕES DE CONTATO CONSIDERANDO A RUGOSIDADE 37
2.8 MECANISMOS DE DESGASTE 39
Pitting 39
Scuffing 40
Abrasão / deformação plástica 42
3 MATERIAIS E MÉTODOS 44
3.1 CARACTERÍSTICAS DAS ENGRENAGENS 44
3.2 ENSAIOS DE DESGASTE FZG 47
3.3 MEDIÇÃO DE RUGOSIDADE 50
3.4 ANÁLISE MACROSCÓPICA 53
3.5 CÁLCULO DE TENSÕES DE CONTATO 58
3.6 MÉTODO DE QUANTIFICAÇÃO DA SUPERFÍCIE DESGASTADA 60
Funcionamento do Software 61
Definição da área de interesse 62
Seleção de zonas de desgaste 62
Avaliação computacional das cores 63
Definição do cluster para arquivamento da zona selecionada 64
Geração do relatório em formado de texto 65
Fotografias 66
Evolução do desgaste 67
3.7 CÁLCULO DE TENSÕES MICROSCÓPICAS 68
4 RESULTADOS 69
4.1 ANÁLISE MACROSCÓPICA 69
Quantificação do desgaste 69
Resultados do EngCalc 70
4.2 ANÁLISE MICROSCÓPICA 72
Considerações para pinhão e coroa lisos 72
Pinhão em estado de fabricação (rugoso) e coroa lisa 75
Pinhão ensaiado (rugoso) e coroa lisa 78
Correlação entre resultados obtidos 79
5 CONCLUSÕES 82
REFERÊNCIAS 83
16

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

Ensaios de desgaste de engrenagens que são realizados em equipamento


tipo FZG (Forschungsstelle für Zahnräder und Getriebebau) são amplamente
utilizados para determinação da vida de engrenagens, além do desempenho de óleos
lubrificantes. Porém estes ensaios apresentam muitos parâmetros que podem ser
variados, dentre eles está a lubrificação (tipo de lubrificante e temperatura do óleo), o
carregamento aplicado, a geometria da engrenagem, o material da engrenagem, o
tratamento térmico, o acabamento superficial, entre outros. Essa grande quantidade
de possibilidades torna o trabalho de avaliação dos resultados muito amplo, fazendo
com que seja necessário manter todos os fatores constantes, exceto o que deseja-se
analisar no momento para que sua influência possa ser medida de forma comparativa
e conclusiva, pois no caso de ocorrer variação de mais de um parâmetro
simultaneamente, não se pode afirmar qual foi o mais influente para a obtenção do
resultado final.

O presente trabalho busca então correlacionar os perfis de rugosidade


encontrados no flanco de contato tanto antes quanto após os ensaios com o tipo de
desgaste sofrido através de análise macroscópica e microscópica de tensões de
contato. Este trabalho conta com o apoio do convênio formado entre FCA (Fiat
Chrysler Automobiles), USP (Universidade de São Paulo) e UTFPR (Universidade
Tecnológica Federal do Paraná), perante o projeto que tem o intuito de estudar a
Diminuição das perdas devido ao atrito em transmissões automotivas.

Hochmannn e Siebert (2012), comentam que em ensaio de engrenagens, os


fatores que mais influenciam no desempenho deste elemento são: material,
rugosidade, geometria e lubrificante. Logo, a análise do desgaste levando em
consideração a rugosidade obtida após o processo de fabricação pode ser
considerada um fator determinante no desempenho da engrenagem, pois esta faz
com que tensões pontuais sejam alteradas e ainda influencia na forma de lubrificação
a medida que o parâmetro de filme. Além de alterar o critério de vida por falha das
engrenagens através da introdução do fator Qv (NORTON, 2013).
17

De acordo com Seabra (2003), as rugosidades se fazem um fator importante


na análise real das solicitações e tensões encontradas em um elemento de contato,
uma vez que superfícies lisas são abstrações físicas e matemáticas e tal abstração
traz consigo erros de aproximação.

Considerando que o equipamento disponível para avaliar a rugosidade de


dentes de engrenagens do LASC (Laboratório de Superfícies e Contato) utiliza
medições 2D (apalpador de diamante percorrendo uma linha) procurou-se então,
fazer medições de rugosidade dos dentes a serem ensaiados, tanto na direção axial
quanto na direção radial de alguns dentes escolhidos de forma aleatória, para que
com estes dados seja feito o cálculo das tensões de Hertz levando em conta os picos
de rugosidade no início do ensaio, além de relacionar os parâmetros de acabamento
com as áreas que apresentam os defeitos característicos de engrenagens testadas
(pitting, scuffing, polimento e abrasão), além da perda de massa causada pelo
desgaste.

1.2 OBJETIVOS

Objetivo geral

Acompanhar o acabamento superficial de dentes de engrenagens mediante a


medição da rugosidade antes e após os ensaios FZG, com o intuito de correlacionar
mecanismos de desgaste que ocorrem por conta do ensaio e as características de
rugosidade geradas nos flancos dos dentes, tomando este parâmetro como uma
resposta do sistema aos carregamentos aplicados por meio do cálculo das tensões
microscópicas.

Objetivos Específicos

Visando a obtenção de correlações entre os mecanismos de desgaste e o


acabamento superficial, o presente trabalho apresenta os seguintes objetivos:

• Avaliar os mecanismos de desgaste que ocorrem em superfícies de


dentes de engrenagens após ensaios em equipamento tipo FZG;
• Realizar medições de rugosidade, de dentes de engrenagens antes e
após ensaios de desgaste, buscando compreender como a rugosidade
se comporta ao longo do ensaio completo;
18

• Usar método de análise numérica que considera superfícies elásticas


e o princípio do trabalho virtual complementar para calcular as tensões
de contato dos dentes das engrenagens ensaiadas, considerando a
rugosidade das mesmas;
• Buscar correlacionar o estado de tensões em diversas regiões dos
dentes das engrenagens, com o desgaste sofrido nestas mesmas
regiões.
19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Levando em conta o objetivo que se pretende alcançar, o estudo das


engrenagens se torna importante, visto que se trata do objeto principal de avaliação.
Para que a análise dos mecanismos de desgaste seja feita de forma satisfatória, deve-
se observar quais fatores levam ao fenômeno em questão. Logo este trabalho procura
apresentar um estudo da geometria da engrenagem, juntamente com os fenômenos
de desgaste mais comuns que se observam nestes elementos e também o estudo das
tensões que resultam do contato entre os dentes no momento do ensaio FZG.

2.1 PERFIL DE DENTE DE ENGRENAGENS

As engrenagens são elementos utilizados tanto para transmitir velocidade


angular quanto torque. Por isso estes componentes são vistos em uma enorme
variedade de aplicações. Se tratando de engrenagens, podem ser listados diversos
tipos como helicoidais, cônicas e sem-fim (NORTON, 2013). A Tabela 1 mostra um
resumo dos tipos de engrenagens juntamente com os limites nominais de algumas
das suas principais características de funcionamento.

Os antigos moinhos movidos a água utilizavam em sua construção os


primeiros modelos de engrenagens, porém não havia um estudo da geometria que o
dente deveria ter fazendo com que a transmissão de velocidade não fosse suave. Isso
ocorria, pois, a geometria utilizada violava a lei fundamental de engrenamento, que
afirma que a razão de velocidade angular das engrenagens em um par de
engrenagens deve manter-se constante durante o engrenamento. Para que a lei
fundamental do engrenamento seja atendida a geometria dos contornos dos dentes
deve ser conjugada no momento do contato. Uma das curvas capaz de gerar um perfil
conjugado para a engrenagem é a curva involuta de um círculo, a qual pode ser
exemplificada como sendo equivalente a uma curva que surge quando se desenrola
uma corda esticada a partir de um cilindro (NORTON, 2013), como se pode ver na
Figura 1.
20

Tabela 1 - Tipos de engrenagens

Fonte: (ALMACINHA, 2002)


21

Figura 1 - Geração da involuta a partir de uma circunferência

Fonte: (NORTON, 2013)

A partir da Figura 1 nota-se que a linha desenrolada é sempre tangente ao


cilindro de base, o centro de curvatura instantâneo da involuta é o ponto de tangência,
assim como o raio de curvatura é dado como sendo a distância instantânea entre o
círculo de base e a curva.

O contato entre duas involutas provindas de circunferências diferentes


representa o engrenamento entre dentes de engrenagens como pode ser visto na
Figura 2.
22

Figura 2 - Geometria de contato dos dentes da engrenagem involuta

Fonte: (NORTON, 2013)

Essa geometria faz com que haja o mínimo de deslizamento no contato das
engrenagens, potencializando o rolamento que é puro no diâmetro primitivo, o que faz
com que o atrito seja menor e a transmissão de velocidades seja dada de forma
contínua e suave.

A Figura 3 mostra os elementos básicos de um conjunto em engrenamento


segundo Shigley et al (2008).
23

Figura 3 - Elementos básicos de um conjunto em engrenamento

Fonte: (SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS, 2008)

De acordo com Koda (2009), existem modificações que podem ser feitas com
o intuito de corrigir a distância entre os eixos de um par de engrenagens em contato
e também para evitar a interferência entre os dentes, porém ao passo que estas
modificações geram melhorias, também fazem com que as engrenagens deixem de
ser ideais aumentando assim o nível de ruído e diminuindo a eficiência. Logo, por se
tratar de um ensaio com o princípio de recirculação de potência/torque (ensaio tipo
FZG) visando o objetivo de averiguar os danos causados, as engrenagens sofreram
modificações no adendo com o intuito de acelerar os fenômenos de desgaste.
24

Tabela 2 apresenta então a formulação das equações para os parâmetros de


cálculo das modificações das engrenagens cilíndricas de dentes retos.

