Homicídio Passional
Homicídio Passional
Homicídio Passional
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
É de bom alvitre destacar que, este trabalho foi delimitado ao estudo dos assassinatos
passionais, oriundos de relacionamentos sexuais e/ou amorosos, buscando o
entendimento do porquê de tal conduta e a punição mais acertada para ser aplicada a
esses crimes, analisando-se os aspectos imprescindíveis. E, acima de tudo, verificando o
fato gerador (motivação) da conduta criminosa, se foi uma emoção aguda e passageira
ou uma paixão crônica e duradoura.
Então, para uma compreensão inicial de tudo o que será discutido e demonstrado no
decorrer deste trabalho, será necessário, preliminarmente, o entendimento do tipo penal
do homicídio de acordo com o que está disposto no Código Penal e a posição
doutrinária brasileira.
Já no terceiro capítulo será vislumbrado como este tipo de crime foi visto pelas
sociedades, os comportamentos distintos de acordo com a educação de cada época,
tendo-se, inclusive, admitido até a década de 70, a tese da legitima defesa da honra, hoje
já superada e extremamente insustentável e inadmissível. Realizando-se, ainda, uma
breve análise da jurisprudência atual sobre tema.
á TULO 1
O INSTITUTO DO HOMIáDIO - SáTOS GR IS
1.1 O Homicídio
O homicídio é um dos crimes mais combatidos tanto pela Justiça como pela própria
sociedade, tendo em vista que atinge o maior bem que todos possuem que é a vida.
Esse tipo penal apresenta-se de várias formas, de acordo com os fatos e suas
circunstâncias. Serão estas circunstâncias que irão determinar se o homicídio é simples,
culposo, privilegiado ou qualificado.
(...) o tipo central dos crimes contra a vida e é o ponto culminante na orografia
dos crimes. É o crime por excelência. É o padrão da delinqüência violenta ou
sanguinária, que representa como que uma reversão atávica às eras primeiras,
em que a luta pela vida, presumivelmente, se operava com o uso normal dos
meios brutais e animalescos. É a mais chocante violação do senso moral médio
da humanidade civilizada.1
A norma jurídica do art. 121 do Código Penal tutela o maior bem que todos têm que é a
vida extra-uterina, cuja proteção é um imperativo jurídico de ordem constitucional (art.
_ da CF).
Consiste, ainda, em um crime material que se consuma com a morte da vítima ou com a
sua tentativa. É também instantâneo com relação ao ato praticado e de dano, pois afeta
um bem.
Matar alguém é o tipo básico fundamental do crime, previsto no art. 121, , do CP.
Como bem salienta Fernando Pedroso:
o art. 121 concentra e abriga o tipo legal delitivo do homicídio, crime que pode
apresentar no seu cometimento, entretanto, variações, nuances, facetas e motivos
diversos2.
Com relação ao homicídio privilegiado, este está disposto no §1º do art. 121 do Código
Penal, preceituando que:
(...) se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou
moral, ou sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Três são as hipóteses que podem configurar o homicídio privilegiado, se o agente mata
alguém impelido por motivo de relevante valor social; impelido por motivo de relevante
valor moral, ou, ainda, sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima.
A Exposição de Motivos do Código Penal, item 39, entende por ³motivo de relevante
valor social ou moral´ aquele que, em si mesmo, é aprovado pela moral social, tendo
como exemplos clássicos, o homicídio eutanásico, ante à compaixão do irremediável
sofrimento da vítima e a indignação contra um traidor da pátria.
o motivo de valor social é aquele que atende aos interesses ou fins da vida
coletiva. O valor moral do motivo se afere segundo os princípios éticos
dominantes. São aqueles motivos aprovados pela moralidade média,
considerados nobres e altruísta3.
Enfim, tal aferição deve ser analisada por critérios de natureza objetiva, de acordo com
aquilo que a moral média reputa digno de aprovação.
