DISSERTAÇÃO João Henrique Cavalcanti de França PDF
DISSERTAÇÃO João Henrique Cavalcanti de França PDF
DISSERTAÇÃO João Henrique Cavalcanti de França PDF
Recife
2017
JOAO HENRIQUE CAVALCANTI DE FRANÇA
Recife
2017
Catalogação na fonte
Bibliotecária Margareth Malta, CRB-4 / 1198
UFPE
___________________________________________________
Prof. Dr. TIAGO LEITE ROLIM
ORIENTADOR/PRESIDENTE
___________________________________________________
Prof. Dr. CEZAR HENRIQUE GONZALEZ
COORDENADOR DO PROGRAMA
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________________________
Prof. Dr. TIAGO LEITE ROLIM (UFPE)
_________________________________________________________________
Prof. Dr. JOSÉ MARIA ANDRADE BARBOSA (UFPE)
_________________________________________________________________
Prof. Dr. ADALBERTO NUNES DE SIQUEIRA (FACULDADE ESTÁCIO DO
RECIFE)
Dedico este trabalho
à minha mãe Juvanita e à minha esposa Sandra,
que sempre me incentivaram a continuar estudando,
sem elas eu não teria chegado até aqui.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por estar sempre ao meu lado, dando-me saúde,
força, paciência e determinação, possibilitando o alcance de mais este projeto em minha vida.
Ao professor doutor Tiago Leite Rolim, pela sua brilhante orientação neste trabalho,
pelos ensinamentos, pelo seu entusiasmo, companheirismo, dedicação e paciência,
principalmente na realização das medições no Laboratório de Medição por Coordenadas.
À minha família, em especial à minha irmã Simone e minha sobrinha Jhéssica, que
sempre me incentivaram e torcem por mim.
Ao mecânico especializado Germano, pela ajuda e ensinamentos na lapidação manual,
sendo peça fundamental para o alcance dos resultados obtidos.
Ao proprietário Ulisses e aos funcionários Alexandre, Bruno, Felipe e Wagner, da
empresa Só Vedações, pela colaboração na lapidação mecanizada, pelas informações e
materiais compartilhados e por me receber sempre de portas abertas.
Aos colegas da Transpetro e Petrobras, que de forma direta ou indireta me ajudaram a
realizar este trabalho.
À técnica Janaína, do Laboratório de Microscopia e Análise Macro Estrutural do
Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Pernambuco, pelas
análises microscópicas.
Aos professores, colegas e funcionários da secretaria do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Pernambuco, pela ajuda, orientação e
apoio constantes.
RESUMO
The mechanical seal is the main sealing element of a machine or equipment because it
prevents unwanted leaks from occurring and can cause accidents and damage. Static and
dynamic sealing faces are responsible for this function, preventing the confined fluid from
escaping into the external environment, especially when the equipment is in operation. For
this, it is imperative that the faces have satisfactory flatness and surface roughness values.
These parameters are obtained by mechanized or manual lapping. In practice, roughness is not
evaluated by companies recovering mechanical seals and flatness values are obtained by
viewing fringes of interference, which is a simple and inexpensive method, but which depends
on the visual acuity and experience of the technician who is performing the lapping. This
work proposes to compare the flatness values obtained by the technique of interference
fringes and the measurement in a coordinate measuring machine (CMM), before and after the
lapping of the sealing faces of mechanical seals applied in liquefied petroleum gas (LPG)
transfer pumps, as well to evaluate the quality of the flatness and of the superficial roughness
obtained by manual lapping in the Transpetro maintenance workshop at Suape seaport, and by
mechanized lapping in an external company. The surface roughness was also evaluated
through optical microscopy and scanning electron microscopy. The results demonstrated the
efficacy of the manual lapping method and the accuracy of flatness measurement through
CMM. To finalize the work, the main costs generated by the failure of the mechanical seal
and its maintenance were estimated, as well as the possible losses due to the simultaneous
unavailability of LPG pumps, reinforcing the importance of the recovery of seals inits
ownworkshop.
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 16
2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 18
2.1 Objetivo Geral.............................................................................................................. 18
2.2 Objetivos Específicos ................................................................................................... 18
3 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 19
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 20
4.1 Selos Mecânicos............................................................................................................ 20
4.2 Materiais dos Selos Mecânicos ................................................................................... 26
4.2.1 Materiais das faces de vedação ...................................................................................... 26
4.2.3 Materiais das vedações secundárias .............................................................................. 27
4.3 Funcionamento dos Selos Mecânicos ......................................................................... 28
4.3 Vazamentos em Selos Mecânicos................................................................................ 31
4.4 Lapidação de Selos Mecânicos.................................................................................... 33
4.5 Planeza .......................................................................................................................... 36
4.5.1 Princípio das franjas de interferência ............................................................................ 38
4.6 Rugosidade Superficial................................................................................................ 42
5 MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................................... 49
5.1 Apresentação dos Equipamentos ............................................................................... 49
5.1.1 Bombas de GLP ............................................................................................................. 49
5.1.2 Selos mecânicos............................................................................................................. 50
5.2 Métodos e Instrumentação Utilizada ......................................................................... 52
5.2.1 Recuperação de selos mecânicos ................................................................................... 53
5.2.2 Lapidação mecanizada ................................................................................................... 53
5.2.3 Lapidação manual .......................................................................................................... 57
5.2.3.1 Lapidação manual em oficina da Petrobras.................................................................57
5.2.3.2 Lapidação manual em oficina da Transpetro...............................................................58
5.2.4 Medição da planeza em máquina de medição por coordenadas .................................... 62
5.2.5 Medição de rugosidade superficial ................................................................................ 64
5.2.6 Análise da superfície através de microscopia óptica e microscopia eletrônica de
varredura ....................................................................................................................... 65
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................................. 67
6.1 Comparação da Avaliação da Planeza através de MMC e Franjas de
Interferência ................................................................................................................ 67
6.2 Avaliação dos Métodos de Lapidação Manual.......................................................... 70
6.3 Comparação entre a Lapidação Mecanizada e Manual........................................... 72
6.4 Análise das Superfícies por MO e MEV .................................................................... 74
6.5 Custos com a Manutenção não Planejada para Recuperação de Selos .................. 79
6.6 Proposição de Procedimento para Lapidação Manual ............................................ 81
7 CONCLUSÕES ........................................................................................................... 85
8 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ..................................................... 86
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 87
ANEXO A – Desenho de montagem do selo mecânico AESSEAL ......................... 89
16
1 INTRODUÇÃO
os vasos de pressão das companhias distribuidoras instaladas no Porto de Suape. Uma bomba
opera praticamente 24 horas por dia, 6 dias por semana. A interrupção prolongada na
distribuição de GLP para estas companhias pode causar o desabastecimento em diversos
estados da região Nordeste.
