O Nome - Aspectos Jurídicos e Literários

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O Nome: Aspectos Jurídicos e Literários

Sumário. Atributo importante do indivíduo, que o acompanhará em toda a


extensão da vida, é o nome civil um dos principais elementos ou sinais de sua
identidade; pelo que, ao pôr-se o nome próprio a alguém, é mister proceder
sempre, como em tudo o mais, com judicioso e maduro critério.

I. Caso em Espécie

Haverá um mês, informaram órgãos de nossa imprensa que


certa avó cearense batera à porta do Judiciário, animada de
propósito que reputava não só razoável e nobre senão ainda grave e
urgente: obter provimento que alterasse o nome de seu neto,
civilmente registrado com o prenome Lúcifer(1).
Caso foi esse que, por seu cunho “sui generis” ou peculiar,
interessou muitas pessoas, que o quiseram logo discutir e
comentar.
Deveras, isto de chamar Lúcifer a alguém é, geralmente
falando, o mesmo que tratá-lo por símbolo do mal, que depara no
Demônio (Satanás, Diabo, Capeta, Belzebu, etc.) o tipo definitivo.
Destituída de sua primitiva significação – “o que traz luz”
(do étimo latino “lux + fero”) –, a palavra Lúcifer adquiriu
conotação fortemente pejorativa, de ordinário associada ao anjo
que, segundo a tradição religiosa(2), foi precipitado no Inferno por
haver-se rebelado contra Deus.
Assim, a despeito da auréola que o cinge – e que mereceu
ao genial Vieira observação notável: “O mais sábio espírito que Deus
criou foi Lúcifer”(3) –, esse nome inculca para logo a ideia de sujeito
maléfico ou monstro moral.

(1) https://www.direitonews.com.br/2022/02.
(2) Bíblia Sagrada (Is 14, 12-15).
(3) Sermões, 1959, t. VIII, p. 198; Lello & Irmão Editores; Porto.
2

Consoante doutrina, em que conspiram os mais dos autores


de Direito Civil, é o nome “sinal distintivo externo revelador da
personalidade”. Ainda: pode o prenome (ou nome próprio) “ser
escolhido ad libitum dos interessados”, não porém arbitrária e
inconsideradamente. “Não seria realmente admissível” – adverte o
distinto e saudoso Prof. Washington de Barros Monteiro –
“adoção de prenome que expusesse o portador à irrisão (…)”.
Conclui o consagrado Mestre: “Volva-se àquela pessoa
registrada com o absurdo nome Himeneu (Casamentício das Dores
Conjugais). Inquestionável o direito dela de pleitear a mudança de nome
que só lhe pode criar dificuldades na vida, expondo-a a chacotas e
zombarias. Da mesma forma, os tribunais têm admitido a substituição de
nomes como Mussolini, Hitler e Lúcifer”(4).
Ao propósito, reza o teor do art. 55, parág. único, da Lei nº
6.015, de 31.12.73 (Lei dos Registros Públicos): “Os oficiais do registro
civil não registrarão prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus
portadores”.
Ao ajuizar pedido de retificação do registro civil do neto,
pelas possíveis consequências negativas de seu nome, não entra em
dúvida que a boa avó cearense obrou com raro aviso; revelou, ao
demais, grandeza de alma.

(4) Curso de Direito Civil, 1989, 1º vol., pp. 86-89; Editora Saraiva; São
Paulo.
3

II. Antroponímia Exótica e Registro Civil

Não cabe no algarismo o rol dos nomes que, por excêntricos


ou curiosos, poderiam, à luz do regime legal vigente (art. 55, parág.
único, da Lei nº 6.015/1973), ser de plano recusados pelo oficial do
Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais.
Com o escopo de oferecer “pequena amostra da criatividade do
povo brasileiro”, o periódico eletrônico Revista Jus Navigandi
(http://www.jus.com.br/legal/nomes.html) publicou, em 24.12.2001,
extensa resenha deles – que deita por mais de 450 nomes –,
de que, por amor da brevidade, transcrevo apenas 50. São
personativos que se leem entre frouxos de risos; outros omiti,
muito de estudo, com a ressalva de nosso Rui em circunstância
análoga: “(…) porque, atualmente, o papel impresso o não sofreria”(5).
Ei-los:
1. Antônio Manso Pacífico de Oliveira Sossegado;
2. Antônio Noites e Dias;
3. Asteroide Silvério;
4. Bandeirante do Brasil Paulistano;
5. Boaventura Torrada;
6. Cafiaspirina Cruz;
7. Caso Raro Yamada;
8. Céu Azul do Sol Poente;
9. Chevrolet da Silva Ford;
10. Dolores Fuertes de Barriga;
11. Esparadrapo Clemente de Sá;
12. Espere em Deus Mateus;
13. Éter Sulfúrico Amazonino Rios;

