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© FECAP
REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO DE NEGÓCIOS
Review of Business Management
ISSN 1806-4892

Recebido em Uma Análise Distintiva entre o


8 de Agosto de 2014.
Aprovado em Estudo de Caso, A Pesquisa-Ação e
29 de Junho de 2015.
a Design Science Research
1. Aline Dresch
Mestre em Engenharia de
Produção e Sistemas PPGEPS/ Aline Dresch
Unisinos Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção,
(Brasil) Universidade Federal de Santa Catarina, SC, Brasil
[aldresch@unisinos.br]
Daniel Pacheco Lacerda
2. Daniel Pacheco Lacerda Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas,
Doutor em Engenharia de
Universidade do Vale do Rio dos Sinos − Unisinos, RS, Brasil
Produção
Coppe/UFRJ
Paulo Augusto Cauchick Miguel
(Brasil)
[dlacerda@unisinos.br] Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção,
Universidade Federal de Santa Catarina, SC, Brasil
3. Paulo Augusto Cauchick
Miguel
Editor responsável: Ivam Ricardo Peleias, Dr.
PhD in Manufacturing
Processo de avaliação: Double Blind Review
Engineering
University of Birmingham, UK
(Inglaterra) Resumo
[paulo.cauchick@ufsc.br] Objetivo – Esse ensaio tem como objetivo analisar a distinção entre
métodos de pesquisa típicos na gestão de operações (estudo de caso e
pesquisa-ação) com a design science research.
Método – O artigo adota uma abordagem metodológica teórico-
-conceitual, fundamentada em ampla revisão da literatura. A revisão da
literatura se concentrou em trabalhos que discutem a utilização do Estudo
de Caso, da Pesquisa-Ação e da Design Science/Design Science Research.
Fundamentação teórica – Esse ensaio explicita as bases do Estudo de
Caso e da Pesquisa-Ação. Em virtude de sua utilização recente como
método de pesquisa, a Design Science Research é apresentada em maior
profundidade.
Resultados – Primeiro, é realizada uma apresentação da design science e
da design science research como paradigma e método de pesquisa, respec-
tivamente, no campo da gestão; segundo, a distinção entre as Ciências
Naturais, Ciências Sociais e a Design Science; terceiro, uma análise com-
parativa entre os métodos de pesquisa Estudo de Caso, Pesquisa-Ação e
Design Science Research; por fim, um conjunto de sugestões para pesquisas
futuras no que tange à utilização de métodos de pesquisa na área de
gestão, em geral, e de gestão de operações, em particular.
Contribuições – As principais contribuições desse ensaio se concentram
na reflexão sobre os métodos de pesquisa utilizados na área de gestão.
Uma contribuição importante é a ampliação do repertório de métodos
de pesquisa pela compreensão e utilização da design science research. A
Revista Brasileira de Gestão utilização desse método de pesquisa pode contribuir para a redução
e Negócios do distanciamento entre rigor e relevância que tem sido caracterizado
por diversos autores.
DOI:10.7819/rbgn.v17i56.2069 Palavras-chave – abordagem de pesquisa, métodos de pesquisa, estudo
de caso, pesquisa-ação, design science research
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R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 17, n. 56, p. 1116-1133, abr./jun. 2015
Uma Análise Distintiva entre o Estudo de Caso, A Pesquisa-Ação e a Design Science Research

1 Introdução & Thorpe, 2010). Em segundo, para que uma


pesquisa possa ser considerada bem sucedida em
A falta de atenção com a relevância nos gestão de operações, por exemplo, é necessário
estudos científicos prejudica a troca de conhe- que haja uma contribuição prática para a área de
cimentos entre profissionais e acadêmicos (Ford estudo; além disso, essa pesquisa deve ser acessada
et al., 2003). Consequentemente, estudos re- pela comunidade de interesse (Manson, 2006).
levantes são escassos em áreas em que seriam Um terceiro argumento, defendido por Starkey
fundamentais, como a de gestão (Hughes, Bence, e Madan (2001), é o de que o aumento da rele-
Grisoni, O’Regan & Wornham 2011; Kasanen, vância das pesquisas contribui para a diminuição
Lukka & Siitonen, 1993; Romme, 2003; Sin- da lacuna que existe entre a teoria e a prática na
ghal, Sodhi & Tang, 2014; Van Aken, 2011). área de gestão
Nesse sentido, a discussão entre rigor e relevância Considerando a necessidade do desen-
tem sido objeto de importantes reflexões sobre a volvimento de pesquisas mais relevantes e que
pesquisa no campo da gestão (Burgoyne e James, apresentem também o rigor requerido por uma
2006; Manson, 2006; Pandza & Thorpe, 2010; pesquisa científica, os pesquisadores devem buscar
Starkey, Hatchuel & Tempest, 2009; Starkey & justificar e estabelecer claramente as suas decisões
Madan, 2001; Tranfield & Starkey, 1998; Van tomadas no planejamento e condução da pesquisa.
Aken, 2004, 2005). Além disso, é necessário que o pesquisador posi-
Cabe ressaltar que o conceito de relevância cione claramente seu paradigma epistemológico
considerado no âmbito deste ensaio é o mesmo e os métodos de pesquisa que orientarão a sua
defendido por Starkey e Madan (2001), os quais condução e, por consequência, aumentem a con-
afirmam que a relevância pode ser compreendida fiabilidade dos resultados obtidos.
como a capacidade de o conhecimento produzido A preocupação com uma adoção mais
na academia ter um impacto significativo também adequada dos métodos de pesquisa, em áreas
no campo prático. O rigor, por sua vez, no con- que se ocupam de problemas ligados à gestão de
texto do presente ensaio, é compreendido como operações, tem motivado a produção de diversos
elemento necessário para uma adequada aplicação trabalhos que se dedicam tanto a apresentar esses
dos métodos de pesquisa (Hatchuel, 2009). Além métodos de pesquisa quanto a propor recomen-
disso, um adequado rigor metodológico contribui dações para sua aplicação em diversas abordagens
para assegurar a validade dos trabalhos de pesquisa metodológicas de pesquisa, como a pesquisa-ação
e, consequentemente, seu reconhecimento como (Coughlan & Coghlan, 2002), os levantamentos
um estudo sério e bem conduzido. tipo survey (Forza, 2002), e o estudo de caso
A atenção dedicada ao rigor da pesquisa (Voss, Tsikriktsis & Frohlich, 2002), dentre outras
não pode ser ignorada pelo pesquisador. Sua ex- (Ellram, 1996; Hughes et al., 2011; Kasanen et
cessiva preocupação, no entanto, principalmente al., 1993). No Brasil, esse movimento não tem
no que tange aos métodos de pesquisa, pode sido diferente (ver, por exemplo, Mello, Turrioni,
levar o pesquisador a negligenciar a relevância Xavier & Campos, 2011; Miguel, 2007, 2012).
de suas investigações (Hevner, March, Park & Os trabalhos citados buscam orientar sobre o uso
Ram, 2004). Starkey et al. (2009) afirmam que adequado de métodos e procedimentos que me-
a relevância deveria ser condição básica para a lhorem a sua condução, bem como os resultados
pesquisa na área de gestão poder ser considerada, dos trabalhos de pesquisa.
de fato, rigorosa. Assim sendo, diante da diversidade de
Existem argumentos que fundamentam a métodos de pesquisa, o presente ensaio tem como
necessidade de uma maior atenção à relevância. objetivo, além de caracterizar, distinguir analitica-
Primeiro, a relevância pode auxiliar a diferenciar mente os métodos de pesquisa típicos na área de
os estudos da área de gestão daqueles direciona- gestão de operações (estudo de caso e pesquisa-
dos exclusivamente para o campo social (Pandza -ação) e a design science research. Esta análise busca,

