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Tipo de trabalho: Trabalho completo

A APLICABILIDADE DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO


TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA1
Taila Bertolla2, Jéssica Limberger3
1
Relato de experiência referente ao estágio em Psicologia Clinica
2
Psicóloga e atendente terapêutica em Análise do Comportamento Aplicada
3
Psicóloga Clínica, professora universitária e Doutora em Psicologia

A aplicabilidade da Terapia Cognitivo-Comportamental no Transtorno do Espectro Autista: um


relato de experiência

Taila Bertolla
Jéssica Limberger

Resumo
A prática de estágios na psicologia requer alinhamento com as demandas da sociedade. Nesse
sentido, as especificidades de crianças com Transtorno do Espectro Autista exigem práticas
baseadas em evidências. Com isso, objetiva-se relatar a experiência da estagiária de psicologia no
atendimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista. Trata-se de um relato de experiência
de estágio clínico na abordagem cognitivo-comportamental em uma organização filantrópica sem
fins lucrativos que presta atendimento a pessoas com transtorno do espectro autista (TEA). Como
resultados, estratégias como: psicoeducação, identificação das emoções, respiração diafragmática,
narrativa ABC, economia de fichas, treino de espera e role-play mostraram-se aplicabilidade no
tratamento. Compreende-se que é necessário atentar para as especificidades das crianças e do
TEA, envolvendo os familiares no tratamento.
Palavras-chave: transtorno, autismo, cognitivo-comportamental.

Introdução
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5) o transtorno
do espectro autista (TEA) é classificado como um transtorno do neurodesenvolvimento (APA,2014).
A classificação mais recente do transtorno agrupa a sintomatologia do autismo em dois critérios
diagnósticos, critério (A) e Critério (B). No critério diagnóstico (A) há déficits persistentes na
comunicação e na interação social. Já no critério (B) padrões de comportamento repetitivo e
estereotipado (APA, 2014).
Para classificar a gravidade do transtorno o (DSM-5) apresenta especificadores de gravidade, os
níveis apresentados variam de acordo com cada indivíduo, são eles: nível - 1, “exigindo apoio”,
nível - 2 “exigindo apoio substancial e por fim o nível -3 que exige muito apoio substancial (APA,