Com relação à diminuição de pena prevista para este tipo penal, Heleno Fragoso afirma
que, ³sendo este crime de competência do Tribunal do Júri´, constitucionalmente
reconhecida no art. 5º, XXXVIII da CF, ³haveria violação da soberania dos veredictos
se o juiz deixasse de atenuar a pena´5 , reconhecendo o tribunal popular ter sido o crime
praticado na hipótese do art. 121, § 1º do CP.
Trata-se de matéria pacífica, pois de acordo com a Súmula 162 do STF, sendo
reconhecido o homicídio privilegiado, o Juiz tem a obrigação de diminuir a pena,
ficando ao seu critério determinar apenas o ÷ a ser reduzido.
Vale ainda destacar que, a figura do homicídio privilegiado não se confunde com as
atenuantes dispostas no art. 65 do CP, sendo, portanto, com estas incompatíveis.
Já com relação a atenuante genérica prevista no art. 65. III, c, última parte do CP, esta
também não se confunde com a figura privilegiada do homicídio. Naquela o crime é
praticado sob influência, e não domínio, de violenta emoção e sem o requisito logo em
seguida, do homicídio privilegiado. Pois neste tipo de homicídio, a lei exige que o
sujeito esteja sob o domínio de violenta emoção, enquanto que na atenuante, basta que o
sujeito esteja sob a influência da violenta emoção. O privilégio exige reação imediata, já
a atenuante não.
A conseqüência direta que vai ser objeto de mais uma diferença entre o homicídio
privilegiado e as atenuantes genéricas está relacionada com a dosimetria da pena.
A dosimetria da pena é aplicação da mesma, individualizando-a de acordo com cada
caso concreto.
Porém, se reconhecido o privilégio nada impede que a pena fique menor que a pena
base.
Como bem afirma Celso Delmanto, ³embora a atenuante não incida quando for
reconhecido o homicídio privilegiado, se este for negado ela ainda pode ser cabível7 ´.
Nos capítulos seguintes serão analisados casos verídicos, onde poderão ser visualizados
quando o caso in concreto se trata de um homicídio qualificado ou privilegiado.
A diferença mais importante em relação de ser uma pessoa condenada por homicídio
privilegiado ou por homicídio qualificado está diretamente ligada a dosimetria da pena
aplicada e o regime a ser cumprido, com relação à progressão. Pois no homicídio
privilegiado, acrescem-se ao tipo circunstâncias que fazem decrescer a reprovabilidade
do crime, suavizando a sua pena. Já no homicídio qualificado, agregam-se
circunstâncias que elevam esta reprovabilidade do delito, que conduzem ao aumento de
pena.
Conforme explica a Exposição de Motivos do CP, diz-se fútil o motivo que, ³pela sua
mínima importância, não é causa suficiente para o crime´.
Meio cruel (exs: asfixia, tortura) é o que aumenta inutilmente o sofrimento da vítima, ou
revela uma brutalidade fora do comum ou em contraste com o mais elementar
sentimento de piedade, de acordo com a Exposição de Motivos, nº 38.
E ainda se tem a figura do emprego de meios catastróficos, isto é, de que possa resultar
perigo comum.
Com relação aos modos, temos a traição que é o ataque praticado inesperadamente; a
emboscada, que é a tocaia, com o agente escondido à espera da vítima; a dissimulação
onde o agente se esconde ou disfarça o seu propósito, para atingir o ofendido
desprevenido; e, por fim, a hipótese de mediante outro recurso que dificulte ou torne
impossível à defesa da vítima, que deve ser uma situação análoga à traição, emboscada
ou a dissimulação.
É de bom alvitre, ainda, destacar que quando uma das circunstâncias agravantes,
relacionadas nos arts. 61 ou no 62, ambos do CP, constituir elementar ou qualificadora
do crime, não se faz à agravação.
