Filosofia 10 Caderno 1
Filosofia 10 Caderno 1
Filosofia 10 Caderno 1
embora seja válido, dificilmente seria capaz de persuadir e convencer um vasto número de
pessoas.
Para além disso, acresce ainda que na linguagem corrente não usamos apenas
argumentos dedutivos. Argumentos indutivos, por analogia e de autoridade são
frequentemente usados por nós, no nosso dia-a-dia, e a sua validade depende de aspectos que
vão para além da sua estrutura formal.
a) Ar umentos Indutivos
Para ser considerado válido, este argumento deve cumprir dois requisitos: (1) partir de
casos particulares representativos; e (2) não existirem contraexemplos.
No que diz respeito à indução por previsao, podemos dizer que esta funciona de modo
a atribuir a situações/casos presentes ou futuros os mesmos resultados observados no
passado.
c) Argumento de autoridade
Exercícios:
b) As girafas têm o pescoço comprido. As toupeiras, sendo animais, são como as girafas.
Logo, as toupeiras têm o pescoço comprido. PD'G- c-\\(\c'' e` '
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c) Todos os meus amigos gostam de ir a discotecas. Logo, todas as pessoas gostam de ir a"
discotecas. • "V•m"'''''\.\13
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d) Todas as sardinhas respiram por guelras. Será de prever que as sardinhas que ainda não
')() \ic^ ( t'(-4-(3
nasceram respirarão por guelras. ‘\•'\
kANC'e.,0 JC'ot Z vt\An r> A ,F,D,`C
e) O medicamento para a tosse teve efeitos secundários graves para a saúde do meu
primo. Logo, todos os medicamentos fazem mal à saúde.
1.) et_ Li, Oyvv)(4, co, vy‘s, ÇtC0 (7(' ("It ckp q‹).(>"a 3?1/ (• (-)(‘
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Faiácias Informais
Nota: embora este argumento seja válido de um ponto de vista dedutivo (tollendo
ponens), ele exprime um falso dilema, pois ignora-se a possibilidade de todos os outros
partidos, ou algum deles, poderem evitar a desgraça do país.
Comete-se esta falácia sempre que uma proposição é tida como verdadeira só porque
não se provou a sua falsidade, ou como falsa só porque não se provou que é verdadeira.
Exemplo: Não existem fenómenos telepáticos, porque até agora ninguém provou que
eles existem.
Esta falácia ocorre sempre que alguém, para refutar uma tese, apresenta pelo menos
uma premissa falsa ou duvidosa, e uma série de consequências progressivamente inaceitáveis
que daí decorrerão.
Exemplo: É péssimo que jogues a dinheiro. Se o fizeres vais viciar-te no jogo. Desse
modo, para alimentares o vício do jogo, vais perder tudo o que tens, e para no morreres à
fome vais ter de roubar.
Esta falácia ocorre sempre que o opositor deturpa a tese original do orador,
transformando-a numa versão mais fraca e simplificada, de modo a ridicularizar o argumento e
o orador, e a ser-lhe mais fácil contra-argumentar. Note-se, porém, que a tese que o opositor
rebate no é a tese original, mas sim a que ele próprio criou a partir da sua deturpação.
Exemplo: Imagine que o António afirma que no devemos comer carne de animais cujo
processo de industrialização os tenha sujeitado a condições de vida e de morte cruéis. Ao ouvir
isto o Manuel responde: "0 António quer que o pessoal coma apenas alface!".
A expressão post hoc, ergo propter hoc significa "depois disto, logo por causa disto".
Neste sentido, esta falácia ocorre sempre que se toma como causa de algo aquilo que é
apenas um acontecimento antecedente.
Exemplo: Quando faço testes em dias de chuva, tiro negativa. Por isso, a chuva é a
causa das negativas dos meus testes.
Esta falácia ocorre sempre que um orador tenta fazer passar por verdadeira uma
proposição apenas com o fundamento de que a maioria das pessoas está de acordo com o que
essa proposição afirma.
Exemplo: A maioria das pessoas acreditam em Deus, por isso Deus deve existir. [ou] A
voz do povo é a voz de Deus.
Apontamento 1
Conteúdos de 10.0
Acontecimentos e Ações
Por sua vez, este movimento a que toda a matéria do universo está submetida
ocorre através de um conjunto de forças. É a presença destas forças (leis), na natureza,
que faz com que toda a matéria se encontre em movimento, fazendo ao mesmo
tempo com que este movimento seja da ordem do necessário, estabelecendo assim
um sistema determinista.
Posto isto, todos os eventos do universo cuja ocorrência deriva destas leis
inexoráveis da natureza dizem-se acontecimentos. Os acontecimentos são, portanto,
eventos naturais submetidos à necessidade, uma vez que dadas determinadas causas
seria (pelo menos aparentemente) impossível eles não ocorrerem. São, neste
contexto, acontecimentos todos os fenómenos naturais como chover, o vento, a
erupção de um vulcão, a rotação do planeta terra, ou mesmo coisas como "apanhar"
uma gripe, uma vez que isso é o tipo de evento que nos acontece mesmo não sendo
essa a nossa vontade.
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Apontamento:
Conteúdos de 10.0
Quando estudámos a ação humana, verificámos que esta exige sempre o exercício da
liberdade. É certo que distinguimos as ações voluntárias das involuntárias, mas até nesse
momento no estava em questão o exercício da liberdade, mas tão somente o facto de a
liberdade de escolha estar ou no constrangida. Nesse sentido, Jean -Paul Sartre parece estar
correto ao afirmar que "o ser humano está condenado a ser livre".
Por um lado, todo o ser humano é determinado (ainda que no completamente, pois o
meio em que o indivíduo se desenvolve também irá contribuir para essa determinação) por um
património genético que recebe dos seus progenitores. Essa herança genética confere ao ser
humano determinadas aptidões, as quais, necessariamente, acabarão por condicionar a sua
personalidade, o seu comportamento e as suas ações.
Para além desta condicionante de ordem física e biológica, os seres humanos crescem
e são educados em diferentes contextos. O filósofo espanhol Ortega y Gasset escreve: "eu sou
eu e a minha circunstância". Com esta afirmação o autor pretende apenas mostrar a influência
que o meio (em que crescemos e vivemos) tem junto do ser humano. De tal modo que no
podemos ignorar o impacto que a cultura tem sobre os nossos comportamentos e ações, os
quais seriam certamente distintos caso tivéssemos sido criados e educados sob os princípios e
valores de um outro padrão cultural.
Perante esta situação, eis a questâ'o: a partir do momento em que qualquer um dos
nossos comportamentos e ações são condicionados por fatores hereditários (genéticos) e
culturais, será que podemos falar efetivamente em liberdade? Mais: não será a liberdade uma
mera ilusão? Sobre este assunto, disse Espinosa o seguinte:
"(...) Os homens enganam-se quando se julgam livres, e esta opinião consiste apenas
em que eles têm consciência das suas ações e são ignorantes das causas pelas quais são
determinados. O que constitui, portanto, a ideia da sua liberdade é que eles não conhecem
nenhuma causa das suas ações. Com efeito, quando dizem que as ações humanas dependem
da vontade, dizem meras palavras das quais não têm nenhuma ideia."
