IHUOnline Edicao 551
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Modernismos
A fratura entre a
modernidade artística e social no Brasil
ENTREVISTAS
Eduardo Sterzi
Veronica Stigger
Rafael Cardoso
Daiara Tukano
Denilson Baniwa
Gustavo Caboco
Marília Librandi
Deivison Campos
Sergio Micelli
EDITORIAL
MODERNISMOS
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METAVERSO
Sumário
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TEMA DE CAPA
C
omo diria Jorge Luiz Borges, recordado por Eduardo Ster-
zi nesta entrevista, “o tango não deve ser importante; sua
única importância é a que lhe damos”. O que o escritor e
poeta argentino nos inspira e provoca é sobre como os fatos his-
tóricos ligados à cultura de um país, de um povo, de um grupo,
repousam sobre uma dialética que se assenta e constrói com os
cacos do tempo, a um gosto bastante benjaminiano.
“Eu acrescentaria [à frase de Borges]: sobretudo às coisas da
cultura, essas coisas a um só tempo tão importantes (definem a pró-
pria existência, ou possibilidade de existência, de um povo como tal) e tão
desimportantes (desimportância de que dá testemunho o desprezo constante
pelas artes e pela cultura, desprezo que só se acentua, mas está longe de começar
aqui, em fases de colapso da democracia, como o que estamos vivendo no Bra-
sil pelo menos desde o golpe de 2016). Em resumo: ‘Historicamente, a Semana
não deve ser importante; sua única importância é a que lhe damos’. O problema
― para os inimigos da cultura, mesmo para aqueles infiltrados nas trincheiras
artístico-culturais (e há tantos) ― é que o sujeito implícito deste ato de dar impor-
tância é vasto no tempo e no espaço”, provoca Eduardo Sterzi, em entrevista por
e-mail, juntamente com Veronica Stigger, à revista IHU On-Line.
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A “Semana”, grafada desta forma sintética, mas que nós, tão acostumados
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Confira a entrevista.
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1 Walter Benjamin (1892-1940): filósofo alemão. Foi refugiado judeu e, diante da perspectiva de ser cap-
turado pelos nazistas, preferiu o suicídio. Associado à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica, foi fortemente
inspirado tanto por autores marxistas, como Bertolt Brecht, como pelo místico judaico Gershom Scholem.
Conhecedor profundo da língua e cultura francesas, traduziu para o alemão importantes obras como Qua-
dros parisienses, de Charles Baudelaire, e Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust. O seu trabalho,
combinando ideias aparentemente antagônicas do idealismo alemão, do materialismo dialético e do mis-
ticismo judaico, constitui um contributo original para a teoria estética. Entre as suas obras mais conhecidas,
estão A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica (1936), Teses sobre o conceito de história
(1940) e a monumental e inacabada Paris, capital do século XIX, enquanto A tarefa do tradutor constitui
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referência incontornável dos estudos literários. Sobre Benjamin, confira a entrevista Walter Benjamin e o
império do instante, concedida pelo filósofo espanhol José Antonio Zamora à IHU On-Line nº 313, dispo-
nível em http://bit.ly/zamora313. (Nota da IHU On-Line)
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2 Charles-Pierre Baudelaire (1821-1867): poeta e teórico da arte francês. É considerado um dos precursores
do Simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia, jun-
tamente com Walt Whitman, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. Sua obra teórica
também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX. Em 1857 lança As flores do mal, conten-
do 100 poemas. O livro é acusado de ultrajar a moral pública. (Nota da IHU On-Line)
3 Reformas de Paris: transformações de Paris no Segundo Império, também conhecidas como a Reforma
Urbana de Paris ou a Renovação de Haussmann, foram um vasto programa de obras públicas de moderni-
zação da capital francesa promovida por Georges-Eugène Haussmann entre 1852 e 1870. Então prefeito do
departamento do Sena, Haussmann concentrou os esforços da renovação urbana no sentido de promover
melhorias nas manobras militares, assim como na circulação e na higienização da capital da França. Para tal
fim, demoliu inúmeras vias pequenas e estreitas residuais do período medieval, e criou imensos boulevards
organizadores do espaço urbano, assim como jardins e parques. (Nota da IHU On-Line)
4 Euclides da Cunha (1866-1909): engenheiro, escritor e ensaísta brasileiro. Entre suas obras, além de Os
Sertões (1902), destaca-se Contrastes e confrontos (1907), Peru versus Bolívia (1907), À margem da história
(1909), a conferência Castro Alves e seu tempo (1907), proferida no Centro Acadêmico XI de Agosto (Facul-
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dade de Direito), de São Paulo, e as obras póstumas Canudos: diário de uma expedição (1939) e Caderneta
de campo (1975). Confira a edição 317 da IHU On-Line, de 30-11-2009, intitulada Euclides da Cunha e Celso
Furtado. Demiurgos do Brasil, disponível para download em http://bit.ly/ihuon317. (Nota da IHU On-Line)
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5 Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922): mais conhecido como Lima Barreto, nasceu no Rio de Ja-
neiro. Foi jornalista e escritor, publicou romances, sátiras, contos, crônicas e uma vasta obra em periódicos,
principalmente em revistas populares ilustradas e periódicos anarquistas do início do século 20. A maior
parte de sua obra foi redescoberta e publicada em livro após sua morte, por meio do esforço de Francisco
de Assis Barbosa e outros pesquisadores, levando-o a ser considerado um dos mais importantes escritores
brasileiros. Foi o crítico mais agudo da época da Primeira República no Brasil, rompendo com o naciona-
lismo ufanista e pondo a nu a roupagem republicana que manteve os privilégios de famílias aristocráticas
e dos militares. Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres, os boêmios e os arruinados, assim
como a sátira que criticava de maneira sagaz e bem-humorada os vícios e corrupções da sociedade e da
política. Foi severamente criticado por alguns escritores de seu tempo por seu estilo despojado e colo-
quial. Seu projeto literário era escrever uma “literatura militante”, apropriando-se da expressão de Eça de
Queirós. Para Lima Barreto, escrever tinha finalidade de criticar o mundo circundante para despertar alter-
nativas renovadoras dos costumes e de práticas que, na sociedade, privilegiavam certas classes sociais, in-
divíduos e grupos. Entre suas principais obras, destaca-se Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909),
Triste Fim de Policarpo Quaresma (1911), Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919) e, postumamente,
Clara dos Anjos (1948). (Nota da IHU On-Line)
6 Mário de Andrade (1893-1945): nascido em São Paulo, poeta, romancista, musicólogo, historiador, crítico
de arte e fotógrafo brasileiro. Um dos fundadores do modernismo brasileiro, praticamente criou a poesia
moderna brasileira com a publicação de seu livro Paulicéia desvairada, em 1922. Foi a força motriz por trás
da Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais no
Brasil. Exerceu uma influência enorme na literatura moderna brasileira e, como ensaísta e estudioso (foi
um pioneiro do campo da etnomusicologia), sua notoriedade transcendeu as fronteiras do Brasil. Andrade
foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos. Seu romance Macunaíma foi
publicado em 1928. (Nota da IHU On-Line)
7 Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987)
foi um poeta, farmacêutico, contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta
brasileiro do século XX. Drummond foi um dos principais poetas da segunda geração do modernismo
brasileiro, embora sua obra não se restrinja a formas e temáticas de movimentos específicos. (Nota da IHU
On-Line)
8 Oswald de Andrade (1890-1954): poeta, romancista e dramaturgo. Nasceu em São Paulo e estudou na
Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Oswald, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul Bopp
foram os idealizadores do Modernismo no Brasil, na década de 1920, uma visão do país radicalmente van-
guardista que rompia, pela primeira vez em termos culturais, com o colonialismo cultural vigente à época.
