Lei So Inquilino
Lei So Inquilino
Lei So Inquilino
FACULDADE DE DIREITO
INTRODUÇÃO
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
a) Obrigação de entrega
b) Obrigação de assegurar ao arrendatário o gozo do imóvel
2
4.3. Falta de pagamento rendas devidas ao Estado ou a uma Instituição pública
de assistência social
5.1. Caução
5.2. Fiança
5.3. Pagamento antecipado das rendas
5.4. Redução do valor da renda
5.5. Seguro de rendas
5.6. Moratória?
5.7. Prévia conciliação?
5.8. Lista negra?
5.9. Uma interacção entre a Justiça e os Serviços nacionais
de assistência social?
6. CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
3
ABREVIATURAS
Al. – Alínea
Art.(ºs) – Artigo(s)
Cf. – Conferir
Cit. – Citado
DL – Decreto-Lei
N.º – Número
P. ou Pág. – Página
Pp. – Páginas
Prof. – Professor
4
Ss. – seguintes
Vol. – Volume
5
INTRODUÇÃO
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Nos termos do art. 1022.º CC, “Locação é o contrato pelo qual uma das partes
se obriga a proporcionar à outra o gozo temporário de uma coisa, mediante
retribuição”.
6
A locação diz-se arrendamento quando versa sobre coisa imóvel, aluguer
quando incide sobre coisa móvel (art. 1023.º CC).
O arrendamento urbano recai sobre prédios urbanos, podendo ter como fim a
habitação (art.ºs 1083.º a 1111.º CC), a actividade comercial ou industrial (art.ºs
1083.º a 1106.º e 1112.º a 1118.º CC), o exercício de profissão liberal (art.ºs 1083.º a
1106.º e 1119.º a 1120.º CC) ou outra aplicação lícita do prédio (cf. art. 1086.º, n.º 1
CC). No mesmo sentido, prescreve o n.º 1 do art. 4.º da Lei do Inquilinato.
7
1.3. Fontes legais da matéria sobre o arrendamento urbano
7 Veja-se BURITY DA SILVA, Teoria Geral do Direito Civil, Colecção da Faculdade de Direito da
UAN, 2004, p. 72.
8 Veja-se, por exemplo, VICENTE MARQUES, Código Civil Angolano Actualizado, Luanda Editora,
2005, p. 531.
8
São também aplicáveis aos arrendamentos sujeitos a registo (por período
superior a 6 anos), bem como as respectivas transmissões e sublocações determinadas
por disposições do Código do Registo Predial, aprovado pelo Decreto n.º 47 611, de
28 de Março de 1967, alterado pela Lei n.º 11/11, de 16 de Fevereiro.
9
1.4. Características do contrato de arrendamento urbano
10 PIRES DE LIMA / ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, 4.ª Edição Revista e Actualizada,
Vol. II, Coimbra Editora, 2011, p. 343.
11 Vide MENEZES LEITÃO, Arrendamento urbano, 6.ª Edição, Almedina, p. 51
12 Art. 1088.º (Prova):
“Se o arrendamento for válido independentemente de título escrito e este não existir, o arrendamento só
pode provar o contrato desde que exiba recibo de renda”.
10
Só em relação ao arrendamento para habitação (e outros sujeitos a registo),
não se exige a redução do contrato à escritura pública. A falta de título bastante não
impede que o arrendamento subsista como semestral, desde que conste de escrito
particular (art. 10.º, n.º 3 da Lei do Inquilinato).
c) oneroso
11
d) sinalagmático
e) comutativo
f) de execução duradoura
16 Idem, p. 56.
17 PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, Vol. II, 4.ª Edição Revista e
Actualizada, p. 343.
18 Idem, pp. 56-57.
19 DAVID MAGALHÃES, Nótula sobre a Justa Causa de Resolução do Contrato de Arrendamento
Urbano, in Julgar, N.º 5, Coimbra Editora, 2008, pp. 31-32; Vide também MARIA OLINDA GARCIA,
O arrendamento plural – Quadro Normativo e Natureza jurídica, Coimbra Editora, 2009, pp. 83 e ss.
