Historias Das Sociedades IV
Historias Das Sociedades IV
Historias Das Sociedades IV
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Website: www.ucm.ac.mz
Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à Distância e o autor do presente manual,
dr. Bernardo Daniel Mapate Sitole e Sílvio Cessár , gostariam de agradecer a colaboração dos
seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:
Índice
Visão geral 1
Objectivos do curso……………………………………………………………………………….2
Quem deveria estudar este módulo…………………………………………………………. ……3
Como está estruturado este módulo……………………………………………………………….4
Ícones de actividade……………………………………………………………………………….5
Acerca dos ícones………………………………………………………………………………....5
Habilidades de estudo……………………………………………………………………………..6
Precisa de apoio?………………………………………………………………………………….7
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)……………………………………………………………...8
Avaliação………………………………………………………………………………………….8
UNIDADE I 10
Expressões culturais em moçambique durante o período colonial- a contestação cultural
1.1.1. A Literatura---------------------------------------------------------------------------------------10
1.1.2. Contextualização sobre o surgimento da literatura moçambicana-------------------------11
1.1.3. Emergência da literatura moçambicana-------------------------------------------------------12
1.1.4. Desenvolvimento do tema-----------------------------------------------------------------------12
1.1.5. Objectivos da Contestação Cultural------------------------------------------------------------15
1.2. Literatura de João Albasini------------------------------------------------------------------------15
1.3-Literatura de Rui de Noronha----------------------------------------------------------------------16
1.4-Poesia como Exemplo de Contestação-----------------------------------------------------------17
1.5-Impacto da Poesia----------------------------------------------------------------------------------18
UNIDADE II 20
Os projectos de sociedade dos movimentos de libertação em África----------------------------------20
2.1. O Projecto de Patrice Lumumba-----------------------------------------------------------------20
2.1.1-Desenvolvimento do tema---------------------------------------------------------------20
2.1.2-Surgimento Mobutu Sesse Seko----------------------------------------------------------------22
2.1.3- Assassinato de Patrice Lumumba--------------------------------------------------------------23
UNIDADE III 26
Os projectos de sociedades dos movimentos de libertação em África--------------------------------26
3.1.- O Projecto de Jomo Kenyatta-----------------------------------------------------------------26
i
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
3.1.1-Desenvolvimento do tema-------------------------------------------------------------26
UNIDADE IV 29
As Transformações sócio-culturais pós-coloniais em África-------------------------------------------29
4.1. As Sociedades africanas na Construção Das Nações em África e em Moçambique---29
4.1.1-Desenvolvimento do tema---------------------------------------------------------------------30
4.1.2-A Situação após a II Guerra Mundial--------------------------------------------------------31
4.1.3- O papel da Igreja em Moçambique----------------------------------------------------------31
4.1.4-O Começo do Nacionalismo------------------------------------------------------------------32
4.1.5- A Revolta dos Intelectuais--------------------------------------------------------------------33
4.1.6-Factores da Emergência do Nacionalismo Africano---------------------------------------34
4.1.7- O Caminho a Unidade--------------------------------------------------------------------------36
UNIDADE V 38
As ODM’s e o projecto social no período pós-colonial----------------------------------------------------38
5.1. As ODM’s (Organizações Democráticas de Massas) o projecto social em moçambique no
período pós-colonial--------------------------------------------------------------------------------------------------38
5.1.1-Desenvolvimento do tema---------------------------------------------------------------------39
5.1.2- Organizações Democráticas de Massas-----------------------------------------------------39
5.1.3- Contexto Histórico do Surgimento das Organizações Democráticas de Massas------40
5.1.4-A Formação das ODM's-----------------------------------------------------------------------41
UNIDADE VI 51
6.1-As Bases de Socialização do Meio Rural em Moçambique-----------------------------------------51
6.1.1-Desenvolvimento do tema---------------------------------------------------------------------51
6.1.2-Contextualização e Efeitos da Socialização-------------------------------------------------52
6.1.3-A Implantação das Aldeias Comunais em Moçambique----------------------------------54
6.1.4- Causa da Implantação das Aldeias Comunais----------------------------------------------55
6.1.5- As Aldeias Comunais Antes da Independência-------------------------------------------55
6.1.6- Objectivo da Adopção da Política de Aldeias Comunais--------------------------------56
6.1.7- Objectivos Sociais e ideológicos------------------------------------------------------------56
6.1.8- Objectivos Económicos----------------------------------------------------------------------56
6.1.9- Objectivos Sócio – Político-------------------------------------------------------------------57
6.1.10- O Processo de Aldeias Comunais no Período pós Independência---------------------57
ii
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
UNIDADE VII 64
A Sociedade face os planos estruturais no mundo ocidental, em África e em Moçambique.
7.1. Epistemologia Da Sociedade na Construção dos Estados Democráticos Em África e em
Moçambique: a Sociedade Civil e as ONG’s--------------------------------------------------------------------64
7.1.1- Desenvolvimento do tema------------------------------------------------------------------65
7.1.2-Organizações não governamentais (ONG'S).---------------------------------------------65
7.1.3- Organizações Internacionais---------------------------------------------------------------66
7.2- Contextualização do surgimento da sociedade civil em Moçambique-----------------67
7.2.1-Abrangências da Sociedade Civil----------------------------------------------------------68
7.2.2- Sociedades Civis que operam em Moçambique----------------------------------------68
7.2.3- O Papel da Sociedade Civil em Moçambique-------------------------------------------69
7.2.4- Contextualização do surgimento das organizações não governamentais em Moçambique
7.2.5-Característica das ONGs-------------------------------------------------------------------71
7.2.6-Tipos de ONG'S----------------------------------------------------------------------------71
7.2.7-Objectivos das ONG'S em Moçambique------------------------------------------------72
7.2.8-A relação entre as ONG’S, sociedade civil e Governo--------------------------------72
7.2.9-Impacto sociocultural das ONG'S em Moçambique-----------------------------------73
UNIDADE VIII 76
O Paradigma da construção social no período contemporâneo-----------------------------------------76
8.1. Paradigma da construção social no período contemporâneo---------------------------76
8.1.1-desenvolvimento do tema-----------------------------------------------------------------77
8.1.2-Situação Sócio-Cultural após a independência: De 1975 a 1992--------------------78
8.1.3-De 1992 aos nossos dias------------------------------------------------------------------78
8.1.4-Desafios actuais----------------------------------------------------------------------------79
UNIDADE IX _ _ 81
A Emergência da Nova Epistemologia da Cultura: A Diversidade Sócio-Cultural e o
Multiculturalismo----------------------------------------------------------------------------------------------------81
iii
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
UNIDADE XI _____ 96
A Crescente Insatisfação Social---------------------------------------------------------------------------96
11.1. A Insatisfação Social----------------------------------------------------------------------96
11.1- Desenvolvimento do tema----------------------------------------------------------------97
11.2- As Diferenças de Poder Tradicional e Pós-Independencia---------------------------97
11.3- A Insatisfação Social e os Golpes de Estado------------------------------------------98
iv
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
UNIDADE XV __ 121
As Mudanças Políticas no Continente e em Moçambique---------------------------------------121
15.1. As Mudanças Políticas no Continente-----------------------------------------------121
15.1.1. Desenvolvimento do tema-----------------------------------------------------------121
15.1.2. Desafios de África--------------------------------------------------------------------123
15.2. Mudanças Políticas em Moçambique------------------------------------------------123
v
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
UNIDADE XX 147
A Sociedade Moçambicana rumo ao Liberalismo-------------------------------------------------147
20.1.Moçambique rumo ao liberalismo-------------------------------------------------147
20.2. Da Constituição Multipartidária de 1990 ao Acordo de Roma (1992)------148
20.3. Emergência de outros Partidos---------------------------------------------------149
vi
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
24.1- A Literatura-----------------------------------------------------------------------179
24.1.1- A Poesia Moçambicana Contemporânea-------------------------------------180
Bibliografia
vii
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Visão geral
Benvindo a História das
Sociedades IV - A Sociedade
Africana e Moçambicana aquando
das Independências
O presente módulo foi elaborado para dar mais subsídio ao estudo da história das
sociedades, particularmente as sociedades africanas duma forma geral e a sociedade
moçambicana em particular.
Não só, este tema procura esclarecer as razões que levaram a montagem de governações
de orientação socialista em determinados territórios africanos, suas vantagens na
conjuntura dum processo de lutas pelas independências de África apoiadas
maioritariamente pelo bloco militar do oriente. Por fim, esclarecer as razões que levaram
os países de África a optarem pelo multipartidarismo a partir da década de noventa.
1
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Objectivos da cadeira
Quando terminar o estudo de História das sociedades IV – o cursante será capaz de:
O Regime de Nasser;
2
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
As Democracias;
Este Módulo foi concebido para todos aqueles estudantes que queiram ser professores da
disciplina de História, que estão a frequentar o curso de Licenciatura em Ensino de
História, do Centro de Ensino a Distância. Estendese a todos que queiram consolidar os
seus conhecimentos sobre a História das sociedades.
3
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Páginas introdutórias
Um índice completo.
Outros recursos
4
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer
comentários sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os
seus comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar
este curso / módulo.
Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes
ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem
indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de
actividade, etc.
Os ícones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por adrinka. Estes
símbolos têm origem no povo Ashante de África Ocidental, datam do século 17 e ainda se
usam hoje em dia.
5
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Habilidades de estudo
Antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que
seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com
música/num sítio sossegado/num sítio barulhento? Preciso de um intervalo de 30 em 30
minutos/de hora a hora/de duas em duas horas/sem interrupção?
É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um
determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e
passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. É preferível saber bem
algumas partes da matéria do que saber pouco sobre muitas partes.
Deve evitar-se estudar muitas horas seguidas antes das avaliações, porque, devido à falta
de tempo e consequentes ansiedade e insegurança, começa a ter-se dificuldades de
concentração e de memorização para organizar toda a informação estudada. Para isso
torna-se necessário que: Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que
matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como
o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras
actividades.
É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o
estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens
pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está
a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode
também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a
6
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não
depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo
significado desconhece;
Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra situação, o material impresso,
lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza, alguns erros de natureza frásica,
prováveis erros ortográficos, falta de clareza conteudística, etc). Nestes casos, contacte o
tutor, via telefone, escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor,
contacteo pessoalmente.
Os tutores tem por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o estudante ter a
oportunidade de interagir objectivamente com o tutor, usando para o efeito os mecanismos
apresentados acima.
Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de expediente.
As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade
de interagir com todo o staff do CED, neste período pode apresentar duvidas, tratar
questões administrativas, entre outras.
O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, busque apoio com os
colegas, discutam juntos, apoiemse mutuamente, reflictam sobre estratégias de superação,
mas produza de forma independente o seu próprio saber e desenvolva suas competências.
7
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de
entrega, implica a não classificação do estudante.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem
ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor.
O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito) palavras de um autor,
sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos
direitos autoriais devem marcar a realização dos trabalhos.
Avaliação
Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o período presencial
(20%). A avaliação do estudante é regulamentada com base no chamado regulamento de
avaliação.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar 2 (dois) trabalhos, 1 (um) teste e 1 (exame).
8
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade I
Expressões culturais em moçambique durante o
período colonial- a contestação cultural
-A Literatura
__________________________________________________
Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam interpretar o papel da literatura e o
processo que levou a fortificação da consciência nacionalista até a formação das
associações e posteriormente aos movimentos de libertação nacional. De referir que o
nacionalismo moçambicano teve como pilares do seu despertar a própria tendência
portuguesa na criação de uma camada de assimilados no seio da população autóctone para
dividir e poder facilmente dominar.
Objectivos
10
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
1.1.1.Conceito
Segundo dicionário da língua portuguesa “ literatura é a arte de compor escrito artístico,
composto de produções literárias de um país ou de uma época”.
A escola colonial ministrava uma educação para subordinação o seu principal propósito
era, treinar o africano para servidor na administração e servidor ao um nível
extraordinariamente baixo: interpretes, escriturários, enfermeiros, professores das escolas
rudimentares entre outras pequenas actividades, mas tarde, as necessidades das empresas
capitalistas privadas fizeram com que essa formação abrangi se uma mão-de-obra
relativamente qualificada.
É neste quadro que pode entender a politica portuguesa de assimilação que, sub um
pretensão não racismo e, estabelecendo a falsa dicotomia “ civilizados/ não civilizados”
criava o embrião de uma pequena burguesia africana obediente e servidor dos interesses
do estado colonial português.
Para tal seria necessário ler e escrever português e adaptar se a hábitos uso e costumes da
vida semelhante dos portugueses o que passava pelo renegar das instituições culturais de
origem.
11
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Pretendia se romper os laços dessa com comunidades com seu passado, sua história de
segregar a sua específica visão do mundo, alienar as formas de expressão que havia
desenvolvido.
Como já referimos o estado colonial esperava procurar uma elite que no processo de
assimilação servir se os seus interesses e o ajuda se a manutenção do seu aparelho
ideológico colonial. Contudo o que a politica de assimilação produziu foi um ser devido:
já não é africano e não chega ser europeu.
1.1.4.Desenvolvimento do tema.
Em termos de precursores desta literatura, há que referir Rui de Noronha, João Dias e
Augusto Conrado. Entre eles merece realce Rui de Noronha, cujo livro de Sonetos foi
publicado seis anos após a sua morte. A sua poesia reveste-se de algum pioneirismo, não
pela forma, mas pelo conteúdo, uma vez que alguns dos sonetos mostram sensibilidade
para a situação dos mestiços e negros, o que constitui a primeira chamada de atenção para
os problemas resultantes do domínio colonial. Rui de Noronha representa também uma
das primeiras tentativas de sistematizar, em termos poéticos, o legado da tradição oral
africana. Sirva, como exemplo, o poema carregado de imagens do mundo mítico africano,
intitulado "Quenguelequêze!
12
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Europeu me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina
europeias
e europeu me chamam.
Não sei se o que escrevo tem raiz de algum
pensamento europeu,
É provável...Não. É certo,
mas africano sou.
A poesia política e de combate em Moçambique foi cultivada sobretudo por escritores que
militavam na Frelimo. Entre eles, destaque para Marcelino dos Santos, Rui Nogar e
Orlando Mendes. Este tipo de poesia preocupa-se sobretudo com comunicar uma
mensagem de cunho político e, algumas vezes, partidário. Como literatura, e salvo raras
excepções (como é o caso de Rui Nogar, com alguns belos poemas de carácter intimista,
no seu livro Silêncio escancarado, de 1982), esta poesia é pouco ou nada inovadora.
13
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Como nos outros países, surge também em Moçambique um número de escritores cuja
obra poética é conscientemente produzida tendo em conta o factor da nacionalidade,
anterior, como é evidente, à realidade do país que mais tarde se concretiza. São eles que
forjam a consciência do que é ser moçambicano no contexto, primeiro da África e, depois,
do mundo. Entre os principais autores deste tipo de poesia, encontram-se Noémia de
Sousa, José Craveirinha, Jorge Viegas, Sebastião Alba, Mia Couto e Luís Carlos
Patraquim.
São dois grandes construtores da palavra, preocupados com a linguagem poética. No caso
de Mia Couto, penso que ele acaba por transferir todo o seu potencial poético para a
ficção. Luís Carlos Patraquim revela influências de Craveirinha e Knopfli, sobretudo nos
seus poemas de maior pendor pessoal e lírico, a sua poesia revela-se de certo modo,
caótica, sensual e, por vezes, surrealista. Patraquim desenvolve uma poesia que, em parte,
é inovadora, focalizada sobretudo no amor e no erotismo. Nota-se também uma grande
preocupação de ligar a sua experiência ao mundo universal dos poetas para além das
fronteiras africanas. Autor de três livros (Monção, A inadiável viagem; e Vinte e tal
Formulações e Uma Elegia Carnívora), Luís Carlos Patraquim representa a fusão entre as
duas grandes vertentes da poesia moçambicana: a da moçambicanidade e a da linguagem
lírica e sensual do "estar em Moçambique".