É autor de uma vasta obra, passando por críticas literárias, autoria de peças teatrais, romances e textos
teóricos. Dentre sua obra, vale destacar o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, Manifesto Antropófago e Crise da
Filosofia Messiânica, textos importantes no que concerne à originalidade do pensamento nativo brasileiro
e que se colocam na crítica profunda à razão ocidental hegemonizada. Após a virada antropológica, em
1979, o autor passou a ocupar um papel de destaque na Antropologia brasileira. (Nota da IHU On-Line)
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9 Flávio de Carvalho é o nome artístico de Flavio Rezende de Carvalho (1899-1973): foi um dos grandes no-
mes da geração modernista brasileira, atuando como arquiteto, engenheiro, cenógrafo, teatrólogo, pintor,
desenhista, escritor, filósofo, músico e outros rótulos. (Nota da IHU On-Line)
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10 Anita Catarina Malfatti (1889—1964): foi uma pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora
ítalo-brasileira. Anita Malfatti era portadora de deficiência motora. É considerada pioneira da Arte Moderna
no Brasil. (Nota da IHU On-Line)
11 Di Cavalcanti ou Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque Melo (1897-1976): foi um pintor moder-
nista, desenhista, ilustrador, muralista e caricaturista brasileiro. Sua arte contribuiu significativamente para
distinguir a arte brasileira de outros movimentos artísticos de sua época, através de suas reconhecidas co-
res vibrantes, formas sinuosas e temas tipicamente brasileiros como carnaval, mulatas e tropicalismos em
geral. Di Cavalcanti é, juntamente com outros grandes nomes da pintura como Anita Malfatti e Tarsila do
Amaral, um dos mais ilustres representantes do modernismo brasileiro. Suas principais obras são: Samba,
1925; Cinco moças de Guaratinguetá, 1930; Os Músicos, 1923; Mangue, 1929; Pierrete, 1924; Pierrot, 1924,
entre outras. (Nota da IHU On-Line)
12 Heitor Villa-Lobos (1887-1959): compositor nascido no Rio de Janeiro. Aprendeu as primeiras lições
de música com seu pai, Raul Villa-Lobos, funcionário da Biblioteca Nacional. Ele lhe ensinara a tocar vio-
loncelo usando improvisadamente uma viola, devido ao tamanho de Tuhu (apelido de origem indígena
que Villa-Lobos tinha na infância). Sozinho, aprendeu violão na adolescência, em meio às rodas de choro
cariocas, às quais prestou tributo em sua série de obras mais importantes: Os Choros, escritos na década
de 1920. Destaca-se por ter sido o principal responsável pela descoberta de uma linguagem peculiarmente
brasileira em música, sendo considerado o maior expoente da música do modernismo no Brasil, compon-
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do obras que contém nuances das culturas regionais brasileiras, com os elementos das canções populares
e indígenas. No Brasil, sua data de nascimento (5 de março) é celebrada como Dia Nacional da Música
Clássica. (Nota da IHU On-Line)
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13 Marinette da Silva Prado ou Marie Lebrun: De nacionalidade francesa, era uma mulher viva e inteligente.
Diz-se que surgiu dela a ideia da Semana de Arte Moderna. Segundo o pintor Di Cavalcanti, Marinette Pra-
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por leitores, espectadores etc. O problema não está, pois, nem na locali-
zação a posteriori das reivindicações, nem no seu caráter contraditório.
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14 Francisco Antônio Paulo Matarazzo Sobrinho, mais conhecido como Ciccillo Matarazzo (1898—1977): foi
um industrial, mecenas e político ítalo-brasileiro. Filho de Andrea Matarazzo e sobrinho do conde Francesco
Matarazzo. Casou-se em 1943, no México [carece de fontes], com Yolanda Penteado, desquitada de Jaime
da Silva Teles. Foi diretor de empresas de diversos ramos em São Paulo e foi grande incentivador das artes
plásticas. Fundou, em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), sendo inaugurado no dia 8 de
março de 1949, e em 1951 a Bienal Internacional de Arte de São Paulo, entidade que presidiu até a data de
sua morte. Foi também um dos fundadores do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e dos estúdios da Compa-
nhia Cinematográfica Vera Cruz. (Nota da IHU On-Line)
15 Victor Brecheret, nascido Vittorio Breheret (1894—1955): foi um escultor ítalo-brasileiro, considerado um
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dos mais importantes do Brasil. Foi o responsável pela introdução do modernismo na cultura e escultura
brasileira. Apesar de ser um dos principais artistas da vanguarda, Brecheret nunca abandonou sua formação
artística clássica, ligada à arte greco-romana e renascentista. (Nota da IHU On-Line)
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Compreender o
Ricardo Machado
P
ensar o Modernismo no Brasil significa levar
em conta a multiplicidade dos diferentes mo-
vimentos de vanguarda, sob diferentes óticas
e objetivos e superar o ramerrão estridente que se-
questrou boa parte da discussão na mídia hegemô-
nica sobre o centenário da Semana de Arte Moder-
na de 1922. “Há questões muito mais importantes
a serem discutidas. Como e quando o modernismo
cultural conseguiu se desvincular da luta pela mo-
dernidade social? Por que a historiografia do mo-
dernismo brasileiro continua a se recusar a olhar
para a produção cultural não-erudita? Como po-
demos pensar um projeto de modernização cultu-
ral que aposte na diversidade identitária e não na
identidade plasmada em moldes nacionalistas?”,
provoca o professor e pesquisador Rafael Cardoso
em entrevista por e-mail à IHU On-Line.
Ao estudar o tema partindo da cultura mi-
diática, Cardoso sublinha como a cultura erudita
acabou bebendo esteticamente das várias trans-
formações ocorridas nas linguagens artísticas
desses produtos voltados à cultura de massas.
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1 Eliseu Visconti (1866-1944): foi um pintor, desenhista e designer ítalo-brasileiro ativo entre os séculos XIX
e XX. É considerado um dos mais importantes artistas brasileiros do período e o mais expressivo represen-
tante da pintura impressionista no Brasil. (Nota da IHU On-Line)
2 Gustavo Giovanni Dall’Ara (Rovigo, 22 de dezembro de 1865 — Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1923)
foi um pintor e desenhista italiano que imigrou para o Brasil, tendo se radicado no Rio de Janeiro. Gustavo
Dall’Ara veiu para o Brasil em 1890, estreando na exposição geral de 1889. Iniciou seus estudos de pintura
e desenho na Academia de Belas Artes de Veneza, em 1881, tendo como professor Franco Dall’Andrea.
(Nota da IHU On-Line)
3 José Carlos de Brito e Cunha, conhecido como J. Carlos (1884-1950): foi um chargista, ilustrador e de-
signer gráfico brasileiro. J. Carlos também fez esculturas, foi autor de teatro de revista, letrista de samba,
e é considerado um dos maiores representantes do estilo art déco no design gráfico brasileiro. (Nota da
IHU On-Line)
4 Di Cavalcanti ou Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque Melo (1897-1976): foi um pintor moder-
nista, desenhista, ilustrador, muralista e caricaturista brasileiro. Sua arte contribuiu significativamente para
distinguir a arte brasileira de outros movimentos artísticos de sua época, através de suas reconhecidas co-
res vibrantes, formas sinuosas e temas tipicamente brasileiros como carnaval, mulatas e tropicalismos em
geral. Di Cavalcanti é, juntamente com outros grandes nomes da pintura como Anita Malfatti e Tarsila do
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Amaral, um dos mais ilustres representantes do modernismo brasileiro. Suas principais obras são: Samba,
1925; Cinco moças de Guaratinguetá, 1930; Os Músicos, 1923; Mangue, 1929; Pierrete, 1924; Pierrot, 1924,
entre outras. (Nota da IHU On-Line)
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IHU On-Line – Neste contexto, até que ponto pode-se falar em re-
presentatividade da população negra no modernismo brasileiro?
Rafael Cardoso – É dura a luta das populações afrodescendentes
por representação na sociedade brasileira. Começou na década de 1830 e
continua até hoje. Cada pequena conquista custou sangue, suor e lágrimas.
Eu diria que não há quase representatividade da população negra no
modernismo brasileiro. É um dos motivos por que precisamos questionar
o mito de 1922.