(5) Réplica, nº 10.


4

14. Faraó do Egito Sousa;


15. Felicidade do Lar Brasileiro;
16. Flávio Cavalcante Rei da Televisão;
17. Francisco Zebedeu Sanguessuga;
18. Homem Bom da Cunha Souto Maior;
19. Hipotenusa Pereira;
20. Inocêncio Coitadinho;
21. Jacinto Fadigas Arranhado;
22. João Cara de José;
23. João da Mesma Data;
24. João Pensa Bem;
25. José Casou de Calças Curtas;
26. José Maria Guardanapo;
27. Júlio Santos Pé-Curto;
28. Justiça Maria de Jesus;
29. Magnésia Bisurada do Patrocínio;
30. Manuel Sovaco de Gambar;
31. Manuel Sola de Sá Pato;
32. Maria da Segunda Distração;
33. Maria Panela;
34. Napoleão Sem Medo e Sem Mácula;
35. Olinda Barba de Jesus;
36. Pacífico Armando Guerra;
37. Pedrinha Bonitinha da Silva;
38. Pedro do Cacete da Silva;
39. Pombinha Guerreira Martins;
5

40. Restos Mortais de Catarina;


41. Rolando Caio da Rocha;
42. Sete Chagas de Jesus e Salve Pátria;
43. Tropicão de Almeida;
44. Vicente Mais ou Menos de Sousa;
45. Vítor Hugo Tocagaita;
46. Necessário Frescura;
47. Benigna Jarra;
48. Carabino Tiro Certo;
49. Maria Passa Cantando;
50. Último Vaqueiro.
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7

III. O Nome nos Provérbios e Aforismos

São os provérbios (ou voz da experiência) repositório notável


do vocábulo nome. Aqui, os mais comuns e correntios:
1. “Melius est nomen bonum quam divitiae multae” (Prov. 22,
1). Mais vale o bom nome do que muitas riquezas (Bíblia Sagrada; Prov
22, 1; trad. Pe. Antônio Pereira de Figueiredo).
2. “Stultorum nomen semper ubique jacit”. O nome dos néscios
encontra-se em toda parte (Arthur Rezende, Frases e Curiosidades
Latinas, 1955, p. 764).
3. “Nomina stultorum scribuntur ubique locorum”. “I nomi degli
sciocchi sono scritti dapertutto” (Giuseppe Fumagalli, L’Ape Latina,
1992, p. 185). Os nomes dos loucos estão escritos em toda parte.
4. “Nomina stultorum semper parietibus haerent”. Os nomes dos
tolos estão sempre pegados às paredes (Paulo Rónai, Não Perca o seu
Latim, 1996, p. 120).
5. “Nisi enim nomen scieris, cognitio rerum perit” (San Isidoro
de Sevilla, Etimologías, 2018, p. 276). Se ignoras o nome, o
conhecimento das coisas desaparece.
6. “Hominis appellatione tam foeminam quam masculum
contineri nemo dubitat” (Dig.; apud Giuseppe Fumagalli, op. cit., p.
107). Ninguém duvida que, sob o nome de homem, entende-se
tanto o gênero masculino como o feminino.
7. Façamos célebre o nosso nome (Bíblia Sagrada; Gen 11, 4; trad.
Pe. Antônio Pereira de Figueiredo).
8. Dúvida, em Direito Penal, é o outro nome da falta de
prova.
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9