14
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Como filho da aristocracia local, estudou as primeiras letras numa missão católica de
Lourenço Marques. Na juventude, João Albasini foi protegido de José Aniceto da Silva
então director dos Correios de Moçambique que o levou para trabalhar naquela repartição
como ajudante despachante e mais tarde despachante oficial. Desde jovem começou a
15
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
escrever em jornais, tal como o Jornal Vida Nova e o Diário de Notícias de que sairia para
fundar em 1908, O Africano, primeiro jornal de Lourenço Marques dirigido e escrito por
editores nativos da colónia, depois de vende-los ao padre José Vicente do Sacramento.
Em 1918, funda com o irmão (José Albasini), O Brado Africano, um semanário bilingue
(português e Ronga). Este jornal serviu de porta-voz do Grémio Africano. Em 1922,
publicou um livro póstumo de crónicas e contos, O livro da dor.
Em 1920, com a realização das eleições para o cargo de deputado, João Albasini se
candidata e parte para Lisboa com objectivo de encaminhar junto ao parlamento
português, as formas de exploração a que os negros eram submetidos na colónia. Na
disputa em torno da legislação discriminatória sobre os indígenas e os assimilados, João
Albasini levava consigo uma lista de reivindicações.
João dos Santos Albasini, faleceu em 1922 em Lourenço Marques (Maputo) aos 46 anos
de idade, tendo deixado um filho, Carlos Albasini.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Filho de pai indiano e mãe negra, Rui de Noronha nasceu em 28 de Outubro de 1909 em
Lourenço Marques e morreu com apenas 34 anos em 25 de Dezembro de 1943, quando
era funcionário dos caminho-de-ferro e jornalista.
Onde publicou muito dos seus poemas caracterizado por aqueles que conheceram e leram
como uma personalidade nítida e sensível, solitária.
Após a morte de Rui de Noronha, o espelho literário do poeta foi entregue a sua mulher
D. Albertina dos Santos Noronha, que foi confiado por esta a amigos entre os quais se
encontrava o jornalista Rodrigues Júnior. Estes diligenciaram a publicação dos poemas
junto de um antigo professor do liceu do poeta, Dr. Domingos Reis Costas.
Na primeira semana de Abril de 1946, um grupo de amigos publica o seu livro de poemas
editado pela tipografia Minerva central de Lourenço Marques foi finalmente posto a
venda.
Poucos meses depois da publicação do livro o doutor Domingos Reis Costa proferiu uma
palestra subordinada ao tema “a memória de Rui de Noronha”.
17
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Nos seus poemas, Rui de Noronha, ressalta a missão revolucionária, a missão de fazer
despertar a consciência adormecida. Na década de 30, a poesia moçambicana representada
por Noronha, exprime com elevado grau de firmeza, as oposições racial, económica e
cultural que definem as relações, colonizador versus colonizado.
1.5-Impacto da Poesia
O seu impacto foi de encorajar os poetas mais novos para que despertassem da situação
em que viviam, chamando a tensão no despertar da consciência
Cria o despertar nacionalista para que houvesse a necessidade de ter a sua identidade,
visto que o povo africano era tido como seu sem consciência da sua existência.
A literatura africana que era oral transmitida de geração para geração passou a ser
representada por escrito por alguns intelectuais africanos no geral e por moçambicanos em
particular. Servia de fonte para o historiador reconstituir o passado através do registo da
literatura oral moçambicana.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Sumário
As manifestações literárias desempenharam um papel de relevo na sensibilização quanto a
consciência nacionalista. O jornal«O Brado africano» foi considerado o depositário das
manifestações literárias dos percursos de uma consciência cultural nacionalista. A
literatura era marcada por uma rejeição da cultura colonial.
O governo de Salazar não poupou os meios de propaganda ao seu dispor. Usou a Rádio,
Televisão, imprensa e todos os outros meios para escamotear a realidade do que se
passava não só nas colónias, mas também em Portugal.
A poesia moçambicana viria a ser um factor mais importante na medida em que se revela
a um público maior como o bater do coração dessa resistência.
Entregar o exercício: 2.
- Explica por tuas palavras o papel que a poesia chope desempenhou para a tomada
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade II
___________________
_________________________________________________________
Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam interpretar o papel desempenhado
por Patrice Lumumba aquando da formação dos movimentos nacionalistas para a
libertação do Congo, e as razões que ditaram a formação de muitos partidos políticos
naquele país.
Objectivos
2.1.1-Desenvolvimento do tema
os primeiros partidos políticos fundados no período dos nacionalismos africanos no
Congo Belga por volta dos anos cinquenta, observou-se desde o início serem
20
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
O número de etnias em presença bem como a sua posição, deviam dar a vávios partidos
políticos , dominando cada uma das regiões. o mais antigo era o Aliança dos Bakongos
(abako), expressão partidária do grupo dos Bakongos. Era um partido resolutamente
étnico, que se dividiu por ocasião da conferencia da Mesa Redonda, em tendências
dirigidas por Kanza e Kazabuvu. Reivindicava a independência e a criação dum estado do
Congo central.
21
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Lumumba fica pouco tempo no poder, devido a falta de contacto com outros intelectuais,
os movimentos Pan – Africanistas e Negritudistas, será neste contexto que vai lhe
incentivar a formação de um estado uno e centralizado que por sua vez fica inviabilizado
e recorrendo por fim ao socialismo que a foi a via usada para a independência de todos os
líderes Africanos.
22
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
23
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
________________________________________________________
Sumário
Nos primeiros partidos políticos fundados no período dos nacionalismos africanos no
Congo Belga por volta dos anos cinquenta, observou-se desde o início serem
caracterizados por expressarem-se a partir de ideologias tendentes a defesa de
autodeterminação tribal regionalista e não por uma autodeterminação nacional ou por
defender a causa de todo um território até então ocupado pela Bélgica, embora todos
tivessem como objectivo a obtenção da independência
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
O número de etnias em presença bem como a sua posição, deviam dar a vávios partidos
políticos, dominando cada uma das regiões.
____________________________________________
Actividades
Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação: 1, 3 e 4.
4 – Explica por tuas palavras o papel desempenhado por Patrice Lumumba como patriota
congolês.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade III
Os projectos de sociedades dos movimentos de libertação
em África
_______________________________________
Objectivos
3.1.1-Desenvolvimento do tema
Os líderes africanos urbanos formaram em 1944, a União africana do Quénia (KAU), que
segundo Guia do Mundo (2004:376) defendia os interesses dos Kikuyus. Liderado por
Jomo Kenyatta, KAU, organizou greves, marchas sobre as cidades e manifestações em
massas. A KAU actuava em simultâneo com o grupo Mau-Mau e tornou-se a partir de
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
1960, KANU (União Nacional Africana do Quénia) que uniu todos os grupos étnicos do
Quénia, após um banimento por ingleses e prisão em campos de concentração de milhares
de Kikuyus.
Apoiado pelos sectores urbanos mais evoluídos, com um grupo de sindicatos e acrescentar
o número de ex-soldados regressados da última Guerra Mundial com altas esperanças de
uma nova vida, conseguiu (KANU) convencer os movimentos de ideologia tribal, os quais
encorajavam o poder colonial nas eleições.
Uma das primeiras ideologias foi o Pan – Africanismo, ou a união de todas as nações
africanas, formulado pelo líder negro Jomo Kenyatta do Quénia. O obstáculo do Pan –
Africanismo era a diversidade étnica e cultural do continente, pois, existia a falta de
“identidade africana”, o que viria a dificultar a aliança dos países, devendo-se em grande
parte ao facto de a África ter sido dominada, dividida e explorada por potências que nunca
se preocupavam com os traços culturais dos povos africanos.
Quando o líder nacionalista Kenyatta falava em Pan – Africanismo, ele tinha em vista,
muito mais uma estratégia geopolítica do que cultural ou étnica, portanto é preciso
ressaltar neste contexto que o objectivo era defender os interesses geopolíticos comuns
dos países africanos. Por conseguinte, essa unidade serviria de cimento político e
ideológico contra os interesses imperialistas para a descolonização do continente.
A KANU que era modelo para outros partidos nacionalistas sucumbiu ao nacionalismo
chegando a admitir a presença de militares britânicas no Porto de Mombaça e sua
utilização ao ataque de Israel ao aeroporto ugandês em 1976. Isso levou á ruptura de
27
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
relações entre Quénia e Uganda enquanto a orientação económica criou atritos com a
Tanzânia do Julius Nyerere.
Sumário
Entretanto, o Quénia obteve a sua independência em 1963 e elegeu como seu primeiro
Presidente Jomo Kenyatta, que governaria até 1978, data da sua morte. Este teve uma
visão ocidental, na tentativa de recuperar a sociedade africana pobre, dai preferiu manter a
burguesia colonial para não por em risco a economia do pais, doutro lado se desprezasse a
as massas nativas corria o risco de ser destruído, dai a necessidade de mistura por falta de
objectivos clarificados, perdendo-se entre o socialismo e o capitalismo.
Actividades
Entregar os exercícios: 1 e 2
Exercícios:
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade IV
As Transformações sócio-culturais pós-coloniais em África
Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam interpretar o processo que levou os
africanos a conquistarem as suas independências. De forma particular, em Moçambique
permaneceu durante vários séculos sob domínio colonial, obrigando vários nacionalistas
núcleos ou movimentos para protestarem a opressão colonial. Contudo, as revoluções a
volta deste território obrigaram Portugal a aceitar assinar o Acordo de Lusaka em 07 de
Setembro de 1974, na capital da Zâmbia.
Objectivos
Ser capaz de conceber as independências de África como resultado dum processo político
conjuntural entre europeus e africanos.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
4.1.1-Desenvolvimento do tema
O conceito de nação aplica-se, em princípio, ao menos a três categorias de grupos
humanos. Em primeiro lugar, ele pode aplicar-se a “uma comunidade estável e
historicamente evoluída de pessoas tendo em comum um território, uma vida económica,
uma cultura que os distingue e uma língua”. Em segundo lugar ele pode designar “as
pessoas habitantes de um território unificado sob a autoridade de um governo único; uns
pais e ainda um Estado”. E, em terceiro lugar, uma nação pode ser “um povo ou uma
tribo”. (MAZRUI, 2010:35)
A definição da ideia de nação faz muito amiúde intervir a distinção entre os atributos
objectivos e os atributos subjectivos da nação. Entre os elementos objectivos, cita-se
frequentemente a língua, a história, o território, a cultura (que por vezes engloba a
religião), a organização política e a vida económica.
Ideologia
Neste contexto a população africana foi dividida em duas categorias distintas (africano
não assimilado) e não indígena (qualquer um que tivesse plena cidadania portuguesa
incluindo os assimilados africanos).
30
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Em quanto que na sua prática o indígena não tinha cidadania e era obrigado a trazer uma
caderneta indígena (cartão de identidade) e estava sujeito a todos os regulamentos do
regime.
Mas Portugal permaneceu com a sua Sé Católica foi tendência até que as revindicações do
governo indiano sobre Goa chamaram atenção para a situação dos territórios coloniais e
começou a sentir a necessidade de defender a sua posição como colonizador e entrou nas
Nações Unidas e a sua primeira acção ocorreu em 1951 que transformou as colónias em
províncias ultramarinas, tornando-as parte integrante de Portugal fugindo assim o
princípio de auto-determinação.
31
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
No caso da FRELIMO, a maior parte dos membros do comité central que dirigiu todo o
programa da luta armada foram católicos.
Esta teoria tinha finalidade segundo os europeus tornar o africano civilizado e fazer dele
um português. Na prática nada acontece, o sistema foi elaborado de forma a tornar quase
impossível ao africano obter uma educação que lhe dê acesso a algo mais que não seja
trabalho social.
“Nas cidades o poder colonial era visto mais perto, era mais fácil compreender que a
força do colonizador assentava na nossa fraqueza e que o sucesso por eles alcançado
dependia do trabalho do africano.” (MONDLANE, 1995:89).
32
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Em 1920 foi criada em Lisboa a Liga Africana, uma organização unindo os poucos
estudantes africanos e mulatos que chegavam a cidade. O propósito era conferir um
carácter organizado as ligações entre os povos colonizados.
Esta liga defendia a unidade nacional e a unidade entre as colónias contra a mesma
potência colonizadora, uma maior unida de africana contra as todas as potências
colonizadora a unidade de todos os povos negros do mundo oprimido. Mas de facto, ela
era fraca na medida que apenas cerca de 20 membros e estava sediada em Lisboa longe do
possível campo de acção.
No início dos anos 20, surgiu em Moçambique uma organização chamada Grémio
Africano que mais tarde transformou na associação Africana com apoio pelos Ventos
Fascista que sopravam em Portugal, iniciou uma campanha de intimidação e infiltração
tendo conseguida apoio de alguns dirigentes para desviar a associação para uma linha
mais conformativa.
Surge então uma ala mais radical que separou e formou Instituto Negrófico.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Os contos de Luís B. Honwana, que tem sido amplamente reconhecido fora de África
como um mestre nesta arte, levam o leitor a fazer as mesmas denúncias através de uma
análise perceptiva e detalhada do comportamento humano.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
isolado. Alguns acontecimentos que tiveram lugar na s zonas rurais no período anterior à
fundação da FRELIMO, foram de grandes importâncias.
Depois do massacre de moeda, a situação do norte nunca mais voltou a normal, espalhou-
se por toda a região um ódio amargo contra os portugueses e focou de uma vez por todas
demonstrando que a resistência pacífica essa inútil.
35
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Fez com que apesar de haver a diversidade étnica, religiosa e cultural estes todos uniram-
se em prol de um único objectivo (libertar a pátria do jugo colonial);
Despertou aos moçambicanos a consciência de que a colonização era mal e tinham que se
libertar deste mal através da luta e de outras formas;
Despertou que o colono estava apenas para pilhar aquilo que eram as nossas riquezas, e
marginalizava a originalidade da cultura moçambicana;
Mostrou ao mundo que a África tinha sua História e civilização própria que faz parte de
civilização universal e com um contributo valioso para a humanidade.
__________________________________
36
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Sumàrio
Ele soube dividir os momentos, poder de saber e poder político, implementou o combate
contra a ignorância.
_________________________________________________
Actividades
Entregar o exercício: 2 e 3.
Exercícios:
_____________________________________
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade V
As ODM’s e o projecto social no período pós-colonial
____________________________________________________
Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar as estratégias adoptadas
pela política moçambicana na tendência de garantir a concretização da execução de
actividades sócio políticas e económicas perante as adversidades que se viveram nesse
período.
Objectivos
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
5.1.1-Desenvolvimento do tema
Organização
Democracia
Democracia vem do grego Demokratia, governo do povo, poder popular. (Enciclopédia
Mirador Internacional, s/d: 3200)
Na óptica de Freitas, Democracia é uma palavra de origem grega (demo = povo + cracia=
governo).
Massas
Massas, multidão ou população que habita um determinado espaço geográfico ou
territorial.
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Segundo (GÓMEZ, 1999: 291) “nelas (ODM's), a FRELIMO encontra uma fonte
inesgotável de energia revolucionária, são a grande escola onde se desenvolve a
consciência do trabalhador, mulheres, jovens e continuadores".
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
A partir dos anos 70, a FRELIMO, criou as ODM’s com objectivo de organizar e
enquadrar as populações para qualquer trabalho a ser realizado, isto é, fazer participar as
populações no trabalho do desenvolvimento do país. Também constituem objectivos
destas organizações levantar e debater socialmente a problemática dos seus respectivos
sectores, mas na prática, elas foram muito mais instrumentos de mobilização partidária, de
enquadramento político e com pouca autonomia em relação ao partido.
Numa primeira fase, foram criadas duas ODM's, a saber: Organização da Mulher
Moçambicana (OMM) e Organização da Juventude Moçambicana (OJM). Mais tarde
foram criadas outras ODM's tais como: Organizações Sócio-Profissionais, Escritores,
Jornalistas, Cooperativas Agrícolas, Artistas, Cientistas, Sindicatos e Associações
Desportivas.
É de salientar que a OMM tem as suas raízes na Liga Feminina Moçambicana ( LIFEMO)
, assim como teve como núcleo motor o Destacamento Feminino.(1968), que daria mais
tarde a sua origem ao 16 de Marco de 1973. Entretanto, o Destacamento Feminino foi
uma parte integrante do exército das FPLM, é um corpo político armado. A OMM, em
contrapartida, engaja todas as mulheres, das que ate hoje se encontram a margem da luta
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
“Samora durante o seu discurso, na I conferência da OMM, disse que, (...) dentro do
princípio de mobilizar, organizar e unir todas as forças para o combate, o comité
Central, satisfazendo as aspirações da consciência crescente da mulher moçambicana,
decidiu constituir a OMM'. (Grupo de pesquisa de Moçambique, 1996: 30).