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2014). Por volta dos 12 aos 24 meses o transtorno é comumente percebido pelos familiares, porém
os sintomas são perceptíveis antes mesmo desse período onde destacam-se atrasos precoces
do desenvolvimento como perdas de habilidades sociais e linguísticas, sendo um dos primeiros
sintomas do autismo o atraso para desenvolver a linguagem, além da falta de interesse social e
interações sociais atípicas (APA, 2014).
Os fatores de risco para o desenvolvimento do Transtorno do espectro autista envolvem causas
genéticas, hereditárias e ambientais. No que tange aos fatores genéticos e hereditários há uma
variabilidade de 37 a 90 %, com relação aos fatores ambientais há causas pouco identificadas,
alguns deles são a idade paterna avançada e baixo peso no nascimento (APA, 2014).
Com relação a prevalência do transtorno do espectro autista os estudos divulgados recentemente
no relatório do Centro de Controle de Doenças e Prevenção do Governo dos EUA (CDC) discorrem
que a prevalência é de um autista para 54 crianças, sendo que o diagnóstico de crianças do sexo
masculino é quatro vezes maior do que o diagnóstico de crianças do sexo feminino (CDC, 2020).
Devido a esse novo relatório surgiram inúmeras discussões a respeito do aumento do número de
casos, a Organização Pan-Americana da saúde (OPAS/BRASIL) dialoga que o aumento aparente
nos últimos anos possivelmente se dá por conta do aprimoramento profissional, ferramentas mais
qualificadas para diagnóstico além de ter ocorrido uma maior conscientização a respeito do tema
autismo (OPAS, 2017).
O Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5) ainda ressalta que em média
70% das pessoas diagnosticadas com autismo apresentam outro transtorno comórbido, já 40%
de pessoas com autismo podem apresentar dois ou mais transtornos, nesse caso ambos os
diagnósticos devem ser dados (APA, 2014). Entre as comorbidades do Transtorno do Espectro
Autista estão o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtornos de
ansiedade, de coordenação motora, Transtorno de oposição desafiante, além de outros.
Após o diagnóstico de autismo (TEA) ou antes mesmo deste é imprescindível que o tratamento
seja pautado em evidência científica (PORTOLESE, BOLDINI et. al. (2017). Ao mapear 650
intuições brasileiras que prestam atendimento a pessoas com autismo (TEA) situadas em sua
maioria no Sul e Sudeste, Portolese, Boldini et. al (2017) apuraram quais abordagens teóricas
são utilizadas nessas intuições. As intuições públicas que prestam serviço para pessoas autistas
em sua grande maioria são associações de Pais e amigos dos excepcionais (APAE), Centros de
atenção psicossocial infanto-juvenil (CAPSI) e associações não governamentais. Das abordagens
teóricas utilizadas nesses espaços foi relatado um atendimento multiprofissional, contando com
fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicoterapeutas, também foi relatado intervenções
com o Método (TEACCH) - Tratamento e educação de crianças autistas e com deficiência de
comunicação relacionada, atendimento com grupos de pacientes e grupos de pais com
psicoeducação. O estudo ainda mostrou que 8, 8% das intuições mapeadas fazem intervenções
baseadas na Análise do Comportamento Aplicada (ABA) além de terapia medicamentosa e
oficinas. Desse modo, o estudo demonstrou que os atendimentos mais frequentes possuem um

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foco multiprofissional e utilizam em sua maioria o método (TEACCH) - Tratamento e educação


de crianças autistas e com deficiência de comunicação relacionada seguido de Psicoeducação e
Análise do Comportamento Aplicada (ABA) (PORTOLESE, BOLDINI ET AL, 2017).
Conforme aponta Steinbrenner, Odom et. al. (2020), na medida que aumentou a prevalência
do autismo também aumentou a busca por serviços efetivos onde a ciência por sua vez tem
apresentado quais práticas mostram-se mais efetivas. O Relatório mais recente até o momento
agrupou 28 práticas baseadas em evidência para crianças, adolescentes e jovens adultos com
autismo. Não descreve abordagens, mas sim práticas terapêuticas que são baseadas em evidência
científica. As práticas atualmente baseadas em evidência científica são:

Intervenções baseadas no antecedente (ABI), Comunicação alternativa e aumentativa (AAC),


Momentum Comportamental (BMI), Comportamento cognitivo/ Estratégias instrucionais (CBIS),
Reforço diferencial de comportamento alternativo, incompatível ou outro (DR), Instrução Direta
(DI), Treino em Tentativa Discreta (DTT), Exercício e Movimento (EXM), Extinção (EXT), Avaliação
Funcional de Comportamento (FBA), Treino de Comunicação Funcional (FCT), Modelação (MD),
Intervenção mediada por música, Intervenções naturalísticas (NI), Intervenção Implementada pelos
pais (PII), Instrução e intervenção baseada em pares (PBII), Dicas (PP), Reforçamento (R),
Interrupção da resposta/ redirecionamento (RIR), Auto monitoramento (SM), Integração sensorial
(SI), Narrativas Sociais (SN), Treino de Habilidades Sociais (SST), Análise de Tarefas (TA),
Instruções e intervenções assistida por tecnologia (TAII), Atraso de Tempo (TD), Vídeo Modelação
(VM) e Suportes Visuais (VS) (STEINBRENNER, ODOM ET. AL pg. 28/29, 2020).

