Desempenho Térmico TAIPA
Desempenho Térmico TAIPA
Desempenho Térmico TAIPA
estabilizadas
Bragança
Setembro de 2021
Caracterização do desempenho térmico de paredes de taipa de pilão não
estabilizadas
Orientado por:
Bragança
Setembro de 2021
Com todo o meu amor e dedicação, à minha família.
AGRADECIMENTOS
À minha família. Minha irmã, Carolina, por ser minha amiga e confidente. Meu
padrinho, Marcos, por mover montanhas para me ajudar a conquistar meus sonhos. Minha
afilhada, Giulia, por alegrar todos os meus dias. Meus avós, Neide, Arnaldo (in
memorian), Neice (in memorian) e Paulo, por me inspirarem a incentivarem tanto,
sempre.
Por fim, minha eterna gratidão aos meus pais, Valéria e Luciano. Vocês são meu
ninho e minhas asas. Obrigada por me ensinarem a voar, mas sempre me lembrarem que
tenho para onde voltar. Minhas conquistas sempre serão graças a vocês, por vocês e para
vocês.
i
RESUMO
A terra é usada como material de construção desde o princípio das civilizações.
Atualmente, estima-se que um quarto da população mundial viva em construções em
terra. Entretanto, durante o século XX, o material caiu em desuso em diversos países
desenvolvidos com o surgimento do betão, sendo utilizado somente em situações de
vulnerabilidade. Entretanto, desde o início do século XXI, a atenção dada a esse material
foi renovada, por se tratar de método ecológico, com baixo consumo energético e emissão
de carbono para a execução. Dessa forma, faz-se necessária a caracterização das
construções em terra. Esse trabalho tem como objetivo contribuir para a caracterização
térmica de paredes de taipa, levando em consideração a variação da espessura e a escolha
do solo. As amostras analisadas são provenientes de dois solos da região do Alentejo (um
considerado ideal para taipa e outro enquadrado no limiar dos limites propostos na
literatura). O programa experimental contou com ensaios para a caracterização física e
termohigrométrica dos materiais, além do procedimento desenvolvido para a execução
dos provetes. Os ensaios utilizados na caracterização termohigrométrica buscam estimar
os valores do coeficiente de transmissão térmica, da condutibilidade térmica e da taxa de
absorção da água a baixa pressão dos provetes. Ao analisar os resultados, constata-se que
a variação da espessura da parede de taipa possui influência significativa nos valores
encontrados: o coeficiente de condutibilidade térmica de um provete com 50 cm de
espessura é cerca de 30% inferior ao coeficiente de um provete de 35 cm e mesmo solo.
Além disso, verificou-se que o solo S1, que possui maior baridade, apresenta maior
condutibilidade térmica e menor taxa de absorção da água a baixa pressão. Verificou-se
também a influência da umidade no comportamento térmico da taipa. Era esperado que o
solo S1 apresentasse maior valor de U. Entretanto, na altura dos ensaios, os provetes do
solo S2 apresentaram o dobro da umidade de S1. Assim, apresentaram coeficiente U
superior a S1: o valor de W35S1 foi de 1,53 W/m²°C, enquanto o valor de W35S2 foi de
2,43 W/m²°C. Por fim, os materiais foram enquadrados no Regulamento das
Características de Comportamento Térmico dos Edifícios, de modo a ilustrar uma solução
de envolvente contendo parede de taipa e argamassa de terra que cumpra os requisitos
propostos.
ii
ABSTRACT
Earth has been used as a construction material since the beginning of civilizations.
Currently, is estimated that one quarter of the world's population lives in buildings made
of earth. However, during the 20th century, this material fell into disuse in several
developed countries with the popularization of concrete, and nowadays is being used only
in situations of vulnerability in those countries. Yet, since the beginning of the 21st
century, the attention given to this material has been renewed, since it is an ecological
method, with low embodied energy and carbon emission for its execution. Thus, it is
necessary to characterize rammed Earth constructions. This work aims to contribute to
the thermal characterization of rammed earth walls, taking into consideration the variation
in thickness and soil choice. The samples analyzed come from two soils in the Alentejo
region (one considered ideal for being used on rammed earth and the other within the
limits proposed in the literature). The experimental program included tests for the
physical and thermohygrometric characterization of the materials, in addition to the
procedure developed for the execution of the specimens. The tests used in the
thermohygrometric characterization seek to estimate the values of the conductance
coefficient, thermal conductivity and low pressure water absorption rate of the specimens.
By analyzing the results, it is verified that the variation in the wall thickness of rammed
earth walls has a significant influence on the results: the thermal conductivity coefficient
of a 50cm thick specimen is about 30% lower than the coefficient of a 35cm specimen of
the same soil. In addition, soil S1, which has higher density, higher thermal conductivity
and lower water absorption rate. It was also verified the influence of moisture on the
thermal behavior of rammed earth walls. It was expected that soil S1 would present a
higher value of U. However, at the time of the tests, samples from soil S2 presented twice
the moisture content of S1. Thus, they presented a U coefficient higher than S1: the value
of W35S1 was 1.53 W/m²°C, while the value of W35S2 was 2.43 W/m²°C. Finally, the
materials were compared with REH, a portuguese regulation, in order to illustrate a
solution with rammed earth and earth mortar that meets the proposed requirements.
iii
Sumário
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1
3.4.3 Resultados................................................................................................. 38
iv
3.6.3 Índice de plasticidade (IP) ........................................................................ 44
3.6.4 Resultados................................................................................................. 45
4.3.5 Resultados................................................................................................. 67
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 97
v
LISTA DE FIGURAS
vi
Figura 25. (a) Materiais utilizados no ensaio; (b) Proveta na mesa vibratória; (c) Lavagem
do provete; (d) Medição da altura................................................................................... 41
Figura 26. Comportamento dos solos com a variação do teor em água ......................... 42
Figura 27. Execução do ensaio com o uso da Concha de Casagrande ........................... 43
Figura 28. Concha de Casagrande e riscador; (a) Solo S1; (b) Solo S2. ........................ 44
Figura 29. (a) Tábua em vidro fosco e bastão guia; (b) Solo S1; (b) Solo S2. ............... 44
Figura 30. Limites de Liquidez ...................................................................................... 45
Figura 31. Curvas de compactação Proctor .................................................................... 48
Figura 32. Provetes executados ...................................................................................... 54
Figura 33. Esquema do teste de queda ........................................................................... 55
Figura 34. Aspecto do solo no teste de queda: (a) Muito seco; (b) Utilizável; (c) Muito
úmido .............................................................................................................................. 55
Figura 35. Esquema das camadas compactadas em cada provete .................................. 57
Figura 36. Molde de ferro utilizado para execução de provetes ..................................... 57
Figura 37. Molde de madeira utilizado para execução de provetes................................ 58
Figura 38. Solo compactado, molde em madeira e compactador manual ...................... 58
Figura 39. Esquema da sala de ensaios térmicos ............................................................ 60
Figura 40. Posicionamento dos provetes em relação a sala de ensaio ............................ 60
Figura 41. Provetes posicionados na sala de ensaio ....................................................... 61
Figura 42. Protótipos de paredes posicionados: (a) Durante o ensaio 1; (b) Durante o
ensaio 2 ........................................................................................................................... 62
Figura 43. Provetes e isolante XPS posicionados nos vãos e selados com espuma
expansiva de poliuretano ................................................................................................ 63
Figura 44. Posição dos sensores de fluxo de calor e de temperatura superficial: (a) ts1,1;
(b) HF1; (c) ts1,2; (d) ts2,1; (e) HF2; (f) ts2,2 ............................................................... 63
Figura 45. (a) Sonda de temperatura; (b) Sonda de umidade; (c) Datalogger ................ 64
Figura 46. Flir BT Series T365....................................................................................... 65
Figura 47. Medição de umidade dos provetes ................................................................ 66
Figura 48. Termogramas obtidos ao fim do ensaio 1, na manhã do dia 20 de janeiro: (a)
Interior; (b) Exterior ....................................................................................................... 68
Figura 49. Termogramas obtidos ao fim do ensaio 2, na manhã do dia 08 de fevereiro: (a)
Exterior; (b) Interior ....................................................................................................... 68
Figura 50. Evolução das temperaturas interior e exterior no decorrer do ensaio 1 ........ 70
Figura 51. Evolução das temperaturas interior e exterior no decorrer do ensaio 2 ........ 71
vii
Figura 52. Temperaturas superficiais no ensaio 1 .......................................................... 72
Figura 53. Temperaturas superficiais no ensaio 2 .......................................................... 73
Figura 54. Fluxos de calor do ensaio 1 ........................................................................... 75
Figura 55. Fluxos de calor do ensaio 2 ........................................................................... 76
Figura 56. Coeficientes de transmissão térmica no ensaio 1 .......................................... 77
Figura 57. Coeficientes de transmissão térmica no ensaio 2 .......................................... 78
Figura 58. Provete posicionado para o ensaio ................................................................ 81
Figura 59. Ensaio de condutibilidade térmica. (a) Equipamento Thermal Conductivity
Test Tool λ-Meter EP500; (b) Configuração dos parâmetros de ensaio. ....................... 82
Figura 60. Condutibilidade térmica. (a) Solo S1; (b) Solo S2 ........................................ 83
Figura 61. Tubos Karsten fixados................................................................................... 85
Figura 62. Coeficiente de absorção de água ................................................................... 86
viii
LISTA DE TABELAS
ix
Tabela 32 – Coeficientes de transmissão térmica superficiais máximos admissíveis de
elementos opacos, Umáx [W/(m2 .°C)] ......................................................................... 89
Tabela 33 – Solução construtiva com taipa .................................................................... 90
Tabela 34 – Valores de U para a solução com parede de taipa de 35 cm ....................... 91
Tabela 35 – Valores de U para a solução com parede de taipa de 40 cm ....................... 92
x
CAPÍTULO 1
1 INTRODUÇÃO
1
1.1 Enquadramento
A terra crua é um dos materiais de construção mais antigos, tal como evidenciam
vários sítios arqueológicos com construções com mais de nove mil anos (Minke, 2000).
