Cancro Da Mama em Angola Caracterização Clínico-Patológica e Recursos Necessários para A Definição e Concretização de Um Programa de Ação
Cancro Da Mama em Angola Caracterização Clínico-Patológica e Recursos Necessários para A Definição e Concretização de Um Programa de Ação
III
IV
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Lúcio Lara Santos meu orientador, por ter acreditado, por me ter incentivado,
orientado e estar presente nos momentos de dúvida e desânimo, o que tornou possível o
presente trabalho.
Ao Dr. Fernando Miguel, Diretor do Instituto Angolano de Controlo do Câncer, por ter
tornado possível o desenrolar de grande parte do estudo realizado nesta dissertação.
A todos os doentes, fonte da minha motivação e razão de ser de todo o trabalho médico
científico, que em algum momento tive o privilégio de poder cruzar e ajudar com algum
conhecimento e bom senso.
Ao Dr. Eduardo Ferreira e à sua equipa pelo esforço que dedicou à caracterização fenotípica
das neoplasias malignas da mama estudadas.
À Anabela Mota e Cristina Santos pela ajuda que deram para que este documento visse a
luz do dia.
E por último.
V
VI
LISTA DE PUBLICAÇÕES NO DOUTORAMENTO
Lygia Vieira Lopes, Fernando Miguel, Helga Freitas, António Tavares, Salvador Pangui,
Clara Castro, Gonçalo Forjaz Lacerda, Adhemar Longatto-Filho, Elisabete Weiderpass e
Lúcio Lara Santos. Stage at presentation of breast cancer in Luanda, Angola – a
retrospective study. BMC Health Serv Res. 2015; 15: 471.
Lygia Vieira Lopes, Ana Vaz da Conceição, João Blasques Oliveira, Clarinha Domingos,
Lúcio Lara Santos. Cancer in Angola, resources and strategy for its control. Pan Afr Med J.
2012; 12: 13.
Fernando Miguel, Ana Vaz da Conceição, Lygia Vieira Lopes, Dora Bernardo, Fernando
Monteiro, Fernanda Bessa, Cristina Santos, João Blasques Oliveira, Lúcio Lara Santos.
Establishing of cancer units in low or middle income African countries: Angolan experience –
a preliminary report. Pan Afr Med J. 2014 Nov 17; 19: 291.
Ana Vaz da Conceição, Dora Bernardo, Lygia Vieira Lopes, Fernando Miguel, Fernanda
Bessa, Fernando Monteiro, Cristina Santos, João Blasques Oliveira, Lúcio Lara Santos.
Oncology pharmacy units: a safety policy for handling hazardous drugs and related waste in
low- and middle-income African countries – Angolan experience. ecancer 2015, 9: 575.
Nota: Os Serviços editoriais das revistas autorizaram as publicações dos artigos na presente tese.
VII
VIII
ABREVIATURAS, SIGLAS E SINAIS
IX
X
RESUMO
XI
adequado em todas as fases da doença; e a criação de uma Unidade de Oncologia na
Clínica Sagrada Esperança, como forma de afirmação do conceito de tratamento adequado
da doença. A integração das iniciativas anteriores resultou numa proposta de ação
abrangente para controlo do cancro da mama em Angola. Neste programa é reforçada a
metodologia adequada para a realização do diagnóstico precoce, procede-se à definição de
tratamento adequado e é apresentada a organização dos serviços de saúde de suporte ao
programa.
XII
capacidades de diagnóstico; a consulta multidisciplinar de decisão terapêutica; o plano de
tratamento de acordo com o estádio da doença; o seguimento e cuidados paliativos.
XIII
ABSTRACT
Background: Breast cancer is the most prevalent malignancy in women in Africa and
although the incidence of this disease is lower than in developed countries, mortality rates
are higher in the African population. In Angola, Globocan estimates that breast cancer is the
second most frequent cancer in women, with an age-standardised incidence of 23.5/100.000
and mortality rates of 11.7/100.000 inhabitants. The country does not have a population
based cancer registry, consequently, the official data available result from hospital-based
registration performed by tertiary healthcare institutions in the provinces of Luanda and
Huambo, namely, the Angolan Institute for Cancer Control (IACC), Girassol Clinic (CG), the
Sagrada Esperança Clinic (CSE) and Huambo Hospital. However, this methodology does not
allow to know the real dimensions of breast cancer in Angola.
The fact that the Angolan population (25,789,024 inhabitants) is mostly young ((0-24 years-
old; 65,6%) and the burden of Infectious diseases (HIV, tuberculosis, malaria) and perinatal
conditions is significant, has contributed to delay the investments, to be performed by the
government, on infrastructures and a cancer control policy. Research performed on this
subject is also scarce. Nevertheless, with an increasing life expectancy (recently estimated at
63 years-old for women), non-communicable and chronic diseases such as cancer and
particularly breast cancer, are increasing and stressing the current Angolan healthcare
system, since it is not prepared to give an adequate response to this public health problem.
XIV
Angola. In this program, the appropriate methodology to perform early diagnosis is
underlined, guidelines for appropriate treatment are enunciated and an overall organization
of subsidiary healthcare services to support this program, is presented.
Results: The median age of the sample is 47 years (minimum 25 and maximum 89 years).
The main clinical manifestations included breast swelling, nipple retraction, edema, and skin
ulceration and axillary lymphadenopathy. Stage III was the most prevalent. Ductal carcinoma
was the predominant histologic type (81.8%).
In the series where it was possible to study the tumour (N = 139) using immunohistochemical
techniques, the following was verified: the median age of the sample is 48.5 years (29-84
years); invasive ductal carcinoma was the most common type (98.2%), grade 2 (moderately
differentiated) was prevalent (79.3%). Tumours (75.8%) were mostly advanced (stage III and
IV). In 74 (53.2%) cases, hormone receptors were positive - estrogenic receptor positive in
55 (39.6%) cases and progesterone receptor positive in 61 (43.9%) cases. In some cases
the immunoreactivity occurred only in one type of hormone receptor. It was also observed
HER2 amplification in 31 cases (22.3%) and in 16 (11.5%) cases the immunoreactivity with
2+ HER2 was determined, requiring confirmation by hybridization or SISH. 37 (26.6%) cases
where triple negative breast tumours.
During this study, 21.9% of the 178 studied cases presented fixing problems, which
prevented immunohistochemical studies in those cases.
Regarding the necessary resources, a second oncology centre for the treatment of cancer in
the centre and south of the country, possibly in Huambo, is needed, as the first phase of
generalization of cancer care in the country. The profile of oncology units, pharmaceutical
facilities suitable for the preparation of cytotoxic drugs and facilities for disposal of hazardous
waste, was determined.
Based on the obtained data, a comprehensive program including population-based cancer
registry, primary and secondary prevention, development of the necessary facilities, training
of the multidisciplinary team, improved diagnostic capabilities, multidisciplinary consultation
therapeutic decision, treatment plan according to the stage of the disease, follow-up and
palliative care, was created.
Conclusions: This study shows that breast cancer in Angola, is diagnosed in advance
stages and the molecular subtypes of breast cancer are aggressive. Knowledge about the
disease is meagre, and awareness campaigns could play an important role encouraging
early diagnosis. Additionally, there is a lack of competent diagnostic resources such as
diagnostic imaging and pathology and oncology dedicated infrastructures should be created
XV
in the centre and south of the country. Investment in specific training of multidisciplinary
teams for diagnosis and treatment of breast cancer is important and should be included in a
comprehensive program to fight breast cancer. This program should address primary
prevention, behaviour change education, awareness campaigns, early diagnosis, proper
treatment of breast cancer patients and palliative care. The organization of a population-
based cancer registry is crucial to strategically and effectively control the disease.
XVI
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ...................................................................................................... V
LISTA DE PUBLICAÇÕES NO DOUTORAMENTO ...................................................... VII
ABREVIATURAS, SIGLAS E SINAIS ............................................................................. IX
RESUMO ........................................................................................................................ XI
ABSTRACT ................................................................................................................. XIV
ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................ XVIII
ÍNDICES DE TABELAS ................................................................................................ XX
Capítulo 1 ........................................................................................................................... 1
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
2. ANGOLA ...................................................................................................................... 3
2.1. Caracterização do País .................................................................................... 3
2.1.1.Caracterização Sociodemográfica da População Angolana ...................... 5
2.1.2.Aspetos sociais ........................................................................................ 10
3. SAÚDE NA AFRICA SUBSARIANA .......................................................................... 16
3.1.Saúde em Angola ............................................................................................ 18
4. CANCRO DA MAMA .................................................................................................. 19
4.1. Cancro da mama em Angola .......................................................................... 23
Capítulo 2 ......................................................................................................................... 27
Capítulo 2 ......................................................................................................................... 39
Capítulo 3 ......................................................................................................................... 45
Capítulo 4 ......................................................................................................................... 55
Capítulo 5 ......................................................................................................................... 67
Capítulo 6 ......................................................................................................................... 83
Capítulo 7 ......................................................................................................................... 95
Capítulo 9 ....................................................................................................................... 117
XVII
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 11. Proporção da população com 18 ou mais anos por grupos etários, segundo o
Figura 13. Proporção da população com 5-18 anos fora do sistema de ensino, segundo
XVIII
Figura 24. Idades dos doentes oncológicos registados na CSE entre Setembro de 2012 e
Figura 31. Atores importantes na Intervenção a Nível da Comunidade (Nível I). ............... 103
Figura 32. Instituições e Quadros dos Serviços de Saúde a mobilizar para o Programa de
Formação. ............................................................................................................................104
XIX
ÍNDICES DE TABELAS
Tabela 3. População com 15 ou mais anos que sabe ler e escrever por área de residência
...............................................................................................................................................11
Tabela 4. População residente empregada com 15 ou mais anos de idade por ocupação
XX
Capítulo 1
Introdução
1
2
1. INTRODUÇÃO
Eladia Blazquez
A saúde é um dos principais ativos para as populações bem como para as pessoas
individualmente. A sua conquista implica conhecimento, investimento, educação e
organização. Angola tem-se confrontado com momentos muito difíceis, mas também tem
vivido episódios de grande crescimento e desenvolvimento. Nesta trajetória para a
maturidade, novos problemas emergem entre os quais as doenças oncológicas. A resolução
de problemas é um passo importante e fundamental para o desenvolvimento. Porém, a
estratégia mais adequada, o método mais eficaz, os recursos necessários e as barreiras a
ultrapassar são de início desconhecidos. O estudo dos problemas permite encontrar
respostas eficazes. Nessa tarefa o ditado popular angolano “se queres ir rápido vai sozinho
mas se queres ir longe vai com os outros”, tem elevada pertinência.