Cada bomba possui um selo mecânico com 2 pares de faces de vedação, totalizando 2
faces rotativas em carbeto de silício e 2 faces estacionárias em carbono impregnado com
antimônio. Há no estoque 2 selos mecânicos sobressalentes caso os selos instalados nas
bombas apresentem vazamento. Porém, em caso de falha, a substituição de um único selo
pode levar até 40 horas para ser finalizada.
Nas bombas de GLP da Transpetro, são esperados que os selos tenham uma vida útil
superior a 5 anos. Para isso, a qualidade na fabricação e na recuperação de seus componentes
é imprescindível. Atualmente a vida útil média de um selo não ultrapassa 2 anos, ocasionando
a indisponibilidade de uma das bombas para manutenção corretiva de quase uma semana para
substituição do selo defeituoso por um selo recuperado por empresa externa, além de resultar
num custo total de quase R$ 10.000,00. Esta recuperação envolve a substituição das vedações
em elastômero e a relapidação de todas as faces de vedação do selo, caso ainda possam ser
reaproveitadas. Geralmente a lapidação é realizada de forma mecanizada, em uma lapidadora
plana que possui um disco de lapidação motorizado, obtendo-se o menor valor possível de
planeza da superfície das faces de vedação. Como a quantidade de material removido durante
o processo de lapidação é muito pequena, as faces podem ser relapidadas algumas dezenas de
vezes sem que haja comprometimento no funcionamento do selo.
Após sua substituição, o selo defeituoso levará cerca de 75 dias para ser recuperado e
devolvido ao estoque da manutenção devido ao trâmite licitatório. Outro ponto negativo é que
a instalação fica mais vulnerável sem a bomba reserva. A demora na recuperação dos selos
mecânicos e o prejuízo gerado por uma possível indisponibilidade das duas bombas pode
resultar em valores muito elevados, até que se efetue a recuperação ou até mesmo a compra
emergencial de um novo selo que hoje tem um valor médio de R$ 40.000,00. A qualidade da
superfície das faces de vedação do selo mecânico é um dos fatores que garantirá uma
operação segura e duradoura.
18
2 OBJETIVOS
O objetivo geral desse trabalho é avaliar a planeza e rugosidade das faces de vedação
de selos mecânicos tipo cartucho, lapidadas de forma manual e mecanizada, empregados nas
bombas principais de transferência de GLP do Terminal Aquaviário da Transpetro no Porto de
Suape.
3 JUSTIFICATIVA
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
“Os selos mecânicos são dispositivos dinâmicos que tem a finalidade de impedir a
passagem de um fluido ao longo da interface de duas superfícies anelares animadas de
movimento relativo” (LIMA, 2003, p. 89). Essas superfícies anelares são chamadas de faces,
anéis ou sedes de vedação. Uma das faces de vedação permanece estacionária, ficando presa
ao corpo do selo que está fixado à máquina, e a outra face, montada no eixo da máquina,
possui movimento rotativo. O fluido que se deseja conter ocupa o espaço compreendido entre
uma câmara no interior do selo e o eixo giratório. Vedações secundárias, geralmente em
elastômero, como por exemplo anéis “O” em Viton® ou Kalrez®, também são empregadas
para impedir a fuga do fluido nas interfaces entre a face rotativa e o eixo, entre a face
estacionária e selo, e entre o selo e a carcaça da máquina.
Na Figura 1 é ilustrado um exemplo de selo mecânico instalado numa bomba
centrífuga horizontal, assim como os seus elementos principais. O eixo, rotor e carcaça
pertencem à bomba. Demais componentes podem ser incorporados ao selo, de acordo com seu
tipo, sua aplicação e o plano de selagem adotado.
Figura 1 – Desenho em corte de um selo mecânico instalado numa bomba centrífuga horizontal
maneira como serão instaladas na sobreposta do selo (de forma prensada ou flutuante). Os
anéis de vedação, chamados de faces rotativas ou dinâmicas, também possuem diversos
formatos pelos mesmos motivos das sedes e por serem elementos rotativos e deslizantes
(sobre o eixo ou a luva), compensando vibrações, pequenos desalinhamentos e dilatações
térmicas. Nas Figuras 2 e 3, são ilustradas as seções transversais de alguns tipos de sedes e
anéis de selagem, respectivamente.
