Um Toque de Escuridao (Hades & - Scarlett St. Clair
Um Toque de Escuridao (Hades & - Scarlett St. Clair
Um Toque de Escuridao (Hades & - Scarlett St. Clair
Clair
[2021]
Todos os direitos dessa edição reservado à
EDITORA CABANA VERMELHA
Parque Universitário - Campinas/SP
TÍTULO ORIGINAL:
A Touch of Darkness
DIRETORA EDITORIAL:
Elaine Cardoso
TRADUÇÃO:
Danielle Tavares
PREPARAÇÃO E REVISÃO:
Mari Vieira
PROJETO GRÁFICO DE MIOLO E ADAPTAÇÃO DE CAPA:
Elaine Cardoso
CAPA ORIGINAL
Regina Wanba
ISBN: 978-65-87221-40-3
Todos os direitos reservados ©. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida,
armazenada ou introduzida em um sistema de recuperação, ou transmitida, em qualquer
forma ou por qualquer meio (eletrônico, mecâni-co, de fotocópia, de gravação, ou outros),
sem permissão prévia por escrito do autor e da editora.
DEDICATÓRIA
1
O NARCISO
2
NEVERNIGHT
3
JORNAL NOVA ATENAS
4
O CONTRATO
5
INTRUSÃO
6
O ESTIGE
7
UM TOQUE DE....GENTILEZA
8
UM JARDIM NO SUBMUNDO
9
PEDRA, PAPEL, TESOURA
10
TENSÃO
11
UM TOQUE DE ... DESEJO
12
O DEUS DO JOGO
13
LA ROSE
14
UM TOQUE DE CIÚME
15
OFERTA
16
UM TOQUE DE ESCURIDÃO
17
GALA OLÍMPICA
18
UM TOQUE DE PAIXÃO
19
UM TOQUE DE PODER
20
ELÍSIO
21
UM TOQUE DE INSANIDADE
22
O BAILE DE ASCENSÃO
23
UM TOQUE DE NORMALIDADE
24
UM TOQUE DE ARTIMANHA
25
UM TOQUE DE VIDA
26
UM TOQUE DE CASA
27
MINTHE A HORTELÃ (Bônus)
1
UM JOGO DE DEUSES
2
UM JOGO DO DESTINO
AGRADECIMENTOS
NOTA DA AUTORA.
1
O NARCISO
***
***
Os olhos de Perséfone pareciam lixa quando ela os abriu. Por um
momento, ela pensou que estava em casa em sua cama, mas
rapidamente se lembrou que quase se afogou em um rio no
Submundo. Hades a levou para o seu palácio e ela estava agora
deitada na cama dele.
Ela se sentou rapidamente, fechando os olhos por causa da
tontura. Quando passou, ela os abriu novamente e encontrou Hades
sentado em uma cadeira, observando-a. Em uma das mãos, ele
segurava um copo de uísque, aparentemente sua bebida preferida.
Ele havia tirado o paletó e vestia uma camisa preta com as mangas
arregaçadas e os botões meio abertos. Ela não conseguia identificar
sua expressão, mas ela sentiu que ele estava chateado.
Hades tomou um gole do uísque, e o fogo atrás dele estalou no
silêncio que se estendeu entre eles. Nesse silêncio, ela estava
hiperconsciente da maneira como seu corpo estava reagindo a ele.
Ele não estava nem fazendo nada, mas naquele quarto fechado, ela
podia sentir o cheiro dele, e isso acendeu um fogo na boca do
estômago.
Ela deu por si a desejando que ele falasse — diz alguma coisa
para que eu possa ficar zangada contigo outra vez. ela pensou.
Quando ele não obedeceu, ela o incitou:
— Há quanto tempo estou aqui? — ela perguntou.
— Horas — respondeu ele.
— Que horas são? — Os olhos dela se arregalaram.
— Tarde. — Ele encolheu os ombros.
— Tenho que ir — disse ela, mas não se mexeu.
— Você veio até aqui. Permita-me oferecer-lhe um passeio pelo
meu mundo.
Quando Hades se levantou, sua presença parecia encher o
quarto. Ele bebeu o resto do uísque, caminhou até onde ela estava
sentada na cama, agarrou as cobertas e puxou-as para longe.
Enquanto ela dormia, o robe que ele lhe dera se afrouxou, expondo
uma camada de pele branca entre seus seios. Ela o segurou
fechado, suas bochechas coradas.
O Hades fingiu não reparar e estendeu a mão. Ela o pegou,
esperando que ele se afastasse quando ela se levantasse, mas ele
permaneceu perto e segurou seus dedos. Quando ela finalmente
olhou para cima, ele estava observando-a.
— Você está bem? — A voz dele era profunda e murmurava
através dela.
— Melhor. — Ela assentiu.
— Acredite que estou arrasado por você ter sido ferido em meu
reino. — Ele passou o dedo pela bochecha dela, deixando um rastro
de calor.
— Eu estou bem. — Ela engoliu em seco e conseguiu dizer.
— Não acontecerá outra vez. Venha. — Seus olhos gentis
endureceram.
Ele a levou para a varanda fora de seu quarto, onde a vista era
de tirar o fôlego. As cores do submundo estavam apagadas, mas
ainda lindas. O céu cinza fornecia um pano de fundo para as
montanhas negras, que se fundiam com uma floresta de árvores
verdes profundas. À direita, as árvores diminuíram e ela podia ver a
água negra do Estige serpenteando pela grama alta.
— Você gosta? — ele perguntou.
— É lindo. — ela respondeu, e achou que ele parecia satisfeito.
— Você criou isso tudo?
— O Submundo evolui tal como o mundo acima. — ele assentiu
uma única vez.
Os dedos dela ainda estavam entrelaçados com os dele, e ele a
puxou, levando-a para fora da varanda, descendo um lance de
escadas que desembocava em um dos mais belos jardins que ela já
vira. As glicínias lilases criaram um dossel sobre um caminho de
pedra escura, e cachos de flores roxas e vermelhas cresciam
descontroladamente em ambos os lados da trilha.
O jardim surpreendeu-a e irritou-a. Ela se virou para Hades,
puxando sua mão da dele.
— Cretino!
— Xingamentos, Perséfone. — ele a advertiu.
— Não se atreva. Isso, isso é lindo! — Isso fez seu coração doer
e era algo que ela desejava criar. Ela olhou por mais tempo,
encontrando novas flores, rosas de um azul-escuro, peônias em
rosa, salgueiros e árvores com folhas roxa-escuras.
— É. — ele concordou.
— Por que me pediu para criar vida aqui? — Ela tentou evitar que
sua voz soasse tão desanimada, mas não conseguiu, estando no
centro de seu sonho manifestado fora de sua cabeça.
Ele a encarou por um momento e então, com um aceno de mão,
as rosas, peônias e salgueiros haviam sumido. Em seu lugar havia
apenas uma terra desolada. Ela ficou boquiaberta com Hades
enquanto estava nas ruínas de seu reino.
