Historia de Africa IV - PRE - PRES

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Genito João Puicha

O Programa de Reajustamento Estrutural em África (PRE e PRES)

Curso de Licenciatura em Ensino de História com Habilidades em Documentação

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2022

Genito João Puicha


1

O Programa de Reajustamento Estrutural em África (PRE e PRES)

Trabalho de carácter avaliativo a ser


apresentado no departamento de Letras e
Ciências Sociais, curso de Licenciatura em
Ensino de História, cadeira de História de
África IV, 3º Ano, 1º Semestre.

MA. Mouzinho M. Lopes

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2022

Índice
2

Introdução........................................................................................................................................3
1.A crise económica dos anos 80 e a emergência do programa de reajustamento estrutural em
África…...........................................................................................................................................4
1.1.Estratégias de desenvolvimento em África................................................................................4
1.2.O Plano Prospectivo Indicativo (O PPI)....................................................................................4
1.3.O Plano Prospectivo Indicativo (PPI)........................................................................................5
1.4.Factores da Ineficiência do PPI.................................................................................................6
2.Os Programas de Reajustamento Estrutural.................................................................................7
2.1. O Programa de Reabilitação Económica (PRE).......................................................................8
2.2. A Adesão de Moçambique ao BM e ao FMI............................................................................8
2.3.O PRE de 1987..........................................................................................................................9
2.4.Impacto do PRE na Sociedade Moçambicana.........................................................................11
2.5. Problemas do PRE..................................................................................................................14
2.6.A África nas relações internacionais com a Bretton woods(BM e FMI)................................15
2.7.O quadro económico actual e contínua dependência da África pela Britton Woods..............16
Conclusão......................................................................................................................................17
Referencia Bibliográfica................................................................................................................18

Introdução
A década de 1980, em particular, considera-se como uma época de sofrimento em termos
econômicos, políticos e sociais, na qual, em África, se registaram transformações importantes
para o futuro imediato da África e suas relações com e o mundo. A áfrica não estava preparada
3

para crescer da forma que lhe era exigido, faltava às bases e, de certa forma, uma limpeza
estrutural que pudesse significar o desenvolvimento, que permitisse aos seus financiadores
acreditar na superação dos obstáculos.
Por outro lado havia uma interessante necessidade da integração econômica internacional da
África por meio de assinaturas de convênios com instituições internacionais como o BM e FMI,
de forma que os países africanos possam catapultar os seus desenvolvimentos de forma muito
especial e econômico.
Desta forma o presente trabalho tras como objectivos:
Objectivo geral:

 Analisar o Programa de Reajustamento Estrutural em África (PRE e PRES)

Objectivos específicos:

 Descrever a crise económica dos anos 80 e o programa de reajustamento estrutural em


África
 Identificar as estratégias do desenvolvimento da África;
 Explicar acerca do PPI e outros mecanismos criados para combate contra crises.

A metodologia usada para elaboração sintética deste trabalho, foi basicamente a consulta
bibliográfica num processo que tanto resultou no confronto das mesmas de modo a obter a
veracidade do essencial adquirido.
No que concerne a organização do trabalho importa referir sinteticamente que os conteúdos estão
sequenciados de acordo com a amplitude de sua complementaridade lógica, partindo da
Introdução, desenvolvimento, conclusão e por fim a referência bibliográfica onde estão
mencionados os autores e as suas respectivas obras que sustentam o trabalho.

1. A crise económica dos anos 80 e a emergência do programa de reajustamento estrutural


em África
4

Nos anos 80, a crise no continente africano deixava transparecer a necessidade urgente de
reformas. As finanças públicas apresentavam-se deficitárias e a corrupção, a "má governação" e
o "neo-patrimonialismo" caracterizavam a actuação do Estado. As propostas do FMI e do Banco
Mundial - liberalismo económico e estímulo dos mercados em detrimento da intervenção
pública, traduzem-se em medidas como o estabelecimento de taxas de utilização dos serviços
públicos, remoção de subsídios, despedimento de funcionários públicos, cortes salariais e
privatizações.

Os resultados destas reformas não se mostraram decisivos, designadamente no que se refere à


melhoria do défice orçamental, e os efeitos negativos das restrições orçamentais sobre o bem-
estar originaram um clima de instabilidade que acabou por pôr em causa a viabilidade do
processo de ajustamento.