IV. O Nome: Frases, Locuções e Epigramas

a) Locuções nominais

1. Nome vocatório — Aquele pelo qual é a pessoa comumente


chamada e logo identificada. Exs.: Rui (Rui Barbosa); Camões
(Luís Vaz de Camões); Camilo (Camilo Castelo Branco); Bilac
(Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac) (cf. Leib Sobelman,
A Enciclopédia do Advogado, 1981; v. nome vocatório).
2. Nome de guerra — “Pseudônimo pelo qual uma pessoa é mais
conhecida em sociedade já pelos seus escritos, já por outro qualquer
motivo” (Caldas Aulete, Dicionário Contemporâneo, 2a. ed.; v.
guerra). Exs.: Carlitos (Charles Chaplin); Lima Duarte (Ariclenes
Venâncio Martins); Fernanda Montenegro (Arlette Pinheiro
Monteiro Torres), Pelé (Édson Arantes do Nascimento), etc.
Pseudônimos extraídos do Dicionário Literário Brasileiro, 2a.
ed., pp. 789-800; autor: Raimundo de Menezes: Inútil João
Ninguém (João Capistrano Honório de Abreu); Malba Tahan
(Júlio César de Melo e Sousa); Pronto da Silva (Emílio de
Menezes); Valentim Demônio (Fidelino de Sousa Figueiredo); Um
Asno (José Martiniano de Alencar); Zumbido (João Francisco
Lisboa); Tristão de Ataíde (Alceu Amoroso Lima).
À locução nome de guerra juntou o vocabulista De Plácido e
Silva – aliás, nome vocatório de Oscar Joseph de Plácido e Silva
–, tomando-a à má parte, a seguinte acepção: “É especialmente
utilizada na linguagem dos lupanares para designar o nome suposto
adotado pelas meretrizes, a fim de ocultarem seu verdadeiro nome”
(Vocabulário Jurídico, 3a. ed.; v. nome de guerra). É o mesmo que
pseudônimo, apelido, alcunha, criptônimo ou nome suposto.
3. Nome regimental — O que adotam, nos atos de seus
ofícios, os integrantes do Poder Judiciário e, em suas produções
intelectuais, os membros das Academias ou Institutos Científicos e
Culturais. A esse respeito assentou o Regimento Interno do Tribunal
10

Regional Eleitoral de Roraima (TER-RR): “Os juízes que compõem a


Corte Eleitoral utilizarão nome regimental, composto de um prenome e
um sobrenome” (art. 206-A).
Assim, Ayres Britto era o nome regimental de Carlos
Augusto Ayres de Freitas Britto (do Supremo Tribunal Federal);
Carlos de Laet, de Carlos Maximiliano Pimenta de Laet, fundador
e ex-ocupante da cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras.
4. Anônimo — Termo usado para designar o que não tem
nome ou é desconhecido; “pessoa que se utiliza do anonimato para
satisfazer intuitos inconfessáveis” (De Plácido e Silva, op. cit.; v.
anonimato). Preceitua o art. 5º, nº IV, da Constituição Federal: “É
livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.
A eles (i.e., aos anônimos) parece que se referiu o
preeminente Rafael Bluteau, quando lançou da pena bem aparada
(talvez de ganso) este anátema: “Sei que há homens no mundo, que
desejaram ter nascido como os abutres, dos quais escreve Plínio que
ninguém sabe onde têm o ninho” (Prosas Portuguesas, 1728, vol. II,
p. 5).

b) Locuções de ressalva (ou cláusulas restritivas)

1. Pelo nome não perca. Ao discorrer desta locução, que tem


foros de cidade na fraseologia poruguesa, afirma R. Magalhães
Júnior que “há nomes desfavoráveis e que se pode perder quando soam
mal ou são extravagantes”. Cita, a esse respeito, o caso de “um
jurisconsulto português que dizia que, havendo vários suspeitos de um
crime e não sendo as provas decisivas, devia ser condenado aquele que
tiver mais ruim nome. Neste caso, porém, o ruim nome deve entender-se
como pior fama” (Dicionário de Provérbios e Curiosidades, 1960, p.
213).
Em seus escritos, usaram dessa fórmula de reserva autores de
pulso e grande nomeada: a) “(…) que por nome não perca” (Filinto
11

