Historias Das Sociedades IV

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Manual de Curso de licenciatura em Ensino de História

HO178 - HISTÓRIA DAS


SOCIEDADES IV
A Sociedade Africana e Moçambicana aquando das Independências

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância
CED
Direitos de autor (copyright)
Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à Distância
(CED) e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste manual, no
seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Católica de
Moçambique  Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passível a
processos judiciais.

Elaborado Pelos drs. Daniel Mapate Sithole e Sílvio Cessár,

Licenciados em ensino de História pela UP- Beira,

Colaboradores do Curso de Licenciatura em ensino de História no Centro de Ensino à


Distância (CED) da Universidade Católica de Moçambique – UCM.

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância-CED
Rua Correira de Brito No 613-Ponta-Gêa·
Moçambique-Beira
Telefone: 23 32 64 05
Cel: 82 50 18 44 0

Fax:23 32 64 06
E-mail:ced@ucm.ac.mz
Website: www.ucm.ac.mz
Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à Distância e o autor do presente manual,
dr. Bernardo Daniel Mapate Sitole e Sílvio Cessár , gostariam de agradecer a colaboração dos
seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Pela maquetização dr. Albino Carlos Ninca

Pela Coordenação e edição dr a Georgina Nicolau


HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Índice
Visão geral 1
Objectivos do curso……………………………………………………………………………….2
Quem deveria estudar este módulo…………………………………………………………. ……3
Como está estruturado este módulo……………………………………………………………….4
Ícones de actividade……………………………………………………………………………….5
Acerca dos ícones………………………………………………………………………………....5
Habilidades de estudo……………………………………………………………………………..6
Precisa de apoio?………………………………………………………………………………….7
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)……………………………………………………………...8
Avaliação………………………………………………………………………………………….8

UNIDADE I 10
Expressões culturais em moçambique durante o período colonial- a contestação cultural
1.1.1. A Literatura---------------------------------------------------------------------------------------10
1.1.2. Contextualização sobre o surgimento da literatura moçambicana-------------------------11
1.1.3. Emergência da literatura moçambicana-------------------------------------------------------12
1.1.4. Desenvolvimento do tema-----------------------------------------------------------------------12
1.1.5. Objectivos da Contestação Cultural------------------------------------------------------------15
1.2. Literatura de João Albasini------------------------------------------------------------------------15
1.3-Literatura de Rui de Noronha----------------------------------------------------------------------16
1.4-Poesia como Exemplo de Contestação-----------------------------------------------------------17
1.5-Impacto da Poesia----------------------------------------------------------------------------------18

UNIDADE II 20
Os projectos de sociedade dos movimentos de libertação em África----------------------------------20
2.1. O Projecto de Patrice Lumumba-----------------------------------------------------------------20
2.1.1-Desenvolvimento do tema---------------------------------------------------------------20
2.1.2-Surgimento Mobutu Sesse Seko----------------------------------------------------------------22
2.1.3- Assassinato de Patrice Lumumba--------------------------------------------------------------23

UNIDADE III 26
Os projectos de sociedades dos movimentos de libertação em África--------------------------------26
3.1.- O Projecto de Jomo Kenyatta-----------------------------------------------------------------26

i
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

3.1.1-Desenvolvimento do tema-------------------------------------------------------------26

UNIDADE IV 29
As Transformações sócio-culturais pós-coloniais em África-------------------------------------------29
4.1. As Sociedades africanas na Construção Das Nações em África e em Moçambique---29
4.1.1-Desenvolvimento do tema---------------------------------------------------------------------30
4.1.2-A Situação após a II Guerra Mundial--------------------------------------------------------31
4.1.3- O papel da Igreja em Moçambique----------------------------------------------------------31
4.1.4-O Começo do Nacionalismo------------------------------------------------------------------32
4.1.5- A Revolta dos Intelectuais--------------------------------------------------------------------33
4.1.6-Factores da Emergência do Nacionalismo Africano---------------------------------------34
4.1.7- O Caminho a Unidade--------------------------------------------------------------------------36

UNIDADE V 38
As ODM’s e o projecto social no período pós-colonial----------------------------------------------------38
5.1. As ODM’s (Organizações Democráticas de Massas) o projecto social em moçambique no
período pós-colonial--------------------------------------------------------------------------------------------------38
5.1.1-Desenvolvimento do tema---------------------------------------------------------------------39
5.1.2- Organizações Democráticas de Massas-----------------------------------------------------39
5.1.3- Contexto Histórico do Surgimento das Organizações Democráticas de Massas------40
5.1.4-A Formação das ODM's-----------------------------------------------------------------------41

UNIDADE VI 51
6.1-As Bases de Socialização do Meio Rural em Moçambique-----------------------------------------51
6.1.1-Desenvolvimento do tema---------------------------------------------------------------------51
6.1.2-Contextualização e Efeitos da Socialização-------------------------------------------------52
6.1.3-A Implantação das Aldeias Comunais em Moçambique----------------------------------54
6.1.4- Causa da Implantação das Aldeias Comunais----------------------------------------------55
6.1.5- As Aldeias Comunais Antes da Independência-------------------------------------------55
6.1.6- Objectivo da Adopção da Política de Aldeias Comunais--------------------------------56
6.1.7- Objectivos Sociais e ideológicos------------------------------------------------------------56
6.1.8- Objectivos Económicos----------------------------------------------------------------------56
6.1.9- Objectivos Sócio – Político-------------------------------------------------------------------57
6.1.10- O Processo de Aldeias Comunais no Período pós Independência---------------------57

ii
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

6.1.11-Factores que Contribuíram para a Implantação das Aldeias Comunais em Moçambique


6.1.12- Critérios Utilizados para a Implantação das Aldeias Comunais----------------------59
6.1.13- Agentes da Socialização--------------------------------------------------------------------60
6.1.14- O Constrangimento da Política de Socialização-----------------------------------------61
6.1.15- Contributo e Impacto Sócio-Cultural da Socialização----------------------------------62

UNIDADE VII 64
A Sociedade face os planos estruturais no mundo ocidental, em África e em Moçambique.
7.1. Epistemologia Da Sociedade na Construção dos Estados Democráticos Em África e em
Moçambique: a Sociedade Civil e as ONG’s--------------------------------------------------------------------64
7.1.1- Desenvolvimento do tema------------------------------------------------------------------65
7.1.2-Organizações não governamentais (ONG'S).---------------------------------------------65
7.1.3- Organizações Internacionais---------------------------------------------------------------66
7.2- Contextualização do surgimento da sociedade civil em Moçambique-----------------67
7.2.1-Abrangências da Sociedade Civil----------------------------------------------------------68
7.2.2- Sociedades Civis que operam em Moçambique----------------------------------------68
7.2.3- O Papel da Sociedade Civil em Moçambique-------------------------------------------69
7.2.4- Contextualização do surgimento das organizações não governamentais em Moçambique
7.2.5-Característica das ONGs-------------------------------------------------------------------71
7.2.6-Tipos de ONG'S----------------------------------------------------------------------------71
7.2.7-Objectivos das ONG'S em Moçambique------------------------------------------------72
7.2.8-A relação entre as ONG’S, sociedade civil e Governo--------------------------------72
7.2.9-Impacto sociocultural das ONG'S em Moçambique-----------------------------------73

UNIDADE VIII 76
O Paradigma da construção social no período contemporâneo-----------------------------------------76
8.1. Paradigma da construção social no período contemporâneo---------------------------76
8.1.1-desenvolvimento do tema-----------------------------------------------------------------77
8.1.2-Situação Sócio-Cultural após a independência: De 1975 a 1992--------------------78
8.1.3-De 1992 aos nossos dias------------------------------------------------------------------78
8.1.4-Desafios actuais----------------------------------------------------------------------------79

UNIDADE IX _ _ 81
A Emergência da Nova Epistemologia da Cultura: A Diversidade Sócio-Cultural e o
Multiculturalismo----------------------------------------------------------------------------------------------------81

iii
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

9.1- A Cultura e as Ideologias do Nacionalismo------------------------------------------------82


9.2- O Nacionalismo em Moçambique-----------------------------------------------------------83
9.3-As causas do nacionalismo moçambicano--------------------------------------------------83
9.4-As principais associações nacionalistas-----------------------------------------------------85
9.5-As nações africanas-----------------------------------------------------------------------------85
UNIDADE X 88
Cultura e os Projectos de Construção dos Estados Democráticos--------------------------------------------88
10.1. A Cultura e os Projectos da Construção dos Estados Democráticos------------------88
10.1.2-Conceito de Democracia-------------------------------------------------------------------89
10.1.3- Relação entre Cultura e Democracia----------------------------------------------------90
10.1.4- Tipos de Democracias---------------------------------------------------------------------91
10.1.5-A Democracia em África------------------------------------------------------------------92
10.1.6-Reflexão Sobre a Democracia em Moçambique---------------------------------------93

UNIDADE XI _____ 96
A Crescente Insatisfação Social---------------------------------------------------------------------------96
11.1. A Insatisfação Social----------------------------------------------------------------------96
11.1- Desenvolvimento do tema----------------------------------------------------------------97
11.2- As Diferenças de Poder Tradicional e Pós-Independencia---------------------------97
11.3- A Insatisfação Social e os Golpes de Estado------------------------------------------98

UNIDADE XII _________ 100


O Exemplo do Regime de Nasser---------------------------------------------------------------------100
12.1. O Regime de Nasser--------------------------------------------------------------------100

UNIDADE XIII ____ 104


As Democracias No Gana, Burundi, Ruanda e no Uganda-----------------------------------------104
13.1. As Democracias------------------------------------------------------------------------104
13.1.2- NO Gana------------------------------------------------------------------------------104
13.1.3- No Burundi---------------------------------------------------------------------------106
13.1.4-No Ruanda----------------------------------------------------------------------------107
13.1.5-No Uganda----------------------------------------------------------------------------109

iv
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

UNIDADE XIV __ _ 112


14.1. As Democracias no Sudão, Marrocos, Chade e na Nigéria--------------------------------112
14.1.2- No Sudão-------------------------------------------------------------------------------113
14.1.3- Em Marrocos--------------------------------------------------------------------------114
14.1.4- No Chade------------------------------------------------------------------------------115
14.1.5- Na Nigéria-----------------------------------------------------------------------------115

UNIDADE XV __ 121
As Mudanças Políticas no Continente e em Moçambique---------------------------------------121
15.1. As Mudanças Políticas no Continente-----------------------------------------------121
15.1.1. Desenvolvimento do tema-----------------------------------------------------------121
15.1.2. Desafios de África--------------------------------------------------------------------123
15.2. Mudanças Políticas em Moçambique------------------------------------------------123

UNIDADE XVI 127


NEPAD e as Novas Vontades Políticas dos Líderes Africanos------------------------------------127
16.1. Conceito da NEPAD--------------------------------------------------------------------127
16.2. Objectivos Gerais da NEPAD---------------------------------------------------------128
16.3. As Novas Vontades Políticas dos Líderes Africanos-------------------------------128
16.4. Objectivos a Longo Prazo--------------------------------------------------------------129
16.5. Metas--------------------------------------------------------------------------------------129
16.6. Estratégias para alcançar os Resultados Previstos----------------------------------129
16.7. Iniciativas Sobre a Paz e Segurança--------------------------------------------------129

UNIDADE XVII 132


PARPA e as suas relações com NEPAD-------------------------------------------------------------132
17.1. Conceito do PARPA-------------------------------------------------------------------132
17.2. Seus Objectivos Gerais----------------------------------------------------------------133
17.3. Metas-------------------------------------------------------------------------------------133
17.4. Estratégias para alcançar os Resultados Previstos---------------------------------133

v
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

17.5. Relações existentes entre A NEPAD e PARPA----------------------------------134

UNIDADE XVIII 136


Acumulação Centralizada no Estado como Estratégia de Desenvolvimento em Moçambique
Independente------------------------------------------------------------------------------------------------------136
18.1. Acumulação Centralizada no Estado como Estratégia de Desenvolvimento
18.2. O sector estatal agrário--------------------------------------------------------------137
18.2.1. Sector familiar, cooperativo e privado------------------------------------------139

UNIDADE XIX __ 142


Resistência Nacional de Moçambique como resultado de Conflictos Políticos em Moçambique
9.1. A Resistência Nacional de Moçambique------------------------------------------142

UNIDADE XX 147
A Sociedade Moçambicana rumo ao Liberalismo-------------------------------------------------147
20.1.Moçambique rumo ao liberalismo-------------------------------------------------147
20.2. Da Constituição Multipartidária de 1990 ao Acordo de Roma (1992)------148
20.3. Emergência de outros Partidos---------------------------------------------------149

UNIIDADE XXI _ 153


21.-A Cultura, a revolução tecnológica e o desenvolvimnto-------------------------------------153
21.1.1-Factores dinamizadores da Cultura em Moçambique------------------------154
21.1.2.-O papel das galerias e centros culturais---------------------------------------154
21.1.4.-Revolução Tecnológica---------------------------------------------------------155
21.1.5-Revolução Verde em Moçambique--------------------------------------------156

UNIDADE XXII 158


22.1-As manifestações culturais em Moçambique no período pos-independência
22.1. A Pintura e a Escultura------------------------------------------------------------159
22.1.1. Manifestações artísticas em Moçambique após a independência---------159
22.1.2.-A Escultura------------------------------------------------------------------------160

vi
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

22.1.3-A escultura em Moçambique no pós independência--------------------------160


22.1.4- A Pintura---------------------------------------------------------------------------161
22.1.5.-Características---------------------------------------------------------------------164

UNIDADE XXIII ____ 166


As manifestações culturais em Moçambique no período pos-independência------------------166
23 1. A Musica e a Dança------------------------------------------------------------------166
23.1.2- Contextualização-------------------------------------------------------------------167
23.1.3- A Música----------------------------------------------------------------------------168
23.1.4.- Os efeitos da Colonização na Música Moçambicana-------------------------168
23.1.5- Fases da Música Moçambicana--------------------------------------------------170
23.1.6- Tipos de Músicas Moçambicanas------------------------------------------------171
23.1.7. A Dança-----------------------------------------------------------------------------171
23.1.8. A Dança em Moçambique--------------------------------------------------------172
23.1.9. Os Tipos de Danças Moçambicanas---------------------------------------------173
23.1.10.- A Dança Mapinduzi-------------------------------------------------------------174
23.1.11.- A Dança Tufo--------------------------------------------------------------------175
23.1.12.-A Relação entre a Música e a Dança em Moçambique----------------------176
23.1.13.-Importância da Música e Dança em Moçambique---------------------------176

UNIDADE XXIV 179


As manifestações culturais em Moçambique no período pós-independência------------------------179

24.1- A Literatura-----------------------------------------------------------------------179
24.1.1- A Poesia Moçambicana Contemporânea-------------------------------------180
Bibliografia

vii
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Visão geral
Benvindo a História das
Sociedades IV - A Sociedade
Africana e Moçambicana aquando
das Independências
O presente módulo foi elaborado para dar mais subsídio ao estudo da história das
sociedades, particularmente as sociedades africanas duma forma geral e a sociedade
moçambicana em particular.

Trata-se duma abordagem sumária do processo dos nacionalismos em África no geral e,


de forma particular, o nacionalismo moçambicano. Por outra, trata-se de tudo quanto foi o
despertar dos povos de África contra aquilo que foi durante séculos de colonização e
opressão estrangeira no nosso continente.

Os conteúdos aqui abordados referem-se às lutas contra a ocupação colonial e às


desconexões políticas internas quer durante o processo de luta pela independência quer
depois da independência de Moçambique. Dentro deste grande tema, procura-se
esclarecer os processos que permitiram de forma fácil ou difícil, dominar a hegemonia
bélica dos europeus e alcançar a independência de África no geral e a de Moçambique em
particular.

Não só, este tema procura esclarecer as razões que levaram a montagem de governações
de orientação socialista em determinados territórios africanos, suas vantagens na
conjuntura dum processo de lutas pelas independências de África apoiadas
maioritariamente pelo bloco militar do oriente. Por fim, esclarecer as razões que levaram
os países de África a optarem pelo multipartidarismo a partir da década de noventa.

1
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Objectivos da cadeira

Quando terminar o estudo de História das sociedades IV – o cursante será capaz de:

 Identificar as principais causas do nacionalismo africano e


moçambicano em particular

 Identificar os mentores e as primeiras regiões de eclosão do


Objectivos nacionalismo em Moçambique.

 Explicar a conjuntura do processo que permitiu a formação das


principais associações nacionalistas e os posteriores
movimentos de luta de libertação em Moçambique.

 Identificar as principais causas que levaram à opção pelo


multipartidarismo em Moçambique.

 Explicar o processo conjuntural que levou os governantes do


nosso país até ao acordo geral de paz em Roma.

“Identificar o presidente Chissano e Dhlakama como respeitáveis


mentores e conservadores da paz em Moçambique, em África e no
Mundo”.

Os conteúdos programáticos da cadeira de História das Sociedades


IV em termos do seu fim último visam:

 A Sociedade na Construção Das Nações Em África;

 A Construção Dos Estados Democráticos Em África;

 A Crescente Insatisfação Social;

 O Regime de Nasser;

2
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

 As Democracias;

 As Mudanças Políticas no Continente e em Moçambique;

 NEPAD e as Novas Vontades Políticas dos Líderes


Africanos;

 Acumulação Centralizada no Estado como Estratégia de


Desenvolvimento;

 A Resistência Nacional de Moçambique como resultado


dos conflitos Políticos.

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para todos aqueles estudantes que queiram ser professores da
disciplina de História, que estão a frequentar o curso de Licenciatura em Ensino de
História, do Centro de Ensino a Distância. Estendese a todos que queiram consolidar os
seus conhecimentos sobre a História das sociedades.

3
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Como está estruturado este


módulo

Todos os módulos dos cursos produzidos por Universidade Católica de Moçambique -


Centro de Ensino a Distância encontram-se estruturados da seguinte maneira:

Páginas introdutórias

 Um índice completo.

 Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os


aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o
estudo. Recomendamos vivamente que leia esta secção com
atenção antes de começar o seu estudo.

Conteúdo do curso / módulo

O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma


introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um summary da unidade e uma ou
mais actividades para auto-avaliação.

Outros recursos

Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma


lista de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos
podem incluir livros, artigos ou sites na internet.

4
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação

Tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de


cada unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais
para desenvolver as tarefas, assim como instruções para as
completar. Estes elementos encontram-se no final do módulo.

Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer
comentários sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os
seus comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar
este curso / módulo.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes
ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem
indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de
actividade, etc.

Acerca dos ícones

Os ícones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por adrinka. Estes
símbolos têm origem no povo Ashante de África Ocidental, datam do século 17 e ainda se
usam hoje em dia.

5
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Habilidades de estudo

Durante a formação, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados,


implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se
conseguem com estratégias eficazes e por isso é importante saber como estudar. Apresento
algumas sugestões para que possa maximizar o tempo dedicado aos estudos:

Antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que
seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com
música/num sítio sossegado/num sítio barulhento? Preciso de um intervalo de 30 em 30
minutos/de hora a hora/de duas em duas horas/sem interrupção?

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um
determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e
passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. É preferível saber bem
algumas partes da matéria do que saber pouco sobre muitas partes.

Deve evitar-se estudar muitas horas seguidas antes das avaliações, porque, devido à falta
de tempo e consequentes ansiedade e insegurança, começa a ter-se dificuldades de
concentração e de memorização para organizar toda a informação estudada. Para isso
torna-se necessário que: Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que
matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como
o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras
actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o
estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens
pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está
a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode
também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a

6
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não
depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo
significado desconhece;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra situação, o material impresso,
lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza, alguns erros de natureza frásica,
prováveis erros ortográficos, falta de clareza conteudística, etc). Nestes casos, contacte o
tutor, via telefone, escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor,
contacteo pessoalmente.

Os tutores tem por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o estudante ter a
oportunidade de interagir objectivamente com o tutor, usando para o efeito os mecanismos
apresentados acima.

Todos os tutores tem por obrigação facilitar a interacção, em caso de problemas


específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase posterior contacte o
coordenador do curso e se o problema for de natureza geral. Contacte a direcção do CED,
pelo número 825018440.

Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de expediente.

As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade
de interagir com todo o staff do CED, neste período pode apresentar duvidas, tratar
questões administrativas, entre outras.

O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, busque apoio com os
colegas, discutam juntos, apoiemse mutuamente, reflictam sobre estratégias de superação,
mas produza de forma independente o seu próprio saber e desenvolva suas competências.

7
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação),


contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As
tarefas devem ser entregues antes do período presencial.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de
entrega, implica a não classificação do estudante.

Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser dirigidos ao


tutor\docentes.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem
ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor.

O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito) palavras de um autor,
sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos
direitos autoriais devem marcar a realização dos trabalhos.

Avaliação

Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o período presencial
(20%). A avaliação do estudante é regulamentada com base no chamado regulamento de
avaliação.

Os trabalhos de campo por ti desenvolvidos, durante o estudo individual, concorrem para


os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira.

Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões presenciais, eles


representam 60%, o que adicionado aos 40% da média de frequência, determinam a nota
final com a qual o estudante conclui a cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar 2 (dois) trabalhos, 1 (um) teste e 1 (exame).

8
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Não estão previstas quaisquer avaliação oral.

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizadas como ferramentas de


avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a


apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos
assuntos, as recomendações, a identificação das referências utilizadas, o respeito pelos
direitos do autor, entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual. consulteos.

9
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade I
Expressões culturais em moçambique durante o
período colonial- a contestação cultural
-A Literatura
__________________________________________________

Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam interpretar o papel da literatura e o
processo que levou a fortificação da consciência nacionalista até a formação das
associações e posteriormente aos movimentos de libertação nacional. De referir que o
nacionalismo moçambicano teve como pilares do seu despertar a própria tendência
portuguesa na criação de uma camada de assimilados no seio da população autóctone para
dividir e poder facilmente dominar.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade, o estudante deve ser capaz de:

1 – Explicar o processo da formação das associações nacionalistas a partir da política


colonial de assimilação.

2 – Identificar as grandes personalidades que se envolveram na luta pacífica pela


emancipação e desejo pelo alcance da independência de Moçambique.

3 – Explicar o papel da literatura, da imprensa, do canto e dança no processo da luta pelos


direitos à autodeterminação do povo moçambicano.

10
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

1.1.1.Conceito
Segundo dicionário da língua portuguesa “ literatura é a arte de compor escrito artístico,
composto de produções literárias de um país ou de uma época”.

1.1.2.Contextualização sobre o surgimento da literatura


moçambicana
O aparecimento de uma literatura escrita em Moçambique esta intimamente ligado com a
politica educacional e a politica de assimilação do estado colonial português. O sistema de
educação colonial em Moçambique não eram um sistema educativo destinado a transmitir
aos jovens o orgulho e a confiança de membros de uma sociedade, mas si a implantar um
sentimento de submissão face ao europeu.

A escola colonial ministrava uma educação para subordinação o seu principal propósito
era, treinar o africano para servidor na administração e servidor ao um nível
extraordinariamente baixo: interpretes, escriturários, enfermeiros, professores das escolas
rudimentares entre outras pequenas actividades, mas tarde, as necessidades das empresas
capitalistas privadas fizeram com que essa formação abrangi se uma mão-de-obra
relativamente qualificada.

É neste quadro que pode entender a politica portuguesa de assimilação que, sub um
pretensão não racismo e, estabelecendo a falsa dicotomia “ civilizados/ não civilizados”
criava o embrião de uma pequena burguesia africana obediente e servidor dos interesses
do estado colonial português.

Ser assimilado significava adquirir um estatuto de civilizado e ser aceite e integrado na


sociedade portuguesa mas nunca seria um europeu.

Para tal seria necessário ler e escrever português e adaptar se a hábitos uso e costumes da
vida semelhante dos portugueses o que passava pelo renegar das instituições culturais de
origem.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Pretendia se romper os laços dessa com comunidades com seu passado, sua história de
segregar a sua específica visão do mundo, alienar as formas de expressão que havia
desenvolvido.

Como já referimos o estado colonial esperava procurar uma elite que no processo de
assimilação servir se os seus interesses e o ajuda se a manutenção do seu aparelho
ideológico colonial. Contudo o que a politica de assimilação produziu foi um ser devido:
já não é africano e não chega ser europeu.

Em Moçambique é estrato social que emerge os primeiros homens de letras.

1.1.3.Emergência da literatura moçambicana


A formação, sobretudo nas zonas urbanas da Beira e Lourenço Marques (agora, Maputo),
de uma elite de alguns negros, mestiços e brancos que se apoderou, aos poucos, dos canais
e centros de administração e poder, é factor preponderante na emergência de uma
literatura que passa pelas mesmas fases para Angola: pré-colonial e colonial, afro-cêntrica
e luso-tropicalista, nacional e pós-colonial.

1.1.4.Desenvolvimento do tema.
Em termos de precursores desta literatura, há que referir Rui de Noronha, João Dias e
Augusto Conrado. Entre eles merece realce Rui de Noronha, cujo livro de Sonetos foi
publicado seis anos após a sua morte. A sua poesia reveste-se de algum pioneirismo, não
pela forma, mas pelo conteúdo, uma vez que alguns dos sonetos mostram sensibilidade
para a situação dos mestiços e negros, o que constitui a primeira chamada de atenção para
os problemas resultantes do domínio colonial. Rui de Noronha representa também uma
das primeiras tentativas de sistematizar, em termos poéticos, o legado da tradição oral
africana. Sirva, como exemplo, o poema carregado de imagens do mundo mítico africano,
intitulado "Quenguelequêze!

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Uma parte significativa da produção literária moçambicana deve-se aos poetas da


"literatura europeia" ou seja, aqueles que, sendo brancos, centram toda, ou quase toda a
sua temática nos problemas de Moçambique; foram eles que contribuíram decisivamente
para a formação da identidade nacional moçambicana. Merecem especial realce: Alberto
de Lacerda, Reinaldo Ferreira, Rui Knopfli, Glória Sant'Anna, Sebastião Alba, Luís
Carlos Patraquim e António Quadros. Alguns destes poetas escrevem poesia de carácter
mais pessoal, enquanto os outros estão virados para o aspecto "social". Por exemplo,
Reinaldo Ferreira e Rui Knopfli são poetas cuja obra se debruça fundamentalmente sobre
a África, a "Mãe África" e o povo que vive e sofre as consequências do colonialismo. Por
muita desta poesia perpassa também a centelha da esperança da libertação. São estes
autores que contribuíram de um modo decisivo para a emergência da literatura da
"moçambicanidade". Em muitos destes poetas podemos detectar a alienação em que se
encontram perante a sociedade africana a que pertencem. Veja-se este exemplo de Rui
Knopfli:

Europeu me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina
europeias
e europeu me chamam.
Não sei se o que escrevo tem raiz de algum
pensamento europeu,
É provável...Não. É certo,
mas africano sou.

A poesia política e de combate em Moçambique foi cultivada sobretudo por escritores que
militavam na Frelimo. Entre eles, destaque para Marcelino dos Santos, Rui Nogar e
Orlando Mendes. Este tipo de poesia preocupa-se sobretudo com comunicar uma
mensagem de cunho político e, algumas vezes, partidário. Como literatura, e salvo raras
excepções (como é o caso de Rui Nogar, com alguns belos poemas de carácter intimista,
no seu livro Silêncio escancarado, de 1982), esta poesia é pouco ou nada inovadora.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Como nos outros países, surge também em Moçambique um número de escritores cuja
obra poética é conscientemente produzida tendo em conta o factor da nacionalidade,
anterior, como é evidente, à realidade do país que mais tarde se concretiza. São eles que
forjam a consciência do que é ser moçambicano no contexto, primeiro da África e, depois,
do mundo. Entre os principais autores deste tipo de poesia, encontram-se Noémia de
Sousa, José Craveirinha, Jorge Viegas, Sebastião Alba, Mia Couto e Luís Carlos
Patraquim.

A figura de maior destaque na poesia da moçambicanidade, e referência obrigatória em


toda a literatura africana, é José Craveirinha. De facto, a poesia de Craveirinha engloba
todas as fases ou etapas da poesia moçambicana, desde os anos 40 até praticamente aos
nossos dias. Em Craveirinha vamos encontrar uma poesia tipo realista, uma poesia da
negritude, cultural, social, política; há uma poesia de prisão; existe uma poesia carregada
de marcas da tradição oral, bem como muito poema com grande pendor lírico e intimista.

Uma breve referência faz-se à poesia do período pós-independência. Os poetas desta


geração (é evidente que não me refiro aos "grandes" de antes de 1975, como Reinaldo
Ferreira, Knopfli e Sebastião Alba) desviaram-se da poesia de cariz colectivo, preferindo
o individual e o intimista com que relatam a sua experiência pós-colonial. Entre estes
poetas, é obrigatória a referência a Mia Couto, mas sobretudo a Luís Carlos Patraquim.

São dois grandes construtores da palavra, preocupados com a linguagem poética. No caso
de Mia Couto, penso que ele acaba por transferir todo o seu potencial poético para a
ficção. Luís Carlos Patraquim revela influências de Craveirinha e Knopfli, sobretudo nos
seus poemas de maior pendor pessoal e lírico, a sua poesia revela-se de certo modo,
caótica, sensual e, por vezes, surrealista. Patraquim desenvolve uma poesia que, em parte,
é inovadora, focalizada sobretudo no amor e no erotismo. Nota-se também uma grande
preocupação de ligar a sua experiência ao mundo universal dos poetas para além das
fronteiras africanas. Autor de três livros (Monção, A inadiável viagem; e Vinte e tal
Formulações e Uma Elegia Carnívora), Luís Carlos Patraquim representa a fusão entre as
duas grandes vertentes da poesia moçambicana: a da moçambicanidade e a da linguagem
lírica e sensual do "estar em Moçambique".

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

1.1.5- Objectivos da Contestação Cultural


Denunciar o sofrimento colectivo do povo moçambicano (no trabalho forçado), os
desmandos, desvios e os esbanjamentos do poder colonial;

A rejeição dos valores culturais do colonizador ao mesmo tempo em que se pronuncia o


desejo de igualdade de todos perante a lei, lutando deste modo pela dignidade que se
recusava ao negro;

Falar sobre Moçambique e denunciar problemas dos moçambicanos;

Reivindicação da falta de respeito e da não-aceitação da cultura do povo moçambicano,


exaltando deste modo a fraternidade amor e valores culturais moçambicanos;

Luta pela educação do povo moçambicano.

1.2. Literatura de João Albasini


Vida e Obra

João dos Santos Albasini nasceu a 2 de Novembro de 1876 em


Magule, distrito de Magude, no então Lourenço Marques (Maputo), filho de Francisco
João Albasini e de Joaquina Correia de Oliveira (filha do regulo de Maxaquene).

Como filho da aristocracia local, estudou as primeiras letras numa missão católica de
Lourenço Marques. Na juventude, João Albasini foi protegido de José Aniceto da Silva
então director dos Correios de Moçambique que o levou para trabalhar naquela repartição
como ajudante despachante e mais tarde despachante oficial. Desde jovem começou a

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

escrever em jornais, tal como o Jornal Vida Nova e o Diário de Notícias de que sairia para
fundar em 1908, O Africano, primeiro jornal de Lourenço Marques dirigido e escrito por
editores nativos da colónia, depois de vende-los ao padre José Vicente do Sacramento.

Em 1918, funda com o irmão (José Albasini), O Brado Africano, um semanário bilingue
(português e Ronga). Este jornal serviu de porta-voz do Grémio Africano. Em 1922,
publicou um livro póstumo de crónicas e contos, O livro da dor.

Em 1920, com a realização das eleições para o cargo de deputado, João Albasini se
candidata e parte para Lisboa com objectivo de encaminhar junto ao parlamento
português, as formas de exploração a que os negros eram submetidos na colónia. Na
disputa em torno da legislação discriminatória sobre os indígenas e os assimilados, João
Albasini levava consigo uma lista de reivindicações.

Em Lisboa, escreve no jornal O Combate do partido Socialista, onde assume as suas


reivindicações, encaminhando-as ao seu deputado, Ramada Curto. Ao mesmo tempo, o
jornalista envia artigos para o Brado Africanos, originalmente publicados em jornais dos
Estados Unidos, onde denunciava as violências da política oficial portuguesa na África.

João dos Santos Albasini, faleceu em 1922 em Lourenço Marques (Maputo) aos 46 anos
de idade, tendo deixado um filho, Carlos Albasini.

1.3- Literatura de Rui de Noronha

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Filho de pai indiano e mãe negra, Rui de Noronha nasceu em 28 de Outubro de 1909 em
Lourenço Marques e morreu com apenas 34 anos em 25 de Dezembro de 1943, quando
era funcionário dos caminho-de-ferro e jornalista.

Colaborou na revista viragem como critério literário sob o pseudónimo de Cancarrinha de


Aguilar, parte do corpo redactório e direcção de o brado africano.

Onde publicou muito dos seus poemas caracterizado por aqueles que conheceram e leram
como uma personalidade nítida e sensível, solitária.

Rui de Noronha é resultado da vivência consciente e amargurada de “assimilação”,


intelectual pertencendo à pequena elite criada pelo sistema colonial português sem ter
com grande intensidade a humilhação de mestiço desprezado ao mundo temporal que
sofria a atracão desse mundo europeizado no qual não era aceite. SERRA (245).

Após a morte de Rui de Noronha, o espelho literário do poeta foi entregue a sua mulher
D. Albertina dos Santos Noronha, que foi confiado por esta a amigos entre os quais se
encontrava o jornalista Rodrigues Júnior. Estes diligenciaram a publicação dos poemas
junto de um antigo professor do liceu do poeta, Dr. Domingos Reis Costas.

Na primeira semana de Abril de 1946, um grupo de amigos publica o seu livro de poemas
editado pela tipografia Minerva central de Lourenço Marques foi finalmente posto a
venda.

Poucos meses depois da publicação do livro o doutor Domingos Reis Costa proferiu uma
palestra subordinada ao tema “a memória de Rui de Noronha”.

1.4-Poesia como Exemplo de Contestação


Poeta de transição, Noronha manifesta a clara intenção e consciencialização da
necessidade de moçambicanidade nos modelos estéticos tradicionais portugueses;
incorpora em seus poemas palavras e expressões próprias de Moçambique.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Nos seus poemas, Rui de Noronha, ressalta a missão revolucionária, a missão de fazer
despertar a consciência adormecida. Na década de 30, a poesia moçambicana representada
por Noronha, exprime com elevado grau de firmeza, as oposições racial, económica e
cultural que definem as relações, colonizador versus colonizado.

1.5-Impacto da Poesia
O seu impacto foi de encorajar os poetas mais novos para que despertassem da situação
em que viviam, chamando a tensão no despertar da consciência

Cria o despertar nacionalista para que houvesse a necessidade de ter a sua identidade,
visto que o povo africano era tido como seu sem consciência da sua existência.

A literatura africana que era oral transmitida de geração para geração passou a ser
representada por escrito por alguns intelectuais africanos no geral e por moçambicanos em
particular. Servia de fonte para o historiador reconstituir o passado através do registo da
literatura oral moçambicana.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Sumário
As manifestações literárias desempenharam um papel de relevo na sensibilização quanto a
consciência nacionalista. O jornal«O Brado africano» foi considerado o depositário das
manifestações literárias dos percursos de uma consciência cultural nacionalista. A
literatura era marcada por uma rejeição da cultura colonial.

O governo de Salazar não poupou os meios de propaganda ao seu dispor. Usou a Rádio,
Televisão, imprensa e todos os outros meios para escamotear a realidade do que se
passava não só nas colónias, mas também em Portugal.