Atendendo à opinião deste autor, vemos facilmente que ele defende a ideia de que a
liberdade (o livre-arbítrio, livre escolha) no é real. Trata-se antes de uma ilusão, gerada pela
nossa ignorância; pois ignoramos as verdadeiras causas que dirigem e determinam
(inconscientemente) a nossa vontade.
É certo que nem todos os autores pensam como Espinosa. Mencionámos já a opinião
de Jean-Paul Sartre, que afirma exatamente o contrário. Neste sentido, diz ainda o filósofo
Thomas Nagel:
"Algumas pessoas pensam que nunca é possível fazermos qualquer coisa diferente
daquilo que de facto fazemos. Afirmam que, em cada caso, as circunstâncias que existem antes
de agirmos determinam as nossas ações e tornam-nas inevitáveis. O total das experiências e
desejos de uma pessoa, a sua constituição hereditária, as circunstâncias sociais, em conjunto
com outros fatores de que pode não ter conhecimento, combinam-se todos para fazer com que
uma ação particular seja inevitável nessas circunstâncias. Esta perspetiva chama-se
determinismo [radical]. Isto parece ter sérias consequências, porque, se fosse assim, não faria
sentido condenar alguém por fazer uma coisa má ou elogiá-lo por fazer uma coisa boa. Se
estivesse determinado à partida o que as pessoas fariam, seria inevitável: new poderiam ter
feito outra coisa, dadas a s circunstâncias prévias. Portanto, como poderíamos achá-las
responsáveis?
Antes de avançarmos para a análise propriamente dita de cada uma das teorias
relativas ao problema do livre arbítrio, é de suma importância esclarecer, desde já, dois
conceitos fundamentais: livre-arbítrio e determinismo.
Estes dois conceitos são considerados fundamentais, pois eles colocam-nos perante
cenários possíveis absolutamente antagónicos. Dizer que a realidade humana é determinada
significa negar-lhe qualquer possibilidade de fazer escolhas, isto é, significa dizer que ela nunca
poderia ser diferente daquilo que efetivamente é. Por sua vez, afirmar a liberdade significa
exatamente o contrário, isto é, significa dizer o ser humano, através do exercício da sua
vontade, pode, a qualquer momento, alterar o decurso natural [determinístico] dos
acontecimentos.
Ora, é a partir do jogo que se estabelece entre estes dois conceitos que se originam as
diferentes teorias sobre o livre-arbítrio. E desde já podemos avançar que essas mesmas teorias
se podem agrupar em dois grandes grupos:
• Libertismo: Não existe qualquer prova de que o ser humano possui uma
natureza dual, material e imaterial. Daí que que não podemos dizer que os
nossos estados mentais não obedecem, nem são condicionados, por leis
físicas. Para além disso, ainda que existissem e não fossem condicionados
pelas leis físicas, ainda seria necessário garantir que não eram regidos por leis
não físicas.
Exercícios:
- Deliberação: reflexão ponderada que visa julgar qual a melhor forma de agir;
• Quase todas as questões de que a Filosofia se ocupa têm a ver com o ser humano e
com a forma como ele atribui sentido à vida e a tudo o que o rodeia.
1-4
Animal racional - ser dotado de inteligência
específica que lhe permite ultrapassar algumas
barreiras que a natureza. lhe impõe. O ser
humano é um ser dotado de complexidade.
17
É a sua racionalidade que o distingue dos
outros animais — permite adaptar-se à
realidade, produzindo cultura, organizando-se
em sociedade e reconhecendo e atribuindo
valor às coisas e às experiências de vida.
® Podemos então definir ações humanas a partir das suas principais características:
- so ações conscientes e voluntárias, isto é, realizadas com conhecimento de
causa;
- são livres, porque escolhemos realizá-las desta forma, conscientes de que
poderíamos ter escolhido outras ou mesmo até não as realizar;
- são racionais, porque dependem da capacidade de ponderação e avaliaçção
do agente por forma a poder escolher realizá-las;
- são intencionais, porque têm um propósito ou intenção, orientando-se para
determinado fim;
- são responsáveis, porque o agente se reconhece como seu autor.
e A estrutura da ação, a forma como se desenrola e o significado que lhe atribuímos:
AGENTE
Sujeito da ação
Ação
e O conceito de Ação
- actividade humana consciente, livre, racional, intencional, voluntária e responsável
• O conceito de Agente
- É aquele que concretiza ou põe em prática a ação/autor e sujeito da ação.
- O sujeito real ao agir mostra-se como autor daquilo que faz — poder do agerkeque
decidiu fazer aquilo, mas podia ter feito outra coisa, ou até nada fazer.
- Toda e qualquer ação depende de um agente—+ causalidade do agente ( sem ele a
ação não existiria)
- Esta relação agente-ação não é assim tão simples, nem pode ser reduzida a uma
leitura do tipo causa-efeito. Ternos de ter em conta outros conceitos como o de
motivo e intenção.
- Devemos ter em conta o agente como sujeito da ação, dotado de vontade,
racionalidade, motivações, projetos e intenções.
• O conceito de Motivo
- O que nos leva a realizar a ação.
- Responde à questão: Porque fiz/fizeste isto?
- Muitas vezes o motivo identifica-se com a razão (explica a ação e legitima-a); outras
vezes toma o sentido de causada ação( surge como elemento justificativo, não de
ordem racional, mas emocional ou psicológica, por ex: o medo, o desejo,etc)
- Quando temos de decidir ir por este ou por aquele caminho, pesam não só os
elementos racionais, mas também os emocionais, psicológicos e os inconscientes, pelo
que, a ação humana, é reflexo desta mesma complexidade, e, por isso, é difícil
definirmos o que é o motivo.
• O conceito de Intenção.
- Este conceito está intimamente ligado ao de motivo, uma vez que uma ação só é
realizada intencionalmente quando é realizada por algum motivo.
- Por ex: se decido doar dinheiro a uma instituição de caridade, a minha intenção será
a de ajudar aqueles que precisam, mas o motivo pode ser o dever de ajudar o próximo
ou a pena que sinto pelos mais necessitados
o O conceito de Finalidade
- Fim ou meta para o qual se orienta a ação; é o para quê da ação.
- Muitas vezes o motivo funde-se com a finalidade, como se antecipasse já o objetivo
da ação.
Porque é meu dever ajudar o próximo (motivo), quero ajudar doando alguns bens
(intenção), para que me sinta bem comigo mesmo (finalidade).
o O conceito de Deliberação
- Ponderação e reflexão no sentido da decisão.
