Psicologia Juridica para Prova
Psicologia Juridica para Prova
Psicologia Juridica para Prova
DO COMPORTAMENTO CRIMINOSO
OBJETIVOS
Pode-se usar como exemplo, muitos crimes cometidos por pacientes detidos no
Manicômio Judiciário Franco da Rocha, todos com justificativas alucinantes dos mesmos,
mas sem sentirem qualquer culpabilidade:
Muitos pacientes andam na cela por 24 horas, inquietos, indo e vindo, reproduzindo
a agitação dos funcionários fora das grades. Sacodem as mãos em conversas ima-
ginárias, intercaladas de risinhos nervosos. Outros permanecem agachados, estáti-
cos, em absoluto silêncio. O psicótico conhecido como ““ Furador de olhos “”, é as-
sim: pacato, pouco conversa ou reclama, mas, quando começa a divagar sobre as-
suntos de japonês e ouro, o perigo torna-se iminente. Utiliza como forma de defesa
para sua alucinação, a mania de furar os olhos das pessoas. Não importa quem es-
teja por perto, paciente, funcionário, ou visitante. Certa vez de traz da grade, roubou
a caneta do bolso da camisa de um enfermeiro que se distraiu e por pouco não per-
furou-lhe o olho. O dissimulado J.P. C é alto e raquítico. Diz ouvir vozes de três ja-
poneses que o mandam matar para “recuperar o ouro”. E diz: Matei um, Não, matei
dois... Matei cinco. Eu mato por causa do ouro. Os japoneses me mandam matar
pelo ouro que tem no largo do Arouche[...]. (TAVOLORO, 2004, p.93-94).
2. PSICOLOGIA DO DELITO
Segundo Lopes (2003, p.131) “Não é possível julgar um delito sem compreendê-
lo”, pois delitos aparentemente iguais podem apresentar significados distintos e devem
ser julgados e condenados de formas completamente diferentes.
Dessa forma, BONGER (apud in LEAL, p.174, 2008) explicita a importância de
se conhecer as formas de delito e de delinquente quando afirma que: “para a polícia é útil
saber quais são os tipos psicológicos mais suscetíveis ao cometimento de determinado
tipo de delito. Também é importante que os promotores e juízes conheçam o grau de peri-
go para a segurança pública que é inerente a certos tipos de delinquentes, a fim de fixa-
rem as penas e demais medidas corretivas”.
3. O delito
A maioria dos teóricos da área, afirmam que grande parte dos delinquentes so-
fre de perturbações afetivas. Ao nascer, todo indivíduo possui em si tendências delituosas,
visto que procura satisfazer as suas necessidades sem dar importância ao que as pesso-
as ao seu redor pensam ou fazem. Conforme o tempo vai passando, ele vai sendo edu-
cado e instruído a repartir brinquedos e comida, respeitar os demais, etc. Consequente-
mente, todo o indivíduo que não recebe essa instrução, ou se esta for insuficientemente
ensinada, poderá sucumbir à delinquência.
Lopes (2003, p.147) apresenta alguns tipos delitógenos, os quais possuem mo-
tivações exógenas e endógenas de um modo interessante, particularmente, para o jurista,
que continua os classificando por suas consequências e não por sua significação psicoló-
gica. Senão vejamos:
Delito Profilático: É o delito em que o autor sabe que está infringindo a lei, mas
comete o delito mesmo assim por estar convencido que o que está fazendo é para um
bem maior. Suas principais características são: inexistência de remorso, mesmo tendo
consciência do ato que cometeu; possibilidade de ser praticado por pessoas inteligentes,
sensíveis e cultas; plena responsabilidade do ato cometido, passividade no cumprimento
da sanção e passividade na defesa.
Delito Simbólico: O que torna esse delito típico é que quem sofre as conse-
quências não está ligado diretamente ao delinquente. Pode ser cometido tanto por indiví-
duos selvagens como por indivíduos cultos e intelectuais. Esse mecanismo mental opera
nos casos em que o indivíduo consegue inibir o impulso delitógeno direto, mas não con-
segue o suprimir por completo, fazendo com que um ato absurdo ocorra, longe da primei-
ra intenção.
Assim, percebe-se que o delito é algo não só individual como também de grupo
e que suas motivações são as mais variáveis possíveis, ficando o indivíduo sujeito ao
ambiente em que se desenvolve e aos estímulos que recebeu durante sua vida.