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também, estabelecer uma crítica acerca desses seções principais. Inicialmente, são apresentados
métodos de pesquisa a partir da perspectiva epis- os principais conceitos e formas de operacionali-
temológica da design science. Ademais, este ensaio zação no que tange aos três métodos de pesquisa
poderá servir como um instrumento para outros selecionados (estudo de caso, pesquisa-ação e
pesquisadores estabelecerem o método de pesquisa design science research). Em seguida, é apresenta-
que esteja mais alinhado com a investigação que da uma síntese desses métodos por meio de um
pretendem realizar. quadro analítico, com a finalidade de ampliar o
Cabe destacar que, para além da distinção portfólio de métodos de pesquisa que possam
entre os métodos de pesquisa, entende-se que esse auxiliar investigadores da área de gestão em geral.
ensaio contribui, também, sob outras perspecti- Por fim, são apresentadas as conclusões do ensaio
vas. Primeiro, procura-se apresentar o paradigma no que tange aos métodos de pesquisa conside-
da design science, em geral, e o método da design rados, bem como a algumas oportunidades para
science research, em particular. Isso decorre do fato trabalhos futuros.
de se tratar de um método de pesquisa pouco
conhecido pela comunidade acadêmica brasileira
no campo da gestão de operações. Segundo, ao 2 Referencial teórico
realizar a discussão sobre design science e design
science research, busca-se chamar a atenção para o O método de pesquisa tem como objetivo
dilema rigor-relevância que tem conduzido um conduzir o pesquisador na busca para as respostas
conjunto significativo de pesquisadores da área à necessárias ao problema de pesquisa que se propõe
reflexão. Terceiro, é necessário o desenvolvimento (Saunders, Lewis & Thornhill, 2012). Cabe des-
de trabalhos transversais que analisem criticamen- tacar que, para a definição do método de pesquisa
te os métodos de pesquisa para melhor clarificar e adequado para cada investigação, o pesquisador
encaminhar as escolhas dos pesquisadores acerca deve considerar alguns aspectos, como: (i) a con-
do repertório de métodos existentes. Por fim, o tribuição para responder ao problema de pesquisa;
ensaio procura abrir a discussão da utilização de (ii) a legitimidade junto a comunidade científica;
métodos de pesquisa como o estudo de caso e a e (iii) a sistematicidade dos procedimentos a serem
pesquisa-ação sob o enfoque da design science. adotados na condução da pesquisa. Um método
Esses métodos foram escolhidos pelas de pesquisa coerentemente organizado contribui
seguintes razões: o estudo de caso é um método, para assegurar o rigor da pesquisa, a confiabilidade
que, quando bem conduzido, proporciona uma dos resultados obtidos e, sobretudo, a resposta do
compreensão de determinados fenômenos em problema que se propõe a investigar (Laville &
profundidade, além de ser bastante comum para Dionne, 1999).
estudos empíricos. A pesquisa-ação permite que Ademais, a escolha do método de pesquisa
haja interação direta entre pesquisador e objeto é decorrente de um conjunto de posicionamen-
de pesquisa, na linha da intervenção, em prol de tos definidos pelo pesquisador do ponto de vista
ambos, em uma linha muitas vezes prescritiva. A epistemológico. Saunders et al. (2012) evidenciam
design science research, por sua vez, permite que o esse conjunto de decisões e argumentam pela ne-
pesquisador não só explore, descreva ou explique cessidade do pesquisador ter a consciência e tomar
um determinado fenômeno, como também proje- as decisões necessárias nesse sentido. Essas deci-
te ou prescreva soluções para um dado problema. sões, em última análise, irão interferir na postura
Para atendimento dos objetivos propostos, do pesquisador em relação à realidade (Saunders et
o presente ensaio adota uma abordagem metodo- al., 2012) e, por implicação lógica, nos resultados
lógica teórico-conceitual fundamentada em uma da pesquisa. Por um lado, o pesquisador pode
revisão de literatura, buscando apresentar métodos adotar uma perspectiva de observador da realidade
de pesquisa para a área de gestão de modo mais tendo por objetivo explorar, descrever e explicar.
abrangente. O ensaio é então estruturado em três Por outro lado, o pesquisador pode ter como

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objetivo intervir na realidade e, por consequência, Não obstante, é válido frisar que a gestão,
resolver problemas ou desenvolver melhorias nos em geral, busca solucionar problemas ou, ainda,
sistemas que estão sendo investigados. A literatura projetar e criar artefatos que possam ser utilizados
distingue essas perspectivas, designando, de um no dia a dia pelos profissionais. Logo, um estu-
lado, as ciências tradicionais que se ocupam da do que descreva ou explique uma determinada
análise (Le Moigne, 1994) e da descrição e, de outro situação nem sempre é suficiente para o avanço
lado, a design science, caracterizada por sua natureza do conhecimento nessa área. A partir dessa colo-
prescritiva e de projetação (Van Aken, 2004). cação, se inicia o debate acerca da design science,
Sob a ótica tradicional, a ciência tem como que é uma ciência que busca projetar e prescrever
objetivo desenvolver conhecimento sobre o que soluções para problemas reais, ações que com a
existe, seja por meio de descobertas e/ou de análi- ciência tradicional não são passíveis de serem
ses de objetos existentes (Simon, 1996). Ademais, realizadas (Denyer et al., 2008; Pandza, Thorpe,
é função da ciência auxiliar na compreensão de 2010; Simon, 1996). Justamente por apresentar
sistemas mediante a descoberta de princípios que tais características de prescrição e projeto, a design
possam determinar suas características, funciona- science engloba áreas como a medicina, a enge-
mento e resultados que produz (Romme, 2003). nharia, e também a gestão (Denyer et al., 2008;
As ciências tradicionais são comumente di- Simon, 1996).
vididas em ainda duas outras ciências: as naturais e Destaca-se que o conceito de design science
as sociais. Cada uma dessas ciências busca alcançar foi apresentado primeiro por Herbert Simon,
algo distinto. Se por um lado as ciências naturais em um livro intitulado As ciências do artificial,
se ocupam da compreensão de fenômenos ditos publicado pela primeira vez em 1969. Em sua
complexos, e têm uma abordagem principalmente obra, Simon (1996) apresenta as diferenças que
descritiva e analítica, as ciências sociais, por outro podem ser observadas entre a ciência tradicional
lado, buscam descrever, compreender e refletir e a design science, que aparece traduzida algumas
acerca do ser humano e de suas ações (Romme, vezes como ciência do projeto ou, ainda, ciência
2003). Destaca-se, contudo, que tanto as pesqui- do artificial. Cabe frisar que a design science é a base
sas sustentadas nas ciências sociais quanto aquelas epistemológica que se ocupa do estudo do que é
alicerçadas nas naturais têm como missão a busca artificial. A Tabela 1, apresenta uma síntese das
pela verdade, sendo seus objetivos explorar, descre- principais características que diferem as ciências
ver, explicar e predizer com a finalidade principal naturais, das sociais e da design science.
de avançar o conhecimento em determinada área
(Denyer, Tranfield & Van Aken, 2008).