2. ANGOLA
3
Figura 1. Localização geográfica de Angola.
4
A atividade industrial é ainda incipiente. Neste domínio, a transformação de oleaginosas,
cereais, algodão, tabaco, a produção de açúcar, produtos alimentares, cimento e de
fertilizantes são dominantes. O PIB de Angola, em 2015, foi de 133,7 milhões de dólares,
com um défice orçamental de 7,6% (3).
Porém, as estimativas do governo de Angola apontam para que o crescimento económico
em 2016 desacelere, refletindo o abrandamento do crescimento do sector não-petrolífero,
por motivos financeiros, associado a uma contração da atividade petrolífera, dada a situação
internacional do sector (4).
As perspetivas económicas para 2016/17 não são de estabilidade, o que terá provavelmente
impacto em todas as áreas da vida da população, incluindo a saúde, obrigando a um
exercício inteligente, adequado e cuidadoso do orçamento da saúde.
5
Figura 4. Distribuição da população em Angola (1).
6
Tabela 1. População de Angola por género e província (1)
Estamos perante uma população muito jovem, em que 47,3% tem idades compreendidas
entre os 0 e os 14 anos e apenas 2,4% tem 65 anos ou mais (1). A idade média da
população é de 20,6 anos sendo que, no género feminino esta é de 21 anos.
7
Figura 5. Pirâmide etária da população de Angola em 2014 (1).
8
Figura 6. Distribuição da população com mais de 65 anos em Angola (1).
O índice de envelhecimento foi definido pelo INEA como o quociente entre a população com
65 ou mais anos e a população com idades entre os 0-14 anos. As províncias de Cabinda,
Luanda e Bié apresentam os menores índices de envelhecimento do país e as províncias do
Cunene e Bengo são aquelas que detêm o maior índice de envelhecimento.
9
2.1.2. Aspetos sociais
10
As mulheres em idade reprodutiva, dos 15 aos 49 anos, constituem 44% do universo
feminino e apresentam uma taxa de fecundidade elevada, estimada atualmente em 5,5
nascimentos por mulher (Figura 10).
Em Angola, a língua portuguesa é a língua oficial e é falada por 71% da população do país,
sendo a língua mais falada nas áreas urbanas. Contudo, apenas 49% da população rural
utiliza esta língua como língua veicular. Sucedem-lhe o Umbundu, falada por 23% da
população angolana, o Kimbumdu e o Kikongo que são utilizadas por 8% da população,
respetivamente. Existem ainda 5 outras línguas nacionais. A taxa de alfabetização tem vindo
a aumentar sendo este aumento mais acentuado nas áreas urbanas. Em 2009 a taxa de
alfabetização na área urbana era de 77,5% e 56,3% na área rural (5). No entanto, os dados
do censo de 2014 revelaram uma realidade mais preocupante (1).
Tabela 3. População com 15 ou mais anos que sabe ler e escrever por área de residência (1)
Os dados de analfabetismo referentes ao género são impressivos, 80% nos homens e 53%
nas mulheres. As províncias do Bié, Moxico e Malanje têm as taxas de alfabetismo mais
baixas do país.
11
Nos dados publicados pelo INEA referentes ao Censo de 2014, a taxa da população com 18
ou mais anos que concluiu o II ciclo do ensino secundário era de apenas 13% (1).
Figura 11. Proporção da população com 18 ou mais anos por grupos etários, segundo o nível de
escolaridade concluído (1).
A taxa de frequência escolar líquida é estimada em 76% a nível nacional. De acordo com o
Relatório Anual de Estatística de 2012 da OMS as raparigas entram na escola com idade
correta (55%) e em maior percentagem do que os rapazes (49%), o que contribui para uma
incidência maior de escolaridade primária entre as meninas. No entanto, de acordo com o
relatório recentemente publicado pelo INEA a taxa de escolaridade é ligeiramente mais
elevada no género masculino (Figura 12) (1).
12
A taxa de abandono escolar é mais elevada no género feminino e está associada às
atividades domésticas e à gravidez.
Figura 13. Proporção da população com 5-18 anos fora do sistema de ensino, segundo grupos de
idade e sexo, 2014 (1).
Dado que é crescente o número de mulheres jovens na sociedade que sabem ler e
escrever, a utilidade de instrumentos como folhetos, brochuras ou livros para a educação
sanitária e mudança dos comportamentos são indubitavelmente úteis. Todavia, a
escolaridade da população com maior risco de cancro da mama é baixa. Assim,
instrumentos de educação audiovisuais serão determinantes nas áreas rurais e deverão,
sempre que possível, utilizar também a língua nacional local. Em Angola, 37,5% da
população utiliza telemóvel, 10,2% internet e apenas 9,9% tem computador. A Rádio
Nacional de Angola (RNA) é a maior empresa rádio difusora do país. Com 18 canais em
todo território, conta com transmissões em diversas línguas nacionais. A informação
veiculada nas línguas nacionais é muito importante em Angola como já referimos. É através
do boletim informativo da Televisão Pública de Angola (TPA), em português ou em línguas
nacionais, que muitas pessoas acedem à informação. Estes dois meios de comunicação,
bem como as outras estações de rádio e televisão, serão fundamentais na educação das
populações e mudança de comportamentos.
Aproximadamente, 37% dos angolanos vive abaixo da linha da pobreza, isto é, com menos
de 4.793 Kwanzas por mês (7). Esta incidência, comparada entre o meio urbano e rural,
revela uma diferença significativa, estando a população pobre concentrada maioritariamente
no meio rural e região suburbana. Em 2014, o número de desempregados abrangia
1.739.946 indivíduos, o que corresponde a uma taxa de desemprego a nível nacional de
24%. A taxa de desemprego atinge sobretudo a população jovem entre os 15-24 anos.
As dificuldades económicas afastam estas populações de ações de saúde dado ser
frequente terem de ponderar entre a procura de proventos de forma ativa ou a adesão a
atividades para a saúde.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país é de 0,403; o índice de Gini (que indica
a desigualdade) relativo à distribuição de receitas é de 0,55 no meio urbano e de 0,50 no
meio rural, enquanto o mesmo relativo à distribuição das despesas é de 0,39 no meio
urbano e de 0,38 no meio rural. No entanto, a expectativa de vida da população, tem vindo a
aumentar. Esta, segundo o INEA, é de 60,2 anos. Para os homens a esperança de vida é
57,5 anos e de 63,0 anos para as mulheres (Figura 14).
14
Figura 14. Evolução da esperança de vida ao nascer em Angola.
Tabela 4. População residente empregada com 15 ou mais anos de idade por ocupação principal,
segundo o grupo de idade e sexo (1).
15
3. SAÚDE NA AFRICA SUBSARIANA
16
representam grande parte das patologias que têm efeito incapacitante em África e
consomem grande parte dos recursos disponíveis.
As mulheres Africanas têm maior probabilidade de morrerem de doenças transmissíveis
(VIH, tuberculose e malária), de patologias maternas e perinatais e de deficiências
nutricionais, do que as mulheres de outras regiões do mundo.
No entanto, existem cada vez mais idosos. Estimativas referiam que seriam cerca de 43
milhões em 2010 e prevê-se que o número de pessoas com 60 anos de idade ou mais na
África Subsariana alcance os 67 milhões em 2025 e 163 milhões em 2050 (8).
Os sistemas de saúde de grande parte dos países africanos não estão preparados para dar
resposta às necessidades das populações em rápido envelhecimento. O número de casos
de doenças não transmissíveis e crónicas está a aumentar, entre as quais as doenças
oncológicas, alterando o perfil nosológico. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima
que as mortes por doenças não transmissíveis deverão aumentar 17% a nível mundial
durante os próximos 10 anos e em África o aumento será de 27%, isto é, mais 28 milhões
de mortes causadas por estas doenças que, até 2030, deverão exceder o número de mortes
devidas às doenças transmissíveis, maternas, perinatais e nutricionais combinadas. A maior
parte dos países não só não desenvolveu estruturas físicas com recursos adequados para
enfrentar as alterações nosológicas descritas, como o número de quadros de saúde com o
conhecimento e a experiência necessárias, é diminuto.
O cancro está a aumentar em África, especialmente entre as mulheres, que têm as taxas
mais elevadas de cancro do colo do útero de todo o mundo. As principais causas do cancro
em África são os agentes infeciosos (papiloma vírus humano, Shistosoma haematobium,
vírus da hepatite B e C, vírus Epstein Barr, Helicobacter pilory e vírus da imunodeficiência
humana), o aumento do consumo de álcool e de tabaco, dietas não saudáveis, inatividade
física, o envelhecimento e a poluição ambiental. As neoplasias malignas associadas a
microrganismos incluem os carcinomas do colo do útero, do fígado e do estômago, o
sarcoma de Kaposi e o linfoma de Burkitt. Os cancros mais comuns entre as mulheres são o
cancro do colo do útero, mama, estômago, pulmões e colo-retal. Em relação ao cancro da
mama, as taxas de incidência revelam acentuadas desigualdades entre os países ricos e
pobres. Embora a incidência seja mais elevada nas regiões desenvolvidas, as taxas de
mortalidade são mais elevadas nos países menos desenvolvidos, devido ao diagnóstico
tardio e à inexistência ou mau acesso às unidades de tratamento oncológico (9).