4. O Criminoso:
Ao fazer uma abordagem no módulo anterior sobre as escolas sociológicas do
crime aprendemos que para a Escola Clássica, o criminoso era um ser que cometeu al-
gum pecado, que era voltado para a prática de maldades e que se tratava de uma opção
dele, pois ele podia ter escolhido o bem e assim não o fez. Já para a Escola Positiva en-
tendia que o criminoso era um ser que tinha desviou de caráter, e que tinha deformação
patológica, ou seja, muita das vezes nascia assim.
Não se pode deixar de registrar que o marxismo, entendia que o criminoso era
a própria vítima das estruturas econômicas, ou seja, quem era culpável era a própria so-
ciedade. Marx não tinha sua visão sobre a matéria jurídica e sim sua atenção era extre-
mamente ligada ao modo de produção capitalista. Concluindo a abordagem ao criminoso
este assim como qualquer cidadão tem vontades próprias, tem vontade de ir além, de su-
perar, de construir seu próprio futuro, de ter sua própria opinião, é uma pessoa como ou-
tra qualquer, contudo, sujeito a influências do próprio meio em que vive.
5. A vítima:
A vítima é aquela que sofre com a prática do ato delitivo, causados tanto pelos
próprios atos quanto pelos atos de outrem ou até mesmo do acaso. Há muitos séculos, o
direito penal desprezava a vítima e colocava como sendo seu foco principal o criminoso,
colocando-a em uma posição insignificante para a participação na existência do delito.
Nestor Sampaio salienta que: Foi a partir dos estudos criminológicos é que sua
participação foi ganhando destaque para o direito penal. Três foram às grandes fases da
vítima nos estudos penais: a “idade de ouro”; a neutralização do poder da vítima e a reva-
lorização de sua importância.
Existem crimes em que não há vítimas como por exemplos àqueles que atin-
gem apenas entidades, ou a ordem moral ou a ordem econômica ou jurídica. Há, portan-
to, uma classificação de vitimas, pois, não existe apenas um tipo de vitima e sim diversos
tipos, conforme a seguir exposto:
a) Vítimas natas; são aquelas que já nascem para ser vítimas, tudo fazendo cons-
ciente ou inconscientemente para produzir o crime, como se fossem tipos humanos viti-
mológicos predestinados ou tendentes a ser tornarem vítimas causadoras dos delitos de
que elas próprias se tornam vítimas.
b) Vítimas potenciais; os de personalidades insuportáveis, criadoras de casos e
que levam ao desespero aqueles com quem convivem.
c) Vítimas inocentes; são as verdadeiras ou realmente vítimas, que são aquelas
que podem ser definidas como vítimas de si próprias. Não dão causa e nem fator, não
tendo culpa alguma na realização do delito.
d) Vítimas provocadoras; são aquelas que, devido à ação de alguém que ela pró-
pria originou, provocou, causou, como que obrigando alguém ou o agente do delito a atu-
ar contra a pessoa.
e) Vítimas falsas (simuladoras e imaginárias); São aquelas que induzem, urdem,
instigam e provocam o agente a ponto de este não suportar mais e praticar o delito. (com
duas espécies vítimas simuladoras e as imaginárias); Por sua vez, as vítimas simuladoras
são aquelas que estão conscientes de que não foi vítima de delito algum, do indivíduo a
quem acusa, porém age geralmente por razões de vingança ou buscando obter alguma
vantagem material ou não. As vítimas imaginárias são aquelas que estão conscientes de
que não foi vítima de delito algum, do indivíduo a quem acusa, porém age geralmente por
razões de vingança ou buscando obter alguma vantagem material ou não.
f) Vítimas voluntárias: Concretamente existem como nas hipóteses do denominado
homicídio eutanásico e no par suicida ou suicídio a dois.
g) Vítimas Alternativas: São aquelas que, tanto podem ser vítimas como delinquen-
tes ou se tornam conhecidas com o desfecho do fato, uma vez que antes do fato não se
sabe quem vai ser a vítima ou quem vai ser o delinquente.
6. O controle social
De modo geral, todas as sociedades, por mais primitivas que sejam, existem
regras a serem cumpridas e sanções para quem descumprir tais regras, assim a socieda-
de mantém a ordem social.
Essa forma de intervenção na conduta individual pode ser exercida por di-
versos meios, a exemplo da família, da escola, da religião, dos meios de comunicação, da
policia, além dos meios especializados, como é o sistema penal. O Direito Penal e a pena,
por exemplo, são formas pelas quais se efetiva o controle social praticado pelo Estado,
pois este através dessas normas trazidas pelo Direito Penal poderá agir.
