Trabalho de Direito Penal 1

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UNIVERSIDADE TÉCNICA DIOGO EUGÉNIO GUILANDE

CURSO DE DIREITO I I – Nível

I SEMESTRE

CADEIRA-Direito I

TEMA- Aplicação de Lei no Tempo e no Espaço

Discentes: Docente: Mário Manuel Quemua MSe.

Amilton da Lina Chicuava

Amélia da Conceição Cardoso

Anabela Chichava

Calisto Maximiano Mate

Ecelina Margarida Navele

Elton Jeffy João Mucumbe

Mércio Naife

Sheila Benedita Manjate

Maputo, Abril 2022


ÍNDICE

1. Introdução.................................................................................................................................3
1.1. Objectivo Geral.................................................................................................................3
1.2. Objectivos específicos.......................................................................................................3
2. Aplicação da lei no tempo........................................................................................................4
2.1. Problema da Aplicação da Lei no Tempo.........................................................................4
2.2. O princípio geral da Aplicação da Lei no Tempo.............................................................4
2.3. Graus da retroactividade art. 3 Código Penal de Moçambique.........................................6
2.4. Teorias ou Doutrinas da retroactividade...........................................................................7
2.4.1. Doutrina dos direitos adquiridos................................................................................7
2.4.2. A doutrina do facto passado......................................................................................7
2.4.3. A doutrina das situações jurídicas objetivas e subjetivas..........................................7
2.4.4. A doutrina das situações jurídicas de execução duradoura e de execução
instantânea................................................................................................................................8
2.5. A Sucessão no tempo de leis sobre prazos........................................................................8
3. Aplicação da lei no espaço..........................................................................................................9
3.1. Conceito................................................................................................................................9
3.3. Princípios da Aplicação da Lei no Espaço............................................................................9
3.3.1. Princípio de territorialidade............................................................................................9
3.4. Extensão do território nacional...........................................................................................11
3.5. Natureza das normas do direito internacional privado........................................................11
3.5.1. Objecto.............................................................................................................................12
3.5.2. Denominação...................................................................................................................12
3.5.3. Autonomia........................................................................................................................13
3.6. Fontes do Direito Internacional Privado.............................................................................13
3.6.2. Tratados........................................................................................................................13
3.6.3. Doutrina........................................................................................................................14
3.6.4. Jurisprudência...............................................................................................................14
3.6.5. Costumes......................................................................................................................14
4. Conclusão..................................................................................................................................15

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5. Bibliografia................................................................................................................................16

RESUMO

O Direito como ordem social normativo não é estático e podemos mesmo afirmar que todos os
dias entram em vigor novas normas jurídicas. Este facto obriga à consagração de regras que
regulem a sucessão legislativa, podemos perceber claramente que a sociedade evolui dia pós dia
e deste modo, há uma necessidade do Direito acompanhar essa evolução, através de normas que
se enquadram a cada realidade, facto este que faz com que as leis não sejam estáticas.

 As leis iniciam a sua existência pública no dia da sua publicação, e iniciam a sua vigência no
prazo por elas determinado. Estas cessam a sua vigência, nos termos legais por caducidade ou
por revogação. Por vezes existe a dúvida qual a lei a utilizar se a antiga ou a nova. A questão é:
as leis são feitas para vigorar somente no futuro ou podem agir em relação a situações passadas,
ou seja, situações que se consumaram quando a nova lei ainda não existia, no entanto,
a aplicação das leis no tempo consiste em determinar qual a lei aplicável a uma determinada
situação: se é a lei antiga ou é a lei nova.

A lei no espaço cuida do lugar onde o crime é praticado, servindo como parâmetro para
solucionar situações em que um crime inicia sua execução em um determinado território e a
consumação dar-se em outro. A lei penal e sua aplicação no espaço também engloba a soberania
nacional e sua imposição em relação aos atos praticados em detrimento de sua autoridade, razão
pela qual adota tanto a territorialidade, como a extraterritorialidade em casos específicos.
Princípio da Territorialidade Moderada – admite-se a aplicação de normas estrangeiras no
território, mais utilizado quando se trata do Direito Penal, encontra base nos tratados adotados. A
lei começa a produzir efeitos após a sua entrada em vigor, passando a regular todas as situações
futuras (regra) e passadas (exceção). A entrada em vigor equivale ao nascimento da lei. Após
esse momento, a lei vige até que outro posterior a revogue lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu; Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que
forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode
impor pena mais grave que a aplicável no momento da perpetração do delito.

