Cheias No Centro Do Pas Consumou
Cheias No Centro Do Pas Consumou
Cheias No Centro Do Pas Consumou
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Por conseguinte, neste momento, os rios Save, Búzi, Púnguè e Zambeze apresentam níveis
hidrométricos bem alto em quase todas as estações de observação. Esta situação, que se
regista a partir da segunda quinzena de Dezembro, resulta de chuvas intensas que se registam
em alguns países vizinhos, nomeadamente Zâmbia, Zimbabwe e Malawi, de onde vêm grande
parte dos principais rios que atravessam o nosso território.
Assim, na bacia do Save foram e estão a ser inundadas a sede do distrito de Machanga, na
província de Sofala, e a vila de Nova-Mambone, no de Govuro, em Inhambane. No Búzi
situação semelhante atinge a vila-sede do distrito do mesmo nome, enquanto o Púnguè alagou
extensas áreas agrícolas dos distritos de Dondo e Nhamatanda, ameaçando interromper a
circulação de viaturas na Estrada Nacional número Seis, que liga a cidade portuária da Beira e a
vila fronteiriça de Machipanda com vizinho Zimbabwe.
João Ribeiro, director-geral adjunto do INGC, classifica que o facto, de certo modo, tem vindo a
ensombrar todo o processo de busca e salvamento das pessoas em risco, chegando de não se
saber ao certo quantas pessoas se encontram nesta situação.
Com a recente declaração do alerta vermelho e consequente activação do Centro Nacional
Operativo de Emergência (CENOE) pelo Conselho Coordenador de Gestão das Calamidades, um
órgão do Conselho de Ministros, a harmonização do processo está a ser mais coordenada e
efectiva das acções dos diversos parceiros intervenientes no processo de assistência
humanitária, facto que permite o registo de infra-estruturas afectadas, áreas e culturas
agrícolas inundadas.
Para já, vive-se um cenário bastante desolador no seio das comunidades ribeirinhas ao baixo
Zambeze, particularmente nos distritos de Tambara, em Manica, Mutarara, em Tete, Caia,
Chemba e Marromeu, na província de Sofala, e, finalmente, Morrumbala, Mopeia e Chinde, na
Zambézia.
Neste momento, parte daqueles distritos já estão inundados, sendo que milhares de pessoas
estão na condição de deslocados para sítios seguros, casas desabadas e submersas, perca de
extensas áreas agrícolas, intransitabilidade rodoviária, destruição de estabelecimentos
escolares, unidades sanitárias incluindo algumas infra-estruturas privadas. Concorre para este
cenário as cheias dos principais afluentes do Zambeze como são os casos dos rios Chire,
Revúbwe e Luenha.
Por isso mesmo, alguns postos administrativos estão completamente isolados de comunicação
rodoviária com as respectivas sedes distritais como, por exemplo, entre Inhangoma e Mutarara
e Malingapansi e Marromeu, Sena e Caia, Dombe e Sussundenga. Não há também ligação entre
os distritos de Mutarara e Morrumbala, além do total isolamento dos distritos de Chemba,
Tambara, Búzi e Machanga.
Numa avaliação sobre a situação das inundações no país, o ministro da Administração Estatal,
Lucas Chomera, disse, na qualidade de vice-presidente do Conselho Coordenador da Gestão das
Calamidades, que todos os postos administrativos das regiões vulneráveis à estas adversidades
atmosféricas devem efectivamente implementar os planos de contingência para evitar que
hajam mortes dos afectados.
Descreveu que, de facto, Moçambique é um país vulnerável a cheias, secas, ciclones e sismos,
razão pela qual o executivo tem no seu plano a gestão das calamidades.
“Para operacionalizar tudo isto, temos um plano anual de contingência para que não sejamos
apanhados de surpresa por estas adversidades atmosféricas. Por conseguinte, temos recursos
pré-posicionados em todos os distritos e o governo fixou, numa primeira fase, 80 milhões de
meticais que estão a ser disponibilizados em tranches para este ano. Por isso, não estamos em
pânico e colocamos toda a nossa máquina governativa a funcionar em pleno nesta época
chuvosa”, garantiu.
RESGATE AÉREO
Maputo, Quarta-Feira, 16 de Janeiro de 2008:: Notícias
Pela gravidade da situação, o Programa Mundial para Alimentação (PMA), um dos principais
organismos de cooperação internacional com o governo moçambicano, acaba de financiar a
aquisição de dois helicópteros de transpor de carga com capacidade de duas toneladas cada,
operando a partir desta no resgate das vítimas sitiadas ao longo do baixo Zambeze.
Numa primeira fase, as aeronaves poderão operar em caso de necessidade na evacuação dos
cerca de nove mil infortunados de Samarucha, Jardim-Sede e Chirémbwe que se encontram
completamente isolados para as zonas de Bawe e Charre, no distrito de Mutarara, em Tete.