12
Contudo, nos termos do art. 21.º da Lei do Inquilinato, o arrendamento urbano
não pode convencionar-se por mais de 30 anos; quando estipulado por tempo superior
ou como contrato perpétuo, ficará reduzido àquele prazo.
a) Obrigação de entrega
A entrega do imóvel pode ser material ou simbólica (art. 1263.º CC), sendo
esta última a mais comum, concretizada pela tradição das chaves (traditio clavium). A
entrega pode ser realizada pelo próprio senhorio ou por terceiro (entrega indirecta), o
que se verificará, v.g. se o anterior senhorio instruir o anterior arrendatário a entregar
as chaves directamente ao novo arrendatário21.
13
b) Obrigação de assegurar ao arrendatário o gozo do imóvel
Não obstante convenção em contrário, o locador não pode praticar actos que
impeçam ou diminuam o gozo da coisa pelo locatário, com excepção dos que a lei ou
os usos facultem ou o próprio locatário consinta em cada caso, mas não tem obrigação
de assegurar esse gozo contra actos de terceiro (art. 1037.º, n.º 1 CC).
23 Ibidem, p. 83.
24 Art. 1038.º (Enumeração):
“ São obrigações do locatário:
a) pagar a renda ou aluguer;
b) facultar ao locador o exame da coisa locada;
c) não aplicar a coisa a fim diverso daquele a que ela se destina;
d) não fazer dela uma utilização imprudente;
e) tolerar as reparações urgentes, bem como quaisquer obras ordenadas pela autoridade pública;
f) não proporcionar a outrem o gozo total ou parcial da coisa por meio de cessão onerosa ou
gratuita da sua posição jurídica, sublocação ou comodato, excepto se a lei o permitir ou o
locador o autorizar;
g) comunicar ao locador, dentro de 15 dias, a cedência do gozo da coisa por algum dos referidos
títulos, quando permitida ou autorizada;
h) avisar imediatamente o locador, sempre que tenha conhecimento de vícios na coisa, ou saiba
que a ameaça algum perigo ou que terceiros se arrogam direitos em relação a ela, desde que o
facto seja ignorado pelo locador;
i) restituir a coisa locada findo o contrato”.
14
o seu cumprimento exigível, em regra, mensalmente, e é o único dever de natureza
legal que, na vigência da relação, este sujeito cumpre mediante a realização de uma
prestação de coisa”25.
Uma primeira corrente doutrinal entende que a renda não tem que estar
determinada, no momento da celebração do contrato, bastando que seja
determinável27. Nesta mesma corrente, uns afirmam que os critérios de fixação devem
resultar do próprio contrato28, ao passo que outros sustentam a aplicabilidade para tal
efeito dos critérios do art. 883.º CC, por força do art. 939.º do mesmo Código29.
25 MARIA OLINDA GARCIA, Arrendamentos para Comércios e fins equiparados, Coimbra Editora,
2006, p. 49.
26 GRAVATO MORAIS, Falta de Pagamento da Renda no Arrendamento Urbano, Almedina, 2010,
p. 20.
27 PINTO LOUREIRO, Tratado da Locação, I, Coimbra, 1948, pp. 72-73; apud GRAVATO
MORAIS, Falta de Pagamento da Renda no Arrendamento Urbano, cit., p. 21.
28 ANTÓNIO SEQUEIRA RIBEIRO, “Renda e encargos no contrato de arrendamento urbano”, in
Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Inocêncio Galvão Telles, Vol. III, Direito do
Arrendamento Urbano, Coimbra 2002, cit., p. 108.
29 GRAVATO MORAIS, Falta de Pagamento da Renda no Arrendamento Urbano, cit., p. 21;
MENEZES LEITÃO, Arrendamento Urbano, cit., p. 96.
15
Uma segunda corrente doutrinal defende a necessidade de fixação da renda
aquando da celebração do contrato30.