É estimado que mais de um quarto da população mundial viva nesse tipo de habitação
atualmente (Avrami, Guillaud and Hardy, 2008; Pacheco-Torgal and Jalali, 2012). Em
Portugal, há registros da utilização da terra como material de construção desde o ano 5000
a.C. (Gomes, 2013). As técnicas construtivas em terra mais utilizadas em território
nacional são o tabique, a taipa e o adobe (Silva et al., 2013). Essas construções são mais
comumente encontradas no centro e sul do país, por conta do clima mais seco e da
distribuição dos recursos naturais. Os solos considerados mais adequados para a
construção em taipa são a areia argilosa e areia siltosa (Moran, 1984).
Desde 1824, o cimento Portland, junto com o ferro e aço, tomou gradativamente
o espaço ocupado pela terra crua compactada na construção convencional (Jaquin,
Augarde and Gerrard, 2008). O fato de o regulamento de construção português (GAIURB,
2013) não incluir a terra crua como material de construção, dificulta a execução de novas
edificações. Ademais, são poucos os países que possuem normas específicas para
construção em terra – e.g. Nova Zelândia (NZS, 1998a, 1998b, 1998c), EUA (CIDRLD,
2016) e Peru (SENSICO, 2006) –, o que corrobora com a dificuldade.
Por outro lado, construções com materiais alternativos, como a terra, são
consideradas sustentáveis (Soebarto, 2009). O alto consumo de recursos naturais e
emissão de poluentes relativos ao setor construtivo, tanto no processo produtivo de
insumos quanto na execução de obras, colocam em debate a necessidade de utilização de
métodos construtivos com menor impacto ambiental (Cordeiro et al., 2020). As
construções em terra suprem notavelmente os preceitos da construção sustentável: são
totalmente reutilizáveis, têm baixa energia atribuída, possuem durabilidade elevada e a
2
terra é um material que não necessita de transformação e é encontrado no local de
execução da edificação (Pereira and Correia da Silva, 2012).
Por outro lado, é importante considerar que o solo encontrado “in situ” em uma
construção pode ser utilizado também para fins de compartimentação, sem função
estrutural. Dessa forma, é importante que a terra seja coesa – para garantir a construção e
compactação necessárias na técnica – e, principalmente, que as paredes venham a
apresentar boas características térmicas, de modo a cumprirem os requisitos
regulamentares atualmente exigidos, garantindo o conforto térmico da habitação. A
influência da escolha do solo no comportamento térmico da taipa carece de estudo e
inovação.
3
• Caracterizar termohigrometricamente os provetes executados por meio de ensaios
experimentais em ambiente padrão e controlado;
• Determinar, a partir dos resultados obtidos, a influência da seleção de solo no
desempenho térmico da taipa;
• Determinar, a partir dos resultados obtidos, a influência da variação da espessura
de uma parede de taipa em seu comportamento térmico.
4
Finalmente, o quinto capítulo traz as conclusões encontradas a partir da
interpretação dos resultados e, por fim, temas para futuras investigações correlatas ao
trabalho são propostos.
5
CAPÍTULO 2
2 ESTADO DA ARTE
6
2.1 Introdução
Estima-se que a terra seja utilizada como material de construção desde a pré-história
(Augusta et al., 2007). Entretanto, os primeiros registros de construções em terra foram
realizados nas primeiras sociedades agrícolas, há mais de nove milênios (Minke, 2000; F.
P. Torgal and Jalali, 2009).
8
Figura 3. Classificação das técnicas de construção em terra
Fonte: (Fernandes, 2006)
9
2.2.1 Adobe
10
Originalmente, os tijolos de adobe eram produzidos manualmente. Com o passar
do tempo, a moldagem começou a ser feita com o auxílio de formas de madeira, para
padronizar e agilizar a produção. Atualmente, processos semi-industriais de produção
também podem ser empregados, conforme a Figura 6, em que o solo é misturado com o
auxílio de um misturador mecânico, que também serve para depositar a mistura nas
cofragens.
O adobe pode ser produzido, ainda, com o uso de cal aérea como estabilizante.
Além disso, fibras vegetais também podem ser adicionadas, de modo a melhorar a
fissuração superficial decorrente da retração. Ademais, pode-se utilizar pano de sisal ou
plástico filme para cobrir os blocos durante a secagem (Silva, 2015).
11
2.2.2 BTC
12
Figura 8. Produção de BTC em prensa AURAM PRESS 3000
Fonte: (Diferente, 2020)
O BTC pode ser utilizado como elemento estrutural, com capacidade autoportante,
ou como elemento de vedação. Por conta de seu acabamento natural, não necessitam de
revestimentos (o que confere uma vantagem financeira e ambiental). Ainda, podem ser
empilhados em obra quando frescos, por conta do processo de compactação.
13
Figura 9. Execução de parede de taipa
Fonte: (Librelotto and Telli, 2014)
Figura 10. (a) Trecho da Grande Muralha da China em taipa, em Jiayuguan; (b) Forte de
Jiayuguan, em Jiayuguan, Gansu
Fonte: (Arquiteturas de Terra, 2000)
14
baixa (às vezes nula) emissão de carbono e, quando utilizada sem estabilização, a terra
pode ser totalmente reutilizada.
(a) (b)
Figura 12. Equipamentos utilizados na compactação da taipa: (a) Mais antigos; (b) Mais
recentes
Fonte: (F. P. Torgal and Jalali, 2009)
15
Os utensílios apresentados Figura 12 (a) são mais antigos, com cabo de madeira.
Já os equipamentos na Figura 12 (b) são mais recentes, pois contam com cabos de ferro.
Ainda, atualmente, o compactador pneumático é também utilizado, a fim de padronizar a
energia de compactação, que possui grande influência na qualidade da construção
(Lourenço, 2002).
Esse processo deve ser repetido até que a parede tenha alcançado as dimensões
pretendidas. É importante atentar-se para que as juntas verticais dos troços estejam
desfasadas, para garantir a estabilidade do elemento (Silva, 2015). Ainda que a taipa
tradicional conte com reboco em sua superfície para a proteção contra a chuva e demais
agentes degradantes, esse método construtivo não necessita obrigatoriamente de
acabamento (apenas de atenção acerca das manutenções periódicas) e possui visual
estético único, que está representado na Figura 14.
16
(a) (b) (c)
Figura 14. Construções em taipa modernas: (a) Centro Cultural no Canadá; (b) Casa em
Luanda; (c) Interior de casa em taipa
Fonte: (UGreen, 2019)
Para a execução desse método, é importante que o solo utilizado seja adequado,
bem como seu preparo e compactação. Os critérios de seleção de solos são apresentados
em 2.5. Em conjunto com a escolha da terra, é possível realizar algum tipo de
estabilização do solo, de modo a melhorar o desempenho do material. Os diferentes tipos
de estabilização são apresentados em 2.4.
Uma vez que um solo não é considerado como o mais adequado para a construção
em taipa, uma possibilidade para melhorar suas propriedades é a estabilização
(Rix, 1998). As melhorias alcançadas, em geral, são: redução do volume de vazios,
preenchimento de vazios remanescentes e melhoria da coesão entre partículas. Portanto,
a estabilização pode reduzir a porosidade e permeabilidade e aumentar a resistência
mecânica da parede (Rigassi, 1985; Adam and Jones, 1995; Rix, 1998). Essas mudanças
resultam em um elemento menos sensível à água e com menor erosão da superfície.
A estabilização da terra pode ser feita por métodos físicos, químicos e mecânicos;
que devem ter sua adequabilidade para a demanda existente analisada caso a caso. Além
disso, é possível utilizar métodos de estabilização conjugados, sejam eles de mesmo ou
diferentes tipos, de modo a obter resultados ainda mais otimizados.