Os selos podem ser do tipo simples, quando é empregado apenas um par de faces de
vedação, ou do tipo duplo, que possui dois pares de faces (funciona como dois selos montados
num só corpo). O segundo par de faces de vedação (selo nº 2, selo secundário ou selo externo)
tem a função de conter um outro fluido, chamado de fluido barreira, que é injetado no interior
da caixa de selagem, impedindo que este fluido vaze para a atmosfera. O fluido barreira
impede que o fluido principal atinja o meio exterior quando o primeiro par de faces de
vedação falhar, porém, caso isso ocorra, a operação do equipamento é interrompida para a
substituição ou recuperação do primeiro par de faces de vedação. O fluido barreira também
auxilia na troca de calor das faces de vedação e na lubrificação das superfícies deslizantes do
segundo par de faces, enquanto que o próprio fluido principal realiza estas tarefas no primeiro
par de faces de vedação (selo nº 1, selo primário ou selo interno). A Figura 7 ilustra um selo
mecânico duplo montado em uma bomba centrífuga.
23
Atualmente, os selos mais usados são do tipo cartucho, que já vem montados numa
luva juntamente com a sobreposta e um sistema de fixação por parafusos. Este tipo de selo é
instalado diretamente no eixo e na carcaça do equipamento, sem necessidade de ajustes de
molas ou foles como ocorre nos selos convencionais, resultando em praticidade e
confiabilidade durante a sua montagem. A Figura 8 (a) e (b) ilustra os principais componentes
de um selo convencional e do tipo cartucho, respectivamente.
Figura 8 – Componentes de um selo mecânico convencional (a) e do tipo cartucho (b), montados num eixo
(a) (b)
Fonte: Lima (2003).
Os selos mecânicos podem ser projetados para pressões de até 35 MPa, velocidades da
ordem de 45.000 rpm e temperatura máxima do fluido de trabalho em torno de 400ºC,
permitindo temperaturas mais elevadas mediante projeto especial do selo.
A Figura 9 ilustra alguns tipos de selos mecânicos, dos mais simples aos mais
complexos, aplicados em bombas e reatores. É possível observar alguns de seus componentes
internos.
25
Os materias das faces de vedação mais utilizados são classificados de acordo com a
norma DIN EN 12756 (GERMAN INSTITUTE FOR STANDARDIZATION, 2000) e suas
aplicações e métodos de seleção são definidos pela norma API 682 (AMERICAN
PETROLEUM INSTITUTE, 2014). Os principais materiais são:
Carbonos sintéticos: carbono grafite com impregnação de resina, carbono grafite
com impregnação metálica ou eletrografite;
Metais: maciços ou revestidos;
Carbetos: de tungstênio ou de silício;
Óxidos metálicos: de alumínio ou de cromo;
Polímero: politetrafluoretileno (PTFE);
Diamante (como revestimento).
O carbeto de silício que apresenta Si livre possui resistência química mais baixa, em
especial, no campo alcalino, onde ocorre a corrosão seletiva do Si livre. As peças maciças
apresentam a fragilidade típica dos materiais cerâmicos. Inserções de grafite melhoram
significativamente as prioridades tribológicas. A perda de resistência mecânica resultante
pode ser tolerada.
O carbeto de silício sinterizado por reação (RbSiC – reaction bonded silicon carbide)
é obtido pela mistura de α-SiC, sob a forma de pó, com o grafite e aglutinantes orgânicos. Os
corpos pré-compactados são aquecidos a uma temperatura de 1.000ºC para a coqueficação do
aglutinante. Para que ocorra a siliciação, os corpos são em seguida mergulhados em um banho
de silício fundido a uma temperatura de 1.500 ºC a 2.200ºC, assim o silício penetra nos poros
da peça reagindo com o carbono livre desta e formando SiC secundário. O carbeto de silício,
assim obtido, pode conter até 10% de silício livre. Por este motivo sua aplicação é restrita a
produtos com pH máximo de 10. Em função da matéria prima a granulometria do produto
final poderá ser fina ou grossa.
Os materias das vedações secundárias são classificados de acordo com a norma DIN
EN 12756 em:
Elastômeros não revestidos;
Elastômeros revestidos;
Não elastômeros.
Figura 13 – Microfotografias da superfície de uma face de vedação antes (a) e depois (b) de sua utilização
(a) (b)
Fonte: Affonso (2006).
De acordo com GRUNDFOS (2009), quando há uma rotação relativa entre as faces de
vedação, a pequena ondulação nas superfícies das faces em contato gera uma pressão
hidrodinâmica. Quanto maior a velocidade de rotação, maior será a pressão hidrodinâmica
entre as faces. Esta pressão aumenta a espessura da película de lubrificação, resultando numa
maior taxa de fuga do fluido selado. Por exemplo, para selos mecânicos utilizados em bombas
de água, esta abertura é da ordem de 0,2 µm.
Ondulações superficiais das faces de vedação também é resultado da distorção
mecânica e térmica, mas na maioria dos casos, a pressão hidrodinâmica resultante não é
suficiente para separar completamente as superfícies.
32
Diante de tudo o que foi exposto, pode-se chegar à conclusão de que o compromisso
mais seguro entre lubrificação e vazamento é alcançado pela obtenção de uma superfície mais
plana possível para as faces de vedação de selos mecânicos.
