Apostila Ludoterapia1598973626
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Ludoterapia
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................................2
CAPÍTULO 1 – O NASCIMENTO DA LUDOTERAPIA.......................................................3
CAPÍTULO 2 – COMO FUNCIONA O PROCESSO DA LUDOTERAPIA........................6
CAPÍTULO 3 – O AMBIENTE IDEAL PARA A LUDOTERAPIA ......................................9
CAPÍTULO 4 – O VALOR DO LIMITE NA LUDOTERAPIA ............................................13
CAPÍTULO 5 – A PARTICIPAÇÃO INDIRETA DOS PAIS ..............................................16
CAPÍTULO 6 – A COMUNICAÇÃO NA LUDOTERAPIA .................................................19
CAPÍTULO 7 – O NASCIMENTO DA LITERATURA PARA CRIANÇAS ......................22
CAPÍTULO 8 – A LITERATURA INFANTIL NA LUDOTERAPIA ...................................26
CAPÍTULO 9 – O RELATO DA HISTÓRIA INFANTIL NA LUDOTERAPIA .................29
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................32
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................33
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INTRODUÇÃO
Atrasos no desenvolvimento;
Problemas de aprendizagem;
Procedimentos médicos;
Doenças crônicas;
Comportamentos inadequados ou agressivos;
Situações familiares como: divórcio, morte, brigas;
Situações traumáticas;
Violência doméstica, abusos ou negligência;
Ansiedade, depressão e outros quadros psicológicos;
Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH);
Transtorno do espectro autista (TEA).
Demência e Alzheimer;
Doenças crônicas e cuidados paliativos;
Traumas, abusos físicos e mentais;
Dificuldades intelectuais;
Problemas no controle da raiva;
Problemas infantis mal resolvidos;
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT);
Uso de substâncias maléficas à saúde.
• Terapia Não-Diretiva
Nesta terapia, o psicólogo ou psicanalista interfere o mínimo possível nas
interações da criança com os brinquedos e objetos lúdicos. É um método
considerado não-invasivo, no qual a criança age sozinha, elaborando por si
mesma as soluções para as problemáticas apresentadas. Essa terapia também
é chamada de Psicodinâmica.
Na terapia não-diretiva, a criança brinca livremente. São apresentadas
situações-problema que a criança deve conhecer, interagir e resolver. Na
psicodinâmica, sua sinônima, adultos também são tratados de forma igual,
atuando ativamente na resolução de conflitos. Carl Rogers, citado anteriormente,
desenvolveu essa técnica que foi adaptada para o público infantil por Virgínia
Axline, também citada (CALÓ, INPA, 2020).
• Terapia Diretiva
Nessa terapia, o profissional irá traçar diretrizes para seu trabalho com o
paciente, orientando as interações e direcionando a criança para situações pré-
elaboradas. Ele pode brincar com a criança, jogar, contar histórias, apresentar
vídeos e discutir seu conteúdo, fazer representações, etc. cada criança terá o
ambiente e os materiais preparados para ela, assim como as situações. Alguns
jogos digitais também podem ser usados, tais como (CALÓ, INPA, 2020):
Os de concentração e aprendizado;
Jogos de RPG (representações);
Jogos de simulação de vida, como The Sims.
Para que o terapeuta possa usar o método da Ludoterapia, é preciso que ele
prepare um ambiente apropriado para as brincadeiras e a prática da ludicidade.
O ambiente lúdico pode ser uma brinquedoteca ou uma ludoteca, ou mesmo algo
parecido. Neste capítulo, iremos descrever como deve ser esse ambiente para
que a criança consiga desenvolver uma interação com os objetos a ponto de o
terapeuta poder realizar seu trabalho de análise.
Para se desenvolver, fisicamente e cognitivamente, a criança precisa brincar. No
aspecto físico, as brincadeiras estimulam a coordenação motora e o movimento
psicomotor, na parte cognitiva e mental, ela estimula as estruturas mentais, e na
parte emocional, brincar relaxa e diverte a criança, fazendo-a se abrir para o
ambiente e para as interações sociais.
