Boletim Dir Privado Ago 2021
Boletim Dir Privado Ago 2021
Boletim Dir Privado Ago 2021
TJSP
1ª a 10ª Câmaras
condomínio edilício - Pagamento com ser obrigação dos condôminos - Artigo 1.336, I, do
Código Civil - Serviços prestados em benefício da coletividade - Quitação realizada por
certo tempo e interrompida - Violação da boa-fé que preside o pacto - Vedação do
enriquecimento ilícito - Demanda parcialmente procedente - Sentença reformada -
Recurso em parte provido. (Apelação Cível n. 1001954-03.2018.8.26.0271 - Itapevi - 2ª
Câmara de Direito Privado - Relator: Luiz Beethoven Giffoni Ferreira - 13/08/2021 -
33300 - Unânime)
aplicação da carência de 24 (vinte e quatro) horas do artigo 12, V, "c", da Lei Federal nº
9.656/98 - Limitação temporal da cobertura às 12 (doze) primeiras horas, estabelecida no
artigo 2º da Resolução nº 13/1998 do CONSU, inaplicável diante das disposições legais -
Cobertura devida e já reconhecida em ação anterior - Recusa de cobertura que agravou
momento delicado da vida do paciente - Indenização devida - Montante que deve ser
reduzido para se adequar ao caráter punitivo e compensatório da medida - Recurso
provido em parte. (Apelação Cível n. 1021778-74.2020.8.26.0562 - Santos - 7ª Câmara
de Direito Privado - Relator: Mary Grun - 18/08/2021 - 24629 - Unânime)
haveria, portanto, que o Banco fazer no que tange à outorga de escritura em favor dos
autores/compradores, cujo objetivo na ação dependia exclusivamente de providência a
ser tomada pelos corréus/vendedores - Sentença reformada - Recurso provido.
(Apelação Cível n. 1011438-68.2016.8.26.0576 - São José do Rio Preto - 9ª Câmara
de Direito Privado - Relator: Walter Piva Rodrigues - 16/08/2021 - 40860 - Unânime)
Paulo - 12ª Câmara de Direito Privado - Relator: Tasso Duarte de Melo - 11/08/2021 -
34369 - Unânime)
grafotécnica - Alegação de que a assinatura aposta no contrato não lhe pertence - fatos
controvertidos sendo necessária a dilação probatória - Necessidade de observância aos
princípios do contraditório e ampla defesa - Imprescindibilidade da realização de prova
pericial judicial grafotécnica - Ônus da prova - Tratando-se de contestação de assinatura,
o ônus da prova da sua veracidade incumbe à parte que produziu o documento - Artigo
429, I do Código de Processo Civil - Precedente - Cerceamento de defesa acolhido -
Sentença anulada com a remessa dos autos à vara de origem para a realização de
instrução probatória - Recurso provido, com observação. (Apelação Cível n. 1001455-
25.2020.8.26.0311 - Junqueirópolis - 15ª Câmara de Direito Privado - Relator: Achile
Mario Alesina Junior - 10/08/2021 - 21775 - Unânime)
pagamento do aluguel sem reajuste anual e sem multa moratória - Configuração de nítida
e tácita alteração do contrato e renúncia à eventual diferença - Real intenção dos
contratantes que interessa mais do que o sentido literal da linguagem escrita - Cláusula
de exclusão de novação ou renúncia que não importa, bem como regras que, depois do
contrato, foram introduzidas por lei - Exceção feita aos aluguéis dos últimos três meses,
em que não subsistia a aceitação dos locadores, incidindo o reajuste e a multa moratória,
abatendo-se em compensação despesas de fundo de obra, custeio de reparo de muro do
condomínio, e encargos dos locadores, aos quais houve comunicação - Execução que
prossegue pela diferença - Acolhimento parcial dos embargos. (Apelação Cível n.