Tabela 2 - Parâmetros para modificação do perfil de engrenagens

Denominação Símbolo Fórmula

Coeficiente geral
de modificação do 𝑥 ± 𝑥 .𝑚
adendo
Coeficiente de 𝑥𝑝 ou 𝑥𝑐
modificação cada p (pinhão), 𝑥 = 𝑥𝑝 + 𝑥𝑐
engrenagem c (coroa)
Distância de
𝑎𝑣 𝑎𝑣 = 𝑎0 + (𝑥𝑝 + 𝑥𝑐 ). 𝑚
centros corrigida
Ângulo de pressão 𝑎0
para engrenamento 𝛼𝑤 cos(𝛼𝑤 ) = . cos(𝛼)
𝑎𝑣
V
2𝑎𝑣
Módulo Modificado 𝑚𝑣 𝑚𝑣 =
𝑍𝑝 + 𝑍𝑐
Diâmetro
𝐷𝑏 𝐷𝑏 = 𝐷𝑝. cos(𝛼𝑤 )
de base
Diâmetro
𝐷𝑘𝑣1 𝐷𝑘𝑣1 = 𝑚(𝑍1 + 2 + 2. 𝑋1 )
externo
Diâmetro primitivo
𝐷𝑝𝑣 𝐷𝑝𝑣 = 𝑚𝑣 . 𝑍
modificado
2 2
√𝑟 2 𝑘𝑣1 − 𝑟𝑏𝑝 + √𝑟 2 𝑘𝑣2 − 𝑟𝑏𝑔 − 𝑎. 𝑠𝑒𝑛(𝛼𝑤 )
Razão de contato 𝐶𝑅
𝐶𝑅 =
𝑝𝑏
Raio de curvatura
𝐷𝑝𝑣.𝑝𝑖𝑛ℎã𝑜 . 𝑠𝑒𝑛(𝛼𝑤 )
do pinhão 𝑟𝑝𝑖𝑛ℎã𝑜 𝑟𝑝𝑖𝑛ℎã𝑜 =
(região do 𝑑𝑝 ) 2
Raio de curvatura
𝐷𝑝𝑣.𝑐𝑜𝑟𝑜𝑎 . 𝑠𝑒𝑛(𝛼𝑤 )
da coroa 𝑟𝑐𝑜𝑟𝑜𝑎 𝑟𝑐𝑜𝑟𝑜𝑎 =
(região do 𝑑𝑝 ) 2
2𝑇
Força Tangencial 𝑊𝑡 𝑊𝑡 = , 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑇 = 𝑡𝑜𝑟𝑞𝑢𝑒
𝐷𝑝𝑣
𝑊𝑡
Força Normal 𝑊 𝑊=
cos(𝛼𝑤 )
Relação de 𝐷2 𝑛2
𝑢 𝑢= =
transmissão 𝐷1 𝑛1
Fonte: Adaptado de (MAITRA, 2001)
25

A modificação do perfil de um dente de engrenagem na região do adendo (x)


representa um percentual (x. m) de alterações na geometria dos dentes em relação
ao módulo da engrenagem. Em adendos alongados, o coeficiente x é positivo e para
adendos rebaixados x é negativo. Além de que, a correção x representa alterações
nas dimensões do par engrenado, ou seja, x = xp + xc, onde xp é alteração no perfil dos
dentes do pinhão e xc da coroa (KODA, 2009).

A Figura 4 mostra a comparação entre engrenagens com mesmo módulo e


mesmo número de dentes, porém com perfis de modificação diferentes, sendo estes:
sem modificações, corrigido positivamente e corrigido negativamente.

Figura 4 - Comparação entre os tipos de correção em engrenagens


a) perfil normal (x=0), b) perfil corrigido positivamente (x>0) e c) perfil corrigido
negativamente (x<0)

Fonte: (RADZEVICH, 2012)

2.2 TENSÕES DE CONTATO PARA ECDR

Quando as dimensões de um sólido são consideravelmente maiores do que a


zona em contato verifica-se que as tensões na região de contato são quase que
independentes da macrogeometria deste elemento quando consideramos regiões
longe dos pontos de contato (SEABRA, 2003) e, é isto que acontece no contato entre
dentes de engrenagem. Logo as regiões que não estão em contato, mesmo tendo
uma geometria relativamente complexa não irão influenciar nas tensões de contato
visto que sua área pode ser considerada suficientemente maior que o contato.

Para as ECDR (engrenagens cilíndricas de dentes retos) é possível


considerar que o contato entre os dentes com perfil evolvental apresentam
comportamento semelhante ao contato de cilindros devido ao fato de que o contato
26

gerado entre duas curvas involutas é não conforme podendo ser aproximado como
sendo o contato entre dois cilindros (ver Figura 5). Isso faz com que a região de
contato seja dada por um retângulo e permite que a teoria de Hertz possa ser utilizada.

Figura 5 - Demonstração de contato em cilindros

Fonte: (SEABRA, 2003)

Levando em conta esta região formada entre cilindros, nota-se que a área
inicial de contato, no caso da ausência de deformações seria uma linha, porém, com
a aplicação de uma força sobre o cilindro em contato, esta área é modificada e passa
a ser um retângulo (de largura 2b e comprimento L) e a tensão antes pontual se torna
uma distribuição de tensões de natureza tridimensional (SHIGLEY, MISCHKE e
BUDYNAS, 2008).

A Figura 6 mostra a representação da distribuição de pressões em um contato


entre dois cilindros. Essa distribuição tem um formato elíptico e ao centro é encontrada
a pressão máxima do contato.
27

Figura 6 - Distribuição elíptica de pressões no contato cilindro x cilindro

Fonte: (NORTON, 2013)

Tendo os cilindros em contato um comprimento 𝑙 e diâmetros 𝑑1 e 𝑑2 (2𝑅 = 𝑑)


a largura da distribuição elíptica pode ser calculada a partir da equação (1) e
consequentemente a área, bastando fazer 𝐴 = 𝑏𝑙.

𝑏 = 𝐾𝑏 √𝑊 (1)

onde:

2 (1 − 𝑣22 )⁄𝐸2 + (1 − 𝑣22 )/𝐸2


𝐾𝑏 = √
𝜋𝑙 (1⁄𝑑1 ) + (1⁄𝑑1 )

𝑊 = Força aplicada;

𝑣1 , 𝑣2 = Coeficientes de Poisson para os cilindros 1 e 2;

𝐸1 , 𝐸2 = Módulo de elasticidade para os cilindros 1 e 2;


28

𝑑1 , 𝑑2 = Diâmetros dos cilindros 1 e 2;

𝑙 = Comprimento dos cilindros 1 e 2, sendo assumido 𝑙1 = 𝑙2 .

Como a falha do elemento é dada, em geral, no local em que há uma maior


solicitação máxima, o interesse do estudo está voltado para a pressão máxima. Essa
pressão máxima entre os cilindros age em uma linha longitudinal no centro da
distribuição, ou seja, ao centro da área de contato retangular e pode ser calculada a
partir da equação (2).

2𝑊
𝑝𝑚𝑎𝑥 =
𝜋𝑏𝑙 (2)

A partir disso, o estado de tensões, para dentro do dente, ao longo do eixo z


é calculado de acordo com as equações (3), (4) e (5). Uma das tensões principais
ocorre ao longo do eixo de carregamento (z), logo, 𝜎𝑚á𝑥 = 𝜎𝑧 = 𝜎3 e carregamentos
compressivos fazem com que 𝜎𝑥 , 𝜎𝑦 e 𝜎𝑧 sejam tensões compressivas.

(3)

(4)

(5)

Quando as equações acima são plotadas como função da pressão máxima


até uma distância de 3b a partir da superfície de contato, obtém-se a Figura 7.
29

Figura 7 - Tensões de contato normalizadas x distância da superfície de contato

Fonte: (SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS, 2008)

Nota-se na Figura 7 que para 0 ≤ z ≤ 0,436b, 𝜎1 = 𝜎𝑥 e máx. = (𝜎1 − 𝜎3)/2 =


(𝜎𝑥 − 𝜎𝑧 )/2. Para z ≥ 0,436b, 𝜎1 = 𝜎3 e máx. = (𝜎𝑦 − 𝜎𝑧 )/2. O maior valor de máx. é 0,3
Pmáx. e pode ser observado em z/b = 0,786.

2.3 VELOCIDADES NO CONTATO

Um parâmetro importante a ser avaliado no contato de engrenagens é sua


velocidade de deslizamento, pois este fator tem uma grande importância no desgaste
e no atrito encontrados durante o contato entre engrenagens (KODA, 2009). Essa
velocidade pode ser definida a partir de uma análise geométrica do contato.

A Figura 8 apresenta o ponto de contato P em uma análise geométrica para


determinar a sua velocidade.
30

Figura 8 - Ponto de contato P para a determinação das velocidades

Fonte: (KODA, 2009)

Assim, a partir dos comprimentos dos segmentos de retas mostrados na


Figura 8 é possível definir que a velocidade de deslizamento para qualquer ponto P
em um contato de engrenagens pode ser calculado pela equação (6).

𝑉𝑠𝑖 = 1 1𝑖 − 2 2𝑖 (6)

Onde 1 e 2 são velocidades angulares com suas unidades em rad/s e 1𝑖

e 2𝑖 são os raios de curvatura dos pontos em questão.

Dentro do âmbito das velocidades, também pode ser mencionada a


velocidade de rolamento, que é fator fundamental para o cálculo do coeficiente de
atrito (KODA, 2009). Essa velocidade pode ser calculada a partir das velocidades
angulares do ponto analisado a partir das equações (7), (8) e (9).

(7)
31

(8)

(9)

2.4 LUBRIFICAÇÃO EM ENGRENAGENS

Como foi visto, engrenagens apresentam um tipo de contato chamado contato


não-conforme (contato entre um corpo côncavo e um convexo ou plano) e esse tipo
de contato faz com que haja uma intensa concentração de carregamento sobre uma
área muito pequena, fazendo com que pressões de 1 a 4 GPa sejam encontradas no
lubrificante. Uma vez que a viscosidade do óleo é grandemente dependente da
pressão (piezoviscosidade), há um aumento da viscosidade do óleo lubrificante.
Quando essas condições se acham agindo juntamente com um filme hidrodinâmico
um regime de lubrificação denominado Elasto-Hidrodinâmico é tido como resultado.

Este regime é comumente abreviado na literatura como EHD e significa


efetivamente que as superfícies em contato se deformam elasticamente quando estão
sob a ação de uma pressão hidrodinâmica que foi gerada no filme lubrificante.