— É uma ilusão — ele disse. — Se é um jardim que você deseja
criar, então realmente será a única vida aqui.
Ela olhou meio maravilhada, meio enojada para a terra diante
dela. Então, toda essa beleza era magia de Hades? E ele o manteve
sem esforço? Ele era verdadeiramente um deus poderoso.
Ele colocou a ilusão de volta e eles continuaram pelo jardim.
Enquanto ela seguia Hades, os aromas a atingiram abruptamente —
rosas doces, buxo almiscarado, gerânios apimentados e muito mais.
O cheiro de folhagem densa lembrou Perséfone do tempo que ela
passou na estufa, onde as flores de sua mãe floresciam tão
facilmente e a promessa que ela havia feito de nunca mais voltar.
Agora ela percebeu que trocaria uma prisão por outra se não
cumprisse os termos do contrato.
Finalmente, eles chegaram a um muro baixo de pedra onde um
pedaço de terra permanecia estéril e o solo a seus pés era da cor de
cinzas.
— Pode trabalhar aqui — disse ele.
— Eu ainda não entendo — disse Perséfone, e Hades olhou para
ela. — Ilusão ou não, você tem toda esta beleza. Por que exigir isso
de mim?
— Se você não deseja cumprir os termos do nosso contrato, só
tem que dizer isso, Senhora Perséfone. Posso preparar-lhe uma
suíte em menos de uma hora.
— Não nos damos bem o suficiente para sermos companheiros
de casa, Hades.
As sobrancelhas dele ergueram-se, e ela levantou o queixo.
— Com que frequência posso vir aqui e trabalhar?
— Sempre que quiser. — respondeu. — Sei que está ansiosa
para completar a sua tarefa.
Ela desviou o olhar e se abaixou para pegar um punhado de
areia. Era sedosa e caía por entre seus dedos como água. Ela
considerou como plantaria o jardim, sua mãe podia criar sementes e
germiná-las do nada, mas Perséfone não podia tocar em uma planta
sem que ela murchasse. Talvez pudesse convencer Deméter a dar a
ela algumas de suas próprias mudas. A magia divina teria uma
chance melhor nesta terra do que qualquer coisa que um mortal
pudesse oferecer.
Ela pensou em seu plano e, quando se levantou, encontrou
Hades olhando para ela novamente. Estava se acostumando com
seu olhar, mas ainda a fazia se sentir exposta. Não ajudou ela usar
apenas o robe preto dele.
— E ... como devo entrar no Submundo? — ela inqueriu. —
Presumo que você não quer que eu volte por onde vim.
— Hmm. — Ele inclinou a cabeça para o lado pensativamente.
Ela o conhecia há apenas três dias, mas já o vira fazer isso antes,
quando estava particularmente entretido, foi um movimento que ele
fez quando já sabia como iria agir.
Mesmo sabendo disso, ela ficou surpresa quando ele a pegou
pelos ombros e a puxou contra si. Seus braços dispararam,
encaixando-se contra seu peito, e quando seus lábios encontraram
os dela, ela perdeu o controle da realidade. Suas pernas cederam e
os braços de Hades deslizaram ao redor dela, segurando-a com
mais força. Sua boca estava quente e inteira. Ele a beijou com tudo,
seus lábios, dentes e língua, e ela retribuiu com tanta paixão.
Embora soubesse que não devia encorajá-lo, seu corpo tinha uma
mente própria.
Quando suas mãos se moveram para cima de seu peito e em
torno de seu pescoço, Hades fez um som profundo em sua garganta
que tanto a excitou e assustou. Então eles estavam se movendo, e
ela sentiu a parede de pedra em suas costas. Quando ele a
levantou do chão, ela enrolou as pernas em volta da cintura dele.
Ele era muito mais alto que ela, e esta posição permitiu-lhe traçar o
maxilar dela com os lábios, morder-lhe a orelha e beijar-lhe o
pescoço. A sensação a fez ofegar, e ela se arqueou contra ele,
passando os dedos por seus cabelos, afrouxando a gravata que
prendia seus fios escuros no lugar, e quando as mãos dele se
moveram sob seu manto, roçando a pele macia e sensível, ela
gritou, agarrando o cabelo dele em suas mãos.
Foi quando Hades se afastou. Seus olhos brilharam com uma
necessidade que ela sentia profundamente em seu âmago, e eles
lutaram para recuperar o fôlego. Por um longo momento, eles
permaneceram quietos. As mãos de Hades ainda estavam debaixo
do roupão, agarrando-lhe as coxas. Ela não o impediria se ele
continuasse. Os dedos dele estavam perigosamente perto do
abdômen dela, e ela sabia que ele podia sentir o seu calor. Ainda
assim, se cedesse a essa necessidade, ela não poderia dizer como
se sentiria depois, e por algum motivo ela não queria se arrepender
de Hades.
Talvez ele tenha percebido isso também, porque tirou os dedos
de sua pele e a baixou para o chão. Seu cabelo escuro caía em
ondas bem além dos ombros, criando um halo escuro ao redor de
seu rosto.
— Depois de entrar no Nevernight, você só precisa estalar os
dedos e será trazida aqui.
A cor sumiu de seu rosto e ela parou de respirar por um
momento. Claro, ela pensou. Ele estava concedendo favores a ela.
Após o beijo, Perséfone se sentiu envergonhada. Por que ela
permitiu isso? Por que ela permitiu que as coisas se tornassem tão
intensas? Ela sabia que não devia confiar no Deus do Submundo —
nem mesmo em sua paixão.
Ela tentou afastá-lo, mas ele não cedeu.
— Você não pode oferecer um favor de outra forma? — ela
retrucou.
— Você não pareceu se importar. — ele parecia divertido.
Ela corou e tocou os lábios em formigamento com dedos
trêmulos. Os olhos de Hades brilharam e, por um momento, ela
pensou que ele poderia retomar de onde pararam.
E não podia deixar isso acontecer.
— Tenho de ir. — disse.
Hades acenou com a cabeça uma vez, em seguida, passou o
braço em volta da cintura dela.
— O que você está fazendo? — ela questionou.
Hades estalou os dedos. O mundo mudou e eles estavam em seu
quarto. Ela agarrou os braços de Hades, atordoada. Ainda estava
escuro lá fora, mas o relógio ao lado da cama dela indicava cinco da
manhã. Ela tinha uma hora antes de ter que se levantar e estar
pronta para o trabalho.
— Perséfone. — A voz de Hades era um ronco baixo, e ela
encontrou seu olhar. — Nunca traga um mortal ao meu reino outra
vez, especialmente Adonis. Fique longe dele.
— Como você conhece ele? — Ela revirou os olhos.
— Isso não é relevante.
Ela tentou se afastar dele, mas ele a manteve onde estava,
pressionada contra ele.
— Trabalho com ele, Hades. — ela disse. — Além disso, você
não pode me dar ordens.
— Eu não estou te dando ordens. — falou. — Eu estou pedindo.