Além disso, a OXFAM, uma ONG britânica, também disponibilizou idêntico meio que vai juntar-
se ao da monitoria do CENOE, em Caia.
“As pessoas estão completamente isoladas de comunicação terrestre com casas, escolas e
postos de saúde inundados. Em Mopeia também decorre o resgate e quando ali terminarmos
vamos reforçar as embarcações e a força da UNAPROC em Mutarara”, indicou Ribeiro,
acrescentando que a vila de Marromeu, em Sofala, já se apresenta com solos saturados e a
água está a sair por terra.
Contudo, anotou que a situação está sob controlo e a subida lenta do Zambeze contribui
positivamente na ajuda dos necessitados, apesar da população ser relutante em abandonar as
zonas de risco. Ressalvou que a partir de agora a retirada é compulsiva para que não se
verifiquem óbitos, porque há esperança que a água vai baixar e o pico das chuvas é em
Fevereiro.
Enquanto isto, o CENOE aprovou esta semana o plano de distribuição imediata de alimentação
aos afectados principalmente para os deslocados de Mutarara, cujo cenário é altamente
dramático e apresentando maior número dos infortunados comparativamente a outras regiões
do vale do Zambeze. Por outro lado, o UNICEF entregou lonas plásticas e tendas-escolares.
O Save voltou, no entanto, a registar uma segunda vaga de inundações, tendo novamente
isolado e inundando neste momento dez dos 17 bairros da vila de Machanga, em Sofala,
incluindo Nova-Mambone, em Inhambane, havendo claras indicações de que aquele rio venha
ainda a registar o terceiro pico de cheias nesta estação chuvosa.
FALAM AS VÍTIMAS
Maputo, Quarta-Feira, 16 de Janeiro de 2008:: Notícias
Em contacto com algumas vítimas, a nossa Reportagem soube que, efectivamente, a questão
da sua relutância em abandonar as zonas de risco se deve, fundamentalmente, à prática de
actividades agrícolas e piscatórias. Por isso mesmo, depois de terem sido resgatadas voltam as
zonas vulneráveis a inundações como nas margens do Chire e Dziwe-Dziwe no posto
administrativo de Charre e localidade da Vila-Nova da Fronteira, no distrito de Mutarara, em
Tete.
“Todas as nossas casas ficaram submersas e lá (nas ilhas) apenas aproveitamos o peixe, mas
sempre empreendemos uma luta renhida com os crocodilos”, desabafaram.
Além disso, indicaram que nas ilhas, onde a produção agrícola se pratica em grande escala,
devido a fertilidade dos seus solos, não há qualquer infra-estrutura pública como escola e
unidade sanitária e, paradoxalmente, “ciclicamente somos sujeitos a este sofrimento. Agora já
basta!”, confessaram.
“Nunca nos passava da ideia que este ano teríamos sido atingidos pelas cheias do Zambeze,
pois situação semelhante apenas aconteceu em 1978 em que mesmo os pontos altos estavam
submersos. Como ilhéus, confiávamos das nossas canoas que, entretanto, nào conseguem
fazer face a estas fortes correntes do rio, sendo que clamamos de socorro de barco e
helicópteros”- desejou o ancião Lucas Andrade, que aparenta ter 80 anos de idade.
Este pedido foi, entretanto, prontamente satisfeito, sendo que o administrador de Mutarara,
Alexandre Faite, deu instruções claras aos líderes comunitários para sensibilizar toda a
comunidade para se retirar das zonas de risco.
Mesmo assim, o INGC com ajuda dos seus parceiros de cooperação desdobram-se na busca e
salvamento de todos os infortunados, enquanto o PMA providencia ajuda alimentar.
Um homem que estava a tomar banho nas margens daquele rio, em Caia, viu-se obrigado a ter
que empreender uma longa marcha até à sua casa na aldeia Amílcar Cabral completamente nu.
O episódio tomou eco ao todo o bairro.
Dias depois, uma mulher do mesmo bairro disputou uma renhida luta com o mesmo tipo de
réptil. O animal, primeiro, devorou-lhe uma perna. Por isso, a comunidade levantou-se ao
socorro da vítima. Enquanto se tentava salvar a vida humana, eis que reaparece o crocodilo
consumindo maior parte do corpo, restando apenas cabeça, tronco e membros superiores.
Situação semelhante foi reportada em Chemba e Tambara, onde pessoas não escapam dos
ataques de crocodilos. Neste momento estão internadas no Hospital Rural de Mutarara duas
vítimas e que se apresentam com as pernas amputadas.
Em Caia, numa só semana foram mortalmente atacados um total de quatro pessoas. Outro
perigo iminente no seio dos habitantes de Luabo, segundo as autoridades administrativas de
Chinde, está relacionado com a destruição do dique, sendo que o ferro velho foi todo pilhado
para venda na sucata. Isto, certamente, poderá agravar o perigo àquela comunidade, pondo
em risco a vida de um total de cinco mil pessoas.
Horácio João