Uma adequada explicação sobre este assunto é dada por Cezar Bitencourt:
Em um parecer dado pelo Procurador Nicanor Álvares Júnior, o mesmo trata deste
assunto nos seguintes termos:
No entanto, sob um outro prisma, pode se verificar que esta espécie de homicídio apesar
de ter a pena diminuída não deixa de ser qualificado, raciocinando dessa forma, pode-se
chegar a conclusão que se trata sim de um crime hediondo, porque existem
qualificadoras que especificam o tipo.
Por fim, diante do tema proposto por este trabalho, os crimes passionais, a importância
de se ter uma noção de crime hediondo é que, se o homicida passional for condenado
por ter cometido um homicídio qualificado sua punição será mais severa, seguindo os
ditames da Lei 8.072/90. Caso seja condenado por homicídio privilegiado, além da pena
ser mais branda, o agente do delito não irá sofrer um regime prisional tão rigoroso
quanto ao tipo anteriormente citado.
á TULO 2
RSONS ILID D DO HOMIáID SSION L
2.1 eonalidade e caacteítica do ciminoo paional
Uma tese bastante famosa e estudada foi a do criminoso nato de Lombroso, tendo por
base algumas peculiaridades da espécie humana, reconhecíveis em virtude de singulares
características corporais e anímicas.
Vale ressaltar, que o criminoso nato de Cesare Lombroso, apesar da grande importância
para a criminologia, já está mais que superado. Muitas outras teorias e classificações
foram elaboradas por vários estudiosos, em várias épocas, tentando explicar o ser
criminoso.
Uma outra classificação muito famosa foi à apresentada por Enrico Ferri e bastante
seguida por seus adeptos, ele dividiu os criminosos passionais entre aqueles que
possuíam paixões sociais e outros que seriam donos de paixões anti-sociais, paixões
existentes no momento do crime e só admitindo para a primeira classe a atenuação da
responsabilidade.
Vale enfatizar que, o assassino passional raramente se arrepende, isto poderá ser
constado quando passarmos ao estudo dos casos concretos. Geralmente estes matadores
eventuais são, em sua maioria, homens, mas também existem mulheres que cometem
este tipo de delito, por terem uma personalidade extremamente vaidosa, serem pessoas
ciumentas, possessivas e inseguras, e além de tudo isso existir a falta de amor próprio.
Afinal, como bem diz um jargão popular ³ninguém é de ninguém´, e cabe a cada um se
conformar com uma perda.
Para algumas pessoas a traição ou fim do relacionamento os leva a tentar destruir seu
objeto de desejo, isto está diretamente ligado com a personalidade de cada um e sua
carga cultural. Raramente podemos prever que alguém matará, principalmente diante de
tais circunstâncias.
No entanto, as mulheres costumam ser mais resistente e quando traídas a maioria perdoa
ou tenta o suicídio, pois, historicamente, a educação lhes dá mais tolerância. No entanto,
quando cometem este tipo de crime às vezes são mais cruéis que os homens. Quem
nunca ouviu falar numa mulher traída que jogou água quente no ouvido do marido
quando o mesmo estava dormindo ou cortou o seu órgão genital?
a mulher traída nem sempre se vinga sobre o marido ou sobre sua cúmplice.
Com freqüência perdoa, por vezes suicida-se de desespero, quando se vê
abandonada para sempre, mas quando toma o partido de se vingar, a sua
vingança é atroz. É um traço característico da psicologia da mulher. Exasperada,
passa a ser um monstro de ferocidade, que só respira vingança e só pensa em
submeter a sua vítima aos mais atrozes sofrimentos. São verdadeiras
especialistas da dor24.
Um exemplo real de uma homicida passional mulher e bastante cruel é o caso de Neide
Maria Lopes, que ficou conhecida como a ³Fera da Penha´, que em 06 de junho de
1960, para vingar-se do amante, apanhou a filha deste no colégio, uma menina de
apenas 04 anos de idade, e após andar a esmo por vários locais, a levou a um terreno
baldio, localizado em frente ao Matadouro da Penha, onde lhe deu um tiro na cabeça e,
em seguida, com a criança ainda viva, derramou-lhe álcool sobre o corpo e ateou-lhe
fogo. Foi condenada a uma pena de 33 anos de reclusão.25
Mas, vale ressaltar que os homens são tão ciumentos quanto as mulheres, e, que em
alguns casos também utilizam-se da perversidade.