A aversão ao papel do Estado e a forma radical como se impuseram as reformas,


frequentemente sem considerar as características culturais, políticas, sociais e
económicas de cada país, acabaram por condicionar o sucesso dos PAE. Apesar
de haver por parte das instituições internacionais um reconhecimento de que é
necessária a reforma destes Programas no sentido de incluir objectivos "não
económicos", há quem defenda que só uma revisão e reordenação de prioridades
os pode aproximar do Desenvolvimento. (NEGRÃO:2003)

1.1. Estratégias de desenvolvimento em África

Estas reformas não só significaram o engajamento das novas autoridades para encontrarem os
melhores caminhos para a administração do país como significaram o total rompimento, a vários
níveis, com a antiga ordem colonial

1.2. O Plano Prospectivo Indicativo (PPI)

Em 1980, alguns paises africanos adoptaram algumas politicas que na maioria dos paises da
africa limitaram-se a ofenciva política e organizacional em todas as frentes”, destinada a
eliminar a Corrupção, a ineficiência e a burocatização do estado. Estas todas estratégias foram
efectivadas por seguintes componentes economicos novos planos económicos:
 O plano perspectivo e indicativo (P.P.I.) e
 O plano Estalal Central (P.E.C.) que preconizam a centralização da economia

Torna se extremamente interessante mencionar de forma particular o caso de Moçambique, foi


um dos países da África Austral que adoptou estas estratégias económicas, durante os anos 80,
tendo como mentor o presidente Samora Moisés Machel.
5

A nível interno e na senda do entusiasmo da independência foram


concebidas políticas ambiciosas visando um desenvolvimento em curto
tempo. Uma dessas políticas foi o Plano Prospectivo Indicativo (PPI)
que visava erradicação da pobreza e o desenvolvimento do continente
em dez anos (1980-1990).

1.3. O Plano Prospectivo Indicativo (PPI)

De referir que o Novo Estado Moçambicano após a conquista da sua independência vai adoptar
um governo do modelo Socialista, caracterizado pelo Centralismo. A opção da FRELIMO pelo
modelo Socialista, na visão de Cabaço (2007:417) circunscreve-se no sentimento
anticolonialista, pelo que dá-se a entender que as raízes do socialismo moçambicano encontram-
se no período de luta de libertação de Moçambique. É nessa perspectiva que, o mesmo autor
afirma que um processo revolucionário implicaria a negação da estrutura que o criou. A
finalidade do esforço da guerra e dos esforços consentidos se deveria materializar no acesso da
população à gestão de uma nova realidade (2007: 417).

 Portanto, tomando em conta que o sistema colonial regia-se pelo modelo capitalista, torna-se
evidente que o sentimento anticolonialista e da necessidade de implantação de uma nova
estrutura social diferente desta, desembocaria na opção pelo sistema socialista:

 Socialização do campo e desenvolvimento agrário  –   através do desenvolvimento acelerado do


sector estatal agrário, mecanização da agricultura, introdução das cooperativas no campo e a
criação de aldeias comunais;
 Industrialização rápida  –   investir fortemente na indústria ligeira em articulação com o sector
agrícola para garantir as necessidades básicas da população e promover as indústrias
de exportação;
 Educação  –   a formação e qualificação da força de trabalho através da massificação da formação
formal e da alfabetização.

O PPI revelava a partir das acções interventivas que, para o alcance do objectivo traçado como
primordial, seria necessário realizar investimentos de elevada importância. Contudo, algumas das
fraquezas desse programa consistiram da falta de recursos financeiros internos para a realização desses
investimentos, sendo demasiado dependente de recursos externos, com uma orientação comercial e
económica centralizada no mercado interno, uma gestão macroeconómica desequilibrada e
excessivamente centralizada com uma articulação não efectiva com o sector agrário (MEQUE, 2013: 35).

1.4.Factores do PPI
6

Muito cedo, em menos de três anos (1980-1983), um conjunto de factores revelou evidente a
impossibilidade da concretização dos objectivos que norteavam o PPI. Em 1981, os serviços da dívida e
as taxas de juro sofreram uma alteração no que diz respeito aos empréstimos contraídos os juros móveis.
Desta forma, o país encontrava-se em dificuldades para a amortização da dívida e as reservas de divisas
disponíveis eram insuficientes, havendo, então, necessidade cada vez mais crescente em contrair mais
empréstimos, que devia-se a factores de ordem Nacional, Regional e Mundial (MEQUE, 2013: 36).