Assim, podemos afirmar que o controle informal atua a partir do início da vida
de cada pessoa, no caráter de cada um, para que possa agregar valores comuns em sua
comunidade para que sinta incluídas as normas dessa comunidade. Para que esse pro-
cesso de socialização possua eficácia o controle informal tem que estar presente na vida
do indivíduo, mas, quando esse controle informal fracassa, ou seja, quando um indivíduo
age em confronto com as normas estabelecidas, então, temos o que chamamos de con-
trole formal que se dá através de aplicação de sanções. Dentre as instâncias formais, es-
tão as policias o ministério público, e o Direito Penal, que abrange um conjunto de nor-
mas, e que não seguidas há uma punição.
A função do controle social tanto em sua atividade formal como em sua ativida-
de informal possui duas funções: a prevenção de comportamentos desviantes e a puni-
ção, e que será aplicada quando a primeira falhar.
Ao falar em que toda vez que ocorrer um delito, sempre haverá uma punição, o
que não é verdade, pois a depender do caso poderão existir outras formas de solução dos
conflitos. Se todos os casos desviantes permitissem uma punição estaríamos banalizando
o controle informal, a fim de evitar a utilização do Direito Penal, pois o mesmo traz normas
de caráter punitivo e tem efeito seletivo e condenatório sobre aqueles contra quem é apli-
cado.
Complicado é traçar um limite sobre a origem do controle social, visto que, es-
se controle é fundamental à organização do homem em sociedade. Em razão dessa de-
pendência mutua entre controle e organização social, os fundamentos do controle social
penal e da organização poderiam ser encontrados na Teoria do Contrato Social;
Neste pacto social não estaria apenas à origem do Direito Penal, mas também
seu limite, posto que somente a necessidade obriga os homens a ceder uma parcela de
sua liberdade; disso advém que cada qual apenas concorda em por no depósito comum a
menor porção possível dela, quer dizer, exatamente o que era necessário para empenhar
os outros em mantê-lo na posse do restante. A reunião de todas essas pequenas parcelas
de liberdade constitui o fundamento do direito de punir. Todo exercício do poder que deste
fundamento se afastar constitui abuso e não justiça; é um poder de fato e não de direito;
constitui usurpação e jamais um poder legítimo.
Como exposto acima por Beccaria, o controle social penal não surgiu apenas
para punir aquele que causasse algum mal ou infringissem as normas da sociedade. E
sim, como forma de evitar a aplicação das sanções por parte de outros então veio a deli-
mitar us puniendi por parte do Estado.
ALVES, Roque de Brito. Estudos de Ciência Criminal. Editora CEPE. Recife-PE. 1993.
BECCARIA, Marquês Cesare. Dos delitos e das penas. Ed. Martins Claret. São Paulo,
2003.p.18-19.
MUÑOZ CONDE, Francisco. Direito penal e controle social. Trad. Cíntia Toledo Miranda
Chaves. Ed. Forense. Rio de Janeiro ,2005.p.22.
Todos esses fatos, somado com a confissão dos três suspeitos, levaram o De-
partamento de Homicídios a anunciar, em 08 de novembro de 2002, que o crime havia
sido planejado e executado por Suzane e pelos irmãos Cravinhos. Desse modo, concluí-
das as investigações, em 19 de novembro de 2002 Suzane Louise Von Richthofen, Daniel
Cravinhos de Paula e Silva e Christian Cravinhos de Paula e Silva são denunciados pelo
Ministério Público do Estado de São Paulo, iniciando-se assim a Ação Penal Pública con-
tra os três réus.
Nesse sentido, a teoria do discurso, proposta por Michel Pêcheux (1988), con-
sidera que um discurso é sempre atravessado pelo “já ouvido” e pelo “já dito”, enredando
o sujeito falante nessa memória discursiva.
Portanto, existe uma relação de dominância derivada das condições de produ-
ção que fixam o lugar do sujeito no discurso.
Tal funcionamento da verdade judiciária, bem como sua administração pelo di-
reito penal do século XVIII, suscitou algumas críticas, especialmente à espécie escolásti-
ca e aritmética de prova judiciária, denominada prova legal, que distinguia toda uma hie-
rarquia de provas que eram quantitativa e qualitativamente ponderadas
.
Os elementos de demonstração eram combinados e sobrepostos para se che-
gar a certa quantidade de provas que a lei, ou antes, o costume, definia como mínimo ne-
cessário para obter a condenação. Nesse momento, o cálculo de prova embasava a deci-
são que o tribunal tinha de tomar.