A planeza das superfícies das faces de vedação é normalmente obtida por lapidação
(manual ou mecanizada). A Norma DIN 8589 (GERMAN INSTITUTE FOR
STANDARDIZATION, 2003) define a lapidação como um processo de usinagem
envolvendo grãos abrasivos dispersos em um líquido ou pasta (veículo), capaz de transferir
para a peça a forma da ferramenta de lapidação, através da remoção promovida pelos grãos
que descrevem movimentos aleatórios sobre a superfície da peça.
De acordo com Fiocchi (2010), no mecanismo de remoção de material na lapidação
ocorrem dois tipos de interação entre a peça e o disco de lapidação em função da participação
do abrasivo. A “abrasão três corpos” se refere à remoção causada por partículas abrasivas
soltas entre a peça e disco de lapidação, enquanto que a “abrasão dois corpos” é produzida por
partículas abrasivas fixadas na superfície do disco de lapidação. Portanto, as partículas
abrasivas no mecanismo de abrasão de dois corpos são capazes de remover mais
profundamente o material da peça do que no mecanismo de abrasão de três corpos.
34
mantém em contato permanente com o disco de lapidação e, por ser fabricado em material de
maior dureza que o disco, promove um desgaste gradativo do disco permitindo que possíveis
desvios de planeza sejam corrigidos progressivamente, consequentemente as peças também
obtém uma superfície mais plana possível.
Figura 17 – Vista superior (a) e lateral parcial em corte (b) de uma lapidadora plana
Figura 18 – Trajetória descrita por um ponto da face de vedação sobre o disco de lapidação de uma
lapidadora com braço fixo
4.5 Planeza
Segundo Magalhães (2006), para definir um plano são necessários três pontos não
colineares, ou um ponto e uma reta, ou duas retas. Por esta definição um plano não possui
vales nem picos, sendo perfeito para ser utilizado como referência nas medições e nos
processos de fabricação. No entanto, não se consegue fabricar tal plano e por isto tolerâncias
são especificadas para os pontos que ficam fora do plano ideal, devendo existir um limite que
determine o quanto esses pontos podem se afastar do plano ideal.
Planeza é um termo utilizado para definir o quanto uma superfície encontra-se plana.
A planeza é um dos tipos de desvio de forma, que representa o grau de variação da superfície
real de um plano em relação à sua geometria ideal de superfície (MAGALHÃES, 2006). Não
deve ser confundida com o paralelismo, que é a avaliação do desvio entre duas superfícies
paralelas que não pertencem ao mesmo plano.
Segundo a norma NBR 6409 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 1997), a tolerância de planeza é limitada por dois planos paralelos afastados de
uma distância “t”, conforme ilustrado na Figura 19.
De acordo com SENAI (2015), a tolerância de planeza é o desvio aceitável na forma
do elemento tolerado em relação à forma plana ideal. A indicação desse tipo de tolerância
significa que a superfície efetiva tolerada deve estar contida entre dois paralelos afastados de
uma distância t, que definem o campo de tolerância. A Figura 20 ilustra um exemplo de
indicação de tolerância de planeza de uma superfície em desenho técnico e a Figura 21 ilustra
a leitura imaginária do campo de tolerância.
37
Figura 24 – Ilustração da avaliação de planeza utilizando-se um plano óptico com incidência de luz
monocromática sobre a peça
Figura 25 – Guia de referência para avaliação da planeza de peças através da quantidade de franjas de
interferência
Como exemplo real, na Figura 26 uma face de vedação qualquer foi lapidada e
colocada sob um plano óptico com incidência de luz monocromática de sódio. É possível
visualizar as franjas de interferência e constatar que a linha central vertical só intercepta uma
franja (na parte superior e inferior), indicando que o valor da planeza da face de vedação é de
0,29 µm.
Figura 26 – Verificação da planeza de uma face de vedação pela quantidade de franjas observadas através
de um plano óptico e uma fonte de luz monocromática
Fonte: O autor.
42
Caso as franjas não apareçam algo pode estar mantendo o plano ótico muito afastado
da superfície da peça, como rebarbas, poeira, umidade, resíduos de fluidos ou cunha de ar
muito espessa. Deve-se garantir que as superfícies do plano ótico e da peça estejam limpas e
livres de falhas nas bordas. Aplicando-se uma certa pressão com as mãos sobre o plano ótico é
possível diminuir a espessura da cunha de ar entre as superfícies.
O princípio de franjas de interferência também é aplicado para avaliar a planeza da
superfície de blocos padrão e de instrumentos de medição, como as pontas de micrômetros,
ambos exemplificados na Figura 27.
Para avaliar a rugosidade superficial são usados dois sistemas básicos: o da linha
média M e o da envolvente E. O sistema da linha média é o mais utilizado no mundo todo,
inclusive no Brasil. Alguns países utilizam os dois sistemas.
Segundo Agostinho, Rodrigues e Lirani (1977), no sistema da linha média (sistema M)
todas as grandezas de medição da rugosidade são definidas a partir do conceito de linha
média: linha paralela à direção geral do perfil, no comprimento de amostragem, de tal modo
que a soma das áreas superiores, compreendidas entre ela e o perfil efetivo, seja igual à soma
das áreas inferiores, no comprimento de amostragem L. A Figura 31 ilustra graficamente a
linha média.