Desse modo é possível identificar que existem várias práticas baseadas em evidência científica.
Tais práticas devem ser utilizadas pelos profissionais observando a efetividade para cada caso
visando o desenvolvimento e qualidade de vida das pessoas com autismo (TEA) seguindo sempre
os tratamentos recomendados pela ciência (MESQUITA E PEGORARO, 2013).
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) se trata de uma abordagem baseada em evidência
cientifica (CONSOLINI; LOPES, 2019). Com relação ao Transtorno do Espectro Autista a (TCC)
tem demonstrado eficácia, como aponta o estudo publicado por Consolini, Lopes et. al (2019), onde
os resultados demonstraram que a Terapia Cognitivo-comportamental (TCC) apresenta resultados
efetivos no Transtorno do Espectro Autista (TEA). O estudo demonstra que cerca de 60% das
intervenções são realizadas em grupo e 30% são realizadas individualmente. Consolini, Lopes et.
Al (2019) também levantaram dados significativos sobre as técnicas e conceitos utilizados nas
intervenções com autismo nessa abordagem, os resultados demonstraram em sua maioria o uso
da psicoeducação, exposição e resposta, técnicas de autorregulação emocional, reestruturação
cognitiva e por fim o treinamento de habilidades sociais. Outras técnicas também apareceram
porém com menor frequência sendo as estratégias cognitivas, auto monitoramento, Registro de
pensamentos disfuncionais (RPD), questionamento socrático, role play, resolução de problemas,
reforço comportamental, ativação comportamental e técnicas de relaxamento (CONSOLINI,

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LOPES ET. AL. 2019).


Consolini, Lopes et. al. (2019) apontam que em alguns momentos a (TCC) possivelmente possa
ser adaptada no atendimento a crianças com autismo (TEA), as adaptações mais recorrentes
encontradas no estudo dos autores são: a utilização de materiais visuais, incorporações das
preferências do paciente, uso de materiais escritos, cartazes, quadros, planilhas, modelagem
por meio de vídeo, uso de linguagem concreta e uso de recompensas. Com uma porcentagem
mais baixa também apareceram adaptações que envolvam motivações concretas, estimulação
sensorial, uso de computadores e temporizadores, além de outros.
Considerando que a TCC apresenta viabilidade no tratamento do TEA, há necessidade de
descrever intervenções realizadas com crianças em tal contexto. Desta forma, objetiva-se relatar
a experiência da estagiária de psicologia no atendimento de crianças com Transtorno do Espectro
Autista em grau leve.

Método
Trata-se de um relato de experiência. Os atendimentos clínicos foram realizados por uma estagiária
do curso de psicologia na ênfase processos clínicos, utilizando-se da abordagem cognitivo -
comportamental. O local dos atendimentos foi uma organização filantrópica sem fins lucrativos que
presta atendimentos às pessoas com Transtorno do espectro Autista, localizada no Norte do Rio
Grande do Sul.

Resultados e Discussão
Após o recebimento do caso, leitura e entendimento do prontuário é realizado o agendado com os
familiares para a primeira sessão, na qual foi utilizada a entrevista de anamnese para coleta de
informações e maior compreensão do caso. A entrevista de anamnese realizada nessa intervenção
é baseada na (IAPEC-TCC) que contém os pontos a serem abordados em uma entrevista inicial
na psicoterapia cognitivo-comportamental (TCC). Nesse momento, é realizado um rapport,
apresentação da estagiária, explicação do atendimento inicial, perguntas sociodemográficas,
levantamento de informações sobre o que levaram os familiares a buscarem ajuda para o filho,
perguntas que caracterizavam o problema (como? Quando? desde quando, etc..), exemplos de
situações da última vez que ocorreram os comportamentos-alvos, perguntas sobre que situações
que antecedem o comportamento- alvo e o que ocorre após a resposta, perguntas sobre o
desenvolvimento do paciente na escola, práticas de lazer e práticas que não trazem prazer ao
paciente, percepção dos primeiros sintomas, encaminhamentos realizados, consultas, terapias nas
quais frequentou, medicamentos, expectativas dos pais para a psicoterapia, explicação sobre a
terapia cognitivo-comportamental, e explicação sobre a participação da família nessa abordagem.
Por fim, são realizadas combinações a respeito do contrato terapêutico, tratando dos dias de
atendimento, questões de faltas, questões sobre o sigilo e caso de quebra do mesmo (quando