theo da Costa, Arthur iniciou-se como aprendiz da Casa da Moeda. No livro Pinturas & pintores do Rio
Antigo, Donato Mello Júnior informa que “muito contribuiu, no início da sua carreira, a vivência com o
cenógrafo italiano Oreste Coliva”. (Nota da IHU On-Line)
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7 Frederico Oliveira Coelho: possui graduação em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(1999), Mestrado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001) e Doutorado em
Literatura Brasileira pela PUC-Rio (2008). Entre 2001 e 2009, foi pesquisador do Núcleo de Estudos Musicais
(NUM) da Universidade Cândido Mendes e atualmente é pesquisador do NELIM (Núcleo de Estudos de
Literatura e Música) da PUC-Rio. Tem experiência na área de História e Literatura, com ênfase em cultura
brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: história cultural brasileira, música popular, memória
e práticas culturais, arquivo e literatura, artes visuais e literatura, tropicalismo, Hélio Oiticica, e cultura mar-
ginal. Além disso, trabalha como pesquisador para documentários, sítios eletrônicos, editoras e instituições
culturais. Entre 2008 e 2010, atuou como colaborador na coordenação dos cursos do Polo de Pensamento
Contemporâneo do Rio de Janeiro. Em 2009 tornou-se curador-assistente de artes visuais do Museu de Arte
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Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), onde ficou até julho de 2011. Desde março deste ano, é professor
dos cursos de Literatura e Artes Cênicas (atual coordenador) no Departamento de Letras da PUC-Rio. (Nota
da IHU On-Line)
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8 Gustavo Capanema Filho (1900-1985): político e advogado brasileiro. Formou-se pela Faculdade de Di-
reito de Minas Gerais. Vinculou-se, quando universitário, ao grupo de intelectuais da rua da Bahia, junto
com Mario Casassanta, Milton Campos e Carlos Drummond de Andrade. Em 1927, ele iniciou sua carreira
política. Nas eleições de 1930, apoiou a candidatura de Getúlio Vargas. Foi nomeado, em 1959, por Jusceli-
no Kubitschek, ministro do Tribunal de Contas da União, cargo que ocupou até 1961. Capanema elegeu-se
senador por Minas Gerais em 1970, e também foi Presidente do Museu de Arte Moderna e membro do
Conselho Deliberativo da Fundação Milton Campos. Encerrou sua carreira política em 1979, ao término de
seu mandato no Senado. (Nota da IHU On-Line)
9 Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987)
foi um poeta, farmacêutico, contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta
brasileiro do século XX. Drummond foi um dos principais poetas da segunda geração do modernismo
brasileiro, embora sua obra não se restrinja a formas e temáticas de movimentos específicos. (Nota da IHU
On-Line)
10 Cândido Portinari (1903-1962): Nasceu em Brodósqui, interior de São Paulo, numa fazenda de café. É
considerado um dos gênios da pintura brasileira, embora não tenha completado o ensino primário. Aos
14 anos de idade, uma trupe de pintores e escultores italianos que atuava na restauração de igrejas passa
pela região de Brodósqui e recruta Portinari como ajudante. Seria o primeiro grande indício do talento do
pintor brasileiro. (Nota da IHU On-Line)
11 Mário de Andrade (1893-1945): nascido em São Paulo, poeta, romancista, musicólogo, historiador, críti-
co de arte e fotógrafo brasileiro. Um dos fundadores do modernismo brasileiro, praticamente criou a poe-
sia moderna brasileira com a publicação de seu livro Paulicéia desvairada, em 1922. Foi a força motriz por
trás da Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais
no Brasil. Exerceu uma influência enorme na literatura moderna brasileira e, como ensaísta e estudioso (foi
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IHU On-Line – Por fim, como discutir o modernismo hoje nos per-
mite compreender melhor o Brasil do século XXI?
Rafael Cardoso – Compreender o modernismo nos permite sair do sau-
dosismo e da celebração ufanista. O movimento modernista fracassou em
muitos sentidos e se superou em outros. A tarefa histórica é problematizar
os fatos e os relatos. No fundo, trata-se de compreender que foram vários
os modernismos, e que tiveram objetivos distintos. Não se trata de atacar
ou defender o modernismo, mas de entender que o problema é bem maior.
O caminho para repensar a cultura brasileira hoje passa por compreender
que nossa força está na diversidade e pluralidade de experiências, não no
triunfalismo da narrativa única.
12 Helena Maria Bomeny Garchet: possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal Flu-
minense (1973), mestrado em Ciência Política (Ciência Política e Sociologia) pelo Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro (1980) e doutorado em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro (1991). Atualmente é professora titular de Sociologia da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ). (Nota da IHU On-Line)
13 Lucia Lippi: é Professora Emérita da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas e autora de
uma obra cuja atualidade atravessa momentos definidores da sociologia e da pesquisa histórica produzi-
das no país ao longo dos últimos 50 anos. (Nota da IHU On-Line)
14 Heitor Villa-Lobos (1887-1959): compositor nascido no Rio de Janeiro. Aprendeu as primeiras lições
de música com seu pai, Raul Villa-Lobos, funcionário da Biblioteca Nacional. Ele lhe ensinara a tocar vio-
loncelo usando improvisadamente uma viola, devido ao tamanho de Tuhu (apelido de origem indígena
que Villa-Lobos tinha na infância). Sozinho, aprendeu violão na adolescência, em meio às rodas de choro
cariocas, às quais prestou tributo em sua série de obras mais importantes: Os Choros, escritos na década
de 1920. Destaca-se por ter sido o principal responsável pela descoberta de uma linguagem peculiarmente
brasileira em música, sendo considerado o maior expoente da música do modernismo no Brasil, compon-
do obras que contêm nuances das culturas regionais brasileiras, com os elementos das canções populares
e indígenas. No Brasil, sua data de nascimento (5 de março) é celebrada como Dia Nacional da Música
Clássica. (Nota da IHU On-Line)
15 José Gomes da Costa também chamado Zé Spinelli e Zé Espinguela (1890–1945): foi um jornalista,
escritor, pai-de-santo e sambista carioca, integrante do Bloco dos Arengueiros, fundador da Estação Pri-
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Ricardo Machado
O crédito das imagens utilizadas nesta entrevista são da Assessoria de Imprensa A4&holofote Comunicação, responsável pela
divulgação da exposição “Moquém_Surarî”, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2021. A mostra reuniu tra-
balhos de 34 artistas de diversos povos indígenas. O crédito de cada uma das imagens será apresentado a seguir.
É
possível pensar a arte para além do vocabulário e das institui-
ções ocidentais? De que ordem seria uma paradoxal vanguarda
que é não moderna e, por isso, mesmo uma versão completamente
original e atemporal do que foi o Modernismo no Brasil? O que esta
entrevista trata, dialoga com estas perguntas, ainda que, talvez, não
seja capaz de respondê-las integralmente, inclusive por uma falta de
interesse a certos academicismos.
Neste contexto, a Arte Indígena Contemporânea – AIC, anunciada
e sonhada por Jaider Esbell perpassa esse universo de coisas e, dife-
rente do que foi o marco modernista, é “Mais do que uma Semana, a
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AIC é uma Semente”, como nos instiga Marília Librandi, em sua entre-
vista por e-mail à IHU On-Line.
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O diálogo que resultou no convite para esta entrevista teve por base
Confira a entrevista.
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câmera na mão”. Penso que o Jaider com seus pincéis posca fez esse
1 Naine Terena de Jesus também conhecida como Naine Terena: é uma ativista, educadora, artista e pes-
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quisadora indígena do povo Terena. Foi curadora da primeira mostra de arte indígena da Pinacoteca do
Estado de São Paulo, Véxoa: Nós sabemos, e uma das curadoras do festival de arte indígena rec•tyty. (Nota
da IHU On-Line)
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Gustavo Caboco – A
partir dessa ideia do nosso
avô em nós, eu vejo que o Jai-
der foi um artista que preci-
sou da ideia da singularidade
para expressar, inclusive a
partir do texto dele, Meu avô
em mim, nosso avô em nós.
Acredito que é importante re- Obra do artista Jaider Esbell, que
afirmar isso para ampliarmos a visão para os artistas in- foi o curador da exposição
2 Paula Berbert Ferreira Albino: Antropóloga, educadora e articuladora de projetos culturais. É graduada
em Ciências Sociais (2009, Universidade Estadual de Campinas). No mestrado (2017, Universidade Federal
de Minas Gerais), pesquisou junto aos Tikmu’un_Maxakali a história de sua relação com o Estado, com
ênfase nas memórias sobre o período da ditadura militar, a Guarda Rural Indígena e Reformatório Krenak.
Especialista em Estudos e Práticas Curatoriais (2019, Fundação Armando Álvares Penteado), trabalha com
pesquisa e articulação em arte indígena contemporânea. Tem experiência em comunidades pedagógicas
formais e não-formais, atuando especialmente nos temas da arte-educação, dos direitos humanos e so-
cioambientais, questões indígenas, feministas e decoloniais. (Nota da IHU On-Line)
3 Pedro Cesarino: Nasceu em São Paulo no ano de 1977. Cursou a Faculdade de Filosofia da USP e fez
mestrado e doutorado em antropologia no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.
Morou com os Marubo, um povo indígena do Vale do Javari, no estado do Amazonas. Em 2010, tornou-se
professor do Departamento de História da Arte da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), onde deu
cursos sobre arte indígena, arte e antropologia. Sua tese de doutorado Oniska: Poética do xamanismo na
Amazônia, ganhou o Prêmio Jabuti de Ciências Humanas. Em 2013, publicou Quando a Terra deixou de fa-
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lar: cantos da mitologia marubo, uma coletânea de mitos traduzidos para o português. Nesse mesmo ano,
tornou-se pesquisador e professor de antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH). (Nota da IHU On-Line)
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4 Carmézia Emiliano: é uma artista plástica brasileira contemporânea. Indígena da etnia Macuxi, é consi-
derada uma expoente da Arte Naïf, tendo participado das edições de 2014, 2012, 2010 e 2008 da Bienal
Naïfs do Brasil. Carmézia Emiliano pinta essencialmente representações do cotidiano indígena em Roraima.