Elísio, Obras Completas, 1818, t. IV, p. 263); b) “Caía a noite, quando


acertou Atenodoro de ir visitar o seu amigo Senador (que pelo nome não
perca)” (Júlio de Castilho, Os Dois Plínios, 1906, p. 134); c) “Não
sucederia tal ao celebrado capitão que conquistou a cidade Melqui, que
por nome não perca” (Cartas ao Abade Antônio da Costa, 1946, p. 72);
d) “(…) e fustigada até por um Sr. Terzuolo, que pelo nome não perca”
(Inocêncio Francisco da Silva, Dicionário Bibliográfico Português,
vol. V, p. 341); e) “Lâmia é como se chama a nossa velha, que pelo nome
não perca!” (Léo Vaz, O Burrico Lúcio, 1973, p. 25).
2. Dar nome aos bois. “Quando alguém faz acusações vagas,
apontando desonestidades em serviços públicos ou privados, sem nomear
os responsáveis, é normalmente convidado a dar nome aos bois, isto é, a
apontar os culpados” (R. Magalhães Júnior, op. cit., p. 80).
3. Dar pelo nome de. Locução perifrástica, usada como
sinônima de ser sensível, ser conhecido por. Exs.: “E dava pelo nome de
Aprendiz” (Cândido de Figueiredo, Lições Práticas da Língua
Portuguesa, 1910, vol. III, p. 94); “Procurou por um homem que dava
pelo nome de Antônio do Couto-de-baixo” (Camilo Castelo Branco,
Noites de Insônia, 1874, nº 2, p. 27); “Petronilla ou Pellatroni (dava
por ambos os nomes), não se parecia com (…)” (Idem, ibidem, nº 5, p. 9).

c) Epigramas, ditos satíricos e curiosidades

Entra o nome também na formação de sentenças e frases de


espírito ou irônicas e mordazes, de que vai a seguir pequena
amostra:
1. “Teresa de Jesus, com espírito próprio de seu sobrenome, chegou
a dizer que (…)” (Pe. Antônio Vieira, Sermões, l959, t. I, p. 301);
2. “Chamava-se Bona, e concordavam com o seu nome as suas
virtudes” (Pe. Manuel Bernardes, Nova Floresta, 1711, vol. III, p. 2).
3. “Rústico, obrando conforme o seu nome, tanto que ouviu, creu”
(Idem, ibidem, p. 149).
12

4. “Amaro, o vosso nome corresponde à vossa condição” (Cândido


Lusitano, Vieira Defendido, Réplica, 1746, p. 4);
5. Com impiedosa mordacidade, assim Jânio Quadros
escarneceu, de uma feita, de Mário Covas, competente e honrado
governador do Estado de São Paulo: “O nome é o homem!”.
6. J. Lamas: nome (autoexplicável) de certo deputado
federal, convencido de corrupção (ou lama).
7. Francisco da Silveira Bueno, gramático, filólogo e escritor
ilustre, no livro Memórias de um Batalhador (1996, p. 76),
mergulhou sua pena em fel e dela deixou cair – sobre o Pe.
Alberto Pequeno – palavras que certamente desmerecem o prelo e
as letras nacionais: “(…) triunfos que muito deveriam ter incomodado
a pequenez bastarda do Sr. Padre Alberto, cujo sobrenome era a súmula
profética da sua miserável formação cristã: Pequeno!”.
8. “Vicentíssimo”, apelido pelo qual, “per jocum” (ou pilhéria),
era conhecido o jurista Vicente de Paulo Vicente de Azevedo.
9. Houve outrora, na Magistratura do Estado de São Paulo,
provecto juiz e esforçado cultor do vernáculo, que no entanto
proferia decisões em estilo prolixo, com extensos períodos, o que
as sujeitava amiúde a embargos de declaração. A “gens forensis”,
de natural espirituoso, pusera-lhe, a essa conta – de seu nome
Rolando Magalhães Couto –, a alcunha de Enrolando Magalhães.
10. Singular curiosidade encerram certos nomes. O do
dicionarista Aurélio Buarque de Holanda está neste caso: desde o
berço predestinara-o a fortuna à Lexicografia, pois trazia já no
prenome as cinco vogais do alfabeto português.
11. Entre os nomes extensos e compridos incluem-se, por
força, os de:
13