Um ambiente lúdico deve promover alguns estímulos para que a criança consiga
se sentir acolhida o suficiente para relaxar, brincar e assim poder expressar suas
emoções e pensamentos. Esses estímulos devem ser: sensoriais, motores,
cognitivos e tecnológicos. Assim, o terapeuta pode lançar mão de um e outro
grupo de estímulos para acessar o inconsciente das crianças. A seguir,
descreveremos mais detalhadamente esses estímulos.
• Estímulos Sensoriais
No ambiente ideal para o público infantil não podem faltar estímulos sensoriais.
É preciso que haja muitas cores, em várias tonalidades, para estimular o cérebro
da criança. Deve haver uma boa variedade de desenhos e paisagens que
remetam ao mundo infantil. A parte visual é a primeira a chamar a atenção da
criança e deve produzir um encantamento. Na parte tátil, o terapeuta deve se
atentar a móveis adaptados ao tamanho da criança, que sejam confortáveis e
seguros. Poltronas, mesinhas, cadeirinhas, puffs, lousas, estantes com livros e
brinquedos, são opções adequadas.
O estímulo sonoro também pode fazer parte do ambiente, mas deve ser usado
apropriadamente, para não estressar a criança ou a dispersar. Assim, a sala
pode ter brinquedos sonoros e aparelhos de som, mas que fiquem em local
pouco acessível, sendo colocados somente quando o terapeuta achar
conveniente.
A sala pode ter doces, frutas, sucos, petiscos, algo que agrade ao paladar da
criança, mas deve ser feita uma consulta prévia aos pais antes de oferecer
qualquer alimento à criança, para que se evite reações alérgicas. Muitos pais
também não costumam dar doces ou certos alimentos a seus filhos, por isso,
sempre devem ser consultados.
A Aromaterapia pode ser uma parceira da ludoterapia. O terapeuta pode
selecionar alguns cheiros específicos para cada sessão, para cada criança,
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• Estímulos Motores
Os brinquedos podem compor esse tipo de estímulo. Na sala de ludoterapia
devem constar uma grande variedade de brinquedos para todas as faixas-
etárias, tais como:
Jogos de montar com peças grandes, para bebês e crianças até 2 anos;
Instrumentos musicais;
• Estímulos Tecnológicos
Em uma sala de terapia lúdica devem constar também acessórios tecnológicos,
como jogos, ambientes virtuais, testes, provinhas. Vários instrumentos que são
usados em psicoterapia podem ser digitalizados, como os testes de inteligência.
Além de usar os recursos tecnológicos em seu consultório, o terapeuta pode
indicar alguns aplicativos e programas que ajudem a reduzir sintomas negativos,
para os pacientes usarem em casa. Vejamos abaixo alguns exemplos de
recursos tecnológicos para serem usados na ludoterapia:
• A Brinquedoteca e a Ludoteca
A criança realiza operações lúdicas desde o nascimento. Em diversos ambientes
e com diversas pessoas, ela pode brincar, jogar, interagir e se divertir. Por isso,
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não é difícil criar um ambiente lúdico infantil. O desafio nesse caso, dadas tantas
opções atuais, é escolher o brinquedo, o jogo, as atividades mais eficazes para
cativar a atenção da criança e entretê-la. No caso de uma terapia, então, é
preciso que a interação da criança com o ambiente seja ainda mais aprofundada,
para que gere informações suficientes para o profissional fazer sua análise.
Esse profissional pode optar então pela montagem de uma brinquedoteca, que
tem paradigmas adequados para a interação da criança. O objetivo de uma
brinquedoteca é estimular a criatividade e a espontaneidade da criança, o que
pode ajudar muito na análise baseada na ludoterapia. Segundo Cunha (1992,
apud COSTA & NETO, 2016, p.368), a brinquedoteca é “Um espaço preparado
para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande
variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente lúdico. É um
lugar onde tudo convida a explorar, a sentir, a experimentar. ”
O termo brinquedoteca passou a ser usado na década de 1930, nos Estados
Unidos, onde um comerciante percebeu que crianças roubavam brinquedos de
sua loja para poder brincar e reclamou com o diretor da escola das crianças. O
diretor percebeu que as crianças precisavam de um espaço para se divertirem,
com brinquedos e jogos, e criou uma brinquedoteca com brinquedos
emprestados (COSTA & NETO, 2016).