(Nota da IHU On-Line)
5 Isaías Miliano: trabalha há mais de 30 anos com arte plástica contemporânea, usando como matéria-
-prima a madeira (cedro doce, abundante em Roraima) e como técnica o entalhe. Como tema, utiliza o
grafismo e o desenho rupestre de Roraima e da Amazônia. O reaproveitamento é uma constante em seu
trabalho, por meio da coleta de madeira descartada, e a arqueologia aparece na inserção de elementos
extraídos de sítios arqueológicos do estado de Roraima. É um dos 34 artistas da exposição Moquém_Su-
rarî: arte indígena contemporânea no MAM São Paulo em parceria com a 34ª Bienal de São Paulo. (Nota
da IHU On-Line)
6 Ailton Alves Lacerda Krenak ou Ailton Krenak: mais conhecido como Ailton Krenak (Minas Gerais, 1953),
é um líder indígena, ambientalista e escritor brasileiro. É considerado uma das maiores lideranças do mo-
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vimento indígena brasileiro, possuindo reconhecimento internacional. Pertence à tribo indígena crenaque.
É autor de vários livros, cujo mais recente é intitulado Ideias para adiar o fim do mundo (São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2019). (Nota da IHU On-Line)
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7 Dadaísmo: Formado em 1916 em Zurique por jovens franceses e alemães, o Dada foi um movimento de
negação. Fundaram um movimento literário para expressar suas decepções em relação a incapacidade das
ciências, religião, filosofia, que se revelaram pouco eficazes em evitar a destruição da Europa. Dada é uma
palavra francesa que significa na linguagem infantil “cavalo de pau”. Esse nome escolhido não fazia sentido,
assim como a arte que perdera todo o sentido diante da irracionalidade da guerra. Sua proposta é que a
arte ficasse solta das amarras racionalistas e fosse apenas o resultado do automatismo psíquico, selecionado
e combinando elementos por acaso. Sendo a negação total da cultura, o Dadaísmo defende o absurdo, a
incoerência, a desordem, o caos. Politicamente, firma-se como um protesto contra uma civilização que não
conseguiria evitar a guerra (Nota do IHU On-Line)
8 Surrealismo: é a última das vanguardas europeias, que sucede ao Dada radicalizando suas propostas de
liberdade, anticonvencionalismo e antitradição dos valores da cultura ocidental. Recorre aos temas forneci-
dos pelo inconsciente e subconsciente: o acaso, a loucura, os sonhos, as alucinações, o delírio ou o humor.
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Trouxe grandes contribuições com novos meios e fontes de inspiração artística e fazer artístico. Tem origem
com a publicação do “Manifesto do Surrealismo”, de André Breton, em 1924 (Nota do IHU On-Line, com
informações retiradas do sítio www.surrealismo.net/). (Nota da IHU On-Line)
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TEMA DE CAPA
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TEMA DE CAPA
IHU On-Line – Até que ponto faz sentido falar em uma arte
ou movimento de vanguarda “brasileiro”, sobretudo quando
se trata de considerar a radical multiplicidade dos povos ha-
bitantes deste território?
Gustavo Caboco – Não consigo pensar nesta questão de van-
guarda, pois o ponto central é a luta dos povos indígenas. A não ser
que isso seja considerado uma vanguarda que acontece desde 1500.
Essa é base que está ligada a todo movimento de luta, que teve o pró-
prio Ailton [Krenak] na Constituinte e de localizar essas figuras como
protagonistas, de existir um capítulo na Constituição sobre os povos
indígenas, o que corresponde a luta por território, por direitos, por
9 Mário de Andrade (1893-1945): nascido em São Paulo, poeta, romancista, musicólogo, historiador,
crítico de arte e fotógrafo brasileiro. Um dos fundadores do modernismo brasileiro, praticamente criou
a poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Paulicéia desvairada, em 1922. Foi a força
motriz por trás da Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em 1922 que reformulou a literatura e as
artes visuais no Brasil. Exerceu uma influência enorme na literatura moderna brasileira e, como ensaísta
e estudioso (foi um pioneiro do campo da etnomusicologia), sua notoriedade transcendeu as fronteiras
do Brasil. Andrade foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos. Seu
romance Macunaíma foi publicado em 1928. (Nota da IHU On-Line)
10 Romero Francisco da Silva Brito, mais conhecido como Romero Britto: é um pintor, escultor e serígrafo
brasileiro radicado nos Estados Unidos. Considerado um dos artistas mais prestigiados pelas celebri-
dades americanas, já pintou quadros para personalidades como Michael Jackson, Madonna e Arnold
Schwarzenegger. (Nota da IHU On-Line)
11 Anish Kapoor (1954): é um artista plástico indo-britânico. Venceu o Prêmio Turner. Nascido em Bom-
baim em 1954, Kapoor cursou a prestigiada Doon School, em Dehra Dum, em seu país natal. Mudou-se
para a Inglaterra em 1972, onde continuou seus estudos, desta vez no Hornsey College of Art e na Chel-
sea School of Design. Começou a ganhar notoriedade internacional no início da década de 1980, quando
foi considerado um dos escultores britânicos que vinham explorando novos estilos de arte. (Nota da IHU
On-Line)
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12 Tarsila do Amaral (1886-1973): pintora brasileira. Foi a pintora mais representativa da primeira fase do
movimento modernista brasileiro, ao lado de Anita Malfatti. Seu quadro Abaporu, de 1928, inaugura o
movimento antropofágico nas artes plásticas. (Nota da IHU On-Line)
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13 Gloria Evangelina Anzaldúa (1942- 2004): foi uma estudiosa norte-americana da teoria cultural chicana,
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teoria feminista e teoria queer. Entre seus principais trabalhos, o livro autobiográfico Borderlands/La Fron-
tera: The New Mestiza, uma obra que mistura prosa e poesia, na qual conta sua trajetória como acadêmica
e mulher chicana. (Nota da IHU On-Line)
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14 Oswald de Andrade (1890-1954): poeta, romancista e dramaturgo. Nasceu em São Paulo e estudou na
Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Oswald, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul Bopp
foram os idealizadores do Modernismo no Brasil, na década de 1920, uma visão do país radicalmente van-
guardista que rompia, pela primeira vez em termos culturais, com o colonialismo cultural vigente à época.
É autor de uma vasta obra, passando por críticas literárias, autoria de peças teatrais, romances e textos
teóricos. Dentre sua obra, vale destacar o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, Manifesto Antropófago e Crise da
Filosofia Messiânica, textos importantes no que concerne à originalidade do pensamento nativo brasileiro
e que se colocam na crítica profunda à razão ocidental hegemonizada. Após a virada antropológica, em
1979, o autor passou a ocupar um papel de destaque na Antropologia brasileira. (Nota da IHU On-Line)
15 Alexandre Nodari: é professor de Literatura Brasileira e Teoria Literária da Universidade Federal do
Paraná - UFPR; colaborador dos Programas de Pós-Graduação em Letras e Filosofia da mesma instituição.
Editor da revista Letras e coordenador do SPECIES – Núcleo de antropologia especulativa. Fez o doutorado
sobre o conceito de censura e o mestrado sobre a Antropofagia, ambos no PPGL/UFSC sob orientação de
Raúl Antelo. Coministrou, com Eduardo Viveiros de Castro, o seminário de pós-graduação “Do matriarcado
primitivo à sociedade contra o Estado: cartografia da hipótese antropofágica” no Museu Nacional/UFRJ.