Tabela 1 – Síntese – ciências naturais, sociais e design science


Característica Ciência natural Ciência social Design science
Antropologia, economia,
Áreas ou disciplinas de estudo Física, química, biologia Medicina, engenharia, gestão
política, sociologia, história
Entender fenômenos comple- Projetar. Produzir sistemas que ain-
Descrever, entender e
xos. Descobrir como as coisas da não existem. Modificar situações
Propósitos científicos refletir sobre o ser
são e justificar o porquê de existentes para alcançar melhores
humano e suas ações
serem dessa forma resultados. Focar na solução.
Objetivo da pesquisa realizada Explorar, descrever, explicar e, Explorar, descrever, explicar e, Projetar e prescrever. Orientar as
sob esse paradigma quando possível, predizer quando possível, predizer pesquisas à solução de problemas

Nota: Adaptado de “Explicações científicas: Introdução à filosofia da ciência,” de L. Hegenberg, 1969; “Design and Natural
Science Research on Information Technology,” de S. T. March e G. F. Smith, 1995, Decision Support Systems, 15, 251-266;
“The Sciences of the Artificial,” de H. A. Simon, 1996; e “Developing Design Propositions through Research Synthesis” ,
de D. Denyer, D. Tranfield e J. E. Van Aken, Organization Studies, 29(3), 393-413.

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Outra questão a ser destacada é que as de problemas reais e relevantes (Romme, 2003;
ciências tradicionais estão em busca da verdade, Van Aken, 2004).
com o objetivo de avançar o conhecimento de
determinada área de estudo (Denyer et al., 2008). 2.1 Princípios do estudo de caso
Da mesma forma, a design science também busca
a verdade, mas, como essa ciência tem um apelo Um dos problemas com que os pesquisa-
mais pragmático, a utilidade não está desmem- dores deparam é relativo à seleção da abordagem
brada da verdade, “a verdade reside na utilidade” metodológica da pesquisa. Existem premissas e
(Cole, Purao, Rossi & Sein, 2005, p. 3). restrições para a escolha de cada método adotado
Independente do paradigma científico, e elas devem ser levadas em consideração. Após
contudo, para que o conhecimento avance, por identificadas as lacunas de pesquisa, a partir da
meio de pesquisas confiáveis, é necessário que literatura, e desenvolvida a(s) questão(ões) da
métodos de pesquisa sejam adequadamente em- pesquisa, o pesquisador analisa as possíveis abor-
pregados para a condução das investigações. Por dagens a serem utilizadas, selecionando aquela que
essa razão, são apresentados alguns métodos de for mais apropriada, útil e eficaz para endereçar
pesquisa úteis para a condução das pesquisas da essa(s) questão(ões) ou, em outras palavras, que
área de gestão de operações, de maneira mais ampla. deverá atender a problemática estudada no senti-
Os métodos de pesquisa selecionados para do da proposição/encaminhamento de soluções.
compor este estudo foram: o estudo de caso, a A adoção de uma abordagem como o estudo de
pesquisa-ação e a design science research. O estudo caso deve atender a questão de pesquisa no sentido
de caso e a pesquisa-ação são métodos fundamen- de aumentar as chances de endereçar a questão
tados, essencialmente, no paradigma das ciências proposta. Para atender então aos objetivos da
tradicionais, sendo que os objetivos centrais das pesquisa, o trabalho deve ser conduzido com o
pesquisas realizadas sob esse paradigma são: explo- rigor metodológico necessário.
rar, descrever, explicar e, se possível, predizer acer- Uma proposta de conteúdo e sequência
ca de fenômenos ou sistemas existentes (Romme, para a condução de um estudo de caso pode ser
2003; Van Aken, 2004). Por outro lado, a design vista na Figura 1. Na sequência da figura, as eta-
science research, é um método fundamentado no pas são descritas em mais detalhes, com base em
paradigma da design science, ciência que se ocupa Miguel (2007).
do projeto de novos sistemas ou ainda da solução

DEFINIR UMA  Mapear a literatura


ESTRUTURA  Delinear as proposições  Contatar os
CONCEITUAL- casos
 Delimitar as fronteiras e COLETAR
TEÓRICA
grau de evolução OS  Registrar os
DADOS dados
 Selecionar a(s) unidade(s)  Limitar os efeitos
de análise e contatos do pesquisador
PLANEJAR  Escolher os meios para
 Produzir uma
O(S) coleta e análise dos dados
ANALISAR narrativa
CASO(S)  Desenvolver o protocolo
OS  Reduzir os dados
para coleta dos dados
DADOS  Construir painel
 Definir meios de controle
da pesquisa  Identificar
causalidade
 Testar procedimentos de
CONDUZIR aplicação  Desenhar impli-
TESTE GERAR cações teóricas
 Verificar qualidade dos dados RELATÓRIO
PILOTO  Prover estrutura p/
 Fazer os ajustes necessários
replicação

Figura 1 – Condução do Estudo de Caso.


Fonte: “Estudo de Caso na Engenharia de Produção: Estruturação e Recomendações
para sua Condução”, de P. A. C. Miguel, 2007, Produção, 17, 216-229. DOI:10.1590/
S0103-65132007000100015

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Primeiro deve ser desenvolvido um re- Os dados devem ser coletados e registrados utili-
ferencial mapeando a literatura sobre o tema. zando os instrumentos definidos no planejamen-
Além disso, a partir da revisão da literatura é to. Os registros em gravador trazem uma série de
possível identificar lacunas nas quais a pesquisa vantagens no sentido da melhoria da precisão na
pode ser justificada, bem como possibilita extrair análise posterior, porém podem inibir o entrevis-
os constructos: elementos extraídos da literatura tado. As anotações também são importantes, bem
que representam um conceito a ser verificado em como todas e quaisquer impressões e observações.
campo. A partir desses constructos, são definidas A coleta deve ser concluída à medida que a quanti-
as proposições do trabalho e respectivos objetivos. dade de dados e de informações tende a reduzir-se
No que se refere ao planejamento dos ca- e/ou quando se consideram dados suficientes para
sos, é necessário realizar a escolha da(s) unidade(s) endereçar a questão da pesquisa.
de análise, ou seja, do(s) caso(s). Num primeiro A partir do conjunto de dados coletados,
momento deve ser determinada a quantidade de considerando as múltiplas fontes de evidência, o
casos, único ou múltiplo casos (Yin, 2013), com pesquisador deve então produzir uma narrativa
vantagens e dificuldades em cada um desses tipos. geral do(s) caso(s). Em geral, é necessário fazer
Em geral, quatro a dez casos podem ser suficien- uma redução de dados (data reduction) de tal
tes (Eisenhardt, 1989). A partir da seleção do(s) forma que seja incluído na análise somente aqui-
caso(s), devem-se determinar os métodos e técni- lo que é essencial e que tem estreita ligação com
cas tanto para a coleta quanto para a análise dos os objetivos e constructos da pesquisa. Se houve
dados. Na coleta de dados, devem ser empregadas gravação das entrevistas, elas devem ser transcritas
múltiplas fontes de evidência (entrevistas, análise por completo, resultando em dados brutos, de-
documental, visitas in loco, dentre outras). Uma vendo ser feito o mais rapidamente possível para
vez escolhidas as técnicas para a coleta de dados, que os detalhes de memória (como reações) não
deve-se desenvolver um protocolo de pesquisa. A se percam. O mesmo vale para as anotações em
análise dos dados também deve ser previamente papel, que devem ser colocadas em um ou mais
planejada e explicitada no trabalho. arquivos eletrônicos. As anotações e gravações
Outra etapa prevista pelo método é a devem ser estruturadas conforme o protocolo de
condução de um teste piloto que, embora não seja pesquisa. Dados secundários também podem ser
uma prática comum na adoção de estudo de caso, utilizados, como aqueles relacionados à caracte-
é importante que seja conduzido pelo pesquisador rização do objeto de análise.
antes mesmo da coleta de dados. O objetivo é Todas as atividades das etapas anteriores
verificar os procedimentos de aplicação com base devem então ser sintetizadas em um relatório
no protocolo, visando a seu aprimoramento. A da pesquisa. Esse relatório é o gerador (isto é:
partir dessa aplicação, tem-se também condições não é sinônimo) de uma monografia (tese ou
de verificar a qualidade dos dados obtidos, visando dissertação) e/ou de artigos (para congressos ou
identificar se eles estão associados aos constructos periódicos). Sempre deve ser considerado que os
e, consequentemente, contribuem para o atendi- resultados precisam estar estreitamente relacio-
mento aos objetivos da pesquisa. nados à teoria, tomando-se o cuidado para não
Após o teste piloto e eventuais ajustes no ajustar a teoria aos resultados e evidências, mas
protocolo de pesquisa, parte-se para a coleta dos o inverso, ou seja, os resultados e as evidências
dados. Primeiramente, os casos devem ser conta- devem ser associados à teoria. Uma contribuição
tados, considerando os principais informantes que importante para entendimento do estudo de caso
estão cientes da pesquisa. Antes de ir a campo, é em relação a outras abordagens metodológicas é
importante ter uma estimativa clara do tempo a mostrada na Tabela 2.
ser despendido e dos recursos a serem consumidos.