1021604-96.2020.8.26.0002 - São Paulo - 28ª Câmara de Direito Privado - Relator:
Celso José Pimentel - 06/08/2021 - 44683 - Unânime)
locação comercial - Texto expresso de Lei que não distingue entre locação comercial e
residencial para fins de desoneração do fiador para responder com seus bens, ainda que
se trate de bem de família - Recurso Extraordinário n. 605.709/SP não transitado em
julgado e que foi processado sem repercussão geral - Inteligência do artigo 3º, VII, da Lei
Federal n. 8009/90 - Precedente do Superior Tribunal de Justiça - Decisão agravada
mantida. (Agravo de Instrumento n. 2147760-84.2021.8.26.0000 - São Bernardo do
Campo - 34ª Câmara de Direito Privado - Relator: Maria Cristina Zucchi - 06/08/2021 -
34373 - Unânime)
minimizariam os prejuízos sofridos pelo aluno - Exercício regular de direito - Conduta lícita
- Incidência do artigo 188, I, do Código Civil - Precedentes do Superior Tribunal de Justiça
e do Tribunal de Justiça de São Paulo - Sentença reformada - Recurso da ré provido -
Recurso do autor prejudicado. (Apelação Cível n. 1013294-56.2020.8.26.0114 -
Campinas - 35ª Câmara de Direito Privado - Relator: Gilson Delgado Miranda -
02/08/2021 - 22585 - Unânime)
Responsabilidade das requeridas configurada - Ato ilícito que ocorreu com o protesto
mesmo após regular quitação - Caso concreto em que a ré admite que por conta de
problemas operacionais, acabou emitindo, equivocadamente, um boleto manual para o
Banco Bradesco (o qual foi devidamente pago pelo autor) - Não há nos autos prova de
que o Banco Safra (que fez o apontamento) foi avisado de tal circunstância - Dano moral -
Responsabilidade configurada - Caracterização do ilícito - Indenização devida - Dano "in
re ipsa" pelo protesto indevido - Parcial procedência da demanda mantida - Ratificação
parcial do julgado, nos termos do artigo 252 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça
de São Paulo - Possibilidade - Recurso do autor - Dano moral - Quantia reparatória fixada
em R$ 5.000,00 (cinco mil reais) - Pleito de majoração - Acolhimento - Dano moral que
deve ser suficiente a reparar os prejuízos sofridos e desestimular a reiteração da conduta
ilícita por parte das rés - Aumento para R$ 12.000,00 (dez mil reais) - Sentença reformada
nesse ponto - Juros de mora - Pedido para que incida a partir do protesto indevido -
Impossibilidade - Responsabilidade contratual - Marco de incidência - Data da citação -
Sentença mantida nesse ponto - Recurso das rés não provido, e recurso do autor
parcialmente provido. (Apelação Cível n. 1018990-52.2019.8.26.0003 - São Paulo - 38ª
Câmara de Direito Privado - Relator: Spencer Almeida Ferreira - 02/08/2021 - 28155 -
Não consta)
para fixação de sua responsabilidade pelo passivo e apuração do ativo em seu favor -
Apelação provida para esse fim. (Apelação Cível n. 1003062-80.2019.8.26.0223 -
Guarujá - 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial - Relator: Ricardo José
Negrão Nogueira - 10/08/2021 - 41935 - Unânime)
autos que se subsume à simulação (artigo 167, do Código Civil), por conter declaração
não verdadeira - Autora apelada que era funcionária dos réus na época da constituição da
empresa - Documentos da autora que foram utilizados indevidamente pelos réus para a
constituição da sociedade, sem sua anuência, o que acarreta a nulidade do contrato
social e a consequente exclusão de seu nome do quadro societário, já que nunca
manifestou vontade de constituir sociedade - Pedido de indenização por danos materiais
devidamente embasado no bloqueio de R$ 698,13 (seiscentos e noventa e oito reais e
treze centavos) em conta da apelada, decorrente de reclamação trabalhista na qual
figurou como reclamada por ser supostamente sócia da empresa - Dano moral
inquestionável - Apelada depara com a surpresa de constar como sócia de empresa da
qual não quis participar, tendo que enfrentar diversos transtornos para solucionar o
problema, situação que ultrapassa mero aborrecimento - Indenização devida e fixada em
R$ 10.000,00 (dez mil reais) - Razoabilidade - Recurso improvido. (Apelação Cível n.
1011727-22.2017.8.26.0008 - São Paulo - 2ª Câmara Reservada de Direito
Empresarial - Relator: Sérgio Seiji Shimura - 02/08/2021 - 27714 - Unânime)
STJ
Informativo nº 0703
Publicação: 9 de agosto de 2021.
RECURSOS REPETITIVOS
Sobre o tema, vale dizer que a presunção de veracidade seria insuficiente para compelir a
parte a atender à ordem de exibição, pois entre o mero risco de sucumbência (no caso de
recusa de exibição) e a certeza da derrota (no caso de exibição do documento essencial
para o desfecho do litígio), a parte tenderia a assumir a primeira postura, recusando-se a
exibir o documento pretendido.
Por outro lado, o direito de não produzir prova contra si mesmo se restringe à não
autoincriminação em matéria penal, prevalecendo no âmbito do direito privado garantia da
ampla defesa conjugada com o dever de cooperação das partes com a instrução
probatória.
Ainda, vale destacar que não se trata de silêncio eloquente do artigo 400, mas sim de
excesso de zelo do legislador no artigo 403 ao ressaltar a possibilidade de incidência de
multa em desfavor de um terceiro estranho à relação processual, já que, em relação às
partes, a aplicação dessa medida coercitiva é natural.
Por fim, não se justifica a impossibilidade de aplicação das astreintes sob o fundamento
de que haveria estímulo ao enriquecimento sem causa, pois, se a recusa da parte em
exibir o documento for reputada ilegítima (art. 399 do CPC), basta a sua apresentação
para que a multa não incida.
Com efeito, firma-se a tese do recurso repetitivo para que, desde que prováveis a
existência da relação jurídica entre as partes e de documento ou coisa que se pretende
seja exibido, apurada mediante contraditório prévio, poderá o juiz, após tentativa de busca
e apreensão ou outra medida coercitiva, determinar sua exibição sob pena de multa, com
base no art. 400, parágrafo único, do CPC/2015.
REsp 1.777.553-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por
unanimidade, julgado em 26/05/2021, DJe 01/07/2021. (Tema 1000)
TERCEIRA TURMA
Nesse passo, cabe asseverar não ser ilegal a recusa de operadoras de planos de saúde
de comercializarem planos individuais por atuarem apenas no segmento de planos
coletivos. De fato, não há nenhuma norma legal que as obrigue a atuar em determinado
ramo de plano de saúde.