Contexto Nacional
a) Guerra Civil  a sua generalização por quase todo país, alcançou zonas de grande
importância económica a Sul do Save (o Vale do Limpopo e as vias de acesso a Maputo
começaram a ser persistentemente atacadas) e a Norte do Save, ocupou-se com tamanha
facilidade o Vale do Zambeze (MALOA, 2016: 131);
b) Catástrofes naturais  – as cheias e a seca atingiram o auge nos princípios da década
de1980, tendo influenciado para a generalização da fome e da desagregação da
economia rural (NEWITT, 1997: 484).
Contexto Regional
a) Política de desestabilização de África do Sul  que, tendo adoptado a estratégia da CONSAS,
contra a SADCC, onde a primeira pretendia perpetuar a dependência regional em relação a África
do Sul. Assim, no âmbito mais abrangente da estratégia da CONSAS, o sistema ferro-portuário
moçambicano que, representava-se como instrumento estratégico da SADCC, tornou-se alvo de
dois processos Sul-Africanos (a desestabilização militar e a desestabilização económica)
(LUCAS, s/d.: 6).

Conjuntura Mundial

a) Guerra Frias  assolou de forma negativa a proficiência do PPI. Este fenómeno deveu-se ao
excesso de confiança dos apoios dos países socialistas e nórdicos a Moçambique. Ora, essa
confiança traduziu-se na dependência directa de concessão de apoios financeiros e de mão-de-
obra especializada estrangeira, sobretudo oriundos de países socialistas (MALOA, 2016: 133);
 Crise Mundial da década de 1970 –  fez-se sentir em Moçambique através dos níveis de
inflação registados a nível mundial (GENTIL, 1998: 366)

.O PPI foi elaborado após o Terceiro Congresso da FRELIMO (realizado em 1977), em 1978,
porém a sua aprovação ocorreria em Agosto do ano seguinte, em uma sessão do Conselho de
Ministros. O objectivo primordial do PPI era o de acabar com o sub desenvolvimento no país em
7

dez (10) anos (NEGRÃO, 2003: 5).  Para responder ao objectivo deste plano, MALOA
(2016:107) refere que definiram-se as seguintes principais acções.

2. Os Programas de Reajustamento Estrutural

Falar de Reajustamento Estrutural é refere-se a uma expressão surgida nos anos de 1980, que
associa-se ao conjunto de prescrições da política económica instituída pelas instituições
de Bretton Woods.

Ora, encontra seu enquadramento nas políticas de grandes instituições económicas surgidas no
contexto de desempenhar papel preponderante na economia do mundo  –  Banco Mundial (BM)
e Fundo Monetário Internacional (FMI) (ALVES,  2002: 17)

Os Programas de Reajustamento Estrutural reconhecem-se como conjunto de medidas


económicas que assentam-se em pressupostos que as grandes instituições internacionais da
Bretton Woods (especialmente o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional) apontam
como necessários para a remissão possível da crise.  

Assim, o Reajustamento Estrutural será a implementação das políticas económicas que essas
instituições apresentam como necessárias para a resolução de desequilíbrios macroeconómicos e
a rectificação de políticas não adequadas que impulsionam o desempenho das economias dos
países em via de desenvolvimento (MEQUE, 2013: 45).

O Reajustamento Estrutural na perspectiva de Ibhawoh (1999: 158),

Apoiando-se no estudo do Banco Mundial, um processo a partir do qual


procura-se colocar a economia de uma nação em uma posição estratégica, para o
alcance de um crescimento sustentável, quando esta arrosta-se com uma crise
macroeconómica que caracteriza-se por balanças internas e externas
insustentáveis.

2.1. O Programa de Reabilitação Económica (PRE)

A origem do Programa de Reabilitação Económica em Moçambique está associada a sua adesão as Instituições da
 Bretton Woods, cujo propósito era de obter apoios externos dos países ocidentais para imiscuir-se da
crise que acuava o Estado Nacional. Portanto, este capítulo visa abordar sobre o PRE introduzido em
Moçambique, concretamente no que diz respeito a sua origem, ao seu desenvolvimento, aos impactos que ele
trouxe para a sociedade e, por fim, revelar os principais problemas que determinaram os resultados
que este programa trouxe.
8

2.2. A Adesão de Moçambique ao BM e ao FMI

A grave crise amadurecida já nos princípios dos anos de 1980 preocupava o governo da FRELIMO, foi então que
sentiu-se no seio dela a necessidade de reavaliar as suas políticas e a sua posição nos assuntos internacionais. Deste
modo, Samora Machel começou a consertar as relações com os países ocidentais, afirmando até, que a
FRELIMO sempre esteve aberta aos investimentos estrangeiros e mostrar-se favorável ao Ocidente.

