14-Texto Do Artigo-83-2-10-20201123

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INTERNATIONAL JOURNAL OF DIGITAL LAW  IJDL

ano 01 . n. 02 . maio/agosto 2020 - Publicação quadrimestral


02
DOI: 10.47975/digital.law.vol.1.n.2
ISSN 2675-7087

IJDL
International Journal of
DIGITAL LAW
IJDL – INTERNATIONAL JOURNAL OF DIGITAL LAW

Editor-Chefe
Prof. Dr. Emerson Gabardo, Pontifícia Universidade Católica do Paraná e
Universidade Federal do Paraná, Curitiba – PR, Brasil

Editores Associados
Prof. Dr. Alexandre Godoy Dotta, Instituto de Direito Romeu Felipe Bacellar, Curitiba – PR, Brasil
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Coordenação editorial: Leonardo Eustáquio Siqueira Araújo


IN61 International Journal of Digital Law – IJDL. – ano 1, n. 1 Aline Sobreira
(abr. 2020) –.– Belo Horizonte: Fórum, 2020-.
Capa: Igor Jamur
Projeto gráfico: Walter Santos
Quadrimestral; Publicação eletrônica
ISSN: 2675-7087

1. Direito. 2. Direito Digital. 3.Teoria do Direito. I. Fórum.

CDD: 340.0285
CDU: 34.004
DOI: 10.47975/IJDL/1schiefler

Administração Pública digital e a


problemática da desigualdade no
acesso à tecnologia

Digital Public Administration and the


problem of inequality in access to
technology

Eduardo André Carvalho Schiefler*


Universidade de Brasília (Brasília, Distrito Federal, Brasil)
eduardo@schiefler.adv.br.
https://orcid.org/0000-0001-7134-1724

José Sérgio da Silva Cristóvam**


Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis, Santa Catarina, Brasil)
jscristovam@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-8232-9122

Thanderson Pereira de Sousa***


Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
thandersonsousa@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0003-0725-3572

Como citar este artigo/How to cite this article: SCHIEFLER, Eduardo André Carvalho; CRISTÓVAM, José
Sérgio da Silva; SOUSA, Thanderson Pereira de. Administração Pública digital e a problemática da
desigualdade no acesso à tecnologia. International Journal of Digital Law, Belo Horizonte, ano 1, n. 2, p.
97-116, maio/ago. 2020.
*
Mestrando em Direito pela Universidade de Brasília – UnB (Brasília, Distrito Federal, Brasil). Bacharel em
Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. Integrante do GEDIP/UFSC e do DR.IA/UnB. Autor do
livro “Processo Administrativo Eletrônico” (2019). Advogado.
**
Professor Adjunto de Direito Administrativo (Graduação, Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal
de Santa Catarina (Florianópolis, Santa Catarina, Brasil). Subcoordenador do PPGD/UFSC. Doutor em
Direito Administrativo pela UFSC (2014), com estágio de Doutoramento Sanduíche junto à Universidade de
Lisboa – Portugal (2012). Mestre em Direito Constitucional pela UFSC (2005). Membro fundador e Diretor
Acadêmico do Instituto de Direito Administrativo de Santa Catarina (IDASC). Conselheiro Federal da OAB/
SC. Presidente da Comissão Especial de Direito Administrativo da OAB Nacional. Coordenador do Grupo
de Estudos em Direito Público do CCJ/UFSC (GEDIP/CCJ/UFSC).
***
Doutorando em Direito Administrativo pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal
de Santa Catarina (Florianópolis, Santa Catarina, Brasil). Bolsista CAPES/PROEX. Mestre em Direito pelo
Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará (PPGD/UFC) (2019). Membro do
Grupo de Estudos em Direito Público do CCJ/UFSC (GEDIP/CCJ/UFSC), do Grupo de Pesquisa em Serviços
Públicos e Condições de Efetividade (PPGD/UFC) e da Rede de Pesquisa em Direito Administrativo Social
(REDAS).

International Journal of Digital Law, Belo Horizonte, ano 1, n. 2, p. 97-116, maio/ago. 2020 97
EDUARDO ANDRé CARVALhO SChIEFLER, JOSé SéRGIO DA SILVA CRISTóVAM, ThANDERSON PEREIRA DE SOUSA

Recebido/Received: 07.06.2020/ June 7th, 2020


Aprovado/Approved: 17.08.2020/ August 17th, 2020

Resumo: As transformações tecnológicas ocorridas desde o final do século XX redimensionaram as


esferas econômica, social e política, interligando-as de forma intensa, continuamente, e transformando
as relações estabelecidas na sociedade em rede. Da mesma forma, a Administração Pública passa
a estar num contexto digital e é impelida a reestruturar e repensar seu relacionamento com os
cidadãos. Nesse sentido, o estudo tem por objetivo analisar a Administração Pública do século XXI
– mais digitalizada. Aborda problemática em torno da atualização da Administração, no paradigma
do Direito Administrativo contemporâneo, seus processos e o desafio que a desigualdade digital
representa para a democracia. Metodologicamente adota-se abordagem dedutiva, apoiada nas
técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. Conclui-se que as novas tecnologias de informação
e comunicação influenciaram no processo de digitalização da Administração Pública, sobretudo com a
necessidade e adoção de processos administrativos eletrônicos e serviços públicos digitais. Em que
pese a contribuição positiva das tecnologias e a revolução na gestão pública, é relevante destacar
que este fenômeno não deve constituir obstáculo para a democracia, particularmente considerando
grupos excluídos digitalmente. É necessário reflexão e elaboração de políticas públicas de inclusão
digital para maximização democrática e não simbolização do modelo de Administração Pública digital.
Palavras-chave: Administração Pública digital. Novas tecnologias. Tecnologias da informação e
comunicação. Democracia. Exclusão digital.

Abstract: The technological transformations that have occurred since the endo f the 20th century have
resized the economic, social and political spheres, by linking them intensely, continuously, and transforming
the relatonships established in Society into a network. Likewise, Publica Administration becomes in a
digital contexto and is impelled to restructure and rethink its relationship with citizens. In this sense,
this study aims to analyze the Public Administration of the 21st century – more digitized. It anddresses a
problema round the updating of the Administration, in the paradigma of contemporany Administrative Law,
processes and the challenge that digital inequality poses to democracy. Methodologically, a deductive
approach is adopted, supported by bibliographic and documentary research techniques. It is concluded
that the new information and communication Technologies influenced the processo of digitization of
Public Administration, especially with the need and adoption of electronic administrative processes in
public management, it is importante to highlight that the phenomenon od digitization should not be na
obstacle to democracy, particularly considering digitally excluded groups. It is necessary to reflect and
develop public policies of digital inclusion to maximize democratic and not symbolize the modelo f digital
Public Administration.

Keywords: Digital Public Administration. New technologies. Information and communication technologies.
Democracy. Digital exclusion.

Sumário: 1 Introdução – 2 Constitucionalização do direito administrativo e a administração pública


digital: o processo administrativo eletrônico e a igualdade entre os cidadãos – 3 Administração pública
digital e o acesso às tecnologias – 4 Conclusão – Referências

1 Introdução
O mundo que hoje conhecemos é resultado das diversas transformações
ocorridas durante a sua história, estando cada vez mais econômico, social e
politicamente interligado. Neste contexto, diversas foram as mudanças trazidas pela
revolução das tecnologias da informação e comunicação vivenciada nas últimas
décadas, responsáveis por alterar substancialmente a sociedade e a Administração

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ADMINISTRAçãO PúBLICA DIGITAL E A PROBLEMáTICA DA DESIGUALDADE NO ACESSO à TECNOLOGIA

