O Dono Do Mundo - Capítulo 2

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novela das oito 2/1

título provisório: DONO DO MUNDO

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Cena 1: SALA DE TABAJARA E FAMILIA (INT NOITE)


Mesmos da cena precedente, dez minutos depois. Interessam-nos
Felipe e Stella, à parte.
Stella - (casual) Então eu fiquei preocupada e
a Karen lembrou que tinha o endereço em
casa, no convite de casamento.
Felipe - Você também tá chateada?
Stella - Acho que não, sei lá, tô meio confu-
sa... Levar os noivos pro Canadá, com a
gente?
Felipe - Não sei se eu me deixei entusiasmar
demais... porque eu não podia ter tomado
essa decisão sem você, emprestar o
chalé, por cinco dias... Se você não
concordar eu pago um hotelzinho pra
eles... (tempo, close de Stella,
enigmática) A minha intenção era a
seguinte... Depois da palestra, nós dois
podíamos dar um pulo a Montreal, é uma
cidade agradabilíssima, de vida cultural
intensa, você sempre falou que tinha
vontade de conhecer... E a gente curtia
o chalé mais tarde, o dono desse chalé é
o Richard, deixou à nossa disposição por
mais tempo...
Stella - Você tá achando que o que eu mais
quero na vida é pôr uma roupa de esqui
amanhã e vir descendo encosta?
Felipe - Entusiasmo realmente eu não senti, mas
você topou... Início de março... De
repente acaba a neve...
Stella - Nessa região? Você é desligado, hein,
Felipe, eles têm neve até final de
março, depois têm neve artificial! nos
arredores de Quebec dá pra esquiar quase
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que seis meses por ano.


Felipe - Você jura que não tá me achando nenhum
maluco?
Stella - (só agora claramente a favor) Mas eu
tô achando o máximo! Proporcionar uma
lua de mel ao rapaz, você sempre adorou
essas produções em cima da hora, sabe
que eu também... Acho melhor ir à luta,
porque eles não devem ter nenhuma roupa
de frio! Algumas amigas minhas têm
lojas...
Felipe - Será que você consegue abrir loja no
meio da noite?
Stella - Em época de crise, pra gastar uma
grana indecente?
Felipe - (contente) Deixa eu te apresentar o
casal...
Felipe se dirige a Maria, a amiga parecida com Márcia, para
parecer bobo diante da esposa.
Felipe - Márcia! Eu queria te apresentar a
minha/
Maria - Eu?
Stella vê Márcia, perto, e "entende" logo que o marido confundiu a
noiva. Indica Márcia a Felipe e vai falando baixo.
Stella - Eu na esperança de você tar prestando
mais atenção às pessoas comuns, vou te
contar, hein, Felipe, que vergonha...
Felipe - Fica quieta que a garota não notou.
Até ainda há pouco tava vestida de
noiva!
Stella - E pra estrela reconhecer, cumprimen-
tar, tinha que ficar vestida de noiva o
resto da vida.
Chegaram a Márcia.
Felipe - Márcia, eu queria te apresentar a
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minha mulher, Stella.


Stella - Parabéns, Márcia. Felicidades. Cadê o
marido? O Felipe pediu preu dar uma
força nas roupas de frio, não fica
preocupada não, eu dou um jeito, onde é
o telefone?
Corta rápido para:

Cena 2: PORTA DA CASA DE TABAJARA (EXT NOITE)


Abre em Stella com Walter e Márcia. Movimento de outros
personagens que vão se despedir dos noivos. Taís, Beijaflor,
Nanci, Júlio e quem mais estiver nessa externa.
Stella - A Giovana é um amor, além da vendedora
vai mandar alguém pra fazer qualquer
ajuste de última hora...
Márcia - Eu tô super sem jeito, de tanta amabi-
lidade, bem que a Gilda comentou que lá
na clínica todo o mundo diz que você é
uma pessoa incrível.
Corta para Felipe, ao lado do carro grande com o motorista Waldir.
Dá dinheiro escondido ao motorista. Detalhar dinheiro.
Felipe - Entendeu tudo, exatamente?
Waldir - Cinco horas em ponto, doutor, pode
deixar.
Corta descontínuo para Felipe e Stella, alguns minutos depois,
discutindo diante do carro esporte de Felipe.
Felipe - Ir com eles porque? Já vai o Júlio,
você vai me deixar sozinho, amor?
Stella - Só meia horinha... Escolher roupa de
inverno pra quem não tem prática não é
tão fácil assim não, Felipe, você não se
toca porque quem sempre fez a sua mala
fui eu. Eu não demoro, o Waldir me deixa
em casa...
Felipe dá um beijinho na esposa, muito meigo. Stella entra no
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carro com motorista Valdir, Márcia e Walter. Felipe vai


acompanhando Júlio até o carro de Júlio.
Felipe - Não precisa economizar, hein, Júlio,
paga o que tiver que pagar!
Júlio - Cê tá completamente doido...
Felipe - (cínico) Porque eu sei o que tô
querendo e vou conseguir?
Corta rápido para:

Cena 3: COZINHA E SALAS DE OLGA (INT NOITE)