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1. INTRODUÇÃO
Para que o Direito seja um Direito realmente eficaz, tem de se manter num espaço constante de
modernização, para conseguir acompanhar as mudanças dos tempos, assim, há medida que a
sociedade vai evoluindo, o direito tende a evoluir com ela, as leis transformam-se, renovam-se,
adaptam-se e evoluem ao longo do tempo, daí poder afirmar-se que as leis se sucedem no tempo
e no espaço. Assim, o presente trabalho debruça sobre a aplicação da lei no tempo e no espaço e
a natureza das normas do direito internacional privado.

Este trabalho é de muita importância, pois, dotará aos estudantes de direito, de conhecimentos
relativos a aplicação das leis, o que facilitará a resolução de conflitos que emergirem na
sociedade.

A elaboração do presente trabalho foi baseada na consulta de parte da legislação Moçambicana e


de diversas obras de autores de direito. Dentro deste, falaremos dos princípios da aplicação da lei
no tempo e no espaço, bem como, as suas exceções dos graus da retroatividade, das doutrinas
existentes na aplicação da lei no tempo, bem como da doutrina dos prazos.

O Direito Internacional Privado é o ramo da ciência jurídica que resolve os conflitos de leis no
espaço, e disciplina os fatos em conexão com leis divergentes e autônomas. Ele determina o
direito aplicável às relações jurídicas de direito privado com conexão internacional.

1.1. OBJECTIVO GERAL


Conhecer a aplicação da lei no tempo e no espaço.

1.2. OBJECTIVOS ESPECÍFICOS


Definir aplicação da lei no tempo e no espaço;
Identificar princípios da aplicação da lei no tempo e no espaço;
Especificar a natureza das normas do direito internacional privado.

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Objecto de estudo

Para a realização do presente usou-se como objecto de estudo

CONTEXTUALIZAÇÃO

2. AAPLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

Segundo o Código Penal de Moçambique, no seu livro primeiro, parte geral no seu título I
Garantias e aplicação da Lei penal e no seu artigo 1° conjugado com a CRM no seu artigo 60,
que é o princípio da legalidade diz o seguinte:

1. Nenhum facto, consista em ação ou omissão, pode julgar-se crime sem que nenhuma lei,
no momento da sua prática, o qualifique como tal.
2. Não podem ser aplicadas medidas ou penas criminais que não estejam previstas na lei.

Analisando o artigo acima citado ele nos trás a ideia de que só pode ser considerado crime
aquilo que for positivado pela nossa legislação como por exemplo: CRM, código penal, código
civil. Vamos trazer aqui um exemplo elucidativo de algo comum e que é praticado pela
sociedade Moçambicana que é o lóbulo do espaço adquirido, onde os chefes ou responsáveis dos
bairros cobram valores, vinhos e galinhas vivas com a desculpa de lobolar o espaço adquirido, é
uma prática não boa mas como não está positivado na nossa legislação não é considerado crime.

2.1. Começo da vigência da lei


Segundo o código civil no seu capítulo II que fala da vigência, interpretação e aplicação das leis
no seu artigo 5°, diz o seguinte:

1. A lei só é se torna obrigatória depois de publicada no jornal oficial.


2. Entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o tempo que a própria lei fixar ou, na
falta de fixação, o que for determinado em legislação especial..

O artigo acima citado vem nos elucidar que, as leis iniciam a sua existência pública no dia da sua
publicação, e iniciam a sua vigência no prazo por elas determinado. Estas cessam a sua vigência,
nos termos legais por caducidade ou por revogação. Por vezes existe a dúvida qual a lei a utilizar

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se a antiga ou a nova. A questão é: as leis são feitas para vigorar somente no futuro ou podem
agir em relação a situações passadas, ou seja situações que se consumaram quando a nova lei
ainda não existia, no entanto, a aplicação das leis no tempo consiste em determinar qual a lei
aplicável a uma determinada situação: se é a lei antiga ou é a lei nova.