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ocorre o riso a si ou aos demais), explicação sobre as tarefas de casa, valorização dos pais no
processo terapêutico do filho e agradecimento da oportunidade de atendê-los (MURTA E ROCHA,
2014).
Na terapia cognitivo-comportamental as entrevistas iniciais e nesse caso com os familiares são
utilizadas com o objetivo de conceitualizar o caso, ou seja, levantar hipóteses de um plano de
trabalho com base em avaliações bem realizadas (MURTA E ROCHA, 2014). Murta e Rocha (2014)
ressaltam que esse período inicial dos atendimentos tem o objetivo de verificar os sintomas do
(a) paciente, explorar a história de vida e os pontos atuais mais significativos, além da história de
saúde da família, pensamentos automáticos, emoções e comportamentos.
Após o atendimento inicial com os pais, é chegada a vez dos atendimentos individuais com a
criança. Na primeira sessão com a criança, utiliza-se a psicoeducação com relação ao psicólogo e a
abordagem cognitivo - comportamental. São abordados seguintes temas (o que faz um psicólogo?
Por que ir ao psicólogo? O que é a TCC?) As explicações são efetuadas de modo simples
para melhor entendimento da criança, utilizando de exemplos simples do cotidiano. Oliveira
e Dias (2018) referem que a psicoeducação se trata de uma estratégia da terapia cognitivo-
comportamental que tem por objetivo informar o paciente acerca do seu transtorno, além disso
busca esclarecer possíveis dúvidas ampliando o conhecimento do (a) paciente e dos familiares.
Seguindo com as técnicas utilizadas nas sessões o próximo passo dado trata-se dos cartões das
emoções, especificamente aqueles que contemplam as emoções primárias (alegria, medo, tristeza,
raiva e nojo). Além de jogo da memória das emoções, monstrinho da raiva, histórias com conteúdo
emocional nas cenas, carretas em frente ao espelho, desenhos sobre as emoções e termômetro
das emoções. Por meio destes foi trabalhado com a identificação das emoções e com o registro
de humor. Beck (2013) salienta que os pacientes em sua maioria identificam com facilidade as
emoções, já alguns possuem mais dificuldade, porém nos dois casos é preciso fazer com que
o paciente ligue suas emoções nas determinadas denominações. A autora ainda relata que as
intensidades das emoções relatadas precisam ser medidas, pois à medida que as emoções são
classificadas e medidas o paciente pode testar a sua crença (BECK, 2013).
Conforme o transcorrer das sessões, identifica-se a necessidade de novas sessões com os pais,
com o objetivo de levantar os comportamentos apresentados além da frequência, ocorrência de
novos comportamentos e comportamentos problema. Além disso, o uso de um checklist das
preferências do filho nomeado “do que o meu filho gosta” contribuiu para a família identificar
possíveis reforçadores da criança. Na sessão com a criança, também são identificadas algumas
preferências como: personagens favoritos, jogos, brincadeiras, exercícios, objetos, entre outros. A
lista ainda contém itens que a criança possivelmente não gosta. Para compreender a identificação
de preferências é preciso se ater aos dois métodos existentes para avaliar as preferências, são
elas: observação direta e observação baseada em tentativas discretas. (SELLA e RIBEIRO, 2018).
Ao identificar os itens de preferência da criança verifica-se também na sessão quais itens são
reforçadores para a criança, a fim de serem utilizados durante as sessões. A estagiária e o paciente

