SOCIOINTERACIONISMO

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CONTRIBUIÇÕES DO SOCIOINTERACIONISMO PARA

O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEMI

1. Compreendendo o sociointeracionismo 

Lev Vygotsky, teórico bielorrusso, formado em direito, deu início ao estudo da


filosofia, e com isso buscou entender a questão de como o ser humano
aprende. Vygotsky então criou um grupo de estudos e iniciou toda à
perspectiva que nós conhecemos como sociointeracionista.  Apesar de todo o
contexto do surgimento desta perspectiva, a tradução correta do Russo para o
Português seria sócio-histórica e não sociointeracionista, conforme explica
Oliveira (2006). 

Essa corrente de pensamento tem como princípio básico pensar como a


aprendizagem humana se relaciona com o social, pois a questão biológica é
um fator importante, mas não é o único determinante para o processo de
aprendizagem, outros fatores como o social e histórico interferem diretamente.
Assim, contribuíram para o fortalecimento de práticas de ensino
que considerem o sujeito como ativo em relação constante com o meio onde
está inserido.  Vygotsky vê o desenvolvimento baseado em quantidades de
mediação simbólica que o indivíduo vai vivenciando e que cria certas
capacidades que torna possível a aprendizagem.  Nesse contexto, que entra o
papel da escola, possibilitando o desenvolvimento do pensamento formal,
denominado por Vygotsky como pensamento complexo (OLIVEIRA, 2006). 

Os temas centrais no trabalho de Vygotsky são o desenvolvimento humano e a


aprendizagem.  Ele buscou entender a origem dos processos psicológicos, a
partir da história individual dos sujeitos em interação com a sociedade.  

Segundo Oliveira (2006), para Vygotsky, o desenvolvimento humano e a


formação do indivíduo apontam o uso de signos assim como uso de
instrumentos. Os instrumentos são mediadores dos processos de
aprendizagem do ser humano e os signos auxiliam o homem nas tarefas que
demandam memória e registros, por isso são chamados de
"instrumentos psicológicos". 

Os instrumentos, porém, são elementos externos ao indivíduo,


voltados para fora dele: sua função é provocar mudanças nos
objetos, controlar processos da natureza. Os signos por sua vez,
também chamados por Vygotsky de "instrumentos psicológicos", são
orientados para o próprio sujeito, para dentro do indivíduo: dirigem-se
ao controle de ações psicológicas, seja do próprio individuo, seja de
outra pessoa, São ferramentas que auxiliam nos processos
psicológicos e não nas ações concretas, como o instrumento.
(OLIVEIRA 2006, p. 30)
Nesta perspectiva, mediação é a intervenção de algo, ou alguém em uma
relação, um ser intermediário. O professor é considerado um mediador. A
linguagem, os signos e os instrumentos também são mediadores e oferecem
suporte para o homem no mundo e nas suas relações sociais e de
aprendizagem. A mediação semiótica está relacionada a como esse indivíduo
interage e interioriza o mundo e as possibilidades de conhecer e aprender
levando em conta as influências construídas ao longo da vida, como o grupo
social, a cultura e família a qual ele foi mediado.  

A partir da conceituação de instrumentos e de signos, na perspectiva da


teoria sociointeracionista, compreende-se a linguagem, sistema de
comunicação de todos os grupos humanos. O homem então cria sistemas de
linguagem, palavras, números e oralidades a partir dessa necessidade de
comunicação e interação social. Outra função da linguagem é classificar e
agrupar situações e objetos em uma mesma categoria.  

Nesse sentido, a língua e a linguagem são sistemas de comunicação de todos


os grupos humanos. O ser humano os cria a partir da necessidade de
comunicar-se e de interagir socialmente. Outra função da língua e da
linguagem é classificar e agrupar situações e objetos em uma mesma
categoria.  

Existe um percurso de desenvolvimento, em parte definido pelo


processo de maturação do organismo individual, pertencente à
espécie humana, mas é o aprendizado que possibilita o despertar de
processos internos de desenvolvimento que, não fosse o contato
indivíduo com certo ambiente cultural, não ocorreriam. (OLIVEIRA
2006, p. 56). 

A função de intercâmbio social possibilita que os sujeitos demonstrem seus


desejos, sentimentos, insatisfações e necessidades a partir de gestos, sons e
expressões que traduzam ideias, vontades e pensamentos. 