No caso, o ato da operadora de resilir o contrato coletivo não foi discriminatório, ou seja,
não foi pelo fato de a autora ser idosa ou em virtude de suas características pessoais. Ao
contrário, o plano foi extinto para todos os beneficiários, de todas as idades, não havendo
falar em arbitrariedade, abusividade ou má-fé.
Ademais, a situação de usuário sob tratamento médico que deve ser amparado
temporariamente, pela operadora, até a respectiva alta em caso de extinção do plano
coletivo não equivale à situação do idoso que está com a saúde hígida, o qual pode ser
reabsorvido por outro plano de saúde (individual ou coletivo) sem carências, oferecido por
empresa diversa.
Por outro lado, a operadora também não pode ser compelida a criar um produto único e
exclusivo para apenas uma pessoa, (REsp 1.119.370/PE, Rel. Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, DJe 17/12/2010, e REsp 1.736.898/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, DJe 20/09/2019).
É dizer, o art. 31 da Lei n. 9.656/1998 não pode ser aplicado, no ponto, por analogia, e até
iria de encontro ao princípio da proporcionalidade, não passando pelos critérios da
adequação, da necessidade e da proporcionalidade em sentido estrito.
Aliás, a função social do contrato não pode ser usada para esvaziar por completo o
conteúdo da função econômica do contrato. Um cenário de insolvência de operadoras de
plano de saúde e de colapso do setor da Saúde Suplementar é que não seria capaz de
densificar o princípio da dignidade da pessoa humana.
REsp 1.924.526-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, Terceira Turma, por maioria, julgado em 22/06/2021, DJe 03/08/2021.
A interpretação literal das regras contidas do art. 186, caput, § 2º e § 3º, do CPC/2015,
autoriza a conclusão no sentido de que apenas a prerrogativa de cômputo em dobro dos
prazos prevista no caput seria extensível ao defensor dativo, mas não a prerrogativa de
requerer a intimação pessoal da parte assistida quando o ato processual depender de
providência ou informação que somente por ela possa ser realizada ou prestada.
Esse conjunto de regras, todavia, deve ser interpretado de modo sistemático e à luz de
sua finalidade, a fim de se averiguar se há razão jurídica plausível para que se trate a
Defensoria Pública e o defensor dativo de maneira anti-isonômica nesse particular.
Dado que o defensor dativo atua em locais em que não há Defensoria Pública instalada,
cumprindo o quase altruísta papel de garantir efetivo e amplo acesso à justiça àqueles
mais necessitados, é correto afirmar que as mesmas dificuldades de comunicação e de
obtenção de informações, dados e documentos, experimentadas pela Defensoria Pública
e que justificaram a criação do art. 186, §2º, do CPC/2015, são igualmente frequentes em
relação ao defensor dativo.
RMS 64.894-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado
em 03/08/2021, DJe de 9/8/2021.
Não incide a multa prevista no art. 523, § 1º, do CPC/2015 sobre o crédito sujeito ao
processo de recuperação judicial, decorrente de ação que demandava quantia
ilíquida.
Nos termos do art. 49, caput, da Lei n. 11.101/2005, estão sujeitos à recuperação judicial
todos os créditos existentes na data do pedido (ainda que não vencidos), sendo certo que
a aferição da existência ou não do crédito deve levar em consideração a data da
ocorrência de seu fato gerador (fonte da obrigação).
Por outro lado, e como é cediço, o art. 59, caput, da LFRE, prevê que o plano de
recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido e obriga o devedor
e todos os credores a ele sujeitos.
Nesse contexto, não se pode considerar que a causa que dá ensejo à aplicação da
penalidade prevista no § 1º do art. 523 do CPC/2015 - recusa voluntária ao adimplemento
da obrigação constante de título executivo judicial - tenha se perfectibilizado na hipótese.
Vale dizer, não há como fazer incidir à espécie a multa estipulada no dispositivo legal
precitado, uma vez que o pagamento do valor da condenação - por decorrência direta da
sistemática prevista na Lei n. 11.101/2005 - não era obrigação passível de ser exigida nos
termos da regra geral da codificação processual.
REsp 1.937.516-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade,
julgado em 03/08/2021, DJe 09/08/2021.
O crédito fiscal não tributário não se submete aos efeitos do plano de recuperação
judicial.
Nos termos do art. 49, caput, da Lei n. 11.101/2005, estão sujeitos à recuperação judicial
do devedor todos os créditos existentes na data do pedido (ainda que não vencidos),
sendo certo que a aferição da existência ou não do crédito deve levar em consideração a
data da ocorrência de seu fato gerador (fonte da obrigação).
O art. 187, caput, do Código Tributário Nacional exclui os créditos de natureza tributária
dos efeitos da recuperação judicial do devedor, nada dispondo, contudo, acerca dos
créditos de natureza não tributária.
A Lei n. 11.101/2005, ao se referir a "execuções fiscais" (art. 6º, § 7º-B), está tratando do
instrumento processual que o ordenamento jurídico disponibiliza aos respectivos titulares
para cobrança dos créditos públicos, independentemente de sua natureza, conforme
disposto no art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei n. 6.830/1980.