Um outro exemplo real de crime passional cometido com requintes de crueldade, só que
desta vez por um homem, foi o caso daquele marido que, na Guanabara, em 1998, num
acesso de ciúme, amarrou as mãos e os pés da esposa, colocou esparadrapo na boca e,
em seguida, sem que ela pudesse fazer qualquer movimento de defesa, após arrancar-lhe
a roupa, deslizou um ferro de passar em brasa, sobre toda a pele do seu corpo, até que
ela, inteiramente queimada, veio a morrer26.
Enfim, a partir de tudo o que foi dito, conclui-se que não existe uma característica física
ou psicológica individualizadora dos homicidas passionais, cada um possui
características quase que imperceptíveis na sua personalidade, que só depois de
determinadas situações é que são extravasadas, exteriorizadas.
Para haver um entendimento melhor sobre esse ponto, necessário se faz o conhecimento
dos sistemas. Esses sistemas são critérios que a doutrina se utiliza para definir a
imputabilidade ou a inimputabilidade do indivíduo.
Têm-se o sistema biológico, que entende que inimputáveis são aquelas pessoas que tem
determinadas doenças, não se fazendo maiores questionamentos. Nesse caso não se
discute os efeitos da doença nem o momento da ação ou omissão, só é examinada a
causa (moléstia). Em síntese, considera apenas as alterações fisiológicas no organismo
do agente.
Já o terceiro sistema, que é o adotado pelo Brasil conforme poderá ser verificado mais
adiante, é o biopsicológico. Aqui o agente em conseqüência da doença perde a
capacidade, volitiva ou intelectiva, no momento da ação ou omissão. Em resumo, toma
em consideração a causa e o efeito.
Vale ressaltar que no Brasil há uma exceção à regra, pois foi adotado o sistema
biológico quanto aos menores de 18 anos.
Não há dúvida que as paixões perturbam a mente e que podem ser causas ocasionais de
moléstias mentais27 . Porém, para atribuir a cada delito uma justa medida, é preciso
considerar as paixões que levaram uma pessoa a violar a lei, não moralmente nem
socialmente, mas psicologicamente, ou seja, é necessário saber da existência ou não de
uma patologia comportamental para ser aplicada corretamente a norma penal.
Nas palavras de Luiz Ângelo Dourado, pode-se entender que nem todos os homicidas
passionais sofrem de algum mal que os torne inimputáveis, ele diz que ³de um modo
geral e de acordo com a doutrina psicanalítica, a criminalidade não é uma tara, mas
defeitos de educação28 ³.
Então, podemos concluir que nem todos os homicidas passionais sofrem de algum tipo
de doença mental. A maioria comete este delito por um desequilíbrio emocional
momentâneo e que não é considerada uma patologia. São movidos, muitas vezes, pela
educação que receberam, de uma sociedade, ainda, com resquícios do patriarcalismo,
influindo no comportamento das pessoas.
Então, para o estudo do art. 26 do CPB é necessário ter em mente que os homens são
iguais perante a lei, mas profundamente diferentes sob o ângulo biológico e psicológico.
E é justamente neste ponto que se diferencia um ser imputável de outro inimputável.
O incidente, que é uma perícia, ocorre quando há dúvidas acerca da sanidade mental do
acusado, para dirimir imprecisões sobre a formação intelectual. Este exame pode
apresentar dois laudos, um afirmando que a pessoa era imputável ao tempo da ação, ou
então o laudo declara que a pessoa era inimputável, ou seja, não tinha a capacidade de
entender o caráter ilícito do fato nem de se comportar de acordo com esse entendimento.