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Tabela 2 – Tipo de abordagem de pesquisa e características

Requisitos/Características Experimento Survey Estudo de caso Pesquisa-ação


Não usual
Presença do pesquisador na coleta de dados Possível Usual Usual
Difícil
Tamanho pequeno da amostra Possível Não usual Usual Usual
Variáveis difíceis de quantificar Possível Possível Possível Possível
Mensurações perceptivas Possível Possível Possível Possível
Os constructs não são predefinidos Não usual Difícil Inadequado Possível
A casualidade é central na análise Adequado Possível Adequado Possível

Necessita construir teoria − responder a questões do tipo


Possível Difícil Adequado Possível
“como”

Necessita de entendimento profundo do processo de de-


Difícil Difícil Adequado Possível
cisão

Participação não ativa do pesquisador Possível Possível Possível Impossível

Muito Praticamente Praticamente


Controle sobre as variáveis Usual
difícil impossível impossível

Nota: Fonte: “Metodologia de pesquisa em engenharia de produção e gestão de operações,” de P. A. C. Miguel, 2012, p. 4.

Como pode ser visto na Tabela 2, cada que trabalham nessa abordagem não lidam com
um dos tipos de pesquisa apresenta requisitos di- hipóteses, mas com temas de pesquisa e desafios
ferenciados, sendo que o estudo de caso combina de cunho organizacional (Checkland & Holwell,
características interessantes para a condução da 1998). Expandindo essas colocações, Coughlan e
pesquisa e que, talvez por essa razão, seja relati- Coghlan (2002) acrescentam que a pesquisa-ação
vamente bastante difundido. Outras abordagens apresenta as seguintes características: “pesquisa
também são importantes, como a pesquisa-ação, na ação”, em vez de “pesquisa sobre a ação”, é
apresentada na sequência. participativa e simultânea à ação, resulta em uma
sequência de eventos e em uma abordagem na
2.2 Bases da pesquisa-ação busca da solução de um problema. É importante
também observar que as características apontadas
A pesquisa-ação é um trabalho de nature- anteriormente devem ser consideradas desde o
za empírica, cujas concepção e realização devem momento da concepção da pesquisa, ou seja,
ocorrer em estreita relação com a resolução de ela deve ser planejada como tal. Nesse sentido, a
um problema coletivo, no qual os pesquisadores pesquisa-ação compreende três fases principais:
e participantes representativos da situação pes- uma preliminar, um ciclo de condução e uma
quisada estão envolvidos de modo cooperativo ou meta fase, ilustradas na Figura 2. Como pode ser
participativo (Thiollent, 2009); em geral, objetiva notado, o ciclo de condução da pesquisa com-
endereçar esse problema de pesquisa em uma orga- preende seis passos principais, ao passo que a meta
nização (Eden & Huxham, 1996). Complemen- fase está presente em cada um desses seis passos.
tando, cabe ainda considerar que os pesquisadores Na sequência, são descritas essas fases.

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Contexto e
Propósito
Fase preliminar

Coleta de Dados Ciclo de


Condução

Avaliação Feedback dos Dados

Monitoramento
Meta fase
Implementação Análise dos Dados

Planejamento
da ação Fase: Seis Passos

Figura 2 – Ciclo da pesquisa-ação.


Fonte: Adaptado de “Action Research for Operations Management, ” de
P. Coughlan e D. Coghlan, 2002, International Journal of Operations &
Production Management, 22, 220-240. DOI:10.1108/01443570210417515

Conforme é ilustrado na Figura 2, o ciclo em que forem necessários. Outra observação é


global da pesquisa-ação compreende a descrição que pode existir um ciclo mais abrangente (para
das fases, definidas por Coughlan e Coghlan a pesquisa como um todo) e ciclos menores para
(2002). A primeira fase (estudo preliminar) com- partes específicas do trabalho.
preende o entendimento sobre o contexto em que A terceira (meta) fase (monitoramento)
a pesquisa será realizada (objeto de análise), bem compreende uma verificação de cada um dos
como o propósito da condução do trabalho. Essa seis passos anteriores, no sentido de identificar
fase envolve ainda o estabelecimento de justifica- qual é o aprendizado gerado na condução da
tivas para a ação requerida (razões pelas quais as pesquisa-ação. Esse monitoramento deve estar
ações devem ser conduzidas) e justificativas para presente de diferentes maneiras, conforme cada
a pesquisa em si (razões pelas quais ela deve ser passo do ciclo de condução. Do lado organizacio-
conduzida, que questões a serem endereçadas nal, pode haver o estabelecimento de um grupo di-
e qual será a contribuição gerada). A segunda retivo durante a condução da pesquisa-ação, nesse
fase (ciclo de condução pelos seis passos) inicia caso com maior interesse nos resultados práticos
com a coleta dos dados (diagnóstico e/ou dados do trabalho (Coughlan & Coghlan, 2002). Ainda
coletados quando a pesquisa já se encontra em segundos os autores citados, o pesquisador deve,
regime), feedback dos dados (para os envolvidos por outro lado, estar interessado não somente na
com a pesquisa), análise desses dados (com os operação do projeto, mas também no monitora-
envolvidos na pesquisa), planejamento da ação mento do processo de aprendizagem, que levará,
(definição da intervenção a ser feita), implemen- em última instância, a contribuição teórica desse
tação da ação (colocar em prática aquilo que foi tipo de desenvolvimento empírico.
planejado) e avaliação (verificar se os resultados
da implementação surtiram ou não os efeitos de- 2.3 Design science research
sejados), retornando para nova coleta dos dados
(caso necessário), fechando então o ciclo. É im- No que se refere à redução do gap entre
portante mencionar que esses ciclos são constantes teoria e prática, por meio de pesquisas mais rele-
e sequenciais, ou seja, são contínuos pelo período vantes, Van Aken (2004, 2005) defende a aplicação