— Pedir implica que há uma escolha.
Ela não tinha a certeza se era possível, mas Hades apertou-a.
Seu rosto estava a centímetros do dela, e ela achou difícil encontrar
seus olhos porque seu olhar continuava caindo em sua boca — a
memória do beijo que eles compartilharam no jardim um fantasma
em seus lábios. Ela fechou os olhos contra isso.
— Você tem uma escolha. — disse ele. — Mas se você o
escolher, eu irei buscá-lo, e posso não deixá-lo sair do Submundo.
Os olhos dela se arregalaram e ela olhou para ele.
— Você não faria. — disse, entredentes.
Hades riu, inclinando-se para que, quando ele falasse, sua
respiração acariciasse seus lábios.
— Querida. Você não sabe do que eu sou capaz.
Então ele se foi.
8
UM JARDIM NO SUBMUNDO
***
— PERSÉFONE!
Alguém estava chamando seu nome. Ela rolou e cobriu a cabeça
com o cobertor para abafar o som, ela deixou o Submundo tarde na
noite passada e, tensa demais para dormir, ficou acordada para
trabalhar em seu artigo.
Ela teve dificuldade em escolher como deveria proceder depois
de assistir Hades ajudar aquela mãe. No final, ela decidiu que tinha
que se concentrar nas barganhas que Hades fazia com os mortais
— aquelas nas quais ele optou por oferecer termos impossíveis.
Enquanto trabalhava no artigo, ela descobriu que ainda estava
frustrada, embora não pudesse dizer se tinha acabado sua
barganha com Hades o momento deles nas estantes — a maneira
como ele perguntou o que ela queria e se recusou a beijá-la.
Sua pele formigou de antecipação com a memória, embora ela
não estivesse em lugar algum perto dele.
Ela pressionou para salvar seu artigo às quatro da manhã e
decidiu descansar algumas horas antes de relê-lo. Mas quando ela
começou a adormecer, Lexa irrompeu pela porta de seu quarto.
— Perséfone! Acorda!
— Vai embora! — Ela gemeu.
— Ahn não, você vai querer ver isso. Adivinha o que está no
noticiário hoje!
De repente, ela estava bem acordada. Perséfone empurrou seus
cobertores e se sentou, sua imaginação já tomando conta, alguém
tinha tirado uma foto dela em sua forma de deusa fora de
Nevernight? Alguém a apanhou dentro do clube com Hades? Lexa
empurrou seu tablet para o rosto de Perséfone, e seus olhos
focaram em algo muito pior.
— Está em todas as redes sociais hoje — explicou Lexa.
— Não, não, não. — Perséfone agarrou o tablet com as duas
mãos. O título no topo da página estava em preto e negrito e
familiar:
***
***
***
— Você parece uma deusa. — Lexa disse.
Perséfone estudou seu vestido de seda vermelho no espelho. Era
simples, mas cabia nela como uma luva, acentuando a curva de
seus quadris onde o tecido se juntou e se partiu no meio da coxa
para expor uma perna cremosa. Um lindo aplique floral preto
escorria de seu ombro direito para o lado direito das costas abertas.
Lexa havia estilizado seu cabelo para ela, puxando-o em um rabo
de cavalo alto e enrolado, e feito sua maquiagem, escolhendo um
olho escuro e esfumaçado. Perséfone colocou acessórios como
brincos de ouro simples e o bracelete de ouro que ela usava para
cobrir a marca de Hades. Neste momento, ela sentiu a queimadura
na pele.
— Obrigada. — Perséfone corou.
Mas Lexa não havia terminado. Ela acrescentou:
— Como ... a Deusa do Submundo.
Perséfone se lembrou das palavras de Yuri e da esperança da
alma de que Hades em breve teria uma rainha.
— Não há deusa do Submundo.
— O lugar está apenas vazio — disse Lexa.
Perséfone não queria falar sobre Hades. Ela o veria em breve, e
ela nunca se sentiu tão confusa sobre qualquer coisa em sua vida.
Ela sabia que sua atração por ele só a colocaria em apuros, apesar
de odiar as palavras de Minthe, ela acreditou nelas. Hades não era
o tipo de deus que queria um relacionamento, e ela já sabia que ele
não acreditava no amor.
Perséfone queria o amor. Desesperadamente. Foi-lhe negado
tanta coisa toda a vida. Não lhe seria negado o amor, também.
Perséfone abanou a cabeça, limpando-a desses pensamentos.
— Como está o Jaison?
Lexa conheceu Jaison em La Rose. Eles trocaram telefone e
conversavam desde então. Ele era um ano mais velho que elas e
engenheiro de computação. Quando Lexa falava sobre ele, parecia
que eles eram completamente opostos, mas de alguma forma
estava funcionando.
— Eu realmente gosto dele. — Lexa corou.
— Você merece Lex. — Perséfone sorriu.
— Obrigada.
Lexa voltou para seu quarto para terminar de se arrumar e
Perséfone estava começando a procurar sua bolsa quando a
campainha tocou.
— Eu atendo! — ela falou para Lexa.
Quando ela atendeu, não encontrou ninguém lá, mas um pacote
estava na soleira da porta, uma caixa branca com uma fita vermelha
amarrada em um laço. Ela o pegou e levou para dentro, procurando
ver se era endereçado a alguém.
Ela encontrou uma etiqueta que dizia: Perséfone.
Dentro, repousando sobre veludo preto, havia um bilhete e uma
máscara: Use isso com sua coroa.
Perséfone colocou-a de lado e puxou uma bela máscara de
filigrana de ouro — apesar de seus detalhes, era simples e não
cobria muito de seu rosto.
— É do Hades? — Lexa perguntou, entrando na cozinha. O
queixo de Perséfone caiu quando viu sua melhor amiga. Lexa tinha
escolhido um vestido de tafetá azul-royal sem alças para o evento
desta noite; sua máscara branca, enfeitada com prata, tinha um
punhado de penas saindo do lado superior direito.
— Então? — ela perguntou quando Perséfone não respondeu.
— Oh. — Ela olhou para a máscara. — Não, não é do Hades.
Perséfone levou a caixa para o seu quarto. Ela se sentiu um
pouco boba colocando a coroa que Ian havia dado a ela na cabeça,
mas uma vez que sua máscara foi colocada, ela entendeu as
instruções de Hécate. A combinação foi impressionante, e ela
parecia mesmo uma rainha.
Perséfone e Lexa pegaram um táxi para o Museu de Artes da
Antiguidade. Seus ingressos indicavam um horário de chegada às
cinco e meia — uma hora e meia antes dos deuses. Ninguém queria
fotos de mortais, a menos que cobrissem o braço de um dos
Divinos.
Elas esperaram no banco de trás do taxi abafado no final de uma
longa fila de veículos antes de finalmente serem liberados na beira
de um grande conjunto de degraus cobertos por tapete vermelho.
Perséfone estava grata pelo ar fresco, exceto quando foi
imediatamente abordada pelo flash das luzes da câmera. Ela se
sentiu apertada e claustrofóbica, seu peito apertou mais uma vez.