Abre em Zoraide, na cozinha, fazendo um macarrão, preparando
molho, ajudada pela empregada Araci, que usa uniforme desleixado
e, longe das visitas, é tratada como uma pessoa da casa.
Corta para a sala. Música num CD, disco não identificado. O casal
que estava na frisa conversa com Carlos. À parte, Olga e Beatriz.
Beatriz - (deprimida) Você tá sendo tão legal
que eu me abri como... como se a gente
já se conhecesse há muito tempo...
Foi... foi horrível, Olga...
Olga - (meiga) Um homem comprometido, meu
coração. O que é que você podia esperar
duma relação assim?... Uma mulher não
pode se entregar desse jeito, eu conheço
a fama desse Felipe, não vai largar a
esposa nunca, depende financeiramente do
sogro, você provavelmente não sabia,
pouca gente sabe, o grande cirurgião,
reportagens nas revistas, mas o dinheiro
grosso ali ainda vem do sogro, o sogro é
sócio até na clínica...
Beatriz - (sofrida) Eu penso nele dia e noite...
eu tô a ponto de perder até o meu
emprego porque/ (corta-se) Eu me
entreguei como nunca tinha... como...
(tem uma forte crise de choro)
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Olga - (fazendo carinho) Chora, minha flor...


chora que é bom, você desabafa, bota pra
fora... Não vai perder emprego nenhum,
onde é que já se viu? Essa noite você
dorme aqui, no quarto de hóspedes. Você
vai sair dessa, Beatriz, vai sair sim,
eu te prometo, e nunca mais vai se ligar
a homem nenhum que não seja pra fazer de
você uma mulher feliz.
Corta rápido para:

Cena 4: RUA DE TAIS (EXT NOITE)


Beijaflor e Taís caminham em direção à porta de Taís pela rua
deserta.
Beijaflor - Dormir na casa dessa Cilene porque?
Taís - Já falei com a mamãe, com o papai,
logo você vai incarnar?
Beijaflor - Tô querendo saber porque! Se meter em
ônibus pro Méier uma hora dessas...
Taís - Você sabe que eu não tô satisfeita, de
bilheteira de cinema.
Beijaflor - E daí?
Taís - Daí que a Cilene prometeu me
apresentar numa loja que ela conhece o
dono, na cidade... Sapataria, tão
precisando de vendedora... A Cilene só
pode ir pela manhã, então eu combinei
que dormia lá, pra gente sair bem
cedinho...
Beijaflor - E não pode ser outro dia?
Taís - Porque?
Beijaflor - Porque... ah, Taís, eu tô meio tenso,
com esse negócio de ter que enfrentar a
coroa amanhã... ela sabe que é dia de
pagamento... Todo dia 6 eu boto o
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dinheiro fixo na mão dela, pra ajudar,


eu vivo das gorjetas... Não compareço
com a grana amanhã vou ter que falar que
fui despedido! Queria tanto contar só
quando eu já tivesse um outro emprego...
Taís - (com carinho) E você tá achando que eu
não notei que você tá triste, nervoso?
Beijaflor - Não parece... Me deixar sozinho pra ir
dormir em casa de/
Taís - (corta) Então eu vou falar a verdade.
A Cilene recebeu uma grana aí, uns atra-
sados. Se eu tiver coragem vou pedir
emprestado pra quebrar o teu galho. Não
chega nem a vinte paus, acho que ela não
vai negar...
Beijaflor - Eu não tava querendo que ninguém sou-
besse...
Taís - Orgulho besta uma hora dessas, Beija-
flor? Quando você arrumar emprego bota a
grana na minha mão e eu pago pra Cilene.
Beijaflor sorri, emocionado, abraça a namorada e os dois vão
caminhando, de costas para a câmera, pela rua escura.
Corta para:

Cena 5: PONTO DE ONIBUS EM MADUREIRA (EXT NOITE)


Beijaflor e Taís esperam ônibus na rua escura. Tempo. Finalmente
surge ônibus (uma linha que vá de Madureira ao Méier). O ônibus
pára. Taís dá um beijinho em Beijaflor e sobe. O ônibus se vai.
Beijaflor fica olhando o ônibus se afastar.
Corta para:

Cena 6: INTERIOR DE ONIBUS EM MOVIMENTO (INT NOITE)


Apenas uns dois passageiros, neste ônibus da madrugada. Close de
Taís, sozinha, um pouco cansada. Tira um espelho e maquiagem da
bolsa e começa a se ajeitar um pouco.
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Sonoplastia: desde o final do diálogo na cena 4 até o último plano


desta cena, Codinome Beijaflor, de Arias, Cazuza e Ezequiel. Deve
passar inteira a primeira parte da letra.
Corta para:

Cena 7: QUARTO DE HOSPEDES NA CASA DE OLGA (INT NOITE)


Beatriz dorme. Olga, de peignoir, lhe ajeita as cobertas com
carinho. Apaga a luz e sai do quarto.
Corta para:

Cena 8: SALAS DE OLGA (INT NOITE)


A sala na penumbra, luz bonita. Olga entra, começa a limpar
cinzeiros, até perceber que Zoraide está sentada numa poltrona,
tomando uísque, embriagada.
Olga - Dormiu, Zoraide. Estava mesmo preci-
sando de um ombro amigo, essa menina.
Vem, meu amor, vem que amanhã é outro
dia...
No que Olga tenta ajudar Zoraide a se levantar, nota que o sofá
onde Zoraide está sentada está poído. Detalhar. Fala enquanto vai
ajudando Zoraide a ir para um quarto.
Olga - Esse apartamento tá precisando de uma
reforma em regra... Mas é por pouco
tempo, dias melhores virão, você vai
ver, Zoraide, pra mim e pra essa garota,
ah! dias melhores virão.
Corta para:

Cena 9: RUA BARATA RIBEIRO (EXT NOITE)


O ônibus onde estava Taís pára logo no início da Barata Ribeiro.
Madrugada, quase ninguém na rua. Taís salta e vai caminhando em
direção à rua Prado Junior.
Corta para:

Cena 10: AVENIDA ATLANTICA (EXT NOITE)


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Travestis e prostitutas na calçada. Planos bonitos, da madrugada.


