Guias
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CÃES EM CANIS
São Paulo
2013
Guia prático para o manejo de cães em
canis
Autores:
Gina Polo, DVM, MSc
Laboratório de Epidemiologı́a e Bioestatistica, Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia, Universidade de São Paulo.
Instituto Técnico de Controle Animal- ITEC
2013
c
ISBN: 978-85-67421-00-1
Agradecimentos
Estas guias práticas foram desenvolvidas como material de apoio para a ca-
pacitação dos funcionários encarregados do manejo de cães confinados em canis. Este
material surge como resultado de um trabalho participativo com os funcionários do Cen-
tro de Controle de Zoonoses (CCZ) da cidade de Guarulhos, São Paulo. Seu conteúdo
engloba a etologia aplicada aos comportamentos problemáticos dos cães que representam
fatores geradores de dificuldades laborais. A finalidade desta guia prática é esclarecer,
orientar e incentivar a abordagem de comportamentos problemáticos identificados em cães
de abrigos, visando melhorar as interações funcionário-cão e o perfil dos cães oferecidos
em adoção à comunidade. Também provê informação básica para o manejo seguro dos
animais com elementos de enriquecimento ambiental que incluem mudanças ambientais,
obediência básica e uma metodologia para agrupar cães para diminuir os possı́veis efeitos
deletérios que o ambiente do canil pode ter no desenvolvimento da agressividade. Espera-
se que o Manual permita a inclusão de boas práticas de manejo na rotina diária dos canis
públicos e privados no Brasil e outros paı́ses com realidade semelhante ou parecida, e
auxilie na prevenção das possı́veis implicações que os comportamentos problemáticos têm
na saúde dos funcionários, no bem-estar dos animais e na reintrodução dos animais na
sociedade.
5
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 7
2.1 Fı́sicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.1.1 Alojamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.1.2 Brinquedos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2 Ocupacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.3 Nutricionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.4 Sensoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.4.4 Ferormônios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.5 Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.6.1 Conceitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.6.2 Passos para aplicar obediência básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
ANEXO 27
REFERÊNCIAS 32
7
1 INTRODUÇÃO
(Calderón, 2009). Alguns dos objetivos do enriquecimento ambiental são (Young, 2003;
Ellis, 2009; Calderón 2009):
1. Incrementar o bem estar dos animais confinados
2. Proporcionar um entorno estimulante
3. Incrementar a diversidade de comportamentos
4. Diminuir a frequência de comportamentos anormais
5. Incrementar o número de padrões normais de comportamento
6. Incrementar o uso positivo do ambiente
7. Incrementar a habilidade de adaptação às mudanças de forma natural
3. Riscos infecciosos inexistentes ou mı́nimos: evitar que animais com doenças infec-
ciosas ou suas secreções ou objetos usados por estes sejam compartilhados com animais
sadios ou tenham contato com os enriquecedores de outros animais.
4. Facilidade para higienizar: é ideal usar objetos descartáveis ou que possam ser fa-
cilmente limpos, lavados e desinfetados.
10
2.1 Fı́sicos
2.1.1 Alojamento
Figura 2.1 - Tipos de alojamento: a)local para tomar o sol, b) abrigos e c) camas
2.1.2 Brinquedos
Brinquedos tais como bolas, caixas de papelão, cocos, etc., são ideais para aque-
les animais que são mantidos individualmente (Figura 2.2). Em canis coletivos o uso de
brinquedos pode provocar brigas e por isso não são recomendados. São muitos os ob-
jetos que podem funcionar como brinquedos, o importante é terem as caracterı́sticas de
segurança e ser supervisionada a interação do animal com o brinquedo (Young, 2003;
Calderón, 2009).
2.2 Ocupacionais
2.3 Nutricionais
2.4 Sensoriais
Figura 2.4 - Dispensadores de comida feitos com a)garrafas, b) rolos de papelão e c) cocos
O descobrimento dos efeitos positivos que os cheiros podem ter nas pessoas in-
centivou o estudo dos efeitos que os cheiros podem ter nos animais de estimação, mais
ainda pelas suas capacidades olfativas. Em cães, recomenda-se o uso da lavanda e da
camomila pelo seu efeito calmante e relaxante que também pode diminuir as vocalizações
(Graham 2005; Ellis, 2010). Nos gatos pode-se usar tanto a lavanda quanto a erva gatera
(Nepeta cataria) como um tipo de enriquecimento olfatório (Ellis, 2010).