17
3.1.Saúde em Angola
O Sistema Nacional de Saúde tem problemas estruturais que foram claramente enunciados
pelo Ministério de Saúde de Angola e planeadas ações no PNDS no sentido de os
ultrapassar (6). Os mais relevantes são:
18
O desenvolvimento de um programa contra o cancro da mama deve ter em conta o cenário
descrito.
4. CANCRO DA MAMA
Figura 16. Taxa de incidência do cancro da mama (População Mundial). Fonte: Globocan 2015 (10)
19
mama, obesidade, mutações dos genes BRCA1 e 2 e alcoolismo. A incidência desta doença
tem aumentado ligeiramente em todo o mundo. A mortalidade por cancro da mama é baixa
nos países desenvolvidos e o cancro da mama tem um bom prognóstico. A mortalidade tem
diminuído devido ao impacto do rastreio que permite o diagnóstico de carcinomas em
estádios precoces e um tratamento eficaz (11).
Figura 17. Taxa de mortalidade de cancro da mama (População Mundial). Fonte: Globocan 2015 (10)
Como já foi referido o incremento de casos de cancro em África está a preocupar a OMS,
uma vez que a doença apresenta taxas de mortalidade mais elevadas do que a malária e o
VIH, conjuntamente. O quadro dominante é caracterizado pela ausência de políticas,
estratégias e programas de luta contra o cancro do colo do útero, da mama e da próstata,
insuficiência de dados, insuficiência ou inexistência de informação e de competências,
meios terapêuticos inacessíveis e cuidados paliativos negligenciados e insuficiência na
colaboração e coordenação das intervenções realizadas. Em 2012 foi publicado um
documento exaustivo denominado: Intervenções essenciais de prevenção e controlo para a
redução da incidência do cancro na região africana da OMS. Um ano mais tarde teve lugar
em Brazzaville, República do Congo a sexagésima terceira sessão do Comité Africano da
OMS. O objetivo desta reunião era partilhar informações, conhecimentos especializados e
melhores práticas sobre o desenvolvimento de capacidades para a prevenção e luta contra
o cancro e explorar a possibilidade de criar uma rede de unidades especializadas na Região
Africana, tendo sido publicado um novo documento intitulado: Manual de investigação do
cancro em África. Todavia, pouco foi realizado de forma coordenada desde então, sendo o
conhecimento real da dimensão do problema, limitado. Por este motivo os dados existentes
decorrem, essencialmente, de estimativas. Segundo o Globocan (2015), estima-se que
20
ocorreram em 2015 cerca de 144.878 novos casos de cancro da mama e que tenham
morrido por esta doença 68.214 mulheres em África (10).
Figura 18. Taxa de incidência de cancro da mama em mulheres em África. Fonte: Globocan 2015 (10)
Figura 19. Taxa de mortalidade por cancro da mama em África. Fonte: Globocan 2015 (10)
21
Figura 20. Taxa de prevalência de cancro da mama em África. Fonte: Globocan 2015 (10)
22
4.1. Cancro da mama em Angola
Masculino Feminino
Localização % VIH
Nº % Nº %
Cavidade oral 35 4,7 20 2,5 93
Nasofaringe 4 0,5 6 0,7 70
Outros: faringe 15 2,0 11 1,4 77
Esófago 32 4,3 3 0,4 77
Estômago 71 9,5 41 5,1 85
Colon/Reto 22 3,0 15 1,9 86
Fígado 42 5,6 17 2,1 61
Pâncreas 9 1,2 1 0,1 90
Laringe 19 2,6 4 0,5 74
Pulmão 30 4,0 9 1,1 67
Melanoma 15 2,0 17 2,1 100
Outros: pele 76 10,2 66 8,2 97
Sarcoma de Kaposi 37 5,0 6 0,7 100
Mama 3 0,4 126 15,6 82
Colo do útero 188 23,3 87
Corpo do útero 25 3,1 88
Ovário 34 4,2 76
Próstata 30 4,0 93
Testículo 5 0,7 80
Bexiga 28 3,8 9 1,1 89
Rim 8 1,1 12 1,5 90
Cérebro, SNC 3 0,4 4 0,5 57
Tiróide 7 0,9 16 2,0 96
Linfoma não Hodgkin 51 6,9 36 4,5 98
Doença de Hodgkin 12 1,6 1 0,1 100
Mieloma 2 0,3 0 0,0 100
Leucemia 12 1,6 9 1,1 100
Total 744 100,0 808 100,0 86
Total excl. outros pele 668 742
Adaptado do Relatório Anual, Centro Nacional de Cancro. Registo Nacional de Cancro, 1990 (13).
23
Um estudo mais recente realizado no IACC, que incluiu os doentes admitidos no período
entre 2007 e 2011, revelou que o tumor maligno diagnosticado com maior frequência
naquele hospital, no género feminino, foi o cancro da mama, seguido pelo tumor do colo do
útero. A mediana de idade foi de 46,7 anos e 32,7% dos doentes diagnosticados com tumor
da mama tinham menos de 40 anos (14). Tendo em conta que a esperança de vida para as
mulheres em Angola era nessa altura de 57,2 anos, um grande número de cancros foi
diagnosticado numa população jovem e apenas uma pequena parte da população estudada
tinha mais de 50 anos. Este estudo realça a necessidade de um programa dedicado ao
cancro da mama. Outro aspeto importante referido foi o facto de que no momento do
diagnóstico, em 60,9% das doentes a doença encontrava-se no estádio III e 8,6% no estado
IV, o que indicia que não existem programas de diagnóstico precoce e a taxa de mortalidade
por cancro da mama pode ser elevada em Angola.
Qual será o grau de conhecimento da população sobre esta doença?
24
Estes factos impõem que o programa a que temos feito referência deverá integrar uma
abordagem multidisciplinar para o tratamento da doença e a existência de recursos de
diagnóstico, terapêuticos e de cuidados paliativos. Para tal é crucial que existam dados
epidemiológicos credíveis, que permitam calcular taxas de incidência, pelo menos em
Luanda, sendo portanto fundamental a implementação do Registo Oncológico de base
populacional de Luanda. O presente exercício doutoral pretende conhecer o perfil clínico-
patológico do cancro da mama e os recursos necessários para o seu combate, em Angola.
Assim, tendo em vista definir um programa de ação coerente e efetivo para o combate
contra o cancro da mama no país, caracterizou-se o perfil clínico e patológico do cancro da
mama numa amostra de doentes consecutivamente diagnosticados e tratados em Luanda.
Foram avaliados os recursos existentes para o diagnóstico e tratamento do cancro e
definidos os recursos necessários, de acordo com as boas práticas, para o tratamento
adequado em todas as fases da doença. Estudou-se a premência de ações de prevenção
primária e secundária. A construção da unidade de oncologia da Clínica Sagrada Esperança
foi importante como prova do conceito. Com base nestes estudos desenhou-se um
programa de ação com o objetivo de aumentar a sobrevivência com qualidade destas
doentes em Angola.
25
26
Capítulo 2
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Stage at presentation of breast cancer in Luanda, Angola – a retrospective
study, in BMC Health Serv Res. 2015; 15: 471.
Lygia Vieira Lopes, Fernando Miguel, Helga Freitas, António Tavares, Salvador Pangui,
Clara Castro, Gonçalo Forjaz Lacerda, Adhemar Longatto-Filho, Elisabete Weiderpass e
Lúcio Lara Santos
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Capítulo 2
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40
Cancro da Mama em Angola: Projeto subtipos moleculares (estudo preliminar).
Lygia Vieira Lopes, Fernando Miguel, Alexis Fuentes Pelaez, Emília Ribas, Sandra Costa,
Ana Tavares, Conceição Leal, Eduardo Ferreira, Carlos Lopes, Lúcio Lara Santos
41
42
Estudos recentes sugerem que os carcinomas da mama com recetores hormonais negativos
ou triplo-negativos são prevalentes na África Ocidental. Estes achados podem explicar o
mau prognóstico do cancro de mama em África. No entanto, em relação ao perfil molecular
foram observadas discrepâncias quando se compararam séries distintas mas provenientes
da mesma região geográfica (17). Deste modo, este assunto não está encerrado. A fim de
esclarecer quais são os subtipos moleculares de cancro da mama mais frequentes em
Angola, desenhou-se um protocolo de investigação com esse fim. Apresentamos os
resultados preliminares.
O estudo incluiu 178 doentes, do género feminino, com diagnóstico de cancro de mama
registados consecutivamente entre 2011 e 2014 no Centro Nacional de Oncologia e na
Clínica Sagrada Esperança, em Luanda, Angola. Foi avaliada a imunorreatividade para os
recetores hormonais (RE e RP), Ki-67 e HER2 em cortes de parafina num laboratório
certificado. Os anticorpos utilizados foram os seguintes: RE - clone 6f11 Leica; RP - clone 16
Leica; HER2 - policlonal, Dako e Ki-67- mib 1, Dako. Quando necessário foram realizados
duplicados e triplicados e todos os casos foram revistos por pelo menos 2 patologistas.
Adicionalmente, todos os tumores foram reavaliados e definidos o tipo e grau histológico de
acordo com a Classificação da OMS.
Em 21,9% dos 178 casos estudados não foi possível realizar estudos imunohistoquímicos
devido à má preservação dos tecidos. Foram apenas estudados 139 casos. Destes, a idade
mediana foi de 48,5 anos (29-84 anos). O carcinoma ductal invasivo foi o tipo mais comum
(98,2%), o grau 2 (moderadamente diferenciado) foi prevalente (79,3%). Os tumores na sua
maioria (75,8%) eram avançados.
