A Eclesiologia Do Código de Direito Canônico
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A Eclesiologia Do Código de Direito Canônico
CANÔNICO
2. Ver, a propósito, comentário sobre a convergência dos movimentos renovadores, especialmente dos es-
tudos bíblicos e patrísticos, na Lumen Gentium, em O. ROUSSEAU, A Constituição no quadro dos movimentos
renovadores de teologia e de pastoral nas últimas décadas, em: G. BARAÚNA (org.), A Igreja do Vaticano II,
Vozes, Petrópolis 1965, p. 116-134.
3. “A discussão conciliar em torno deste primeiro capítulo foi relativamente (comparada com os estilos dos
debates da I Sessão) rápida, em três Congregações Gerais (parte da 38a, 39a, 40a e parte da 41a, nos dias 1º a 4 de
outubro de 1963). O novo texto já era uma reação positiva contra um conceito excessivamente jurídico, social,
externo, institucional, clerical e triunfalista da Igreja” (cf. B. KLOPPENBURG, As vicissitudes da ‘Lumen Gen-
tium’, em: G. BARAÚNA, op. cit., p. 202).
4. Cf. A. LONGHITANO, op. cit., p. 85.
5. Cf. G. PHILIPS, La Chiesa e el sou mistero, Jaca Book, Milano 1975, p. 71.
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6. G.B. MONDIN, La Chiesa primizia del regno. Trattato di eclesiologia, em: C. ROCHETTA (org.), Cor-
so di Teologia Sistematica, v. 7, Dehoniane, Bologna 1986, p. 295.
7. A palavra sacramento, desde o final do século XI, sofreu um isolamento conceitual e uma restrição às
sete ações sacramentais. Esse sentido foi consagrado pelo Magistério, sobretudo pela definição de Trento, que
declara, em primeiro lugar, que Cristo instituiu os sete sacramentos, e, em segundo lugar, que o número dos sa-
cramentos é “sete nem mais nem menos” (DS 1601). Mas essa fixação não torna ilegítima a aplicação, embora
análoga, do conceito de sacramento à Igreja. A definição de Trento não impede de afirmar a Igreja como verda-
deiro sacramento, porque, ao entender por sacramento aquelas ações que garantem e exprimem a presença eficaz
de Cristo, no momento em que se efetuam (cf. DS 1606), é possível reconhecê-la como o sacramento primordial
desse agir, cuja validade consiste no fato de que é um agir sacramental da Igreja, e percorre toda a História, atuali-
zando-a nas sete ações sacramentais.
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10. IRENEU DE LIÃO, Adversus Haereses IV, 18,4: “Pois lhe oferecemos o que já é seu, proclamando,
como é justo, a comunhão e a unidade da carne e do Espírito. Assim como o pão que vem da terra, ao receber a invo-
cação de Deus, já não é pão comum, mas a Eucaristia, feita de dois elementos, o terreno e o celeste, do mesmo modo
os nossos corpos, por receberem a Eucaristia, já não são corruptíveis por terem a esperança da ressurreição”.
11. A propósito, vale citar a advertência da Comissão Teológica Internacional: “A analogia com o Verbo
encarnado permite afirmar que este ‘instrumento de salvação’ que é a Igreja deve ser entendido de modo tal que
se evitem dois excessos típicos das heresias cristológicas da Antigüidade. Assim, deve-se descartar, de um lado,
uma espécie de ‘nestorianismo’ eclesial, de acordo com o qual não haveria nenhuma relação substancial entre o
elemento divino e o elemento humano. Inversamente, seria possível guardar-se, também, de um ‘monofisismo’
eclesial, de acordo com o qual tudo na Igreja seria ‘divinizado’ e, portanto, sem os limites, as deficiências e os er-
ros da organização, fruto dos pecados e da ignorância das pessoas” (COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIO-
NAL, Temas seletos de Eclesiologia (1984), n. 6,1).