Os assistentes os conduziram escada acima até o museu
ameaçador, cuja fachada era moderna - feita de pilares de concreto
e vidro. Uma vez lá dentro, eles foram conduzidos por um corredor
forrado com cristais brilhantes pendurados em fios como luzes. Era
bonito e um elemento que Perséfone não esperava.
A expectativa aumentou quando elas se aproximaram do final do
corredor e passaram por uma cortina dos mesmos cristais em uma
sala ricamente decorada. Havia várias mesas redondas cobertas
com tecido preto e repletas de porcelana fina, organizadas em torno
de um salão de baile, deixando espaço no centro para dançar. As
verdadeiras obras-primas decoravam o centro — estátuas de
mármore que homenageavam os deuses da Grécia Antiga.
— Perséfone, olhe. — Lexa deu uma cotovelada nela, e ela
inclinou a cabeça para trás para estudar o lindo lustre no centro da
sala. Fios de cristais cintilantes cobriam o teto e brilhavam como as
estrelas no céu do Submundo.
Elas encontraram sua mesa, pegaram uma taça de vinho e
passaram um tempo interagindo. Perséfone admirou a capacidade
de Lexa de fazer amizade com qualquer pessoa, ela começou a
conversar com um casal em sua mesa e seu grupo cresceu para
incluir vários outros quando um sino soou na sala. Todos trocaram
olhares e Lexa suspirou.
— Perséfone os deuses estão chegando! Vamos! — Lexa pegou
a mão de Perséfone, arrastando-a pelo andar e até um conjunto de
escadas que levava ao segundo andar.
— Lexa, onde estamos indo? — perguntou enquanto se dirigiam
para as escadas.
— Ver os deuses chegarem! — ela disse como se fosse óbvio.
— Mas... não vamos vê-los lá dentro?
— Não é essa a questão! Eu assisti essa parte na televisão por
anos. Quero ver pessoalmente essa noite.
Havia várias exposições no segundo andar, mas Lexa foi direto
para um lugar no terraço externo, que dava para a entrada do
museu. Já havia várias pessoas aglomeradas em torno da borda da
varanda para dar uma olhada no Divino quando chegaram, mas
Perséfone e Lexa conseguiram se espremer em um pequeno
espaço. Uma massa de fãs gritando e jornalistas lotaram as
calçadas e o outro lado da rua, e as luzes das câmeras brilharam
como relâmpagos ao redor.
— Olha! Ali está Ares! — Lexa gritou, mas o estômago de
Perséfone se revirou.
Ela não gostava de Ares. Ele era um deus sedento de sangue e
violência. Ele era uma das vozes mais altas antes da Grande
Descida, persuadindo Zeus a descer à Terra e fazer guerra aos
mortais, e Zeus tinha ouvido — ignorando o conselho e a sabedoria
da contraparte de Ares, Atenas.
O Deus da Guerra subiu os degraus em um quitão dourado com
uma capa vermelha cobrindo um ombro. Parte de seu peito estava
descoberto, revelando músculos escultural e pele dourada, e em vez
de uma máscara ele usava um elmo dourado com uma pluma
vermelha de penas caindo em suas costas. Seus chifres de cimitarra
eram longos, ágeis e letais, curvando-se para trás com suas penas,
completando uma imagem majestosa, bela e assustadora.
Depois do Ares veio Poseidon. Ele era enorme, com os ombros, o
peito e os braços salientes sob o tecido do paletó azul-marinho. Ele
tinha um cabelo loiro bonito que lembrava Perséfone de ondas
agitadas, e usava uma máscara mínima que brilhava como o interior
de uma concha. Ela achava que Poseidon não queria mistério para
sua presença.
Seguindo Poseidon estava Hermes, bonito em um vistoso terno
dourado. Ele havia tirado o glamour de suas asas, e as penas
criaram uma capa sobre seu corpo. Foi a primeira vez que
Perséfone viu o Deus da Trapaça sem seu glamour. Sobre sua
cabeça, ele usava uma coroa de folhas de ouro. Perséfone poderia
dizer que ele gostava de andar no tapete vermelho, ele se alegrou
com a atenção, sorrindo amplamente e posando. Ela pensou em
chamá-lo, mas não precisava — ele a encontrou rapidamente,
piscando para ela antes de desaparecer de vista.
Apollo chegou em uma carruagem dourada puxada por cavalos
brancos, reconhecível imediatamente por seus cachos escuros e
olhos violetas. Sua pele era de um marrom polido e fazia seu quitão
branco brilhar como uma chama. Em vez de exibir seus chifres, ele
usava uma coroa de ouro que lembrava raios do sol. E ele estava
acompanhado por uma mulher que Perséfone reconheceu.
— Sybil! — ela e Lexa chamaram alegremente, mas a bela loira
não conseguia ouvi-las por causa dos gritos da multidão. Jornalistas
gritavam perguntas para Sybil, perguntando por seu nome, exigindo
saber quem ela era, de onde era e há quanto tempo estava com
Apollo.
Perséfone admirava a forma como Sybil lidava com tudo. Ela
parecia gostar da atenção, sorrindo e acenando, e ela realmente
respondeu às perguntas. Seu lindo vestido vermelho brilhava
enquanto ela caminhava ao lado de Apollo no museu.
Perséfone reconheceu o veículo de Deméter — uma limusine
longa e branca. Sua mãe optou por um visual mais moderno,
escolhendo um vestido de baile lavanda que gotejava pétalas de
rosa. Literalmente parecia que um jardim estava crescendo em suas
saias. Esta noite seu cabelo estava para cima, seus chifres em
exibição e sua expressão sombria.
Lexa se inclinou e sussurrou para Perséfone:
— Algo deve estar errado. Deméter sempre figura no tapete
vermelho.
Lexa tinha razão. Sua mãe costumava dar um show elegante e
extravagante, sorrindo e acenando para a multidão. Hoje à noite, ela
franziu a testa, mal olhando para os jornalistas quando eles a
chamaram. Tudo o que Perséfone conseguia pensar era que, o que
quer que sua mãe estivesse passando, era tudo culpa dela.
Perséfone abanou a cabeça.
Pare, ela disse a si mesma. Ela não ia deixar Deméter arruinar a
diversão dela. Não essa noite.
A multidão ficou mais barulhenta quando a próxima limusine
chegou, e Afrodite saiu usando um vestido de noite
surpreendentemente elegante, o corpete decorado com flores
brancas e rosa, o meio transparente com flores caindo em dobras
de tule. Ela usava um adorno de cabeça de peônias rosa e pérolas,
e seus graciosos chifres de gazela brotavam de sua cabeça atrás
dele. Ela era deslumbrante, mas o lance sobre Afrodite — todas as
deusas, na verdade — era que elas eram guerreiras também. E a
Deusa do Amor, por qualquer motivo, era particularmente cruel.