Atualmente, as brinquedotecas fazem parte de praticamente todos os lugares
que recebem o público infantil. Nós as encontramos em shoppings, escolas,
hospitais, lojas, restaurantes, salões de beleza, praças, clínicas de saúde e
estética, clubes e outros ambientes. Além de serem de fácil manutenção, as
brinquedotecas são um diferencial a mais ao atender crianças ou pais. Por isso,
em um consultório de ludoterapia ela pode ser de máxima utilidade.
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A terapia de Carl Rogers sofre algumas críticas por conta da falta de limites para
as crianças. Nessa terapia, o único limite é o horário da sessão. Sendo assim,
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os críticos dizem que não há um aprendizado sobre o certo e o errado nesse tipo
de abordagem. A resposta às críticas é que o excesso de restrições atrapalha o
desenvolvimento da autonomia da criança, que acaba se inibindo e não
manifestando suas frustrações. Sem falar que o consultório não seria o local
desse tipo de aprendizado. Apesar disso, ainda existem limites, como a proibição
de quebrar coisas e agredir o terapeuta (DORFMAN, 1992).
criança deve ficar à vontade para fazer o que quiser dentro da sala, escolher
seus brinquedos e suas ações. Se a criança manifestar um comportamento
violento, o terapeuta deve se concentrar na análise do sentimento e não da ação
(AXLINE, 1984).
O quarto princípio de Axline (1984) se concentra no reconhecimento dos
sentimentos da criança, identificando-os e analisando-os para descobrir uma
possível causa para seus comportamentos e elaborar um tratamento. Axline
afirma a importância de o terapeuta identificar e não interpretar os sentimentos
da criança, para uma terapia mais objetiva.
A confiança na capacidade da criança de resolver seus problemas, pelo menos
os mais imediatos, define o quinto princípio. Dentro deste, o terapeuta deve
interferir o mínimo possível nas ações do paciente. Isso vai fazer com que a
criança se sinta segura para resolver suas questões. E assim, chegamos ao
sexto princípio: o afastamento. É preciso que seja mantida uma distância pelo
terapeuta para que a criança mergulhe em seu mundo através da interação com
os objetos (AXLINE, 1984).
O sétimo princípio define que a terapia precisa construída pouco a pouco,
através da relação criança-terapeuta, baseada em confiança e amizade,
esperando que a criança se sinta segura para se expressar e respeitando o
tempo de cada paciente. Por fim, o oitavo princípio diz respeito aos limites que a
terapia deve estabelecer para que a criança se responsabilize por seus atos no
ambiente ludoterápico (AXLINE, 1984).
Tanto o tempo, como o espaço devem ser delimitados nitidamente para a
criança, assim como o respeito ao terapeuta e aos objetos. Axline, porém,
salienta que esses limites só devem se estabelecer se não reprimirem a criança
e prejudicarem a relação de confiança do terapeuta com ela. A criança precisa
aprender a não reprimir sentimentos, mas ações que sejam negativas nascidas
dele.
Esse trabalho, porém, exige flexibilidade na conduta do terapeuta e paciência
para que ela construa essa maturidade. Assim, na questão dos limites de ações,
Rogers é um pouco mais delimitador do que Axline, porém, na manifestação dos
sentimentos por parte da criança, eles mantêm a mesma posição, pois ambos
permitem a livre expressão de sentimentos. Para finalizar, segundo Brito & Paiva
(2011, p.106):
Ainda sobre os limites que o terapeuta deve colocar na relação
terapêutica, ambos os autores enfatizaram a necessidade de
que os limites na psicoterapia fossem esclarecidos ao cliente,
seja ele adulto ou criança. Rogers justificou essa necessidade
para a manutenção da aceitação incondicional, tão importante
para a eficácia da terapia. Axline compreendia a importância dos
limites para situar a criança de que a terapia faz parte do mundo
de relações em que ela vive. Uma relação com características
diferenciadas, sem dúvida, mas ainda assim uma relação onde
o respeito mútuo é fundamental.