E pode, ainda, ser constado a semi-imputabilidade.
Nestes casos, o fato é típico e antijurídico, mas o agente não pode ser penalizado ante a
falta de culpabilidade. Então, comprovada a sua autoria, o agente inimputável é
absolvido sendo aplicado à devida medida de segurança.
Mas, esses desvios mentais nem sempre são considerados doença, pois nem ³todo
ciúme é patológico, nem sempre é paranóico, embora possa facilmente chegar a sê-lo
pelo ciúme delirante, obsessivo30 ´.
Muitos delinqüentes atribuem à paixão aos crimes que cometem quando, na verdade, o
que os motivou foi uma doença psicológica. Por isso se faz necessário saber diferenciar
uma doença psicológica de um descontrole emocional, pois cada uma tem repercussão
individualizada no ordenamento jurídico.
Este tipo de psicose pode levar a uma variedade muito grande de delitos, exóticos e
incompreensíveis pela sua inutilidade. Os mais graves são decorrentes da forma
paranóide. Em regra, o crime desses pacientes é repentino, inesperado e sem motivos.
Um outro tipo de transtorno mental elencado por Genival França é a psicose maníaco-
depressiva, ele explica que este tipo de transtorno mental é cíclico, com crises de
excitação psicomotora e estado depressivo, isoladas, de intensidade, duração e
disposições variáveis, sem maior repercussão sobre a inteligência. Neste caso, para se
verificar a imputabilidade, leva-se em consideração estar ou não o paciente com a
sintomatologia do mal.31
O certo é que, em todos os delitos dos portadores dessa enfermidade, devem ser
pacientes considerados semi-imputáveis ou inimputáveis, o que equivale no nosso
Código Penal, à privação parcial ou total da razão.
Um caso hipotético que bem ilustra este tipo de transtorno é o personagem problemático
de Shakspeare, o clássico Otelo.
A tragédia de Otelo como assim ficou conhecida, é uma história de um amor verdadeiro,
mas que foi envenenado pelo ciúme e levou seu ator principal, Otelo, ao cometimento
de um homicídio. Ciúmes esses sem reais fundamentos, baseado apenas na maldade e
ambição de uma pessoa que Otelo acreditava ser seu amigo. Todavia, este amigo, Iago,
serviu-se de um acaso e implantou e fez crescer um sentimento destrutivo em Otelo.
Este, certo dia, transtornado pelo ciúme matou cruelmente sua esposa asfixiada32 .
Pois, como já ilustrado, os portadores desse transtorno são passíveis de todas as formas
imagináveis de delito, que vão desde a calúnia ou a difamação até o homicídio. Seriam
eles colocados na posição de semi-imputáveis. Apesar de os paranóicos tenham
conhecimento da lei e da moral, e uma dose de pensamento e de ações normais, devem
ser incluídos como inimputáveis, pelo tratamento de que podem dispor e pelo prejuízo
que lhes pode trazer o cárcere.
Já o psicótico é um doente que age motivado por alucinações e vozes que acredita
piamente serem reais. Geralmente, eles matam as pessoas que mais amam e mais
próximas, uma vez que acreditam que estão sendo perseguidas e, quando cometem o
crime alegam que a vítima era a maior culpada, pois os provocava.
Os psicopatas são assassinos frios que cometem o homicídio por prazer. Não age sob
delírio, possuem distúrbios comportamentais e problemas pessoais graves.
Com base nessa pequena divisão podemos considerar como descontrolados
emocionalmente os neuróticos; sendo, então, os psicóticos e psicopatas os doentes, que
tem uma patologia e que devem ser olhados de forma mais branda pela lei, pois estes
são considerados inimputáveis quando coexistirem os demais requisitos necessários.
Vale salientar que, todos os crimes são determinados por algum tipo de paixão, mas o
tema aqui discutido neste trabalho será delimitado, considera apenas os homicídios
passionais oriundos de um relacionamento sexual e/ou amoroso.