O Grupo de Pesquisa de Moçambique avança que o secretariado geral era constituído pelo
secretário geral, adjunto e chefe do destacamento feminino a nível nacional.
O Papel da OMM
As tarefas da OMM foram definidas no discurso de abertura pelo presidente da
FRELIMO, na Iª conferência da OMM, neste termo: "dentro do princípio de mobilizar,
organizar e unir todas as forças para o combate".
Nesta perspectiva, a sua tarefa central era de mobilizar a opinião internacional a favor da
luta e exprimir a solidariedade da mulher e do povo moçambicano para com a luta
libertadora e revolucionária das mulheres e dos povos do mundo inteiro.
Citando (MACHIL, 2006: 223) "é necessário desencadear, no seio da mulher o combate
ideológico que faça conhecer claramente os males dessas concepções reaccionárias".
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Com isso, pretende-se referir que cabe a OMM explicar a mulher convista a compreender
que a sua experiência de sofrimento, exploração, fome, opressão, miséria é a mesma em
todas províncias do país e foi provocada pelo colonialismo português.
Todas essas tarefas eram tidas como sagradas para a OMM, pois, devia-se mobilizar todas
as mulheres para sentirem a necessidade de participar numa tarefa concreta, sentirem-se
responsáveis e agentes activos na transformação da sociedade.
A OJM é uma organização social na qual congrega jovens moçambicanos dos 15 aos
35anos, sem distinção de cor, sexo, grupo étnico, lugar de nascimento, religião, grau de
instrução, origem, extracto social e estado civil, desde que aceitem e se disponham a
cumprir os estatutos da organização.
A OJM tinha como uma das tarefas, realizar a educação socialista das novas gerações
(Grupo de Pesquisa in Relatório do Comité Central). Por outro lado, a OJM tinha como
tarefa incentivar a participação da juventude moçambicana nos diferentes sectores da vida
social.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
O Papel da OJM
A juventude constituía uma força de continuidade para o desenvolvimento do país, razão
pela qual o Presidente Samora Machel nos seus discursos afirmava: "é preciso encetar o
sangue novo no exército" e "a juventude é a seiva da nação".
O Papel da ONP
No seu discurso de abertura a Conferencia Nacional Constituinte da ONP, Samora Moisés
Machel disse:
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Nesta óptica o Partido FRELIMO decidiu criar nesta conferência constitutiva realizada a
12 de Outubro de 1981 a ONP. Este organismo surge assim como um instrumento que
enquadra, orienta e une os professores moçambicanos de todos os ramos e níveis de
ensino na batalha pelo desenvolvimento da educação revolucionária e criação do Homem
Novo.
Promover a construção duma sociedade socialista a partir duma educação centrada nos
ideais marxista-leninista, isto é, a construção do Homem Novo;
Sendo uma organização criada pelo partido FRELIMO, os professores deviam ter sólidas
e profundas convicções políticas, conhecendo e aplicando as ideologias do partido
FRELIMO. Esta Ideia mostra claramente a forte ligação que havia entre a ONP e o
Partido FRELIMO.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
vertente que se assiste em 1998 uma fissura que vai consistir na transformação da
organização para Sindicato Nacional dos Professores de Moçambique (SNPM).
De acordo com HANS e NILSON (16:259) “as informações passadas nos meios de
comunicação, deviam antes ser censurados pelos órgãos do Governo central”.
Neste contexto, é preciso avançar que este sindicato funcionava intimamente ligado ao
estado tendo como missão básica, passar os ideais do partido ricem formado, tais como,
combater as ideologias opostas emergentes na sociedade moçambicana, instalar a unidade
nacional, combater o tribalismo. No fundo das suas funções, a exaltação dos êxitos
conquistados pelo povo moçambicano era a base da sua existência.
A partir de Abril de 1991, assiste-se uma viragem no seio da ONJ, com a eleição pela
primeira vez desde a sua criação, de uma nova direcção por voto livre e secreto e com
alteração dos seus estatutos. Assim, a organização passou a dar maior atenção aos
problemas laborais dos profissionais, que se podem resumir em baixos dos salários, más
condições de trabalho, vinculo contratuais precárias, problemas deontológicos e éticos.
(Sindicato Nacional dos Jornalistas, s/d: 4-5).
Esta transformação não é só na designação mas na essência da organização que pelo seu
estatuto passa a ser uma organização independente que, numa base voluntária e segundo
princípios democráticos reúne jornalistas moçambicanos para a defesa dos seus direitos
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Melhorara a condição salarial dos jornalistas, quer através de salários condignos, quer
através de contratos melhores com as empresas empregadoras.
Tinham como tarefas a recolha das quotas, feituras de carteiras profissionais e sua
revalidação. As associações corporativas não se estruturavam a nível da empresa, existiam
apenas secções ou delegações nos distritos actuais províncias (Comité Nacional de
Educação e Formação Sindical, s/d: 53-54).
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
O Papel da OTM-CS
Quando se fala de OTM pressupõe-se numa abordagem geral que pretendia-se com a
organização defender os direitos e interesses dos membros e trabalhadores, na melhoria de
condições de trabalho e de vida. Constituem tarefas do Comité Sindical as seguintes:
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Em função dos programas ou planos quinquenais dos seus membros, a Central Sindical
define os planos quinquenais e sindicais, que são cumpridos pelos seus membros. Define
a política de formação de quadros, os direitos e deveres dos seus membros. Cria e controla
ao nível nacional, infra-estruturas sociais para a divisão dos trabalhadores, pratica do
turismo e captação de receitas para a caixa social de desemprego e fundo da greve
nacional. No plano interno e externo, a Central Sindical representa os seus membros em
fóruns nacionais e internacionais sobre o sindicalismo e sobre o trabalho.
Hoje os trabalhadores do nosso pais lutam por uma justiça social, de respeito pelos
direitos humanos, democracia participativa e melhor qualidade de vida para todos que
com o seu trabalho e saber, contribuem para a reconstrução e desenvolvimento deste belo
e grande Moçambique. “Somos pelo emprego decente, seguro e com condições sociais,
pelo estabelecimento de salários que concorrem para dar o trabalhador condições dignas
de vida”. Nesta vertente, para que o ambiente de estabilidade nas relações de trabalho
passa necessariamente pela existência de diálogo entre os parceiros sociais na empresa e
no sector de actividade.
_______________________________________________________
Sumàrio
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Os sectores sociais viriam a ser considerados pontas de lanças da estratégia para onde
seriam transferidas as experiências colectivas da guerra colonial à toda a populção e criar
uma legitimdade para a sua própria política.
__________________________________________________________
Actividades
Entregar o exercício: 2, e 3.
Exercícios:
2 – Identifica duas organizações de massas que conheces e diga qual é o seu benefício no
seu meio social?
3 - Os sectores sociais viriam a ser considerados pontas de lanças da estratégia para onde
seriam tranferidas as experiências colectivas da guerra colonial à toda a populção e criar
uma legitimdade para a sua própria política. Comente sobre a legitimidade da política que
a rase refere.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade VI
6.1-As Bases de Socialização do Meio Rural em Moçambique
Introdução da unidade
O presente tema aborda sobre as bases de socialização do meio rural em Moçambique
Objectivos
6.1.1-Desenvolvimento do tema
Conceito de Socialização nas Zonas Rurais
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Na indústria: onde a produção estava virada para o mercado externo que transformava a
matéria-prima (Algodão, Açúcar, Chá e Caju). Dado a quebra das relações entre o
colonialismo e o novo governo da FRELIMO, provocou êxodo generalizado de
trabalhadores e técnicos portugueses especializado, assim como muitos gestores de
empresas o que afectou em grande o sector industrial visto que, a agricultura familiar não
conseguia responder as reais necessidades.
No sector dos transportes: falando das crises não podemos deixar de lado o sector dos
transportes marítimos, ferroviário e rodoviário, afectando primeiro o monte de divisas
pela não utilização dos portos e caminhos-de-ferro no comércio internacional, afectando
também os próprios circuitos comercias que dependia da rede dos transportes.
Com as medidas tomadas pela RSA e com a falta de equipamentos que pudessem
impulsionar este sector de produtividade, associado a outros problemas como a falta de
alternativas viáveis e coerentes, o aparecimento de conjunturas (calamidades naturais, a
RENAMO), tudo combinado com a desmobilização políticas os erros de planificação,
gestão as companhias compulsivas de aldeamento e cooperativização, tornaram a crise
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Em face desta carência, as trocas comerciais deixaram de existir, a moeda perdeu as suas
funções, gerando-se um sistema de troca directa entre produtos difícil de controlar. Os
preços oficiais tornaram-se totalmente artificiais onde havia ainda alguma capacidade de
produzir excedente, instalou-se o contrabando e o comércio paralelo, a corrupção e a
especulação.
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-Criar condições estruturais para que as populações possam, por si próprio, assegurar e
melhorar o seu consumo e abastecimento básico, ao mesmo tempo que os recursos
nacionais disponíveis são dirigidos livremente para sectores de produção e de consumo
considerados prioritários, dentro da óptica de desenvolvimento nacional e da opção
política;
-Organizar os recursos naturais e humanos nas zonas rurais, promovendo uma maior
rentabilidade na produção, particularmente na produção de exportação, com o fim de criar
uma taxa mais elevada descendente e aumentar o fundo de acumulação.
-Através das aldeias comunais, as populações rurais teriam acesso aos serviços modernos
instrução escolar, saúde, segurança, comunicação, etc. Que numa situação de dispersão
lhes estariam vedados;
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
No entanto, os dois eventos citados por CASAL definiram que a base económica de uma
aldeia comunal devia ser constituída pela produção estatal e pelas cooperativas pois, o
papel das cooperativas seria o de servir de instrumento nas mãos dos camponeses para
eles poderem exercer o controlo directo sobre a produção e tomar consciência social e
política do movimento revolucionário no campo.
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O fundo revolucionário que a FRELIMO foi acumulando ao longo dos 10 anos de luta
armada era grande. O prestígio, a força e a autoridade com que se apresentou para tomar
nas suas mãos destino do povo moçambicano eram de uma forma geral, reconhecido por
todo os moçambicanos, dos mais diferentes estratos sociais, e em particular pelos
camponeses que constituíam a principal base de apoio da FRELIMO, sobretudo no Norte
do país.
Esta expectativa de uma vida melhor (acesso à escola, hospitais, transportes, os consumos
de bens, os abastecimentos de meios de produção, etc) programado pelo Partido
FRELIMO e pelo novo Estado moçambicano em que as populações rurais depositavam a
sua confiança, explicam adesão de grande parte da população as aldeias comunais.
As Calamidades Naturais
O período de 1977-1978 foi pródigo em fenómenos naturais, tais como as cheias e mais
tarde as secas, afectando a sua vasta região do território nacional. Estas circunstâncias
foram aproveitadas pelas autoridades moçambicanas para propor as populações vítimas
das catástrofes, o enquadramento em aldeias comunais onde a segurança das suas vidas,
dos seus bens e do seu futuro ficariam garantidos.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
É nesta ordem que o estado vai implantar os serviços da escolarização e alfabetização nas
aldeias comunais, como forma de atrair a massa popular e ao mesmo tempo, servir de elo
de comunicação entre as populações já agrupadas, tendo assim definido a língua
portuguesa como a oficial.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Rádios Comunitárias
Após a independência de Moçambique, assiste-se a emergência de um agente de
socialização: os de comunicação de massas (rádio, cinema, televisão), que constituem
poderosos instrumentos de aprendizagem, uma vez que nos inculcam normas, crenças,
valores, modelos, de comportamentos. Assim, à partir dos princípios da década de 90 do
século XX em Moçambique tornou-se possível a criação das rádios comunitárias.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
No entanto, dada a saída da mão-de-obra para os países vizinhos e outros que foram para
as cidades em busca de melhores condições de vida, melhores oportunidades de emprego,
fizeram com que esta política falhar, sabe-se que o sector familiar constituía a base de
subsistência, como salienta Marc Wuyts citado por NEWITT (Op Cit: 478) diz que “a
população foi obrigado a abandonar o seu submundo de da produção de subsistência”.
Negativo
Emprego das milícias populares, da policia da república e dos serviços administrativos e,
as vezes, das forças armadas como forma de persuadir as populações a aderirem no
processo de implantação das aldeias comunais;
Positivo
Inculcou novos valores nacionais através de canais e instituições, tais como, a escola, a
administração, meios de comunicação (rádio); Organização da vida colectiva das
populações rurais com objectivo de melhorar as suas condições de vida e a consequente
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
transformação das suas relações. Do mesmo modo fez nascer a identidade cultural
moçambicana e uma ideologia nacional;
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Sumário
As machambas estatais que seriam formadas a partir das antigas plantações e da junção de
parcelas agrícolas mais pequenas dos colonos.
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Actividades
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
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Unidade VII
A Sociedade face os planos estruturais no mundo ocidental,
em África e em Moçambique.
Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar as diferentes modalidades do
processo da formação das democracias em África. Pretende-se também descrever as
desconexões verificadas ao longo do processo de lutas de libertação de África como fruto
das influências recebidas a partir dos dois blocos divergentes de então ( a U.R.S.S. e os
E.U.A.).
Objectivos
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Para melhor compreensão deste capítulo temos que destacar alguns conceitos que são a
chave de abordagem, como a sociedade civil. ONG, organizações internacionais e
democracia.
Sociedade Civil:
O conceito da sociedade civil tem sido constantemente e muitas vezes vagamente definido
tanto na literatura académica, assim como na política, deste modo esta pode ser definida
de várias formas, a saber:
Entretanto, subentende-se que a sociedade civil é uma instituição social que tem como
função a mediação e a supressão de conflitos económicos, sociais e religiosos que o
Estado tem a tarefa de resolver.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Assim, pode-se vincar que organizações não governamentais são grupos de pressão que
buscam por um lado influenciar e democratizar políticas públicas governamentais para
que essas superem da maneira mais extensa possível às necessidades da sociedade e de
condições de vida iguais e justas, por outro lado, movimentar a sociedade em que estão
inseridas utilizando-se as suas relações de solidariedade na busca desta democratização e
influência política.
Democracia
De acordo com BASTOS (1999:174) Democracia é considerada como sendo o poder
político exercido pela comunidade, através da delegação do seu exercício a um conjunto
de órgãos com participação efectiva ou a representação da pluralidade dos governados.
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A sociedade civil moderna difere-se da sociedade civil tradicional que se baseia num
sistema de distribuição dominada pela reciprocidade e redistribuição. A sociedade civil
moderna, baseia-se em princípios de troca económica e de mercado, que dirige a
distribuição de recursos na economia que rodeia este tipo de sociedade.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Esta lei dá direito a livre associação, constitui uma garantia básica para a realização de
pessoal dos indivíduos na vida em sociedade e está estabelecida nº 1 do artigo 76 da
constituição da República como uma das liberdades fundamentais do cidadão.
Após a aprovação da nova Constituição da República, isto é, nos finais dos anos 90, o
movimento associativo de Moçambique tomou nova dinâmica que para além da existência
de organizações nacionais tradicionais que são as ODM's, as sócio-profissionais,
recreativas e religiosas vieram se juntar o filantrópico e outras para a educação cívica e
para o desenvolvimento rural.
Uma base material explorada pelas relações sociais, económicas e capitalistas legalmente
codificadas;
Uma ideologia baseada na inviolabilidade dos direitos individuais e das normas da lei.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
A Liga dos Direitos Humanos tem um papel de promover o acesso a justiça por parte dos
cidadãos mais carenciados. Esta foi a primeira instituição da sociedade civil criada com o
objectivo fundamental de prestar assistência jurídica aos cidadãos mais carenciados e de
protagonizar e promover a luta pela defesa dos direitos humanos.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
As ONGs surgem primeiro na Europa que em África. Neste continente as primeiras foram
filiações de organizações europeias tais como OXFAM, CARE, e a Sociedade de Apoio a
Lepra. Como tinham acesso ao financiamento externo foram momentaneamente
chamados “FFNGOS”.