Pública, com destaque à maneira com que os cidadãos se relacionam com o


aparato estatal em busca da satisfação de seus direitos e de acesso a informações
de interesse público.1 Trata-se de uma consequência que tem a globalização – e
a correspondente intensificação das conexões mundiais – como uma de suas
causas. Soma-se a isso, no caso do Brasil, o advento da Constituição de 1988,
que incrementou a complexidade das relações jurídicas da sociedade brasileira,
entre elas as relações regidas pelo Direito Administrativo.
É incontroverso que o Direito Administrativo contemporâneo disciplina relações
jurídicas inseridas em uma sociedade digital, altamente tecnológica, comunicativa
e informacional, cujos cidadãos-destinatários demandam agilidade, transparência,
qualidade e igualdade na atuação administrativa e na prestação de serviços públicos.
Sobre isso não há dúvidas. Considerando que a atuação administrativa deve ocorrer
de forma organizada e ordenada, o que necessariamente impõe à Administração
Pública a necessidade de instaurar processos administrativos – de diversas
espécies e complexidade – para legitimar e validar a prática do ato administrativo
perante o ordenamento jurídico pátrio, verifica-se que esse caminho a ser percorrido
pela Administração até a concretização do ato carrega especial importância aos
cidadãos. É dizer: o equívoco no caminho tomado pode significar a nulidade e a
falta de legitimidade do ato final, sendo extremamente importante que o cidadão
possa participar desse processo.
Diz-se isso porque o ordenamento jurídico brasileiro impõe à Administração
Pública um dever que norteia toda a sua atuação: a satisfação e a concretização
dos direitos fundamentais, de forma que a proteção/concretização dos direitos
fundamentais dos cidadãos é a função precípua da Administração. É a sua razão
de existir e qualquer fuga a esse dever significa desprezar a própria essência
legitimadora do Estado.
A sociedade da informação vivenciada pela humanidade tornou anacrônica a
utilização do papel nas formas de comunicação e fortaleceu a desmaterialização
da informação e a simplificação das mensagens (linguagem escrita), muitas
vezes substituindo-as por imagens ou símbolos universais de comunicação. Essa
realidade aboliu as fronteiras e revelou a “ineficácia dos mecanismos clássicos
de intervenção do Estado perante os desafios do ciberespaço”.2 Gradativamente e
até mesmo por motivos de necessidade, a Administração Pública passou a adotar
processos administrativos eletrônicos. Inclusive, este movimento de informatização
da atuação administrativa ganhou força e foi alavancado pela pandemia de Covid-19

1
Sobre o conceito de interesse público e a sua pertinência para o estudo da função da Administração
Pública brasileira, ver: CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. Administração Pública democrática e supremacia
do interesse público: novo regime jurídico-administrativo e seus princípios constitucionais estruturantes.
Curitiba: Juruá, 2015.
2
OTERO, Paulo. Manual de direito administrativo. v. 1. Coimbra: Almedina, 2013. p. 484.

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EDUARDO ANDRé CARVALhO SChIEFLER, JOSé SéRGIO DA SILVA CRISTóVAM, ThANDERSON PEREIRA DE SOUSA

que assola o Brasil. O motivo? A necessidade de alcançar os cidadãos que estão


em suas casas, impedidos de se locomover por conta do risco de contágio pelo
vírus Sars-CoV-2.
É nesse contexto de transformações tecnológicas e de preocupação com os
direitos fundamentais dos cidadãos que se intensifica o debate em torno da ideia de
Administração Pública digital, a qual, por meio do uso das tecnologias da informação e
comunicação mais modernas, e atuando por intermédio de processos administrativos
eletrônicos, busca aumentar a eficiência, a transparência, a participação social,
o controle, a simplificação da burocracia, a agilidade, a igualdade e o tratamento
isonômico na prestação de serviços públicos.3
Ocorre que, apesar dos evidentes benefícios proporcionados à sociedade
pela Administração Pública digital e pela adoção de processos administrativos
eletrônicos, existem casos em que a virtualização da atividade administrativa pode
ser responsável por aprofundar a desigualdade entre os cidadãos, em especial
quanto à prestação de serviços públicos em plataformas digitais. Eis os contornos
do presente estudo, que tem por objetivo analisar a Administração Pública do
século XXI, progressivamente mais digitalizada, e de que modo essa realidade pode
impactar os deveres de igualdade e tratamento isonômico no que diz respeito à
prestação de serviços públicos digitais.

2 Constitucionalização do direito administrativo e a


administração pública digital: o processo administrativo
eletrônico e a igualdade entre os cidadãos
Conforme referido, a Administração Pública brasileira possui o dever precípuo
de satisfazer os direitos fundamentais dos cidadãos. Trata-se de uma função
reforçada a partir da Constituição de 1988 e que impacta fortemente o regime
jurídico-administrativo. A Constituição de 1988 trouxe inovações que transformaram
a Administração Pública e que foram potencializadas em razão da concomitância
com o desenvolvimento de modernas tecnologias que mudaram o relacionamento
público-privado. As novas ferramentas de participação popular e os direitos
constitucionais previstos em 1988, aliados à nova realidade tecnológica, fizeram
com que o modo de relacionamento dos indivíduos mudasse radicalmente, uma vez

3
Para uma análise acerca da aplicação das novas tecnologias para a criação de uma central de
jurisprudência administrativa, ver: SCHIEFLER, Eduardo André Carvalho; CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva;
PEIXOTO, Fabiano Hartmann. A inteligência artificial aplicada à criação de uma central de jurisprudência
administrativa: o uso das novas tecnologias no âmbito da gestão de informações sobre precedentes em
matéria administrativa. Revista do Direito (UNISC), Santa Cruz do Sul, v. 3, n. 50, p. 18-34, jan./abr.
2020. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/direito/article/view/14981/8934. Acesso
em: 23 maio 2020.

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ADMINISTRAçãO PúBLICA DIGITAL E A PROBLEMáTICA DA DESIGUALDADE NO ACESSO à TECNOLOGIA

que os cidadãos do século XXI passaram a exigir cada vez mais eficiência, rapidez
e transparência na atuação estatal.

2.1 As novas tecnologias e a necessidade de adequação


da administração pública
Todo este novo cenário passou a exigir do Poder Público a necessidade de
se adequar, por conta da pressão – implícita e explícita – dos cidadãos por uma
Administração Pública mais dialógica,4 transparente, eficiente e que disponha
de uma maior variedade de serviços públicos à disposição, em especial serviços
públicos digitais. Considerando que a existência da Administração Pública está
condicionada à garantia dos direitos fundamentais, existe um dever de se adaptar
às mudanças trazidas pelo desenvolvimento das tecnologias da informação e
comunicação.5 Segundo Joel de Menezes Niebuhr, toda ciência, inclusive o Direito
Administrativo, deve avançar, o que significa rediscutir e criticar o que está de certa
forma consolidado, de modo que a Administração Pública precisa desenvolver novas
ferramentas para responder às demandas enfrentadas, oferecendo “instrumentos
jurídicos para que ela possa alcançar seus objetivos em meio a um ambiente tão
dinâmico e com relações econômicas e políticas tão complexas”.6 Dessa maneira, o
Direito Administrativo deve ser visto sob uma nova ótica, que não fuja à comentada
lógica de que a atuação administrativa deve, a todo momento, prezar pelo tratamento
isonômico dos cidadãos.

2.2 A constitucionalização do direito administrativo com


o advento da Constituição de 1988 e a função do
processo administrativo
A propósito, pode-se dizer que todo esse ambiente em que o Direito Administrativo
brasileiro está inserido atualmente é decorrente do fenômeno da constitucionalização
do Direito Administrativo implementado pela Constituição de 1988, que instituiu
um Estado democrático de direito, conferindo especial importância à igualdade
entre os cidadãos brasileiros. É certo que a Constituição de 1988 trouxe novos
planos para a constitucionalização do Direito, tornando a exigir do ordenamento

4
OLIVEIRA, Gustavo Justino de; SCHWANKA, Cristiane. A Administração consensual como a nova face da
Administração Pública no séc. XXI: fundamentos dogmáticos, formas de expressão e instrumentos de
ação. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. v. 104. p. 303-322. jan./dez. 2009.
p. 309.
5
BREGA, José Fernando Ferreira. Governo eletrônico e direito administrativo. 2012. Tese (Doutorado em
Direito do Estado) - Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. p. 37-38.
6
NIEBUHR, Joel de Menezes. Prefácio. In: SCHIEFLER, Gustavo Henrique Carvalho. Procedimento de
manifestação de interesse (PMI). Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.