Em um contato estático, a distribuição de pressões tem um formato


hemisférico ou de elipse de acordo com a teoria de Hertz. Porém, este perfil muda
quando em um regime de lubrificação EHD. A maior mudança no perfil de pressões
se dá na entrada e na saída das regiões de contato pois o efeito combinado do
rolamento e do filme lubrificante resulta em uma área de contato ligeiramente
aumentada, consequentemente a pressão hidrodinâmica na entrada assume um valor
menor do que a do contato de Hertz. No centro do contato, as superfícies se tornam
quase paralelas e planas fazendo com que a espessura do filme seja descrita por essa
espessura na região central “hc”. Como as pressões aumentam com o contato, o
lubrificante experimenta um aumento de viscosidade na entrada do contato, e é
seguido por uma queda de viscosidade para a viscosidade à pressão ambiente, na
32

saída. Assim, para que o fluxo seja mantido e haja uma compensação da perda de
viscosidade, na saída do contato se forma uma constrição como pode ser visto na
Figura 9 (STACHOWIAK e BATCHELOR, 2001).

Figura 9 - Comparação das distribuições de pressão Hertziana e elasto-hidrodinâmica no


contato entre superfícies

Fonte: (STACHOWIAK e BATCHELOR, 2001)

Na Figura 9 hc representa a espessura central do filme lubrificante e h0 é a


espessura mínima do filme causada por conta da constrição que surge da diferença
de pressões no contato.

A análise da lubrificação elasto-hidrodinâmica foi feita por Hamrock e Dowson


(1977) e forneceu uma das informações mais importantes sobre EHD, a formulação
para o cálculo da espessura mínima do filme no contato elasto- hidrodinâmico. A
equação (10) mostra esse cálculo.

0,68 −0,073
ℎ0 𝑈 𝑤
= 3,63 (𝐸′ 𝑅0′ ) (𝛼𝐸′)0,49 ( ′2
) (1 − 𝑒 −0,068𝑘 ) (10)
𝑅′ 𝐸 ′𝑅

onde:

hc é a espessura central do filme [m];

h0 é a espessura mínima do filme [m];


33

U é velocidade relativa entre as superfícies [m/s], com U= (UA+UB)/2 e os


subscritos A e B indicam as velocidades dos corpos A e B em contato;

0 é a viscosidade em temperatura e pressão atmosférica do lubrificante [Pa];

E’ é o módulo de Young reduzido [Pa] (equação (11);

R’ é o raio de curvatura equivalente [m];

𝛼 é o coeficiente de pressão- viscosidade [m²/N];

W é a carga de contato [N];

K é o parâmetro de elipse definido como K = a/b onde ‘a’ é o semieixo de contato


transversal da elipse e ‘b’ é o semieixo na direção do movimento. Logo, para contato
linear k=∞.

1 1 1 − 𝐴2 1 − 2𝐵
= [ + ] (11)
𝐸′ 2 𝐸𝐴 𝐸𝐵

Na equação (11), EA e EB representam os módulos de elasticidade dos corpos


A e B em contato e  e  são os coeficientes de Poisson dos corpos A e B.

A equação (12) demonstra o cálculo do raio de curvatura reduzido.

𝑅𝐴 + 𝑅𝐵
𝑅′ =
𝑅𝐴 𝑅𝐵 (12)

Onde RA e RB são os raios de curvatura de A e B que podem ser calculados


segundo a Tabela 2.

Na avaliação da espessura de filme lubrificante, geralmente os corpos são


considerados planos, entretanto, na prática, as superfícies nunca são planas pois
estas possuem asperezas com diversas características, tamanhos e distribuições.
Assim surge a questão sobre o quanto a rugosidade da superfície afeta no mecanismo
de geração do filme elasto-hidrodinâmico.

Se as asperezas da superfície são do mesmo tamanho da espessura do filme


lubrificante, pode-se perguntar se há uma separação entre as superfícies. Para
34

responder a esta questão, um parâmetro, pode ser usado para avaliar a variação da
espessura de filme como uma função da rugosidade composta de duas superfícies no
local desejado. Este parâmetro é definido como:

(13)

onde:

h0 é a espessura mínima de filme [m];

𝜎𝐴 é a rugosidade superficial RMS do corpo “A” [m];

𝜎𝐵 é a rugosidade superficial RMS do corpo “B” [m];

 é o parâmetro que caracteriza a relação entre a espessura mínima do filme e


a rugosidade superficial composta.

Verificou-se então que os valores de  medidos se correlacionam de forma


estreita com os limites de EHD e com o aparecimento de danos nas superfícies de
contato (STACHOWIAK e BATCHELOR, 2001).

2.5 RUGOSIDADE

A maior parte dos elementos e sistemas submetidos a desgaste é fabricada


por meio de usinagem, retificação, forja ou fundição. Nestes casos, a superfície
apresenta um grau de rugosidade característico do processo de fabricação e
acabamento (NORTON, 2013).

Uma vez que o termo rugosidade significa o conjunto de irregularidades


constituído de saliências e reentrâncias em uma superfície, observa-se que este termo
retrata uma característica que qualquer elemento irá apresentar em sua constituição
topográfica. Consequentemente, considerando o desgaste, a performance das
engrenagens é fortemente influenciada pela topografia das superfícies em contato, ou
seja, pela espessura específica de filme (KRANTZ, 2015).

Para que superfícies mantenham contato é necessário que uma força seja
aplicada de forma a pressionar uma contra a outra. Foi visto que a área geométrica
de contato é facilmente calculada, mas a área real de contato é grandemente afetada
35

pelas asperezas da superfície, tornando o processo de cálculo mais difícil (NORTON,


2013). A Figura 10 demonstra a área real de contato entre duas superfícies.

Figura 10 - Demonstração da área de contato real entre superfícies

Fonte: (NORTON, 2013)

Como se pode notar através da Figura 10, o contato não se resume


simplesmente a área macroscópica, visto que toda essa área não representa o contato
verdadeiro, mas sim apenas os picos das asperezas. Como apenas estes picos estão
em contato, a área real é muito pequena o que gera tensões elevadas que podem
ultrapassar facilmente o limite de escoamento do material. Conforme a força que une
as peças é aumentada, essas asperezas escoam se alargando, até o ponto que a
área aumenta o suficiente para reduzir as tensões a um nível que o material possa
suportar. A área real de contato pode ser grosseiramente estimada por meio da
equação (14) levando em conta a resistência à penetração por compressão que, em
geral é por volta de 3 vezes o limite de escoamento em compressão do material
(NORTON, 2013).

𝑭 𝑭 (14)
𝑨𝒓 ≅ ≅
𝑺𝒑 𝟑𝑺𝒚𝒄

onde:

𝐴𝑟 é a área real de contato;

𝐹 é a força de junção que está sendo aplicada;

𝑆𝑝 é a resistência à penetração por compressão;

𝑆𝑦𝑐 é o limite de escoamento em compressão.


36

Segundo Krantz (2015), para que a vida em fadiga de engrenagens possa ser
aumentada, a espessura do filme deve aumentar ou a rugosidade composta
(apresentada no item 2.3) deve diminuir ou ainda, se possível, as duas alterações
devem ser feitas ao mesmo tempo. Tal resultado foi constatado por meio de um estudo
feito por HOYASHITA et al. (apud Krantz, 2015), que comparou os resultados de vida
em fadiga de rolos que passaram pelo processo de shot peening e posteriormente por
polimento com elementos que passaram apenas pelo shot peening. O processo de
polimento gera uma superfície de menor rugosidade e como resultado final foi
encontrado que a durabilidade da superfície dos rolos que foram polidos foi
significantemente melhorada se comparada com os rolos que não foram polidos. Eles
encontraram que a tensão máxima suportada para que fosse possível 10 7 ciclos sem
que houvesse pitting no elemento foi de 2,45 GPa para os componentes que foram
polidos e 2,15 GPa para os que não foram polidos. O que representou um aumento
de aproximadamente 12% na carga suportada somente por conta de uma melhor
rugosidade.

Logo, o problema de relacionar o atrito à topografia da superfície, na maioria


dos casos se reduz a determinação da área real de contato e estudo do mecanismo
de microcontato. A relação da força de atrito com o carregamento normal e a área de
contato é um problema clássico em tribologia (STOLARSKI, 1990).

2.6 COEFICIENTE DE ATRITO PARA ENGRENAGENS

Conforme visto nos capítulos anteriores, a geometria da engrenagem visa


obter o menor deslizamento possível, porém ainda está presente no engrenamento
uma parcela de deslizamento. Esse contato entre superfícies gera então o atrito.
Existem diversos modelos propostos para se definir o coeficiente de atrito, porém
neste trabalho, como se deseja analisar tal fator localmente, a modelagem utilizada é
mostrada na equação (15) e consiste no trabalho feito por Hoehn et al (2003).

(15)

Onde W L é a carga específica em N/mm calculada pela equação


37

(16)

m é a viscosidade dinâmica do lubrificante e VR é a velocidade de rolamento


definida na Equação (9).

RaEq é a rugosidade média equivalente que é a média da de Ra1 e Ra2.

Req é o raio de curvatura equivalente calculado na equação (12) e neste


trabalho denominado R’.

2.7 TENSÕES DE CONTATO CONSIDERANDO A RUGOSIDADE

Para o cálculo das tensões de Hertz mencionado no item 2.2 admitiu-se que
as engrenagens são sólidos com superfícies contínuas em um contato não conforme,
que seus raios de curvatura são conhecidos e que as superfícies são perfeitamente
lisas. Estas abstrações da teoria permitem que as dimensões da área de contato e a
distribuição de pressão sobre os sólidos em contato sejam calculadas.

Contudo, superfícies reais em contato não são perfeitamente lisas, fazendo


necessárias a medição e caracterização da rugosidade e ondulação superficial para
que os resultados dos cálculos coincidam de uma melhor forma com a realidade.
Deste modo, para que a influência da rugosidade seja considerada, é necessário que
uma reformulação teórica do problema de contato seja feita. Essa nova formulação
faz com que uma solução analítica não seja mais possível, sendo necessário recorrer
a soluções numéricas.

Para que a rugosidade seja levada em conta nos cálculos, são considerados
valores do comprimento de onda e da amplitude da ondulação, além de outros fatores
correspondentes a rugosidade que são utilizados para se definir parâmetros
adimensionais característicos da ondulação da superfície, da geometria do contato e
da carga aplicada.