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realizam a combinação logo no início da sessão, no qual a estagiária menciona que ao fazer as
atividades propostas o paciente recebe uma recompensa no final. As recompensas são escolhidas
por meio das preferências identificadas anteriormente, como um jogo, um desenho de personagens
favorito, uma atividade relaxante com slime ou um brinquedo da preferência. Os reforços ofertados
foram positivos (R+). De acordo com Skinner (1974) quando o comportamento for reforçado há
maior probabilidade desse comportamento ocorrer novamente. Skinner (1974) ainda ressalta que
quando não há mais reforços sejam eles naturais ou ofertados o comportamento pode ser extinto,
deixar de existir.
Outra técnica utilizada trata-se da construção de um roteiro da sessão por meio de um cartaz, com
a escrita e figuras demonstrando o início, hora da conversa, atividade e hora de ir para casa para
que o paciente possa acompanhar e saber o que esperar da terapia. Na medida que os tópicos
são completados, o paciente pode escolher um adesivo da cartilha e cola no item concluído. Essa
técnica busca que o paciente além de saber o que esperar da terapia possa ter uma rotina a seguir
na sessão, minimizando os comportamentos de levantar e sair da sala antes do horário previsto,
por exemplo.
A respiração diafragmática é uma técnica utilizada pela terapia cognitivo - comportamental que faz
uso dos músculos abdominais para controlar a respiração trazendo uma sensação de relaxamento,
além da diminuição do ritmo cardíaco auxiliando em momentos de ansiedade, pavor e irritabilidade
(MANFRO, 2008). A respiração diafragmática também pode ser utilizada com uma proposta lúdica,
simulando o cheiro de flores e assopro de velas. Para aplicação dessa técnica pode ser utilizado
um recurso visual (imagem impressa da vela, da flor e do ar com orientação de como fazer) para
explicar a criança o processo de inspirar e expirar. Em outros momentos, a técnica pode ser
adaptada, propondo a imaginação dos itens mencionados. Tal técnica também é válida de ser
ensinada para ser feita em casa, junto dos familiares enquanto tarefa de casa.
Diante das necessidades de cada caso, uma estratégia interessante de trabalho com os pais
trata-se da Economia de fichas. Essa técnica tem por objetivo ajudar a criança a aumentar os
comportamentos adequados com a atenção dos pais voltada para os comportamentos. Implica em
um sistema de pontos e recompensas onde devem ser identificados os comportamentos desejados.
É indicado que se inicie com três os menos comportamentos selecionados e atribuir pontos para
cada comportamento. Desse modo a cada vez que a criança emitir o comportamento desejado
ela receberá fichas com esses pontos. O terapeuta e nesse caso estagiária, deve definir quantos
pontos mínimos o paciente deve juntar durante a semana e assim poder trocar por recompensadas
que já foram preestabelecidas (PUREZA, RIBEIRO, et. al. 2014).
Ainda para Ribeiro e Pureza (2014) e demais colaboradores é preciso se atentar para que
cada recompensa tenha valores diferentes, ou seja, quanto mais fichas ela juntar melhores serão
as recompensas. É importante ressaltar que as recompensas ideais são atividades de lazer
também com a família. Para melhor visualização, um cartaz é elaborado com os comportamentos –
objetivos e as possíveis recompensas. Desta forma, para cada dia da semana, após cumprimento

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da atividade o paciente recebe a figurinha do seu personagem favorito. É importante explicar