Ela esperou do lado de fora de sua limusine, e Perséfone e Lexa
gemeram quando viram ninguém menos que Adonis escalando do
banco de trás. Lexa se inclinou e sussurrou:
— Segundo os rumores Hefesto não a queria.
— Você não pode acreditar em tudo que você ouve, Lexa. —
Perséfone bufou.
Hefesto não era um Olímpico, mas era o Deus do Fogo.
Perséfone não sabia muito sobre ele, exceto que ele era calmo e um
inventor brilhante. Ela tinha ouvido muitos rumores sobre seu
casamento com Afrodite, e nenhum deles era bom, algo sobre como
Hefesto foi forçado a se casar com Afrodite.
Os últimos a chegar foram Zeus e Hera.
Zeus, como seus irmãos, era enorme e usava um quitão que
expunha parte de seu peito musculoso. Seu cabelo castanho caía
em ondas até os ombros, com toques de branco prateado,
combinando com sua barba farta e bem cuidada. Ele usava uma
coroa de ouro que se encaixava entre um par de chifres de carneiro
que se enrolavam em torno de seu rosto, feroz e aterrorizante.
Ao lado dele, Hera caminhava com um ar de graça e nobreza,
seus longos cabelos castanhos puxados sobre o ombro. Seu vestido
era lindo, mas simples — preto, o corpete bordado com penas
coloridas de pavão. Um diadema de ouro descansava em sua
cabeça, encaixando perfeitamente em um par de chifres de veado.
Embora Demetri tenha dito a ela que Hades nunca chegou ao
lado dos outros deuses, Perséfone pensou que ele poderia fazer
uma exceção desta vez, com a noite tendo como tema seu reino;
mas quando a multidão começou a se dispersar com a chegada de
Zeus e Hera, ela percebeu que ele não viria, pelo menos não por
meio desta entrada.
— Não foram todos magníficos? — Lexa perguntou quando ela e
Perséfone entraram.
Eles eram, cada um deles. E ainda, com todo estilo e glamour
deles, Perséfone ainda ansiava por ver um rosto entre a multidão.
Ela começou a descer as escadas e parou abruptamente.
Ele está aqui.. A sensação a rasgou, endireitando sua espinha.
Ela conseguia senti-lo, provar a sua magia. Então seus olhos
encontraram o que procuravam, e o lugar ficou de repente muito
quente.
— Perséfone? — Lexa chamou quando ela não se mexeu. Então
ela seguiu o olhar de Perséfone, e não demorou muito para que
todo o salão ficasse quieto.
Hades estava na entrada, o pano de fundo de cristal criando um
belo e nítido contraste com seu terno preto sob medida. A jaqueta
era de veludo com uma flor vermelha simples no bolso da camisa.
Seu cabelo estava liso e preso em um coque na parte de trás da
cabeça, sua barba bem aparada e pontiaguda, e ele usava uma
máscara preta lisa que cobria apenas os olhos e a ponta do nariz.
Os olhos dela percorreram de seus sapatos pretos brilhantes até
seu corpo alto e poderoso e sobre seus ombros largos para seus
olhos de carvão brilhantes. Ele a tinha encontrado também. O calor
de seu olhar a rastreou, percorrendo cada centímetro de seu corpo,
e ela se sentiu como uma chama exposta a um vento frio.
Ela poderia ter passado a noite toda olhando para ele se não
fosse pela ninfa ruiva que apareceu ao lado dele. Minthe era linda,
vestida com um vestido esmeralda com um decote em coração. Ele
abraçou seus quadris e alargou-se, deixando uma linha de tecido
atrás dela. Seu pescoço e orelhas estavam carregados de joias
finas que brilharam quando a luz os atingiu. Perséfone se perguntou
se Hades os havia fornecido quando Minthe enrolou seu braço no
dele.
Sua raiva queimava e ela sabia que seu glamour estava
derretendo. Seu olhar passou para Hades, e ela olhou para ele. Se
ele pensava que poderia ter ela e Minthe também, ele estava
errado.
Ela bebeu o resto de seu vinho e então olhou para Lexa.
— Vamos procurar outra bebida.
Perséfone e Lexa cortaram a multidão, sinalizando para um
garçom trocar seus copos vazios por outros cheios.
— Pode segurar isso? — Lexa perguntou. — Eu preciso do
banheiro.
Perséfone pegou o copo de Lexa e começou a beber do seu
quando ouviu uma voz familiar atrás dela.
— Ora, ora, ora, o que temos aqui? — Ela se virou para encontrar
Hermes se aproximando no meio da multidão. — Uma Deusa do
Tártaro.
Perséfone levantou uma sobrancelha em pergunta.
— Captou? Tortura?
Ela deu a ele um olhar vazio e ele franziu a testa.
— Por que você está torturando Hades?
Era a vez de Perséfone revirar os olhos.
— Ah, vamos! Por que mais você usaria este vestido?
— Por mim mesma. — ela respondeu meio na defensiva. Ela não
tinha escolhido seu vestido com Hades em mente, ela queria
parecer bonita e sexy e se sentir poderosa.
Este vestido fez todas essas coisas.
O Deus da Trapaça ergueu uma sobrancelha, sorriu e admintiu:
— Justo. Ainda assim todo o salão reparou que você estava
comendo Hades com os olhos.
— Eu não estava... — ela fechou a boca com força, as
bochechas ficando vermelhas.
— Não se preocupe, todos repararam ele te comendo com os
olhos também.
— Eles também notaram Minthe em seus braços? — Perséfone
revirou os olhos.
— Alguém está com ciúmes. — O sorriso de Hermes tornou-se
perverso.
Ela começou a negar, mas decidiu que era bobagem até mesmo
tentar. Ela estava com ciúmes, então admitiu:
— Estou.
— Hades não está interessado em Minthe.
— Com certeza não parece assim. — ela murmurou.
— Acredite em mim. Hades se preocupa com ela, mas se ele
estivesse interessado, ele a teria feito sua rainha há muito tempo.
— O que quer dizer com isso?
. — Que se ele a amasse ele teria casado com ela. — Hermes
encolheu os ombros.
— Isso não parece com Hades. Ele não acredita no amor. —
Perséfone zombou.
— Bem, quem sou eu para dizer? Só conheço Hades há séculos
e você há alguns meses.
Perséfone franziu a testa.
Foi difícil para ela ver Hades sob qualquer outra luz além da que
sua mãe lançou sobre ele — e era feio e nada lisonjeiro. Ela tinha
que admitir, quanto mais tempo ela passava no Submundo e com
ele, mais ela estava começando a questionar quanta verdade havia
no que sua mãe havia dito, e os rumores espalhados por mortais.
— Não se preocupe, amor. Quando você estiver com ciúmes,
apenas faça questão de lembrar Hades o que ele está perdendo. —
Hermes empurrou-a com o ombro.
Ela olhou para ele e ele beijou-lhe a bochecha. O movimento a
surpreendeu, e Hermes riu, chamando de volta enquanto se
afastava, suas asas brancas arrastando no chão como uma capa
real:
— Guarde uma dança para mim!