2.2. O PRINCÍPIO GERAL DA APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO NO TEMPO


Analisemos o artigo 12 do Código Civil de Moçambique

O código civil no seu capítulo II, conjugado com a CRM no seu artigo 57°, que fala da vigência,
interpretação e aplicação das leis no seu artigo 12° que fala da aplicação das leis no tempo.
Princípio geral diz:

1. A lei só dispõe para o futuro; ainda que lhe seja atribuída eficácia retroativa, presume-se que
ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular.

2. Quando a lei dispõe sobre as condições de validade substancial ou formal de quaisquer factos
ou sobre os seus efeitos, entende-se, em caso de dúvida, que só visa os factos novos; mas,
quando dispuser directamente sobre o conteúdo de certas relações jurídicas, abstraindo dos factos
que lhes deram origem, entender-se-á que a lei abrange as próprias relações já constituídas, que
subsistam à data da sua entrada em vigor.

De acordo com nº 1 do artigo 12, o princípio geral da aplicação das leis no tempo, é o
da disposição futura - não retroactividade, e de acordo com este princípio, a lei não dispõe para o
passado, ou seja, a lei não é feita para regular factos passados, apenas regula factos que
persistirem a partir da data da sua entrada em vigor.

Exemplo: um arguido que cometeu um crime de roubo à peças de viaturas, ele foi preso e na
altura da sua prisão é aprovado uma nova lei que revoga a anterior e que diz que aquele  que for
preso por furto a sua pena é convertida automaticamente em trabalhos sociais e não pena de
prisão, a lei que vai prevalecer será a nova porque a lei não retroagirá.

Ainda de acordo com o artigo 12, a retroactividade da lei é admissível em determinadas


circunstâncias, uma vez que a própria norma refere ainda que lhe seja atribuída eficácia
retroactiva. Assim, a lei age de forma retroactiva nos termos em que a mesma fixa. A

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retroactividade segundo o artigo já citado, é admitida, mas devendo, no entanto, salvaguardar os
efeitos já produzidos pela lei antiga, e assim sendo os factos já passados não ficam sujeitos à
nova lei.

Exemplo: se um arguido tiver cometido um crime de assassinato e foi transitado em julgado e 


condenado a pena máxima de 24 anos, e posteriormente revoga-se a lei que diz que a pena
máxima é de 24 anos e passa a vigorar a nova lei que diz que a pena máxima por assassinato é de
30 anos, a esse arguido não pode ser aplicado a nova lei, mas sim prevalecerá a lei antiga,
porque a lei só retroagirá se for para beneficiar e nunca para prejudicar.

Analisando o nº 2 do mesmo artigo entende-se aqui o seguinte:

1. Sempre que a lei nova dispuser sobre as condições de validade formal ou material de
quaisquer factos, tem-se por aplicável a lei antiga evitando-se assim a sua reapreciação.

2. Se o objecto da regulação da lei nova for o conteúdo de certa relação jurídica, aplica-se a lei
nova, quando se concluir que o legislador pretendeu abstrair-se na nova regulação dos factos que
deram origem à relação jurídica em causa.

3. Se o objecto da regulação da lei nova for o conteúdo de certa relação jurídica, aplica-se a lei
antiga, quando se concluir que o legislador não pretendeu abstrair-se na nova regulação dos
factos que deram origem à relação jurídica em causa

Na ideia de Isabel Rocha, o princípio do não retroactividade da lei é fundamental para


salvaguardar a certeza e segurança do próprio Direito, caso contrário, as expectativas dos sujeitos
nas relações jurídicas poderiam ser gravemente afectados. Por outro lado, a ausência deste
princípio poderia causar graves distúrbios nas relações sociais em virtude da instabilidade que o
Direito assim geraria. Nestes termos, o Direito como uma ordem normativa social, deve garantir
a justiça e a segurança assegurando deste modo a boa convivência na sociedade.

A lei não pode suscitar dúvidas quanto a sua aplicabilidade, assim, caso aconteça, o
entendimento dessa lei é que será aplicada somente para casos novos. Nestes termos a lei age de
forma retroactiva quando esta dispuser directamente sobre factos jurídicos já existentes,
abrangendo assim estes e os que subsistirem à data da sua entrada em vigor.