Desse modo, se, por um lado, o art. 187 do CTN estabelece que os créditos tributários
não se sujeitam ao processo de soerguimento - silenciando quanto aqueles de natureza
não tributária -, por outro lado verifica-se que o próprio diploma recuperacional e
falimentar não estabeleceu distinção entre a natureza dos créditos que deram ensejo ao
ajuizamento do executivo fiscal para afastá-los dos efeitos do processo de soerguimento.
Tampouco a Lei n. 6.830/1980, em seus artigos 5º e 29, faz distinção entre créditos
tributários e não tributários, estabelecendo apenas, em sentido amplo, que a "cobrança
judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública não é sujeita a concurso de credores ou
habilitação em falência, concordata, liquidação, inventário ou arrolamento".
Assim, em que pese a dicção aparentemente restritiva da norma do caput do art. 187 do
CTN, a interpretação conjugada das demais disposições que regem a cobrança dos
créditos da Fazenda Pública insertas na Lei de Execução Fiscal, bem como daquelas
integrantes da própria Lei n. 11.101/2005 e da Lei n. 10.522/2002, autorizam a conclusão
de que, para fins de não sujeição aos efeitos do plano de recuperação judicial, a natureza
tributária ou não tributária do valor devido é irrelevante.
REsp 1.931.633-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade,
julgado em 03/08/2021.
QUARTA TURMA
A Lei n. 11.101/2005, nos arts. 49, §§ 1º e 3º, e 50, § 1º, é expressa ao dispor que a
alienação de bem objeto de garantia real, a supressão de garantia ou sua substituição
somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva
garantia.
É de se notar, porém, que o art. 49, § 2º estatui que "as obrigações anteriores à
recuperação judicial observarão as condições originalmente contratadas ou definidas em
lei, inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se de modo diverso ficar
estabelecido no plano de recuperação judicial".
Todavia, essa parte final da norma há de ser interpretada em harmonia com a regra do já
citado artigo 50, § 1º a qual, seguindo o critério da especialidade, trata de modo
específico e inequívoco acerca da subordinação da deliberação assemblear de supressão
ou substituição da garantia à concordância expressa do credor titular da respectiva
garantia.
Ao contrário, o desprestígio das garantias será danoso para toda a atividade econômica
do país, trazendo insegurança jurídica e econômica, com a elevação dos juros e do
spread bancário, especialmente para aqueles submetidos justamente ao regime de
recuperação judicial.
A novidade, sob esse ângulo, consagra forte marco teórico-filosófico da percepção de que
o afã pela supressão de garantias nos processos de recuperação judicial é sintoma da
crônica carência de financiamento da atividade econômica nacional, que apenas se
agudiza com o pedido de recuperação judicial e a fragilização das garantias dos credores.
Na mesma esteira, outra essencial inovação foi inserida na Lei n. 11.101/2005, pela Lei n.
14.112/2020, com os arts. 69-A e seguintes. Trata-se do instituto, de comum aplicação no
direito estadunidense, do "Dip (debtor-in-possession) Finance", o que revela a hercúlea
preocupação do legislador com a continuidade do fluxo de caixa e de novos
financiamentos (Fresh Money) para a recuperação judicial.
Assim, o Dip Finance permite que o juiz, eventualmente, depois de ouvir o comitê de
credores, caso constituído, autorize a contratação de novos financiamentos pela
recuperanda, que sejam garantidos pela oneração ou pela alienação fiduciária de bens e
direitos, próprios (pertencentes ao ativo não circulante do devedor) ou de terceiros, desde
que o "dinheiro novo" (Fresh Money) seja utilizado para financiar as atividades e as
despesas de reestruturação ou de preservação do valor de ativos da recuperanda.
Desse modo, pode-se concluir que a manutenção das garantias reais e fidejussórias em
favor do credor dissidente é pilar da economia de mercado, assentada na ponderação de
oportunidade e risco feita pelo financiador da atividade produtiva, seja na época de
fartura, seja em momento de dificuldade. Outrossim, os institutos do Dip Finance e do
Credor Parceiro são a viga mestra (chão da fábrica) da recuperação judicial, sem quebra
das garantias dos investidores e sem abalo do mercado de crédito.
REsp 1.828.248-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Raul Araújo,
Quarta Turma, por maioria, julgado em 05/08/2021.
Quanto ao mérito do recurso, parece mesmo incorreta a invocação, pela Corte local, da
coisa julgada material, pois sentença que se limita a homologar transação constitui mero
juízo de delibação, nem sequer sendo, pois, sujeita à impugnação em ação rescisória.
De todo modo, isso não tem o condão de alterar o decidido, pois, malgrado não se possa
falar em coisa julgada material, segundo a doutrina "o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada podem ser reconduzidos ao conceito de direito adquirido, que abrange os outros
dois institutos".
Nessa linha de intelecção, é de todo oportuno salientar que a associação ajuizou uma
nova ação condenatória referente à restituição de pecúlio, malgrado apenas mediante
ação anulatória, embasada no artigo 486 do CPC/1973 (diploma aplicável ao caso), é que
se poderia cogitar a desconstituição do acordo homologado por sentença. Vale conferir a
redação: "[O]s atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for
meramente homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos
termos da lei civil".