— Hum, Hermes acabou de beijar você na bochecha? — Lexa
voltava naquele momento, ela parecia confusa.
— Sim. — Perséfone limpou a garganta.
— Você o conhece?
— Eu o conheci no Nevernight.
— E você não me contou?
— Desculpe. Eu só não pensei nisso. — Perséfone franziu a
testa.
O olhar de Lexa suavizou.
— Tudo bem. Eu sei que as coisas têm estado loucas
ultimamente.
Havia uma razão pela qual Lexa era sua melhor amiga, e era em
momentos como esse que Perséfone se sentia mais grata por ela.
Elas cortaram a multidão e voltaram para a mesa para jantar.
Eles foram servidos com uma combinação de alimentos antigos e
modernos, um aperitivo de azeitonas, uvas, figos, pão de trigo e
queijo, uma entrada de peixe, vegetais e arroz e um rico bolo de
chocolate para sobremesa.
Apesar da bela propagação, Perséfone descobriu que não estava
com tanta fome.
A conversa ao redor da mesa não faltou. O grupo falou sobre
vários tópicos, incluindo o Pentatlo e Titãs depois da escuridão, a
conversa deles foi interrompida apenas quando as palmas
começaram e Minthe cruzou o palco para subir ao pódio.
— O Senhor Hades tem a honra de revelar a instituição de
caridade deste ano, o Projeto Halcyon. — anunciou ela.
As luzes da sala diminuíram e uma tela baixou para exibir um
pequeno vídeo sobre Halcyon, um novo centro de reabilitação
especializado em atendimento gratuito para mortais. O vídeo
detalha estatísticas sobre o grande número de mortes acidentais
devido a overdoses, taxas de suicídio e outros desafios que os
mortais enfrentaram na era pós-Grande Guerra e como os olímpicos
tinham o dever de ajudar.
Eram palavras que Perséfone havia falado, uma releitura para
seu público.
O que é isto? Perséfone questionou-se. Essa era a maneira de
Hades zombar dela? Suas mãos se fecharam em punhos no colo.
Então o vídeo terminou e as luzes se acenderam. Perséfone ficou
surpresa ao ver Hades de pé no palco — sua presença arrancou
aplausos do público.
— Dias atrás, um artigo foi publicado no Jornal Nova Atenas . Foi
uma crítica contundente ao meu desempenho como deus, mas entre
aquelas palavras raivosas havia sugestões de como eu poderia ser
melhor. Não imagino que a mulher que escreveu esperasse que eu
levasse essas ideias a sério, mas, ao passar um tempo com ela,
comecei a ver as coisas do jeito dela. — Ele fez uma pausa para rir
baixinho, se lembrasse de algo que eles compartilharam, e
Perséfone estremeceu. — Nunca conheci ninguém que fosse tão
apaixonado por como eu estava errado, então segui o conselho dela
e iniciei o Projeto Halcyon. Conforme você avançar pela exposição,
tenho esperança de que Halcyon sirva como uma chama no escuro
para os perdidos.
A multidão irrompeu em aplausos, erguendo-se para honrar o
Deus. Mesmo alguns dos Divinos seguiram, incluindo Hermes.
Levou um momento para Perséfone se levantar. Ela ficou
chocada com a caridade de Hades, mas também desconfiada. Ele
estava apenas fazendo isso para reverter o dano que ela havia
causado à reputação dele? Ele estava tentando provar que ela
estava errada?
Lexa lançou um olhar perplexo para Perséfone.
— Eu sei o que você está pensando. — Perséfone disse.
— E o que eu estou pensando? — Ela arqueou uma sobrancelha.
— Ele não fez isto por mim. Ele fez isto pela reputação dele.
— Continue dizendo isso a você mesma. — Lexa sorriu. — Eu
acho que ele está apaixonado.
— Apaixonado? Você tem lido muitos romances.
Lexa caminhou em direção à exposição com os outros em sua
mesa, mas Perséfone ficou para trás, com medo de ver mais da
criação inspirada por ela. Ela não conseguia explicar a hesitação.
Talvez fosse porque ela sabia que estava em perigo de se apaixonar
por esse deus que sua mãe odiava e que a atraiu para um acordo
que ela não poderia ganhar. Talvez tenha sido porque ele a ouviu.
Talvez fosse porque ela nunca se sentiu mais atraída por outra
pessoa em sua vida curta e protegida.
Ela vagou para a exibição lentamente. O espaço foi colocado na
penumbra para que os holofotes focassem nas exposições, que
ilustravam os planos e a missão do Projeto Halcyon. Perséfone
demorou e parou no centro da sala para observar uma pequena
maquete branca do edifício. O cartão ao lado afirmava que era o
design de Hades. Não era um edifício moderno como ela esperava,
parecia uma mansão de campo, aninhada em dez acres de terra
exuberante.
Ela passou muito tempo vagando pela exposição, lendo cada
apresentação, aprendendo sobre a tecnologia que seria incorporada
às instalações. Era verdadeiramente de última geração.
Quando ela saiu, as pessoas já haviam começado a dançar. Ela
avistou Lexa com Hermes e Afrodite com Adonis. Ela estava feliz
por seu colega de trabalho não ter tentado falar com ela e mantido
distância dela no trabalho.
Demorou um pouco, mas ela percebeu que estava à procura de
Hades. Ele não estava entre os dançarinos ou os que estavam
presentes nas mesas. Ela franziu a testa e se virou para encontrar
Sybil se aproximando.
— Perséfone. — Ela sorriu, e elas abraçaram-se. — Você está
linda.
— Você também.
— O que você acha da exibição? Maravilhosa, não é?
— É. — Ela não podia negar, era tudo o que tinha imaginado e
muito mais.
— Eu sabia que grandes coisas viriam da união de vocês. —
disse ela.
— Nossa... união? — Perséfone repetiu lentamente.
— Você e Hades.
— Nós não estamos juntos...
— Talvez não ainda. Mas as suas cores estão todas
emaranhadas. Tem estado assim desde a noite em que te conheci.
— Cores?
— Seus caminhos. — Sybil disse. — Você e Hades — era
destino, tecido pelos Destinos.
Perséfone não tinha certeza do que dizer. Sybil era um oráculo,
então as palavras que saíram de sua boca eram verdadeiras, mas
será que ela estava destinada a se casar com o Deus dos Mortos?
O homem que a mãe dela odiava?
— Você está bem? — Sybil franziu a testa.
Perséfone não tinha certeza do que dizer.
— Desculpe. Eu... não deveria ter te contado. Eu achei que você
ficaria feliz.
— Eu não estou... infeliz. — Perséfone a assegurou. — Eu só...
Ela não coseguiu completar a frase. Esta noite e os últimos dias
estavam pesando sobre ela, as emoções variando e intensas. Se
ela estava destinada a ficar com Hades, isso explicava sua atração
insaciável pelo deus, e ainda assim complicava muitas outras coisas
em sua vida.