Pedro I (1798-1834), 1º imperador do Brasil e 27º rei de


Portugal, com o título de Pedro IV:

Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de


Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano
Serafim de Bragança e Bourbon.
14

Pedro II (1825-1891), 2º imperador do Brasil:

Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano


Francisco Xavier de Paula Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de
Bragança e Bourbon (cf. Larousse Cultural, 1988, pp. 616-617;
Editora Universo).
15

V. O Nome: Lugares Seletos

Na Roma antiga – ensina Washington de Barros Monteiro


(op. cit., pp. 87-89) –, o nome da pessoa compunha-se de três
elementos (peculiares ao patriciado):
— o prenome (ou nome próprio da pessoa);
— o gentílico (usado por todos os membros da mesma “gens”,
ou família);
— o cognome (que distinguia os membros da “gens”).
À luz dessa praxe, constava dos seguintes elementos o nome
do Príncipe da Eloquência Romana: Marco (prenome); Túlio
(gentílico); Cícero (cognome).
De presente, compõe-se o nome de: prenome (ou nome
próprio da pessoa), que pode ser simples ou composto, e sobrenome
(patronímico ou nome de família).
Foi sempre o nome, em todo o gênero literário, voz de
primorosos conceitos. Eis alguns:
1. “O nome é o primeiro patrimônio do homem, a base do seu
crédito, o nervo de sua força, o estofo de seu trabalho, a herança de sua
prole, a última consolação de sua alma” (Rui Barbosa, Obras Completas,
vol. XX, t. IV, p. 199).
2. “O mais belo patrimônio é um nome honrado” (Vítor Hugo;
apud R. Magalhães Júnior, Como Você se Chama?, 1974, p. 51).
3. “O nome ilustre a um certo amor obriga” (Luís de Camões,
Os Lusíadas, canto II, estância 58).
4. “Enquanto os rios correrem para os mares, enquanto as sombras
das árvores percorrerem os vales dos montes, enquanto o céu alimentar os
astros, sempre a tua honra, o teu nome e louvores lembrarão, quaisquer
que sejam as terras que me chamem” (Virgílio, Eneida, liv. I, v. 607;
trad. Nicolau Firmino).
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5. “A História coroará o seu nome” (Francisco Ferreira dos


Santos Azevedo, Dicionário Analógico da Língua Portuguesa, 1974,
nº 873).
6. “Seu nome viverá eternamente inscrito entre os dos grandes
homens, nos corações agradecidos” (Idem, ibidem).
7. “A aprovação e o louvor já vinham na primeira página, apenas
se chegava a ler o seu nome” (Antônio Feliciano de Castilho, Castilho
Pintado por Ele Próprio, vol. I, p. 18).
8. “Os alemães punham a cabeça a descoberto quando ouviam o
nome de Cujácio, não por fascinação pelo Mestre, mas como culto ao
Direito, cujo sacerdote ele era” (Revista da OAB-SP), 1951, vol. 8º,
p. 4).
9. “O nome de Leão XIII ficará gravado no coração de todos os
homens de bem, em caracteres que o tempo em vão tentará extinguir”
(Alves dos Santos, Orações Fúnebres, p. 34).
10. “O seu nome (do Pe. Antônio Vieira) é o seu maior
panegírico” (Ernesto Carneiro Ribeiro, in Homenagem ao Pe. Antônio
Vieira, 1897, p. 47).
11. “Tanto nomini nullum par elogium”. “A nome tão grande
nenhum elogio é bastante. Epitáfio que orna o túmulo de Niccolò
Machiavelli” (cf. Pe. Godinho, Todas as Montanhas são Azuis, 1991,
p. 151).
12. “O seu nome há de chegar à última posteridade” (Caldas
Aulete, Dicionário Contemporâneo, 2a. ed.; v. último).
13. “Saber o nome de cada coisa, e não chamá-la de coisa,
chamá-la exatamente pelo nome, eis o que é saber um idioma” (Carlos
Lacerda, Uma Rosa é uma Rosa, 1965, p. 73; Rio de Janeiro).
14. Glória eterna a seu nome!
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VI. O Nome: Episódios Anedóticos

1. É dos livros que, ao chegar à notícia de Napoleão Bonaparte


que em seu exército havia um soldado também chamado Napoleão,
porém pusilânime, ordenou ao ajudante-de-campo o trouxesse
a seus pés. Tanto que o viu, fulminou-lhe o general enérgica
intimação: Ou você muda de proceder, ou muda de nome, que a bravura
deve ser o timbre de todo militar.