43
Em 74 (53,2%) neoplasias malignas da mama, os recetores hormonais eram positivos,
sendo recetores estrogénios positivos em 55 (39,6%) dos casos e recetores de
progesterona positivos em 61 (43,9%) dos casos. Existiram casos em que a
imunorreatividade apenas ocorreu num dos recetores hormonais. Observou-se amplificação
do HER2 em 31 casos (22,3%), em 16 (11,5%) casos, a imunorreatividade para HER2 foi
classificada com 2+, sendo por esse motivo é necessário a confirmação da amplificação por
hibridação ou SISH que se encontra em curso. Todos estes casos eram recetores
hormonais positivos. Verificámos que 37 (26,6%) das neoplasias mamárias eram triplo
negativas.
Com base no perfil imunohistoquímico os tumores da mama podem ser classificados de
acordo com os cinco subtipos moleculares de acordo com os critérios de Cheang e
colaboradores nomeadamente: Luminal A (RE+ e/ou RP+, HER2-, Ki-67 <14%), luminal B-
HER2 - (RE+ e/ou RP+, HER2-, Ki-67> 14%), luminal B-HER2+ (RE+ e/ou RP+, HER2+),
HER2+ (RE- e/ou RP-, HER2+), Triplo-negativos (RE- e/ou RP-, HER2-) (18). Assim,
decidimos classificar os 123 tumores de acordo com estes critérios (os 16 doentes em que a
amplificação da HER2 ainda não foi estudada foram excluídos).
Os subtipos moleculares observados foram: 25 (20,3%) casos eram luminal A, 27 (21,9%)
eram luminal B - HER2-, 9 (7,3%) casos eram luminal B - HER2+, 22 (17,1%) casos eram
HER2 positivo e RH negativos, 37 (30,8,8%) Triplo-negativos e 3 (2,4%) casos não foram
classificados por ausência de realização do estudo da proteína Ki-67.
No passado recente os cancros da mama eram classificados apenas com as características
histopatológicas, porém, os estudos de expressão genética dos carcinomas da mama
permitiram categorizar os tumores em subtipos moleculares e percebemos que estes estão
associados ao prognóstico e à resposta à terapêutica. Na literatura os tumores luminal B,
HER2 + e triplo-negativos têm pior prognóstico. Neste estudo preliminar verificámos que os
tumores luminal B, HER2 + e triplo-negativos em conjunto, são maioritários. Verificámos que
em 21,9% existiam problemas de preservação o que ensombra qualquer estudo retrospetivo
como este. É urgente criarem-se condições para que as boas práticas na área de anatomia
patológica sejam cumpridas e seja realizada a caracterização imuno-fenotípica dos
carcinomas da mama em Angola, de modo a que o tratamento seja o mais adequado.
Lembramos que é fundamental aplicar os critérios de St. Gallen sobre este assunto (18).
Sublinhamos que com esta amostra não podemos definir o perfil molecular do cancro da
mama feminino em Angola. Por esse motivo, um estudo prospetivo e sujeito a controlo de
qualidade deve ser realizado.
44
Capítulo 3
45
46
Cancer in Angola, resources and strategy for its control, In Pan Afr Med J.
2012; 12:13.
Lygia Vieira Lopes, Ana Vaz da Conceição, João Blasques Oliveira, Clarinha Domingos,
Lúcio Lara Santos.
47
48
49
50
51
52
53
54
Capítulo 4
55
56
Establishing of cancer units in low or middle income African countries:
Angolan experience – a preliminary report, in Pan Afr Med J. 2014 Nov 17; 19:
291.
Fernando Miguel, Ana Vaz da Conceição, Lygia Vieira Lopes, Dora Bernardo, Fernando
Monteiro, Fernanda Bessa, Cristina Santos, João Blasques Oliveira, Lúcio Lara Santos
57
58
59
60
61
62
63
64
65
66
Capítulo 5
67
68
Oncology pharmacy units: a safety policy for handling hazardous drugs and
related waste in low- and middle-income African countries – Angolan
experience, in ecancer 2015, 9:575.
Ana Vaz da Conceição, Dora Bernardo, Lygia Vieira Lopes, Fernando Miguel, Fernanda
Bessa, Fernando Monteiro, Cristina Santos, João Blasques Oliveira, Lúcio Lara Santos
69
.
70
71
72
73
74
75
76
77
78
79
80
81
82
Capítulo 6
83
84
Unidade de Oncologia e equipa dedicada ao cancro da mama na Clínica
Sagrada Esperança: organização, testemunhos e recomendações.
85
Em 2012, o conselho de Gerência da CSE, após avaliar o número e o perfil clínico dos
doentes que recorriam aos seus serviços, decidiu avaliar a necessidade de uma Unidade de
Oncologia. Com este propósito, no mesmo ano, foi realizado um estudo sobre a sua
viabilidade. Este estudo demonstrou que era necessário uma unidade de oncologia e esta
era viável do ponto de vista clínico e económico. O registo dos doentes oncológicos da CSE
revelou que o cancro da mama era dominante. Foram definidas as ações necessárias para o
seu estabelecimento.
CONSULTA DE SENOLOGIA
A consulta tem uma periodicidade semanal. Os algoritmos de apoio à decisão clínica são
sobreponíveis aos publicados no livro “Cancro da mama o que devemos saber, do
diagnóstico ao tratamento”, obra em que participámos.
Foram observados de 2013 a 2015, nessa consulta, 623 doentes (201, 165, 257,
respetivamente). Os doentes são provenientes do rastreio referido, da consulta externa da
CSE e de outras instituições. Foram diagnosticados e seguidos 40 doentes com cancro da
mama. Até à data, o tratamento cirúrgico é o único tratamento realizado na CSE.
A caracterização imunohistoquímica, nomeadamente a expressão de RE, RP, ERB2 e Ki-67,
têm sido realizados em laboratórios externos à CSE de idoneidade reconhecida.
A radioterapia e o tratamento sistémico são realizados em outras instituições tanto nacionais
como estrangeiras. Os cuidados paliativos têm o apoio da clínica.
Após o diagnóstico e estadiamento ocorre a consulta de decisão terapêutica multidisciplinar.
86
PERFIL CLÍNICO E PATOLÓGICO DOS DOENTES OBSERVADOS NA CSE
Dos 40 doentes com neoplasias malignas da mama seguidos na clínica, as idades variaram
entre os 29 e os 87 anos, 11 doentes (27,5%) tinham menos de 40 anos. Sete doentes
(17,5%) tinham metástases à distância, destes, em 3 casos (7,5%) a doença encontrava-se
disseminada no momento do diagnóstico (metástases ósseas, hepáticas e pulmonares) e
nos restantes 4 (10%) a disseminação ocorreu durante o tratamento. Em 2 casos a forma de
apresentação foi a de tumor inflamatório (as idades foram de 30 e 35 anos, respetivamente).
Um caso era do sexo masculino. Nesta série, 15 (37,5%) doentes foram admitidos na clinica
em estádio III ou IV. Estes factos reforçaram a necessidade de oferecer a estes doentes
para além do tratamento loco-regional, tratamento sistémico.
PLANO DE CONTINGÊNCIA
87
9. Tamoxifeno 20mg
10. Bupernorfina 35mg
11. Biafine creme
12. Talco para pleurodese
88
Dificuldades em instalações especializadas por:
− Falta de instalações para o tratamento sistémico em regime de hospital de dia;
− Falta de instalações específicas para a preparação dos medicamentos citotóxicos de
acordo com as boas práticas;
− Inexistência de enfermaria dedicada a doentes em cuidados paliativos.
RECURSOS HUMANOS
89
Figura 21. Divulgação de curso sobre cancro da mama.
90
REGISTO DE CANCRO DE BASE HOSPITALAR
Iniciou-se o registo oncológico de base hospitalar da clínica. Assim, foi criado um impresso
oficial para o registo de doentes oncológicos. Este impresso contém a informação que foi
definida como obrigatória pelo IACC, no sentido de se constituir o Registo Oncológico de
base populacional de Luanda.
De Setembro de 2012 a Dezembro de 2015, foram registados 273 doentes, 141 eram
homens e 132 mulheres. A classe modal foi a dos 51 aos 60 anos.
91
Idades
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Figura 24. Idades dos doentes oncológicos registados na CSE entre Setembro de 2012 e Dezembro
de 2015.
92
UNIDADE DE ONCOLOGIA
93
A Unidade de Oncologia pretende participar nas ações de educação para a mudança de
comportamentos, junto das populações de acordo com o Programa MINSA, participar e
promover mecanismos de referenciação inter-hospitalares funcionais.
94
Capítulo 7
95
96
DISCUSSÃO
Os dados recentemente publicados pelo INEA revelam que a esperança de vida tem
aumentado tanto nos homens como nas mulheres. Segundo o Censo de 2014 esta é de 63
anos para o género feminino, isto significa que a população em risco de desenvolver
doenças oncológicas está a aumentar incluindo para o cancro da mama. O Globocan estima
que no país, no ano 2020, ocorram 1.739 novos casos de cancro da mama (10).
Por este motivo, há necessidade de um Plano Oncológico Nacional que responda, de forma
adequada, a um número crescente de doentes com cancro. Em nosso entender, são
imprescindíveis dois centros oncológicos públicos que garantam a cobertura assistêncial das
97
regiões do país com maior densidade populacional. Um a norte o outro a sul, eventualmente
no Huambo como era o plano do Ministério da Saúde antes da recente crise.
O objetivo primário desta tese era a definição de um programa global para controlo do
cancro da mama, para tal foi essencial definir o perfil clinico-patológico do cancro da mama
da mulher em Angola.
No capítulo 2-a, verificámos que o cancro da mama na mulher é o tumor maligno mais
prevalente nos registos hospitalares de Luanda. A idade mediana ronda os 47 anos de
idade, isto é, predominam as doentes jovens (pré-menopausicas). No momento do
diagnóstico, a maioria dos casos encontra-se em estádio avançado. Com frequência
observamos envolvimento cutâneo ou da grade costal, metástases ganglionares e num
número elevado de casos havia metástases à distância. O carcinoma mamário invasor
(ductal) foi o tipo histológico predominante. Na sua maioria as neoplasias eram pouco
diferenciadas.