— Me dá licença? — Ela foi para o banheiro.
Uma vez lá dentro, sozinha, ela respirou fundo algumas vezes,
apoiou as mãos em cada lado da pia e se olhou no espelho. Ela
abriu a torneira, jogando água fria nas mãos, e borrifou levemente
as bochechas aquecidas, tentando não borrar a maquiagem. Ela
secou o rosto e se preparou para voltar para a pista quando ouviu
uma voz desconhecida.
— Então, você é a pequena musa de Hades? — O tom era rico,
sedutor, uma voz que atraía homens e enfeitiçava mortais. Afrodite
apareceu atrás dela, e Perséfone não tinha certeza de onde a deusa
tinha vindo, mas uma vez que ela encontrou seu olhar, ela achou
difícil se mover.
Afrodite era linda, e Perséfone teve a sensação de que ela havia
conhecido essa deusa antes, embora ela soubesse que isso era
impossível. Seus olhos eram da cor da espuma do mar e
emoldurados por cílios grossos, sua pele como creme e suas
bochechas levemente coradas. Os lábios dela eram perfeitos e
bicudos. No entanto, apesar de sua beleza, havia algo por trás de
sua expressão, algo que fez Perséfone pensar que ela estava
sozinha e triste.
Talvez o que Lexa disse fosse verdade e Hefesto não a quisesse.
— Não sei do que você está falando. — disse Perséfone.
— Oh, não seja tímida. Eu vi o jeito que você olhou para ele. Ele
sempre foi bonito. Eu costumava dizer a ele que tudo o que ele teria
que fazer era mostrar o rosto e seu reino se encheria de pessoas
dispostas e fiéis.
Isso fez com que Perséfone se sentisse um pouco nauseada. Ela
não queria discutir isto com ninguém, muito menos com Afrodite.
— Com licença. — Ela tentou passar por Afrodite, mas a deusa
impediu-a.
— Mas eu ainda não acabei de falar.
— Você entendeu mal. Eu não quero falar com você.
A Deusa da Primavera passou por Afrodite e saiu do banheiro,
pegando uma taça de champanhe de um garçom e encontrando um
local para observar os dançarinos. Ela considerou ir embora, Jaison
já havia concordado em pegar Lexa, pois ela planejava passar a
noite na casa dele.
Quando decidiu chamar o táxi, sentiu Hades se aproximar. Ela se
endireitou, preparando-se para a aproximação dele, mas não se
virou para encará-lo.
— Alguma coisa para criticar, Senhora Perséfone? — a voz dele
retumbou em sua garganta como um feitiço inebriante.
— Não. — ela sussurrou, e olhou para a sua direita. Ela ainda
não conseguia vê-lo, mesmo em sua periferia. — Há quanto tempo
você está planejando o Projeto Halcyon?
— Não muito.
— Vai ser lindo.
Ela o sentiu mais perto. Ela ficou surpresa quando os dedos dele
roçaram seu ombro, traçando a borda do aplique preto. De vez em
quando, ele tocava na pele e ela estremecia.
— Um toque de escuridão. — seus dedos rastrearam seu braço e
se enroscaram no dela. — Dance comigo.
Ela não se afastou e, em vez disso, virou-se para o encarar. Ele
nunca falhou em tirar seu fôlego, mas havia uma gentileza em seu
rosto que fez seu coração martelar em seu peito.
— Sim.
Olhos os acompanharam, curiosos e surpresos, enquanto Hades
a levava para a pista de dança. Perséfone fez o possível para
ignorar os olhares e, em vez disso, se concentrou no deus ao lado
dela. Ele era muito mais alto, muito maior, e quando ele se virou
para encará-la, ela se lembrou de como ele a tocou em sua piscina.
Seus dedos permaneceram entrelaçados com os dela enquanto a
outra mão pousava em seu quadril. Ela não tirou os olhos dele
quando ele a puxou para perto, rosnando baixo enquanto se
moviam juntos. Ele a guiou, e cada toque de seus corpos a
inflamou. Por um tempo, nenhum deles falou, e Perséfone se
perguntou se Hades achava difícil falar pelos mesmos motivos que
ela.
Provavelmente foi por isso que ela escolheu preencher o silêncio
com seu próximo comentário.
— Você deveria estar dançando com Minthe.
— Você prefere que eu dance com ela? — Os lábios de Hades se
estreitaram.
— Ela é a sua acompanhante.
— Ela não é minha acompanhante. Ela é minha assistente, como
eu já te disse.
— Sua assistente não chega de braços dados para uma festa de
gala.
Seu abraço aumentou, e ela se perguntou se ele estava
frustrado.
— Você está com ciúmes.
— Não estou com ciúmes. — ela disse, e não estava mais. Ela
estava com raiva. Ele sorriu com sua negação, e ela queria bater
nele. — Eu não serei usada, Hades.
Isso tirou o sorrido so rosto dele.
— Quando eu a usei?
Ela não respondeu.
— Responda, Deusa.
— Você dormiu com ela?
Era a única questão que importava.
Ele parou de dançar, e aqueles que dividiam a pista com eles
também pararam, observando com óbvio interesse.
— Parece que você está solicitando um jogo, Deusa.
— Você quer jogar um jogo? — ela zombou, afastando-se dele.
— Agora?
Ele não respondeu e simplesmente estendeu a mão para ela
segurar. Algumas semanas atrás, ela teria hesitado, mas esta noite
ela tomou algumas taças de vinho, sua pele estava quente e este
vestido era desconfortável.
Além disso, ela queria respostas para as suas perguntas.
Ela apertou sua mão, e quando seus dedos se fecharam sobre os
dela, ele sorriu maliciosamente antes de se teletransportar para o
Submundo.
18
UM TOQUE DE PAIXÃO
***
Perséfone encontrou Lexa e Sybil para almoçar em A Maçã
Dourada. Felizmente, com Sybil presente, Lexa não fez perguntas
sobre o beijo, embora fosse possível que Sybil já soubesse dos
detalhes. As meninas falaram sobre as provas finais, formatura, gala
e Apollo.
Tudo começou porque Lexa perguntou a Sybil:
— Então, você e Apollo, estão..?
— Namorando? Não.— Sybil disse. — Mas acho que ele espera
que eu concorde em ser sua amante.
Perséfone e Lexa trocaram um olhar.
— Espera. — disse a Lexa. — Ele pediu? Tipo... por permissão?
Sybil sorriu, e Perséfone admirou como o oráculo podia falar
sobre isso com tanta facilidade.
— Ele perguntou e eu disse não.
— Você disse a Apollo, o Deus do Sol, perfeição encarnada, não?
— Lexa parecia ligeiramente chocada. — Por quê?
— Lexa, você não pode perguntar isso! — Perséfone a
repreendeu.
Sybil apenas sorriu e disse:
— Apollzo não amará uma só pessoa e eu não desejo
compartilhar.