- Antes de decidirmos fazer isto ou aquilo, seguir este ou auele caminho, pensamos,
refletimos, ponderamos, pesamos os prós e os contras, as vantagens e as
desvantagens das nossas escolhas.—>› A este momento de reflexão denominamos de
deliberação que só é possível porque o ser humano é capaz de refletir acerca de
diferentes possibilidades do seu agir.
o O conceito de Decisão
- Reconhecimento e afirmação da escolha que permite a execução da ação.
- O momento da decisão é o momento da escolha, da eleição de uma entre várias
possibilidades, do reconhecimento do caminho que se vai seguir.
- Na maioria da vezes considera-se a decisão como o culminar da ação, mas será que
refletimos/deliberamos sempre antes de agir?
Ações Voluntárias e Ações Involuntárias
Daquilo que vimos até ao momento, poderíamos afirmar que as ações pressupõem
sempre um exercício de liberdade. Neste sentido, só age verdadeiramente aquele que pode
escolher de acordo com a sua vontade, aquele que pondera e decide segundo a sua vontade (a
vontade é um processo racional e consciente; não confundir a vontade com o desejo).
Distinguir a voluntariedade das nossas ações não é uma questão de somenos. Note-se
que enquanto agimos livremente, enquanto atores conscientes que somos das nossas
decisões, essas ações desencadeiam consequências pelas quais somos nós os únicos
responsáveis. Assim, o exercício da liberdade é também um exercício de responsabilidade. Daí
que apurar a voluntariedade com que um agente praticou uma determinada ação é, ao mesmo
tempo, apurar a responsabilidade que lhe pode ser atribuída.
Assim, a responsabilidade que é atribuída a um agente que praticou uma dada ação de
livre e espontânea vontade não pode ser a mesma que atribuímos a um outro agente que o fez
sob coação ou ignorância. Porém, uma coisa parece certa: em qualquer caso o agente é
sempre o responsável pelas suas escolhas (como diria Sartre, o ser humano está condenado a
ser livre), uma vez que ninguém pode escolher por ele. Contudo, nem sempre as suas escolhas
são realmente voluntárias, ou livres: quando somos obrigados a escolher entre duas coisas
que, de acordo com o decurso normal da vida, não seria suposto, então essa escolha não se
pode dizer inteiramente voluntária. Por exemplo, não é suposto ter de escolher matar uma
pessoa para salvar a vida de outra.
O conceito de Responsabilidade
Imputabilidade das ações ao seu autor.
- É necessária a análise de dois elementos da rede conceptual de ação: o sujeito
responsável — o autor da ação; eo objeto de responsabilidade — os atos pelos quais
alguém é responsável, e pelos quais poderá ter de responder.
- Se este tipo de ações produz efeitos sobre alguma coisa ou alguém, significa que
delas advêm consequências.0 objeto ou matéria de responsabilidade não se fica pela
ação em si mesma, estende-se às suas possíveis consequências.
Exercícios:
2. Podem ser classificadas como ações atividades como: o que os animais fazem; os
movimentos que fazemos enquanto dormimos; as reações automáticas que temos? Porquê?
•) ;„ k? ;
3. "Em último caso, o ser humano é o único responsável pelas ações que desenvolve. Se a aço
é um exercício de liberdade, então aquele que age fá-lo sempre de forma voluntária".
P)--)(LN•f_i)
Apont am ento:
Conteúdos de 10.0
Ao estudarmos a natureza dos valores e dos juízos de valor, no âmbito da filosofia dos
valores ou axiologia, impõe-se uma reflexão em torno dos valores e da sua relação com a
cultura.
Assim, o trabalho que se segue, passa por reflectir sobre a questão de saber como
diferentes culturas, que defendem diferentes valores, conseguem coexistir na sua
diversidade.
Neste sentido, o nosso trabalho vai centrar-se em torno de três perspetivas acerca da
diversidade cultural, isto é, três perspetivas que lidam de modo bem diferente com a diferença
cultural, a saber: Etnocentrismo, Relativismo Cultural e Interculturalismo.
Das definições possíveis para cultura, parece-me robusta a definição proposta por
Edward Tylor (antropólogo inglês do século XX) que a definiu como "uma totalidade complexa
que inclui conhecimentos, crenças, artes, princípios morais, leis, costumes e quaisquer
outras capacidades adquiridas pelos membros da sociedade".
Posso também acrescentar, e sem tirar protagonismo a Tylor, que cultura pode ser
sucintamente definida como "conjunto de elementos de ordem material e imaterial que
ajudam a caracterizar uma determinada comunidade de indivíduos, elementos esses que
permitem gerar nos seus membros um triplo sentimento: 1.2 unidade; 2.2 pertença; 3.2
singularidade".
É precisamente para tentar dar resposta a estas questões que vamos explorar
as perspetivas do Etnocentrismo, Relativismo Cultural e Interculturalismo.
Esta perspetiva acerca da diversidade cultural foi dominante durante os séculos XIX e XX
com a colonização e com as invasões no decorrer das Guerras Mundiais, servindo de
justificação para o domínio dos colonizadores sobre os colonizados, cujas culturas foram
consideradas inferiores e desrespeitadas por não se ajustarem à norma estabelecida na cultura
"dominante". Historicamente, o etnocentrismo só passou a ser politicamente incorreto a partir
de meados do século XX, quando se iniciou o processo de descolonização e na ressaca do pós-
guerra.
Numa perspetiva política, uma atitude etnocêntrica está, atualmente, associada a regimes
políticos não democráticos (totalitários) e a discursos políticos populistas e nacionalistas que
tentam fomentar a superioridade étnica e, direta ou indiretamente, o racismo e a xenofobia.
Importa salientar que numa versão manipuladora e amplificante, o etnocentrismo pode levar
ao etnocídicontando-se ao longo da história um rasto negro de casos, como são exemplo: o
genocídio dos judeus e ciganos no decorrer da 2.@ Guerra Mundial, o genocídio de Srebrenica
na ex-jugoslávia onde foram massacrados bósnios muçulmanos e o genocídgno Ruanda onde
a etnia tutsi foi massacrada pelo hútus. etz,,,z,nox cv-›
3. Dificultar o diálogo intercultural (se a minha cultura é superior, vou dialogar para quê?).
Limitações:
Reconhece que todas as culturas têm igual valor — não culturas superiores e culturas
inferiores e todas as culturas têm o direito de preservar a sua identidade.
Limitações:
1.2 — Promove uma tolerância passiva: aceitar o relativismo é sinónimo de no ser possível
censurar práticas desumanas como a mutilação genital, casamento infantil, lapidação, entre
outras (aqui tolerância é sinónimo de indiferença). Legitimaram-se e desculparam-se práticas
que iam contra os direitos humanos em nome do relativismo cultural — respeitar as outras
culturas não tem de significar não colocar em causa determinados valores e práticas aceites
por determinados grupos sociais — contrariam, muitas vezes, princípios éticos básicos de
respeito pela pessoa humana. Há, por isso, uma grande dificuldade em conciliar direitos de
grupo e direitos humanos (inegociáveis no Ocidente). Sendo tolerantes por definição, somos
obrigados a tolerar tudo, inclusive a intolerância.