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EDUARDO ANDRé CARVALhO SChIEFLER, JOSé SéRGIO DA SILVA CRISTóVAM, ThANDERSON PEREIRA DE SOUSA

constitucional “uma supremacia efetiva, com a incorporação de temas até então


afetos a outros direitos, indicando-se as opções e valores para suas construções”.
Na verdade, a Constituição passou a ser efetivamente o fundamento de validade
e de interpretação de todas as normas jurídicas.7
Não sem razão, é possível concluir que a Constituição de 1988 trouxe profunda
transformação ao Direito Administrativo brasileiro e mesmo um novo panorama
de atuação, com diversas novas obrigações à Administração Pública. Aliás, a
Administração Pública brasileira passou a ser o principal agente de concretização
dos direitos fundamentais dos cidadãos, o que reforça o relevo e a importante do
processo administrativo.
Sobre o tema, Pedro de Menezes Niebuhr defende que a atividade administrativa
se desenvolve por meio de um processo administrativo predeterminado, que tem,
para além de natureza formal, “dimensão também material e cujos objetivos vão
desde servir como técnica de decisão e organização administrativa até a garantia
de direitos e interesses dos particulares envolvidos”.8 Por sua vez, Sérgio Ferraz
e Adilson Abreu Dallari sustentam que o processo administrativo é muito mais do
que simplesmente um caminho para a produção dos atos administrativos, mas um
instrumento que garante os direitos dos particulares em face de outros particulares,
e principalmente em face da própria administração pública.9
Em verdade, o processo administrativo constitui uma forma de tornar o
ato administrativo válido perante os requisitos jurídicos que o regime jurídico
administrativo impõe. Mas não só isso: serve, ainda, para que o cidadão possa
conhecer o caminho percorrido pelo ato administrativo até que ele efetivamente
produza efeito no mundo dos fatos – e, assim, impacte a esfera jurídica dos indivíduos.
É nesse sentido que caminha os ensinamentos de Odete Medauar, segundo a qual
conhecer o processo que formou o ato administrativo permite verificar de que forma
a decisão administrativa foi tomada, de modo que o processo administrativo atribui
um maior grau de objetividade à atuação administrativa, surgindo uma visão mais
dinâmica da atividade da Administração, enfatizada no processo de formação do
ato e nos seus vínculos instrumentais.10
Também seguindo essa linha, Gustavo Justino de Oliveira defende que a
verdadeira democratização administrativa, cuja instituição foi pretendida pela
Constituição de 1988, depende da participação popular na Administração Pública

7
PEIXOTO, Fabiano Hartmann; BONAT, Debora. O incremento da cidadania através do reforço da participação
popular e a crescente judicialização da política. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n.
112. jan./jun. 2016. p. 128.
8
NIEBUHR, Pedro de Menezes. Processo administrativo ambiental. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2017. p. 56.
9
FERRAZ, Sérgio; DALLARI, Adilson Abreu. Processo administrativo. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. p.
26-31.
10
MEDAUAR, Odete. O direito administrativo em evolução. 3. ed. Brasília: Gazeta Jurídica, 2017. p. 288-289.

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e, principalmente, da participação por meio de processos administrativos. 11 Eis


os centrais contornos aqui debatidos: o risco de haver prejuízo ao tratamento
isonômico dos cidadãos no âmbito da Administração Pública digital, em razão da
desigualdade de acesso às tecnologias.
Ainda, conforme Fabiano Hartmann Peixoto e Debora Bonat, o Poder Público
também possui o dever de “prever mecanismos e regras estáveis que propiciem uma
prática permanente do debate na sociedade e tornem possíveis acordos coletivos
entre os cidadãos”.12 Esse relacionamento deve ser feito mediante processos
administrativos, pois o particular que esteja submetido à Administração Pública
não pode ter ignorado o seu direito fundamental de ser ouvido e de participar da
tomada de decisão.13

2.3 A atividade administrativa por meio de processos


administrativos eletrônicos
Envolta nesse cenário, a Administração Pública brasileira passou a ser
crescentemente compelida a tornar a sua atuação mais eficiente e transparente, o
que levou – e ainda está a levar, em larga medida por conta da Covid-19 – à adoção de
processos administrativos eletrônicos. Conceitualmente, os processos administrativos
eletrônicos podem ser definidos em sentido amplo como “processos administrativos
em que os documentos que o formam estão disponibilizados eletronicamente, de
preferência na internet, com amplo acesso pelos interessados, os quais podem se
manifestar independentemente de comparecimento presencial”.14 É bom ressaltar
que a tramitação eletrônica dos processos administrativos se apresenta “como o
primeiro passo rumo ao desenvolvimento de uma administração pública moderna
e tecnológica, atenta aos anseios da sociedade da informação do século XXI, aos
direitos fundamentais dos cidadãos e à prestação de serviços públicos digitais com
qualidade”.15 Por esse motivo é que se entende que o processo eletrônico vem ao
encontro do modelo de sociedade que foi instituído pela Constituição de 1988, no
qual o cidadão possui direitos e o Estado tem o dever de protegê-los.

11
OLIVEIRA, Gustavo Justino de. Direito administrativo democrático. Belo Horizonte: Fórum, 2010. p. 20.
12
PEIXOTO, Fabiano Hartmann; BONAT, Debora. O incremento da cidadania através do reforço da participação
popular e a crescente judicialização da política. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n.
112. jan./jun. 2016. p. 134.
13
NIEBUHR, Pedro de Menezes. Processo administrativo ambiental. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2017. p. 94.
14
SCHIEFLER, Eduardo André Carvalho. Processo administrativo eletrônico. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2019. p. 43.
15
SCHIEFLER, Eduardo André Carvalho. Processo administrativo eletrônico. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2019. p. 157.

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EDUARDO ANDRé CARVALhO SChIEFLER, JOSé SéRGIO DA SILVA CRISTóVAM, ThANDERSON PEREIRA DE SOUSA

Portanto, é de se ver que o fenômeno da constitucionalização do Direito


Administrativo, com o deslocamento das bases do regime jurídico-administrativo a
uma posição central da ordem constitucional brasileira, possui uma função de suma
importância na transformação do agir administrativo, do analógico para o eletrônico.
Na verdade, a constitucionalização do Direito Administrativo “representa a grande
força motriz da mudança de paradigmas do Direito Administrativo na atualidade”, de
maneira que os direitos fundamentais dos particulares sejam capazes de influenciar
o processo de tomada de decisão.16
E mais: a constitucionalização da Administração Pública – e isso também é
extremamente relevante para este estudo – buscou trazer a atuação administrativa
para mais próximo das pessoas, desistindo daquela relação hierárquica entre o
Poder Público e o “administrado” e assumindo uma relação horizontal entre a
Administração Pública e o cidadão.17 Tudo isso de forma a instrumentalizar ao
Direito Administrativo para as responsabilidades de solver diversos desafios da
gestão pública, como é o caso da aproximação dos órgãos e entidades públicas
com as ações organizadas da sociedade civil.18 Ou seja, com a constitucionalização
do Direito Administrativo, a atuação do Poder Público se viu muito mais obrigada a
se aproximar da população, a conhecer os seus problemas e a entender as suas
angústias, ante o dever de satisfação dos direitos fundamentais dos cidadãos e,
consequentemente, a promoção da igualdade na atuação administrativa.

2.4 A realidade que se impõe: a pandemia de Covid-19


Debatida a constitucionalização do Direito Administrativo e as consequências
jurídicas causadas à Administração Pública e aos particulares, como o dever estatal
de proteger os direitos fundamentais dos cidadãos e de garantir um tratamento
isonômico, é preciso reconhecer que a realidade tecnológica atual está se impondo
sobre a Administração Pública, que gradativamente torna a sua atuação mais
eletrônica – movimento alavancado pelas necessidades surgidas com a Covid-19.
Apenas a título de informação, cita-se rapidamente duas situações, dentre inúmeras
outras, em que a pandemia impactou fortemente a atuação administrativa e a
prestação de serviços públicos, especialmente pela interrupção dos expedientes

16
BINENBOJM, Gustavo. Uma teoria do direito administrativo: direitos fundamentais, democracia e
constitucionalização. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2014. p. 69-71 e 77.
17
MADEIROS, Clayton Gomes de; WACHELESKI, Marcelo Paulo. A Lei de Acesso à Informação e o princípio
da transparência na administração pública. Direito e Administração Pública I: XXIII Congresso Nacional
do CONPEDI, Florianópolis, nov. 2014. p. 36. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/
artigos/?cod=4740fcb3becc721b. Acesso em: 22 jan. 2020.
18
MIRAGEM, Bruno. A nova administração pública e o direito administrativo. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011. p. 23.