Taís passa, um pouco cansada.
Corta para:

Cena 11: PLANOS DA NOITE (EXT NOITE)


Planos diversos do submundo de Copacabana, à noite. Tempo.
Corta para:

Cena 12: AVENIDA ATLANTICA (EXT NOITE)


Continuação da cena 10. Taís caminha, um pouco cansada. De
repente, sente-se mais forte, close, muda a expressão. (A critério
da direção e da atriz, pode, por exemplo, tirar uma pedra do
sapato, alguma coisa assim, para marcar a mudança de seu estado de
espírito.) Passa a caminhar com muito mais segurança.
Corta para:

Cena 13: INFERNINHO (INT NOITE)


Movimento habitual de inferninho, de madrugada. (Mais gênero piano
bar no Leme do que os de prostituição do posto 2.) Figuração.
Casais conversando, dançando, prostitutas, clientes. Taís entra,
entrega discretamente sua bolsa ao maitre. (Estar sem bolsa, nesse
tipo de casa, é sinal de que a mulher é abordável.) Taís caminha
para o bar. No bar um homem a aborda. Diz alguma coisa. Ela sorri,
começa a conversar e faz um carinho no rosto dele.
Sonoplastia: do primeiro plano da cena 9 até o último plano desta
cena, a segunda parte de Codinome Beijaflor, até o final da
canção, coincidindo exatamente com o final da cena 13, onde a
música, intensa, cobre totalmente diálogo e som ambiente da boate.
Corta para:

Cena 14: LOJA DE ROUPA SUPER DE LUXO (INT NOITE)


(A locação deve ser loja de grande luxo, linda.)
Apenas uma vendedora atendendo Márcia e Walter, orientados por
Stella, Júlio sentado, à parte. Alfaiate para retoques esperando.
Walter experimenta um bonito e simples manteau de lã pesada.
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Mostra a Stella.
Stella - Tá vestindo muito bem. Não vale a pena
levar muita roupa não, sabe, Walter, com
o blusão de couro, as calças e as duas
suéteres, você tá praticamente
vestido... As vezes a calefação é forte
demais até pra suéter, o importante é o
manteau ser bem quente... (apalpa a lã
pesada do manteau e fala com o alfaiate)
Seu Jaime, acho melhor diminuir aqui a
manga...
Walter - (felicíssimo) Você acha que precisa de
chapéu?
Corta descontínuo para Márcia, experimentando calça comprida com
suéter. Stella orientando, enquanto alfaiate marca ajuste de manga
em Walter.
Stella - Eu gosto, e você?
Márcia - (entusiasmadíssima) Tô achando tudo
tão bárbaro que não dá nem pra/ (corta-
se) E pra esquiar, Stella? Se eu quiser
esquiar, isso aqui esquenta o
suficiente?
Stella - É muito raro alguém ter roupa de
esqui. Você precisa de roupa pra tomar
um chocolate, dançar, pegar um cinema...
pra esquiar eles alugam na estação.
Júlio - (intervindo) O alfaiate tá prometendo
tudo pras seis horas da manhã. (a
Márcia) Mando levar pro hotel da Avenida
Atlântica?
Márcia - Se eles pudessem levar lá em casa...
Porque eu queria pegar roupa de baixo,
maquiagem, essas coisas...
Stella - Como é que ela vai fazer mala pro
estrangeiro num hotel, Júlio, vocês têm
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cada idéia! Manda entregar as malas e a


roupa na casa deles!
Márcia - (a Walter) A gente acorda cedinho,
porque nove em ponto temos que tar na
Polícia, pra ver o negócio do passapor-
te...
Stella - Eu vou indo, Márcia, vejo vocês no
aeroporto. (entrega um bonito foulard
que acabou de escolher) Esse aqui vai
ficar lindo com o manteau azul
marinho...
Corta para Walter, felicíssimo, experimentando diante de espelho
um pesado e lindo blusão de couro. Ao fundo, Stella saindo.
Corta descontínuo para Márcia, experimentando diante de espelho um
bonito vestido ou saia de inverno com roda. Faz uma pirueta, de
alegria. Walter a abraça. Beijinho.
Corta para:

Cena 15: QUARTO DE FELIPE E STELLA (INT NOITE)


Felipe já estava quase dormindo quando Stella entrou. Durante o
diálogo, ela começa a se despir.
Felipe - (sonolento) Não precisava ter ido,
amor, achei carinhoso, mas um pouco
demais...
Stella - (feliz) Eu adorei!
Felipe - Deixei um recado pra Jurema me acordar
às sete, porque antes da viagem eu
preciso ver uns pacientes...
Stella - (despindo-se) A bagagem tá toda
pronta. De manhã eu só vou ver a minha
bolsa de mão. (tom) Sabe que eu fiquei
com uma certa inveja da garota?
Felipe - (inseguro) Inveja?
Stella - Porque... a minha vida inteira eu...
eu sempre tive de tudo... (consigo
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mesma) Talvez só quando eu era criança,


