Seminário Impacto Desastre Brumadinho
Seminário Impacto Desastre Brumadinho
Seminário Impacto Desastre Brumadinho
CONSEQUÊNCIAS?
Rafael Henrique da Silva¹
William Zenon²
RESUMO
O município de Brumadinho (MG) tinha como principal atividade econômica a mineração, até o
rompimento da barragem de minério de ferro em janeiro de 2019. Este desastre ambiental
ocasionado pela mineradora Vale, traz reflexões das consequências da atividade extrativista que
podem ser incalculáveis e de difícil reversão tanto para o ambiente quanto para a população
atingida. O pânico causado por esse acontecimento pode se estender por décadas na vida das
pessoas. Por isso, o objetivo deste estudo foi abordar as consequências trazidas pelo rompimento
da barragem de Brumadinho e refletir sobre quais delas são passiveis ou não de reparação a ponto
de retomar o marco zero do acontecimento. Para isso foi realizada uma pesquisa bibliográfica
utilizando como base de dados o Google Acadêmico. Ao fim, concluiu-se que a legislação
ambiental é clara com relação a desastres ambientais cabendo ao Estado, não só a regulamentação
e regulação como também a fiscalização. De tal forma que, as ações de prevenção e vigilância são
significativas e de fundamental importância, já que muitas consequências de desastres ambientais
são irreparáveis, como o dano à saúde mental das vítimas.
1. INTRODUÇÃO
irreversíveis, uma vez que, além da perda de renda, fonte de emprego e moradia, ainda existem as
perdas fatais de amigos, parentes e colegas de trabalho. Diversos estudiosos da área de saúde
pública tem avaliado o impacto na saúde mental dos afetados após o rompimento da barragem e os
dados são alarmantes. Dados da Secretaria Municipal de Saúde de Brumadinho mostraram um
aumento de 80% no consumo de ansiolíticos e de 60% no uso de antidepressivos (CPI, 2019). Os
dados de registro das ações ambulatoriais de saúde demonstram aumento de episódios depressivos
em 151%, reações ao estresse grave apresentaram aumento de 1.272% em 2019 em comparação
com o ano anterior.
Portanto, esta pesquisa busca elucidar a seguinte questão: é possível reparar as
consequências de um desastre ambiental, como o de Brumadinho? O objetivo do trabalho é tratar a
importância da prevenção, vigilância e segurança de desastres ambientais, assim como também
entender o terrorismo vivido pelos atingidos. Utilizando este termo fora do que é usualmente
utilizado, esta pesquisa bibliográfica identifica a existência dos instrumentos de precaução e
ressalta a importância de respeitá-los, pois a partir do momento em que ocorre o desastre, as
medidas de reparação podem não ser suficientes para muitas famílias.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Embora o desastre em Mariana tenha sido considerado o maior acidente mundial com
barragens nos últimos 100 anos, o número de mortes em Brumadinho (MG) foi 14 vezes maior
(270 mortos e 9 desaparecidos), caracterizando-o como o maior em termos sociais e humanitários.
Ambos esses acontecimentos acarrecataram em diversos impactos, como a contaminação de rios e
mares pela lama, morte de milhares de espécies marinhas, soterramento de nascentes, pessoas e
construções civis, destruição da vegetação, comprometimento do solo, entre outros. A destruição,
tem em comum nestes eventos, não se limitar somente a perdas familiares, mortes, mas todo uma
leva de patrimônios culturais, histórias, lembranças, contaminações que perduraram por muitos
longos anos, por conta dos rejeitos tóxicos presentes na lama (SILVA et al., 2020).
Com relação à barragem da Mina do Córrego do Feijão no município de Brumadinho/MG,
algumas comunidades foram profundamente atingidas com a contaminação da água, como
populações indígenas e quilombolas, afetou também comunidades ribeirinhas de pescadores e
todos envolvidos com a Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (SILVA; SANT’ANNA, 2021).