2ª Prende-se aos apelos feitos pelo governo a partir de 1984 a comunidade internacional,
devido a seca que assolou o país. Portanto, essa preocupação do governo vai suscitar a
participação da comunidade internacional, sob varias formas: ONGs estrangeiras, a ONU
70
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
e outras religiosas que vão apoiar estes grupos vulneráveis que alguns deles se
encontravam já organizadas mas não oficializadas.
Segundo LALÁ (2003:31) “a maioria das ONGs em Moçambique são constituídas por
elites urbanas e carecem de missão e objectivos sócio-políticos claros para não referir a
fraca capacidade de gestão...”
Porem, as suas actividades estarão mais orientadas para responder as fraquezas dos países
africanos em governar e desenvolver as suas próprias sociedades democráticas.
7.2.6-Tipos de ONG'S
Quanto ao tipo de ONGs há que referir que de acordo com o GRUPO DE PESQUISA DE
MOÇAMBIQUE (1996:33), em Moçambique, podemos encontrar 3 tipos de organizações
não governamentais nomeadamente:
71
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
ONG'S de intervenção – Estas estão presentes no terreno através dos seus agentes os
quais desenvolvem projectos com a comunidade ou seus representantes sob supervisão de
funcionários. Temos como exemplo os casos de KULIMA, MONASO, ORAM,
KUBATSIRANA, ESTAMOS, ASVIMO, PROANI, AFRICARE, MC ROGER
INITIATIVE, AMAIAPABANDA.
De referir que a distribuição feita acima não é nítida, isto porque encontramos algumas
organizações que intervêm em todas os três tipos, por exemplo, a FDC que para além de
financiar também presta apoio.
Entretanto, as três gerações podem coexistir dentro da mesma ONG, sendo que para
melhor dinâmica desta no processo de desenvolvimento é extremamente indispensável a
terceira geração.
72
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Segundo ALVES (1996:78) refere que “o exercício desta liberdade produz uma grande
variedade de organizações e associações que operam na sociedade civil. Estas incluem
grupos políticos, organizações religiosas, sindicatos, associações comerciais e
artísticas”.
73
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Na preparação das eleições gerais, muitas organizações não governamentais exercem uma
influência positiva sobre as políticas do governo. Participam directa ou indirectamente no
processo conducente a elaboração das leis eleitorais, na formação de leis e regulamentos
administrativos, há uma variedade de níveis do governo nos quais as ONG’s Podiam
operarem.
___________________________________________________
Sumário
Entretanto, subentende-se que a sociedade civil é uma instituição social que tem como
função a mediação e a supressão de conflitos económicos, sociais e religiosos que o
Estado tem a tarefa de resolver.
___________________________________________
74
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Actividades
Entregar o exercício: 2.
Exercícios:
75
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
__________________________
Unidade VIII
O Paradigma da construção social no período contemporâneo
Introdução da unidade
Foi neste período da luta que as zonas libertadas constituíram-se em lugares, momentos de
perspectivação de um projecto de uma moçambicanidade “sociedade nova e de um
homem novo com uma mentalidade livre da dependência estrangeira; formação e de um
estado novo situado ao nível das nações modernas; e de um exercício de poder; era mais
um espaço de mudança de mentalidade pela transformação de relações sociais do trabalho
do que um projecto de transformação material imediata das populações.
Objectivos
76
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
8.1.1-Desenvolvimento do tema
Conceitos
Contemporâneo – período histórico que tem início com a revolução francesa. (Magalhães
1972:92). Alguns pesquisadores não admitem a distinção entre a História moderna e a
História contemporâneo, considerando esta como continuação e desdobramento da
primeira.
Sociedade – reunião de pessoas unidas pela mesma origem e pelas mesmas leis; é a
ralação entre pessoas; agremiação; associação, casa onde se reúnem os membros de uma
agremiação; convivência. (Dicionário L. Portuguesa 1995,1320).
A cultura moçambicana
Moçambique é um país vasto com uma diversidade sócio-cultural, e a questão da cultura
moçambicana foi sempre um dos objectos de análise durante e depois da luta de libertação
tendo em conta a modernidade.
Neste contexto, segundo Graça (2005:230) em 1967 surge a análise sobre os vários grupos
étnicos moçambicanos e em Setembro de 1968, o conceito da cultura nacional foi
abordado de modo específico nas resoluções da 2ª sessão do comité central com objectivo
de transformar em instrumento mobilizador dos combatentes relativamente aos factores da
77
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
dissociação de natureza etno cultural, onde dentre várias decisões tomadas destacou se
que o departamento de educação e cultura intensificasse programas culturais; organizasse
exposições de arte, de pintura e de escultura; organizasse actividades culturais que visem
elevar os valores tradicionais positivos e a cultura que vai nascendo do intercâmbio das
populações na luta de libertação nacional.
De 1975 a 1992
O modelo sócio-cultural depois da independência, continuou a ser um objecto de análise
sob a orientação do Governo moçambicano. Como forma de implementar o seu modelo de
controlo social, implantou os chamados grupos dinamizadores desde o nível provincial ao
local, cada qual com a sua secção de educação e cultura que passaram a ser o principal
vínculo de transmissão da cultura, para a formação do homem novo definido como um
homem comunista, homem liberto de todos os condicionalismos que vivia, liberto de
necessidades materiais (Graça 2005:238).
78
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
De ponto de vista social e cultural, se bem que maioritariamente seja constituída pela
população negra, a sociedade moçambicana apresenta um mosaico de raças, cores e
culturas.
A realização bienal de festivais culturais a nível nacional também duma forma rotativa;
8.1.4-Desafios actuais
Tendo em conta a situação actual da globalização, onde os mais fortes tende a submeter
tarefas específicas, a saber:
Adopção dos nomes e apelidos africanos como forma de preservação do nosso legado
cultural, pois no período colonial muitos foram impostos uso de nomes e apelidos
portugueses;
Incentivar o uso das línguas nacionais nas escolas e nas instituições públicas;
79
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
___________________________________
Sumàrio
________________________________________
Actividades
Entregar o exercício: 1 e 2.
EXERCÍCIOS:
80
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
______________________________________
Unidade IX
A Emergência da Nova Epistemologia da Cultura: A
Diversidade Sócio-Cultural e o Multiculturalismo
________________________________________________
Introdução da unidade
A colonização europeia em África apresentou uma base racista, que resultou da intenção
entre o colonizador e o colonizado a consciência racial é a base do desenvolvimento do
Nacionalismo enquanto busca da soberania e da independência.
O colonialismo necessitava de uma base social para a sua Sobrevivência; base assegurada
pela difusão da cultura do colonizador por meio da educação, isto é, sistema educativo
criado para este efeito determinou as normas que permitiu construção de um novo grupo
de elite no interior da sociedade colonizada.
Objectivos
1 – A Diversidade cultural.
81
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
2 – Definir o multiculturalismo.
Desenvolvimento do tema
O homem à nascença começa a moldar-se quando a partir dos seus progenitores entra em
contacto com a natureza, vai logo à partida adquirir elementos comportamentais que vão
começar a caracterizar as suas manifestações e constituir elementos identitário que vão
moldar a sua personalidade, tais como o nome e a língua, que adquire dos seus pais.
Ainda pode-se ver a cultura como sendo, mais ou menos, a ideia de cultivo, referindo-se a
um processo em que se pode defini-lo, segundo BROWN (1973:14) como sendo “(...) um
meio pelo qual uma pessoa adquire conhecimento, especialidade, ideias, crenças, gostos
e sentimentos, mediante contactos com outras pessoas ou pelo trato com outras coisas
tais como livros ou obras de arte”.
82
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Sendo assim, o Nacionalismo vai-se ligar ao patriotismo que é o amor a própria terra,
símbolos nacionais, através do próprio povo.
Este descontentantamento vai criar o despertar cultural, sendo um dos elementos da luta
pela reafirmação e preservação da identidade pessoal, de início enquanto Moçambicanos e
depois membros de determinada nação cultural.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
84
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
referenciar que os africanos têm no Brado Africano seu melhor defensor e, na realidade
sua a única arma contra a injustiça que os atinge.
Na Educação
A educação em África foi concebida em função da promoção maciça para a formação da
mão-de-obra barata nas escolas; os ciclos primários, secundários e superior foram
responsáveis na formação de operários semi-especializados. As missões sobre todas as
igrejas católicas tinham nas suas mãos o sistema escolar, mas grande parte das
companhias monopolistas contribuiu também para criação de escola destinada a família
dos seus trabalhadores e outros habitantes das cidades.
O colonialismo necessitava de uma base social para a sua Sobrevivência; base assegurada
pela difusão da cultura do colonizador por meio da educação, isto é, sistema educativo
criado para este efeito determinou as normas que permitiu construção de um novo grupo
de elite no interior da sociedade colonizada.
85
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
As novas elites educada, os chefes tradicionais estavam em posição ambígua os olhos dos
povos tinham perdido o carácter tradicional das suas funções e do seu papel, enquanto a
novas elites educada de toda a África esperavam identificar-se mas tarde com o processo
de desenvolvimento da sua comunidade o que não aconteceu sendo estes considerado
instrumentos de controlo e intermediário. Com esta perda de poder real o prestígio social
era para muitos e causa do descontentamento.
Este descontentantamento vai criar o despertar cultural, sendo um dos elementos da luta
pela reafirmação e preservação da identidade pessoal, de início enquanto africanos e
depois membros de determinadas nações culturais.
_________________________________________
Sumário
Nos anos que constituem o início do século XX, e que abrangem a parte final do nosso
período, pode-se já falar na existência de importantes cidades no continente africano.
Atraido pela possibilidade de adquirir dinheiro para pagar imposto ou lobolo, procurando
voluntariamente novas profissões, ou a isso forçados pelas autoridades, (…) ou rejeitados
pelas comunidades de origem por vezes, e, outras vezes, chamados pelos familiares, estes
recé-chegados, na maioria jovens, vão sofrer um processo de transformação inevitável e
de importantes consequências
86
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
O colonialismo portugês, sendo aquele que apresentava um capitalismo menos forte, não
proporcionou um desenvolvimento urbano muito grande. No entanto Lourenço Marques,
estimulada pelo desenvolvimento mineiro sul-africano, tornou-se um poderoso centro de
atracção da migração meridional.
Três vias se desdobravam perante o africano que aí chegava: (1) a miséria dos subúrbios,
com um provável emprega no porto, ou em casa de colonos; (2) o desemprego, com os
consequentes parasitismos familiar ou marginalização social; (3) a “assimilação”, para os
mais “evoluídos”, com um lugar de funcionário público ou empregado em escalões
inferiores.
Foi desta terceira categoria onde veio a sair os primeiros pioneiros do nacionalismo
moçambicano.
_______________________________________________
Actividades
Entregar os exercícios: 3 e 4.
Exercícios:
87
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade X
A Cultura e os Projectos de Construção dos Estados Democráticos
___________________________________________
Introdução da unidade
No fim desta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar de forma clara o
processo da democratização do nosso país desde a tomada de poder pelo saudoso
presidente Alberto Joaquim Chissano até no dia 04.10.1992, altura das assinaturas do
acordo geral da paz entre a Renamo e a Frelimo, como também altura do surgimento e
oficialização de vários outros partidos políticos em Moçambique independente.
Objectivos
3 - O papel da igreja católica na mediação da paz até a realização das eleições gerais
em 1994.
88
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
10.1.1-Desenvolvimento do tema
Segundo a afirmação de Tylor, Cultura (do latim cultura, cultivar o solo, cuidar) é um
conceito desenvolvido inicialmente pelo antropólogo Edward Burnett Tylor para designar
o todo complexo e metabiológico criado pelo homem; são práticas e acções sociais que
seguem um padrão determinado no espaço. Referem-se a crenças, comportamentos,
valores, instituições, regras morais que permeiam e identificam uma sociedade. Explica e
dá sentido a cosmologia social, é a identidade própria de um grupo humano num território
e num determinado período.
10.1.2-Conceito de Democracia
Democracia vem da palavra grega que significa “poder do povo” (demos = povo; cratia =
poder). Nas democracias, é o povo que detém o poder soberano sobre o poder legislativo e
o executivo. Democracia é o governo na qual o poder e a responsabilidade cívica são
exercidos por todos os cidadãos, directamente ou através dos seus representantes
livremente eleitos. Democracia é o conjunto de princípios e práticas que protegem a
liberdade humana, é institucionalização da liberdade. As democracias conduzem,
regularmente as eleições livres e justas, abertas a todos os cidadãos. As eleições numa
89
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
democracia não podem ser fechadas atrás das quais se escondem ditadores ou um partido
único, mas verdadeiras competições pelo apoio do povo.
De acordo com os vários conceitos expostos neste ponto, conclui-se que democracia é o
governo do povo, onde o poder supremo pertence ao povo e é exercido directamente por
este ou por seus representantes através dum sistema eleitoral. Democracia é governo do
povo, pelo povo e para o povo.
É a diversidade cultural que faz e explica que não haja formas de democracias uniformes
para todos os povos, e que o modelo da democracia bem sucedida no país pode não sê-lo
noutro país.
A cultura está associada a mudanças, tanto ao nível dos processos como da dimensão dos
actores sociais e das suas acções, sustentadas por projectos. Facilmente se esquece a
diferença entre a acção dos actores sociais e a difusão cultural e, ainda se apresenta a
primeira como alternativa.
90
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Democracia Popular – Foi seguida no bloco da Ex-URSS e nos países satélites. É uma
democracia que suprime a liberdade individual, a título de facilitar a perfeita realização da
vontade do ”povo”. Aqui não há multipartidarismo, mas sim o partido único; não há
liberdade de expressão nem de associação.
91
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
A todos os níveis, o africano era acima de tudo um ser social. Existia o debate permanente
africano que se realizava debaixo das árvores - a assembleia - onde cada um tinha não só,
a liberdade de se expressar, mas também a obrigação de se exprimir. Muitas vezes,
discussões eram adiadas para permitir consultas aos mais velhos e as mulheres em casa,
para além de que podiam durar dias, semanas ou mesmo meses porque o princípio era
chegar ao máximo consenso.
Entre 1956 e 1960, a maior parte dos países africanos ascende á independência. Os novos
regimes foram herdeiros do sistema autoritário e a maioria dos dirigentes que tomou o
poder nesse momento não eram verdadeiramente legítimos sob o ponto de vista
democrático. Nessa ocasião não houve uma aprendizagem democrática apesar de
simulações de poderes democráticos em África Francófona.
92
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
93
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
_____________________________________________
Sumário
Sendo que em Moçambique cada província tinha sua estação de rádio, devia ser priorizada
pois transmitia informações em português e em lingua local, uma condição que permitia
que se verificasse um desenvolvimento democrático quando a informação sobre as
mudanças atinjisse largas camadas da populção.
Para além de muitos estados africanos, e dando como exemplo concreto o nosso país, a
Frelimo tinha, de início como partido libertador, uma liberdade de acção relativamente
grande. Entretanto, essa liberdade ficou rapidamente diminuída devido a alterações dos
comportamentos internacionais em relação a criação dos estados estados democráticos e a
liberalização da economia.
____________________________________________________
Actividades
Entregar os exercícios: 2 e 3 .
94
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
EXERCÍCIOS:
3 – O que seria necessário para que a democracia nos estados africanos fossem
consideradas de legítimas?
95
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
_________________________________________________
Unidade XI
A Crescente Insatisfação Social
Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam interpretar os processos de
construção das democracias africanas e as principais causas de ocorrência de golpes
sucessivos na África independente. Apesar de ter havido uma unanimidade no contexto de
libertação em África dos anos sessenta, a África independente foi posteriormente palco de
golpes de estados suscitando dúvidas a nível internacional se a atribuição de
independências a esses países não podia ter esperado por ainda alguns anos de civilização
europeia. Existiram causas claras desses sucessivos golpes: A pobreza e a ambição pelo
poder.
Objectivos
96
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Esta tese poderia ser sustentada com argumentos retidos do passado pré-colonial, pois dir-
se-ia que de um modo geral, nas sociedades africanas tradicionais a vontade nacional fora
determinada não tanto por uma qualquer contagem periódica dos votos populares, mas
antes pelo sentido que os chefes das tribos tinham do que a população pretendia ser bom
para a nação.