2.2 — Não promove o diálogo intercultural: dificulta o diálogo intercultural (não me posso
"meter na vida" das outras culturas, todos os fenómenos/práticas devem ser interpretados
como cultura - culturalismo). Deixa de fazer sentido qualquer debate intercultural, qualquer
esforço racional e argumentativo para encontrar o melhor ponto de vista, como por exemplo
na questão do aquecimento global, já que teríamos de considerar que todos estão igualmente
certos. Retira-se toda a legitimidade à Declaração Universal dos Direitos do Homem — se em
matéria dos valores, não existem pontos de vista absolutos ou objetivos, a universalidade
destes direitos fica de imediato em causa. — a pessoa deixa de ser um valor absoluto.
o O Intesculli ralisrno
Em suma, há valores que são necessariamente aceites e praticados por todas as culturas —
valores transculturais — tal como, a vida, a educação, a justiça, a saúde, o trabalho, a verdade,
etc... - que são valores necessários à existência de qualquer cultura. Por exemplo, na
Declaração Universal dos Direitos do Homem, todos estes valores têm expressão e, por isso, há
uma correspondência universal e não apenas cultural, objetiva e não apenas relativa. Apenas
considerando estes valores é possível, através do diálogo intercultural, encontrar uma solução
para alguns dos problemas que assolam hoje a humanidade.
Apontamento:
Dísciplina: Hiosofla
Conteúdos de 10.°
INTRODUÇÃO
No capítulo anterior, vimos que para alguns autores não bastava a cumprimento das
normas morais vigentes para se considerar moral uma dada ação. Para além desse
cumprimento era ainda fundamental que a intenção do sujeito que desenvolve a ação fosse,
única e exclusivamente, a de respeitar a própria norma/regra moral; e não simplesmente
aplicá-la porque lhe era momentaneamente vantajosa, enquanto instrumento para alcançar
algum dos seus interesses pessoais e egoísticos.
Ora, às teorias que colocam o ênfase da moralidade na intenção do sujeito que realiza
a ação, e que defendem que só são morais as ações cuja intenção não é outra que não o
sentido de dever de respeitar as normas morais, damos o nome de teorias deontológicas. O
conceito dean significa dever, e por isso as éticas deontológicas são éticas que assentam numa
ideia de dever. A fim de compreendermos melhor os fundamentos deste tipo de teorias,
estudaremos aqui, a título de exemplo, a ética kantiana, uma vez que se trata de uma ética
deontológica, isto é, ela assenta numa ideia de dever.
Comecemos então por perguntar: que dever é este que as éticas deontológicas
reclamam? E que dever é este a que Kant atribui suma importância?
Porém, de entre estas disposições, apenas a Razão tem acesso à luz do Conhecimento
e só ela é capaz de distinguir o correto do incorreto (por isso dizemos que a necessidade e os
desejos nos "cegam", interferem no nosso discernimento), através dos princípios de justiça e
moralidade (neutros e imparciais) que devem pautar e caraterizar as nossas ações. Esta
imparcialidade e neutralidade da Razão só é possível porque a Razão é um elemento formal e
impessoal (o processo racional é universal e igual para todos os indivíduos).
Uma vez que a Razão é a faculdade ligada ao conhecimento, então cabe-lhe a ela
formular os princípios morais que devem orientar as nossas ações, evitando assim a natureza
egoística e pessoal das nossas inclinações naturais e dos nossos sentimentos. Imaginem que
caos seria o mundo e a moral, se cada indivíduo fundamentasse a sua moralidade nos seus
próprios interesses pessoais e nos seus desejos! Bem, é difícil imaginar. E pior, num caso como
esse já não existiria moral, pois esta, como vimos anteriormente, diz respeito ao conjunto de
normas e princípios imparciais que são impostos coletivamente a todos os indivíduos (de um
dado grupo).
Ora, após esta introdução começamos, pois, a perceber que tipo de dever a ética
kantiana reclama. Este dever é dirigido à Vontade, a qual deve servir apenas os mandamentos
da Razão e recusar as exigências de quaisquer outros motivos, como aqueles que provêm das
outras disposições humanas — necessidades e inclinações naturais ou desejos e sentimentos.
Se a Vontade se guiar apenas pelas diretrizes da Razão, então ela deixará de estar dividida
(entre diferentes disposições) e passa a ser considerada uma Vontade Boa, na medida em que
se passa a reger por normas absolutamente neutras e imparciais (e não por inclinações,
desejos e sentimentos pessoais e egoísticos).
A Vontade tem, portanto, o dever de se deixar guiar pela Razão. E está claro, todo o
dever significa uma obrigação. Então perguntemos: que obrigação irá a Razão reclamar que a
Vontade cumpra? A Vontade terá de cumprir a Lei Moral, devidamente estipulada pela Razão.
E em que circunstâncias deve a Vontade seguir essa Lei Moral? Em todas e quaisquer
circunstâncias, uma vez que a moralidade, sendo uma regra neutra, impessoal e imparcial de
comportamento, e a qual dirige a interação Eu-Outro, não admite qualquer tipo de exceção. A
Lei Moral deve pautar (dirigir) cada uma das nossas ações (na esfera social),
independentemente do contexto em que nos encontremos. Isto porque a moralidade não se
confunde com a utilidade, isto é, não devemos seguir apenas a Lei Moral quando esta nos
favorece e nos dá jeito (desse modo as nossas ações seriam sempre pautadas por um interesse
pessoal e egoístico, baseado não na razão, mas sim nas nossas inclinações naturais, nos nossos
desejos e/ou sentimentos).
✓ Segundo Kant o ser humano possui uma Vontade dividida, a qual ora cede às
exigências egoísticas do indivíduo (necessidades e sentimentos), ora obedece
às diretrizes imparciais e impessoais da razão.
✓ Para a Vontade ser sempre Boa, e não agir egoisticamente, então ela tem o
dever de respeitar, em todo e qualquer contexto, a Lei Moral, devidamente
estipulada pela Razão.
Pois bem, a Vontade deve guiar-se pela Lei Moral. Mas que Lei Moral é essa? Kant diz
que a Lei Moral é um imperativo categórico. Certo, a Lei Moral é um imperativo categórico! E
já agora: o que é um imperativo categórico?
No caso dos imperativos hipotéticos, podemos dizer que eles ordenam que se cumpra
uma determinada ação, de modo a alcançar um determinado objetivo (por nós desejado). Por
exemplo: Se queres atingir A, então tens de, ou deves, fazer B. Neste sentido, estes imperativos
remetem-nos sempre para situações concretas e particulares, e indicam-nos os meios que
devemos seguir para alcançar um determinado fim.
Ora, a nossa Lei Moral, diz Kant, é pois um imperativo categórico. Ou seja, é uma Lei
que deve ser cumprida independentemente do contexto e da situação. Mas por que razão tem
de ser a Lei Moral uma ordem perentória, categórica, obrigatória? Pela simples razão de assim
evitar que a Vontade se distraia e, esquecendo a Razão, se deixe levar pelas inclinações e
sentimentos do momento.
