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Apostila de

Ludoterapia

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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................................2
CAPÍTULO 1 – O NASCIMENTO DA LUDOTERAPIA.......................................................3
CAPÍTULO 2 – COMO FUNCIONA O PROCESSO DA LUDOTERAPIA........................6
CAPÍTULO 3 – O AMBIENTE IDEAL PARA A LUDOTERAPIA ......................................9
CAPÍTULO 4 – O VALOR DO LIMITE NA LUDOTERAPIA ............................................13
CAPÍTULO 5 – A PARTICIPAÇÃO INDIRETA DOS PAIS ..............................................16
CAPÍTULO 6 – A COMUNICAÇÃO NA LUDOTERAPIA .................................................19
CAPÍTULO 7 – O NASCIMENTO DA LITERATURA PARA CRIANÇAS ......................22
CAPÍTULO 8 – A LITERATURA INFANTIL NA LUDOTERAPIA ...................................26
CAPÍTULO 9 – O RELATO DA HISTÓRIA INFANTIL NA LUDOTERAPIA .................29
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................32
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................33
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INTRODUÇÃO

Durante muitos séculos, as crianças não foram foco de investigação ou atenção.


Até o século XVIII, nem havia o conceito de infância tal qual o conhecemos hoje:
um ser único, em processo constante de desenvolvimento físico, cognitivo,
mental, emocional, psicológico e social, e que precisa receber uma educação e
uma atenção próprias para sua faixa etária. Nem ao menos os cuidados básicos
dispensados hoje às crianças eram tomados antigamente.
Podemos dizer que o primeiro olhar para a infância nasceu com o filósofo francês
Jean-Jacques Rousseau, que elaborou um estudo detalhado sobre a educação
adequada que a criança deve receber, sendo concebida e tratada como um ser
diferente do adulto, o que era inovador, já que até então não se consideravam
as crianças como seres com características próprias.
Estudiosos como a médica italiana Maria Montessori ou o educador suíço
Johann Pestalozzi começam a elaborar práticas pedagógicas próprias para as
crianças e salientar a importância de se oferecer um ambiente e materiais
didáticos especiais para essa idade. Mais tarde, o médico austríaco Sigmund
Freud desenvolve os estudos psicanalíticos nos quais a mente humana ganha
um enfoque inédito.
Freud atribui à infância a formação da personalidade, do aparelho psíquico e
também a origem de nossos medos e traumas. Seguindo seu caminho, duas
psicanalistas austríacas começam a usar o método psicanalítico sob uma nova
abordagem: a lúdica. Era o modo mais eficaz de fazer com que suas pacientes,
crianças pequenas, se expressassem, sem usarem a fala.
Assim, nasce a Ludoterapia, que irá ganhar cada vez mais espaço nas clínicas,
consultórios e até mesmo na escola. Essa nova abordagem é, atualmente,
bastante procurada por pais, pacientes adultos e profissionais de saúde. Em
nossos estudos, iremos descrever, analisar, explorar essa terapia, aprendendo
sobre as situações de uso e a formação necessária para usá-la.
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CAPÍTULO 1 – O NASCIMENTO DA LUDOTERAPIA

A Ludoterapia é uma abordagem terapêutica focada em crianças e que usa o


lúdico como principal técnica. Isso significa que os psicólogos usam a diversão,
o entretenimento e a brincadeira para descobrir a origem dos problemas e para
tratá-los. Com esse método, o terapeuta pretende explorar a mente infantil e
planejar suas intervenções sem maiores traumas à criança. Neste capítulo,
iremos descrever a origem da Ludoterapia e seus principais estudos.
Lidar com as crianças em uma terapia psicanalítica ou psicológica não é algo
simples. A criança tem vocabulário mais restrito e ainda não está apta
cognitivamente para fazer interações verbais complexas, de modo a externar
seus sentimentos, lembranças e pensamentos. É difícil para a criança identificar
as emoções que estão sentindo, verbalizar suas reflexões e fazer descrições
detalhadas de fatos e memórias.
Por esse motivo, muitos terapeutas recorrem a desenhos e outras formas de
expressão como brincadeiras e jogos simbólicos. Uma criança também
expressar sua personalidade e suas emoções com comportamentos e interações
sociais, por exemplo, morder quando está nervosa. Os pais têm papel
fundamental no processo de identificação do emocional e do psiquismo infantil.
Por mais que o terapeuta crie vínculos e adquira informações, a família sempre
será o elo do processo que mais conhece a criança.
Sendo assim, em uma terapia com crianças, a participação dos adultos que
convivem com elas será de suma importância. Tanto que geralmente, parte
desses adultos a iniciativa de procurar terapia por desconfiar que a criança não
está bem. Mas quando os familiares da criança devem saber se devem procurar
um psicólogo? “A terapia para crianças deve ser procurada quando ela apresenta
déficits sociais ou emocionais significativos, que atrapalham de maneira
considerável seu desenvolvimento” (CALÓ, INPA, 2020).
A criança que apresentar, além disso, comportamento diferente, estranho, após
sofrer algum trauma (físico ou psicológico), passar por algum acidente, abuso ou
estar estressada, ansiosa ou deprimida, também deve ser encaminhada para um
profissional. A terapia lúdica deve ser uma opção para crianças que tem
dificuldades de interação social, como as com TEA (transtorno do espectro
autista), TDAH (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade), e crianças
com problemas de comunicação oral. A ludoterapia seria indicada para esses e
outros casos.
A ludoterapia surgiu para analisar o comportamento de crianças, observando sua
interação com o universo lúdico dos brinquedos, jogos, brincadeiras e histórias.
Possivelmente, foi a psicanalista austríaca Hermine Hug-Hellmuth a primeira a
usar as brincadeiras em suas práticas. Hermine era uma estudiosa da obra de
Sigmund Freud, médico austríaco criador da Psicanálise, e foi a primeira da área
a se concentrar no estudo e tratamento clínico de crianças (CALÓ, INPA, 2020).
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Em 1921, Hermine criou uma terapia formal baseada na ludicidade e


desenvolveu material adequado para o tratamento de crianças que estavam sob
seus cuidados (CALÓ, 2020). Seguindo o mesmo caminho que Hermine, e na
mesma época, a psicanalista também austríaca, Melanie Klein analisava seus
pacientes pequenos através de brincadeiras, e para muitos é considerada a
patronesse da Ludoterapia. Ambas as psicanalistas, no entanto, são importantes
para essa abordagem.
Melanie usava então, técnicas da psicanálise para acessar o inconsciente infantil
(memórias, recalques, etc.) e descobrir possíveis origens de problemas
comportamentais e psíquicos das crianças que frequentavam seu consultório.
Ao brincar, a criança expressava ansiedades, emoções reprimidas, fazia
projeções e externava opiniões sem a consciência de estar sendo analisada
(CALÓ, 2020).
Como a criança usa bastante o jogo simbólico, ou seja, usa o faz-de-conta para
fazer representações da realidade, Melanie ia fazendo associações e tentando
desvendar os comportamentos observados. Assim, se a criança sofreu algum
trauma, abuso ou teve algum incidente não identificado, a psicanalista poderia
acessar o inconsciente para explorar essas situações usando as brincadeiras.
Outra psicanalista importante a usar a ludoterapia foi a filha mais nova de Freud,
Anna. Ao contrário de Melanie, Anna não via a brincadeira como representação,
mas como autoexpressão do mundo interior. O brinquedo era usado como um
atrativo para a criança poder expressar seus pensamentos e sentimentos.
Além dessas autoras, seguiram os estudos sobre ludoterapia o psicólogo
americano Carl Rogers. Ele desenvolveu estudos e uma terapia centrados na
pessoa, individuais. Era importante, portanto, que o paciente estabelecesse uma
relação de parceria e confiança com seu terapeuta. Como as crianças possuem
ainda uma linguagem egocêntrica quando pequenas e um vocabulário restrito,
verbalizar seus sentimentos e pensamentos é complicado, e em uma terapia
psicanalítica é preciso pensar em outras formas de explorar o universo da
criança (CALÓ, 2020). Assim, Rogers usava as brincadeiras espontâneas para
estabelecer vínculo e fazer a criança se expressar. Segundo Brito & Paiva (2012,
p.102),

Rogers (1942/2005) propôs como aspectos fundamentais:

1. Calor e capacidade de resposta por parte do psicólogo que


torna a relação possível e a faz evoluir gradualmente para um
nível afetivo mais profundo. [...] porém, trata-se de uma relação
nitidamente controlada, uma ligação afetiva com limites
definidos;

2. Permissividade em relação à expressão dos sentimentos;

3. Existem limites definidos à ação do indivíduo […], ajudando a


criar uma estrutura que o cliente possa utilizar para conseguir
uma melhor compreensão de si mesmo;
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4. Relação psicológica livre de qualquer pressão ou coerção (p.


87-88).