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ADMINISTRAçãO PúBLICA DIGITAL E A PROBLEMáTICA DA DESIGUALDADE NO ACESSO à TECNOLOGIA

físicos nos órgãos e entidades públicas e pela necessidade de a população


permanecer em casa para diminuir o risco de contágio.
Como primeiro exemplo, menciona-se o Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) de 2020, adiado para ocorrer no início de 2021 após discussões calorosas
sobre a necessidade de adiamento. Nesse ponto, a pandemia trouxe à tona a
triste realidade brasileira de que aproximadamente 6,5 milhões de alunos não
possuem acesso à internet e estariam, por esse motivo, impedidos de realizar uma
preparação adequada para as provas – o que causou o surgimento da expressão
“Enem da desigualdade”.19 Como segundo exemplo, cita-se o auxílio emergencial
instituído pelo Governo Federal na forma de auxílio à população de baixa renda
impactada pela pandemia. A principal forma de obtenção deste auxílio se deu por
meio de aplicativo de smartphone, o que trouxe muitos problemas operacionais
e até mesmo impossibilitou a obtenção por aqueles que não possuíam afinidade
com a tecnologia.20
Se é correto afirmar que a Covid-19 está sendo responsável por evidenciar ainda
mais a desigualdade social existente no Brasil, a mesma pandemia tem obrigado a
Administração Pública a acelerar o processo de digitalização da sua atuação, como
se visualiza nas recentes discussões e implementações da telemedicina21 e do
home office de seus servidores.22 Contudo, embora a adoção pela Administração
Pública de processos administrativos eletrônicos e de novas tecnologias seja uma
medida positiva e desejável, capaz de proporcionar benefícios aos cidadãos, não
se olvidam os potenciais prejuízos que a informatização administrativa pode causar
se não houver o devido planejamento, especialmente no que toca à desigualdade
no acesso às tecnologias e à violação do dever de tratamento isonômico.

3 Administração pública digital e o acesso às tecnologias


3.1 Democracia e o imperativo da participação social nos
rumos da administração pública
Para se analisar os impactos que a virtualização da atividade administrativa
pode trazer ao princípio da igualdade, é preciso, antes, realizar breve menção à

19
LAVIERI, Fernando. O ENEM da desigualdade. Revista IstoÉ. 15 mai. 2020. Disponível em: https://istoe.
com.br/o-enem-da-desigualdade/. Acesso em: 28 maio 2020.
20
Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/05/15/sem-cep-nem-celular-a-saga-para-
conseguir-auxilio-emergencial-de-r-600.ghtml. Acesso em: 28 maio 2020.
21
CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva; SAIKALI, Lucas Bossoni; SOUSA, Thanderson Pereira de. Governo
Digital na Implementação de Serviços Públicos para a Concretização de Direitos Sociais no Brasil. Revista
Seqüência, Florianópolis, n. 84, p. 209-242, abr. 2020. p. 218.
22
SCHIEFLER, Eduardo André Carvalho. Covid-19 e a importância da administração pública digital. JOTA, São
Paulo, mar. 2020. Disponível em: https://www.jota.info/coberturas-especiais/inova-e-acao/covid-19-e-a-
importancia-da-administracao-publica-digital-18032020. Acesso em: 23 fev. 2020.

International Journal of Digital Law, Belo Horizonte, ano 1, n. 2, p. 97-116, maio/ago. 2020 105
EDUARDO ANDRé CARVALhO SChIEFLER, JOSé SéRGIO DA SILVA CRISTóVAM, ThANDERSON PEREIRA DE SOUSA

relação entre democracia e a participação social na Administração Pública, vez que


uma está intrinsecamente ligada à outra. Sobre o tema, Norberto Bobbio ensina
que a força da democracia existe justamente na possibilidade de os cidadãos
participarem de forma ativa no processo de tomada de decisões administrativas.23
Por sua vez, Fabiano Hartmann Peixoto e Debora Bonat dizem que a democracia
brasileira é representativa e a sua finalidade é aliar valores como a liberdade, a
igualdade e a representatividade por meio de instrumentos de controle e fiscalização
pelos representados (cidadãos/particulares) em relação aos atos praticados pelos
governantes (Administração Pública).24 Diz-se isso para demonstrar que a participação
dos cidadãos, que somente se torna viável por meio da abertura administrativa,
ou seja, da existência de canais em que os cidadãos podem ser escutados pela
Administração Pública, é extremamente relevante para a própria democracia.

3.2 A noção de administração pública digital e a prestação


de serviços públicos
A Administração Pública digital deve, necessariamente, atuar por intermédio
de processos administrativos eletrônicos, conforme destacado no tópico anterior.
Ao modificar o locus da formação do ato administrativo – e, assim, do agir
administrativo – para o ambiente eletrônico (digital e virtual), diminui-se o foco na
prestação de serviços públicos analógicos, ou seja, não digitais. Trata-se de um
movimento natural e que é esperado, dado que a Administração Pública digital se
fundamenta em pilares eminentemente digitais, com vistas a trazer eficiência à
gestão pública e a transformar a forma com que se relaciona com os cidadãos:

No âmbito público, a aplicação de tecnologias na atuação estatal


visa a melhor gestão dos serviços e da gestão pública em geral.
Essa atuação, comumente designada por ‘e-Governança’ tem como
áreas: (i) a e-Administração Pública, que pressupõe a melhoria dos
processos governamentais e do trabalho interno do setor público
com a utilização das TICs; (ii) os e-Serviços Públicos, que têm como
objetivo a melhoria na prestação de serviços ao cidadão; e (iii) a
e-Democracia, que visa maior e mais ativa participação do cidadão,
por meio do uso das tecnologias de informação e comunicação no
processo democrático.25

23
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2017. p. 27.
24
PEIXOTO, Fabiano Hartmann; BONAT, Debora. O incremento da cidadania através do reforço da participação
popular e a crescente judicialização da política. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n.
112. jan./jun. 2016. p. 111.
25
CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva; SAIKALI, Lucas Bossoni; SOUSA, Thanderson Pereira de. Governo
Digital na Implementação de Serviços Públicos para a Concretização de Direitos Sociais no Brasil. Revista
Seqüência, Florianópolis, n. 84, p. 209-242, abr. 2020. p. 218.

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ADMINISTRAçãO PúBLICA DIGITAL E A PROBLEMáTICA DA DESIGUALDADE NO ACESSO à TECNOLOGIA

Essa lógica de gestão dos serviços e da gestão pública também pode


ser verificada no plano de ação, lançado pela União Europeia, para acelerar a
transformação digital da Administração Pública entre os anos de 2016 e 2020,
melhorando a qualidade dos serviços públicos e aumentando a eficiência interna do
setor público. Segundo o plano, os serviços públicos digitais “reduzem os encargos
administrativos para as empresas e os cidadãos, tornando a sua interação com as
administrações públicas mais célere e eficiente, mais conveniente e transparente,
bem como menos onerosa”.26 Um dos princípios tratados pelo referido plano de
ação da União Europeia é que os serviços públicos devem ser digitais por definição,
isto é, a Administração Pública possui o dever de prestar, preferencialmente, os
serviços públicos pela via digital. Em outras palavras, “todo serviço público que
puder ser prestado digitalmente assim o deve ser, mantendo-se outros canais de
acesso para quem não utiliza o meio eletrônico por necessidade ou preferência”.27

3.3 Serviços públicos digitais e o acesso à tecnologia


O deslocamento do espectro de prioridade da Administração na prestação de
serviços torna ainda mais evidente a exigência de que os cidadãos passem por um
processo de adaptação digital. Sobre o assunto, são pertinentes os ensinamentos
de Luis Reygadas:

Os computadores causaram as novas desigualdades? Muitos pensam


assim. Que os computadores, a internet e outras novas tecnologias
criaram um abismo entre aqueles que os controlam e aqueles que
são excluídos deles. Fala-se em divisão digital, de que estamos na
sociedade da informação, que é dividida entre info-ricos e info-pobres.
[...] Por outro lado, a internet oferece uma oportunidade de inclusão
e amplia as possibilidades da comunicação humana, pode derrubar a
torre de Babel que separa os povos e grupos sociais. Segundo essa
narrativa, essas tecnologias trarão maior equidade. Em um primeiro
estágio, eles podem criar maiores desigualdades, porque poucos têm
acesso a essas tecnologias, mas seus benefícios atingirão a maioria
da população, como aconteceu com a eletricidade, os carros e outras
invenções. (Tradução nossa)28