Mas depois de os africanos terem conseguido vencer, com o apoio dos militares por eles
escolhidos, era chegado o momento de estes decidirem se deveriam continuar a apoiar o
governo ou se considerariam uma elite menos corrupta e mais eficiente do que os seus
97
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
políticos e se os interesses dos seus concidadãos africanos no pais seriam melhor servidos
se eles subissem ao poder.
As tomadas do poder pelos militares são por normas daqueles acontecimentos dramáticos
que atraem sempre mais atenção nos noticiários dos meios de comunicação social do que
nos aspectos mais banais do governo e da administração, de modo que se criou a opinião
generalizada de que a instabilidade e a violência são uma característica da história
africana pós-independência.
Contudo, alguns civis poderiam ser nomeados para este conselho e mesmo que não fosse
este o caso, os departamentos públicos continuariam a ser chefiado por civis, e quase
invariavelmente a governação continuava nas mãos dos mesmos administradores
burocratas anteriores. Contudo, qualquer ocupação militar fez-se acompanhar de um
perigo interno. Se um determinado grupo de soldados consegue derrubar autoridade
constituída através da exploração da sua detenção da força e militar (e beneficiar depois
98
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
dos frutos e das responsabilidades do poder), estará a dar um exemplo perigoso aos outros
grupos militares.
__________________________________________________.
Actividade
Entregar os exercícios: 2 e 3.
EXERCÍCIOS
2 – Faça uma abordagem explicativa sobre a diferença entre o poder tradicional e o poder
dos políticos pós-independência
a) Concordas?
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade XII
O Exemplo do Regime de Nasser
Introdução do tema
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam interpretar até que ponto o
comportamento de Nasser influenciou deveras na eclosão de golpes de estados em África
como via fácil de tomar o poder, e quais foram as consequências para o continente.
Objectivos
12.1-Desenvolvimento do tema
A crise interna, a derrota na Palestina e o fracasso das negociações com a Grã-Bretanha
desacreditaram integralmente o regime dos partidos políticos e da monarquia. Nenhuma
organização política, no quadro do sistema estabelecido ou fora dele era capaz de tomar
uma iniciativa susceptível de melhorar uma situação que se deteriorava ininterruptamente.
A solução proveio dos Oficiais Livres, organização de oficiais de média patente dirigida
100
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
pelo tenente-coronel Gamal ‘Abd al-Nasser, desde logo conhecido pelo nome de al-Nasir
ou al-Nasser.
101
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Por sua vez, o Egipto e o presidente al-Nasser tornaram-se o símbolo de uma nova atitude
vis-a-vis dos imperialistas: pela primeira vez na História, uma antiga colónia não batia em
retirada frente a uma ameaça mas, resistia com uma determinação que embaraçava
consideravelmente as potências ocidentais, chegando a provocar uma crise política interna
na Grã-Bretanha e na França. As nações colonizadas e os Estados recém Independentes
apreciaram tanto a audaciosa nacionalização, empreendida por al-Nasser, da Companhia
do Canal de Suez quanto a sua resistência a agressão armada. Fora claramente
demonstrado que o imperialismo não era tão forte como outrora e que, tirando proveito de
sua fraqueza, as nações oprimidas da África e de alhures poderiam conquistar a sua
independência.
102
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
______________________________________________
Sumário
____________________________
Actividades
Entregar os exercícios: 3 e 4.
EXERCÍCIOS:
103
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade XIII
As Democracias No Gana, Burundi, Ruanda e no Uganda
13.1. As Democracias
___________________________________________
Introdução da unidade
Objectivos
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
13.1-Desenvolvimento do tema
13.1.2- NO Gana - fora das primeiras colónias da África tropical a garantir a sua
independência em 1957 e uma das que melhor desenvolvida se encontrava uma boa
qualidade de recursos naturais e um povo com um nível de educação relativamente
elevado.
Em 1966 os oficiais do exército decidiram que a situação fora longe demais e ocuparam o
poder numa altura em que Nkrumah se encontrava fora do país.
‘‘ Nem sempre os conflitos internos dos estados independentes de África foi uma
consequência de os colonialistas terem reunido diferentes etnias sob uma única
administração colonial’’. (Fage, 1995:540).
105
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Foi o fim da guerra fria que tornou possíveis as reivindicações e pressões internacionais
para a transição democrática na África Sub Sahariana. O desmantelamento do complexo
militar – industrial soviético, o abandono da região pelas potências ocidentais que lhe
opunham, deu um forte impulso ao assomo da democracia.
A falta de gestão de recursos nacionais (estatais ou não), aliada a queda secular dos preços
internacionais das matérias primas em que a África se especializou desde o tempo
colonial e à qual não se conseguiu furtar, tem conduzido os países os países da África sub
sahariana ao endividamento e a uma crise económica que os remete, em desespero de
causa, para os programas de ajustamento estrutural – PAE (Consenso de Washington).
Razões pelas quais a afirmação democrática é identificada devido das crises económicas,
políticas e sociais vividas pelos africanos.
Outros factores que dificultam a democracia em Ghana são: a corrupção dos dirigentes
africanos, fraudes eleitorais, racismos entre tribos dentro de uma nação, desnível
económico dentro de um território, ditaduras e manutenção no poder de forma vitalício.
13.1.3- No Burundi
No Burundi, antes da era colonial, as aristocracias de pastores dos tutsis haviam imposto a
suserania à populações rurais maioritárias hutus. Estas suseranias perpetuaram-se por sua
vez no período colonial. Com o advento da independência este caso, levou a uma
considerável violência.
106
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
A monarquia tutsi continuou a vigorar até 1966, altura em que foi derrubada por um golpe
que levou um oficial tutsi general Mikombelo a presidência.
Esta revolução libertou também as tenções étnicas no Uganda entre as etnias nilóticas
atrasadas em termos económicos e menos instruídos com as etnias bantas do sul de reinos
avançados.
Um dos grandes factores que dificultam a democracia no Burundi são: a corrupção dos
dirigentes africanos, fraudes eleitorais, racismos entre tribos dentro de uma nação,
desnível económico dentro de um território, ditaduras, manutenção no poder de forma
vitalício e oportunidade de emprego de uma tribo em detrimento doutra.
13.1.4-No Ruanda
Os mais antigos humanos que se conhecem no Ruanda parecem ter sido os pigmeus twa,
que actualmente compreendem cerca de 1% da população deste país. Os hutus e tutsis são
povos bantus que provavelmente se instalaram na região durante a expansão Bantu. A
partir do século XV, os tutsis passaram a dominar a sociedade através duma aristocracia
que tinha à frente um Mwami (rei).
Ao contrário dos seus vizinhos, o Ruanda, que era um reino centralizado, não teve a sua
“sorte” decidida na Conferência de Berlim (de 1885) e só foi entregue à Alemanha
(juntamente com o vizinho Burundi) em 1890, numa conferência em Bruxelas, em troca
do Uganda e da ilha de Heligoland. No entanto, as fronteiras desta colónia – que, na altura
incluíam também alguns pequenos reinos das margens do Lago Vitória – só foram
definidas em 1900.
107
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Após vários anos de instabilidade, em que o governo tomou várias medidas de repressão
contra os tutsis, em 5 de Julho de 1973, o major general Juvénal Habyarimana, que era
ministro da defesa, destituiu o seu primo Grégoire Kayibanda, dissolveu a Assembleia
Nacional e aboliu todas as actividades políticas. Em Dezembro de 1978 foram
organizadas eleições, nas quais foi aprovada uma nova constituição e confirmado
Habyarimana como presidente, que foi reeleito em 1983 e em 1988, como candidato
único mas, em resposta a pressões públicas por reformas políticas, Habyarimana anunciou
em Julho de 1990 a intenção de transformar o Ruanda numa democracia multipartidária.
No entanto, nesse mesmo ano, uma série de problemas climáticos e económicos geraram
conflitos internos e a Frente Patriótica Ruandesa (RPF), dominada por tutsis refugiados
nos países vizinhos lançou ataques militares contra o governo hutu, a partir do Uganda. O
governo militar de Juvénal Habyarimana respondeu com pogroms genocidas contra os
tutsis. Em 1992 foi assinado um cessar-fogo entre o governo e a RPF em Arusha,
Tanzânia.
108
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Paul Kagame ficou como vice-presidente e Pasteur Bizimungu como presidente mas, em
2000, os dois homens fortes entraram em conflito, Bizimungu renunciou à presidência e
Kagame ficou como presidente. Em 2003, Kagame foi finalmente eleito para o cargo, no
que foram consideradas as primeiras eleições democráticas depois do Genocídio.
Entretanto, cerca de 2 milhões de hutus refugiaram-se na República Democrática do
Congo, com medo de retaliação pelos tutsis. Muitos regressaram, mas conservam-se ali
milícias que têm estado envolvidas na guerra civil daquele país.
13.1.5-No Uganda
Com a independência de 1962 Milton Obote, dirigente nortenho, alcança uma aliança com
Kabak o dirigente de buganda do sul. Obote irá ocupar a pasta de primeiro ministro e
kabaka a de presidente. Obote não podia se sentir seguro com kabaak o qual gozava
prestígio no reino dos bugandas. Em 1966 utilizou as tropas do exército do Uganda
recrutados no norte sua região para eliminar reinos dos bugandas e obrigar kabaka a partir
para exílio “ao servir-se do exercito para perturbar a autoridade instituída Obote
arranjava assim lenha para queimar a si mesmo”, (fage,1995:541).
109
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Em 1971 o oficial que comandara o ataque ao palácio do kabaka, o general Idi Amin,
igualmente natural do norte tal como a maior parte dos seus soldados derrubou-o e
assumiu o poder. Amin usou o poder de forma mais arbitrária do que obote e tornou-se
impaciente no uso da força para liderar com os opositores e críticos reais e imaginários do
seu regime. Expulsou os asiáticos que dominavam o comércio e a indústria o que resultou
na ruína económica e destruição das cidades e desordem em todo o país. Em 1978
desesperado ordenou a invasão à Tanzânia.
Fracassado este tento a Tanzânia invadiu por sua vez a Uganda e em escassos meses
Amin foi obrigado a fugir; e Obote retomou o poder. Em 1980 são convocadas as eleições
em que Obote declara ter vencido. Dois anos depois os soldados tanzanianos são
completamente retirados do país; eis que Uganda volta a ser palco de banditismo armado
e devastação. Incapaz de controlar a situação, em 1975 Obote é derrotado pelo general
Okello o nortenho nos moldes de Amin. Contudo, a situação veio a seu tavão com um
experiente líder de guerrilha do oeste do Uganda yoweri Museveni, que em 1986 derrotara
todos os seus rivais tomando de captura a capital Campala o qual viu-se então confrontado
com a tarefa de restituir a ordem e o progresso a um país devastado e dividido.
_________________________________________________
Sumário
O Gana, fora das primeiras colónias da África tropical a garantir a sua independência em
1957 e uma das que melhor desenvolvida se encontrava uma boa qualidade de recursos
naturais e um povo com um nível de educação relativamente elevado. Gana demonstrara
perfeitamente capaz de explorar estes recursos e de gerir os seus próprios recursos.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Foi gasta aqui uma parte substancial das reservas do país em projectos que deram mais
prestígio do que rendimentos, e outros líderes que colocavam os seus interesses acima dos
interesses do país.
No Burundi, como no Ruanda, antes da era colonial, as aristocracias de pastores dos tutsis
haviam imposto a suserania à populações rurais maioritárias hutus. Estas suseranias
perpetuaram-se por sua vez no período colonial. Com o advento da independência este
caso, levou a uma considerável violência.
Com a independência de 1962 Milton Obote, dirigente nortenho, alcança uma aliança com
Kabak o dirente de buganda do sul. Obote irá ocupar a pasta de primeiro ministro e
kabaka a de presidente. Obote não podia se sentir seguro com kabaak o qual gozava
prestígio no reino dos bugandas. Em 1966 utilizou as tropas do exército do Uganda
recrutados no norte sua região para eliminar reinos dos bugandas e obrigar kabaka a partir
para exílio “ao servir-se do exercito para perturbar a autoridade instituída Obote
arranjava assim lenha para queimar a si mesmo”, (fage,1995:541).
________________________________________________
Actividades
EXERCÍCIOS:
2 – Quais foram as causas que levava muitos golpes de estado dos dirigentes Ganenses?
3 – Quais são as causas que desencadearam guerras as duas tribos tribos Ruandesas e
Burundesas?
111
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
_____________________
Unidade XIV
14.1. As Democracias no Sudão, Marrocos, Chade e na Nigéria
________________________________________
Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam a partir de que ponto se pode afirmar
que os funcionários públicos tinham se tornado em cortesãos ou criaturas do chefe de
estado.
Objectivos
4 – Explicar até que ponto o tribalismo é um dos motivos da divisão da Nigéria em vários
estratos sociais.
112
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Desenvolvimento do tema
14.1.2- No Sudão
A semelhança de Uganda, o Sudão, maior pais de África conseguiu a sua independência
em 1956, mas este país sofre uma divisão natural entre o norte predominantemente
muçulmano e o sul região da população predominantemente nilótica como prolongamento
da população nilótica do norte de Uganda seu vizinho a sul. Tem se referido que se
evitariam muitos problemas e salvaria muitas vidas se a metade do norte de Uganda se
tivesse unido com a metade do sul de Sudão.
Esta sugestão é evocada pelo facto desta região ser habitada por populações de etnia
nilótica. Pelo que a sua junção no único estado poderia obviar a muitas das lutas civis e
derramamento de sangue que ocorreram em ambos os países desde a independência.
Conseguiu repor o governo eficaz no norte do Sudão, mas nem mesmo com o auxílio do
seu exército logrou fazer qualquer progresso nas províncias do sul, onde começaram uma
rebelião em 1955 quando os oficiais britânico foram substituídos por sudaneses do norte.
Em 1964 após greves em Cartum Abboude entregou o poder aos civis os quais
procuraram garantir a paz no sul fazendo alguma amnistia, mas que não resolveu o
problema. Essa insatisfação social levou a que em 1969 um grupo de jovens oficiais
ocupasse o poder liderado por coronel Niameiry que se tornou presidente em 1971.
Niameiry procurou conquistar o sul por campanhas militares. Para além de ter falhado a
sua opção provocou muita morte e grandes hostilidades particularmente com os cristãos.
Dessa forma recorreu a negociações e em 1972 foi assinado um acordo que atribuiu uma
autonomia ao sul. Apesar de tudo nunca cessaram as rivalidades com o governo de
Cartum tendo recrudescido nos finais da década de 70, altura em que Niameiry decidiu
que a lei islâmica iria substituir o sistema legal baseado na lei inglesa até então vigente no
Sudão.
113
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
14.1.3- Em Marrocos
O rei Hassan de Marrocos reivindicava que o seu país possuía direitos históricos a todo o
território e não estava interessado em ver metade dele ir para a Mauritânia, como
propusera a Espanha em 1975. Por outro lado, os seus 70 000 habitantes nómadas não
viam necessidades de lhes ser imposto qualquer governo, quer por parte de Marrocos quer
pela Mauritânia.
Por conseguinte, em 1976 criaram a frente polisário para lutar por uma república
democrática árabe saraui. Contaram com o apoio da Argélia depois da queda do governo
civil em 1978, três anos depois a Mauritânia reconheceu a frente polisário e, em 1984
reconheceu a república democrática árabe saraui.
114
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
constante perda de vidas de alguns povos mais pobres da África, e também a destruição de
grande parte do que tinham conseguido fazer para melhoria de vida e garantir um futuro
também melhor. Marrocos e um pais conservador, governado pelo rei Hassan, a maioria
da população professam a religião Islâmica e actualmente não é membro da União
Africana por razões de conflitos com a Sahara Ocidental.
14.1.4- No Chade
O Chade, vizinho do Sudão a oeste enferma a mesma divisão com os pastores nómadas
muçulmanos do norte e os agricultores cristãos do sul. Aqui as vantagens de riqueza
encontraram-se no sul, e com a chegada da independência em 1960 foram os sulistas que
dominaram a Sena política em 1967 os nortenhos rebelam em 1970 havia uma guerra
aberta em que os nortenhos eram apoiados por kadhafi que pretendiam alastraram as suas
fronteiras até a África negra.