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Uma das fundadoras da ludoterapia, Melanie Klein, tinha uma postura diferente.
Klein não aceitava a participação dos pais por considerar que seriam um
obstáculo a mais no caminho até o inconsciente da criança. Para isso, ela
preferia que as crianças brincassem sozinhas, salvo alguns casos em que a
presença da família poderia ajudar. Neste capítulo, iremos considerar essa
postura terapêutica, porém, descreveremos a importância de uma participação
indireta dos pais no processo de análise da criança (OLIVEIRA & GASTAUD,
2018).
Para Axline (BRITO, 2012), a conduta dos pais pode ser um agravante para os
problemas da criança e não via necessidade de participação deles no processo
terapêutico da criança. Ela comenta, porém, que pode ser proveitoso que os pais
também passem por terapia, em alguns casos. Também em certos casos, Axline
afirma que só a terapia dos pais já poderia auxiliar a criança, melhorando o
relacionamento e a dinâmica interna da família.
Mas então, como seria a participação dos pais na ludoterapia? Mesmo que
indireta, a participação dos adultos responsáveis pela criança, os que mais
convivem com ela, é de fundamental importância. Primeiro, porque são esses
adultos que identificaram algo no comportamento da criança que os fizesse levá-
la na psicoterapia. E segundo, que esses adultos se tornam parceiros do
terapeuta. A seguir, descrevemos alguns aspectos importantes dessa parceria:
Existem casos, porém, em que a criança procura interagir com objetos e jogos
que sejam menos pessoais. Ela cria uma barreira para a projeção de seus
conflitos e dificulta a análise do terapeuta. Nesse caso, é preciso que entre a
terapia diretiva, na qual o terapeuta vai direcionar a criança para situações,
objetos e brincadeiras nos quais ela possa expressar melhor seu inconsciente.
Um exemplo, é contar uma história e propor um desenho a partir dela.
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Quando uma criança está com problemas e não consegue manifestar seu
descontentamento ou sofrimento, ela começa a apresentar comportamentos que
fogem do que os pais consideram sua normalidade, tais como “comportamentos
agressivos, birras, dificuldades de concentração, dificuldades no
estabelecimento de relações humanas” (CASTELO BRANCO, 2002). Nesse
momento, a ludoterapia entra como ferramenta para que essa criança consiga
manifestar a origem desses comportamentos para o terapeuta.
E não são somente comportamentos que são analisados, o terapeuta também
se concentra em outras linguagens usadas pela criança enquanto brinca: sons,
expressões faciais, gestos, postura, etc. O modo como a criança interage com
os brinquedos, suas escolhas dentro do ambiente e a relação com o terapeuta
também dão sinais do que se passa em seu aparelho psíquico, mostram sua
personalidade e podem apresentar importantes informações.
Ao brincar com a criança, o terapeuta consegue que ela se sinta confortável e
se divirta, mas principalmente, se torna um parceiro da mesma. Além de ambos
conseguirem construir uma experiência positiva, a criança aprende uma nova
forma de lidar com as situações, consigo mesma e com o outro. Portanto, a
comunicação com a criança na ludoterapia precisa ser o mais bem-sucedida
possível, para que esse tratamento tenha efeito, inclusive a longo prazo.
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Até o século XVIII não havia uma concepção de infância tal qual a temos
atualmente. As crianças eram consideradas adultos em miniatura,
subdesenvolvidos, usavam as mesmas roupas que os pais e não havia nenhum
cuidado em especial. A educação era voltada para o aprendizado de tarefas e
hábitos da vida adulta. A literatura, tampouco, era voltada para entreter e cativar
o público infantil. Neste capítulo, iremos descrever como surgiu a literatura
infantil e como ela desponta atualmente como uma ferramenta de diversão e de
aprendizado.
Até a Idade Moderna, a criança então era tratada como um pequeno adulto.
Durante a Idade Média e o advento do Feudalismo, as crianças não recebiam a
atenção e os cuidados próprios para a infância, eram tratadas como adultos, sem
existir uma linguagem, uma educação ou tratamento apropriados. A família
dormia no mesmo cômodo, não havia privacidade, nem higiene, nem se
preservava a intimidade das crianças; elas faziam as mesmas tarefas dos pais e
eram responsáveis por si mesmas.