Além desta grande devastação ambiental, ocorreram também diversos problemas no âmbito da
saúde para a população.
Segundo Noal et al. (2019), reações imediatas, que iniciam no marco zero de um desastre e
duram em torno de 72h, tendem a ser intensas, abruptas, imprevisíveis e incontroláveis para
aqueles que o vivenciam ou testemunham, bem como provocam sentimentos intensos de medo e
horror. Ainda segundo estes autores, após as primeiras 72h até o fim do primeiro mês do ocorrido,
as reações psicológicas mais frequentes expressas pela população usuária do SUS municipal foram:
tristeza, choro frequente, humor deprimido, pesar, ansiedade, medo, irritabilidade, raiva, culpa,
desorientação, reações de dissociação, crises de ansiedade, pânico, labilidade emocional e
tentativas de suicídio. Além das reações físicas recorrentes: cansaço intenso, perda de apetite,
insônia e dores inespecíficas O que observa-se deste quadro é que ainda que a maior parte da
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população afetada não venha a desencadear transtornos psicopatológicos a médio e longo prazos, o
número de pessoas que demandarão atenção psicossocial e saúde mental pode chegar a centenas.
Segundo Mayorga (2020) existem indicadores das equipes de saúde mental dos municípios
impactados pelo desastre de que houve aumento do alcoolismo e uso de drogas, de todos os tipos
de violência (em especial a doméstica), depressão, suicídios e tentativas, alguns surtos psicóticos,
bem como efeitos psicossomáticos, tais como pressão alta, crises alérgicas, problemas
respiratórios, de pele e outros, relacionados ou não à contaminação. Diante deste cenário, pode-se
observar que os ações para evitar um desastre ambiental deveriam ter maior relevância e serem
realmente respeitadas, pois após ocorrido o dano, nada nem ninguém será o mesmo. As
indenizações ajudam as pessoas a reconstruírem suas vidas, embora o estrago psicológico possa
perdurar anos. Já com relação a natureza, os prejuízos são incalculáveis e de difícil reversão.
A prevenção e vigilância de desastres ambientais tem respaldo no Direito Ambiental, com
instrumentos como a Politica Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que em seu art. 9º aborda o
Licenciamento ambiental (BRASIL, 1981), cujo objetivo é impor limites e controle da degradação
ambiental. Este licenciamento abarca a concessão de uma licença prévia, uma licença de instalação
e uma licença de operação, sendo necessário um estudo técnico ambiental prévio, para gerar um
relatório que servirá para a decisão da concessão ou não da licença. Documentos estes que foram
concedidos em 2018 pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas
Gerais. De tal forma que, a preservação ambiental perpassa por ordenamento jurídico robusto que
não foi devidamento utilizado e respeitado.
Tanto a barragem rompida em Mariana, quanta a de Brumadinho, foram construídas pelo
método de Alteamento a Montante. Este método amplamente utilizado desde a década de 70 por
seu menor custo, foi caracterizado pela Agência Nacional de Mineração como o mais obsoleto e de
maior risco ao meio ambiente e à vida (SILVA; SANT’ANNA, 2021). A resolução nº 4 da
Agência Nacional de Meio Ambiente estabeleceu o fim da construção das barragens por esse
método e como instrumento de vigilância apresenta ainda que 2018 barragens de mineração no
Brasil apresentam alto potencial de risco e alto potencial de mau funcionamento. Uma medida de
prevenção, vigilância e segurança adotada internacionalmente é medir o quão aceitáveis são os
riscos de uma barragem se romper. Na figura 2 são apresentadas as oito barragens mineiras com
risco severo de se romper, segundo o Ministerio Público mineiro.