aos pais que as recompensas evoluem conforme o seguimento das regras, ou seja, iniciar com
recompensas menores e ir aumentando gradativamente.
Para trabalhar as habilidades sociais, utiliza-se o Jogo Socialize-se onde são identificadas
situações com respostas mais assertivas, além de encenações pensando em situações reais do
convívio social do paciente. Trabalhar um repertório de habilidades sociais com as crianças traz
muitos benefícios, como por exemplo o convívio agradável com outras pessoas, desenvolvimento
da comunicação e a desenvoltura nas interações e na expressividade (BELLÉ; SCHUH, 2018).
Através do jogo e das técnicas de role play utiliza-se na sessão possíveis situações do cotidiano
da criança, na qual treina-se o modo de se comunicar, como iniciar uma interação com um colega,
quais respostas são mais adaptativas, com o objetivo de generalizar tais comportamentos. Ou
seja, generalizar os comportamentos significa que o sujeito aprenda a emitir os comportamentos
apreendidos nas intervenções e replicá-los em outros ambientes como na casa e escola
(MOREIRA, DE MEDEIROS, 2018).
Para Gomes e Silveira (2016) algumas crianças com autismo apresentam dificuldade para esperar,
este comportamento pode ser ensinando e ser utilizado em contextos nos quais a espera é
necessária. O comportamento de esperar se faz necessário em diferentes situações do cotidiano,
seja para esperar um ônibus, uma brincadeira, um almoço ou uma fila (GOMES E SILVEIRA, 2016).
Para isso utiliza-se um protocolo de registro nomeado protocolo de ocorrência de respostas, sendo
escolhido um item de maior preferência da criança onde em um momento de brincadeira com o
item era necessário esperar para que cada participante manuseasse o mesmo. O tempo de espera
proposto iniciou com 30 segundos e foi aumentando progressivamente. Para ser trabalhado a
espera também foi utilizado recursos como jogos de tabuleiro em que foi necessário a espera, além
do próprio momento da sessão em que era solicitado a espera pela atividade, pela brincadeira e
pelo encerramento da sessão com objetivo de generalizar o comportamento de esperar.
Para avaliar o comportamento do paciente no decorrer das sessões, utiliza-se a observação de
narrativa ABC. As narrativas ABC têm por objetivo avaliar e descrever os comportamentos alvos
levando em consideração os eventos antecedentes o comportamento e consequência e precisam
ser definidos operacionalmente (SELLA E RIBEIRO, 2018). Os comportamentos são registrados
conforme ocorrem. Sella e Ribeiro (2018) ainda ressaltam que através da utilização desse registro é
possível coletar uma grande quantidade de informações qualitativas. Em seguida será apresentado
um exemplo

ABC-Situação 1

Antecedente

Comportamento
Consequência

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Retornar do banheiro e ouvir a voz do professor de psicomotricidade.

Deitar no chão, fazer sons,


falar que queria treinar.
-Atenção social “não”;
-Fechar a porta;
-Explicar que iria treinar no final, depois dos outros atendimentos.

Nesse registro ABC é possível verificar a situação o comportamento ou resposta e a consequência


após e emissão do comportamento. Hipotetiza-se que a função desse comportamento foi de
fuga de demanda, onde frente ao estímulo de ouvir a voz do professor de psicomotricidade o
paciente apresentou o comportamento de deitar no chão para ir até a sala onde possivelmente
faria a atividade motora e assim não continuaria no atendimento da psicoterapia. Nesse caso a
consequência foi a atenção social com o “não”, o fechamento de porta e a explicação do porque
ele não poderia ir naquele momento. Desse modo foi estipulado o seguimento de uma regra com o
objetivo de mudar as contingências do comportamento mencionado buscando a generalização do
mesmo frente a outras situações.

Considerações Finais
O objetivo proposto foi alcançado, relatando a experiência da estagiária de psicologia no
atendimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista. Identificou-se que a compreensão
das necessidades de cada criança é indispensável no decorrer do tratamento. A TCC mostrou-se
viável no tratamento do TEA, com adaptações já descritas na literatura. Tendo em vista o ambiente
de estágio como um espaço de constante aprendizagem, tal relato também visa possibilitar a
futuros estagiários possibilidades de intervenção. Sugere-se que futuros estudos contemplem o
detalhamento de estratégias cognitivo - comportamentais com os demais níveis de TEA.

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