Os irmãos Albasini foram os percursores e figuras contraditórias, como contraditórios e


complexos foram os tempos que viveram. Eles são claros exemplos dessa camada urbana
que nasce para o nacionalismo através da fase de imitação do europeu e simultaneamente
contrariada nos seus objectivos, pela humilhação duma real desigualdade social e
económica.

A poesia moçambicana viria a ser um factor mais importante na medida em que se revela
a um público maior como o bater do coração dessa resistência.

Actividades Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Entregar o exercício: 2.

1 – O nacionalismo em Moçambique parte da tomada de consciência da camada de


assimilados e particularmente, de mulatos. Indica os nomes dos que se destacaram nesta
fase.

- Qual foi papel da imprensa durante o nacionalismo em Moçambique?

- Explica por tuas palavras o papel que a poesia chope desempenhou para a tomada

- de consciência sobre a exploração colonial.

- Identifique três poetas que conheces ligados ao repúdio à colonização em Moçambique.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade II
___________________

Os projectos de sociedade dos movimentos de libertação em África

2.1. O Projecto de Patrice Lumumba

_________________________________________________________

Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam interpretar o papel desempenhado
por Patrice Lumumba aquando da formação dos movimentos nacionalistas para a
libertação do Congo, e as razões que ditaram a formação de muitos partidos políticos
naquele país.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade, o estudante deve ser capaz de:

1 - Explicar as causas que contribuíram na formação de vários partidos para a


libertação do Congo.

2 – Identificar o papel desempenhado por Patrice Lumumba na união Congo.

2.1.1-Desenvolvimento do tema
os primeiros partidos políticos fundados no período dos nacionalismos africanos no
Congo Belga por volta dos anos cinquenta, observou-se desde o início serem

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

caracterizados por expressarem-se a partir de ideologias tendentes a defesa de


autodeterminação tribal regionalista e não por uma autodeterminação nacional ou por
defender a causa de todo um território até então ocupado pela Bélgica, embora todos
tivessem como objectivo a obtenção da independência. Quer dizer que a maior parte
desses partidos tinham uma base étnica.

O número de etnias em presença bem como a sua posição, deviam dar a vávios partidos
políticos , dominando cada uma das regiões. o mais antigo era o Aliança dos Bakongos
(abako), expressão partidária do grupo dos Bakongos. Era um partido resolutamente
étnico, que se dividiu por ocasião da conferencia da Mesa Redonda, em tendências
dirigidas por Kanza e Kazabuvu. Reivindicava a independência e a criação dum estado do
Congo central.

A conferência das associações do Catanga, fundada em 1958, tinha um fundamento


étnico, ao que se a ditava um movimento federalista europeu dirigido por Albert Gavage.

O movimento nacional congolês, fundado em 1958, pretemdia ser um partido interétnico.


Tinha efectivamente uma importante representação em cinco das seis regiões. Em 1959,
produziu-se uma ruptura entre a ala dominada por Patrice Lumumba e a dirigida por A.
Kalondji. O projecto de patrice Lumumba e seu partido M.N.C.desejava manter a
unidade do Congo e estabelecer uma cooperação igualitária com a Bélgica.

Até 1959 os belgas continuavam indiferetes sobre a possibilidade de independência da sua


colónia. Graças a nomeação do antigo governador geral do Congo para o cargo de
ministro das colónias, a descolonização começou ciada. Foram criadas nas maiores
cidades os conselhos electivos e os partidos políticos congoleses. Numerosos congoleses
começaram a viajar para Bélgica e outros paises. Três dos quais Patride Lumumba
conseguem assistir a uma conferência de movimentos para a independência organizada
por Nkrumah em finais de 1958 em Acra.

Os belgas tinam compreendido que com a perspectiva da independência do Congo


francês, a política tradicional de total isolamento da sua colónia não seria mais praticável.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Em Janeiro de 1959, foi inspirado o proletariado urbano de Leopoldvile a apoderar-se das


ruas, e considerava a independência como a única solução possível para o seu
descontentamento social e político. Os tumultos tiveram como consequência 49 mortos e
379 feridos incluindo europeus. No prazo de um ano, o governo e o parlamento belgas
negociaram os termos de independência com os líderes congoleses. Em Maio de 1960,
realizaram-se eleições para assembleia nacional e em um de Junho, foi proclamada a
república do Congo independente.

Lumumba fica pouco tempo no poder, devido a falta de contacto com outros intelectuais,
os movimentos Pan – Africanistas e Negritudistas, será neste contexto que vai lhe
incentivar a formação de um estado uno e centralizado que por sua vez fica inviabilizado
e recorrendo por fim ao socialismo que a foi a via usada para a independência de todos os
líderes Africanos.

2.1.2-Surgimento Mobutu Sesse Seko


Quem era Josefo Disere Mobutu? Ele era um militar e jornalista do exército do Congo,
formado na Bélgica. Influenciado pela riqueza que assistiu no país e fazendo amizade com
políticos belgas, tornou-se um aliado estratégico. Apesar disso, sua inteligência atraiu a
confiança de Patrice, que o tornou seu assessor directo. Sem saber, Lumumba, acabou
ajudando a colocar no mundo político do Congo, seu futuro algoz e um dos maiores
duradouros ditadores africanos. Outro que cometeu este erro foi o presidente Kasavubu,
que nomeou Mobutu, para Director do Exercito.

Comandando o exercito, fez umas carreiras meteóricas, assumindo depois o ministério da


defesa e a chefia do estado maior do Congo. Criando uma situação ideal para um golpe,
Mobutu o faz no dia 13 de Setembro e tem como consequência imediata à deposição de
Kasavubu e de Lumumba.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Como primeiro acto, o ditador, mandou prender o primeiro ministro Lumumba em


Thysville. Patrice fica com residência fixa, vigiado por tropas da ONU e começa, desde
logo, a preparar a sua fuga que virá a concretizar em fins de Novembro. É seu objectivo
chegar a Stanleyville, a sua cidade, onde conta com apoios que lhe permitirão estar em
segurança e relançar a actividade. Mas a viagem, que deveria ser discreta e rápida,
transforma-se numa lenta caminhada triunfal, com milhares de pessoas obrigando-o a
parar e a falar-lhes. Em 2 de Dezembro é preso pelas tropas de Mobutu (graças à preciosa
ajuda do Embaixador dos EUA, Clare Templeton) e reenviado para a capital. É conduzido
à residência de Mobutu na presença do qual é agredido, torturado, obrigado a engolir um
comunicado onde se afirmava chefe do governo legal do Congo. "Batam-lhe, mas não o
matem", ia dizendo Mobutu. Dali é conduzido à base militar de Thysville. Mas, receando
que ele persuada os soldados a libertá-lo, decidem transferi-lo para um lugar seguro:
Katanga. A tarefa que eles tinham era de eliminar Lumumba, inverter o curso dos
acontecimentos no Congo e instalar os interesses do imperialismo norte americano
naquele riquíssimo país. É nesse espaço que se movimenta também Mobutu, que acumula
as ligações à CIA com a condição de agente dos serviços secretos belgas - e que,
entretanto, aderira ao Movimento Nacional Congolês. Lumumba ingenuamente nomeia-o
secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e, dias depois, chefe do
Estado Maior das Forças Armadas.

2.1.3- Assassinato de Patrice Lumumba


Depois de sadicamente humilhado e torturado durante a viagem, foi entregue aos homens
de Tshombé. Mobutu autorizou o assassinato dele em Elisabethville, em conjunto com o
membro do partido União pela Democracia e Progresso Social (UDPS), Etienne Thsiekedi
. A ordem foi executada no dia 17 de Janeiro de 1961 é levado para a floresta e
assassinado, junto com seus companheiros Mpolo e Okito. O corpo foi dissolvido com
ácido sulfúrico e seus ossos guardados como premio por Tshome. O assassinato foi um
escândalo nacional, repercutindo no mundo. Mobutu cinicamente proclamou Patrice

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Lumumba –“ um herói nacional”. Mas ninguém se enganava, o ditador tirou assim do


caminho a única pessoa que poderia articular em torno de si, a oposição e a resistência a
suas medidas.

A Bélgica manifestou em 2002, "sincero pesar" pelo assassinato, em 1961, de Patrice


Lumumba - o primeiro e único líder eleito democraticamente no país da África Central
conhecido hoje como República Democrática do Congo.

O filho de Patrice Lumumba, Francis Lumumba, que é líder da oposição no Congo,


viajou até Bruxelas para participar do debate, mas mesmo assim, não teve reais
informações sobre o assassinato do seu pai, facto que permanece em si e em sua memória
até aos nossos dias, sem reais esclarecimentos.

Vários analistas em política internacional consideram que o assassinato bárbaro de Patrice


Lumumba “originou” políticas de divisão, desestabilização, corrupção, injustiça social e
violência, inclusive a prática de golpes de Estado. A África perdeu um dos seus mais
insignes filhos, cuja vida e obra o colocam ao lado de arautos da história do Continente
africano como Nkrumah, Nasser, Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Senghor, Boigny,
Hassan II e outos.

________________________________________________________

Sumário
Nos primeiros partidos políticos fundados no período dos nacionalismos africanos no
Congo Belga por volta dos anos cinquenta, observou-se desde o início serem
caracterizados por expressarem-se a partir de ideologias tendentes a defesa de
autodeterminação tribal regionalista e não por uma autodeterminação nacional ou por
defender a causa de todo um território até então ocupado pela Bélgica, embora todos
tivessem como objectivo a obtenção da independência

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

O número de etnias em presença bem como a sua posição, deviam dar a vávios partidos
políticos, dominando cada uma das regiões.

Em Janeiro de 1959, foi inspirado o proletariado urbano de Leopoldvile a apoderar-se das


ruas, e considerava a independência como a única solução possível para o seu
descontentamento social e político. Foi neste contexto que iniciou a luta pela
independencia nacional com apoio da URSS.

Em Maio de 1960, realizaram-se eleições para assembleianacional e em um de Junho, foi


proclamada a república do Congo independente, Lumumba como presidente implementou
um estado uno e centralizado com ideias socialistas.

____________________________________________

Actividades
Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação: 1, 3 e 4.

1 - Embora todos os nacionalistas congoleses tivessem como objectivo a obtenção da


independência, na época foram formados vávios partidos político; indica as razões.

2 - A conferência das associações do Catanga, fundada em 1958, tinha um fundamento


étnico, quais eram os seus objectivos fundamentais?

3 - O movimento nacional congolês, fundado em 1958, pretemdia ser um partido


interétnico. Quais eram as principais pretenções deste partido?

4 – Explica por tuas palavras o papel desempenhado por Patrice Lumumba como patriota
congolês.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade III
Os projectos de sociedades dos movimentos de libertação
em África

3.1.- O Projecto de Jomo Kenyatta


Esta unidade deverá ser desenvolvido como trabalho de pasquisa a partir duma busca
bibliográfica feita pelos estudantes e servirá de uma actividade avaliativa. Os estudantes
terão que tomar em conta a explicação sobre o objectivo da criação do movimento dos
mau-mau e o papel desempenhado pelo Jomo Kenyata no Quénia.

_______________________________________

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade, o estudante deve ser capaz de:

1 – Explicar o processo da formação das associações nacionalistas a partir da política


colonial de assimilação.

2 – Identificar as grandes personalidades que se envolveram na luta pacífica pela


emancipação e desejo pelo alcance da independência de Quénia.

3.1.1-Desenvolvimento do tema
Os líderes africanos urbanos formaram em 1944, a União africana do Quénia (KAU), que
segundo Guia do Mundo (2004:376) defendia os interesses dos Kikuyus. Liderado por
Jomo Kenyatta, KAU, organizou greves, marchas sobre as cidades e manifestações em
massas. A KAU actuava em simultâneo com o grupo Mau-Mau e tornou-se a partir de

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

1960, KANU (União Nacional Africana do Quénia) que uniu todos os grupos étnicos do
Quénia, após um banimento por ingleses e prisão em campos de concentração de milhares
de Kikuyus.

Apoiado pelos sectores urbanos mais evoluídos, com um grupo de sindicatos e acrescentar
o número de ex-soldados regressados da última Guerra Mundial com altas esperanças de
uma nova vida, conseguiu (KANU) convencer os movimentos de ideologia tribal, os quais
encorajavam o poder colonial nas eleições.

Em 1963, Quénia conquista a sua independência e Jomo Kenyatta tornou-se o seu 1


presidente. Abandonou a sua vocação de líder nacional e governou a favor da sua tribo
Kikuyu, relegando para o último plano os restantes grupos existentes.

Após independência incentivou a propriedade privada e a penetração das multinacionais.


Esmagados pelas dívidas, os camponeses que tinham recuperado as suas terra voltaram a
perde-las. Uma burguesia negra, em que se destacaram amigos e familiares de Kenyatta
substituíram os antigos colonos.

Uma das primeiras ideologias foi o Pan – Africanismo, ou a união de todas as nações
africanas, formulado pelo líder negro Jomo Kenyatta do Quénia. O obstáculo do Pan –
Africanismo era a diversidade étnica e cultural do continente, pois, existia a falta de
“identidade africana”, o que viria a dificultar a aliança dos países, devendo-se em grande
parte ao facto de a África ter sido dominada, dividida e explorada por potências que nunca
se preocupavam com os traços culturais dos povos africanos.

Quando o líder nacionalista Kenyatta falava em Pan – Africanismo, ele tinha em vista,
muito mais uma estratégia geopolítica do que cultural ou étnica, portanto é preciso
ressaltar neste contexto que o objectivo era defender os interesses geopolíticos comuns
dos países africanos. Por conseguinte, essa unidade serviria de cimento político e
ideológico contra os interesses imperialistas para a descolonização do continente.

A KANU que era modelo para outros partidos nacionalistas sucumbiu ao nacionalismo
chegando a admitir a presença de militares britânicas no Porto de Mombaça e sua
utilização ao ataque de Israel ao aeroporto ugandês em 1976. Isso levou á ruptura de

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

relações entre Quénia e Uganda enquanto a orientação económica criou atritos com a
Tanzânia do Julius Nyerere.

Sumário
Entretanto, o Quénia obteve a sua independência em 1963 e elegeu como seu primeiro

Presidente Jomo Kenyatta, que governaria até 1978, data da sua morte. Este teve uma
visão ocidental, na tentativa de recuperar a sociedade africana pobre, dai preferiu manter a
burguesia colonial para não por em risco a economia do pais, doutro lado se desprezasse a
as massas nativas corria o risco de ser destruído, dai a necessidade de mistura por falta de
objectivos clarificados, perdendo-se entre o socialismo e o capitalismo.

Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Entregar os exercícios: 1 e 2

Exercícios:

1 – Quais foram as politicas implementadas pelo Jomo Kenyatta?

2 – Identificar as áreas das infra-estruturas privatizadas pelos multinacionais?

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade IV
As Transformações sócio-culturais pós-coloniais em África

4.1. As Sociedades africanas na Construção Das Nações em


África e em Moçambique
______________________________________________

Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam interpretar o processo que levou os
africanos a conquistarem as suas independências. De forma particular, em Moçambique
permaneceu durante vários séculos sob domínio colonial, obrigando vários nacionalistas
núcleos ou movimentos para protestarem a opressão colonial. Contudo, as revoluções a
volta deste território obrigaram Portugal a aceitar assinar o Acordo de Lusaka em 07 de
Setembro de 1974, na capital da Zâmbia.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade, o estudante deve ser capaz de :

Identificar os factores que contribuíram e incentivaram as independências de África.

Explicar as grandes viragens que ocorreram na história africana a partir da década de 50

Ser capaz de conceber as independências de África como resultado dum processo político
conjuntural entre europeus e africanos.

29
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

4.1.1-Desenvolvimento do tema
O conceito de nação aplica-se, em princípio, ao menos a três categorias de grupos
humanos. Em primeiro lugar, ele pode aplicar-se a “uma comunidade estável e
historicamente evoluída de pessoas tendo em comum um território, uma vida económica,
uma cultura que os distingue e uma língua”. Em segundo lugar ele pode designar “as
pessoas habitantes de um território unificado sob a autoridade de um governo único; uns
pais e ainda um Estado”. E, em terceiro lugar, uma nação pode ser “um povo ou uma
tribo”. (MAZRUI, 2010:35)

A definição da ideia de nação faz muito amiúde intervir a distinção entre os atributos
objectivos e os atributos subjectivos da nação. Entre os elementos objectivos, cita-se
frequentemente a língua, a história, o território, a cultura (que por vezes engloba a
religião), a organização política e a vida económica.

Ideologia

Segundo Freitas, (s/d:147), “ ideologia é um conjunto de ideias, conceitos, princípios,


doutrinas, designadamente políticas e sócio – económicas, próprias de um grupo social/
ou de uma época, traduzindo uma certa situação histórica”.

“O Estado Novo de Salazar nos anos 30 a 40 manteve-se a política de indigenato em todos


os territórios africanos”. (MARQUES 1974:441)

Neste contexto a população africana foi dividida em duas categorias distintas (africano
não assimilado) e não indígena (qualquer um que tivesse plena cidadania portuguesa
incluindo os assimilados africanos).

O crescente interesse pelos assuntos africanos levou vários africanos, jornalista e


humanista a contestar as ideias dos colonos. Além disso a aceitação do princípio de auto-
determinação que defendia a independência. A sua reacção foi sobretudo refrear a imagem
dos portugueses como racistas, para argumentar que todo dos cidadãos são iguais de um
Portugal maior, os habitantes das suas colónias não tem qualquer necessidade de
independência.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Em quanto que na sua prática o indígena não tinha cidadania e era obrigado a trazer uma
caderneta indígena (cartão de identidade) e estava sujeito a todos os regulamentos do
regime.

4.1.2-A Situação após a II Guerra Mundial


Após a IIGM, ocorreram mudanças substâncias em todo o mundo. As organizações
internacionais tornaram-se mais influentes. O conceito de autodeterminação, ganhando
assim o espaço pelas maioria das potências coloniais.

Mas Portugal permaneceu com a sua Sé Católica foi tendência até que as revindicações do
governo indiano sobre Goa chamaram atenção para a situação dos territórios coloniais e
começou a sentir a necessidade de defender a sua posição como colonizador e entrou nas
Nações Unidas e a sua primeira acção ocorreu em 1951 que transformou as colónias em
províncias ultramarinas, tornando-as parte integrante de Portugal fugindo assim o
princípio de auto-determinação.

A agitação de Angola que se transformou em um movimento armado em 1961 contribuiu


mais um impulso para esta mudança.

4.1.3- O papel da Igreja em Moçambique


Em 1940 foi assinada um acordo entre Portugal e o Vaticano designado concordata. Este
acordo o governo português é obrigado a subsidiar os programas missionários da Igreja, e
por sua vez a igreja Católica Romana de papel de pacificador do africano para rebelar
sobre a autoridade colonial.

Por outro lado os portugueses acreditavam a maioria possibilidade de um Africano se


tornar português em todos os sentidos se ele for católico.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

As missões protestantes foram acusadas de fomentar sentimentos anti-portugueses entre


as populações africanas e responsáveis pela ascensão do nacionalismo em Angola e em
Moçambique.

No caso da FRELIMO, a maior parte dos membros do comité central que dirigiu todo o
programa da luta armada foram católicos.

Também é necessário referir que a igreja Católica desempenhou um papel na divulgação


de mensagem do regime de Lisboa tanto nas colónias.

Segundo Mondlane (1995:65) “ a igreja Católica Romana está inequívocas com a


independência e intensificou pontos de que a independência para o povo africano era um
erro contrário a vontade de Deus”.

Esta teoria tinha finalidade segundo os europeus tornar o africano civilizado e fazer dele
um português. Na prática nada acontece, o sistema foi elaborado de forma a tornar quase
impossível ao africano obter uma educação que lhe dê acesso a algo mais que não seja
trabalho social.

4.1.4-O Começo do Nacionalismo


Devido à proibição de qualquer associação política, a erosão da sociedade tradicional e a
ausência de uma educação mais moderna nas áreas rurais, se desenvolveu ideias de uma
acção de âmbito nacional.

“Nas cidades o poder colonial era visto mais perto, era mais fácil compreender que a
força do colonizador assentava na nossa fraqueza e que o sucesso por eles alcançado
dependia do trabalho do africano.” (MONDLANE, 1995:89).

Encorajados pelo Liberalismo da Nova República (1910:1926), estes grupos criaram


sociedades e iniciaram a publicação de jornais através dos quais conduziam campanhas
contra abusos do colonialismo, exigindo direitos iguais até que pouco à pouco,
começaram a denunciar todo o sistema colonial.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Em 1920 foi criada em Lisboa a Liga Africana, uma organização unindo os poucos
estudantes africanos e mulatos que chegavam a cidade. O propósito era conferir um
carácter organizado as ligações entre os povos colonizados.

Esta liga defendia a unidade nacional e a unidade entre as colónias contra a mesma
potência colonizadora, uma maior unida de africana contra as todas as potências
colonizadora a unidade de todos os povos negros do mundo oprimido. Mas de facto, ela
era fraca na medida que apenas cerca de 20 membros e estava sediada em Lisboa longe do
possível campo de acção.

No início dos anos 20, surgiu em Moçambique uma organização chamada Grémio
Africano que mais tarde transformou na associação Africana com apoio pelos Ventos
Fascista que sopravam em Portugal, iniciou uma campanha de intimidação e infiltração
tendo conseguida apoio de alguns dirigentes para desviar a associação para uma linha
mais conformativa.

Surge então uma ala mais radical que separou e formou Instituto Negrófico.

4.1.5- A Revolta dos Intelectuais


Em Moçambique surge uma nova geração de insurrectos, activos e determinados a lutar
pelos seus próprios meios e não dentro dos parâmetros impostos pelo governo colonial. A
discriminação racial, e exploração dentro do sistema colonial, a fraqueza real do
colonizador e a evolução do Homem em termos gerais.

A nova resistência inspirou um movimento em todas que começou durante os anos 40 e


influenciou poetas, pintores e escritas de todas as colónias portugueses.

Em Moçambique os mais importantes foram: os pintores Malangatana, e Craveirinha, o


escritor de contos o Luís Bernado Honwana e os poetas José Craveirinha e Noémia de
Sousa.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

As pinturas de Malangatana e José Craveirinha (sobrinho de pintor) foram buscar a sua


inspiração às figuras da escultura tradicional e da mitologia Africana incorporando-as em
obras explosivas com temas ligadas a libertação e denúncia da violência colonial.

Os contos de Luís B. Honwana, que tem sido amplamente reconhecido fora de África
como um mestre nesta arte, levam o leitor a fazer as mesmas denúncias através de uma
análise perceptiva e detalhada do comportamento humano.

4.1.6-Factores da Emergência do Nacionalismo Africano


Factores Externos

O abalo da 2ª Guerra Mundial


O Papel da ONU
A política dos EUA
A política da URSS
O exemplo da Ásia
Factores Internos
O movimento dos estudantes
Surgimento da frente de libertação de Moçambique
Acção dos intelectuais e das igrejas
Os Sindicatos Africanos
O papel dos escritores
A acção dos trabalhadores

4.1.7- O Caminho a Unidade


As agitações dos intelectuais, como as greves da força do trabalho urbano estavam
destinados ao fracasso porque em ambos casos resultavam da acção de um pequeno grupo

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

isolado. Alguns acontecimentos que tiveram lugar na s zonas rurais no período anterior à
fundação da FRELIMO, foram de grandes importâncias.

Depois do massacre de moeda, a situação do norte nunca mais voltou a normal, espalhou-
se por toda a região um ódio amargo contra os portugueses e focou de uma vez por todas
demonstrando que a resistência pacífica essa inútil.

As primeiras tentativas de criar um movimento nacionalista a nível nacional foram feita


pelos moçambicanos que trabalhavam nos países vizinhos, onde estavam fora do alcance
imediato da PIDE, o velho problema de falta de comunicação levou à criação de 3
movimentos separados.

UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique), formado em 1960 em


Salisbury;

MANU (Mozambique African National Union), formada em 1961 a partir de vários


grupos já existente entre os moçambicanos trabalhando na Tanganhica e Quénia.

UNAMI (União Africana de Moçambique Independente), fundada pelos exilado da região


de Tete que viviam no Malawi.

Em 1961 Eduardo Mondlane teve a oportunidade de visitar Moçambique durante as suas


férias e viajando por tarde a parte verificou com os seus próprios olhos as condições e as
mudanças que tinham ou não ocorrido deste a sua partida. No mesmo momento preferiu
deixar as Nações Unidas para a luta de libertação nacional.

Estabeleceu contactos com todos os grupos de libertação e recusou juntar-se a qualquer


um dos grupos desses movimentos que lutavam separados porque ele era um dos que
defendia a unidade de todos os moçambicanos.

É assim que reuniram em Dar-Es-Salaam em 1962 representantes quase de todas as


regiões de Moçambique e todos os sectores da população. Assim a 25 de Junho de 1962
os 3 movimentos existentes em Dar-Es-Slaam fundiram-se para formar a Frente de
Libertação de Moçambique (FRELIMO).

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

O carácter do próprio governo português permitiu que os moçambicanos observassem que


não era possível ter uma solução pacífica visto que Portugal nunca promoveu um
desenvolvimento Económico sólido, nem o bem-estar social e o gozo de muito pouco o
respeito internacional.

Face a essas situações restava-nos apenas duas alternativas: continuar definidamente a


viver debaixo de um regime imperial e repressivo ou encontrar uma forma de empregar
uma força contra Portugal que fosse suficientemente eficaz para prejudicar Portugal sem
provar a nossa ruína.

4.1.8- Impacto sócio - cultural


Fez com que Moçambique alcançasse a sua independência por via de luta armada, como o
resultado da fusão dos três movimentos (UNAMO, UDENAMO e UNAMI);

Implementou a Unidade Nacional que hoje o país desfruta;

A radicação do analfabetismo e a luta contra a ignorância.

Fez com que apesar de haver a diversidade étnica, religiosa e cultural estes todos uniram-
se em prol de um único objectivo (libertar a pátria do jugo colonial);

Despertou aos moçambicanos a consciência de que a colonização era mal e tinham que se
libertar deste mal através da luta e de outras formas;

Despertou o orgulho a nacionalidade moçambicana;

Despertou que o colono estava apenas para pilhar aquilo que eram as nossas riquezas, e
marginalizava a originalidade da cultura moçambicana;

Mostrou ao mundo que a África tinha sua História e civilização própria que faz parte de
civilização universal e com um contributo valioso para a humanidade.

__________________________________

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Sumàrio

“O sistema colonial” é em poucas palavras, a exploração económica aliada à


descriminação racial.”

Diferentemente do caso europeu, a África colonizada vai, inicialmente, usar os próprios


meios do estrangeiro, isto é, a sua língua, a sua técnica, a sua religião, as suas ideias... Por
isso a emergência do nacionalismo africano realiza-se nas cidades, onde a presença
colonial é mais constante e próxima. Assim, os escritores e poetas exprimiram a sua
revolta na língua colonial. Na visão de Eduardo Mondlane fez com que Moçambique
tornasse independente, permitiu a unidade dos Moçambicanos. O seu horizonte analítico
estendeu-se também com os conteúdos programáticos de combater o colonialismo como
um sistema, a partir de luta armada de libertação nacional.

Ele soube dividir os momentos, poder de saber e poder político, implementou o combate
contra a ignorância.

_________________________________________________

Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Entregar o exercício: 2 e 3.

Exercícios:

Identifica as principais causas que contribuíram para o desmoronamento dos impérios


europeus em África a partir da década de 50.

Explique as razões ligadas à preferência dos europeus em entregar as independências


africanas depois da segunda guerra mundial?

Identifique qual seria para os europeus a consequência negativa em manter os seus


impérios a força em África?

_____________________________________

37
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade V
As ODM’s e o projecto social no período pós-colonial

5.1. As ODM’s (Organizações Democráticas de Massas) o


projecto social em moçambique no período pós-colonial

____________________________________________________

Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar as estratégias adoptadas
pela política moçambicana na tendência de garantir a concretização da execução de
actividades sócio políticas e económicas perante as adversidades que se viveram nesse
período.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade, o estudante deve ser capaz de:

Identificar as principais organizações fundadas no período pós-colonial em Moçambique

Explicar as causas que precipitaram a formação de várias organizações de massas nesse


período.

Identificar essas organizações.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

5.1.1-Desenvolvimento do tema
Organização

É uma combinação intencional de pessoas e de tecnologias para atingir um determinado


objectivo.

Sob ponto de vista social, a Organização é um sistema de actividades conscientemente


coordenadas por duas ou mais pessoas, com isso ela é uma entidade social por que é
constituída por pessoas.

Democracia
Democracia vem do grego Demokratia, governo do povo, poder popular. (Enciclopédia
Mirador Internacional, s/d: 3200)

Na óptica de Freitas, Democracia é uma palavra de origem grega (demo = povo + cracia=
governo).

Porém, a democracia é um regime político em que o povo tem o poder de decisão em


relação aos destinos da Nação.

Massas
Massas, multidão ou população que habita um determinado espaço geográfico ou
territorial.

5.1.2- Organizações Democráticas de Massas


Organizações Democráticas de Massas (ODM's), foram instituições políticas - sociais
criadas na década 70 do século XX, por intermédio da Frente de Libertação de
Moçambique (FRELIMO), servindo de elo de ligação entre o partido e o povo.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Segundo (GÓMEZ, 1999: 291) “nelas (ODM's), a FRELIMO encontra uma fonte
inesgotável de energia revolucionária, são a grande escola onde se desenvolve a
consciência do trabalhador, mulheres, jovens e continuadores".

5.1.3- Contexto Histórico do Surgimento das Organizações


Democráticas de Massas
As ODM's enquadram-se no âmbito do Nacionalismo africano em geral e em particular
moçambicano.

Em Moçambique, durante a guerra de libertação Nacional, a FRELIMO esteve bastante


atenta na mobilização de massas do campesinato por ser a classe mais oprimida pelo
regime colonial, acreditando que povo podia ser mobilizado para apoiar a revolução,
resolveu formar uma associação de massas.

Assim, na óptica de (NEWITT, 1997: 467) “a FRELIMO procedeu ao alistamento de


líderes tradicionais como chefes e dirigentes de cooperativas, trabalhadores e mulheres
oprimidas".

As directivas do terceiro congresso do partido FRELIMO em 1977 atribuem importante


papel as ODM's. Estas organizações, segundo as deliberações do 3°. Congresso, iriam se
tomar na grande escola onde se poderia desenvolver a consciência de milhões de
trabalhadores, homens e mulheres, velhos e novos e continuadores. Elas são a base do
recrutamento e o centro de formação e melhoramento permanente do povo moçambicano.

Segundo as deliberações do terceiro congresso do partido FRELIMO, citadas por


(EGERO, 1992: 131), “as ODM's, constituem o meio fundamental de alargamento e
consolidação, a nível nacional, de uma ampla frente popular anti-imperialistas: Elas são
uma escola de vida democrática e da participação organizada do povo na vida social".

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

5.1.4-A Formação das ODM's


A organização das instituições democráticas que assegurem o controle pelas massas
populares da construção nacional para a satisfação das suas aspirações e dos seus
legítimos interesses— Kl-ZERBO (1972).

A partir dos anos 70, a FRELIMO, criou as ODM’s com objectivo de organizar e
enquadrar as populações para qualquer trabalho a ser realizado, isto é, fazer participar as
populações no trabalho do desenvolvimento do país. Também constituem objectivos
destas organizações levantar e debater socialmente a problemática dos seus respectivos
sectores, mas na prática, elas foram muito mais instrumentos de mobilização partidária, de
enquadramento político e com pouca autonomia em relação ao partido.

Numa primeira fase, foram criadas duas ODM's, a saber: Organização da Mulher
Moçambicana (OMM) e Organização da Juventude Moçambicana (OJM). Mais tarde
foram criadas outras ODM's tais como: Organizações Sócio-Profissionais, Escritores,
Jornalistas, Cooperativas Agrícolas, Artistas, Cientistas, Sindicatos e Associações
Desportivas.

A Organização da Mulher Moçambicana (OMM)


Reunido em Maio de 1973, o Comité executivo da FRELIMO discutiu a ideia da criação
da OMM, a qual ficou acordado que seria dirigida por um comité nacional e um
secretariado-geral, a mesma viria a ser oficializada no IIIº congresso da FRELIMO
realizada em 1977.

É de salientar que a OMM tem as suas raízes na Liga Feminina Moçambicana ( LIFEMO)
, assim como teve como núcleo motor o Destacamento Feminino.(1968), que daria mais
tarde a sua origem ao 16 de Marco de 1973. Entretanto, o Destacamento Feminino foi
uma parte integrante do exército das FPLM, é um corpo político armado. A OMM, em
contrapartida, engaja todas as mulheres, das que ate hoje se encontram a margem da luta

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

até aquelas que são combatentes na frente da saúde, da educação, da produção, do


exército, etc.

“Samora durante o seu discurso, na I conferência da OMM, disse que, (...) dentro do
princípio de mobilizar, organizar e unir todas as forças para o combate, o comité
Central, satisfazendo as aspirações da consciência crescente da mulher moçambicana,
decidiu constituir a OMM'. (Grupo de pesquisa de Moçambique, 1996: 30).

A OMM é uma estrutura de enquadramento e orientação da mulher moçambicana, na


batalha pela sua emancipação e revolução . O Comité Nacional da OMM seria constituído
pelos membros do secretariado geral e pelos responsáveis da OMM em cada província ou
região e nos principais centros da FRELIMO no exterior. Tinha como tarefas, velar pela
aplicação da rota política que orientava a OMM e planificar as suas actividades.

O Grupo de Pesquisa de Moçambique avança que o secretariado geral era constituído pelo
secretário geral, adjunto e chefe do destacamento feminino a nível nacional.

Neste contexto, no decurso da reunião do comité executivo, o então presidente da


FRELIMO (Samora Machel), usando da faculdade que lhe conferia o artigo dos estatutos,
nomeou Deolinda Simango como secretária geral da OMM.

O Papel da OMM
As tarefas da OMM foram definidas no discurso de abertura pelo presidente da
FRELIMO, na Iª conferência da OMM, neste termo: "dentro do princípio de mobilizar,
organizar e unir todas as forças para o combate".

Nesta perspectiva, a sua tarefa central era de mobilizar a opinião internacional a favor da
luta e exprimir a solidariedade da mulher e do povo moçambicano para com a luta
libertadora e revolucionária das mulheres e dos povos do mundo inteiro.

Citando (MACHIL, 2006: 223) "é necessário desencadear, no seio da mulher o combate
ideológico que faça conhecer claramente os males dessas concepções reaccionárias".

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Com isso, pretende-se referir que cabe a OMM explicar a mulher convista a compreender
que a sua experiência de sofrimento, exploração, fome, opressão, miséria é a mesma em
todas províncias do país e foi provocada pelo colonialismo português.

A OMM tem a responsabilidade de formar as novas gerações, livres do tribalismo, do


regionalismo e do racismo, livres da mentalidade arcaica de oprimir a mulher ou aceitar
passivamente a opressão, livres de superstição, imbuídos de espíritos de classe e de
sentimento internacional.

Todas essas tarefas eram tidas como sagradas para a OMM, pois, devia-se mobilizar todas
as mulheres para sentirem a necessidade de participar numa tarefa concreta, sentirem-se
responsáveis e agentes activos na transformação da sociedade.

A Organização da Juventude Moçambicana (OJM)


A OJM foi criada em 29 de Novembro de 1977 na sua primeira conferência histórica, com
objectivo central de garantir a educação patriótica e socialista dos jovens e dos
continuadores moçambicanos, em 1980 mostrou sinais claros de estagnação, relacionada
com uma lamentável rigidez na organização, ideologia e nos métodos de trabalho.