26
UNIÃO EUROPEIA. Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico
e Social Europeu e ao Comité das Regiões – Plano de ação europeu (2016-2020) para a administração
pública em linha: Acelerar a transformação digital da administração pública. p. 1-14. Disponível em:
https://eur-lex.europa.eu/legalcontent/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52016DC0179&from=PT. Acesso em:
23 fev. 2020.
27
SCHIEFLER, Eduardo André Carvalho. Processo administrativo eletrônico. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2019. p. 103.
28
No original: “¿Las computadoras han ocasionado las nuevas desigualdades? Muchos piensan que así
es. Que las computadoras, Internet y otras nuevas tecnologías han creado un abismo entre quienes las

International Journal of Digital Law, Belo Horizonte, ano 1, n. 2, p. 97-116, maio/ago. 2020 107
EDUARDO ANDRé CARVALhO SChIEFLER, JOSé SéRGIO DA SILVA CRISTóVAM, ThANDERSON PEREIRA DE SOUSA

Isto é, para que o cidadão possa se relacionar com a Administração Pública


digital, que presta serviços públicos digitais, não basta que ele compareça à estrutura
física do órgão ou entidade pública, mas que ele esteja inserido no mundo digital,
seja por meio de um computador pessoal, seja por meio de um celular com acesso
à internet. E isso não é fácil em se tratando da realidade brasileira. Se é verdade
que a prestação adequada dos serviços públicos desencadeia a “concretização do
princípio da dignidade humana e dos direitos fundamentais sociais, na medida em
que inexoravelmente se referem a serviços essenciais para o exercício da cidadania
e da democracia”, também é verdade que a Administração Pública brasileira, em
razão do modelo de Estado instituído pela Constituição de 1988, tem o dever de
“zelar, enquanto prestadora de serviços públicos digitais e mantenedora de um
modelo de Governo digital, pela eficiente prestação dos serviços à população”. Ou
seja, “[d]eve-se garantir o acesso às tecnologias para que o desenvolvimento de
um ambiente tecnológico não desvincule os serviços públicos daquele seu objetivo
de concretização dos direitos sociais à população”.29
Acontece que a percepção que se tem é que os benefícios decorrentes da
adoção de novas e modernas tecnologias pela Administração Pública brasileira
são mais facilmente observados na esfera federal30 e estadual, que gozam de uma
estrutura administrativa maior e mais organizada em relação a muitos municípios
brasileiros. Entretanto, a dificuldade em se verificar a prestação de serviços públicos
digitais por parte da imensa maioria dos municípios brasileiros é uma realidade
que incomoda e mesmo constrange, em especial pelas municipalidades que estão
localizadas no interior do Brasil.
Ninguém duvida que a impessoalidade é um dos pilares incorporados pela
Constituição impositivo ao Poder Público (artigo 37 da Constituição de 1988). Também
não é segredo que a impessoalidade é potencializada pela incorporação de uma
Administração Pública digital, dado que permite o relacionamento público-privado via

controlan y quienes están excluidos de ellas. Se habla de la brecha digital, de que estamos en la sociedad
de la información, la cual se divide entre info-ricos e info-pobres [...]. Por su parte, Internet ofrece una
oportunidad de inclusión y expande las possibilidades de la comunicación humana, puede derribar la
torre de Babel que separa a los pueblos y a los grupos sociales. De acuerdo com esta narrativa, estas
tecnologías van a traer mayor equidad. Em una primera etapa pueden crear mayores desigualdades, porque
sólo unos cuantos tienen acceso a esas tecnologías, pero después sus beneficios llegarán a la mayoría de
la población, como há sucedido con la electricidad, el automóvil y otros inventos [...]” (REYGADAS, Luis.
La apropiación: destejiendo las redes de la desigualdade. México: Universidad Autónoma Metropolitana –
Iztapalapa, 2008. p. 190-191).
29
CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva; SAIKALI, Lucas Bossoni; SOUSA, Thanderson Pereira de. Governo
Digital na Implementação de Serviços Públicos para a Concretização de Direitos Sociais no Brasil. Revista
Seqüência, Florianópolis, n. 84, p. 209-242, abr. 2020. p. 222.
30
Sobre o desenvolvimento e adoção de novas tecnologias no âmbito da Administração Pública federal, em
especial os instrumentos de automação da defesa judicial, ver: CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva; HAHN,
Tatiana Meinhart. Instrumentos de automação da defesa judicial aplicados pela administração pública
federal brasileira: do eletrônico ao digital. Revista Democracia Digital e Governo Eletrônico, Florianópolis,
v. 1, n. 18, p. 127-143, 2019.

108 International Journal of Digital Law, Belo Horizonte, ano 1, n. 2, p. 97-116, maio/ago. 2020
ADMINISTRAçãO PúBLICA DIGITAL E A PROBLEMáTICA DA DESIGUALDADE NO ACESSO à TECNOLOGIA

internet – o que diminui o risco de haver privilégios e de rompimento do tratamento


isonômico.
Acontece que o excesso de impessoalidade causado pela adoção de tecnologias
pode, em alguns casos, desumanizar a Administração Pública, uma vez que “os
cidadãos deixam de encontrar um rosto, um nome para o seu contato junto às
estruturas administrativas, criando-se um abismo de impessoalidade”.31
Esta impessoalidade extrema pode ser mesmo até perigosa quando se está
diante de um universo com milhares de municípios isolados – física e politicamente –,
em que a população muitas vezes não possui mínima afinidade com as tecnologias
digitais (analfabetismo digital), o que acaba por gerar o risco de dualização:
conectados versus desconectados, consistente no que se convém chamar de
“exclusão digital”,32 “infomarginalidade, muralha, cortina ou brecha digital”.33
É preciso evitar que políticas públicas como a informatização da Administração
Pública, que podem revolucionar a atuação administrativa para a melhor, transformando
a maneira de se relacionar com os cidadãos, tenham consequências justamente
opostas àquelas visadas, acabando por alijar e marginalizar grupos de indivíduos
que têm dificuldade de se adaptar às novas tecnologias. É necessário planejamento.
Não se pode esquecer das dificuldades inerentes à realidade brasileira, como
se a adoção das tecnologias pura e simplesmente resolveria os problemas e
atenderia às necessidades da população. Necessário, a bem da verdade, primar
pela “centralidade do nosso compromisso com a promoção da inclusão digital, de
forma a aplacar a exclusão, sobretudo a população mais pobre e vulnerabilizada,
razão primeira das mais variadas políticas públicas sociais”.34
Sobre o tema, importa salientar a hipótese de que existem governos que
“transformam os cidadãos em meros alvos de políticas, em vez de constituí-los
como sujeitos políticos autônomos; regimes supervisionam e regulam todos os
aspectos da vida”, sendo que as sociedades que sofreram o domínio colonial
europeu estão aparentemente mais suscetíveis a apresentar uma “conexão entre
a fragmentação da cidadania e uma hierarquização e categorização resilientes da
população em subgrupos”. Nesse processo perene de estratificação social, “as

31
OTERO, Paulo. Manual de direito administrativo. v. 1. Coimbra: Almedina, 2013. p. 489.
32
BREGA, José Fernando Ferreira. Governo eletrônico e direito administrativo. 2012. Tese (Doutorado em
Direito do Estado) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. p. 127.
33
HUESO, Lorenzo Cotino. Derechos del ciudadano. In: GAMERO CASADO, Eduardo; VALERO TORRIJOS,
Julián (Coord.). La ley de administración electrónica: comentario sistemático a la Ley 11/2007, de 22 de
junio, de acceso electrónico de los ciudadanos a los servicios públicos. Cizur Menor: Aranzadi, 2008. p.
159.
34
CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva; SAIKALI, Lucas Bossoni; SOUSA, Thanderson Pereira de. Governo
Digital na Implementação de Serviços Públicos para a Concretização de Direitos Sociais no Brasil. Revista
Seqüência, Florianópolis, n. 84, p. 209-242, abr. 2020. p. 231.