De acordo com o Código Penal atual no seu artigo 28, primeira parte, não são causas de
excludentes da imputabilidade a emoção ou a paixão. Porém, este dispositivo não pode
ser compreendido num outro sentido que não o de estabelecer, com exclusividade, que a
mera paixão ou emoção não excluem a imputabilidade.
É de bom alvitre destacar que o amor e paixão não se confundem, embora os termos
sejam, muitas vezes e equivocadamente, usados como sinônimos.
A Lei Penal não transige com o motivo nem com o passional, pois cometido o delito, é
prevista punição severa.Em um homicídio, considerado ser cometido por amor, revela-
se que em tais circunstâncias não há nenhum sentimento altivo, muito pelo contrário, os
sentimentos que envenenam o homicida vão do orgulho ferido, ao ódio e a vingança.
Pois bem, como demonstraremos nas próximas linhas deste trabalho, analisando casos
concretos, nem sempre um homicida passional vai ter a sua pena atenuada, tudo vai
depender de como o fato delituoso foi realizado e os motivos que conduziram a tal
desatino.
Alguns psiquiatras afirmam que o homicídio passional pode ser evitado através de
tratamento médico. Porém, na maioria dos casos essas pessoas não procuram ajuda e,
mesmo quando procuram o tratamento falha, desencadeando num homicídio passional
consumado, restando ao Estado, através do Poder Judiciário punir exemplarmente o seu
autor.
No entanto, todos os casos devem ser punidos em conformidade com os fatos e a lei
penal, só devendo ser absolvidos caso seja constatado a inimputabilidade do agente, por
ter se averiguado a existência de um amor mórbido, doentio, de acordo com o art. 26 do
Código Penal.
Por tudo isso que o papel daquele que aplica a lei é tão importante, com bem salienta
Genival França:
Porém, em contrapartida, existem visões e opiniões diferentes sobre este assunto, como
a de Francisco Assis Toledo, que afirma que:
Concluindo que:
á TULO 3
O Homicídio aional ao longo do tempo
3.1 volução Hitica
O assassinato movido pela paixão acontecia com mais freqüência nas culturas antigas,
onde existia a idéia de propriedade do homem sobre a mulher. Apesar desta idéia está
abolida, os crimes passionais continuam acontecendo todos os dias em todos os países.
Passam-se anos, décadas, séculos, mais estes crimes continuam se repetindo, apenas
mudando a sua forma de repercutirem dentro do ordenamento jurídico brasileiro.
De tempos em tempos, surgem casos que tomam uma repercussão maior, por
envolverem pessoas que fazem parte da mídia em geral, fazendo com que a sociedade
pare para analisar este tipo de crime-barbaro, que com certeza não é movido por um
sentimento nobre como o amor, mas por um sentimento negativo, seja ódio ou qualquer
outro da sua natureza. Estes casos serão analisados no último capítulo.
Pontes Visgueiro, por ter mais de 60 anos de idade, teve sua pena de galés substituída
por prisão perpétua com trabalho.
Augusto Gallo foi levado a julgamento perante o Tribunal do Júri e foi absolvido, pois o
Conselho de Sentença acolheu a tese de legítima defesa da honra.
Em um caso mais recente, no ano de 1998, foi à morte de Patrícia Ággio Longo, grávida
de sete meses, assassinada pelo seu marido Igor Ferreira da Silva, um Promotor de
Justiça de São Paulo45.
Nunca ficou provado o motivo do crime, porém tudo leva a crê que tenha sido um crime
passional, pois o exame de DNA feito no feto da vítima comprovou que Igor Ferreira
não era o pai da criança.
Como o acusado era Promotor de Justiça, foi levado a julgamento perante o pleno do
Tribunal de Justiça, sendo acusado de homicídio qualificado e a defesa argüindo à tese
de negativa de autoria. Foi acolhida a tese da acusação, sendo o promotor condenado
por unanimidade a 16 anos e 4 meses de reclusão, pelos crimes de homicídio
qualificado e de abortamento sem o consentimento da gestante. Neste caso, o condenado
ainda se encontra foragido.