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2.3. GRAUS DA RETROATIVIDADE
Segundo o Código Penal de Moçambique no seu artigo 3° que fala da aplicação da lei no
tempo diz o seguinte:
1. A lei penal não tem efeitos retroactivos salvas as particularidades dos números seguintes.
2. A infração punível por lei vigente ao tempo em que foi cometida, deixa de o ser se uma
lei nova a eliminar do número das infrações.
3. Tendo havido já a condenação transitada em julgado, fica extinta a pena, tenha ou não
começado o seu comprimento.
4. Quando à lei estabelecida na lei vigente em que é praticada a infração for diversa da
estabelecida em leis posteriores, é sempre aplicada a moldura penal que, concretamente,
se mostra mais favorável ao agente do crime. Se, porém tiver havido condenação, ainda
que tenha transitada em julgado, cessam a execução e os seus efeitos penais logo que a
parte de pena que se encontra cumprida atinja o limite máximo da pena prevista na lei
posterior, sendo esta favorável.
5. As disposições da lei sobre os efeitos da pena te efeito retroactivo, em tudo quanto seja
favorável ao agente do crime, ainda que este esteja condenado por sentença transitada,
em julgado ao tempo da promulgação da mesma lei, salvas os direitos de terceiros.
6. Os factos praticados na vigência de uma lei temporária são por ela julgado salvo se
legalmente se dispuser o contrário.

Autores como Manuel das Neves Pereira e Santos Justos apresentam três graus de
retroactividade. Em leis posteriores é sempre aplicada a moldura penal que, concretamente se
mostra mais favorável, ao agente do crime. Se, porém, tiver havido condenação ainda que
transitada em julgado, cessam a execução e os seus efeitos penais, logo que a parte da pena que
se encontrar cumprida atinja o limite máximo, da pena prevista na lei, posterior sendo essa
favorável.

Retroactividade de 3º Grau ou grau máximo – é aquela que se caracteriza por aplicar a lei
nova anulando as consequências últimas e definitivas da lei antiga, ou seja, todas situações
definitivamente decididas segundo a lei antiga deixam de o ser, incluindo as que já estão
definitivamente fixadas e decididas por sentença transitada em julgado ou outro título
equivalente.

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Retroactividade de 2º grau ou agravado – esta retroactividade respeita os casos judicialmente
decididos com trânsito em julgado e os equiparáveis, como naqueles em que já houve
cumprimento da obrigação ou em que ocorreu transação, ainda que não homologada, ou seja,
aplica-se a todas situações do passado, mas salvaguarda os efeitos já definidos por decisão
judicial ou título equivalente.

Retroactividade de 1º grau ou ordinária – aquela em que, quando a lei nova regula factos ou
situações nascidas antes do seu início de vigência, entende-se que já não ficam sujeitos â nova
lei os factos e seus efeitos produzidos já produzidos ao abrigo da lei nova.

2.4. TEORIAS OU DOUTRINAS DA RETROACTIVIDADE


2.4.1. Doutrina dos direitos adquiridos
Segundo esta doutrina, os direitos adquiridos à sombra duma lei devem ser respeitados pelas leis
posteriores.

Esta doutrina foi definida por Savigny e exposta na sua versão mais ampla por Merlin e Gabba,
distingue os direitos adquiridos das faculdades legais e simples expectativas: aqueles já entraram
no nosso domínio e não podem ser-nos retirados. A lei nova deve respeitar os direitos adquiridos,
mas não as faculdades legais e as simples expectativas.

Esta doutrina foi logo criticada, primeiro porque, o direito não deriva do seu exercício, depois
porque nem sempre é fácil distinguir o direito subjetivo e uma expectativa e finalmente porque
nem todos direitos permanecem indefinidamente sujeitos à disciplina do direito vigente.

2.4.2. A doutrina do facto passado


Esta doutrina sustenta que todo facto jurídico é regulado pela lei vigente quando se produziu, por
isso, a lei nova não deve ser retroactiva.

Aos efeitos jurídicos já consumados sob império da lei antiga, aos ainda pendentes quando a lei
nova surge e mesmo aos que não se produziram, mas podem ocorrer como consequência mais ou
menos longínqua dum facto passado, a todos se aplica a lei antiga: a lei em vigor quando ocorreu
o facto que os produziu.

Esta doutrina defende a aplicação da lei antiga aos factos passados, mas quanto aos factos
pendentes distingue: se os seus efeitos jurídicos já se produziram antes da entrada em vigor da lei

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nova, aplicar-se-á a lei nova; se ainda não se produziram, aplicar-se-á a lei nova, falando-se
assim, não da retroactividade, mas de efeito imediato.