17
A estabilização física é realizada, de modo geral, através do acréscimo ou retirada
de partículas de determinadas granulometrias (de modo que o material se enquadre
melhor nos valores propostos na literatura para a construção com terra) ou adição de
fibras. As fibras, que contam com palha seca, sisal, bambu, fibras de palmeiras, pelos de
animais e fibras de aço (Osula, 1996), atuam na melhoria da coesão das partículas. Ainda,
outro método de estabilização física é a adição de agregados finos para preencher os
vazios existentes no solo, melhorando a compacidade do elemento. Esses agregados são,
muitas vezes, sustentáveis, provenientes de resíduos de diversos setores industriais (Silva,
2015).
Nem todos os solos devem ser utilizados na construção com terra. As camadas
superficiais do solo devem ser evitadas, visto que são constituídas por elevada quantidade
de matéria orgânica, absorvem muita água e são extremamente compressíveis. Além
disso, o comportamento do solo varia em função de sua composição e granulometria, em
18
virtude de cascalhos, areias, siltes e argilas possuírem características diferentes. Ainda, a
quantidade de água presente no solo influencia o seu comportamento (M. I. Gomes,
2013).
19
Valores recomendados Valores máximos e mínimos
Índice de plasticidade 7 - 18 7 - 29
Limite de liquidez 30 - 35 25 - 50
Limite de plasticidade 12 - 22 10 - 25
Limite de retração < Teor em água ótimo 8 - 18
20
Figura 15. Diagrama triangular de Feret para construção em terra
Fonte: Adaptado de (Moran, 1984)
21
Tabela 6 – Limites de consistência
Limite de Limite de Índice de Limite de
Liquidez Plasticidade Plasticidade Retração
(%) (%) (%) (%)
Albergaria 19 14 5 14
S. Susana 27 21 4 15
Pulo do Lobo 26 19 7 14
S. Clara 27 18 9 23
Porto Covo 39 31 8 18
Barragem Roxo 22 17 5 6
Messejana 24 18 6 18
Pode-se perceber, através da análise das tabelas acima, que solos das mais variadas
granulometrias são utilizados para essas construções: de 95% até 52% de grossos. Ao
considerar os valores obtidos na literatura, apenas os solos de S. Clara, Barragem Roxo e
Messejana cumprem as indicações correlatas à granulometria.
Além disso, os limites de consistência encontrados diferem bastante uns dos outros,
uma vez que estão diretamente relacionados à curva granulométrica do solo. Nesse
âmbito, nenhum dos solos estudados cumpre todos os requisitos mencionados por
Doat et al. (1979). Conclui-se, portanto, que o não desempenho dos requisitos não
inviabiliza a execução da construção em terra. Entretanto, espera-se um material de maior
qualidade e durabilidade ao cumprir os valores propostos.
As diretivas da CRAterre defendem que solos com teores de água ótimos entre 9 e
17% são mais fáceis de estabilizar para o uso na construção em terra (F. Torgal and Jalali,
2009). Por outro lado, consta no regulamento neozelandês que um solo deve ser
compactado com um teor de água até 3% abaixo ou 5% acima do teor de água ótimo para
o uso adequado na taipa (NZS, 1998a).
22
IP e Retração "medíocre" IP e Retração "razoável" IP e Retração "boa"
Retração > 11 e IP > 30 Retração 6-11 e IP 15-30 Retração < 6 e IP < 15
Sucesso da estabilização 13% Sucesso da estabilização 69% Sucesso da estabilização 93%
Figura 16. Metodologia para aferir a aptidão de um solo para ser estabilizado com
cimento, cal e asfalto
Fonte: (Burroughs, 2008)
Percebe-se que o solo mais propício para estabilização é o que possui baixa
retração, índice de plasticidade inferior a 15 e quociente entre argila e silte entre 20 e
35%.
23
Em um sistema construtivo que apresenta comportamento higroscópico, a
resistência térmica e a capacidade de inércia térmica variam em consonância com a
umidade existente nos materiais. A Figura 17 mostra a curva granulométrica e a
condutibilidade térmica em diversas umidades relativas do ar de três BTCs de solos
distintos(El Fgaier et al., 2016).
(a) (b)
Figura 17. (a) Curva granulométrica dos solos utilizados; (b) Condutibilidade térmica
em relação a variação da umidade relativa
Fonte: (El Fgaier et al., 2016)
24
Figura 18. Esquema do ensaio de resistência à difusão de vapor de água
Fonte: (Cagnon et al., 2014)
25
principal fonte de calor da sala, enquanto que as paredes externas transmitiam, se
comparadas, menos calor ao escritório e as paredes interiores absorvem calor durante o
período. Já com relação às paredes, o uso de taipa de pilão, em função de sua alta inércia
térmica, é uma estratégia válida para o condicionamento térmico passivo no verão, com
desempenho superior ao esperado ao analisar a resistência térmica do material. Os
parâmetros obtidos nesse estudo são compilados na Tabela 7.
26
verão e inverno, havendo pouca necessidade do uso de sistemas adicionais de
aquecimento e arrefecimento.
A partir de estudos acerca do uso da terra crua como material de construção (taipa
de pilão e BTC) foi possível determinar que a terra possui alta inércia térmica, o que
ocasiona um atraso térmico que contribui com o conforto térmico do ambiente, visto que
absorve calor durante o dia e libera durante a noite. Por conta disso, paredes de terra são
uma estratégia válida para utilização em períodos quentes, por conta de sua alta
capacidade térmica (Taylor, Fuller and Luther, 2008). Esses autores ainda referem que
essa vantagem da construção em terra não é percebida ao se analisar individualmente a
resistência térmica do material.
Segundo Soudani et al. (2016) a condutibilidade térmica não pode ser considerada
uma propriedade fixa do solo, mas sim uma propriedade determinada para uma umidade
específica. Isso se deve à condição porosa dos componentes da terra. O autor refere que
27
apesar de existirem alguns trabalhos com enfoque no estudo de caso para análise térmica
e higroscópica de construções de terra crua, poucos consideram a influência da umidade
no comportamento térmico da construção. Isso se deve pela dificuldade de determinar as
propriedades higrotérmicas desses materiais, que são porosos.
28
África do Sul, Quênia, Zimbabué, Estados Unidos, Índia e Austrália também possuem
normas para construção com esse material. A Tabela 9 compila os conteúdos dos
principais regulamentos de construção em terra.
29
Grupo País Documento Técnicas Ano Conteúdo
Adobe,
Conjunto de recomendações técnicas para a
Alemanha Lehmbau Regeln BTC, 1999
construção em terra
taipa
30
Segundo Cid-Falceto et al. (2011), todas normas abrangem a seleção de solos,
apresentando parâmetros que devem ser obedecidos. Por outro lado, os parâmetros
citados são obtidos a partir de ensaios com baixo grau de confiabilidade. Para o produto
final (como a parede de taipa e bloco de BTC), são definidos alguns requisitos para
características físico-químicas.
31
CAPÍTULO 3
32
3.1 Introdução
Para esse estudo, foram utilizados dois solos diferentes, ambos coletados
previamente. O primeiro foi fornecido pela Universidade do Minho, em Guimarães, e é
identificado somo solo S1. Já o segundo foi proveniente de um fabricante de BTCs da
região do Alentejo (Santiago do Cacém), identificado por solo S2. A Figura 19 expõe os
solos S1 e S2 compactados dentro dos moldes usados nos ensaios propostos.
Esses solos foram selecionados pois já haviam sido empregados em algum tipo de
construção em terra anteriormente. O solo S1 resultou da demolição de paredes de taipa
construídas em laboratório, pelo que foi um solo previamente estudado para esse fim.
Além disso, este solo resultou da correção granulométrica de um solo originalmente
recolhido do Alentejo (Odemira), que apresentava uma percentagem de argila excessiva.
Já o solo S2 é usado industrialmente na produção de BTCs.
Uma vez que ambos os solos já foram empregados em construções de taipa, estes
foram considerados exemplos desse tipo de construção em Portugal. Dessa forma, esse
capítulo pretende caracterizar os dois materiais e verificar suas propriedades quando
utilizados na construção de taipa.
33
Figura 19. Solos utilizados no ensaio: (a) Solo S1; (b) Solo S2.
Para cada solo, uma amostra foi colocada em um recipiente cerâmico e seca em
estufa a uma temperatura de 105±3ºC durante 24 horas e em seguida teve sua massa
aferida (𝑚𝑖 ). Após, colocou-se o cadinho em uma mufla à temperatura de 550ºC pelo
período de 1 hora. Ao fim desse tempo, as amostras foram arrefecidas em um exsicador
com sílica gel e na sequência mediu-se as massas finais (𝑚𝑓 ). O cálculo do teor de matéria
orgânica no solo (MOS), em percentagem, é realizado a partir da Equação 1.
𝑚
MOS = ( 𝑚𝑖𝑓 ) × 100 (1)
Tabela 10, a seguir, apresenta a massa dos cadinhos e massa inicial e final das
amostras, de modo a possibilitar o cálculo do teor em matéria orgânica dos solos.