A principal função é a de intercâmbio social: é para se comunicar com


seus semelhantes que o homem cria e utiliza os sistemas de
linguagem. Essa função de comunicação com os outros é bem visível
no bebê que está começando a aprender a falar: ele não sabe ainda
articular palavras, nem é capaz de compreender o significado preciso
das palavras utilizadas pelos adultos, mas consegue comunicar seus
desejos estados emocionais aos outros através de sons, gestos e
expressões. É a necessidade de comunicação que impulsiona,
inicialmente, o desenvolvimento da linguagem. (OLIVEIRA 2006, p.
42). 
A outra função apresentada por Vygotsky, segundo Oliveira (2006), é a do
pensamento generalizante. Esta corresponde ao significado preciso dos
símbolos e das palavras compartilhados por um grupo de pessoas. O
desenvolvimento da linguagem está ligado diretamente aos pensamentos
subjetivos e abstratos, comportamentos intencionais, percepção, atenção,
memória e principalmente comunicação. A linguagem é para todos os grupos
de seres humanos um sistema simbólico e possui duas funções básicas, a de
intercâmbio social e a de pensamento generalizante.  

Vygotsky (1997) citado por Oliveira (2006) aponta sobre a função de linguagem
de pensamento generalizante. O pensamento generalizante é a função que faz
da linguagem um mecanismo de pensamento, ela apresenta as organizações
do real e os conceitos que concebe a mediação entre o sujeito e objeto de
conhecimento. Essa função da linguagem separa o real e ordena todas as
situações e objetos dentro de uma categoria. 

Os signos são denominados por ele como marcas externas, elas são para os
seres humanos uma estrutura concreta para desenvolvimento do homem no
mundo. O processo de internalização assim como os sistemas simbólicos que
utilizamos é fundamental para que ocorra desenvolvimento dos processos
mentais e salientam a importância das relações sociais entre os indivíduos na
construção de processos psicológicos. 

O processo de internalização constitui-se em tornar as marcas externas, o que


acontece e se vê do mundo externo, em processos internos, ou de
internalização como denomina Vygotsky.  Nesse processo, são desenvolvidos
sistemas simbólicos que organizam os signos de forma estrutural articulada e
complexa. 

Neste sentido, o desenvolvimento individual e coletivo da espécie humana


trouxe o aperfeiçoamento e mudanças no uso dos signos e instrumentos,
conforme explicita OLIVEIRA (2006, p.35): 

“Ao longo do processo de desenvolvimento, o indivíduo deixa de


necessitar de marcas externas e passa a utilizar signos internos, isto
é, representações mentais que  substituem os objetos, eventos,
situações (...) o homem é capaz de operar  mentalmente sobre o
mundo – isto é, fazer relações, planejar, comparar, lembrar,  etc. -
supõe um processo de representação mental. Temos conteúdos
mentais que tomam o lugar dos objetos, das situações e dos eventos
do mundo real.” 
A capacidade do ser humano de lidar com essas subjetividades e
representações expande o real, abrindo possibilidades de processos mentais,
tais como: imaginar, lembrar, planejar, traçar objetivos e ter intenções sem a
necessidade de ter contato com o objeto, espaço ou pessoa a quem faz
relação. Não é necessário o contato direto, essas operações
mentais independem do contato físico, presencial e presente. A mediação
ocorre pelos signos que foram internalizados considerando que as
“representações mentais da realidade exterior são, na verdade, os principais
mediadores a serem considerados na relação do homem com o mundo.”
(OLIVEIRA, 1997, p.35). 

Outro conceito central desenvolvido por Vygotsky e, portanto, importante para


a perspectiva do sociointeracionismo, é o de zona de desenvolvimento
proximal. Para ele:

Zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível de


desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução
independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado através da solução de problemas sob a orientação de
um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. 
(VYGOTSKY, 1984 apud OLIVEIRA, 2006, p. 60). 

Dessa forma, a função pedagógica da escola e do professor é mediar e auxiliar


o aluno a aprender utilizando recursos e vínculos que contribuem para a
evolução dos níveis de  desenvolvimento entre o indivíduo, o objeto de estudo
e suas relações com o ambiente social  e cultural no qual o sujeito está
inserido, pois a criança não se desenvolve plenamente sem a mediação,
direcionamento e suporte de outros indivíduos. Segundo Vygotsky (1984
apud Oliveira, 2006, p.97), "A Zona de Desenvolvimento Proximal define
aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de
maturação, funções que amadurecerão, mas que estão, presentemente, em
estado embrionário". 