International Journal of Digital Law, Belo Horizonte, ano 1, n. 2, p. 97-116, maio/ago. 2020 109
EDUARDO ANDRé CARVALhO SChIEFLER, JOSé SéRGIO DA SILVA CRISTóVAM, ThANDERSON PEREIRA DE SOUSA

categorias são usadas desde os tempos coloniais e incorporadas à vida cotidiana


e ao comportamento social dos indivíduos” (tradução nossa).35
Inclusive, embora a ideia de adoção de tecnologias pelo Poder Público seja
uma iniciativa que busca satisfazer as necessidades dos cidadãos, não se pode
ignorar o fato de que as tecnologias também podem ser mal utilizadas por governos
autoritários ou que tenham pouco apreço à democracia e às liberdades individuais.
Com efeito, conquanto as novas tecnologias permitam uma participação mais
efetiva e controle social, o Estado também passa a ter novos meios para aumentar
o seu controle sobre as pessoas, como, por exemplo, utilizando-se de sistemas de
vigilância difusos e controlando os meios digitais.36
O fato é que existem cidadãos que não estão acostumados a utilizar
rotineiramente a tecnologia para as suas tarefas diárias, e aqueles que não receberam
as devidas instruções (por questões territoriais, sociais etc.) podem estranhar e
se sentir alijados da atuação administrativa diante de uma Administração Pública
integralmente eletrônica, que impossibilita a aproximação física dos serviços
públicos aos cidadãos.37

3.4 Os riscos da desigualdade digital para a atuação


administrativa
A desigualdade digital pode ter diversas origens, as quais normalmente
estão “relacionadas às condições físicas do indivíduo, a aspectos cognitivos ou
motivacionais e às características sócio-demográficas, tais como nível de instrução,
renda, condição profissional, língua, etnia, idade, gênero e localização geográfica”.38
Dessa forma, a dificuldade de adaptação às tecnologias enfrentada por determinadas
pessoas não deve ser ignorada sob o pretexto de que a Administração Pública
digital proporciona diversos benefícios à cidadania, uma vez que pode “ocorrer

35
No original: “He examines the processes involved in the interdependence between different societies,
as well as the influence of the regime on different stratification axes. These axes consist of techniques
and technologies of rule that make citizens into mere targets of policies rather than constituting them
as autonomous political subjects; regimes supervise and regulate all aspects of life. Particularly those
societies that experienced European colonial rule exhibit a connection between the fragmentation of
citizenship and a resilient hierarchization and categorization of the population into subgroups. In this
perpetual process of classification and regulation, categories are used that date back to colonial times and
are incorporated into daily life as well as into the social behavior of individuals” (BRAIG, Marianne; COSTA,
Sérgio; GÖBEL, Barbara. Social Inequalities and Global Interdependencies in Latin America: a provisional
appraisal. Working Paper Series 100, Berlin: desiguALdades.net International Research Network on
Interdependent Inequalities in Latin America. 2016. p. 12).
36
SCHWAB, Klaus. The fourth industrial revolution: what it means, how to respond. 14 jan. 2016. Disponível
em: https://www.weforum.org/agenda/2016/01/the-fourth-industrial-revolution-what-it-means-and-how-
to-respond. Acesso em: 22 fev. 2020.
37
OTERO, Paulo. Manual de direito administrativo. v. 1. Coimbra: Almedina, 2013. p. 489.
38
BREGA, José Fernando Ferreira. Governo eletrônico e direito administrativo. 2012. Tese (Doutorado em
Direito do Estado) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. p. 127.

110 International Journal of Digital Law, Belo Horizonte, ano 1, n. 2, p. 97-116, maio/ago. 2020
ADMINISTRAçãO PúBLICA DIGITAL E A PROBLEMáTICA DA DESIGUALDADE NO ACESSO à TECNOLOGIA

discriminação entre usuários e atribuição de atividades a um grupo restrito de


servidores de boa vontade”, ocasionando uma tendência de concentrar o poder
nas mãos de poucos.39
Essa realidade pode fazer com que parcelas da população sejam marginalizadas
e mesmo deixem de receber assistência da Administração Pública. E qual o motivo
disso? A falta de afinidade com as novas tecnologias ou de acessibilidade, de
modo que a prestação dos serviços públicos digitais fique prejudicada em relação
a esses cidadãos. Adaptando-se os ensinamentos de Jérôme Tadié, tem-se que
os cidadãos sem acesso às tecnologias podem se tornar invisíveis, sendo a
invisibilidade resultado das diferenças existentes “entre o que aparenta existir
e o que realmente está acontecendo na sociedade, como se o que é visível do
lado de fora e o que está acontecendo do lado de dentro existissem em mundos
paralelos” (tradução nossa).40 Inclusive, a questão da desigualdade de acesso às
tecnologias e os efeitos que isso traz aos cidadãos também podem ser objeto de
estudo das ciências sociais:

As ciências sociais permitem enxergar o que não é visto, ou é


malvisto. O que elas trazem aparece na relação do pesquisador com
seu objeto e seu público. Às vezes, essa relação tem muito a ver
com as mídias, que os pesquisadores em ciências sociais ganhariam
caso as estudassem mais profundamente: as tecnologias sobre as
quais se baseiam, a formidável novidade que representou a internet,
muito mais do que qualquer outra tecnologia, e o funcionamento das
redes que ela permite, assim como a confiança e a legitimidade que
delas surgem, ou não.41

Contudo, não se pode ignorar que em certos casos a ausência de afinidade


com as tecnologias, que enseja a sua não utilização, pode decorrer da própria
vontade do cidadão, que exerce livremente a sua vontade de permanecer alheio
às tecnologias – não sendo raro encontrar situações em que indivíduos optam por
não ter smartphones, por exemplo. A propósito, cita-se um trecho narrado por Boike
Rehbein, Jessé Souza e Surinder Jodhka, referente a uma entrevista realizada com
um camponês residente em localidade remota:

39
BREGA, José Fernando Ferreira. Governo eletrônico e direito administrativo. 2012. Tese (Doutorado em
Direito do Estado) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. p. 278.
40
No original: “Invisibility results from differences between what seems to exist and what is actually
happening, as if what is visible outside and what is happening inside existed in parallel worlds” (TADIÉ,
Jérôme. Night & invisibility in Jakarta. Explorations in space and society, n. 35. March, 2015).
41
CALHOUN, Craig; WIEVIORKA, Michel. Manifesto para as ciências sociais. Revista Sociedade e Estado, v.
30. n. 3. set./dez. 2015. p. 615.

International Journal of Digital Law, Belo Horizonte, ano 1, n. 2, p. 97-116, maio/ago. 2020 111
EDUARDO ANDRé CARVALhO SChIEFLER, JOSé SéRGIO DA SILVA CRISTóVAM, ThANDERSON PEREIRA DE SOUSA

Um bom exemplo seria um camponês que entrevistamos em uma


vila remota localizada em um lindo vale montanhoso. Ele reconheceu
explicitamente a beleza do lugar e argumentou que não iria querer sair
justamente por isso. Ele acrescentou que tinha tudo o que precisava
e muito mais. Na cidade, as pessoas podem ter acesso à tecnologia
e a bens de consumo, mas não ao ar puro, ao sossego e à natureza.
‘Moramos aqui há gerações. Nossos ancestrais escolheram este
lugar porque é auspicioso. Sei que o governo nos considera pobres
e atrasados, mas não acho possível encontrar um lugar melhor’.
(Tradução nossa)42