Concedeu a entrevista Transformar-se em nós-outros, publicada na edição 543 da Revista IHU On-Line,
disponível em http://bit.ly/2PkvT9J. (Nota da IHU On-Line)
16 Eduardo Viveiros de Castro (1951): antropólogo brasileiro, professor do Museu Nacional do Rio de
Janeiro, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Concedeu a entrevista O conceito vira grife, e o
pensador vira proprietário de grife à edição 161 da IHU On-Line, de 24-10-2005, disponível em http://bit.
ly/ihuon161. Entre outras publicações, escreveu Arawete: O Povo do Ipixuna (São Paulo: CEDI), A inconstân-
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cia da alma selvagem (e outros ensaios de antropologia) (São Paulo: Cosac & Naify) e Metafísicas canibais
(São Paulo: Cosac & Naify). Também é autor do prefácio do livro A queda do céu – Palavras de um xamã
yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert (São Paulo: Companhia das Letras). (Nota da IHU On-Line)
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17 Álvaro Faleiros: Álvaro Faleiros é professor livre-docente de Literatura Francesa da USP e tem publicado
artigos sobre tradução poética em revistas na França, no Canadá e no Brasil. É também poeta, compositor
e tradutor. (Nota da IHU On-Line)
18 Roberto Zular (1971): Em 1993, gradua-se em direito e recebe o prêmio Projeto Nascente da Universida-
de de São Paulo, categoria poesia, com o livro Superfície, Transparência, Espelho. Em 2001, obtém o título
de Doutor em Língua e Literatura Francesa pela mesma Universidade com a tese No limite do país fértil:
Os escritos de Paul Valéry entre 1894 e 1896. Desde 2002 é Prof. Dr. do Departamento de Teoria Literária e
Literatura Comparada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP). (Nota da IHU On-Line)
19 Roberto Zular (1971): Em 1993, gradua-se em direito e recebe o prêmio Projeto Nascente da Universida-
de de São Paulo, categoria poesia, com o livro Superfície, Transparência, Espelho. Em 2001, obtém o título
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de Doutor em Língua e Literatura Francesa pela mesma Universidade com a tese No limite do país fértil ?
Os escritos de Paul Valéry entre 1894 e 1896. Desde 2002 é Prof. Dr. do Departamento de Teoria Literária e
Literatura Comparada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP). (Nota da IHU On-Line)
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IHU On-Line–
Os modernis-
tas paulistas
da década
de 1920 –
Oswald, Tar-
sila, Mário
(entre ou-
tros) – foram
defensores
ou saqueado-
res dos po-
vos indíge-
nas?
Gustavo Ca-
boco – O debate é
amplo. Quando se
vai falar dos mo-
dernistas paulis-
tanos de 1920, a
primeira questão Obra sem título (2020),
é: onde estavam os povos indígenas nesse momento? Onde do artista Elisclésio Makuxi
estão hoje? Qual o contexto? Muitos desses contextos de
1920 ainda estão se repetindo atualmente. Sabemos disso.
Isso expressa uma noção de exclusão, da repetição da ideia
de “integração”, do não-reconhecimento do outro, a ideia
do racismo mesmo. Para mim, vai um pouco para esse lado o debate.
Quando caímos no debate do Modernismo estamos nos afastando do
que move os modos de produção artística e de pensamento da memó-
ria, da luta pela terra de fato.
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TEMA DE CAPA
20 Clarissa Diniz (1985): nasceu em Recife e atualmente reside no Rio de Janeiro. É crítica de arte e curado-
ra. Graduada em Lic. Ed. Artística/Artes Plásticas pela Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, mestre
pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e dou-
toranda do Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ. Entre 2006 e 2015, foi
editora da Tatuí, revista de crítica de arte. Publicou diversos livros e realizou inúmeras curadorias, dentre
as quais destacam-se Contrapensamento selvagem (cocuradoria com Cayo Honorato, Orlando Maneschy
e Paulo Herkenhoff. Instituto Itaú Cultural, SP), Zona tórrida – certa pintura do Nordeste (cocuradoria com
Paulo Herkenhoff. Santander Cultural, Recife), Ambiguações (Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janei-
ro, 2013), Pernambuco Experimental (Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, 2013), Do Valongo à
Favela: imaginário e periferia (cocuradoria com Rafael Cardoso, Museu de Arte do Rio – MAR, 2014), Todo
mundo é, exceto quem não é – 13ª Bienal Naifs do Brasil (SESC Piracicaba, 2016 e Sesc Belenzinho, 2017) e
Dja Guata Porã – Rio de Janeiro Indígena (cocuradoria com Sandra Benites, Pablo Lafuente e José Ribamar
Bessa. MAR, 2017). Foi curadora assistente do Programa Rumos Artes Visuais 2008/2009 (Instituto Itaú
Cultural, São Paulo) e, entre 2008 e 2010, integrou o Grupo de Críticos do Centro Cultural São Paulo, CCSP.
(Nota da IHU On-Line)
21 Mario Vargas Llosa (1936): escritor, jornalista, ensaísta e político peruano, laureado com o Nobel de
Literatura de 2010. Aos 14 anos, ingressou por vontade paterna no Colégio Militar Leôncio Prado, em La
Perla, como aluno interno, permanecendo por dois anos. Essa experiência inspirou o tema do seu primeiro
livro, La ciudad y los perros, publicado no Brasil como Batismo de Fogo e, posteriormente, como A cidade
e os cachorros. Em 1953, foi admitido na tradicional Universidad Nacional Mayor de San Marcos, em Lima,
a mais antiga da América, onde estudou Letras e Direito. Aos 19 anos, casou-se com Julia Urquidi e passa a
ter vários empregos para sobreviver. Em 1958, recebeu a bolsa de estudos Javier Prado e rumou para a Es-
panha, onde obteve o doutorado em Filosofia e Letras na Universidade Complutense de Madri. Depois vai
para a França, onde vive durante alguns anos. Em 1964, divorciou-se de Julia e, em 1965, casou-se com a
prima Patrícia Llosa, com quem teve três filhos: Álvaro, Gonzalo e Morgana. Sua obra critica a hierarquia de
castas sociais e raciais do Peru e da América Latina, e seu principal tema é a luta pela liberdade individual
na realidade opressiva do país. A princípio, assim como vários outros intelectuais de sua geração, Vargas
Llosa sofreu a influência do existencialismo de Jean Paul Sartre. Muitos dos seus escritos são autobiográfi-
cos, como o já referido A cidade e os cachorros e A Casa Verde (1966) e Tia Júlia e o Escrevinhador (1977).
Outras obras: Os filhotes (1967), Conversa na catedral (1969), Pantaleão e as visitadoras (1973), A guerra do
fim do mundo (1981), História de Mayta (1984), Quem matou Palomino Molero? (1986), O falador (1987),
Elogio da madrasta (1988), Os cadernos de Dom Rigoberto (1997), A festa do bode (2000), O paraíso na
outra esquina (2003), Travessuras da menina má (2006), O sonho do celta (2010), O herói discreto (2013)
e Cinco Esquinas (2016). O ensaio García Márquez: historia de un deicidio (1971) trata da obra do escritor
colombiano de quem foi muito amigo. Ambos acabaram rompendo relações e nunca mais se falaram, até
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a morte de Márquez. Inicialmente simpatizante do socialismo e admirador de Fidel Castro, assim como da
revolução cubana, Vargas Llosa acabou por adotar posições liberais, a ponto de candidatar-se à presidên-
cia de seu país por uma coligação de centro-direita, em 1990. (Nota da IHU On-Line)
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22 Anita Catarina Malfatti (1889—1964): foi uma pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora
ítalo-brasileira. Anita Malfatti era portadora de deficiência motora. É considerada pioneira da Arte Moderna
no Brasil. (Nota da IHU On-Line)
23 Walter Benjamin (1892-1940): filósofo alemão. Foi refugiado judeu e, diante da perspectiva de ser cap-
turado pelos nazistas, preferiu o suicídio. Associado à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica, foi fortemente
inspirado tanto por autores marxistas, como Bertolt Brecht, como pelo místico judaico Gershom Scholem.