Assim, para que seja exemplificada a influência da rugosidade sobre o


comportamento de contato de Hertz, um contato entre um cilindro liso e uma superfície
plana rugosa é apresentado. A rugosidade da superfície foi medida e teve os perfis
filtrados numericamente em condições de fabricação e condições pós ensaio. A
Figura 11 apresenta o perfil de rugosidade medido e filtrado após o ensaio.
38

Figura 11 - Perfil de rugosidade medido após o ensaio

Fonte: (SEABRA, 2003)

Este perfil foi filtrado para que as ondulações fossem levadas em conta.

Considerando o perfil de rugosidade em contato com um cilindro liso, a


Figura 12 mostra a distribuição de pressões gerada comparando as áreas de contato
reais com as tensões de Hertz.

Figura 12 - Distribuição de pressões da superfície real em comparação com a superfície lisa

Fonte: (SEABRA, 2003)


39

Analisando a Figura 12, nota-se que a distribuição de pressão real apresenta


vários valores máximos que ultrapassam a pressão máxima de Hertz. Isso ocorre,
pois, a superfície de contato real é reduzida aos picos de ondulação, não sendo toda
a área proposta por Hertz (SEABRA, 2003).

2.8 MECANISMOS DE DESGASTE

As peças ou sistemas podem falhar segundo três maneiras: obsolescência,


quebra ou desgaste acentuado. A obsolescência é um tipo de falha arbitrário, pois o
que pode ser obsoleto em um sistema, se rearranjado, pode se tornar útil em outro. A
falha por quebra, na maioria dos casos ocorre de forma repentina e irreversível. Já a
falha por desgaste é um processo gradual e em alguns casos é reparável. Caso um
sistema não falhe nem por obsolescência nem por quebra, inevitavelmente falhará por
desgaste, dado o devido tempo. Assim, nota-se que não se pode fazer um projeto que
evite todos os tipos de falha, somente pode-se adiá-los (NORTON, 2013).

Desgaste é um termo amplo que abrange diversos tipos de falhas que alteram
a superfície de uma peça. Para este trabalho, espera-se encontrar três tipos básicos
de falha por desgaste de dentes de engrenagens: pitting, scuffing e abrasão. Estes
mecanismos são os mais comuns quando se trata de fadiga em elementos de contato
de rolamento, deslizamento ou combinação de ambos.

O estudo destes mecanismos se faz importante, pois durante muitos anos,


pesquisas vêm sendo feitas para desenvolver técnicas para o aumento de carga
acompanhada de diminuição do tamanho das engrenagens (PYTKO e SRODA (1975).

Pitting

De acordo com JOHNSON (1989) a fadiga de contato rolante ou o pitting é o


modo de falha principal quando se trata de superfícies em rolamento e é responsável
pela vida do componente mediante um carregamento prescrito. Os detalhes do
processo variam de acordo com as condições de operação e com o material, porém
em todos os casos este fenômeno é caracterizado por iniciação e propagação de
trincas subsuperficiais, até que esta trinca chega à superfície fazendo com que haja
um destacamento formando uma pequena “cavidade” denominada pit – do inglês, na
peça dando origem ao nome do mecanismo de desgaste: pitting. O surgimento destas
40

trincas se dá a partir de inclusões não metálicas, defeitos microestruturais ou também


pode ser originado na superfície por conta da aspereza e também está associado com
uma deformação plástica cíclica localizada.

Porém, dentes de engrenagem, sobre a ação de contato de deslizamento se


comportam de maneira um pouco diferente. As falhas nestes elementos se iniciam
através de deformação plástica de asperezas ou outras irregularidades superficiais as
quais a altura exceda a espessura do filme lubrificante. Elas se propagam no sólido
por meio de um ângulo agudo (entre 15° e 30°) até que chegam à superfície. Além
disso, as trincas tendem a possuir forma de V, apontando para a direção do
movimento da superfície (JOHNSON, 1989). Mesmo para um contato de rolamento
puro o fenômeno de pitting pode surgir, uma vez que o óleo é um fluido incompressível
e pode transferir os esforços do contato de uma superfície para a outra.

A Figura 13 mostra um exemplo de dente de engrenagem que apresentou o


mecanismo de pitting após o ensaio de desgaste em equipamento.

Figura 13 - Dente de engrenagem apresentando falha por pitting

Fonte: (o autor)

Como se pode ver na figura acima, a área demarcada com o retângulo


vermelho apresenta cavidades na superfície do dente. Estas cavidades caracterizam
o mecanismo de pitting.

Scuffing

O mecanismo de scuffing é causado por uma falha no filme lubrificante entre


superfícies que estão em um contato de escorregamento acompanhado de rolamento.
Este mecanismo é um modo de falha característico de cames e de engrenagens, se
41

manifestando por aumentos repentinos de atrito que causam danos imediatos às


superfícies. Para que o scuffing ocorra é necessário um regime misto de lubrificação
onde o carregamento é suportado em parte pelas asperezas da superfície. Como a
formação do fenômeno ocorre em parte por conta de aumento de atrito, a temperatura
se torna um fator chave. As condições críticas do scuffing podem ser realocadas para
velocidades e carregamentos mais altos através do uso de aditivos de extrema
pressão (e.p.) ao lubrificante usado (JOHNSON, 1989).

Quando superfícies estão em contato e são pressionadas por conta de uma


carga exercida, algumas das asperezas tenderão a aderir umas às outras devido às
forças de atração dos átomos superficiais dos materiais causando uma espécie de
soldagem. Conforme um escorregamento é aplicado entre as superfícies, essas
soldas se quebram. Essa quebra pode se dar tanto no plano original em que houve a
solda, quanto o pico de aspereza de uma peça pode se romper e ser transferido para
a outra peça, causando danos. Além disso, partículas dos materiais podem se soltar
e permanecer livres em meio ao contato, causando riscos na peça, mais conhecidos
como scuffing (NORTON, 2013).

Em engrenagens, o risco de scuffing também surge de erros potenciais no


design e montagem, sobre carregamentos inesperados, assim como diferenças de
velocidade de rotação muito grande entre engrenagens, pois tanto velocidades muito
altas quanto muito baixas podem causar scuffing (TOMASZEWSKI e DREWNIAK,
2007 apud MICHALCZEWSKI, KALBARCZYK, et al., 2013).

Para que ocorra a iniciação do fenômeno de scuffing, um “carregamento de


iniciação” deve estar presente, e este estágio é característico do óleo lubrificante
usado. Nesta etapa, o filme de lubrificante se rompe e o número de asperezas em
contato aumenta drasticamente fazendo com que o desgaste mude de micro para
macro- escala e assim o scuffing aparece.

Vale lembrar que, em publicações, os termos “atrito misto” e “regime de


lubrificação misto” são usados de forma equivalente e correspondem ao mesmo
fenômeno. Quando o fenômeno em questão aparece, percebe-se que a rugosidade
da superfície se torna muito maior que aquela gerada pelo processo de fabricação,
sendo assim o scuffing um dos mecanismos de desgaste mais perigosos para o
equipamento (MICHALCZEWSKI, KALBARCZYK, et al., 2013).
42

Um exemplo de engrenagem que apresentou o mecanismo de scuffing pode


ser visto na Figura 14.

Figura 14 - Dente de engrenagem apresentando scuffing

Fonte: (o autor)

Abrasão / deformação plástica

Quando se trata de abrasão, podem ser considerados dois tipos: a “abrasão


a dois corpos” ou a “abrasão a três corpos”. Onde o primeiro caso se trata de um
material mais duro e rugoso deslizando sobre um material mais mole e o segundo
consiste em partículas duras sendo introduzidas entre superfícies deslizantes
(NORTON, 2013). Este mecanismo é caracterizado por remoção constante de
material em forma de partículas relativamente pequenas. Geralmente, não se trata de
um modo de falha crítico para superfícies de rolamento pois as taxas de remoção de
material são desprezíveis quando há rolamento puro. Nos dentes de engrenagens o
que ocorre é a combinação do deslizamento com o rolamento. No rolamento uma
proteção da superfície é gerada por meio de um filme elastohidrodinâmico formado
pelo lubrificante, fazendo com que apenas com carregamentos muito altos e
velocidades muito baixas a abrasão seja considerada um problema sério (JOHNSON,
1989).
43

A abrasão é um mecanismo onde há a remoção de partículas de forma


constante. Na Figura 15 pode-se notar a presença deste fenômeno em toda a face do
dente, exceto nas áreas onde há os mecanismos de pitting e scuffing, mostrados
anteriormente.

Figura 15 - Dente de engrenagem apresentando Scuffing, Pitting e Abrasão

Fonte: (o autor)
44

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Esta seção apresenta os procedimentos que foram usados neste trabalho por
meio da apresentação dos materiais utilizados, seguido dos tipos de ensaios feitos e
em seguida o método de análise de resultados que visam constatar a relevância do
parâmetro avaliado.

3.1 CARACTERÍSTICAS DAS ENGRENAGENS

As engrenagens utilizadas são de aço AISI 4320, fabricadas por meio do


processo de fresamento, tendo um acabamento superficial garantido pelo método de
shaving. Elas também foram cementadas, temperadas e revenidas apresentando uma
dureza de 60 – 62 HRC conforme informado pelo fornecedor.

Essas condições são utilizadas por simularem aquelas utilizadas em


transmissões de automóveis, porém as dimensões são fatores de diferenciação, uma
vez que estas engrenagens tem suas dimensões limitadas pelo espaço disponível na
máquina FZG.

A Figura 16 apresenta um exemplo dos pares de engrenagem utilizados para


as avaliações deste trabalho.

Figura 16 - Imagem de um par de engrenagem utilizado

Fonte: (o autor)

As características do conjunto em engrenamento estão listadas na Tabela 3.


45

Tabela 3 - Características das engrenagens

Pinhão Coroa

Modificação (x) 0,378 -0,539

Número de dentes (z) 13 28

Módulo (m) 4,5

Largura do dente (L) 16 mm

Largura do dente em contato (l) 14,5 mm

Diâmetro primitivo (Dp) 58,5 mm 126 mm

Ângulo de pressão padrão (α) 20º

Ângulo de pressão modificado(α) 18,7º

A microestrutura apresentada pelo material, na região central do dente


segundo uma seção transversal, pode ser vista na Figura 17 e a microestrutura na
região próximo a superfície é vista na Figura 18.