Seguindo essa mesma linha, a psicóloga americana Virgínia Axline também


usava a ludicidade para conseguir ganhar a confiança das crianças, suas
pacientes, e fazer com estas se expressassem. Segundo Brito & Paiva (2012,
p.102),

Axline (1947/1984) destacou, como princípios básicos, as


seguintes propostas:

1. O terapeuta deve desenvolver um bom relacionamento com a


criança para o estabelecimento do rapport;

2. Aceitar a criança completamente;

3. Estabelecer um sentimento de permissividade;

4. Reconhecer e refletir os sentimentos;

5. Manter o respeito pela criança;

6. A criança indica o caminho;

7. A terapia não pode ser apressada;

8. O valor dos limites (p. 87).

Como podemos perceber, as técnicas de Rogers e Axline são bem parecidas e


focadas na conquista da confiança e na promoção de um ambiente lúdico,
confortável e acolhedor para as crianças. Existem algumas divergências teóricas
entre os dois autores, porém, na prática, se assemelham bastante.
A ludoterapia costuma ser usada com crianças e praticamente foi desenvolvida
para elas, porém, existem adolescentes e adultos que também podem se
beneficiar com a técnica. A relação com o universo lúdico seria então usada para
acessar memórias, trazer flashbacks, enfim, acessar o inconsciente. Essas
técnicas usadas com adultos são comuns.
Autores como os citados nos parágrafos anteriores influenciaram psicólogos e
psicanalistas brasileiros desde a década de 1970. Porém, como bem revisou em
sua dissertação de mestrado, Morais (2011), faltam estudos sobre a prática de
Ludoterapia, embora existam profissionais que usem essa abordagem. Morais
também destaca a necessidade de se oferecer mais atendimento psicológico às
crianças no Brasil.
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CAPÍTULO 2 – COMO FUNCIONA O PROCESSO DA LUDOTERAPIA

Agora que já conhecemos o início da Ludoterapia e sua definição, iremos


descrever a forma como ela é aplicada pela Psicologia/Psicanálise no tratamento
das crianças, e também de adolescentes e adultos. Primeiramente, vamos
conhecer as características dessa terapia.
A ludoterapia é uma abordagem voltada, inicialmente, para crianças,
principalmente para as que por serem muito novas, ou apresentarem problemas
de comunicação verbal, precisam de outras formas para expressar seus
sentimentos, emoções e pensamentos. Se a criança estiver com algum
problema, ou trauma por exemplo, e não conseguir falar sobre isso, as
brincadeiras podem fazer com ela mostre o que está acontecendo.
Se a criança estiver com comportamentos inadequados, também, como
agressividade, falta de limites ou indisciplina, também podemos estabelecer um
vínculo com a criança através dos brinquedos e jogos simbólicos, ensinando
essa criança o que é correto e o que não é. A indicação deve vir de um
profissional de saúde, geralmente são crianças com (CALÓ, INPA, 2020):

 Atrasos no desenvolvimento;
 Problemas de aprendizagem;
 Procedimentos médicos;
 Doenças crônicas;
 Comportamentos inadequados ou agressivos;
 Situações familiares como: divórcio, morte, brigas;
 Situações traumáticas;
 Violência doméstica, abusos ou negligência;
 Ansiedade, depressão e outros quadros psicológicos;
 Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH);
 Transtorno do espectro autista (TEA).

As brincadeiras, brinquedos e jogos usados em uma terapia lúdica não são


aleatórios. O psicoterapeuta escolhe cuidadosamente os materiais que irão
compor o ambiente e seleciona os que serão mais úteis no processo para
apresentar à criança. O lúdico, portanto, é uma ferramenta não só de tratamento,
mas de aprendizagem. Assim, outros profissionais podem usar a ludoterapia em
seus trabalhos, tais como (CALÓ, INPA, 2020):

• Psicopedagogos: usando o lúdico em suas intervenções com crianças


que têm problemas e dificuldades de aprendizagem;

• Terapeutas Ocupacionais: inserindo a ludicidade em suas práticas e


seus projetos;
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• Assistentes Sociais: usando brinquedos e brincadeiras lúdicas na


interação com crianças em situações de vulnerabilidade ou traumáticas;

• Fisioterapeutas: usando o lúdico nos tratamentos com crianças em


recuperação.
A partir do jogo simbólico, dos brinquedos e das associações, a criança
consegue expressar-se de forma a fornecer informações para seus terapeutas e
assim, estes podem elaborar um tratamento, que também pode se servir do
universo lúdico. Problemas frequentes na infância são (CALÓ, INPA, 2020):

 Separação dos pais;


 Perda de um ente querido;
 Problemas escolares;
 Problemas familiares e
 Abusos físicos e emocionais.

O tratamento vai objetivar reduzir os traumas, o estresse, a tristeza e outros


sintomas que estejam interferindo no desenvolvimento da saúde mental da
criança. Para cada caso, o terapeuta irá testar objetos e situações lúdicas
diferentes, recolher e analisar as informações e por fim, estabelecer metas e um
tratamento. Esse tratamento pode se estender à toda a família e também à
escola.
E não são só crianças que se beneficiam de uma terapia lúdica. Adultos com
dificuldades emocionais e psíquicas também podem ser pacientes desse
tratamento. Lúdico significa algo que se faz por prazer, um entretenimento, uma
diversão, se isso pode ser uma forma de se curar ou de diminuir a dor, então
deve servir a todos. Vejam os casos em que a ludoterapia pode ser usada
(CALÓ, INPA, 2020):

 Demência e Alzheimer;
 Doenças crônicas e cuidados paliativos;
 Traumas, abusos físicos e mentais;
 Dificuldades intelectuais;
 Problemas no controle da raiva;
 Problemas infantis mal resolvidos;
 Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT);
 Uso de substâncias maléficas à saúde.

Embora a terapia lúdica parece ter somente um enfoque, os psicólogos


acabaram adotando técnicas diferentes para trabalhar com ela. Dentro da
ludoterapia, existem duas técnicas diferentes: a terapia diretiva e a terapia não
diretiva, vejamos.
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• Terapia Não-Diretiva
Nesta terapia, o psicólogo ou psicanalista interfere o mínimo possível nas
interações da criança com os brinquedos e objetos lúdicos. É um método
considerado não-invasivo, no qual a criança age sozinha, elaborando por si
mesma as soluções para as problemáticas apresentadas. Essa terapia também
é chamada de Psicodinâmica.
Na terapia não-diretiva, a criança brinca livremente. São apresentadas
situações-problema que a criança deve conhecer, interagir e resolver. Na
psicodinâmica, sua sinônima, adultos também são tratados de forma igual,
atuando ativamente na resolução de conflitos. Carl Rogers, citado anteriormente,
desenvolveu essa técnica que foi adaptada para o público infantil por Virgínia
Axline, também citada (CALÓ, INPA, 2020).

• Terapia Diretiva
Nessa terapia, o profissional irá traçar diretrizes para seu trabalho com o
paciente, orientando as interações e direcionando a criança para situações pré-
elaboradas. Ele pode brincar com a criança, jogar, contar histórias, apresentar
vídeos e discutir seu conteúdo, fazer representações, etc. cada criança terá o
ambiente e os materiais preparados para ela, assim como as situações. Alguns
jogos digitais também podem ser usados, tais como (CALÓ, INPA, 2020):

 Os de concentração e aprendizado;
 Jogos de RPG (representações);
 Jogos de simulação de vida, como The Sims.

Assim, podemos perceber que existem múltiplas possibilidades de usar a


ludoterapia, com diversos públicos e diferentes métodos. As opções de
instrumentos, brinquedos, jogos e objetos lúdicos também são bem variadas
atualmente, cabendo ao profissional selecionar a técnica e montar o ambiente
como preferir.
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CAPÍTULO 3 – O AMBIENTE IDEAL PARA A LUDOTERAPIA

Para que o terapeuta possa usar o método da Ludoterapia, é preciso que ele
prepare um ambiente apropriado para as brincadeiras e a prática da ludicidade.
O ambiente lúdico pode ser uma brinquedoteca ou uma ludoteca, ou mesmo algo
parecido. Neste capítulo, iremos descrever como deve ser esse ambiente para
que a criança consiga desenvolver uma interação com os objetos a ponto de o
terapeuta poder realizar seu trabalho de análise.
Para se desenvolver, fisicamente e cognitivamente, a criança precisa brincar. No
aspecto físico, as brincadeiras estimulam a coordenação motora e o movimento
psicomotor, na parte cognitiva e mental, ela estimula as estruturas mentais, e na
parte emocional, brincar relaxa e diverte a criança, fazendo-a se abrir para o
ambiente e para as interações sociais.
Um ambiente lúdico deve promover alguns estímulos para que a criança consiga
se sentir acolhida o suficiente para relaxar, brincar e assim poder expressar suas
emoções e pensamentos. Esses estímulos devem ser: sensoriais, motores,
cognitivos e tecnológicos. Assim, o terapeuta pode lançar mão de um e outro
grupo de estímulos para acessar o inconsciente das crianças. A seguir,
descreveremos mais detalhadamente esses estímulos.