2.4.4 Ferormônios
2.5 Sociais
Figura 2.6 - a) Cão e b) gato manifestando medo aos humanos, devido à ausência de
contato com pessoas durante o perı́odo de socialização
Sessões de brincadeira
Manipulação
Todas as áreas do corpo dos filhotes têm que ser manipuladas para que futura-
mente seja fácil o seu manejo (Seksel, 199; Crowell, 2008). Se o filhote se torna agressivo
ou medroso, a manipulação tem que terminar e começar de novo, de forma mais gradual
e suave (Calderón, 2009).
Obediência
2.6.1 Conceitos
Para que os reforços positivos sejam efetivos, têm que ser apresentados ime-
diatamente após o comportamento que se quer modificar se manifestar, caso contrario
podem-se reforçar inadvertidamente outros comportamentos. Inicialmente o reforço po-
sitivo deve ser apresentado cada vez que ocorre o comportamento e, quando este começa
a aumentar em frequência, pode ser reforçado seletiva e aleatoriamente (Lindsay, 2000;
Yin, 2007).
Reforço negativo
Castigo positivo
Figura 2.8 - Pit Bull caminhando ao lado do funcionário, sem puxar da guia
Por exemplo, se cada vez que um cão latir, receber um choque elétrico por meio de uma
coleira especı́fica para tal finalidade, a probabilidade de que o cão continue latindo vai di-
minuir. No entanto este tipo de castigo pode ocasionar outras alterações comportamentais
indesejáveis.
Castigo negativo
Figura 2.10 - Cadelas com a) agressividade por medo e b) medo devido a um mal manejo
O ensino de cada comando é feito por passos. Só quando o cão tiver aprendido
um determinado passo pode-se continuar com o seguinte passo. As sessões de ensino de-
verão ser feitas em locais com a menor distração possı́vel e devem ser curtas para que o
cão não perca o interesse.
Vem
1. Pronunciar o nome do cão e quando este atender, estender o braço mantendo um
petisco com a mão fechada.
2. Quando o cão estiver se aproximando dizer “vem” antes que o cão chegue (Figura
2.11a).
3. Quando o cão estiver perto dizer “muito bem” e imediatamente oferecer ao cão um
petisco (Figura 2.11b).
Habituação à guia
1. Oferecer comida passando a mão por entre a guia sem que esta tenha contato com o
cão (Figura 2.11a).
2. No momento em que o cão receba o petisco sem manifestar medo, aproximar a guia
ao cão. Repetir progressivamente este passo até conseguir pôr a guia (não continuar a
aproximação se o cão manifestar medo) (Figuras 2.11a,b e c).
22
3. Depois de pôr a guia, deixar o cão solto com a guia pendurada. Praticar o comando
“vem” até que o cão atue com naturalidade com a guia pendurada (Figura 2.11e).
4. Caminhar com o cão levando-lo pela guia mas indo onde ele quiser. Progressivamente
direcionar o sentido da caminhada durante um ou dois segundos e deixar novamente que
o cão caminhe para onde quiser (sem soltar a guia). Aumentar progressivamente o tempo
das caminhadas guiadas.
É importante o adequado uso da cordinha para não machucar os cães. A figura 2.12
demonstra como deve ser usada para levar o cão pelo lado direito.
Uso do cabresto
O cabresto é um instrumento que ajuda no manejo de cães que puxam excessivamente da
guia ou que são difı́ceis de controlar.
1. Depois de conseguir a habituação à guia, colocar o cabresto (Figura 2.12).
2. Imediatamente à colocação do cabresto dar um petisco e tirar a parte que passa
pelo nariz. Repetir este passo aumentando progressivamente o tempo de permanecia da
parte que passa pelo nariz, mas apenas se o cão permanecer calmo. Continuar com o
oferecimento do petisco incentivando o deslocamento progressivo do cão até conseguir
que caminhe normalmente. Se o cão responde descontroladamente, não falar para tentar
sossegá-lo, pelo contrario, ignorar os comportamentos descontrolados e reforçar positiva
e consistentemente os comportamentos calmos.
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Figura 2.13 - Passos para realizar o cabresto: a)Enforcador na direção correta para levar
o cão de nosso lado direito, b)fazer uma orelha com a parte livre da corda, c) passar esta
orelha pelo mesmo buraco do colar enforcador, d) estender a orelha, e) passar a parte
livre da corda por acima e logo por baixo do focinho, f) Ajustar suavemente o cabresto
Senta:
1. Mantendo o petisco com a mão fechada em frente e perto do nariz do cão, passar a
mão sobre a cabeça de cão, em direção à cauda. A tendência do cão é seguir a trajetória
da mão e sentar-se (Figura 2.14a).