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de pesquisas que resultem em prescrições, para mento de pesquisas para as mais diversas áreas.
além das descrições, explicações e predições. Kasanen et al. (1993) frisam que essa abordagem,
Essas pesquisas, com enfoque prescritivo, en- embora ainda pouco utilizada, pode ser adequada
contram suporte para sua condução, por meio para pesquisadores da área de gestão, por exemplo,
do emprego do método de pesquisa denominado que estão em busca de estudos mais relevantes e
design science research. úteis para a solução de problemas das organiza-
Na realidade, existe uma série de aborda- ções. Na área de gestão, em geral, e na adminis-
gens metodológicas de pesquisa. A design science tração, em particular, a Design Science Research se
research tem se apresentado como um método de mostra adequada, pois contribui diretamente para
pesquisa que dedica atenção para o desenvolvi- a diminuição da lacuna existente entre a teoria
mento de estudos que tenham como objetivo a e a prática, uma vez que esse método endereça
prescrição, o projeto e, também, a construção de problemas de interesse tanto dos profissionais
artefatos. Esse método de pesquisa tem como base presentes nas organizações, como dos acadêmicos
epistemológica a design science, conceito que se (Hughes et al., 2011).
diferencia das ciências tradicionais, por se ocupar Pode-se afirmar, dessa forma, que a Design
do artificial, ou seja, tudo aquilo que foi projetado Science Research estabelece um processo sistemáti-
e concebido pelo homem. co que tem como objetivo projetar e desenvolver
Ademais, a design science não está preo- artefatos que tenham condições de resolver pro-
cupada exclusivamente com o entendimento do blemas, mostrando-se, dessa forma, com alta rele-
problema, mas sim com as suas possíveis soluções. vância também para o campo prático. Além disso,
Por um lado, tem-se a pesquisa fundamentada no é preocupação fundamental da Design Science
paradigma da design science, cujo objetivo é proje- Research, avaliar o que foi desenvolvido, com o
tar artefatos e prescrever soluções para problemas intuito de verificar se o artefato está, de fato,
existentes, melhorando ou criando novos sistemas atingindo os objetivos à que se propõe (Çağdaş &
(Van Aken, 2004). Por outro lado, a pesquisa fun- Stubkjær, 2011). Logo, o desenvolvimento de um
damentada na ciência tradicional, estuda fenôme- artefato, per se, não é suficiente para caracterizar
nos complexos, sejam da natureza ou da sociedade, uma investigação como Design Science Research,
com o objetivo de explorar, descrever, explicar e, sendo necessário provar que o artefato realmente
se possível, predizer (Van Aken, 2004; Romme, atingiu os objetivos inicialmente propostos pelo
2003). Uma crítica que vem sendo realizada aos pesquisador.
estudos no campo da gestão é seu demasiado foco Outra característica fundamental da
em compreender os fenômenos e pouca contribui- Design Science Research é que, embora ela seja
ção para desenvolver um conhecimento que auxilie orientada à solução de problemas, ela não busca
os profissionais a resolver seus problemas (Daft & a solução ótima, mas sim a solução satisfatória
Lewin, 2008; Ford et al., 2003; Starkey & Madan, para os problemas que estão sendo estudados.
2001; Van Aken, 2005). Além disso, embora o problema endereçado seja
Nesse sentido, surge a Design Science único e específico, as soluções que são obtidas a
Research, como uma abordagem responsável partir da condução da Design Science Research de-
por operacionalizar as pesquisas que têm como vem ser passíveis de generalização para uma certa
objetivo projetar ou desenvolver um artefato, classe de problemas (Lacerda, Dresch, Proença &
ou, ainda, prescrever uma solução. Cabe ressaltar Antunes, 2013; Sein, Henfridsson, Purao, Rossi,
que a pesquisa que se fundamenta no paradigma & Lindgreen 2011; Van Aken, 2004, 2005).
da Design Science pode ocorrer tanto na esfera Essa generalização visa, essencialmente, permitir
acadêmica como também dentro das organizações que outros pesquisadores e também profissionais
(Bayazit, 2004). façam uso dos conhecimentos gerados nas pesqui-
Segundo Vaishnavi e Kuechler (2009), sas que utilizam a Design Science Research como
a Design Science Research permite o desenvolvi- método de pesquisa.

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Aliás, a generalização do conhecimento critérios estabelecidos para adequada resolução


construído a partir da condução da Design Science do problema (Holmström et al., 2009). Essas duas
Research permite, inclusive, que os pesquisadores primeiras etapas que sustentam a construção de
contribuam para a construção e aprimoramento uma teoria por meio da condução da Design Science
de teorias − não o mesmo tipo de teoria construída Research costumam ocorrer, inclusive, no âmbito
pelas ciências tradicionais, mas, principalmente, das organizações (Holmström et al., 2009). Isso
uma mid-range theory, ou teoria substantiva. posto, destaca-se que os profissionais que estão nas
Segundo Holmström, Ketokivi e Hameri organizações costumam contribuir somente nestas
(2009), o desenvolvimento de teorias a partir da duas primeiras etapas. Essa contribuição, porém,
utilização da Design Science Research pode ser di- por si mesma, não é considerada reconhecidamente
vidido em quatro etapas (Figura 3). Essas etapas científica (Holmström et al., 2009).
apresentam, brevemente, o processo de construção A terceira etapa que compõe o desenvolvi-
de uma teoria, desde sua origem até a etapa de mento de teorias baseadas na Design Science é chama-
ideias iniciais, transformando-as em teorias mais da “teoria substantiva”, ou ainda Mid-range Theory.
simplificadas e, por fim, em teorias formais. Essa etapa, segundo Holmström et al. (2009), tem
o propósito de buscar relevância, não somente do
ponto de vista prático, mas também acadêmico, para
o conhecimento gerado na primeira e na segunda
etapa. Nessa etapa podem ser executadas atividades
Teoria
Incubação da Refinamento Substantiva
Teoria Formal
como a avaliação do artefato sob a ótica da teoria e
Solução da Solução (Mid-range
theories) não da prática (Holmström et al., 2009).
É válido frisar que as mid-range theories
são dependentes do contexto em que as soluções
foram desenvolvidas, portanto não podem ser
FIGuRA 3 – Fases para desenvolvimento de consideradas teorias gerais. Ou seja, uma mid-
teorias. -range theory não pretende generalizar para todos
os contextos, mas sim generalizar conceitos
Fonte: Adaptado de “Bridging Practice and Theory: A
teóricos que possam, inclusive, contribuir com o
Design Science Approach”, de J. Holmström, M. Ketokivi
e A.-P. Hameri, 2009, Decision Sciences, 40, 65-88. tópico de interesse de determinados programas
de pesquisa (Holmström et al., 2009).
Como se pode observar na Figura 3, a Por fim, a quarta etapa referente ao de-
primeira etapa para o desenvolvimento de uma senvolvimento de teorias por meio da condução
da Design Science Research corresponde à “teoria
teoria, baseada na Design Science, é a “incubação
formal”, que se ocupa do desenvolvimento de teo-
da solução”. Essa primeira etapa objetiva mate-
rias que podem ser empregadas independente do
rializar um framework que represente, de maneira
contexto (Holmström et al., 2009). Nessa última
adequada, o problema que está sendo estudado
etapa, ainda conforme os autores previamente ci-
(Holmström et al., 2009). A partir desse frame-
tados, a contribuição científica é mais importante
work, o pesquisador deverá ter condições de suge-
do que a relevância prática. Além disso, as teorias
rir possíveis soluções para o problema em questão
formais costumam ser passíveis de generalização.
(Holmström et al., 2009). Essas sugestões, quando
Tendo em vista os conceitos centrais
formalizadas, permitem a sua implementação ao
apresentados até o momento, destaca-se que, para
nível piloto (Holmström et al., 2009).
obter uma adequada contribuição, tanto teórica
A segunda etapa é denominada “refina-
quanto prática, os pesquisadores que fazem uso da
mento da solução”. Durante o refinamento, as
Design Science Research como método de pesquisa
soluções desenvolvidas anteriormente são testadas devem considerar alguns elementos essenciais.
em um ambiente real, com o intuito de verificar Esses elementos são brevemente apresentados na
se a solução proposta pelo pesquisador atende os Figura 4.