É que o art. 966, § 4º, do CPC/2015 também dispõe que os atos de disposição de direitos,
praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo juízo,
bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à
anulação, nos termos da lei.
REsp 1.418.771-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por unanimidade,
julgado em 03/08/2021.
A regra geral da impenhorabilidade dos vencimentos, dos subsídios, dos soldos, dos
salários, das remunerações, dos proventos de aposentadoria, das pensões, dos pecúlios
e dos montepios, bem como das quantias recebidas por liberalidade de terceiro e
destinadas ao sustento do devedor e de sua família, dos ganhos de trabalhador autônomo
e dos honorários de profissional liberal poderá ser excepcionada, nos termos do art. 833,
IV, c/c o § 2°, do CPC/2015, quando se voltar: I) para o pagamento de prestação
alimentícia, de qualquer origem, independentemente do valor da verba remuneratória
recebida; e II) para o pagamento de qualquer outra dívida não alimentar, quando os
valores recebidos pelo executado forem superiores a 50 salários mínimos mensais,
ressalvadas eventuais particularidades do caso concreto. Em qualquer circunstância,
deverá ser preservado percentual capaz de dar guarida à dignidade do devedor e de sua
família.
As dívidas comuns não podem gozar do mesmo status diferenciado da dívida alimentar a
permitir a penhora indiscriminada das verbas remuneratórias, sob pena de se afastarem
os ditames e a própria ratio legis do Código de Processo Civil (art. 833, IV, c/c o § 2°),
sem que tenha havido a revogação do dispositivo de lei ou a declaração de sua
inconstitucionalidade.
No caso, trata-se de execução de dívida não alimentar (cédula de crédito) proposta por
instituição financeira cuja penhora, via Bacenjud, recaiu sobre verba salarial e de verba
oriunda do auxílio emergencial concedido pelo Governo Federal em razão da COVID-19,
tendo o Juízo determinado a restituição dos valores em razão de sua impenhorabilidade.
Assim, tendo-se em conta que se trata de auxílio assistencial, que a dívida não é
alimentar e que os valores são de pequena monta, seja com fundamento no art. 833, IV e
X do CPC, seja pelo disposto no art. 2º, § 3º, da Lei n. 13.982/2020, a penhora realmente
deve ser obstada.
REsp 1.935.102-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por unanimidade,
julgado em 29/06/2021.
A controvérsia diz respeito aos "limites da análise" a ser efetuada pela agência reguladora
para fins da anuência prévia imposta pelo artigo 229-C da Lei de Propriedade Industrial,
ou seja: deve ficar adstrita a certificar se os produtos ou os processos farmacêuticos -
objetos do pedido de patente - apresentam ou não potencial risco à saúde ou lhe é
permitido adentrar os requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e
aplicação industrial -, cuja análise técnica, em linha de princípio, compete ao INPI.
Assim, conquanto não se possa descurar das atribuições legais do INPI - principalmente a
execução, no âmbito nacional, de normas que regulam a propriedade industrial, tendo em
vista a sua função social, econômica, jurídica e técnica -, em relação às patentes de
fármacos, não há falar em invasão institucional por parte da Anvisa, quando a recusa da
anuência prévia estiver fundamentada em qualquer critério demonstrativo do impacto
prejudicial da concessão do privilégio às políticas de saúde pública, que abrangem a
garantia de acesso universal à assistência farmacêutica integral.
Isso porque a diferença das perspectivas de análise das referidas autarquias federais
sobre o pedido de outorga de patente farmacêutica afasta qualquer conflito de atribuições.
Com efeito, é certo que o INPI, vinculado atualmente ao Ministério da Economia, tem por
objetivo garantir a proteção eficiente da propriedade industrial e, nesse mister, parte de
critérios fundamentalmente técnicos, amparados em toda a sua expertise na área, para
avaliar os pedidos de patente, cujo ato de concessão consubstancia ato administrativo de
discricionariedade vinculada aos parâmetros abstratos e tecnológicos constantes da lei de
regência e de seus normativos internos.
A tese ora proposta, portanto, decorre da interpretação sistemática das normas contidas
no inciso I do artigo 18 da Lei de Propriedade industrial - proibição de outorga de patentes
a invenções contrárias à saúde pública - e nas Leis n. 9.782/1999 e 10.742/2003, que
delineiam as funções institucionais e as competências expressamente atribuídas à Anvisa
no sentido de resguardar a viabilidade das políticas de saúde consideradas "de relevância
pública" pela Constituição de 1988.
Em acréscimo, ressalta-se que, à luz da norma legal analisada (artigo 229-C da Lei n.
9.279/1996), a exigência de anuência prévia da Anvisa constitui pressuposto de validade
da concessão de patente de produto ou processo farmacêutico - o que, por óbvio, decorre
da extrema relevância dos medicamentos para a garantia do acesso universal à
assistência integral à saúde -, não podendo, assim, o parecer negativo, em casos nos
quais demonstrada a contrariedade às políticas de saúde pública, ser adotado apenas
como subsídio à tomada de decisão do INPI. O caráter vinculativo da recusa de anuência
é, portanto, indubitável.
REsp 1.543.826-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por maioria,
julgado em 05/08/2021.
Informativo nº 0704
Publicação: 16 de agosto de 2021.