é isso sim, essa noite eu lembrei demais
a minha excitação quando eu fui pra
Disney pela primeira vez, eu tinha o
que, uns sete anos?
Felipe - (aliviado) Acho que foi esse tipo de
coisa que me deu vontade de proporcionar
uma lua de mel diferente ao rapaz...
Stella - Vai querer explicar pra mim? Eu sou
uma pessoa feliz, Felipe, não tô me
queixando de nada, Deus me livre. Mas eu
nem sei o que que eu era capaz de dar
pra... pra poder vibrar como eles tão
vibrando com alguma coisa material, uma
viagem... uma roupa... um espetáculo...
(tempo) Poder proporcionar isso a
alguém, puxa... (olha o relógio) Essa
noite de núpcias dos dois, no hotel, é
que vai ser meio corrida...
Felipe aproxima-se carinhoso e com tesão.
Felipe - Então deixa eu tentar fazer você
vibrar com alguma outra coisa, porque
pelo menos a nossa bagagem tá pronta,
nós temos passaporte, passagens, não
tamos com tanta pressa assim...
Felipe começa a excitar a esposa e beija-a apaixonadamente. Ele
gosta da relação com a esposa. Tempo. Começam a fazer amor.
Corta para:

Cena 16: LOJA DE ROUPAS LUXUOSA (INT NOITE)


(Mesma locação da cena 14. Vamos tentar um recanto diferente, se
puder dar impressão de outra loja, tanto melhor.)
Abre em duas malas grandes e duas pequenas separadas, todas de
luxo, moles, sem identificação de marca. Júlio fazendo um cheque,
vendedor sonolento ao lado dele.
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Júlio - Alguma vez na vida você já fez uma


aposta que valesse mais a pena você
perder, Santeiro?
O vendedor boceja, um pouco envergonhado.
Júlio - Deixa pra lá, Santeiro, deixa pra
lá... Vou escrever aqui o endereço, pra
vocês mandarem as malas...
Corta para:

Cena 17: LAGOA RODRIGO DE FREITAS (EXT NOITE E EXT DIA


AMANHECENDO)
Abre dentro do carro grande dirigido por Waldir. Em movimento. No
banco de trás, Walter e Márcia abraçados, quase dormindo. Alguma
ternura de Walter em relação a Márcia. De repente, o carro pára.
Corta descontínuo para Waldir fora do carro, o motor aberto.
Walter se aproxima.
Waldir - Tá parecendo afogador, Walter, vai
descansar que eu dou um jeito...
Corta descontínuo para DIA AMANHECENDO. Abre em close de relógio
de Waldir, que consulta as horas. Detalhar. Cinco horas. Motor do
carro ainda aberto. Waldir mexe numa peça, fecha a tampa do motor,
entra no carro. Liga. Corta para dentro do carro. Walter e Márcia,
que estavam adormecidos, acordam.
Waldir - Pro hotel, na Avenida Atlântica, não
é?
Walter - Que horas são?
Waldir - Cinco em ponto.
Walter olha para Márcia, como quem pergunta sua opinião.
Márcia - (um pouco decepcionada) Ficaram de
deixar a roupa lá em casa às seis, a
gente tem que fazer mala, pegar o passa-
porte às nove...
Corta para fora do carro. O carro se afasta. Tempo com o carro se
afastando, direção zona norte. Música de momentânea vitória de
Felipe.
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Corta para:

Cena 18: QUARTO DE FELIPE E STELLA (INT DIA AMANHECENDO)


Da janela, por onde começa a entrar claridade, a câmera vai até a
cama, onde Felipe e Stella dormem, cansados. Close de Felipe,
dormindo. Final da pontuação musical da cena precedente.
Corta para:

COMERCIAIS

Cena 19: PORTA DO PREDIO DE FELIPE E STELLA (EXT DIA)


Motorista de Herculano esperando, Herculano entrando no prédio.
Localizar bem, planos bonitos. Herculano fala com o porteiro
Lauro.
Herculano - Você está sabendo a que horas a minha
filha vai pro aeroporto?
Corta rápido para:

Cena 20: QUARTO DA CLINICA DE FELIPE (INT DIA)


Felipe terminando de examinar uma senhora recém operada,
enfermeira acabou de terminar curativo.
Felipe - A recuperação tá excelente, Carmen...
Acho que o Arlindo te dá alta amanhã...
De qualquer forma, daqui a doze dias eu
tô de volta.
Corta rápido para:

Cena 21: SALAS DE FELIPE E STELLA (INT DIA)


Stella, Constância e Altair tomam café da manhã, servidos por
Jurema. Herculano come uma maçã, andando, impaciente. Stella e
Constância já usam a roupa do aeroporto.
Constância - (fresca) Você tem certeza, meu anjo,
que não fica aborrecida do Altair e eu
abusarmos da sua hospitalidade por mais
dois dias? Surgiu de repente este convi-
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te, logo da Josefina!