34
Tabela 10 – Teor em matéria orgânica dos solos
A análise dos resultados possibilita perceber que ambos os solos, S1 e S2, não
possuem significativo teor de matéria orgânica em sua composição (inferior a 2%) e,
portanto, estão enquadrados no que sugere Walker (2005) acerca da mistura ideal para
construções em terra. A partir disso, definiu-se a metodologia a ser utilizada na análise
granulométrica dos solos, apresentada na sequência.
𝐴
𝛾𝑔 = 𝛾𝑤𝑡 × 𝐴+𝐵−𝐶
(2)
35
Onde:
𝛾𝑔 = peso específico das partículas;
𝛾𝑤𝑡 = peso específico da água à temperatura (t) do ensaio;
𝐴 = peso da amostra depois de seca na estufa;
𝐵 = peso do picnômetro contendo água destilada;
𝐶 = peso do picnômetro contendo a amostra e água destilada, à temperatura t.
É possível perceber que os dois solos possuem pesos específicos de mesma unidade
de grandeza, o que é esperado, considerando que se tratam de solos. Entretanto, a terra
S1 possui peso específico das partículas cerca de 8% inferior ao de S2.
Os solos estudados foram analisados em peneirações por via seca, de acordo com
a E-329 (LNEC, 1970), a fim de classificar os grossos (seixo e areia). Os finos (siltes e
argilas), porção de solo que passou pelo peneiro ASTM #200, foram classificados por via
úmida, conforme a especificação E-196 (LNEC, 1966b). Após as análises, os resultados
dos solos S1 e S2 obtiveram-se as curvas granulométricas.
36
3.4.1 Peneiração
Para a análise por via úmida, foram preparadas amostras de acordo com a
especificação E-195 (LNEC, 1966a). Amostras dos solos S1 e S2 secas ao ar foram
desagregadas com auxílio de um pilão, de forma a não alterar a granulometria individual
das partículas. Após, fez-se o esquartelamento das amostras e porções de peso definido
pela norma foram separadas.
3.4.2 Sedimentação
A porção de solo que passou pelo peneiro ASTM #200 foi analisada por
sedimentação, a fim de classificar os finos. Esse ensaio é realizado de modo a medir a
velocidade de sedimentação das partículas em uma proveta com água destilada e
defloculante. A curva granulométrica desse material é obtida através da velocidade de
queda das partículas, o que está relacionado ao tamanho dessas.
37
Figura 21. Materiais utilizados no ensaio de sedimentação: proveta, densímetro e
termômetro
3.4.3 Resultados
90
80
% de Material Passado
70
60
50
40
30
20
10
0
0,0010 0,0100 0,1000 1,0000 10,0000 100,0000
Diâmetro das Particulas [mm]
Siltes Areia Seixo
Argila
Fino Médio Grosso Fina Média Grossa Fino Médio Grosso
90
80
% de Material Passado
70
60
50
40
30
20
10
0
0,00 0,01 0,10 1,00 10,00 100,00
Diâmetro das Particulas [mm]
Siltes Areia Seixo
Argila
Fino Médio Grosso Fina Média Grossa Fino Médio Grosso
O solo S2, por outro lado, é composto por cerca de 36% de seixo (cascalho), 21%
de areia e 43% de siltes e argilas. A Tabela 12, a seguir, apresenta o resumo dos resultados
obtidos, para posterior comparação e classificação.
39
Figura 24. Triângulo de Feret para os solos S1 e S2
Em relação ao material S2, por outro lado, percebe-se, pela análise da Tabela 12
e da Figura 24, que o solo pode ser utilizado para a construção em taipa, ainda que não se
enquadre dentro de todas as recomendações. O diagrama de Feret ilustra esse solo dentro
do recomendado, mas no limite. Entretanto, a curva granulométrica da terra encontra-se
fora do recomendado em 2.5 por Brito (2006), Jayasinghe e Kamaladasa (2007) e
McHenry (1984), por conta do alto percentual de finos em sua composição (43,7%).
Torgal e Jalali (2009), em contrapartida, ilustraram em sua investigação que terras com
granulometria diferente da indicada pelos demais autores podem ser utilizadas,
principalmente se cumprirem os requisitos relativos aos limites de consistência do
material, que serão analisados em 3.8.
Figura 25. (a) Materiais utilizados no ensaio; (b) Proveta na mesa vibratória; (c)
Lavagem do provete; (d) Medição da altura.
41
Tabela 13 – Equivalente de areia
Solo S1 S2
h1 32,8 91,3
h2 3,2 1,3
E.A. 9,8 4,2
Uma vez que a parcela fina de solo é constituída por siltes e argilas, fez-se
necessário calcular esses limites, pois a variação do teor de água provoca diferentes
comportamentos no solo. Um solo argiloso com baixo teor de água não é moldável. Com
o acréscimo da quantidade de água, atinge-se um estado plástico da argila, que avança
para uma solução fluida em caso de demasiada adição (D. Gomes, 2015), conforme a
Figura 26.
42
amostra de solo colocada na Concha de Casagrande com 25 pancadas. O ensaio foi
realizado em três pontos para cada solo, de forma a possibilitar o traçado de uma reta,
estipulando corretamente o LL.
A amostra foi composta por 100 g de solo (que não tenha ficado retido no peneiro
#40) umedecido com água destilada até a formação de uma pasta homogênea. Para cada
repetição do ensaio, acresceu-se solo à mistura, envolvendo-a com o auxílio de espátula
por 5 minutos. A pasta foi colocada na Concha de Casagrande em uma camada de cerca
de 1 cm. Com o riscador, abriu-se um sulco no provete, em sua extensão, conforme a
Figura 27 e Figura 28. Após isso, aplicou-se golpes de queda no aparelho até que a parte
inferior do sulco se fechou.
43
Figura 28. Concha de Casagrande e riscador; (a) Solo S1; (b) Solo S2.
Ao obter o ponto certo para o ensaio, o provete foi colocado em uma cápsula de
alumínio e teve a massa aferida em sequência. Posto isso, colocou-se a cápsula na estufa
em temperatura de 105±3ºC durante 48 horas para posterior determinação do teor de
umidade.
Figura 29. (a) Tábua em vidro fosco e bastão guia; (b) Solo S1; (b) Solo S2.
IP = LL − LP (3)
44
A partir desse parâmetro definiu-se o grau de plasticidade do solo. Conforme
explicitado em 2.5, solos com IP entre 1 e 7 são considerados fracamente plásticos, já
para valores entre 7 e 15, possuem plasticidade média, por fim, solos com IP acima de 15
têm plasticidade elevada.
3.6.4 Resultados
Número de ensaio 1 2 3 1 2 3
Número de pancadas 13 20 30 12 23 35
Número de recipiente 1 3 2 7 11 9
Peso do recipiente + solo húmido 23.76 23.31 21.79 21.38 21.22 25.02
Peso do recipiente + solo seco 20.5 20.83 19.73 18.94 18.8 21.57
48.0
46.0
46.0 44.7
44.0
42.3
Teor de húmidade (%)
42.0
40.0
38.0
36.0
34.5
33.8
34.0
32.3
32.0
1 10 100
Nº de Pancadas
S1 S2
45
A partir da análise dos resultados obtidos, percebe-se que ambos os solos se
encontram dentro do permitido para a construção de taipa. Entretanto, o solo S1, com LL
de 33,0%, encontra-se dentro do intervalo recomendado, enquanto que o solo S2, LL de
43,8%, cumpre apenas os requisitos de valores mínimos e máximos permitidos.
Número de ensaio 1 2 1 2
Número de recipiente 1 2 6 20
Por fim, através da análise dos limites anteriores, foi possível obter-se o Índice de
Plasticidade das terras. É definido na bibliografia que IPs entre 7 e 18 são considerados
ideais para a construção em terra compactada. Entretanto, há a possibilidade de utilizar
materiais com índices entre 7 e 29 para esses métodos construtivos assegurando a
viabilidade da edificação. A Tabela 16 apresenta os resultados encontrados.
46
Tabela 16 – Índices de Plasticidade
S1 S2
Índice de Plasticidade (%) 12 19
A compactação dos moldes foi realizada por camadas, com o uso de um pilão de
massa 4,54 kg a cair de 457 mm de altura. Ao fim da compactação, retirou-se a alonga do
molde e rasou-o, para então medir a massa do provete; dessa forma, é possível obter a
baridade úmida do solo (quociente entre massa e volume). Para o cálculo do teor de
umidade do provete, uma amostra de cada provete foi colocada em uma cápsula de
alumínio, para a aferição de sua massa úmida e seca (após ser colocada na estufa a
105±3ºC por 48 horas).
𝑤 𝛾
𝛾𝑠 = 100+𝑤 × 100 (4)
47
A baridade seca máxima do solo, ou massa volúmica seca, é determinada através
da análise do gráfico composto pelos pontos ensaiados. Ao conectar os resultados, é
possível obter uma parábola, que apresenta a massa volúmica máxima no ponto de
máximo do gráfico. O respectivo valor de x representa o teor em água ótimo para o solo.