Pois bem, a Lei Moral kantiana é formulada pela Razão e apresentada como um
imperativo categórico a que a Vontade deve obedecer por mero respeito, e não por qualquer
inclinação, desejo ou sentimento. Mas o que diz, efetivamente, essa Lei? Que ordem é essa
que ela dirige à Vontade? Em resposta a estas questões, a Lei Moral desdobra-se em duas
formulações. Assim, na primeira formulação ela diz:
Mas isso significa que se uma pessoa considerar desejável que toda a gente mate,
roube ou minta, então essa pessoa, na medida em que age desse modo, pode estar a
desenvolver uma ação moral? Bem, de acordo com a primeira formulação do imperativo
categórico isso estaria correto. Na verdade, nada do que ali é dito impediria tal situação.
Porém, falta-nos ainda olhar para a segunda formulação da Lei Moral. Vejamos:
"Age de tal forma que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na de
qualquer outro, sempre simultaneamente como um fim, e nunca como um meio".
Resumindo:
Repare-se que a Lei Moral kantiana é meramente formal, uma vez que ela não
apresenta qualquer conteúdo (não te diz que tipo específico de coisas podes ou não fazer). O
conteúdo (a máxima) será apenas definido subjetivamente por cada indivíduo particular. No
entanto, graças ao imperativo categórico, essa máxima acaba por se objetivar (através da ação
do indivíduo) e universalizar (uma vez que o indivíduo só age de acordo com o que ele gostaria
que os outros também agissem). Deste modo poderíamos concluir que segundo Kant "não
devemos fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que os outros nos fizessem a nós".
(1) morais — também chamadas de "ações por dever", são todas as ações que o indivíduo
realiza somente por uma ideia de dever, por respeito à norma moral. Para isso a intenção do
indivíduo tem de ser boa, isto é, ele tem de praticar a ação como um fim em si mesmo e não
com a finalidade de alcançar um determinado resultado. Por exemplo, nem sempre ajudar os
outros representa uma ação moral; para ser moral é necessário que o motor da tua ação seja
apenas o respeito pelo dever de ajudar, e não o facto de ajudares para que não fiques, de
algum modo, a sentir-te mal por não teres ajudado.
(2) legais — também denominadas de ações "amorais", ou "conforme ao dever", estas ações
caraterizam-se por o indivíduo respeitar a norma moral não por respeito à própria norma, mas
antes como um meio para atingir um determinado fim. Neste sentido, as ações legais são
todas aquelas em que o indivíduo respeita a norma, mas a sua ação é movida por uma
intenção distinta da intenção do dever: a sua intenção segue as exigências das inclinações,
desejos ou sentimentos.
(3) imorais — também chamadas de "ações contra o dever", estas caraterizam-se por
desrespeitar a máxima estabelecida pela Lei Moral.
Notas:
a) Segundo Kant o ser humano é dotado de livre-arbítrio. No entanto, para o autor, poder
optar não é sinónimo de liberdade, ou de ser livre. Na verdade, só é livre aquele que opta por
agir segundo a Razão e realizar o que é correto, independentemente das consequências.
Aquele que age por motivos exteriores à Razão (inclinações e sentimentos) não é
verdadeiramente livre, pois ele realmente não escolheu, limitou-se a servir, como um escravo,
as necessidades e desejos que o domaram/determinaram.
Autonomia significa dar Lei a si próprio. Só é livre aquele que é autónomo e é capaz de se
autodeterminar segundo os princípios da própria Razão. Agir por sentimento, ou com base nas
nossas inclinações, é agir não de modo autónomo, mas sim de modo heterodoxo (algo
exterior).
b) É a intenção com que se pratica uma ação que nos permite distinguir as ações morais
daquelas que são meramente legais.
c) A moralidade diz respeito à interação Eu-Outro. Por isso qualquer ação Moral é um fim em si
mesmo, pois um Outro nunca pode ser instrumentalizado de modo a que nós atinjamos um
determinado fim.
A Teoria Consequencialista de Stuart Mill
Ao contrário de Kant, que fundamenta a sua teoria moral numa ideia de Dever, Stuart Mill
desenvolve uma teoria moral com base nas consequências da ação. Como existem diferentes
teorias Consequencialistas, a teoria de Mill é conhecida como Utilitarismo, pois segundo o
autor, apenas o que é útil pode ser correto, e só é correto aquilo que gera as melhores
consequências para o maior número de pessoas.
Mas vejamos cada passo com atenção. Segundo Mill aquilo que marca a existência e objetivo
de cada indivíduo é a busca da felicidade, isto é, todas as pessoas procuram ser felizes e evitar
o sofrimento e a dor. Por isso, se alguma coisa deve pautar as nossas ações essa coisa é
precisamente a busca da felicidade.
Daí que o autor afirme: se alguma coisa existe neste mundo que vale a pena, e que é
verdadeiramente útil, essa coisa é a felicidade. Neste sentido, a finalidade da ação deve ser a
busca da felicidade. Assim o Princípio Moral do autor será chamado de Princípio da Utilidade
ou da Maior Felicidade. E diz o Princípio:
"Age sempre de modo a produzir a maior felicidade para o maior número de pessoas". Esta Lei
Moral faz, portanto, da felicidade o bem geral a perseguir e, ao mesmo tempo, o critério que
permitirá distinguir as boas ações das más ações, as ações morais das ações imorais.
Deste modo, as ações são boas, ou morais, na medida em que promovem a maior felicidade
para o maior número de pessoas. Claro que fazer da felicidade o critério de moralidade levou
muitos outros autores a criticar a posição de Mill, dizendo que a felicidade é um termo
demasiado abrangente (pode ter diferentes interpretações para diferentes indivíduos) e que
seria difícil quantificar a felicidade (o que é mais ou menos feliz? Com que "fita métrica"
podemos medir a felicidade?).
Por causa destas críticas, Stuart Mill viu-se obrigado a explicar que a noção de felicidade a que
se refere a sua Lei Moral nada tem a ver com os prazeres sensoriais ligados às necessidades
físicas, como beber e comer (são prazeres que o ser humano partilha com todos os outros
animais, e por isso são prazeres inferiores), mas refere-se, isso sim, aos prazeres superiores,
exclusivos do ser humano, e que são prazeres espirituais ligados a necessidades intelectuais,
sociais, morais, estéticas, etc.
Esta busca da Felicidade (ou dos Prazeres Superiores) não deve ser entendida, no entanto,
como uma atividade egoísta, pois, em conjunto com a Lei Moral, Mill apresenta o Princípio da
Imparcialidade. Segundo este princípio, o agente, antes de agir, não deve (1) visara sua
exclusiva felicidade., (2) deve realizar uma ponderação imparcial, isto é, deve dar a mesma
importância aos seus interesses e aos interesses dos outros que são afetados pela ação, e (3)
promover a reciproci_dade (só fazer aos outros o que queremos que nos façam a nós).