TERCEIRA TURMA
O fato de o devedor de alimentos estar recolhido à prisão pela prática de crime não
afasta a sua obrigação alimentar, tendo em vista a possibilidade de desempenho de
atividade remunerada na prisão ou fora dela a depender do regime prisional do
cumprimento da pena.
direito regulamentado pela Lei n. 8.213/1991, o que pode ser aferido com o
encaminhamento de ofícios a cartórios, à unidade prisional e ao INSS.
REsp 1.882.798-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por
unanimidade, julgado em 10/08/2021.
QUARTA TURMA
A cláusula resolutiva expressa, como o nome sugere, constitui-se uma cláusula efetiva e
expressamente estipulada pelas partes, seja no momento da celebração do negócio
jurídico, ou em oportunidade posterior (via aditivo contratual), porém, sempre antes da
verificação da situação de inadimplência nela prevista, que constitui o suporte fático para
a resolução do ajuste firmado.
Neste ponto, ressalte-se que inobstante a previsão legal (art. 474 do Código Civil) que
dispensa as partes da ida ao Judiciário quando existente a cláusula resolutiva expressa
por se operar de pleno direito, esta Corte Superior, ao interpretar a norma aludida,
delineou a sua jurisprudência, até então, no sentido de ser "imprescindível a prévia
manifestação judicial na hipótese de rescisão de compromisso de compra e venda de
imóvel para que seja consumada a resolução do contrato, ainda que existente cláusula
resolutória expressa, diante da necessidade de observância do princípio da boa-fé
objetiva a nortear os contratos" (REsp 620.787/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão,
Quarta Turma, DJe 27.04.2009).
Desse modo, caso aplicada a jurisprudência sedimentada nesta Corte Superior, sem uma
análise categórica dos institutos a ela relacionados e das condições sobre as quais
ancorada a compreensão do STJ acerca da questão envolvendo a reintegração de posse
e a rescisão de contrato com cláusula resolutória expressa, sobressairia a falta de
interesse de agir da autora (na modalidade inadequação da via eleita), por advir a posse
do imóvel da celebração do compromisso de compra e venda cuja rescisão supostamente
deveria ter sido pleiteada em juízo próprio.
Entende-se, todavia, que casos como o presente reclamam solução distinta, mais
condizente com as expectativas da sociedade hodierna, voltadas à mínima intervenção
estatal no mercado e nas relações particulares, com foco na desjudicialização,
simplificação de formas e ritos e, portanto, na primazia da autonomia privada.
Não se nega a existência de casos nos quais, em razão de outros institutos, esteja a parte
credora impedida de pôr fim à relação negocial, como, por exemplo, quando evidenciado
o adimplemento substancial. Porém, essas hipóteses não podem transformar a
excepcionalidade em regra, principalmente caso as partes estipulem cláusula resolutiva
expressa e o credor demonstre os requisitos para a comprovação da mora, aguarde a
apresentação de justificativa plausível pelo inadimplemento ou a purga e comunique a
intenção de desfazimento do ajuste, informação que pode constar da própria notificação.
Ressalte-se que a notificação deve conter o valor do crédito em aberto, o cálculo dos
encargos contratuais cobrados, o prazo e local de pagamento e, principalmente, a
explícita advertência de que a não purgação da mora no prazo acarretará a gravíssima
consequência da extinção do contrato por resolução, fazendo nascer uma nova relação
entre as partes - de liquidação.
Dito isso, afirma-se que a alteração jurisprudencial é necessária para tornar prescindível o
intento de demanda/ação judicial nas hipóteses em que existir cláusula resolutória
expressa e tenha a parte cumprido os requisitos para a resolução da avença.
Frise-se que impor à parte prejudicada o ajuizamento de demanda judicial para obter a
resolução do contrato quando esse estabelece em seu favor a garantia de cláusula
resolutória expressa, é impingir-lhe ônus demasiado e obrigação contrária ao texto
expresso da lei, desprestigiando o princípio da autonomia da vontade, da não intervenção
do Estado nas relações negociais, criando obrigação que refoge à verdadeira intenção
legislativa.
REsp 1.789.863-MS, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, por maioria, julgado em
10/08/2021.
A questão jurídica submetida a exame diz respeito à legitimidade ativa de locatário para
ajuizar ação contra o condomínio, no intuito de questionar o descumprimento de regra
estatutária, a ausência de prestação de contas e a administração de estabelecimento
comercial, cujo reconhecimento resultaria na necessidade de adequações de cota
condominial e recomposição de prejuízos financeiros.
Vale anotar que os locatários podem pedir contas ao locador, não diretamente ao
condomínio, conforme previsto no art. 23, § 2º, da Lei n. 8.245/1991. Desse modo, se a
má administração do condomínio tornou onerosa a relação contratual locatícia, cabe ao
inquilino buscar providência frente ao proprietário do imóvel.
Conclui-se, em suma, que o locatário não possui legitimidade para ajuizar ação contra o
condomínio para questionar a forma pela qual a coisa comum é gerida.
REsp 1.630.199-RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por
unanimidade, julgado em 05/08/2021.
REsp 1.331.719-SP - Penhora de bem imóvel por termo nos autos. Necessidade de
intimação pessoal do devedor assistido pela Defensoria Pública. Múnus público.
