Entrevista Filosofia

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Rafael Bruno Gomes da Silva

Técnico em Magistério (Escola Normal Estadual Prof. Pedro Augusto de Almeida – 2012)
Licenciado em Filosofia (UEPB – 2017)
Especialista em Filosofia da Educação (UEPB – 2019)
Mestre em Filosofia (UFCG – 2021)

Professor Colaborador – ECIT Alfredo Pessoa de Lima – Solânea/SEECT-PB


Professor Efetivo de Educação Básica – EMEIEF Santa Helena – Sapé/SEDCET

1) Qual a importância da filosofia kantiana para alunos do Ensino Fundamental


ou Médio (conforme a atuação do entrevistado)?

Penso que assim como as demais filosofias, seus sistemas, problemas e


temas filosóficos, a filosofia kantiana entra no espaço escolar como possibilidade
para o desenvolvimento do filosofar, como já dizia o próprio Kant: “não se ensina
filosofia, ensina-se a filosofar”. Assim, nas salas de aula do ensino médio, fazendo
uso do pensar kantiano e confrontando-o com a realidade dos estudantes é possível
desenvolver a criticidade, o diálogo, atitudes e reflexões filosóficas, buscando
alcançar aquilo que é próprio da filosofia: o filosofar. Em suas três críticas, Kant nos
chama a pensar o fazer filosófico a partir de três máximas, apresentando-nos a
necessidade de:

1. Pensar por si mesmo; 2. Pensar colocando-se no lugar do outro;


3. Pensar sempre de acordo consigo mesmo. A primeira máxima é a
do pensamento livre do preconceito, a segunda máxima é aquela do
pensamento alargado, a terceira máxima é a do pensamento
consequente. (KANT, 1994, § 40, p.226).

Além de nos encorajar a encontrar o “o esclarecimento”, promovendo a


passagem da menoridade para a maioridade. No entanto, Kant nos diz que “A
imensa maioria da humanidade (inclusive todo o belo sexo) considera a passagem à
maioridade difícil e além do mais perigosa, porque aqueles tutores de bom grado
tomaram a seu cargo a supervisão dela. (KANT, 1993, p.53). Assim, concluo tal
questionamento reafirmando com as palavras do próprio Kant, quando retrata que:

Dentre todas as ciências racionais (a priori), portanto, só é possível


aprender Matemática, mas jamais Filosofia (a não ser historicamente); no
que tange à razão, o máximo que se pode é aprender a filosofar...Só é
possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar o talento da razão, fazendo-
a seguir os seus princípios universais em certas tentativas filosóficas já
existentes, mas sempre reservando à razão o direito de investigar aqueles
princípios até mesmo em suas fontes, confirmando-os ou rejeitando-os.
(KANT, 1995, p.699-700).
2) Quais aspectos dessa filosofia você (professor) trabalha com seus alunos em
sala de aula?
Como sou professor de filosofia da educação pública, trabalho com os meus
estudantes os conceitos centrais do filósofo, sua teoria do conhecimento e sua ética,
entre eles: criticismo kantiano, revolução copernicana, imperativo categórico,
fenômeno e coisa em si, a filosofia transcendental, as formas a priori da
sensibilidade, juízos analíticos e juízos sintéticos, o conhecimento empírico (a
posteriori), o conhecimento puro (a priori), o juízo analítico, o juízo sintético, juízo
sintético a posteriori, juízo sintético a priori, a ética do dever e a faculdade do juízo.
A partir de tais aspectos junto à realidade dos estudantes, tendo na medida
do possível problematizar o contexto em que vivem e partir de fragmentos de textos
do próprio filósofo repensamos a realidade, buscando de certo modo “atualizar” as
contribuições filosóficas, instigando os alunos a problematizarem, argumentarem e
construir seus pontos de vistas, tendo como finalidade o desenvolvimento do
filosofar em sala de aula, conforme apresentado na questão anterior.

3) Quais as principais dificuldades apresentadas pelos alunos no estudo da


filosofia kantiana ou de seus aspectos?

O estudante do ensino médio apresenta dificuldades de aprendizagens similares


a da maioria dos brasileiros, a saber: compreender e interpretar textos, além dos
cálculos básicos. Entretanto, o ensino de filosofia na educação básica enquanto
componente curricular exige de nós, professores, o reconhecimento de que ensinar
filosofias não é uma tarefa fácil e de que na escola tal ensino solicita o
desenvolvimento das especificidades próprias da filosofias e carece de adequação
pedagógica para o desenvolvimento de seu ensino. Olhando por tal aspecto, vejo
que não há uma dificuldade própria da “filosofia kantiana” na sala de aula do ensino
médio, mas dificuldades que estão atreladas ao sistema de ensino em sua
totalidade. Porém, posso afirmar a partir de minha prática docente que os discentes
do ensino médio têm:
1. Dificuldades para ler, compreender e interpretar textos, não somente
filosóficos.
2. Possuem barreiras que os impedem de registrar por escrito o seu
pensamento.
3. Por estarmos ainda presos a uma pedagogia tradicional, nossos alunos
encontram-se calados, tímidos, receosos, e muitas das vezes, têm medo de
exporem as suas críticas frente a realidade.
4. A ausência do domínio dos conhecimentos históricos torna a compreensão do
pensamento dos filósofos distante, porque para muitos estudantes a filosofia
é uma coisa “sem pé e sem cabeça”, porém, sabemos que todo texto
filosóficos tem um contexto, condições, causas, problemas e princípios que
levaram os filósofos a dizer tais coisas.
5. Para muitos educandos a filosofia não é algo para todos ou não encontram
nesta nela a possibilidade de repensar o mundo e a realidade em que vivem
ou a chegam como desnecessária na escola.
Teria mais dificuldades a elencar, porém, repito, elas não são próprias da
“filosofia kantiana”, mas do ensino das filosofias como um todo. Por isso, temos a
necessidade de repensar a sua prática nas escolas enquanto componente curricular.
Além disso, faz-se preciso dizer que a prática de filosofia no ensino médio não visa
formar filósofos, nem tampouco pretende, porém, aspiramos permitir que o nosso
estudante vivencie a experiência do filosofar, a qual se compreender nos dizeres de
Kant como: “aprender a filosofar, ou seja, exercitar o talento da razão”.

REFERÊNCIAS

KANT, Immanuel. Kritik der Urteilskraft, Band X, Werke in swölf Bänden,


Herausgegeben von W. Weischedel, Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1994.

_______. KANT, I. Beantwortung der Frage: Was ist Aufklärung? In: Immanuel Kant
Schriften zur Anthropologie, Geschichtsphilosophie, Politik und Pädagogik 1. Band
XI. Werke in swölf Bänden, Herausgegeben von W. Weischedel, Frankfurt am Main:
Suhrkamp, 1993. (Tradução portuguesa de Raimundo Vier. In: Imman uel Kant.
Textos seletos, Petrópolis: Vozes, 1974).

_______. Über Pädagogik. In: Immanuel Kant Schriften zur Anthropologie,


Ge schichtsphilosophie, Politik und Pädagogik 2. Band XII. Werke in swölf
Bän den, Herausgegeben von W. Weischedel, Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1995.

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