Vejamos, então, que ao situar o conflito – minha mãe era contra isso e come-
çou a impor limites – a acusada apresenta uma questão que foge ao puro efeito de domi-
nação exercida pela mãe, deparando-se com dificuldades graves, com situações de
opressão inesperadas ou injustas, a que deve reagir. Em síntese, em sua narrativa Suza-
ne, assim como nos contos de fada, é convocada a cumprir o ciclo de “provação e supe-
ração de um problema”, revelando a vivência desse processo, justamente por sua inscri-
ção em um determinado modo de dizer a memória discursiva funcionando na língua.
Essa identificação passou a ser assumida até mesmo em sua própria aparên-
cia, pois, se compararmos as fotografias, de antes e após a sua confissão e consequente
imputação do assassinato de seus pais, vemos que há um processo de infantilização na
própria imagem.
O efeito que o depoimento de Suzane produz é, então, o de que ela foi sendo
envolvida por uma pessoa má, por uma coisa, por um monstro, que, aos poucos, foi fa-
zendo-a imitá-lo na própria maldade.
O efeito que a acusada produz, então, é o de que a mãe sabia que o namorado
era má influência, uma vez que Suzane só passou a mentir, a esconder, depois de conhe-
cê-lo. Foi, então, por essa razão que a mãe proibiu, afastou, impediu que ele continuasse
a frequentar sua casa, que lhe telefonasse ou lhe visse.
Observemos que os verbos utilizados para referir à ação da mãe são sempre
aqueles que cerceiam a liberdade de Suzane – proibir, afastar, impedir – ou seja, em ne-
nhum momento ela formula a ação da mãe como algo que decorresse de uma orientação,
de um diálogo. Ou dito de outro modo, ela poderia dizer que a mãe conversou, comentou,
explicou, alertou, mas, a adoção de verbos que traduzem a ação da mãe como opressiva
não é trivial nesses modos de formulação, pois, dado o efeito de tirania que Suzane pro-
duz sobre a ação da mãe, torna a ação de matá-la menos grave, ou seja, atenua o desfe-
cho da estória.
Pelo depoimento, Suzane produz efeitos que instalam sentidos de que sua mãe
era uma opressora e, ao mesmo tempo, coloca em funcionamento sentidos de que ela era
uma boa menina que foi, aos poucos, se tornando má, em razão da influência de Daniel.
Suzane aponta os pais como razão da sua infelicidade, pois era bom estar ao
lado dele [Daniel], só que meus pais estavam vivos, estavam só viajando. Ora, se os pais
estavam vivos e só estavam viajando, era preciso afastá-los permanentemente, assim, a
materialização do desejo de afastá-los faz-se pelo emprego da expressão só que. Nessa
direção, a expressão – só que – funciona restritivamente à condição de felicidade, sendo
a presença dos pais, a vida deles, o fato de só estarem viajando o empecilho para a felici-
dade plena, então, era preciso matá-los. O efeito dessa formulação é do tipo se ~ então,
pois: Se os pais estão vivos, se estão só viajando ~ então infelicidade. Se os pais estão
mortos, permanentemente fora ~ então felicidade.
Suzane formula o seu desejo – na verdade eu queria ficar perto dele e que
meus pais aceitassem, mas era uma coisa que não podia acontecer – e culpabiliza Dani-
el, pois ela era que tinha a vontade contrariada pelos pais, mas era ele que ia aos poucos
plantando a ideia de matá-los – E ele foi mostrando dia após dia que não tinha opção: ou
era ele ou meus pais. Ela produz o efeito tanto de ser a vítima da intolerância dos pais
quanto da indução de Daniel ao assassinato de seus algozes (pais). Nessa direção, a sua
formulação produz o sentido de isenção total nos fatos, pois, apesar das limitações impos-
tas por eles, o desejo de mata-los não nasce nela, mas no namorado que vai lentamente
convencendo-a. Assim, o que a formulação produz é um efeito de coação, de indução, de
convencimento da ‘menina boazinha’ a se tornar má.
Desse modo, Suzane relata que seu “desespero”: a sua ansiedade por não ter
notícias da arma que havia sido encomendada para assassinar seus pais e também, con-
flitivamente, o temor, o medo de não ter paz após o cometimento do delito. Ou seja, em
nenhum momento ela formula o desespero como vinculado à possibilidade da perda de
seus genitores.
Desse modo, a palavra plano recebe seu sentido de cada formação discursiva
que cada posição sujeito (juiz e acusada) se inscreve, retomando, em cada dizer, as for-
mações ideológicas correspondentes.
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