• Estímulos Sensoriais
No ambiente ideal para o público infantil não podem faltar estímulos sensoriais.
É preciso que haja muitas cores, em várias tonalidades, para estimular o cérebro
da criança. Deve haver uma boa variedade de desenhos e paisagens que
remetam ao mundo infantil. A parte visual é a primeira a chamar a atenção da
criança e deve produzir um encantamento. Na parte tátil, o terapeuta deve se
atentar a móveis adaptados ao tamanho da criança, que sejam confortáveis e
seguros. Poltronas, mesinhas, cadeirinhas, puffs, lousas, estantes com livros e
brinquedos, são opções adequadas.
O estímulo sonoro também pode fazer parte do ambiente, mas deve ser usado
apropriadamente, para não estressar a criança ou a dispersar. Assim, a sala
pode ter brinquedos sonoros e aparelhos de som, mas que fiquem em local
pouco acessível, sendo colocados somente quando o terapeuta achar
conveniente.
A sala pode ter doces, frutas, sucos, petiscos, algo que agrade ao paladar da
criança, mas deve ser feita uma consulta prévia aos pais antes de oferecer
qualquer alimento à criança, para que se evite reações alérgicas. Muitos pais
também não costumam dar doces ou certos alimentos a seus filhos, por isso,
sempre devem ser consultados.
A Aromaterapia pode ser uma parceira da ludoterapia. O terapeuta pode
selecionar alguns cheiros específicos para cada sessão, para cada criança,
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atendendo suas necessidades. Outras terapias que podem ajudar na ludoterapia


são a Musicoterapia e a Cromoterapia.

• Estímulos Motores
Os brinquedos podem compor esse tipo de estímulo. Na sala de ludoterapia
devem constar uma grande variedade de brinquedos para todas as faixas-
etárias, tais como:
 Jogos de montar com peças grandes, para bebês e crianças até 2 anos;

 Identificação de texturas através de jogos de memória ou caixa de


surpresas;

 Instrumentos musicais;

 Pelúcias, bonecos e bonecas, personagens;

 Miniaturas como cozinhas, lojas, cidades, circos, autoramas, fazendas,


postos de gasolina, casa de bonecas, que estimulam a interação;

 Papel e lápis de cor, lousa, giz-de-cera, tinta, pincéis;

 Faz-de-conta: fantoches, bonecos, dedoches, roupas, fantasias, cenários.

Além desses exemplos, o terapeuta pode investir em qualquer outro brinquedo


que estimule o movimento, a coordenação motora grossa e fina, enfim, que faça
com que a criança manipule os objetos.

• Estímulos Cognitivos e Mentais


Uma parte da sala de ludoterapia deve ser destinada aos estímulos mentais e
cognitivos. Nesse setor devem constar jogos como: jogo da memória, quebra-
cabeça, lógica, damas, xadrez, jogos de tabuleiro. Também deve haver um canto
destinado à leitura, já que esta estimula o raciocínio, mas falaremos sobre isso
em capítulo próximo.
Em uma terapia diretiva, o psicólogo pode interagir com a criança para testar seu
desenvolvimento cognitivo, usando por exemplo, as provas operatórias
piagetianas. Jean Piaget foi um biólogo suíço que desenvolveu uma teoria para
o desenvolvimento cognitivo das crianças. Essa teoria classifica o
desenvolvimento infantil em quatro estágios (PIAGET, 1964):

 Período Sensório-Motor (0-2 anos): fase de imitação, de exercício dos


reflexos, a criança desenvolve a linguagem, é egocêntrica;
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 Período Pré-Operacional (2-6 anos): a criança inicia o processo de


socialização e exercita o jogo simbólico, o faz-de-conta;

 Período Operacional Concreto (7-12 anos): período das operações


mentais concretas, aprende a lógica, conceitos de número, de tempo, de
reversibilidade. Existe um material de apoio ao professor, chamado “Caixa
de Piaget”, na qual encontramos provas operatórias desenvolvidas por ele
para analisar em qual período a criança se encontra;

 Período Operacional Formal (a partir dos 12 anos): início do


pensamento lógico-dedutivo, a criança começa a entender e criar
pensamentos formais, abstratos, teorias mais complexas.
Para que o adulto consiga identificar o estágio de desenvolvimento, Piaget
desenvolveu as provas operatórias, divididas em: conservação de superfície,
conservação de líquidos, conservação de massa, conservação de comprimento,
conservação de volume, inclusão de classes, seriação e intersecção de classes.
Com essas provas, o terapeuta pode avaliar o desenvolvimento cognitivo da
criança.

• Estímulos Tecnológicos
Em uma sala de terapia lúdica devem constar também acessórios tecnológicos,
como jogos, ambientes virtuais, testes, provinhas. Vários instrumentos que são
usados em psicoterapia podem ser digitalizados, como os testes de inteligência.
Além de usar os recursos tecnológicos em seu consultório, o terapeuta pode
indicar alguns aplicativos e programas que ajudem a reduzir sintomas negativos,
para os pacientes usarem em casa. Vejamos abaixo alguns exemplos de
recursos tecnológicos para serem usados na ludoterapia:

 Jogos de ambientes virtuais: pode-se inserir o paciente em um


ambiente confortável e divertido, ou pedir que ele mesmo crie o seu;

 Aplicativos que relaxam: existem vários aplicativos que emitem sons e


imagens relaxantes, ou que promovem joguinhos divertidos para aliviar o
estresse e a ansiedade;

 Jogos interativos: o paciente interage virtualmente com pessoas,


objetos e ambientes, reais ou criados em computador.

• A Brinquedoteca e a Ludoteca
A criança realiza operações lúdicas desde o nascimento. Em diversos ambientes
e com diversas pessoas, ela pode brincar, jogar, interagir e se divertir. Por isso,
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não é difícil criar um ambiente lúdico infantil. O desafio nesse caso, dadas tantas
opções atuais, é escolher o brinquedo, o jogo, as atividades mais eficazes para
cativar a atenção da criança e entretê-la. No caso de uma terapia, então, é
preciso que a interação da criança com o ambiente seja ainda mais aprofundada,
para que gere informações suficientes para o profissional fazer sua análise.
Esse profissional pode optar então pela montagem de uma brinquedoteca, que
tem paradigmas adequados para a interação da criança. O objetivo de uma
brinquedoteca é estimular a criatividade e a espontaneidade da criança, o que
pode ajudar muito na análise baseada na ludoterapia. Segundo Cunha (1992,
apud COSTA & NETO, 2016, p.368), a brinquedoteca é “Um espaço preparado
para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande
variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente lúdico. É um
lugar onde tudo convida a explorar, a sentir, a experimentar. ”
O termo brinquedoteca passou a ser usado na década de 1930, nos Estados
Unidos, onde um comerciante percebeu que crianças roubavam brinquedos de
sua loja para poder brincar e reclamou com o diretor da escola das crianças. O
diretor percebeu que as crianças precisavam de um espaço para se divertirem,
com brinquedos e jogos, e criou uma brinquedoteca com brinquedos
emprestados (COSTA & NETO, 2016).
Atualmente, as brinquedotecas fazem parte de praticamente todos os lugares
que recebem o público infantil. Nós as encontramos em shoppings, escolas,
hospitais, lojas, restaurantes, salões de beleza, praças, clínicas de saúde e
estética, clubes e outros ambientes. Além de serem de fácil manutenção, as
brinquedotecas são um diferencial a mais ao atender crianças ou pais. Por isso,
em um consultório de ludoterapia ela pode ser de máxima utilidade.
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CAPÍTULO 4 – O VALOR DO LIMITE NA LUDOTERAPIA

Quando pensamos em uma criança em uma sala de ludoterapia, envolvida pelo


ambiente lúdico e pelas brincadeiras e brinquedos à disposição, devemos
imaginar como essa criança irá se comportar se não houver um limite traçado
para as suas ações. Neste capítulo, iremos descrever duas abordagens já
citadas aqui, a de Carl Rogers e Virginia Axline, que traçam limites (ou não) para
os pacientes, incluindo crianças, quando em análise ludoterápica.

• Abordagem de Carl Rogers


Dentro da Psicologia clínica existe uma abordagem chamada ACP, ou seja,
Abordagem Centrada na Pessoa. Essa abordagem tem como características
principais um atendimento que proporcione autonomia, independência e
liberdade de ação ao paciente. Carl Rogers foi o primeiro psicólogo a usar essa
abordagem, reforçando o vínculo entre terapeuta e paciente, e também a
liberdade deste paciente em sua terapia.
A terapia não-diretiva, que já descrevemos aqui, é a escolhida por Rogers para
trabalhar com seus pacientes. Nessa terapia, o paciente tem a liberdade de
interagir com o ambiente e seus objetos, de refletir sobre si mesmo e suas ações,
de analisar a situação. Na terapia não-diretiva, o terapeuta não realiza
entrevistas, como a anamnese, nem faz análise inicial com testes padronizados.
O ambiente próprio para essa terapia deve conter elementos que permitam ao
paciente uma imersão em seu eu e a atitude do terapeuta deve ser condizente
com esse ambiente. Para Rogers (1983), um ambiente ideal para a sua forma
de terapia deve ter três elementos: a congruência, a aceitação positiva
incondicional e a compreensão empática. Vejamos cada um deles:

 Aceitação Positiva Incondicional: aceitar o paciente como ele é, com


toda sua personalidade e bagagem, sem interferências e julgamentos;

 Compreensão Empática: saber se colocar no lugar do paciente e criar


uma relação de confiança com ele;

 Congruência: ao ter essa postura, baseada nas atitudes acima, o


terapeuta consegue analisar a situação do paciente.