Mas, foi em 1982 que governo decidiu atrair o auxílio Ocidental e candidatar-se a aderir ao FMI. Portanto, no ano
seguinte, a FRELIMO realizou o seu IV Congresso, onde adoptou uma mudança da política radical que,
imediatamente associou-se a outra campanha (campanha de produção), Já em1984 aderiu à Convenção de
Lomé e, a 24 de Setembro foi aceite como membro do FMI (NEWITT, 1997: 484).

Ainda no mesmo ano de 1984 aprovou-se o Programa de Acção Económica (1984-1986), sendo
um sinal do Programa de Reajustamento Estrutural e foi submetido às IBW para o
financiamento. E porque as IBW têm seus pressupostos ou ainda medidas para todos países que
aderem aos Programas de Reajustamento Estrutural, Moçambique recebeu entre 1985-1986
cinco missões do FMI na perspectiva de verificação da aplicação dessas medidas. Essas missões,
Meque menciona-as sequencialmente:

Abril de 1985 consultas no âmbito do Artigo IV do acordo; Novembro de 1985 discussão


do Programa de recuperação económica; Julho de1986 segundas consultas ao abrigo do
artigo IV do acordo e prosseguimento da discussão do programa;
Outubro/Novembro de1986 avaliação dos efeitos da alteração da taxa de câmbio e
dos preços oficiais no sector empresarial.  Políticas monetárias e descréditos, orçamento
do Estado; Dezembro de 1986 missão conjunta com o Banco Mundial (2013: 45)

2.3. O PRE de 1987

A partir do momento em que Moçambique foi aceite como membro do FMI e do BM, em1984,
começaram-se as reformas neoliberais que seriam introduzidas em 1987 com o Programa de
Reabilitação Económica, este que surge no contexto do Programa de Reajustamento Estrutural
inspirado nas decisões do Congresso de Washington. Essas reformas tinham em vista a
substituição do modelo Socialista de desenvolvimento pelo modelo Capitalista (MATSINHE,
2011: 34).O PRE tinha como seu principal objectivo restabelecer os equilíbrios
macroeconómicos e restaurar um ambiente que destinasse-se ao desenvolvimento económico, na
perspectiva de reverter a situação de tendência negativa que até então registava-se e a
consequente degradação social sem perspectiva de nenhuma melhoria (GOBE, 1994: 4). Na
9

mesma perspectiva, MALENDZA (2006: 10) aponta como principais objectivos do PRE os
seguintes:

 Reverter o declínio da produção;


 Assegurar às populações as receitas mínimas e um nível de consumo mínimo;
 Restaurar o balanço macroeconómico através da diminuição orçamental;
 Reforçar a balança de transacções correntes e a balança de pagamentos.

Tendo em conta que o PRE tinha em vista o reparo aos erros do PPI e recuperar os índices de
produção e de exportação registados em 1981, este programa destacava como haverem sido
principais erros da estratégia do PPI a má gestão macroeconómica, a distorção da estrutura dos
preços relativos em desfavor da agricultura e das exportações, e o desincentivo à operação do
sector privado nacional e estrangeiro.

Deste modo,  o argumento que apresentava-se era que a má gestão


macroeconómica do período do PPI, havia conduzido a economia nacional à um
estado de grave desequilíbrio financeiro e estrutural, assim sendo, somente um
forte compromisso do governo em reverter as políticas do passado e introduzir
correcções fiscais e monetárias duras seria possível restaurar a saúde da
economia e a credibilidade internacional do país (CASTEL-BRANCO, 1995:
600).