Abdulrahman e colaboradores ao estudarem as características clinico-patológicas do cancro
da mama na Europa e em África, verificaram que em África a idade mediana era de 48 anos,
2/3 das mulheres eram pré-menopausicas (20,21). O estádio da doença no momento do
diagnóstico era avançado, os tumores eram geralmente pouco diferenciados e o carcinoma
ductal invasor era o mais frequente. Estes dados são sobreponíveis ao perfil clinico-
patológico por nós observado.
Na Europa, segundo os mesmos autores, a idade mediana ronda os 67 anos de idade, a
maioria das mulheres são pós-menopausicas, o estádio da doença no momento do
diagnóstico, na maior parte dos casos, é inicial. Apesar de em ambas as regiões o
carcinoma ductal ser o mais frequente, a percentagem dos tumores medulares e mucinosos
é mais elevada em África que na Europa (20). Na nossa amostra 4% dos tumores eram
medulares e 0,4% mucinosos.
Na África do Sul e no Zimbabwe a taxa de incidência é significativamente mais elevada nas
mulheres brancas autoctones, confirmando que este tumor é mais incidente na raça branca.
O mesmo se observa na população americana branca, contudo os tumores da mama foram
diagnosticados em estádios mais avançados na população negra e associaram-se a uma
menor sobrevivência global (22,23,24).
O elevado risco de morte por cancro de mama entre as mulheres negras americanas está
associado a uma maior prevalência de comorbilidades, diagnóstico tardio, tratamento de
menor qualidade, maior índice de massa corporal e tumores mais agressivos.
98
Como referimos nos Estados Unidos da América as taxas de mortalidade por cancro entre
os indivíduos da raça negra é mais alta que a observada nos indivíduos de raça branca. No
entanto, estas diferenças têm vindo a diminuir em ambos os géneros em muitos tumores,
mas a diferença racial observada nas taxas de mortalidade por cancro de mama tem vindo a
ampliar-se (25).
Procedeu-se então, à análise de ensaios clínicos a decorrerem nos EUA. Esta revelou que
as mulheres de raça negra sobrevivem menos que as mulheres de raça branca, mesmo
quando estas pertencem ao mesmo status socioeconómico, os tumores se encontram no
mesmo estágio clínico, as características anátomo-patológicas são semelhantes e estas são
submetidas ao mesmo tipo de tratamento e seguimento (26). Será que os tumores malignos
da mama na raça negra são mais agressivos? O perfil molecular das neoplasias da mama
poderá explicar este comportamento?
A maternidade tardia, menos filhos, menopausa tardia, terapêutica hormonal de substituição,
obesidade e ganho de peso na vida adulta são fatores associados com o aumento de
tumores com RH positivos em mulheres pós-menopáusicas. Por outro lado, baixo status
socioeconómico, idade jovem no momento do diagnóstico e mutação BRCA1 estão mais
fortemente associados a tumores RH-negativos (27,28).
As mulheres negras americanas tem uma percentagem de tumores malignos da mama
RH+/HER2- menor e uma maior proporção de tumores HR-/HER2- do que as mulheres
americanas de outras raças. Os cancros da mama triplo-negativos são mais frequentes na
raça negra e têm pior prognóstico (29).
99
Jemal e Fedewa verificaram que a prevalência de Recetores Hormonais negativos nos
tumores malignos da mama de mulheres negras nascidas nos EUA era semelhante à
observada em cancros da mama de doentes africanas (naturais da região ocidental de
África a viver nos EUA) e de mulheres negras nascidas na Jamaica (31). A prevalência dos
RH negativos era substancialmente menor nos cancros da mama de mulheres negras
nascidas na África oriental (Etiópia) e a viver nos EUA e este valor era sobreponível ao
observado em tumores de mulheres brancas nascidas nos EUA.
Kantelhardt e colaboradores verificaram que na Etiópia a maioria dos tumores malignos
expressavam recetores hormonais positivos(32). Estes dados são sobreponíveis ao
observado no estudo de Jemal e Fedewa (31).
Eng e colaboradores realizaram uma revisão sistemática e uma meta-análise no sentido de
esclarecer o perfil dos recetores hormonais dominante nas neoplasias malignas da mama
em África (17). Foram incluídos 54 estudos provenientes no Norte de África e 26 estudos
realizados na África Subsariana envolvendo fundamentalmente estudos nigerianos e sul-
africanos. Estes últimos incluíram 4.737 mulheres com cancro de mama. A mensagem mais
importante deste artigo é que em relação aos recetores hormonais a população subsariana
tem elevada heterogeneidade. Apesar de prevalecerem os casos com recetores hormonais
positivos foram constatados problemas técnicos na fixação e processamento dos tecidos
que podem ter tido impacto nos resultados encontrados. Uma vez que não há um subtipo
molecular de cancro da mama dominante em África, avaliar a imunoexpressão dos recetores
hormonais e do HER2 deve ser uma prioridade, especialmente nas mulheres jovens. As
modalidades de tratamento são diferentes e permitem ganhos de sobrevivência destes
tumores.
No capítulo 2-b, tivemos a oportunidade de confirmar como são verdadeiras as conclusões
destes autores. Confrontámo-nos com problemas de fixação das amostras o que determinou
que em 21,9% dos 178 casos estudados não fosse possível realizar estudos
imunohistoquímicos. Na série em que foi possível estudar o tumor (n=139) com recurso a
técnicas de imunohistoquímica verificámos que a idade mediana foi de 48,5 anos (29-84
anos), o carcinoma ductal invasivo foi o tipo mais comum (98,2%), o grau 2
(moderadamente diferenciado) foi prevalente (79,3%). Os tumores na sua maioria (75,8%)
eram avançados (estádio III e IV). Em 74 (53,2%) neoplasias malignas da mama, os
recetores hormonais eram positivos, sendo recetores estrogénios positivos em 55 (39,6%)
dos casos e recetores de progesterona positivos em 61 (43,9%) dos casos. Existiram casos
em que a imunorreatividade apenas ocorreu num dos recetores hormonais.
Observou-se amplificação do HER2 em 31 casos (22,3%), em 16 (11,5%) casos, a
imunorreatividade para HER2 foi classificada com 2+, sendo por esse motivo necessária a
confirmação da amplificação por hibridação ou SISH. Todos estes casos eram recetores
100
hormonais positivos. Verificamos que 37 (26,6%) das neoplasias mamárias eram triplo
negativas.
Estes dados confirmam a necessidade de que a classificação imunohistoquímica de todos
os tumores malignos da mama, pois determina terapêuticas distintas. Por outro lado, é
fundamental dotar os laboratórios de anatomia-patológica dos recursos necessários, criar
uma rede de controlo da qualidade técnica e dos diagnósticos produzidos.
O sistema nacional de saúde inclui o sector público e o sector privado. O sector público tem
três níveis hierarquizados o Central, o Provincial e o Municipal. O sector privado conta com
clínicas e centros médicos.
102
precoce do cancro da mama, são cruciais em Angola, uma vez que predominam estádios
avançados da doença no momento do diagnóstico.
A municipalização dos cuidados poderá ter um papel importante na educação da população
e no diagnóstico precoce do cancro da mama. Os ADECOS, os professores e pessoas
relevantes a nível local, regional e nacional, serão quadros fundamentais na formação e de
consciencialização da população bem como na facilitação de ações, de diagnóstico precoce,
materializadas por enfermeiros treinados e médicos das unidades de saúde do nível I.
103
Nesse sentido estudámos no Capítulo 4, a metodologia para a implementação de unidades
de oncologia e criámos um instrumento de auxílio a esta atividade garantindo a qualidade e
a assunção de boas práticas (Anexo I) (34).
Por outro lado, ao acompanharmos a criação das infraestruturas das clínicas Girassol e
Sagrada Esperança definimos no Capítulo 5, os critérios adequados para a construção das
farmácias de oncologia e para a destruição de resíduos perigosos. A experiência acumulada
poderá ser importante em ações futuras de índole semelhante (35).
As universidades, as escolas de saúde e os profissionais de saúde dedicados à oncologia
são o acervo de conhecimento a ações de prevenção primária, de diagnóstico precoce e no
tratamento dos doentes com cancro da mama, formando as equipas multidisciplinares de
oncologia em geral e mamária em particular. A atividade da Ordem dos Médicos Angolanos
e dos seus Colégios é fundamental pois devem definir o programa curricular das
especialidades matriciais da oncologia, isto é, da oncologia cirúrgica, da oncologia médica e
da radio-oncologia.
Figura 32. Instituições e Quadros dos Serviços de Saúde a mobilizar para o Programa de Formação.
104
TRATAMENTO DO CANCRO DA MAMA
105
PROGRAMA DE AÇÃO
Para além da revisão bibliográfica a definição do programa de ação teve como base a
experiência adquirida durante a criação da unidade de oncologia da Clínica Sagrada
Esperança (Capítulo 6), o contacto com os doentes com cancro da mama e seus familiares
que escolheram essa unidade de saúde para tratamento, o seguimento em conjunto com o
IACC e com outras unidades de oncologia nacionais e estrangeiras dos nossos doentes, e a
discussão com os responsáveis por experiências semelhantes realizadas em outros países
africanos no âmbito dos congressos da AORTIC (African Organisation for Research and
Training in Cancer) e o PNDS (37).
106
6. Seguimento – contruir um programa de acompanhamento dos doentes em
tratamento e já tratados assegurando a redução das taxas de abandono do
tratamento, identificando precocemente o reaparecimento da doença. Esta ação
permitirá conhecermos a sobrevivência dos doentes e com que qualidade de
vida.
7. Cuidados Paliativos – Criar condições para que haja o controlo da dor, de
outros sintomas associados à progressão da doença e cuidados de fim de vida.
107
que o pessoal de saúde e os promotores locais de saúde não tiveram essa preparação. As
aldeias em que o primeiro grupo interveio tiveram um incremento significativo de diagnóstico
de neoplasias malignas sendo estas diagnosticadas mais precocemente (42). Estes autores
consideram que este tipo de intervenção, a metodologia adequada para melhorar o controlo
do cancro, incluindo o da mama, nas áreas rurais africanas.