Por seu turno, a Lei do Inquilinato determina no seu art. 23.º, nº 1 que “a renda
consistirá sempre em certa soma de dinheiro em moeda corrente”, sendo nula, nos
termos do n.º 2, sem prejuízo da validade do contrato, a cláusula pela qual se
convencione o pagamento da renda em moeda diferente da moeda com curso legal no
país. Nesta última hipótese, é sempre lícito ao arrendatário satisfazê-la em moeda
local, ao câmbio da data de vencimento.
De acordo com o n.º 1 do art. 1039.º CC, o pagamento da renda deve ser
efectuado no último dia de vigência do contrato ou do período a que respeita.
30 GALVÃO TELLES, Arrendamento, Lições ao Curso do 5.º ano jurídico no ano lectivo de
1944/1945, Lisboa, Pro Domo, 1945/1946, pp. 97-98; apud MENEZES LEITÃO, Arrendamento
Urbano, cit., p. 96.
31 Cf. Edição da Escolar Editora, 2009, p. 251.
Em Portugal, MENEZES LEITÃO (op. cit., p. 96) escreve que “em relação ao objeto da renda, o art.
1075.º, nº 1, determina apenas que ele corresponde a uma prestação pecuniária periódica, parecendo
assim serem hoje de novo admissíveis as cláusulas de pagamento de rendas em moeda específica (552.º
e ss.) ou em moeda estrangeira (art. 558.º) ao contrário do que anteriormente dispunha o art. 19.º, n.º 1,
do RAU”.
32 Vide por exemplo MENEZES LEITÃO, Arrendamento Urbano, cit., p. 96.
16
Em relação ao arrendamento de prédios urbanos, o art. 1090.º CC prevê que,
na falta de convenção, se as rendas estiverem em correspondência com os meses do
calendário gregoriano, a primeira vencer-se-á no momento da celebração do contrato,
e cada uma das restantes no primeiro dia útil do mês imediatamente anterior àquele a
que diga respeito33.
A legislação portuguesa não diverge sobre esta matéria (cf. Art. 1039.º CC).
17
(v) Antecipação das rendas
34 ANTUNES VARELA, Das Obrigações em Geral, Vol. II, 7.ª Edição, Almedina, p. 60; ALMEIDA
COSTA, Direito das Obrigações, 12.ª Edição Rev. e act., Almedina, 2009, pp. 1033 e ss; BRANDÃO
PROENÇA, Lições de Cumprimento e Não Cumprimento das Obrigações, Coimbra Editora, 2011, p.
136.
35 ANTUNES VARELA, Das Obrigações em Geral, Vol. II, 7.ª Edição, Almedina, pp. 62 e ss;
ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 12.ª Edição Rev. e act., Almedina, 2009, pp. 1033 e ss;
BRANDÃO PROENÇA, Lições de Cumprimento e Não Cumprimento das Obrigações, Coimbra
Editora, 2011, pp. 136 e ss.; INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Direito das Obrigações, 7.ª Edição,
Wolters Kluwer / Coimbra Editora, 2010, pp. 299 e ss.; NUNO MANUEL PINTO DE OLIVEIRA,
Princípios de Direito dos Contratos, Coimbra Editora, 2011, pp. 401 e ss.
18
do credor ou de terceiro, de circunstância fortuita ou de força maior, ou
mesmo da lei.
19
3.2. Mora do arrendatário
20
atraso no cumprimento da obrigação principal do arrendatário, concedendo-lhe um
benefício temporal de 8 dias37.
37 Sobre a controvérsia em torno das consequências da mora juridicamente não relevante quanto ao
pagamento de juros de mora, veja-se GRAVATO MORAIS, Falta de Pagamento da Renda..., cit., p.