Outra consequência da falta de universalização digital é a inevitável desconfiança


dos cidadãos com menos acesso à tecnologia diante de ferramentas eletrônicas que
não dominam. Nem mesmo “a eficiência e a rapidez numa decisão desmaterializada
fazem desaparecer uma genérica desconfiança dos cidadãos”, de modo que eles se
sentem “menos cidadãos perante uma realidade administrativa que desconhecem”.43
O princípio da igualdade, portanto, pode sofrer prejuízos com a adoção
descoordenada de processos administrativos eletrônicos pela Administração Pública
e da prestação de serviços públicos em plataformas digitais. Como visto, se por
um lado o tratamento isonômico é reforçado no processo eletrônico de tomada de
decisões, tendo em vista a impessoalidade fortalecida pelas ferramentas digitais,
por outro corre-se o risco de aprofundar a desigualdade entre os cidadãos, na medida
em que aqueles que têm acesso aos meios tecnológicos terão mais oportunidades
de se relacionar com a Administração Pública do que os restantes dos cidadãos
que não se encontram na mesma posição privilegiada, os quais, por questão de
idade, educação ou local em que reside, não possuem vocação ou contato com
essas novas tecnologias.44
Trata-se de um risco grave, porque a participação social é “peça fundamental
no aperfeiçoamento da democracia deliberativa”, sendo que a participação social
contribui significativamente para isso. O Poder Público e a sociedade devem criar
novos instrumentos para auxiliar no desenvolvimento da técnica de participação, sob
a lógica de que “o binômio, informação e participação, deve fazer parte do cotidiano

42
No original: “A good example would be a peasant we interviewed in a remote village set in a beautiful
mountain valley. He explicitly acknowledged the beauty of the place and argued that he would not want to
leave because of this. He added that he had everything he needed and more. In town, people might have
access to technology and consumer goods but not to clean air, quiet and nature. ‘We have lived here for
generations. Our ancestors have chosen this place because it is auspicious. I know that the government
considers us poor and backward but I do not think it is possible to find a better place’” (JODHKA, Surinder;
REHBEIN, Boike; SOUZA, Jessé. Inequality in capitalist societies. London/New York: Routledge, 2018. p.
63).
43
OTERO, Paulo. Manual de direito administrativo. v. 1. Coimbra: Almedina, 2013. p. 489.
44
OTERO, Paulo. Manual de direito administrativo. v. 1. Coimbra: Almedina, 2013. p. 489.

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ADMINISTRAçãO PúBLICA DIGITAL E A PROBLEMáTICA DA DESIGUALDADE NO ACESSO à TECNOLOGIA

dos cidadãos, independentemente de sua classe ou conhecimento técnico”. Nesse


sentido, não há dúvidas de que “o povo precisa ser educado para a participação”.45
Enfim, o princípio da igualdade, entendida como utopia política e jurídica, apenas é
capaz de gerar “bons frutos como diretiva quando acompanhada de uma cidadania
ativa lastreada em outras diretrizes de solidariedade e de democracia, cuja maturação
atravessa um contínuo processo de aperfeiçoamento”.46
Nesse contexto, inegável que a Administração Pública digital entrega diversos
benefícios à sociedade, mas também pode gerar danos aos cidadãos que não
possuem afinidade com a tecnologia, independentemente dos seus motivos para
estarem nessa situação. Considerando que uma sociedade democrática é aquela
que o cidadão participa da Administração Pública e das decisões que são tomadas,
inadmissível que a questão da desigualdade digital seja mais ou menos ignorada
ou relegada à condição de problema menor.

4 Conclusão
Na realidade da sociedade brasileira do século XXI, com o surgimento de novas
e modernas tecnologias, a Administração Pública passa a se tornar cada vez mais
digital, na esteira de processos administrativos eletrônicos e serviços públicos
digitais, com vistas à satisfação dos direitos fundamentais dos cidadãos e prezar
pelo tratamento isonômico. Além disso, desde a Covid-19 o Poder Público sentiu
ainda mais a necessidade de informatizar a sua atuação, tornando-a mais digital
do que nunca – atendimento da população por meios eletrônicos.
É certo que a Administração Pública digital pode gerar inúmeros benefícios aos
cidadãos, tendo em vista que a sua consolidação visa à melhoria da prestação de
serviços públicos e à abertura administrativa para a apresentação de informações
pelos indivíduos eventualmente interessados nos processos que podem impactar
a esfera jurídica dos indivíduos. Esses benefícios decorrem de uma característica
simples da Administração Pública digital: ela está permanentemente aberta de
forma online.47 Por outro lado, a informatização da Administração Pública, ou seja,
a transformação da Administração Pública em digital, capaz mesmo de revolucionar
a atuação administrativa e a forma de se relacionar com os cidadãos, pode acabar

45
PEIXOTO, Fabiano Hartmann; BONAT, Debora. O incremento da cidadania através do reforço da participação
popular e a crescente judicialização da política. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n.
112. jan./jun. 2016. p. 139.
46
PEIXOTO, Fabiano Hartmann; BONAT, Debora. A “trava bancária” na recuperação judicial e o princípio da
preservação da empresa. Argumenta Journal Law, Jacarezinho, n. 23, 2016. p. 776.
47
HUESO, Lorenzo Cotino. Derechos del ciudadano. In: GAMERO CASADO, Eduardo; VALERO TORRIJOS,
Julián (Coord.). La ley de administración electrónica: comentario sistemático a la Ley 11/2007, de 22 de
junio, de acceso electrónico de los ciudadanos a los servicios públicos. Cizur Menor: Aranzadi, 2008. p.
121-122.

International Journal of Digital Law, Belo Horizonte, ano 1, n. 2, p. 97-116, maio/ago. 2020 113
EDUARDO ANDRé CARVALhO SChIEFLER, JOSé SéRGIO DA SILVA CRISTóVAM, ThANDERSON PEREIRA DE SOUSA

por alijar e marginalizar grupos de indivíduos que possuem dificuldade de se adaptar


às novas tecnologias, seja por opção própria (e legítima, que deve ser respeitada)
seja por inacessibilidade.
Nesse sentido, levando-se em consideração que uma sociedade democrática
é aquela que o cidadão participa efetivamente da Administração Pública e das suas
decisões, portanto, com o poder de influí-las, tem-se que a desigualdade digital
não pode ser ignorada pelas políticas públicas de digitalização do Poder Público.
É preciso planejamento e políticas de inclusão digital para que a sociedade possa
usufruir das possibilidades trazidas pela prestação de serviços públicos digitais.
Em síntese, parece inegável que a Administração Pública digital tem o potencial
de proporcionar diversos benefícios ao cidadão, mas também pode aprofundar a
desigualdade existente entre aqueles que possuem mais afinidade com as novas
tecnologias e aqueles que não têm o conhecimento necessário para se adaptar
rapidamente às transformações digitais (desigualdade digital), de forma a alijar da
prestação dos serviços públicos em plataformas digitais uma grande parcela da
população, não por acaso e em geral os mesmos excluídos e invisíveis de sempre.
Aplacar essa triste previsão é sim uma questão central nos debates em torno da
noção de Administração Pública digital.

Referências
BREGA, José Fernando Ferreira. Governo eletrônico e direito administrativo. 2012. Tese (Doutorado
em Direito do Estado) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
BINENBOJM, Gustavo. Uma teoria do direito administrativo: direitos fundamentais, democracia e
constitucionalização. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2014.
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2017.
CALHOUN, Craig; WIEVIORKA, Michel. Manifesto para as ciências sociais. Revista Sociedade e
Estado. v. 30. n. 3. set./dez. 2015.
CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. Administração Pública democrática e supremacia do interesse
público: novo regime jurídico-administrativo e seus princípios constitucionais estruturantes.
Curitiba: Juruá, 2015.
CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva; HAHN, Tatiana Meinhart. Instrumentos de automação da defesa
judicial aplicados pela administração pública federal brasileira: do eletrônico ao digital. Revista
Democracia Digital e Governo Eletrônico, Florianópolis, v. 1, n. 18, p. 127-143, 2019.
CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva; SAIKALI, Lucas Bossoni; SOUSA, Thanderson Pereira de. Governo
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Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2018 da Associação


Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

SCHIEFLER, Eduardo André Carvalho; CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva; SOUSA,


Thanderson Pereira de. Administração Pública digital e a problemática da
desigualdade no acesso à tecnologia. International Journal of Digital Law, Belo
Horizonte, ano 1, n. 2, p. 97-116, maio/ago. 2020.