Onde:
A1 e A2 = áreas acima da linha média
A3 = área abaixo da linha média
Indicando-se por ydx a área de uma faixa elementar, Figura 32, a área total dos picos
(área acima da linha média) e vales (área abaixo da linha média), dentro de um comprimento
L, será dada por:
𝐿
𝐴 = ∫ |𝑦|𝑑𝑥 (1)
0
Onde:
dx é a largura de uma faixa elementar
y é a altura de uma faixa elementar
L é o comprimento de amostragem
Fonte: Adaptado de Agostinho; Rodrigues; Lirani (1977).
1 𝐿 𝐴
𝑅𝑎 = ∫ |𝑦|𝑑𝑥 = (2)
𝐿 0 𝐿
Ou, conforme Figura 33, o desvio médio aritmético pode ser calculado
aproximadamente por:
𝑛
1
𝑅𝑎 = ∑|𝑦| (3)
𝑛
𝑖=1
Onde:
y é a altura dos picos e vales
y1, y2, y3 e yn são as alturas dos picos e vales nos pontos 1, 2, 3 e n, respectivamente
L é o comprimento de amostragem
do valor esperado da rugosidade Ra. Caso o valor médio das medições de rugosidade
efetuadas esteja numa faixa diferente da estimada, repete-se o procedimento para a faixa de
valores que contenha a rugosidade Ra obtida.
Comprimento de Comprimento de
Rugosidade Ra (µm)
amostragem L (mm) avaliação Ln (mm)
10 < Ra ≤ 80 8 40
Fonte: adaptado de ABNT (2008).
49
5 MATERIAIS E MÉTODOS
Fonte: O autor.
50
Figura 35 – Selo mecânico instalado em uma das bombas centrífugas verticais de GLP
Fonte: O autor.
Figura 36 – Luva e componentes do selo primário (selo interno) de uma das bombas de GLP
(a) (b)
Fonte: O autor.
Figura 37 – Luva montada no selo primário e demais componentes do selo secundário (selo externo) de
uma das bombas de GLP
(a) (b)
Fonte: O autor.
Figura 38 – Face rotativa em SiC (esquerda) e face estacionária em carvão com antimônio (direita) do selo
primário (selo interno)
Fonte: O autor.
52
A norma API 682, que trata dos sistemas de selagem de eixos para bombas centrífugas
e rotativas, não traz nenhuma recomendação quanto ao procedimento de recuperação de faces
de vedação de selos mecânicos, apenas quanto aos valores limite de rugosidade dos
alojamentos das vedações secundárias (elastômeros) e de desvios geométricos do selo em
relação à carcaça da bomba e eixo (concentricidade e excentricidade). A norma API 682
também preconiza o procedimento de teste de pressão do selo mecânico, a fim de atestar a sua
aprovação para uso.
Como foi visto no capítulo de revisão bibliográfica, dois fatores geométricos são
determinantes para a garantia de estanqueidade de uma face de vedação: a rugosidade e
planeza das superfícies de contato entre o par de faces de vedação. Garantindo os menores
valores destas duas grandezas, obter-se-á faces de vedação quase que perfeitamente estanques.
Neste trabalho serão analisadas a recuperação das faces de vedação em SiC e carbono
com antimônio, de selos mecânicos descritos no item 5.1, através de lapidação mecanizada e
manual.
Para a lapidação mecanizada das faces de vedação, foi utilizada uma lapidadora plana
(Figura 39), de fabricação desconhecida (plaqueta removida), acionada por motor elétrico,
temporizada, pertencente à empresa Só Vedações em Recife, Pernambuco. Esta máquina
possui um disco de lapidação metálico com diâmetro externo de 400 mm e superfície plana
(planeza geralmente inferior a 4 µm), que gira em torno do próprio eixo a uma velocidade
constante de 60 rpm.
A lapidadora plana possui três anteparos para anel dressador (anel de
acondicionamento da peça e ajuste da superfície do disco), permitindo a lapidação simultânea
de até três faces de vedação, desde que estas sejam do mesmo material. Os pesos (cargas), na
forma de discos, para colocação sobre as peças a serem lapidadas possuem massa de
aproximadamente 2,0 kg.
54
Fonte: O autor.
O selo é desmontado para posterior limpeza. Um exame visual prévio é realizado para
identificar danos e desgastes nas faces de vedação e demais componentes do selo. As
vedações secundárias (elastômeros) geralmente são descartadas.
b) Limpeza
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
O tempo médio para lapidação e polimento de faces varia de acordo com o material de
fabricação e a condição da superfície. As faces em carbeto de silício levam em média 30
minutos para se atingir um nível aceitável de planeza correspondente a 3 franjas de
interferência. Para faces em carvão, que possuem menor dureza, o tempo é consequentemente
menor, ficando em torno de 15 minutos.
e) Verificação da planeza
Fonte: O autor.
(a) (b)
Fonte: O autor.
As pastas abrasivas empregadas na lapidação das faces são a JP-15, JP-9, JP-4 e JP-1,
obtendo-se planezas aceitáveis e equivalentes a 4 ou 5 franjas de interferência.
O tempo médio gasto para lapidação de faces vedação em carbeto de tungstênio ou de
silício pode chegar a 16 horas, dependendo das dimensões da peça. Para faces em carbono o
tempo médio pode chegar a 8 horas de trabalho.
pasta abrasiva JP-15 e JP-9. Um dos discos foi utilizado para execução da lapidação das faces
de vedação na oficina da Transpetro e o segundo disco foi utilizado apenas para promover a
relapidação do primeiro após a lapidação das quatro faces de vedação do selo mecânico.