53. Alguns autores como Aragão Seia e Menezes Leitão, sustentam não haver consequências para o
arrendatário caso pague a renda no prazo de 8 dias (ARAGÃO SEIA, Arrendamento Urbano, 7.ª Ed.,
Rev. e Act., Coimbra, 2003, p. 244; MENEZES LEITÃO, Arrendamento Urbano, cit., p. 99). Em
sentido contrário, Romano Martinez entende que, em termos gerais, o locatário está obrigado ao
pagamento de juros de mora, durante o respectivo período (art. 806.º CC), referindo que “não pareceria
aceitável que o legislador no n.º 2 do art. 1041.º CC estivesse a facultar ao locatário um atraso no
cumprimento da renda ou aluguer durante 8 dias, sem qualquer consequência” (ROMANO
MARTINEZ, Direito das Obrigações, Parte especial – contratos, 2.ª Ed., Coimbra, 2007, 3.ª
Reimpressão da edição de 2001, p. 179).
38 MENEZES LEITÃO, op. cit., p. 99; GRAVATO MORAIS, op. cit., p. 52; ALBERTINA GOMES
PEDROSO, A resolução do contrato de arrendamento no novo e novíssimo regime do arrendamento
urbano, in Julgar, Coimbra Editora, 2013, p. 55.
39 No mesmo sentido, vide ALBERTINA GOMES PEDROSO, A resolução do contrato de
arrendamento no novo e novíssimo regime do arrendamento urbano, cit., p. 55.
40 A ratio legis diverge do estatuído nos art.ºs 801.º e 802.º CC. De acordo com o n.º 2 do art. 801.º,
“tendo a obrigação por fonte um contrato bilateral, o credor, independentemente do direito à
21
A Lei do Inquilinato no seu art. 41.º apresenta a mesma solução: “1. O
arrendatário que se constituir em mora quanto à dívida de rendas pagará, além destas,
uma indemnização igual ao dobro das rendas em atraso, salvo se, pela oferta ou
depósito da renda, puser termo à mora no prazo de 8 dias, a contar do seu começo.
2. Deixa de haver direito à indemnização por falta ou mora do pagamento de rendas,
quando o senhorio obtiver a rescisão do contrato por esse fundamento”.
indemnização, pode resolver o contrato e, se já tiver realizado a sua prestação, exigir a restituição dela
por inteiro”. Sobre esta matéria, vide BRANDÃO PROENÇA, A resolução do contrato no direito civil,
Coimbra Editora, 2006, p. 35 e ss.
41 Vide MARIA OLINDA GARCIA, Arrendamentos para Comércios e fins equiparados, Coimbra
Editora, 2006, p. 49.
22
3.4. Resolução do contrato de arrendamento
A Lei do Inquilinato, por sua vez, determina no seu art. 47.º que o direito à
rescisão do contrato por falta de pagamento de renda caduca logo que cesse a mora do
arrendatário, uma vez que este facto se produza pelo pagamento ou depósito da renda
e indemnização, conforme o caso, até à contestação da acção tendente a fazer valer
aquele direito. Esta solução da Lei do Inquilinato, acaba de deixar o senhorio à mercê
dos caprichos do arrendatário, porque, até ao fim do prazo para a contestação, o
inquilino pode pagar e fazer cessar a mora repetidamente.
23
Nos termos do art. 1047.º do CC port., a resolução do contrato de locação
pode ser feita judicial ou extrajudicialmente.
42 Ibidem, p. 99.
24
acrescidas de 50% do valor devido na hipótese de falta de pagamento da renda, como
decorre do art. 1041.º, n.º 1 CC port. Tal faculdade está, porém, condicionada por
limites temporais, pois terá de ser exercida no prazo de um mês a contar da
notificação e é irrepetível na vigência do concreto contrato (art. 1084.º, n.º 4)”43.
25
somam, pretendendo o legislador sancionar as sucessivas moras do arrendatário fora
do prazo de tolerância permitido por lei.
a) A acção de despejo
26
por qualquer fundamento que dê ao senhorio o direito de pedir a resolução do
contrato. Por conseguinte, a sentença do tribunal que decida sobre a matéria, constitui
o único título executivo que possibilite a desocupação do local arrendado.