Constituição de poderes gerais para o foro. Ato de natureza material que demanda
ação positiva pessoal do assistido. Súmula n. 319/STJ.
Nessa senda, imperioso pontuar a distinção existente entre o defensor constituído pela
parte e o Defensor Público, atuando em razão de múnus público legalmente atribuído, em
que não há escolha ou relação prévia de confiança entre assistido e representante.
Ademais, percebe-se que o legislador fez clara distinção entre os atos puramente
processuais e aqueles materiais, que demandam ação positiva pessoal do assistido.
Pertinente, ainda, apontar que, segundo o art. 666, §3º do CPC/73, "a prisão do
depositário infiel será decretada no próprio processo, independentemente de ação de
depósito". No CPC/15, dispõe o artigo 161, parágrafo único, que "o depositário infiel
responde civilmente pelos prejuízos causados, sem prejuízo de sua responsabilidade
penal e da imposição de sanção por ato atentatório à dignidade da justiça
Dessa forma, a constituição do devedor como depositário do bem penhorado não pode
ser considerada, sob qualquer aspecto, como ato de natureza puramente processual,
justamente em razão das consequências civis e penais que o descumprimento do mister
pode acarretar. Entendimento diverso implicaria a atribuição ao Defensor Público de
responsabilidade desproporcional pelo cumprimento e respeito do comando judicial por
parte do assistido que, muitas das vezes, sequer mantém ou atualiza o contato junto à
instituição.
Assim sendo, apesar de o antigo CPC/1973 não prever de forma expressa a necessidade
de intimação pessoal da parte quando assistida pela Defensoria Pública, o que pode ser
justificado também em razão de o citado órgão ter adquirido estatura constitucional
somente quando da promulgação da Constituição Federal de 1988, e a Defensoria ter
sido dotada de autonomia funcional e administrativa apenas por força da EC 45/2004, o
novo CPC, atento às necessidades verificadas na prática forense e às críticas
acadêmicas, foi explícito em diversos artigos a respeito da obrigatoriedade de intimação
pessoal do devedor representado pela Defensoria Pública.
REsp 1.331.719-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel. Acd. Min. Maria Isabel
Gallotti, Quarta Turma, por maioria, DJ 03/08/2021.
Informativo nº 0705
Publicação: 23 de agosto de 2021.
TERCEIRA TURMA
A doutrina descreve que o quórum ampliado será composto, pelo menos, por 3 (três)
membros do órgão colegiado mais - no mínimo - 2 (dois) julgadores convocados segundo
as regras do regimento interno do tribunal.
Isso porque a técnica do julgamento tem como intenção privilegiar, sobretudo, o debate
ampliado de ideias, com o reforço do "contraditório, assegurando às partes o direito de
influência para que possam ter a chance de participar do convencimento dos julgadores
que ainda não conhecem o caso".
Diante dessa característica, mostra-se de todo insuficiente reduzir a aludida técnica a uma
mera busca pela maioria de votos, como concebido pelo acórdão recorrido. Com tal
postura, a Corte estadual desatende a proposta de ampliação dos debates em sua
inteireza, bem como torna ineficaz o disposto no § 2º do art. 942 do CPC/2015 que
autorizou expressamente que "os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus
votos por ocasião do prosseguimento do julgamento".
Com base nessa previsão legal, aliás, não é possível presumir, como feito pela Corte de
origem, que o quinto julgador não teria nenhuma influência sobre o resultado final do
acórdão. Tal equivocada conclusão contraria frontalmente a proposta da técnica
ampliada.
Por esses motivos, não é possível admitir a dispensa do quinto julgador, integrante
necessário da composição do quórum ampliado do art. 942 do Código de Processo Civil
de 2015, sob o argumento de que, com o voto do quarto desembargador, já teria sido
atingida a maioria sem possibilidade de inversão do resultado.
REsp 1.890.473-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por
unanimidade, julgado em 17/08/2021, DJe 20/08/2021.
REsp 1.874.256-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade,
julgado em 17/08/2021, DJe 19/08/2021.
QUARTA TURMA
O fato de ter sido concedida a gestão da herança a terceiro não implica restrição do
exercício do poder familiar do genitor sobrevivente para promover a contratação de
advogado, em nome dos herdeiros menores, a fim de representar os interesses
deles no inventário.
O art. 1.691 do CC/2002 dispõe não poderem os pais "alienar, ou gravar de ônus real os
imóveis dos filhos, nem contrair, em nome deles, obrigações que ultrapassem os limites
Na hipótese, a mãe dos menores e únicos herdeiros contratou advogados para defender
os interesses de seus filhos menores e pactuou honorários de 3% sobre o valor real dos
bens móveis e imóveis inventariados.
Com efeito, estando aberta a sucessão do genitor dos menores, herdeiros legítimos e
testamentários do morto, não poderiam os sucessores deixar de comparecer nos autos
respectivos. E, para fazê-lo, necessitavam da constituição de patronos judiciais. A
constituição válida de advogado para os filhos, passava necessariamente pela pessoa da
única legítima representante dos menores, sua genitora.
Ademais, não se tem nos autos informação sobre a existência de conflito de interesses
entre os filhos menores e a mãe, de modo que é devido presumir-se tenha a genitora
exercido o poder familiar no proveito, interesse e proteção de sua prole.