Posto isto, o projeto ético do Utilitarismo pode ser visto como uma forma de altruísmo, uma
vez que cada um de nós deve realizar as ações que beneficiam a maioria, e não aquelas que
nos beneficiam a nós. Neste sentido, defendia Mill, que qualquer indivíduo teria a obrigação
de subordinar os seus interesses particulares em benefício de um interesse geral. No entanto,
levado ao extremo, isto poderia conduzir a situações em que seria moral sacrificar uma pessoa
em benefício do maior bem-estar e felicidade de uma maioria. Neste sentido, podemos
perguntar: até que ponto os fins justificam os meios? Até que ponto será moral sacrificarmos
alguma coisa/alguém para promover a maior felicidade para um maior número de pessoas?
Vemos que ao contrário de Kant, o que é relevante para Mill são as consequências e não a
intenção da ação. O que significa que mesmo que alguém nos tente fazer mal, mas da ação
dessa pessoa resultar uma boa consequência para nós, seriamos obrigados a dizer que aquela
pessoa teve um comportamento moral correto.
Notas:
(1) A ética de Mill é teleológica, isto é, ela define uma finalidade para a ação: á finalidade é a.
felicidade.
(2) É uma ética eudemonista, pois concebe a fq!içiçláccpmo . objetivo. de .......... e é hedonista,
pois identifica a fqljçjçiáçtç. çom.yro, estado. de prazer e bem-estar.
(3) É uma teoria consequencialistá, pois as consequências da ação são o único critério de
moralidade.
(4) A ética de.Mill persegue os 'fins, não dando grande relevância ao meio através do qual os
atinge.
(5) De certo modo, a ética de Mill não proíbe a instrumentalização que pode ser feita de
algumas minorias em função do bem estar das maiorias.
Aporztimerito:
Filosofia
Conteúdos de 10,0
I — Introdução
No capítulo anterior, relativo ao tema dos Valores, começámos por afirmar que, a
maior parte das vezes, e no pleno exercício da liberdade, o ser humano desenvolve as suas
ações a partir de uma preferência valorativa. Foi precisamente nesse contexto que definimos
os valores como uma referência, um guia ou uma orientação da ação humana. É que por
norma, como vimos anteriormente, pautamos as nossas ações de acordo com o que nos é
mais preferível (ainda que seja pela negativa).
Tendo por base este pressuposto [de que as nossas ações se pautam pelas nossas
preferências valorativas], e tendo em conta que existem diferentes tipos [categorias] de
valores (como os valores económicos, estéticos, ambientais, religiosos, etc.), podemos
também agora discriminar diferentes tipos [categorias] de ações, consoante os valores que as
motivaram. Deste modo, teremos então:
• Ações económicas — todas aquelas ações que são realizadas tendo por base
critérios [valores] económicos;
• Ações estéticas — todas aquelas ações que são realizadas tendo por base
critérios [valores] estéticos;
• Ações religiosas — todas aquelas ações que são realizadas tendo por base
critérios [valores] religiosos.
A lista de ações que acabámos de enunciar serve apenas como exemplo, uma vez que
muitas outras [categorias de ações] poderiam ser enunciadas [tantas quantos os tipos de
valores que existem]. E, claro está, nada impede que a mesma ação possa, ao mesmo tempo,
encerrar em si mais do que uma categoria de valores. Por exemplo: imagina que dispões de
100 euros para comprares um par de sapatilhas. Essa quantia que dispões irá necessariamente
orientar a tua escolha [o valor económico de que dispões coloca um limite à tua seleção]. No
entanto, apesar do valor económico em causa, certamente que esse não será único critério a
orientar as tuas preferências, uma vez que de entre os artigos existentes, e disponíveis face ao
teu orçamento, nem todos despertarão em ti o mesmo sentimento de agradabilidade estética.
De tal modo que, a par dos valores económicos, também os valores estéticos ajudarão a
definir a tua tomada de decisão e, em último caso, a tua ação.
II — As ações ético-morais
e A Ética (do grego êthos, que significa carater ou modo de ser) é uma reflexão
filosófica sobre «como se deve viver», visando definir os princípios e fins que
melhor orientem o ser humano no plano de uma moral comum. Por outras
palavras, a Ética busca os fundamentos que garantam a justiça dos princípios
que devem pautar as nossas ações quando nos relacionamos com os outros.
Digamos que se trata de uma reflexão que visa propor a melhor (imparcial e
justa) maneira de se viver.
Assim: é função da Ética teorizar sobre como devemos viver, propor princípios
devidamente justificados e apelar ao seu reconhecimento.
e Por sua vez, a Moral (do latim mos, mores, que significa costume), ao contrário
da Ética, não designa nenhum tipo de reflexão, ela limita-se a apresentar o
conjunto das normas morais (os códigos/regras de bem e de mal) que são
impostos a cada indivíduo/sociedade para pautar o seu comportamento social.
Assim: a função da Moral é impor um conjunto de normas para regular as
relações sociais de convivência.
A partir das definições apresentadas, podemos agora afirmar, talvez de um modo mais
simples, que a Ética é uma reflexão sobre os princípios e as justificações que devem presidir às
normas comportamentais que a Moral impõe à sociedade. Aliás, é importante entender desde
já que as normas morais não se confundem, nem devem confundir, com as normas jurídicas.
Embora no próximo capítulo, dedicado à Política, voltemos a falar sobre este assunto, é
importante termos já esta ideia de que as normas morais:
Ora, a consciência moral é uma instância interior que permite ao indivíduo orientar,
avaliar e criticar as suas ações. Neste sentido, é precisamente o desenvolvimento da
consciência moral que marca a passagem da heteronomia para a autonomia, isto é, que marca
a passagem de um estado em que cumprimos determinadas normas morais, sem que para elas
tenhamos uma justificação clara, para um estado em que o individuo se torna, moralmente,
senhor de si mesmo, impondo a si próprio as leis a que deve obedecer.
Posto isto, estamos agora em condições plenas para apresentar uma definição de ação
ético-moral:
Dado que a moralidade se joga no domínio da liberdade, uma vez passa sempre pela
opção dos indivíduos, é natural que se pergunte por que razão devemos agir moralmente. Ora,
em jeito de resposta a esta questão, vimos já que é no domínio das ações ético-morais que se
opera a metamorfose do indivíduo, enquanto animal biologicamente definido, em pessoa. É
claro que não existe uma definição clara do conceito de pessoa, mas ele parece incorporar em
si um uma ideia de personalidade autoconsciente, dotada de atributos morais, sociais e
institucionais.
Para além desta exigência da moralidade para que o simples indivíduo se constitua
como pessoa, existem ainda outros critérios que procuram fundamentar a existência moral
dos seres-humanos. Vejamos algumas dessas razões:
A maior parte das vezes damos por nós a fazer juízos morais, quer sobre as nossas
ações quer sobre as que os outros desenvolvem. 0 juízo moral é a expressão do valor moral de
uma ação, isto é, é o juízo que expressa a apreciação de uma ação em termos de valores
morais (como por exemplo bom, honesto, correto, etc.). Mas qual o critério que usamos para
ajuizar moralmente uma ação?