Conhecedor profundo da língua e cultura francesas, traduziu para o alemão importantes obras como Qua-
dros parisienses, de Charles Baudelaire, e Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust. O seu trabalho,
combinando ideias aparentemente antagônicas do idealismo alemão, do materialismo dialético e do misti-
cismo judaico, constitui um contributo original para a teoria estética. Entre as suas obras mais conhecidas,
estão A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica (1936), Teses sobre o conceito de história (1940)
e a monumental e inacabada Paris, capital do século XIX, enquanto A tarefa do tradutor constitui referência
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incontornável dos estudos literários. Sobre Benjamin, confira a entrevista Walter Benjamin e o império do
instante, concedida pelo filósofo espanhol José Antonio Zamora à IHU On-Line nº 313, disponível em http://
bit.ly/zamora313. (Nota da IHU On-Line)
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TEMA DE CAPA
24 França de Vichy: o nome comum do Estado Francês (État Français), liderado pelo Marechal Philippe
Pétain, durante a Segunda Guerra Mundial. Representa a “zona livre”, desocupada na parte sul da França
metropolitana e o império colonial francês. De 1940 a 1942, enquanto o regime de Vichy era o governo
nominal de toda a França, exceto a região da Alsácia-Lorena, os militares alemães ocuparam o norte da
França. Enquanto Paris se manteve a capital de jure da França, o governo decidiu mudar-se para a cidade
de Vichy, a 360 km ao sul na zona livre, a qual se tornou a capital de fato do Estado francês. A seguir aos
desembarques Aliados no Norte da África francês em novembro de 1942, o sul da França também foi
militarmente ocupado pela Alemanha e Itália. O regime de Pétain manteve-se em Vichy como governo
nominal da França, embora claramente administrado como Estado cliente de fato da Alemanha Nazi a
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partir de novembro de 1942 em diante. O governo de Vichy manteve-se, nominalmente, no papel até ao
fim da guerra, embora tenha perdido toda a sua autoridade de fato no final de 1944, quando os Aliados
libertaram toda a França. (Nota da IHU On-Line)
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TEMA DE CAPA
A
questão racial na Semana de Arte Moderna e no modernismo an-
tes e depois do evento no Theatro Municipal de São Paulo é reple-
ta de partes delicadas e complexas. Isso porque ao mesmo tempo
em que, à época, houve pouca representatividade, as representações
– com seus limites e possibilidades – de pessoas negras e de regiões
marginalizadas, como a favela, passaram a fazer parte da ordem do
dia, entre outras artes da pintura modernista.
“Entendo que A Negra, quadro referência, seja importante neste
sentido. Ao mesmo tempo que aponta para estereótipos fenotípicos,
possibilita outras leituras desviantes principalmente a partir do olhar
da personagem e da mostra de seu corpo nu. As obras modernistas,
desta forma, oferecem representações dos negros e da cultura negra,
fortalecendo algumas imagens estereotipadas como favela, festa, corpo,
sem construir uma efetiva representatividade. Por outro lado, abrem
espaços para outras leituras”, propõe Deivison Campos, em entrevista
por e-mail à Revista IHU On-Line.
No campo literário, Mário de Andrade é uma das figuras mais
importantes do modernismo, sobretudo aquele ligado à realização da
Semana de Arte Moderna, cuja discussão em torno de sua identidade
étnica é objeto de muitas análises. “Entendo que ele assumiu a mesti-
çagem como um lugar mais seguro para transitar entre os intelectuais
brasileiros, assim como muitos no período. Desta forma, preferiu ler o
racismo não como uma relação de poder que estrutura as relações so-
ciais e se reflete nas relações pessoais, mas como uma superstição do
branco com a cor preta”, explica o entrevistado.
Muitas das questões candentes de cem anos atrás, em relação ao
racismo e ao privilégio de classe, levantadas por Lima Barreto em rela-
ção ao modernismo continuam atuais, o que é prova de que a fratura
entre a modernidade artística e social no Brasil continua aberta.
“O racismo nos mata simbolicamente e fisicamente todos os dias.
[Lima Barreto] Entendia, portanto, que o discurso de inovação não era
suficiente para apontar para uma inovação. A crítica não foi bem acei-
ta. É importante dizer que em nenhum momento ele fala dos modernis-
tas brasileiros. Pelo contrário. Ele era de uma outra geração e acompa-
nhava com interesse os jovens escritores paulistas”, sublinha Campos,
ressaltando que a imagem de que o cronista e romancista carioca era
inimigo dos paulistas não é verdadeira, ainda que talvez não se possa
afirmar o contrário.
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Confira a entrevista.
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1 Octávio Ianni (1926-2004): sociólogo brasileiro e um dos fundadores do Cebrap. Aposentado compulso-
riamente, teve seus direitos políticos cassados pelo AI-5 em 1969. Somente voltou a lecionar no Brasil em
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1977, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.
Em suas pesquisas, especializou-se na análise do populismo e do imperialismo. É autor de várias obras,
entre as quais Estado e capitalismo no Brasil (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1965). (Nota da IHU On-Line)
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2 Oswald de Andrade (1890-1954): poeta, romancista e dramaturgo. Nasceu em São Paulo e estudou na
Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Oswald, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul Bopp
foram os idealizadores do Modernismo no Brasil, na década de 1920, uma visão do país radicalmente van-
guardista que rompia, pela primeira vez em termos culturais, com o colonialismo cultural vigente à época.
É autor de uma vasta obra, passando por críticas literárias, autoria de peças teatrais, romances e textos
teóricos. Dentre sua obra, vale destacar o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, Manifesto Antropófago e Crise da
Filosofia Messiânica, textos importantes no que concerne à originalidade do pensamento nativo brasileiro
e que se colocam na crítica profunda à razão ocidental hegemonizada. Após a virada antropológica, em
1979, o autor passou a ocupar um papel de destaque na Antropologia brasileira. (Nota da IHU On-Line)
3 Tarsila do Amaral (1886-1973): pintora brasileira. Foi a pintora mais representativa da primeira fase do
movimento modernista brasileiro, ao lado de Anita Malfatti. Seu quadro Abaporu, de 1928, inaugura o
movimento antropofágico nas artes plásticas. (Nota da IHU On-Line)
4 Di Cavalcanti ou Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque Melo (1897-1976): foi um pintor moder-
nista, desenhista, ilustrador, muralista e caricaturista brasileiro. Sua arte contribuiu significativamente para
distinguir a arte brasileira de outros movimentos artísticos de sua época, através de suas reconhecidas co-
res vibrantes, formas sinuosas e temas tipicamente brasileiros como carnaval, mulatas e tropicalismos em
geral. Di Cavalcanti é, juntamente com outros grandes nomes da pintura como Anita Malfatti e Tarsila do
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Amaral, um dos mais ilustres representantes do modernismo brasileiro. Suas principais obras são: Samba,
1925; Cinco moças de Guaratinguetá, 1930; Os Músicos, 1923; Mangue, 1929; Pierrete, 1924; Pierrot, 1924,
entre outras. (Nota da IHU On-Line)
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5 Mário de Andrade (1893-1945): nascido em São Paulo, poeta, romancista, musicólogo, historiador, crítico
de arte e fotógrafo brasileiro. Um dos fundadores do modernismo brasileiro, praticamente criou a poesia
moderna brasileira com a publicação de seu livro Paulicéia desvairada, em 1922. Foi a força motriz por trás
da Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais no
Brasil. Exerceu uma influência enorme na literatura moderna brasileira e, como ensaísta e estudioso (foi
um pioneiro do campo da etnomusicologia), sua notoriedade transcendeu as fronteiras do Brasil. Andrade
foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos. Seu romance Macunaíma foi
publicado em 1928. (Nota da IHU On-Line)
6 Oswaldo de Camargo: poeta e escritor brasileiro, estudou no Seminário Menor Nossa Senhora da Paz, em
São José do Rio Preto. Ainda aprendeu a tocar piano e harmonia no Conservatório Santa Cecília, em São
Paulo. Intitula-se herdeiro de buscas culturais de negros do País que, no início do século XX, começaram a
reavaliação da situação do elemento afro-brasileiro e partiram para uma tentativa de inseri-lo social e cul-
turalmente, tendo como armas sobretudo agremiações de cultura, jornais alternativos para a coletividade,
teatro negro, a literatura, sobretudo a escrita por poetas de temática afro-brasileira, como Lino Guedes e
Solano Trindade. (Nota da IHU On-Line)
7 Trecho do livro Lira Mensageira, de Sergio Miceli, em que ele conta esse episódio: “Segundo testemu-
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nhos da época, Drummond evitou a proximidade do convívio ao longo da temporada carioca de Mário. O
vestuário chamativo, o pó de arroz no rosto, os perfumes e, claro, a orientação sexual excêntrica, tudo isso
lhe desagradava na aparência pública do amigo” (p. 90). (Nota da IHU On-Line)
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IHU On-Line – Como o mito das três raças, que é uma leitura
sobre o complexo e não raro violento processo de miscigena-
ção ocorrido no Brasil, apresentado em 1928 no livro Macu-
naíma, de Mário de Andrade, se diferencia (se é que se dife-
rencia) da proposição a respeito desse mito em Casa grande
e senzala, de Gilberto Freyre, em 1933?
Deivison Campos – A violência e o conflito são categorias impor-
tantes para se pensar sobre isso. Dizer primeiro que são dois clássicos
importantes para refletirmos sobre o Brasil e, apesar de toda a crítica
existente ao livro de Gilberto Freyre8, ele desloca a análise das teorias
raciais para uma visada culturalista. Esse movimento, no entanto, fará
com que o autor normalize as relações de opressão e construa uma
imagem de paraíso das raças.