Da análise superficial desses três episódios acima referidos, pode-se observar que esse
tipo de crime sempre existiu, ontem e hoje, sendo, no entanto, diferentes as teses
levantadas pela defesa e o comportamento dos Conselhos de Sentença, diante de cada
situação Ê
e a época em que o fato acontece.
Hoje, dificilmente, alguém irá argüir tese de legítima defesa da honra, pois a mesma se
encontra ultrapassada, por tratar-se de uma visão machista que não combina e nem é
mais aceita pela sociedade atual.
Mas será que sempre um homicídio passional será qualificado? Será que não existe a
possibilidade de se tratar de um homicídio privilegiado passional?
Ciúme, em face dos profundos abalos que este sentimento normalmente causa no
psquismo do agente, não pode ser confundido com o motivo fútil48 .
É certo que a vingança, por si só, não torna torpe o motivo do delito, já que não é
qualquer vingança que o qualifica. Entretanto, ocorre a qualificadora em questão se o
acusado, sentindo-se desprezado pela amásia, resolve vingar-se, matando-a50 .
áONáLUSÃO
O Código Penal Brasileiro deixa claro, no seu artigo 28, inciso I, que a emoção e a
paixão não excluem a imputabilidade, ou seja, a culpabilidade do autor de um homicídio
passional subsiste.
Porém, pode acontecer que essa paixão ± amor, ciúme, sentimento de posse ± tenha se
tornado patológica. No entanto, taxar alguém de louco não é tão simples, se faz
necessário uma perícia médica feita por especialistas para se chegar a tal conclusão.
É ainda, é de bom alvitre destacar que, essas pessoas que cometem delitos passionais
têm um comportamento atípico em relação à maioria da humanidade, trata-se de uma
parcela mínima da população. São pessoas que não aceitam a traição nem o abandono.
Por isso, vários estudiosos e até psicólogos estudaram e estudam este tipo de homicídio
em busca de classificações e características individualizadoras dos assassinos
passionais, no entanto, nunca se chegou a um consenso.
Tentar explicar tal conduta está fortemente relacionado a revelar o que se passa na
mente humana, que é uma tarefa árdua. O porquê das pessoas agirem da forma de
destruir aquele ou aquela que é o objeto do seu desejo, ou às vezes se vingar em alguém
próximo e querido dessa pessoa, está intimamente ligado ao fato dos homicidas
passionais serem desprovidos de amor próprio, e, a partir de uma traição ou um
abandono, acreditarem que sua vida perdeu o sentido, sendo esta a explicação mais
condizente. Uma vez que, boa parte dos homicidas tenta o suicídio logo em seguida.
Passando-se a análise do homicídio em espécie, poder-se-ia afirmar, em tese, levando-se
em consideração o sentido jurídico dos termos emoção e paixão, que um homicídio
cometido impulsionado pelo primeiro sentimento seria privilegiado, porém, se fosse
arrebatado pelo segundo sentimento, seria qualificado, de acordo com as qualificadoras
subjetivas.
Enfim, se a pessoa é mentalmente sadia e comete um homicídio passional, por ser este
uma das espécies de crime doloso contra a vida, será julgado pelo Tribunal do Júri
Popular. Caberá aos cidadãos da comunidade onde o crime foi perpetrado decidir e
julgar o caso, cabendo ao juiz apenas a aplicação do quantum da pena no caso de
condenação, ou absolver, no caso de absolvição.
Nada justifica o homicídio, hoje não se admite mais a indulgência com os assassinos
passionais, como era antigamente, esses casos devem ser punidos severamente, ou seja,
se foi um homicídio privilegiado, a pena deste, se foi qualificado a sua pena
correspondente.
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25. RIBEIRO, Sergio Nogueira. áime aionai e outo tema. 4. ed. RIO DE
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26. RIBEIRO, Sergio Nogueira. áime aionai e outo tema. 4. ed. RIO DE
JANEIRO: Forense,2002, p.08/09.