14.1.5-Na Nigéria
A Nigéria alcançou a sua independência em 1960 como uma federação de três regiões: o
norte o oeste e o leste. As crises políticas sociais que se alastraram desde a independência
provocaram ondas de greve a partir de 1964 mesmo os altos funcionários públicos
federais ficaram alarmados com o que se sucedia no seu país. Consequentemente, no
principio de 1964 jovens oficiais do exército aceitavam a levar a efeito de um golpe do
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
A disciplina militar viria a ser reposta por um general nortenho Gowon, mas muitos Ibos a
operarem quer na administração, serviços, comércio são atacados, cerca de 1000.000
refugiam –se para o sul e leste, regiões já densamente povoadas.
Dentro desta crise em que o governador militar do leste (um Ibo) coronel Ojukwu
anunciou que a Nigéria oriental sairia da federação como estado independente da Biafra.
Passado um mês eclodia a guerra civil. Devido a crise alimentar, falta de abastecimento
em armamento etc, a resistência Biafrense fracassou; Ojukwu põe-se a fugir e os
Biafrenses renderam-se. Gowon (o nortenho) e o seu governo esforçaram –se por
reconciliar–se com a nova Nigéria que esperava ajudar a construir, mas não resolveu
muito dos novos problemas suscitados pela reconstrução.
Em 1975 Gowon viu–se obrigado a deixar o poder para o general Murtala Muhammad
(nortenho) que deixou o povo satisfeito por levar o governo aos civis. Murtala é
assassinado em 1976. Em 1979 é aprovada uma nova constituição muito complexa que
aprova um presidente executivo e nada menos de 19 estados federados.
Tanto com os civis como com os soldados, ambos assumiam semelhante à de monarcas
divinos apresentando-se como os pais de uma nação de onde fluía toda a bondade.
116
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
‘‘Em última análise os assuntos da nação estavam todos nas mãos do seu líder. Seguiu-se
que os ministros e outros funcionários deixavam de ser responsáveis por qualquer
opinião pública, parlamento, gabinete ou mesmo conselho militar, mas tinham se tornado
criaturas do chefe de estado governante. Na verdade tornaram-se cortesãos dependentes
pessoalmente dele e não de qualquer sistema institucional, tanto no que se refere as
remunerações como dos privilégios do cargo. Obviamente que semelhante sistema, só
podia ser corruptora, se o governante ou os seus subordinados, ou ainda ambos olhassem
pelos seus interesses e não pelos da nação, caso em que a situação acabava por só ser
remediada mediante recurso à violência, (FAGE, 1995:546).
A Nigéria foi dominada por um regime militar na maior parte dos 47 anos desde que se
tornou independente do Reino Unido.
Nos últimos oito anos de democracia mais de 50 partidos políticos foram formados pelo
país. Os principais são o partido que está no poder o Partido Popular Democrático (PDP),
o maior partido da oposição o Partido Popular de Todos os Nigerianos (ANPP) e o
Congresso da Acção (AC). O Presidente Olusegun Obasanjo - um ioruba e cristão do sul -
é um veterano militar e da elite política. Ele ganhou estatuto no estrangeiro e é
responsável por liquidar a dívida estrangeira, bem como a corrupção que estavam a
afectar a economia do país.
Mas muitos nigerianos queixam-se que não tem havido progressos nas infra-estruturas
básicas como a luz, água e saneamento básico. Outro dos aspectos negativos apontados
pela população é a dificuldade de arranjar emprego e a escalada dos preços.
Após a eleição de Obasanjo em 1999, uma nova Constituição foi aprovada que garante
que haja eleições de 4 em 4 anos. Obasanjo ganhou em 2003, muito embora as eleições
tenham sido consideradas falseadas. O Partido Popular Democrático (PDP) que está no
poder, fortaleceu a sua posição tanto na Assembleia Nacional e nos 36 estados que
constituem a Nigéria, 31 dos quais têm governadores do partido do governo.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Atiku Abubakar quer candidatar-se pelo partido do Congresso da Acção, mas foi
impedido de o fazer por acusações de corrupção que ele nega. O Supremo Tribunal
decidiu que a Comissão de Eleições não tem poder de impedir que nenhum candidato
concorra ao lugar. Resta agora saber se haverá tempo para que Abubakar avance com a
candidatura, por questões logísticas. Já foram feitos os quase 60 milhões de boletins de
voto para os eleitores nigerianos.
Um dos maiores progressos políticos dos últimos oito anos é que o exército foi
politicamente neutralizado. Quaisquer generais com ambições políticas foram afastados e
outros têm estado num esquema de rotação que os impede de se agarrarem ao poder. A
nova geração de oficiais são profissionais e, pela primeira vez em décadas, todos os
observadores concordam que um golpe militar é pouco provável.
Um dos grandes factores que dificultam a democracia na Nigéria são: conflitos religiosos
entre o norte muçulmano e o sul cristão, oportunidade de emprego de algumas tribos em
detrimento doutras, a corrupção dos dirigentes, ditaduras, fraudes eleitorais, racismos
entre tribos dentro de uma nação, desnível económico dentro de um território e
manutenção no poder de forma vitalício.
118
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
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Sumário
O Chade, vizinho do Sudão a oeste enferma a mesma divisão com os pastores nómadas
muçulmanos do norte e os agricultores cristãos do sul.
O rei Hassan de Marrocos reivindicava que o seu país possuía direitos históricos a todo o
território e não estava interessado em ver metade dele ir para a Mauritânia, como
propusera a Espanha em 1975. por outro lado, os seus 70 000 habitantes nómadas não
viam necessidades de lhes ser imposto qualquer governo, quer por parte de Marrocos
quer pela Mauritânia.
A Nigéria alcançou a sua independência em 1960 como uma federação de três regiões: o
norte o oeste e o leste. As crises políticas sociais que se alastraram desde a independência
provocaram ondas de greve a partir de 1964 mesmo os altos funcionários públicos
federais ficaram alarmados com o que se sucedia no seu país. Consequentemente, no
princípio de 1964 jovens oficiais do exército aceitavam a levar a efeito de um golpe do
estado
119
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
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Actividades
EXERCÍCIOS
1 – Qual foi a primeira causa das rivalidades entre as tribos muçulmanas do norte e as
nilóticas do sul do Sudão?
4 – Diga desde quando a Nigéria passou ter mais de 19 estados federais e corruptos e qual
é a causa desta corrupção?
120
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade XV
As Mudanças Políticas no Continente e em Moçambique
Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar todos os processos que
desde a década de noventa levaram a mudanças generalizadas nas democracias africanas e
em Moçambique em particular. Trata-se de forma duma abordagem sobre a evolução das
políticas africanas do período pós-guerras frias.
Objectivos
15.1.1-Desenvolvimento do tema
A Organização da Unidade Africana (OUA) foi criada a 25 de Maio de 1963 em Addis
Ababa, Etiópia, por iniciativa do Imperador etíope Haile Selassie através da assinatura da
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
122
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
15.1.2-Desafíos de África
O fenómeno da globalização intensifica a concorrência entre as economias, a cada dia que
passa colocando desafios a muitas regiões como um todo. A China e a Índia são, de facto
exemplos extraordinários das oportunidades proporcionadas pela Globalização. Os
benefícios proporcionados pela ajuda externa e pela Globalização sob a forma de
Investimento Directo Estrangeiro, maior integração dos mercados e ganhos de eficiência
das empresas, têm permitido a África uma transição para patamares superiores de
desenvolvimento e reforço da sua competitividade.
Contudo este projecto fracassou devido, por um lado, às hostilidades dos países vizinhos
sob dominação branca (Rodésia do sul e África do sul), todos contra os ideais marxistas
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
encarados pela elite no poder e, por outro, a situação económica e social de Moçambique
então precária.
Ainda, a saber, o novo governo tomou uma série de medidas: construção de uma
economia moderna baseada na agricultura mecanizada e no aumento das indústrias; a
extensão do acesso à saúde e à educação a todos os cidadãos; substituição nas aldeias dos
antigos chefes (régulos) por presidentes e secretários; substituição dos antigos tribunais de
chefes e anciãos por tribunais de justiça locais; desencorajamento das expressões de
etnicidade.
Estas medidas deram uma grande confusão e violência que provocou êxodo dos colonos,
trabalhadores especializados e profissionais negros e indianos e ainda o abandono dos
gestores portugueses, levando ao declínio dos preços. Simultaneamente a África do sul
começou a dispensar trabalhadores moçambicanos fazendo secar o fluxo de capital das
receitas do Rand.
Estes factores adicionados aos climáticos vieram provocar uma profunda recessão
económica. Contra estes novos desafios, a FRELIMO reagiu nacionalizando as empresas
portuguesas abandonadas e as propriedades da igreja católica e instalando equipas
administrativas para as pôr em funcionamento.
De referir que no mesmo ano é formada a SADCC, e, nos EUA subia ao poder Ronald
Reagan. Foram estes factores que vieram mudar o equilíbrio de forças, até então
existentes. O novo presidente sul-africano, com o apoio das SADF prepara ataques
directos a países vizinhos, visando impedir que a SADCC se tornasse uma força
económica na região.
Para tal África do Sul destruiu os caminhos-de-ferro e as pontes que ligavam os países da
SADCC ao mundo exterior levando consequentemente à dependência desses países aos
caminhos de ferro e às pontes sul-africanas. O objectivo desta desestabilização centrava-
124
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
________________________________________________
Sumário
125
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Actividades
Entregar os exercícios: 3, e 4.
EXERCÍCIOS
126
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade XVI
NEPAD e as Novas Vontades Políticas dos Líderes Africanos
Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam dar o conceito da Nepad, seus
objectivos, sua relação com o Parpa e conhecer as novas vontades dos líderes africanos
rumo a implementação e preservação das democracias multipartidárias no continente.
Objectivo
16.1.1-Desenvolvimento do tema
Conceito da NEPAD - Nova parceria para o desenvolvimento de África é uma promessa
dos líderes africanos, baseada numa visão comum e convicção firme partilhada de que
eles têm a missão urgente de erradicar a pobreza absoluta e colocar os seus países,
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
128
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
16.5. Metas
- Realizar e suster uma média de taxa de crescimento do produto bruto (PIB), acima dos
7% anuais nos próximos quinze anos;
b) Reduzir em metade a proporção das populações que vivem em extrema pobreza entre
1990 e 2015
129
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
- Construção da capacidade das instituições para a área de alerta precoce, bem como a
elevação da sua capacidade de prevenção, gestão e resolução de conflitos.
_________________________________________________
Sumário
Conceito da (NEPAD) = New Partnership for Africa's Development. Nova Parceria para
o Desenvolvimento de África. Tem financiamento do BAD, Banco Árabe, FMI, BM etc.
Nova parceria para o desenvolvimento de África é uma promessa dos líderes africanos,
baseada numa visão comum e convicção firme partilhada de que eles têm a missão
urgente de erradicar a pobreza absoluta e colocar os seus países, individual e
colectivamente, na via do crescimento sustentável e do desenvolvimento e ao mesmo
tempo participarem activamente na economia mundial e na vida política.
130
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
As relações existentes entre NEPAD e PARPA são que as duas assentam no conjunto de
relações paralelas no que respeita o combate a pobreza absoluta. O PARPA é fruto de uma
conjuntura do governo moçambicano, nos âmbitos das linhas de acção para a redução da
pobreza absoluta especificamente em Moçambique.
_________________________________________________
Actividades
EXERÍCIOS
1 – Dê o conceito da NEPAD.
131
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade XVII
PARPA e as suas relações com NEPAD
Introdução da unidade
O contexto tratado nas relações entre o PARPA e NEPAD, constitui a parte complementar
da anterior unidade visando detalhar os pontos de focalização de cada uma e as áreas de
paralelismo das duas. É deste modo que achamos que os estudantes poderão perceber e
explicar melhor as suas diferenças.
Objectivos
132
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
17.3. Metas
Reduzir o nível de pobreza absoluta em 30% em dez anos contados a partir da sua
fundação.
133
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Tem grande impacto na NEPAD no que concerne a objectivos ( a longo e médio prazo,
metas , linhas de acção etc.), complementando assim os objectivos da NEPAD, pois esta
tem uma actuação globalizante contra os males que enfermam o continente. Juntam – se
desta maneira ao combate da pobreza as ambas partes incluindo áreas de saúde educação
agricultura etc., e a NEPAD, sem limitações busca apoios externos para garantira
credibilidade de seus projectos a longo prazo.
134
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
_________________________________________
Sumário
Tem como metas – Reduzir o nível de pobreza absoluta em 30% em dez anos contados a
partir da sua fundação, particularmemte para regiões que apresentam elevados índices de
pobreza ou que concentrem maior número de pessoas pobres.
__________________________________________
EXERCÍCIOS
Actividades
1.Fazer um resumo que abarca a evolução das políticas dos governos africanos de hoje e
as organizações que estão sendo fundadas no continente tendentes a redução da pobreza
em duas páginas.
135
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade XVIII
18.1. Acumulação Centralizada no Estado como Estratégia de
Desenvolvimento em Moçambique Independente
Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar as causas e as consequências
da centralização da economia em Moçambique.
Objectivos
136
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
18.1.1-Desenvolvimento do tema
Inspirando-se na sua base de apoio durante a luta pela libertação nacional, e acreditando
poder resolver os problemas de subdesenvolvimento a médio prazo, Moçambique optou
por um sistema de economia central visando rentabilizar os escassos recursos humanos,
financeiros e materiais, em termos de capacidade de gestão macroeconómica e
investimentos de carácter produtivo. Foram formuladas as primeiras políticas de
desenvolvimento económico e social em Fevereiro de 1977, durante a realização do III
Congresso da FRELIMO, que serviriam mais tarde de base para a elaboração e aprovação,
em 1979, do Plano Prospectivo Indicativo (PPI) para o período 1980-1990. O PPI era
definido como guia de acção e instrumento fundamental para a construção de uma
economia socialista relativamente desenvolvida. Para esse objectivo eram defendidos três
eixos centrais na materialização do PPI: (i) a socialização do campo e o desenvolvimento
agrário através do desenvolvimento acelerado do sector estatal agrário (com base na
grande exploração agrária e na mecanização, a realizar principalmente através dos grandes
projectos) e na cooperativização do campo (transformação de milhões de camponeses
num forte campesinato socialista edificado sob novas relações de produção; fortalecer,
expandir e apoiar a criação de cooperativas e envolver os camponeses num modo de vida
colectiva nas Aldeias Comunais); (ii) a Industrialização, com maior enfoque no
desenvolvimento da indústria pesada; e (iii) a formação e qualificação da força de
trabalho, através da adopção de normas e metodologias que permitisse a massificação da
formação dos trabalhadores, incluindo a alfabetização e educação de adultos (FRELIMO,
1980).
137
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
período o objectivo era atingir meta de produção física, sendo assim garantidos os
balanços materiais para o cumprimento dos objectivos centrais do sistema de planificação
centralizada que buscava o equilíbrio entre a oferta e a procura de recursos escassos entre
a oferta e a procura de produção nos diferentes sectores da economia e entre consumo e
investimento. Em fim, a eficiência económica era medida pela quantidade produzia.
Num contexto em que a economia depende da importação das tecnologias quer extensiva
(máquinas) quer intensivas, logicamente que quanto mais máquinas se importarem, menos
sementes melhoradas, pesticidas, herbicidas, fertilizantes, etc., também se importam.
Portanto é claro que as máquinas permitem aumentar a extensão da área sob cultivo, pelo
que também a procura de outros insumos.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
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Sumário
140
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Pode se concluir-se que foi por isso muitas cooperativas enfrentaram o problema
endémico da falta de força de trabalho nos períodos de pico.