Quando o paciente se trata de uma criança, no caso da ludoterapia, por exemplo,


essa abordagem é ainda mais importante. É preciso aceitar a criança,
demonstrar afeto, cativá-la, e dar liberdade para ela interagir com o terapeuta e
com o ambiente, expressando seus sentimentos e emoções.

A terapia de Carl Rogers sofre algumas críticas por conta da falta de limites para
as crianças. Nessa terapia, o único limite é o horário da sessão. Sendo assim,
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os críticos dizem que não há um aprendizado sobre o certo e o errado nesse tipo
de abordagem. A resposta às críticas é que o excesso de restrições atrapalha o
desenvolvimento da autonomia da criança, que acaba se inibindo e não
manifestando suas frustrações. Sem falar que o consultório não seria o local
desse tipo de aprendizado. Apesar disso, ainda existem limites, como a proibição
de quebrar coisas e agredir o terapeuta (DORFMAN, 1992).

Na sala de atendimento de ludoterapia, a criança tem menos limites que em


casa, ou na escola, por exemplo, para que possa se sentir livre para se
expressar. A afetividade e permissividade manifestada pelo terapeuta criaria um
vínculo de confiança que se estenderia a outros adultos, e assim, a criança
apresentaria um respeito, sem necessidade de coações. Além disso, a
ansiedade e os medos intrínsecos diminuiriam, pois, a criança sabe que não será
rejeitada na sessão (BRITO, 2012).

• Abordagem de Virginia Axline


A psicóloga americana Virginia Axline se aproxima de Carl Rogers em sua
abordagem teórica, em relação ao limite da agressão ao terapeuta Brito (2012,
p.51):

Uma questão anteriormente levantada por Axline (1984[1947],


1993[1969]) e reforçada por Dorfman é a do limite à agressão
física da criança contra o terapeuta. Esse limite é de grande
importância para que o terapeuta permaneça aceitando
completamente a criança (atitude indispensável à permanência
da relação terapêutica) e para que a criança não venha a sentir-
se culpada ou temerosa de represálias pelo seu comportamento
de bater no terapeuta, o que poderia interferir na possibilidade
de continuação da ludoterapia.

Virginia Axline (1984) propõe oito princípios para a ludoterapia, que


descreveremos agora. O primeiro princípio, que se aproxima da terapia de
Rogers (aceitação positiva incondicional), é sobre a criação de um vínculo de
confiança entre criança e terapeuta. Isso se dá pela postura amigável e flexível
do terapeuta em relação às ações da criança. Não julgar, não criticar, não
repreender a criança, manifestar simpatia, empatia e afeto, são atitudes que o
terapeuta deve tomar na ludoterapia descrita por Axline.
Como segundo princípio, Axline (1984) aponta a aceitação da criança de forma
integral, acolhendo a criança de modo firme, porém amigável. Devemos colocar
aqui que na ludoterapia de Axline e Rogers, não são feitas críticas, porém nem
elogios ou reforços positivos. A postura do terapeuta é neutra nesse sentido.
Assim, o terceiro princípio, da permissividade, leva a uma atitude mais de
observação do que interferência nas interações da criança com o ambiente. A
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criança deve ficar à vontade para fazer o que quiser dentro da sala, escolher
seus brinquedos e suas ações. Se a criança manifestar um comportamento
violento, o terapeuta deve se concentrar na análise do sentimento e não da ação
(AXLINE, 1984).
O quarto princípio de Axline (1984) se concentra no reconhecimento dos
sentimentos da criança, identificando-os e analisando-os para descobrir uma
possível causa para seus comportamentos e elaborar um tratamento. Axline
afirma a importância de o terapeuta identificar e não interpretar os sentimentos
da criança, para uma terapia mais objetiva.
A confiança na capacidade da criança de resolver seus problemas, pelo menos
os mais imediatos, define o quinto princípio. Dentro deste, o terapeuta deve
interferir o mínimo possível nas ações do paciente. Isso vai fazer com que a
criança se sinta segura para resolver suas questões. E assim, chegamos ao
sexto princípio: o afastamento. É preciso que seja mantida uma distância pelo
terapeuta para que a criança mergulhe em seu mundo através da interação com
os objetos (AXLINE, 1984).
O sétimo princípio define que a terapia precisa construída pouco a pouco,
através da relação criança-terapeuta, baseada em confiança e amizade,
esperando que a criança se sinta segura para se expressar e respeitando o
tempo de cada paciente. Por fim, o oitavo princípio diz respeito aos limites que a
terapia deve estabelecer para que a criança se responsabilize por seus atos no
ambiente ludoterápico (AXLINE, 1984).
Tanto o tempo, como o espaço devem ser delimitados nitidamente para a
criança, assim como o respeito ao terapeuta e aos objetos. Axline, porém,
salienta que esses limites só devem se estabelecer se não reprimirem a criança
e prejudicarem a relação de confiança do terapeuta com ela. A criança precisa
aprender a não reprimir sentimentos, mas ações que sejam negativas nascidas
dele.
Esse trabalho, porém, exige flexibilidade na conduta do terapeuta e paciência
para que ela construa essa maturidade. Assim, na questão dos limites de ações,
Rogers é um pouco mais delimitador do que Axline, porém, na manifestação dos
sentimentos por parte da criança, eles mantêm a mesma posição, pois ambos
permitem a livre expressão de sentimentos. Para finalizar, segundo Brito & Paiva
(2011, p.106):
Ainda sobre os limites que o terapeuta deve colocar na relação
terapêutica, ambos os autores enfatizaram a necessidade de
que os limites na psicoterapia fossem esclarecidos ao cliente,
seja ele adulto ou criança. Rogers justificou essa necessidade
para a manutenção da aceitação incondicional, tão importante
para a eficácia da terapia. Axline compreendia a importância dos
limites para situar a criança de que a terapia faz parte do mundo
de relações em que ela vive. Uma relação com características
diferenciadas, sem dúvida, mas ainda assim uma relação onde
o respeito mútuo é fundamental.
16

CAPÍTULO 5 – A PARTICIPAÇÃO INDIRETA DOS PAIS

A Psicanálise tem em seu histórico, desde seu fundador Sigmund Freud,


envolver os pais no processo de terapia, mesmo sendo impostos certos limites.
Sua filha, Anna Freud atendia crianças, inclusive lançando mão da abordagem
lúdica e incluía os pais em seus tratamentos, como educadores e com funções
pedagógicas. Os pais, para ela, serviam de conectores no início da terapia, para
ajudar a ganhar a confiança da criança e fazer com esta se sentisse à vontade
(OLIVEIRA & GASTAUD, 2018).

Uma das fundadoras da ludoterapia, Melanie Klein, tinha uma postura diferente.
Klein não aceitava a participação dos pais por considerar que seriam um
obstáculo a mais no caminho até o inconsciente da criança. Para isso, ela
preferia que as crianças brincassem sozinhas, salvo alguns casos em que a
presença da família poderia ajudar. Neste capítulo, iremos considerar essa
postura terapêutica, porém, descreveremos a importância de uma participação
indireta dos pais no processo de análise da criança (OLIVEIRA & GASTAUD,
2018).

Para Axline (BRITO, 2012), a conduta dos pais pode ser um agravante para os
problemas da criança e não via necessidade de participação deles no processo
terapêutico da criança. Ela comenta, porém, que pode ser proveitoso que os pais
também passem por terapia, em alguns casos. Também em certos casos, Axline
afirma que só a terapia dos pais já poderia auxiliar a criança, melhorando o
relacionamento e a dinâmica interna da família.

Axline (1984[1947], 1993[1969]) também pontua que um


possível processo psicoterapêutico para os pais, e não para a
criança, pode promover uma melhor compreensão dos pais
sobre a situação familiar. Essa terapia seria suficiente para gerar
mudanças, na medida em que os pais mudariam a sua forma de
se relacionar com a criança. Daí a conclusão da autora de que,
quando pais, ou responsáveis, e a criança são atendidos ao
mesmo tempo, os efeitos podem ser potencializados (BRITO,
2012, p.42).