Com o surgimento das cidades, após o enfraquecimento do Feudalismo, surge
a burguesia e assim uma nova concepção de família: pai, mãe e filhos. A família
burguesa começa a tratar as crianças com mais cuidados. Como valorizavam a
propriedade privada e as relações de hereditariedade, tratar com cuidado os
herdeiros, de modo a perpetuar o nome e patrimônio familiar, era uma prioridade
(SILVA, 2009).
A partir desse momento histórico, começamos a pensar em criança então, como
um ser especial, com desenvolvimento e características próprias, e que precisa
ter uma educação que se volte especificamente para essa etapa. Por essa
época, educadores como o suíço Johann Hendrich Pestalozzi começam um
trabalho pedagógico específico para a infância. A médica italiana maria
Montessori constrói espaços próprios para a educação infantil. Filósofos como
Jean-Jacques Rousseau escrevem sobre cuidados e uma educação própria para
as crianças e a pedagogia ganha força.
Como o crescimento da preocupação com a infância e uma educação específica
para ela, nasce também a Literatura Infantil. Mas histórias para crianças já
haviam sido escritas antes. François Fenélon, teólogo católico e escritor francês,
já escrevia livros para crianças no século XVII com o objetivo de educá-las
moralmente. Essas histórias visavam ensinar crianças a se comportar, a não se
colocar em perigo e a obedecer aos adultos (SILVA, 2009).
Como precursor da literatura para crianças, ainda no século XVII, Charles
Perrault escreve seus famosos contos de fadas, tais como: Contos de Mamãe
Gansa, A Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Gato de
Botas, As Fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar.
Esses contos sofrem adaptações ao longo dos séculos, mas ainda hoje são
conhecidos pela maioria das crianças.
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décadas seguintes, mais escritores surgem, como Ziraldo, Ana Maria Machado
e Ruth Rocha. Autores como Mário Quintana, Vinícius de Morais e Clarice
Lispector também escrevem para o público infantil.
Nos anos de 1980, a nossa literatura infantil atinge um alto nível, tendo alguns
autores, como Lygia Bojunga Nunes, Ana Maria Machado e Roger Melo,
contemplados com o prêmio Hans Christian Andersen. Atualmente, a literatura
infantil, tanto a brasileira como a estrangeira, têm uma boa quantidade de
autores e uma grande variedade temática. Para Silva (2009, p.140):
Através dos livros e das histórias infantis, a criança vai estar em relação com
aspectos importantes da vida que ainda são inéditos para ela. A cultura, por
exemplo, é um desses aspectos: a criança conhece (pouco ainda) a cultura de
seu local, de sua família, através da leitura, das narrativas, ela irá conhecer
outras realidades, outras culturas. A literatura apresentará personagens com
outro modo de viver, de agir, com outros costumes e tradições. Isso não só
estimulará sua imaginação e consequentemente sua inteligência, como abrirá
sua mente para a diversidade.
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Até mesmo sua própria realidade pode ser explorada e compreendida através
da literatura. Ao escolher livros sobre histórias de sua região, de seu país ou sua
cidade, a criança aprenderá a ver a sua própria cultura sob uma nova
perspectiva.
As tradições familiares e culturais podem estar relacionadas, inclusive, ao motivo
de a criança estar passando por alguma dificuldade que levou os adultos a
indicarem-na para a terapia.
O livro serve para criança se projetar ou projetar seus problemas na história ou
seus personagens. Por isso os contos de fadas, por exemplo, são atemporais e
cativam tanto o interesse de adultos e crianças, porque existem múltiplos
significados escondidos em suas histórias. Castelo Branco (2002b), afirma que:
por exemplo, se uma crônica, uma fábula ou conto. Assim, para ser escrever
uma narrativa infantil, os elementos devem combinar com esse universo.
O mesmo vale para poemas, o autor deve estar afinado com o discurso infantil,
com os sentimentos da criança, suas fantasias, seu modo de agir e de pensar.