A Figura 44 exibe os dois discos de lapidação. Um dos discos foi preso numa morsa
de bancada enquanto o segundo, móvel, foi utilizado na lapidação manual de ambos.
Espalhando-se pasta abrasiva e algumas gotas de água na superfície do disco fixo, para
facilitar o deslizando do disco móvel, o operador executa movimentos circulares com o disco
móvel em torno do centro do disco fixo.
Fonte: O autor.
Todas as faces de vedação foram lapidadas inicialmente com a pasta abrasiva JP-9,
seguidas de polimento com pasta JP-4, JP-1 e/ou JP-1/4, sobre papel alcalino comercial,
tamanho A4, de 75 g/m2.
Medições de planeza e rugosidade foram realizadas, separadamente, em faces de
vedação polidas apenas com pasta abrasiva JP-1, e em faces polidas com pasta JP-1 e JP-1/4.
Abaixo são descritas as etapas para lapidação das faces de vedação em carbono e em
carbeto de silício:
a) Limpeza
Lavar bem as mãos e limpar as superfícies do disco de lapidação, das faces e base de
apoio com álcool etílico.
60
b) Lapidação
O disco de lapidação deve ficar apoiado sobre uma mesa com superfície nivelada e
rígida ou sobre um bloco de desempeno de granito (Figura 45).
Aplicar pasta abrasiva na superfície da face de vedação a ser lapidada e na superfície
do disco de lapidação. A pasta diamantada é espalhada sobre a superfície do disco com
auxílio dos dedos da mão.
Inicia-se o desbaste com pasta abrasiva de maior granulometria, JP-15 ou JP-9, de
acordo com o nível de irregularidades observadas a olho nu na superfície a ser lapidada.
Realizam-se movimentos circulares em torno do próprio eixo da peça, pressionando-se a face
de vedação contra o disco de lapidação com a mão, até se obter uma superfície regular, sem
riscos e sem áreas não desbastadas. O desbaste final é realizado com pasta JP-9 para garantir
uma melhor planeza da superfície da face de vedação.
Fonte: O autor.
c) Polimento
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
62
Para medição da planeza das faces de vedação foi utilizada uma Máquina de Medição
por Coordenadas com controle numérico computadorizado, Figura 48, modelo CRYSTA C
574, fabricação MITUTOYO, certificado de calibração 03206/13, e ponta de rubi com
diâmetro de aproximadamente 1,0 mm.
Antes da medição da planeza de cada face de vedação, o plano de referência era criado
na superfície da peça escolhendo-se 6 pontos aleatórios e aproximadamente equidistantes a
fim de definir uma origem para as medições seguintes.
Fonte: O autor.
63
Foram realizadas três medições de planeza na superfície de vedação de cada uma das
faces dos selos, tomando-se três circunferências imaginárias, sendo uma interna (próximo à
borda interna), uma intermediária e uma externa (próximo à borda externa), escolhendo-se 6
pontos aleatórios e aproximadamente equidistantes em cada uma delas, conforme ilustração
da Figura 49. As faces de vedação foram fixadas à mesa da MMC com auxílio de massa de
calafetar ou similar. As faces de vedação foram medidas em laboratório climatizado com
temperatura em 20ºC.
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
64
Fonte: O autor.
Antes de iniciar a medição da rugosidade superficial das faces de vedação dos selos
mecânicos, o rugosímetro digital era calibrado com auxílio do padrão de rugosidade, fazendo-
se os ajustes necessários (compensações, nivelamento).
Para medição da rugosidade das faces de vedação foram realizadas 12 medições
aleatórias e aproximadamente equidistantes na superfície lapidada, na direção tangencial,
conforme pode ser observado na Figura 52.
Fonte: O autor.
65
Com o objetivo de comparar o estado da superfície das faces de vedação antes e após a
lapidação mecanizada e manual, foi avaliada uma única região de cada face de vedação
através de microscopia óptica (MO) e microscopia eletrônica de varredura (MEV). Na MO foi
utilizado um microscópio óptico com luz polarizada (Figura 53) modelo BX51M, fabricação
OLYMPUS, com software analySIS versão 5.1. Na MEV foi utilizado um microscópio
eletrônico de varredura (Figura 54), modelo TM 3000, fabricação HITACHI, software TM
3000 versão 2.01.0001, equipado com detector de energia dispersiva de raio X (EDS) e
software Bruker QUANTAX 70 para identificação dos elementos químicos das faces de
vedação.
Na microscopia eletrônica, além do modo normal, foi utilizado o recurso de modo
topográfico para avaliar o relevo da superfície das faces de vedação, antes e após a lapidação.
Fonte: O autor.
66
Fonte: O autor.
67
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Tabela 2 – Resultados da medição de planeza por MMC e franjas de interferência de faces de vedação do
selo 1 lapidadas mecanicamente
Figura 55 – Fotografia das franjas de interferência na face S1F1 (a), antes da lapidação, e ampliação da
região destacada para visualização de inúmeras franjas concêntricas e delgadas (b).
(a) (b)
Fonte: O autor.
69
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
70
S2F1 RbSiC 0,47 ± 0,03 0,0396 ± 0,0031 0,33 ± 0,08 0,0854 ± 0,0032
S2F2 Carbono+Sb 9,93 ± 1,78 0,0425 ± 0,0040 2,57 ± 0,59 0,0966 ± 0,0034
S2F3 RbSiC 1,87 ± 0,12 0,0221 ± 0,0012 0,40 ± 0,15 0,0342 ± 0,0029
S2F4 Carbono+Sb 2,43 ± 0,24 0,0255 ± 0,0026 1,83 ± 0,36 0,0468 ± 0,0023
Fonte: O autor.