Stella - Que isso, Constância? vão ficar cons-
trangidos na casa do seu filho?
Altair - O pessoal do clube comentou que vão
lhe prestar uma homenagem em Ribeirão,
Herculano, mas ninguém sabia explicar
direito o que era...
Herculano - (seco) É na Câmara, uma besteira, vou
receber título de Cidadão Honorário de
Ribeirão Preto...
Constância - Besteira, Herculano? pra quem veio do
nada, chegar aonde você chegou?
Homenagem mais do que merecida!
Herculano - Pra quem veio do nada não acabar vol-
tando pro nada é melhor eu parar de
jogar conversa fora. (a Stella) Estou
precisando que você me traga uma
encomenda, de Nova Iorque, vocês vão
passar por Nova Iorque, não vão?
Corta para:

Cena 22: QUARTO DE FELIPE E STELLA (INT DIA)


Bagagem pronta no chão. Sobre algum móvel, detalhar a bolsa de
mão de viagem de Stella, a quem Herculano entrega um papel
escrito.
Herculano - (seco) Vê se você conhece tudo aí, são
essas bobagens que vocês apreciam tanto,
sua irmã telefonou pedindo pra eu mandar
comprar, coisa de maquiagem, perfume,
sei lá.
Stella - (olhando) Problema nenhum, tem em
qualquer loja de departamentos...
Stella guarda o papel dentro de sua bolsa. Detalhar seu
passaporte.
Corta para:
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Cena 23: SALAS DE FELIPE E STELLA (INT DIA)


Felipe come alguma coisa, apressadamente, conversando com Cons-
tância.
Felipe - Mas são quase duzentos dólares!
Constância - Surgiu este jantar, depois de amanhã,
eu também acho um absurdo, Felipe, mas é
o preço do vestido, quem estabelece os
preços não sou eu! Se eu não contar com
você, vou pedir pra quem, pra pôia do
seu pai?
Felipe - Você tem roupa pra abrir uma loja,
mãe, eu tô gastando muito...
Constância - (saindo, amuada) Eu vou pra rua, vou
pedir pra um estranho, no aeroporto, é
isso, eu vou pedir pro primeiro estranho
que cruzar comigo no aeroporto!
Constância saiu. Entra Herculano, vindo do quarto. Fala secamente,
com Felipe. Sem ninguém perto.
Herculano - (seco) Como se chama a moça que estava
de vestido ... (cor do vestido de Bea-
triz) na festa do Museu?
Felipe - (disfarça) Não estou lembrado, Her-
culano, tanta gente, uma moça de ...
(cor)?
Herculano - Nem eu vou lhe pedir pra entrar em
detalhes, não quero saber nome nenhum,
inclusive porque acho de mau gosto!
Estou é avisando, viu Felipe, eu
percebi! Assim como percebi, minha filha
pode acabar percebendo também. Discreção
não faz mal a marido nenhum, você é
homem, faz da sua vida o que quiser. Mas
quando vocês se casaram eu deixei muito
claro. Se algum dia você fizer da minha
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filha uma mulher infeliz/


Felipe - (corta) Mas eu posso lhe garantir que/
Herculano - (corta, casual) Não quero réplica, eu
já estou terminando. Só ia dizer,
Felipe, que eu te mato.
Reação de Felipe. Tem que se submeter por causa do dinheiro do
sogro.
Corta para:

Cena 24: PORTA DA CASA DE MARCIA (EXT DIA)


Márcia e Walter, muito excitados, vão entrar num carro com
motorista (não é Waldir nem é o carro de antes), diante dos
familiares e amigos entusiasmados. Motorista e Umberto botando
malas no carro, onde vão entrar também Nanci e Darci. Estão se
despedindo Gilda, Judite, Isabel, Celeste, Vicente, Almerinda,
Xará, figurantes.
Vicente - (a Walter, entregando) Olha aqui, a
máquina de retrato do Lauro. Você não
deixa de tirar pelo menos uma foto com
um daqueles soldados da Polícia Montada!
Corta para Almerinda, a Márcia, Judite ao lado.
Almerinda - Quando você voltar podia dar aquela
sua suéter verde pra Taís, tá com cada
toalete de artista!
Judite - Eu ainda era mais o Caribe, no Canadá
vão virar sorvete...
Márcia - (alegríssima) Eu vou fazer tanta bola
de neve, Judite, mas tanta bola de neve,
pena você não tar lá preu jogar na sua
cara!
Corta rápido para:

Cena 25: POLÍCIA FEDERAL (INT DIA)


Planos muito rápidos, não é preciso plano geral. Despachante,
funcionário público, Liliane, Márcia e Walter. Os noivos assinam
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os passaportes. Detalhar. Carimbo. Uma cena super curta, toda em


primeiríssimos planos. Passar grande alegria do jovem casal.
Corta para:

Cena 26: QUARTO DE FELIPE E STELLA (INT DIA)


Momentos antes da saída de casa, Stella dá ordens à empregada
Jurema, enquanto Felipe termina de pegar seus últimos pertences. O
importante, no final da cena, é, sem que as mulheres vejam, Felipe
abrir a bolsa de Stella, e a câmera detalhar seu passaporte.
Stella - O homem do ar condicionado ficou de
vir amanhã, você recebe, não deixa muito
tempo sozinho, porque eu não conheço, a
Liliane faz o pagamento, na clínica. Ah,
não esquece as plantas, regar todo dia
de manhã, Jurema. A passadeira eu já
combinei que só vem quinta-feira da
semana que vem... Vamos ver quanto eu
preciso deixar de dinheiro pra comida de
vocês, o Waldir já chegou do banco?
Close de passaporte de Stella, ainda durante a fala.
Corta para:

Cena 27: AEROPORTO DO GALEÃO (INT DIA)