2.4.3. A doutrina das situações jurídicas objetivas e subjetivas


Esta doutrina procurou substituir o conceito de Direito subjetivo pelo de situação jurídica que
compreende: as situações subjetivas são as que resultam das manifestações da vontade dos
indivíduos de harmonia com a lei, tem um conteúdo individual ou particular, e as situações
objectivas, consistem em simples poderes leis que a lei atribui às pessoas em virtude da
ocorrência de certos factos. As primeiras são livremente determinadas pelos indivíduos e as
segundas são imperativamente fixadas pela lei. Assim, às situações jurídicas subjectivistas
vindas do passado dever-se-á aplicar a lei antiga e às objectivas, a lei nova.

Esta doutrina foi criticada porque nem sempre as situações jurídicas resultam apenas da vontade
dos interessados e não seria razoável aplicar-se a lei antiga a estas situações jurídicas subjectivas
e que há situações objectivas (que não dependem da vontade de ninguém) a que seria injusto
aplicar a lei nova.

2.4.4. A doutrina das situações jurídicas de execução duradoura e de execução instantânea


Introduzida por Galvão Telles, constitui uma nova versão dos factos passados, defende que nas
situações jurídicas de execução duradoura, que podem durar anos e até séculos, é necessário
separar o passado e o futuro; aquele pertence ao domínio da lei antiga, este ao da lei nova, ou
seja, os factos passados pertencem a lei antiga e os futuros a lei nova.

2.5. A Sucessão no tempo de leis sobre prazos


O decurso de um prazo pode ter o valor de facto constitutivo ou extintivo de um direito e pode
suceder que uma lei nova altere, aumentando ou diminuindo, um prazo que, estando em curso,
ainda não permitiu que o direito se constituísse ou extinguisse. Por isso é necessário saber qual
das leis a aplicar, se é a lei antiga ou a nova. A solução para este problema encontra-se plasmada
no artigo 297 do Código Civil, assim:

1. Se a lei nova estabelecer um prazo mais curto em relação a lei antiga, aplicar-se-á também aos
prazos ainda em curso, mas o tempo só se conta a partir da data da sua entrada em vigor. Todavia
se faltar menos tempo para o prazo se completar segundo a lei antiga, aplicar-se-á esta.

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2. Se a lei nova fixar um prazo mais longo, aplicar-se-á igualmente aos prazos em curso, mas
computar-se-á o tempo decorrido antes.

3. A doutrina dos números anteriores é extensiva, na parte aplicável, aos prazos fixados pelos
tribunais ou por qualquer autoridade.

3. Aplicação da lei no espaço


3.1. Conceito
Depois de já termos falados. aplicação da lei no tempo, vamos agora vamos falar da aplicação
dessa lei no espaço. É de salientar que da mesma forma que as leis são criadas para vigorar num
determinado tempo, elas também são criadas para vigorar num determinado espaço. A aplicação
da lei no espaço procura responder às várias questões que se podem suscitar a propósito das
formas de compatibilidade entre vários ordenamentos jurídicos.

A finalidade da aplicação da lei no espaço é identificar e determinar o lugar do crime. É


importante identificar o lugar do crime para saber a competência para fins de aplicação penal. É
preciso saber quem é competente para aplicar a lei naquele crime.

A lei no espaço busca determinar o lugar onde o delito foi praticado.

3.2. Teoria da Aplicação da Lei no Espaço

Teoria da Actividade: também conhecida como “teoria da Ação” - é o lugar do crime, é aquele
lugar em que foi praticado a conduta (ação ou omissão)

Teoria do resultado: lugar do crime, é aquele onde se produziu ou deveria ter sido produzido o
resultado do crime, não importando o local da prática da conduta (ação ou omissão).

Teoria da apliquidade ou misto do crime: é tanto o local do delito, como o local de produção
do resultado.

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Regra Geral- aplica-se a lei moçambicana ao crime no território nacional, independentemente
da nacionalidade do autor e da vítima do delito ou do bem lesado.

3.3. Princípios da Aplicação da Lei no Espaço


3.3.1. Princípio de territorialidade
O estado em cujo território foi cometido o crime é o competente para julgar o agente,
independentemente da sua nacionalidade, nacionalidade da vítima ou do bem jurídico lesado.

