Artigo Saúde Mental em Tempos de Crise
Artigo Saúde Mental em Tempos de Crise
Artigo Saúde Mental em Tempos de Crise
2020
RÊNDRIKA MASSENA BRAGANÇA
2020
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares que apoiaram o meu sonho, me incentivaram a seguir em frente
nos momentos difíceis e compreenderam a minha ausência devido o compromisso com este
trabalho.
As minhas amigas com quem convivi durante os cinco anos de graduação, que foram a
minha segunda família na cidade de Campos dos Goytacazes.
Aos professores, supervisores e colegas de turma, que de alguma forma contribuíram
durante o meu percurso acadêmico e com a minha formação enquanto profissional.
Um agradecimento especial a professora Jhayana Couto R. A. Lins, por ter sido a
minha orientadora e por ter exercido essa função com dedicação e ter contribuído na
realização de deste trabalho.
“O adoecimento da alma estaria
exprimindo a própria doença da
sociedade.”
O artigo busca trazer uma reflexão sobre o fenômeno da pandemia, seus sentidos e
significados, com ênfase às contribuições possíveis do campo da psicologia e da promoção da
saúde. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma revisão bibliográfica, a partir da
análise de publicações científicas que abordam o tema. O presente texto tem por objetivo, o
enriquecimento do diálogo interdisciplinar acerca das relações subjetivas entre saúde mental,
adoecimento psíquico e práticas interdisciplinares de cuidado, no contexto da crise em
decorrência da pandemia do novo coronavírus. Abrangendo os fatores de risco e estressores
que comprometem a saúde mental e o bem-estar da população brasileira no momento atual,
com destaque, ainda, às estratégias e intervenções psicossociais no sentido de minimizar o
adoecimento psíquico e o sofrimento humano em tempos de crise.
ABSTRACT
The article seeks to bring a reflection on the phenomenon of the pandemic, its senses and
meanings, with emphasis on the possible contributions of the field of psychology and health
promotion. From the methodological point of view, it is a bibliographic review, based on the
analysis of scientific publications that address the theme. The purpose of this text is to
enriching the interdisciplinary dialogue about the subjective relationships between mental
health, psychic illness and interdisciplinary care practices, in the context of the crisis due to
the new coronavirus pandemic. Encompassing the risk factors and stressors that compromise
the mental health and well being of the Brazilian population at the present time, with
emphasis on psychosocial strategies and interventions in order to minimize psychic illness
and human suffering in times of crisis.
INTRODUÇÃO
1
Covid19: Painel Coronavírus. Disponível em: https://covid.saude.gov.br/.
7
compõem a vida cotidiana: trabalho, escola, família e moradia, pode diminuir a sensação de
pertencimento a comunidade local, uma vez que os vínculos foram interrompidos.
A partir de uma abordagem psicossocial do adoecimento, é possível perceber os
efeitos da substituição das trocas afetivas entre os pares, pela presença virtual e remota em
decorrência do isolamento social. Considerando a priori, os grupos humanos sociais não como
conjuntos orgânicos e independentes de uma cultura, às quais as pessoas naturalmente
pertencem. Contrariamente, os processos identitários de reconhecimento de si através do outro
são continuamente construídos e desconstruídos através do contato.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, as medidas de distanciamento físico têm
representado a principal estratégia de contenção e diminuição da taxa de transmissão
comunitária do vírus, com o objetivo de atenuar o crescimento da curva de contágio. Algumas
regras instituídas nesse período foram: o fechamento de escolas e demais instituições de
ensino, suspenção de determinados segmentos do comércio, fechamento de áreas de lazer e o
cancelamento de eventos públicos, com a finalidade de reduzir a circulação de pessoas e
evitar aglomerações.
As medidas de afastamento social obrigatório, foram adotadas a rigor por diversos
países na tentativa de minimizar o potencial de contaminação do vírus. O isolamento social, é
apontado pela literatura como medida não farmacológica de enfrentamento a doença, uma vez
que, até a redação do presente texto, a Covid-19 não possui uma vacina ou medicamentos
comprovadamente eficazes disponíveis para o seu tratamento. (GOODMAN; BORIO, 2020).
O cuidado em saúde mental diante de situações de crise e emergência, demanda uma
articulação dos serviços comunitários, no que se refere as práticas de fortalecimento de
vínculos sociais e comunitários, buscando compreender as necessidades da população em
risco e as possibilidades segundo a lógica do território. Historicamente, os grupos em situação
de vulnerabilidade social são aqueles mais afetados por uma sequência de impactos
ambientais, psicossociais e socioeconômicos. Desse modo, a consolidação de uma rede de
apoio social e solidário permite a construção de novas relações discursivas, na ressignificação
do fenômeno que emerge no contexto social.
Este tema assume particular importância, na medida em que com ausência de
planejamento preventivo, as falhas na administração consciente dos recursos e diante de uma
cooperação técnico-científica negligente, as ações emergenciais e desarticuladas contribuem
para o prolongamento dos efeitos adversos na sociedade. Como resultado, instaurou-se uma
crise no sistema público de saúde, afetando a integração assistencial e administrativa dos
8
hospitais que compõem o Sistema Único de Saúde. É preciso destacar que essa atitude
cultural de inércia e falta de planejamento contingencial, têm produzido inúmeras perdas
humanas. Nesse sentido, a psicologia das emergências e desastres, se coloca como um recurso
fundamental na transformação dessa realidade.