A OJM é uma organização social na qual congrega jovens moçambicanos dos 15 aos
35anos, sem distinção de cor, sexo, grupo étnico, lugar de nascimento, religião, grau de
instrução, origem, extracto social e estado civil, desde que aceitem e se disponham a
cumprir os estatutos da organização.

A OJM tinha como uma das tarefas, realizar a educação socialista das novas gerações
(Grupo de Pesquisa in Relatório do Comité Central). Por outro lado, a OJM tinha como
tarefa incentivar a participação da juventude moçambicana nos diferentes sectores da vida
social.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

O Papel da OJM
A juventude constituía uma força de continuidade para o desenvolvimento do país, razão
pela qual o Presidente Samora Machel nos seus discursos afirmava: "é preciso encetar o
sangue novo no exército" e "a juventude é a seiva da nação".

O dinamismo da juventude permitia a promoção da cultura moçambicana através de


intercâmbio de grupos de danças, teatros, desportos, na consolidação do poder popular e
na edificação das bases políticas, ideológicas, técnicas e materiais da sociedade socialista.

Hoje na época da democracia multipartidária, a OJM luta pelo reconhecimento dos


valores mais nobres da sociedade moçambicana a questão da cidadania moçambicana.
Neste âmbito tem desenvolvido actividades nas áreas de cultura, desporto e recreação, no
desenvolvimento do auto-emprego e na luta contra a propagação do HIV/SIDA, através
de palestras de sensibilização aos jovens.

A Organização Nacional dos Professores (ONP)


A ONP é uma organização que engloba todos os professores do país. Tem como papel
essencial garantir que em cada momento os professores tenham uma compreensão, uma
consciência correcta da sua função profissional, dos seus direitos e dos seus deveres, bem
como promover o acesso de todos os moçambicanos a educação. (ONP, 1981:2-7).

O Papel da ONP
No seu discurso de abertura a Conferencia Nacional Constituinte da ONP, Samora Moisés
Machel disse:

“Tomando em conta a nossa experiência revolucionaria no domínio da educação e


sobretudo o papel importante do professor no processo de desenvolvimento do país,

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

conscientes de valorizar a profissão do professor, de forma a que a sua função como


agente transformador da sociedade seja prestigiada”. (ONP, 1981:2-7).

Nesta óptica o Partido FRELIMO decidiu criar nesta conferência constitutiva realizada a
12 de Outubro de 1981 a ONP. Este organismo surge assim como um instrumento que
enquadra, orienta e une os professores moçambicanos de todos os ramos e níveis de
ensino na batalha pelo desenvolvimento da educação revolucionária e criação do Homem
Novo.

O Projecto social da ONP


Aquando da sua formação, a ONP teve como principais actividades:

Liquidar os vestígios da mentalidade tradicional e colonial nas escolas de Moçambique a


partir da ciência e da técnica;

Promover a construção duma sociedade socialista a partir duma educação centrada nos
ideais marxista-leninista, isto é, a construção do Homem Novo;

Erradicar a ignorância e o obscurantismo;

Promover a educação para todos os moçambicanos tornarem-se cidadãos realmente livres,


capazes de orientar a economia e a sociedade;

Promover a troca de experiência entre os professores moçambicanos e professores de todo


o mundo, muito particularmente de países amigos, de países irmãos socialistas e outros
países que tenham experiências positivas que interessam conhecer.

Sendo uma organização criada pelo partido FRELIMO, os professores deviam ter sólidas
e profundas convicções políticas, conhecendo e aplicando as ideologias do partido
FRELIMO. Esta Ideia mostra claramente a forte ligação que havia entre a ONP e o
Partido FRELIMO.

Actualmente há tendência de ruptura entre a ONP e o partido FRELIMO, devido a


pluralidade de partidos, uma vez que nem todos os professores são partidários. É nesta

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

vertente que se assiste em 1998 uma fissura que vai consistir na transformação da
organização para Sindicato Nacional dos Professores de Moçambique (SNPM).

A Organização Nacional dos Jornalistas (ONJ)


A organização nacional dos jornalistas foi criada na primeira conferência nacional dos
jornalistas realizada em Maputo no dia 11 de Abril de 1978.

De acordo com HANS e NILSON (16:259) “as informações passadas nos meios de
comunicação, deviam antes ser censurados pelos órgãos do Governo central”.

Neste contexto, é preciso avançar que este sindicato funcionava intimamente ligado ao
estado tendo como missão básica, passar os ideais do partido ricem formado, tais como,
combater as ideologias opostas emergentes na sociedade moçambicana, instalar a unidade
nacional, combater o tribalismo. No fundo das suas funções, a exaltação dos êxitos
conquistados pelo povo moçambicano era a base da sua existência.

A partir de Abril de 1991, assiste-se uma viragem no seio da ONJ, com a eleição pela
primeira vez desde a sua criação, de uma nova direcção por voto livre e secreto e com
alteração dos seus estatutos. Assim, a organização passou a dar maior atenção aos
problemas laborais dos profissionais, que se podem resumir em baixos dos salários, más
condições de trabalho, vinculo contratuais precárias, problemas deontológicos e éticos.
(Sindicato Nacional dos Jornalistas, s/d: 4-5).

Durante a realização do 4º congresso Nacional da ONJ, realizada de 20 á 23 de Novembro


de 1996, na Cidade de Chimoio, que se viu nascer uma fase da vida da organização, pois
foi nela que se determinou a transformação da ONJ em SNJ (Sindicato Nacional dos
Jornalistas).

Esta transformação não é só na designação mas na essência da organização que pelo seu
estatuto passa a ser uma organização independente que, numa base voluntária e segundo
princípios democráticos reúne jornalistas moçambicanos para a defesa dos seus direitos

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sócio-profissionais e sindicais e reúne igualmente quadros de produção, entidades como


realizadores produtores, apresentadores e operadores de câmara. (Ibdem)

O Projecto Social da ONJ


No seu desafio pela melhoria das condições de vida dos jornalistas, a ONJ tem levado a
cabo as seguintes actividades:

Procurar e dar uma informação verídica e global;

Promover a liberdade de expressão e de imprensa;

Promover o exercício da profissão de jornalista de acordo com os princípios da


democracia, liberdade individual, independência e responsabilidade profissional;

Assegurar a assistência jurídica;

Promover a formação e qualificação profissional;

Melhorara a condição salarial dos jornalistas, quer através de salários condignos, quer
através de contratos melhores com as empresas empregadoras.

A Organização dos Trabalhadores de Moçambique (OTM-CS)


Em Moçambique no período colonial o objectivo destas associações era de dividir os
operários para melhor explorá-los, defender e representar seus associados brancos e
assimilados.

Tinham como tarefas a recolha das quotas, feituras de carteiras profissionais e sua
revalidação. As associações corporativas não se estruturavam a nível da empresa, existiam
apenas secções ou delegações nos distritos actuais províncias (Comité Nacional de
Educação e Formação Sindical, s/d: 53-54).

Após a independência, o Partido FRELIMO criou os Conselhos de Produção, em 13 de


Outubro de 1976 e tinha como objectivo mobilizar os trabalhadores para o aumento da

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

produção e produtividade; participar na planificação da economia; participar na direcção


da economia na unidade de produção; mobilizar os trabalhadores na defesa da pátria e;
difundir o internacionalismo proletário. A evolução histórica dos Conselhos de Produção
deu lugar a criação da OTM em 1983.

A OTM hoje designada Organização dos Trabalhadores de Moçambique Central Sindical


(OTM-CS) é uma organização que se ocupa dos problemas dos trabalhadores,
nomeadamente: a inflação, o desemprego, a política de emprego, o salário mínimo
nacional e os investimentos (geradores de novos empregos). A mudança da OTM para
OTM-CS verificou-se em 1987 com a introdução pluralismo político e da economia de
mercado.

O Papel da OTM-CS
Quando se fala de OTM pressupõe-se numa abordagem geral que pretendia-se com a
organização defender os direitos e interesses dos membros e trabalhadores, na melhoria de
condições de trabalho e de vida. Constituem tarefas do Comité Sindical as seguintes:

Angariação de mais membros;

Resolver os problemas dos membros;

Recolher quotas, conhecer e dominar as leis laborais e;

Promover a formação profissional dos trabalhadores e assegurar as normas de higiene,


segurança e protecção de trabalho. (Comité Nacional de Educação e Formação Sindical,
s/d: 53-54).

A Central Sindical é responsável pela negociação e celebração de acordos colectivos


nacionais com o Governo, e representa os sindicatos nacionais a ela filiada, na
concertação social.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Em função dos programas ou planos quinquenais dos seus membros, a Central Sindical
define os planos quinquenais e sindicais, que são cumpridos pelos seus membros. Define
a política de formação de quadros, os direitos e deveres dos seus membros. Cria e controla
ao nível nacional, infra-estruturas sociais para a divisão dos trabalhadores, pratica do
turismo e captação de receitas para a caixa social de desemprego e fundo da greve
nacional. No plano interno e externo, a Central Sindical representa os seus membros em
fóruns nacionais e internacionais sobre o sindicalismo e sobre o trabalho.

Hoje os trabalhadores do nosso pais lutam por uma justiça social, de respeito pelos
direitos humanos, democracia participativa e melhor qualidade de vida para todos que
com o seu trabalho e saber, contribuem para a reconstrução e desenvolvimento deste belo
e grande Moçambique. “Somos pelo emprego decente, seguro e com condições sociais,
pelo estabelecimento de salários que concorrem para dar o trabalhador condições dignas
de vida”. Nesta vertente, para que o ambiente de estabilidade nas relações de trabalho
passa necessariamente pela existência de diálogo entre os parceiros sociais na empresa e
no sector de actividade.

O desafio da OTM-CS é a necessidade de criação efectiva de tribunais de trabalho de


forma a dar mais celeridade nos julgamentos relacionados com os conflitos laborais. A
morosidade no estabelecimento dos direitos sindicais dos trabalhadores da função pública
constitui uma importante preocupação do movimento sindical.

_______________________________________________________

Sumàrio

As organizações democráticas de massas em Moçambique surgiram como uma integração


de estratégias políticas de desenvolvimento ou como forma de socialização das massas
quer para a auto-defesa, quer para a auto-produção de bens de consumo diverso. Isto é,
transformar sócio culturalmente, política, económica a população a terem novas
ideologias nacionais.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Os sectores sociais viriam a ser considerados pontas de lanças da estratégia para onde
seriam transferidas as experiências colectivas da guerra colonial à toda a populção e criar
uma legitimdade para a sua própria política.

__________________________________________________________

Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Entregar o exercício: 2, e 3.

Exercícios:

1 – Qual era o objectivo da formação das ODMs, pelo partido Frelimo?

2 – Identifica duas organizações de massas que conheces e diga qual é o seu benefício no
seu meio social?

3 - Os sectores sociais viriam a ser considerados pontas de lanças da estratégia para onde
seriam tranferidas as experiências colectivas da guerra colonial à toda a populção e criar
uma legitimdade para a sua própria política. Comente sobre a legitimidade da política que
a rase refere.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade VI
6.1-As Bases de Socialização do Meio Rural em Moçambique

Introdução da unidade
O presente tema aborda sobre as bases de socialização do meio rural em Moçambique

no período pós-independência, decisão tomada como forma de reestruturação do processo


de produção, organizando os camponeses em machambas colectivas de modo a aumentar
a produção e a produtividade agrícola. Foi em parte as formas encontradas para quebrar o
padrão destorcido que se tinha formado no período colonial. A sua concretização seria
acompanhada com o assentamento das populações em aldeias comunais.

Objectivos

Ao terminar esta unidade os estudantes serão capaz de;

1 – Descrever a experiência vivida durante a luta de libertação nacional na produção


colectiva de alimentos.

2 – Explicar as razões que levaram o governo a adoptar a concentração das populações em


aldeias comunais e introdução de machambas do povo.

3 – Identificar os principais objectivos destas medidas.

6.1.1-Desenvolvimento do tema
Conceito de Socialização nas Zonas Rurais

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Segundo GUIDDENS (2004:27) “Socialização é processo através do qual as crianças ou


os nossos membros da sociedade aprendem o modo de vida da sociedade em que vivem”.

Socialização é o processo pelo qual homem, a partir do seu nascimento se vê inserido na


cultura da sua sociedade e ela vai interiorizando ou é o processo pelo qual o homem já
inserido na sociedade se associa com outros em grupos especiais (profissionais como
sindicatos, desportivos, políticos como partidos, culturais como academias, etc.) para
reforçar os seus poderes numa actividade em que a pessoa isolada quase nada pode”.
FREITAS (s/d: 261)

Assim sendo, socialização constitui um processo pelo qual o indivíduo aprende e


interioriza os valores, as normas e os códigos simbólicos do seu meio social, integrando-
os na sua personalidade. Sendo por natureza um processo contínuo e sempre em
transformação, ela é transmitida por todas as instituições que o indivíduo encontra ao
longo da sua trajectória social. Por isso, a socialização constitui um processo contínuo de
aculturação, onde o indivíduo adquire e interioriza certas formas de actuar, de pensar, de
agir mediante ao grupo ou a sociedade a que pertence.

Socialização do meio rural é a forma de convivência no meio rural através da


colectivização da produção agrícola, solidariedade social e económica, em alguns casos,
prosperidade colectiva de meio de produção, num espírito de inter e entre ajuda.

Este processo de socialização não se realiza num período determinado do homem. É um


processo que começa na infância até a morte, sempre a aprendeu novos padrões de
comportamento e permanentemente envolvido na socialização. É um processo vitalício
em que o comportamento humano é representado de uma forma contínua por intervenções
sociais ao longo do tempo e em gerações diferentes, isto é, um processo dinâmico
permanente.

6.1.2-Contextualização e Efeitos da Socialização

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

A crise económica no pós-independência devido a seca e outros factores se alastrou com


bastante gravidade nas zonas rurais, em particular entre as populações aglomeradas em
aldeias comunais, que encontravam a sua origem no colapso em que a economia natural
se encontrava, em consequência da ruptura do sistema colonial, é neste contexto que o
governo lançou bases para a introdução da colectivização da produção agrícola e a
estatização da economia, num projecto que preconizava desde o inicio a ruptura com as
estruturas sociais do colonialismo e a acumulação socialista.

Na indústria: onde a produção estava virada para o mercado externo que transformava a
matéria-prima (Algodão, Açúcar, Chá e Caju). Dado a quebra das relações entre o
colonialismo e o novo governo da FRELIMO, provocou êxodo generalizado de
trabalhadores e técnicos portugueses especializado, assim como muitos gestores de
empresas o que afectou em grande o sector industrial visto que, a agricultura familiar não
conseguia responder as reais necessidades.

Na agricultura: a crise foi mais profunda e de consequências mais devastadoras para a


economia nacional. O abandono, a fuga ou a expulsão dos agricultores portugueses, as
diferentes formas de sabotagem, etc, foram factores muito importante para a crise
económica no pós-independência.

No comércio: dada a negligência no reabastecimento de uma rede de escoamento e


abastecimento após a dissolução do sistema comercial colonial.

No sector dos transportes: falando das crises não podemos deixar de lado o sector dos
transportes marítimos, ferroviário e rodoviário, afectando primeiro o monte de divisas
pela não utilização dos portos e caminhos-de-ferro no comércio internacional, afectando
também os próprios circuitos comercias que dependia da rede dos transportes.

Com as medidas tomadas pela RSA e com a falta de equipamentos que pudessem
impulsionar este sector de produtividade, associado a outros problemas como a falta de
alternativas viáveis e coerentes, o aparecimento de conjunturas (calamidades naturais, a
RENAMO), tudo combinado com a desmobilização políticas os erros de planificação,
gestão as companhias compulsivas de aldeamento e cooperativização, tornaram a crise

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

processual num desastre económico de consequências sociais imponderáveis. CASAL


(1996: 163)

Uma das consequências imediatas da subutilização geral das capacidades produtivas


existentes foi à subida repentina e exorbitante do custo unitário de produção no campo.

Em face desta carência, as trocas comerciais deixaram de existir, a moeda perdeu as suas
funções, gerando-se um sistema de troca directa entre produtos difícil de controlar. Os
preços oficiais tornaram-se totalmente artificiais onde havia ainda alguma capacidade de
produzir excedente, instalou-se o contrabando e o comércio paralelo, a corrupção e a
especulação.

6.1.3-A Implantação das Aldeias Comunais em Moçambique


O projecto moçambicano das aldeias comunais não era novo, nem original. Experiências
análogas foram realizadas anteriormente em diferentes regiões do globo, sobretudo em
países subdesenvolvidos, onde os recursos agrícolas e a população rural constituíam o
facto básico do seu desenvolvimento como, por exemplo, na URSS, Israel, bem como nos
países da América latina.

Em África as práticas de transferências e concentração de populações rurais num habitat


concentrado, considerada como estratégia nacional de desenvolvimento e de
transformação social tiveram a sua mais ampla expressão na década 70, primeiro na
Argélia (aldeias socialistas) e depois na Tanzânia (aldeias Ujamau). Foi na sequência
dessas duas experiências e dos modelos socialistas de desenvolvimento seguido nesses
países que se iniciava o movimento de socialização rural em Moçambique (1977), de que
as aldeias constituíam a manifestação mais visível e importante.

Em http//pt.wikipedia.og./wiki/moç.pos-independencia pode-se lêr em Moçambique, a


ideia da criação do sistema das aldeias comunais surgiu pela primeira vez no discurso
político através do presidente Samora Machel, em 25 de Julho de 19975 debaixo da
denominação de aldeias popular.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Na perspectiva de CASAL, o movimento de socialização do meio rural em Moçambique


teve o seu inicio 1977. Mas, é preciso salientar que antes desse período que coincide com
a realização do terceiro congresso da FRELIMO, movimento das aldeias comunais já
estavam em curso em algumas zonas do país.

6.1.4- Causa da Implantação das Aldeias Comunais


Moçambique encontrava-se numa grelha de países que devia resolver o problema do seu
desenvolvimento básico a partir da agricultura, tentando gerir neste sector excedente que
lhe permitisse a necessária acumulação para percorrer novas etapas.

Foi nesta perspectiva que o governo moçambicano definiu no período a seguir


independência, as linhas globais da política de desenvolvimento nacional, isto é, “tomar a
agricultura como base e a indústria como factor dinamizador”. Neste período o
desenvolvimento rural insere-se num plano de transformação, tendo como metas o
socialismo. As transformações empreendidas deviam se concretizar em duas directivas:

A dinamização da população agrícola sob a forma de empresas estatais e cooperativas;

Concentração espacial da população rural dispersa em aldeias comunais.

Com a implantação dos movimentos das aldeias comunais, pretendia-se vencer o


subdesenvolvimento e transformar as relações sociais numa perspectiva socialista. Este
modelo de desenvolvimento e socialização foi apresentado como alternativa possível para
ultrapassar o atraso do país e as desigualdades sociais entre o campo e as cidades.

6.1.5- As Aldeias Comunais Antes da Independência


A ideia de aldeia comunal remonta, em Moçambique, aos aldeamentos planeados, em
particular no norte do país, como parte das campanhas de cultivo do algodão não será
demasiado fantasioso vê-las arraigadas numa tradição Ibérica muito mais antiga, nas

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

tentativas dos espanhóis de erradicação da religião Incas, concentrando a população do


Peru no século XVI, e nas colónias planeadas dos jesuítas no Brasil e no Paraguai,
destinadas a “civilizar” e cristianizar a população da Índia. Vista nesta perspectiva, a
aldeia comunal revestiu sempre duas finalidades:

Originar uma dimensão de cooperação e uma concentração de recursos na agricultura;

Doutrinar o campeonato na ideologia política ou religiosa dos governantes da época.

6.1.6- Objectivo da Adopção da Política de Aldeias Comunais


A aldeia comunal nasce e constrói na base de uma realidade social anterior. Segundo a
concepção oficial do desenvolvimento da socialização, a concentração das populações
rurais deveria ser uma condição para alcançar o projecto desenhado pelo governo para o
futuro, com base nos objectivos sócio-ideológicos, económicos e políticos seguintes:

6.1.7- Objectivos Sociais e ideológicos


O Partido FRELIMO ao criar as aldeias comunais pretendia:

-Inculcar os novos valores nacionais e socialistas através de canais de instituições estatais


tais como escolas, administração, posto de rádio, as organizações de massas, e outros;

-Anular a qualquer custo o sistema de valores tradicionais considerados oficialmente


como obscurantistas, incompatível com o ideal de um Homem Novo e da sociedade
socialista;

-Libertar a população rural da produção familiar para produção estatal e cooperativas.

6.1.8- Objectivos Económicos


-Participar em forma mais moderna e rentável de produção agrícola em seu próprio
benefício familiar e para o bem da comunidade através de um fundo de acumulação
social;

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

-Criar condições estruturais para que as populações possam, por si próprio, assegurar e
melhorar o seu consumo e abastecimento básico, ao mesmo tempo que os recursos
nacionais disponíveis são dirigidos livremente para sectores de produção e de consumo
considerados prioritários, dentro da óptica de desenvolvimento nacional e da opção
política;

-Organizar os recursos naturais e humanos nas zonas rurais, promovendo uma maior
rentabilidade na produção, particularmente na produção de exportação, com o fim de criar
uma taxa mais elevada descendente e aumentar o fundo de acumulação.

6.1.9- Objectivos Sócio -Político


Unir as comunidades rurais (unidades regionais, tribais, clânicas e linhagens de
parentesco, etc) num quadro político-administrativo com a finalidade de:

-Garantir o fortalecimento do controlo estatal sobre o território nacional através de novos


vínculos de subordinação ao poder central;

-Com a saída da maioria dos médicos portugueses depois da independência, a FRELIMO


realçou a medicina social e preventiva através da campanha nacional de vacinação contra
a varíola, sarampo e tétano, usando pessoal médico expatriado.

-Através das aldeias comunais, as populações rurais teriam acesso aos serviços modernos
instrução escolar, saúde, segurança, comunicação, etc. Que numa situação de dispersão
lhes estariam vedados;

6.1.10- O Processo de Aldeias Comunais no Período pós


Independência

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Durante a guerra de libertação, a FRELIMO estava bastante atenta a mobilização das


massas do campesinato, visto que, era a classe mais oprimida sob antigo regime.
Acreditava que o povo podia ser mobilizado para apoiar a revolução, resolveu-se então
formar associações de massas, em que os líderes tradicionais estariam como chefes e
dirigentes de cooperativas e bem assim os grupos oprimidos como trabalhadores e as
mulheres. Foi dedicada atenção à criação de escolas, armazéns e hospitais nas zonas
rurais, e a criação de aldeias comunitárias para proteger a população.

Segundo CASAL (1996:158) “o terceiro congresso da FRELIMO, em 1977 definiu a


aldeia comunal como estratégia de desenvolvimento e de socialização rural, tal como já
tinha sido estipulado pela 8ª sessão do Comité Central da FRELIMO em Fevereiro de
1976”.

No entanto, os dois eventos citados por CASAL definiram que a base económica de uma
aldeia comunal devia ser constituída pela produção estatal e pelas cooperativas pois, o
papel das cooperativas seria o de servir de instrumento nas mãos dos camponeses para
eles poderem exercer o controlo directo sobre a produção e tomar consciência social e
política do movimento revolucionário no campo.

Nesta perspectiva, pode-se concluir que as aldeias comunais constituíram a base da


socialização no meio rural, pois, com a concentração ou aglomeração da população num
único habitat permitiu o desenvolvimento de novas formas de relações sociais, políticas e
económicas, no que se refere a troca de experiência (interacção entre diferentes grupos
populacionais), a colectivização e controlo da população, assim como a implementação de
determinados serviços sociais como é o caso da educação.

6.1.11-Factores que Contribuíram para a Implantação das


Aldeias Comunais em Moçambique

Capacidade Mobilizadora do Partido FRELIMO

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

O fundo revolucionário que a FRELIMO foi acumulando ao longo dos 10 anos de luta
armada era grande. O prestígio, a força e a autoridade com que se apresentou para tomar
nas suas mãos destino do povo moçambicano eram de uma forma geral, reconhecido por
todo os moçambicanos, dos mais diferentes estratos sociais, e em particular pelos
camponeses que constituíam a principal base de apoio da FRELIMO, sobretudo no Norte
do país.

Esta expectativa de uma vida melhor (acesso à escola, hospitais, transportes, os consumos
de bens, os abastecimentos de meios de produção, etc) programado pelo Partido
FRELIMO e pelo novo Estado moçambicano em que as populações rurais depositavam a
sua confiança, explicam adesão de grande parte da população as aldeias comunais.

As Calamidades Naturais
O período de 1977-1978 foi pródigo em fenómenos naturais, tais como as cheias e mais
tarde as secas, afectando a sua vasta região do território nacional. Estas circunstâncias
foram aproveitadas pelas autoridades moçambicanas para propor as populações vítimas
das catástrofes, o enquadramento em aldeias comunais onde a segurança das suas vidas,
dos seus bens e do seu futuro ficariam garantidos.

6.1.12- Critérios Utilizados para a Implantação das Aldeias


Comunais
Ao nível da escolha de locais para a implantação duma aldeia, foi na 8ª reunião do Comité
Central da FRELIMO que foram definidas os critérios básicos de localização que eram
seguintes:

A proximidade de vias de acesso – estradas ou picadas relativamente ao local da


implantação das aldeias comunais;

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Recursos naturais em água e terra;

Distância em relação a área de produção;

Densidade e composição dos aglomerados humanos das aldeias – os critérios oficialmente


divulgados referiam que concentração média era de 500 famílias com 5 agregados e com
uma porção de terra mínima de 30 X 40 metros.

6.1.13- Agentes da Socialização

A Educação nas Aldeias comunais


Segundo NEWITT (1997:382), a educação é basicamente a maneira de uma sociedade
preparar as gerações mais novas para o desempenho de uma função útil a sociedade ou a
maneira de uma comunidade perpetuar a sua mitologia e, através dela, o seu sistema de
valores e controlo social.

Partindo deste conceito, pode-se concluir que a educação é a transmissão de valores,


técnicas, hábitos e costumes de geração em geração, dentro duma determinada
comunidade. Portanto, esta transmissão cultural envolveu um processo de socialização
que inicia na família, passando pela comunidade, até a integração do indivíduo no outro
sistema.

É nesta ordem que o estado vai implantar os serviços da escolarização e alfabetização nas
aldeias comunais, como forma de atrair a massa popular e ao mesmo tempo, servir de elo
de comunicação entre as populações já agrupadas, tendo assim definido a língua
portuguesa como a oficial.

No entanto, os principais problemas detectados no funcionamento das escolas referiam-se


à:

Desistências avultadas dos alunos motivadas por: casamentos prematuros (raparigas);

Deficiente Preparação Pedagógica

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

A falta de ligação escola comunidade

Os conteúdos programáticos não inseriam conteúdos relacionados com a realidade da


aldeia e do seu desenvolvimento

Rádios Comunitárias
Após a independência de Moçambique, assiste-se a emergência de um agente de
socialização: os de comunicação de massas (rádio, cinema, televisão), que constituem
poderosos instrumentos de aprendizagem, uma vez que nos inculcam normas, crenças,
valores, modelos, de comportamentos. Assim, à partir dos princípios da década de 90 do
século XX em Moçambique tornou-se possível a criação das rádios comunitárias.

A rádio comunitária era um instrumento que concentrava processos de ensino e


aprendizagem e de promoção do debate sócio-economico das comunidades mais do que
um simples meio de produção e difusão de programas radiofónicos.

Nesta efeveriscencia as rádios contribuem, de maneira progressiva, na mudança social, na


democratização da comunidade, promovendo a cultura de paz, democracia e direitos
humanos, fornecendo conhecimentos básicos sobre o saneamento do meio ambiente,
prevenção de doenças, técnicas para o cultivo de certos culturas, etc.

6.1.14- O Constrangimento da Política de Socialização


Com tudo, durante os sete ou oito anos depois da independência, a FRELIMO
negligenciou por completo o sector da agricultura do tipo familiar, acreditando que
acabaria por ser absorvido no sistema de cooperativas e empresas estatais. O sector
familiar vai se ressentir deste abandono, servindo apenas de reservatório de mão de obras
sazonal para as grandes empresas agrícola. Além disso, com a independência, este sector
passou a ser responsável por 30% da produção agrícola comercializada (incluindo a
exportada).

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

No entanto, dada a saída da mão-de-obra para os países vizinhos e outros que foram para
as cidades em busca de melhores condições de vida, melhores oportunidades de emprego,
fizeram com que esta política falhar, sabe-se que o sector familiar constituía a base de
subsistência, como salienta Marc Wuyts citado por NEWITT (Op Cit: 478) diz que “a
população foi obrigado a abandonar o seu submundo de da produção de subsistência”.

6.1.15- Contributo e Impacto Sócio-Cultural da Socialização

Negativo
Emprego das milícias populares, da policia da república e dos serviços administrativos e,
as vezes, das forças armadas como forma de persuadir as populações a aderirem no
processo de implantação das aldeias comunais;

O abandono da agricultura de pequena escala e do sector familiar, como a base de


subsistência, contribuiu para o abandono dos camponeses no projecto de aldeias comunais
e aumento do êxodo populacional para as cidades;

Fraca capacidade do sistema de mobilização das massas e do projecto das aldeias


comunais e das machambas colectivas condicionou a fuga da mão-de-obra para países
vizinhos em busca de melhores empregos e condições de vida;

As carências em meios materiais, em recursos humanos e, sobretudo a falta de


coordenação entre a escola, alfabetização e a comunidade, fizeram com que as acções da
escolarização e alfabetização não tivessem os resultados esperados.

Positivo
Inculcou novos valores nacionais através de canais e instituições, tais como, a escola, a
administração, meios de comunicação (rádio); Organização da vida colectiva das
populações rurais com objectivo de melhorar as suas condições de vida e a consequente

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

transformação das suas relações. Do mesmo modo fez nascer a identidade cultural
moçambicana e uma ideologia nacional;

Quebrou definitivamente a rede de autonomia como as diferenças sociais e particularismo


aos níveis em que ela continuava a expressar-se;

Permitiu o desenvolvimento de novas relações sociais, políticas e económicas no que se


refere a troca de experiências (interacção entre diferentes grupos populacionais).

_______________________________________________________

Sumário

As bases de socialização do meio rural em Moçambique assentaram-se na necessidade de


quebrar o padrão destorcido que se tinha formado no período colonial, (…) partindo da
visão de desenvolvimento que surgiu durante a guerra de libertação, que baseava-se na
necessidade de tranformar a estrutura económica através de uma industrialização rápida.

As machambas estatais que seriam formadas a partir das antigas plantações e da junção de
parcelas agrícolas mais pequenas dos colonos.

A rápida mecanização era motivada, em primeiro lugar, pela vontade de aumentar a


produtividade; não só mas também pela necessidade de substituir o chibalo e o trabalho
manual duro por uma forma de agricultura mais moderna e também a ideologia nacional.

_________________________________________________

Actividades

Exercícios: Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Identifique dois objectivos da socialização do campo presentes neste texto.

Quais foram os critérios usados para a implantação das aldeias comunais em


Moçambique?

Quais foram os constrangimentos da política de socialização?

63
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

_____________________________________________

Unidade VII
A Sociedade face os planos estruturais no mundo ocidental,
em África e em Moçambique.

7.1. Epistemologia Da Sociedade na Construção dos Estados


Democráticos Em África e em Moçambique: a Sociedade Civil
e as ONG’s
_________________________________________________

Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar as diferentes modalidades do
processo da formação das democracias em África. Pretende-se também descrever as
desconexões verificadas ao longo do processo de lutas de libertação de África como fruto
das influências recebidas a partir dos dois blocos divergentes de então ( a U.R.S.S. e os
E.U.A.).

Objectivos

Ao concluir esta unidade o estudante deve ser capaz de:

1 – Explicar as razões que permitiram uma transição suave para as independências de


África na África ocidental e forma sangrenta na parte oriental e austral.

2 – Identificar as causas de conflitos no continente africano independente.

64
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

7.1.1- Desenvolvimento do tema


Conceitos

Para melhor compreensão deste capítulo temos que destacar alguns conceitos que são a
chave de abordagem, como a sociedade civil. ONG, organizações internacionais e
democracia.

Sociedade Civil:
O conceito da sociedade civil tem sido constantemente e muitas vezes vagamente definido
tanto na literatura académica, assim como na política, deste modo esta pode ser definida
de várias formas, a saber:

"Refere-se à totalidade das organizações e instituições cívicas, voluntárias que formam a


base de uma sociedade em funcionamento, por oposição as estruturas apoiadas pela
força de um Estado independemente do seu sistema político". BOBBIO (1982:40)

Entretanto, subentende-se que a sociedade civil é uma instituição social que tem como
função a mediação e a supressão de conflitos económicos, sociais e religiosos que o
Estado tem a tarefa de resolver.

As sociedades civis são frequentemente formadas por organizações como instituições de


caridade, organizações não governamentais de desenvolvimento, grupos comunitários,
grupo de auto ajuda, movimentos sociais, associações comerciais e grupos activistas.

7.1.2-Organizações não governamentais (ONG'S).


Para OLIVEIRA (1999:19), "São associações da sociedade civil sem fins lucrativos que
desenvolvem acções em diferentes áreas e que geralmente mobilizam a opinião pública e
o apoio da população para melhorar determinados aspectos da sociedade".

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Refere-se "de um modo genérico a toda organização não pertencente ou vinculada a


nenhuma instância do governo em qualquer nível”.(Ibdem)

Assim, pode-se vincar que organizações não governamentais são grupos de pressão que
buscam por um lado influenciar e democratizar políticas públicas governamentais para
que essas superem da maneira mais extensa possível às necessidades da sociedade e de
condições de vida iguais e justas, por outro lado, movimentar a sociedade em que estão
inseridas utilizando-se as suas relações de solidariedade na busca desta democratização e
influência política.

7.1.3- Organizações Internacionais


Para FERNANDES (1980:18) “Organização Internacional é um órgão que exprime a
tentativa de imprimir uma certa ordem às relações internacionais, pelo estabelecimento
de vínculos entre governos ou grupos sociais desejosos de defender interesses comunais,
com objectivo de desempenhar certas funções de interesses internacionais”.

Michele Virally citado por FERNANDES (1980:18) acrescenta que organização


internacional é uma associação de estados estabelecida por acordos entre seus membros
dotados de um aparelho permanente de órgãos, encarregados de prosseguir a realização de
objectivos de interesse comum por uma cooperação entre eles.

Democracia
De acordo com BASTOS (1999:174) Democracia é considerada como sendo o poder
político exercido pela comunidade, através da delegação do seu exercício a um conjunto
de órgãos com participação efectiva ou a representação da pluralidade dos governados.

KI-ZERBO (2006:65) diz que “as principais referências da democracia são a


participação máxima das diferentes categorias da população, a limitação e a partilha do
poder bem como a solidariedade”.

66
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

7.2- Contextualização do surgimento da sociedade civil em


Moçambique.
Postas as definições acima, historicamente falando, torna-se difícil indicar a génese da
Sociedade Civil em Moçambique, mas com base as definições pode-se dizer que esta
sempre existiu antes e depois da independência nacional e qualitativamente terá crescido
nos dias de hoje.

Após a independência, apesar de várias tentativas de destruição da sociedade e cultura


tradicional africanas e das igrejas, elas, de forma discreta resistiram. Paralelamente,
induzidas e promovidas pela administração pós-independência, foram criadas
organizações como, por exemplo, as ODMs (OMM, OJM, OCRM), para além destas
destacaram-se também as cooperativas, organizações sócio-profissionais de jornalistas,
escritores, cientistas, artistas e associações recreativas, culturais e desportivas.