27. Vale ressaltar que essa preocupação com a imputabilidade dos criminosos é bastante
antiga, pois no Código Criminal do Império já havia um artigo que tratava desse
assunto, ³art. 10. Também não se julgarão criminosos: § 2º. Os loucos de todo gênero,
salvo se tiverem lúcidos intervalos e neles cometerem o crime´, p.24/26.
28. DOURADO, Luiz Ângelo. Raíze neutica do cime. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1965. p. 58.
29. ALVES, Roque de Brito. áime e Loucua. Recife: Fasa, 1998. p. 82.
31. FRANÇA, Genival Veloso. Medicina Legal. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2001, p. 34.
33. SUDBRACK, Maria Auxiliadora. Quem ama não mata. Revita imeia
Impeão, julho 2002. Disponível em <
http://www.portal3.unisinos.br/_publicacoes/pi/17/026_029.pdf >. Acesso em: 28 Jan.
2004.
34. BRUNO, Aníbal. Dieito enal, vol. 02. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p.
159/160.
35. DELMANTO, Celso. ádigo enal áomentado. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar,
2000. p. 55.
36. RIBEIRO, Sergio Nogueira, áime aionai e outo tema. 4. ed. Rio de
Janeiro: Editora Forense,2002. p.08.
37. FRANÇA, Genival Veloso. Medicina Legal. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2001. p. 384.
39. TOLEDO, Francisco de Assis. incípio áico do Dieito enal. 5. ed. São
Paulo: Editora Saraiva, 1994. p. 313/314.
41. ELUF, Luiza Nagib. Só se mata por posse, nunca por paixão. Jonal O tado de
São aulo, São Paulo julho 2003. Disponível em:
http://www.estado.estadao.com.br/editoriais/2002/06/30/cad040.html> Acesso em: 01
fev 2005.
42. O caso Pontes Visgueiro pode ser encontrado na íntegra tanto no livro Ê
de Luiza Nagib Eluf, 1.ed., SÃO PAULO: Editora Saraiva, 2002, p.
03/14 quanto no livro áao áiminai áelebe de René Ariel Dotti, 2.ed, SÃO
PAULO: Revista dos Tribunai, 1999, p. 70/75. Os dois autores narram o mesmo fato,
porém com posicionamentos diferentes quanto a condenação de Visgueiros. René Ariel
Dotti entende que houve erro judiciário na condenação, acreditando que Visgueiros não
estava em seu juízo perfeito quando cometeu o crime. Já a Procuradora Luiza Eluf,
discorda inteiramente da argumentação apresentada por Dotti.
43. Código Criminal do Império, ³art. 192. Matar alguém com qualquer das
circunstâncias agravantes mencionadas no art. 16, ns. 2, 7, 10, 11, 12, 13, 14 e 17.
Penas: Máximo - Morte; Médio - Perpetua; Mínimo ± 20 anos de prisão com trabalho.
44. Um fato curioso no caso de Carlos Gallo é que ele é o pai da atriz Maitê Proença, e
esta na época, com apenas 12 (doze) anos, testemunhou a favor do pai. Este fato está
relatado no livro de Luiza Eluf, ³ aixão no anco do Réu, p. 53/62.
45. ELUF, Luiza Nagib. aixão no anco do Réu. São Paulo: Saraiva, 2002. p.
94/101.
46. Acórdão. RESP 1517. Relator: Min. José Cândido de Carvalho Filho. Supeio
Tibunal de Jutiça, abril 1991. Disponível em:<http://www.stj.gov.br/webstj/>.
Acesso em: 01 fev 2005.
52. MARREY, Adriano. FRANCO, Alberto Silva. STOCO, Rui. Teoia e ática do
Júi. 6. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997. p. 679. (TJPR ± AC ± Rel.
Freitas Oliveira ± RT 709/361).