O livro de Mário aproxima as culturas indígenas e negras a par-
tir de mitos e crenças para construir a cultura em que Macunaíma e
sua família estão inseridos. Seguindo essa premissa, Mário de Andrade
constrói um mito fundador para as três raças formadoras – o banho
mágico que Macunaíma e os irmãos tomam na pegada de Sumé, dei-
xando um branco, outro da cor de bronze novo e o outro preto. A ideia
de que somos todos irmãos, somos todos iguais. No entanto, a relação
com a modernidade não se dá de forma pacífica. Pelo contrário.
Macunaíma precisa morrer para atingir seu objetivo. Apesar de
acionar suas referências tradicionais afro-indígenas para explicar todo
o novo a que é submetido, há uma permanente tensão e desafios a se-
rem enfrentados. Portanto, mesmo que a personagem se adeque àquele
novo contexto, esse é marcado pelo permanente conflito. Não há uma
normalização das relações.
8 Gilberto Freyre (1900-1987): escritor, professor, conferencista e deputado federal. Colaborou em revistas
e jornais brasileiros. Foi professor convidado da Universidade de Stanford (EUA). Recebeu vários prêmios
por sua obra, entre os quais, em 1967, o prêmio Aspen, do Instituto Aspen de Estudos Humanísticos (EUA),
e o Prêmio Internacional La Madoninna, em 1969. Entre seus livros, destaca-se Casa grande & Senzala e
Sobrados e Mocambos. Sobre Freyre, confira o Cadernos IHU nº 6, de 2004, intitulado Gilberto Freyre: da
Casa-Grande ao Sobrado. Gênese e Dissolução do Patriarcalismo Escravista no Brasil. Algumas Considera-
ções, disponível em http://bit.ly/cadihu06. (Nota da IHU On-Line)
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9 Luiz Ruffato (1961): é um escritor brasileiro. Seu romance Eles eram muitos cavalos, de 2001, ganhou
o Troféu APCA oferecido pela Associação Paulista de Críticos de Arte e o Prêmio Machado de Assis da
Fundação Biblioteca Nacional. Em 2011, com a publicação do romance Domingos Sem Deus, concluiu a
pentalogia Inferno Provisório. (Nota da IHU On-Line)
10 Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922): mais conhecido como Lima Barreto, nasceu no Rio de
Janeiro. Foi jornalista e escritor, publicou romances, sátiras, contos, crônicas e uma vasta obra em perió-
dicos, principalmente em revistas populares ilustradas e periódicos anarquistas do início do século 20. A
maior parte de sua obra foi redescoberta e publicada em livro após sua morte, por meio do esforço de
Francisco de Assis Barbosa e outros pesquisadores, levando-o a ser considerado um dos mais importantes
escritores brasileiros. Foi o crítico mais agudo da época da Primeira República no Brasil, rompendo com o
nacionalismo ufanista e pondo a nu a roupagem republicana que manteve os privilégios de famílias aristo-
cráticas e dos militares. Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres, os boêmios e os arruinados,
assim como a sátira que criticava de maneira sagaz e bem-humorada os vícios e corrupções da sociedade
e da política. Foi severamente criticado por alguns escritores de seu tempo por seu estilo despojado e
coloquial. Seu projeto literário era escrever uma “literatura militante”, apropriando-se da expressão de Eça
de Queirós. Para Lima Barreto, escrever tinha finalidade de criticar o mundo circundante para despertar
alternativas renovadoras dos costumes e de práticas que, na sociedade, privilegiavam certas classes so-
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ciais, indivíduos e grupos. Entre suas principais obras, destaca-se Recordações do Escrivão Isaías Caminha
(1909), Triste Fim de Policarpo Quaresma (1911), Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919) e, postuma-
mente, Clara dos Anjos (1948). (Nota da IHU On-Line)
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nosso tempo, pelos modernistas. Isso porque ele criticou, em dois ar-
11 António Joaquim Tavares Ferro(1895—1956): conhecido por António Ferro, foi um escritor, jornalista,
político e diplomata português. Casado com a poetisa Fernanda de Castro. Foi o grande dinamizador da
política cultural do Estado Novo. (Nota da IHU On-Line)
12 Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944): escritor, poeta, editor, ideólogo, jornalista e ativista político
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italiano. Foi o iniciador do movimento futurista, cujo manifesto publicou no jornal parisiense Le Figaro, em
20 de fevereiro de 1909. Politicamente foi um ativo militante fascista e chegou a afirmar que a ideologia do
partido representava uma extensão natural das ideias futuristas. (Nota da IHU On-Line)
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Drummond e o
Ricardo Machado
O
s cem anos da Semana
de Arte Moderna, realiza-
da em fevereiro de 1922,
trouxeram novamente à ordem
do dia os debates em torno do
Modernismo Brasileiro. A efe-
méride tem enriquecido a for-
tuna crítica em torno do tema,
no qual o professor e pesquisa-
dor da Universidade de São Paulo
– USP Sergio Miceli participa com a obra Lira mensageira. Drummond
e o grupo modernista mineiro (São Paulo: Todavia, 2022). No texto, ele
explica a contribuição de Minas Gerais para o movimento nacional. “A
importância do modernismo mineiro, em primeiro lugar, foi ter produzi-
do a figura central da poesia no Brasil, o Drummond, mas não só isso”,
sublinha.
Um dos pontos altos da obra e aspecto interessante para compreen-
der as nuances desse movimento, é a diferenciação das condições sociais,
políticas e econômicas que fizeram emergir os modernistas de São Paulo
e os de Minas Gerais. “Para sintetizar, digamos que a elite política mi-
neira é uma classe dirigente não econômica ancorada no predomínio, na
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Confira a entrevista.
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tural, político, administrativo tem
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6 Gustavo Capanema Filho (1900-1985): político e advogado brasileiro. Formou-se pela Faculdade de Di-
reito de Minas Gerais. Vinculou-se, quando universitário, ao grupo de intelectuais da rua da Bahia, junto
com Mario Casassanta, Milton Campos e Carlos Drummond de Andrade. Em 1927, ele iniciou sua carreira
política. Nas eleições de 1930, apoiou a candidatura de Getúlio Vargas. Foi nomeado, em 1959, por Jusceli-
no Kubitschek, ministro do Tribunal de Contas da União, cargo que ocupou até 1961. Capanema elegeu-se
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senador por Minas Gerais em 1970, e também foi Presidente do Museu de Arte Moderna e membro do
Conselho Deliberativo da Fundação Milton Campos. Encerrou sua carreira política em 1979, ao término de
seu mandato no Senado. (Nota da IHU On-Line)
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REVISTA IHU ON-LINE | Nº 551
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7 Érico Veríssimo (1905-1975): um dos mais importantes escritores brasileiros. Em 1932, o autor publica
uma coletânea de contos, Fantoche, sua estreia na literatura. Recebeu o Prêmio Machado de Assis, com
Música ao Longe, e o Prêmio Graça Aranha, com Caminhos Cruzados. Integra o Segundo Tempo Modernis-
ta (1930-1940), período em que a literatura brasileira refletiu os problemas sociais do país. A obra de Érico
costuma ser dividida em três fases: Romance urbano; Romance histórico e Romance político. Na segunda,
encontra-se o épico O tempo e o vento, trilogia (O Continente, O Retrato e O Arquipélago) que cobre 200
anos da história do Rio Grande do Sul, de 1745 a 1945. (Nota da IHU On-Line)
8 Graciliano Ramos (1892-1953): escritor alagoano, nascido em Quebrângulo. Autor de numerosas obras,
várias delas adaptadas para o cinema, como Vidas secas e Memórias do cárcere, em 1963 e 1983, respec-
tivamente, por Nelson Pereira dos Santos. Vidas secas foi o objeto de estudo do Ciclo de Estudos sobre
o Brasil, de 17-6-2004, no IHU. Quem conduziu o debate foi a professora Célia Dóris Becker. Confira
uma entrevista que a professora concedeu sobre o tema na 105ª edição da IHU On-Line, de 14-6-2005,
disponível em https://goo.gl/bHDxB0. Confira, também, a edição 274, de 22-9-2008, intitulada Josué de
Castro e Graciliano Ramos. A desnaturalização da fome, disponível em http://www.ihuonline.unisinos.br/
edicao/274. (Nota da IHU On-Line)
9 José Lins do Rego Cavalcanti (1901—1957): foi um escritor brasileiro que, ao lado de Graciliano Ramos,
Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz e Jorge Amado, figura como um dos romancistas regionalistas mais