A sociedade civil moderna difere-se da sociedade civil tradicional que se baseia num
sistema de distribuição dominada pela reciprocidade e redistribuição. A sociedade civil
moderna, baseia-se em princípios de troca económica e de mercado, que dirige a
distribuição de recursos na economia que rodeia este tipo de sociedade.

Em Moçambique, a sociedade civil é embrionária do período colonial, e a mesma


dispunha de duas componentes principais onde, por um lado, incluía as organizações de
moçambicanos urbanizados e assimilados que eram consideradas como instrumentos para
oferecer uma certa afirmação aos intelectuais negros e proporcionavam um certo espaço
político e social para o crescimento da consciência anti-colonial e, por outro lado, estavam
as autoridades tradicionais que desempenhavam um papel semelhante ao da sociedade
civil.

Em Moçambique o surgimento de sectores da sociedade civil e organizações não


governamentais nacionais com níveis de autonomia e independência em relação ao Estado
é um facto muito recente, pois, em Moçambique estas organizações foram registadas pela
Lei nº 18/91 publicada no boletim da república, 1ª série, nº 29 de 18 de Julho de 1981.

67
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Esta lei dá direito a livre associação, constitui uma garantia básica para a realização de
pessoal dos indivíduos na vida em sociedade e está estabelecida nº 1 do artigo 76 da
constituição da República como uma das liberdades fundamentais do cidadão.

Após a aprovação da nova Constituição da República, isto é, nos finais dos anos 90, o
movimento associativo de Moçambique tomou nova dinâmica que para além da existência
de organizações nacionais tradicionais que são as ODM's, as sócio-profissionais,
recreativas e religiosas vieram se juntar o filantrópico e outras para a educação cívica e
para o desenvolvimento rural.

7.2.1-Abrangências da Sociedade Civil


Segundo Alan Fowler citado pelo GRUPO DE PESQUISA DE MOÇAMBIQUE
(1996:77) e baseando-se no paradigma da democracia ocidental, a sociedade civil,
concretamente na sua forma democrática apontas as seguintes:

Uma base material explorada pelas relações sociais, económicas e capitalistas legalmente
codificadas;

Um leque de organizações e instituições localizadas entre a família e o estado que procura


transacções de mercado e os interesses do grupo através das suas associações voluntárias;

Uma ideologia baseada na inviolabilidade dos direitos individuais e das normas da lei.

7.2.2- Sociedades Civis que operam em Moçambique


Com o fim da guerra entre a RENAMO e a FRELIMO, em 1992, e com a instauração do
regime multipartidário em Moçambique, aliado ao processo de democratização, muitas
são as organizações da sociedade civil que tem vindo afirmar-se no seio da sociedade
moçambicana.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Neste âmbito, parafraseando LALÁ e OSTHEIMER (2003:31) “em Moçambique,


podemos encontrar os seguintes tipos de Sociedades Civis: ONG's, Confissões Religiosas,
Autoridades Tradicionais, Sindicatos, Organizações Académicas, Organizações Cívico-
politicas, Grupos Femininos, Associações de Direitos Humanos e Meios de Comunicação
Independentes”.

7.2.3- O Papel da Sociedade Civil em Moçambique


A sociedade civil tem a função de actuar na mudança do país, influenciando a política do
governo. As confissões religiosas trabalham na consolidação da paz e reconciliação, tal
como aconteceu aquando da assinatura dos acordos de paz de Roma, em 1992.

A classe académica tem o papel de gerar critica construtivas e envolver-se no debate de


assuntos públicos. Os sindicatos são organizações sócio-profissionais que participam na
negociação de aumentos salariais, no encaminhamento das preocupações dos
trabalhadores sobre as melhorias das condições de trabalho e na defesa dos trabalhadores
em situações de despedimentos sem justa causa.

As associações cívico-politicas permitem a participação das pessoas na gestão pública das


suas localidades e constituir grupos de pressão em prol ou contra a implementação de
determinadas políticas locais.

A Liga dos Direitos Humanos tem um papel de promover o acesso a justiça por parte dos
cidadãos mais carenciados. Esta foi a primeira instituição da sociedade civil criada com o
objectivo fundamental de prestar assistência jurídica aos cidadãos mais carenciados e de
protagonizar e promover a luta pela defesa dos direitos humanos.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

7.2.4- Contextualização do surgimento das organizações não


governamentais em Moçambique
Para MOSCA (2004:124) “as ONGs, tanto nos países desenvolvidos como
subdesenvolvidos surgem como estruturas intermédias que dão algumas garantias aos
doadores, facilita a participação das comunidades e constituem formas de pressão junto
dos governos”.

O seu crescimento ficou a dever-se ao processo de desenvolvimento económico e da


revolução científica e tecnológica, que estão na base do surgimento de um grande número
de Ongs especializadas.

Citando FERNANDES (1980:19) “elas constituem o grupo mais numeroso das


organizações internacionais”.

As ONGs surgem primeiro na Europa que em África. Neste continente as primeiras foram
filiações de organizações europeias tais como OXFAM, CARE, e a Sociedade de Apoio a
Lepra. Como tinham acesso ao financiamento externo foram momentaneamente
chamados “FFNGOS”.

Em Moçambique, as ONGs aparecem movidas por duas razoes fundamentais:

1ª Ligada a crise estrutural da economia moçambicana que se verificou aquando da crise


económica mundial na década 70/80. Essa crise, no nosso país, deveu-se principalmente a
herança da estrutura económica do regime colonial, aos elevados custos económicos
resultantes das sanções contra a Rodésia do Sul, as calamidades naturais, a guerra entre a
FRELIMO e a RENAMO, problemas de elaboração da política económica e a crise do
petróleo que assolou os países desenvolvidos.

2ª Prende-se aos apelos feitos pelo governo a partir de 1984 a comunidade internacional,
devido a seca que assolou o país. Portanto, essa preocupação do governo vai suscitar a
participação da comunidade internacional, sob varias formas: ONGs estrangeiras, a ONU

70
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

e outras religiosas que vão apoiar estes grupos vulneráveis que alguns deles se
encontravam já organizadas mas não oficializadas.

Segundo LALÁ (2003:31) “a maioria das ONGs em Moçambique são constituídas por
elites urbanas e carecem de missão e objectivos sócio-políticos claros para não referir a
fraca capacidade de gestão...”

Porem, as suas actividades estarão mais orientadas para responder as fraquezas dos países
africanos em governar e desenvolver as suas próprias sociedades democráticas.

7.2.5-Característica das ONGs


Segundo FERNANDES (1980:18), as ONGs caracterizam-se por:

-Ter uma base interestadual; -Ter uma base Voluntária


-Ter Autonomia; -Desempenhar a função de cooperação internacional
MOSCA (2004:124), acrescenta ainda que as ONGs caracterizam-se por:

-Possuir maior flexibilidade de actuação; -Ter menos burocracia;


-Envolver a sociedade civil.

7.2.6-Tipos de ONG'S
Quanto ao tipo de ONGs há que referir que de acordo com o GRUPO DE PESQUISA DE
MOÇAMBIQUE (1996:33), em Moçambique, podemos encontrar 3 tipos de organizações
não governamentais nomeadamente:

ONG'S de financiamento – Estas, não intervêm no terreno, mas, financiam fundos ou


subsídios para a realização de projectos iniciais ou conduzidos por ou para as populações
rurais e urbanas. Estas têm a sua sede no estrangeiro e sua representação no país. Exemplo
destas ONGs temos a OXFAM, Save The Children, Visão Mundial, UNICEF, FAO,
PMAe outros.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

ONG's de apoio – O apoio pode ser a formação, assistência ou planeamento, execução e


avaliação. Estes também funcionam directa ou indirectamente com os intervenientes no
terreno. Como exemplo deste tipo de ONG temos o caso da FDC, CEDES.

ONG'S de intervenção – Estas estão presentes no terreno através dos seus agentes os
quais desenvolvem projectos com a comunidade ou seus representantes sob supervisão de
funcionários. Temos como exemplo os casos de KULIMA, MONASO, ORAM,
KUBATSIRANA, ESTAMOS, ASVIMO, PROANI, AFRICARE, MC ROGER
INITIATIVE, AMAIAPABANDA.

De referir que a distribuição feita acima não é nítida, isto porque encontramos algumas
organizações que intervêm em todas os três tipos, por exemplo, a FDC que para além de
financiar também presta apoio.

Entretanto, as três gerações podem coexistir dentro da mesma ONG, sendo que para
melhor dinâmica desta no processo de desenvolvimento é extremamente indispensável a
terceira geração.

7.2.7-Objectivos das ONG'S em Moçambique.


Por um lado, estas organizações têm como objectivos fiscalizar as pessoas públicas que
estejam em cargos públicos e que, portanto devem prestar contas dos seus actos
administrativos, por outro lado, elas servem para auxiliar o Estado na consecução dos seus
objectivos.

As ONG's estabelecem-se praticando algumas actividades de âmbito social, tal é o caso


de construção de infra-estruturas sociais (escolas, hospitais, centros orfanatos).

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

7.2.8-A relação entre as ONG’S, sociedade civil e Governo


As sociedades democráticas são caracterizadas, entre outras coisas, por concessão de
direito e liberdade de associação aos seus cidadãos.

Segundo ALVES (1996:78) refere que “o exercício desta liberdade produz uma grande
variedade de organizações e associações que operam na sociedade civil. Estas incluem
grupos políticos, organizações religiosas, sindicatos, associações comerciais e
artísticas”.

Incentivar cooperação e coordenação entre as ONG's Moçambicanas, estrangeiras, o


governo, os doadores e outros envolvidos na assistência humanitária e outros envolvidos
no desenvolvimento sociocultural de Moçambique;

Reforçar as ONG's nacionais;

Promover a coordenação regional no processo de repatriamento dos refugiados


Moçambicanos e reintegração dos refugiados e deslocados;

Contribuir para a consolidação da Paz e desenvolvimento em Moçambique.

7.2.9-Impacto sociocultural das ONG'S em Moçambique.


Na esteira de MAZULA (2000:118) "é através das ONG's que algumas necessidades dos
cidadãos são articulados e deste modo transformadas em exigências politicas, isto é,
estas organizações têm um papel de capital importância na articulação das exigências
dos cidadãos através da participação activa de consciencialização".

As ONG's jogam um papel importante ao encorajar a diversidade e crescimento de


diferentes opiniões, por exemplo, durante o decurso da guerra civil, foi a igreja católica, a
Comunidade de Santo Egídio e outras agremiações sociais que influenciaram o governo a
negociar com a RENAMO visando o alcance da Paz.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Actualmente, as ONG's têm jogado de inovador e defensor. Elas contribuem para o


equilíbrio do poder entre o Estado e a sociedade civil que constitui a base fundamental
para uma economia dinâmica e um sistema político participativo.

Contribuem mais ainda para o desenvolvimento de uma sociedade pluralista e no


despertar de um trabalho de consciência social e éticas de investimento, assim como tem
também um papel fulcral na criação de outras instituições necessárias para responder as
necessidades sociais dos indivíduos.

Na preparação das eleições gerais, muitas organizações não governamentais exercem uma
influência positiva sobre as políticas do governo. Participam directa ou indirectamente no
processo conducente a elaboração das leis eleitorais, na formação de leis e regulamentos
administrativos, há uma variedade de níveis do governo nos quais as ONG’s Podiam
operarem.

___________________________________________________

Sumário

Entretanto, subentende-se que a sociedade civil é uma instituição social que tem como
função a mediação e a supressão de conflitos económicos, sociais e religiosos que o
Estado tem a tarefa de resolver.

As sociedades civis são frequentemente formadas por organizações como instituições de


caridade, organizações não governamentais de desenvolvimento, grupos comunitários,
grupo de auto ajuda, movimentos sociais, associações comerciais e grupos activistas.

Contudo, a sociedade civil é a base de todas as relações económicas, culturais, sociais


onde se emanam os conflitos que demandam soluções políticas e ao mesmo tempo de
onde emanam alternativas para a solução de conflitos surgidos na órbita política. É à parte
de um todo voltado ao bem-estar comum. A sociedade civil tem a função de actuar na
mudança do país, influenciando a política do governo.

___________________________________________

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Entregar o exercício: 2.

Exercícios:

1 – Quais são os desafios a ultrapassar a sociedade civil moçambicana?

2 – Quais são as relação entre as ONG’S, sociedade civil e Governo na actualidade?

3 – Quais são os objectivos das ONG’s em Moçambique?

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

__________________________

Unidade VIII
O Paradigma da construção social no período contemporâneo

8.1.Paradigma da construção social no período contemporâneo


_______________________________________________

Introdução da unidade

A construção social e cultural em Moçambique foi, é, e será um processo a merecer


atenção dos moçambicanos, neste processo, os modelos ou paradigmas foram e serão
sucessivamente elaborados.

O período da Luta de Libertação Nacional constituiu o início desse processo, visando


resgatar a cultura moçambicana desvalorizada pelo regime colonial e definir a
moçambicanidade entendida como um termo através do qual podemos caracterizar o
espaço da cultura nacional moçambicana que se encontra em processo de formação.

Foi neste período da luta que as zonas libertadas constituíram-se em lugares, momentos de
perspectivação de um projecto de uma moçambicanidade “sociedade nova e de um
homem novo com uma mentalidade livre da dependência estrangeira; formação e de um
estado novo situado ao nível das nações modernas; e de um exercício de poder; era mais
um espaço de mudança de mentalidade pela transformação de relações sociais do trabalho
do que um projecto de transformação material imediata das populações.

Objectivos

Ao terminar esta unidadeo s estudantes conhecem:

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

1 – O estudante tem que ser capaz descrever o processo da construção da


moçambicanidade no período contemporâneo.

2 – Identificar a cultura moçambicana.

3 – Analisar as capacidades da sociedade moçambicana na conservação da nossa cultura.

8.1.1-Desenvolvimento do tema
Conceitos

Contemporâneo – período histórico que tem início com a revolução francesa. (Magalhães
1972:92). Alguns pesquisadores não admitem a distinção entre a História moderna e a
História contemporâneo, considerando esta como continuação e desdobramento da
primeira.

Sociedade – reunião de pessoas unidas pela mesma origem e pelas mesmas leis; é a
ralação entre pessoas; agremiação; associação, casa onde se reúnem os membros de uma
agremiação; convivência. (Dicionário L. Portuguesa 1995,1320).

Socialização – desenvolvimento colectivo da solidariedade social e do espírito de


cooperação nos indivíduos associados; processo de integração mais intensa dos indivíduos
no grupo. (ibdem, 1319).

A cultura moçambicana
Moçambique é um país vasto com uma diversidade sócio-cultural, e a questão da cultura
moçambicana foi sempre um dos objectos de análise durante e depois da luta de libertação
tendo em conta a modernidade.

Neste contexto, segundo Graça (2005:230) em 1967 surge a análise sobre os vários grupos
étnicos moçambicanos e em Setembro de 1968, o conceito da cultura nacional foi
abordado de modo específico nas resoluções da 2ª sessão do comité central com objectivo
de transformar em instrumento mobilizador dos combatentes relativamente aos factores da

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

dissociação de natureza etno cultural, onde dentre várias decisões tomadas destacou se
que o departamento de educação e cultura intensificasse programas culturais; organizasse
exposições de arte, de pintura e de escultura; organizasse actividades culturais que visem
elevar os valores tradicionais positivos e a cultura que vai nascendo do intercâmbio das
populações na luta de libertação nacional.

8.1.2-Situação Sócio-Cultural após a independência

De 1975 a 1992
O modelo sócio-cultural depois da independência, continuou a ser um objecto de análise
sob a orientação do Governo moçambicano. Como forma de implementar o seu modelo de
controlo social, implantou os chamados grupos dinamizadores desde o nível provincial ao
local, cada qual com a sua secção de educação e cultura que passaram a ser o principal
vínculo de transmissão da cultura, para a formação do homem novo definido como um
homem comunista, homem liberto de todos os condicionalismos que vivia, liberto de
necessidades materiais (Graça 2005:238).

Em 1978, no 3º Congresso e nas reuniões nacionais da cultura, foram iniciadas acções


tendentes a consolidação da cultura nacional através da campanha nacional de preservação
e valorização do património cultural, e que esteve na base a criação de um conjunto de
instituições como o Arquivo do Património Cultural (ARPAC), o Museu da Revolução, o
Museu da Moeda, o Instituto Nacional de Livro e do Disco e o Instituto Nacional do
Cinema. No mesmo ano, teve ainda o Festival Nacional de Dança Popular.

8.1.3-De 1992 aos nossos dias


Com a constituição de 1990 introduziu-se no país o sistema multipartidário. O acordo
geral de paz assinado em Roma em 1992 pelo governo da FRELIMO e pela RENAMO,

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

condicionou a estabilidade político militar à introdução de um regime de governação


democrática, dentro das normas internacionalmente aceite (Mazula 2000:43).

De ponto de vista social e cultural, se bem que maioritariamente seja constituída pela
população negra, a sociedade moçambicana apresenta um mosaico de raças, cores e
culturas.

A valorização dos símbolos e heróis moçambicanos;

A realização bienal dos jogos desportivos escolares duma forma rotativa;

A realização bienal de festivais culturais a nível nacional também duma forma rotativa;

A requalificação da figura do líder tradicional;

A institucionalização dos médicos tradicionais (AMETRAMO);

O incentivo a auto-estima, ao consumo de produto nacional e ao trabalho.

8.1.4-Desafios actuais
Tendo em conta a situação actual da globalização, onde os mais fortes tende a submeter
tarefas específicas, a saber:

Adopção dos nomes e apelidos africanos como forma de preservação do nosso legado
cultural, pois no período colonial muitos foram impostos uso de nomes e apelidos
portugueses;

Criação de instituições culturais e de produção artística;

Incentivar o uso das línguas nacionais nas escolas e nas instituições públicas;

Valorização da música e dos músicos nacionais;

A promoção da coexistência das relações familiares urbanas e rurais.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

___________________________________

Sumàrio

Deste modo a construção ideológica da sociedade moçambicana sustentava-se nos


princípios políticos: criar, desenvolver e consolidar uma sociedade para a construção de
um Moçambique unitário, igualitário, internacionalista, cultural e criar uma consciência
de responsabilidade e solidariedade colectiva livre de todo o individualismo. No entanto, a
organização das zonas libertadas, a nível da estrutura política era o partido. O trabalho da
educação política o exemplo e as explicações dadas pelos responsáveis ajudavam a criar
condições para o desaparecimento do poder tradicional-tribal e sua substituição por novas
formas de poder. A vida administrativa baseava-se nos comités populares eleitas por toda
população.

Sendo assim, podemos conceptualizar cultura moçambicana como um produto de


integração de elementos de convivência social entre os elementos culturais africanos e
europeus, produto esse que se encontra reflectido no quotidiano dos indivíduos de forma
mais ou menos consensual.

________________________________________

Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Entregar o exercício: 1 e 2.

EXERCÍCIOS:

1 – Como era a construção social no período colonial?

2 – Situação Sócio-Cultural após a independência de 1975 a 1992?

3 – Quais são os desafios actuais?

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

______________________________________

Unidade IX
A Emergência da Nova Epistemologia da Cultura: A
Diversidade Sócio-Cultural e o Multiculturalismo
________________________________________________

Introdução da unidade

A colonização europeia em África apresentou uma base racista, que resultou da intenção
entre o colonizador e o colonizado a consciência racial é a base do desenvolvimento do
Nacionalismo enquanto busca da soberania e da independência.

Apesar dos Nacionalistas africanos serem considerados modernistas reflectem a


necessidade que tinham de agir dentro da condições que impunha o sistema estrangeiro,
de valores de nomes e de definições de evolução política e social a que foram obrigados a
sub – escrever para terem possibilidade de êxito.

O colonialismo necessitava de uma base social para a sua Sobrevivência; base assegurada
pela difusão da cultura do colonizador por meio da educação, isto é, sistema educativo
criado para este efeito determinou as normas que permitiu construção de um novo grupo
de elite no interior da sociedade colonizada.

Objectivos

No fim da unidade os estudantes conhecem:

1 – A Diversidade cultural.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

2 – Definir o multiculturalismo.

3 – Caracterizar as duas cidades existentes nas cidades moçambicanas.

Desenvolvimento do tema

9.1- A Cultura e as Ideologias do Nacionalismo


“A Cultura é um conjunto de padrões de comportamentos, crenças, costumes entre
outros que distingue um grupo social do outro”. MARTINEZ (1989:15)

O homem à nascença começa a moldar-se quando a partir dos seus progenitores entra em
contacto com a natureza, vai logo à partida adquirir elementos comportamentais que vão
começar a caracterizar as suas manifestações e constituir elementos identitário que vão
moldar a sua personalidade, tais como o nome e a língua, que adquire dos seus pais.

Ainda pode-se ver a cultura como sendo, mais ou menos, a ideia de cultivo, referindo-se a
um processo em que se pode defini-lo, segundo BROWN (1973:14) como sendo “(...) um
meio pelo qual uma pessoa adquire conhecimento, especialidade, ideias, crenças, gostos
e sentimentos, mediante contactos com outras pessoas ou pelo trato com outras coisas
tais como livros ou obras de arte”.

Ideologia – é um conjunto de ideias, crenças e doutrinas próprias duma sociedade.


DICIONÁRIO (2006:842).

Ideologia é um conjunto de ideias ou pensamentos de uma pessoa ou de um grupo de


indivíduos. Esta pode estar ligada a acções e vontades de mudanças de natureza política,
económica e sócio-cultural conscientemente empreendidas e ou adoptadas de forma
voluntária.

Assim sendo pode-se constatar que o conceito de ideologia subordina-se a cultura.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Segundo RECAMA citado BRAGANÇA (1999:43) Nacionalismo é uma tomada de


consciência por parte dos indivíduos ou grupos de indivíduos numa Nação ou com um
desejo de desenvolver a força a liberdade, ou mesmo propriedade desta Nação.

Sendo assim, o Nacionalismo vai-se ligar ao patriotismo que é o amor a própria terra,
símbolos nacionais, através do próprio povo.

Para MAGODE (1996:47) Nação é uma comunidade estável, historicamente constituída


por línguas, território, vida económica e de formação psíquica que se traduz na
comunidade Cultural.

Na minha opinião, Nação é um conjunto de indivíduos que habitam num determinado


território, comungam os mesmos valores culturais hábitos e costumes, interesses e
aspirações e que tem um passado histórico comum.

9.2- O Nacionalismo em Moçambique


As novas elites educada, os chefes tradicionais estavam em posição ambígua os olhos dos
povos tinham perdido o carácter tradicional das suas funções e do seu papel, enquanto a
novas elites educada de toda a África esperavam identificar-se mas tarde com o processo
de desenvolvimento da sua comunidade o que não aconteceu sendo estes considerado
instrumentos de controlo e intermediário. Com esta perda de poder real o prestígio social
era para muitos e causa do descontentamento.

Este descontentantamento vai criar o despertar cultural, sendo um dos elementos da luta
pela reafirmação e preservação da identidade pessoal, de início enquanto Moçambicanos e
depois membros de determinada nação cultural.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

9.3-As causas do nacionalismo moçambicano


Portanto, o Pan – africanismo, Pan- arabismo, assim como movimentos religiosos
(igreja), sindicalismo, movimentos dos estudantes intelectuais, política dos URSS, política
dos EUA, exemplos da Ásia etc. Foram os factores que contribuíram para o Nacionalismo

A oposição rural constituía um desafio periódico para o sistema colonial e capitalista.

Nas regiões onde o medo e a coerção impedissem a oposição aberta, os camponeses e


trabalhadores rurais manifestavam a sua hostilidade por meio de símbolos culturais que os
funcionários coloniais não compreendiam. Por exemplo, os Chopes no Sul de
Moçambique, criaram um repertório de cantos denunciando o regime colonial em geral.

As canções de trabalho de lavradores empregados nas canas-de-açúcar (Mafambisse,


Maragra) eram mais abertamente hostis.

No Norte de Moçambique os artistas Macuas e Macondes midicularizavam os


funcionários do Estado africano e europeu em esculturas muito estilizado o que lhe
deformavam os traços e retiravam toda a humanidade.

Também os trabalhadores urbanos, assim como os rurais sabotavam as máquinas, matéria


primas, entre outras acções de oposição contra o regime colonial.

No domínio da acção anti-colonial, as igrejas independentes de Moçambique como é o


caso a igreja episcopal (metodista) localizada em Gaza e Manica era um centro de
actividade de subversivas onde cultivava-se sentimentos antebrancos e atacaram
abertamente o opressivo regime colonial em seu serviço religioso e em reuniões
clandestinos.

Também houve tentativa reivindicativa islâmica no norte de Moçambique onde a


população muçulmana se opusera antigamente a dominação colonial contra os abusos do
trabalho forçado, baixos salários e expropriação das terras.

Com publicação do jornal africano de Lourenço Marque. O Brado Africano defendia


como objectivo o guardião dos camponeses, operários dos africanos aonde chegou – se a

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

referenciar que os africanos têm no Brado Africano seu melhor defensor e, na realidade
sua a única arma contra a injustiça que os atinge.

Na Educação
A educação em África foi concebida em função da promoção maciça para a formação da
mão-de-obra barata nas escolas; os ciclos primários, secundários e superior foram
responsáveis na formação de operários semi-especializados. As missões sobre todas as
igrejas católicas tinham nas suas mãos o sistema escolar, mas grande parte das
companhias monopolistas contribuiu também para criação de escola destinada a família
dos seus trabalhadores e outros habitantes das cidades.

9.4-As principais associações nacionalistas


Associação dos estudantes
Associação dos intelectuais
Associação das igrejas
Associação dos escritores
Associação dos trabalhadores

9.5-As nações africanas


A colonização europeia em África apresentou uma base racista, que resultou da intenção
entre o colonizador e o colonizado a consciência racial é a base do desenvolvimento do
Nacionalismo enquanto busca da soberania e da independência.

O colonialismo necessitava de uma base social para a sua Sobrevivência; base assegurada
pela difusão da cultura do colonizador por meio da educação, isto é, sistema educativo
criado para este efeito determinou as normas que permitiu construção de um novo grupo
de elite no interior da sociedade colonizada.

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A difusão da cultura do colonizador era acompanhada por contactos culturais


harmoniosos e de conflitos culturais que puderam redundar em reacções violentas da
população submetida. Sempre há um conflito de interesses entre o colonizador e o
colonizado o primeiro desenvolvendo esforço para perpetuar a sua dominação e o segundo
lutando para se afirmar através do restabelecimento da sua independência e Soberania.

As novas elites educada, os chefes tradicionais estavam em posição ambígua os olhos dos
povos tinham perdido o carácter tradicional das suas funções e do seu papel, enquanto a
novas elites educada de toda a África esperavam identificar-se mas tarde com o processo
de desenvolvimento da sua comunidade o que não aconteceu sendo estes considerado
instrumentos de controlo e intermediário. Com esta perda de poder real o prestígio social
era para muitos e causa do descontentamento.

Este descontentantamento vai criar o despertar cultural, sendo um dos elementos da luta
pela reafirmação e preservação da identidade pessoal, de início enquanto africanos e
depois membros de determinadas nações culturais.

_________________________________________

Sumário

Tendo a sua origem fora do continente africano, o pan-africanismo foi sendo


gradualmente assumido pelas personalidades africanas que fizeram da África o seu
principal objectivo.

Nos anos que constituem o início do século XX, e que abrangem a parte final do nosso
período, pode-se já falar na existência de importantes cidades no continente africano.
Atraido pela possibilidade de adquirir dinheiro para pagar imposto ou lobolo, procurando
voluntariamente novas profissões, ou a isso forçados pelas autoridades, (…) ou rejeitados
pelas comunidades de origem por vezes, e, outras vezes, chamados pelos familiares, estes
recé-chegados, na maioria jovens, vão sofrer um processo de transformação inevitável e
de importantes consequências

86
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

O colonialismo portugês, sendo aquele que apresentava um capitalismo menos forte, não
proporcionou um desenvolvimento urbano muito grande. No entanto Lourenço Marques,
estimulada pelo desenvolvimento mineiro sul-africano, tornou-se um poderoso centro de
atracção da migração meridional.

Três vias se desdobravam perante o africano que aí chegava: (1) a miséria dos subúrbios,
com um provável emprega no porto, ou em casa de colonos; (2) o desemprego, com os
consequentes parasitismos familiar ou marginalização social; (3) a “assimilação”, para os
mais “evoluídos”, com um lugar de funcionário público ou empregado em escalões
inferiores.

Foi desta terceira categoria onde veio a sair os primeiros pioneiros do nacionalismo
moçambicano.

_______________________________________________

Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação

Entregar os exercícios: 3 e 4.

Exercícios:

1 - As cidades surgidas a partir do século XX não se apresentam como antigas cidades


onde os comerciantes locais estabeleciam os seus empórios de ligação com lugares
distantes, alí residindo com suas famílias.

Concordas com esta frase?

Justifica a tua afrimação.

2 - A cidade enfraquceu os laços que uniam os camponeses às terras de origem. Justifica


por tuas palavras o sentido desta frase.

3 - Indica as principais causas do sofrimento comum dos moçambicanos durante o


período de dominação colonial.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade X
A Cultura e os Projectos de Construção dos Estados Democráticos

10.1. A Cultura e os Projectos da Construção dos Estados


Democráticos

___________________________________________

Introdução da unidade

No fim desta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar de forma clara o
processo da democratização do nosso país desde a tomada de poder pelo saudoso
presidente Alberto Joaquim Chissano até no dia 04.10.1992, altura das assinaturas do
acordo geral da paz entre a Renamo e a Frelimo, como também altura do surgimento e
oficialização de vários outros partidos políticos em Moçambique independente.

Objectivos

No fim da unidade os estudantes conhecem:

1 – As mudanças operadas na economia moçambicana após a tomada de poder do


presidente Chissano.

2 – O processo da introdução da democracia multipartidária em Moçambique

3 - O papel da igreja católica na mediação da paz até a realização das eleições gerais
em 1994.

88
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

10.1.1-Desenvolvimento do tema
Segundo a afirmação de Tylor, Cultura (do latim cultura, cultivar o solo, cuidar) é um
conceito desenvolvido inicialmente pelo antropólogo Edward Burnett Tylor para designar
o todo complexo e metabiológico criado pelo homem; são práticas e acções sociais que
seguem um padrão determinado no espaço. Referem-se a crenças, comportamentos,
valores, instituições, regras morais que permeiam e identificam uma sociedade. Explica e
dá sentido a cosmologia social, é a identidade própria de um grupo humano num território
e num determinado período.

Cultura é o conjunto de manifestações artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais


de um povo ou civilização. Portanto, fazem parte da cultura de um povo as seguintes
actividades: música, teatro, rituais religiosos, língua falada e escrita, mitos, hábitos
alimentares, dança, arquitectura, pensamentos, formas de organização social, etc. Uma das
capacidades que diferenciam o ser humano dos animais irracionais é a capacidade de
produção da cultura.

De acordo com as definições acima apresentadas, pode-se concluir que cultura é um


complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões
e hábito adquiridos pelo homem como membro da sociedade.

10.1.2-Conceito de Democracia
Democracia vem da palavra grega que significa “poder do povo” (demos = povo; cratia =
poder). Nas democracias, é o povo que detém o poder soberano sobre o poder legislativo e
o executivo. Democracia é o governo na qual o poder e a responsabilidade cívica são
exercidos por todos os cidadãos, directamente ou através dos seus representantes
livremente eleitos. Democracia é o conjunto de princípios e práticas que protegem a
liberdade humana, é institucionalização da liberdade. As democracias conduzem,
regularmente as eleições livres e justas, abertas a todos os cidadãos. As eleições numa

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

democracia não podem ser fechadas atrás das quais se escondem ditadores ou um partido
único, mas verdadeiras competições pelo apoio do povo.

Democracia é um regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões


políticas está com o cidadão (povo) directa ou indirectamente, por meio de representantes
eleitos – forma mais usual. Uma democracia pode existir num sistema presidencialista ou
parlamentarista, republicano ou monárquico.

De acordo com os vários conceitos expostos neste ponto, conclui-se que democracia é o
governo do povo, onde o poder supremo pertence ao povo e é exercido directamente por
este ou por seus representantes através dum sistema eleitoral. Democracia é governo do
povo, pelo povo e para o povo.

10.1.3- Relação entre Cultura e Democracia


Falar de formas culturais é, também, estabelecer uma relação de implicância entre a
democracia e a cultura. A cultura é o processo permanente de construção de relações
sociais abertas no tempo e no lugar, sendo o homem, o sujeito principal, quando integrado
numa comunidade ou sociedade. Um simples exemplo ilustra o alcance do conceito. Os
músicos, os escultores, pintores, escritores, retratam pelo verso o processo de construção
de relações sociais em Moçambique numa época determinada da sua história.

É a diversidade cultural que faz e explica que não haja formas de democracias uniformes
para todos os povos, e que o modelo da democracia bem sucedida no país pode não sê-lo
noutro país.

A cultura está associada a mudanças, tanto ao nível dos processos como da dimensão dos
actores sociais e das suas acções, sustentadas por projectos. Facilmente se esquece a
diferença entre a acção dos actores sociais e a difusão cultural e, ainda se apresenta a
primeira como alternativa.

90
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Falar em desenvolvimento da cultura em democracia é falar também da dimensão social,


no desenvolvimento comunitário.

Pode-se concluir que, os conceitos de democratização da cultura e de democracia cultural


não estão de costas voltadas, constituem antes vertentes complementares que devem
integrar as políticas culturais locais.

10.1.4- Tipos de Democracias


Democracia Directa – Refere-se ao sistema onde os cidadãos decidem directamente cada
assunto por votação. Todos os cidadãos, sem intermediação de ninguém, participam na
formulação da vontade política do Estado. As primeiras democracias da antiguidade
foram democracias directas. O exemplo mais marcante das primeiras democracias directas
é a de Atenas (e de outras cidades gregas), nas quais o povo se reunia nas praças e ali
tomava decisões políticas.

Democracia Representativa – Os cidadãos elegem os seus representantes, em intervalos


regulares, para formularem políticas ou decidirem a vida política da comunidade. È um
dos modelos mais usados em muitos Estados hoje.

Democracia Semi-Directa – Aqui existem os órgãos representativos de soberania popular,


mas condicionam a validade de certas decisões ou deliberações a manifestação, expressa
ou tácita, do povo, constituído pela generalidade dos cidadãos eleitores. O povo intervém
aqui através do referendo.

Democracia Popular – Foi seguida no bloco da Ex-URSS e nos países satélites. É uma
democracia que suprime a liberdade individual, a título de facilitar a perfeita realização da
vontade do ”povo”. Aqui não há multipartidarismo, mas sim o partido único; não há
liberdade de expressão nem de associação.

Democracia Cristã – A característica fundamental desta democracia é o respeito pelo


pluralismo em todos os aspectos. Trata-se de um pluralismo horizontal (oposição ao

91
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

monopólio e concentração) e pluralismo vertical (tolerância e respeito pelas diversas


tendências). Esta democracia teve alguns êxitos na Alemanha, Itália, França e Bélgica e
ficou pela história.

10.1.5-A Democracia em África


O estado africano tradicional era uma instância da gestão do bem comum e das decisões
tomadas em nome de toda cidade, de todo reino, mas foi destruído pela colonização e, no
melhor dos casos, substituído por novos tipos e regimes democráticos aos quais os
africanos não estavam habituados.