Márcia e Walter terminando o registro, na fila da classe
econômica. Grande excitação dos noivos e de Nanci, Darci, Umberto,
Gilda, Beijaflor, Tabajara, Xará. Liliane, eficiente, é quem toma
todas as providências. Bastante movimentação. A critério da
direção e produção, chamada de áudio do vôo para Toronto ou não.
Umberto - (a Walter) Quantas horas daqui até lá?
Tem diferença de horário, não tem?
Walter - Ih, Umberto, tanta confusão que eu nem
guardei. Porque esse avião só vai até
Toronto, lá a gente troca, pra Quebec, é
longíssimo! Eu só guardei que essa
cidade do chalé fica a duas horas de
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Quebec...
Liliane - (entregando fichas de embarque a Wal-
ter) De agora em diante vocês só
precisam do passaporte e da ficha de
embarque. A passagem você guarda, pra
volta.
Corta descontínuo para todos se despedindo do casal, na entrada
para a Polícia. Darci fala com Liliane, Márcia com Beijaflor.
Darci - O dr. Felipe e a mulher não vão no
mesmo avião?
Liliane - Primeira classe pode registrar um
pouco mais tarde, de qualquer maneira
eles vão pra sala VIP...
Darci - É que eu queria agradecer mais uma
vez, não é? isso que o dr. Felipe tá
proporcionando a esses dois, puxa!
Márcia se despede de Beijaflor, falando baixo.
Márcia - (meiga) Conta logo a verdade pra eles
que sai um peso da tua cabeça.
Beijaflor - Não sei... eu vou pensar...
Márcia - Juízo, primo.
Beijaflor - Deixa comigo.
Nanci entrega uma caixa de fósforos a Márcia, discreta, à parte.
Nanci - Os fósforos, Marcinha, não esquece,
porque pelo que eu tô vendo noite de
núpcias que é bom só amanhã, não é?
Márcia - (emocionada) Eu te adoro!
Nanci - (dá 10 dólares) Olha, dizem que enco-
menda é muito chato, mas a Eneida garan-
tiu que tem no próprio aeroporto, você
não procura que eu não quero dar traba-
lho, mas se por acaso você vir, me traz
um vidrinho desse perfume: Fleur de
Rocaille. Mas do menorzinho, porque diz
que tá custando uma exorbitância!
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Márcia olha a madrinha, muito emocionada. Closes alternados das


duas, emoção. Abraçam-se longamente. Walter faz sinal a Márcia que
os dois têm que entrar. O casal entra. Darci põe a mão no ombro de
Nanci, meigo.
Darci - Ah, minha irmã, eu só queria que os
pais dela tivessem aqui nesse momento,
pra ver...
Nanci - (emocionada) Eles tão vendo, Darci.
Tão aqui sim...
Do guichê da polícia, os noivos dão adeus aos familiares.
Corta descontínuo para os ricos chegando, Waldir empurrando carro
com malas, motorista figurante empurrando outro carrinho, com as
malas de Júlio. Felipe, Stella, Júlio, Karen e Constância. Liliane
se aproximando. Caminham para a fila de registro da primeira
classe.
Júlio - (a Karen) Dia 12 o carro tá te
esperando no Kennedy. Eu não vou porque
é muito cedo, Karen.
Karen - Lembra à sua secretária que é limousi-
ne, porque pagar quase cem dólares por
carro pequeno feito da última vez é
desaforo!
Júlio - (sem paciência) Limousine, Karen,
limousine.
Corta para Constância à parte, a Liliane.
Constância - Essa tarde eu acho que vou precisar de
um favorzinho seu, Liliane, já que o
chefe não está aí, talvez você tenha uma
folguinha pra finalmente tentar
encontrar no vídeo-clube aquele filme
que o meu marido está pedindo desde que
estivemos no Rio da última vez...
Corta para Felipe e Júlio, podendo falar à parte, enquanto a
funcionária da companhia aérea confirma o lugar de Júlio.
Júlio - (baixo) Tanta confusão, me faz passar
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a noite praticamente em claro, eu quero


ver que diabo você vai fazer com a
Stella em Quebec.
Com olhar superior, Felipe vai entregando passagens e seu pas-
saporte à funcionária da companhia. Fala com Stella, casual.
Felipe - Seu passaporte, meu amor...
Stella já está procurando o passaporte na bolsa, aflita.
Stella - Pelo amor de Deus, antes de sair de
casa eu conferi, eu tenho certeza que o
meu passaporte tava aqui!
Reação de Júlio, compreendendo.
Corta rápido para GUICHÊ DA COMPANHIA AÉREA, no Galeão. Stella
aborrecida ao telefone. Felipe e Karen do lado.
Stella - (tel) Na gaveta da mesinha de cabecei-
ra, Jurema, olha de novo! (tempo) Olhou
tudo? (tempo) Não tem cabimento, o meu
passaporte não ia desaparecer assim!
Karen - (a Felipe) Quinze minutos pra decola-
gem.
Corta descontínuo para HALL DO AEROPORTO. Felipe, Júlio, Stella e
Karen.
Felipe - Estou dizendo que não tem o menor
problema, meu amor! O Júlio vai e
explica ao Richard que houve esse
imprevisto, a palestra não é tão
importante assim, ninguém está
atravessando o Canadá de moxila pra me
ouvir falar amanhã! É um hospital! Eles
desmarcam pro dia que eu puder. O
despachante arruma outro passaporte em
questão de horas, Stella, talvez a gente
possa voar essa noite mesmo, pra Nova
Iorque, e de lá/
Stella - (corta, firme) Vai desmarcar palestra
porque eu sou uma zonza?
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Felipe - Acontece com qualquer um, Stella, eu