A acção executiva para entrega de coisa certa, regulada do art. 928.º a 932.º CPC,
destina-se à obtenção da prestação de uma coisa determinada mediante apreensão da
mesma ao devedor ou terceiro e subsequente entrega ao credor 49 . No caso de o
arrendatário não se predispor a acatar voluntariamente a decisão judicial, poderá ser
citado, para, no prazo de 10 dias, fazer a entrega do local arrendado, em conformidade
com o disposto no art. 928.º e ss. CPC.
a) A acção de despejo
De acordo com o art. 14.º, n.º 1 NRAU, a acção de despejo destina-se a fazer
cessar a situação jurídica do arrendamento sempre que a lei imponha o recurso à via
judicial para promover tal cessação e segue a forma de processo comum declarativo.
Alguns autores 51 defendem que a acção de despejo só deve ser usada para
alcançar a resolução do contrato quando a lei impõe o recurso à via judicial ou
quando, em concreto, não seja possível ao senhorio alcançar esse resultado por via
extrajudicial.
27
“três meses”53 de incumprimento no pagamento da renda para invocar a resolução do
contrato, nem ter de aguardar mais três meses para que o arrendatário procedesse ao
pagamento.
28
meios que permitem o adiamento da restituição do imóvel. Outro aspecto tem a ver
com o facto de não existir conversão desta execução, em execução para pagamento de
quantia certa, pois tratando-se da entrega de um imóvel não se verificará a hipótese de
esse bem não ser encontrado. Será todavia, de admitir que, em certas hipóteses, não
sendo encontrados equipamentos do imóvel, possa haver conversão parcial56.
56MARIA OLINDA GARCIA, A acção executiva para entrega de imóvel arrendado, 2.ª Edição,
Coimbra Editora, 2008, pp. 20-21.
29
1084.º CC port. é título executivo para a interposição do procedimento especial de
despejo 57 . Sendo que este procedimento só pode ser utilizado relativamente a
contratos cujo imposto de selo tenha sido pago (art. 15.º, n.º 4 NRAU).
Após ser notificado, o arrendatário tem 15 dias para exercer em tempo útil e
pelas vias adequadas, os direitos de defesa que a lei lhe confere: oposição à pretensão
do senhorio ou diferimento da desocupação (art. 15.º-D NRAU). Caso se atrase no
pagamento da renda, além da taxa de justiça exigida terá de pagar uma caução no
valor das rendas, encargos ou despesas em atraso até ao valor máximo de 6 rendas
(art. 15.º-F NRAU). Deverá também continuar a fazer o depósito das rendas que
forem vencendo e enquanto decorre o procedimento. Estas exigências permitem evitar
que apresente oposição apenas para atrasar a desocupação do imóvel. Só então o
processo segue para tribunal, para ser apreciado por um juiz58.
57 AMADEU COLAÇO, Reforma do Novo Regime do Arrendamento Urbano, 6.ª Edição, Almedina
2013, p. 55; ISABEL ROCHA / PAULO ESTIMA, Novo Regime do Arrendamento Urbano – Notas
Práticas, 3.ª Edição, Porto Editora, 2013, p. 32.
58 Veja-se: http://www.deco.proteste.pt/casa/arrendamento/noticia/arrendamento-chegou-o-despejo-na-
hora; http://www.portaldahabitacao.pt/pt/nrau/home/apresentacao_nnrau.html
59 Veja-se: http://www.deco.proteste.pt/casa/arrendamento/noticia/arrendamento-chegou-o-despejo-na-
hora
30
A excepção de não cumprimento traduz-se no direito que tem qualquer das
partes de uma relação sinalagmática de recusar o cumprimento enquanto a outra, por
seu turno, não efectue a correspondente prestação a que se encontra obrigada 60. A
doutrina fala então do cumprimento simultâneo trait pour trait (na literatura jurídica
francesa) ou zug um zug (na literatura jurídica alemã).
60 ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 12.ª Edição Revista e Actualizada, Almedina, 2009, p.
1071; Veja-se também ANTUNES VARELA, Das Obrigações em geral, Vol. I, 10ª Edição, 3ª
Reimpressão da edição de 2000, 2005, pp. 398 e ss.