“A participação máxima das diferentes categorias da população, a limitação e a partilha


do poder bem como a solidariedade existia, sob variadas formas consoante os países e
consoante as estruturas criadas pelos povos africanos, quer fossem reinos, impérios,
sistema patrimonial e clânico ou democracias de tipo aldeã. A democracia de base existia
ao abrigo de estruturas aldeãs com a representação das diferentes famílias”. KI-ZERBO
(2006: 163)

A todos os níveis, o africano era acima de tudo um ser social. Existia o debate permanente
africano que se realizava debaixo das árvores - a assembleia - onde cada um tinha não só,
a liberdade de se expressar, mas também a obrigação de se exprimir. Muitas vezes,
discussões eram adiadas para permitir consultas aos mais velhos e as mulheres em casa,
para além de que podiam durar dias, semanas ou mesmo meses porque o princípio era
chegar ao máximo consenso.

Entre 1956 e 1960, a maior parte dos países africanos ascende á independência. Os novos
regimes foram herdeiros do sistema autoritário e a maioria dos dirigentes que tomou o
poder nesse momento não eram verdadeiramente legítimos sob o ponto de vista
democrático. Nessa ocasião não houve uma aprendizagem democrática apesar de
simulações de poderes democráticos em África Francófona.

92
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Segundo Ki-Zerbo (2006:63) “o verdadeiro problema consiste na maneira de conceber


o político em África”.

10.1.6-Reflexão Sobre a Democracia em Moçambique


De acordo com MAZULA (2000: 135) sociedade Moçambicana é sociologicamente plural
e culturalmente diversificada, em suma, é uma sociedade heterogénea. A democracia não
é compatível com a homogeneização da sociedade.

Enquanto Moçambique continuar a ser visto e a ver-se como país de tradições, do


passado, das guerras, das doenças e, sobretudo da experimentação dos modelos de
“Bretton Wood”, terá muitas dificuldades em atingir uma democracia perfeita, mas lá
chegará. Cabe ao próprio Moçambicano inverter este cenário.

O modelo Europeu Ocidental do Estado e a observância dos princípios democráticos é


sem sombra de dúvidas a referência mais universal da organização da sociedade humana
contemporânea.

A independência que mobilizou, à partir de 1974, a maioria da população moçambicana a


aderir nas primeiras experiências de “participação popular” na vida política,
nomeadamente através dos Grupos Dinamizadores (GDs). Embora este exercício de
participação popular tenha sido uma forma de enquadramento por parte da FRELIMO, de
enorme energia social, ele foi também uma ocasião privilegiada de libertação da palavra,
em especial do período que vai de 1974 até 1979. Em 1979, com a estruturação do Partido
e a constituição das primeiras Assembleias do Povo, os GDs foram remetidos para
funções de carácter administrativo. Por outro lado, a libertação da palavra foi valorizada e
alimentada pelo discurso oficial do “poder popular” e da “aliança operário-camponesa”
que consagrava a ideia da competência política das massas.

93
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

A adopção de uma nova constituição (1990), introduzindo o princípio do


multipartidarismo e, depois, o Acordo de Roma (1992), que foram as bases das primeiras
eleições gerais multipartidárias em 1994.

Actualmente, a democratização em Moçambique tem suscitado debates e discussões.


Assim, têm surgido muitas questões sobre como será que o modelo democrático ocidental
se adequa a realidade moçambicana e se a democracia em Moçambique é um sucesso.
Para tal partir-se-á de uma análise sumária sobre o modelo democrático ocidental e sua
concretização em Moçambique.

_____________________________________________

Sumário

Falando de Moçambique, até 1992, constitucionalmente a democratização do país já


estava realizada. As principais alterações seria a introdução de eleições livres, sistema
multipartidário e liberdade de imprensa

Sendo que em Moçambique cada província tinha sua estação de rádio, devia ser priorizada
pois transmitia informações em português e em lingua local, uma condição que permitia
que se verificasse um desenvolvimento democrático quando a informação sobre as
mudanças atinjisse largas camadas da populção.

Para além de muitos estados africanos, e dando como exemplo concreto o nosso país, a
Frelimo tinha, de início como partido libertador, uma liberdade de acção relativamente
grande. Entretanto, essa liberdade ficou rapidamente diminuída devido a alterações dos
comportamentos internacionais em relação a criação dos estados estados democráticos e a
liberalização da economia.

____________________________________________________

Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação

Entregar os exercícios: 2 e 3 .

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

EXERCÍCIOS:

1 – Concordas que existe uma relação entre a democracia e a cultura?

2 - Porque em África sempre há golpes de estado e manifestações.

3 – O que seria necessário para que a democracia nos estados africanos fossem
consideradas de legítimas?

95
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

_________________________________________________

Unidade XI
A Crescente Insatisfação Social

11.1. A Insatisfação Social


______________________________________________________________

Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam interpretar os processos de
construção das democracias africanas e as principais causas de ocorrência de golpes
sucessivos na África independente. Apesar de ter havido uma unanimidade no contexto de
libertação em África dos anos sessenta, a África independente foi posteriormente palco de
golpes de estados suscitando dúvidas a nível internacional se a atribuição de
independências a esses países não podia ter esperado por ainda alguns anos de civilização
europeia. Existiram causas claras desses sucessivos golpes: A pobreza e a ambição pelo
poder.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade, o estudante deve ser capaz de:

1 – Diferenciar os processos de formação das democracias europeias e africanas.

2 – Identificar as causas dos sucessivos golpes na África independente.

3 - Explicar as principais razões da vulnerabilidade do poder dos políticos pós-


independência.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

11.1- Desenvolvimento do tema


A crescente insatisfação social com as linhas seguidas pelos novos governantes africanos
não encorajou os líderes desses governos a submeterem-se no veredicto de novas eleições.
Tendiam ao invés, a sustentar que as políticas partidárias eram um luxo dispendioso a que
as nações em via de desenvolvimento realmente não se podiam dar.

Afirmavam que o partido nacionalista que conquistara a independência do qual o chefe do


governo era com frequência presidente vitalício. Representava a mobilização de toda a
nação, necessária se queria que o seu povo progredisse e prosperasse.

Esta tese poderia ser sustentada com argumentos retidos do passado pré-colonial, pois dir-
se-ia que de um modo geral, nas sociedades africanas tradicionais a vontade nacional fora
determinada não tanto por uma qualquer contagem periódica dos votos populares, mas
antes pelo sentido que os chefes das tribos tinham do que a população pretendia ser bom
para a nação.

11.2- As Diferenças de Poder Tradicional e Pós-Independencia


Sobre a posição de poder nos dois períodos aqui a referenciar, claro que havia uma
diferença; ‘‘ os chefes das tribos tinham chegado ao poder e à posição de guardiões da
nação por tradição e herança, ao passo que os governantes pós-independência haviam
conquistado as suas posições através de alguma forma de eleição popular
propagandística.”(FAGE, 1995:531)”.

Os governantes europeus podiam confiar que os oficiais europeus que comandavam as


tropas defenderiam sempre o regime colonial e enfrentariam com ele qualquer oposição
por parte dos súbditos africanos.

Mas depois de os africanos terem conseguido vencer, com o apoio dos militares por eles
escolhidos, era chegado o momento de estes decidirem se deveriam continuar a apoiar o
governo ou se considerariam uma elite menos corrupta e mais eficiente do que os seus

97
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

políticos e se os interesses dos seus concidadãos africanos no pais seriam melhor servidos
se eles subissem ao poder.

11.3- A Insatisfação Social e os Golpes de Estado


Na África dos nossos dias, o 1º exemplo de um regime de militar foi o golpe dos oficiais
do exército no Egipto, em 1952 que acabou por levar Nasser ao poder. De então para cá a
África testemunhou muitos outros golpes militares; de 1963 a 1987, e na actual em
Madagáscar, registou-se algo com sessenta ocasiões em que as forças armadas
conseguiram ocupar o poder num país africano; se contarmos também com os golpes
fracassados, o número será substancialmente maior.

As tomadas do poder pelos militares são por normas daqueles acontecimentos dramáticos
que atraem sempre mais atenção nos noticiários dos meios de comunicação social do que
nos aspectos mais banais do governo e da administração, de modo que se criou a opinião
generalizada de que a instabilidade e a violência são uma característica da história
africana pós-independência.

Mas tanto as circunstâncias destas intervenções como as consequências variaram


bastantes. Às vezes, os soldados não fizeram mais do que conseguir a realização de novas
eleições, na sequência das quais o poder foi entregue aos políticos que as venceram. Mais
vulgarmente, os soldados partilharam o poder com os civis. Um oficial de alta patente
presidiria ao governo e chefiar um conselho militar supremo.

Contudo, alguns civis poderiam ser nomeados para este conselho e mesmo que não fosse
este o caso, os departamentos públicos continuariam a ser chefiado por civis, e quase
invariavelmente a governação continuava nas mãos dos mesmos administradores
burocratas anteriores. Contudo, qualquer ocupação militar fez-se acompanhar de um
perigo interno. Se um determinado grupo de soldados consegue derrubar autoridade
constituída através da exploração da sua detenção da força e militar (e beneficiar depois

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

dos frutos e das responsabilidades do poder), estará a dar um exemplo perigoso aos outros
grupos militares.

Comandantes, oficiais subalternos e até sargentos e soldados, poderiam escolher seguir


este exemplo se julgassem que o primeiro grupo não conseguia melhorar a conduta do
governo ou se deixara corromper pelo poder ou simplesmente porque pensaram que lhes
sobraria um bom quinhão de frutos do poder. Se uma primeira ocupação militar fosse
seguida de um desses golpes militares, então era provável que houvesse luta e, a seguir a
cada golpe, a actuação quotidiana do governo poderá perfeitamente tornar-se mais militar,
mais arbitrária e mais violenta

__________________________________________________.

Actividade

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Entregar os exercícios: 2 e 3.

EXERCÍCIOS

1 – Diz-se que após as independências concluiu-se que as políticas partidárias eram um


luxo dispendioso a que as nações em via de desenvolvimento realmente não se podiam dar
porquê?

2 – Faça uma abordagem explicativa sobre a diferença entre o poder tradicional e o poder
dos políticos pós-independência

3 - a instabilidade e a violência são uma característica da historia africana pós-


independência.

a) Concordas?

b) Justifica a tua afirmação, se possível, usa as afirmações constantes nesta unidade.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade XII
O Exemplo do Regime de Nasser

12.1. O Regime de Nasser


_________________________________________________

Introdução do tema

Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam interpretar até que ponto o
comportamento de Nasser influenciou deveras na eclosão de golpes de estados em África
como via fácil de tomar o poder, e quais foram as consequências para o continente.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade, o estudante deve ser capaz de:

1 – Identificar as politicas implementadas pelo Nasser.

2 – Identificar as principais áreas das infra-estruturas nacionalizadas pelo presidente


Nasser.

12.1-Desenvolvimento do tema
A crise interna, a derrota na Palestina e o fracasso das negociações com a Grã-Bretanha
desacreditaram integralmente o regime dos partidos políticos e da monarquia. Nenhuma
organização política, no quadro do sistema estabelecido ou fora dele era capaz de tomar
uma iniciativa susceptível de melhorar uma situação que se deteriorava ininterruptamente.
A solução proveio dos Oficiais Livres, organização de oficiais de média patente dirigida

100
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

pelo tenente-coronel Gamal ‘Abd al-Nasser, desde logo conhecido pelo nome de al-Nasir
ou al-Nasser.

A política conservadora de Naguib, ao privilegiar o islão, obtivera apoio e sustentação dos


Irmãos Muçulmanos. A luta pelo poder política prosseguiu no curso de grande parte do
ano de 1954 e, em Outubro, quando um membro dos Irmãos Muçulmanos tentou matar al-
Nasser, os dirigentes deste grupo e muitos milhares dentre os seus partidários foram
detidos. Em 14 de Novembro de 1954 o general Naguib, acusado de ter envolvido os
Irmãos Muçulmanos, foi demitido de suas funções presidenciais e intimado a depor.
Gamal Abd al-Nasser ascendeu ao posto de chefe de Estado.

Em 1955, as tensões com Israel permaneceram acentuadas e houve numerosas trocas de


tiro e revides ao longo da fronteira na Faixa de Gaza. Quando o Egipto, alarmado pelos
incessantes envios de armas a Israel, solicitou ajuda análoga aos países ocidentais, estes
lhe responderam com pouco caso. Em Setembro de 1955, al-Nasser anunciou um acordo
com a Checoslováquia, incumbida de fornecer-lhe grandes quantidades de material
militar, inclusive tanques e aviões, comprometendo-se ele em troca, a lhes enviar algodão
e arroz. Esta iniciativa, tendencialmente capaz de liberar o Egipto de uma dependência
unilateral em relação aos arsenais ocidentais, foi aclamada pela maioria dos Estados
árabes e asiáticos mas, suscitou no ocidente uma onda de histeria e aumentou a
desconfiança e a aversão demonstradas ao regime egípcio o efeito imediato deste acordo
foi a recusa da Grã-Bretanha, dos Estados unidos e do Banco Mundial em financiar o
projecto da grande barragem em Assouan. Este projecto visava aumentar as superfícies
cultivadas e garantir o fornecimento da energia necessária a industrialização, na esperança
de resolver os problemas impostos pelo crescimento populacional do pais.

Ao nacionalizar a Companhia do Canal de Suez, o Egipto contentou-se em exercer os seus


direitos soberanos, sem, todavia e em hipótese alguma, modificar o carácter internacional
do canal como via navegável. A África setentrional e o chifre da África intuindo forçar o
Egipto a renunciar aos seus direitos e a aceitar um controle internacional de outro tipo,
fracassaram. Em Outubro, Israel, a Grã-Bretanha e a França, após terem concluído um
acordo secreto, invadiram o Egipto. O objectivo comum dos três agressores era destituir

101
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

al-Nasser, derrubar o seu regime e fazer novamente do Egipto uma semi-colónia


dependente.

As forças israelitas penetraram no deserto do Sinai em 24 de Outubro e avançaram rumo


ao Canal de Suez. A operação aérea anglo-francesa contra o Egipto começou em 31 de
Outubro mas os pára-quedistas e as forças transportadas por via marítima não atingiram a
região de Port-Said senão em 5 de Novembro. Neste interlúdio, a URSS e os Estados
Unidos propuseram ao conselho de Segurança das Nações Unidas resoluções exigindo
uma retirada imediata das forças israelenses mas a Grã-Bretanha e a França lá exerceram,
em oposição, o seu poder de veto. Em seguida, a Assembleia Geral das Nações Unidas
lançou um apelo em defesa de um cessar-fogo geral e em prol do fim das hostilidades.

A última tentativa, levada a cabo pela Grã-Bretanha com o objectivo de utilizar a


“diplomacia dos canhões” e readquirir a sua antiga supremacia na região, configurou-se,
portanto, em um total fracasso. Para a Grã-Bretanha e a França, ela traduziu-se por uma
nova perda de influência, não restrita ao mundo árabe mas também em todo o Terceiro
mundo.

Por sua vez, o Egipto e o presidente al-Nasser tornaram-se o símbolo de uma nova atitude
vis-a-vis dos imperialistas: pela primeira vez na História, uma antiga colónia não batia em
retirada frente a uma ameaça mas, resistia com uma determinação que embaraçava
consideravelmente as potências ocidentais, chegando a provocar uma crise política interna
na Grã-Bretanha e na França. As nações colonizadas e os Estados recém Independentes
apreciaram tanto a audaciosa nacionalização, empreendida por al-Nasser, da Companhia
do Canal de Suez quanto a sua resistência a agressão armada. Fora claramente
demonstrado que o imperialismo não era tão forte como outrora e que, tirando proveito de
sua fraqueza, as nações oprimidas da África e de alhures poderiam conquistar a sua
independência.

102
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

______________________________________________

Sumário

Nasser no Egipto sobreviveu às tenções das guerras com Israel e as subsequentes


incertezas dos assuntos do médio oriente, e isto não obstante a sua morte prematura em
1970 e o assassinato em 1981 do seu sucessor imediato o general Anuar al-sadate. Em
1969 os jovens oficiais do exército Líbio, chefiados pelo coronel al-kadhafi, seguiram o
exemplo egípcio e substituíram a monarquia do seu país por um regime socialista árabe, e
em 1965 outro militar, o coronel Boumedienne destruiu o primeiro presidente da Argélia
independente, Bembella.

As ondas de golpes de estados quase comuns em todos os estados independentes em


África podem ser resumidas não só na causa da extrema fragilidade económica do
continente e ambição de poder por parte dos seus patriotas, mas por outro lado, o desejo
dos antigos colonizadores em montar neocolónias nos antigos territórios de sua ocupação
de modo a impedir o avanço do regime comunista soviético no Mundo e particularmente
para África.

____________________________

Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Entregar os exercícios: 3 e 4.

EXERCÍCIOS:

1 – Quais foram as politicas implementadas pelo Nasser?

2 – Identificar as áreas das infra-estruturas nacionalizadas pelo presidente Nasser?

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade XIII
As Democracias No Gana, Burundi, Ruanda e no Uganda

13.1. As Democracias
___________________________________________

Introdução da unidade

Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar os papéis desempenhados


pelos nacionalistas para a libertação destes países e os processos democráticos que neles
ocorreram. foi revisto e assinado em Julho de 1993, de forma a acelerar a integração
económica e aumentar a cooperação na esfera política, incluindo o estabelecimento de um
parlamento oeste africano, um conselho económico e social e um novo tribunal para
assegurar a execução das decisões da Comunidade. Este novo Tratado dá formalmente à
Comunidade a responsabilidade de evitar e resolver conflitos na região.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade o estudante deve ser capaz de:

1 - Identificar o papel de Kwame Nkrumah

2 – Identificar as principais razões de chacina no Ruanda e Burundi

3 – Explicar as causas da rivalidade entre Obote e Kabaka

104
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

13.1-Desenvolvimento do tema
13.1.2- NO Gana - fora das primeiras colónias da África tropical a garantir a sua
independência em 1957 e uma das que melhor desenvolvida se encontrava uma boa
qualidade de recursos naturais e um povo com um nível de educação relativamente
elevado.

O kwame Nkrumah que trouxera a independência ao país e que se tornara presidente


procurou então horizontes mais alargados onde aplicar a sua energia e sua eloquência
começou por dar tanta ou mais atenção a reivindicação da causa da independência na
frente pan-africana quanto aos assunto do pais.

Em 1966 os oficiais do exército decidiram que a situação fora longe demais e ocuparam o
poder numa altura em que Nkrumah se encontrava fora do país.

Os civis reuniram-se para formar uma nova constituição democrática e parlamentar ao


abrigo da qual se realizaram as eleições de 1969. Contudo, a crise económica criou nova
insatisfação e o partido já no poder perdeu o apoio e em 1972 os soldados chefiados por
general Acheampang assumiram outras vezes o poder, estabeleceram um conselho de
salvação nacional para tentar mostrar que eram capazes de fazer melhor. Não
conseguiram, e, em 1978, Acheampang foi deposto pelo general akuffo que prometeu ao
regresso civil.

Contudo, jovens oficiais e sargentos descontentes, em 1979, chefiados pelo tenente


aviador Rawlings tomaram o poder e executaram Akuffo e outros oficiais dirigentes. A
primeira ideia de Rawlings de repor um governo parlamentar quando a achou incerto,
preferiu implantar uma revolução pragmática para a sociedade ganiana; dai que em 1981
o poder passou para um conselho provisório de defesa com Rawlings no cargo de
presidente.

‘‘ Nem sempre os conflitos internos dos estados independentes de África foi uma
consequência de os colonialistas terem reunido diferentes etnias sob uma única
administração colonial’’. (Fage, 1995:540).

105
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

A conjuntura económica da desses países da África é igualmente caracterizada pela


insignificante mobilização de recursos internos com diferenças segundo os países. Toda a
estratégia económica a ser executada na África Ocidental deverá apoiar-se na adopção de
regras que favorecem a estabilidade política e a segurança da empresa privada. Os Estados
membros devem materializar em acções concretas o seu engajamento nos esforços de
integração regional na África.

As potências ocidentais entendem que a abertura à democracia pode conduzir a que


ditadores fossem substituídos, ficando a democracia pelo caminho.

Foi o fim da guerra fria que tornou possíveis as reivindicações e pressões internacionais
para a transição democrática na África Sub Sahariana. O desmantelamento do complexo
militar – industrial soviético, o abandono da região pelas potências ocidentais que lhe
opunham, deu um forte impulso ao assomo da democracia.

A falta de gestão de recursos nacionais (estatais ou não), aliada a queda secular dos preços
internacionais das matérias primas em que a África se especializou desde o tempo
colonial e à qual não se conseguiu furtar, tem conduzido os países os países da África sub
sahariana ao endividamento e a uma crise económica que os remete, em desespero de
causa, para os programas de ajustamento estrutural – PAE (Consenso de Washington).

Razões pelas quais a afirmação democrática é identificada devido das crises económicas,
políticas e sociais vividas pelos africanos.

Outros factores que dificultam a democracia em Ghana são: a corrupção dos dirigentes
africanos, fraudes eleitorais, racismos entre tribos dentro de uma nação, desnível
económico dentro de um território, ditaduras e manutenção no poder de forma vitalício.

13.1.3- No Burundi
No Burundi, antes da era colonial, as aristocracias de pastores dos tutsis haviam imposto a
suserania à populações rurais maioritárias hutus. Estas suseranias perpetuaram-se por sua
vez no período colonial. Com o advento da independência este caso, levou a uma
considerável violência.

106
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

A monarquia tutsi continuou a vigorar até 1966, altura em que foi derrubada por um golpe
que levou um oficial tutsi general Mikombelo a presidência.

A partir desses acontecimentos houve desequilíbrio em termos de relação que a


monarquia mantivera com os hutus. Em 1972, estes rebelam e são esmagados
brutalmente. Cerca de 100000 e 150000 obrigados a fugir do país. Mikombelo foi
derrotado em 1976 pelo coronel Bagaza que abraçou o socialismo. Não satisfeitos os seus
jovens oficiais criam uma comissão para a salvação nacional.

Esta revolução libertou também as tenções étnicas no Uganda entre as etnias nilóticas
atrasadas em termos económicos e menos instruídos com as etnias bantas do sul de reinos
avançados.

Um dos grandes factores que dificultam a democracia no Burundi são: a corrupção dos
dirigentes africanos, fraudes eleitorais, racismos entre tribos dentro de uma nação,
desnível económico dentro de um território, ditaduras, manutenção no poder de forma
vitalício e oportunidade de emprego de uma tribo em detrimento doutra.

13.1.4-No Ruanda
Os mais antigos humanos que se conhecem no Ruanda parecem ter sido os pigmeus twa,
que actualmente compreendem cerca de 1% da população deste país. Os hutus e tutsis são
povos bantus que provavelmente se instalaram na região durante a expansão Bantu. A
partir do século XV, os tutsis passaram a dominar a sociedade através duma aristocracia
que tinha à frente um Mwami (rei).

Ao contrário dos seus vizinhos, o Ruanda, que era um reino centralizado, não teve a sua
“sorte” decidida na Conferência de Berlim (de 1885) e só foi entregue à Alemanha
(juntamente com o vizinho Burundi) em 1890, numa conferência em Bruxelas, em troca
do Uganda e da ilha de Heligoland. No entanto, as fronteiras desta colónia – que, na altura
incluíam também alguns pequenos reinos das margens do Lago Vitória – só foram
definidas em 1900.

107
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

O governo alemão deixou a autoridade nativa administrar a colónia, usando o sistema


utilizado pelos britânicos nos reinos do Uganda. Depois da derrota da Alemanha na
Primeira Guerra Mundial, o protectorado foi entregue à Bélgica, por mandato da Liga das
Nações. O domínio belga foi muito mais directo e duro que o dos alemães e, utilizando a
igreja católica, manipulou a classe alta dos tutsi para reprimir o resto da população -
maioritariamente tutsis e hutus -, incluindo a cobrança de impostos e o trabalho forçado,
criando um fosso social maior do que o que já existia.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o Ruanda tornou-se um território “protegido” pelas


Nações Unidas, tendo a Bélgica como autoridade administrativa. Através duma série de
processos, incluindo várias reformas, o assassinato do rei Mutara III Charles, em 1959 e a
fuga do último monarca do clã Nyiginya, o rei Kigeri V, para o Uganda, os hutus
ganharam mais poder e, na altura da independência, em 1962, os hutus eram os políticos
dominantes. Em 25 de Setembro de 1960, a ONU organizou um referendo no qual os
ruandeses decidiram tornar-se uma república. Depois das primeiras eleições, foi declarada
a República do Ruanda, com Grégoire Kayibanda como primeiro-ministro.

Após vários anos de instabilidade, em que o governo tomou várias medidas de repressão
contra os tutsis, em 5 de Julho de 1973, o major general Juvénal Habyarimana, que era
ministro da defesa, destituiu o seu primo Grégoire Kayibanda, dissolveu a Assembleia
Nacional e aboliu todas as actividades políticas. Em Dezembro de 1978 foram
organizadas eleições, nas quais foi aprovada uma nova constituição e confirmado
Habyarimana como presidente, que foi reeleito em 1983 e em 1988, como candidato
único mas, em resposta a pressões públicas por reformas políticas, Habyarimana anunciou
em Julho de 1990 a intenção de transformar o Ruanda numa democracia multipartidária.

No entanto, nesse mesmo ano, uma série de problemas climáticos e económicos geraram
conflitos internos e a Frente Patriótica Ruandesa (RPF), dominada por tutsis refugiados
nos países vizinhos lançou ataques militares contra o governo hutu, a partir do Uganda. O
governo militar de Juvénal Habyarimana respondeu com pogroms genocidas contra os
tutsis. Em 1992 foi assinado um cessar-fogo entre o governo e a RPF em Arusha,
Tanzânia.

108
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Em 6 de Abril de 1994, Habyarimana e Cyprien Ntaryamira, o presidente do Burundi,


foram assassinados quando o seu avião foi atingido por fogo quando aterrava em Kigali.
Durante os três meses seguintes, os militares e milicianos mataram cerca de 800 000 tutsis
e hutus, naquilo que ficou conhecido como o Genocídio do Ruanda. Entretanto, a RPF,
sob a direcção de Paul Kagame ocupou várias partes do país e, em 4 de Julho entrou na
capital Kigali, enquanto tropas francesas de “manutenção da paz” ocupavam o sudoeste,
durante a “Opération Turquoise”.

Paul Kagame ficou como vice-presidente e Pasteur Bizimungu como presidente mas, em
2000, os dois homens fortes entraram em conflito, Bizimungu renunciou à presidência e
Kagame ficou como presidente. Em 2003, Kagame foi finalmente eleito para o cargo, no
que foram consideradas as primeiras eleições democráticas depois do Genocídio.
Entretanto, cerca de 2 milhões de hutus refugiaram-se na República Democrática do
Congo, com medo de retaliação pelos tutsis. Muitos regressaram, mas conservam-se ali
milícias que têm estado envolvidas na guerra civil daquele país.

Um dos grandes factores que dificultam a democracia no Ruanda são: oportunidade de


emprego de tribos tutsis em detrimento dos hutsis, a corrupção dos dirigentes, ditaduras,
fraudes eleitorais, racismos entre tribos dentro de uma nação, desnível económico dentro
de um território e manutenção no poder de forma vitalício.

13.1.5-No Uganda
Com a independência de 1962 Milton Obote, dirigente nortenho, alcança uma aliança com
Kabak o dirigente de buganda do sul. Obote irá ocupar a pasta de primeiro ministro e
kabaka a de presidente. Obote não podia se sentir seguro com kabaak o qual gozava
prestígio no reino dos bugandas. Em 1966 utilizou as tropas do exército do Uganda
recrutados no norte sua região para eliminar reinos dos bugandas e obrigar kabaka a partir
para exílio “ao servir-se do exercito para perturbar a autoridade instituída Obote
arranjava assim lenha para queimar a si mesmo”, (fage,1995:541).

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Em 1971 o oficial que comandara o ataque ao palácio do kabaka, o general Idi Amin,
igualmente natural do norte tal como a maior parte dos seus soldados derrubou-o e
assumiu o poder. Amin usou o poder de forma mais arbitrária do que obote e tornou-se
impaciente no uso da força para liderar com os opositores e críticos reais e imaginários do
seu regime. Expulsou os asiáticos que dominavam o comércio e a indústria o que resultou
na ruína económica e destruição das cidades e desordem em todo o país. Em 1978
desesperado ordenou a invasão à Tanzânia.

Fracassado este tento a Tanzânia invadiu por sua vez a Uganda e em escassos meses
Amin foi obrigado a fugir; e Obote retomou o poder. Em 1980 são convocadas as eleições
em que Obote declara ter vencido. Dois anos depois os soldados tanzanianos são
completamente retirados do país; eis que Uganda volta a ser palco de banditismo armado
e devastação. Incapaz de controlar a situação, em 1975 Obote é derrotado pelo general
Okello o nortenho nos moldes de Amin. Contudo, a situação veio a seu tavão com um
experiente líder de guerrilha do oeste do Uganda yoweri Museveni, que em 1986 derrotara
todos os seus rivais tomando de captura a capital Campala o qual viu-se então confrontado
com a tarefa de restituir a ordem e o progresso a um país devastado e dividido.

Um dos grandes factores que dificultam a democracia no Uganda são: oportunidade de


emprego de algumas tribos em detrimento doutras, a corrupção dos dirigentes, ditaduras,
fraudes eleitorais, racismos entre tribos dentro de uma nação, desnível económico dentro
de um território e manutenção no poder de forma vitalício.

_________________________________________________

Sumário

O Gana, fora das primeiras colónias da África tropical a garantir a sua independência em
1957 e uma das que melhor desenvolvida se encontrava uma boa qualidade de recursos
naturais e um povo com um nível de educação relativamente elevado. Gana demonstrara
perfeitamente capaz de explorar estes recursos e de gerir os seus próprios recursos.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Foi gasta aqui uma parte substancial das reservas do país em projectos que deram mais
prestígio do que rendimentos, e outros líderes que colocavam os seus interesses acima dos
interesses do país.

No Burundi, como no Ruanda, antes da era colonial, as aristocracias de pastores dos tutsis
haviam imposto a suserania à populações rurais maioritárias hutus. Estas suseranias
perpetuaram-se por sua vez no período colonial. Com o advento da independência este
caso, levou a uma considerável violência.

Com a independência de 1962 Milton Obote, dirigente nortenho, alcança uma aliança com
Kabak o dirente de buganda do sul. Obote irá ocupar a pasta de primeiro ministro e
kabaka a de presidente. Obote não podia se sentir seguro com kabaak o qual gozava
prestígio no reino dos bugandas. Em 1966 utilizou as tropas do exército do Uganda
recrutados no norte sua região para eliminar reinos dos bugandas e obrigar kabaka a partir
para exílio “ao servir-se do exercito para perturbar a autoridade instituída Obote
arranjava assim lenha para queimar a si mesmo”, (fage,1995:541).

________________________________________________

Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação. Entregar os exercícios: 1 e 4.

EXERCÍCIOS:

1 -“ao servir-se do exercito para perturbar a autoridade instituída Obote arranjava


assim lenha para queimar a si mesmo”, (fage,1995:541).

Comente esta frase base do teu conhecimento sobre os regimes e comportamentos


políticos de outros chefes africanos.

2 – Quais foram as causas que levava muitos golpes de estado dos dirigentes Ganenses?

3 – Quais são as causas que desencadearam guerras as duas tribos tribos Ruandesas e
Burundesas?

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

_____________________

Unidade XIV
14.1. As Democracias no Sudão, Marrocos, Chade e na Nigéria
________________________________________

Introdução da unidade

Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam a partir de que ponto se pode afirmar
que os funcionários públicos tinham se tornado em cortesãos ou criaturas do chefe de
estado.

Também os nacionalistas no período de libertação destes países e os processos


democráticos que neles ocorreram. Foi revisto e assinado em Julho de 1993, de forma a
acelerar a integração económica e aumentar a cooperação na esfera política, incluindo o
estabelecimento de um parlamento, um conselho económico e social e um novo tribunal
para assegurar a execução das decisões da Comunidade. Este novo Tratado dá
formalmente à Comunidade a responsabilidade de evitar e resolver conflitos na região.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade, o estudante deve ser capaz de:

1 – Explicar a relevância do tribalismo nos conflitos do Sudão.

2 – Explicar as razões alegadas por Kadaf na sua intervenção no Chade

3 – Explicar a prepotência de Marrocos no domínio da região do Sahara Ocidental.

4 – Explicar até que ponto o tribalismo é um dos motivos da divisão da Nigéria em vários
estratos sociais.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Desenvolvimento do tema

14.1.2- No Sudão
A semelhança de Uganda, o Sudão, maior pais de África conseguiu a sua independência
em 1956, mas este país sofre uma divisão natural entre o norte predominantemente
muçulmano e o sul região da população predominantemente nilótica como prolongamento
da população nilótica do norte de Uganda seu vizinho a sul. Tem se referido que se
evitariam muitos problemas e salvaria muitas vidas se a metade do norte de Uganda se
tivesse unido com a metade do sul de Sudão.

Esta sugestão é evocada pelo facto desta região ser habitada por populações de etnia
nilótica. Pelo que a sua junção no único estado poderia obviar a muitas das lutas civis e
derramamento de sangue que ocorreram em ambos os países desde a independência.

Conseguiu repor o governo eficaz no norte do Sudão, mas nem mesmo com o auxílio do
seu exército logrou fazer qualquer progresso nas províncias do sul, onde começaram uma
rebelião em 1955 quando os oficiais britânico foram substituídos por sudaneses do norte.
Em 1964 após greves em Cartum Abboude entregou o poder aos civis os quais
procuraram garantir a paz no sul fazendo alguma amnistia, mas que não resolveu o
problema. Essa insatisfação social levou a que em 1969 um grupo de jovens oficiais
ocupasse o poder liderado por coronel Niameiry que se tornou presidente em 1971.

Niameiry procurou conquistar o sul por campanhas militares. Para além de ter falhado a
sua opção provocou muita morte e grandes hostilidades particularmente com os cristãos.
Dessa forma recorreu a negociações e em 1972 foi assinado um acordo que atribuiu uma
autonomia ao sul. Apesar de tudo nunca cessaram as rivalidades com o governo de
Cartum tendo recrudescido nos finais da década de 70, altura em que Niameiry decidiu
que a lei islâmica iria substituir o sistema legal baseado na lei inglesa até então vigente no
Sudão.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Quando se procedeu a mudança, em 1983 o movimento de libertação do povo do Sudão


estava preparar uma grande rebelião armada e o poder do governo de Cartum só se fazia
sentir apenas nas grandes cidades essa adopção da shari’a aumentou a hostilidade ao
regime por parte do círculo mais sofisticado e urbano no norte de modo que em 1984
Niameiry achou melhor declarar a lei marechal. O agravamento dessas insatisfações
sociais levou a que o seu primeiro ministro por ele nomeado o general (Swar al-Dhahab) o
substituísse em 1986.

Actualmente o Sudão, encontra-se divido que é República de Sudão e República de Sudão


Sul.

Um dos grandes factores que dificultam a democracia no Sudão são: oportunidade de


emprego de algumas tribos em detrimento doutras, a corrupção dos dirigentes, ditaduras,
fraudes eleitorais, racismos entre tribos dentro de uma nação, desnível económico dentro
de um território e manutenção no poder de forma vitalício.

14.1.3- Em Marrocos
O rei Hassan de Marrocos reivindicava que o seu país possuía direitos históricos a todo o
território e não estava interessado em ver metade dele ir para a Mauritânia, como
propusera a Espanha em 1975. Por outro lado, os seus 70 000 habitantes nómadas não
viam necessidades de lhes ser imposto qualquer governo, quer por parte de Marrocos quer
pela Mauritânia.