Entretanto, para que se conseguisse alcançar êxitos nos objectivos impostos pelo PRE, havia a
necessidade de encontrar medidas através das quais o programa pudesse processar-se. Contudo,
no contexto do PRE que estava assente nos Programas de Ajustamento Estrutural baseados nas
instituições internacionais (BM e FMI), devia seguir estritamente as medidas que essas
instituições impunham, as quais Gobe (1994: 6) aponta:

 Desvalorização da moeda nacional;


 Restrição da expansão monetária por via da elevação das taxas de juros combinados com
redução e imposição do limite do crédito;
 Redução do financiamento pelo Banco Central dos défices governamentais;
 Redução das despesas governamentais;
 Reforma fiscal;
 A retirada do Estado da actividade produtiva através da privatização das empresas
estatais e intervencionadas;
 Liberalização do comércio e abolição do sistema de preços fixos;
10

 Depositar mais esforços na agricultura privada e em pequena escala através da melhoria


dos termos de troca e dum aumento de oferta de bens de incitamento necessárias;
 As despesas do Estado deveriam ser diminuídas através da abolição de subsídios a
unidades produtivas que não fossem rentáveis e da diminuição dos subsídios ao
consumidor e, outras medidas de estruturação e ajustamentos a níveis sectoriais.

O PRE passou mais tarde ao PRES (1990), devido a necessidade de focalizar


mais a dimensão humana, uma vez que com tal política o fosso entre ricos e
pobres aumentava progressivamente, trazendo impactos significativos nas
estruturas da sociedade. A inflação atingiu, em 1989, níveis insustentáveis para
o poder de compra do cidadão comum, o PRE, contrariamente ao que motivou a
sua adopção criou um impacto social negativo (NYAKADA, 2008: 83).

É nessa linha que Cabaço (1995: 122) refere que, a situação social estava, todavia, agravando-se
por efeitos da política de reajustamento estrutural que o Governo aplica com  rigor. A riqueza
concentra-se nas mãos de uma minoria, nacional e estrangeira, a custa da degradação galopante
das condições de vida de uma maioria sempre mais numerosa.

Com a transformação do PRE em PRES (Programa de Reabilitação Económica


e Social), verificaram-se alguns resultados satisfatórios, visto que os recursos
destinados aos sectores sociais foram crescendo, passando, então, a representar
23% dos doadores que reflectiram um crescimento de 11% comparativamente ao
período de 1987-89 (MOSCA & OPPENHEIMER, 2005,appud DAUCE, 2013:
54).

2.4.Impacto do PRE na Sociedade Moçambicana

Em uma visão tão ampla, depreende-se que o PRE visava essencialmente melhorar a vida da
população das zonas rurais que, inegavelmente estava degradada, devido as políticas não
adequadas a realidade, tal como é o caso das aldeias comunais e das machambas estatais, visto
que a população rural havia sido atingida de forma severa pela guerra civil, pelas catástrofes
naturais sucessiva, cujos efeitos traduziam-se em fome crónica e degradação das condições
devida e assim, as dificuldades de alimentação eram enormes (MEQUE, 2013: 46).

Na visão de MATSINHE (2011: 46), o Programa de Reabilitação Económica provocou para a


sociedade moçambicana, mais desgraças do que benefícios. Contudo, dos benefícios notáveis,
refere-se que o PRES:

 Inverteu a tendência do declínio económico;


 Aumentou o fluxo de ajuda alimentar e cooperação internacional, reduzindo as
consequências da fome, a incapacidade por endividamento do país e amorteceu o colapso
do sector externo;
11

 Os mercados e as lojas começaram a ter bens para a venda e muitos produtos que, até
então existiam no mercado paralelo, passaram a ser vendidos;

O PRE juntamente com outras medidas políticas e diplomáticas facilitaram o isolamento


da RSA e da RENAMO, o que abriu caminho para a paz em Moçambique e na região.

Entretanto, o lado negativo parece ter sido maior do que o positivo pelo que
refere-se que, com a implementação do PRES em 1987, verificou-se que o poder
de compra e de consumo diminuíram por causa do agravamento dos termos de
trocas e da diminuição de oportunidades de emprego. O aumento das
quantidades registado durante os primeiros anos do PRE (1987-89) dependeu
mais do facto de os camponeses venderem maiores quantidades do que
anteriormente graças ao processo de liberalização do mercado e não pelo
aumento da produção real para a venda ter aumentado (ABRAHAMSSON &
NILSSON, 1994: 229).