Os resultados dos solos S1 e S2 estão compilados na Figura 31.
2.100
2.000
BARIDADE SECA g/cm3
1.900
1.800
1.700
0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0 14.0 16.0 18.0
TEO R EM ÁGUA % S1
S2
Ao analisar a parábola referente ao S1, percebe-se que o teor em água ótimo para
esse solo está em cerca de 8%, com a baridade seca máxima em 2,080 g/cm³. O solo S2,
por outro lado, possui teor em água ótimo mais elevado, cerca de 13,5%, e baridade seca
máxima próxima de 1,850 g/cm³. Um resumo dos valores obtidos é apresentado na
Tabela 17.
Tabela 17 – Resultados do Ensaio Proctor
S1 S2
Teor em água
8.00 13.50
(%)
Baridade seca
2.08 1.85
(g/cm³)
49
preparado em concordância com a NZS 4298:1998, apresenta diferenças irrisórias se
comparado ao mesmo material com teor ótimo de 9%. Com relação à análise
granulométrica, a terra também cumpre o recomendado na distribuição das partículas e
no Diagrama de Feret.
O solo S2, por outro lado, apresenta teor em água e matéria orgânica em concordância
com o proposto, bem como baridade máxima seca muito satisfatória (ainda assim, a
baridade de S1 é significativamente superior), mas encontra-se fora do recomendado para
os Limites de Consistência. Além disso, sua granulometria não é considerada adequada
no que diz respeito à distribuição das partículas. Ainda que o solo S2 não possa ser
enquadrado nos parâmetros indicados na literatura, e uma vez que conta com valores
dentro do permitido pela bibliografia, é possível garantir a exequibilidade de suas
edificações. Além disso, a pesquisa realizada por Torgal e Jalali (2009) explicita outras
edificações existentes em Portugal cujo solo utilizado possui parâmetros enquadrados
apenas dentro do permitido pela bibliografia.
Ainda que os dois solos apresentem diferenças do que diz respeito às características
físicas, ao classificar os materiais através da norma ASTM D2487-85 (ASTM, 1987),
percebe-se que ambos possuem a mesma classe: cascalho argiloso com areia.
50
CAPÍTULO 4
4 CARACTERIZAÇÃO TERMOHIGROMÉTRICA
51
4.1 Introdução
Uma vez que existe pouca investigação nas últimas décadas acerca do desempenho
termohigrométrico de paredes de taipa, a caracterização termohigrométrica desses
elementos tem como objetivo contribuir para o aumento do conhecimento científico nesta
área, nomeadamente no que respeita à indicação de parâmetros para outros tipos de solos.
Por fim, analisaram-se os diferentes solos estudados com relação à teor de umidade
e absorção da água sob baixa pressão. O ensaio de absorção da água sob baixa pressão é
regido pela ficha do LNEC FE Pa 39.1 (LNEC, 2002), com o auxílio de Tubos Karsten.
52
resultados obtidos. Além disso, a quantia de solo S2 poderia não ter sido suficiente para
a execução dos 3 provetes.
53
Coeficiente
Coeficiente
Coeficiente de de
de transmissão
transmissão
transmissão térmica
térmica
térmica Absorção
Absorção da
da Condutibilidade
Condutibilidade
Condutibilidade
Coeficiente de transmissão térmica e Teor em Absorção
Absorçãoda
da Condutibilidade
ee Teor
Teor
e Teorágua em
em água
água
em água água
água
água térmica
térmica
térmica
água térmica
S1
S1
S1
S1
Coeficiente de
Coeficiente de transmissão
transmissão térmica
térmica Absorção da
da Condutibilidade
Condutibilidade
Coeficiente
W35S1 de W40S1
transmissão
W40S1 térmica
W50S1
Absorção
Absorção Condutibilidade
A1 da A1S1
A1S1 A2S1 A3S1
A3S1
W35S1 W50S1 A1 A1S1 A2S1 A3S1
W35S1
W35S1 ee Teor
Teor em água
W40S1
W40S1
em água W50S1
e Teor em água W50S1 A1
água
A1
água
água
térmica
A2S1
A1S1 térmica
A2S1 A3S1
térmica
S2
S2
S2
S1
S1
S1
S2
W35S2
W35S2
W35S2
W35S1 W40S2
W40S2
W40S2
W40S1 W50S1 A2
A2
A2
A1 A1S2
A1S2
A1S2 A2S2
A2S2
A1S1 A2S2 A3S2
A3S2
A2S1 A3S2
A3S1
W35S1
W35S1 W40S1
W40S1 W50S1
W50S1 A1
A1 A1S1
A1S1 A2S1
A2S1 A3S2
A3S1 A3S1
W35S2 W40S2 A2 A1S2 A2S2
S2
S2
Figura 32. Provetes executados
S2
W35S2
W35S2utilizada W40S2
W40S2 A2
A2 foi aA1S2 A1S2
A1S2 A2S2
A2S2 A2S2
A3S2 A3S2
A metodologia
W35S2 na execução de todos os provetes
W40S2 A2 mesma, a qualA3S2
está
detalhada na sequência.
Previamente à execução dos provetes, foi necessário preparar o solo. Para tal, o solo
foi colocado em tabuleiros metálicos, que foram levados à estufa, a uma temperatura de
105ºC pelo período de 3 horas, de modo a retirar parte da umidade do solo. Após o
arrefecimento, todos os torrões de terra foram desfeitos, com auxílio de pilão de borracha.
A umidade ótima de acordo com o ensaio Proctor foi encontrada conforme descrito
em 3.6.4. Entretanto, na prática, diferentes porções de solo podem apresentar
granulometrias ligeiramente diferentes. Dessa forma, para cada tabuleiro preparado,
percebeu-se que o teor em água necessário para o solo adquirir a trabalhabilidade
adequada foi ligeiramente diferente. De modo a garantir a homogeneidade do
comportamento do solo em todos os provetes, e como validação prática da umidade
indicada no ensaio Proctor, realizou-se o teste de queda, descrito na norma neozelandesa
NZS4298 (NZS, 1998b), em todos os tabuleiros de solo preparados.
54
O teste consiste na moldagem de uma porção de solo em formato esférico entre as
duas palmas das mãos. Depois de moldada, deve-se deixar cair a amostra de uma altura
de 1,5 m sobre uma superfície plana e rígida (e.g. tabuleiro metálico). Em seguida deve-
se analisar o estado do solo após a queda. Se tiver pouca umidade no solo, não será
possível formar uma bola. Já quando muito úmido, a bola fica “achatada”, com aspecto
encharcado (saturado de umidade), mas não desagrega. A Figura 33 esquematiza os
estados do solo nesse teste.
Figura 34. Aspecto do solo no teste de queda: (a) Muito seco; (b) Utilizável; (c) Muito
úmido
55
provete executado, o que possibilitou confrontar com o teor em água encontrado pelo
ensaio Proctor.
Tabela 20 – Teor de umidade dos provetes
Umidade
Umidade real
Ensaio Solo Provete Dimensões Espessura ótima Limite (NZS)
(Teste de queda)
(Proctor)
W35S1 35 cm 8.86%
Coeficiente 1 W40S1 50 x 30 cm 40 cm 8.91% 8.00% 5% - 13%
transmissão
W50S1 50 cm 8.92%
térmica e Teor
em água W35S2 35 cm 14.59%
2 50 x 30 cm 13.50% 10.5% - 18.5%
W40S2 40 cm 14.85%
Absorção da 1 A1 15 x 15 cm 15 cm 8.93% 8.00% 5% - 13%
água 2 A2 15 x 15 cm 15 cm 14.78% 13.50% 10.5% - 18.5%
A1S1 5 cm 8.96%
1 A2S1 15 x 15 cm 5 cm 8.79% 8.00% 5% - 13%
Condutibilidade A3S1 5 cm 8.88%
térmica A1S2 5 cm 14.68%
2 A2S2 15 x 15 cm 5 cm 14.61% 13.50% 10.5% - 18.5%
A3S2 5 cm 14.76%
4.2.2 Compactação
56
Coeficiente
Coeficiente de
de
Coeficiente de Absorção
Absorção da
da água
água aa Condutibilidade
Condutibilidade
transmissão
transmissão térmica
térmica Absorção
transmissão térmica baixa da água
baixa pressão a
pressão Condutibilidade
térmica
térmica
ee Teor
Teor em
em água e
água baixa pressão térmica
Teor em água
Camadas
de de
Camadas
Camadas
Camadas de
de
compactação
compactação
compactação
compactação
6666camadas
camadas
camadas
camadas 333 camadas
camadas
camadas 111camada
camada
camada
57
Figura 37. Molde de madeira utilizado para execução de provetes
58
cola, para garantir que a superfície da camada inferior, já compactada, não perdesse
umidade.