Em relação ao tratamento do cancro da mama, de acordo com o estádio da doença,
incluímos no nosso programa as propostas realizadas pelo Breast Health Global Initiative, as
indicações da OMS, tivemos também em conta os recursos disponíveis e a experiência de
Angola (40).
Considerámos as intervenções terapêuticas, de acordo com o nível das instituições de
saúde (I, II e III) definido pelo MINSA, o estádio da doença, e as necessidades e
possibilidades em relação à cirurgia, radioterapia, tratamento sistémico e cuidados
paliativos. Assumimos que as intervenções descritas por Sten G. Zelle e colaboradores são
adequadas e sobreponíveis às praticadas em Angola. Adicionalmente consideramos este
aspeto como relevante uma vez que segundo estes autores o programa é custo-efetivo (37).
Cremos que o programa contra o cancro a nível Municipal (anexo V) cumprirá estes
desígnios e se complementarmos com recursos e competências as unidades angolanas
especializadas em oncologia conseguiremos de facto assegurar um controlo efetivo das
doenças oncológica.
108
CONCLUSÕES
109
PERSPETIVAS
110
Capítulo 8
Referências Bibliográficas
111
112
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35. CONCEIÇÃO, Ana Vaz; BERNARDO, Dora; VIEIRA LOPES, Lygia; MIGUEL, Fernando;
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116
Capítulo 9
Anexos
117
118
ANEXO I
119
f) Existem protocolos de atuação que
assegurem a continuidade dos cuidados e o
registo de complicações?
7. Salvaguarda da qualidade em todas as
áreas:
a) Existem requisitos de segurança e
salvaguarda de riscos, inquéritos de
segurança e salvaguarda de riscos, inquéritos
de satisfação do cliente?
b) Política de controlo periódico e controlo de
lixo toxico?
8. Serviço de suporte aos doentes e
familiares:
a) Existe um serviço dedicado à reabilitação
dos doentes?
b) Existe um serviço de controlo da dor?
c) Existe Unidade de Cuidados Paliativos?
d) Existe um serviço de psico-oncologia?
e) Existe um serviço de Patient navigation?
f) Existe aconselhamento familiar nos
cuidados implementados?
9. Ensino, formação contínua e Investigação
científica:
a) Existe participação em formação
oncológica?
b) Existe investigação clínica?
10. Remoção de barreiras e promoção do
engajamento de Apoiantes: Existe um
sistema de identificação de skateholders e
de barreiras para o estabelecimento de
unidade de oncologia?
120
ANEXO II
ATIVIDADES
DOMÍNIOS ESTRATÉGIA AÇÕES
FACILITADORAS
Desenvolvimento Estabelecer como prioridade a Criação do Registo Criação de uma Task-
estrutural implementação de um registo Oncológico de Luanda (base force que deverá
de cancro de base populacional populacional) integrar todas as fontes
a fim de se conhecer a situação de dados
real da doença oncológica em Versus Hospitais, Clínicas,
Angola laboratórios de
Criação do Registo oncológico anatomia patológica,
do Bengo (base populacional) registo civil e
Organizar o registo a nível associações de
provincial? doentes
121
mais frequentes. As ações de
rastreio só devem ser
realizadas se forem efetivas e
eficientes, devendo incluir
somente cancros rastreáveis,
sobretudo da mama, do colo
do útero
122
ANEXO III
Educação e sensibilização da
Nível de Métodos de deteção Objetivo
população
recursos
ECM = exame clínico da mama; US = ecografia; +/– significa com ou sem. *A seleção da população-alvo para mamografia deve levar em conta a
demografia do cancro de mama e as restrições de recursos. Veja o texto com a análise completa. †Foi demonstrado que a ressonância
magnética da mama é mais sensível do que a mamografia para detetar tumores em mulheres assintomáticas com história familiar de cancro de
mama. Notar que o esquema de estratificação da tabela implica em uma necessidade maior de recursos ao passarmos do nível básico aos níveis
limitado e avançado. Não se deve ter como objetivo a implementação dos recursos do nível máximo nos LMCs, muito embora possam ser
usados em alguns contextos de alta renda.
123
Alocação de recursos para o diagnóstico
Nível de
Clínico Imagens e exames de laboratório
recursos Patologia
ECM = exame clínico da mama; TNM = sistema para classificação de tumores malignos; US = Ecografia; PAAF = punção aspirativa por agulha
fina; LS = gânglio sentinela; HC = hemograma completo; RE = recetor de estrogênio; IHQ = imuno-histoquímica; CDIS = carcinoma ductal in
situ; ILV = invasão linfovascular; CT = tomografia computadorizada; HER2 = recetor 2 do fator de crescimento epidérmico humano; RP =
recetor de progesterona; PET scan = tomografia por emissão de pósitrões; MIBI = metoxi-isobutil isonitrila; BRCA1/2 = genes 1 e 2
relacionados ao cancro de mama. *Por uma questão de segurança é necessária a realização do hemograma completo e da bioquímica do
sangue por ocasião da quimioterapia sistêmica. Quando esta modalidade terapêutica está disponível no nível básico, esses exames também
devem ser realizados. †A análise do RE por IHQ deve ser o método preferencial para determinação do status do recetor hormonal e é custo-
efetiva quando há disponibilidade do tamoxifeno. Quando este estiver disponível no nível básico, a determinação do status do RE por IHQ
também deve ser realizada. §O uso da biópsia de LS exige validação clínica e laboratorial da técnica utilizada. ‡Se os custos associados ao
trastuzumab forem substancialmente mais baixos, este poderá ser usado no nível limitado. Nesse caso, a avaliação da sobreexpressão de
HER2/neu e/ou amplificação gênica também será necessária no nível limitado para escolher adequadamente pacientes para esse tratamento
biológico altamente eficaz, mas dispendioso. Notar que o esquema de estratificação da tabela implica em uma necessidade maior de recursos
ao passarmos do nível básico aos níveis limitado e avançado. Não se deve ter como objetivo a implementação dos recursos do nível máximo
nos países de baixa renda, muito embora possam ser usados em alguns contextos de alta renda.
124
Alocação de recursos para o tratamento: cancro de mama estádio I
Fatores de crescimento
Máximo Quimioterapia de
dose densa
125
Alocação de recursos para o tratamento: cancro de mama estádio II
Cirurgia Irradiação da
conservadora da parede torácica
mama§ e gânglios
Limitado Biópsia de LS com regionais pós-
corante azul|| mastectomia
para casos de
alto risco*
Fatores de crescimento
Máximo Quimioterapia de
dose densa
CMF = ciclofosfamida, metotrexato, e 5-fluoruracil; AC = doxorrubicina e ciclofosfamida; EC = epirrubicina e ciclofosfamida; FAC = 5-fluoruracil,
doxorrubicina e ciclofosfamida; LS = gânglio sentinela; LHRH = hormô- nio de liberação do hormônio luteinizante; HER2/neu = recetor 2 do fator
de crescimento epidérmico humano. *A irradiação da parede torácica e gânglio regional reduz substancialmente o risco de recidiva local pós-
mastectomia. †Por uma questão de segurança, é necessária a realização do perfil bioquímico e hemograma completo por ocasião da adoção
da quimioterapia sistêmica. Quando houver disponibilidade desta modalidade terapêutica no nível básico, esses exames também precisam ser
feitos. ‡A análise do RE por IHQ deve ser o método preferencial para determinação do status do recetor hormonal e é custo-efetiva quando há
disponibilidade do tamoxifeno. Quando este estiver disponível no nível básico, a determinação do status do RE por IHQ também deve ser
realizada. §A cirurgia conservadora da mama pode ser feita no nível limitado, mas deve ser seguida de radioterapia pós-operatória. Não
havendo disponibilidade de sua realização, as pacientes devem ser transferidas para uma instituição de nível mais elevado. ||O uso da biópsia
de LS exige validação clínica e laboratorial da técnica utilizada. ¶Se os custos associados ao trastuzumabe forem substancialmente mais
baixos, este também poderá ser usado no nível limitado. Nesse caso, a avaliação da sobreexpressão do HER2/neu e/ou amplificação gênica
também será necessária no nível limitado para escolher adequadamente pacientes para esse tratamento biológico altamente eficaz, mas
dispendioso. Notar que o esquema de estratificação da tabela implica em uma necessidade maior de recursos ao passarmos do nível básico
aos níveis limitado e avançado. Um quadrante vazio na matriz indica que a alocação adicional de recursos para além dos necessários nos
níveis inferiores não é necessária. Não se deve ter como objetivo a implementação dos recursos do nível máximo nos países de baixa renda,
muito embora possam ser usados em alguns contextos de alta renda.
126
Alocação de recursos para o tratamento: cancro de mama localmente avançado
Cirurgia Irradiação da
conservadora da parede torácica e
Limitado mama gânglios regionais
Cirurgia de pós-mastectomia*
reconstrução
mamária
Fatores de crescimento
Máximo Quimioterapia de
dose densa
127
Alocação de recursos de tratamento: cancro de mama metastático (estádio IV) e recidivado
Máximo Bevacizumab
Fulvestrant
CMF = ciclofosfamida, metotrexato e 5-Fluoruracil. *A análise do RE por IHQ deve ser o método preferencial para determinação do status do
recetor hormonal e é custo-efetiva quando há disponibilidade do tamoxifeno. Quando este estiver disponível no nível básico, a determinação do
status do RE por IHQ também deve ser realizada.
†Por uma questão de segurança, é necessária a realização do perfil bioquímico e hemograma completo por ocasião da adoção da
quimioterapia sistêmica. Quando houver disponibilidade desta modalidade terapêutica no nível básico, esses exames também precisam ser
feitos. Notar que o esquema de estratificação da tabela implica em uma necessidade maior de recursos ao passarmos do nível básico aos
níveis limitado e avançado. Um quadrante vazio na matriz indica que a alocação adicional de recursos para além dos necessários nos níveis
inferiores não é necessária. Não se deve ter como objetivo a implementação dos recursos do nível máximo nos países de baixa renda, muito
embora possam ser usados em alguns contextos de alta renda.