O corte drástico das verbas destinadas a saúde e educação exigidas pelos programas do FMI
levou ao rebaixamento dos empregos para trabalhadores com baixo nível de alfabetização.
Assim, as famílias cujos chefes haviam perdido emprego ficaram incapacitadas de arcar comas
despesas de tratamentos hospitalares (ABRAHAMSSON, 2001: 220).

É, em meio disso que chega-se a referir que no período anterior a implementação do PRE, a
situação do país era relativamente melhor, tomando em consideração que o governo assegurava
os preços da alimentação básica e outros bens e serviços vitais aos mais carentes. Porém, com as
políticas neoliberais adoptadas, assistiu-se a eliminação de subsídios, tendo acarretado a subida
de preços dos alimentos e dos bens de base, o que causou de forma directa problemas como a
desnutrição e doenças infecciosas como a malária e a cólera. Assistiu-se também, após a
implementação do PRE, a redução das taxas de inscrições para o ensino primário (entre 1989-94,
o número de matriculados nas escolas primarias decresceu de 86%para 60% da população
estudantil), pelo que os pais preferiam tirar os filhos da escola (por falta de dinheiro para pagar
as matriculas e os livros escolares), aumentando-se assim a quantidade de mendigos. Por conta
dessa realidade, assume-se que o PRE atingiu as populações mais pobres com tamanha dureza
(MATSINHE, 2011: 47).

A diminuição do poder interventivo do governo e a respectiva diminuição de remunerações


fizeram com que os quadros técnicos do governo abandonassem para as Organizações Não-
Governamentais e para empresas de consultoria ou empresas estrangeiras, visto que essas
instituições ofereciam melhores remunerações relativamente ao sector público ( Ibid., p. 48 ).
12

Com a questão de privatização das empresas estatais, viu-se a necessidade de criação de uma
classe empresarial nacional. Esta classe formou-se de forma selvagem, através da exploração do
povo. Isto é, as elites locais, os bancos internacionais e o capital estrangeiro, em conluio com a
burocracia local, construíram relações de apoio recíproco baseadas no enriquecimento sem causa
das elites locais que ia produzindo dívidas públicas que teriam de ser pagas pelos cidadãos
comuns. Para além deste facto, as privatizações aumentaram a corrupção e não alcançaram os
objectivos propostos. Ora, elas promoveram a acumulação de capital de forma desleal e geraram
um capitalismo selvagem. A corrupção que acompanhou o processo de privatização, contribuiu
para o declínio da ética e dos valores morais da sociedade e para o desvio de fundos públicos
para a utilização privada da elite do governo e seus aliados ( Ibid.,  p. 48 ).

Os fundos de ajuda ao desenvolvimento disponibilizados pelas instituições financeiras


internacionais, ao invés de serem aplicados em projectos que visam o desenvolvimento, fora
açambarcados para fins que não estimularam a produção interna de bens de consumo e de
promoção de desenvolvimento económico e social do país e, mesmo sabendo que os fundos
disponibilizados para o desenvolvimento do país eram investidos em infra-estruturas
contraproducentes  –  casas e carros de luxo  – o BM e o FMI seguiam com a transferência de
recursos, alimentando a corrupção e o gangsterismo na gestão de bens públicos (MOSSE,2004;
HANLON, 1991,appud MATSINHE, 2011: 40).

Por outro lado, a ajuda alimentar teve efeitos muito negativos em Moçambique,
porque não estimulou a produção local, na medida em que os próprios doadores
vinculavam as necessidades de ajuda aos interesses das suas políticas agrárias.
Os produtos agrícolas que chegavam a Moçambique eram adquiridos a preços
do mercado internacional subvencionado, o que fez com que a ajuda alimentar à
Moçambique se tornasse em um obstáculo ao desenvolvimento da produção
interna de produtos alimentares (MATSINHE, 2011: 41).

Entre 1989 e 1997, assistiu-se no país o surgimento e crescimento do mercado informal


estimulados pela economia do mercado e no contexto das privatizações, sobretudo na fase inicial
das privatizações constituindo o factor de absorção e de incremento de rendimentos dos
trabalhadores assalariados.

Ora, se na pós-independência assistiu-se a adopção de medidas proteccionistas para a indústria


geralmente e em particular a indústria de caju, limitando a exportação de castanha em bruto e
regulando os preços de comercialização através das lojas do povo e as cooperativas agrícolas, era
inevitável o declínio da indústria de processamento. Contudo, a indústria de caju sofreu mais
com a liberalização do mercado, visto que a exportação em bruto sem o processamento
13

prejudicava directamente a receita da indústria de descasque e conduziu ao encerramento da


mesma, levando muitas famílias ao desespero e atirando-as ao desemprego (MEQUE, 2013: 51).