Em razão do conceito jurídico de soberania Estatal, a norma deve ser aplicada dentro dos limites
territoriais do Estado que a criou. Essa é a ideia do princípio da territorialidade.

Na República de Moçambique, "o território é uno, indivisível e inalienável, abrangendo toda a


superfície terrestre, a zona marítima e o espaço aéreo delimitados pelas fronteiras nacionais. A
extensão, o limite e o regime das águas territoriais são fixados por lei.

Dentro do princípio da territorialidade encontramos o Princípio da territorialidade e


consanguinidade ou princípio da nacionalidade, no qual a lei é aplicada no território nacional e
aos cidadãos nacionais. No caso de Moçambique, a questão de territorialidade e
consanguinidade, encontra-se regulada na constituição.

O princípio da territorialidade torna-se insuficiente para abranger a imensa gama de relações


jurídicas estabelecida entre pessoas de diversos países. Assim contrapondo-se ao princípio da
territorialidade, tem-se o princípio da extraterritorialidade que admite a aplicabilidade no
território nacional de leis de outros Estados, segundo princípios e convenções internacionais. O
princípio de territorialidade prevê a aplicação da lei nacional ao fato praticado no território do
próprio país. O princípio da nacionalidade (ou de personalidade) cogita a aplicação da lei do país
de origem do agente, pouco importando o local onde o crime foi cometido o tenha feito fora dos
limites territoriais. Pelo princípio de proteção (da competência real, de defesa), aplica-se a lei do
país ao fato que atinge bem jurídico nacional, sem qualquer consideração a respeito do local
onde foi praticado o crime ou da nacionalidade do agente.

Pelo princípio da competência universal (ou da justiça cosmopolita), o criminoso deve ser
julgado e punido onde foi detido, segundo as leis desse país, não se levando em conta o lugar do
crime, a nacionalidade do autor ou o bem jurídico lesado.

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Por fim, há o princípio da representação, subsidiário, que determina a aplicação da lei do país
quando, por deficiência legislativa ou desinteresse de outro que deveria reprimir o crime, este
não o faz, e diz respeito aos delitos cometidos em aeronaves ou embarcações.

É uma aplicação do princípio da nacionalidade, mas não a do agente ou da vítima, e sim do meio
de transporte em que ocorreu o crime. Os factos podem ter diferentes tipos de conexão com a
ordem jurídica, designadamente:

 Nacionalidade das partes;


 Domicílio das partes;
 Lugar da situação do bem imóvel;
 Lugar da prática do facto ilícito, lugar da celebração do negócio.

Uma vez que num Estado existem diversos ordenamentos jurídicos, a relação da aplicação das
leis no espaço são reguladas nos termos das normas do Direito Internacional Privado dos artigos
14º a 24º do Código Civil.

O princípio de territorialidade divide-se em:

Princípio de territorialidade absoluta: apenas a lei penal moçambicana é aplicada aos crimes
cometidos no território nacional.

Princípio de territorialidade temperada: a regra de que a lei moçambicana é aplicada aos


crimes cometidos no território nacional não é absoluta podendo a lei estrangeira ser aplicada em
crimes praticados em nosso território, quando assim exigem os tratados e convenções
internacionais.

3.4. Extensão do território nacional


Princípio do pavilhão ou da bandeira: consideram-se as embarcações, aeronaves como
extensão do território do país em que estiverem registados. Dessa forma, quando a embarcação
estiver em alto-mar, ou em espaço aéreo livre aplicar-se-á a lei do país cuja bandeira eles
ostentarem.

Princípio da passagem de inocente: É permitido que uma embarcação ou aeronave de


propriedade privada atravesse o território moçambicano, desde que não afete em nada dos nossos

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interesses. Nesta hipótese, caso ocorra um crime dentro desta embarcação, não será aplicada a lei
moçambicana (país em trânsito), desde que não afete um bem jurídico nacional.

3.5. Natureza das normas do direito internacional privado


Quando à sua natureza, a norma de Direito Internacional Privado é geralmente conflitual,
indireta, não solucionadora da questão jurídica em si, mas indicadora do direito interno aplicável,
daí ser classificada como sobre direito. Também existem normas substanciais, diretas, como se
verá.