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Actividades
EXERCÍCIOS
141
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
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Unidade XIX
Resistência Nacional de Moçambique como resultado de
Conflictos Políticos em Moçambique
Introdução da unidade
A RENAMO começou por ser um instrumento de agressão externa por parte dos que se
opunham à autodeterminação dos africanos negros, dos que lutavam contra o alastramento
do comunismo e dos que combatiam ambas as tendências. Fugidos da descolonização
moçambicana, alguns ex-colonos e militares refugiaram-se na Rodésia, onde se
estabelecera um governo racista condenado pela comunidade internacional. Seria a partir
dos refugiados do antigo regime colonial português e de jovens europeus fanáticos, de
tendência neo-nazi, que o Central Intelligence Office da Rodésia recrutaria os primeiros
membros da RENAMO. Para a Rodésia branca, era urgente, sob risco de sufocação
económica e política, enfraquecer o regime de Maputo. A esses receios juntou-se
desconforto da África do Sul, incomodada com a vizinhança de um regime de tendência
comunista que proferia discursos contra o apartheid. Os sul-africanos investiam na criação
em seu redor de um cordão sanitário 10 de estados neutrais e até coniventes com a
segregação racial.
Objectivo
142
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
19.1.1-Desenvolvimento do tema
Bandeira da Renamo = Resistência Nacional de Moçambique
A Guerra Civil Moçambicana, também conhecida como "guerra dos 16 anos" ou "guerra
de desestabilização de Moçambique" foi um conflito armado que opôs o exército de
Moçambique à Renamo, entre 1976 e 1992, tendo terminado com a assinatura do Acordo
Geral de Paz, a 4 de Outubro daquele ano.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Pouco tempo depois, para além de intensificarem os ataques contra estradas, pontes e
colunas de abastecimento dentro de Moçambique, os rodesianos ofereceram aos
dissidentes moçambicanos espaço para formarem um movimento de resistência - a
"Resistência Nacional Moçambicana" ou RENAMO - e criarem uma estação de rádio
usada para propaganda antigovernamental.
144
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
A guerra, porém, só terminou em 1992 com o Acordo Geral de Paz, assinado em Roma a
4 de Outubro, pelo Presidente da República, Joaquim Chissano e pelo presidente da
RENAMO, Afonso Dhlakama, depois de cerca de dois anos de conversações mediadas
pela Comunidade de Santo Egídio, uma organização da igreja católica, com apoio do
governo italiano.
_____________________________________________
Sumário
145
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
se concordava com o não apoio a insurreição armada nos dois países, visando – se à
coexistência, o respeito mútuo e as relações e boa vizinhança.
O conflito só conheceria o princípio do seu fim em 1992 com a assinatura dos acordos de
paz em Roma a 4 de Outubro.
________________________________________
Actividades
Entregar os exercícios: 2, e 3.
EXERCÍCIOS:
2 – Apesar dos acordos assinados em Incomate entre o presidente Samora Machel e Piter
Bota, a África do continuou a apoiar a guerrilha em Moçambique. Indica duas razões.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
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Unidade XX
A Sociedade Moçambicana rumo ao Liberalismo
Introdução da unidade
Objectivos
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148
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Presidente da Frelimo e da
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Neste grupo encontramos o PCN (partido de convenção nacional), FAP (frente de acção
patriótica); e finalmente, (4) o grupo dos restantes partidos, cujas origens se situam,
nalguns casos, nos meios dos emigrantes moçambicanos nos países da África oriental em
particular no Quénia. Deste grupo fazem parte COIMO (congresso independente de
Moçambique), PADELIMO (partido democrático da libertação de Moçambique),
PAFEMO (partido federal moçambicano), PPPM (partido do progresso do povo
moçambicano), MDM (Movimento Democrático de Moçambique).
Por outro lado, com vista a uma maior democratização política e participação dos
cidadãos na vida política e económica do pais, descentraliza-se o poder para níveis mais
locais. Este facto foi efectivado através de criação de autarquias dos municípios. Em 1998
foram realizadas pela primeira vez eleições com vista a eleição dos presidentes
municipais.
Sumário
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Actividades
EXERCÍCIOS
a) Explica por tuas palavras porque razão a Rodésia e a África do Sul esteve associado à
consolidação deste movimento?
3.1- Diz-se que após as independências concluiu-se que as políticas partidárias eram um
luxo dispendioso a que as nações em via de desenvolvimento realmente não se podiam
dar.
3.2- De sublinhar que entre estes partidos não há uma diferenciação político - ideológica
clara; aliás, fazendo uma análise cuidadosa dos seus programas políticos conclui-se que
não existem diferenças fundamentais.
a) Faça uma abordagem sobre as democracias em África partindo dessas duas frases.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Unidade XXI
21.-A Cultura, a revolução tecnológica e o desenvolvimnto
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Introdução da unidade
Objectivos
21.1.-Desenvolvimento do tema
Após um tardio desenvolvimento das artes em Moçambique devido ao colonialismo, com
a independência os artistas moçambicanos passaram a reflectir sobre as mudanças sociais,
culturais do seu país, passando a expressar nas suas artes a sua africanidade e uma
crescente interacção entre os artistas dos outros países dentro do continente.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
A criação de escolas de arte que levaram ao aparecimento de mais artistas que, a partir
dos meios e técnicas aprendidas nas escolas de arte europeia e com a recuperação das
formas artísticas tradicionais os artistas alcançaram uma menor dependência de temas e
formatos europeus;
As escolas de belas artes incentivaram os alunos a apreciar nas artes plásticas da África a
sua expressividade e sofisticação formal e uma maneira de afirmarem a sua identidade
Africana.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Estudos Brasileiros que contava com duas galerias de arte, uma destinada a exposição
permanente e outra a exposições temporárias, uma biblioteca, um centro de documentação
e um laboratório de línguas.
Contudo, há que destacar, na cidade da Beira, a Casa de cultura da Beira que serviu e
serve como principal ponto de promoção e divulgação da arte e cultura local. Actualmente
na Beira, para além da casa de cultura temos também o centro cultural português e
diversas galerias espalhadas ao longo da cidade.
21.1.3.-Revolução Tecnológica
É a integração da ciência á tecnologia e produção, é o uso de novas tecnologias na
produção e na fabricação de novos produtos a serem consumidos pela sociedade, seja na
indústria, agricultura, comércio em serviços do dia-a-dia de forma positiva ou negativa.
Com a progressiva era da tecnologia aliada ao paradoxo fraco domínio das mesmas,
resultante da inacessibilidade pela grande população Africana, reduz as esperanças do
continente de poder vir tomar parte activa, pelo menos a curto e médio prazo, no processo
de desenvolvimento e integração económica mundial.
Gerar uma massa crítica de perícia tecnológica em áreas visadas que oferecem alto
potencial de crescimento, nomeadamente na biotecnologia e nas ciências naturais;
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
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Sumário
O surgimento de uma nova forma de expressão artística que resulta da síntese de duas
culturas, ou seja, meios e técnicas apreendidas nas escolas europeias e com a recuperação
das formas artísticas tradicionais;
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Os artistas como Noémia de Sousa e Bertina Lopes fazem uma crítica social e protesto em
termos temáticos, e também pela forma de suas linguagens, negando a civilização imposta
pelo colonialismo ocidental.
Mia Couto e Naguib procuram nas suas obras tocar a sensibilidade e emoção,
problematizando a importância do amor, paz, amizade, solidariedade, tolerância entre
outros valores existências que desapareceram com o colonialismo e as guerras, mas que
podem ser outra vez semeados nos moçambicanos.
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Actividades
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Unidade XXII
22.1-As manifestações culturais em em Moçambique no
período pos-independência
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Introdução da unidade
Objectivos
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Desenvolvimento do tema
Contextualização
Actualmente enquanto algumas nações africanas lidam com o colonialismo e com novas
realidades sócio-económicas, os discursos doa artistas mudou.” Os artistas adoptaram
atitudes e estratégias que reflectem um crescente desencanto e ansiedade face ao
continuado fracasso sócio-políticos, assim como o impacto da gradual movimentação dos
artistas para além das fronteiras nacionais.
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22.1.2.-A Escultura
Conceitualização
Mouro apud citado Chorão (1999:827) refere-se a escultura como sendo: “A arte de
conceber e construir tridimensionais destinada geralmente, a serem vistas de forma e que
tenham uma ou vária das seguintes características: Representar objectos naturais ou
imaginários, representar um objectivo de forma tridimensional, sugerir ideias gerais,
sentimentos ou outros géneros de experiência.”
Neste sentido, a escultura destaca-se como sendo uma das artes mais antigas, com
produtos registados desde do paleolítico, onde destacava-se a utilização da argila,
madeira, pedra, bronze, pedras preciosas, cerra, ferro, e outros.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
fig 1 ( A
22.1.4- A Pintura
Quando se fala da pintura em Moçambique é quase que inevitável que se toque no nome
de Malangatana Valente Ngwenya e também por Naguib Elias Abdula.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Figura 15
Com uma vastíssima obra, Malangatana, de acordo com a mesma fonte, efectuou a
primeira exposição individual, em 1961, no Maputo, e a primeira aparição pública foi
numa colectiva em 1959, também nesta cidade, desde então nunca mais deixou de
produzir. Pintura, desenho, aguarela, gravura, cerâmica, tapeçarias, escultura, murais, de
tudo tem experimentado. Os seus trabalhos são expostos no estrangeiro (Nigéria,
Salisbúria, Cidade do Cabo) e a sua obra consolida-se. Passou ano e meio nas prisões
coloniais por motivos políticos. Após, a Independência envolve-se na actividade política,
pelo que o ritmo da sua criação diminui, pelo facto de estar em estado de reclusão.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
A sua obra, para além dos murais e das duas esculturas em ferro instaladas ao ar livre
(Pintura, Desenho, Aguarela, Gravura, Cerâmica, Tapeçaria, Escultura) encontra-se
exceptuando a vastíssima colecção do próprio artista, em vários museus e galerias
públicas, bem como em colecções privadas, espalhadas por inúmeras partes do Mundo
Naguib Elias Abdula destacou-se pela sua habilidade de desenhar com liberdade, e pela
ousadia e movimentos na forma de mostrarem as suas obras, em poucos traços, um
músico, dançarino e corpos femininos, silhuetas a encantar pela leveza e graciosidade.
Rostos e luas que se fundem, predomínio da cor azul, mulheres com diversos seios e
grafismos indígenas constroem uma atmosfera facilmente identificável como tribal, mas
marcada por um lirismo primordial. Não se trata de uma obra de cunho continental, mas
universal por meio da arte, superar limites com o próprio corpo, seja na pintura ou no acto
da dança.
A evocação de pinturas rupestres também se faz presente, lembrando a todo instante que a
capacidade humana de criar é ancestral onde qualquer ilusão de ser absolutamente original
não passa de vaidade. Este sentimento se contrapõe a humildade do artista ao colocar a
figura humana recheada de elementos Zoomórficos.
Pintas de galinhas do mato, ancas de girafa e zebra completam o corpo feminino num
exercício plástico que demanda uma renovada capacidade de ver.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
22.1.5.-Características
De modo geral a pintura no período após a independência pode-se caracterizar como
sendo revolucionária, principalmente nos primeiros anos de independência, muito pela
influência que o regime socialista exercia sobre a área cultural e artística do nosso país.
A pintura negra há, para lá da sua objectividade aparente, algo que procura ser um
testamento cultural transmitido de geração em geração.
Contudo, é importante dizer que as pinturas têm, por vezes, um papel deveras
importantes, principalmente não âmbito da educação cívica, principalmente no contexto
de obras que retratam enfermidades a qual a nossa sociedade está exposta, tal como as
cheias, o HIV/SIDA e outras.
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Sumário
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Segundo FREITAS ( S/d: 219) “ a Pintura é uma das artes plásticas constituída na
produção a cores, sobre um material, que tem sido mas vulgarmente a Madeira ou tela de
figuras, ou de ideias ou manchas de cores”.
Pode-se ainda referir-se a Pintura como a técnica de aplicar pigmento em forma liquida a
uma superfície a fim de cobri-la, atribuindo-lhe tons e textura.
Existem controvérsias no que diz respeito a definição da Pintura. Actualmente ela é vista
como a representação visual através das cores.
Read citado por Chorão (Op cit) refere que “Numa pintura podemos encontrar, conforme
a classificação, duas espécies de elementos: os materiais e os formais.
Os formais, são a linha, a cor, a luz e a sombra. A função principal, a linha, consiste em
criar numa pintura, ritmos e estrutura. A cor é o elemento essencial da pintura, a luz e a
sombra, são elementos complementares, a sua conjugação, chama-se claro-escuro e tanto
pode ter uma conjugação psicológica.
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Actividades
165
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Unidade XXIII
As manifestações culturais em Moçambique no período pos-
independência
Portanto, tal como as línguas diferem entre si também a Música ganha as suas variantes
específicas.
Objectivos
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23.1.1-Desenvolvimento do tema
Conceitos
Música – do grego musiké téchme, arte das musas, é uma forma de arte que se constituiu
basicamente em combinar uma sucessão de sons e silêncios agradável, ritmada e
organizada ao longo do tempo.
Dança – segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (s/d: 460), “são passos ou saltos
cadenciados, ao som e compasso da Música”.
23.1.2- Contextualização
Vários factores contribuíram para esta diversidade de tradições musicais e dançantes. Os
factores ambientais dentro dos quais os povos de Moçambique se desenvolveram não
eram os mesmos, nem as suas tradições históricas haviam seguido o mesmo caminho. A
cultura daqueles que ocupavam o litoral tendia a ser diferente daqueles que ocupavam o
interior.
Nestes contactos, havia uma interacção cultural que resultava no empréstimo e adopção
de diferentes elementos culturais, incluindo instrumentos musicais.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
23.1.3- A Música
O contacto estabelecido com a Ásia e, principalmente, com a Europa, através da
colonização, deixou marcas profundas também no campo musical.
Porque a Música tradicional Moçambicana não podia ser utilizada nas Igrejas Católicas,
procurou-se activamente introduzir a Música cristã. De igual modo, a necessidade de
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
fornecer algum divertimento musical ocidental aos oficiais e burguesia colonial foi
resolvida pelas bandas da Policia e Militar pelos quais um número limitado de
Moçambicanos fora recrutado e treinado.
De forma semelhante foi introduzida a música ligeira ocidental. Para se alcançar esses
objectivos, tanto das missões e igrejas cristãs como o exército colonial encetou muitos
esforços para ensinar os princípios da música ocidental a moçambicanos.
O impulso criador dos membros dessas subculturas novas já num processo de afirmação
da personalidade africana encontrou saídas através de composições novas. Essas
desenvolviam-se de duas maneiras: uma delas é a música surgida da música ligeira
moderna que aparece, tal como noutros países africanos, na mesma época, enraizando-se
em ritmos e temas africanos como música de bailes de “boite”, nos casamentos, nas
festas, nos espectáculos e em outros lugares ou contextos de divertimento. As formas bem
conhecidas na África em geral são: highlife da África ocidental, kwaella da África do sul,
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Conjunto João Domingos Elisa gomara saia (eis um dos clássicos da Marrabenta)
1
Rádio de Moçambique Estatal
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23.1.7. A Dança
A dança surgiu praticamente junto com a humanidade, tendo, no princípio, um aspecto
mágico, quase irracional, e constituindo-se como uma forma de contacto com o
sobrenatural. No entanto, a dança evoluiu, posteriormente para rituais religiosos, que
ainda mantinham o aspecto mágico. Por fim, na Grécia antiga, deixou de ser somente
utilizada com fins religiosos, sendo incorporada também às tragédias gregas.
A dança é uma das três principais artes cénicas da Antiguidade, ao lado do teatro e da
música. Caracteriza-se pelo uso do corpo seguindo movimentos previamente
estabelecidos (coreografia), ou improvisados (dança livre).
A dança pode existir como manifestação artística ou como forma de divertimento e/ou
cerimónia. Como arte, a dança se expressa através dos signos de movimento, com ou sem
ligação musical, para uns determinados públicos, que ao longo do tempo foi se
desvinculado das particularidades do teatro.
