Linguistica Portuguesa
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Linguistica Portuguesa
O Léxico:
Propriedades das Unidades Lexicais;
Relações entre Segmentos.
Nome do docente:
Luís P. P. Rodrigues
1. Introdução............................................................................................................................6
1.2. Metodologias....................................................................................................................6
2. O Léxico..............................................................................................................................7
3. Conclusão..........................................................................................................................14
4. Referências Bibliográficas................................................................................................15
1. Introdução
Os estudos do léxico, tendência observada nos últimos vinte e cinco anos, ampliam o conceito
de unidade lexical, acrescentando à noção de unidade ortográfica a palavra a ideia de grupos
ou combinações de palavras que funcionam como um item lexical único. Agrupamentos de
palavras tradicionalmente conhecidos como expressões idiomáticas (idioms), locuções verbais
(phrasal verbs), provérbios, clichés, unidades fraseológicas, binómios, citações, colocações,
frases lexicais, fórmulas, frases feitas e outros, são, em um ou em outro momento,
considerados como exemplos de um mesmo fenómeno: a existência de unidades lexicais
maiores que a palavra.
1.2. Metodologias
Para elaboração deste trabalho recorreu-se ao método bibliográfico que consistiu na consulta
pelo módulo e internet, método descritivo que consistiu na descrição de informações
recolhidas nas diferentes obras onde cada autor está devidamente referenciado no final do
trabalho. Segundo Lakatos e Marconi (1987, p. 66) a pesquisa bibliográfica trata-se do
levantamento, selecção e documentação de toda bibliografia já publicada sobre o assunto que
está sendo pesquisado, em livros, revistas, jornais, boletins, monografias, teses, dissertações,
material cartográfico, com o objectivo de colocar o pesquisador em contacto directo com todo
material já escrito sobre o mesmo.
2. O Léxico
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Propriedades das Unidades Lexicais;
Os usuários de um idioma não são capazes de dominar por completo o léxico de seu idioma
materno, pois sua principal característica é a mutabilidade, devido o idioma ser vivo e as
relações humanas estarem em constante transformação. Algumas palavras se tornam arcaicas,
outras são gestuais, algumas mudam de sentido, e tudo isso ocorre de forma gradual, quase
imperceptível. Este é um processo inerente à língua e não uma ameaça à continuidade. O
léxico de um idioma não é finito.
O léxico se divide em categorias lexicais (onde ficam palavras de classe aberta para gerar
novos termos) e categorias funcionais (engloba palavras com função unicamente gramatical
para indicar relações entre os componentes de um predicado.
Existem milhares de línguas no mundo, muitas já extintas, outras em extinção, outras em uso
e em constante processo de aquisição ou ampliação lexicais. Assim como a Língua
Portuguesa, muitas línguas originam-se de outras línguas e cada qual possui um repertório
lexical extenso e diversificado, os quais podem ser ampliados a partir de diversos processos
como a inserção de novas gírias, regionalismos, de neologismos, estrangeirismos.
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Como as línguas vivas têm carácter flexível, é possível que novas palavras sejam
incorporadas a seu léxico. Isso porque a língua, enquanto um património sócio-histórico-
cultural, admite a incorporação de novas palavras a seu léxico quando seu uso é frequente
e/ou essencial a por boa parte da comunidade falante, de seus usuários. Quando isso acontece,
esta nova palavra passa a compor o Dicionário, que é o suporte no qual são escritos e
descritos todo o repertório lexical de uma língua.
As unidades lexicais, no seu todo, e em cada um dos seus termos constituintes, são portadoras
de significação lexical e/ou de significação gramatical. A gramática de uma unidade lexical
não é dissociada da sua significação léxico-gramatical, da estrutura conceptual que a suporta,
e do universo referencial para que remete.
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Um exemplo simples mas ilustrativo da interacção léxico-gramática é o que se prende com a
topologia das marcas de concordância e de flexão.
Destina-se esta secção a reflectir, de forma empiricamente sustentada, sobre algumas das
diferentes modalidades de manifestação da interacção léxico-gramática. Partimos do
pressuposto de que as unidades lexicais se caracterizam pela sua maior ou menor
complexidade estrutural, ou seja, por uma morfologia mais e menos complexa, pela sua maior
ou menor extensão, pela sua maior ou menor opacidade interna e/ou externa, seja pela sua
diversa opacidade ou transparência semântica, seja pela sua diversa (não) opacidade
sintáctica.
Para tal, torna-se operacional tomar como objecto de análise unidades lexicais de estrutura
interna marcada por diferentes graus de complexidade, e gizadas no âmbito de mecanismos
genolexicais diversos.
A derivação afixal envolve um radical (cf. Quadro 1, coluna B) e ou um tema (cf. Quadro 1,
coluna A) e um afixo.
O constituinte de base não é pois o nome, o adjectivo ou o verbo, marcado pelas suas
propriedades gramaticais de género e de número, ou de tempo-modo e de pessoa, número,
mas um constituinte preso, categorizado como radical ou como tema não autónomos alojados
no interior do produto derivacional, e portanto não sensíveis a propriedades de concordância.
Só o produto final pode ser marcado pelas suas propriedades flexionais de número, de género,
de tempo-modo e de pessoa-número.
No âmbito da composição morfológica estão envolvidos dois radicais, sendo pelo menos um
não autónomo (10-15).