Oliveira (2006) aponta que a capacidade de realizar tarefas sozinhas de


maneira independente está relacionada por Vygotsky ao nível de
desenvolvimento real. A zona de desenvolvimento potencial está relacionada
àquilo que a criança é capaz de apreender, mas que ainda não o fez.  O
espaço entre o que o aluno tem potencial para aprender e aquilo que ele já
domina é o que Vygotsky chama de zona de desenvolvimento proximal, está
ligada às atividades que a criança consegue desempenhar com a ajuda de
alguém, assistência ou instruções. 
A percepção, a abstração da generalização, a dedução, a inferência a
formação de conceitos e consequentemente da aprendizagem são
influenciadas pela cultura, pela escolarização, pelos ciclos sociais e pela
história pessoal, influenciadas, portanto, por tudo aquilo que está relacionado à
mediação semiótica. Assim,

O homem transforma o mundo à sua volta para além do meio


determinado pela natureza e pelo biológico. Não obstante, entre o
estímulo e a resposta, a consciência erige como possibilidade
dinâmica de aprendizagem. A ação para a consciência se dá com
base no conhecimento real, já adquirido e nas possibilidades
ou potencialidades advindas das condições históricas e culturais do
indivíduo. A realidade, sistema passível de autogestão mediante
estímulos artificiais (atividades), transcende ao mero conceito de meio
e postula o seu sentido social. (ZANOLLA, 2012. p. 7 e 8). 

Os estudos sobre o processo de aprendizagem influenciam diretamente nos


modos de ensino.  A ação de ensinar o aluno a pensar; a despertar sua
curiosidade; e a aprender a aprender, relacionando os conteúdos do ensino às
experiências pessoais em conjunto com todo material didático e parcerias com
o docente, são práticas de ensino relacionadas à concepção de aprendizagem
sociointeracionista.  

No sociointeracionismo as informações são trabalhadas para que façam


sentido para o aluno e assim se transformem em conhecimento. O estudante é
o centro da sua própria aprendizagem, e a mediação do professor deve
promover na criança a habilidade de explorar o conhecimento e desenvolver
capacidades como a de observar, descobrir, pensar, entre outras. Aspectos
que serão aprofundados no tópico seguinte. 

2. As práticas pedagógicas para o desenvolvimento do aluno na


perspectiva sociointeracionista 

Considerando as características que compõem o sociointeracionismo, as


instituições que se orientam por essa perspectiva defendem que os fatores
ambientais e os orgânicos têm influência no processo de desenvolvimento de
cada ser humano. Cada estudante em seu cotidiano adquire conhecimento
com a relação de diversos fatores subjetivos. O conhecimento é adquirido e
construído pelo próprio ser humano em toda sua vida a partir das
interações sociais e mediações que vivencia. Na proposta sociointeracionista, o
objetivo da educação não é simplesmente passar informações e modelos
estruturais, mas sim ensinar o aluno a pensar, a aguçar seu imaginário para
descobrir as coisas, entendendo-a de forma a transformar o modo de aprender
dos educandos. 
Para que a prática seja realmente fundamentada em uma teoria, é
necessário que ela esteja muito clara e que seus objetivos estejam
muito bem definidos para aqueles que irão colocá-la em prática, caso
contrário, estarão tentando justificar-se através de uma teoria que
nem ao menos sabem o que significa, é um trabalho sem sentido.
(BARBOSA, 2013, p. 35).

O objetivo fundamental desta teoria é ajudar a preparar o aluno para


administrar a informação, e não simplesmente acumular dados e informações
com a mediação pelo professor. Cabe a ele a promoção de práticas
pedagógicas que buscam o desenvolvimento integral dos alunos.  Práticas
estas que sejam realmente fundamentadas à teoria proposta. 

As práticas pedagógicas para o desenvolvimento do estudante na


perspectiva sociointeracionista são lúdicas, com incentivo ao trabalho coletivo e
à construção da autonomia. Barbosa (2013) aponta que os conteúdos sejam
trabalhados sem nunca deixar de interagir com a realidade do aluno. Sendo
extremamente importante ressaltar que essa  perspectiva nunca deixa de
considerar os conhecimentos e experiências prévias do aluno; para  que, a
partir daí, o educador possa promover a construção do conhecimento pelo
aluno  levando em conta sua bagagem cultural e social. É uma dimensão
importante também o  objetivo de formação integral do educando,
desenvolvendo suas potencialidades e  propiciando-lhe o relacionamento da
criança e do adolescente ao meio físico e social. 

A aprendizagem é um processo pelo qual o indivíduo adquire informações,


habilidades, atitudes e valores, a partir do contato com a realidade, com o
ambiente e com as outras pessoas. Dessa forma, Oliveira (2014) ressalta que: 

“O sociointeracionismo pressupõe práticas educativas diferenciadas


que impreterivelmente trazem dinamismo, mobilidade, ludicidade e
estímulos à cognição (...) utilizar ferramentas tecnológicas e
estratégias de ensino que movam os educandos e os levem à
indagação, à experimentação, a adaptações ao meio e assimilação
do novo. O aluno precisa sentir-se convidado a participar ativamente
do processo ensino-aprendizagem de maneira crítica e
transformadora.” 