Tal situação ainda se agrava devido à falta de clareza na divulgação das informações
epidemiológicas (as chamadas fake News) e a escassez de testes do Covid-19 para a
população, resultando na subnotificação dos casos de Covid-19. Por fim, o presente estudo,
tem por finalidade compreender o processo de adoecimento psíquico no contexto da
pandemia, de modo a contribuir com a construção de conhecimento científico, acerca do
fenômeno do sofrimento psíquico em tempos de crise.
Assim como, no desenvolvimento de intervenções psicossociais, considerando as políticas
públicas e os direitos humanos, como princípios orientadores frente aos desafios nacionais de
emergência do cuidado em saúde mental. Desse modo, permitindo a construção de uma
análise acerca dos conceitos de resiliência e solidariedade em meio a pandemia, a partir de
questões sobre imperativo da (re)invenção em tempos de crise e o que isso nos revela.
9
METODOLOGIA
2
Maria Cecília de Souza Minayo, autora e pesquisadora no campo das Ciências Sociais.
10
RESULTADOS
DESENVOLVIMENTO
Sabe-se que a população idosa, é mais vulnerável a sofrer a forma grave da Covid-19
em decorrência de possíveis comorbidades. No entanto, Leiva e colaboradores (2020),
consideram ainda, que esse grupo também apresenta um risco psicossocial significativamente
elevado. Especialmente, em populações com recursos limitados, vivendo em condições
precárias e sem uma rede articulada de apoio emocional e social.
De acordo com Fernandes e colaboradores (2020), a população idosa sofre com uma
maior desvalorização característica da cultura ocidental, marcada pela diminuição do
intercâmbio intergeracional. Sendo possível observar uma tendência de abandono e o
empobrecimento das relações familiares e sociais entre os idosos, mais latente durante a
pandemia. Por conseguinte, esse grupo etário está sujeito às manifestações e sintomatologias
negativas em situações de crise, sendo um fator de risco ao adoecimento, sobretudo, entre
populações em situação de vulnerabilidade social.
A desigualdade social se caracteriza como um obstáculo ainda não superado na
realidade brasileira. As marcantes desigualdades regionais historicamente determinadas,
geram incerteza sobre a extensão dos impactos da Covid-19 no Brasil. Cuja dinâmica social,
representa um desafio ainda maior no momento de crise atual, especialmente quanto a
distribuição e o acesso aos serviços de saúde de menor e maior complexidade (AQUINO et
al., 2020).
Considerando os marcadores sociais de gênero, raça e classe, Estrela e colaboradores
(2020), dissertam sobre os determinantes de vulnerabilidade social, relacionados a um maior
impacto pelas consequências da crise. Ao olhar para as relações entre o território e
14
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise das publicações, fica evidente que ainda há pouco conhecimento
sobre os efeitos da pandemia no contexto brasileiro, para uma investigação mais rigorosa.
Entretanto, a experiência prévia de países asiáticos e europeus, nos oferece uma estimativa no
que diz respeito a seriedade da situação. Logo, a incidência da pandemia da Covid-19
constitui-se como um evento desorganizador da sociedade. Visto que, ocasionou numa ruptura
das práticas sociais e de circunstâncias da vida diária, caracterizando situações estressoras que
ameaçam a saúde física e psíquica das populações na atualidade.
Os resultados apontam que a adoção de medidas de isolamento e distanciamento social
adotada pela maioria dos países, incluindo o Brasil, vêm gerando diversos efeitos negativos na
população. Tais medidas, são a principal estratégia não farmacológica de prevenção e
contenção da infecção, evitando a disseminação do vírus em larga escala e identificando as
pessoas sintomáticas e assintomáticas.
Contudo, observa-se um aumento do sofrimento psicológico da população associada a
vivência de sentimentos negativos, como: medo, estresse, ansiedade, pânico, apatia, irritação,
tédio, angústia, desesperança, sentimento de estar enclausurado, solidão, raiva e frustração. As
repercussões psicológicas ainda se associam a comportamentos prejudiciais à saúde, como
aumento do uso de substâncias, distúrbios do sono e alterações na alimentação.
21
REFERÊNCIAS
MINAYO, Maria Cecília. Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade. Ciência &
Saúde Coletiva, 17(3):621-626, 2012.
LEIVA, Ana María et al. Dimensión psicosocial de la pandemia: la otra cara del covid-
19. Cienc. enferm. Concepción, v. 26, 2020.
GRANERO, Mariano; VOLIJ, Camilaa; TERRASA, Sergio Adrián. Influencia de los lazos
sociales en la salud de las personas. Evid. actual. práct. ambul; 21(1): 2-3, 2018.
GALHARDI, C.P. et al. Fato ou Fake? Uma análise da desinformação frente à pandemia da
Covid-19 no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, v. 25, 2020.
SOUZA, Claudia Teresa Vieira et al. Cuidar em tempos da COVID-19: lições aprendidas
entre a ciência e a sociedade, 2020.
JULIANO, Maria Cristina Carvalho; YUNES, Maria Angela Mattar. Reflexões sobre rede de
apoio social como mecanismo de proteção e promoção de resiliência. Ambient. soc., São
Paulo v. 17, n. 3, p. 135-154, 2014.