A obra literária consegue cativar o leitor quando estabelece uma comunicação
com seus sentidos, sua história, suas preferências. Podemos gostar de muitos
livros, podemos, como adultos, saber apreciar um bom clássico, mas a criança
vai estabelecer um vínculo diferente com a literatura, um vínculo pessoal.
Para facilitar esse processo, o ludoterapeuta precisa disponibilizar em sua sala
uma grande variedade de livros, para que a temática seja também variada. Isso
aumenta o interesse da criança e também a probabilidade de esta escolher um
livro com o qual se identifique.
Quando a criança escolhe o livro, folheia, mergulha nele, ela se diverte e quando
ela tem contato com as histórias, ela se comunica através delas e com elas. Usar
histórias infantis é um instrumento de interação com a criança, sua linguagem e
seu universo. Na ludoterapia, o terapeuta, ao contar histórias para crianças, ou
apresentar essas histórias através dos livros, estabelece um vínculo, um diálogo
com a mente infantil.
Através da experiência literária, a criança se identifica, se reconhece e fornece
ao seu terapeuta informações para que ele elabore para ela um final feliz, assim
como o obteve o personagem com o qual se identificou. Essa criança pode
inclusive, através da narrativa, melhorar seu processo de comunicação e usar as
mesmas ferramentas de sucesso que o protagonista usa em sua história.
A terapia por meio de livros recebe o nome de Biblioterapia. Ela se caracteriza
pelo uso de material de leitura para tratamentos psicológicos, sendo o livro uma
ferramenta de diálogo, a ser comentado, interpretado e onde a criança pode se
projetar. A história infantil traz para si o leitor, formando uma parceria com o
narrador. É uma experiência lúdica, simbólica, afetiva. E essa mágica pode ser
compartilhada com o terapeuta.
Para o processo terapêutico baseado em livros, Pardeck (1990, apud CASTELO
BRANCO, 2002), afirma que existem três fases:
• Fábulas
• Contos de fadas
Os livros para crianças também devem ter muitas ilustrações, pois em um
primeiro momento são elas que irão chamar a atenção da criança. Como dica,
listamos abaixo alguns títulos com excelentes ilustradores:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
AXLINE, V. Ludoterapia. Belo Horizonte: Interlivros, 1984.
BRITO, R.A.C. A criança como outro: uma leitura ética da ludoterapia
centrada na criança. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do
Ceará, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Fortaleza, 2012.
BRITO, R.A.C. PAIVA, V.M.B. Psicoterapia de Rogers e ludoterapia de
Axline: convergências e divergências. Revista NUFEN. São
Paulo, v.4, n.1, p.102-114, jun. 2011. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-
25912012000100009&lng=pt&nrm=iso. Acessos em 12 de agosto de 2020.
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Instituto de Psicologia Aplicada, Asa Sul, Brasília – DF, Brasil, 2020. Disponível
em: https://inpaonline.com.br/blog/ludoterapia/. Consulta em 12 de agosto de
2020.
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abordagem centrada na pessoa. Apresentado no XI ENCONTRO LATINO-
AMERICANO DA ACP – Socorro – Brasil – Out/2002a.
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ludoterapia centrada na criança. Apresentado no XI ENCONTRO LATINO-
AMERICANO DA ACP – Socorro – Brasil – Out/2002b.
Coelho, B. Contar Histórias: uma Arte sem Idade. São Paulo: Editora Ática,
1990.
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Catarina, Florianópolis, v. 21, n. 2, p. 359-380, abr/jul., 2016.
DORFMAN, E. Ludoterapia. In Carl R. Rogers. Terapia Centrada na Cliente
(p.268-317). São Paulo: Martins Fontes, 1992.
MORAIS, M.T.C. Os significados da ludoterapia para as protagonistas do
processo: crianças em atendimento. Dissertação (Mestrado em Psicologia).
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2011.
OLIVEIRA, L.R.F. GASTAUD, M.B. RAMIRES, V. R. R. Participação dos pais
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Brasília, v. 38, n. 1, p. 36-49, mar. 2018. Disponível em
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http://mariuzapregnolato.com.br/ludoterapia-a-terapia-da-crianca/. Consulta em
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