sei que você tá muito perto da
perfeição, mas de vez em quando se
engana, feito todo o mundo!
Stella - Vai que eu me viro com a Liliane. Por
minha causa não vou deixar desmarcar
palestra de jeito nenhum!
Corta descontínuo para OUTRO PONTO DO AEROPORTO. Felipe com
Constância, à parte. Abre em Stella com Karen.
Stella - Tenho certeza que eu encontro o passa-
porte, não pode ter evaporado! Deve dar
preu pegar um vôo essa noite...
Corta para Felipe assinando um cheque para Constância, à parte.
Felipe - Presta atenção, mamãe, o vestido que
você comentou, duzentos dólares chegam,
não é?
Constância - (contente) Ah, meu amor, eu sabia que
você não ia/
Felipe - (corta) Pera lá! Eu preciso de um
favor! Sei que você tem jogo de cintura
suficiente pra prender a Stella aqui no
Rio. Você se vira, inventa o que quiser,
mas não deixa a Stella entrar em avião
nenhum antes deu te ligar dizendo que tá
tudo OK. Eu tô com uns problemas aí, vou
precisar ficar uns dias sozinho.
Constância - (ofendidíssima) Você está insinuando
que a sua própria mãe seria capaz de/
Isso só pode ser bandalheira! Uma nora
que eu amo que se fosse minha própria
filha? Por um vestido, Felipe? Duzentos
dólares? Que juízo você faz da sua mãe?
Felipe - (quase assinando o cheque) Dois vesti-
dos. Quatrocentos dólares, tá?
Constância - (depois de hesitar) Arredonda então
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pra quinhentos.
Felipe assina o cheque, feliz.
Corta para:

Cena 28: DENTRO DO BOEING (INT DIA)


Primeira classe. Aeromoça serve champanha ou uísque a Felipe e
Júlio, avião já em pleno vôo.
Júlio - Da Stella pelo menos por hoje se li-
vrou, agindo feito um moleque, mas e o
rapaz? Mesmo que essa garota tope, vai
fazer o que com esse rapaz?
Felipe - Cala a boca, Júlio. Continua fazendo o
que eu mandar porque essa aposta tá no
papo.
A câmera vai se afastando pelo avião, em direção à classe econômi-
ca. Se for possível toda esta figuração, revelar lá pelo final ou
meio do avião Márcia e Walter adormecidos, cansadíssimos. Close de
Márcia, dormindo.
Corta para:

COMERCIAIS

Cena 29: ESTAÇÃO DE TREM DE MADUREIRA (EXT DIA)


Plano de um trem passando, rápido.
Corta para Taís e Beijaflor, em algum lugar visualmente interes-
sante.
Beijaflor - Recebi o recado.
Taís - Preferia que não tivesse recebido,
você prometeu que não botava mais os pés
naquela sinuca.
Beijaflor - Só hoje, Taís... A mãe tá esperando
que eu chegue do trabalho lá pelas
cinco... Achei que talvez na sinuca
descolasse a grana... Mas sabe quando a
sorte não tá ajudando?
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Taís - (tirando dinheiro da bolsa, pra dar a


êle, por volta de um salário mínimo)
Você ainda não tem idade pra saber que
pão de pobre quando cai é com a manteiga
pra baixo? (entrega) Toma. Não ganhei em
sinuca não.
Beijaflor - A Cilene arrumou?
Taís - Quando pintar emprego você paga.
Corta rápido para:

Cena 30: QUARTO DE HÓSPEDES NA CASA DE OLGA (INT DIA)


Beatriz acordando. Olga entrando com bandeja de café da manhã.
Beatriz demora um instante para se lembrar onde está. Depois
Zoraide vai entrar.
Beatriz - Eu... Olga! Que horas são?
Olga - Um pouco tarde.
Beatriz - Eu devo ter dormido umas... quantas
horas eu dormi, Olga, que vergonha!?
Olga - Dormiu o tempo que o organismo estava
precisando.
Beatriz - Eu não posso faltar trabalho, faltei
duas vezes nos últimos quinze dias, meu
chefe tá de olho, qualquer descuido eu/
Olga - (corta, doce e firme) Liguei pro seu
amigo Carlos, ele tinha o número do seu
serviço, já falei com o chefe! Arrumei
uma desculpa, não tem motivo nenhum pra
ficar preocupada. Praticamente, nem
precisei mentir, você não está mesmo em
condições de trabalhar, esgotamento
nervoso. Pro seu chefe achei melhor
dizer crise de rins, chefe detesta
subordinado com problema emocional.
(meiga) Mas você vai se recompor, meu
amorzinho, nós vamos ajudar você a sair
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dessa...
Zoraide já entrou, de ressaca, um saco de gelo na cabeça.
Beatriz - A Zoraide também mora aqui?
Olga - Mora em Ipanema. Mas bebe aqui, e em
geral fica.
Corta para:

Cena 31: QUEBEC (EXT DIA)


Estamos na manhã seguinte. Planos gerais de Quebec, bonitos. Dos
mais gerais aos mais particulares. Se possível, neve.
Corta para:

Cena 32: EXTERNA DE AEROPORTO (EXT DIA)