O ensaio foi executado de acordo com a norma internacional ISO 9869 (ISO,
2014). Além disso, a metodologia foi executada com êxito em investigações anteriores
realizadas no Laboratório de Engenharia Civil da UTAD (Cunha et al., 2015; Sá et al.,
2016; Magalhães, 2017; Pinto et al., 2017; Fernandes, 2020).
59
Por fim, a sala contava com um computador para recolha dos resultados e dois
aquecedores. A Figura 39 apresenta um esquema da sala de teste.
Para os ensaios, os protótipos foram posicionados no centro dos vãos das janelas,
de dimensões 615 x 765 mm, a uma altura de 1,60m, conforme a Figura 40.
60
Por conta das grandes dimensões e elevada massa dos provetes (pesavam entre 100
e 200kg), foi necessário recorrer ao uso de uma empilhadeira para auxiliar no
posicionamento dos protótipos. Além disso, de modo a garantir que a estrutura existente
na sala de teste não sofresse danos com a carga excessiva, desenvolveu-se um sistema de
escoras e apoios para diluir a carga aplicada, conforme a Figura 41.
Para a realização desse ensaio, foram utilizados 5 provetes de dimensões 0,5 x 0,3
m (largura e altura): 3 do solo S1 e 2 do solo S2. O procedimento foi realizado em duas
partes: o ensaio 1 ocorreu entre os dias 08 e 20 de janeiro e 2021 com os três provetes do
solo S1, denominados de W35S1, W40S1 e W50S1; já no ensaio 2, decorrido entre 21 de
janeiro e 08 de fevereiro de 2021, manteve-se o provete W35S1 e substituiu-se os outros
dois pelos provetes do solo S2, denominados W35S2 e W40S2. Os protótipos já
posicionados, durante os dois ensaios, são ilustrados na Figura 42.
61
Figura 42. Protótipos de paredes posicionados: (a) Durante o ensaio 1; (b) Durante o
ensaio 2
62
Figura 43. Provetes e isolante XPS posicionados nos vãos e selados com espuma
expansiva de poliuretano
Figura 44. Posição dos sensores de fluxo de calor e de temperatura superficial: (a) ts1,1;
(b) HF1; (c) ts1,2; (d) ts2,1; (e) HF2; (f) ts2,2
63
fixar os sensores após algumas tentativas. Já para as paredes do material S2, utilizadas no
ensaio 2, foi preciso recorrer ao uso conjunto de cola térmica e fita cola fixada nas
superfícies com pregos.
Figura 45. (a) Sonda de temperatura; (b) Sonda de umidade; (c) Datalogger
Fonte: (Magalhães, 2017)
4.3.2 Termografia
64
Figura 46. Flir BT Series T365
Fonte: (Flir Thailand, acesso em 2021)
O teor em água dos provetes de taipa foi avaliado através de um medidor de umidade
portátil HF Sensor MOIST 250 B. O equipamento possui dois sensores com capacidade
de medição a diferentes profundidades: o sensor PM efetua medições até 30 cm de
profundidade, enquanto que o R1M mede entre 1 e 3 cm. O teor em água de cada provete
foi avaliado no último dia de execução de cada período de ensaio, através do registro do
índice de umidade (MI) fornecido pelo equipamento e através da curva de calibração do
teor em água de arenitos (SS) configurada no equipamento.
Uma vez que o equipamento não tem uma curva de calibração específica para taipa,
selecionou-se a curva do arenito por se julgar ser o material mais semelhante, dentro dos
disponíveis. Além disso, os valores do índice de umidade foram utilizados para calcular
65
o teor em água (Wcalc) baseado em curvas de calibração obtidas em anterior investigação
de paredes de taipa. A medição é ilustrada na Figura 47.
∑𝑛𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑞(𝑛)
𝑈 (𝑛𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙) = ∑𝑛𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙𝑛=1 (5)
𝑛=1 (𝑇𝑖(𝑛)−𝑇𝑒(𝑛))
Onde:
𝑞(𝑛) = fluxo de calor através da amostra de parede no momento n;
𝑇𝑖(𝑛) = temperatura interior no momento n;
𝑇𝑒(𝑛) = temperatura externa no momento n;
𝑛𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = número total de momentos em que os dados foram coletados.
Considerando que foram utilizados dois medidores de fluxo de calor, HF1 e HF2,
para cada um das amostras que permitiram medir 𝑞1(𝑛) e 𝑞2(𝑛), pôde-se estimar dois
coeficientes de transmissão térmica, 𝑈1(𝑛𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙) e 𝑈2(𝑛𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙). Portanto, a determinação
do coeficiente de transmissão térmica final do provete, 𝑈′(𝑛𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙), é realizada através da
média aritmética dos coeficientes anteriores, conforme a Equação 6.
𝑈1(𝑛𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙)+𝑈2(𝑛𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙)
𝑈′(𝑛𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙) = 2
(6)
66
Em seguida, utilizou-se do valor obtido para o coeficiente de transmissão térmica
no cálculo de determinação da resistência térmica (𝑅) da solução construtiva, através da
Equação 7.
1
𝑅=𝑈 (7)
Por fim, por meio da Equação 8, é possível estimar a condutibilidade térmica (λ) do
material. Que leva em consideração a espessura (𝑒) e a resistência térmica obtida (𝑅),
bem como a superficial interior (𝑅𝑠𝑖 ) e a superficial externa (𝑅𝑠𝑒 ) (DRE, 2015a).
𝑒
𝜆= (8)
𝑅−(𝑅𝑠𝑖 + 𝑅𝑠𝑒 )
A ISO determina que o ensaio deve ser realizado por, no mínimo, 3 dias, a partir do
momento de estabilização da temperatura nos medidores de fluxo de calor. Caso o
anterior não ocorra no sistema, deve-se efetuar as medições por um período superior a 7
dias, analisando o caso de acordo com a inércia térmica do material (ISO, 2014). Nesse
estudo, dada a inércia que caracteriza as amostras e para garantir maior confiabilidade
nos resultados obtidos, optou-se por realizar cada ensaio por um período de 14 dias, desde
a montagem do sistema até a retirada final dos dados.
4.3.5 Resultados
4.3.5.1 Termografia
67
Figura 48. Termogramas obtidos ao fim do ensaio 1, na manhã do dia 20 de janeiro: (a)
Interior; (b) Exterior
68
4.3.5.2 Teor em água
A Tabela 22 traz os valores encontrados ao final dos dois períodos de ensaio para
os dois sensores utilizados e para o interior e o exterior da sala de ensaio.
Ainda, pode-se perceber que a diferença entre as umidades pelo exterior (sentido
em que ocorre o fluxo) dos provetes no ensaio 1 é significativa, principalmente
relativamente à medição com a sonda PM. Uma vez que a umidade do provete W40S1 é
de 80% superior à de W35S1, essa diferença pode interferir no valor do coeficiente de
transmissão térmica.
Com relação ao ensaio 2, nota-se que a umidade de W35S1 pode ser considerada
constante quando comparada ao ensaio 1 (considerando a precisão do equipamento
utilizado). Entretanto, os provetes do solo S2 possuem umidade entre 60% e 130%
superior à do provete W35S1. Esse grau de umidade pode estar relacionado ao fato de o
solo S2 possuir umidade ótima superior ao S1. Dessa forma, seria necessário um tempo
69
de secagem maior para que todos os provetes possuíssem igual grau de saturação no
momento do ensaio.
45
35
25
TEMPERATURA (ºC)
15
-5
6/jan 7/jan 8/jan 9/jan 10/jan 11/jan 12/jan 13/jan 14/jan 15/jan 16/jan 17/jan 18/jan 19/jan 20/jan
TI TE
70
40
25
TEMPERATURA (C )
10
-5
22/jan 23/jan 24/jan 25/jan 26/jan 27/jan 28/jan 29/jan 30/jan 31/jan 1/fev 2/fev 3/fev 4/fev 5/fev
TI TE
A partir dos dados mostrados acima, é possível perceber que a temperatura interior
da sala manteve-se constante durante os dois períodos de ensaio. No ensaio 1, a
temperatura média foi de 37,0 ºC, enquanto que no ensaio 2 essa média foi de 34,6 ºC.
No exterior, por outro lado, a temperatura variou bastante, com valores máximos e
mínimos, respectivamente, de 12,3 ºC e -2,3 ºC durante o ensaio 1 e 17,8 ºC e 2,0 ºC no
ensaio 2. A Tabela 23 apresenta os valores mínimos, máximos e médios durante os
ensaios.
71
4.3.5.4 Temperaturas Superficiais (Tsi)
Com o uso dos quatro sensores de temperatura superficial, foi possível aferir a
evolução das temperaturas nas superfícies de cada um dos provetes durante todo o ensaio.
Essas informações servem para perceber o comportamento e inércia térmica dos provetes.
De modo a compreender melhor o gráfico, os valores de temperatura superficial dos
quatro sensores, para cada amostra, foram convertidos em um único valor de temperatura
superficial média. A Figura 52 ilustra as temperaturas superficiais médias dos provetes
W35S1, W40S1 e W50S1, durante o ensaio 1. A Tabela 24, na sequência, mostra os
diferenciais médios entre a temperatura superficial de cada amostra e a temperatura
interior da sala de ensaio.