2. Esfregava as mãos de alegria o espanhol José, exibindo a


certidão de nascimento do filho do casal (José Galeón) à mulher.
Esta o acompanhava também na expansão de justa euforia… até
que leu, estupefacta, o nome com que o oficial do cartório
registrara o menino: Sossega Leão.

3. Ansioso, entra o galhardo mancebo na livraria e diz: estou à


procura de um livro. Qual o título? pergunta-lhe, solícita, a
vendedora.
– As Catilinárias de Cícero.
Após demorada busca nas estantes, a moçoila gentil (porém
hóspede em humanidades) retorna com a resposta:
– Queira desculpar, mas Arte Culinária só temos a de Maria
Teresa!
(Alusão ao famoso livro de Maria Thereza A. Costa, Noções de
Arte Culinária, 1964, 28a. ed., Editora Vozes; Petrópolis; RJ).

4. Mensagem lacônica do oficial de justiça, deixada sob a porta


da casa do réu, a quem não encontrara para citar, porque se
ocultava: Cidadão, voltarei amanhã, às 8h em ponto, para cumprir um
mandado do juiz. O negócio é feio e o teu nome está no meio!
18

5. O nome do autor. Perguntaram um dia a Alexandre Dumas


(pai) se era o feliz autor do romance Dama das Camélias, ao que
respondeu elegantemente:
– Não, sou o autor do autor!
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VII. O Nome: Anagrama, Palíndromos e


Antonomásia

I. Anagrama — “Palavra formada pela transposição das letras de


outra palavra: Belisa (de Isabel)” (Hildebrando de Lima et alii,
Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 11a. ed.; v.
anagrama).
Do imenso rol de engenhosos anagramas pessoais, que a
capacidade inventiva pôs em circulação, alguns se notabilizaram e
caíram em graça:
1. Iracema — “No Brasil, o mais feliz dos anagramas foi o que José
de Alencar compôs, com a inversão do nome América, do qual extraiu o de
Iracema, a virgem dos lábios-de-mel” (R. Magalhães Júnior, Dicionário
de Provérbios e Curiosidades, 1960, p. 22).
2. Natércia (de Caterina);
3. Alice (de Célia);
4. “Galenus” (de “Angelus”). (Galeno — Anjo);
5. Mastai Ferretti. “Este nome dá o anagrama: Fert iste tiaram.
Este traz a tiara, isto é, este é papa. Mastai Ferretti é o nome de família
do papa Pio IX” (Arthur Rezende, Frases e Curiosidades Latinas, 1955,
p. 416; Rio de Janeiro);
6. “O alte vir!” — Ó varão eminente! (Voltaire). (Idem, ibidem,
p. 852);
7. “Laudator” (“Adulator”). (O que louva — Adulador). (Idem,
ibidem, p. 360);
8. “Iste erat Sol” — Esse era um sol (Aristóteles);
9. Egoísta vulgar (Getúlio Vargas);
10. Ignorante (argentino);
11. Maconha (cânhamo);
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12. “Vê que perfeito anagrama


formam também alma e lama” (Alberto de Oliveira, em
Poesias; apud R. Magalhães Júnior, Dicionário de Citações Brasileiras,
1971, p. 14);
13. “Libertà d’Orso”. Liberdade de urso (Alberto Sordi).
(Giorgio De Giorgio, in Corriere della Sera, 13.2.2000, p. 21);
14. “Quid est veritas?”. “Est vir qui adest”. (Que é a verdade? É
o homem que está presente). Famoso exemplo de anagrama feliz. Que
coisa é a verdade? foi a pergunta que Pilatos fez a Jesus, sem esperar
pela resposta; e esta foi dada na Idade Média com o referido
anagrama (cf. Giuseppe Fumagalli, L’Ape Latina, 1992, p. 251;
Hoepli).