Perséfone entendeu por que Sybil não queria se envolver com o
deus. Apollo tinha uma longa lista de amantes que abrangiam
divinos, semidivinos e mortais e, como a lista do Deus da Luz
provou, ele nunca ficou com uma pessoa por muito tempo.
A conversa passou para fazer planos para o fim de semana e,
uma vez que decidiram onde se encontrariam para beber e dançar,
Perséfone partiu para o Mundo Inferior.
Ela regou seu jardim e foi encontrar Hécate em sua cabana. Era
uma casa pequena, aninhada em uma clareira escura e, embora
fosse charmosa, havia algo ... agourento sobre ela. Talvez fosse por
causa da coloração — o revestimento era cinza-escuro, a porta de
um roxo-escuro e a hera subia pela casa, cobrindo as janelas e o
telhado.
Lá dentro, era como se ela tivesse entrado em um jardim cheio
de flores desabrochando à noite, glicínias roxas espessas
penduradas no alto como aglomerados de estrelas em uma noite de
apagão, enquanto um tapete de nicotiana branca cobria o chão.
Uma mesa, cadeiras e cama eram feitas de madeira preta macia
que parecia ter crescido na formação de cada peça. Esferas
erguiam-se no ar e Perséfone levou um momento para reconhecer o
que realmente eram — Lâmpades, com tochas, pequenas e belas
criaturas parecidas com fadas com cabelos como a noite, enfeitados
com flores brancas e pele prateada.
Hécate não estava sentado na cama ou na mesa, mas no chão
gramado. Suas pernas estavam dobradas sob ela e seus olhos
estavam fechados. Uma vela preta acesa tremeluziu na frente dela.
— Hécate? — Perséfone chamou, batendo no batente da porta,
mas a deusa não se mexeu. Ela deu um passo mais para dentro da
sala. — Hécate?
Ainda sem resposta. Era como se ela estivesse adormecida.
Perséfone se curvou e apagou a vela, e os olhos de Hécate se
abriram. Por um momento, ela parecia positivamente perversa, seus
olhos de um preto infinito, e Perséfone de repente entendeu o tipo
de deusa que Hécate poderia se tornar se ela fosse pressionada, o
tipo de deusa que transformou Gale, a bruxa, em Gale, a doninha.
Quando ela reconheceu Perséfone, ela sorriu.
— Bem-vinda de volta, minha senhora.
— Perséfone. — ela corrigiu, e o sorriso de Hécate se alargou.
— Estou apenas experimentando. — disse ela. — Você sabe,
para quando você se tornar a senhora do Submundo.
— Você está se antecipando, Hécate. — Perséfone corou
ferozmente.
A deusa levantou uma sobrancelha e Perséfone revirou os olhos.
— O que você estava fazendo? — Perséfone perguntou.
— Apenas amaldiçoando um mortal. — Hécate respondeu quase
alegremente, agarrando a vela e se levantando. Ela a guardou e se
virou para Perséfone.
— Já regou seu jardim, querida?
— Sim.
— Vamos começar?
Ela foi rápida para começar a trabalhar, ordenando que
Perséfone se sentasse no chão. Perséfone hesitou, mas após o
encorajamento de Hécate para ver se seu toque ainda levava vida,
ela se ajoelhou no chão. Quando ela pressionou as mãos na grama,
nada aconteceu.
— Incrível. - sussurrou Perséfone.
Hécate passou a próxima meia hora conduzindo-a através de
uma meditação que deveria ajudá-la a visualizar e usar seu poder.
— Você deve praticar a invocação de sua magia. — Hécate
disse.
— Como eu faço isso?
— A magia é maleável. Quando você pedir, imagine-a como
argila, molde-a no que você deseja e então ... dê-lhe vida.
— Você faz parecer fácil. — Perséfone abanou a cabeça.
— É fácil. — Hécate disse. — Basta acreditar.
Perséfone não tinha certeza sobre isso, mas ela tentou fazer
como Hécate instruiu. Ela imaginou a vida que sentia nas glicínias
acima dela como algo que ela poderia moldar e desejou que as
plantas ficassem maiores e mais vibrantes, mas quando ela abriu os
olhos, nada havia mudado.
Hécate deve ter notado sua decepção, porque ela colocou a mão
no ombro de Perséfone.
— Vai levar tempo, mas você vai dominar isso.
Perséfone sorriu para a deusa, mas murchou por dentro. Ela não
tinha escolha a não ser dominar isso se ela fosse cumprir seu
contrato com Hades, porque, por mais que gostasse do Rei do
Submundo, ela não tinha nenhum desejo de ser uma prisioneira de
seu reino.
— Perséfone?
— Sim?
Ela piscou, olhando para Hécate, que sorriu.
— Pensando no nosso Rei?
— Todo mundo sabe, não? — Perséfone desviou o olhar.
— Bem, ele carregou você através do palácio até o quarto dele.
Ela olhou para a grama. Ela não pretendia ter essa conversa e,
embora doesse falar as palavras, ela disse:
— Não tenho certeza se deveria ter acontecido.
— Por que não?
— Por muitos motivos, Hécate.
A deusa esperou.
— O contrato, por exemplo. — Perséfone explicou. — E minha
mãe nunca vai me deixar sair de sua vista novamente se ela
descobrir. — Perséfone fez uma pausa. — E se ela conseguir ver
quando olhar para mim? E se ela souber que não sou a deusa
virginal que ela sempre quis?
— Nenhum deus tem o poder de determinar se você é virgem. —
Hécate riu.
— Não um deus, mas uma mãe.
— Você se arrepende de ter dormido com Hades? Esquece sua
mãe e o contrato — você se arrepende? — Hécate franziu a testa.
— Não. Eu nunca poderia me arrepender dele.
— Minha querida, você está em guerra com você mesma. Isso
criou escuridão dentro de você.
— Escuridão?
— Raiva, medo, ressentimento. — disse Hécate. — Se você não
se libertar primeiro, ninguém mais pode.
Perséfone sabia que a escuridão sempre existiu dentro dela, e se
aprofundou nos últimos meses, subindo à superfície quando ela se
sentia desafiada ou com raiva. Ela pensou em como ela ameaçou
aquela ninfa na cafeteria, como ela ralhou com sua mãe, como ela
tinha ciúmes de Minthe.
Sua mãe poderia alegar que o mundo mortal tinha feito isso com
ela, transformou a escuridão em algo tangível, entretanto, Perséfone
sabia que era o contrário. Sempre esteve lá, uma semente escura,
alimentando seus sonhos e suas paixões, e Hades a despertou,
encantou e alimentou.
Deixe-me arrancar a escuridão de você, vou te ajudar a moldá-
la.
E ela o deixou.
— Quando você sentiu a vida pela primeira vez? — Hécate
perguntou, curiosa.
— Depois que Hades e eu... — ela não precisou terminar a frase.
— Hmm. — A Deusa da Magia deu um tapinha em seu queixo. —
Eu acho que, talvez, o Deus dos Mortos tenha criado vida dentro de
você.
22
O BAILE DE ASCENSÃO
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AGRADECIMENTOS