prestigiosos da literatura nacional. Segundo Otto Maria Carpeaux, José Lins era “o último contador de
histórias”. Seu romance de estreia, Menino de Engenho (1932), foi publicado com dificuldade, todavia logo
foi elogiado pela crítica. (Nota da IHU On-Line)
10 Rachel de Queiroz (1910-2003): escritora cearense, nascida em Fortaleza. Escreveu dezenas de roman-
ces, obras de literatura infanto-juvenil, teatro, crônica e antologias, além de fazer traduções de autores do
mundo todo. Entre suas obras, destacamos o romance Memorial de Maria Moura (1992) e a peça teatral A
beata Maria do Egito (1958). (Nota da IHU On-Line)
11 Lúcio Cardoso [Joaquim Lúcio Cardoso Filho] (1912 —1968): foi um escritor, dramaturgo e poeta bra-
sileiro. Junto com os romancistas Otávio de Faria e Cornélio Pena e o poeta Vinicius de Moraes, Lúcio
Cardoso é considerado expoente da literatura de cunho intimista e introspectiva que despontou no Brasil
na década de 1930. Embora sua escrita costume ser associada à chamada literatura psicológica, iniciou sua
carreira com dois romances de cunho sociológico, Maleita (1934) e Salgueiro (1935), com marcada mu-
dança de rumo em Luz no Subsolo (1936). Sua literatura, a partir de então, prioriza o questionamento da
condição humana e de valores como o bem e o mal, como nos romances Mãos Vazias, Inácio, Dias Perdidos
e nas novelas O Enfeitiçado e Baltazar, dentre outras da década de 1940. (Nota da IHU On-Line)
12 Mário de Andrade (1893-1945): nascido em São Paulo, poeta, romancista, musicólogo, historiador, críti-
co de arte e fotógrafo brasileiro. Um dos fundadores do modernismo brasileiro, praticamente criou a poe-
sia moderna brasileira com a publicação de seu livro Paulicéia desvairada, em 1922. Foi a força motriz por
trás da Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais
no Brasil. Exerceu uma influência enorme na literatura moderna brasileira e, como ensaísta e estudioso (foi
um pioneiro do campo da etnomusicologia), sua notoriedade transcendeu as fronteiras do Brasil. Andrade
foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos. Seu romance Macunaíma foi
publicado em 1928. (Nota da IHU On-Line)
13 Manuel Bandeira (1886-1968): poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasi-
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leiro. Considera-se que Bandeira faça parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira, sendo seu
poema Os sapos o abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922. Juntamente com escritores como João
Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Gilberto Freyre, Nélson Rodrigues, Carlos Pena Filho e Osman Lins, entre
outros, representa a produção literária do estado de Pernambuco. (Nota da IHU On-Line)
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eram dois poetas de grande envergadura, como obra pessoal, mas não
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Retrato de Carlos
Drummond de Andrade,
Arquivo Nacional
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14 Getúlio Vargas [Getúlio Dornelles Vargas] (1882-1954): político gaúcho, nascido em São Borja. Foi pre-
sidente da República nos seguintes períodos: 1930 a 1934 (Governo Provisório), 1934 a 1937 (Governo
Constitucional), 1937 a 1945 (Regime de Exceção) e de 1951 a 1954 (Governo eleito popularmente). Re-
centemente a IHU On-Line publicou o Dossiê Vargas, por ocasião dos 60 anos da morte do ex-presidente,
disponível em http://bit.ly/1na0ZMX. A IHU On-Line dedicou duas edições ao tema Vargas: a 111, de 16-
08-2004, intitulada A Era Vargas em Questão – 1954-2004, disponível em http://bit.ly/ihuon111, e a 112,
de 23-08-2004, chamada Getúlio, disponível em http://bit.ly/ihuon112. Na edição 114, de 06-09-2004,
disponível em http://bit.ly/ihuon114, Daniel Aarão Reis Filho concedeu a entrevista O desafio da esquerda:
articular os valores democráticos com a tradição estatista-desenvolvimentista, que também abordou as-
pectos do político gaúcho. Em 26-08-2004, Juremir Machado da Silva, da PUC-RS, apresentou o IHU Ideias
Getúlio, 50 anos depois. O evento gerou a publicação do número 30 dos Cadernos IHU Ideias, chamado
Getúlio, romance ou biografia?, disponível em http://bit.ly/ihuid30. Ainda a primeira edição dos Cadernos
IHU em formação, publicada pelo IHU em 2004, era dedicada ao tema, recebendo o título Populismo e
Trabalho. Getúlio Vargas e Leonel Brizola, disponível em http://bit.ly/ihuem01. (Nota da IHU On-Line)
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15 Washington Luís (1869 - 1957): Advogado, historiador e político brasileiro, décimo primeiro presidente
do estado de São Paulo, décimo terceiro presidente do Brasil e último presidente da República Velha. (Nota
da IHU On-Line)
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PUBLICAÇÕES | Cadernos IHU ideias
“E
m 1979, quando Hans Jonas
publicou O Princípio Responsa-
bilidade. Ensaio de uma Ética
para a Civilização Tecnológica, noções
como heurística do medo, a contrapo-
sição entre responsabilidade e espe-
rança, assim como a postulação de um
direito próprio da natureza constituíam
perspectivas marcadamente inovadoras
nos planos da filosofia, das ciências, da
ética, da política e da educação. Penso
que continuam a sê-lo ainda hoje”, pro-
põe Oswaldo Giacoia Junior.
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PUBLICAÇÕES | Cadernos Teologia Pública
“S
ou historiador da igreja e mi-
nha área é a da Reforma, os sé-
culos 16 e 17; nesse momento,
a minha pesquisa sobre os primeiros
projetos missionários protestantes e o
comércio de escravos estendeu-se ao
século 18, o que é uma ousadia para
mim. Mas eu também tenho alguns in-
teresses na história mais ampla do cris-
tianismo na cultura ocidental e, embo-
ra não seja realmente respeitável a um
historiador admitir, possuo um interes-
se persistente sobre a atualidade tam-
bém, em parte porque vivo nela. E o que
quero fazer hoje é sugerir uma forma de
pensar o nosso próprio tempo: a época
em que crescemos e que temos vivido,
e como ela tem se transformado diante
dos nossos olhos.”, pontua Alec Ryrie.
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PUBLICAÇÕES | Cadernos IHU ideias
O
tema do amor ao próximo na filo-
sofia de Simone Weil é desenvol-
vido considerando-se conceitos
como a atenção e a compaixão. Inicial-
mente abordaremos estes dois concei-
tos, buscando compreendê-los enquan-
to abertura de si para o outro em uma
relação/ligação que conecta um ser hu-
mano ao outro e à própria transcendên-
cia. Neste estudo pretende-se dar ênfa-
se ao pensamento filosófico de Simone
Weil relativo ao amor ao próximo, exa-
minando como a experiência do amor
ao próximo pode possibilitar uma outra
relação ética.
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PUBLICAÇÕES | Cadernos IHU ideias
N
este texto, são apresentadas al-
gumas das ideias mais impor-
tantes do pensador japonês Miki
Kiyoshi (1897-1945). Miki é um filósofo
difícil de catalogar, com uma vasta pro-
dução (suas Obras Completas têm 20
volumes) e que foi pouco lida fora do
Japão. Apesar disso, ele foi uma figu-
ra central durante a década de 1930 e
suas ideias influenciaram muitos au-
tores do pós-guerra. Espero que este
texto sirva como uma pequena contri-
buição aos materiais escritos em portu-
guês sobre filosofia japonesa.
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PUBLICAÇÕES | Cadernos IHU ideias
Y
uval Noah Harari é um dos mais
impressionantes fenômenos inte-
lectuais recentes. Traduzido em
mais de trinta idiomas, com milhões de
exemplares vendidos em todo o mun-
do, ele é figura recorrente nos mais im-
portantes debates sobre globalização,
algoritmos, vigilância, governabilidade,
segurança, disrupção, inclusão social,
novas tecnologias, pandemias, saúde
global e futuro da humanidade.
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PUBLICAÇÕES | Cadernos IHU ideias
“V
ou contar o que dizem os
Añuu, o povo da água; nossos
primos, os Wayuu, o povo das
terras secas, e os Barí, o povo da sel-
va, das montanhas; que somos os po-
vos que há milhares de anos habitam a
grande bacia do Karoorare, que os bran-
cos chamam de Lago Maracaibo. Con-
tarei como foi possível a vida humana
neste lado do mundo, até chegarmos ao
momento presente, em que todos nós
- indígenas e não indígenas - estamos
sendo empurrados para refazer o cami-
nho do homem branco que não leva à
vida”, propõe José Ángel Quintero Weir.
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RETROVISOR
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