Figura 17 - Microestrutura do material no centro da amostra

Fonte: (o autor)
46

Figura 18 - Microestrutura do material próximo a superfície

Fonte: (o autor)

Ao se comparar a Figura 17 com a Figura 18, é possível notar que na região


próximo a superfície do dente é encontrada uma microestrutura mais refinada. Essa
característica é consequência do tratamento térmico sofrido pela engrenagem.

A nomenclatura de “região no centro da amostra” e “região próximo a


superfície” é mostrada na Figura 19, onde a cor verde representa a região próximo a
superfície e todo o restante pode ser considerado como região central.

Figura 19 - Região no centro da amostra e próximo a superfície

Fonte: (o autor)
47

3.2 ENSAIOS DE DESGASTE FZG

O ensaio de desgaste utilizado neste trabalho é um tipo de ensaio


desenvolvido pelo Centro de pesquisa para construção de Engrenagens e
Mecanismos de acionamento do instituto para elementos de máquinas da
Universidade Tecnológica de Munique (Technische Universität München - Lehrstuhl
für Maschinenelemente - Forschungsstelle für Zahnräder und Getriebebau), que ficou
mundialmente conhecido como FZG. Ele é constituído de um sistema que faz com
que um torque aplicado fique “aprisionado” entre os elementos, gerando assim
tensões altas e possibilitando a simulação para a obtenção de mecanismos de
desgastes característicos de engrenagens.

A Figura 20 apresenta as instalações do tribômetro FZG do LASC -UTFPR.

Figura 20 - Laboratório onde se encontra o tribômetro e os demais equipamentos necessários


à realização e controle dos parâmetros de ensaio

Fonte: (o autor)
48

O equipamento de ensaio foi instalado em uma sala com proteção acústica


para minimizar o impacto dos ruídos causados pelo ensaio nos demais ambientes do
laboratório. Os equipamentos utilizados consistem nos seguintes itens:

1. Bancada de testes (FZG);


2. Sistema de arrefecimento;
3. Sistema elétrico;
4. Painel de comando;
5. Sistema de recirculação e filtragem do óleo lubrificante;
6. Sistema de aquisição de dados.

Para o trabalho em questão, o ensaio visa desgastar a engrenagem de forma


acentuada para que os estados de tensão possam ser mensurados. A rotação do
pinhão é de 1450 rpm considerando 3 estágios de carga com duração de 1 hora para
os dois primeiros e 3 horas para o último. A temperatura de operação padrão do óleo
lubrificante é de 90°C e as engrenagens ficam submersas neste óleo. O sistema de
arrefecimento visa manter a temperatura constante e o sistema de filtragem de óleo
retira partículas provindas do desgaste. Após o ensaio foram feitas inspeções nos
dentes da engrenagem por meio de quantificação dos mecanismos de desgaste
através de um programa específico criado no LASC UTFPR e também foi feita
medição de rugosidade para a engrenagem em questão em seu estado de fabricação
e também após a finalização dos estágios de ensaio com o intuito de comparar estes
dois momentos.

Os estágios de carga e os torques gerados estão representados na Tabela 4.

Tabela 4 - Relação entre torques necessários para os estágios de carga e torque obtidos por
meio das massas disponíveis
Estágio de Torque
Massa requerida Massa obtida Torque obtido
carga requerido

Tipo [N.m] [kg] [kg] [N.m]

K9 302,0 22,86 22,89 302,42

K10 372,6 30,04 30,00 372,21


49

A partir da Tabela 4 nota-se que os torques descritos pela norma foram


aplicados, mas não com completa exatidão visto que este é obtido com o auxílio de
massas e uma alavanca e as massas disponíveis não permitem que a força aplicada
na alavanca seja exatamente a solicitada para que o torque atingido seja exato. Porém
uma boa proximidade do torque exigido é alcançada e como a magnitude do torque
aplicado entre os estágios de carga varia grandemente, esta pequena variação entre
o torque requerido e o obtido não se faz relevante.

Para um melhor entendimento do mecanismo segundo o qual a máquina FZG


opera a Figura 21 mostra um desenho esquemático dos elementos da máquina em
questão.

Figura 21 - Esquema de elementos da máquina FZG

Fonte: (HOEHN, OSTER, et al., 2008)


Onde:

1. Pinhão de teste;
2. Coroa de teste;
3. Caixa de engrenagens escravas;
4. Embreagem de carga;
5. Pino de trava (ver observação);
50

6. Alavanca de carregamento e massas para aplicação de torque;


7. Sensor de temperatura.

Observação: Na configuração da máquina FZG desenvolvida no LASC –


UTFPR, o pino de trava foi substituído pelo uso de uma chave específica para a
máquina e esta é usada somente no momento da aplicação do torque, cumprindo a
função do pino.

3.3 MEDIÇÃO DE RUGOSIDADE

Visto que a rugosidade é um parâmetro importante de ser avaliado no que diz


respeito ao desempenho de superfícies de contato. Este texto visa comparar o
desempenho de superfícies fabricadas por um mesmo processo e tendo o desgaste
acompanhado por meio da medição de rugosidade e da quantificação da área
percentual de cada mecanismo de desgaste presente, uma vez que o desgaste da
engrenagem pode ser controlado por meio de uma lubrificação e acabamento
superficial adequado (JOHNSON, 1989). Para tanto, foram utilizadas engrenagens,
todas fabricadas pelo mesmo processo e o perfil de rugosidades foi medido em 6
posições diferentes como pode ser visto na Figura 22.

Figura 22 - Posições para medição do perfil de rugosidades

(RADZEVICH, 2012)

As seis posições nas quais foi medida a rugosidade são divididas em duas
direções, sendo estas as direções axial e radial, onde o arranjo axial é composto por
uma posição localizada próximo ao dedendo, outra na altura do diâmetro primitivo e
por último na região do adendo. Já a direção radial tem uma medição feita em cada
51

extremidade da área de contato e uma central. As regiões de medida na direção axial


foram escolhidas sendo estas, pois são zonas características onde ocorrem
determinados mecanismos de desgaste, sendo o dedendo, diâmetro primitivo e
adendo caracterizados por pitting, polimento e scuffing, respectivamente além de
caracterizarem pontos em que há diferenças no sentido de deslizamento e também
no diâmetro primitivo é encontrado apenas o rolamento.

Para a execução das medições de rugosidade foi utilizado o rugosímetro da


marca Taylor Hobson, modelo Surtronic s128, com campo máximo de medição de
400m, comprimento de medição 0,8mm, número de comprimentos por medição igual
a 4, totalizando 3,2mm em cada passe e o filtro utilizado foi o gaussiano.

Na Figura 23 é possível ver a bancada na qual o equipamento fica posicionado


e também o apoio utilizado para o posicionamento da engrenagem no momento da
medição. Este rugosímetro possui conexão com o computador e permite que os dados
do perfil sejam exportados em formato de texto após a medição.

Figura 23 - Bancada de medição de rugosidade

Fonte: (o autor)

Para o posicionamento da engrenagem utilizou-se um bloco magnético


padrão em duas posições apenas para servir como base de elevação para o corpo de
prova. Nas medições realizadas no sentido axial, o bloco foi posicionado com a
superfície plana como apoio conforme pode ser visto na Figura 24.
52

Figura 24 - Layout para medição no sentido axial

Fonte: (o autor)

Da mesma forma que na direção axial, para a direção radial o bloco magnético
teve a função de elevar a engrenagem, porém desta vez com o diferencial de que a
superfície utilizada como apoio foi a em forma de “V” , pois esta proporcionou um
melhor posicionamento da engrenagem em relação ao instrumento de medição, uma
vez que o apalpador deve ser posicionado de forma que este esteja o mais paralelo
possível com a superfície para que o seu campo de medição vertical máximo (400m)
não seja ultrapassado por conta da curvatura do dente. A Figura 25 mostra a
disposição do bloco e os demais elementos.
53

Figura 25 - Layout para medição no sentido radial

Fonte: (o autor)

O posicionamento foi garantido por meio do contato dos dentes inferiores com
o vértice do bloco magnético.

3.4 ANÁLISE MACROSCÓPICA

Para que a análise macroscópica fosse feita de forma mais rápida e com
menor chance de erros de cálculos, foi utilizado um software desenvolvido por Muraro
e Junior (2010), na linguagem Visual Basic. Este software foi chamado EngCalc e visa
apresentar e resolver os cálculos relacionados ao contato entre engrenagens através
de uma interface simples e intuitiva e com grande confiabilidade, uma vez que estes
resultados foram validados através de ensaios de laboratório e dados de literatura.

A Figura 26 mostra o mapeamento das funções do programa citado em forma


de fluxograma, onde cada tópico representa uma tela da interface com o usuário.
54

Figura 26 - Mapeamento das funções do EngCalc

Fonte: (MURARO e JUNIOR, 2010)


55

Para a consideração da geometria macroscópica das engrenagens utilizadas


neste trabalho, os cálculos foram feitos a partir do princípio das tensões de Hertz e
levam em conta os dados descritos na Tabela 5.

Tabela 5 - Propriedades da matéria prima das engrenagens


AISI 4320
Propriedade Unidade Normalizado Recozido
Limite de escoamento MPa 460 430
Resistência à tração MPa 795 580
Alongamento % 20,8 29
Redução de área % 51 58
Módulo de Elasticidade GPa 210 190
Coeficiente de Poisson - 0,27 0,3
Dureza HB 235 163
Fonte: (GERDAU, 2003)

A Tabela 5 apresenta as propriedades do aço em estado normalizado e


recozido. Foram então calculados o raio de curvatura equivalente (R’), o módulo de
Young reduzido (E) e em seguida a pressão máxima no contato (Pmáx), de acordo com
as equações (12),(11) e (2), respectivamente. Os resultados considerando os 2 níveis
de carregamento (K9 e K10) são mostrados na Tabela 6 para as posições 7, DP
(diâmetro primitivo) e 11. Estas posições representam regiões específicas dos dentes
da engrenagem de acordo com a Figura 27.

Figura 27 - Posição sobre a face dos dentes onde foram feitos os cálculos

Fonte: (o autor)
56

De acordo com a Figura 27, a numeração começa a partir do topo do dente e


segue em direção a sua raiz. Sendo assim, o ponto 7 está situado na região do quarto
ponto visto na figura, o ponto DP é o quinto e o ponto 11 está aproximadamente no
sétimo ponto representado na figura.