Por conseguinte, em 1976 criaram a frente polisário para lutar por uma república
democrática árabe saraui. Contaram com o apoio da Argélia depois da queda do governo
civil em 1978, três anos depois a Mauritânia reconheceu a frente polisário e, em 1984
reconheceu a república democrática árabe saraui.

Marrocos continuou a empregar muita força militar em dispendiosas tentativas de derrotar


as forças saarianas em vão, pois estas forças sempre contaram com apoio da Argélia
inclusive o local de refúgio. As guerras prolongadas, como as do Sahara ocidental, do
Chade e do sul do Sudão, da Etiópia, em Angola e em Moçambique, implicaram uma

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

constante perda de vidas de alguns povos mais pobres da África, e também a destruição de
grande parte do que tinham conseguido fazer para melhoria de vida e garantir um futuro
também melhor. Marrocos e um pais conservador, governado pelo rei Hassan, a maioria
da população professam a religião Islâmica e actualmente não é membro da União
Africana por razões de conflitos com a Sahara Ocidental.

14.1.4- No Chade
O Chade, vizinho do Sudão a oeste enferma a mesma divisão com os pastores nómadas
muçulmanos do norte e os agricultores cristãos do sul. Aqui as vantagens de riqueza
encontraram-se no sul, e com a chegada da independência em 1960 foram os sulistas que
dominaram a Sena política em 1967 os nortenhos rebelam em 1970 havia uma guerra
aberta em que os nortenhos eram apoiados por kadhafi que pretendiam alastraram as suas
fronteiras até a África negra.

No final da década de 70 a intervenção da França evitou a invasão do sul pelos nortenhos.


Nos anos 80 os diplomatas africanos e ocidentais fracassaram na tentativa da busca da
solução, pois Kadhafi entrara com mais forca. O Chade contava com o apoio da França
E.U.A. e outros países africanos. Havia também guerra no extremo ocidental do Sahara no
que fora o Sahara espanhol. Um dos grandes factores que dificultam a democracia no
Chade são: oportunidade de emprego de algumas tribos em detrimento doutras, a
corrupção dos dirigentes, ditaduras, fraudes eleitorais, racismos entre tribos dentro de uma
nação, desnível económico dentro de um território e manutenção no poder de forma
vitalício.

14.1.5-Na Nigéria
A Nigéria alcançou a sua independência em 1960 como uma federação de três regiões: o
norte o oeste e o leste. As crises políticas sociais que se alastraram desde a independência
provocaram ondas de greve a partir de 1964 mesmo os altos funcionários públicos
federais ficaram alarmados com o que se sucedia no seu país. Consequentemente, no
principio de 1964 jovens oficiais do exército aceitavam a levar a efeito de um golpe do

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

estado em que o primeiro-ministro federal o dirigente do partido do norte e o primeiro-


ministro fantoche do ocidente e constaram uns números de mortos.

A desordem na região ocidental terminou rapidamente. Elaborou-se um plano para


substituir as quatro regiões por um número unidades políticas mais uniformemente
equilibradas foi a vez dos nortenhos que ficarem insatisfeitos temiam ser uma trama dos
sulistas (os ibos) Para alterar o equilíbrio do poder.

Os soldados amotinaram–se e mataram Ironsi e muitos outros oficiais Ibos.

A disciplina militar viria a ser reposta por um general nortenho Gowon, mas muitos Ibos a
operarem quer na administração, serviços, comércio são atacados, cerca de 1000.000
refugiam –se para o sul e leste, regiões já densamente povoadas.

Dentro desta crise em que o governador militar do leste (um Ibo) coronel Ojukwu
anunciou que a Nigéria oriental sairia da federação como estado independente da Biafra.
Passado um mês eclodia a guerra civil. Devido a crise alimentar, falta de abastecimento
em armamento etc, a resistência Biafrense fracassou; Ojukwu põe-se a fugir e os
Biafrenses renderam-se. Gowon (o nortenho) e o seu governo esforçaram –se por
reconciliar–se com a nova Nigéria que esperava ajudar a construir, mas não resolveu
muito dos novos problemas suscitados pela reconstrução.

Em 1975 Gowon viu–se obrigado a deixar o poder para o general Murtala Muhammad
(nortenho) que deixou o povo satisfeito por levar o governo aos civis. Murtala é
assassinado em 1976. Em 1979 é aprovada uma nova constituição muito complexa que
aprova um presidente executivo e nada menos de 19 estados federados.

Poucos se beneficiaram desta constituição senão os políticos que dispunham já de formas


de gastar os fundos do erário público. A consequência da insatisfação não fez –se esperar
em 1983 o exército tomou o controlo da nação.

Tanto com os civis como com os soldados, ambos assumiam semelhante à de monarcas
divinos apresentando-se como os pais de uma nação de onde fluía toda a bondade.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

‘‘Em última análise os assuntos da nação estavam todos nas mãos do seu líder. Seguiu-se
que os ministros e outros funcionários deixavam de ser responsáveis por qualquer
opinião pública, parlamento, gabinete ou mesmo conselho militar, mas tinham se tornado
criaturas do chefe de estado governante. Na verdade tornaram-se cortesãos dependentes
pessoalmente dele e não de qualquer sistema institucional, tanto no que se refere as
remunerações como dos privilégios do cargo. Obviamente que semelhante sistema, só
podia ser corruptora, se o governante ou os seus subordinados, ou ainda ambos olhassem
pelos seus interesses e não pelos da nação, caso em que a situação acabava por só ser
remediada mediante recurso à violência, (FAGE, 1995:546).

A Nigéria foi dominada por um regime militar na maior parte dos 47 anos desde que se
tornou independente do Reino Unido.

Nos últimos oito anos de democracia mais de 50 partidos políticos foram formados pelo
país. Os principais são o partido que está no poder o Partido Popular Democrático (PDP),
o maior partido da oposição o Partido Popular de Todos os Nigerianos (ANPP) e o
Congresso da Acção (AC). O Presidente Olusegun Obasanjo - um ioruba e cristão do sul -
é um veterano militar e da elite política. Ele ganhou estatuto no estrangeiro e é
responsável por liquidar a dívida estrangeira, bem como a corrupção que estavam a
afectar a economia do país.

Mas muitos nigerianos queixam-se que não tem havido progressos nas infra-estruturas
básicas como a luz, água e saneamento básico. Outro dos aspectos negativos apontados
pela população é a dificuldade de arranjar emprego e a escalada dos preços.

Após a eleição de Obasanjo em 1999, uma nova Constituição foi aprovada que garante
que haja eleições de 4 em 4 anos. Obasanjo ganhou em 2003, muito embora as eleições
tenham sido consideradas falseadas. O Partido Popular Democrático (PDP) que está no
poder, fortaleceu a sua posição tanto na Assembleia Nacional e nos 36 estados que
constituem a Nigéria, 31 dos quais têm governadores do partido do governo.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Uma tentativa de emendar a Constituição para permitir


que o presidente se candidatasse ao terceiro mandato foi
reprovada em 2006.

As eleições presidenciais de 2007 vão permitir a


primeira transferência de poder civil no país desde a
Candidatos às presidenciais (da
independência.
esquerda para a direita): Umaru
Os três principais candidatos presidenciais são todos
Yar'Adua (PDP) - Atiku
muçulmanos do norte, reflectindo a crença que o cargo
Abubakar (AC) - Muhammadu
de líder da nação deve pertencer a um nortenho, depois
Buhari (ANPP)
de Obasanjo ter estado no poder.

Atiku Abubakar quer candidatar-se pelo partido do Congresso da Acção, mas foi
impedido de o fazer por acusações de corrupção que ele nega. O Supremo Tribunal
decidiu que a Comissão de Eleições não tem poder de impedir que nenhum candidato
concorra ao lugar. Resta agora saber se haverá tempo para que Abubakar avance com a
candidatura, por questões logísticas. Já foram feitos os quase 60 milhões de boletins de
voto para os eleitores nigerianos.

Um dos maiores progressos políticos dos últimos oito anos é que o exército foi
politicamente neutralizado. Quaisquer generais com ambições políticas foram afastados e
outros têm estado num esquema de rotação que os impede de se agarrarem ao poder. A
nova geração de oficiais são profissionais e, pela primeira vez em décadas, todos os
observadores concordam que um golpe militar é pouco provável.

Um dos grandes factores que dificultam a democracia na Nigéria são: conflitos religiosos
entre o norte muçulmano e o sul cristão, oportunidade de emprego de algumas tribos em
detrimento doutras, a corrupção dos dirigentes, ditaduras, fraudes eleitorais, racismos
entre tribos dentro de uma nação, desnível económico dentro de um território e
manutenção no poder de forma vitalício.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

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Sumário

A semelhança de Uganda, o Sudão, maior pais de África conseguiu a sua independência


em 1956, mas este país sofre uma divisão natural entre o norte predominantemente
muçulmano e o sul região da população predominantemente nilótica como prolongamento
da população nilótica do norte de Uganda seu vizinho a sul.

O Chade, vizinho do Sudão a oeste enferma a mesma divisão com os pastores nómadas
muçulmanos do norte e os agricultores cristãos do sul.

No final da década de 70 a intervenção da França evitou a invasão do sul pelos nortenhos.


Nos anos 80 os diplomatas africanos e ocidentais fracassaram na tentativa da busca da
solução, pois Kadhafi entrara com mais forca. O Chade contava com o apoio da França
E.U.A. e outros países africanos. Havia também guerra no extremo ocidental do Sahara no
que fora o Sahara espanhol.

O rei Hassan de Marrocos reivindicava que o seu país possuía direitos históricos a todo o
território e não estava interessado em ver metade dele ir para a Mauritânia, como
propusera a Espanha em 1975. por outro lado, os seus 70 000 habitantes nómadas não
viam necessidades de lhes ser imposto qualquer governo, quer por parte de Marrocos
quer pela Mauritânia.

A Nigéria alcançou a sua independência em 1960 como uma federação de três regiões: o
norte o oeste e o leste. As crises políticas sociais que se alastraram desde a independência
provocaram ondas de greve a partir de 1964 mesmo os altos funcionários públicos
federais ficaram alarmados com o que se sucedia no seu país. Consequentemente, no
princípio de 1964 jovens oficiais do exército aceitavam a levar a efeito de um golpe do
estado

Conforme se referiu as ocupações e os governos militares sempre estiveram mais em


destaque do que os regimes civis estáveis em África.

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Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação Entregar os exercícios: 2, 3, 4.

EXERCÍCIOS

1 – Qual foi a primeira causa das rivalidades entre as tribos muçulmanas do norte e as
nilóticas do sul do Sudão?

2 – Identifique as razões alegadas pelo presidente Kadafi na invasão do Chade.

3– Explica as causas da guerra biafrense e diga como fracassou?

4 – Diga desde quando a Nigéria passou ter mais de 19 estados federais e corruptos e qual
é a causa desta corrupção?

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade XV
As Mudanças Políticas no Continente e em Moçambique

15.1. As Mudanças Políticas no Continente


_____________________________________________________

Introdução da unidade

Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar todos os processos que
desde a década de noventa levaram a mudanças generalizadas nas democracias africanas e
em Moçambique em particular. Trata-se de forma duma abordagem sobre a evolução das
políticas africanas do período pós-guerras frias.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade o estudante deve ser capaz de:

1 – Identificar o período em que o multipartidarismo passa a ser a política mais adoptada


em África e em Moçambique.

2 – Explicar as causas internas e externas que contribuíram paras as mudanças políticas no


continente e em Moçambique.

15.1.1-Desenvolvimento do tema
A Organização da Unidade Africana (OUA) foi criada a 25 de Maio de 1963 em Addis
Ababa, Etiópia, por iniciativa do Imperador etíope Haile Selassie através da assinatura da

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

sua Constituição por representantes de 32 governos de países africanos independentes. A


OUA foi substituída pela UA (União Africana) a 9 de Julho de 2002.

A partir da década de noventa, os sistemas políticos multipartidários começaram a ser


adoptados por quase na totalidade no continente africano, ora pelas pressões internas de
movimentos políticos (então considerados pelo partido no poder como
desestabilizadores), ora pelas pressões internacionais. Esta abertura ao multipartidarismo,
e com ela a realização de eleições livres, apareceu como sendo um dos primeiros e
principais indicadores de um processo de democratização política em África.

Contudo, importa referir que a problemática da democratização em África constitui um


campo de análise complexo e, como tal, não se pode restringir ao mero estudo dos
aspectos formais das reformas políticas. Daí que, para descrever como o processo de
democratização no continente, é preciso ter em conta o papel crescente das instituições
financeiras internacionais como o banco mundial; o fundo monetário internacional; e
ainda as pressões dos países ocidentais na determinação e orientação dos programas
económicos dos governos africanos, com exigências paralelas de reformas políticas.

Os objectivos da UA, expressos na sua Constituição eram:

Promover a unidade e solidariedade entre os estados africanos;

Coordenar e intensificar a cooperação entre os estados africanos, no sentido de atingir


uma vida melhor para os povos de África;

Defender a soberania, integridade territorial e independência dos estados africanos;

Erradicar todas as formas de colonialismo da África;

Promover a cooperação internacional, respeitando a Carta das Nações Unidas e a


Declaração Universal dos Direitos Humanos;

Coordenar e harmonizar as políticas dos estados membros nas esferas política,


diplomática, económica, educacional, cultural, da saúde, bem estar, ciência, técnica e de
defesa.

122
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

15.1.2-Desafíos de África
O fenómeno da globalização intensifica a concorrência entre as economias, a cada dia que
passa colocando desafios a muitas regiões como um todo. A China e a Índia são, de facto
exemplos extraordinários das oportunidades proporcionadas pela Globalização. Os
benefícios proporcionados pela ajuda externa e pela Globalização sob a forma de
Investimento Directo Estrangeiro, maior integração dos mercados e ganhos de eficiência
das empresas, têm permitido a África uma transição para patamares superiores de
desenvolvimento e reforço da sua competitividade.

Mas é, especialmente exigido uma forte capacidade de ajustamento, a capacidade de


superar os desafios associados à crescente concorrência. As economias actuais
necessitam, pois, de uma capacidade de mover recursos mais rapidamente (quer
trabalhadores quer capital) para utilizações alternativas, de forma a usufruir das novas
oportunidades e a minimizar os custos de ajustamento. Além da necessidade de reformas
estruturais é tão ou mais urgente a adopção de medidas estratégicas complementares no
sentido de garantir maior inovação empresarial, mais Investigação e Desenvolvimento,
mais empreendedores, uma democracia representativa, melhor clima empresarial e mais
(melhor) Educação.

15.2. Mudanças Políticas em Moçambique


O caso particular de Moçambique, desde a independência até mil novecentos e oitenta,
verificou-se que o grupo dirigente da Frelimo tinha enveredado pela via de construção de
um partido-Estado cuja primeira função seria a de criar a nação moçambicana,
promovendo ao mesmo tempo o desenvolvimento económico do país (construção do
socialismo).

Contudo este projecto fracassou devido, por um lado, às hostilidades dos países vizinhos
sob dominação branca (Rodésia do sul e África do sul), todos contra os ideais marxistas

123
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

encarados pela elite no poder e, por outro, a situação económica e social de Moçambique
então precária.

Assim, ao invés de desenvolvimento em Moçambique, o que se verificou nos primeiros


anos da década de oitenta foi uma crise económica aguda e um enorme crescimento da
guerra civil.

Ainda, a saber, o novo governo tomou uma série de medidas: construção de uma
economia moderna baseada na agricultura mecanizada e no aumento das indústrias; a
extensão do acesso à saúde e à educação a todos os cidadãos; substituição nas aldeias dos
antigos chefes (régulos) por presidentes e secretários; substituição dos antigos tribunais de
chefes e anciãos por tribunais de justiça locais; desencorajamento das expressões de
etnicidade.

Estas medidas deram uma grande confusão e violência que provocou êxodo dos colonos,
trabalhadores especializados e profissionais negros e indianos e ainda o abandono dos
gestores portugueses, levando ao declínio dos preços. Simultaneamente a África do sul
começou a dispensar trabalhadores moçambicanos fazendo secar o fluxo de capital das
receitas do Rand.

Estes factores adicionados aos climáticos vieram provocar uma profunda recessão
económica. Contra estes novos desafios, a FRELIMO reagiu nacionalizando as empresas
portuguesas abandonadas e as propriedades da igreja católica e instalando equipas
administrativas para as pôr em funcionamento.

De referir que no mesmo ano é formada a SADCC, e, nos EUA subia ao poder Ronald
Reagan. Foram estes factores que vieram mudar o equilíbrio de forças, até então
existentes. O novo presidente sul-africano, com o apoio das SADF prepara ataques
directos a países vizinhos, visando impedir que a SADCC se tornasse uma força
económica na região.

Para tal África do Sul destruiu os caminhos-de-ferro e as pontes que ligavam os países da
SADCC ao mundo exterior levando consequentemente à dependência desses países aos
caminhos de ferro e às pontes sul-africanas. O objectivo desta desestabilização centrava-

124
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

se no enfraquecimento político dos estados circunvizinhos de maneira a não agirem de


forma eficaz contra a África do Sul. Em 1992 a SADCC mudou de nome para SADC com
Principais Objectivos:

Promover o crescimento e desenvolvimento económico, aliviar a pobreza, aumentar a


qualidade de vida do povo, e prover auxílio aos mais desfavorecidos; Desenvolver valores
políticos, sistemas e instituições comuns; Promover a paz e a segurança; Promover o
desenvolvimento sustentável por meio da interdependência colectiva dos estados
membros e da autoconfiança.

________________________________________________

Sumário

A partir da década de noventa, os sistemas políticos multipartidários começaram a ser


adoptados por quase na totalidade no continente africano, ora pelas pressões internas de
movimentos políticos (então considerados pelo partido no poder como
desestabilizadores), ora pelas pressões internacionais. Esta abertura ao multipartidarismo,
e com ela a realização de eleições livres, apareceu como sendo um dos primeiros e
principais indicadores de um processo de democratização política em África

Daí que, para descrever como o processo de democratização que se inscreve no


continente, é preciso ter em conta os campos políticos particulares, historicamente
constituídos e que são diferentes de país para país, e os contextos internacionais, tais
como o desmoronamento do bloco de leste e o consequente fim da guerra fria

O caso particular de Moçambique, desde a independência até mil novecentos e oitenta,


verificou-se que o grupo dirigente da frelimo tinha enveredado pela via de construção de
um partido-Estado cuja primeira função seria a de criar a nação moçambicana,
promovendo ao mesmo tempo o desenvolvimento económico do país (construção do
socialismo).

Durante os anos subsequentes à independência, o programa do novo governo destinava-se


a fazer uma integração social ao nível de todo o país, através da criação de aldeias

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

comunais, criação das unidades agro-pecuárias machambas colectivas (machambas do


povo, machambas estatais e cooperativas); e ainda através da alfabetização das mulheres e
homens, de modo a tornar possível todas as outras reformas. As medidas políticas podem,
de facto, reforçar o potencial inovador de tecnologias bem como endereçar os efeitos de e
sobre desigualdades estruturais, distribucionais e representacionais. A principal questão é
que as políticas de ciência e tecnologia têm que ter em consideração as três dimensões
(potencial de adopção, potencial de inovação e equidade) das novas tecnologias e
conscientemente conceber as medidas para promover o alcance dos resultados desejados.
Governos de países como Moçambique, com pouco capital disponível para a promoção de
mudanças tecnológicas devem, consequente, concentrarem-se mais na promoção daquelas
tecnologias que são facilmente adoptadas e, como resultado à sua rápida disseminação,
induzem à inovação e abrem possibilidades da tecnologia beneficiar amplamente os vários
estratos sociais.

Actividades

Fazer as actividades que constam na auto-avaliação

Entregar os exercícios: 3, e 4.

EXERCÍCIOS

1 – A problemática da democratização em África constitui um campo de análise


complexo; porquê?

2 – Explica como o papel crescente das instituições financeiras internacionais contribuiu


nas mudanças políticas em África?

3 - Desde a independência de Moçambique, o partido-Estado cuja primeira função seria a


de criar a nação moçambicana, promovendo ao mesmo tempo o desenvolvimento
económico do país, fracassou. Porque?

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade XVI
NEPAD e as Novas Vontades Políticas dos Líderes Africanos

16.1. Conceito da NEPAD


_____________________________________________

Introdução da unidade

Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam dar o conceito da Nepad, seus
objectivos, sua relação com o Parpa e conhecer as novas vontades dos líderes africanos
rumo a implementação e preservação das democracias multipartidárias no continente.

Objectivo

Ao concluir o estudo desta unidade o estudante deve ser capaz de:

1 – Definir o que é a Nepad;

2 – Explicar a relação da Nepad com o Parpa;

3 – Explicar em que consistem as novas vontades dos líderes africanos.

16.1.1-Desenvolvimento do tema
Conceito da NEPAD - Nova parceria para o desenvolvimento de África é uma promessa
dos líderes africanos, baseada numa visão comum e convicção firme partilhada de que
eles têm a missão urgente de erradicar a pobreza absoluta e colocar os seus países,

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

individual e colectivamente, na via do crescimento sustentável e do desenvolvimento e ao


mesmo tempo participarem activamente na economia mundial e na vida política.

16.2. Objectivos Gerais da NEPAD


- Juntos encontrar soluções para tirar a África da pobreza;

- Realizar maior unidade e solidariedade entre os países africanos:

- Respeito a soberania e independência dos seus estados membros;

- Promover os direitos do homem em conformidade com a carta dos direitos do homem e


dos povos, e outros instrumentos pertinentes aos direitos do homem;

- Promover o desenvolvimento duradouro nos planos económicos, social e cultural, assim


como a da economia africana.

16.3. As Novas Vontades Políticas dos Líderes Africanos


As transformadas condições em África da democracia já foram reconhecidas pelos
governos do mundo inteiro. Os governos, mais do que nunca estão determinados a realizar
os objectivos regionais e continentais. Para realizar tais objectivos, os líderes africanos
assumem responsabilidade colectiva a respeito do seguinte:

- Fortalecimento dos mecanismos para a gestão, prevenção e resolução de conflitos a


níveis sub-regionais do continente e assegurar que esses mecanismos sejam utilizados
para restaurar e manter a paz;

-Revitalização e extensão da previsão da educação, formação técnica e dos serviços de


saúde, com elevada prioridade para o tratamento do problema de HIV/SIDA, malária e
outras doenças transmissíveis;

128
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Promoção do desenvolvimento de infra-estruturas, da agricultura e sua diversificação em


indústrias agrárias e de manufacturas para servir mercados internos e de exportação;

- Protecção e promoção da democracia e de direitos humanos nos seus respectivos países


e regiões, através da definição de padrões claros de responsabilização.

16.4. Objectivos a Longo Prazo


- Erradicar a pobreza em África e colocar os países africanos individual e colectivamente,
na via do crescimento e desenvolvimento sustentável e estancar desta forma, a
marginalização de que África é objecto no processo de globalização.

- Promover o papel das mulheres em todas actividades.

16.5. Metas
- Realizar e suster uma média de taxa de crescimento do produto bruto (PIB), acima dos
7% anuais nos próximos quinze anos;

-Assegurar que o continente realize metas de desenvolvimento internacional acordados


que são:

a) Matricular todas as crianças em idade escolar até 2015

b) Reduzir em metade a proporção das populações que vivem em extrema pobreza entre
1990 e 2015

- Realizar progressos para assegurar a igualdade do género e capacitar mulheres através da


eliminação das disparidades sexuais no processo de matrículas na educação primária e
secundária.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

16.6. Estratégias para alcançar os Resultados Previstos


- Redução dos níveis da pobreza e da desigualdade

- Promover o crescimento, desenvolvimento económico e incrementar o emprego.

- Diversificação das actividades produtivas e promoção da concorrência internacional

16.7. Iniciativas Sobre a Paz e Segurança


Esta iniciativa constitui-se em três elementos:

- Promoção de condições à longo prazo para o desenvolvimento e segurança;

- Institucionalização dos compromissos para com os valores fundamentais da NEPAD


através da liderança.

- Construção da capacidade das instituições para a área de alerta precoce, bem como a
elevação da sua capacidade de prevenção, gestão e resolução de conflitos.

_________________________________________________

Sumário

Conceito da (NEPAD) = New Partnership for Africa's Development. Nova Parceria para
o Desenvolvimento de África. Tem financiamento do BAD, Banco Árabe, FMI, BM etc.

Nova parceria para o desenvolvimento de África é uma promessa dos líderes africanos,
baseada numa visão comum e convicção firme partilhada de que eles têm a missão
urgente de erradicar a pobreza absoluta e colocar os seus países, individual e
colectivamente, na via do crescimento sustentável e do desenvolvimento e ao mesmo
tempo participarem activamente na economia mundial e na vida política.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

As relações existentes entre NEPAD e PARPA são que as duas assentam no conjunto de
relações paralelas no que respeita o combate a pobreza absoluta. O PARPA é fruto de uma
conjuntura do governo moçambicano, nos âmbitos das linhas de acção para a redução da
pobreza absoluta especificamente em Moçambique.

_________________________________________________

Actividades

Fazer os exercícios constate na auto-avaliação. Entregar os exercícios: 3 e 4.

EXERÍCIOS

1 – Dê o conceito da NEPAD.

2 – Diga qual é a relação que existe entre a NEPAD e o PARPA?

3 - Em todo o continente, a democracia está a propagar-se com apoio da união africana


(UA).

a) Menciona as medidas de segurança tomadas por esta organização.

b) Mencione três iniciativas para a paz e segurança.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade XVII
PARPA e as suas relações com NEPAD

17.1. Conceito do PARPA


________________________________________________________

Introdução da unidade

O contexto tratado nas relações entre o PARPA e NEPAD, constitui a parte complementar
da anterior unidade visando detalhar os pontos de focalização de cada uma e as áreas de
paralelismo das duas. É deste modo que achamos que os estudantes poderão perceber e
explicar melhor as suas diferenças.

Objectivos

No fim desta unidade, os estudantes devem explicar e diferencias os objectivos do


PARPA e da NEPAD.

Definir o conceito PARPA.

17.1- Desenvolvimento do tema


Conceito do PARPA- Plano de acção para a redução da pobrteza absoluta, é um
documento do governo feito por um grupo intersectorial liderado pelo ministério do plano
e finanças, particularmnte no departamento de programação macroeconómica, com
contribuições permanentes do gabinete de estudo.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Voltando ao que se quer analisar, conforme o PARPA a pobreza é a “incapacidade dos


indivíduos de assegurarem para si e para os seus dependentes, um conjunto de condições
básicas mínimas para a sua subsistência e bem estar, segundo as normas da sociedade”.

17.2. Seus Objectivos Gerais


O objectivo geral do plano de acção e de desenvolver e permitir o acompanhamento eficaz
e coordenado de acções conducentes a redução da pobreza a médio prazo e sua
erradicação a longo prazo.

1 – Manter um nível decrescimento rápido, sustentável sustentável através dos estímulos


de desenvolvimento dos sectores da indústria e construção e do aumento de
produtividade na agricultura;

2 – Desevolver infraestruturas nas zonas rurais;

3 – Priorizar o desenvolvimento do capital humano, através de investimentos públicos nos


sectores de educação, saúde, acesso a àgua potável e saneamento do meio;

4 – Aumentar a produtividade da agricultura no sector familiar, principalmente nas zonas


de elevado potencial ecológico;

5 – Melhorar as capacidades técnicas e institucional em matérias de monitoreio e


avaliaçãoda pobreza e análise da pesquisa na área de pobreza para o melhor crescimento
do fenómeno e selecção de estratégias para o seu combate.

17.3. Metas
Reduzir o nível de pobreza absoluta em 30% em dez anos contados a partir da sua
fundação.

133
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

17.4. Estratégias para alcançar os Resultados Previstos


Como estratégias, o PARPA sublinha a necessidade de direccionar acções de redução de
pobreza em regiões que apresentam elevados índices de pobreza ou que concentrem maior
número de pessoas pobres, nomeadamente:

1 – Agregados chefiados por pessoas sem nenhuma fonte de rendimento permanente


(mesmo agricultura de asubsistênia) e que vivem de trabalho ocasional;

2 – Agregados familiares chefiados por mulheres especialmente viúvas, divorciadas e


mães soltéiras;

3 – Agregados familiares com uma só fonte de rendimnto, principalmente da agricultura


de subsistência.

17.5. Relações existentes entre A NEPAD e PARPA


As relações existentes entre NEPAD e PARPA são que as duas assentam no conjunto de
relações paralelas no que respeita o combate a pobreza absoluta. O PARPA é fruto de uma
conjuntura do governo moçambicano, nos âmbitos das linhas de acção para a redução da
pobreza absoluta especificamente em Moçambique.

Tem grande impacto na NEPAD no que concerne a objectivos ( a longo e médio prazo,
metas , linhas de acção etc.), complementando assim os objectivos da NEPAD, pois esta
tem uma actuação globalizante contra os males que enfermam o continente. Juntam – se
desta maneira ao combate da pobreza as ambas partes incluindo áreas de saúde educação
agricultura etc., e a NEPAD, sem limitações busca apoios externos para garantira
credibilidade de seus projectos a longo prazo.

134
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

_________________________________________

Sumário

PARPA- É o Plano de acção para a redução da pobrteza absoluta,

O objectivo geral do plano de acção e de desenvolver e permitir o acompanhamento eficaz


e coordenado de acções conducentes a redução da pobreza a médio prazo e sua
erradicação a longo prazo.

Tem como metas – Reduzir o nível de pobreza absoluta em 30% em dez anos contados a
partir da sua fundação, particularmemte para regiões que apresentam elevados índices de
pobreza ou que concentrem maior número de pessoas pobres.

Relações existentes entre A NEPAD e PARPA - Juntam–se desta maneira ao combate da


pobreza; as ambas partes incluindo áreas de saúde educação agricultura etc., e a NEPAD,
sem limitações busca apoios externos para garantir credibilidade de seus projectos a longo
prazo.

__________________________________________

EXERCÍCIOS

Actividades

1.Fazer um resumo que abarca a evolução das políticas dos governos africanos de hoje e
as organizações que estão sendo fundadas no continente tendentes a redução da pobreza
em duas páginas.

2. Explicar as diferencias e objectivos do PARPA e da NEPAD?

3. Quais são as semelhanças entre o PARPA e NEPAD?

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade XVIII
18.1. Acumulação Centralizada no Estado como Estratégia de
Desenvolvimento em Moçambique Independente

Introdução da unidade
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar as causas e as consequências
da centralização da economia em Moçambique.

O processo de descolonização teve uma importante influência nos esquemas de integração


económica regional na África. Forças centrífugas emergindo de esforços para a criação
das nações africanas e a fragilidade das respectivas economias, encorajou a visão de que a
integração económica regional, nomeadamente a liberalização do comércio intraregional
podia servir como um meio para se alcançar os objectivos de crescimento e
desenvolvimento. Daí que seja imperioso que África reestruture as suas economias
regionais, estimule a industrialização e a modernização de forma a que os respectivos
países possam ter vantagens de economias de escala e possam beneficiar da produção
feita no continente.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade o estudante deve ser capaz de:

1 – Explicar as razões que levaram a FRELIMO a optar pela linha socialista.

2 – Identificar as causas que contribuíram para o fracasso do plano económico do governo


da FRELIMO.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

18.1.1-Desenvolvimento do tema
Inspirando-se na sua base de apoio durante a luta pela libertação nacional, e acreditando
poder resolver os problemas de subdesenvolvimento a médio prazo, Moçambique optou
por um sistema de economia central visando rentabilizar os escassos recursos humanos,
financeiros e materiais, em termos de capacidade de gestão macroeconómica e
investimentos de carácter produtivo. Foram formuladas as primeiras políticas de
desenvolvimento económico e social em Fevereiro de 1977, durante a realização do III
Congresso da FRELIMO, que serviriam mais tarde de base para a elaboração e aprovação,
em 1979, do Plano Prospectivo Indicativo (PPI) para o período 1980-1990. O PPI era
definido como guia de acção e instrumento fundamental para a construção de uma
economia socialista relativamente desenvolvida. Para esse objectivo eram defendidos três
eixos centrais na materialização do PPI: (i) a socialização do campo e o desenvolvimento
agrário através do desenvolvimento acelerado do sector estatal agrário (com base na
grande exploração agrária e na mecanização, a realizar principalmente através dos grandes
projectos) e na cooperativização do campo (transformação de milhões de camponeses
num forte campesinato socialista edificado sob novas relações de produção; fortalecer,
expandir e apoiar a criação de cooperativas e envolver os camponeses num modo de vida
colectiva nas Aldeias Comunais); (ii) a Industrialização, com maior enfoque no
desenvolvimento da indústria pesada; e (iii) a formação e qualificação da força de
trabalho, através da adopção de normas e metodologias que permitisse a massificação da
formação dos trabalhadores, incluindo a alfabetização e educação de adultos (FRELIMO,

1980).

18.2. O sector estatal agrário


Com o sector agrário pretendia-se satisfazer as metas de plano de volumes de produção e
desenvolvimento das forças produtivas no campo. É por isso que até 1984 90% do
investimento e dos técnicos ligados a agricultura destinava-se a este sector. Ainda neste

137
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

período o objectivo era atingir meta de produção física, sendo assim garantidos os
balanços materiais para o cumprimento dos objectivos centrais do sistema de planificação
centralizada que buscava o equilíbrio entre a oferta e a procura de recursos escassos entre
a oferta e a procura de produção nos diferentes sectores da economia e entre consumo e
investimento. Em fim, a eficiência económica era medida pela quantidade produzia.

Em face da necessidade de aumentar o volume de produção, foram expandidas as áreas do


sector estatal (implicando a expropriação de terras com qualidades ao campesinato e às
cooperativas) e consolidado o regime de monoculturas. A mecanização acelerada tinha em
vista o desenvolvimento rápido da produção do sector estatal, aumentando as áreas de
cultivo, mas sem com isso depender do recrutamento de força de trabalho sazonal.

Num contexto em que a economia depende da importação das tecnologias quer extensiva
(máquinas) quer intensivas, logicamente que quanto mais máquinas se importarem, menos
sementes melhoradas, pesticidas, herbicidas, fertilizantes, etc., também se importam.
Portanto é claro que as máquinas permitem aumentar a extensão da área sob cultivo, pelo
que também a procura de outros insumos.

Assim, o estado ao priorizar os balanços de produção material, marginalizou a análise dos


custos como indicador de eficiência na alocação dos recursos, ou seja, o estado estava
mais interessado na quantidade que era produzida do que na eficiência com que essa
produção era realizada. Esta falta de atenção à eficiência deve-se a ortodoxia dogmática
do grupo dirigente da gestão económica no seio da FRLIMO e do seu governo; à
consideração da moeda como factor exógeno e passivo cuja função era a de financiar o
crescimento da produção sectorial; ao facto de o estado controlar, praticamente todo o
sistema financeiro administrando a alocação dos recursos financeiros através do
orçamento do estado e da banca estatal, e ainda ao facto de o governo acreditar que os
desequilíbrios monetários seriam de curta duração e que a eficiência do sector estatal
aumentaria à medida que se expandisse, consolidasse a sua posição dominante e adoptasse
tecnologia de ponta. Mas uma vez esquecidos os desequilíbrios de curto prazo, os sectores
de retorno imediato foram paralisados e os recursos não foram reproduzidos.

138
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

18.2.1. Sector familiar, cooperativo e privado


Para os sectores familiares, cooperativo e privado, foram destinados pouco mais de 5% do
investimento e dos técnicos afectos à agricultura. As cooperativas tinham em vista
organizar o campesinato colectivamente em formas de produção mais avançadas e a
estratégia para o seu desenvolvimento assentava em palavras de ordem como ‘‘ contar
com as próprias forças ” o que reflectia a escassez de recursos.