(10) cardio- e -logia, em cardiologia
(11) taqui- e -cardia, em taquicardia
(12) tecno- e cracia-, em tecnocracia
(13) crono-, em cronómetro
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(14) hemo-, em hemoglobina
(15) ibero-, em ibero-americano
1.3. Compostos sintagmáticos ou morfossintácticos
Não há unanimidade de concepção e de denominação das unidades em apreço, que são fruto
de um processo de composição já não apenas morfológica, porque não estão em jogo
estruturas morfológicas presas, mas de um processo de composição morfossintáctica ou
sintagmática, envolvendo duas ou mais estruturas morfológicas autónomas, que se agrupam
para formar um sintagma semântica e referencialmente uno (cf. limpa-pára-brisas), e
morfologicamente opaco, a não ser a fenómenos de concordância. Estas unidades lexicais
pluriverbais têm também sido chamadas de "lexias complexas", "unidades léxicas
complexas", ou até "unidades fraseológicas complexas", mormente, mas não exclusivamente,
quando está em jogo o esquema NPrepN (moinho de vento, tecnologias da informação,
[produto] chave na mão, rádio-gravador-leitor de CD), ou o de NAA (sistema nervoso
central, sistema nervoso periférico).
1.4. Compostos lexicais [Verbo-leve + nome]
Observemos, por fim, expressões verbais em que se combinam verbos-leves e nomes, que
Basílio (2003) denomina de compostos lexicais, e que concebe como sendo gerados por
processos sintácticos de formação de unidades lexicais.
Neste âmbito co-ocorrem um verbo-leve, como dar, fazer, ter, estar, no pleno gozo das suas
propriedades de variação flexional, e um nome, muitas das vezes, mas nem sempre, deverbal
e de evento.7 No que ao nome diz respeito, casos há de total opacidade combinatória e
variacional, e casos em que alguma modificação interna e/ou alguma combinatória é possível.
Equacionando uma estreita relação entre Léxico, Morfologia e Sintaxe, a autora refere que:
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Mas a flexão está estreitamente ligada à Sintaxe e mesmo certos processos
morfológicos, como a derivação, situados tradicionalmente na Morfologia, têm
repercussões de tal modo evidentes na construção sintáctica (pense-se na
alteração das estruturas argumentais, da marcação casual e da ordem dos
constituintes) que é possível pensar numa relação mais estreita entre Léxico,
Morfologia e Sintaxe (Brito 2010: 4).
Para Niklas-Salminen (1997: 27), o léxico é uma entidade teórica e uma realidade da língua,
distinto do vocabulário, que se situa no plano discursivo:
O léxico de uma língua deve ser considerado, antes de tudo, como uma
entidade teórica. É o conjunto de palavras que um idioma disponibiliza aos
falantes. O vocabulário é, por sua vez, frequentemente considerado como o
conjunto de palavras usadas por um determinado falante em uma realização
oral ou escrita. Nessa perspectiva, o léxico é uma realidade da linguagem que
só pode ser acessada por meio do conhecimento de vocabulários particulares
que são uma realidade do discurso.
Nesse sentido, Krieger (2007: 297) considera que os dicionários, ao registarem, de modo
sistematizado, os itens lexicais de uma língua dão coesão às sociedades e projecção às suas
culturas, porquanto definem a identidade linguística dos povos.
Os dicionários da actualidade não têm a pretensão de representar todo o léxico de uma língua,
atendendo ao facto de que o léxico é concebido como uma realidade que não oferece a
possibilidade de ser descrita em extensão.
Assim sendo, um item lexical será protagonista da interface entre as três estruturas
(Jackendoff 2002: 131).
Esta visão tem como consequência o estatuto do léxico como um domínio de interface. Um
item lexical não é, assim, inserido numa estrutura sintáctica; antes opera a interface entre as
três estruturas paralelas (Rodrigues 2012: 70).
Segundo William Calvin & Bickerton (2000: 22-23), estudos neurológicos demonstram que a
activação na mente de um dado item lexical acciona uma série de subestruturas.
Assim, para se proceder ao acesso lexical de, por exemplo, cão é accionada a
representação visual relacionada no córtex visual; a sua representação
fonológica em substruturas no córtex auditivo; a sua produção fonética em
constituintes motores localizados no lobo frontal, etc. Não existe, pois, um
domínio do cérebro onde esteja armazenado o item cão. Diferentes estruturas
desse item estão localizadas em domínios diversos de acordo com o tipo da sua
computação (Rodrigues 2012: 70).
Neste sentido, Rodrigues (2012: 71) considera que esta concessão do léxico como um
domínio de interface viabiliza a compreensão da existência de itens lexicais que não têm
sintaxe, embora tenham fonologia e semântica.
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3. Conclusão
Findado o presente trabalho percebi que as unidades lexicográficas como entidades que se
caracterizam por: 1) ter um carácter variável; 2) não ser necessariamente composicionais; 3)
não possuir um carácter discreto, mas gradual e contínuo; 4) não ser independentes do co-
texto e do contexto em que ocorrem; 5) não poder ser descritas completamente pelas regras
gerais da gramática.
Ignorar o facto de que as relações sintagmáticas estabelecidas entre as palavras dentro de uma
determinada estrutura fazem parte do significado das mesmas conduzirá a uma concepção do
enunciado como uma combinação de elementos discretos (as palavras, os monemas) e,
consequentemente, a erros na análise lexicográfica como a atribuição a uma palavra de um
sentido que, em rigor, vem dado pela combinação dessa palavra com outras.
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4. Referências Bibliográficas
Chomsky, N. (1965). Aspects of the Theory of Syntax. Cambridge: M.I.T. Press. (Traduzido
para o Português por José António Meireles e Eduardo Paiva Raposo, Aspectos da
teoria da sintaxe. Coimbra: Arménio Amado – Editor, Sucessor, 1978).
Ed. Grypho.
Krieger, M. G. (2007). O Dicionário de Língua como Potencial Instrumento Didáctico. In O.
CARVALHO, M.BAGNO (Org.), As Ciências do Léxico: lexicologia, lexicografia,
terminologia. vol III (295-309). Campo Grande, MS: Ed. UFMS
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