Tabela 6 - Parâmetros macroscópicos calculados

Estágio de carga K9 K10

Torque obtido [N.m] 302,4 372,6

Pmáx 7 [MPa] 1902,2 2112,9

Pmáx DP [MPa] 2060,6 2288,8

Pmáx 11 [MPa] 1541,5 1712,1

Rotação do eixo do pinhão [rpm] 2200

R' 7 [mm] 14,3

R' DP [mm] 12,7

R' 11 [mm] 11,5

E' [GPa] 208,8

Nota -se que o raio de curvatura equivalente não varia com a carga, visto que
é um parâmetro puramente geométrico e o módulo de Young também é constante
com o carregamento por ser uma propriedade do material.

Conforme dito anteriormente, os dados foram calculados considerando as


equações citadas, porém foram feitos de forma automática através do software
EngCalc. Para o funcionamento correto do programa, necessita-se de alguns
parâmetros de entrada que estão descritos na Tabela 7.
57

Tabela 7 - Parâmetros de entrada do EngCalc


Parâmetro Valor / opção
Z1 13 dentes
Z2 28 dentes
m 4,5 mm
x1 0,377
x2 -0,539
a 91,5 mm
 18,7º
Largura 14,5 mm
u 2,15
CR 1,38
Viscosidade 17,5 cSt
Densidade 823 kg/m³
 0,00011 in²/lbf
Tipo de Engrenagem Modificada
Processo de fabricação Cortadores de circulares
Xc (fator de recobrimento) Sem recobrimento
Aproximadamente 0,73 m
Rugosidade do Pinhão
(valor médio medido)
Aproximadamente 0,68 m
Rugosidade da Coroa
(valor médio medido)
Tipo de óleo lubrificante Sintético EP
Material do pinhão Aço Liga
Material da coroa Aço Liga
Coeficiente de Poisson do pinhão 0,3
Coeficiente de Poisson da coroa 0,3
Tipo de carregamento F/2 F F/2
Número de pontos 19
Coeficiente de atrito Seco 0,74

Onde valor de  foi fornecido juntamente com o óleo utilizado e o coeficiente


de atrito Seco foi fornecido pelo software utilizado através da relação de contato entre
duas peças de aço carbono.
58

3.5 CÁLCULO DE TENSÕES DE CONTATO

Uma vez que as rugosidades das superfícies afetam nas tensões


encontradas, o cálculo das tensões foi feito nas posições mostradas na Figura 28,
sendo estas as regiões HPSTC (adendo), diâmetro primitivo e LPSTC (dedendo).

Figura 28 - Localização dos pontos para o cálculo de tensões

Fonte: (o autor)

Essas posições foram escolhidas para que fossem medidas as rugosidades


das superfícies, pois como mostrado anteriormente são regiões características de se
apresentarem mecanismos de desgaste característicos. Logo, os pontos marcados
em vermelho demonstram uma área na qual se espera que aconteça após o ensaio
os mecanismos de scuffing, abrasão e pitting. Portanto isso faz com que a rugosidade
local possa ser acompanhada e posteriormente relacionada diretamente ao
mecanismo encontrado, de modo a identificar a rugosidade característica que o corpo
apresenta na região de cada mecanismo de desgaste.

As tabelas Tabela 8 e Tabela 9 mostram alguns dos dados calculados pelo


software EngCalc em conjunto com parâmetros medidos para os pontos 11, 09 e 07
do pinhão e da coroa, que correspondem ao dedendo, diâmetro primitivo e adendo,
respectivamente. Estes dados são de suma importância para a aplicação no código
59

de análise de tensões utilizado neste trabalho. Vale ressaltar que mesmo que a
rugosidade seja um parâmetro medido e consequentemente um resultado, é de suma
importância que os seus valores sejam mostrados neste momento, pois estes são
utilizados no cálculo das tensões, que são os resultados buscados.

Tabela 8 - Dados para pontos de interesse no pinhão.


Pinhão

Faixa de Coef. Coef. Rugosidade Ra


Posição Raio de Rugosidade Ra
Localização Ponto medição de Atrito Atrito
radial curvatura Fabricação ensaiado
rugosidade Fab. Ens.

Dedendo 11 28,60 mm 7,88 mm - 0,046 0,059 - -

Diâmetro
09 29,02 mm 9,31 mm 0,4 – 0,88 0,050 0,064 0,636m 0,381m
primitivo

Adendo 07 30,18 mm 12,46 mm 2,31 – 2,79 0,056 0,071 0,668m 0,236m

Tabela 9 - Dados para pontos de interesse na coroa


Coroa

Faixa de Coef. Coef. Rugosidade Ra


Posição Raio de Rugosidade Ra
Localização Ponto medição de Atrito Atrito
radial curvatura Fabricação ensaiado
rugosidade Fab. Ens.

Dedendo 07 61,56 mm 16,88 mm 0,4 – 0,88 0,046 0,059 0,399m 0,584m

Diâmetro
09 62,50 mm 20,04 mm 1,36 – 1,84 0,050 0,064 0,540m 0,323m
primitivo

Adendo 11 62,97 mm 21,47 mm 2,31 – 2,79 0,056 0,071 0,773m 3,77m

Destas tabelas tem-se que posição radial é a distância medida do centro da


engrenagem até o ponto em questão (07,09 ou 11), enquanto que cada ponto possui
seu raio de curvatura e uma faixa de medição de rugosidade. A faixa de rugosidade
corresponde ao comprimento dentro do intervalo de medição do rugosímetro que foi
definida como representante da zona escolhida, ou seja, num comprimento útil de
medição de 2,4mm existem 5 intervalos de 0,48mm e cada um dos pontos citados foi
analisado em um destes intervalos conforme a tabela. Vale ressaltar que a faixa de
medição inicia-se em 0,4 mm e vai até aproximadamente 2,8mm, totalizando um
comprimento de 2,4 mm conforme dito anteriormente. O início é dado em 0,4 mm pois
60

o aparelho usado para medição retira os pontos iniciais e finais do comprimento


configurado por conta da aceleração do apalpador.

Na Tabela 8 verifica-se que o pinhão não possui uma faixa de rugosidade


definida para o seu dedendo. Isso ocorre pois o campo de medição máximo do
aparelho utilizado é de 400m o que deve compreender a amplitude das asperezas
somadas à curvatura do dente. Como a engrenagem em questão é modificada, sua
curvatura não possibilitou a medição de um grande comprimento para o pinhão. Logo
o comprimento que foi possível ser medido compreendeu apenas ao diâmetro
primitivo e adendo.

Assim, as tensões serão calculadas nas mesmas regiões que forem medidas
as rugosidades, de acordo com o método presente no capítulo 2.2 (início na página
25) que fala das tensões de contato em engrenagens cilíndricas de dentes retos e
estes resultados de tensão, juntamente com a área percentual de desgaste serão
relacionados com a rugosidade encontrada.

3.6 MÉTODO DE QUANTIFICAÇÃO DA SUPERFÍCIE DESGASTADA

Após a realização dos ensaios feitos na máquina FZG, as engrenagens ficam


com a face de seus dentes com um nível considerável de desgaste, que é o objetivo
do estudo a qual o ensaio se destina. Logo, para que a análise deste desgaste fosse
praticável de forma mais satisfatória, foi desenvolvido pelo Professor Doutor João Luis
do Vale, no LASC-UTFPR em convênio com a FCA (Fiat Chrysler Automobiles) e USP
(Universidade de São Paulo) a partir do projeto denominado “Diminuição das perdas
devido ao atrito em transmissões automotivas” um código em MatLab que permite a
quantificação percentual da zona desgastada em relação ao total da área da face dos
dentes da engrenagem.

A escolha da utilização deste código foi motivada pelo fato de que os métodos
presentes até a atualidade não se mostraram eficientes na aplicação em questão. A
Figura 29 exemplifica o método utilizado por Koda (2009) em comparação com
escolhido para esta pesquisa.
61

Figura 29 - (A) Método de seleção de áreas utilizado por KODA, (B) Método adotado no
trabalho

(A) (B)
Fonte: Adaptado de (KODA, 2009)

O método presente no lado direito da Figura 29 consiste na seleção das áreas


por meio da aproximação de polígonos através da macroscopia em um software
analisador de imagens (Image Pro- Plus Versão 4.5.0.29) e foi o utilizado por Koda
(2009), já o lado esquerdo apresenta a imagem gerada pelo programa utilizado neste
trabalho. Como se pode notar, este segundo se apresentou mais eficiente para o
processo, pois além de possibilitar a seleção das áreas de forma mais rápida, também
é possível comparar mais de um tipo de desgaste diferente a partir da mesma imagem
através da diferenciação por cores.

Para que o resultado obtido por meio das quantificações tenha sempre a
mesma qualidade independente do operador do software, procurou-se exemplificar a
ordem das operações que devem ser executadas tanto na aquisição da imagem
quanto em sua quantificação.

Funcionamento do Software

Para que o resultado obtido por meio das quantificações tenha sempre a
mesma qualidade independente do operador do software, procurou-se exemplificar a
ordem das operações que devem ser executadas tanto na aquisição da imagem
quanto em sua quantificação.

O código desenvolvido para a quantificação das imagens tem como base


algumas premissas que são: definição da área de interesse, seleção de zonas de
desgaste por parte do operador, avaliação computacional por comparação de cores,
62

definição do cluster que a imagem será salva e por fim geração do relatório em forma
de texto contendo a descrição das áreas em unidades percentuais e o tamanho total
da imagem em pixels.

Definição da área de interesse

O passo inicial para a utilização do código é abrir a imagem que apresenta a


zona a qual se quer avaliar e selecionar o que seria a área total que se deseja analisar,
como mostra a Figura 30.

Figura 30 - Seleção da Área de Interesse

Fonte: (o autor)

A partir deste passo o software identificará o tamanho total da área


selecionada e utilizará estas medidas para a geração do relatório final tendo está área
como base.

Seleção de zonas de desgaste

Para a seleção de zonas de desgaste há algumas opções de ferramentas


disponibilizadas pelo programa por meio de um menu. Estas ferramentas permitem
63

que sejam selecionadas zonas automaticamente (não funciona como desejado por
conta das grandes distorções causadas pelo ensaio), seleção manual entre outros. A
seleção manual é a mais utilizada pois o operador deve selecionar somente o tipo de
desgaste que deseja salvar em um cluster específico. Este tipo de seleção é
exemplificado na Figura 31.