3. METODOLOGIA
O estudo tem como base a pesquisa qualitativa, de natureza exploratória, realizada por meio
da análise de materiais bibliográficos. Nesta pesquisa bibliográfica, teve-se como base a busca de
autores que dissertaram sobre o tema de interesse, a fim de fundamentar a discussão do arcabouço
teórico. Para o levantamento bibliográfico, foi utilizado como base de dados o Google Acadêmico
utilizando palavras-chave como “Brumadinho”, “desastre ambiental” e “consequências”. A análise
de todos esses componentes se deu a partir da leitura crítica e dentre os diversos textos lidos, foram
selecionados os textos mais pertinentes para o artigo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O desastre apresenta três fases principais, são elas o antes, o durante e o depois do evento.
Segundo Araújo (2012) as etapas têm uma sequência clínica que está inter-relacionada, e requerem
atuação e intervenção diferentes. Antes do desastre acontecer, as ações são de prevenção,
mitigação, preparo e alerta. Já durante o desastre, a atuação é de resposta imediata durante todo o
período de emergência, sendo que nessa etapa destaca-se o papel da Defesa Civil, dos Bombeiros e
Militares. E por fim, o momento de pós desastre que engloba ações de reabilitação, reconstrução,
reparação e revitalização. Esta última, muitas vezes, amparada pelo Sistema Único de Saúde.
Desastres como os rompimentos de barragem de mineração são responsáveis por produzir
novos riscos ambientais e à saúde. Seus efeitos, apesar de serem percebidos com maior intensidade
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no curto prazo, evidenciam situações ou fatores de riscos com sérias, profundas e duradouras
consequências humanas, ambientais e socioeconômicas em médio e longo prazo (SILVA et al.,
2020). O que se pode observar, portanto, é que o Estado não deve se ausentar do seu papel no que
se refere à fiscalização do cumprimento de leis e prevenção de riscos. Embora as empresas sejam
responsabilizadas judicialmente e financeiramente após um desastre ambiental, todo o ônus do
acontecimento recai sobre a infraestrutura municipal, a população e os serviços prestados pelo
município, ao longo do tempo. O pânico causado por esses acontecimentos traz o sentimento de
terror, que pode permanecer por muito tempo e de diversas formas na vida dos atingidos. Por isso,
a reparação das consequências deve ser a última opção a ser adotada pelas empresas e pelo Estado,
pois mesmo que efetiva, não assegura a retomada da vida como era antes.
5. CONCLUSÃO
Ao retomar a explicação de que o terrorista é sempre visto a partir da visão do outro e que o
pânico surge a partir de um problema social, os conceitos de terrorismo e pânico, apresentados
neste estudo, foram associados aos efeitos psicológicos acometidos nas populações vítimas de
desastres ambientais. De tal forma que, o terrorismo do desastre ambiental causado pelas empresas
mineradoras levou a uma forte insegurança, tanto social quanto ambiental.
É de competência exclusiva do Estado a concessão de licenças ambientais, e cabe também a
ele o dever de fiscalização, uma vez que seja autorizada a execução de determinada atividade em
seu território. Sendo assim, a falta de participação ativa do Estado na fiscalização das atividades
dessas mineradoras é grave. Ao possuir dois desastres ambientais e humanos de grande porte em
seu currículo, o Brasil e, principalmente, o Estado de Minas Gerais, devem adotar rigorosas e
efetivas medidas de acompanhamento e de fiscalização.
Portanto, os desastres da Samarco, em Mariana, e da Vale, em Brumadinho envolvem
inúmeras incertezas para a ciência e para a gestão pública, exigindo políticas e ações que sejam
baseadas no princípio da precaução e que protejam as populações de risco. A saúde e a vida das
pessoas não pode ser relativizada e sobreposta pelos interesses das empresas. A partir da
ocorrência dos desastres, as vulnerabilidades preexistentes da população são somadas aos novos
cenários de riscos, produzindo contextos extremamente complexos em relação às consequências
ambientais e sobre a saúde, combinadas com diferentes níveis de incertezas.
REFERÊNCIAS
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