128
Programas de saúde da mama: alocação de recursos humanos
Nível
de Educação de pacientes e familiares Capacitação de recursos humanos Fluxo da paciente
recursos
Notar que o esquema de estratificação da tabela implica em uma necessidade maior de recursos ao passarmos do nível básico aos níveis
limitado e avançado. Não se deve ter como objetivo a implementação dos recursos do nível máximo nos países de baixa renda, muito embora
possam ser usados em alguns contextos de alta renda.
129
Programas de saúde da mama: alocação de recursos em sistemas de suporte
Notar que o esquema de estratificação da tabela implica em uma necessidade maior de recursos ao passarmos do nível básico aos níveis
limitado e avançado. Não se deve ter como objetivo a implementação dos recursos do nível máximo nos LMCs, muito embora possam ser
usados em alguns contextos de alta renda.
130
Indicadores de processo para programas de saúde da mama em LMCs
Nível
de Deteção precoce Diagnóstico Tratamento Programático
recursos
Descrição: proporção entre Descrição: proporção entre Descrição: proporção entre Descrição: tamanho
o número de pacientes na o número de pacientes o número de pacientes que médio determinado
Básico população-alvo com anamnese com diagnóstico histológico recebem algum tipo de pelo exame
e exame físico registrados estabelecido (benigno ou tratamento de cancro (cirurgia histopatológico dos
e o número de pacientes na maligno) e o número de outra que a biópsia cirúrgica, tumores primários
população-alvo clinicamente pacientes com “massa suspeita” radioterapia ou tx sistêmico) e o invasivos de mama
avaliadas por um centro ou (achado do ECM que o número de pacientes que tiveram em uma população-
programa organizado de controle examinador considera anormal diagnóstico histológico de cancro. alvo de um centro
do cancro de mama. e exige avaliação adicional). ou programa
organizado de
% pcts com diagnóstico de ca % pacientes
% de pcts com anomalias % de pcts com diagnóstico de
que começaram tratamento nos com doença
Limitado detetadas pelo ECM submetidas cancro comprovado por biópsia e
120 dias após o diagnóstico em estádio
ao diagnóstico por imagem com estádio TNM documentado
histológico TNM I ou II no
diagnóstico inicial
% pcts com 50-69 anos % de pcts com diagnóstico % de pacientes tratados com % pacientes
que fizeram mamografia de de cancro comprovado por tumorectomia que iniciaram com doença em
Avançado
rastreamento nos últimos biópsia e com status HER-2/neu RTX nos 120 dias após o estádio TNM I
24 meses documentado último procedimento cirúrgico ou II com
sobrevida em cinco
Os indicadores de processo do Os indicadores de processo do Os indicadores de processo do Os indicadores de
nível máximo são determinados nível máximo são determinados nível máximo são determinados processo do nível
Máximo com base nos padrões de com base nos padrões de com base nos padrões de máximo são
atendimento em países de alta atendimento em países de alta atendimento em países de alta determinados com
renda renda renda base nos padrões
de atendimento em
Pcts = pacientes; dx = diagnóstico; ECM = exame clínico da mama; ca = cancro; tx = tratamento; TNM = sistema de classificação de tumores;
HER2/neu = recetor 2 do fator de cresci- mento epidérmico humano; RTX = radioterapia de feixe externo. Notar que o esquema de estratificação
da tabela implica em uma necessidade maior de recursos ao passarmos do nível básico aos níveis limitado e avançado. Não se deve ter como
objetivo a implementação dos recursos do nível máximo nos países de baixa renda, muito embora possam ser usados em alguns contextos de
alta renda.
131
ANEXO IV
Intervenções para um
Tratamento de fases individuais Cuidados paliativos
diagnóstico mais precoce
ciclofosfamida e dexametasona.
132
ANEXO V
SUBPROGRAMA DAS DOENÇAS CRÓNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS
07-05-2013
Município contra o Cancro
Draft do Programa operacional
ONCOCIR
Lúcio Lara Santos
133
[Subtítulo do documento]
Situação actual
O cancro, designação genérica para doenças que se caracterizam pelo crescimento autónomo e desordenado das células, tem evoluído
paulatinamente em Angola. O País conta com apenas uma instituição de especialidade, o Centro Nacional de Oncologia, com
responsabilidades em: Prevenção, Diagnóstico, Tratamento e Cuidados Paliativos.
A situação caracteriza-se por um fraco conhecimento sobre a doença e seus factores de risco por parte da população, acrescido à falta de
infra-estruturas, recursos humanos e materiais. Em cada 1000 novos casos de cancro diagnosticados no Centro Nacional de Oncologia,
cerca de 80% chegam aos serviços para a primeira consulta em estádio avançado.
Estimativas desenvolvidas pela International Agency for Research on Cancer (IARC) e Organização Mundial da Saúde (OMS) preconizam
que Angola tem uma incidência de 9.200 casos, com uma mortalidade estimada de 7100/ano, o que representa um índice de mortalidade de
77,17%, muito acima dos 50% observados em Países desenvolvidos
Os tipos de cancros mais virulentos como os de pulmão, mama, próstata, cólon e reto, vêm se manifestando com frequência, infligindo sérios
danos ao desenvolvimento social e económico, pelo que urge a necessidade da realização de estudos epidemiológicos, para diagnosticar a
real situação do País e adotar estratégias específicas.
De acordo com dados do Centro Nacional de Oncologia, os Tumores malignos mais frequentes em Angola são o da Mama, Colo do Útero,
linfoma não Hodgkin, Próstata e sarcoma de Kaposi .
O MINSA conta com os seguintes instrumentos jurídicos de suporte para implementação do programa; Decreto Presidencial Número 34/11
de 14 de Fevereiro, Decreto Número 260/10, de 19 de Novembro, regime Jurídico de Gestão Hospitalar, Decreto Número 79/07, de 16 de
Novembro; Lei de Uso de Energia Atómica em Angola, aprovado pela Assembleia Nacional em Junho/2007 e a proposta de Estatuto
Orgânico que transforma o CNO em Instituto Angolano do Controle do Cancro (IACC).
Estratégias operacionais
1.Identificação do quadro epidemiológico do cancro em Angola;
2.Consciencialização da população angolana sobre o cancro;
134
3.Reduzir o risco do cancro por meio da prevenção dos seus factores de risco;
4.Implementação e divulgação de programas de rastreio de cancros preveníveis;
5.Garantir os direitos dos pacientes e seus familiares e melhorar a sua qualidade de vida (tratamento oncológico hospitalar, assistência
médica doméstica, apoio psicológico especializado, assistência social, reabilitação e cuidados paliativos em infraestruturas adequadas);
6.Expandir e apetrechar os serviços do IACC (centro de referência) e outras unidades hospitalares do País;
Metas
1. Até 2021, conhecer a epidemiologia dos principais tipos de cancro do País.
2. Até 2017 dotar os hospitais Gerais e Municipais de meios de rastreio, diagnóstico precoce e tratamento para os principais tipos de
cancro;
3. A partir de 2012 realizar campanhas de promoção de saúde sobre o cancro, com forte apoio dos média e participação da comunidade;
4. De 2013 a 2021 capacitação de técnicos de saúde e professores do sistema de ensino sobre o cancro e seus factores de risco.
5. Manter actualizado o Registo Nacional de Doencas Cancerigenas e Integrar ao SMVE e SIS.
6. Até 2021 reduzir a incidência dos cancros da mama e do útero em 10% com uma redução de 60% dos estádios III e IV.
7. Até 2021 reduzir a incidência de cancro da próstata em 10% e em 70% os casos em estádios III e IV.
8. Até 2021 Vacinar 90% da população de risco contra hepatite B.
9. Até 2021 reduzir a incidência de cancro do fígado em 10% e em 70% os casos em estádios III e IV.
10. Até 2017 dotar os Hospitais Gerais e Centrais de carácter regional de meios de rastreio, diagnóstico precoce e tratamento (Cirúrgico)
dos principais tipos de cancro e nos hospitais Centrais de Cabinda, Benguela, Huíla, Malange; no Hospital Central do Huambo (centro
oncológico) concentrar os recursos de quimioterapia e radioterapia para atender a região centro e sul do país.
11. Até 2017 assegurar por cada centro oncológico (IACC e Huambo) pelo menos dois Radioterapeutas, quatro técnicos de radioterapia,
dois Dosimetristas e dois Físicos Médicos.
Actividades e intervenções:
1.Introduzir nos currículos escolares dos diferentes níveis educacionais, matérias sobre o cancro e seus fictores de risco.
2.Implementar campanhas públicas de prevenção contra o tabagismo, uso abusivo do álcool, maus hábitos alimentares e o sedentarismo,
assim como a exposição aos fictores de risco biológicos (doenças infeciosas predominantes no quadro epidemiológico angolano que
funcionam como fictores de risco do cancro) e ambientais (radiacções ionizantes e substancias químicas com efeito cancerígenos);
3.Implantar o registo Nacional do Cancro; iniciando a actividade pelo registo oncológico de base populacional de Luanda.
4.Diagnosticar precocemente o cancro da mama, o cancro do colo do útero, cancro da próstata, cancro da pele, hepatocarcinoma e o
cancro de bexiga;
5.Criar centros oncológicos no País com serviços especializados de rastreio e diagnóstico e tratamento;
6.Realizar, fundamentalmente nos grupos de risco, campanhas de promoção de saúde (importância do auto exame de mama, citologia
vaginal, toque rectal, vacinação etc.);
7.Elaborar protocolos de procedimentos para garantir os resultados do programa;
8.Implementar sistemas de informática para monitorar todas informações do Programa.