Diante de aeroporto, limousine com motorista recebendo Felipe,
Júlio, Márcia e Walter. O motorista vai pondo a bagagem dentro do
carro. (Felipe continua a não olhar para Márcia) Márcia e Walter
excitadíssimos.
Felipe - Se vocês não se importarem ele vai me
deixar no hotel, antes de cuidar de
vocês, porque eu preciso preparar a
palestra, verificar se tá tudo OK com o
computador que a turma do hospital deve
ter providenciado...
Walter - O programa o senhor trouxe na bagagem
de mão, como eu recomendei, não foi, Dr.
Felipe?
Felipe - Primeiro: eu já te pedi pra parar com
essa história de dr. Felipe, é a última
vez que eu tô falando, me chama de você.
Segundo: claro que eu não ia correr
risco de despachar programa em bagagem
grande, que eu não tenho diploma de
informática mas também não sou imbecil.
Terceiro: você tá proibido de pensar em
trabalho. Você tá em lua de mel, rapaz,
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veio aqui pra se divertir, fazer farra,


namorar a sua mulher, aqui você vai
esquecer que trabalho existe!
Corta para:

Cena 33: RUAS DE QUEBEC (EXT DIA)


Dentro da limousine em movimento, mostrando planos bonitos da
cidade, Felipe e Júlio, Márcia e Walter muito excitados.
Felipe - O Júlio vai acompanhar vocês até a
estação de trem, são duas horas até
Marigny.
Corta para:

Cena 34: PORTA DO HOTEL DE FELIPE EM QUEBEC (EXT DIA)


Limousine da cena precedente parada, carregador pegando a bagagem
de Felipe e Júlio, orientado por Júlio, Felipe despedindo-se de
Márcia e Walter.
Felipe - No mais... acho que eu nem preciso
dizer, né? Que vocês aproveitem
bastante.
Márcia - A gente é que não sabe o que dizer,
Felipe, porque isso tudo aqui... tá
parecendo um sonho... tá (emoção)
Obrigada.
Felipe vai entrando no hotel.
Corta para:

Cena 35: EXTERNA DE ESTAÇÃO DE TREM EM QUEBEC (EXT DIA)


Limousine estacionada. (Informar muito bem, visualmente, que se
trata de uma estação de trem.) Júlio ajudando Walter e Márcia a
porem sua bagagem em carrinho. Se não houver carrinho, entregam a
um carregador.
Júlio - Chegando a Marigny, vocês vão procurar
o hotel principal, não tem o que errar,
saiu da estação já tá vendo o hotel. Na
novela das oito 2/26
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recepção é só pedir a chave do chalé que


tá à disposição do Felipe, um
funcionário do hotel vai providenciar
condução e orientar vocês no que for
preciso, a direção do hospital é super
organizada, vocês vão ver, primeiro
mundo é outra coisa. Tem até essa
empregada brasileira que eles descolaram
pra fazer faxina, cozinhar um pouco!
Walter - O dr. Felipe, pelo que eu tô vendo,
tem tanto cartaz aqui quanto no Rio, né?
Júlio - Ele fez um curso aqui em Quebec no
início da carreira. O atual diretor do
hospital é super amigo do Felipe.
Corta rápido para:

Cena 36: PROVINCIA DE QUEBEC - LINHA DE TREM (EXT DIA)


Apenas um plano lindo de um trem em movimento. Neve. O trem vai
indo.
Corta para:

Cena 37: TREM EM MOVIMENTO - PROVINCIA DE QUEBEC (INT DIA)


Dentro do trem em movimento, Walter e Márcia excitadíssimos, vendo
a paisagem.
Márcia - Olha, Walter! Será que o nosso chalé é
do tipo daquele lá? Eu nem sei o que eu
tô a fim de fazer primeiro, bola de
neve, correr que nem uma maluca, que
troço mais lindo, Walter, não parece que
a gente tá sonhando?
Walter - (romântico) Primeiro eu acho que a
gente tem uma coisa... mais íntima pra
fazer.
Márcia sorri, meiga. Close.
Corta para:
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Cena 38: CIDADE DE MARIGNY (EXT DIA)


Planos gerais, lindíssimos, de Marigny. Neve.
Corta para:

Cena 39: PORTA DO HOTEL EM MARIGNY (EXT DIA)


Walter e Márcia vão entrando no hotel, carregando suas bagagens.
Corta para:

Cena 40: HALL DO HOTEL EM MARIGNY (INT DIA)


Movimentação de hotel de lazer. Gente passando com roupa de
esquiar. Walter e Márcia acabaram de deixar suas malas no chão,
para caminhar para a recepção.
Walter - Quero ver agora, pedir chave de chalé
em francês.
Márcia - Tá com trauma, Walter? Todo mundo já
não avisou que eles falam francês mas
também falam inglês?
Walter - Pra mim, essa empregada brasileira é
que caiu do céu.
Márcia - Quer ver como que em inglês eu me
viro?
Márcia vai para a recepção, seguida por Walter. Começa a falar com
o recepcionista.
Márcia - (criançona e muito simpática) Good
morning. We are... looking for the
key... the key of the... (procura
palavra que não conhece)
Walter cutuca Márcia, para lhe mostrar alguma coisa. Márcia olha,
reação de espanto. Corta para Felipe, a alguns metros deles,
conversando com um senhor com aparência de alemão e sua esposa.
Felipe sorri de longe. Close.
Corta para:

Fim do capítulo 2 (antigo 3)


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