40
35
TEMPERATURA (Cº)
30
25
6/jan 8/jan 10/jan 12/jan 14/jan 16/jan 18/jan 20/jan
TI Tsi W35S1 Tsi W40S1 Tsi W50S1
72
as amostras. As superfícies dos provetes apresentaram temperaturas entre 30 e 35 ºC na
maior parte do tempo, com diferenciais médios entre a temperatura interior e as
temperaturas superficiais entre 3,32 e 3,83. Ao comparar esses valores de temperatura
superficial com os a temperatura exterior durante o ensaio, que teve valor máximo de
12,3ºC, conforme a Figura 50, pode-se comprovar que a transferência de calor durante o
ensaio foi realizada do interior para o exterior da sala de ensaio. Ainda que as
temperaturas das três amostras sejam bastante próximas, nota-se que o provete W35S1
apresenta temperatura média levemente superior aos demais (média de 33,68 ºC),
enquanto a W40S1 possui uma temperatura intermediária, 33,21 ºC, e a W50S1 apresenta
a menor das três temperaturas médias, 33,17 ºC.
Além disso, foi possível perceber, através da análise das curvas, o atraso térmico
referente a cada provete. As temperaturas superficiais dos provetes W40S1 e W50S1
ficam muito próximas durante todo o ensaio, tendo o mesmo desfasamento, de 1 hora,
com relação à temperatura interior. Já o provete W35S1 não apresentou desfasamento
perceptível pela análise da curva.
35
TEMPERATURA (Cº)
30
25
22/jan 24/jan 26/jan 28/jan 30/jan 1/fev 3/fev 5/fev
TI Tsi W35S1 Tsi W40S1 Tsi W35S2
73
Tabela 25 – Diferencial médio entre Tsi e Ti no ensaio 2
Provete Diferencial médio
W35S1 2.79
W40S2 4.73
W35S2 5.48
Fonte: (A Autora, 2021)
Por fim, ainda que esses dados também tenham sido obtidos pelos termogramas
apresentados em 4.3.2, os dados correspondem a momentos diferentes do mesmo dia,
para ambos os ensaios. Portanto, a comparação desses dados não foi realizada.
A análise dos fluxos de calor nos provetes ensaiados é crucial para a compreensão
do funcionamento da transferência de calor ao longo do ensaio, bem como para a obtenção
do coeficiente de transmissão térmica dos provetes. Esses valores foram registrados a
partir dos sensores de fluxo de calor posicionados nas superfícies das amostras e dos
valores das temperaturas interior e exterior medidas através dos termohigrômetros,
74
conforme ilustrado anteriormente, em 4.3.2. De modo a melhor compreender a evolução
dos fluxos de calor de cada provete, calculou-se o fluxo de calor médio para cada provete.
A seguir, os fluxos de calor médios relativos ao ensaio 1 estão explicitados na Figura 54.
45 150
TEMPERATURA (ºC)
135
30
120
15
105
0 90
75
60
-30
45
-45
30
-60 15
6/jan 7/jan 8/jan 9/jan 10/jan 11/jan 12/jan 13/jan 14/jan 15/jan 16/jan 17/jan 18/jan 19/jan 20/jan
Por meio da Figura 54 é possível observar que o provete com o menor fluxo de
calor é o W50S1, como era esperado, por conta de sua espessura ser maior. Os outros dois
provetes apresentam fluxos com evolução semelhante e valor médio próximo. No entanto,
o fluxo de W35S1 se mostrou levemente inferior ao de W40S1, o que não era esperado,
já que a segunda parede tinha espessura 5 cm superior à primeira. Os valores médios para
W35S1, W40S1 e W50S1, respectivamente, são de 58,6 W/m², 61,1 W/m² e 40,7 W/m².
O valor médio do fluxo de calor de W40S1 pode ter sido influenciado por algumas
variáveis. O primeiro motivo é que o sensor do fluxo de calor pode ter sido fixado em
uma zona com granulometria diferente, entrando em contato com seixos. Entretanto, uma
vez que os dois sensores posicionados nesse provete apresentaram resultados
semelhantes, essa causa é considerada menos provável, ainda que possível (as zonas nas
quais os dois termofluxímetros teriam que possuir seixos). Outro motivo que pode ter
influenciado nesses resultados é a umidade dos provetes. Conforme 4.3.3, esse provete
apresenta umidade superior aos demais constituintes desse estudo, o que valida essa
possibilidade. Levando em consideração que o provete W40S1 foi o último dentre os três
75
a ser executado, o período de tempo inferior em que ele foi submetido à secagem foi
determinante para os resultados obtidos.
45 150
TEMPERATURA (ºC)
135
30
120
15
105
0 90
-15 75
-45
30
-60 15
22/jan 23/jan 24/jan 25/jan 26/jan 27/jan 28/jan 29/jan 30/jan 31/jan 1/fev 2/fev 3/fev 4/fev 5/fev
TI TE Q W35S1 Q W40S2 Q W35S2
76
ensaio. Também foi possível perceber que o provete W35S2 apresenta variações na curva
com 1 hora de antecedência, comparado a W35S1 e W40S1. Uma vez que o solo S1
apresenta maior baridade, é esperado que este apresente maior atraso térmico do que S2
para uma mesma espessura de parede.
3.20
3.00
2.80
2.60
2.40
2.20
U (W/M²ºC)
2.00
1.80
1.60
1.40
1.20
1.00
11-jan 12-jan 13-jan 14-jan 15-jan 16-jan 17-jan 18-jan 19-jan 20-jan
U W35S1 UW40S1 U50S1
77
ocorreu, visto que o valor médio de W40S1 é de 1,72 W/m² ºC. Ainda, o provete W35S1
apresentou valor próximo de W40S1, mas inferior: 1,65 W/m² ºC.
A análise dos resultados do ensaio 2 foi realizada a partir da Figura 57, a seguir.
3.20
3.00
2.80
2.60
2.40
2.20
U (W/M²ºC)
2.00
1.80
1.60
1.40
1.20
1.00
27-jan 28-jan 29-jan 30-jan 31-jan 1-fev 2-fev 3-fev 4-fev 5-fev
U W35S1 U W40S2 U W35S2
78
2,43 W/m² ºC. O provete de solo S2 e espessura de 40 cm apresentou um resultado
intermediário: de 1,96 W/m² ºC.
Para o ensaio 2, no entanto, o provete com menor valor de U e maior R foi o W35S1.
Sua resistência térmica é de 0,65 W/m² ºC, número 20% maior do que a resistência de
W40S2 e 35% superior à de W35S2. Entretanto, ao observar as baridades obtidas no
ensaio Proctor, em 3.7, nota-se que o solo S1 possui maior baridade (2,05 g/cm³) se
comparado ao solo S2 (1,85 g/cm³). Por conta disso, esperava-se que, durante o ensaio 2,
W35S1 apresentasse maior U se comparado ao outro provete de mesma espessura,
79
W35S2. Mais uma vez, essa diferença entre os resultados esperados e obtidos no ensaio
de coeficiente de transmissão térmica pode ser justificada pelo maior teor de umidade
existente nos provetes de solo S2 quando comparados ao de solo S1. Uma vez que se
optou por manter o provete W35S1 nos dois ensaios, deve-se considerar que, durante o
ensaio 2, este já esteve submetido a temperaturas elevadas durante o tempo de medição
do ensaio 1, o que contribuiu para sua secagem. Esse fato potencializou a diferença de
umidade entre os provetes do ensaio 2.
O coeficiente de condutibilidade térmica (λ) dos solos foi obtida através dos
procedimentos presentes na norma EN12667 (European Committee For Standardization,
2001), através do método de placas quentes. Para tal, utilizou-se três provetes prismáticos
(40 x 150 x 150 mm) de cada um dos solos, denominados conforme 4.2. Os provetes
foram confeccionados 20 dias antes do ensaio conforme o procedimento de 4.2. Além dos
seis provetes de terra ensaiou-se também um provete de XPS, nas mesmas dimensões,
para possibilitar a validação do método através da comparação com valores apresentados
no ITE 50 (Santos and Matias, 2006).
80
mm) e espessura nominal de 40 mm, a qual é aferida com maior previsão pelo próprio
equipamento. O provete posicionado corretamente para o ensaio é ilustrado na Figura 58.
81
Figura 59. Ensaio de condutibilidade térmica. (a) Equipamento Thermal Conductivity
Test Tool λ-Meter EP500; (b) Configuração dos parâmetros de ensaio.
Uma vez que o ensaio foi repetido três vezes em cada temperatura para cada solo,
realizou-se o cálculo das médias aritméticas e do desvio padrão dos resultados obtidos.
Esses valores estão compilados na Tabela 27.
82
possível notar que o solo S2 apresenta condutibilidade térmica inferior ao de S1. A
comparação dos resultados para as diferentes temperaturas está exposta na Figura 60.