2. Quando o cão esta se sentando, dizer “senta” (Figura 2.14b).
3. Quando o cão se sentar, dizer “muito bem” imediatamente, e oferecer petiscos (Figura
2.14c).
Deita:
1.Partindo do sentado (Figura 2.14c), mostrar um petisco frente do nariz do cão e depois
leva-lo até o chão (Figura 2.15a).
2. Quando o cão esta se deitando dizer “deita” dirigindo o dedo ı́ndice para o chão (Figura
2.15b).
3. No momento em que o cão deita-se dizer “muito bem” imediatamente e oferecer petis-
cos.
Fica:
1. Partindo do comando senta (ou deita), dizer “fica” mostrando para ao cão a palma da
mão (Foto 50 e 51).
2. Se o cão permanece na posição do comando após um segundo, dizer “fica” e oferecer
petiscos.
25
3. Aumentar progressivamente o tempo desde o “fica” até ao “muito bem”, mas apenas
quando o cão permanecer sem mudar de posição.
Solta o brinquedo:
1.Nas sessões de brincadeira com a bola (ou outro brinquedo), mostrar para o cão um
petisco no momento que estiver se aproximando (Foto 52). No lugar do petisco pode ser
usado outro brinquedo.
2. No momento que o cão solta a bola, dizer “solta” e imediatamente oferecer petiscos ou
outro brinquedo (Foto 53)
26
As duplas encontram-se pela primeira vez num local aberto onde identificam-
se três pontos (áreas verdes) que formam um triangulo imaginário com a medida de
10m × 10m × 14m. As duas duplas passam pelos três pontos duas vezes, uma seguindo
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a outra, mantendo a distancia entre os pontos e permitindo que os cães cheirem, urinem
e defequem. A dupla B começa na frente e quando passa pelos três pontos, distancia-se
do triangulo (≥ 5m) para que a dupla A complete o passo pelo ponto três e fique na
frente na segunda vez que as duplas passarem pelos três pontos. O cão da dupla que vai
atrás sempre tem a oportunidade de cheirar os excretas que deixa o cão da frente. Após
terminar esta fase, as duplas caminham até o local da fase dois, mantendo uma distancia
mı́nima de cinco metros entre elas.
Passo um
Passo dois
Passo três
Passo quatro
Passo cinco
As duplas caminham uma do lado da outra desde o ponto A até o local da fase 3.
Num local fechado de 12m x 2m, cada dupla localiza-se num estremo. Quando
a pessoa A der o sinal, os cães são soltos e as pessoas permanecem em pé, calmas e sem
falar. A interação termina depois de cinco minutos sem manifestações de agressividade;
caso ocorram brigas, seguir as duas tentativas descritas abaixo para a separação de brigas.
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Prevenção de brigas
Se os cães começarem a brigar, uma das pessoas tenta desviar a atenção dos
cães com o som da porta, porém, se isto não é suficiente, a outra pessoa põe a metade de
uma caixa de transporte entres os cães. Se depois disto algum dos cães tenta continuar
a briga, empurrar com a caixa de transporte o cão que esteja mais perto de uma porta
para deixá-lo do outro lado desta.
Se os cães estão se mordendo e não se soltam, jogar água fria e voltar à primeira
tentativa.
se os cães não se soltaram com a água, uma alternativa que pode ser mais efetiva,
mas mais perigosa, é a seguinte: cada pessoa encarrega-se de um cão para colocar rápida
e cuidadosamente um enforcador e puxar este (sem puxar o cão por que isto aumenta a
gravidade das lesões) continuamente até que os cães se soltem. Se algum dos cães não
estiver mordendo, não puxar o enforcador. Quando conseguir separar os cães, oferecer o
atendimento veterinário pertinente.
Interação entre mais de dois cães: após formação de todos os pares possı́veis
entre os cães que farão parte do grupo, manter um par no local e introduzir mais um
cão, após cinco minutos de interação sem manifestações de agressividade entre os cães
que ficam no local. O cão entra quando os cães já presentes estejam longe da porta de
entrada. Isto se repete até completar o grupo.
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Após completar o grupo, os cães são levados conjuntamente ao canil onde ficarão;
devem ser supervisionados por cinco minutos. Se acontecerem brigas, o principal objetivo
é dissolver o grupo rapidamente e aplicar as tentativas primeira, segunda e terceira acima
mencionadas para separação de brigas, conforme necessidade.
32
REFERÊNCIAS
.
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