Figura 31 - Seleção manual

Fonte: (o autor)

Avaliação computacional das cores

Após a seleção manual, o código identifica variações de cores e são


oferecidas opções de seleção em preto e branco que são invertidas entre si, ou seja,
o que está em preto em uma imagem estará em branco na outra e vice-versa como
pode ser visto na Figura 32. Em seguida, pode-se deletar alguma parte da seleção
que não é desejada e depois é solicitada a escolha de um slot para que a imagem
seja salva e a área da seleção entre para a soma daquele slot que representará o
mecanismo de desgaste em questão.

Figura 32 - Opções de seleção de zona

Fonte: (o autor)
64

Na Figura 33 é possível ver o resultado obtido pela seleção feita na Figura 31,
mostrando assim a eficiência do método adotado para este trabalho.

Figura 33 - Resultado da zona selecionada

Fonte: (o autor)

Definição do cluster para arquivamento da zona selecionada

O software disponibiliza como configuração padrão 4 slots ou clusters o que


significa que é possível identificar 5 zonas diferentes, sendo uma em cada slot e uma
sendo classificada como a área restante.

Então, em cada passo de seleção de zonas de desgaste deve-se saber em


que tipo de desgaste está se trabalhando para que seja quantificado no cluster certo.

A Figura 34 mostra como uma imagem fica após a quantificação de 4 zonas


diferentes e em seguida o resultado final da quantificação.

Figura 34 - Exemplo de tipos de desgaste em uma quantificação

Fonte: (o autor)

Como dito anteriormente, é possível a identificação de 5 zonas de desgaste


diferentes, como se pode ver na imagem acima, onde 4 zonas (vermelho, azul amarelo
65

e verde) foram selecionadas pelo operador e a zona em preto é tomada


automaticamente como sendo a área restante da superfície.

Geração do relatório em formado de texto

Posteriormente à geração da imagem final, um relatório em formato “.txt” é


gerado com as informações das áreas. Este arquivo pode ser utilizado para as
análises estatísticas dos resultados e a Figura 35 apresenta sua forma.

Figura 35 - Relatório final

Fonte: (o autor)

Este relatório acima foi gerado para a engrenagem com o código interno F01
(mesma engrenagem utilizada nos exemplos anteriores) e como dito anteriormente,
apresenta os valores das áreas em unidades percentuais e o tamanho total da imagem
em pixels.
66

Fotografias

Com intuito de materializar o estado de deformação plástica e desgaste das


engrenagens, além de aplicar as ferramentas de análise de imagem citadas
anteriormente, após os ensaios foram feitas imagens dos 13 dentes do pinhão. Porém
para o estudo deste trabalho foram utilizados apenas os dentes 1,7 e 10.

As figuras Figura 36,Figura 37 e Figura 38 mostram as fotografias feitas em


seu estado inicial sem tratamento de imagem e recortes.

Figura 36 - Dente 01 após o ensaio

Fonte: (o autor)

Figura 37 - Dente 07 após o ensaio

Fonte: (o autor)

Figura 38 - Dente 10 após o ensaio

Fonte: (o autor)
67

A partir destas imagens são feitos tratamentos de quantificação de cada


mecanismo de desgaste apresentado no capítulo 2.8. É de conhecimento que estes
mecanismos são fenômenos tridimensionais e que o tipo de quantificação feito através
de imagens só contempla uma região em duas dimensões, logo este é um dos motivos
considerados para que fosse utilizado o perfil de rugosidade como parâmetro de
avaliação de resultados.

Evolução do desgaste

Este capítulo visa exemplificar o modo que o desgaste evolui na engrenagem


através da apresentação de imagens da superfície. A Figura 39 apresenta uma face
de dente quantificada após uma hora de ensaio com carregamento K9.

Figura 39 - Quantificação após 1 hora de ensaio

Fonte: (o autor)

Nota-se nesta imagem que os mecanismos presentes são o scuffing em


vermelho, abrasão em preto, polimento/deformação plástica em azul e os primeiros
pittings começam a aparecer.

Considerando a Figura 40 observa-se que o mecanismo de scuffing não está


mais presente, restando apenas os demais e tendo a quantidade de pitting
aumentado.
68

Figura 40 - Quantificação após 4 horas de ensaio

Fonte: (o autor)
As 4 horas de ensaio aplicadas a esta engrenagem compreendem 1 hora de
ensaio com carregamento K9, parada de ensaio e posteriormente mais 3 horas
ininterruptas. O fato de se passar várias horas em ensaio fez com que a engrenagem
deformasse consideravelmente, fazendo com que seu regime de lubrificação fosse
mudado o que poderia explicar o desaparecimento do fenômeno de scuffing, porém
este tópico não será abordado no presente trabalho.

O capítulo seguinte apresenta o último estágio de carregamento/ ensaio


seguido da apresentação dos percentuais de área encontrados para cada mecanismo.

3.7 CÁLCULO DE TENSÕES MICROSCÓPICAS

A partir dos dados obtidos por meio do EngCalc, das medições de rugosidade
e das quantificações de desgaste foram feitas análises do contato entre pinhão e
coroa. Um código programado em MatLab pelo Prof. Dr. Eng. Tiago Cosseau, também
coorientador deste trabalho, foi utilizado para gerar a análise microscópica deste
contato. Este código foi desenvolvido segundo a metodologia aplicada por SEABRA
et al para avaliar a influência das ondulações e da rugosidade da superfície na
distribuição de pressão para um contato hertziano. Este modelo de análise foi feito
pois as tensões de contato são um dos parâmetros mais importantes no
desenvolvimento de engrenagens e a superfície de contato se torna muito pequena
quando consideradas as imperfeições da superfície (SEABRA e BERTHE, 1987). Uma
simplificação foi feita considerando que o pinhão seja rugoso e a coroa lisa para que
fique mais visível a influência da rugosidade medida em conjunto com a apresentação
das imagens da superfície desgastada. O programa necessita, como parâmetros de
entrada, dos raios de curvatura do pinhão e da coroa, a força aplicada por meio do
torque no ensaio e a largura de contato das engrenagens além do perfil de
rugosidades medido. Onde, destes parâmetros de entrada, todos são calculados com
o auxílio do EngCalc e apenas o perfil de rugosidades foi medido.
69

4 RESULTADOS

4.1 ANÁLISE MACROSCÓPICA

Para a análise macroscópica, não são consideradas as asperezas da


superfície.

Quantificação do desgaste

Tomando como base as imagens mostradas no capítulo 3.6 utilizou-se o


software de análise de imagem para quantificar os mecanismos de desgaste
presentes em cada dente da engrenagem.

Para a execução desta tarefa, é necessário que o operador do programa


conheça o que se deseja quantificar (scuffing, pitting, abrasão e polimento), pois as
tarefas são feitas parte automaticamente, parte manual. A Tabela 10 mostra a
superfície dos dentes 1, 7 e 10 com sua quantificação gerada pelo programa.

Tabela 10- Quantificações


abrasão
67.4%
(Preto)
deformação
31.6%
plástica
pitting
0.9%
(amarelo)
abrasão
68.4%
(Preto)
deformação
30.5%
plástica
pitting
1.1%
(amarelo)
abrasão
69.6%
(Preto)
deformação
29.3%
plástica
pitting
1.1%
(amarelo)
70

Ao observar a Tabela 10 é possível notar que o fenômeno que apresenta uma


área mais expressiva é o fenômeno de abrasão, porém como dito no capítulo 2.8.3
este mecanismo é um dos mais comuns e não apresenta grandes problemas para o
contato entre engrenagens. Porém, nota-se que a zona em azul também apresenta
um percentual relativamente alto de área deformada. Logo, mais uma vez, vale
ressaltar que como as imagens permitem apenas uma análise 2D, a rugosidade
superficial se faz muito importante para o estudo do desgaste.

Resultados do EngCalc

Com o intuito de se obter uma determinação das características do contato de


forma macroscópica, foi utilizado o programa EngCalc.

A Figura 41 apresenta um gráfico com a tensão de Hertz e força nos eixos


verticais e a posição diametral no eixo horizontal. A linha contínua em azul no topo do
gráfico representa o perfil da engrenagem, além disso, a linha feita com “traço ponto”
mais espessa representa o diâmetro primitivo.

Figura 41 - Tensão x posição diametral

Fonte: (o autor)
71

Deste gráfico pode-se notar que o modelo de carregamento utilizado neste


modelo é do tipo F/2 – F – F/2, e apresenta a carga máxima próximo ao diâmetro
primitivo representado pela linha em vermelho no perfil de dente mostrado (em azul)
acima do gráfico.

Conforme citado anteriormente, as velocidades num contato podem ser de


deslizamento ou rolamento. A Figura 42 mostra estas velocidades em função da
posição diametral, tendo o perfil da engrenagem mostrado no topo do gráfico de forma
semelhante à Figura 41.

Figura 42 - Velocidades no contato

Fonte: (o autor)

É interessante notar que fica evidente nesta figura que o valor mínimo da
velocidade de deslizamento ocorre ao chegar no diâmetro primitivo confirmando o que
é encontrado na literatura ao afirmar que no diâmetro primitivo existe rolamento puro.

É sabido que em contatos são utilizados lubrificantes com o intuito de diminuir


o atrito. Para tanto a Figura 43 (B) apresenta uma relação entre o parâmetro de filme,
72

como fator de caracterização do filme lubrificante, frente ao coeficiente de atrito Figura


43 (A).

Figura 43 - (A) Coeficiente de atrito por distância diametral, (B) Parâmetro de filme por posição
diametral

Fonte: (o autor)

Nota-se aqui que quando o parâmetro de filme encontra seus menores valores
como consequência do carregamento aplicado (representado na Figura 41), o
coeficiente de atrito apresenta um comportamento inverso, apresentando seus picos,
mostrando assim que o filme lubrificante é de suma importância no que diz respeito
ao atrito entre corpos.

4.2 ANÁLISE MICROSCÓPICA

Para que a rugosidade pudesse ser considerada, foi então abordado um


conceito de análise microscópica, que leva em conta as tensões geradas por conta
das asperezas da superfície em contato.