2.5. Problemas do PRE

É bem sabido que o PRE tinha como sua maior pretensão a reposição do equilíbrio
macroeconómico e dar mais flexibilidade e eficiência à economia nacional, em forma de
correcção dos erros gerados pelo PPI. Contudo, o PRE foi também caracterizado por uma série
de problemas de que a essência é a sua incapacidade de equacionar e responder aos problemas
estruturais da economia moçambicana (CASTEL-BRANCO, 1995: 601).

É nesse contexto que descrevem-se os seguintes problemas (do PRE):

a) Atacou mais os efeitos das crises e não as causas, as quais propunham-se a enfrentar. Ora,
concentrou-se na estabilização económica, sem tomar em conta as causas do atraso
económico e da instabilidade económica e os constrangimentos impostos por esse estado
de economia (CASTEL-BRANCO, 1995: 602).
b) Adoptaram-se opções que requeriam mudanças mais bruscas e rápidas, visto que a
realidade institucional e socioeconómica do país e as capacidades materiais da economia
não se tomaram em conta, e o ritmo da mudança foi imposto pelos modelos adoptados e
pela pressão dos doadores ( Ibid., p. 602).
c) Ausência de uma visão de transição e do desenvolvimento como um processo de
transformação, que passa pela selecção de objectivos, prioridades, tecnologias, métodos e
formas sociais que a organização da produção deve assumir, sistemas de incentivo e a
organização institucional necessária e, falta de consideração aos passos necessários para a
construção das condições tecnológicas, institucionais e sociais para a implementação dos
modelos propostos ( Ibid., p. 603).
d) A incapacidade de seleccionar prioridades com flexibilidade e coerência e de conceber
transformações estruturais necessárias na economia nacional, bem como a adopção de
modelos acabados de mudanças bruscas, levou a reprodução e ao agravamento do
isolamento inter e intra-sectorial. Os diferentes sectores da economia operam muito mais
em ligação com o exterior do que em ligação uns com os outros, reforçando-se assim, a
14

dependência económica e minimizando o aproveitamento do potencial económico


nacional (Ibid., p. 604).
e) Fortemente dependente da ajuda externa desde a conceptualização, implementação até a
dotação de recursos. Nesse sentido, deixaram-se de fora factores como: a ajuda externa
pode desencorajar e substituir a produção nacional e, exercer enorme pressão sobre a
alocação dos recursos escassos na economia, gerando mais ineficiência e aumentando o
défice desses recursos ( Ibid., p. 60).

2.6.A África nas relações internacionais com a Bretton Woods (BM e FMI)
Com o eclodir da II Guerra mundial, perante um mundo profundamente devastado em que toda a
economia teria que ser reconstruída depois de 1945, a contribuição da diplomacia económica
afigurou-se de capital importância para a regulamentação dos mercados financeiro e comercial.
A cooperação internacional mostrou-se mais do que nunca necessária para atingir esses
pressupostos, sob pena de acelerar ainda mais a bancarrota da economia mundial.

Foi assim que, ainda no decorrer da Segunda Guerra, os delegados de 44 países aliados se
reuniram na cidade de Bretton Woods, no Estado de New Hampshire (EUA), com o objectivo de
reger a política económica mundial. Os delegados deliberaram e finalmente assinaram o Acordo
de Bretton Woods (Bretton Woods Agreement), durante as primeiras três semanas de Julho de
1944. A busca do equilíbrio económico mundial consubstanciou-se na criação de um conjunto de
medidas tomadas a partir desconcertação das nações, sob a liderança dos Estados Unidos, com a
criação do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), concebidos para assegurar
a liquidez do sistema, tendo como paradigma o dólar dos Estados Unidos com a sua
convertibilidade em ouro almejando, assim, a estabilidade e a disciplina. O dólar passou deste
modo a ser a moeda forte do sistema financeiro mundial
O fim da Guerra Fria foi um acontecimento importante para o continente
africano. A maioria dos estados africanos atingira a independência nos anos-
chave do conflito entre as superpotências e este fora o factor crucial nas relações
internacionais de África durante trinta anos. Não é, pois, surpreendente que tal
alteração tenha constituído um desafio radical à ordem instituída. O impacto
desta mudança estrutural do sistema internacional, e da liberalização na Europa
de Leste em particular, sentiu-se em quase todo o continente africano.
(SARONI:1979)

Os estados africanos iniciavam assim o processo de negociação com as instituições financeiras


internacionais (Bretton Woods), com a subsequente abertura para economia do mercado e
abandono das políticas socialistas. A análise que se pretende incide sobre a influência do Banco
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Mundial (BM) 6 e do Fundo Monetário Internacional (FMI) na formulação das políticas


públicas.