O Direito Internacional Privado é o ramo da ciência jurídica que resolve os conflitos de leis no
espaço, e disciplina os fatos em conexão com leis divergentes e autônomas.

 Ele determina o direito aplicável às relações jurídicas de direito com conexão


internacional.
 Ele tem função designativa, de modo a determinar qual o direito deve ser aplicado no
caso concreto, sem análise própria de seu Conteúdo material. “Fundamentalmente, o
Direito Internacional Privado é o ramo da ciência jurídica que desafia o princípio da
territorialidade das leis na medida em que fixa fundamentos da aplicação do direito
estrangeiro pelo juiz nacional: quando aplicar? Em que casos? E quais os limites dessa
aplicação.

Quanto à sua natureza, a norma de Direito Internacional Privado é geralmente conflitual,


indireta, não solucionadora da questão jurídica em si, mas indicadora do direito interno aplicável,
daí ser classificada como sobre direito embora busque solucionar problemas que dizem respeito
aos interesses privados, o Direito Internacional Privado apresenta normas de Direito Público, que
oferece ao aplicador do Direito elementos para solucionar os conflitos da lei.

3.5.1. Objecto
O Direito Internacional Privado tem como objeto as relações jurídico-privadas internacionais, os
fatos suscetíveis de relevância jurídico-privada, especialmente no que diz respeito aos conflitos
de leis no espaço (choques da lei estrangeira com as leis pátrias, por ofender a soberania nacional
e a ordem pública) e à aplicação da lei estrangeira condições jurídicas do estrangeiro e os
direitos, Haroldo Valadão entende que o Direito Internacional Privado tem por objeto leis de
qualquer natureza que abranjam conflitos de leis no espaço, quer nacionais, estaduais,

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provinciais, religiosas, civis, comerciais, pertencentes à esfera trabalhista, penal processual,
administrativa e fiscal.

Pontes de Miranda entende, sob uma ótica mais restritiva, que o Direito Internacional Privado
não aceita no seu âmbito questões ligadas ao direito público.

A unanimidade reside, entretanto, em se afirmar que as normas de Direito Internacional Privado


se destinam a resolver conflitos de leis no espaço, o que sempre pressupõe fatos juridicamente
que possuem conexão internacional.

3.5.2. Denominação
Critica-se a denominação Direito Internacional Privado pelo caráter nacional da sua legislação.

 Grande parte de suas normas é interna, havendo muito pouco de internacional na


legislação que determina o Direito a ser aplicado.
 Além disso, a denominação Internacional denota relação entre estados, o que só ocorre no
Direito Internacional Público.

Em relação ao termo Privado, diz-se não se tratar essa disciplina apenas de Direito Privado, uma
vez que há questões de Direito Público no seu estudo.

 Apesar das críticas, mantêm-se a terminologia.


 Nas palavras de Dolinger, “há um generalizado deleite entre os estudiosos do Direito
Internacional Privado em demonstrar que a denominação da disciplina é incorreta e ao
mesmo tempo manter-se fiel a ela”.

3.5.3. Autonomia
O Direito Internacional Privado é amplamente reconhecido pelo mundo e é objeto de proteção
pelo ordenamento jurídico internacional, com princípios específicos, e dotado de uma estrutura
que o define como ramo autônomo em relação a outras ciências Jurídicas.

Goza de autonomia científica e é ramo destacado da ciência do Direito, uma vez que possui
objeto próprio, qual seja, a solução de problemas de conflitos de leis no espaço.

3.6. Fontes do Direito Internacional Privado


3.6.1. Lei

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 A lei é tida como a principal fonte do Direito Internacional Privado, e em Moçambique
podemos enumerar diversos exemplos, como a nossa Constituição da República que traz
variadas disposições no tocante aos estrangeiros bem como à extradição e à homologação de
sentença estrangeira.

3.6.2. Tratados
 Trata-se, por excelência, de fonte externa de Direito Internacional Privado.
 Os tratados consistem em acordos firmados entre dois ou mais Estados, visando à consecução
de um objetivo ou ao estabelecimento de normas de conduta nas suas múltiplas relações
(Edgar Carlos de Amorim) Artigo 2, item 1, a da Convenção de Viena de 1969 “Tratado”
significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito
Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos
conexos, qualquer que seja sua denominação específica.