Considerações para pinhão e coroa lisos

Primeiramente, foram gerados os gráficos para a consideração de pinhão e


coroa ambos lisos com o intuito de se ter uma referência para os dados gerados
posteriormente. Estes gráficos são mostrados abaixo.
73

Figura 44 - Distribuição de pressão contato liso

Fonte: (o autor)

A Figura 44 mostra a distribuição de pressão gerada pelo carregamento na


engrenagem considerando superfícies lisas. Essa distribuição entra em concordância
com o que foi abordado por Hertz e apresentado no capítulo 2.7 deste trabalho,
fazendo com que o programa seja validado.

A partir da aplicação de pressão sobre uma superfície, conforme a carga é


aumentada, há uma deformação. Este fenômeno é representado na Figura 45, onde
as linhas tracejadas representam o contato entre coroa e pinhão, considerando seus
respectivos raios de curvatura e as linhas contínuas representam este mesmo contado
porém após a aplicação da carga.
74

Figura 45 - Contato e deformação

Fonte: (o autor)

Figura 46 - (A) Tensão cisalhante segundo Tresca para consideração sem atrito, (B) Tensão
cisalhante considerando o atrito médio

(A) (B)
Fonte: (o autor)

Na Figura 46 está representada a distribuição de tensão cisalhante de Tresca


perante a superfície da engrenagem. Nota-se que que o valor máximo é de 0,3 e é
75

encontrado a z/a aproximadamente 0,8 da superfície. No caso (A) este valor encontra-
se centralizado sob a superfície do dente, porém, ao considerar um fator de atrito de
aproximadamente ocorre uma distorção nas curvas de nível iniciais, deslocando assim
o ponto de máxima tensão para a direita e aumentando sua área.

Pinhão em estado de fabricação (rugoso) e coroa lisa

Em um segundo momento, os dados de rugosidade medidos foram inseridos


como parâmetros de entrada no código para que as tensões pudessem ser analisadas
em comparação com o mostrado na literatura. As análises consideram 2 momentos,
sendo, primeiramente o estado de tensões gerado pela rugosidade do material em
seu estado de fabricação, seguido das tensões geradas pela topografia da superfície
após o ensaio.

Os dados gerados pelo rugosímetro apresentam uma gama muito grande de


pontos x e z. Logo, para que o custo computacional fosse diminuído, uma aproximação
do perfil de rugosidades foi feita conforme mostrado na Figura 47.

Figura 47 - Simplificação dos dados

Fonte: (o autor)
76

A linha azul representa os dados que foram medidos e a linha em vermelho


representa a aproximação feita pelo código. Constata-se então que a aproximação
gerada é muito semelhante aos dados originais.

Abaixo é apresentada a Figura 48 que tem o intuito de mostrar os picos de


tensão gerados por conta das asperezas da superfície.

Figura 48 - (A) Tensão de Hertz; (B) Deformação

(A) (B)
Fonte: (o autor)

Na Figura 48 (A) nota-se que os picos de aspereza geraram picos de tensões


representados em azul, em comparação com a tensão gerada para superfície lisa (em
vermelho). Este fenômeno está de acordo com o previsto pela literatura e está
representado também na Figura 12. Já a Figura 48 (B) apresenta em linhas tracejadas
o contato entre pinhão rugoso e coroa lisa antes da aplicação de carga e em linhas
contínuas a deformação gerada por este contato. Logo, ao analisar esta figura em sua
totalidade, nota-se que são os picos de asperezas que provocam este aumento de
tensão por conta de que fazem com que a carga se concentre em pequenas áreas,
causando assim também uma grande deformação.

Outro efeito causado pelos picos de aspereza é a localização das máximas


tensões cisalhantes como mostrado na Figura 49.
77

Figura 49 - (A) Tensões cisalhantes (B) Tensões cisalhantes com zoom na parte selecionada

(A)

(B)
Fonte: (o autor)

Nota-se que, em comparação com a Figura 46, o ponto de maior tensão foi
modificado, se deslocando para a superfície do contato tendo seu valor máximo
78

aumentado em cerca de 9 vezes e a sua localização coincidindo com o


posicionamento dos maiores picos de aspereza. Todos estes fatores fazem com que
o desgaste seja intensificado nestas regiões. A Figura 49 (B) apresenta a região da
superfície em destaque para que fique mais evidente esta mudança de localização do
pico de tensão.

Pinhão ensaiado (rugoso) e coroa lisa

Por fim, foi considerado o estado de tensões causado pela topografia do dente
da engrenagem em seu estado de pós ensaio. A Figura 50 apresenta novamente a
simplificação dos dados. Porém outro dado interessante pode ser retirado desta
imagem que em comparação com a Figura 47 apresenta picos de aspereza menores
(18e-7 contra 6e-6) mesmo após horas de ensaio.

Figura 50 - Simplificação dos dados

Fonte: (o autor)

Consequentemente, os picos de tensão são menores conforme pode ser visto


na Figura 51.
79

Figura 51 - Tensão de Hertz

Fonte: (o autor)

Os gráficos de deformação e tensão cisalhante também foram gerados para


este caso, porém, por apresentarem grande semelhança não serão apresentados.

Correlação entre resultados obtidos

Todos estes dados mostrados nas seções anteriores foram gerados para os
dentes 1, 7 e 10 e estão apresentados a seguir na Tabela 11 para os pontos 7 e 9 do
pinhão que compreendem ao adendo e diâmetro primitivo, respectivamente.
80

Tabela 11 – Dados (referência no pinhão)


Tensão máxima de Tensão de Hertz
Estado Ponto Dente
Hertz [Pa] x109 média [Pa] x109

1 9,67
7
7 19,18 13,1 ± 4,5
(Adendo)
10 11,33
Fabricação
1 8,52
9

7 12,77 11,2 ± 2,3


(Diâmetro
primitivo)
10 12,17

1 8,01
7 8,5 ± 2,5
7 11,17
(Adendo)
10 6,33
Ensaiado
1 16,75
9

7 21,94 17,1 ± 4,8


(Diâmetro
primitivo)
10 12,45

Nesta tabela a coluna denominada “Estado” significa o momento no qual a


medição de rugosidade foi feita onde “Fabricação” sugere que o valor medido foi
encontrado com a engrenagem antes de ser ensaiada, tendo assim sua superfície
com as características do processo produtivo, enquanto que a nomenclatura
“Ensaiado” foi utilizada para representar os dados obtidos após a engrenagem passar
pelo processo de ensaio na máquina FZG. A partir destes dados fica visível que existe
uma diferença na topografia de uma engrenagem ensaiada e em comparação ao
81

estado de fabricação. Essa diferença é mais notada ao observar que inicialmente


havia uma distribuição de tensões estável na superfície dos dentes, representada
pelas médias de tensões, porém, após o ensaio as tensões se elevaram na região do
diâmetro primitivo e tiveram uma queda no adendo.

Assim, considerando a Tabela 10, que mostra a quantificação do desgaste


sofrido na engrenagem, estes valores apresentados na Tabela 11 acima ficam
evidenciados, pois o desgaste mais expressivo é visto na região do diâmetro primitivo
devido ás inversões no sentido das velocidades de deslizamento que podem ser vistas
na Figura 42 enquanto, em conjunto com isso a rugosidade deste local aumenta. É
interessante ressaltar que mesmo que a área em preto que representa o fenômeno
de abrasão seja maior, esta não representa um mecanismo crítico para o desgaste de
engrenagem e nem uma aspereza muito alta, além de que conforme citado
anteriormente, este tipo de análise de imagem consegue apenas quantificar a área
representativa de cada tipo de desgaste e não sua intensidade.

Quanto às tensões, é interessante salientar a importância no que se refere á


consideração ou não das características superficiais da engrenagem, uma vez que,
de acordo com a Figura 41, que não considera rugosidade no cálculo da tensão,
apresenta valores aproximados de tensão entre 1x10 9Pa e 2x109Pa na zona do
adendo, enquanto que nesta mesma zona, quando considerado a aspereza da
superfície essa tensão se dá por volta de 13x10 9Pa mostrando o quão importante é
essa consideração. Vale ressaltar que os valores de tensão citados existiriam para o
caso de o material ser duro o suficiente para suportar tais tensões. Porém em um caso
real, temos que quando a tensão ultrapassa o limite de escoamento do material, que
neste caso é de 460 MPa de acordo com a Tabela 5, inicia-se o processo de
deformação plástica que gera o alívio destas tensões.

Assim, estas tensões altas indicam que a rugosidade está alta, pois a
superfície fica imperfeita devido à ação dos mecanismos de desgaste e uma vez que
as tensões começam a subir, tendem a desgastar cada vez mais a engrenagem.
82

5 CONCLUSÕES

De acordo com os estudos apresentados, percebe-se que podem ser feitos


dois tipos de caracterização quanto às tensões em um elemento. Esses tipos de
caracterização são: cálculo de tensões segundo o modelo de Hertz, que considera os
aspectos macroscópicos do elemento em questão e apresenta uma distribuição de
tensões semielíptica, e o estudo microscópico que passa a considerar os efeitos dos
picos de asperezas do material. Neste segundo caso, nota-se uma distribuição de
tensões completamente dependente da ondulação apresentada pela superfície, o que
faz com que os picos de tensão ultrapassem aqueles calculados segundo a teoria
Hertziana.

Ao avaliar a Tabela 11 um fato interessante é notado: No ponto 7 que


representa o adendo do pinhão há uma diminuição dos picos de tensão entre o estado
de fabricação e após terem sido feitos os ensaios. Isso pode ser explicado justamente
pelo fenômeno de scuffing que faz com que os picos de aspereza se soldem por conta
de que o carregamento está sobre estes picos e assim a topografia do flanco da
engrenagem se modifica, podendo causar redução dos picos e consequentemente
redução da tensão máxima gerada. Porém, ao analisar a zona do diâmetro primitivo
esta diminuição de picos de tensão não se verifica, sendo assim justificada pela
deformação plástica causada pela característica do movimento nesta região.

Portanto, foi possível constatar que a aspereza da superfície tem grande


influência na tensão gerada e consequentemente nos fenômenos de desgaste que se
fazem presentes na superfície. Assim, para complementar tal estudo, seria necessária
uma avaliação do filme lubrificante de forma aprofundada para que seja possível
descrever a intensidade do contato entre estes picos de rugosidade.
83

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