Quando se trata de problemas emocionais e psíquicos com crianças, são os


adultos responsáveis, geralmente os pais, que levam a criança ao
psicoterapeuta. Muitos se sentem culpados pela situação e pelas dificuldades
que os filhos apresentam, se sentem julgados e frustrados. Por isso, é importante
que o psicoterapeuta inicie o tratamento com a criança ao mesmo tempo em que
conversa francamente com os pais. Eles precisam se sentir seguros, se livrarem
de certas questões, como vergonha e culpa, para poderem ajudar a criança.
17

O psicoterapeuta sabe da importância dos pais no processo terapêutico. Eles


podem ser valiosos nesse processo. Além disso, uma boa conversa com os pais
pode trazer informações úteis ao terapeuta, inclusive hipóteses sobre o
comportamento que está causando preocupação. Em qualquer terapia, saber
como é a dinâmica familiar do paciente ajuda a entender certas ações do mesmo
e certos sentimentos (BRITO, 2012).

Os pais chegam para o atendimento da criança cheios de


questões, defesas e de sentimentos, como culpa e inadequação.
Os pais sabem que sua conduta é ditada pela sociedade e sua
performance avaliada pelos seus próximos. Justamente por isso,
o ludoterapeuta, segundo VanFleet, Sywulak e Sniscak (2010),
deve estabelecer uma postura não julgadora na interação com
os pais, mas sim uma postura compreensiva frente a estes
(BRITO, 2012, p.71).

Tanto na conversa com os pais, como em suas interações com a criança, o


terapeuta deve deixar claro que não haverá fluxo de informações, ou seja, que
nada falado na terapia irá ser passado a outrem. Sendo a criança o foco da
terapia, suas informações devem ser respeitadas, e se necessário, não
chegarem nem mesmo aos pais. O terapeuta pode informar sobre o estado
emocional e psíquico da criança sem revelar tudo que ela conta (BRITO, 2012).

Mas então, como seria a participação dos pais na ludoterapia? Mesmo que
indireta, a participação dos adultos responsáveis pela criança, os que mais
convivem com ela, é de fundamental importância. Primeiro, porque são esses
adultos que identificaram algo no comportamento da criança que os fizesse levá-
la na psicoterapia. E segundo, que esses adultos se tornam parceiros do
terapeuta. A seguir, descrevemos alguns aspectos importantes dessa parceria:

 Estabelecer uma relação de confiança com os pais da criança;

 Os pais devem manter pagamento em dia;

 Os pais devem ser responsáveis e sempre levar a criança para a


ludoterapia na hora e dia marcados;

 Caso seja necessária a entrevista, ou entrevistas, os pais devem


responder com sinceridade a mesma;

 Os pais devem seguir as orientações do terapeuta em relação às suas


ações e seus hábitos, de modo a colaborar com o tratamento da criança;

 O terapeuta deve manter em relação aos pais a mesma empatia e


neutralidade que mantém em relação à criança;
18

 O terapeuta deve manter os pais informados sobre a evolução da terapia;

 Os pais devem sanar suas dúvidas sempre que possível.

Também é importante que os pais fiquem atentos ao comportamento da criança,


antes, durante e depois da terapia. Os pais podem ter levado a criança à terapia
por um motivo, mas durante o processo, algumas atitudes da criança devem
receber atenção, tais como: choro excessivo, agressividade, problemas na
escola, isolamento, tristeza, medos.
Por fim, podemos entender que os pais podem colaborar bastante com a terapia
e consequentemente com a recuperação da criança. Além de identificar os
problemas que levam ao terapeuta, eles podem manter o mesmo informado e
através de sua conduta, incentivar a criança na busca de um equilíbrio psíquico
e emocional.
19

CAPÍTULO 6 – A COMUNICAÇÃO NA LUDOTERAPIA

O objetivo da ludoterapia é fazer com que a criança se expresse através da


brincadeira e da interação com um ambiente lúdico. Nessa interação, ela irá
manifestar conflitos interiores, dificuldades ou qualquer outro problema que
esteja enfrentando. O psicoterapeuta, ao analisar essa interação, irá tentar
compreender a situação e elaborar um tratamento. Suas observações têm o
objetivo de acessar o inconsciente infantil, entender a dinâmica da personalidade
da criança e fazer com que ela projete nas brincadeiras os problemas psíquicos.

Como já estudamos, existem dois tipos de terapias que podem usar a


abordagem ludoteráoica. A terapia não-diretiva, na qual o psicoterapeuta não
interfere nas interações da criança, e a terapia diretiva, na qual o psicoterapeuta
faz orientações e trabalhos dirigidos. Neste capítulo, iremos entender como
funciona a comunicação entre a criança e seu terapeuta nessas duas
abordagens.

Quando a criança brinca, ela se comunica através de uma linguagem não-verbal.


E a criança tem consciência de estar se expressando através da brincadeira,
tanto, que muitas vezes não permite o acesso do adulto. Em uma sessão de
ludoterapia, a criança pode fazer um desenho e mostrar ao terapeuta, mas pedir
que este não mostre aos pais. Isso significa que ela está estabelecendo uma
comunicação com o profissional, mas quer que esta seja bilateral.

Muitas atitudes da criança são indicativos de emoções ou pensamentos que


precisam ser compreendidos pelo adulto. O ato de brincar faz com que a criança
saia da situação atual, que lhe causa angústia, e se mova para uma outra
situação, que lhe permite a expressão de seus pensamentos e sentimentos, de
forma mais livre e tranquila. Segundo Axline (1984, apud CASTELO BRANCO –
ACP, 2002):

A criança necessita de oportunidade para não somente


expressar seus sentimentos, mas para se sentir segura ao fazer
isso. Ela precisa saber que seus sentimentos são aceitáveis e
apropriados. Dando-lhes oportunidade, as crianças têm a dádiva
da comunicação honesta, franca (Axline,1972). Empenhando-se
no processo de brincar em um ambiente de aceitação, cuidado
e segurança, as crianças são capazes de desenvolver
completamente suas personalidades. Este desenvolvimento do
eu possibilita o crescimento.

Existem casos, porém, em que a criança procura interagir com objetos e jogos
que sejam menos pessoais. Ela cria uma barreira para a projeção de seus
conflitos e dificulta a análise do terapeuta. Nesse caso, é preciso que entre a
terapia diretiva, na qual o terapeuta vai direcionar a criança para situações,
objetos e brincadeiras nos quais ela possa expressar melhor seu inconsciente.
Um exemplo, é contar uma história e propor um desenho a partir dela.
20

Para que a ludoterapia seja efetiva, o emocional da criança precisa ser


acessado. Como a criança (mais ainda as menores) tem dificuldade de verbalizar
seus sentimentos e pensamentos, por conta de não ter ainda vocabulário, nem
maturação cognitiva e emocional suficientes, as brincadeiras acabam sendo uma
porta de comunicação com estado psíquico da criança.

Existem casos em que a terapia não-diretiva funciona bem e a criança


estabelece um vínculo interativo com o terapeuta. Porém, no caso de crianças
mais fechadas emocionalmente, é preciso a intervenção do mesmo. Ele não
consegue, somente através da observação, detectar as dificuldades pelas quais
a criança possa estar passando.

A terapeuta Mariuza Pregnolato (2020) afirma que técnicas diretivas ou não-


diretivas irão depender da criança e também do terapeuta. Ela, porém, prefere a
postura não-diretiva, observando a criança e se posicionando somente quando
for indispensável. Na primeira sessão, ela estabelece alguns limites, como proibir
a agressão a si e ao terapeuta, e quebrar objetos. Segundo Mariuza
(PREGNOLATO, 2020):

As crianças em processo terapêutico tendem a manifestar


bastante afetividade em relação ao terapeuta, o que facilita muito
todo o trabalho. Este, porém, deverá corresponder com reserva,
pois seu papel será sempre acolhê-las tendo em mente levá-las
em busca da sua independência e autonomia, o que é feito
gradativamente. Assim, o vínculo afetivo mais forte vai se
desfazendo de forma lenta e natural, preparando a criança para
receber alta do processo terapêutico sem sentir-se abandonada,
rejeitada ou privada de um lugar que lhe fazia sentir-se muito
bem.
A maioria das crianças estabelece uma forte relação de confiança e afeto com o
terapeuta através da ludoterapia. Primeiro porque está em um ambiente no qual
se sente segura e acolhida, segundo, porque vê no terapeuta alguém neutro,
que não se relaciona aos seus problemas cotidianos e terceiro, porque sente que
suas expressões estão sendo compreendidas.
Conforme a criança vai avançando no tratamento, a melhora pode se apresentar,
mas é importante que os pais não interrompam esse tratamento abruptamente.
Aliás, para que a evolução aconteça, a comunicação do terapeuta não deve se
restringir à criança. É preciso que ele busque informações com pais, com a
escola e com todos que convivem com essa criança. A participação de todos é
importante nesse processo de cura.
Para Castelo Branco (2002), a comunicação da criança com o terapeuta, se bem
estabelecida, irá não só ajudar a resolver possíveis questões psíquicas, mas
gerar aprendizado, autonomia e autoconhecimento. A troca de informações, de
interações que acontecem nas sessões de ludoterapia, ajudam a construir um
emocional mais seguro para a criança, assim como maturidade cognitiva e
psíquica.
21