A maior parte das teorias defende que não existem valores morais absolutos. Do
mesmo modo que todos os outros valores, também os valores morais são convenções
(acordos) que resultam de um consenso social entre os indivíduos que compõem uma
determinada sociedade. Ora, como a maior parte das sociedades são diferentes umas das
outras, pois apresentam diferentes padrões culturais, é também natural que os seus valores e
normas morais sejam distintos, o que significa, enfim, que os costumes morais não são
universais e absolutos, mas apenas relativos (relativismo moral).
Note-se, porém, que para além deste critério de moralidade, existem outras teorias
que defendem que para uma ação ser moral não basta cumprir as normas morais
estabelecidas.
Por exemplo, algumas teorias defendem que a intenção, ou o propósito, com que um
indivíduo cumpre uma norma é o elemento essencial para saber se a ação é moral ou não.
Quer isto dizer que se alguém cumpre uma norma moral só porque através desse
comportamento pretende obter uma vantagem pessoal, então estas teorias defendem que tal
ação não poderá ser genuinamente moral, visto que esse indivíduo age somente por interesses
particulares e egoístas, e não por respeito sincero para com os outros. As ações morais só
podem ser aquelas que são realizadas sem outro fim que não seja o respeito pela própria
norma, pelo dever. As teorias que defendem este tipo de moralidade denominam-se de éticas
deontológicas.
Há ainda outras teorias éticas que concebem o valor moral de uma ação em função das
boas ou más consequências que dela podem resultar. Assim, uma ação é moral, não por
cumprir uma norma vigente, mas sim se dela resultarem as melhores consequências para o
maior número de pessoas envolvidas nessa ação. Estas teorias denominam-se de éticas
consequencialistas.
APONiiMNTO N. c' 2
‘11:XV
Disciplina: Filosofia
- O ponto de partida para a discussão filosófica são os problemas. No que diz respeito aos
problemas, a principal ferramenta filosófica é a capacidade de os formular. Formular um
problema significa ser capaz de enunciá-lo. Geralmente, a melhor forma de o fazer é
formulando diretamente uma questão; o problema da justiça de guerra, por exemplo, pode ser
formulado nos seguintes termos: "Pode haver guerras justas?"; ou alternativamente, podemos
dizer que consiste "no problema de saber se uma guerra poderá alguma vez ser justa ou não."
Além disso, os filósofos também devem ser capazes de esclarecer um problema, isto é, de
explicitar o seu conteúdo e a sua relevância. Por exemplo, "0 problema da justiça de guerra
consiste em procurar determinar se existem (ou não) situações que justificam o recurso ao
conflito armado entre diferentes Estados (ou comunidades políticas)..."; "Este problema é
importante porque..."; etc.
Pode ainda ser de grande importância relacionar o problema em mãos com outros
problemas filosóficos aos quais este se encontra ligado. Por exemplo, o problema da justiça de
guerra, tal como foi aqui formulado, relaciona-se, entre outros, com um problema mais geral
acerca da moralidade das nossas ações, ou seja, com o problema de saber o que torna uma
ação certa ou errada.
- Chamamos teorias ou teses às diferentes respostas que os filósofos avançam para resolver os
problemas de que se ocupam. No entanto, aquilo que está a ser discutido pelos filósofos não
são as frases propriamente ditas, mas sim as ideias que lhes estão subjacentes, ou seja, as
proposições.
1) Lógica:
Esses elementos são: os conceitos (ou termos), as proposições (ou juízos) e os argumentos
(também chamados de raciocínios ou inferências). Vejamos cada um deles.
A) Os Conceitos:
- Por estas razões, uma das principais tarefas do trabalho filosófico é tentar clarificar os
conceitos. E essa clarificação resulta de uma boa definição. Contudo, para que uma definição
seja boa, ela terá de ser explícita, isto é, ela terá de ser feita com base em condições
necessárias e suficientes.
Exemplo:
Conceito — Macieira
A Macieira é uma árvore. Ser árvore é uma condição necessária para ser macieira, mas não é
suficiente.
A Macieira é uma árvore que tem como fruto a maçã. Deste modo, temos então as condições
necessárias para se ser uma macieira.
- não pode ser demasiado ampla (para não abranger elementos que não pertencem à extensão
do conceito), nem demasiado restrita (para não excluir nenhum dos elementos abrangidos por
essa extensão;
Existem conceitos mais gerais, amplos, e outros mais restritos, ou singulares. Assim, dizemos
que os mais gerais são aqueles que têm maior extensão, pois aplicam-se ou abrangem um
maior número de elementos, e os mais restritos têm menor extensão.
Quanto mais geral for um conceito, menos caraterísticas individualizadoras possui, menos
compreensivo ele é. Assim, dizemos que os conceitos mais gerais são aqueles que têm menor
compreensão, enquanto que os conceitos mais específicos, ou restritos, têm maior
compreensão. Por ex: o conceito de animal tem maior extensão que o conceito de cão, mas o
conceito de cão tem maior compreensão que o conceito de animal.
B) Os Juízos
Mais, uma mesma proposição pode ser expressa por diferentes frases declarativas. Por
exemplo, a frase «A terra é contemplada pelo astronauta a partir da Lua» expressa a mesma
proposição que a frase «0 astronauta contempla a Terra a partir da Lua».
Apenas as frases declarativas servem para expressar proposições, pois apenas estas possuem
um conteúdo suscetível de ser considerado verdadeiro ou falso. Para clarificar este aspeto,
vamos comparar as frases que se seguem:
No que diz respeito à qualidade, as proposições categóricas podem ser afirmativas — quando
afirmam algo — ou negativas — quando negam algo. No que diz respeito à quantidade, as
proposições categóricas podem ser universais — quando aquilo que afirmam (ou negam) se
aplica à totalidade do sujeito —, particulares — quando aquilo que afirmam (ou negam) se aplica
a uma parte do sujeito —, ou singulares — quando aquilo que afirmam (ou negam) se aplica
apenas a um indivíduo. Exemplos de proposições categóricas:
Proposições Complexas:
• Se forem condicionais, então elas afirmam ou negam sob determinadas condições. Ex:
Se todos os S são P, então nenhum A é P.
Aquilo que está aqui a ser dito é que ser português implica ser europeu, ou, por outras
palavras, está-se a afirmar que ser português é uma condição suficiente para se ser europeu e
que ser europeu é uma condição necessária para se ser português.
Neste caso, estaríamos a afirmar que ser europeu é uma condição suficiente para se ser
português e que ser português é uma condição necessária para se ser europeu. A Proposição
Condicional 1 é verdadeira, ao passo que a Proposição Condicional 2 é falsa, pois existem
europeus que não são portugueses, mas sim franceses, alemães, espanhóis, etc.
A proposição que implica, isto é, aquela que constitui uma condição suficiente designa-se
"antecedente" (na Proposição Condicional 1, corresponde à proposição: "Eu sou português").