550,00 550,00
500,00 500,00
450,00 450,00
λ [mW/mK]
λ [mW/mK]
400,00 400,00
350,00 350,00
300,00 300,00
0 200 400 0 200 400
Tempo [min] Tempo [min]
10 ºC 25 ºC 40 ºC 10 ºC 25 ºC 40 ºC
83
Uma vez que o XPS foi ensaiado de modo a validar a metodologia utilizada e
verificar a calibração do equipamento diante ao previsto no regulamento português,
pode-se concluir que os dois solos, S1 e S2, apresentam condutibilidade térmica inferior
ao proposto pelo ITE 50 (2006) para taipa. Além disso, é possível perceber que, também
de acordo com o documento, os solos utilizados podem ser considerados menos
condutores se comparados a diversos materiais, como o estuque de baridade semelhante
(800 mW/mºC), argamassas e rebocos não tradicionais de baridade semelhante
(1.000 mW/mºC) e o betão convencional (1.650 mW/mºC).
84
Figura 61. Tubos Karsten fixados
𝑥 × 10−3
𝐶𝑎𝑏𝑠 = 𝜋 (9)
𝑑2 ×( ×10−6 ×√𝑡)
4
Onde:
Os resultados de água absorvida (em ml) nos dois provetes estão explicitados na
Tabela 28, a seguir.
Através da tabela, percebe-se que o solo S2 absorveu mais que o dobro de água do
S1 nos primeiros 5 minutos. Para os intervalos subsequentes, o primeiro solo apresentou
85
um acréscimo de 0,3 ml a cada 5 minutos. Já o segundo solo apresentou um acréscimo de
cerca de 0,9 ml a cada 5 minutos. Ao fim do ensaio, o S2 acumulou quase o triplo de água
absorvida quando comparado ao S1. Já os coeficientes de absorção obtidos são
apresentados em sequência, na Tabela 29.
12
Coeficiente de absorção (kg/m²√h)
10
0
5 10 15
Tempo (min) S2 S1
86
resultados muito satisfatórios. O fato de Dias (2013) ter encontrado resultados diferentes
pode estar relacionado a alguns fatores: escolha de solo pior para a construção em taipa,
má compactação do solo, má vedação dos tubos no ensaio ou erosão camada superficial
da mureta (construída exposta ao tempo). A erosão da camada superficial proporciona o
aumento de vazios na taipa, o que proporciona mais rápida absorção da água.
87
Tabela 31 – Valores de λ
λ (W/m °C) λ (W/m °C)
Ensaio Provete
Placas quentes Determinação de U
Além disso, é esperado que materiais com maior baridade apresentem maior
coeficiente de transmissão térmica, maior condutibilidade térmica e menor resistência
térmica. Considerando as baridades obtidas no ensaio Proctor, esperava-se que os valores
de U para os provetes de S1 fossem maiores aos de S2, o que não se verificou. No entanto,
ao observar os valores de λ obtidos pelos dois métodos, apresentados acima, percebe-se
que os valores determinados através do método de placas quentes corroboram com o
esperado.
88
O ITE 50 (2006) considera 1,10 W/mºC para o valor da condutibilidade térmica
da taipa. Já Pereira (2003) encontro 1,08 W/mºC para a taipa feita de solo do tipo areia
argilosa com cascalho. Dessa forma, percebe-se que todos os λ obtidos na presente
investigação são de ordem de grandeza semelhante aos registrados anteriormente na
bibliografia. Soudani et al. (2016) refere que a condutibilidade térmica não pode ser
considerada propriedade fixa de um solo, mas sim uma propriedade de um solo a uma
determinada umidade. Portanto, é ainda mais provável que os valores obtidos pelos
diferentes métodos sejam diferentes para os mesmos provetes simplesmente por
influência do teor de umidade, não havendo erros experimentais envolvidos.
Outro ponto que vale ser analisado é a validade da solução construtiva taipa dentro
do Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios de Habitação. Desde 2015, o
valor de U máximo para as paredes em uma zona de Inverno III é de 0,35 (DRE, 2015b),
conforme a Tabela 32.
89
Através da análise dos coeficientes de transmissão térmica, apresentados
anteriormente, percebe-se que a utilização da parede de taipa sem nenhum tipo de
acabamento ou isolamento não é suficiente para satisfazer o requisito em qualquer das
situações.
Solução Espessura
Argamassa
Adesivo A 50 0.5 cm
colante
Isolamento /
Aglomerado de cortiça expandida
Revestimento 8 cm
MDFachada
exterior
Fonte: (A Autora, 2021)
90
As espessuras de parede em construções em taipa variam, tipicamente, entre 30 e
120 cm (Augusta et al., 2007). Dessa forma, optou-se por analisar, na solução proposta,
o caso menos favorável dentre os abordados no procedimento experimental: a parede com
espessura de 35 cm. Além disso, de modo a comparar os resultados das soluções, o
cenário utilizando a parede de espessura de 40 cm também será analisado. Para o cálculo
do U das soluções, foram considerados quatro cenários para cada uma das espessuras: λ
do ensaio de determinação experimental da condutibilidade térmica e λ do ensaio de
determinação experimental do coeficiente de transmissão térmica para os provetes dos
solos S1 e S2. Além desses valores, também foi necessário considerar o valor da
condutibilidade térmica para Rse e Rsi. Foram utilizados os valores de referência do
ITE 50 (2006): 0,04 para Rse e 0,13 para Rsi. Para o λ referente ao aglomerado de cortiça
expandida, utilizou-se o valor de 0,045 W/m ºC, conforme o regulamento e o fabricante
(Amorim Cork Insulation, 2002; Santos and Matias, 2006). A Tabela 34 a seguir mostra
os valores obtidos para a solução proposta com parede de 35 cm de espessura.
91
umidade em função do tempo. A Tabela 35 ilustra o comportamento da solução proposta
com parede de 40 cm de espessura.
92
CAPÍTULO 5
93
Os dois solos estudados possibilitaram a análise da influência da escolha do solo no
comportamento térmico de uma parede de taipa. Com a seleção e caracterização física do
solo, buscou-se analisar dois solos distintos que se encaixassem no que permite a
literatura: um deles dentro dos limites recomendados e outro dentro dos limites
permitidos. As granulometrias encontradas são diferentes, ainda que ambos os solos
sejam classificados como cascalho argiloso com areia, o solo S1 apresenta maior
quantidade de partículas grossas, enquanto que o solo S2 possui mais finos. Além disso,
os limites de consistência se mostraram diferentes: o solo S2 é mais plástico que o solo
S1. Por fim, a compactação Proctor foi onde os solos apresentaram mais diferenças, visto
que S2 possui umidade ótima quase 70% superior e baridade máxima seca 11% inferior
a S1.
94
Além disso, vale ressaltar que a taipa apresenta diversas qualidades, que não são
expressas diretamente nos parâmetros utilizados no cálculo térmico, não reconhecidas
pelo REH (2015). A alta inércia térmica resultante das paredes espessas e pesadas, que
confere maior conforto térmico e menor necessidade de aquecimento e arrefecimento do
ambiente, não é considerada no cálculo. Também, as propriedades de higrométricas da
terra, que regulam a umidade do ambiente de modo a conferir maior conforto térmico aos
usuários, não são consideradas. Por fim, o fato de a terra ser um material de construção
natural, não industrializado, totalmente reutilizável e sem emissão de carbono diretamente
relacionado ao processo construtivo não é contabilizado no regulamento, uma vez que
métodos convencionais, industrializadas e poluentes (e.g. betão) possuem os mesmos
parâmetros de avaliação do que uma construção verde.
Ainda, vale destacar que alguns dos provetes utilizados no ensaio de U apresentaram
umidade bastante superior a outros em seu interior. Uma vez que os provetes utilizados
em todos os ensaios foram executados da mesma forma, resta concluir que o período
dedicado à secagem desses protótipos de parede não foi suficiente para a evaporação da
umidade de seu interior. Como os provetes dos demais ensaios são menos espessos (5 e
15 cm), o tempo de secagem foi suficiente para que esses ensaios fossem realizados com
provetes mais secos. Já os protótipos de parede, com espessuras entre 35 e 50 cm,
deveriam ter sido submetidos a maior período de cura, de modo que o ensaio do
coeficiente de transmissão térmica fosse realizado, da mesma forma, com umidade igual
em todos os casos. É estimado que, para a secagem total de uma parede real de terra, esta
deve ser submetida a um período de cura de seis meses (Augusta et al., 2007).
95
O momento em que essa investigação foi realizada, durante a pandemia do
Coronavírus, acabou por restringir o tempo disponível para a secagem dos provetes, visto
que foi necessário aguardar a reabertura dos laboratórios após confinamento para a
execução do programa experimental. Além disso, o ensaio do coeficiente de transmissão
térmica deve ser realizado durante o período do inverno, de modo a não prejudicar o
controle da temperatura da sala de ensaio e nem a direção do fluxo de calor durante o
ensaio.
96
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