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Problema • O problema deve ser relevante e formalmente explicitado

• O pesquisador deve evidenciar que ainda não existe uma solução para o
problema em questão
Solução • O pesquisador deve propor soluções satisfatórias, não necessariamente
ótimas

• O artefato que será utilizado para resolver o problema, deve ser


Desenvolvimento devidamente desenvolvido

• Todo artefato deve ser avaliado a fim de verificar se ele atende às


Avaliação especificações pré-determinadas (utilidade e viabilidade)

• É fundamental que a pesquisa possa contribuir para o avanço do


Agregação de valor conhecimento e para melhorar os sistemas organizacionais

• O pesquisador deverá comunicar “o que” foi feito na pesquisa, assim


Comunicação como o “como” foi realizado
• Devem ser explicitadas, ainda, as implicações da pesquisa

FIGuRA 4 – Elementos essenciais para a adequada condução da Design Science Research.


Fonte: Adaptado de “Design Science in the Information Systems Discipline: An Introduction to the
Special Issue on Design Science Research”, de S. T. March e V. C. Storey, 2008, MIS Quaterly, 32,
725-730.

O primeiro elemento apontado por March a fim de demonstrar sua validade, tanto prática
e Storey (2008) e que deve ser considerado pelos quanto acadêmica (March & Storey, 2008).
pesquisadores que conduzirão a Design Science Outro elemento que March e Storey
Research é a formalização de um problema que (2008) citam como fundamental para uma ade-
seja verdadeiramente relevante. O segundo ele- quada condução da Design Science Research é que
mento para a adequada condução da pesquisa a pesquisa deve agregar valor ao conhecimento
fundamentada no paradigma da Design Science teórico existente (contribuindo para o avanço do
mostra que o pesquisador deve evidenciar que conhecimento geral), e também para a melhoria
ainda não existem soluções adequadas para re- das situações práticas nas organizações. Por fim,
solver o problema de interesse (March & Storey, é recomendado que os pesquisadores, ao concluí-
2008), justificando, dessa forma, a importância rem suas atividades, apresentem as implicações de
da pesquisa que deseja realizar. seus resultados para o campo prático (March &
Um terceiro elemento apresentado por Storey, 2008).
March e Storey (2008) refere-se ao desenvolvi- Tendo sido apresentadas as principais
mento de um novo artefato que possa ser utilizado características relativas à Design Science Research,
para solucionar o problema de interesse. O quarto serão expostas agora as principais etapas recomen-
ponto enfatizado pelos autores previamente cita- dadas para a adequada condução desse método.
dos refere-se à avaliação dos artefatos desenvol- Para atender a esse objetivo, a Figura 5 apresenta
vidos. Essa avaliação deve ser feita considerando estas etapas:
aspectos da utilidade e viabilidade do artefato,

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Figura 5 – Principais etapas para a condução da Design Science


Research
Fonte: “Design Research in Information Systems”, de V. Vaishnavi e W. Kuechler,
2009. Retirado de <http://desrist.org/design-research-in-information-systems>.

O objetivo da Figura 5 é apresentar os a etapa seguinte: o desenvolvimento. Destaca-se


principais passos a serem seguidos para a condu- que a etapa de sugestão é essencialmente criativa
ção da Design Science Research, bem como os (Manson, 2006) e, por consequência, um tanto
principais entregáveis de cada uma das etapas. A quanto subjetiva. Por isso, é recomendado que
primeira etapa do método consiste na conscienti- protocolos sejam desenvolvidos, a fim de assegurar
zação do problema. Nessa etapa, além de identifi- a validade interna da pesquisa. Esses protocolos
car claramente o problema de interesse, que acima deverão apontar as escolhas dos pesquisadores,
de tudo deve ser relevante, o pesquisador deve bem como as justificativas para essas escolhas.
procurar compreender o problema amplamente, Na etapa de sugestão, alguns dos conceitos
a fim de identificar todas as suas facetas e possíveis apresentados por Simon (1996) no que tange à
inter-relações com o contexto em que está inserido Design Science devem ser considerados. Dentre
(Takeda, Veerkamp, Tomiyama & Yoshikawa, eles, destaca-se que há uma diferença entre uma
1990; Vaishnavi & Kuechler, 2009). Os principais solução ótima e uma solução satisfatória. Assim,
entregáveis dessa etapa se referem à formalização “uma decisão ótima em um modelo simplificado
do problema, suas fronteiras (ambiente externo só raramente será ótima no mundo real. O toma-
ao problema) e, também, quais são as soluções dor de decisão pode escolher entre decisões ótimas
consideradas satisfatórias para esse problema. em um mundo simplificado ou decisões (sufi-
Na segunda etapa − a sugestão −, devem cientemente boas) que o satisfazem, num mundo
ser explicitadas uma ou mais alternativas de ar- mais próximo da realidade” (Simon, 1996, p. 65).
tefato para solucionar o problema em questão Partindo-se desse conceito, ao longo da condução
(Manson, 2006). Dessa forma, essa etapa resulta da Design Science Research o pesquisador deve bus-
em um conjunto de possíveis artefatos, bem car soluções satisfatórias e que sejam devidamente
como na seleção de um deles para seguirem para viáveis. Para alcançar esse objetivo, os critérios de