9.Expandir o registo Nacional de Doenças cancerígenas a todas as Províncias e integrar no SMVE e SIS.
10.Advogar para a formação das equipas oncológicas.
11.Manter actualizada o registo Nacional de Doenças cancerígenas e integrar no SMVE e do SIS.
Resultados esperados:
1.Epidemiologia dos principais tipos de cancro do País identificada;
2.Hospitais municipais capazes de diagnosticar as principais doenças oncológicas precocemente; Hospitais provinciais capazes de tratar as
doenças oncológicas prevalentes e referenciar adequadamente para os centros oncológicos.
3.Campanhas de promoção de saúde sobre o cancro com participação da comunidade realizadas;
4.Técnicos de saúde e do sistema de ensino capacitados
5.Manter actualizada o registo Nacional de Doenças cancerígenas e integrar no SMVE e do SIS.
6.População de risco vacinada contra hepatite B;
7.Incidência dos cancros mais comuns no País reduzida;
8.Protocolos de procedimentos para o programa, elaborados;
9.Sistema de informática para monitorar o Programa implementado.
Indicadores de avaliação
1.Número de campanhas realizadas;
2.Número de pessoas capacitadas nas diversas áreas necessárias;
3.Taxa de incidência de doenças infecciosas de risco para o cancro;
4.Taxa de incidência de cancro por instituições;
5.Número de unidades especializadas em oncologia no País;
6.Número de pacientes com cancro registados no País;
7.Número de rastreios de mama realizados no País;
8.Número de rastreio de próstata realizados no País;
9.Número de citologias vaginais realizadas no País;
10.Número de sessões de quimioterapia;
11. Número de sessões de radioterapia;
12. Número de ingressos para cuidados paliativos;
13. Número de vacinados contra hepatite B;
14. Número de consultas externas oncológicas.
135
Mecanismos de seguimento e avaliação
1.Relatórios informáticos sobre a situação real do País;
2.Relatórios trimestrais e anuais de progresso e avaliação das actividades.
Pontos fracos
1.Alta taxa de analfabetismo pode comprometer sensibilização;
2.Falta de Recursos Humanos e Materiais;
3.Falta de infra estruturas;
4.Falta de sensibilização das autoridades locais;
5.Predominância de doentes em estádio avançado com o cancro;
6.Incapacidade financeira para aquisição das novas tecnologias;
7.Dificuldade de organizar um sistema eficiente de referência e contra referência a nível dos hospitais províncias.
Condicionantes ambientais
1.Crenças e tratamentos ligados às mesmas;
2.Alta taxa de analfabetismo, condiciona a transmissão das mensagens ligadas ao controlo do cancro;
3.Tabus ligados aos cancros genitais;
4.Recessão económica .
Pesquisas operacionais
1.Estudo para identificação dos principais tipos de cancro existentes no País.
O presente programa pretende compatibilizar a estratégia global definida pelo Ministério da Saúde (MINSA), os instrumentos que pretende
desenvolver e as metas definidas traduzindo todas estas variáveis num plano de ação eficaz, simples e cujos resultados sejam mensuráveis.
Coordenação
A coordenação do programa será definida pelo MINSA mas deverá envolver de forma relevante o Instituto Angolano do Controle do
Cancro (IACC).
Programa
Este programa subordina-se a um plano de ação que terá 3 áreas de intervenção a saber:
1 – Formação dos profissionais da saúde
2 – Intervenção junto às populações
3 – Criação de recursos de registo oncológico de base hospitalar, diagnóstico precoce e referenciação
As neoplasias definidas como alvos prioritários são: O Cancro do Colo do Útero, Cancro da Mama e o Cancro da Próstata.
Cada curso terá um componente teórico e um componente prático, têm a duração de 2 dias e devem ser repetidos 2 vezes por ano
envolvendo, sempre que possível, os alunos (enfermeiros) que já participaram para se poder avaliar a utilidade e a eficácia dos cursos. A
formação em oncologia dos ADECOS (Agentes de Desenvolvimento Comunitário e Sanitário) deve estar integrada no seu próprio programa
formativo.
136
hospitalar. O objectivo dos Curso é a formação de futuros formadores Municipais e assim criar uma rede que amplifique as
mensagens e ações.
FORMAÇÃO BÁSICA
O primeiro tema pretende criar um quadro teórico de suporte a toda a unidade, definindo os aspectos epidemiológicos da doença e
instrumentos de medida: Oncologia a dimensão do problema.
Com o segundo tema pretende-se, a compreensão das quatro fases do processo de cancerização: Carcinogénese.
No terceiro tema pretende-se a compreensão do processo de para a realização do diagnóstico, recursos necessários e léxico utilizado: O
diagnóstico em oncologia.
No quarto tema pretende-se a compreensão do significado da prevenção primária e secundária, enquadrando o rastreio neste contexto.
Define-se neoplasia maligna rastreável, metodologia e instrumentos de rastreio. Prevenção em oncologia.
No quinto tema pretende-se a compreensão do método para avaliar e definir a dimensão da doença oncológica. Classificação da doença
oncológica em estádios.
FORMAÇÃO ESPECÍFICA
137
Acção 2 - Intervenção junto às populações (Acção a realizar nos Municípios)
Esta acção combina o recurso aos média, a acção dos promotores de saúde e a acção dos profissionais de saúde. Os recursos de imagem
utilizados serão vídeos, spots, cartazes e sessões de esclarecimento. Os eventuais promotores de saúde são professores, religiosos, actores,
cantores, em resumo pessoas relevantes na área do município, a nível provincial ou nacional. É preciso reunir com estes potenciais agentes
de saúde informá-los e formá-los e convidá-los a participarem nas acções de educação das populações ou ajudando acções de diagnóstico
precoce.
A operacionalização desta Acção passa pela criação de instrumentos de apoio à formação. A equipa que o fará deverá ser designada, deverá
produzir os recursos de apoio ao ensino realizar aplicar e medir resultados em três locais de teste (um urbano, outro rural e numa escola)
Acção 3 –
a)Criação de recursos de registo oncológico de base hospitalar,
b)diagnóstico precoce e referenciação
Este programa vai promover um incremento no número de doentes ou potenciais doentes cujas expectativas não poderão ser goradas. Assim,
os recursos de diagnóstico definidos para este nível de assistência (município) devem realmente existir. Deverá existir também
possibilidades de referenciação ao nível municipal e de tratamento nos centros terciários. Caso isto não esteja assegurado cria-se um
problema que poderá ser o descrédito de todo o programa.
Nesse sentido é necessário definir os recursos a nível municipal. A equipa de coordenação deverá em conjunto com os municípios a intervir
definir os recursos para o programa uma vez que o financiamento é realizado a este nível. Recurso prioritários envolvem:
1 – Programa informático de registo oncológico (este deverá ser muito simples e igual em todos os municípios)
2 – Computador
3 – Ecógrafo
5 – Recursos para citologia cervico-vaginal e IVCA (ver adiante)
6 - Recursos para acções de educação das populações (cartazes, vídeos e spots)
7 – Criação da Consulta de Diagnóstico Precoce Oncológico (CDPO)
8 – Guia de referenciação para o IACC ou outros centros públicos e privados com unidades de oncologia certificados ou reconhecidos pelo
MINSA.
Notas de apoio
A)-Inspeção Visual do Colo-uterino com Ácido Acético, ou IVCA
Inspeção Visual do Colo-uterino com Ácido Acético, ou IVCA, ao contrário do teste de HPV ou do exame de Papanicolaou (citologia
cervico-vaginal) permite aos profissionais de saúde ver, durante a observação do colo-uterino, lesões e outras alterações no colo do útero que
são grandes o suficiente para, presumivelmente, precisarem de tratamento.
O procedimento é simples. O profissional de saúde utilizando cotonetes molhados em vinagre, ou seja, ácido acético, passa este cotonete no
colo do útero e procura se existem áreas que mudam de cor. Estas doentes devem ser avaliadas por médico experiente ou que tenha
capacidade de biopsia.
Os recursos necessários são cotonetes, vinagre, um espéculo e luz. Com o vinagre o tecido cervical normal permanece inalterado, mas o
tecido danificado - como o que é o encontrado em lesões pré-cancerosas ou cancerosas - torna-se branco.
Estas lesões brancas devem ser objecto de biopsia. Os municípios sem possibilidade de realizar biopsias devem referenciar as doentes para
centros que possam tratar.
A maioria dos estudos revelam que Inspeção Visual do Colo-uterino com Ácido Acético, ou IVCA, são um pouco menos específicos do que
o exame de Papanicolaou, mas mais sensíveis. Em termos simples, isso significa que o IVCA geralmente detecta lesões mais precoces, mas
também é mais propenso a falsos positivos. Por esse motivo é necessário organizar um programa de tratamento das amostras histológicas.
Deve-se manter o programa nacional de diagnóstico precoce do cancro do colo uterino esta acção, o IVCA, só complementa o que já
está estabelecido não o substitui e só deve ser implementado onde não existem recursos mais específicos e avançados.
Em geral, IVCA parece ser um excelente método rastreio do cancro do colo do útero para o uso em ambientes com baixos recursos, onde o
Papanicolau e exames de HPV são inadequados devido a uma falta de quadros técnicos ou de financiamento.
Fluxograma potencial
Os doentes com suspeição de doença oncológica serão referenciados a centros de referência com capacidade de diagnóstico e estadiamento e
posteriormente se confirmada a doença serão os doentes enviados para o o Instituto Angolano do Controle do Cancro (IACC) ou para
unidades de oncologia certificadas ou reconhecidos pelo Minsa para tratamento.
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Calendarização
A calendarização deste programa pressupõe préviamente a discussão do programa, organização dos recursos técnicos para a sua
implementação, elaboração de um documento final ao nivel do MINSA e posterior aprovação.
Obriga a identificação dos recursos, humanos. Técnicos e financeiros.
Obriga a identificação dos responsáveis aos vários níveis, forma de monitorização das acções e avaliação da sua eficácia.
Notas Finais
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