116 International Journal of Digital Law, Belo Horizonte, ano 1, n. 2, p. 97-116, maio/ago. 2020
Sumário
Contents

Editorial .................................................................................................................... 7

Editorial .................................................................................................................... 9

La centralidad del gobierno digital en tiempos de pandemia


The centrality of digital government in times of pandemic
Diana Carolina Valencia-Tello ...................................................................................... 11
1 Introducción ..................................................................................................... 12
2 El Derecho Público en el siglo XXI ...................................................................... 14
3 La centralidad del Estado y del Derecho Administrativo en el siglo XXI .................. 18
4 Regulación en tiempos de pandemia.................................................................. 20
5 El gobierno digital y los trámites en Colombia ..................................................... 24
6 Consideraciones finales .................................................................................... 27
Referencias ..................................................................................................... 28

Os horizontes turvos do acesso à informação no Estado Democrático de


Direito: uma legislação simbólica em uma cultura de sombreamento
The dark horizons of access to information in the Democratic State of law: a
symbolic legislation in a shadowing culture
Caroline Müller Bitencourt, Janriê Rodrigues Reck........................................................ 31
1 Introdução ....................................................................................................... 32
2 Definição do direito fundamental de acesso à informação e sua relação com a
transparência: um diálogo não tão óbvio assim .................................................. 34
3 A Lei n. 12.527/2011: uma legislação simbólica? ............................................. 48
4 Conclusão ....................................................................................................... 52
Referências ..................................................................................................... 52

E-Procurement e Contratos inteligentes: desafios da modernização


tecnológica da contratação pública no Brasil
E-Procurement and Smart Contracts: challenges in the technological
modernization of Brazilian public procurement procedure
Christian Ito, Fábio de Sousa Santos ............................................................................ 55
1 Introdução ....................................................................................................... 56
2 Governo eletrônico e E-procurement ................................................................... 57
3 De contratos digitais a contratos inteligentes ..................................................... 60
4 Desafios do uso das ferramentas tecnológicas contemporâneas na contratação
pública brasileira .............................................................................................. 63
5 Conclusão ....................................................................................................... 66
Referências ..................................................................................................... 67
A educação digital no ensino básico como direito fundamental implícito na
Era dos Algoritmos
Digital education in basic education as a fundamental right implicit in the
Age of Algorithms
Renata Carvalho Kobus, Luiz Geraldo do Carmo Gomes ................................................ 71
1 Introdução ....................................................................................................... 72
2 O predomínio e a essencialidade do uso da tecnologia na Era 4.0 ....................... 73
3 A importância da dinamicidade dos direitos fundamentais implícitos: Estado e o
dever de concretizar os anseios vitais contemporâneos....................................... 77
4 A fundamentalidade da educação digital no processo de aprendizagem do ensino
básico ............................................................................................................. 82
5 Conclusão ....................................................................................................... 90
Referências ..................................................................................................... 91

Administração Pública digital e a problemática da desigualdade no acesso à


tecnologia
Digital Public Administration and the problem of inequality in access to
technology
Eduardo André Carvalho Schiefler, José Sérgio da Silva Cristóvam, Thanderson Pereira
de Sousa .................................................................................................................... 97
1 Introdução ....................................................................................................... 98
2 Constitucionalização do direito administrativo e a administração pública digital: o
processo administrativo eletrônico e a igualdade entre os cidadãos ..................... 100
2.1 As novas tecnologias e a necessidade de adequação da administração pública .... 101
2.2 A constitucionalização do direito administrativo com o advento da Constituição de
1988 e a função do processo administrativo ...................................................... 101
2.3 A atividade administrativa por meio de processos administrativos eletrônicos ....... 103
2.4 A realidade que se impõe: a pandemia de Covid-19 ............................................ 104
3 Administração pública digital e o acesso às tecnologias ...................................... 105
3.1 Democracia e o imperativo da participação social nos rumos da administração
pública ............................................................................................................ 105
3.2 A noção de administração pública digital e a prestação de serviços públicos ........ 106
3.3 Serviços públicos digitais e o acesso à tecnologia .............................................. 107
3.4 Os riscos da desigualdade digital para a atuação administrativa .......................... 110
4 Conclusão ....................................................................................................... 113
Referências ..................................................................................................... 114

Regulação de novas tecnologias e novas tecnologias na regulação


Regulation of new technologies and new technologies in regulation
Thiago Marrara, Gustavo Gil Gasiola ............................................................................ 117
1 Introdução ....................................................................................................... 118
2 Novas tecnologias em panorama: classificação introdutória ................................. 119
3 Estímulo, demanda, controle e uso tecnologias pela Administração ..................... 125
4 Uso de tecnologias e relações jurídico-administrativas ........................................ 127
5 Novas tecnologias e regulação estatal ............................................................... 132
6 Tecnologia na regulação: Anvisa e rastreabilidade de medicamentos .................... 134
7 Regulação da tecnologia: CVM e o sandbox das fintechs ..................................... 137
8 Conclusão ....................................................................................................... 141
Referências ..................................................................................................... 143

DIRETRIZES PARA AUTORES.................................................................................. 145


Condições para submissões ........................................................................................ 151
Política de privacidade ................................................................................................. 152

AUTHOR GUIDELINES ............................................................................................. 155


Conditions for submissions .......................................................................................... 161
Privacy statement ........................................................................................................ 162
Editorial

Após o grande sucesso do lançamento do primeiro número do International


Journal of Digital Law, apresentamos à comunidade acadêmica e profissional o
segundo número do volume de 2020.
Como já asseverado, o International Journal of Digital Law consiste em periódico
científico eletrônico de acesso aberto e periodicidade quadrimestral promovido pelo
NUPED – Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas e Desenvolvimento Humano
do Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná, um grupo de pesquisa filiado a REDAS – Rede de Pesquisa em Direito
Administrativo Social.
No primeiro número já anunciamos que os artigos passaram pelo sistema de
avaliação em double blind peer review. A ideia é que o International Journal of Digital
Law torne-se uma referência em termos de seriedade acadêmica e impactação
na sociedade. Para isso, procuraremos nos enquadrar nas diretrizes das mais
importantes bases de indexação nacionais e internacionais. Esse processo já
iniciou e caminha a passos largos.
No primeiro volume tivemos a importante participação de quatro grandes
autores internacionais: Juan Gustavo Corvalán, Annapa Nagarathna, Álvaro Sánchez
Bravo e Antonella Stringhin, além dos colegas brasileiros Carla Figueiredo, Flávio
Cabral, Juliana Philippi e Denise Friedrich. Neste número da revista a quantidade de
participantes aumentou, devido às importantes parcerias realizadas entre docentes
e grupos de pesquisa, nacionais e internacionais. Cumprimentamos os autores e
autoras cujos artigos foram selecionados para publicação.
Nossos agradecimentos à Editora Fórum, responsável pela editoração do
periódico, pela excelência dos trabalhos que vêm sendo realizados, conferindo
ainda maior credibilidade às edições atuais e futuras do International Journal of
Digital Law.

Emerson Gabardo
Alexandre Godoy Dotta
Juan Gustavo Corvalán

International Journal of Digital Law, Belo Horizonte, ano 1, n. 2, p. 7, maio/ago. 2020 7


Editorial

After the great success of the first issue of the International Journal of Digital
Law, we present the second issue of the 2020 volume to the academic and
professional community. As already stated, the International Journal of Digital Law
consists of an open-access electronic scientific journal and published every four
months by NUPED – Center for Research in Public Policies and Human Development
of the Postgraduate Program in Law of the Pontifical Catholic University of Paraná, a
research group affiliated to REDAS – Research Network in Welfare State Administrative
Law.
In the first issue, we have already announced that the articles have gone through
the double-blind peer-review evaluation system. The idea is for the International
Journal of Digital Law to become a benchmark in terms of academic seriousness and
impact on society. For that, we will try to fit in the guidelines of the most important
national and international indexing bases. This process has already started and is
moving at a fast pace.
In the first volume we had the important participation of four great international
authors: Juan Gustavo Corvalán, Annapa Nagarathna, Álvaro Sánchez Bravo, and
Antonella Stringhin, in addition to Brazilian colleagues Carla Figueiredo, Flávio Cabral,
Juliana Philippi, and Denise Friedrich. In this issue of the journal, the number of
participants increased, due to the important partnerships between professors and
research groups, national and international. I greet the authors whose articles have
been selected for publication.
Thanks to Editora Fórum, responsible for publishing the journal, for the excellence
of the work that has been done, giving even greater credibility to current and future
issues of the International Journal of Digital Law.

Emerson Gabardo
Alexandre Godoy Dotta
Juan Gustavo Corvalán

International Journal of Digital Law, Belo Horizonte, ano 1, n. 2, p. 9, maio/ago. 2020 9

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