Portanto, a dança pode ter em muitas destas culturas um carácter sagrado, e em África
ainda o tem, embora o conceito do “sagrado” difira do conceito europeu, que é cunhado
por uma outra religião. Dançar, pôr o corpo em movimento, em vibração, significa uma
espécie de comunhão com as forças vitais, com tudo o que adoram, e o que temem; e,
além disso, une e reforça neste intuito a comunidade (dança de guerreiros, defesa contra
os perigos do mato). Dançar é uma necessidade que liga até os vivos aos espíritos dos
antepassados mortos e que facilita a comunhão com eles.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
A dança tem lugar em todas as cerimónias, como nos ritos da puberdade — as danças dos
vanalombo, mestres da circuncisão e a dança do mapiko — de investidura de iniciados em
poderes superiores — a dança dos vahumu — em ritos de passagem — a dança por
ocasião de um casamento, e, sobretudo em todas as cerimónias de exorcismo, onde o
curandeiro precisa de chamar à superfície as grandes forças vitais que ele, por meio de
vibração prolongada e simpática, procura influenciar; objectivo em que, sem dúvida, às
vezes é bem sucedido.
A dança moçambicana está profundamente enraizada na terra, não procura gestos que
abstraíam da vida natural e exprimam formas abstractas, estáticas e estéticas. Os gestos da
dança moçambicana não tomam posse de um vasto espaço diagonal, restringem-se mais a
uma posição básica, onde o tronco é levemente inclinado para frente, às pernas com uma
ligeira quebra nos joelhos, na posição de maior prontidão de reacção, e os braços fazendo
equilíbrio. À volta desta posição surgem as oscilações e, às vezes, ondulações e torções,
sustentados pelos passos rítmicos. Os dançarinos preenchem esta posição — às vezes
aparentemente parada — com virtuosismo de tremuras parciais dos músculos.
Sobre a coreografia das danças africanas ainda não podemos dar informação
pormenorizada. O assunto é vasto e está pouco estudado em Moçambique.
Marrabenta
Dança e género musical do sul de Moçambique e em particular no Maputo, surgiu no
inicio da segunda metade dom séc XX conhecida internacionalmente, Marrabenta teve
origem nos meios urbanos este género surgi de uma fusão de musica europeia com ritmos
tradicionais de Moçambique.
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A palavra marrabenta vem do verbo “rebentar” uma provável referência das guitarras
baratas cujas cordas rebentavam com facilidades. As letras das canções frequentemente
em línguas locais cantavam o amor, a vida quotidiana, a história de Moçambique, e
faziam também criticam sócias inerentes ao desejo de liberdade do povo moçambicano.
Por esta razão que governo português considerava a marrabenta a subversiva e difusora de
ideias revolucionárias ordenando muitas vezes o enceramento de locais onde esse tipo de
música era produzido.
A marrabenta foi fortemente associada a luta pela independência e por pouco teria
sucumbido com a pobre indústria musical e com a guerra civil dos anos 80 que se deu em
todo pais.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
A Primeira hipótese é que ela séria originária de Ancuabe, distrito próximo da região
costeira de Pemba – Matuge e Quissanga, tradicionalmente habitada por populações
Mwani, falantes de Kimwani, língua considerado pelos linguistas como sendo um dos
dialectos do Swahili.
A Segunda hipótese é de que ela teria sido trazida da Tanzânia por refugiados
Moçambicanos, durante a luta armada de libertação nacional.
Pensa-se que estes regressados teriam trazido consigo influencias culturais tanzanianas.
Incluindo a dança Mapinduzi.
Não só as canções ligadas a esta dança abordam temas sobre o dia-a-dia da vida da
comunidade. Também interpretam o passado, como a história da luta de libertação
nacional e da opressão colonial, também o seu objectivo era de manter a cultura e de
ensinar através de danças à comunidade, uma vez que a entoação de canções alegrava a
mesma comunidade.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
O seu nome terá derivado inicialmente dos instrumentos de percussão que o acompanham.
Parece-nos que a palavra “TUFO” vem do árabe “ad-duff”, étimo do qual resultaram
para Português “adufe e adufo”.
Segundo o MEC (2006: 19), “o TUFO vira de «ad-duff» através do macua, que resultou,
nalgumas formas, da fusão do árabe com as línguas Bantu locais. Vem a propósito referir
que no macua não existe praticamente a dental branda inicial «d» mas sim a dental forte
«t», daí que o «DUFO» tenha dado «TUFO»”.
O TUFO foi nas suas origens dança de carácter religioso, afirmam-nos os informadores.
Disso encontramos reminiscências nas canções mais antigas que nos foram dadas a ouvir
na Ilha de Moçambique. O TUFO era, e ainda é, dançado em cerimónias, festas e datas
especiais do calendário maometano, por mulheres “vestidas a rigor como se fossem para
uma missa”.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Os ritmos que determinam a escolha da sequência dos movimentos podem ser diferentes.
Neste caso, os ritmos servem simplesmente como um factor propulsivo que pode
estimular a expressão ou animar a actuação. Aqui, a Música dá uma forma de
continuidade para os dançarinos.
Outro aspecto da relação entre a Música e Dança pode ser a alteração entre o Solo e o
Coro. A alteração solo/coro é usada em algumas combinações instrumentais ou entre
combinações instrumentais e vozes.
Por Exemplo: Na Dança Makwayela, quando um dançarino faz a ligação dos seus braços
significa “nós estamos unidos na nossa luta comum” e quando ele aponta com um dedo a
cabeça significa que “é um assunto para a minha cabeça, uma coisa para pensar em que
vamos resolver juntos”.
A Dança é um meio de expressão que pode ser relacionado com temas e propósitos de
diversas ocasiões sociais. Por exemplo, a Dança Zore que, antigamente se seguiam às
colheitas, não só celebravam uma boa colheita, mas simbolizavam também uma expressão
de esperança para a fertilidade em geral e para a vida da comunidade, especialmente para
a vida das mulheres, crianças e gado. Para dramatizar esta dependência sobre a produção e
reprodução, o Zore era apresentado normalmente em noites de Lua cheias.
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
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Sumário
Também é importante ter noções claras para os movimentos precisos praticados dentro da
textura da própria Música, de modo que qualquer dançarino possa identificar e articular
compassos básicos, folgas para as mudanças no movimento, pausas dramáticas e sinais
para a identificação do movimento ou para relaxamento do esforço.
A Música tem duas funções principais para a Dança, primeiro deve criar a atmosfera
correcta e disposição para os dançarinos ou estimular e manter o impulso para os
movimentos expressivos e, segundo, deve também dar base rítmica a ser articulada no
movimento ou regular a qualidade, o tempo e dinâmica dos movimentos com a escolha
dos sons, mudanças da estrutura interna ou detalhes da escrita musical.
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Actividades
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Unidade XXIV
As manifestações culturais em Moçambique no período pós-
independência
24.1- A Literatura
Introdução da unidade
Objectivos
Desenvolvimento do tema
O Período, entre 1975 e 1992, chamaremos de Consolidação, por finalmente passar a não
haver dúvidas quanto à autonomia e extensão da literatura moçambicana, contra todas as
reticências, provindas de alguns sectores dos estudos literários, e, diga-se também, contra
todas as evidências. Após a independência, durante algum tempo (1975-1982), assistiu-se
sobretudo à divulgação de textos que tinham ficado nas gavetas ou se encontravam
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
dispersos. O livro típico, até pelo título sugestivo, foi Silêncio escancarado (1982), de Rui
Nogar (1935-1993), aliás o primeiro e único que publicou em vida. Outro tipo de textos é
o de exaltação patriótica, do culto dos heróis da luta de libertação nacional e de temas
marcadamente doutrinários, militantes ou empenhados, no tempo da independência.
Tal como nos outros países neófitos, o Estado (e a FRELIMO) detinha o monopólio das
publicações e o consequente controle. Todavia, segundo um conceito de instituição
literária que não passa obrigatoriamente por publicar em Moçambique, como acontecia,
aliás, na época colonial, temos de considerar a actividade poética de um Rui Knopfli fora
de África como cooptada para o património literário moçambicano. A publicação dos
poemas de Raiz de orvalho, de Mia Couto (em 1983) e sobretudo da revista Charrua (a
partir de 1984, com oito números), da responsabilidade de uma nova geração de
novíssimos (Ungulani Ba Ka Khosa, Hélder Muteia, Pedro Chissano, Juvenal Bucuane e
outros), abriu novas perspectivas fora da literatura empenhada, permitindo-lhes caminhos
até aí impensáveis, de que o culminar foi o livro de contos Vozes anoitecidas (1986), de
Mia Couto, considerado como fautor de uma mutação literária em
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
mais pessoal, enquanto os outros estão virados para o aspecto "social". Por exemplo,
Reinaldo Ferreira e Rui Knopfli são poetas cuja obra se debruça fundamentalmente sobre
a África, a "Mãe África" e o povo que vive e sofre as consequências do colonialismo. Por
muita desta poesia perpassa também a centelha da esperança da libertação. São estes
autores que contribuíram de um modo decisivo para a emergência da literatura da
"moçambicanidade". Em muitos destes poetas podemos detectar a alienação em que se
encontram perante a sociedade africana a que pertencem.
A poesia política e de combate em Moçambique foi cultivada sobretudo por escritores que
militavam na Frelimo. Entre eles, destaque para Marcelino dos Santos, Rui Nogar e
Orlando Mendes. Este tipo de poesia preocupa-se sobretudo com comunicar uma
mensagem de cunho político e, algumas vezes, partidário. Como literatura, e salvo raras
excepções (como é o caso de Rui Nogar, com alguns belos poemas de carácter intimista,
no seu livro Silêncio escancarado, de 1982), esta poesia é pouco ou nada inovadora.
Como nos outros países, surge também em Moçambique um número de escritores cuja
obra poética é conscientemente produzida tendo em conta o factor da nacionalidade,
anterior, como é evidente, à realidade do país que mais tarde se concretiza. São eles que
forjam a consciência do que é ser moçambicano no contexto, primeiro da África e, depois,
do mundo. Entre os principais autores deste tipo de poesia, encontram-se Noémia de
Sousa, José Craveirinha, Jorge Viegas, Sebastião Alba, Mia Couto e Luís Carlos
Patraquim.
Porque nos propomos analisar, numa outra oportunidade, a poética de Craveirinha, fique,
ao menos, a referência à obra publicada deste autor: Cela 1 (1980), Xigubo (1980),
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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências
Karingana Ua Karingana (1982) e Maria (1988). Uma leitura atenta leva-nos a perceber
a diferença marcante entre cada uma destas obras de Craveirinha. Xigubo é um livro mais
virado para a narratividade, para a descrição de elementos exteriores ao poeta. Pelo
contrário, em Cela 1 e Maria, o "eu" poético identifica-se com o sujeito da narrativa. As
últimas duas obras são um corolário da itinerância do poeta num clima de epopeia de que
Xigubo e Karingana Ua Karingana são um registo. O poeta transfere-se da esfera de uma
experiência colectivizante "narrada" em Xigubo, para uma escrita que individualiza a sua
própria vivência "mimada" em Cela 1 e Maria.
Buscando outros ritmos, pulsações e novos ventos literários, Mia Couto e Patraquim
reactivaram, na cena literária moçambicana do início dos anos 80, uma poiesis de cariz
existencial, preocupada não só com as emoções interiores, mas com as origens, com as
paisagens do presente e do outrora, com o próprio fazer poético. Rebelando-se contra
paradigmas literários articulados pelo ethos revolucionário, evidenciaram como, em razão
destes, muitos dos cidadãos moçambicanos se encontravam despojados de suas
singularidades. Defensores de uma dicção poética subjectiva, fizeram ponte entre o antigo
lirismo e o de Charrua (que despontaria em 1984), comprovando que «a poesia lírica
sempre arriscou em Moçambique».
Na poesia de Eduardo White uma das referências obrigatórias para quem estuda a
Geração Charrua, está presente a preocupação com as origens. Há nessa procura o desejo
de reencontrar a própria face e a do país. O sujeito lírico, em viagem interior, almeja
reescrever poeticamente a sua história e a de Moçambique. Uma história escrita por um
amor diversificado: pela amada, pela terra, pela própria poesia, e que visa a apagar as
marcas da guerra. À procura de Eros, o eu-poético elege como ponto de partida a Ilha de
Moçambique, lugar matricial, onde, antes de Vasco da Gama lá ter aportado em 1498, os
árabes também haviam estado desde o século VII, tendo levado do continente para a ilha
negros de etnia macua, cujas tradições e língua também ficaram inscritas no imaginário
insular.
Nesses versos, Knopfli assinala na ilha a presença do Oriente, cujas marcas, contudo, não
somente existem ali, mas em outras regiões moçambicanas, tema explorado por Eduardo
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White em seu último livro Janela para Oriente (1999). Outros poetas louvaram a Ilha de
Moçambique, chamada inicialmente Muhipíti, cujas paisagens e monumentos, como
«lugares da memória», guardam diferentes heranças culturais impressas nas fortalezas
portuguesas e nas naves moiras. Orlando Mendes lembra que «Por ali estiveram Camões
das amarguras itinerantes/ e Gonzaga da Inconfidência no desterro em lado oposto».
Virgílio de Lemos, no poema «A Fortaleza e o Mar», avivou a lembrança desse local e,
pela meditação, buscou esconjurar «os fantasmas e paradoxos» da história «de cobiça»
que ultrajaram o chão insular:
Vem, pois, de longe, esse viés erótico-amoroso que perpassa pela poesia de vários
representantes de Charrua. Erotismo visceral, ternura e musicalidade foram «os materiais
de amor» usados pelos poetas, principalmente por Eduardo White, o qual tece sua poética,
reflectindo também sobre a necessidade de o povo moçambicano recuperar a dignidade de
uma vida mais humana: «Felizes os homens/ que cantam o amor. / A eles a vontade do
inexplicável / e a forma dúbia dos oceanos». Nesses versos, a metáfora marinha assinala a
dubiedade de uma identidade problemática, porque engendrada na encruzilhada de dois
oceanos: o Índico que banha o litoral do país e serviu à rota oriental dos mercadores
árabes e o Atlântico que, embora distante, a ocidente, trouxe as caravelas e o imaginário
lusitano. Após o trajecto pelas águas marítimas de Amar sobre o Índico, o seu lirismo, nos
livros seguintes, adopta o caminho do Amor e dos sonhos, alçando voo através das asas da
poesia. Antes de White, outros poetas, conforme já referimos, assumiram esse viés lírico-
amoroso, fazendo dos sentimentos uma forma de questionamento da realidade, como
evidenciam os versos de Heliodoro Baptista: «Impugnados somos, / mas de ternura
subversiva». […]
Após essa breve incursão pela lírica moçambicana contemporânea, averiguamos que o
desenvolvimento desta «não se fez propriamente de rupturas, mas de movimentos
espiralares de avanços e recuos», de conquistas e retomadas, tanto que até os mais jovens
poetas não abriram mão da intertextualidade com reconhecidas vozes poéticas que os
antecederam. Detectamos que as vertentes estéticas apontadas inicialmente neste artigo (a
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Sumário
Conclusão a que chegamos é a de que alguns dos poetas regressos da Geração 70, embora
não tenham logrado publicar seus livros, não param de escrever. E porquê? Em nossa
opinião, porque, apesar de se terem declarado poetas do real, da denúncia directa da fome,
identificando-se como herdeiros de distopias e guerras, não abandonaram a utopia do
fazer literário e sabem, no íntimo, que ainda precisam aprimorar seus versos. Notamos
que o descontentamento frente ao contexto económico, social, político e cultural do país é
grande, reflectindo-se no quadro actual da poesia. Vários poetas alguns que pertenceram à
Charrua e outros que surgiram paralelamente ou depois revelam, em seus últimos
poemas, uma céptica lucidez em relação à realidade de Moçambique, mas prosseguem no
encalço das «paisagens da memória» e dos «subterrâneos dos sonhos», pois crêem, no
fundo, que estes, segundo palavras de Eduardo White e Alfredo Bosi, se configuram como
forças interiores capazes de manterem «os homens vivos» e de buscarem recompor o
universo da poesia «que os novos tempos tentam renegar».
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Actividades
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Bibliografia
8-CUHE, Denys, A Noção de Cultura nas Ciências Sociais. Lisboa: Fim de Século
Edições, 1999.
9-DUARTE, Ricardo Texeira, A Noção de Cultura nas Ciências Sociais. Lisboa: Fim de
Século Edições, 1999.
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17-KI-ZERBO, Joseph. África Negra Vol. II, Lisboa: Publicações Europa América, 1995
20-MUZRUI, ALI A. (Coord). General History of África: África Since 1935, 8° vol.
Paris: UNESCO, 1999.
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