71
S2F1 RbSiC 0,33 ± 0,08 0,0854 ± 0,0032 0,53 ± 0,18 0,0867 ± 0,0037
S2F2 Carbono+Sb 2,57 ± 0,59 0,0966 ± 0,0034 0,83 ± 0,09 0,1118 ± 0,0055
S2F3 RbSiC 0,40 ± 0,15 0,0342 ± 0,0029 0,33 ± 0,03 0,0688 ± 0,0023
S2F4 Carbono+Sb 1,83 ± 0,36 0,0468 ± 0,0023 1,20 ± 0,15 0,0279 ± 0,0015
De acordo com os dados obtidos acima, é possível observar que após lapidação e
polimento com a pasta JP-1/4 a planeza e rugosidade melhoraram, tanto para faces de vedação
em carbeto de silício quanto para as faces em carbono impregnado com antimônio. Os valores
de planeza e rugosidade das faces S2F1 e S2F3, após relapidação com pasta JP-1/4,
mantiveram-se próximos dos valores obtidos inicialmente com a pasta JP-1, ou seja, estas
faces não precisariam ter sido relapidadas. A face S2F4 poderia ter sido lapidada novamente
com a pasta JP-1 ou JP-1/4 para se obter uma planeza inferior a 1 µm. Pode-se concluir então
que ambas as pastas abrasivas são satisfatórias na lapidação de faces de vedação e que a
utilização da pasta JP-1/4 não representa uma garantia na melhora do acabamento superficial
quando comparada à pasta JP-1.
O disco em ferro fundido nodular utilizado para lapidar 2 faces em carbono
impregnado com antimônio e 2 faces em RbSiC apresentou os valores de planeza contidos na
Tabela 5. O disco foi inicialmente lapidado com pasta JP-15 e JP-9. O resultado da medição
da rugosidade superficial na área utilizada para lapidação das faces foi de (0,2929 ±
0,0259)95% µm, após a lapidação das 4 faces.
Tabela 5 – Resultados da medição de planeza da superfície do disco de lapidação, antes e após sua
utilização
Tabela 6 – Valores médios mínimos da planeza e rugosidade superficial obtidos nos processos de
lapidação mecanizada e manual
Para auxiliar a visualização dos dados da Tabela 6, foram gerados os gráficos das
Figuras 59 e 60, que exibem os valores médios mínimos de planeza e rugosidade Ra,
respectivamente.
73
Figura 59 – Gráfico dos valores médios mínimos da planeza de faces em RbSiC e carbono impregnado
com antimônio, após lapidação mecanizada e manual
Figura 60 – Gráfico dos valores médios mínimos da rugosidade Ra de faces em RbSiC e carbono
impregnado com antimônio, após lapidação mecanizada e manual
Figura 61 – Micrografias eletrônicas de varredura em regiões diferentes de uma mesma face de RbSiC,
antes (a) e após (b) lapidação manual com pasta JP-1, com aumento de 2000X
(a) (b)
75
Tabela 7 – Resultado de medições de rugosidade Ra e planeza da superfície de uma face de RbSiC, antes e
após lapidação manual com pasta JP-1
Franjas de interferência 2 2
Figura 62 – Micrografias eletrônicas de varredura em regiões diferentes de uma mesma face de carbono
impregnado com antimônio, após lapidação manual e polimento com pasta JP-1 (a) e JP-1/4 (b), com
aumento de 2000X
(a) (b)
As imagens com ampliação de 50X da Figura 63 exibem uma região escura em cada
lateral pois trata-se de uma face com superfície de vedação mais estreita. Com o aumento de
500X é possível observar uma melhora do acabamento superficial da face após polimento
com pasta JP-1/4.
77
Figura 63 – Micrografias ópticas em regiões diferentes de uma mesma face de carbono impregnado com
antimônio, após lapidação manual e polimento com pasta JP-1 (a) e JP-1/4 (b), com aumentos de 50X
e 500X
(a) (b)
papel alcalino comercial, tamanho A4, de 75 g/m 2. As regiões claras são constituídas por
antimônio e uma pequena porcentagem de cálcio, e as regiões escuras são carbono.
Figura 64 – Micrografias eletrônicas de varredura em regiões diferentes de uma mesma face de carbono
impregnado com antimônio, antes (a) e após (b) lapidação manual com pasta JP-1, com aumento de
500X
(a) (b)
Figura 65 – Micrografias ópticas em regiões diferentes de uma mesma face de carbono impregnado com
antimônio, antes (a) e após (b) lapidação manual com pasta JP-1, com aumento de 50X
(a) (b)
79
Caso o selo mecânico precise ser substituído ou reparado, haverá uma grande
mobilização para o planejamento e execução deste serviço. Inicialmente uma equipe de
planejamento, composta por colaboradores da manutenção, operação e SMS (Segurança,
Meio Ambiente e Saúde) analisam previamente o serviço atentando para o sistema de
isolamento e bloqueio de energias (elétrica e pressão do fluido), identificando os componentes
que precisam ser desenergizados, bloqueados e/ou instalados (motor elétrico, válvulas e
“raquetes” (ou “figuras 8”) na sucção e descarga da bomba), para possibilitar a elaboração da
Análise de Risco e Permissão para Trabalho.