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aceitação das soluções devem ser estabelecidos a deste ensaio. Essa análise mostra-se adequada para
priori, pelo pesquisador e/ou equipe envolvida na pesquisas da área de gestão, em geral, e em gestão
investigação (Hevner et al., 2004). de operações, em particular, pois pode apoiar
A terceira grande etapa para a condução os pesquisadores a definirem o enquadramento
da Design Science Research diz respeito ao desen- metodológico mais adequado para atender aos
volvimento do artefato em si (Manson, 2006). É objetivos de suas investigações.
Destaca-se que o enquadramento metodo-
justamente nessa etapa que o pesquisador constrói
lógico de uma pesquisa não deve ser considerado
o ambiente interno do artefato (Simon, 1996). Para
um ato burocrático (Lacerda et al., 2013). Pelo
construir o artefato, diferentes abordagens podem
contrário, deve ser visto como um instrumento
ser utilizadas, como algoritmos, modelos gráficos, de apoio ao pesquisador na condução de uma
maquetes etc. (Lacerda et al., 2013). O produto da pesquisa rigorosa e, também, relevante. Alguns
etapa de desenvolvimento será o próprio artefato pesquisadores, no entanto, no ímpeto por terem
em seu estado funcional (Manson, 2006). seus estudos aceitos pela comunidade científica,
A quarta etapa da Design Science Research acabam por forçar alguns enquadramentos. É o
abrange a avaliação do artefato desenvolvido. caso, por exemplo, do uso inapropriado, por parte
A avaliação visa, justamente, verificar como o de alguns pesquisadores, da expressão “estudo de
artefato se comporta no ambiente para o qual foi caso”, identificada por Berto e Nakano (2000). É
projetado, verificando a sua capacidade de atender comum que estudos que fazem coleta de dados
ao objetivo a que se propôs (Lacerda et al., 2013). em uma única organização a fim de aplicar ou
avaliar métodos e modelos e mesmo solucionar
Além disso, a etapa de avaliação deve considerar
problemas, por exemplo, enquadrem sua pesquisa
fortemente a validade pragmática do artefato. Isto
como estudo de caso (Berto & Nakano, 2000).
é, se o artefato desenvolvido realmente atende às
Podem haver, ainda, estudos que, simplesmente
demandas de utilidade referentes à sua aplicação por fazerem coleta de dados em empresas, mesmo
no ambiente externo ao qual foi destinado. sem atender aos requerimentos de profundidade
A etapa de conclusão, por sua vez, refere-se de estudos de caso, os enquadrem como tal (Berto
à formalização de todo o processo de pesquisa. & Nakano, 2000).
Nessa etapa devem ser sintetizadas todas as etapas É importante, assim, refletir sobre que ou-
da pesquisa, detalhando seu processo de condução tros métodos poderiam abrigar esse tipo de pesqui-
e justificando as escolhas realizadas pelo investi- sa (Lacerda et al., 2013), pois sabe-se que, como
gador (Lacerda et al., 2013). estudo de caso, o enquadramento seria um tanto
Por fim, a última etapa, a comunicação, quanto inadequado, segundo o entendimento de
proposta por Peffers, Tuunanen, Rothenberger & diversos autores que debatem o tema (Berto &
Chatterjee (2007), visa apresentar os resultados Nakano, 2000; Eisenhardt, 1989; Ellram, 1996;
Miguel, 2007; Voss et al., 2002; Yin, 2013).
da pesquisa para a comunidade, tanto acadêmica
Alguns pesquisadores, no entanto, pode-
como organizacional. Essa comunicação é funda-
riam propor que esses estudos, que têm algum tipo
mental para o avanço do conhecimento das áreas de
de intervenção em uma organização, tratam-se de
estudo. A seguir, é apresentada uma análise que sin- uma pesquisa-ação, por exemplo. Isso poderia ocor-
tetiza algumas características importantes dos três rer uma vez que a pesquisa-ação requer uma intera-
métodos de pesquisa anteriormente apresentados. ção direta entre os pesquisadores e os participantes
dessa pesquisa (Coughlan & Coghlan, 2002). É
importante, contudo, avaliar se isso é suficiente
3 Caracterização dos métodos para enquadrar um estudo como pesquisa-ação.
de pesquisa: uma visão analítica Tendo em vista as características de cada
um dos métodos de pesquisa abordados pelo
O quadro analítico apresentado a seguir presente trabalho, é possível verificar que todos
busca explicitar as principais características dos eles são adequados para endereçar os problemas
métodos de pesquisa apresentados ao longo enfrentados pelos pesquisadores da área de

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Uma Análise Distintiva entre o Estudo de Caso, A Pesquisa-Ação e a Design Science Research

gestão de operações, de maneira geral. No en- ser visualizadas no que tange os objetivos que
tanto, cabe destacar algumas questões centrais cada um dos métodos pode alcançar, o papel do
acerca desses métodos. pesquisador, a necessidade ou não de uma base
Nesse sentido, a Tabela 3 apresenta uma empírica (Lacerda et al., 2013) e, também, a
possível contribuição que visa, acima de tudo, possibilidade de generalização do conhecimento
evidenciar algumas diferenças e similaridades construído (Dresch, 2013, Dresch, Lacerda &
entre os métodos de pesquisa aqui abordados. Antunes, 2015).
Destaca-se que as principais diferenças podem

Tabela 3 – Características do estudo de caso, pesquisa-ação e Design Science Research

Características Estudo de Caso Pesquisa-ação Design Science Research


Paradigma Ciências tradicionais Ciências tradicionais
Design Science Research
epistemológico (natural e social) (natural e social)
Desenvolver artefatos que
Resolver ou explicar problemas
Auxiliar na compreensão permitam soluções satisfatórias
de um sistema gerando
de fenômenos complexos. aos problemas práticos.
Objetivos que podem conhecimento tanto para a
Testar ou criar teorias Contribuir para a construção de teorias
ser alcançados prática, quanto para a teoria
(mid-range theories)
Explorar, descrever, expli- Explorar, descrever,
Projetar e prescrever
car e predizer explicar e predizer
Definir o problema
Definir estrutura conceitual Planejar a ação
Sugerir
Planejar o(s) caso(s) Coletar dados
Principais atividades Desenvolver
Conduzir piloto Analisar dados e Planejar ações
previstas para a a Avaliar
Coletar dados Implementar ações
dequada condução Concluir
Analisar dados Avaliar resultados
da pesquisa Comunicar
Gerar relatório Monitorar (contínuo)
Manson (2006), Peffers et al. (2007), Takeda et al.
(Cauchick Miguel, 2007) (Turrioni e Mello, 2012)
(1990), Vaishnavi e Kuechler (2009)
Constructos Constructos
Hipóteses Hipóteses
Resultados Artefatos (Constructos, Modelos, Métodos,
Proposições Descrições
da pesquisa Instanciações, Design Propositions)
Descrições Explicações
Explicações Ações
Conhecimento Sobre como as coisas são Sobre como as coisas são ou
Sobre como as coisas deveriam ser
gerado ou como se comportam como se comportam
Múltiplo, em função do tipo
Papel do Pesquisador Observador Construtor e/ou avaliador do artefato
de pesquisa-ação
Colaboração entre
Não obrigatória Obrigatória Não obrigatória
pesquisador-pesquisado
Base empírica Obrigatória Obrigatória Não obrigatória
Implementação Não se aplica Obrigatória Não obrigatória
Avaliação dos
Aplicações, simulações, experimentos
resultados obtidos Confronto com a teoria Confronto com a teoria
com o artefato
pela pesquisa
Natureza dos dados Pode ser qualitativa e/ou
Normalmente qualitativa Normalmente qualitativa
(coleta/análise) quantitativa
Especificidade dos Generalizável a uma determinada
Situação específica Situação específica
resultados da pesquisa classe de problemas

Nota. Adaptado de “Design Science Research: A Method for Science and Technology Advancement”, de A. Dresch, D. P.
Lacerda e J. A. V. Antunes Jr., 2015; e “Design Science Research: A Research Method to Production Engineering”, de D.
P. Lacerda, A. Dresch, A. Proença e J. A. V. Antunes Jr., 2013, Gestão & Produção, 20(4), 741-761.