Quando uma criança está com problemas e não consegue manifestar seu
descontentamento ou sofrimento, ela começa a apresentar comportamentos que
fogem do que os pais consideram sua normalidade, tais como “comportamentos
agressivos, birras, dificuldades de concentração, dificuldades no
estabelecimento de relações humanas” (CASTELO BRANCO, 2002). Nesse
momento, a ludoterapia entra como ferramenta para que essa criança consiga
manifestar a origem desses comportamentos para o terapeuta.
E não são somente comportamentos que são analisados, o terapeuta também
se concentra em outras linguagens usadas pela criança enquanto brinca: sons,
expressões faciais, gestos, postura, etc. O modo como a criança interage com
os brinquedos, suas escolhas dentro do ambiente e a relação com o terapeuta
também dão sinais do que se passa em seu aparelho psíquico, mostram sua
personalidade e podem apresentar importantes informações.
Ao brincar com a criança, o terapeuta consegue que ela se sinta confortável e
se divirta, mas principalmente, se torna um parceiro da mesma. Além de ambos
conseguirem construir uma experiência positiva, a criança aprende uma nova
forma de lidar com as situações, consigo mesma e com o outro. Portanto, a
comunicação com a criança na ludoterapia precisa ser o mais bem-sucedida
possível, para que esse tratamento tenha efeito, inclusive a longo prazo.
22

CAPÍTULO 7 – O NASCIMENTO DA LITERATURA PARA CRIANÇAS

Até o século XVIII não havia uma concepção de infância tal qual a temos
atualmente. As crianças eram consideradas adultos em miniatura,
subdesenvolvidos, usavam as mesmas roupas que os pais e não havia nenhum
cuidado em especial. A educação era voltada para o aprendizado de tarefas e
hábitos da vida adulta. A literatura, tampouco, era voltada para entreter e cativar
o público infantil. Neste capítulo, iremos descrever como surgiu a literatura
infantil e como ela desponta atualmente como uma ferramenta de diversão e de
aprendizado.
Até a Idade Moderna, a criança então era tratada como um pequeno adulto.
Durante a Idade Média e o advento do Feudalismo, as crianças não recebiam a
atenção e os cuidados próprios para a infância, eram tratadas como adultos, sem
existir uma linguagem, uma educação ou tratamento apropriados. A família
dormia no mesmo cômodo, não havia privacidade, nem higiene, nem se
preservava a intimidade das crianças; elas faziam as mesmas tarefas dos pais e
eram responsáveis por si mesmas.
Com o surgimento das cidades, após o enfraquecimento do Feudalismo, surge
a burguesia e assim uma nova concepção de família: pai, mãe e filhos. A família
burguesa começa a tratar as crianças com mais cuidados. Como valorizavam a
propriedade privada e as relações de hereditariedade, tratar com cuidado os
herdeiros, de modo a perpetuar o nome e patrimônio familiar, era uma prioridade
(SILVA, 2009).
A partir desse momento histórico, começamos a pensar em criança então, como
um ser especial, com desenvolvimento e características próprias, e que precisa
ter uma educação que se volte especificamente para essa etapa. Por essa
época, educadores como o suíço Johann Hendrich Pestalozzi começam um
trabalho pedagógico específico para a infância. A médica italiana maria
Montessori constrói espaços próprios para a educação infantil. Filósofos como
Jean-Jacques Rousseau escrevem sobre cuidados e uma educação própria para
as crianças e a pedagogia ganha força.
Como o crescimento da preocupação com a infância e uma educação específica
para ela, nasce também a Literatura Infantil. Mas histórias para crianças já
haviam sido escritas antes. François Fenélon, teólogo católico e escritor francês,
já escrevia livros para crianças no século XVII com o objetivo de educá-las
moralmente. Essas histórias visavam ensinar crianças a se comportar, a não se
colocar em perigo e a obedecer aos adultos (SILVA, 2009).
Como precursor da literatura para crianças, ainda no século XVII, Charles
Perrault escreve seus famosos contos de fadas, tais como: Contos de Mamãe
Gansa, A Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Gato de
Botas, As Fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar.
Esses contos sofrem adaptações ao longo dos séculos, mas ainda hoje são
conhecidos pela maioria das crianças.
23

No século XVIII, os irmãos Grimm adaptaram para a escrita, contos e histórias


que ouviam dos camponeses, tomando o cuidado de suavizar as mesmas, que
continham incesto, canibalismo e outras bizarrices. Eles escreveram: A Gata
Borralheira (uma outra versão), Branca de Neve, Os Músicos de Bremen, João
e Maria, entre outras. Seus contos, muitas vezes assustadores, tinham em sua
origem o objetivo de manter as crianças longe dos perigos das florestas.
Esses contos, no entanto, não tinham um caráter lúdico, tampouco pedagógico,
seu objetivo era alertar as crianças para os perigos e por esse motivo, ainda não
poderíamos vê-los como literatura infantil (SILVA, 2009). No século XIX, outros
autores, porém, conseguiam dar mais ludicidade às suas histórias e se
destacaram na literatura infantil, tais como:

 Hans Christian Andersen: escreveu O Patinho Feio, A Roupa Nova do


Rei, entre outras;

 Charles Dickens: escreveu o clássico Oliver Twist e também David


Coperfield.

Hans Christian Andersen, escritor dinamarquês, se tornou uma referência tão


importante no mundo da literatura para crianças que deu nome a um prêmio que
é considerado por muitos o maior do gênero. No mesmo caminho, Charles
Dickens, romancista inglês, cria personagens infantis com os quais as crianças
se identificam
Outro tipo de história que era contada para as crianças, desde tempos muito
antigos, eram as fábulas. Como características elas tinham: uma moral
(ensinamento, moral da história), personagens animais com falas e
características humanas, eram breves e vinham em prosa ou verso. Podemos
citar como importantes autores de fábulas e contos para o universo infantil, os
seguintes:

 Jean de La Fontaine: O Lobo e o Cordeiro;

 Esopo: A Lebre e a Tartaruga, O Lobo e a Cegonha, O Leão Apaixonado.

No século XIX, com o fortalecimento da Pedagogia e a construção de um


conceito de infância baseado no modelo burguês, a literatura infantil ganha força
e caráter comercial e pedagógico, além de lúdico. O nascimento desse gênero,
no entanto, foi cercado problemas. Não havia ainda fundamentos e paradigmas
literários para a área e muito preconceito envolvia o gênero. Estudiosos, literatos
e acadêmicos da área não reconheciam autores, nem suas obras, como
literatura de fato. Silva (2009, p.138) afirma que:
24

Por seu caráter singular, nasce uma comparação hierarquizada


com a literatura não infantil, a canonizada, a aceita pela
academia, a lida e praticada pelo público adulto. Devido a essa
classificação, a literatura infantil já nasce com o peso da
menoridade, pois é atrelada a um projeto educacional (político-
pedagógico) e a seu público, que é a criança, sem mencionar a
predestinação mercadológica que em si está embutida.

Assim, a literatura infantil, desde o seu nascimento, envolve a discussão sobre


ser realmente literária, ou seja, artística, lúdica, ou ser um gênero de caráter
pedagógico ou mercadológico. O fato é que não existe uma receita para se
escrever livros para crianças. Estes, precisam respeitar o mundo da infância, os
gostos dessa faixa etária e também atender ao contexto cultura e histórico. Por
isso, o escritor de livros para crianças tem que conhecer o universo delas. Tem
que entender a fantasia, a imaginação, a diversão, tem que saber criar e
manipular os cenários e personagens que as crianças gostem.

• Literatura Infantil no Brasil


Quando falamos em histórias infantis no nosso país nos remetemos
imediatamente a Monteiro Lobato. Muito criticado atualmente, por ser
considerado um autor racista, preconceituoso, ele ainda é o pai desse gênero no
Brasil e suas histórias, seus personagens, mesmo polêmicos, refletem um
contexto que de fato, desprivilegiava negros e mulheres. Portanto, não cabe aqui
uma crítica ao autor, mas apresentar a importância de sua obra para nossa
literatura infantil.
Embora já escrevesse e possuísse inclusive uma editora (publicara sucessos
como Urupês e criara o famoso personagem Jeca-Tatu), Monteiro Lobato inicia
sua história com a literatura infantil brasileira em 1921, com a publicação de
Narizinho Arrebitado. Para ele, histórias escritas para crianças não devem ter
como objetivos educar, moralizar, mas produzir um entretenimento e um
encantamento.
Seu sucesso com o público infantil o levou a ampliar suas histórias, publicou
também: Fábulas de Narizinho (1921), O Saci (1921), O Marquês de
Rabicó (1922), A Caçada da Onça (1924), O Noivado de Narizinho (1924), Jeca
Tatuzinho (1924) e O Garimpeiro do Rio das Garças (1924). Ele criou então,
todo o universo do Sítio do Pica-Pau Amarelo, com os personagens famosos de
Tia Nastácia, Pedrinho, Dona Benta, Visconde de Sabugosa e a boneca de pano
Emília (VIEIRA, 2016).
Na década de 1930, outros autores brasileiros se destacam na literatura infantil,
como Viriato Correia e Cecília Meireles. Havia um interesse maior do público e
as editoras intensificaram o investimento nesse gênero. Já em 1940 essas
editoras produzem bastante material, não só nacional, como traduções. Nas
25

décadas seguintes, mais escritores surgem, como Ziraldo, Ana Maria Machado
e Ruth Rocha. Autores como Mário Quintana, Vinícius de Morais e Clarice
Lispector também escrevem para o público infantil.
Nos anos de 1980, a nossa literatura infantil atinge um alto nível, tendo alguns
autores, como Lygia Bojunga Nunes, Ana Maria Machado e Roger Melo,
contemplados com o prêmio Hans Christian Andersen. Atualmente, a literatura
infantil, tanto a brasileira como a estrangeira, têm uma boa quantidade de
autores e uma grande variedade temática. Para Silva (2009, p.140):

Talvez pela história e pela trajetória da literatura infantil ter sido


tão conturbada, e inicialmente apresentando claros fins
pedagógicos, sua conceituação ainda hoje não seja tão
respeitada como deveria ser no meio literário. O intuito educativo
que marca o surgimento desta literatura provavelmente sugeriu
e inculcou no meio acadêmico a visão da literatura infantil como
a não representação da arte, a função didático-pedagógica e a
produção de menor qualidade.