Porém, noutro aspecto, não se pode reconhecer, de imediato, a plena validade de todo o
conteúdo material da contratação, a ponto de se lhe certificar os atributos de liquidez,
REsp 1.566.852-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Raul Araújo,
Quarta Turma, por maioria, julgado em 17/08/2021.
Cinge-se a controvérsia sobre o termo inicial dos juros moratórios para a cobrança de
cheque prescrito não apresentado para pagamento junto ao banco sacado.
Assim, consoante se extrai do referido julgado, o termo inicial dos juros de mora depende
da apresentação da cártula à instituição financeira sacada, o que vai ao encontro do
disposto no art. 52, inciso II, da Lei n. 7.357/1985, que dispõe sobre o cheque e dá outras
providências.
A apresentação não constitui requisito intrínseco para que se possa cobrar do emitente a
dívida inserta na cártula, porém, nos termos da lei de regência, se efetivada a
apresentação para pagamento ao banco sacado, os juros moratórios tem incidência a
partir da referida data nos termos do artigo 52, inciso II da Lei n. 7357/1985. O ponto
nodal é se quando não realizado tal procedimento - apresentação - os encargos
moratórios incidentes ficariam protraídos para termo futuro ou retroagiriam para a data do
vencimento da dívída ou da assinatura do título.
O valor estampado na cártula constitui dívida líquida e com vencimento certo, o que, em
princípio poderia atrair a aplicação do artigo 397 do Código Civil de 2002, antigo 960 do
diploma civilista revogado, considerando-se em mora o devedor desde o vencimento. Tal
compreensão, em princípio, e sem que se fizesse o devido distinguishing, viria ao
encontro do entendimento sedimentado no âmbito da Corte Especial segundo o qual a
circunstância da dívida ter sido cobrada por meio de ação monitória não interfere na data
de início da fluência dos juros de mora, a qual recairia no dia do vencimento, conforme
estabelecido pela relação de direito material.
Com efeito, a inércia do credor jamais pode ser premiada, motivo pelo qual o termo inicial
dos juros de mora deve levar em conta um ato concreto do interessado tendente a
satisfazer o seu crédito.
Como já referido, a Lei do Cheque (Lei n. 7.357/1985) possui regra expressa que
disciplina os juros relacionados com a cobrança de crédito estampado neste título.
Segundo o referido texto legal, os juros de mora devem ser contados desde a data da
primeira apresentação do cheque pelo portador à instituição financeira, conforme previsto
no art. 52, inciso II.
REsp 1.768.022-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, por unanimidade, julgado
em 17/08/2021.
Informativo nº 0706
Publicação: 30 de agosto de 2021.
TERCEIRA TURMA
No passado recente, não se cogitava de outras formas de comunicação que não pelo
tradicional método das ligações telefônicas. Com o passar dos anos, no entanto,
desenvolveu-se a tecnologia digital, o que culminou na criação da internet e, mais
recentemente, da rede social WhatsApp, o qual permite a comunicação instantânea entre
pessoas localizadas em qualquer lugar do mundo.
Nesse cenário, é certo que não só as conversas realizadas via ligação telefônica, como
também aquelas travadas através do WhatsApp são resguardadas pelo sigilo das
comunicações. Em consequência, terceiros somente podem ter acesso às conversas de
WhatsApp mediante consentimento dos participantes ou autorização judicial.
Na hipótese em que o conteúdo das conversas enviadas via WhatsApp possa, em tese,
interessar a terceiros, haverá um conflito entre a privacidade e a liberdade de informação,
revelando-se necessária a realização de um juízo de ponderação. Nesse aspecto, há que
se considerar que as mensagens eletrônicas estão protegidas pelo sigilo em razão de o
seu conteúdo ser privado; isto é, restrito aos interlocutores.
Por fim, é importante consignar que a ilicitude poderá ser descaracterizada quando a
exposição das mensagens tiver como objetivo resguardar um direito próprio do receptor.
Nesse caso, será necessário avaliar as peculiaridades concretas para fins de decidir qual
dos direitos em conflito deverá prevalecer.
REsp 1.903.273-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade,
julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021.
Ademais, pelo princípio da porta aberta, consectário do princípio da livre adesão, não
podem existir restrições arbitrárias e discriminatórias à livre entrada de novo membro na
cooperativa, devendo a regra limitativa da impossibilidade técnica de prestação de
serviços ser interpretada segundo a natureza da sociedade cooperativa, sobretudo porque
a cooperativa não visa o lucro, além de ser um empreendimento que possibilita o acesso
ao mercado de trabalhadores com pequena economia, promovendo, portanto, a inclusão
social.
REsp 1.901.911-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por
unanimidade, julgado em 24/08/2021.
QUARTA TURMA
No rumo desse raciocínio, ganha espaço o instituto do testamento, que tem como marca
distintiva a declaração de vontade, expressão indiscutível da autonomia pessoal, e, nada
obstante escape ao tradicional, a simples análise do seu conceito é o bastante para
revelar que seu objeto não se restringe a disposição de patrimônio pelo testador.
REsp 1.918.421-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão,
Quarta Turma, por maioria, julgado em 08/06/2021, DJe 26/08/2021.