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Aline Dresch / Daniel Pacheco Lacerda / Paulo Augusto Cauchick Miguel

Além das principais diferenças explicitadas profunda e detalhadamente como a pesquisa foi
anteriormente, pode-se destacar também a distin- realizada, de justificar as decisões de condução
ção entre o paradigma epistemológico a que cada adotadas e, principalmente, de replicar o estudo
um dos métodos se submete. O estudo de caso e a posteriormente. Em segundo lugar, alguns pesqui-
pesquisa-ação se submetem, tradicionalmente, às sadores não consideram a relevância dos estudos
ciências naturais e sociais, ao passo que a Design com peso equivalente ao rigor da pesquisa. A
Science Research submete-se ao paradigma das questão da relevância obtém especial destaque ao
ciências do artificial, ou seja, à Design Science. se tratar de estudos na área de gestão, uma vez
Ademais, os objetivos que podem ser al- que o conhecimento gerado deve ter, para além
cançados por meio da aplicação de cada um dos das implicações teóricas, repercussões práticas.
Como foi discutido, é possível buscar o
métodos expostos na Tabela 3 diferem entre si. O
aumento da relevância dos estudos da área de ges-
estudo de caso e a pesquisa-ação permitem explo-
tão por meio da aplicação de métodos de pesquisa
rar, descrever, explicar e eventualmente predizer
fundamentados no paradigma da Design Science
acerca de um determinado fenômeno, ao passo
− seja pela aplicação de métodos como a Design
que a Design Science Research visa, essencialmente,
Science Research ou, ainda, do próprio estudo de
prescrever soluções ou projetar artefatos. No en-
caso e da pesquisa ação sob um paradigma dife-
tanto, de acordo com os fins da pesquisa, não se rente daquele tradicionalmente utilizado (funda-
descarta a possibilidade de utilizar os métodos de mentado nas ciências tradicionais). Sabe-se que o
pesquisa tradicionais sob o paradigma da Design estudo de caso é uma abordagem metodológica
Science. Existem autores, como Sein et al. (2011), que se destaca em número de aplicações no que
que propõem a integração entre a pesquisa-ação tange às pesquisas nas áreas de gestão de operações
e a Design Science Research em um método deno- e administração. Dessa forma, constitui-se uma
minado por eles Action Design Research. oportunidade para pesquisas futuras a condução
É possível afirmar, ainda, que a pesquisa- de estudos de caso ou de pesquisa-ações a partir
ação, quando aplicada sob o paradigma da Design do paradigma da Design Science. Isso pode ocor-
Science, pode contribuir para a construção de rer seja pela formalização de artefatos existentes
artefatos. Isso pode ser útil em casos em que o (estudos de caso) ou pela construção colaborativa
desenvolvimento do artefato seja dependente da com os profissionais (pesquisa-ação).
interação dos envolvidos na pesquisa, ou então em Procurou-se então contribuir para o incre-
que a avaliação só possa ser realizada no contexto mento do repertório de métodos de pesquisa que
da organização e com a participação das pessoas podem ser utilizados por pesquisadores da área
do ambiente que está sendo investigado. de gestão de operações. Há que se reconhecer a
carência de maiores e mais profundas discussões
acerca da possibilidade da aplicação desses méto-
dos sob um paradigma científico complementar
4 Conclusões
ao tradicional. São necessários, portanto, estudos
para verificar, principalmente na prática, a possi-
Este artigo procurou apresentar alter-
bilidade da utilização de métodos como o estudo
nativas de métodos de pesquisa que podem ser
de caso e a pesquisa ação sob o paradigma da
aplicados para a condução de investigações na
Design Science.
área de gestão, em geral, e gestão de operações, Outra possibilidade que se afigura apro-
em particular. Alguns pesquisadores, no ímpeto priada no que tange aos estudos da área de gestão
de classificarem suas pesquisas para buscar um é a própria utilização da Design Science Research
maior reconhecimento da academia, deixam de como método de pesquisa que se apoie na con-
lado duas questões centrais. Primeiro, as aborda- dução de investigações que visem ao projeto e ao
gens de pesquisa apenas orientam a construção desenvolvimento de novos artefatos. Por exemplo,
do método de trabalho. Pela falta do método de a ferramenta Canvas foi desenvolvida a partir da
trabalho, há uma dificuldade de compreender Design Science e da Design Science Research, sendo

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Uma Análise Distintiva entre o Estudo de Caso, A Pesquisa-Ação e a Design Science Research

utilizada pelas organizações. Poucos trabalhos que que possa ser acessado por outros pesquisadores
se ocupam da aplicação desse método podem ser e mesmo por profissionais que se interessem pelo
identificados e, por enquanto, concentram-se, ain- tema. Essa facilidade de acesso dos profissionais
da, no formato de teses e dissertações. Novamente, aumentaria, sobremaneira, a possibilidade de
há uma importante necessidade de pesquisas aplicação prática daqueles conhecimentos gerados
conduzidas sob essa orientação e publicadas nos pela academia. A utilização da evidence-based ma-
periódicos nacionais. nagement poderia ser uma forma de sistematizar
Por fim, há outras possiblidades a serem e organizar o conhecimento de uma área − a de
exploradas e que podem ser consideradas em ter- gestão, por exemplo.
mos de uma agenda de pesquisas futuras. A refle-
xão sobre a ontologia, a epistemologia em Design
Science e Design Science Research ainda é incipiente Referências
na comunidade nacional e internacional. Outro
aspecto que merece atenção e se configura uma Bayazit, N. (2004). Investigating design: A review
oportunidade de pesquisa é a análise das aplicações of forty years of design research. Massachusetts
dos métodos de pesquisa abordados. É necessária Institute of Technology: Design Issues, 20(1), 16-29.
uma avaliação crítica sobre como a comunidade
acadêmica vem utilizando adequadamente, ou Berto, R. M. V. S., & Nakano, D. N. (2000).
não, à luz do rigor e do que esses métodos de A produção científica nos anais do encontro
pesquisa (estudo de caso, pesquisa-ação e Design nacional de engenharia de produção: Um
Science Research) prescrevem. Nesse sentido, um levantamento de métodos e tipos de pesquisa.
estudo sobre as pesquisas que utilizaram a Design Produção, 9(2), 65-76.
Science Research pode ser a mais premente possi-
bilidade para evitar a acumulação de utilizações Burgoyne, J., & James, K. T. (2006). Towards
inadequadas ao longo do seu desenvolvimento, Best or better practice in corporate leadership
considerando haver um reduzido universo de development: Operational issues in mode 2
pesquisas. Caberia, ainda, uma avaliação crítica and design science research. British Journal of
sobre a adequabilidade, ou não, da Design Action Management, 17(4), 303-316. doi:10.1111/
Research para o campo da gestão e da gestão de j.1467-8551.2005.00468.x
operações. De fato, há diversos direcionamentos
Çağdaş, V., & Stubkjær, E. (2011). Design
e esforços de pesquisas adicionais necessários para
research for cadastral systems. Computers,
incrementar o repertório de métodos de pesquisa
Environment and Urban Systems, 35(1), 77-87.
para a comunidade acadêmica.
doi:10.1016/j.compenvurbsys.2010.07.003
É necessário, para a consolidação do
conhecimento da área de gestão, que esse conhe- Checkland, P., & Holwell, S. (1998). Action
cimento gerado, tanto na academia quanto na research: Its nature and validity. Systems Practice
prática, seja adequadamente comunicado para and Action Research, 11(1), 9-21.
todas as comunidades. Sabe-se que esse é um
desafio significativo, mas em uma área, na qual Cole, R., Purao, S., Rossi, M., & Sein, M.
relevância é ponto chave, em que é necessário que K. (2005). Being proactive: Where action
haja uma desfragmentação do conhecimento. Essa research meets design research. Proceedings of the
fragmentação, inclusive, contribui para o aumento International Conference on Information Systems,
da lacuna que existe pela falta de interação entre Las Vegas, NV, USA, 26.
pesquisadores e profissionais nas organizações.
Ou seja: além da preocupação com o au- Coughlan, P., & Coghlan, D. (2002). Action research
mento da relevância das pesquisas realizadas na for operations management. International Journal
academia, o conhecimento gerado deve, também, of Operations & Production Management, 22(2),
ser adequadamente sistematizado de maneira 220-240. doi:10.1108/01443570210417515

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