Este foi um momento precioso que criou a possibilidade de virar uma página histórica dolorosa,
especialmente para os estados da África Austral e do Corno de África que mais tinham sofrido
com a dinâmica global do conflito entre o Ocidente e o Bloco de Leste. Com raras excepções, o
resultado deste processo pautou-se por um grau considerável de mudança ou recomposição dos
regimes políticos africanos.

Acrescente-se que a exigência para a obtenção da ajuda de que o país dramaticamente


necessitava nos tremendos anos 80, em plena emergência, seria a sua adesão ao Banco Mundial e
do FMI, ou seja a adequação da sua política económica ao chamado “Consenso de Washington”.

2.7.O quadro económico actual e contínua dependência da África pela Bretton Woods

Não obstante a transição política, militar e económica de sucesso, a África continua a enfrentar
problemas económicos e sociais estruturais graves, em particular uma agricultura incipiente, com
produtividade baixíssima do sector de subsistência, mesmo quando comparada com outros países
do ocidente. Esta falta de produtividade do sector familiar traduz a reduzida capacidade da
investigação científica e técnica aplicada e dos serviços de extensão rural. Em consequência, os
actuais níveis de produção e/ou comercialização de bens tradicionais, com excepção do açúcar,
ainda não atingiram valores anteriores à Independência dos estados.

Contudo, para sair da actual crise, os governos dos países da África foram obrigados a endividar-
se para financiar os programas de estímulos económicos, pelo que, em breve, serão obrigados a
introduzir medidas de austeridade para a redução de despesas públicas, incluindo a ajuda externa,
o que cria algumas preocupações sobre a continuidade do nível da ajuda externa de que países,
como Moçambique, actualmente beneficiam. Como a ajuda externa está condicionada a
progressos no regime democrático e no combate à corrupção, os países da África, incluindo as
instituições financeiras multilaterais Banco Mundial, FMI, Banco Africano, etc. são também
“parceiros” políticos para além de o serem a nível económico.
16

Conclusão
Depois das pesquisas conclui se que as propostas do FMI e do Banco Mundial - liberalismo
económico e estímulo dos mercados em detrimento da intervenção pública, traduzem-se em
medidas como o estabelecimento de taxas de utilização dos serviços públicos, remoção de
subsídios, despedimento de funcionários públicos, cortes salariais e privatizações. O Programa
de Reabilitação Económica, mais conhecido por PRE. Porém, em 1990, no encontro havido com
o Grupo Consultivo de Paris, chegou-se à conclusão de que era também necessário contemplar a
dimensão social na reabilitação da economia, com ênfase na necessidade de luta contra a pobreza
e reabilitação das infra-estruturas destruídas pela guerra. Assim, ao PRE acresce-se a
componente social passando a designar-se de Programa de Reabilitação Económica e Social,
PRES.
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Referencia Bibliográfica

COMICHE, Eneias da Conceição: da adesão ao grupo BAD e `as instituições de Bretton Woods
Consequências. Experiencias de Moçambique; 30 de Maio de 2001

DIALLO, Alfa Oumar. Renascimento Africano e Desenvolvimento. Revista Conjuntura


.Austral, 2011.
Gentil, A. Maria. O leão e o caçador: uma história da África sub-sariana. Maputo: AHM.1998

SARONI, Fernando. História das Idades Moderna e Contemporânea. Livro do Professor.

Lisboa. 1979.
MOSCA, João, Economia de Moçambique, Século XX. Lisboa. 2005

NEGRÃO, José: Como Induzir o Desenvolvimento em África? Caso de Moçambique; 3 de


ALVES, 2002: 17
MOSSE, 2004; HANLON, 1991, appud MATSINHE, 2011: 40).

SARONI: 1979

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