O papel do professor é mediar à aprendizagem por meio de estratégias que


promovam interatividade para que a criança e ou adolescente encontre
significado e sentido no que está sendo ensinado. Outra prática baseada na
teoria sociointeracionista é a de desafiar o aluno por meio de situações que
necessitem da participação ativa do mesmo no meio social em que
está inserido. Dessa forma, as práticas sociointeracionistas despertam no aluno
interesse e promove sua participação ativa. O ensino não é pensado como algo
engessado e não está voltado somente para o alcance de resultados. Assim:
É necessário permitir aos educandos o acesso à informação e a
ferramentas que nada mais são do que estimulantes recursos para a
aprendizagem (...) os saberes alheios, as experiências e leituras de
mundo que os sujeitos realizam. Ao fazer uso de tais reflexões, o
tutor pode provocar uma educação significativa e envolvente, na
qual aprender será interessante e motivador. (OLIVEIRA, 2014, pág.
2)

A função da educação, a partir de uma abordagem sociointeracionista, está


relacionada à possibilidade de desenvolver no aluno as habilidades motoras, e
possibilitar a elas a oportunidade de viver uma infância alegre, saudável,
investigativa e muito criativa. A educação nesta perspectiva tem um olhar para
que cada uma aprenda em seu próprio ritmo.  

Tudo sempre com o olhar atento dos educadores, que internalizam valores e
fazem pesquisas a partir do interesse individual ou até mesmo coletivo. O
professor sempre como mediador do desenvolvimento da linguagem, da
afetividade, da capacidade motora, cognitiva e social. 

Uma instituição com uma proposta pedagógica elaborada a partir dos


fundamentos do sociointeracionismo leva o aluno a explorar e descobrir as
possibilidades existentes em nosso meio, buscando responder aos seus
questionamentos que a partir de relações em seu meio permite o descobrir e
pensar. Trata-se de uma aprendizagem construída e relacionada
com conhecimentos prévios em que o sujeito participa de um processo ativo,
permitindo a reorganização e a reestruturação da informação. 

Considerando esses apontamentos, uma das barreiras que envolvem a


implementação da perspectiva sociointeracionista na escola é que a
preparação de aulas, a elaboração de tarefas, a utilização de recursos
materiais não pode ser feitada maneira tradicional. O sociointeracionismo nos
exige que estejamos atentos ao fato de que cada aluno tem sua demanda e
sua especificidade e precisa realizar tarefas personalizadas. Isso requer
a realização de aulas envolventes e ativas e, com isso, as aulas se tornam
imprevisíveis, os horários de realização de tais atividades não são engessados,
e cada aluno tem seu tempo para desenvolver sua atividade.  

Assim, nesta perspectiva, o professor precisa ter um olhar mais atento, crítico e
estar preparado para reconhecer o nível de desenvolvimento individual de cada
aluno a fim de dirigir o ensino de forma específica tomando como ponto de
partida o nível real de desenvolvimento do aluno. O docente precisa adequar-
se às habilidades, nível de conhecimento e as singularidades culturais e sociais
de cada aluno.

As universidades e instituições de ensino que qualificam o educador


atualmente ainda não possuem uma formação especifica quanto ao método de
ensino, ou seja, após sua formação muitas vezes o docente tem idealizado que
ele é o centro do processo de ensino, o detentor e ou transmissor do
conhecimento. É importante que os futuros docentes entendam e
aprendam que estas concepções conservadoras precisam passar por uma
adequação para a realidade atual. A perspectiva sociointeracionista demanda
que o docente tenha habilidade de se colocar no papel de mediador do
conhecimento sendo o aluno o centro da aprendizagem e que de certa forma
existe ainda certa dificuldade na adaptação com este método pela visão que
o educador ainda tem desta perspectiva. 

Soares (2015), afirma que, na atualidade, este princípio tem tomado lugar de
destaque nas escolas. Os esforços têm sido constantes e no atual contexto social
são necessárias essas adequações. O professor tem papel fundamental além de
ser apenas um transmissor de conhecimentos, carregado de responsabilidades e
utilizando o conhecimento individual do educando em ferramenta didática
avaliativa.
i
Fonte:  ALMEIDA, SANTOS, FERREIRA & VIANA. Contribuições do sociointeracionismo para o
processo de ensino aprendizagem. Monografia (Licenciatura em Pedagogia) - Centro Universitário
UNA Betim, Minas Gerais. Minas Gerais, 2013.

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