Esse caminho, que conduza a um fim pedagógico, ou que conduza a tendências


mercadológicas, é errôneo. A literatura não deve servir a essas ações, ela deve
servir como entretenimento, como lazer. O seu fim não pode ser nada mais do
que encantar, do que embelezar. Assim, no próximo capítulo, iremos entender
como a literatura vai ser importante para as atividades lúdicas nas terapias com
as crianças.
26

CAPÍTULO 8 – A LITERATURA INFANTIL NA LUDOTERAPIA

Como já comentamos no capítulo anterior, a literatura deve servir como arte,


como forma de entretenimento, lazer, encantamento, enlevo. Ler é uma forma
de usar a imaginação, de inspirar os sentidos e também de acessar o
inconsciente. Por isso, a literatura para crianças pode e deve servir de
ferramenta na ludoterapia. Neste capítulo, iremos descrever como usar esse
gênero no trabalho ludoterápico com as crianças.
O encantamento e o interesse pelos livros nascem cedo na criança. Mesmo
antes de aprender a ler, a criança deseja pegar, apalpar, folhear. Através das
figuras a criança realiza objetivos, cria ações, conta histórias. O ser humano quer
ouvir histórias, quer saber sobre elas, quer ler, quer contá-las. Crianças não
fogem dessas características e a infância recebe cada vez mais a atenção da
literatura e da contação de histórias.
O biólogo suíço Jean Piaget (1964), afirma que a criança de 0 a 2 anos se
encontra no período sensório-motor de desenvolvimento cognitivo. Nesse
período, essa criança irá exercitar os cinco sentidos, ou seja, ela irá se atentar a
cores e movimentos (visão); aos sons do ambiente (audição); aos gostos dos
alimentos (paladar); às texturas e formas dos objetos (tato); e aos cheiros
(olfato). Assim, tudo que despertar essas sensações, despertará também a
curiosidade e a atenção da criança.
Sendo esses seus interesses, a literatura infantil atual toma o cuidado de
produzir livros específicos para essa idade. Estes livros vêm com muitas imagens
coloridas, cheiros, texturas, alto relevo e até sons, fazendo nascer bem cedo o
interesse pela literatura. Conforme crescem, os bebês irão se atentar à
linguagem humana e ouvir histórias irá estimular não só sua audição, mas sua
inteligência.
A infância é uma fase muito importante no desenvolvimento das estruturas
mentais e na construção do conhecimento, além de ser fundamental na formação
da personalidade do indivíduo. Para que isso ocorra de forma natural e saudável,
os estímulos do meio devem ser adequados. Além de um recurso pedagógico, o
livro de leitura deve ter nessa fase a função de estimular a imaginação infantil e
permitir à criança o acesso aos seus pensamentos e sentimentos. Por isso, a
literatura infantil é um instrumento poderoso na aprendizagem, seja ela cognitiva
ou emocional.
Para que a literatura infantil cumpra essa função de enlevar e de cativar a
criança, é preciso que o terapeuta conheça não só as características que atraem
o público infantil, como se atentar às faixas etárias e seus interesses. Um canto
ou sala de leitura para crianças precisa ter um mínimo disponível para cada
etapa do desenvolvimento, pois para cada etapa da vida da criança, existem
interesses específicos, vejamos.
27

A partir dos sete anos de idade, por exemplo, as crianças


preferem histórias com um enredo reduzido envolvendo
aventuras no ambiente próprio: família, comunidade e histórias
de fadas. Com oito anos, a preferência é por histórias vinculadas
à realidade. Aos nove anos, a criança preferirá as histórias de
fadas com enredo mais elaborado. E a partir dos dez anos,
escolherá as fábulas, os mitos e as lendas (Coelho,1990,15).

Jean Piaget, em sua classificação dos estágios de desenvolvimento cognitivo da


criança (1964), afirma que o período pré-operacional tem como uma de suas
características o exercício do Jogo Simbólico. Este, nada mais é que a
brincadeira de faz-de-conta, na qual a criança exercita a inteligência através de
criações mentais e situações imaginárias. Nesse exercício, a história infantil se
torna uma parceira fundamental, pois dá à criança, os elementos necessários
para preencher sua imaginação.
Por outro lado, no período operacional concreto, a partir dos sete anos, a criança
prefere se atenta mais ao real e ao concreto, inserindo em suas preferências de
leitura e em suas histórias, um universo mais concreto e com mais realismo. Na
ludoterapia, podemos preparar atividades literárias para ambos os períodos da
seguinte forma:

 Pré-Operacional (2-6 anos): nesse período recomenda-se o uso de


livros com figuras, com cores e sons, texturas, personagens divertidos e
coloridos, histórias que envolvam fantasia, mágica, aventura, ficção. A
linguagem deve ser simples, assim como a narrativa, na linguagem que a
criança compreenda. Também é importante contar histórias usando livros,
fantoches, dedoches, bonecos, entre outros objetos;

 Operacional Concreto (7-12 anos): como a criança já está se


alfabetizando, a criança pode escolher e ler histórias a seu gosto. Pode-
se disponibilizar livros com mais realismo e narrativas mais complexas;

 Operacional Formal (a partir dos 12 anos): para atender o público pré-


adolescente, o ludoterapeuta pode optar por livros do gênero infanto-
juvenil. Atualmente, o mercado para esse gênero também cresce muito.

Através dos livros e das histórias infantis, a criança vai estar em relação com
aspectos importantes da vida que ainda são inéditos para ela. A cultura, por
exemplo, é um desses aspectos: a criança conhece (pouco ainda) a cultura de
seu local, de sua família, através da leitura, das narrativas, ela irá conhecer
outras realidades, outras culturas. A literatura apresentará personagens com
outro modo de viver, de agir, com outros costumes e tradições. Isso não só
estimulará sua imaginação e consequentemente sua inteligência, como abrirá
sua mente para a diversidade.
28

Até mesmo sua própria realidade pode ser explorada e compreendida através
da literatura. Ao escolher livros sobre histórias de sua região, de seu país ou sua
cidade, a criança aprenderá a ver a sua própria cultura sob uma nova
perspectiva.
As tradições familiares e culturais podem estar relacionadas, inclusive, ao motivo
de a criança estar passando por alguma dificuldade que levou os adultos a
indicarem-na para a terapia.
O livro serve para criança se projetar ou projetar seus problemas na história ou
seus personagens. Por isso os contos de fadas, por exemplo, são atemporais e
cativam tanto o interesse de adultos e crianças, porque existem múltiplos
significados escondidos em suas histórias. Castelo Branco (2002b), afirma que:

Como toda arte significativa, o sentido mais profundo dos contos


de fadas será diferente para cada pessoa, e diferente para a
mesma pessoa em momentos diversos de sua vida. A criança
extrairá um sentido diferente do mesmo conto de fadas ou da
mesma história infantil, dependendo dos seus interesses e
necessidades do momento. Sendo-lhe dada a oportunidade, ela
voltará ao mesmo conto ou história quando estiver pronta a
ampliar significados ou substituí-los por novos.