A proposição que é implicada, isto é, aquela que constitui uma condição necessária designa-se
"consequente" (na Proposição Condicional 1, corresponde à proposição: "Eu sou europeu").
Assim, a Proposição Condicional 1 poderia de igual modo ter sido expressa por qualquer uma
destas formulações alternativas:
- Quando queremos proceder a uma definição explícita de algo, não basta apresentar
condições necessárias ou suficientes, temos de apresentar condições simultaneamente
necessárias e suficientes. Ora, se, como acabámos de ver, a relação de condição necessária é,
geralmente, expressa em português pela expressão "só se" e a relação de condição suficiente
é, geralmente, expressa pela expressão "se", então para expressar condições simultaneamente
necessárias e suficientes devemos usar a expressão "se, e só se" (ou equivalentes, como "se e
apenas se", "se e somente se", etc.), como acontece por exemplo na seguinte definição: "Algo
é água se, e só se, é H20".
Às proposições que têm subjacente esta estrutura: "P se, e só se, Q" decidiu chamar-se
"bicondicionais", porque cada uma das proposições que as compõem implica (ou tem como
consequência) a outra, porque é simultaneamente verdade que "Se P, então Q" e que "Se Q,
então P''.
Com efeito, quando dizemos que "A água é H20", estamos a afirmar que se algo é água, então
é H20 e que se algo é H20, então é água. Isto significa que uma condição necessária e
suficiente para algo ser água é ser H20, e vice-versa, ou seja, "Algo é água se, e só se, é H20".
C) Os Raciocínios ou Inferências
Tal como os conceitos, os juízos também se relacionam entre si, organizando-se em operações
mais complexas, chamadas raciocínios ou inferências. Assim, um raciocínio é um
encadeamento de dois ou mais juízos, os quais se encontram estruturados para deles se
extrair uma conclusão. A expressão verbal do raciocínio é o argumento.
Existem expressões linguísticas que, tipicamente, servem para indicar essa pretensão: os
indicadores de premissas e conclusão. Quando alguém afirma que "Deus não existe, porque há
mal no mundo" está a usar o "porque" para indicar qual é a razão que o leva a pensar que
Deus não existe, ou seja, está a usá-lo como um indicador de premissas. Por outro lado,
quando alguém afirma que "Há mal no mundo. Logo, Deus não existe" está a utilizar o "logo"
para indicar que a ideia de que "Há mal no mundo" suporta (ou tem como consequência) a
ideia de que "Deus não existe", ou seja, está a utilizá-lo como um indicador de conclusão. Na
tabela que se segue apresentam-se alguns indicadores de premissas e conclusão comuns.
• Pois... • Portanto...
•Supondo/admitindo/assumindo/ • Logo...
sabendo que... • Por conseguinte...
• Sendo que... • Daí...
• Porque... • Donde...
• O que / como se mostra por... 'Assim...
• Tal como resulta / decorre / se • Por essa razão...
conclui de... • Em consequência / • Por isso...
como resulta(do) de.. • Consequentemente...
• Desse modo...
•Do que se conclui / segue / infere / deduz que...
• Conclui-se / segue-se / infere-se / deduz-se que...
• O que acarreta que...
• O que tem por / como consequência que...
• Tem-se que...
• Vem que...
• O que prova / justifica / permite defender que...
• Do que resulta / decorre que...
• De modo que...
• O que mostra que...
Para formular explicitamente um argumento (ou para reconstruir um argumento que nos foi
apresentado por outrem de uma forma confusa e desordenada) devemos seguir os passos que
se seguem:
Para ver como é que isto funciona na prática, vamos imaginar um exemplo de argumento
apresentado de forma confusa e desorganizada e tentar reformulá-lo de forma explícita.
"É claro que Deus não existe! Deus não permitiria que existisse mal no mundo, por isso,
Deus não existe."
O ponto 1. diz-nos que a primeira coisa a fazer é identificar a conclusão do argumento. Para
isso temos de procurar responder à seguinte pergunta "Qual é a ideia que o autor do
argumento quer defender?" ou, dito de outra forma, "Quem apresenta este argumento quer
convencer-nos a acreditar em quê? Neste caso, parece ser claro que o autor do argumento
quer convencer-nos a acreditar que "Deus não existe". Em alguns casos podemos facilmente
detetar a conclusão do argumento se encontrarmos um dos indicadores de conclusão
apresentados acima. Neste exemplo, a expressão "por isso" indica que aquilo que surge em
seguida é a conclusão do argumento.
No ponto 2., estabelece-se que, em seguida, devemos identificar as premissas do argumento.
Para isso temos de responder à seguinte questão "Que razões apresenta o autor do argumento
para defender a sua conclusão?". No exemplo apresentado, afirma- -se que a existência de
Deus não é compatível com a existência de mal no mundo, ou seja, afirma-se que a existência
de Deus é uma condição suficiente para que não haja mal no mundo. Podemos expressar esta
ideia através da seguinte condicional:
No ponto 3., recomenda-se que se procure detetar se há alguma premissa implícita, isto é,
alguma premissa que o autor do argumento não chegou a formular explicitamente, mas que é
legítimo presumir que é uma das ideias que este precisa de assumir para poder chegar à
conclusão. No exemplo apresentado, podemos presumir que o autor do argumento acredita
que
Por fim, no ponto 4., é-nos sugerido que escrevamos cada premissa (incluindo a(s) premissa(s)
omissa(s), caso existam) numa linha diferente, seguidas pela conclusão, que surge na última
linha, antecedida pela palavra "logo" (para ser mais fácil identificar os diferentes passos do
argumento, sugere-se ainda, que todas as linhas devem ser numeradas, por exemplo com 1, 2,
3, e assim sucessivamente (ou com P1, P2, P3, para as premissas, e Cl), para a conclusão).
Neste caso, o argumento apresentado no exemplo ficaria qualquer coisa como:
1- Princípio da Identidade: é a primeira das três leis clássicas do pensamento e foi formulada
por Parménides (filósofo grego do séc. VI/V a.C) nos seus estudos lógicos. De acordo com esta
lei todas as coisas possuem caracteres próprios da sua identidade, de tal modo que também
todas as elas se podem diferenciar das restantes.
2- Princípio da Não contradição: é a segunda das três leis clássicas do pensamento, e foi
formulada por Aristóteles na sua obra Da Interpretação. Aí, afirma Aristóteles que duas
afirmações contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Por exemplo: As
afirmações «A é B» e «A não é B» não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo.
Assim, nada pode ser uma coisa e não ser essa mesma coisa ao mesmo tempo. A forma lógica
deste princípio é IP e — P).
Assim, uma coisa ou é ou não é, não existindo meio termo. A forma lógica deste princípio é ou
A ou não
Olhando para estas três leis, vemos facilmente que elas se complementam. Na verdade, as leis
da Não Contradição e do Terceiro Excluído não são senão um complemento à lei primeira da
Identidade.