61 Veja-se ANTUNES VARELA, Das Obrigações em geral, Vol. I, 10ª Edição, 3ª Reimpressão da
edição de 2000, 2005, p. 400; CALVÃO DA SILVA, Cumprimento e Sanção Pecuniária Compulsória,
4.ª Edição, Almedina, 2007, p. 332, nota 599; MENEZES LEITÃO, Arrendamento Urbano, cit., p. 55;
GRAVATO MORAIS, Falta de Pagamento da Renda no Arrendamento Urbano, cit., p. 204.
62 Ac. Rel. Porto, de 5-5-2008 (Anabela Luna de Carvalho), in www.dgsi.pt
63 www.dgsi.pt
31
o pagamento de toda a renda, quando se trata de não cumprimento que
exclua totalmente o gozo da coisa ou de parte dela, no caso de privação
parcial do gozo imputável ao locador”.
32
No recente Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 14-03-201365, o
Tribunal recorda a sua jurisprudência no sentido de assistir ao arrendatário
o direito à exceptio em circunstâncias de não realização de obras pelo
senhorio que possibilitem o gozo do local arrendado.
33
O art. 1079.º CC port. admite a cessação do arrendamento por quaisquer
causas previstas na lei, admitindo o art. 1083.º, n.º 1, a resolução do arrendamento por
incumprimento, nos termos gerais. Por conseguinte, é concebível que o senhorio
solicite a resolução do contrato de arrendamento ou a sua modificação segundo juízos
de equidade, sempre que as circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de
contratar tiverem sofrido uma alteração anormal, se a exigência do cumprimento das
suas obrigações afectar gravemente os princípios da boa fé e não tiver coberta pelos
riscos próprios do contrato (art. 437.º, n.º 1 CC port.)70
34
Pode-se referir à aplicação do regime comum da indemnização por atraso ou
falta de pagamento de rendas conforme supra referido, ou da resolução do contrato de
arrendamento. Contudo, merece destaque o regime especial previsto nalguns
ordenamentos jurídicos como o de Macau. Com efeito, o Regulamento
Administrativo n.º 25/2009 sobre Atribuição, Arrendamento e Administração de
Habitação Social da Região Administrativa Especial de Macau estabelece, no seu art.
22.º, um procedimento de rescisão do contrato que reconhece um direito de
esclarecimento ao arrendatário em situação de incumprimento relativamente à sua
mora.
35
antes da sua efectivação, comporta, a nosso ver, uma protecção maior em relação às
pessoas economicamente mais frágeis.
36
5. MECANISMOS PREVENTIVOS DA FALTA DE PAGAMENTO DE RENDAS
5.1. Caução
Como garantia especial das obrigações (art. 623.º a 626.º CC ang. e port.), a
caução pode ser prevista no contrato de arrendamento relativamente ao pagamento de
rendas. A caução não se confunde com a antecipação de rendas.
O art. 1076.º, n.º 2 CC port. determina que “as partes podem caucionar, por
qualquer das formas legalmente previstas, o cumprimento das obrigações
respectivas”. Sendo uma caução de fonte negocial, o art. 624.º, n.º 1 admite que seja
prestada por qualquer garantia real ou pessoal.
5.2. Fiança
A fiança é uma garantia pessoal regulada nos termos do art. 627.º e ss. do
Código Civil. Ela implica que haja um património, o património do terceiro (fiador),
que vai, cumulativamente com o património do devedor, responder pelo pagamento
da dívida74.
37
fiador ao benefício de excussão76. Face à revogação do art. 655.º CC port., pelo art.
2.º, n.º 1.º, do NRAU, deixou de existir qualquer presunção de limitação da fiança ao
período inicial de duração do arrendamento, e qualquer limite à estipulação das partes
relativamente ao respectivo prazo, na ausência de nova convenção. Assim, se for
prestada fiança em relação ao pagamento da renda, esta manter-se-á em, princípio
durante todo o período de vigência do arrendamento, incluindo as suas renovações.
Nada obsta que as partes convencionem que o fiador apenas se obriga pelo período
inicial de duração do contrato, excluindo as suas renovações, ou que a fiança se
extinga logo que ocorra qualquer alteração da renda77.