Após a elaboração e aprovação deste planejamento o motor elétrico é desenergizado e
as válvulas são fechadas e lacradas. Inicia-se antão a drenagem (despressurização) do GLP
confinado no interior da bomba, do poço e das tubulações entre a válvula de sucção e as
válvulas de descarga, através da abertura de uma pequena válvula para a atmosfera. Como o
GLP ao passar do estado líquido para o estado gasoso expande aproximadamente 600 vezes o
80
tempo total para a conclusão da drenagem pode chegar a 8 horas, onde a pressão do GLP é
reduzida de 12 para 1 bar (pressão atmosférica). O volume estimado de GLP na fase líquida
liberado para a atmosfera é de 1,15 m 3, o que representa aproximadamente 632 kg de GLP
perdidos durante a liberação para o meio externo, considerando uma massa específica de 550
kg/m3 para a mistura propano/butano a 20ºC (ANP, 2004). Esta quantidade de GLP deixa de
ser vendida para as companhias distribuidoras de GLP da região sempre que houver
necessidade de manutenção do selo mecânico.
Finalizada a drenagem do GLP, drena-se o fluido barreira (querosene de aviação) do
selo mecânico defeituoso, retira-se o acoplamento e a caixa de mancal de rolamentos da
bomba para, finalmente, realizar a substituição do selo mecânico. O processo inverso é
executado até o retorno da bomba à operação, totalizando 40 horas (ou uma semana) de
trabalho.
Inicia-se então um outro trabalho, tão demorado quanto o de substituição do selo
mecânico: licitação pública para recuperação do selo mecânico removido. Este trabalho
envolve diversas pessoas do setor de contratação de serviços, além do supervisor e técnico de
manutenção, podendo levar até 75 dias corridos para ser finalizado e o selo recuperado ser
devolvido. Por segurança, a Transpetro mantém então dois selos mecânicos sobressalentes em
estoque, cada um custando aproximadamente R$ 35.000,00.
Mensurar com exatidão o prejuízo total resultante da falha do selo mecânico é uma
tarefa difícil, pois envolve não só o reparo ou substituição do selo, mas também a perda de
inventário, o não faturamento durante a indisponibilidade da bomba, os prejuízos ao mercado
consumidor e à imagem da empresa devido à interrupção no fornecimento de GLP,
pagamento de multas contratuais a seus clientes, além de penalidades impostas pelos agentes
reguladores, principalmente se os selos das duas bombas falharem e se os selos sobressalentes
não tiverem sido corretamente recuperados. Neste caso extremo, pode-se recorrer à compra
emergencial de selos novos por dispensa de licitação, porém não há fornecedor local com o
modelo do selo utilizado nas bombas da Transpetro e a aquisição de um selo novo no mercado
nacional pode demorar alguns dias.
No Quadro 1 foram estimados os custos mínimos e máximos com mão-de-obra para
substituição e recuperação do selo mecânico de uma única bomba, considerando o GLP sendo
liberado para o meio ambiente durante a drenagem do sistema, gerando perda de inventário, a
recuperação do selo realizada por empresa externa e o tempo médio de trâmite de um
processo licitatório desta natureza (com base em outros já realizados).
81
Quadro 1 – Estimativa de custos para substituição e recuperação de selo mecânico para uma bomba de
GLP
Descrição Custo (R$)
Substituição do selo mecânico
Mão-de-obra (Técnicos de SMS, operação,
planejamento, manutenção, mecânico, 1.000,00 a 1.500,00
ajudante, eletricista, etc.)
GLP drenado (perdido) 1.050,00 a 1.150,00
Subtotal 2.050,00 a 2.650,00
Recuperação do selo defeituoso
Processo licitatório (HH de Supervisor,
técnico de administração e manutenção, setor 600,00 a 1.000,00
de contratação, etc.)
Recuperação em empresa externa 4.000,00 a 6.000,00
Subtotal 4.600,00 a 7.000,00
Total 6.650,00 a 9.650,00
a) Limpeza
Lavar bem as mãos e limpar as superfícies do bloco de lapidação com álcool etílico.
b) Lapidação
O disco de lapidação deve ficar apoiado sobre uma mesa com superfície nivelada e
rígida ou sobre um bloco de desempeno de granito.
Aplicar pasta abrasiva na superfície da face de vedação a ser lapidada e na superfície
do disco de lapidação. A pasta diamantada é espalhada sobre a superfície do disco com
auxílio dos dedos da mão.
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c) Polimento
d) Verificação da planeza
Medir a rugosidade superficial das faces lapidadas com auxílio de rugosímetro. Caso o
valor da rugosidade Ra esteja acima de 1 µm, deve-se repetir a etapa de polimento com pasta
JP-1/4, reavaliando a rugosidade e a planeza da face de vedação.
7 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
ABRADING METHODS. Reading flatness using an optical flat. Elgin, [2016]. Disponível
em: <www.lapping.com/faq/optical_flat_reading.pdf>. Acesso em: 22 fev 2016.
AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE. API 682: Pumps – Shaft sealing systems for
centrifugal and rotary pumps. Washington, 2014.
GRUNDFOS Management A/S. Mechanical shaft seals for pumps. Bjerringbro: Denmark,
2009.
KUTZ, M. (Ed.) et al. Mechanical Engineer’s Handbook: materials and mechanical design.
Volume 1, ThirdEdition, John Wiley& Sons, Inc. 2006.