O psicólogo russo Lev Vygotsky (2002) estudou o desenvolvimento humano


através da linguagem e como esta serve de instrumento para o homem entender
seu contexto histórico-cultural e adquirir saberes que lhe proporcionarão maior
acesso ao seu meio social. A literatura infantil então, irá ser um instrumento para
adquirir esses saberes, levando a criança a conhecer e explorar o mundo em
que vive e seus aspectos sociais, históricos e culturais.
Além de ter acesso ao conhecimento social, a criança, através das histórias
infantis também permitem acesso dos outros a ela mesma. Isso porque a criança
se identifica de tal modo com essas histórias e seus personagens que inicia um
diálogo com eles, tão profundo às vezes, que permite ao adulto entender o que
se passa em sua mente. É o que veremos no próximo capítulo.
29

CAPÍTULO 9 – O RELATO DA HISTÓRIA INFANTIL NA LUDOTERAPIA

A interpretação de qualquer história é livre, assim como a aquisição de


informações e construção de significados, portanto, ao narrar sua versão, a
criança se liberta através dela. Assim, traumas emocionais, medos e conflitos
podem surgir em sua narração particular.
A literatura é uma expressão de subjetividade. Quando lemos, acessamos essa
subjetividade e a relacionamos com a nossa própria. Assim, a criança consegue
a identificação com sentimentos presentes nas histórias que lê. Por isso os
contos de fadas e outras histórias infantis são universais, porque em qualquer
parte e em qualquer tempo transmitem algo que sempre fará parte do universo
infantil. Um dos recursos mais importantes para expressar essa subjetividade e
imprimir universalidade na literatura infantil é sua linguagem.
Mesmo não havendo uma fórmula mágica para se escrever um livro que agrade
as crianças, construir uma linguagem que atente para o mundo infantil é
fundamental para o sucesso de um livro desse gênero. Se o livro é infantil, a
linguagem tem que representar esse universo. E não falamos aqui somente da
linguagem no sentido gramatical, na adaptação de vocabulário, estamos falando
de entrar no mundo da criança com uma narrativa que a conquiste.
Essa linguagem precisa ser uma ferramenta de acesso à criança, tendo que usar
para isso, simbologia e códigos que a criança entenda. Vejamos alguns recursos
usados na linguagem das histórias infantis:

• Sentido Conotativo: a história infantil geralmente é repleta de sentido


figurado, ou seja, com as palavras fora do seu sentido original;

• Polissemia: uso de palavras com vários significados, para dar dinâmica


à narrativa e porque o vocabulário da criança ainda é restrito;

• Polifonia: uso de mais de uma voz narrativa;

• Gírias e Neologismos: usar um vocabulário atual, moderno e criar novas


palavras é um recurso que cativa crianças e adolescentes;

• Metáforas: fazer comparações usando imagens mentais é um recurso


que encanta ao leitor. Exemplo: a cidade em que Ana vivia era um grande
jardim perfumado.

Toda a narrativa infantil precisa ter personagens com os quais a criança se


identifique, cenário que a encante, tempo e espaço que sejam facilmente
compreendidos por essas crianças, e ações que cativem sua atenção e a
divirtam. Todos esses se adequam ao tipo de narrativa que o autor vai escrever,
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por exemplo, se uma crônica, uma fábula ou conto. Assim, para ser escrever
uma narrativa infantil, os elementos devem combinar com esse universo.
O mesmo vale para poemas, o autor deve estar afinado com o discurso infantil,
com os sentimentos da criança, suas fantasias, seu modo de agir e de pensar.
A obra literária consegue cativar o leitor quando estabelece uma comunicação
com seus sentidos, sua história, suas preferências. Podemos gostar de muitos
livros, podemos, como adultos, saber apreciar um bom clássico, mas a criança
vai estabelecer um vínculo diferente com a literatura, um vínculo pessoal.
Para facilitar esse processo, o ludoterapeuta precisa disponibilizar em sua sala
uma grande variedade de livros, para que a temática seja também variada. Isso
aumenta o interesse da criança e também a probabilidade de esta escolher um
livro com o qual se identifique.
Quando a criança escolhe o livro, folheia, mergulha nele, ela se diverte e quando
ela tem contato com as histórias, ela se comunica através delas e com elas. Usar
histórias infantis é um instrumento de interação com a criança, sua linguagem e
seu universo. Na ludoterapia, o terapeuta, ao contar histórias para crianças, ou
apresentar essas histórias através dos livros, estabelece um vínculo, um diálogo
com a mente infantil.
Através da experiência literária, a criança se identifica, se reconhece e fornece
ao seu terapeuta informações para que ele elabore para ela um final feliz, assim
como o obteve o personagem com o qual se identificou. Essa criança pode
inclusive, através da narrativa, melhorar seu processo de comunicação e usar as
mesmas ferramentas de sucesso que o protagonista usa em sua história.
A terapia por meio de livros recebe o nome de Biblioterapia. Ela se caracteriza
pelo uso de material de leitura para tratamentos psicológicos, sendo o livro uma
ferramenta de diálogo, a ser comentado, interpretado e onde a criança pode se
projetar. A história infantil traz para si o leitor, formando uma parceria com o
narrador. É uma experiência lúdica, simbólica, afetiva. E essa mágica pode ser
compartilhada com o terapeuta.
Para o processo terapêutico baseado em livros, Pardeck (1990, apud CASTELO
BRANCO, 2002), afirma que existem três fases:

• Identificação: a criança encontra pontos de similaridades entre ela e o


protagonista da história, seriam emoções, sentimentos, modo de agir,
vontade, entre outros;

• Experiência: liberação de sentimentos, emoções e pensamentos, de


modo verbal ou não;

• Auto-aceitação: a criança consegue olhar para si mesma e se


reconhecer.
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Para aumentar a probabilidade de a criança se identificar com o livro, é


recomendável que ela mesma o escolha, mas obviamente o terapeuta é quem
vai pré-selecionar o acervo que ficará à disposição da criança. Na clínica, deve
ser montado um cantinho da leitura. Esse canto, deve ter poltronas confortáveis,
sofá, ou colchões, almofadas.
O mais importante é oferecer liberdade para o corpo e para a mente, então deve
ser limpo, quieto e confortável. Quanto aos livros, existem alguns tipos de
conteúdo que são próprios para crianças, vejamos os que devem constar na
nossa casa ou escola:

• Conteúdo explicativo: são livros que tem fins didáticos;

• Conteúdo artístico: são livros cuja finalidade é encantar e entreter;

• Conteúdo de humor: histórias de humor e situações engraçadas;

• Mitologia e fantasia: contos da mitologia grega, romana, nórdica, entre


outras, já tem suas adaptações para o universo infantil. Não esqueçamos
de incluir nisso as histórias de fantasia, que têm seus cenários e
personagens específicos;

• Fábulas

• Contos de fadas
Os livros para crianças também devem ter muitas ilustrações, pois em um
primeiro momento são elas que irão chamar a atenção da criança. Como dica,
listamos abaixo alguns títulos com excelentes ilustradores:

Rei bigodeira e sua banheira, de Audrey Wood;


O catador de pensamentos, de Monika Feth;
Os dez amigos, de Ziraldo;
Maria vai com as outras, de Silvia Orthof;
João e o pé de feijão, de Ruth Rocha.
Nesse espaço devem ficar também teatro de fantoches, dedoches, materiais de
pintura, modelar e de se cenários, roupas e fantasias. Esses acessórios auxiliam
na interpretação dos textos lidos pela e para a criança e facilitam a exteriorização
de opiniões e sentimentos sobre o livro. Para fechar nossos estudos, salientamos
a importância de proporcionar à criança que procura a ludoterapia, um ambiente
acolhedor e próprio para suas brincadeiras, além de se postar de modo afetivo
e sem críticas. Sem isso, a ludoterapia não irá proporcionar sua maior
característica: a diversão.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim de nosso aprendizado sobre a Ludoterapia. Neste trabalho,


pudemos entender como nasceu essa abordagem, inspirada na Psicanálise de
Sigmund Freud e desenvolvida por médicas que seguiam seus estudos, inclusive
sua filha, Anna. A ludoterapia nasceu para ajudar o terapeuta a acessar o
inconsciente e a bagagem pessoal das crianças, fazendo com que elas sejam
analisadas enquanto brincam.
As crianças, principalmente as menores, têm dificuldades em se expressar, por
conta da falta de maturação cognitiva, emocional e física, e por estarem ainda
aprendendo sobre comunicação e uso da linguagem. Ao brincar, essa criança
se expressa através de seus brinquedos e jogos simbólicos. Para que se atinja
esse objetivo, o terapeuta deve preparar o ambiente para receber essa criança,
disponibilizando materiais adequados, móveis confortáveis e clima acolhedor.
As sessões de ludoterapia geralmente usam a abordagem não-diretiva, na qual
o terapeuta interfere minimamente nas ações e interações da criança, porém,
limites de tempo e certas regras devem ser obedecidos, tais como, não agredir
o terapeuta, ou quebrar objetos e móveis. Para que essa terapia seja bem-
sucedida também é importante que os pais cumpram seus deveres e deem
suporte à terapia.
Por fim, pudemos compreender como a literatura infantil se torna uma ferramenta
importante para o ludoterapeuta. É ideal montar um cantinho da leitura,
confortável e convidativo, no qual livros para todas as idades estejam
disponíveis. Também deve-se deixar que a criança escolha o que ler. Para
auxiliar na comunicação da criança com o terapeuta a respeito das histórias,
pode-se colocar à disposição da mesma: bonecos, dedoches, fantoches, etc. na
Ludoterapia, o mais importante é a criança se divertir.
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