Como a própria Convenção de Viena afirma, os tratados constituem um meio de desenvolver a


cooperação pacífica entre as nações, quaisquer que sejam seus sistemas constitucionais e Sociais.

3.6.3. Doutrina
 Havendo omissão da lei e não havendo tratado, a doutrina é utilizada com grande êxito para a
resolução do conflito de leis no espaço.
 Na maioria das vezes, busca-se orientação nas obras dos próprios tratadistas, e assim
encontra-se o caminho para a solução de conflitos.

Segundo Agenor Pereira de Andrade, “a doutrina é a força modeladora do Direito, é o Direito em


movimento, é a norma positiva do futuro. É através do estudo silencioso nos gabinetes, das
conclusões dos sábios e cientistas do Direito, que se mantém,

num ritmo de constante evolução, o feitio jurídico dos povos”.

3.6.4. Jurisprudência
 Segundo Del´Olmo, O intenso intercâmbio entre pessoas de diferentes países, com negócios,
casamentos e movimento assim, também a jurisprudência vem-se constituindo em
verdadeira fonte de Direito Internacional Privado.

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3.6.5. Costumes
 Segundo Machado Villela, o costume internacional consiste no “acordo tácito dos Estados
no sentido de aceitar uma norma obrigatória reguladora da sua conduta nas suas relações
mútuas”.
 Trata-se de uma fonte de direito internacional privado essencialmente.

4. Conclusão
Após um estudo sintetizado em relação a aplicação da lei no tempo e no espaço, e a natureza das
normas do Direito Internacional Privado, podemos concluir que as leis são feitas para regular a
convivência humana na sociedade e uma vez que a sociedade está em constante evolução, as leis
acompanham essa evolução sucedendo-se assim no tempo e no espaço para melhor eficácia do
próprio direito.

O princípio geral da aplicação da lei no tempo é o do não retroactividade, segundo o qual, as leis
apenas regulam factos novos, ou seja, factos que emergirem a partir da data de entrada em vigor

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dessa lei, salvaguardando assim, os efeitos já produzidos pelas leis anteriores. O princípio do não
retroactividade, apresenta excepções, podendo assim a lei retroagir em certas circunstâncias,
sendo quando definidas por própria lei e ou quando beneficie os visados.

A aplicação da lei no espaço tem como princípio geral, o da territorialidade, no qual a lei se
aplica em todo território de um Estado. Este princípio exceptua-se dando origem ao princípio da
extraterritorialidade, pois os Estados encontram-se vinculados por vários sistemas normativos
que concretizam a boa relação entre Estados e cidadãos.

5. Bibliografia
a) Legislação:
b) Constituição da República de Moçambique
c) Código Penal
d) Código Civil
e) JUSTOS, A. Santos. Introdução ao Estudo do Direito. 4ª Edição. Coimbra Editora. 2009
f) ROCHA, Isabel, BATALHÃO, Carlos José, ARAGÃO, Luís. Introdução ao direito. 12º Ano.
Porto Editora

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g) FONTES, José. Teoria geral do Estado e do Direito. Coimbra Editora. 2006
h) PEREIRA, Manuel das Neves. Introdução ao Direito e às Obrigações. 3ª Edição. Almedina
i) FONTES, José. Teoria geral do Estado e do Direito. Coimbra Editora, p 264
j) ROCHA, Isabel, BATALHÃO, Carlos José, ARAGÃO, Luís. Introdução ao direito. 12º Ano.
Porto Editora, p 173
k) Baptista Machado. Introdução ao Direito. in JUSTOS, A. Santos. Introdução ao Estudo do
Direito. 4ª Edição. p 377 e PEREIRA, Manuel das Neves. Introdução ao Direito e às
Obrigações. 3ª Edição. Almedina. p 251
l) Esta é a retroactividade a que se refere o nº 1 do art. 12 do Código Civil
m) JUSTOS, A. Santos. Introdução ao Estudo do Direito. 4ª Edição. p 378-383
n) JUSTOS, A. Santos. Introdução ao Estudo do Direito. 4ª Edição. p 383 -384
o) art. 6 da Constituição da República de Moçambique
p) . art. 23-24 da Constituição da República de Moçambique
q) art. 17- 19 da Constituição da República de Moçambique

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