38
Fevereiro, vencem-se imediatamente a renda desse primeiro mês, a renda do mês de
Março (que, recorde-se, vence-se no 1.º dia útil do mês anterior àquele a que respeita,
portanto, 1 de Fevereiro) e 3 rendas que tenham sido eventualmente antecipadas80.
Tal seguro poderá garantir, pelo período e valores definidos nas condições
gerais e especiais da apólice, o pagamento do valor correspondente à renda mensal
devida pela pessoa segura por conta do contrato de arrendamento, em caso de
incapacidade temporária absoluta, desemprego involuntário (aplicável só a
trabalhadores por conta de outrem) ou hospitalização (aplicável só a trabalhadores por
conta própria).
80 MARIA OLINDA GARCIA, A Nova Disciplina, cit., p. 21; Apud DAVID MAGALHÃES, op. cit.,
p. 209, nota de rodapé n.º 781.
81 Veja-se: http://www.seguroderenda.pt/inquilinos_precisa.php
39
5.6. Moratória obrigatória?
Tal regime poderia, a nosso ver, merecer uma reflexão nas situações em que o
arrendatário se encontre em situação de precariedade, por razões supervenientes tais
como o desemprego involuntário, uma incapacidade temporária absoluta ou uma
hospitalização (no caso de trabalhadores por conta própria).
40
5.7. Prévia conciliação?
Uma das vias possíveis para minimizar o risco de contratação com pessoas
com dificuldades financeiras e por conseguinte, de reduzir o risco de falta de
pagamento de rendas seria a introdução de um registo informático que retrate ou
forneça dados dos cidadãos nacionais e estrangeiros em relação aos arrendamentos
celebrados no passado. O senhorio poderia, ao consultar esse registo informático,
82Doc. parl., Sénat, sess. ord. 2002-2003, n.º 2-1390/5; apud HAKIM BOULARBAH / VÉRONIQUE
PIRE, Les Aspects procéduraux, in Le Bail de Résidence principale, La charte, 2006, p. 468.
41
saber se sim ou não, o candidato ao arrendamento do seu imóvel já passou por uma
acção de despejo anterior e por que motivos.
42
prise en charge cedo das pessoas com dificuldades financeiras para o acesso à
habitação.
6. CONCLUSÃO
43
g) Ainda no Direito português, o direito de resolver o contrato com base na falta
de pagamento da renda (ou demais prestações pecuniárias) tem carácter
extrajudicial, sendo exercido por comunicação ao arrendatário, como
estabelece o n.º 2 do art. 1084.º O regime procedimental dessa comunicação
encontra-se previsto no artigo 9.º, n.º 7, e no artigo 10.º, n.º 5, da Lei n.º
6/2006 (com a redacção dada pela Lei n.º 31/2012).
44
m) Existe um conjunto de mecanismos preventivos visando obstar à falta de
pagamento de rendas ou à falta de protecção social em matéria habitacional. A
instauração de uma lista negra ou registo informático dos cidadãos em relação
aos seus contratos de arrendamento passados tende a contrariar o direito à
habitação para todos consagrados constitucionalmente. Tal medida é, a nosso
ver, pacífica em relação aos arrendamentos para fins não habitacionais.
45
BIBLIOGRAFIA
COSTA, Mário Júlio de Almeida, Direito das Obrigações, 12.ª Edição Revista e
Actualizada, Almedina, 2009.
46
LOUREIRO, José Pinto, Tratado da Locação, I, Coimbra, 1948.
MARTINEZ, Pedro Romano, Direito das Obrigações, Parte especial – contratos, 2.ª
Ed., Coimbra, 2007, 3.ª Reimpressão da edição de 2001.
NETO, Abílio, Código Civil Anotado, 18.ª Edição Revista e Actualizada, Ediforum,
Janeiro 2013.
PIRES DE LIMA / ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, 4.ª Edição Revista
e Actualizada, Vol. II, Coimbra Editora, 2011.
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