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12. A propósito, ver Y. CONGAR, L’Église de Saint Augustin à l’époque moderne, Du Cerf, Paris 1970, e
A. ACERBI, Due ecclesiologie, Dehoniane, Bologna 1975.
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16. G. Ghirlanda considera que a estrutura fundamental da Igreja é a sua dimensão carismático-institucio-
nal e não a distinção entre clérigos e leigos, embora essencial, porque laicato e ministério ordenado são carismas
na Igreja (cf. G. GHIRLANDA, Chiesa universale, particolare e locale nel Vaticano II e nel Nuovo Codice di Di-
ritto Canonico, em: R. LATOURELLE (a cura), Vaticano II: Bilancio e prospettive venticinque anni dopo
(1962-1987), Pontificia Università Gregoriana/Cittadella, Roma/Assisi 1987, p. 855, 866s).
17. Aqui utilizo algumas idéias de J. HERVADA e P. LOMBARDÍA, Prolegómenos. Introducción al De-
recho Canónico, em: A. MARZOA/J. MIRAS/R. RODRÍGUEZ-OCAÑA, Comentario exegético al Código de
Derecho Canónico, vol. I, EUNSA, Pamplona 1997, p. 34-46.
18. ROUSSEAU, op. cit., p. 119s.
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Essa imagem está presente no atual Código. O Papa João Paulo II, na
Constituição Apostólica de promulgação do Código de Direito Canôni-
co de 1983, assim se expressa:
Entre os elementos que exprimem a verdadeira e autêntica imagem da Igreja,
cumpre mencionar os seguintes: – a doutrina que propõe a Igreja como Povo
de Deus (cf. Const. Lumen Gentium 2), e a autoridade hierárquica como ser-
viço (ibid. 3); a doutrina que, além disso, apresenta a Igreja como comunhão
e, por conseguinte, estabelece as relações que deve haver entre Igreja parti-
cular e Igreja universal, e entre a colegialidade e o primado; a doutrina, se-
gundo a qual todos os membros do Povo de Deus participam, a seu modo, do
tríplice múnus de Cristo: sacerdotal, profético e régio. A esta doutrina está
unida também a que se refere aos deveres e direitos dos fiéis e expressamen-
te dos leigos; enfim, o esforço que a Igreja deve consagrar ao ecumenismo.
Deus chama as pessoas à comunhão de vida com Ele, o que afeta ra-
dical e completamente as pessoas, tanto individual como comunitaria-
mente, porque as pessoas estão unidas por vínculos sociais. A isso se
chama de princípio de sociabilidade.
O mesmo acontece na ordem sobrenatural, com a Igreja, que tem
vínculos sociais. Segundo O. Semmelroth, a imagem do Povo de Deus
apresenta as seguintes notas: primeiro, a unidade, enquanto os cristãos
formam um só corpo, apesar da diversidade existente entre eles; segun-
do, a sociabilidade, porque os cristãos formam, não apenas um grupo
numérico, mas estão unidos por vínculos sociais, fruto da comunhão em
torno de um centro divino; terceiro, a igualdade, fruto da recepção por
todos do mesmo Batismo e que é anterior a qualquer diferenciação;
quarto, a historicidade, pois a Igreja não é apenas meta-histórica, mas
está inserida no tempo e nas realidades temporais.19 A Lumen Gentium
mostra essa característica ao levar em conta a dimensão histórica e esca-
tológica da Igreja em seu capítulo VII.
Daí transparecem a caducidade e a transitoriedade do tempo e da
Igreja visível. A dimensão histórica da Igreja é um passo ou fase de sua
existência, que tende à sua perfeição ou à consumação no final dos tem-
pos. Surge uma tensão entre as duas dimensões, que se reflete no Código
de Direito Canônico, porque contém leis humanas, as quais têm como
fundo a vontade salvífica de Deus. Por essa razão, o Código deve ser, no
tempo, um modo histórico de realização da justiça, da paz e da caridade,
como elementos próprios de tempo consumado na Escatologia.
19. Cf. O. SEMMELROTH, A Igreja, o novo povo de Deus, em: G. BARAÚNA, op. cit., p. 479-485.
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