Contudo, vários foram os problemas que enfermaram o movimento cooperativo, devido a


estrutura económica e social herdada e à estratégia de acumulação centralizada no estado.
O campesinato moçambicano não tinha organização social e política, nem experiência de
organização e gestão, que pudessem constituir a base para o movimento cooperativo.

Por outro lado, a ruptura dos circuitos de comercialização e a política de preços ao


produtor agrícola (fixos, rígidos e baixos) impediram que o movimento cooperativo se
consolidasse economicamente.

Ainda mais, o movimento cooperativo requeria um certo nível de progresso tecnológico a


curto prazo, acompanhado por eficientes serviços de manutenção e desenvolvimento,
facto que não aconteceu pois os principais programas de investigação agronómica
centravam-se no sector estatal. Para as cooperativas eram necessárias novas formas de
gestão e planificação, muito difíceis de disseminar e absorver enquanto os camponeses
envolvidos no movimento fossem analfabetos.

Antes sequer de terminar com a organização e sistematização da estratégia de construção


da nação e o plano de reconstrução nacional, Moçambique teve de desviar parte dos seus
recursos para enfrentar uma acção de desestabilização desencadeada pelo regime
minoritário da Rodésia do Sul e coordenada pelo regime do apartheid da África do Sul.
Os ataques militares directos aos objectivos económicos e sociais desencadeados contra
Moçambique viriam a transformar as acções de desestabilização numa guerra civil que
acabou dilacerando o País por cerca de 16 anos.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

A viragem política e económica de Moçambique

Uma combinação de factores internos e externos inviabilizou a implementação do Plano


Prospectivo Indicativo, instrumento através do qual se “sonhava” acabar com o
subdesenvolvimento de Moçambique em 10 anos, e a partir de 1982, a produção global do
país que havia recuperado da crise de transição (1974-77), começa a registar um declínio
quase em queda livre. De entre alguns factores internos que concorreram para esta
situação, salientam-se: (i) reduzido número de técnicos moçambicanos; (ii) calamidades
naturais e a falta de capacidade para mitigá-las; (iii) actos de agressão e de destruição de
infra-estruturas económicas e a consequente a instabilidade, particularmente nas zonas
rurais. No que concerne aos factores externos podem ser eleitos os seguintes: (i) a não
confirmação de Moçambique como membro de pleno direito do Conselho de Ajuda
Mútua Económica (CAME); (ii) a aplicação integral de sanções ao regime rebelde de Ian
Smith, em cumprimento da Resolução 253 (1968), aprovada em 29 de Maio de 1968 pelo
Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Em 1983, o IV Congresso da FRELIMO reuniu para analisar a crise económica e social


que o País vivia e decidiu adoptar novas Directivas Económicas e Sociais para contrariar
o declínio. Materializando as directivas do Congresso foi aprovado um Plano de Acção
Económico (PAE) através do qual se iniciou um processo de liberalização de preços que
pouco a pouco ia marcando os primeiros momentos da introdução da economia de
mercado em Moçambique.

_______________________________________________

Sumário

O III congresso da FRELIMO, realizado em Fevereiro de 1977, adoptou oficialmente a


estratégia de colectivização do campo; tal estratégia assentava em dois eixos: O sector
empresarial estatal (como forma de produção dominante) e o sector cooperativo.

Com o sector agrário pretendia-se satisfazer as metas de plano de volumes de produção e


desenvolvimento das forças produtivas no campo.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Para os sectores familiares, cooperativo e privado, foram destinados pouco mais de 5% do


investimento e dos técnicos afectos à agricultura. As cooperativas tinham em vista
organizar o campesinato colectivamente em formas de produção mais avançadas e a
estratégia para o seu desenvolvimento assentava em palavras de ordem como ‘‘ contar
com as próprias forças ” o que reflectia a escassez de recursos.

A colectivização da área de cultivo, em si, não trouxe quaisquer vantagens económicas,


pois cada camponês tinha terra própria. Portanto, era preciso tornar a produção
cooperativa imediatamente mais produtiva que a familiar, realizando investimentos,
extensão de transporte, capacidade de armazenamento e de conservação de produtos,
irrigação, etc.

Pode se concluir-se que foi por isso muitas cooperativas enfrentaram o problema
endémico da falta de força de trabalho nos períodos de pico.

_________________________________________

Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação. Entregar os exercícios: 2, 3, 4 e 5.

EXERCÍCIOS

1 – A estratégia de colectivização do campo assentava em dois eixos principais


identifique-os

2 – O tipo de mecanização realizado gerou uma série de problemas, mencione-os

3 – Menciona o principal objectivo do sector estatal agrário.

4 - Vários foram os problemas que enfermaram o movimento cooperativo. quais foram?

5 – A colectivização da área de cultivo, em si, não trouxe quaisquer vantagens


económicas, porque?

141
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

____________________

Unidade XIX
Resistência Nacional de Moçambique como resultado de
Conflictos Políticos em Moçambique

19.1. A Resistência Nacional de Moçambique

Introdução da unidade

A RENAMO começou por ser um instrumento de agressão externa por parte dos que se
opunham à autodeterminação dos africanos negros, dos que lutavam contra o alastramento
do comunismo e dos que combatiam ambas as tendências. Fugidos da descolonização
moçambicana, alguns ex-colonos e militares refugiaram-se na Rodésia, onde se
estabelecera um governo racista condenado pela comunidade internacional. Seria a partir
dos refugiados do antigo regime colonial português e de jovens europeus fanáticos, de
tendência neo-nazi, que o Central Intelligence Office da Rodésia recrutaria os primeiros
membros da RENAMO. Para a Rodésia branca, era urgente, sob risco de sufocação
económica e política, enfraquecer o regime de Maputo. A esses receios juntou-se
desconforto da África do Sul, incomodada com a vizinhança de um regime de tendência
comunista que proferia discursos contra o apartheid. Os sul-africanos investiam na criação
em seu redor de um cordão sanitário 10 de estados neutrais e até coniventes com a
segregação racial.

Objectivo

Ao concluir o estudo desta unidade o estudante deve ser capaz de:

142
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

1 – Identificar s bases da fundação da RENAMO;

2 – Fundamentar a evolução da RENAMO e sua transformação como partido

3 – Identificar as consequências da guerra da RENAMO no campo socioeconómico.

4 – Identificar os factores internos e externos que contribuíram para o liberalismo político


em Moçambique.

19.1.1-Desenvolvimento do tema
Bandeira da Renamo = Resistência Nacional de Moçambique

O líder da Renamo, Afonso Macacho Marceta Dhlakama

A Guerra Civil Moçambicana, também conhecida como "guerra dos 16 anos" ou "guerra
de desestabilização de Moçambique" foi um conflito armado que opôs o exército de
Moçambique à Renamo, entre 1976 e 1992, tendo terminado com a assinatura do Acordo
Geral de Paz, a 4 de Outubro daquele ano.

Imediatamente a seguir à independência, alguns militares (ou ex-militares) portugueses e


dissidentes da FRELIMO instalaram-se na Rodésia, que vivia uma situação de
"independência unilateral" não reconhecida pela maior parte dos países do mundo. O

143
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

regime de Ian Smith, já a braços com um movimento interno de resistência que


aparentemente tinha algumas bases em Moçambique, aproveitou esses dissidentes para
atacar essas bases.

De facto, a FRELIMO apoiava esses rebeldes rodesianos e, em 1976, o governo de


Moçambique declarou oficialmente aplicar as sanções estabelecidas pela ONU contra o
governo ilegal de Salisbúria e fechou as fronteiras com aquele país. A Rodésia dependia
em grande parte do corredor da Beira, incluindo a linha de caminhos-de-ferro, a estrada e
o oleoduto que ligavam o porto da Beira àquele país encravado

Pouco tempo depois, para além de intensificarem os ataques contra estradas, pontes e
colunas de abastecimento dentro de Moçambique, os rodesianos ofereceram aos
dissidentes moçambicanos espaço para formarem um movimento de resistência - a
"Resistência Nacional Moçambicana" ou RENAMO - e criarem uma estação de rádio
usada para propaganda antigovernamental.

Até 1980, data da independência do Zimbabwe, a RENAMO continuou os seus ataques a


aldeias e infra-estruturas sociais em Moçambique, semeando minas terrestres em várias
estradas, principalmente nas regiões mais próximas das fronteiras com a Rodésia. Estas
acções tiveram um enorme papel desestabilizador da economia, uma vez que não só
obrigaram o governo a concentrar importantes recursos numa máquina de guerra, mas
principalmente porque levaram ao êxodo de muitos milhares de pessoas do campo para as
cidades e para os países vizinhos, diminuindo assim a produção agrícola.

Com a independência do Zimbabwe, a RENAMO foi obrigada a mudar a sua base de


apoio para a África do Sul, o que conseguiu com muito sucesso, tendo tido amplo apoio
das forças armadas sul-africanas. Para além disso, estas forças realizaram vários "raids"
terrestres e aéreos contra Maputo, alegadamente para destruírem "bases" do ANC. No
entanto, o governo de Moçambique, que já tinha secretamente encetado negociações com
o governo sul-africano e com a própria RENAMO, assinou em 1983 um acordo de "boa
vizinhança" com aquele governo, que ficou conhecido como o Acordo de Nkomati,
segundo o qual o governo sul-africano se comprometia a abandonar o apoio militar à

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

RENAMO, enquanto o governo moçambicano se comprometia a deixar de apoiar os


militantes do ANC que se encontravam em Moçambique.

Em 1986, a RENAMO tinha já estabelecido uma base central na Gorongosa e expandido


o acções militares para todas as províncias de Moçambique, contando ainda com o apoio
do Malawi, cujo governo tinha boas relações com o regime do apartheid. Nesta altura, a
RENAMO tinha conseguido alcançar um dos seus objectivos estratégicos que consistiu
em obrigar o governo a abandonar a sua política de "socialização do campo" através das
aldeias comunais e machambas estatais.

A guerra, porém, só terminou em 1992 com o Acordo Geral de Paz, assinado em Roma a
4 de Outubro, pelo Presidente da República, Joaquim Chissano e pelo presidente da
RENAMO, Afonso Dhlakama, depois de cerca de dois anos de conversações mediadas
pela Comunidade de Santo Egídio, uma organização da igreja católica, com apoio do
governo italiano.

Nos termos do Acordo, o governo de Moçambique solicitou o apoio da ONU para o


desarmamento das tropas beligerantes. A ONUMOZ foi a força internacional que apoiou
neste trabalho, que durou cerca de dois anos e que culminou com a formação dum
exército unificado e com a organização das primeiras eleições gerais multipartidárias, em
1994.

_____________________________________________

Sumário

A RENAMO surge no período entre a revolução portuguesa de 1974 e a ascensão à


independência, quando, com a ajuda de Ian Smith da Rodésia, dissidentes da FRELIMO
ou associados a movimentos marginalizados ou ainda obscuros, se juntaram formando
primeiro uma unidade militar e mais tarde um movimento político.

Em 18 de Março de 1984, os governos de Moçambique, na pessoa de Samora Machel, e


da África do sul representada por Pieter Botha assinaram o acordo de Inkomate, no qual

145
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

se concordava com o não apoio a insurreição armada nos dois países, visando – se à
coexistência, o respeito mútuo e as relações e boa vizinhança.

O conflito só conheceria o princípio do seu fim em 1992 com a assinatura dos acordos de
paz em Roma a 4 de Outubro.

________________________________________

Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Entregar os exercícios: 2, e 3.

EXERCÍCIOS:

1 – Faça uma fundamentação sobre os primeiros objectivos da fundação do MNR e os


posteriores objectivos da RENAMO

2 – Apesar dos acordos assinados em Incomate entre o presidente Samora Machel e Piter
Bota, a África do continuou a apoiar a guerrilha em Moçambique. Indica duas razões.

3 - O conflito só conheceria o princípio do seu fim em 1992. Menciona as principais


razões internacionais que contribuíram deveras para o fim deste conflito.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

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Unidade XX
A Sociedade Moçambicana rumo ao Liberalismo

20.1.Moçambique rumo ao liberalismo


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Introdução da unidade

A partir da década de noventa, Moçambique iniciou a empreender mudanças políticas


muito significativas. Essas mudanças culminaram com a aprovação de uma nova
constituição que viria a possibilitar a oficialização da RENAMO não só, como a de outros
vários partidos. Esta unidade aborda esse processo que culminou com a realização das
eleições gerais de 1994 em Moçambique.

Objectivos

No fim desta unidade os estudantes descrevem todo o processo de democratização


que levou a realização de eleições livres e multipartidárias em Moçambique.

20.1.1- Desenvolvimento do tema


Com a independência do Zimbabwe (1980), a RENAMO passou, a partir de 1983 a ter
como base a África do Sul. Ademais, as suas actividades militares foram-se expandidos
grandemente para toda as províncias do pais, salvo as áreas urbanas, facto que contribuiu
bastante para a falência do projecto de desenvolvimento. Ante esta crise, o governo da

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

FRELIMO iniciou negociações com vista adesão de Moçambique ao Fundo Monetário


internacional ( FMI) e ao banco mundial (BM). Com estas organizações internacionais, o
governo da FRELIMO decide as primeiras medidas de liberalização económica.

Por outro lado, as negociações efectuadas em 1984 entre o governo da FRELIMO e o da


África do Sul através do acordo de Inkomate, não surtiram os efeitos desejados e a guerra
continuou, o que comprometia as tentativas de recuperação económica e o programa de
reajustamento estrutural, levado ao cabo através do programa de reabilitação económica
(PRÉ), aplicado a partir de 1987, sob a égide do FMI. Assim apesar dos pequenos
crescimentos verificados nos anos de 1987 e 1989, a economia ainda continuava
estagnada.

20.2. Da Constituição Multipartidária de 1990 ao Acordo de


Roma (1992)
Na última fase da sobrevivência do regime de partido único, pelas dificuldades
enfrentadas pela FRELIMO e pela morte de Samora Machel (19 de Outubro de 1986),
verificou se o abandono oficial da referência ao marxismo-leninismo no congresso de
1989 e consequente afastamento gradual dos elementos da direcção mais comprometidos
com a orientação marxista.

Até final de 1990, (Novembro), a classe dirigente de Moçambique apontava o


multipartidarismo como um instrumento de divisão do povo Moçambicano, do tribalismo,
em fim, um elemento que conduziria a dissolução da unidade nacional. Contudo, o
projecto de constituição finalmente submetido a então assembleia popular pelo comité
central da FRELIMO incorporava o princípio da liberdade de organização e associação
política do cidadão e permitia a criação de partidos políticos – ARTIGO 77 da
constituição da república de Moçambique.

A constituição incorporava ainda a liberdade de imprensa, eleições multipartidárias, o


direito legal a greve, etc. Esta conversão foi acelerada, por um lado, pela vaga de greves
dos anos 1989 e 1990, factor que quebrava a paz social, que caracterizava as cidades

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

bastiões tradicionais da FRELIMO, e, por outro, pela necessidade de garantir a


continuação da ajuda internacional sem a qual o pais não podia viver. Posta esta viragem
política, através da promulgação de uma amnistia, a classe governante começou a
incorporar os elementos da RENAMO no estado Moçambicano, facto que viria a culminar
nas negociações e assinatura do acordo de paz, em Roma, a 4 de Outubro de 1992, sob a
égide da Comunidade santo Egídio e do governo italiano. Dois anos depois (1994), são
realizadas as primeiras eleições multipartidárias em Moçambique, processo que viria a
repetir-se em Dezembro de1999 e 2004.

20.3. Emergência de outros Partidos


Até ao período do surgimento do novo espaço político, caracterizado pelo
pluripartidarismo, não existia nenhum outro movimento de oposição à FRELIMO a não
ser a RENAMO. Mas a liberalização política resultou no aparecimento de uma série de
pequenos partidos, os chamados “partidos emergentes” ou “partidos não armados”, que
totalizavam cerca de 10 oficialmente registados. Eis os principais partidos:

Presidente da Frelimo e da

República de Moçambique Bandeira da Frelimo

Armando Emílio Guebuza

149
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Bandeira da Renamo = Resistência Nacional de Moçambique

O líder da Renamo, Afonso Macacho Marceta Dhlakama

Bandeira de MDM O Presidente de MDM

Deviz Mbepo Simango

Que são: FRELIMO – PALMO (partido liberal e democrático de Moçambique), SOL


(partido social liberal e democrático), PANADE (partido nacional democrático),
PADEMO (partido democrático de Moçambique); (2) o grupo constituído por
personagens políticas da oposição ao regime colonial que não aderiram à FRELIMO na
altura da independência e que estiveram exilados em Portugal durante longos anos, tais

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

como FUMO (frente unida de Moçambique), dirigido por Domingos Arouca e


MONAMO (movimento nacional de Moçambique), dirigido por Máximo Dias; (3) o
grupo dos partidos resultantes da mobilização de jovens com formação universitária feita
em Moçambique depois da independência.

Neste grupo encontramos o PCN (partido de convenção nacional), FAP (frente de acção
patriótica); e finalmente, (4) o grupo dos restantes partidos, cujas origens se situam,
nalguns casos, nos meios dos emigrantes moçambicanos nos países da África oriental em
particular no Quénia. Deste grupo fazem parte COIMO (congresso independente de
Moçambique), PADELIMO (partido democrático da libertação de Moçambique),
PAFEMO (partido federal moçambicano), PPPM (partido do progresso do povo
moçambicano), MDM (Movimento Democrático de Moçambique).

Por outro lado, com vista a uma maior democratização política e participação dos
cidadãos na vida política e económica do pais, descentraliza-se o poder para níveis mais
locais. Este facto foi efectivado através de criação de autarquias dos municípios. Em 1998
foram realizadas pela primeira vez eleições com vista a eleição dos presidentes
municipais.

Sumário

Na última fase da sobrevivência do regime de partido único, pelas dificuldades


enfrentadas pela FRELIMO e pela morte de Samora Machel (19 de Outubro de 1986),
verificou se o abandono oficial da referência ao marxismo-leninismo no congresso de
1989 e consequente afastamento gradual dos elementos da direcção mais comprometidos
com a orientação marxista.

Até final de 1990, (Novembro), a classe dirigente de Moçambique apontava o


multipartidarismo como um instrumento de divisão do povo Moçambicano, do tribalismo,
em fim, um elemento que conduziria a dissolução da unidade nacional.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Contudo, o projecto de constituição finalmente submetido a então assembleia popular pelo


comité central da FRELIMO incorporava o princípio da liberdade de organização e
associação política do cidadão e permitia a criação de partidos políticos – ARTIGO 77 da
constituição da república de Moçambique. 2

______________________________________________________

Actividades

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação. Entregar os exercícios: 1, 2, 3 e 4

EXERCÍCIOS

1 - A RENAMO surge no período entre a revolução portuguesa de 1974 e a ascensão à


independência.

a) Explica por tuas palavras porque razão a Rodésia e a África do Sul esteve associado à
consolidação deste movimento?

2 - Verificou se o abandono oficial da referência ao marxismo-leninismo no congresso de


1989 e consequente afastamento gradual dos elementos da direcção mais comprometidos
com a orientação marxista.

a) Comenta esta frase tendo em conta a evolução da história contemporânea.

3.1- Diz-se que após as independências concluiu-se que as políticas partidárias eram um
luxo dispendioso a que as nações em via de desenvolvimento realmente não se podiam
dar.

3.2- De sublinhar que entre estes partidos não há uma diferenciação político - ideológica
clara; aliás, fazendo uma análise cuidadosa dos seus programas políticos conclui-se que
não existem diferenças fundamentais.

a) Faça uma abordagem sobre as democracias em África partindo dessas duas frases.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade XXI
21.-A Cultura, a revolução tecnológica e o desenvolvimnto
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Introdução da unidade

No período colonial a arte Africana foi marginalizada, mas com as independências e


influenciadas pela visão europeia actualmente arte Africana aspira uma metodologia
própria, embora aceita-se que as suas raízes sejam europeias, não só no aspecto plástico
como também no da própria formação dos artistas africanos. Esta influência apresenta um
duplo sentido na medida em que a arte europeia é influenciada pela etnografia Africana.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade, o estudante deve ser capaz de:

As manifestações artísticas de Moçambique pos – independente.

Diferenciar a cultura com as tecnologias.

Descrever os factores que dinamizaram a cultura moçambicana.

21.1.-Desenvolvimento do tema
Após um tardio desenvolvimento das artes em Moçambique devido ao colonialismo, com
a independência os artistas moçambicanos passaram a reflectir sobre as mudanças sociais,
culturais do seu país, passando a expressar nas suas artes a sua africanidade e uma
crescente interacção entre os artistas dos outros países dentro do continente.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

A liberdade social conquistada com a independência permitiu aos artistas a liberdade de


escolher a voz com que há-de falar e o público a que se dirige.

21.1.1-Factores dinamizadores da Cultura em Moçambique


Vários factores estiveram na origem do desenvolvimento da cultura em Moçambique tais
como:

A criação de escolas de arte que levaram ao aparecimento de mais artistas que, a partir
dos meios e técnicas aprendidas nas escolas de arte europeia e com a recuperação das
formas artísticas tradicionais os artistas alcançaram uma menor dependência de temas e
formatos europeus;

As referências dos artistas revolucionários da época colonial como Malangatana José


Craveirinha e outros;

O pós-independência testemunhou o aparecimento de artistas surgidos de workshops


realizados na sua maior parte por dinamizadores culturais e por críticos;

As escolas de belas artes incentivaram os alunos a apreciar nas artes plásticas da África a
sua expressividade e sofisticação formal e uma maneira de afirmarem a sua identidade
Africana.

21.1.2.-O papel das galerias e centros culturais


É notório que as galerias de arte e os centros culturais, particularmente as casas de cultura
contribuem substancialmente, tanto para a divulgação e promoção das artes e da cultura
no geral em Moçambique, pois é nelas que se concentram os mais variados
acontecimentos culturais do país.

Por iniciativa de alguns países com representação em Moçambique, o início da década 80


é marcado pela abertura de centros culturais, destacando-se a abertura do Centro de

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Estudos Brasileiros que contava com duas galerias de arte, uma destinada a exposição
permanente e outra a exposições temporárias, uma biblioteca, um centro de documentação
e um laboratório de línguas.

Contudo, há que destacar, na cidade da Beira, a Casa de cultura da Beira que serviu e
serve como principal ponto de promoção e divulgação da arte e cultura local. Actualmente
na Beira, para além da casa de cultura temos também o centro cultural português e
diversas galerias espalhadas ao longo da cidade.

21.1.3.-Revolução Tecnológica
É a integração da ciência á tecnologia e produção, é o uso de novas tecnologias na
produção e na fabricação de novos produtos a serem consumidos pela sociedade, seja na
indústria, agricultura, comércio em serviços do dia-a-dia de forma positiva ou negativa.

Com a progressiva era da tecnologia aliada ao paradoxo fraco domínio das mesmas,
resultante da inacessibilidade pela grande população Africana, reduz as esperanças do
continente de poder vir tomar parte activa, pelo menos a curto e médio prazo, no processo
de desenvolvimento e integração económica mundial.

Reconhecendo esse fosso e a crucialidade das tecnologias de informação, a NEPAD


propõe, neste domínio, promover cooperação e conectividade trans-fronteriças utilizando
os conhecimentos actualmente disponíveis nos existentes centros africanos como:

A adaptar e desenvolver a capacidade de recolha e análise de informações para apoiar


actividades produtivas e de exportação;

Gerar uma massa crítica de perícia tecnológica em áreas visadas que oferecem alto
potencial de crescimento, nomeadamente na biotecnologia e nas ciências naturais;

Assimilar e adaptar as tecnologias existentes no sentido de diversificar a produção de


manufacturas. Como exemplo da revolução tecnológica no caso de Moçambique temos a
revolução verde.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

21.1.4-Revolução Verde em Moçambique


A Revolução Verde em Moçambique é um processo de busca de soluções para
incrementar os níveis de produção e produtividade agrária, através do uso de sementes
melhoradas, fertilizantes, instrumentos de produção, tecnologias de produção adequada à
realidade local, mecanização agrícola, incluindo a tracção animal, construção e exploração
de represas para a insegurança alimentar permanente ou temporária; irrigação e para o
abeberamento de gado, entre outras acções. Trata-se de uma estratégia multidimensional
de combate contra a fome e a pobreza e tem como meta final o aumento da produção e
produtividade agrária de forma competitiva e sustentável.

O conceito da Revolução Verde em Moçambique assenta nos seguintes pressupostos:

O combate à pobreza passa pela eliminação de uma das suas manifestações,


nomeadamente, a carência em alimentos básicos e a geração de emprego e de renda são
cruciais para a criação de condições necessárias para devolver a dignidade humana das
comunidades;

As experiências de outros países onde programas similares foram implementados com


sucesso devem ser tomadas em consideração.

_________________________________________________

Sumário

Impacto do Pós-Independência na Dinâmica actual da Cultura Moçambicana

O Pós-independência os artistas passaram a assumir uma nova postura, reflectindo o


descontentamento e ansiedade face ao fracasso sócio-político, e movimentação de artistas
para além fronteiras nacionais.

O surgimento de uma nova forma de expressão artística que resulta da síntese de duas
culturas, ou seja, meios e técnicas apreendidas nas escolas europeias e com a recuperação
das formas artísticas tradicionais;

156
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Os artistas como Noémia de Sousa e Bertina Lopes fazem uma crítica social e protesto em
termos temáticos, e também pela forma de suas linguagens, negando a civilização imposta
pelo colonialismo ocidental.

Mia Couto e Naguib procuram nas suas obras tocar a sensibilidade e emoção,
problematizando a importância do amor, paz, amizade, solidariedade, tolerância entre
outros valores existências que desapareceram com o colonialismo e as guerras, mas que
podem ser outra vez semeados nos moçambicanos.

O Pós-independência trouxe também a valorização da cultura, do homem, da história, da


tradição, religião, da língua e da terra moçambicana com um olhar bastante critico em
relação a realidade em que se encontrava o pais.

_____________________________________________________

Actividades

Caracterize as manifestações artísticas de Moçambique pós – independente.

Diferencie a cultura com as tecnologias?

Descreve os factores que dinamizaram a cultura moçambicana?

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade XXII
22.1-As manifestações culturais em em Moçambique no
período pos-independência
_____________________________________________

Introdução da unidade

No período colonial a arte Africana foi marginalizada, mas com as independências e


influenciadas pela visão europeia actualmente arte Africana aspira uma metodologia
própria, embora aceita-se que as suas raízes sejam europeias, não só no aspecto plástico
como também no da própria formação dos artistas africanos. Esta influência apresenta um
duplo sentido na medida em que a arte europeia é influenciada pela etnografia Africana.

Após um tardio desenvolvimento das artes em Moçambique devido ao colonialismo, com


a independência os artistas moçambicanos passaram a reflectir sobre as mudanças sociais,
culturais do seu país, passando a expressar nas suas artes a sua africanidade e uma
crescente interacção entre os artistas dos outros países dentro do continente.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade, o estudante deve ser capaz de:

1-As manifestações artísticas de Moçambique puseram – independente.

2-Diferenciar a pintura e a escultura.

3-Descrever os factores que dinamizaram as duas artes moçambicanas.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Desenvolvimento do tema

22.1. A Pintura e a Escultura

Contextualização
Actualmente enquanto algumas nações africanas lidam com o colonialismo e com novas
realidades sócio-económicas, os discursos doa artistas mudou.” Os artistas adoptaram
atitudes e estratégias que reflectem um crescente desencanto e ansiedade face ao
continuado fracasso sócio-políticos, assim como o impacto da gradual movimentação dos
artistas para além das fronteiras nacionais.

A liberdade social conquistada com a independência permitiu aos artistas a liberdade de


escolher a voz com que há-de falar e o público a que se dirige.

22.1.1.Manifestações artísticas em Moçambique após a


independência
É neste contexto que mesmo independente, as manifestações artísticas moçambicanas não
exprimia sinais de alegria, tal facto perdurou durante muito tempo porque o pós
independência de Moçambique significou ate certo ponto sofrimento do povo no sentido
de construir um Moçambique melhor, factor esse que influenciou as diversas tendências e
inspirações dos artistas moçambicanos de momento. Era notório a representação de rostos
geralmente impassíveis e posições físicas torturadas.

É importante também realçar que após a independência, o governo moçambicano,


procurou controlar e direccionar as acções dos artistas moçambicanos, onde, segundo a
página electrónica citada anteriormente, foi criada em 1976 a Direcção Nacional da
Cultura. Em Abril de 1977, o Instituto Nacional de Cultura, tinha a missão de levar as
“grandes massas” a participar em todos os aspectos das actividades culturais nacionais.

159
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

22.1.2.-A Escultura

Conceitualização
Mouro apud citado Chorão (1999:827) refere-se a escultura como sendo: “A arte de
conceber e construir tridimensionais destinada geralmente, a serem vistas de forma e que
tenham uma ou vária das seguintes características: Representar objectos naturais ou
imaginários, representar um objectivo de forma tridimensional, sugerir ideias gerais,
sentimentos ou outros géneros de experiência.”

Chorão (1999:827) ainda refere que é considerada de escultura “é toda a representação ou


arranjo estético em relevo, total ou parcial obtido por talha, modelação ou alongamento do
objecto de qualquer material”.

Neste sentido, a escultura destaca-se como sendo uma das artes mais antigas, com
produtos registados desde do paleolítico, onde destacava-se a utilização da argila,
madeira, pedra, bronze, pedras preciosas, cerra, ferro, e outros.

22.1.3-A escultura em Moçambique no pós independência


A arte de esculpir em Moçambique após a independência, é na maioria dos casos,
resultado da observação directa do artista sobre o objecto físico e findável, ao qual se
pretende conferir a vontade e tornar visível e próximo do homem. Neste contexto vão ser
representado com maior frequência obras que procuram retratar a sexualidade, a
maternidade e os predicados femininos, como pode-se ver nas figuras 1,2 e 3.

160
HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

fig 1 ( A

sexualidade) fig 2 (a maternidade) fig 3 (Predicados Feminino)

In. http://terravista.pt/bilene8718 In.http://terravista.pt/bilene8718 In.


http://terravista.pt/bilene8718

22.1.4- A Pintura
Quando se fala da pintura em Moçambique é quase que inevitável que se toque no nome
de Malangatana Valente Ngwenya e também por Naguib Elias Abdula.

Malangatana Valente Ngwenya é pintor, combatente da luta anti-colonial, dançarino,


actor, cantor, instrumentista e animador sócio cultural, que também é poeta como se pode
ver em figura 13 (um dos seus poemas), Malangatana nasceu ao 6 de Junho de 1936 em
Matalana província de Maputo. É considerado ainda hoje por muitos, não só o maior
pintor actual de Moçambique, como de África como se pode ver, o artista no seu atelier
em figura 15.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Figura 15

.In. p//bp3.b/ogger.co/jojo Qoyauioe.malangatana-at woiin.htt

Segundo a página electrónica (http://bp3.b/ogger.co/jojo Qoyauioe.malangatana-at


woiin.htt) “Malangatana foi um dos criadores do Museu Nacional de Artes de
Moçambique e procurou manter e dinamizar o Núcleo de Arte (Associação que agrupa os
artistas plásticos) ”. Tem colaborado intensamente com a UNICEF e durante alguns anos
fez funcionar a escolinha dominical “vamos brincar”, uma escolinha de bairro. Faz parte
do grupo fundador e é Presidente da Direcção da Associação do Centro Cultural de
Matalana.

Com uma vastíssima obra, Malangatana, de acordo com a mesma fonte, efectuou a
primeira exposição individual, em 1961, no Maputo, e a primeira aparição pública foi
numa colectiva em 1959, também nesta cidade, desde então nunca mais deixou de
produzir. Pintura, desenho, aguarela, gravura, cerâmica, tapeçarias, escultura, murais, de
tudo tem experimentado. Os seus trabalhos são expostos no estrangeiro (Nigéria,
Salisbúria, Cidade do Cabo) e a sua obra consolida-se. Passou ano e meio nas prisões
coloniais por motivos políticos. Após, a Independência envolve-se na actividade política,
pelo que o ritmo da sua criação diminui, pelo facto de estar em estado de reclusão.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

A sua obra, para além dos murais e das duas esculturas em ferro instaladas ao ar livre
(Pintura, Desenho, Aguarela, Gravura, Cerâmica, Tapeçaria, Escultura) encontra-se
exceptuando a vastíssima colecção do próprio artista, em vários museus e galerias
públicas, bem como em colecções privadas, espalhadas por inúmeras partes do Mundo

Naguib Elias Abdula destacou-se pela sua habilidade de desenhar com liberdade, e pela
ousadia e movimentos na forma de mostrarem as suas obras, em poucos traços, um
músico, dançarino e corpos femininos, silhuetas a encantar pela leveza e graciosidade.

Rostos e luas que se fundem, predomínio da cor azul, mulheres com diversos seios e
grafismos indígenas constroem uma atmosfera facilmente identificável como tribal, mas
marcada por um lirismo primordial. Não se trata de uma obra de cunho continental, mas
universal por meio da arte, superar limites com o próprio corpo, seja na pintura ou no acto
da dança.

A evocação de pinturas rupestres também se faz presente, lembrando a todo instante que a
capacidade humana de criar é ancestral onde qualquer ilusão de ser absolutamente original
não passa de vaidade. Este sentimento se contrapõe a humildade do artista ao colocar a
figura humana recheada de elementos Zoomórficos.

Pintas de galinhas do mato, ancas de girafa e zebra completam o corpo feminino num
exercício plástico que demanda uma renovada capacidade de ver.

Na província de Sofala encontramos Silva Dunduro), nascido em Búzi. Um dos


responsáveis pela actividade criativa nesta província, em particular na cidade da Beira, os
seus trabalhos são de técnica mista e óleo sobre tela e em muralha, geralmente para este
caso, procura reportar com maior frequência a pandemia do HIV e SIDA, como podem
ser observados na escola Secundária do Estoril na Beira e na entrada da case de cultura da
mesma cidade. Actualmente, o artista tem mais de cinquenta tiragens, entre individuais e
colectivas. Formado em Artes Gráficas pela Escola de Artes Visuais de Maputo (1984-
1986), membro fundador do Núcleo de Artes Plásticas de Maputo, é actualmente o
director da Casa Provincial de Cultura de Sofala.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Dunduro sempre procura trazer, o feminino, a força do amor, da sensualidade, o desejo e


a dureza do quotidiano. Há que referir que tem exposto regularmente desde 1988, tanto a
nível nacional e internacional.

22.1.5.-Características
De modo geral a pintura no período após a independência pode-se caracterizar como
sendo revolucionária, principalmente nos primeiros anos de independência, muito pela
influência que o regime socialista exercia sobre a área cultural e artística do nosso país.

Actualmente, os pintores moçambicanos procuram realçar o quotidiano do povo


moçambicano nas suas obras, onde notavelmente destaca-se a beleza feminina, o espírito
materno, exaltando igualmente hábitos e costumes típicos de cada região, com vista a
valorizar os aspectos culturais de Moçambique.

A pintura negra há, para lá da sua objectividade aparente, algo que procura ser um
testamento cultural transmitido de geração em geração.

Contudo, é importante dizer que as pinturas têm, por vezes, um papel deveras
importantes, principalmente não âmbito da educação cívica, principalmente no contexto
de obras que retratam enfermidades a qual a nossa sociedade está exposta, tal como as
cheias, o HIV/SIDA e outras.

_________________________________________________

Sumário

Pintura, “é a aplicação de matérias coloridas sobre uma superfície, segundo


determinadas ordens”.Chorão (2002:1121). A sua finalidade varia conforme as épocas e
as civilizações a que se inseriu, mas de modo geral, pode dizer se que serviu sempre para
evocar certas imagens ou para enriquecer e ornamentar objectos sobre os quais são
aplicados.