II. Palíndromos — “Tanto é palíndromo (…) um verso quanto uma


frase ou simples palavra que se possa ler da esquerda para a direita ou da
direita para a esquerda: ama, ovo” (Napoleão Mendes de Almeida,
Dicionário de Questões Vernáculas, 1981, p. 222).

a) Em sua prestante obra, o Prof. Napoleão Mendes de


Almeida (1911-1998), varão integérrimo e apóstolo ardoroso do
ensino da língua portuguesa, traz curioso e seleto exemplário de
palíndromos, de que traslado esta meia dúzia:
1. Roma me tem amor.
2. Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos.
3. Palíndromos latinos: “In girum imus nocte, et consumimur
igni”. (Circunvagamos durante a noite e somos consumidos pelo
fogo). Sidônio Apolinário, que o refere, diz: O poeta que o compôs
foi inspirado pelas mariposas que via se queimarem na chama de
sua lâmpada.
4. “Si bene te tua laus taxat, sua laute tenebis”. (Se teu elogio te
considera bem, muito mais te deleitarás com o dele).
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5. Palíndromos ingleses: “Able was I ere I saw Elba”. (Poderoso


eu fui antes de ver Elba”).
6. “Doc, note I dissent. A fast never prevents a fatness. I diet on
cod”. (Doutor, observe; o jejum não evita engordar; eu faço regime
comendo bacalhau) (op. cit., p. 222).

b) Outros palíndromos:
7. Ave, Eva;
8. “(…) palíndromo das primeiras palavras ditas por Adão a Eva
no jardim do Éden: Madam, I’m Adam (Madame, sou Adão)” (Charles
Berlitz, As Línguas do Mundo, 4a. ed., p. 242; trad. Heloísa
Gonçalves Barbosa; Editora Nova Floresta; Rio de Janeiro).
9. “A Roma antiga desfrutava de um romântico palíndromo:
Roma tibi subito motibus ibit amor (Em Roma o amor te virá de
repente)” (Idem, ibidem).
10. O galo nada no lago.
11. “Subi dura a rudibus” (latim). Sofre coisas desagradáveis
de pessoas rudes. (Arthur Rezende, op. cit., p. 767; “subi”: modo
imperativo: tolera, suporta, sofre).
22

12. Amor a Roma, título de livro do embaixador e acadêmico


Afonso Arinos de Melo Franco (1930-2020):

III. Antonomásia — “Substituição de um nome próprio por um nome


comum ou perífrase, e vice-versa: o nosso épico (por Camões); Aristarco
(por crítico)” (Lello Universal; v. antonomásia).

1. O Pai Eterno (Deus);


2. O Filósofo (Aristóteles);
3. O Pai da Eloquência (Demóstenes);
4. O Príncipe da Eloquência Romana (Cícero);
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5. O Cisne de Mântua (Virgílio);


6. A Águia de Haia (Rui Barbosa);
7. O Altíssimo Poeta (Dante Alighieri);
8. O Pai da História (Heródoto);
9. O Torturado de Seide (Camilo Castelo Branco);
10. O Solitário de Vale de Lobos (Alexandre Herculano);
11. A Redentora (Princesa Isabel, filha do Imperador D.
Pedro II);
12. O pai da mentira (Demônio);
13. O pai dos burros (dicionário);
14. O astro do dia (o Sol);
15. A rainha das flores (a rosa);
16. O Rei da Voz (Francisco Alves);
17. O Cantor das Multidões (Orlando Silva);
18. O Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa);
19. Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier);
20. Boca de Ouro (São João Crisóstomo);
21. Boca do Inferno (Gregório de Matos);
22. O Pai da Aviação (Alberto Santos Dumont);
23. O Poeta dos Escravos (Castro Alves);
24. O Bruxo do Cosme Velho (Joaquim Maria Machado de
Assis);
25. O Solitário de Itajubá (Venceslau Brás — 1868-1966 —
Presidente da República).
24

26. O Grande (Pe. Antônio Vieira).


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27. O Patriarca da Floresta. É o nome por que se conhece o grande


jequitibá-rosa do Parque Estadual de Vassununga, Santa Rita
do Passa Quatro (SP).
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