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Segundo FREITAS ( S/d: 219) “ a Pintura é uma das artes plásticas constituída na
produção a cores, sobre um material, que tem sido mas vulgarmente a Madeira ou tela de
figuras, ou de ideias ou manchas de cores”.

Pode-se ainda referir-se a Pintura como a técnica de aplicar pigmento em forma liquida a
uma superfície a fim de cobri-la, atribuindo-lhe tons e textura.

Existem controvérsias no que diz respeito a definição da Pintura. Actualmente ela é vista
como a representação visual através das cores.

Read citado por Chorão (Op cit) refere que “Numa pintura podemos encontrar, conforme
a classificação, duas espécies de elementos: os materiais e os formais.

Os materiais, são constituídos de suportes, papel pergaminho, madeiras, tela, reboco,


cerâmica, metal, pedra e outros.

Os formais, são a linha, a cor, a luz e a sombra. A função principal, a linha, consiste em
criar numa pintura, ritmos e estrutura. A cor é o elemento essencial da pintura, a luz e a
sombra, são elementos complementares, a sua conjugação, chama-se claro-escuro e tanto
pode ter uma conjugação psicológica.

______________________________________________________

Actividades

1-Identifique as manifestações artísticas de Moçambique pôs – independente?

2-Diferenciae a pintura e a escultura?

3-Descreve os factores que dinamizaram as duas artes moçambicanas?

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Unidade XXIII
As manifestações culturais em Moçambique no período pos-
independência

23.1. A Musica e a Dança


Introdução da unidade

As diversas tradições musicais e dançantes existentes em Moçambique foram entre si


uma rede em que se relaciona e sobrepõem certas características de estilo e de realização,
partilhando aspectos comuns de modelo interno, de procedimento básico e de aspectos
contextuais.

“O aspecto mais notável da Música e da Dança Moçambicana é a diversidade de


expressão e étnica que possui, diversidade essa que surge dos vários rumos seguidos e que
se manifestara em diferentes aplicações, procedimentos e desenvolvimentos da herança
cultural musical”. MEC (1980:10)

O complexo desenvolvimento histórico dos grupos étnicos e linguísticos que possui a


população Moçambicana, contribuiu e em grande escala para a criação da diversidade de
expressão existente na Música Moçambicana.

Portanto, tal como as línguas diferem entre si também a Música ganha as suas variantes
específicas.

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade, o estudante deve ser capaz de:

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Identificar as manifestações artísticas de Moçambique pôs – independente.

Diferenciar a música e a dança.

Descrever os factores que dinamizaram as duas artes moçambicanas.

23.1.1-Desenvolvimento do tema

Conceitos
Música – do grego musiké téchme, arte das musas, é uma forma de arte que se constituiu
basicamente em combinar uma sucessão de sons e silêncios agradável, ritmada e
organizada ao longo do tempo.

Música – segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (s/d: 980), “é a arte e ciência de


combinar os sons e ritmos de modo a criar uma sensação agradável ao ouvido”.

Dança – segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (s/d: 460), “são passos ou saltos
cadenciados, ao som e compasso da Música”.

23.1.2- Contextualização
Vários factores contribuíram para esta diversidade de tradições musicais e dançantes. Os
factores ambientais dentro dos quais os povos de Moçambique se desenvolveram não
eram os mesmos, nem as suas tradições históricas haviam seguido o mesmo caminho. A
cultura daqueles que ocupavam o litoral tendia a ser diferente daqueles que ocupavam o
interior.

Nestes contactos, havia uma interacção cultural que resultava no empréstimo e adopção
de diferentes elementos culturais, incluindo instrumentos musicais.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Como resultado deste intercâmbio há às vezes, não só tipos de instrumentos musicais e


danças com os mesmos nomes em zonas diferentes, assim como existem outros
instrumentos e danças com nomes diferentes, mas semelhantes nas suas formas. Por
exemplo, a dança Muthimba tradicional em casamentos encontra-se em toda a região das
províncias de Maputo e Gaza, originalmente esta dança existia na África do Sul onde
tinha a mesma função e nome; do mesmo modo um estilo de dança que se chama
Chigubu, em muitas zonas do sul de Moçambique, também existe na Suazilândia e na
África do Sul, com nome diferente.

23.1.3- A Música
O contacto estabelecido com a Ásia e, principalmente, com a Europa, através da
colonização, deixou marcas profundas também no campo musical.

Em África, a dominação imperialista fez-se no sentido de criar colónias que tivessem de


importar tecnologias e produtos elaborados e produzir artigos agrícolas ou minerais de
exportação.

“No campo cultural, procurou-se impor os valores da burguesia colonial e da cultura


ocidental e destruir ou marginalizar os valores culturais ancestrais e populares. Com a
colonização em África e em Moçambique, em particular, mercados novos eram criados
para a venda dos produtos da tecnologia capitalista e eventualmente instrumentos
musicais, originalmente introduzidos através da Igreja Católica e pelos comerciantes e
militares”. MEC (1980:14)

Todos estes desenvolvimentos eram encorajados pelas actividades da igreja Católica


porque considerava a cultura Moçambicana como uma “manifestação do Homem
primitivo e de pagãos cuja alma era necessário salvar”.

Porque a Música tradicional Moçambicana não podia ser utilizada nas Igrejas Católicas,
procurou-se activamente introduzir a Música cristã. De igual modo, a necessidade de

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

fornecer algum divertimento musical ocidental aos oficiais e burguesia colonial foi
resolvida pelas bandas da Policia e Militar pelos quais um número limitado de
Moçambicanos fora recrutado e treinado.

De forma semelhante foi introduzida a música ligeira ocidental. Para se alcançar esses
objectivos, tanto das missões e igrejas cristãs como o exército colonial encetou muitos
esforços para ensinar os princípios da música ocidental a moçambicanos.

23.1.4.- Os efeitos da Colonização na Música Moçambicana


A forma de introdução da música ocidental em Moçambique teve efeitos principais:

Ficou garantida a continuidade da música tradicional na sua forma autêntica (sem


influencia ocidental), porque os músicos tradicionais foram, em geral, excluídos das
igrejas e das instituições educacionais que eram as mais directas fontes da influência
ideológica colonial;

Os moçambicanos que aderiram ao processo de assimilação cultural encontraram-se


excluídos da participação na música tradicional. Isto resultou na emergência de
subculturas novas, identificadas no campo musical com variedades da música ocidental.
Porém, como o processo de colonização neste campo foi intenso, basicamente só foram
assimiladas as modalidades musicais formalmente mais simples, em particular a música
ligeira;

O impulso criador dos membros dessas subculturas novas já num processo de afirmação
da personalidade africana encontrou saídas através de composições novas. Essas
desenvolviam-se de duas maneiras: uma delas é a música surgida da música ligeira
moderna que aparece, tal como noutros países africanos, na mesma época, enraizando-se
em ritmos e temas africanos como música de bailes de “boite”, nos casamentos, nas
festas, nos espectáculos e em outros lugares ou contextos de divertimento. As formas bem
conhecidas na África em geral são: highlife da África ocidental, kwaella da África do sul,

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e a música popular do Zaire. Aqui em Moçambique temos neste contexto a marrabenta.


Todas essas formas funcionam como um tipo musical consistente com características
melódicas e rítmicas particulares africanas e também harmonias musicais derivadas da
Europa ocidental.

Outra corrente é a da música coral moçambicana surgida durante a luta de libertação


nacional, enraizando-se nas estruturas melódicas e rítmicas moçambicanas e que faz uma
hábil e criativa exploração das técnicas vocais e harmonia musical ocidental, ganhando o
âmbito nacional que é patenteado pela sua utilização nas diversas línguas nacionais,
mercê das características revolucionárias e mobilizadoras das letras que as compõem.

23.1.5- Fases da Música Moçambicana


Fase pré-colonial – a música nesta fase relatava as actividades diárias do povo tais como
a recolecção de frutas, a caça, a pesca, as colheitas, entre outras.

Fase colonial – a musica nesta fase relatava o trabalho forçado, a humilhação, as


palmatórias, a escravatura, a tortura, a revolta, entre outros males efectuados pelo regime
colonial e reivindicados pelo povo moçambicano.

Fase da luta armada – a música serviu como um instrumento de revolta, de mobilização,


de apelo, de denúncia ao colonialismo português, de meio de explicação ao povo
Moçambicano e a comunidade internacional das razões da luta armada. Portanto,
incentivava ao povo, a comunidade internacional e aos combatentes para esmagar o
colonialismo e libertar o povo moçambicano.

Fases da independência – cantavam a vitória, o socialismo, a liberdade de expressão,


bandeira, hino nacional, a cultura Moçambicana.

Fase do conflito armado FRELIMO/RENAMO – a música denunciava-nos sangue


armado, massacre, a destruição das aldeias, pontes, estradas, machambas. Nesta fase a

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

música denunciava-nos o sofrimento que o povo moçambicano vivia com o conflito


armado.

Fase da democracia paz/actual – relata a democracia, a liberdade de expressão, o


desenvolvimento sócio económico, a unidade nacional, o respeito pelos direitos humanos,
o empreendedorismo, o bem-estar social, também criticam os males que assolam a
sociedade.

23.1.6- Tipos de Músicas Moçambicanas


Muitos músicos fizeram-se ao palco e estúdio de RM1. Os músicos que já andavam a fazer
música nos bairros alguns conseguiram se destacar e vendia shows com maior frequência
como o caso do Wazimbo, João Wate, Fanny Mpfumo, Ghoroane e outros.

Tabela 1.Cantores ou Grupos Musicais e as suas respectivas Músicas que marcaram o


período pós-independência em Moçambique

Cantor / grupo Música

Conjunto João Domingo Mawaku

Conjunto João Domingos Elisa gomara saia (eis um dos clássicos da Marrabenta)

Fanny Mpfumo gorogina wa ka mamba/ Famba na Hombe

Orquesta Djombo Elisa gomara saia/ Laurinda

Grupo Bayette Georgina

Fonte: João Sepula Wanela

1
Rádio de Moçambique Estatal

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23.1.7. A Dança
A dança surgiu praticamente junto com a humanidade, tendo, no princípio, um aspecto
mágico, quase irracional, e constituindo-se como uma forma de contacto com o
sobrenatural. No entanto, a dança evoluiu, posteriormente para rituais religiosos, que
ainda mantinham o aspecto mágico. Por fim, na Grécia antiga, deixou de ser somente
utilizada com fins religiosos, sendo incorporada também às tragédias gregas.

A dança é uma das três principais artes cénicas da Antiguidade, ao lado do teatro e da
música. Caracteriza-se pelo uso do corpo seguindo movimentos previamente
estabelecidos (coreografia), ou improvisados (dança livre).

A dança pode existir como manifestação artística ou como forma de divertimento e/ou
cerimónia. Como arte, a dança se expressa através dos signos de movimento, com ou sem
ligação musical, para uns determinados públicos, que ao longo do tempo foi se
desvinculado das particularidades do teatro.

23.1.8. A Dança em Moçambique


Não é fácil dar em poucas palavras, uma ideia geral da dança moçambicana, se tal mesmo
fosse possível. Tentamos só situá-la, compreendê-la no que significa para os seus
criadores e descrever alguns traços que nos parecem típicos.

Portanto, a dança pode ter em muitas destas culturas um carácter sagrado, e em África
ainda o tem, embora o conceito do “sagrado” difira do conceito europeu, que é cunhado
por uma outra religião. Dançar, pôr o corpo em movimento, em vibração, significa uma
espécie de comunhão com as forças vitais, com tudo o que adoram, e o que temem; e,
além disso, une e reforça neste intuito a comunidade (dança de guerreiros, defesa contra
os perigos do mato). Dançar é uma necessidade que liga até os vivos aos espíritos dos
antepassados mortos e que facilita a comunhão com eles.

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A dança tem lugar em todas as cerimónias, como nos ritos da puberdade — as danças dos
vanalombo, mestres da circuncisão e a dança do mapiko — de investidura de iniciados em
poderes superiores — a dança dos vahumu — em ritos de passagem — a dança por
ocasião de um casamento, e, sobretudo em todas as cerimónias de exorcismo, onde o
curandeiro precisa de chamar à superfície as grandes forças vitais que ele, por meio de
vibração prolongada e simpática, procura influenciar; objectivo em que, sem dúvida, às
vezes é bem sucedido.

A dança moçambicana está profundamente enraizada na terra, não procura gestos que
abstraíam da vida natural e exprimam formas abstractas, estáticas e estéticas. Os gestos da
dança moçambicana não tomam posse de um vasto espaço diagonal, restringem-se mais a
uma posição básica, onde o tronco é levemente inclinado para frente, às pernas com uma
ligeira quebra nos joelhos, na posição de maior prontidão de reacção, e os braços fazendo
equilíbrio. À volta desta posição surgem as oscilações e, às vezes, ondulações e torções,
sustentados pelos passos rítmicos. Os dançarinos preenchem esta posição — às vezes
aparentemente parada — com virtuosismo de tremuras parciais dos músculos.

Sobre a coreografia das danças africanas ainda não podemos dar informação
pormenorizada. O assunto é vasto e está pouco estudado em Moçambique.

23.1.9. Os Tipos de Danças Moçambicanas

Marrabenta
Dança e género musical do sul de Moçambique e em particular no Maputo, surgiu no
inicio da segunda metade dom séc XX conhecida internacionalmente, Marrabenta teve
origem nos meios urbanos este género surgi de uma fusão de musica europeia com ritmos
tradicionais de Moçambique.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Normalmente era tocada por um cantor masculino acompanhado por um corro de


mulheres e tocada com instrumentos feitos de matérias improvisados, com latas de óleos,
fios de pesca e pedaços de madeira.

A palavra marrabenta vem do verbo “rebentar” uma provável referência das guitarras
baratas cujas cordas rebentavam com facilidades. As letras das canções frequentemente
em línguas locais cantavam o amor, a vida quotidiana, a história de Moçambique, e
faziam também criticam sócias inerentes ao desejo de liberdade do povo moçambicano.
Por esta razão que governo português considerava a marrabenta a subversiva e difusora de
ideias revolucionárias ordenando muitas vezes o enceramento de locais onde esse tipo de
música era produzido.

“Apesar de tudo a marrabenta animava o capital moçambicano e atraia pessoas ate ao


local onde esse ritmo era tocava ao vivo e intenso, as melodias as sua melodias eram
arrebatadoras. Para além desse ritmo refira-se ainda a forma extremamente sensual de
dança a qual a marrabenta esta também associada a dança marrabenta, onde participam
homens e mulheres, consiste em produzir deslizamentos com os pés no sentido lateral e
em criar fortes movimento do campo sentido anterior e posterior”.
http://www.infopedia.pt/marrabenta

A marrabenta foi fortemente associada a luta pela independência e por pouco teria
sucumbido com a pobre indústria musical e com a guerra civil dos anos 80 que se deu em
todo pais.

23.1.10.- A Dança Mapinduzi

Origem desta Dança:


MAPINDUZI é uma dança tipicamente masculina praticada principalmente por jovens.
Ainda não é bem conhecida a história do surgimento desta dança.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Na base do Lexema MAPINDUZI, de origem Swahili duas hipóteses se colocam quanto a


origem desta dança:

A Primeira hipótese é que ela séria originária de Ancuabe, distrito próximo da região
costeira de Pemba – Matuge e Quissanga, tradicionalmente habitada por populações
Mwani, falantes de Kimwani, língua considerado pelos linguistas como sendo um dos
dialectos do Swahili.

A Segunda hipótese é de que ela teria sido trazida da Tanzânia por refugiados
Moçambicanos, durante a luta armada de libertação nacional.

Pensa-se que estes regressados teriam trazido consigo influencias culturais tanzanianas.
Incluindo a dança Mapinduzi.

Objectivo da Dança Mapinduzi


É Principalmente recreativa, podendo ser praticada em datas festivas e na recepção de
visitas importantes.

Não só as canções ligadas a esta dança abordam temas sobre o dia-a-dia da vida da
comunidade. Também interpretam o passado, como a história da luta de libertação
nacional e da opressão colonial, também o seu objectivo era de manter a cultura e de
ensinar através de danças à comunidade, uma vez que a entoação de canções alegrava a
mesma comunidade.

23.1.11.- A Dança Tufo


Em Moçambique a Dança Tufo encontra-se ao norte nas províncias de Nampula e Cabo
Delgado. Sendo de origem árabe, seria natural que a encontrássemos um pouco por todo o
pais, uma vez que a comunidade islâmica se espalhou por Moçambique, não só pela costa

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ao norte de Angoche mas, curiosamente, só a encontramos nas províncias citadas, no


litoral até no interior onde se expandiu.

Eventualmente podemo-la encontrar noutras regiões, trazida por comunidades deslocadas


da sua área sócio-cultural, como é o caso do Tufo observado no bairro da Mafalala em
Maputo.

O seu nome terá derivado inicialmente dos instrumentos de percussão que o acompanham.
Parece-nos que a palavra “TUFO” vem do árabe “ad-duff”, étimo do qual resultaram
para Português “adufe e adufo”.

Segundo o MEC (2006: 19), “o TUFO vira de «ad-duff» através do macua, que resultou,
nalgumas formas, da fusão do árabe com as línguas Bantu locais. Vem a propósito referir
que no macua não existe praticamente a dental branda inicial «d» mas sim a dental forte
«t», daí que o «DUFO» tenha dado «TUFO»”.

O TUFO foi nas suas origens dança de carácter religioso, afirmam-nos os informadores.
Disso encontramos reminiscências nas canções mais antigas que nos foram dadas a ouvir
na Ilha de Moçambique. O TUFO era, e ainda é, dançado em cerimónias, festas e datas
especiais do calendário maometano, por mulheres “vestidas a rigor como se fossem para
uma missa”.

23.1.12.-A Relação entre a Música e a Dança em Moçambique


A Música Moçambicana é muitas vezes apresentada em contextos que dramatizam
relações sociais, crenças, histórias e acontecimentos comuns; por isso, a Música é
integrada com a Dança e obrigada a sublinhar e desenvolver aqueles aspectos que podem
ser articulados no movimento corporal.

O impacto total de uma composição musical influencia num dançarino a qualidade


expressiva da sua dança, mas geralmente é a estrutura rítmica que determina o modelo dos
seus movimentos.

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Os ritmos que determinam a escolha da sequência dos movimentos podem ser diferentes.
Neste caso, os ritmos servem simplesmente como um factor propulsivo que pode
estimular a expressão ou animar a actuação. Aqui, a Música dá uma forma de
continuidade para os dançarinos.

Outro aspecto da relação entre a Música e Dança pode ser a alteração entre o Solo e o
Coro. A alteração solo/coro é usada em algumas combinações instrumentais ou entre
combinações instrumentais e vozes.

23.1.13.-Importância da Música e Dança em Moçambique


A importância atribuída a Dança não é só por causa das oportunidades que ela
proporciona para a libertação da emoção estimulada pela Música. A Música pode ser
utilizada também como um meio de comunicação artística e social. A Dança por sua vez
pode transmitir pensamentos e assuntos de importância pessoal e social, através da
selecção dos movimentos, postura e expressões do rosto; as Danças podem demonstrar
reacções colectivas em atitudes de hostilidade, cooperação, amor ou outras, podem atacar
os inimigos ou expressar aspirações através da escolha da coreografia apropriada ou de
gesticulações simbólicas.

Por Exemplo: Na Dança Makwayela, quando um dançarino faz a ligação dos seus braços
significa “nós estamos unidos na nossa luta comum” e quando ele aponta com um dedo a
cabeça significa que “é um assunto para a minha cabeça, uma coisa para pensar em que
vamos resolver juntos”.

A Dança é um meio de expressão que pode ser relacionado com temas e propósitos de
diversas ocasiões sociais. Por exemplo, a Dança Zore que, antigamente se seguiam às
colheitas, não só celebravam uma boa colheita, mas simbolizavam também uma expressão
de esperança para a fertilidade em geral e para a vida da comunidade, especialmente para
a vida das mulheres, crianças e gado. Para dramatizar esta dependência sobre a produção e
reprodução, o Zore era apresentado normalmente em noites de Lua cheias.

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

_________________________________________________

Sumário

É evidente que a interdependência estrutural entre a Música e a Dança exige muito do


artista. Não só porque o estilo e os modelos dos movimentos devem ser bem conhecidos
pelo Músico, mas também porque os detalhes como o tempo, o equilíbrio das frases e as
relações funcionais entre as variações da Música e a rotina da Dança devem vivenciar no
Músico.

Também é importante ter noções claras para os movimentos precisos praticados dentro da
textura da própria Música, de modo que qualquer dançarino possa identificar e articular
compassos básicos, folgas para as mudanças no movimento, pausas dramáticas e sinais
para a identificação do movimento ou para relaxamento do esforço.

A Música tem duas funções principais para a Dança, primeiro deve criar a atmosfera
correcta e disposição para os dançarinos ou estimular e manter o impulso para os
movimentos expressivos e, segundo, deve também dar base rítmica a ser articulada no
movimento ou regular a qualidade, o tempo e dinâmica dos movimentos com a escolha
dos sons, mudanças da estrutura interna ou detalhes da escrita musical.

Entretanto, todos esses pontos, da interacção Música – Dança, demonstram-nos que a


Dança pode ser considerada não só como um meio para a resposta corporal da Música,
mas também como uma forma de Arte séria.

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Actividades

Qual é a Importância da Música e Dança em Moçambique?

Qual é o significado nos ensina a dança e a musica moçambicana?

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HO178 – HISTÓRIA DAS SOCIEDADES IV – A Sociedade Africana e Moçambicana a quando das Independências

Unidade XXIV
As manifestações culturais em Moçambique no período pós-
independência

24.1- A Literatura
Introdução da unidade

Moçambique, provocando polémica e discussão acesas. A partir daí, estava instaurada


uma aceitabilidade para a livre criatividade da palavra, a abordagem de temas tabus, como
o da convivência de raças e mistura de culturas, por vezes parecendo antagónicas e
carregadas de disputas (indianos vs. negros ou brancos).

Objectivos

Ao concluir o estudo desta unidade, o estudante deve ser capaz de:

1.Identificar as manifestações literárias de Moçambique puseram – independente.

2. Enumerar os factores que dinamizaram a literatura moçambicana.

Desenvolvimento do tema
O Período, entre 1975 e 1992, chamaremos de Consolidação, por finalmente passar a não
haver dúvidas quanto à autonomia e extensão da literatura moçambicana, contra todas as
reticências, provindas de alguns sectores dos estudos literários, e, diga-se também, contra
todas as evidências. Após a independência, durante algum tempo (1975-1982), assistiu-se
sobretudo à divulgação de textos que tinham ficado nas gavetas ou se encontravam

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dispersos. O livro típico, até pelo título sugestivo, foi Silêncio escancarado (1982), de Rui
Nogar (1935-1993), aliás o primeiro e único que publicou em vida. Outro tipo de textos é
o de exaltação patriótica, do culto dos heróis da luta de libertação nacional e de temas
marcadamente doutrinários, militantes ou empenhados, no tempo da independência.

Tal como nos outros países neófitos, o Estado (e a FRELIMO) detinha o monopólio das
publicações e o consequente controle. Todavia, segundo um conceito de instituição
literária que não passa obrigatoriamente por publicar em Moçambique, como acontecia,
aliás, na época colonial, temos de considerar a actividade poética de um Rui Knopfli fora
de África como cooptada para o património literário moçambicano. A publicação dos
poemas de Raiz de orvalho, de Mia Couto (em 1983) e sobretudo da revista Charrua (a
partir de 1984, com oito números), da responsabilidade de uma nova geração de
novíssimos (Ungulani Ba Ka Khosa, Hélder Muteia, Pedro Chissano, Juvenal Bucuane e
outros), abriu novas perspectivas fora da literatura empenhada, permitindo-lhes caminhos
até aí impensáveis, de que o culminar foi o livro de contos Vozes anoitecidas (1986), de
Mia Couto, considerado como fautor de uma mutação literária em

A publicação de Terra sonâmbula (1992), de Mia Couto, o seu primeiro romance,


coincidente com a abertura política do regime, pode considerar-se provisoriamente o final
deste período de pós-independência.

(Pires Laranjeira, Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa, vol. 64, Lisboa,


Universidade Aberta, 1995, pp. 256-262).

24.1.1-Poesía Moçambicana Contemporânea


Uma parte significativa da produção literária moçambicana deve-se aos poetas da
"literatura europeia", ou seja, aqueles que, sendo brancos, centram toda, ou quase toda a
sua temática nos problemas de Moçambique; foram eles que contribuíram decisivamente
para a formação da identidade nacional moçambicana. Merecem especial realce: Alberto
de Lacerda, Reinaldo Ferreira, Rui Knopfli, Glória Sant'Anna, Sebastião Alba, Luís
Carlos Patraquim e António Quadros. Alguns destes poetas escrevem poesia de carácter

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mais pessoal, enquanto os outros estão virados para o aspecto "social". Por exemplo,
Reinaldo Ferreira e Rui Knopfli são poetas cuja obra se debruça fundamentalmente sobre
a África, a "Mãe África" e o povo que vive e sofre as consequências do colonialismo. Por
muita desta poesia perpassa também a centelha da esperança da libertação. São estes
autores que contribuíram de um modo decisivo para a emergência da literatura da
"moçambicanidade". Em muitos destes poetas podemos detectar a alienação em que se
encontram perante a sociedade africana a que pertencem.

A poesia política e de combate em Moçambique foi cultivada sobretudo por escritores que
militavam na Frelimo. Entre eles, destaque para Marcelino dos Santos, Rui Nogar e
Orlando Mendes. Este tipo de poesia preocupa-se sobretudo com comunicar uma
mensagem de cunho político e, algumas vezes, partidário. Como literatura, e salvo raras
excepções (como é o caso de Rui Nogar, com alguns belos poemas de carácter intimista,
no seu livro Silêncio escancarado, de 1982), esta poesia é pouco ou nada inovadora.

Como nos outros países, surge também em Moçambique um número de escritores cuja
obra poética é conscientemente produzida tendo em conta o factor da nacionalidade,
anterior, como é evidente, à realidade do país que mais tarde se concretiza. São eles que
forjam a consciência do que é ser moçambicano no contexto, primeiro da África e, depois,
do mundo. Entre os principais autores deste tipo de poesia, encontram-se Noémia de
Sousa, José Craveirinha, Jorge Viegas, Sebastião Alba, Mia Couto e Luís Carlos
Patraquim.

A figura de maior destaque na poesia da moçambicanidade, e referência obrigatória em


toda a literatura africana, é José Craveirinha. De facto, a poesia de Craveirinha engloba
todas as fases ou etapas da poesia moçambicana, desde os anos 40 até praticamente aos
nossos dias. Em Craveirinha vamos encontrar uma poesia tipo realista, uma poesia da
negritude, cultural, social, política; há uma poesia de prisão; existe uma poesia carregada
de marcas da tradição oral, bem como muito poema com grande pendor lírico e intimista.

Porque nos propomos analisar, numa outra oportunidade, a poética de Craveirinha, fique,
ao menos, a referência à obra publicada deste autor: Cela 1 (1980), Xigubo (1980),

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Karingana Ua Karingana (1982) e Maria (1988). Uma leitura atenta leva-nos a perceber
a diferença marcante entre cada uma destas obras de Craveirinha. Xigubo é um livro mais
virado para a narratividade, para a descrição de elementos exteriores ao poeta. Pelo
contrário, em Cela 1 e Maria, o "eu" poético identifica-se com o sujeito da narrativa. As
últimas duas obras são um corolário da itinerância do poeta num clima de epopeia de que
Xigubo e Karingana Ua Karingana são um registo. O poeta transfere-se da esfera de uma
experiência colectivizante "narrada" em Xigubo, para uma escrita que individualiza a sua
própria vivência "mimada" em Cela 1 e Maria.

Buscando outros ritmos, pulsações e novos ventos literários, Mia Couto e Patraquim
reactivaram, na cena literária moçambicana do início dos anos 80, uma poiesis de cariz
existencial, preocupada não só com as emoções interiores, mas com as origens, com as
paisagens do presente e do outrora, com o próprio fazer poético. Rebelando-se contra
paradigmas literários articulados pelo ethos revolucionário, evidenciaram como, em razão
destes, muitos dos cidadãos moçambicanos se encontravam despojados de suas
singularidades. Defensores de uma dicção poética subjectiva, fizeram ponte entre o antigo
lirismo e o de Charrua (que despontaria em 1984), comprovando que «a poesia lírica
sempre arriscou em Moçambique».

Na poesia de Eduardo White uma das referências obrigatórias para quem estuda a
Geração Charrua, está presente a preocupação com as origens. Há nessa procura o desejo
de reencontrar a própria face e a do país. O sujeito lírico, em viagem interior, almeja
reescrever poeticamente a sua história e a de Moçambique. Uma história escrita por um
amor diversificado: pela amada, pela terra, pela própria poesia, e que visa a apagar as
marcas da guerra. À procura de Eros, o eu-poético elege como ponto de partida a Ilha de
Moçambique, lugar matricial, onde, antes de Vasco da Gama lá ter aportado em 1498, os
árabes também haviam estado desde o século VII, tendo levado do continente para a ilha
negros de etnia macua, cujas tradições e língua também ficaram inscritas no imaginário
insular.

Nesses versos, Knopfli assinala na ilha a presença do Oriente, cujas marcas, contudo, não
somente existem ali, mas em outras regiões moçambicanas, tema explorado por Eduardo

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White em seu último livro Janela para Oriente (1999). Outros poetas louvaram a Ilha de
Moçambique, chamada inicialmente Muhipíti, cujas paisagens e monumentos, como
«lugares da memória», guardam diferentes heranças culturais impressas nas fortalezas
portuguesas e nas naves moiras. Orlando Mendes lembra que «Por ali estiveram Camões
das amarguras itinerantes/ e Gonzaga da Inconfidência no desterro em lado oposto».
Virgílio de Lemos, no poema «A Fortaleza e o Mar», avivou a lembrança desse local e,
pela meditação, buscou esconjurar «os fantasmas e paradoxos» da história «de cobiça»
que ultrajaram o chão insular:

Vem, pois, de longe, esse viés erótico-amoroso que perpassa pela poesia de vários
representantes de Charrua. Erotismo visceral, ternura e musicalidade foram «os materiais
de amor» usados pelos poetas, principalmente por Eduardo White, o qual tece sua poética,
reflectindo também sobre a necessidade de o povo moçambicano recuperar a dignidade de
uma vida mais humana: «Felizes os homens/ que cantam o amor. / A eles a vontade do
inexplicável / e a forma dúbia dos oceanos». Nesses versos, a metáfora marinha assinala a
dubiedade de uma identidade problemática, porque engendrada na encruzilhada de dois
oceanos: o Índico que banha o litoral do país e serviu à rota oriental dos mercadores
árabes e o Atlântico que, embora distante, a ocidente, trouxe as caravelas e o imaginário
lusitano. Após o trajecto pelas águas marítimas de Amar sobre o Índico, o seu lirismo, nos
livros seguintes, adopta o caminho do Amor e dos sonhos, alçando voo através das asas da
poesia. Antes de White, outros poetas, conforme já referimos, assumiram esse viés lírico-
amoroso, fazendo dos sentimentos uma forma de questionamento da realidade, como
evidenciam os versos de Heliodoro Baptista: «Impugnados somos, / mas de ternura
subversiva». […]

Após essa breve incursão pela lírica moçambicana contemporânea, averiguamos que o
desenvolvimento desta «não se fez propriamente de rupturas, mas de movimentos
espiralares de avanços e recuos», de conquistas e retomadas, tanto que até os mais jovens
poetas não abriram mão da intertextualidade com reconhecidas vozes poéticas que os
antecederam. Detectamos que as vertentes estéticas apontadas inicialmente neste artigo (a

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da «poesia de afectos» e a da «poesia paródica») atravessam, em alternância, praticamente


todo sistema poético de Moçambique, estando presentes nas produções mais recentes.

_________________________________________________

Sumário

Conclusão a que chegamos é a de que alguns dos poetas regressos da Geração 70, embora
não tenham logrado publicar seus livros, não param de escrever. E porquê? Em nossa
opinião, porque, apesar de se terem declarado poetas do real, da denúncia directa da fome,
identificando-se como herdeiros de distopias e guerras, não abandonaram a utopia do
fazer literário e sabem, no íntimo, que ainda precisam aprimorar seus versos. Notamos
que o descontentamento frente ao contexto económico, social, político e cultural do país é
grande, reflectindo-se no quadro actual da poesia. Vários poetas alguns que pertenceram à
Charrua e outros que surgiram paralelamente ou depois revelam, em seus últimos
poemas, uma céptica lucidez em relação à realidade de Moçambique, mas prosseguem no
encalço das «paisagens da memória» e dos «subterrâneos dos sonhos», pois crêem, no
fundo, que estes, segundo palavras de Eduardo White e Alfredo Bosi, se configuram como
forças interiores capazes de manterem «os homens vivos» e de buscarem recompor o
universo da poesia «que os novos tempos tentam renegar».

______________________________________________________

Actividades

1.Identifique as manifestações literárias de Moçambique puseram – independente?

2. Quais foram os factores que dinamizaram a literatura moçambicana?

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Bibliografia

1-BANCO MUNDIAL, África Subsariana: da crise até ao crescimento sustentável-


Estudo de uma perspectiva a longo prazo, Washington:Banco Mundial, 1990.

2-BENOT, Yves. Ideologias das independências Áfricanas, vol. I e II, Lisboa:Sá da


Costa, 1981.

3-FAGE, J. D., História da África, Lisboa: Edições 70, 1995.

4-FERNANDES, Dominguinhos; África e sua história, p.124

5-FUKUYAMA, Francis., O Fim da História e o Último homem, Lisboa: Gradiva, 1999.

6-CARRILHO, Maria, Sociologia da Negritude, Lisboa: Edições 70

7-COSSA, Hortêncio e MATARUCA, Simão; Moçambique e sua história, p.190

8-CUHE, Denys, A Noção de Cultura nas Ciências Sociais. Lisboa: Fim de Século
Edições, 1999.

9-DUARTE, Ricardo Texeira, A Noção de Cultura nas Ciências Sociais. Lisboa: Fim de
Século Edições, 1999.

10-FERNANDES, Dominguinhos; África e sua história, p.124

11-GIDDENS, Anthony (2001), Modernidade e identidade Pessoal, Oeiras, Celta


Editores

12-GDINHO, Vitrino Magalhães, (Coord.). A história social: problemas, fontes e


métodos. Lisboa, Edições Cosmo, 1967.

13-HALL, Stuart. A idade cultural na pós-modernidade . 9ª ed. Rio de Janeiro: DP&A


2004

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14-HUNTINGTON, Samuel. P. O Choques das Civilizações e a Mudança na Ordem


Mundial, 2ªed., Lisboa : Gradiva, 2001.

15-ILIFFE, John; Os africanos, História dum Continente, 1994, p. 416

16-KASSOTCHE, Florentino Dic. Globalização; Receios dos Países em via de


Desenvolvimento. Maputo: ISRI, 1999.

17-KI-ZERBO, Joseph. África Negra Vol. II, Lisboa: Publicações Europa América, 1995

18-LAMMER, Eleanor. Educação Conteporânea ; Questões e Tendências Globais, 1ªed.,


Maputo: Textos editoras, 2006

19-MONDLANE, Eduardo. Lutar por Moçambique, 1ͣ Edição, Lisboa, Livraria Sá da


Costa Editora, 1975.

20-MUZRUI, ALI A. (Coord). General History of África: África Since 1935, 8° vol.
Paris: UNESCO, 1999.

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